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MERCADO DE

ENERGIA ELÉTRICA
Elisa Bastos Silva

1ª Edição |julho| 2014


Impressão em São Paulo/SP
Mercado de Energia Elétrica

Coordenação Geral Coordenação de Projetos


Nelson Boni Leandro Lousada

Professor Responsável Revisão Ortográfica


Elisa Bastos Silva Vanessa Almeida

Coordenadora Peda- Projeto Gráfico, Dia-


gógica de Curso- EAD gramação e Capa
- Ana Flávia Marcheti

1º Edição: Julho de 2014


Impressão em São Paulo/SP

Catalogação elaborada por Glaucy dos Santos Silva - CRB8/6353


Sumário
Apresentação .05

Unidade 1 – Composição do sistema elé- .09


trico de potência

1 Estrutura do setor elétrico


1.1 Geração de energia elétrica
1.1.1 Energia hidráulica
1.1.2 Biomassa
1.1.3 Energia eólica
1.1.4 Gás natural
1.1.5 Petróleo
1.1.6 Carvão mineral
1.1.7 Energia nuclear
1.2 Geração de energia elétrica no Brasil
1.3 Transmissão de energia elétrica
1.4 Distribuição de energia elétrica

Gabarito .61

Referências bibliográficas .65


Apresentação
Este livro tem o objetivo de relatar e contextu-
alizar o mercado de energia elétrica brasileiro, desde
sua origem, ainda na década de 80, quando o país
e o mundo passavam por uma situação econômica
bastante instável, influenciando o desenvolvimento
do setor energético vis-à-vis da expansão, a diversifi-
cação de fontes e comercialização.
Como área estratégica, o setor energético é ava-
liado, neste livro, em bases históricas e institucionais,
considerando as mudanças estruturais e a composição
do sistema de potência brasileiro, além das principais
características físicas e regulatórias deste sistema.
Além de uma abordagem sob o ponto de vista
de procedimentos, ou seja, do planejamento energé-
tico, é observado, nesta obra, os aspectos quantita-
tivos dos planos de expansão e de energia, que são
os alicerces de um planejamento eficaz e otimizado.
Neste sentido, são analisados os aspectos da oferta
e demanda futura, bem como os dados históricos
e de projeção do consumo de energia elétrica. São
descritos, também, os procedimentos da gestão de
energia, realizados pelo Operador Nacional do Sis-
tema e os planejamentos, anuais, mensais e diários
da operação.
No âmbito da comercialização são apresenta-
dos os agentes, a base legal e teórica, os mecanismos
e regras da negociação de energia elétrica, nos três
ambientes de contratação: regulado, livre e spot.
Por fim, é feita uma exposição do mecanis-
mo de funcionamento do mercado livre de energia,
enfatizando seus procedimentos e regras e fechando,
desta maneira, o conteúdo deste volume.

Elisa Bastos Silva


Unidade 1
Composição do sistema
elétrico de potência
Caro (a) Aluno (a)

Seja bem-vindo (a)!


Nesta primeira unidade, contextualizaremos
a composição do sistema elétrico de potência
brasileiro, abrangendo os conceitos, as aplica-
ções e os dados quantitativos deste sistema. O
objetivo é compreender como a institucionali-
zação e estruturação do setor, bem como seus
aspectos econômico-financeiros, se relacionam
com a posição estratégica que a área energética
representa ao país.

1 Estrutura do setor elétrico

Para compreender a estruturação atual do setor


elétrico brasileiro (SEB) é importante contextualizar
as questões históricas e econômicas que envolvem a
área energética do país.
A iluminação pública no Brasil se iniciou no ano
de 1879. Logo em seguida, em 1883, foi inaugurada na
cidade de Campos, Rio de Janeiro, a primeira geradora
com capacidade pouco superior a 50 kW, para produ-
ção de eletricidade. Com o passar dos anos, diversas
usinas hidrelétricas foram construídas e companhias
de energia elétrica se instalaram no Brasil.
Passado um século, em 1980, após a ocorrên-
cia das duas maiores crises do petróleo no mundo,
o Brasil enfrentou um momento de estagflação, ou
seja, de diminuição das atividades econômicas; alto
índice de desemprego e; um aumento significativo
da inflação. Na ocasião, foram eleitos Ronald Reagan
nos Estados Unidos e Margareth Thatcher no Reino
Unido, que institucionalizaram mudanças neolibe-
rais1 aos países capitalistas, possibilitando a retoma-
da dos lucros em âmbito mundial (REGO, 2009).
No Brasil, era apresentado, neste momento, o
3º Plano de Desenvolvimento do país, que investia
intensivos recursos na construção de novas usinas
hidrelétricas e nucleares, exploração de petróleo e
carvão mineral, bem como investimentos no pro-

1
O neoliberalismo nasceu logo depois da Segunda Guerra Mundial,
nos principais países do mundo do capitalismo maduro. O neolibera-
lismo é considerado como uma reação teórica e política ao modelo de
desenvolvimento centrado na intervenção do Estado, que passou a se
constituir, desde então, na principal força estruturadora do processo
de acumulação de capital e de desenvolvimento social. Este modelo
surgiu nos países em que o capitalismo já era considerado consolidado
(PERRY, 1995).
grama Pró-álcool2.
Entretanto, com o aumento da dívida externa,
em 1981, os juros internacionais aumentaram subi-
tamente, e como consequência, o SEB perdeu sua
principal fonte de recursos, o financiamento exter-
no. Concomitantemente, devido à alta inflação da
época, o Governo interveio para redução das tarifas
de energia elétrica, impactando negativamente na re-
muneração dos investidores do setor. Desta maneira,
a crise financeira internacional culminou em um de-
sequilíbrio econômico-financeiro do SEB.
No final da década de 1980, o Brasil se encon-
trava num contexto econômico caótico, em que não
somente o SEB se encontrava falido, mas todo o
país possuía uma altíssima inflação instalada e uma
dívida externa colossal. Foi, então, que se criou a Re-
visão Institucional do Setor Elétrico (REVISE), que
segundo Rego (2009) apud Faria Jr (1997), elaborou
diagnósticos que propunham:

º Necessidade de desequalização das tarifas de fornecimento e


suprimento, modelo artificial de gestão financeira.
º Participação da iniciativa privada nas inversões setoriais.

