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Apontamentos de Sociologia
Apontamentos de Sociologia
DOENÇA CRÓNICA
Doenças crónicas são todas aquelas formas de perturbação da saúde
de longo prazo que interferem significativamente com a identidade da
pessoa, as suas interações e os seus papéis sociais.
As doenças agudas são doenças episódicas que institucionalizam as
pessoas no “mundo da doença” (o do sick role) orientado para a
remissão (tratamento/cura) da doença.
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GESTÃO DE INCERTEZA
DISRUPÇÃO BIBLIOGRÁFICA
RECONSTITUIÇÃO DO “EU”
Para responder à disrupção a pessoa com DC usa narrativas que
procuram dar um sentido de continuidade entre o seu “Eu” saudável e o
seu “Eu” doente. Este processo denomina-se de reconstrução narrativa.
Assim, as “narrativas de doença” são os modos representacionais que
as pessoas encontram para explicar o surgimento da doença, as
consequências que produziram nas suas vidas e os modos como
responderam às questões de ordem e controle que a doença lhes
colocou.
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A DC obriga a pessoa a negociar os seus papéis sociais com vista a
responder a exigências sociais e financeiras.
No fundo, a pessoa é confrontada com a necessidade de encontrar os
papéis mais adequados à sua nova condição.
Assim na esfera da família a pessoa tem necessidade de negociar com
a sua família a divisão de tarefas no lar e a família é colocada perante a
necessidade de responder às exigências de cuidados perante o seu
familiar.
No trabalho a pessoa é obrigado a fazer escolhas como sejam, p. ex.,
voltar (ou não) ao trabalho, negociar mudança de funções, encontrar
novo trabalho, fazer nova formação
Tendo em conta o ponto de vista das pessoas c/ DC, a Sociologia
entende o conceito de “normalização” com outro significado: são todas
as estratégias da própria pessoa e/ou dos seus familiares e próximos
com vista a racionalizarem a “desvantagem” trazida pela DC e
desqualificá-la do ponto de vista da sua importância social.
Neste sentido, a normalização familiar das pessoas c/ DC vai no sentido
de encontrar estratégias para a minimização do impacto social da DC
que poderá chegar à revisão do que é normal/anormal no sentido de
“normalizar” a condição do seu familiar.
GESTÃO DO ESTIMA
Estigma refere-se a uma condição ou atributo da pessoa que é
valorizado negativamente do ponto de vista social e que, por esse facto,
torna o seu portador inferior ou mesmo inaceitável, fazendo com que a
pessoa fique “manchada” ou poluída socialmente.
Estigma é uma qualidade simbólica que pode ser encontrada nas
pessoas que não mantêm uma identidade social credível por disporem
dessa condição particular. Esta condição pode ser:
- potencialmente desacreditável, se não for socialmente visível e for
apenas do conhecimento do próprio;
- efetivamente desacreditada, se for socialmente visível
Há três tipos de estigma:
- estigmas do corpo;
- estigmas de carácter;
- estigmas associados a grupos sociais.
Os estigmas do corpo e os estigmas de carácter são os que surgem
associados às doenças crónicas.
Para responder ao estigma, Erving Goffman identificou três estratégias:
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- a pessoas esconde o atributo;
- a pessoa reduz o significado da condição estigmatizante;
- a pessoa retira-se da vida social
A adaptação ACOMODAÇÃO:
- A relação de complementaridade do “Eu” com a doença significa que a
pessoa aceita a doença e por isso passa a funcionar na vida nos limites
trazidos pela doença, incluindo os constrangimentos trazidos pela doença nos
seus quadros de vida.
- Neste tipo a pessoa mantém a sua vida social e procura constitui-la nos
termos dos limites trazidos pela doença. Assim, a pessoa procura incluir-se no
mundo das pessoas saudáveis.
A adaptação RESIGNAÇÃO:
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- neste tipo a relação da pessoa com a doença é a do vencido para com
o vencedor.
- a perda de papéis sociais valorizados (família, trabalho, lazer) é
assinalada pela pessoa através da resignação da pessoa perante os
efeitos da doença.
