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br/artigo/pentecostalismos/
Pentecostalidade, portanto, como um dogma teológico cristão, é uma crença na ação da terceira pessoa
da Trindade, ou seja, através de visões, revelações, curas e glossolalia (manifestação de línguas
estranhas). Segundo essa doutrina, de acordo com a narrativa de Atos dos Apóstolos na Bíblia, o Espírito
Santo se manifestou no dia de Pentecostes, em Jerusalém, conforme o texto fundante transcrito abaixo
extraído do capítulo 2:1-18:
Chegando o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos num só lugar. De repente veio do céu um som,
como de um vento muito forte, e encheu toda a casa na qual estavam assentados. E viram o que parecia
línguas de fogo, que se separaram e pousaram sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito
Santo e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito os capacitava. Havia em Jerusalém
judeus, tementes a Deus, vindos de todas as nações do mundo. (…) Partos, medos e elamitas; habitantes
da Mesopotâmia, Judeia e Capadócia, Ponto e da província da Ásia, Frígia e Panfília, Egito e das partes da
Líbia próximas a Cirene; visitantes vindos de Roma, tanto judeus como convertidos ao judaísmo;
cretenses e árabes. (…) “Nos últimos dias, diz Deus, derramarei do meu Espírito sobre todos os povos. Os
seus filhos e as suas filhas profetizarão, os jovens terão visões, os velhos terão sonhos. Sobre os meus
servos e as minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles dias, e eles profetizarão”.
De acordo com este registro, estavam presentes em Jerusalém pessoas de diversas etnias e nações. Desta
forma, após o fenômeno da manifestação do Espírito Santo, elas levaram a “mensagem pentecostal” para
o resto do mundo, mas não de forma homogênea, pois, como escreveu o apóstolo Paulo posteriormente
sobre essa manifestação, ela se dá através da “diversidade de dons, ministérios e de formas de atuação” (I
Coríntios, 12: 4-6).
Ademais, no campo protestante, se considerarmos dois antípodas reformadores como Martinho Lutero e
Thomas Müntzer, ambos registraram manifestações de visões e revelações místicas (Alencar, 2017;
Febvre, 2012). Ao longo dos mais de quinhentos anos da Reforma Protestante, o que foram, desde o
século XVII, os grupos pietistas, Ranters, Quacres e Exército da Salvação na Europa (Hill, 1987)? E os
movimentos Holliness e os Revivals nos Estados Unidos, com suas reuniões de oração com choro, visões,
curas, revelações e, também, glossolalia, diversificados, mas mimetizados, que se repetiram ao longo dos
séculos, alguns bem diferentes dos pentecostalismos atuais, são marcas da pentecostalidade?
No Brasil, em 1841, no Recife, viveu Agostinho Pereira, o “Lutero Negro”, que junto a um grupo de
escravizados fundou a “Igreja do Divino Mestre”, baseada em uma leitura bíblica experiencial (Mesquiati,
2018) de revelação de um “Jesus acaboclado”. Ela foi rapidamente dizimada por ordem do Tribunal da
Inquisição (Alencar, 2018), sob uma ação policial. Em 1879, surgiu o “iluminismo protestante” (Leonard,
1963) na Igreja Evangélica Brasileira, liderada pelo ex-pastor presbiteriano Manoel Vieira Ferreira.
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Pentecostalismos - Religião e Poder https://religiaoepoder.org.br/artigo/pentecostalismos/
Considerando-se a narrativa da Bíblia, o Dia de Pentecostes, em Jerusalém, foi marcado por diversidade
étnica. Assim, espalhou-se na migração e “globalização” romana mesmo com todos os limites de tempo,
transporte, recursos e, ainda mais, como o Cristianismo em geral, sob muita perseguição.
ANOPOPULAÇÃO
MUNDIAL 1800900.000.00018501.000.000.00019502.500.000.00020006.000.000.00020167.000.000.000
Fonte: ONU
O “milagre” da multiplicação do movimento pentecostal é lido pelos fiéis como exclusiva ação divina, mas
é preciso considerar a explosão demográfica do século XX, que se inicia com um bilhão e termina com
seis bilhões de pessoas no mundo (Moreira, 2015).
O Pew Research Center estima que um quarto dos dois bilhões de cristãos no mundo são
pentecostais/carismáticos, incluindos os grupos no mundo católico, ortodoxo e protestante. No Brasil, há
os declarados pentecostais (membros de igrejas deste grupo), há os carismáticos (católicos da RCC) e os
renovados (de igrejas protestantes históricas). Há alguma similaridade com os EUA e outros países, mas,
como sempre, as conceituações não dão conta da complexidade da realidadea, ainda mais se tratando de
um fenômeno polissêmico e dinâmico como a religião.
Diversas pesquisas comprovaram que o pentecostalismo foi o movimento religioso cristão que mais
cresceu no século XX. Atualmente, as estimativas, internas e externas indicam que somente as
Assembleias de Deus (as maiores igrejas pentecostais no mundo e no Brasil) estão presentes em mais de
160 países do mundo, com 70 milhões de membros, conforme dados da Aliança Mundial Pentecostal.
O movimento da Azusa Street, ocorrido em 1906 na cidade de Los Angeles, liderado por Wiliam Seymour
(1870-1922), se tornou o marco inicial dos pentecostalismos modernos. Como disse Anderson (2019), lá
foi apenas uma das “Jerusaléns”, pois antes e simultâneo a ela, o fenômeno aconteceu em muitos outros
lugares.
No Chile, por exemplo, o avivamento pentecostal em 1906 se deu dentro do metodismo liderado por um
pastor norte-americano, W. Hoover (1858-1935), que conheceu a doutrina através da indiana Pandita
Ramabai (1858-1922). Definitivamente, o pentecostalismo sempre foi um movimento transnacional.
Gedeon Freire Alencar é mestre e doutor em Ciências da Religião e professor da Faculdade Teológica
Batista de São Paulo.
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Pentecostalismos - Religião e Poder https://religiaoepoder.org.br/artigo/pentecostalismos/
ALENCAR, Gedeon Freire.– Matriz Pentecostal Brasileira. Assembleias de Deus – 1911-2011. Rio de
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CORREA, Marina – Assembleias de Deus. Ministérios, carisma e exercício do poder, São Paulo, Ed.
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FEBVRE, Lucien. Martinho Lutero, um destino, São Paulo: Tres Estrelas, 2012.
HILL, Christopher. O mundo de ponta-cabeça. Ideias radicais durante a Revolução Inglesa de 1640. São
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LIMA, Daniel B; ALENCAR, Gedeon Freire; COREA, Marina Santos (orgs.) Reforma Protestante e
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MOREIRA, Alberto da Silva; TROMBETTA, Pino Luca. Pentecostalismo Globalizado. Goiânia: PUC-GO,
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OLIVEIRA, David Mesquiati (org.). Pentecostalismos e Unidade. São Paulo: Fonte Editorial/FPLC/GCF,
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MESQUITA, Cláudia. Santa Cruz : o mundo preenchido. Revista SEXTA FEIRA Nº 8 – PERIFERIA.
Disponível em: http://www.usp.br/revistasexta/files/n8-web_1.pdf
SITES
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Pentecostalismos - Religião e Poder https://religiaoepoder.org.br/artigo/pentecostalismos/
http://storage.cloversites.com/societyforpentecostalstudies/documents/article_index.pdf
Para assistir
Filme: Santo Forte (1999). Direção: Eduardo Coutinho. Lançamento: 19 de novembro. Gênero:
Documentário. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=bf9-GiJfwog
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