2
O Programa Nacional do Álcool (Pró-álcool) propunha a troca dos
combustíveis veiculares fósseis por biocombustíveis (álcool). Sua con-
cepção ocorreu devido à segunda crise do petróleo e os altos preços
dos combustíveis veiculares àquela época.
º Redução do papel da Eletrobrás, que acumulava atribuições
com interesses conflitantes: donas das empresas de geração, fi-
nanciadora do setor, coordenadora do planejamento de cunho
determinativo e da operação interligada.
º Alteração do modelo comercial com a finalidade de eliminar
inadimplência entre as concessionárias.
º Fim do uso político do setor elétrico. (REGO (2009) APUD
FARIA JR (1997)).

Apesar de não terem sido praticadas, as dire-


trizes estabelecidas no modelo ‘REVISE’ foram
fundamentais para as futuras reformas ocorridas no
setor elétrico.
No início do ano de 1990, foi criado o Progra-
ma Nacional de Desestatização (PND), por meio da
Lei nº 8.031. Inegavelmente, tal iniciativa funcionou
para o setor de telecomunicações, logo, o Governo
decidiu estabelecer um cronograma para a abertura
do mercado do setor elétrico, incluindo as empresas
deste setor no PND. A Light e a Escelsa foram as
primeiras empresas a serem incluídas no Programa,
por meio do Decreto n°. 572 de 1992.
Em 1993, depois de todas as discussões relativas
ao futuro do setor elétrico nacional, foi promulgada a
Lei nº 8.631, conhecida como “Lei Eliseu3” que estabe-

3
A Lei 8.631 ficou conhecida como “Lei Eliseu”, pois, na época, Eli-
seu Resende era o presidente da Eletrobrás.
lece a fixação dos níveis das tarifas e extingue o regime
de remuneração garantida entre outras providências.
A primeira reestruturação do setor elétrico, co-
nhecida por RE-SEB, criou agentes institucionais, a
fim de melhor estruturar e regular o setor elétrico
nacional. A Agência Nacional de Energia Elétrica
(ANEEL) foi instituída pela Lei nº. 9.427, de 1996,
que previa regular e fiscalizar todos os segmentos do
setor elétrico, a fim de manter a qualidade dos ser-
viços aos consumidores finais, estabelecer as tarifas
e universalizar o atendimento, bem como, promover
as licitações destinadas à contratação de energia elé-
trica (ANEEL, 1996).
Um dos principais objetivos da reestruturação
do projeto RE-SEB, coordenado pelo Ministério de
Minas e Energia (MME), foi a desverticalização das
empresas do setor, como ilustra a Figura 1. Assim, foi
induzido o aumento da concorrência, nos segmentos
de geração e comercialização, incentivando a compe-
tição. Ao mesmo tempo, mantiveram-se regulamenta-
dos os segmentos de transmissão e distribuição, que
foram categorizados como monopólio natural .4

4
O monopólio natural é uma situação de mercado em que são
necessários investimentos intensivos, porém com custos mar-
ginais muito baixos, ou seja, custos médios decrescentes.
Figura 1: Cadeia de produção do setor elétrico
Fonte: Elaboração própria – adaptado de Albuquerque (2009).

Esta primeira reforma preocupou-se, ainda, com


a criação de um ambiente para a realização das transa-
ções de compra e venda de energia elétrica, realizadas
no antigo ambiente de comercialização, denominado
Mercado Atacadista de Energia Elétrica (MAE).
Em 1998, com a finalidade de supervisionar e
controlar a geração de energia elétrica, bem como
administrar a rede de transmissão de energia elétrica
nacional, garantindo a confiabilidade do sistema e
otimizando seus custos, foi criado o Operador Na-
cional do Sistema (ONS), por meio da Lei nº. 9.648.
Em 2001, houve uma das maiores crises de
abastecimento de eletricidade ocorrida no Brasil. Tal
crise conduziu os governantes a tomarem uma sé-
rie de medidas para segurança do setor de energia,
considerada área estratégica para o país. Assim, foi
estabelecido um comitê, denominado Comitê de Re-
vitalização do Modelo do Setor Elétrico, que indicou
uma sequência de mudanças a serem realizadas.
Houve naquele momento alterações institucionais,
como demonstrado pela Figura 2, criando novas institui-
ções e modificando funções de institutos existentes.

Figura 2: Estrutura institucional do setor.


Fonte: Elaboração própria – adaptado de CCEE (2014).

Para formular políticas e diretrizes que assegu-


rem o suprimento de recursos energéticos, revisem
as matrizes energéticas e estabeleçam regras de im-
portação e exportação, foi instituído o Conselho Na-
cional de Política Energética (CNPE).
De acordo com Silva (2011), o planejamento do
setor energético nacional é realizado pelo MME, se-
guindo as indicações pontuadas pelo CNPE. Deste
modo, é possível monitorar a segurança do forne-
cimento de energia elétrica. Esta estabilidade, im-
prescindível para o setor, é conferida pelo Comitê
de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), con-
trolado pelo MME, a fim de verificar a ininterrupção
desse fornecimento.
A Lei nº 10.847, de 2004, instituiu a Empresa
de Pesquisa Energética (EPE), cujo objetivo é viabi-
lizar estudos e pesquisas a respeito da expansão do
setor elétrico, auxiliando no planejamento realizado
pelo MME. Segundo ANEEL (2004), dentre as atri-
buições da EPE, podemos citar:

° Realização de estudos e projeções da matriz energética.


° Desenvolvimento do plano de expansão do setor
em curto, médio e longo prazo.
° Análise e promoção de habilitação técnica-econô-
mica, socioambiental e estudos para licença ambien-
tal prévia das usinas que vão para leilão.

