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Resumos de psicologia

As estruturas macroscópicas que suportam a complexidade do sistema nervoso

O encéfalo (constituído pelo cérebro, cerebelo e tronco cerebral) e a medula espinal formam o
Sistema Nervoso Central (SNC) e são os responsáveis pela recolha e pelo tratamento de
informação recebida do exterior através dos sentidos e transmitida pelos nervos a todo o
corpo.

O Sistema Nervoso dos vertebrados é composto por dois sistemas: o SNC e o SNP:

• o SNC integra o encéfalo (localizado no crânio) e a medula espinal (localizada na coluna


vertebral);

• o SNP inclui o Sistema Nervoso Somático (SNS) e o Sistema Nervoso Autónomo (SNA).

O SNS é a parte do SNP que interage com o meio externo. É composto por nervos aferentes
(ou sensitivos) e eferentes (ou motores):

• os nervos aferentes conduzem os sinais da pele, dos músculos esqueléticos, das articulações,
dos olhos, dos ouvidos, e assim por diante, para o Sistema Nervoso Central;

• os nervos eferentes conduzem sinais motores ao Sistema Nervoso Central para os músculos
esqueléticos.
Complementarmente o SNA participa na regulação do meio interno. Ele é composto, tal como
o SNS, por nervos aferentes e eferentes:

• os nervos aferentes conduzem sinais sensoriais de órgãos internos para o SNC;

• os nervos eferentes conduzem sinais motores do SNC para os órgãos internos.

A medula espinal transmite as mensagens do cérebro para o corpo e os sinais nervosos do


corpo para o cérebro (função condutora), é também responsável pelo tratamento básico dos
sinais nervosos e pela produção de respostas reflexas (função coordenadora). Através dos
reflexos, a medula garante respostas rápidas adaptativas e não conscientes a certos estímulos
exteriores.

As características que nos tornam humanos e nos distinguem das restantes espécies estão
dependentes de uma estrutura complementar à medula: o encéfalo.

Paul McLean propôs a sua decomposição em 3 unidades específicas, ou seja, em 3 cérebros


distintos:

• o cérebro primitivo, relacionado com a autopreservação;

• o cérebro intermédio, relacionado com as suas emoções;

• o cérebro superior ou racional, relacionado com as tarefas intelectuais.

Os 3 cérebros formam-se progressivamente durante o desenvolvimento do embrião.


Tálamo e
hipotálamo

Cérebro superior
Hemisférios
centrais

Tronco cerebral, cerebelo

O cérebro primitivo seria constituído pelas estruturas do tronco cerebral e do cerebelo e


corresponderia ao cérebro dos répteis.

Tronco cerebral: garante a sobrevivência. É constituído por várias estruturas anatómicas com
funções essenciais: o mesencéfalo (comanda a postura e os movimentos involuntários), a
protuberância (onde se cruzam as fibras nervosas) e o bolbo raquidiano (área que regula o
ritmo cardíaco e respiratório).

Cerebelo: é considerado um centro da motricidade, uma vez que participa na produção de


sinais nervosos necessários à execução de movimentos coordenados e equilibrados.

O cérebro intermédio seria constituído pelas estruturas do sistema límbico, tálamo e


hipotálamo e corresponderia ao cérebro dos mamíferos inferiores.

Tálamo: estrutura que filtra as informações relevantes para o cérebro, ajudando a transformar
decisões conscientes da realidade.

Hipotálamo: pequena estrutura que regula a secreção de hormonas vitais.

Sistema límbico: grupo funcional que inclui várias estruturas de diferentes áreas do cérebro
com influência nas emoções, na memória e na aprendizagem.

O cérebro superior ou racional seria constituído pela maior parte dos hemisférios cerebrais
(neocórtex) e corresponderia ao cérebro dos mamíferos superiores.

Hemisférios cerebrais: regiões do cérebro cobertas por córtex cerebral que, nos seres
humanos, é muito enrugado. Cada hemisfério tem quatro lobos: o lobo frontal, o lobo parietal,
o lobo temporal e o lobo occipital.
Qual é a relação entre o desenvolvimento cerebral, o comportamento e o meio?

Segundo a teoria de Damásio o cérebro não funciona como um todo indiferenciado, havendo
zonas que dão um contributo específico para o comportamento – ESPECIALIZAÇÃO; e funções
complexas como a linguagem, a memória, a aprendizagem, o amor envolvem a coordenação
de várias áreas do cérebro – INTEGRAÇÃO. Dizendo que há uma unidade funcional no cérebro
ou que o cérebro funciona de forma sistémica que dizer que existe uma atuação diferenciada
mas sincronizada.

