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BANCOS BRASILEIROS E A TEMÁTICA ASG – COMPARATIVO

1. DENIFIÇÃO ESTRATÉGICA

Os bancos brasileiros apresentaram objetivos estratégicos ASG claros e incorporados à


estratégia de negócios. Os destaques são o Banco do Brasil e o Itaú, que possuem
estratégias voltadas tanto para a operação – como o potencial de impacto gerado
(positivos ou negativos) pelos projetos apoiados e investimento responsável –, quanto
para o institucional, como apoio ao desenvolvimento de uma consciência de economia
verde, transparência, ética, entre outros.

Nessa linha, o Banco do Brasil, por exemplo, conta com um Plano de


Sustentabilidade que contém 50 ações e 86 indicadores vinculados 21 desafios
socioambientais identificados, que impactam os ODS e as metas do Acordo do
Paris. Além disso, dentro de suas diretrizes de sustentabilidade, encontra-se o
compromisso com a transição para uma economia de baixo carbono e a importância do
engajamento do setor privado.
Fonte: Agenda 30 BB.

O Itaú, por sua vez, inclui as questões ASG na sua estratégia de negócios e possui uma
matriz de materialidade, que considera a priorização de ODS e os impactos positivos
causados pelo Banco. Para isso, o Itaú conta com grupos de trabalho sobre temas ASG,
em que são priorizados o tema clima, gestão de riscos ASG, compliance regulatório,
diversidade e igualdade de gênero.

Fonte: Relatório Anual Itau 2019.

Já a Caixa não apresenta temas ASG atrelados aos seus objetivos estratégicos ou aos
negócios da instituição. Ainda assim, as questões ASG são abordadas de maneira a
cumprir as regulações do país.
2. ESTRUTURA ORGANIZACIONAL

Os multilaterais pesquisadas possuem equipes dedicadas e qualificadas para a gestão


ASG que, em geral, também são responsáveis pelas ações (oportunidades) no tema. Já
as IFs latino-americanas ainda se encontram no processo de criar capacidades internas
e de fortalecer a estrutura de governança ASG. Para isso, recebem apoio do primeiro
grupo, dado que ainda há pouco respaldo a nível de governo no México e Peru para o
avanço das finanças sustentáveis.

No Brasil, foi constatada uma situação similar à do grupo dos multilaterais, com
estruturas e equipes socioambientais bem definidas. Os destaques são, mais uma vez,
Itaú e Banco do Brasil nessa questão.

Ainda assim, é importante frisar que, em qualquer um dos grupos, não existe um modelo
de governança único. De modo geral, eles podem ser divididos em dois tipos: (i) modelo
de áreas (Risco SA, Sustentabilidade, Negócios SA, etc.), com atribuições bem definidas,
comum entre os multilaterais; (ii) modelo transversal, com temas ASG distribuídos entre
as diferentes áreas “tradicionais” de uma instituição (Negócios, Crédito, Riscos, entre
outras), mais frequente nas IFs comerciais. Há também combinações e modelos
intermediários. Somam-se a estas áreas a existência de comitês temáticos, que
congregam as áreas ASG e as “tradicionais”, para a tomada de decisões relacionadas à
temática socioambiental, especialmente nos grupos das IFs latino-americanas e
brasileiras.

Entre as IFs da América Latina, foi identificado que as equipes dedicadas integralmente
aos temas socioambientais são menos consolidadas em comparação com os bancos
brasileiros e com os bancos multilaterais. Isto é perceptível tanto no número de pessoas,
quanto na distribuição de responsabilidades e institucionalização de estruturas ASG.

Embora os três bancos brasileiros (Banco do Brasil, Caixa e Itaú) tenham apresentado
grandes diferenças entre suas estruturas de governança ASG, o Itaú e o Banco do Brasil
se destacaram quanto à robustez de sua governança e à qualificação de suas equipes
para a análise e avaliação socioambiental das operações. Ademais, as atividades ASG
são percebidas como fundamentais para a gestão dos riscos e para alcançar os objetivos
institucionais.

Com exceção do Banco do Brasil, onde não há uma equipe socioambiental dedicada
integralmente à gestão socioambiental das operações – embora as áreas “tradicionais”
recebam treinamentos sobre o tema com regularidade e possuam responsáveis do tema
a nível de diretoria –, os outros bancos possuem áreas para a gestão dos riscos ASG.
Nesse último caso, são equipes majoritariamente sêniores e com formações variadas
(direito, gestão ambiental, administração). Isso se dá porque as instituições consideram
importante ter diferentes capacidades e habilidades no acompanhamento das
operações. Ainda assim, essas áreas atuam em paralelo e com bastante interação com
as outras áreas de análise e gestão de riscos e o resultado é uma análise única.