Com o intuito de incorporar as funções de co-


mercialização de energia elétrica, até então realizadas
pelo Mercado Atacadista de Energia (MAE), e agre-
gar novas responsabilidades em relação à contrata-
ção, foi constituída a Câmara de Comercialização de
Energia Elétrica (CCEE). Compete à CCEE valorar
as transações realizadas no mercado de curto prazo
(spot), apurando semanalmente o Preço da Liquida-
ção das Diferenças (PLD); liquidar financeiramente
as negociações realizadas no curto prazo; executar
os leilões de energia elétrica; promover o registro
dos contratos e contabilizar todo o volume e mon-
tante de energia negociada (SILVA, 2011).
A Tabela 1 apresenta as principais mudanças
ocorridas nos modelos do setor elétrico nacional.
Ela abrange desde o modelo antigo, aquele que per-
durou até o ano de 1995, perpassando pelo modelo
de livre mercado, ocorrido entre 1995 e 2003, até
o modelo atual, conhecido como a segunda altera-
ção do SEB ou modelo reestruturado, instituído em
2004, por meio da Lei nº 10.848.
1.1 Geração de energia elétrica

Antes de tratarmos da geração de energia elé-


trica no Brasil, relembraremos o conceito de energia
elétrica, suas fontes e o processo de geração.
Podemos conceituar energia elétrica como a ca-
pacidade de uma corrente elétrica produzir trabalho.
Esta energia é advinda da diferença de potencial elé-
trico entre dois pontos, gerando, desta forma, cor-
rente elétrica. É possível calcular a energia elétrica,
por meio da Equação 1:

Podemos encontrar em nosso planeta diversos


recursos naturais de fontes distintas, que podem ser
convertidas em energia. As fontes de energia são
classificadas em renováveis, ou seja, aquelas cuja
fonte primária se restabelece de forma natural (ener-
gia hidráulica, solar, eólica entre outras) e em não
renováveis, aquelas em que as fontes primárias de
energia se esgotam, pois estão disponíveis na nature-
za em quantidade finita.

1.1.1 Energia hidráulica


O recurso natural mais abundante em nosso pla-
neta, sem dúvida, é a água, que recobre, sob diversas
formas, 2/3 da superfície da Terra. Associada à sua
abundância, a renovabilidade da água a caracterizam
como melhor opção para geração de energia elétrica.
Ainda assim, conforme a ANEEL (2008), a
expressividade do uso da água, na matriz energética
mundial, ainda é muito baixa, comparada às demais
fontes, como demonstrado na Figura 3:

Figura 3: Matriz energética mundial nos anos de 1973 e 2006.


Fonte: (ANEEL, 2008).

Um dos motivos para a pouca utilização da


água é devido a sua localização. O maior volume
de água se encontra nos oceanos. Deste modo, são
aproveitados somente os potenciais de água doce e
destes, apenas aqueles que possuem desníveis acen-
tuados, podem ser utilizados.
Os locais onde mais se utiliza este recurso são
a China e América Latina No caso da América Lati-
na, essa posição se deve ao fato de o Brasil possuir
bastante potencial que pode ser aproveitado. Entre-
tanto, o grande impacto ambiental gerado na cons-
trução de usinas coloca em questão a construção de
novos empreendimentos hidrelétricos. Em termos
de consumo, a Tabela 2 demonstra um ranking dos
maiores consumidores de energia, originada desta
fonte, nos anos de 2006 e 2007:

De acordo com a ANEEL (2008), a China, se-


guida da Rússia, possui os potenciais aproveitáveis,
de energia de fonte hidráulica, mais expressivos do
mundo. Na listagem, em seguida está o Brasil, Ca-
nadá, Índia, Congo e os Estados Unidos, conforme
a Figura 4:
Figura 4: Principais potenciais hidrelétricos aproveitáveis
no mundo.
Fonte: (ANEEL, 2008)

A fim de aproveitar o potencial hidrelétrico,


além das características fluviais necessárias, é impor-
tante que o projeto de engenharia da usina hidrelétri-
ca seja eficiente. A Figura 5 apresenta a estrutura bá-
sica de uma usina hidrelétrica e seus componentes:

Figura 5: Esquema de uma usina hidrelétrica.


Fonte: (ANEEL, 2008).
Existem usinas conhecidas como fio d’água, que ficam pró-
ximas à superfície do rio e utilizam turbinas, aproveitando a
velocidade da água dos rios para produção de energia elétrica,
dispensando, assim, a utilização de um reservatório. Sua princi-
pal vantagem é o fato de não ser necessário alagar uma grande
área, comprometendo a fauna e flora local para criação de um
reservatório. Entretanto, não são todos os aproveitamentos
fluviais que são capazes de fornecer as características necessá-
rias para a construção deste tipo de usina. Além disso, não há
como pensar em segurança do sistema de energia com este tipo
de usina, pois não há estocagem de água e, dessa forma, em
períodos de seca a geração de energia pode ser afetada.

1.1.2 Biomassa

De acordo com informações do Ministério do


Meio Ambiente - MMA (2014), a biomassa é qual-
quer recurso renovável, que se destina à produção
de energia, derivado de matéria orgânica, seja de ori-
gem animal ou vegetal. Como exemplo de biomassa
temos a cana de açúcar, casca de arroz, cascas de
castanhas, coco da Bahia, coco de babaçu e dendê,
cascas de laranjas, entre outros.
Conceitualmente, por meio da fotossíntese, a radia-
ção solar é convertida em energia química. Esta, por sua
vez, é componente básico para os processos biológicos.
Dentre as diversas vantagens desta fonte de
energia, podemos destacar:

º Sua eficiência em termos energéticos.


º O fácil reaproveitamento de resíduos.
º A simplicidade em se transportar e armazenar.
º O custo de operação otimizado.
º A redução de emissão de gases poluentes, devido a
sua característica renovável e limpa.
º A vantagem competitiva de sua produção no Brasil, por
causa das condições naturais e geográficas favoráveis.