O ser humano é o ser com a infância mais longa, demorando largos anos a ultrapassar a sua
imaturidade e dependência dos outros. A lentificação no ritmo de desenvolvimento
possibilitou a complexificação a nível de organização e funcionamento do nosso cérebro por
isso pode-se dizer que o processo da lentificação não é uma perda de tempo no
desenvolvimento humano. Esta também possibilita a individuação, que é o processo de
singularidade e autonomia operado em correlação com a complexificação e que permite a
cada ser humano tornar-se apto a comportar-se de modo original.

A maturação do cérebro humano

À nascença: 4 lobos + cerebelo;

1 ano: córtex motor, sensorial, pré-frontal, visual + cerebelo;

6 anos: córtex pré-frontal, parietal, temporal + cerebelo;

12 anos: córtex pré-frontal, parietal, occipital, temporal + cerebelo.

Da relação entre o desenvolvimento cerebral e as experiências do indivíduo surge o conceito


de plasticidade cerebral.

Plasticidade cerebral: Conjunto de alterações estáveis na estrutura do cérebro que


acompanham a experiência.

Existem alguns factos que devemos ter em conta quando pensamos em plasticidade ou
neuroplasticidade, nomeadamente:

• a plasticidade inclui vários processos que ocorrem ao longo de toda a vida;

• a plasticidade é claramente determinada pela idade;

• a plasticidade acompanha o desenvolvimento cerebral normal;

• a plasticidade também ocorre como um mecanismo adaptativo de compensação de funções


perdidas ou de maximização de funções diminuídas em consequência de lesão cerebral
(mecanismos de suplência ou vicariante);

• o meio ambiente desempenha um papel fundamental na plasticidade, o que significa que


juntamente com os fatores genéticos, o cérebro é moldado pelas características do meio
envolvente e pelas características das ações dos indivíduos.
As estruturas microscópicas que suportam as funções cerebrais

Todo o organismo é composto por células e por isso, muitas vezes, elas são consideradas
blocos básicos da construção de vida. Apesar de o corpo humano ser composto de muitos
tipos diferentes de células, o sistema nervoso é formado essencialmente por neurónios e
células de suporte (células gliais). São estas células que nos permitem responder aos estímulos
que provêm do meio ambiente, processar informações e agir.

Os neurónios são as unidades básicas do sistema nervoso. São responsáveis:

• pelo processamento da informação, estando envolvidos tanto na sua aquisição, como na sua
transmissão;

• pela codificação da memória, dos pensamentos e das emoções;

• pela regulação de todos os processos que mantêm a vida do ser humano (respiração,
batimento cardíaco, temperatura corporal).

De forma geral, os neurónios são classificados em três categorias: neurónios aferentes ou


sensoriais, neurónios de conexão ou interneurónios e neurónios eferentes ou motores.

• os neurónios aferentes recolhem informações do meio exterior ou interior e conduzem-na


ao sistema nervoso central;

• os neurónios de conexão interpretam as informações e elaboram as respostas;

• os neurónios eferentes transmitem a informação do sistema nervoso central aos órgãos


efetores, isto é, aos músculos e glândulas.

Os neurónios contem três regiões distintas: o corpo celular ou soma, as dendrites e o axónio.

• o corpo celular é o centro metabólico do neurónio

• as dendrites são finas arborizações que constituem o aparelho recetor do neurónio,


recolhendo informação proveniente de outras células;

• o axónio representa a unidade condutora do neurónio.


Como se processa a comunicação no sistema nervoso?

O axónio tem uma importância fundamental, pois é através dele que o neurónio estabelece os
seus contactos com outros neurónios. Estes contactos realizam-se ao nível das sinapses.

A sinapse é constituída por:

• elemento pré-sináptico ou botão sináptico – uma dilatação terminal do axónio do primeiro


neurónio (elemento secretor)

• elemento pós-sináptico – que pertence ao segundo neurónio (elemento recetor)

• fenda sináptica

A comunicação entre os neurónios baseia-se em processos de excitação e de inibição.