- a resignação envolve sempre uma oposição à doença, pelo que
mesmo que a pessoa se sinta minada pela doença, o seu propósito é
derrotá-la tanto quanto possível
A adaptação ACTIVO-NEGAÇÃO:
- a oposição à doença significa lutar contra para derrota a doença.
- neste tipo visa-se resistir à doença através da maximização da
participação na vida quotidiana (exemplo, passam a fazer desporto
quando até aí não era relevante ou não praticavam mesmo), enquanto
simultaneamente se minimiza as implicações da doença.
-este tipo é próprio das pessoas que não gostam de falar das suas
doenças, não gostam de serem acompanhadas e tratam a doença corpo
se fosse de pouca importância
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a resolução destes problemas está dependente do modo como a pessoa
resolve a questão do seu “Eu” na relação com os outros.
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A Sociologia enfatiza o aspeto dos mecanismos psicológicos referidos
pelo conceito não serem tão fixos e estáveis nas pessoas (p. ex.,
haveria pessoas que se caracterizavam por apenas disporem de
estratégias emocionais de coping vs. outras que adotariam estratégias
cognitivas) e que as pessoas são capazes de adotarem diferentes tipos
de coping consoante o contexto, a natureza dos problemas que
enfrentam e os meios que têm disponíveis para o efeito.
A Sociologia também critica a pressuposta que as doenças crónicas são
situações impessoais que colocam os mesmos problemas a todas as
pessoas que vivem essa condição. A doença crónica só existe nas
pessoas com base nos significados e formas através das quais as
pessoas as vivem.
A Sociologia sustenta que a abordagem mais adequada à doença
crónica, que coloca em causa a esfera global de vida da pessoa, deve ir
para além das características psicológicas e centrar-se nos diferentes
estilos de vida adaptativos com a doença que a pessoa vem a adotar.
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- No acréscimo exponencial das despesas em saúde;
- Na medicalização de categorias sociais como acontece com os jovens
e idosos;
- No consumo de cuidados preventivos que gera um sentimento de
maior vulnerabilidade nas pessoas;
- Na medicalização do nascimento e da morte.
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A “medicalização desprofissionalizada” são todas aquelas manifestações
em que indivíduos e grupos depois de obterem a legitimação da doença
ou perturbação, ou condição de “risco” (sickness), contestam a
autoridade monopolista da profissão médica para a sua gestão e
procuram fazer intervir nessa condição outros grupos não aceites pela
medicina institucionalizada ou os próprios doentes com autonomia para
o autodiagnóstico e automedicação que assim se tornam “peritos leigos”
e consumidores ativos de bens de saúde.
Uma avaliação sociológica do papel da medicina nas sociedades
contemporâneas e da medicalização da vida social mostra-nos efeitos
ambivalentes positivos e negativos deste processo político-social.
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- A resposta à Incapacidade é dada pelo tratamento e reabilitação. Deste
modo a solução para a Incapacidade está nas mãos dos profissionais e
por isso é uma dádiva destes.
- A resposta à Incapacidade é tornar os indivíduos normais, isto é,
corrigir as deficiências e restabelecer a funcionalidade do indivíduo.
- Assim do ponto de vista profissional, a reabilitação da pessoa com
incapacidade tem como objetivo a “normalização” da independência
física e a adaptação da pessoa ao ambiente (pré) existente.
- A Reabilitação, de acordo com este modelo, define-se como a
restauração física da pessoa com incapacidade por intervenções
terapêuticas e a sua reeducação no sentido de participar em atividades
da vida normal no quadro das limitações de que é portador.
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MODELO MÉDICO-PSICO-SOCIAL DE INCAPACIDADE
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Entre os fatores intrínsecos contam-se: a natureza e severidade da
deficiência, a personalidade da pessoa, as atitudes da pessoa perante a
sua deficiência, aptidões da pessoa para se relacionar com a sua
deficiência.
Entre os fatores extrínsecos contam-se: as atitudes dos “outros” para c/
a pessoa c/ deficiência, as características do ambiente físico e social
como facilitador ou como barreira, isto é, como capacitado ou
incapacitado e os contextos políticos, sociais e culturais que enquadram
e são relevantes para a experiência da incapacidade.
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Nas sociedades modernas encontramos dois grandes tipos de
definições institucionais sobre a “saúde”:
- a definição “negativa” (biomédica) de saúde;
- as definições “positivas” de saúde.