A biomassa é considerada tanto no mercado


nacional, quanto no mercado internacional como
uma boa alternativa para aumentar a diversificação
da matriz energética atual. Sua produtividade, em
termos energéticos, é de grande importância, em
função da versatilidade em gerar tanto eletricidade,
como biocombustível.
Apesar da grande conveniência, é possível no-
tar que, historicamente, esta fonte de energia tem
sido pouco utilizada e tem, assim, baixa represen-
tatividade na matriz energética mundial. A Figura 6
expõe esta realidade, no período entre 1973 e 2006,
demonstrando o consumo mundial final de energia
desta fonte:
Figura 6: Matriz de consumo final de energia nos anos de
1973 e 2006.
Fonte: (ANEEL, 2008)

Para se produzir energia elétrica em escala co-


mercial, a partir desta fonte, é necessária a vincula-
ção à produção da agroindústria, a fim de se obter
resíduos suficientes para o processamento. Apesar de
sua baixa representação na matriz elétrica, a produção
e consumo de biocombustível (etanol) tem crescido
substancialmente, como disposto na Figura 7:

Figura 7: Produção mundial de etanol.


Fonte: (ANEEL, 2008)
Consoante a ANEEL (2008), a biomassa, na
agroindústria, é obtida por meio da fermentação
ocorrida nos recursos como cana-de-açúcar, beterra-
ba, milho etc. As leveduras se alimentam do açúcar,
liberando álcool e produzindo, assim, o etanol na
forma de álcool hidratado, utilizado em motores de
combustão interna. Neste processo, também é pro-
duzido, em menor quantidade, o álcool anidro, uti-
lizado em misturas para gasolina. O resíduo sólido
deste processo pode ser utilizado para a produção
de eletricidade.
Para se produzir energia elétrica, por meio da
biomassa, o recurso primário, por exemplo, a cana-
-de-açúcar, deve ser processado. Em seguida, o re-
síduo dessa matéria-prima deve alimentar uma má-
quina motriz, que transforma a energia mecânica em
energia elétrica.
As principais tecnologias utilizadas, atualmente,
para transformar a biomassa em energia elétrica são:

º Ciclo a vapor com turbinas de contrapressão.


º Ciclo a vapor com turbinas de condensação e ex-
tração de vapor.
º Ciclo combinado integrado à gaseificação da biomassa.

1.1.3 Energia eólica

Energia eólica é produzida por meio da energia


cinética, advinda da circulação das massas de ar (ven-
to). A criação dos moinhos de vento, no século XIV,
pelos holandeses, foi o primeiro registro da utiliza-
ção da energia eólica para diversas aplicações, como
bombeamento de água, moagem de trigo, entre ou-
tras. Com o Segundo Choque do Petróleo, diversos
países investiram em energia eólica, com a finalidade
de assegurar o fornecimento de energia, no futuro.
Consequentemente, foi se adquirindo, desde então,
tecnologias mais eficientes e de custo reduzido.
O relatório produzido pela Word Wind
Energy Association - WWEA (2012) objetiva reunir
as informações acerca da energia eólica, no mundo,
e produzir resultados e índices de crescimento dessa
fonte. Assim, segundo o Word Wind Energy Report
(WWER), no ano de 2012, foi sumarizado:

º A capacidade eólica, em todo o mundo, atingiu


182.275 MW, dos quais 44.609MW foram adiciona-
dos no ano de 2012.
º A energia eólica apurou uma taxa de crescimento
de 19,2%.
º Todas as turbinas eólicas instaladas até o final de
2012, em todo o mundo, fornecem 580 TWh por
ano, o que representa mais de 3% da demanda global
de eletricidade.
º O setor de energia eólica, no ano de 2012, movi-
mentou cerca de 75 bilhões de dólares.
º Ao todo, 100 países e regiões utilizam energia eó-
lica para produção de eletricidade. A Islândia foi o
100º país a aderir ao uso da energia eólica.
º China e EUA instalaram cerca de 13GW em no-
vas turbinas.
º A maior representação de novas instalações se en-
contra na Ásia (36,3%), seguida pela América do
Norte (31,3%) e Europa (27,5%). A América Latina
(3,9%), Austrália/Oceania (0,8%) e África (0,2%)
ainda são mercados pouco representativos no setor
de energia eólica no mundo.
º A América Latina e Leste Europeu continuam a ser
as regiões do mundo mais dinâmicas para instalações
de novos parques eólicos. A África mostrou estagna-
ção nesse sentido.
º A China continua sendo, de longe, o maior merca-
do asiático e aumentou 13 GW de energia eólica na
geração de eletricidade.
º A Índia voltou a ser o terceiro maior mercado
para novas turbinas eólicas no mundo, adicionando
2,5GW. O terceiro maior mercado de energia eólica
da Ásia, o Japão, cresceu muito lentamente e instalou
menos que o recém-chegado Paquistão.
º O mercado dos EUA estabeleceu um novo recorde
e se tornou o maior mercado do mundo para novas
turbinas eólicas, somando 13 GW. Já o mercado cana-
dense abrandou e cresceu menos que a média global.
º A Alemanha continuou seu papel com o maior e
mais estável mercado na Europa, com 31 GW, segui-
do pela Espanha, com 22,8 GW.
º O Reino Unido assumiu a posição de segundo
maior mercado europeu.
º Itália, França e Reino Unido continuam a ser os
mercados de médio porte, com uma capacidade total
entre 7,5 e 8,5 GW. Polônia, Romênia e Suécia se tor-
naram os principais mercados para novas turbinas.
º A participação da energia eólica offshore na capa-
cidade global aumentou para 1,9%.
º Política e incertezas nos principais mercados repre-
sentam uma grande barreira para maior inserção da
energia eólica.
º WWEA projeta uma capacidade global de mais de
500.000 MW até o ano de 2016.
º Cerca de 1.000.000 MW são possíveis de ser alcan-
çados até o ano de 2020.

