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Esta postagem foi publicada em SCIO SCIRE DOMINIUM às 13:34:27 de 20/12/2020

2020, o ano que não se iniciou ...


Categoria Negócios & Coisas

Em 1988, o jornalista Zuenir Ventura escreveu o livro “1968 – o ano que não terminou ... “, uma crônica
com reflexões e considerações de um dos anos mais intensos da história no Brasil e no mundo. Foi um
ano em que, especialmente no Brasil se ergueram lealdades e bandeiras que, mesmo aparentemente
ultrapassadas, ainda continuam sendo observadas no cenário político. Narra o transcorreu no Brasil e no
mundo, que foi cenário de manifestações estudantis contra o sistema, no Brasil, contra a ditadura
estabelecida em 1964 e sua repressão.

A narração de Zuenir Ventura é envolvente, extremamente clara, o que inevitavelmente nos leva a fazer
um paralelo com as idiossincrasias que hoje observamos. As reações polarizadas, exacerbadas e
posições, “um tanto quando desbotadas” como diria Zuenir, que se toma frente a questões atuais, onde
percebe-se uma profunda repugnância às conquistas HUMANAS que reverberam a partir de 1968.

Se 1968 foi o ano que não terminou, porque os movimentos e os ideais estudantis do questionamento
do sistema a época, reverberam ainda hoje, 2020 afetado por essa reverberação ressoa em um
harmônico oposto, como uma contra frequência complementar tentando abafar os ruídos das
conquistas e esclarecimento trazidos por aqueles que viveram as experiências e fatos da época.

2020 é o ano que não se iniciou, claramente é uma “marcha a ré” ao que representou 1968: as
liberdades individuais, garantias de direitos e equidade social bem como consolidação do conhecimento
técnico científico em setores que tornaram possível as conquistas incríveis dos anos 70 – chegada do
homem a lua (só possível porque a terra é redonda. Estranho ter que hoje defender um fato que no
século XVIII foi pacificado), as vacinas, os transplantes.

Estranhamente, em 2020 surgem os “questionadores” com saudade daquilo que não viveram e
pululando seu fel, gritam a plenos pulmões que toda e qualquer conquista que apoia o equidade social
ou que torna acessível indistintamente a cor, credo ou origem, à educação e esclarecimento deve ser
ferrenhamente combatida, porque “questionar é proibido, errado e inconveniente”, principalmente se o
questionamento surge a partir do conhecimento, esclarecimento e principalmente erudição. “CALE A
BOCA, OUÇA ... NÂO ESTOU QUERENDO SABER SUA OPINIÂO.” – impressionante como esse grito surdo
é repetido a qualquer um que ouse querer entender, debater ou participar de qualquer ação ou
processo em que seja envolvido. Podemos dizer que esse é o ano do “CALA A SUA BOCA ...”.

Constatar isso nas nossas redes sociais, não vale. Afinal as pessoas se engajam nas redes sociais
justamente para encontrar suas bolhas onde os participantes ecoam as mesmas mensagens, idéias e
ideais. A bolha é para dar ao ente social a sensação de conforto - “eu estou certo e o mundo está
errado”. Mas observe as relações pessoais fora da bolha – trabalho, família e relações socias tradicionais
(não digitais exclusivamente). Qual perfil as empresas REALMENTE procuram. O elemento que não é
contestador, que adere aos processos e que não manifeste suas idéias que subvertam a ordem (ou que
não seja subversivo – outra expressão reverberada lá de 1968). Hoje o subversivo é o que quer entender
(demais – seja lá qual for a dimensão desse demais). A tão “badalada” disrupção procurada pelo
mercado digital só é bem vinda se circunscrita à esfera tecnológica (até essa hoje colocada sob um viés
de análise “geopoliticamente” correto – veja o caso do 5G e da nacionalidade da vacina contra a
COVID19). Infelizmente a agressão torna-se o tom da vez, porque “PRECISO MANIFESTAR MINHA
INDIGNAÇÂO A SUA OUSADIA E REPRIMI-LA DE FORMA QUE ELA NUNCA MAIS SE MANIFESTE”. A
agressão e a constante vigilância para barrar as oportunidades para aqueles que sejam “subversivos”,
afinal eles não podem prosperar enquanto não se dobrarem aos que não são a favor da erudição,
esclarecimento e debate de idéias.

Se 1968 é o ano que não terminou pelas reverberações positivas e conquistas que ressoam até hoje,
2020 quer ser o “tapa ouvidos” de forma que sejamos como ovelhas em um pasto, a espera de um
pastor que venha nos conduzir – e o estranho é, porque as pessoas preferem não conduzir e serem
conduzidas – ao contrário do que está escrito no brasão da prefeitura da cidade de São Paulo – “Non
ducor, duco” – Não sou conduzido, conduzo.

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