O modelo (bio)médico comporta uma implicação binária: a pessoa ou é
doente (tem uma disese) ou é saudável.
Deste modo, em termos (bio)médicos, a saúde é definida de forma
negativa pelo seu contrário: como sendo a ausência de doença
A definição negativa de saúde é amplamente utilizada no campo
institucional. Por exemplo, as estatísticas da O.M.S. sobre saúde das
populações têm subjacente esta definição, visto que os indicadores
utilizados são os respeitantes á mortalidade e morbilidades.
A definição negativa de saúde tem sido criticada por ser empobrecedora
na referenciação da condição de saúde
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Os fatores de estilo de vida que são tidos em consideração na promoção
e educação para a saúde são: o exercício, a alimentação, os cuidados
de higiene e com o corpo, o consumo de drogas legais e ilegais,
comportamentos sexuais, a condução de veículos e todos aqueles
comportamentos que a Epidemiologia vem a identificar como estando
associados a patologias (p. ex., a exposição solar).
Independentemente das suas diferenças, as conceções institucionais
positivas partilham um mesmo modo de conceber a saúde - esta é uma
entidade:
- universal ,
- abstrata,
- opõe-se à doença,
- é um estado corporal normativo do ser humano que se opõe ao
“desvio” e neste sentido referencia-se pela normalidade biológica e pela
normalidade comportamental que assegura a pessoa “saudável”, a qual
se define por um “estilo de vida saudável” assente no exercício físico/
alimentação saudável/ erradicação de consumo de drogas legais e
ilegais/ cuidados com o corpo
Em suma, a conceção de saúde atualmente dominante entre os
profissionais de saúde identifica a saúde em duas grandes dimensões:
- na anatomofisiologia do corpo saudável que torna a pessoa apta física
e psicologicamente a satisfazer necessidades;
- no “estilo de vida saudável” expresso em comportamentos individuais
que promovem a saúde e previnem a doença e que nesta medida
asseguram o bem-estar e autonomia para a pessoa fazer escolhas
racionais, desenvolver atividades, em suma adaptar-se positivamente à
vida.
As conceções de saúde positivas, apesar de multidimensionais,
continuam a reservar à condição física uma determinante primordial na
norma de saúde, porquanto é o que, numa conceção abstrata de ser
humano, permite à pessoa atingir objetivos vitais e necessidades
básicas.
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Claudine Herzlich concluiu que há três grandes significações leigas da
saúde que formalizou nos seguintes termos:
- A saúde no vácuo, é o entendimento da saúde como sendo o contrário
de doença e neste sentido reporta a saúde como um facto impessoal.
- A saúde como reserva, algo que se “tem”, é uma capacidade biológica
pessoal que nos permite viver/trabalhar e que nos defende da doença ou
nos permite recuperar da doença.
- A saúde como equilíbrio, refere-se a um substrato de harmonia na
pessoa entre dimensões físicas, psicológicas e sociais, e entre a pessoa
e o seu ambiente físico e social. Daqui deriva um sentimento de
confiança, energia e resistência.
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As conceções institucionais são formalizadas num pensamento abstrato
a-histórico e a social, enquanto as leigas são experienciais e estão
relacionadas com os enraizamentos sociais e situacionais em que as
pessoas vivem.
Por este motivo, há uma maior fixidez padronizada do que é a saúde nas
conceções institucionais com base em dois grandes vetores: a
normalidade/funcionalidade física e a aptidão psicossocial para a
autonomia.
As conceções leigas variam segundo o curso de vida, a condição social,
o género e a idade porque a saúde é mais valorizada pelo que torna
possível em diferentes aspetos da vida: relações sociais, trabalho, lazer.
Os dois aspetos que mais fazem divergir conceções institucionais de
crenças leigas são:
- saúde e doença são entidades mutuamente exclusivas nas conceções
institucionais, mas são entendidas como passíveis de coexistirem na
pessoa leiga e nesse sentido os leigos pensam-se como podendo “viver
a doença com saúde”.
o bem-estar subjetivo a relevância que tem nas conceções institucionais
é a que pode resultar da saúde física, mas adquire uma dimensão muito
relevante e autónoma nas crenças leigas.
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