Conforme a ANEEL (2008), a evolução da tec-


nologia, referente aos equipamentos para se produ-
zir energia eólica, avançou de forma impressionante,
viabilizando, por exemplo, a construção de parques
eólicos, devido à maior eficiência e à redução do cus-
to de implantação. Na década de 80, o diâmetro de
uma turbina era de 20m. Tal medida limitava o apro-
veitamento dos ventos. Atualmente, com diâmetro
de até 100m, é possível alcançar 5 mil kW. A evo-
lução da capacidade instalada de energia eólica, no
mundo, é demonstrada pela Figura 8:

Figura 8: Evolução da capacidade instalada de energia


eólica no mundo.
Fonte: (WWEA, 2012).

A Tabela 3 compara o ranking dos 20 maiores


países em capacidade instalada, do ano de 2008
a 2012:
A China lidera o ranking desde o ano de 2010,
com uma capacidade instalada, até o final de 2012,
de mais de 75 mil MW, crescendo 20,8% do ano de
2011 para o ano de 2012. A atuação do Brasil é sur-
preendente. Em 2011, ocupava a 20ª posição, subiu
para a 15ª posição no ranking, com uma taxa de cres-
cimento, entre 2011 e 2012, de mais de 75% e uma
capacidade instalada de 2.584 MW.
Tecnicamente, a geração de eletricidade, por
meio da energia eólica, ocorre pelo contato direto
do vento com as pás do aerogerador. Ao girar as
pás, a energia cinética dos ventos é transformada em
energia mecânica e o rotor é acionado, produzindo
assim, a eletricidade. Os aerogeradores são ligados
em linhas de transmissão, que por sua vez liberam a
energia na rede.
Como não é possível armazenar a energia eóli-
ca, o ONS, em seus procedimentos de rede, estabe-
lece que a eletricidade, proveniente desta fonte, deve
ser a primeira a ser despachada. Em outras palavras,
à medida que a energia é gerada, ela é, automatica-
mente, disponibilizada na rede. Depois da contabi-
lização dessa geração é que se libera a operação da
energia das demais fontes.

1.1.4 Gás natural

O gás natural, um hidrocarboneto5, é derivado


da decomposição de matéria orgânica no subsolo.
É possível encontrá-lo, principalmente, em rochas
porosas e isoladas. O que torna interessante o uso
do gás natural é seu amplo emprego em todos os
setores da economia, uma vez que é possível gerar,
a partir dele, eletricidade, vapor, calor, combustível
para motores, bem como ser um substituto viável ao
gás liquefeito de petróleo (GLP).
A produção de eletricidade, por meio de gás
natural, ocorre, tecnicamente, por dois meios: o pri-
meiro é a utilização, exclusivamente, para a geração
de energia elétrica e o segundo, através do processo
de cogeração, além da eletricidade, pode gerar calor

5
O primeiro estágio do hidrocarboneto (advindo da decomposição
animal e vegetal em milhões de anos) é o petróleo, somente no final
de sua degradação que se obtém o gás natural.
e vapor para processos industriais (ANEEL, 2008).
De acordo com a ANEEL (2008), “O gás na-
tural apresenta uma vantagem ambiental significativa
em relação a outros combustíveis fósseis, em função
da menor emissão de gases poluentes que contri-
buem para o efeito estufa”.

1.1.5 Petróleo

O petróleo é uma mistura inflamável e líquida,


advinda de compostos orgânicos como plantas, ani-
mais e vegetação típica de regiões alagadiças. O com-
posto químico principal é o hidrocarboneto, que se
constitui de átomos de carbono e hidrogênio e que,
também, pode se associar a outros átomos, como o
de oxigênio, nitrogênio e enxofre, originando com-
postos de qualidades distintas.
É encontrado em terreno sedimentar, onde há
pouca oxigenação. Em sua forma natural, o petróleo
não possui aplicações imediatas. Por isso, é necessá-
rio realizar o processo de refino desse óleo, a fim de
obter os derivados utilizados em toda a cadeia eco-
nômica. O consumo de petróleo no setor de trans-
porte é expressivo em relação aos demais setores. A
Figura 9 dispõe a proporção média dos derivados do
processo de refino do petróleo e a Tabela 4 demons-
tra a composição setorial do consumo de derivados
do petróleo, do ano de 2004 a 2012:
Figura 9: Derivados do petróleo após refino.
Fonte: IEA (2008).

6
Tep é a sigla de tonelada equivalente de petróleo, uma unidade
de medida de energia que corresponde a 42GJ ou 11.630 MW.
Os derivados do petróleo utilizados na produção
de eletricidade são o óleo diesel, óleo combustível e
óleo superviscoso. A obtenção desses derivados de-
pende das condições do solo. Por sua vez, a qualidade
do óleo extraído pode ser considerada como:

º Leve: são as mais valorizadas no mercado, pois,


desta qualidade se derivam gasolina, nafta e GLP.
º Média: é responsável pela maior parte da produção
de querosene e óleo diesel.
º Pesada: é a qualidade que se encontra em maior es-
cala no Brasil e Venezuela. Sua produção gera, prin-
cipalmente, asfalto e óleos combustíveis.

O processo de geração de energia elétrica, a


partir de derivados do petróleo, é semelhante ao
procedimento utilizado nas plantas termelétricas,
movidas por outros compostos. De forma concisa,
o derivado do petróleo é estocado e, posteriormen-
te, é queimado em uma câmara de combustão. Pelo
aumento de pressão, esta câmara gera vapor que mo-
vimenta as turbinas, transformando, assim, a energia
mecânica desse processo em energia elétrica.