A organização funcional do cérebro

As teorias das localizações cerebrais iniciou-se no séc. XVII, com a criação da frenologia por
Joseph Gall. Interessado pela correspondência entre “funções” e áreas específicas do cérebro,
este autor identificou cerca de 28 qualidades ou faculdades intelectuais ou psíquicas, cada
uma localizada numa parte específica do cérebro.

Sem suporte científico, a cartografia proposta por Gall não resistiu às investigações
subsequentes.

A evolução do conhecimento sobre o cérebro permitiu a passagem de um conceito simplista


de área ou local (presente na frenologia) para uma noção mais complexa de sistema. Reforçou
também a ideia de que o cérebro tem um funcionamento integrado e sistémico e não se reduz
à noção de localização restrita da cartografia.

Atualmente, reconhece-se o córtex cerebral como uma estrutura que acolhe funções distintas
em diversas áreas, complementares e coordenadas entre si. A associação entre áreas e
funções continua a ser uma tarefa árdua, sendo algumas relações mais fáceis de estabelecer
que outras:

• as associações mais simples correspondem às áreas primárias, que permitem, por exemplo, a
receção e processamento elementar de informação sensorial;

• as relações menos claras referem-se às áreas do córtex associativo ou áreas secundárias, que
implicam um processamento de informação de nível mais complexo.

É possível determinar com alguma precisão as principais áreas relacionadas com a função
motora, somatossensorial, auditiva e visual. Estas áreas devem dividir-se entre áreas primárias
e áreas secundárias.

Existem ainda as áreas de integração e coordenação (localizadas na região pré-frontal), onde


se estabelecem relações com as áreas primárias e secundárias, unificando a atividade cerebral.
A especialização das áreas corticais

É possível estabelecer relações gerais entre os quatro lobos do cérebro e as suas funções. Esta
possibilidade não se deve sustentar, contudo, a ideia do funcionamento isolado de cada um
dos lobos ou das funções.

Lobo frontal: o lobo frontal está implicado nas funções conscientes e na


elaboração de comportamentos em resposta à estimulação do ambiente. É
nele que se desenvolvem as decisões que tomamos continuamente no
nosso dia a dia. É o lobo frontal que controla as nossas respostas emocionais
e a nossa linguagem expressiva, atribuindo significado às palavras e
associações de palavras. É ainda uma área de memória de rotinas e de atividades motoras.

Áreas pré-frontais: É hoje possível afirmar que o córtex pré-frontal é o grande responsável
pelas funções intelectuais superiores, nomeadamente o pensamento abstrato, a atenção e a
imaginação, e pelas capacidades de previsão, planificação e tomada de decisão. Sabe-se
também que as áreas pré-funcionais estabelecem relações com todas as restantes áreas,
assumindo uma importante função de coordenação e de integração.

As lesões nesta zona cortical podem ter diferentes consequências:

• perda de movimentos simples em várias partes do corpo (paralisia cortical);

• incapacidade para planear sequências de movimentos complexos (apraxia);

• alterações na capacidade de expressar a linguagem (afasia de Broca);

• perturbações na capacidade para escrever (agrafia)

• perda de flexibilidade de pensamento e da capacidade de resolução de problemas.

Outros problemas que se podem manifestar traduzem-se na persistência de pensamentos


únicos, na incapacidade em manter a atenção numa tarefa e na instabilidade de humor.
Lobo parietal: as funções do lobo parietal abrangem o reconhecimento
visual e a perceção táctil. É neste lobo que se elaboram os movimentos
dirigidos a um determinado fim e a manipulação dos objetos.

As consequências de lesões nesta zona parietal podem ser várias:

• incapacidade em concentrar-se em mais que um objeto de cada vez


ou em nomear um objeto (anomia);

• dificuldades ao nível da leitura (alexia) e do desenho;

• dificuldades ao nível das operações matemáticas (discalculia).

Lobo temporal: capacidade auditiva, formação de memórias.

As lesões do lobo temporal podem manifestar-se em:

• incapacidade de ouvir sons elementares (surdez cortical);

• incapacidade no reconhecimento de sons vulgares (agnosia


auditiva);

• dificuldade no reconhecimento de rostos (prosopagnosia);

• dificuldades na compreensão do discurso oral (afasia de Wernicke);

• distúrbios ao nível da atenção seletiva.

Lobo occipital: associado à visão

Lesões ao nível desta área cortical podem caracterizar-se por:

• défice na visão;
• dificuldade em identificar objetos e/ou cores no meio ambiente
(agnosia visual).

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