No Banco do Brasil, os próprios executivos da área de crédito são responsáveis da


gestão ASG das operações. Porém, o banco possui executivos especialistas em alguns
setores, como agrícola e infraestrutura, para abordar os temas socioambientais desses
setores, onde o Banco possui uma participação considerável. Na área de riscos, também
é abordado o apetite do risco, incluído o SA. Ademais, há um VP responsável final por
toda a temática (núcleo de sustentabilidade), que por sua vez possui 3 gerências:
negócios sustentáveis, gestão de índices de sustentabilidade e gestão de
informação

Em ação ASG, também há diferença entre as instituições analisadas. O BB, mais uma
vez, não trata sobre o tema em área dedicada e a discussão de produtos e serviços ASG
fica com as áreas comerciais e de produtos. O Itaú possui áreas de negócios e
institucional dedicadas a temas ASG, que concentram o conhecimento e refinamento das
ações, ainda que atuem e recebam solicitações das áreas “tradicionais”. A Caixa não
possui equipe dedicada a ação ASG e tampouco estratégias gerais nesse sentido

Dada essa característica de transversalidade, a existência de comitês é frequente nestas


instituições, congregando áreas ASG e “tradicionais”. Quanto aos comitês específicos
para a temática ASG, o Itaú, por exemplo, possui a “Comissão Superior de Ética e
Sustentabilidade”, que reporta diretamente ao Conselho de Administração e discute a
temática desde uma perspectiva estratégica. Já o “Comitê de Impacto Positivo” (ex-
Comitê de Sustentabilidade), alinhas as estratégias com a atuação do Banco, de forma
a assegurar a coerência entre os projetos, a mensuração e a evolução de impacto dos
compromissos.
Já o Banco do Brasil possui o “Fórum de Sustentabilidade”, que apoia a incorporação, o
alinhamento e a disseminação das questões em sustentabilidade. Este fórum também
acompanha as iniciativas socioambientais e a implantação das ações ASG do Banco.

Fonte: Relatório Anual 2019 BB.

Em relação as ações ASG e questões institucionais, o Banco do Brasil e o Itaú também


possuem áreas ou grupos de trabalho, compostos por profissionais mais sênior e com
experiência em finanças sustentáveis. As responsabilidades dessas áreas/fóruns estão
relacionadas com temas jurídicos e regulatórios, de governança, análises de riscos SA
que podem afetar o diretamente o banco, e, no caso do Itaú, de riscos transnacionais
nos países onde tem presença.
Um exemplo claro, ocorre no Itaú, onde há um “Squad de Finanças Climáticas”, de
caráter multidisciplinar, para olhar os riscos e oportunidades climáticas, com foco na
implementação das recomendações da TCFD. Eventualmente, as questões trabalhadas
no Squad de Finanças Climáticas são levadas para o Comitê de Impacto Positivo para a
incorporação dessas questões na estratégia do Banco.

3. IGUALDADE DE GÊNERO E CLIMA

Entre as IFs do Brasil revisadas, o Itaú e o Banco do Brasil se mostraram mais


desenvolvidos, com ações e políticas específicas, procedimentos, ações internas e,
inclusive, com produtos financeiros para mulheres. Já as IF latino-americanas estão num
processo inicial em ambas temáticas, sendo a igualdade de gênero ainda mais
incipiente.

Os três bancos brasileiros possuem uma abordagem parecida às instituições latino-


americanas do ponto de vista interna: com políticas e ações para abordar o tema
igualdade de gênero internamente, a partir da área de recursos humanos ou de
responsabilidade social empresarial. Nessa linha, os objetivos estratégicos do Itaú e do
Banco do Brasil incluem a temática igualdade de gênero
.
Além disso, em alguns casos, também possuem produtos financeiros específicos para
mulheres. Contudo, nos bancos entrevistados, a análise ASG dos projetos financiados
não contempla a igualdade de gênero de forma explícita, com procedimentos específicos
ou responsáveis pelo tema.

O Itaú, por exemplo, vem realizando uma série de ações institucionais, como fazer parte
do Índice de Igualdade de Gênero da Bloomberg e possuir um Comitê Consultivo de
Diversidade, onde são discutidos os avanços da organização em igualdade de gênero.
Além disso, o banco possui iniciativas para incentivar lideranças femininas e uma área
de diversidade, que trata o tema gênero e outros grupos sub-representados. Em adição,
o Itaú promove a igualdade de gênero na sociedade através de programas e oferece
produtos financeiros voltados às mulheres – por exemplo, para mulheres
empreendedoras.

No Banco do Brasil, os desafios da organização são endereçados na sua estratégia de


negócios. Um desses desafios é a igualdade de gênero: “garantir maior
proporcionalidade da representatividade de gênero e raça em todos os níveis
hierárquicos do Banco do Brasil”. Nessa linha, o compromisso do Banco do Brasil é
ampliar o percentual de mulheres em cargos de gerência. Para alcançar isso, uma série
de programas são implementados: recrutamento e seleção, capacitações transversais
no tema, mentoria e lideranças femininas. Já a Caixa não tem avançado no tema, embora
já tenha identificado a necessidade de incluir o mesmo em suas políticas, tanto em
questões internas e institucionais, quanto na gestão dos projetos que financiam.

No tema clima, o Itaú considera esta questão em suas políticas, possui linhas de crédito
climáticas e destaca os projetos financiados que têm um impacto positivo no tema. Além
disso, possui grupos de trabalho para tratar todas as recomendações da TCFD e
trabalham a sensibilidade climática da carteira com a UNEP-FI.

Já o Banco do Brasil e a Caixa dispõem de uma abordagem mais institucional, com


poucas ações no tema. Ainda assim, o Banco do Brasil se encontra no processo de
criação de um marco para a gestão específica do tema clima (separado dos riscos SA).

Fonte: Benchmark ESG Management. JULHO 2020. UK Government. Acesso em 13


outubro 2022.

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