1.1.6 Carvão mineral

O carvão é um sedimento sólido e combustível,


que se subdivide em duas fontes: mineral, advindo
da decomposição de matéria orgânica e o vegetal,
que provém da queima da lenha. Ambos são uti-
lizados no mercado de eletricidade, porém o mais
comum no Brasil é o carvão mineral, uma vez que
a sua capacidade de gerar calor (poder calorífico) é
superior em relação ao carvão vegetal.
As reservas de carvão são encontradas no mun-
do inteiro. Segundo a WCA (2012), elas totalizam
861 bilhões de toneladas. Os dez maiores produto-
res de carvão, no mundo, estão listados na Tabela 5.
Representando 41% da produção de eletricidade, o
carvão é o combustível de maior representatividade
na matriz elétrica mundial. Os dez países que mais
geram eletricidade a partir desta fonte são apresen-
tados na Tabela 6:
O carvão mineral é classificado por sua qualida-
de, que se subdivide em baixa e alta qualidade. Os de
baixa qualidade (linhito e sub-betuminoso) possuem
pouca concentração de carbono e, por isso, não pos-
suem valor no mercado internacional. Já os de alta
qualidade (antracito e betuminoso) possuem muita
concentração de carbono e são mais atrativos no
mercado internacional. A Figura 10 mostra a clas-
sificação dos tipos de carvão, a média das reservas
mundiais. bem com sua aplicação final:

Figura 10: Tipos de carvão, reservas mundiais e aplicações.


Fonte: ANEEL (2008).

Em termos de impactos ambientais, o carvão


é considerado o que mais agride o meio ambiente,
pois possui o maior indicador de emissão de gás
carbônico CO2. Para cada tonelada equivalente de
petróleo (tep) de carvão, consumido na geração elé-
trica, são emitidos, aproximadamente, 4 toneladas de
CO2. Contudo, investimentos em novas tecnologias,
com a finalidade de reduzir as emissões de impure-
zas, estão sendo realizados.

1.1.7 Energia nuclear

A energia nuclear é originada da transforma-


ção de núcleos atômicos de alguns elementos. É por
meio dessas reações que se obtém energia. A tec-
nologia que aproveita essas reações tem a finalidade
principal de gerar eletricidade. Para tanto, há duas
formas de processo: a fissão e fusão nuclear. O pri-
meiro processo ocorre com a divisão do núcleo em
pelo menos duas partículas, já o segundo advém da
junção de dois núcleos, a fim de se produzir um ter-
ceiro elemento.
Conforme a Eletronuclear (2012), a técnica
mais utilizada para produção de eletricidade é a fis-
são do átomo de urânio. Empregada em mais de 400
usinas, em todo o mundo, ela produziu, em 2012,
um montante de cerca de 2.300 TWh de eletricidade.
A Tabela 7 apresenta a produção de eletricidade, por
país, em 2011 e 2012, bem como o percentual de
compartilhamento desse mercado, entre os anos de
2003 a 2012:
A utilização de energia nuclear para geração de
eletricidade é um dos temas mais polêmicos, discu-
tidos no setor elétrico. Suas vantagens são enormes,
uma vez que é considerada uma fonte limpa, ou seja,
que não libera gases e produtos tóxicos, que aumen-
tam o aquecimento global; o custo do urânio é bai-
xo, pois as reservas mundiais são extensas e não são
necessárias grandes áreas para a instalação de suas
usinas. No entanto, a grande discussão gira em tor-
no das grandes proporções dos acidentes nucleares.
Apesar da probabilidade pequena de ocorrência,
quando estes acidentes ocorrem, seus danos são fa-
tais e imensuráveis. Além disso, um grande problema
ambiental é o acúmulo de dejetos radioativos e a for-
ma de se dispor desta sobra de material. Atualmente,
nas usinas nucleares situadas no Brasil, esse descarte
é realizado em piscinas projetadas para esse fim.

1.2 Geração de energia elétrica no Brasil

De acordo com a ANEEL (2014), contabiliza-


-se um total de 3.025 empreendimentos de gera-
ção de energia elétrica em operação, totalizando
126.383.975 kW de potência instalada, atualmente,
no Brasil. Ainda com previsão de se expandir a ca-
pacidade de geração nacional em 35.849.675 kW,
advindo de outros 690 empreendimentos, dos quais
147 já estão em construção e os demais 543 com
a concessão outorgada. São apresentadas na Tabela
8 as fontes e capacidade dos empreendimentos em
operação, atualmente, no Brasil:
A energia elétrica produzida, no Brasil, é em sua
maioria originada de hidroeletricidade, representan-
do, atualmente, 64% da matriz de geração, conforme
ilustrado pela Figura 11:

Figura 11: Matriz elétrica brasileira.


Fonte: (ANEEL, 2014).
Apesar do baixo custo de geração desta fon-
te, normalmente, suas usinas são localizadas distan-
tes dos centros de consumo, o que acaba, por fim,
onerando o sistema de transporte. Ademais, são ne-
cessários altíssimos investimentos iniciais para cons-
trução das usinas. Segundo Albuquerque (2009), os
cursos d’água, em geral, são inacessíveis, devido a
sua posição geográfica e, assim, existe a necessidade
de utilização de tecnologias de alto custo para viabi-
lizar o projeto.
Ocupando cerca de 20% da matriz elétrica,
as fontes não renováveis apresentam consideráveis
emissões de gases poluentes. O custo de geração
destas fontes é vinculado ao preço de outros pro-
dutos, como no caso de usinas movidas a óleo, que
dependem do preço do petróleo. Esta dependência
pode encarecer, consideravelmente, o preço da ener-
gia. Entretanto, elas não dependem do clima e não
são tão limitadas quanto à localização das usinas,
colaborando com a segurança do setor de energia
(ALBUQUERQUE, 2009).
Nestes últimos anos, é possível notar o esforço
do Governo em diversificar a matriz energética, in-
serindo em seus leilões usinas de fontes renováveis,
como biomassa, eólica e até mesmo fotovoltaica.
Além das fontes que geram energia elétrica, o
segmento de geração é composto por agentes pri-
vados, que devem prestar contas ao poder público,
bem como se submeter à fiscalização, por parte das
instituições governamentais.
A fim de garantir a quantidade de energia pro-
duzida e vendida pelas usinas, foi estipulado o con-
ceito de energia assegurada ou garantia física, ou
seja, a quantidade máxima de energia elétrica que
pode ser comercializada pelas usinas, independente
de sua capacidade instalada. O MME, de posse de
estudos realizados pela EPE e seguindo as instru-
ções do CNPE, calcula essa quantidade para cada
empreendimento.
A métrica de energia assegurada é utilizada para
garantir que a usina conseguirá produzir e vender
uma quantidade de energia, que não seja a sua capa-
cidade máxima, a fim de que ela seja contratada pelos
agentes no mercado. Em casos de geração superior
à quantidade contratada, os geradores dependem do
Mecanismo de Realocação de Energia (MRE), que
reorganiza o sistema, transferindo todo excedente
gerado para as usinas que tiverem uma produção
inferior ao contratado. Caso todas as usinas gerem
uma capacidade superior à energia assegurada, en-
tão, será possível liquidar esse excedente no mercado
de curto prazo. Caso contrário, é utilizado um fator
de ajuste que abaixa, automaticamente, o nível da
energia assegurada de cada usina.

1.3 Transmissão de energia elétrica


A função da rede de transmissão é conectar as
usinas geradoras aos centros de distribuição de gran-
de consumo. As linhas de transmissão são conside-
radas de alta tensão, pois transportam uma corrente
de 138 kV até 765 kV, variando em cada localidade.
A grande maioria das linhas de transmissão bra-
sileiras é aérea, portanto, são compostas por: torres
que visam a segurança, garantindo a distância apro-
priada e prevista por órgãos de segurança; isolado-
res para evitar que a energia escape pela estrutura da
torre; cabos de material adequado para o transporte
da corrente e subestações que direcionam e contro-
lam o fluxo da corrente, bem como realizam a trans-
formação da tensão elétrica.
O sistema elétrico brasileiro é composto por um
Sistema Interligado Nacional (SIN), que são divididos
em submercados (Nordeste, parte da região Norte,
Sudeste/Centro-Oeste e Sul), devido às dificuldades
geográficas. Somente 1,7% da capacidade de produ-
ção de eletricidade do país encontram-se fora do SIN,
em pequenos sistemas isolados, localizados, principal-
mente, na região amazônica (ONS, 2014).
O ONS opera no SIN com a finalidade de am-
pliar e reforçar a rede básica, avaliar as condições das
operações futuras e de curto prazo, produzir o re-
sultado dessas operações, analisar a carga e deman-
da de energia, integrar novas instalações, fornecer o
histórico da operação, bem como os indicadores de
desempenho do SIN e administrar os serviços de
transmissão. A Figura 12 ilustra o sistema de trans-
missão de energia elétrica:

Figura 12: Sistema Interligado Nacional (SIN).


Fonte: ONS (2014).

Os contratos de serviços de transmissão


(CPST) são celebrados entre a ONS e as empresas
detentoras da concessão do serviço de transmissão,
que são licitados por meio de leilão público, organi-
zados pela ANEEL. Os contratos estipulados pela
legislação vigente são:

º CPST – Contrato de prestação de serviço de transmissão;


° CUST – Contrato do uso do sistema de transmis-
são;
° CUST F – Contrato de uso flexível do sistema de
transmissão;
º CUST – Contrato de uso de importação e exporta-
ção do sistema de transmissão.

Além destes contratos, existem os contratos de


constituição de garantia e de carta de fiança bancária,
que garantem a realização do serviço de transmissão,
dentro das normas de qualidade estabelecidas.
O ONS realiza, mensalmente, um relatório
(Apuração Mensal dos Serviços e Encargos de Trans-
missão – AMSE) para calcular os valores mensais
das receitas dos concessionários de transmissão e os
encargos de uso do sistema (EUST), que devem ser
cobrados de cada usuário. De acordo com o último
relatório, disponível em outubro de 2012, existem,
no Brasil, 105 concessões de linhas de transmissão
para 76 empresas públicas e privadas. As concessões
conferem 30 anos de operação e podem ser prorro-
gadas por igual período.
Existem investimentos intensivos para a am-
pliação do sistema de transmissão. O Programa de
Expansão da Transmissão (PET), realizado pela
EPE, é um conjunto de diretrizes e estudos para a
ampliação do sistema. Segundo o ciclo do programa,
que envolve os anos de 2013 a 2018, será investido
R$ 17,9 bilhões de reais em novas linhas de trans-
missões e subestações, com as licitações se iniciando
no ano de 2014.

1.4 Distribuição de energia elétrica

Com a finalidade de atender os clientes cativos,


a concessão de distribuição objetiva a comercializa-
ção de energia elétrica, além de efetuar a entrega des-
sa energia para esses consumidores. Este segmento
é separado, geograficamente, em áreas de concessão.
Conforme Silva (2011), “as empresas distribuidoras
são monopólios naturais, uma vez que, são obriga-
das a atender na totalidade a demanda de seus clien-
tes da região de atuação”.
Atualmente, são registrados na CCEE 47 agen-
tes de distribuição que atendem, aproximadamen-
te, 74 milhões de unidades consumidoras (UC), em
todo Brasil. Mais de 85% dessas unidades são de
classe residencial.
A atividade de distribuição é considerada mo-
nopólio natural e as companhias que exploram esse
serviço devem cumprir as obrigações regidas em
contrato. Esses deveres são regulados e fiscalizados
pela agência de fiscalização, a ANEEL, visando ga-
rantir uma tarifa viável para o consumidor final, bem
como um rendimento justo para a saúde econômica
e financeira da empresa.
Uma das análises feita pela ANEEL é a variação
dos indicadores de qualidade do serviço (duração e
frequência), conhecidos por Duração Equivalente
de Interrupção por Unidade Consumidora (DEC) e
a Frequência Equivalente de Interrupção por Uni-
dade Consumidora (FEC), entre outros parâmetros.
Esses indicadores são utilizados para a avaliação de
reajuste tarifário solicitado pela companhia. A Tabe-
la 9 apresenta a média nacional de DEC e FEC apu-
rados e os valores limites, dos anos de 2008 a 2012:

Além do fornecimento de energia elétrica com


qualidade aos consumidores, é obrigação das distri-
buidoras participar de programas voltados aos con-
sumidores, seja de inclusão ou de tarifas especiais
para clientes residenciais de baixo consumo. Devem,
também, criar meios de conscientização sobre o uso
adequado da energia e participar de programas de
eficiência energética e pesquisa e desenvolvimento.
Segundo a ABRADEE (2012), a tarifa de energia
é utilizada para calcular o valor da conta de energia
a ser paga pelo consumidor final. Esta tarifa é com-
posta por: custos de geração, que são os valores da
produção da energia, pagos às geradoras, através dos
contratos firmados nos leilões de energia; Tarifa de
Uso de Transmissão (TUST), que são os valores pa-
gos a concessionária de transmissão; Tarifa do Uso
de Distribuição (TUSD), que são valores pagos para
cobrir os custos da manutenção da rede de distribui-
ção; perdas técnicas e não técnicas. A primeira tarifa
se refere a perdas inerentes ao processo de transporte
e a segunda ao roubo e furto de energia elétrica; além
de encargos e tributos. A média nacional da composi-
ção tarifária é demonstrada na Figura 13:

Figura 13: Média da composição tarifária brasileira em 2012.


Fonte: ABRADEE (2012).
Existem, na legislação vigente, três formas de
se atualizar as tarifas de energia, impactando, direta-
mente, na remuneração da companhia de distribui-
ção. A primeira é pelo Reajuste Tarifário que ocor-
re anualmente e é calculado conforme o Contrato
de Concessão. A segunda maneira de se obter esta
atualização é por meio da Revisão Tarifária Perió-
dica, que objetiva ajustar o patamar de tarifas, ade-
quadamente, de acordo com a estrutura econômica
da empresa. Esta Revisão ocorre em ciclos de qua-
tro a cinco anos e nela são avaliados os índices de
qualidade, a eficiência na administração dos custos
variáveis, investimentos e receitas. Por último, há a
Revisão Tarifária Extraordinária que pode ocorrer
em qualquer momento, desde que seja justificada.
Existem, ainda, tarifas distintas para cada tipo
de consumidor, que são classificados como: residen-
cial, comercial, industrial, rural, iluminação pública,
poder público, serviço público e consumo rural.
Para classificar um consumidor, deve-se identificar
sua faixa de consumo e considerá-lo, consoante a
Tabela 11
Segundo Gunn (2008), estas faixas de con-
sumos ou tarifas são classificadas em dois gru-
pos de consumidores:

Grupo A e Grupo B.
As tarifas de Grupo A são para consumidores atendidos pela
rede de alta tensão e recebem denominações seguidas de nú-
meros e/ou letras conforme o nível de tensão. Estas tarifas são
construídas em três modalidades de fornecimento: convencio-
nal, horo-sazonal azul e horo- sazonal verde. Estas modalida-
des de tarifas são caracterizadas por diferentes valores aplica-
dos conforme as horas de utilização do dia e dos períodos do
ano, de modo a racionalizar energia nos horários de pico e nas
épocas secas. As tarifas do Grupo B são para consumidores
atendidos em tensão inferior a 2,3 kV. (GUNN, 2008).
Exercícios - Unidade 1
1. Cite qual foi o principal objetivo da reestruturação
do projeto RE-SEB:

2. Em função da Lei nº. 9.427, de 1996, foi instituída


a Agência Nacional de Energia Elétrica. Neste con-
texto, explique qual a função da ANEEL no âmbito
do setor elétrico:

3. No que se refere à geração de energia elétrica,


conceitue Garantia Física:

4. O segmento de transmissão conecta as usinas ge-


radoras aos centros de distribuição de grande con-
sumo. Para tanto, existem contratos de transmissão.
Cite quais são eles:

5. A tarifa de energia é utilizada para calcular o valor


da conta de energia a ser paga pelo consumidor final.
Descreva composição da tarifa de energia elétrica:
UNIDADE 1 – COMPOSIÇÃO DO SISTEMA
ELÉTRICO DE POTÊNCIA

1. O principal objetivo da reestruturação do


projeto RE_SEB foi a desverticalização das empre-
sas do setor com intuito de induzir o aumento da
concorrência nos segmentos de geração e comer-
cialização incentivando a competição e; ao mesmo
tempo manteve regulamentados os segmentos de
transmissão e distribuição que foram categorizados
como monopólio natural.

2. A função da ANEEL é regular e fiscalizar


todos os segmentos do setor elétrico, para manter
a qualidade dos serviços aos consumidores finais,
estabelecer as tarifas e universalizar o atendimento,
bem como, promover as licitações destinadas à con-
tratação de energia elétrica.

3. Garantia física ou Energia Assegurada é a quan-


tidade máxima de energia elétrica que pode ser comer-
cializada por uma usina, independente de sua capacida-
de instalada. Este conceito foi estabelecido para garan-
tir a segurança de contratação de energia elétrica.

4. Os contratos de transmissão são:

• CPST – Contrato de prestação de serviço de transmissão;


• CUST – Contrato do uso do sistema de transmissão;
• CUST F – Contrato de Uso flexível do sistema de transmissão;
• CUST – Contrato de uso de importação e exporta-
ção do sistema de transmissão;

Além desses contratos, existem os contratos de


constituição de garantia e de carta de fiança bancária
que garantem que o serviço de transmissão seja com-
prido dentro das normas de qualidade estabelecidas.

5. A tarifa de energia elétrica é composta por


35% do custo da energia propriamente dita, 8% do
custo de transmissão, 12% do custo de encargos, 27%
do custo de tributos e 18% do custo de distribuição.
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