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MÓDULO
ENFRENTAMENTO DAS
ARBOVIROSES
Organizadoras:
Débora Dupas Gonçalves do Nascimento
Sandra Maria do Valle Leone de Oliveira
Sílvia Helena Mendonça de Moraes
Programa Educacional em Vigilância e Cuidado em Saúde
no Enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais
MÓDULO
ENFRENTAMENTO DAS
ARBOVIROSES
Unidade 1 Unidade 4
Arbovírus Vigilância Ambiental e Controle das Arboviroses
Unidade 2 Unidade 5
Vigilância das Doenças Transmissíveis Vigilância em Saúde do Trabalhador
Unidade 3 Unidade 6
Vigilância e Controle de Vetores Comunicação para Vigilância
e Controle das Arboviroses
Unidade 7
Organização dos Processos de Trabalho
Carlos Henrique Alencar • Daniela Buosi Rohlfs • Daniele Rocha Queiroz Lemos • Francisco Gustavo Silveira
Jackeline Leite Pereira Pavin • Kauara Brito Campos • Livia Carla Vinhal Frutuoso
Marcelo José Monteiro Ferreira • Mariana Ferreira Lopes • Zoraida Del Carmem Fernandez Grillo
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Formato: PDF
Inclui bibliografia
ISBN: 978-85-66909-37-1
CDD: 614
CDU: 614.4
Ficha técnica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
Apresentação do módulo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
Unidade 1: Arbovírus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
Apresentação da unidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
Objetivos de aprendizagem da unidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
1.2 Definição de vírus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
1.3 Características morfológicas dos vírus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
1.4 Definição de arbovírus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
Encerramento da unidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
Minicurrículo da autora . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
SUMÁRIO
Prezado trabalhador estudante, é com muito prazer que lhe apresentamos o Módulo do Programa Educacional em Vigilância e Cuidado em
Saúde no Enfrentamento da COVID-19 e de outras Doenças Virais.
Nosso objetivo neste módulo é criar condições para que você se capacite ainda mais para realizar o cuidado e enfrentamento das arboviroses,
por meio de ações integradas da vigilância em saúde, com vistas à melhoria da articulação e organização dos processos de trabalho em
saúde.
Este módulo está composto de sete unidades de ensino, assim distribuídas: I – Arbovírus; II – Vigilância das Doenças Transmissíveis; III
– Vigilância e Controle de Vetores; IV – Vigilância Ambiental e Controle das Arboviroses; V – Vigilância em Saúde do Trabalhador; VI –
Comunicação para Vigilância e Controle das Arboviroses; e VII – Organização dos Processos de Trabalho.
Essas unidades foram desenvolvidas por especialistas em cada área e baseadas nas melhores e mais atuais evidências científicas disponíveis.
Todo o material produzido está alinhado com as orientações do Ministério da Saúde do Brasil e da Organização Pan-Americana da Saúde
(OPAS), perfazendo um total de 145 horas.
Nossa expectativa é a melhor possível e desejamos que aproveite cada material produzido com a máxima atenção, pois foram construídos
pensando na sua atuação como profissional de saúde e na sua necessidade para o desenvolvimento de tarefas de forma qualificada.
Vamos juntos!
Unidade 1
Arbovírus
A presente unidade tem como objetivo principal abordar as arboviroses, dando ênfase nas famílias e gêneros dos arbovírus que têm maior
prevalência no Brasil e são de grande importância em saúde pública.
As arboviroses são doenças zoonóticas cujos patógenos/vírus causadores são transmitidos a hospedeiros vertebrados pela picada de
artrópodes hematófagos infectados: mosquitos, carrapatos, entre outros. Segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), há
aproximadamente 600 arbovírus conhecidos, dos quais, pelo menos, 150 constituem patógenos para os humanos.
As mudanças climáticas, os desmatamentos, a migração populacional, a ocupação desordenada de áreas urbanas e as condições sanitárias
precárias têm favorecido a dispersão e a transmissão de arbovírus nas regiões tropicais. Entre essas condições podemos mencionar: o
desabastecimento de água e, em consequência, o armazenamento desse recurso para suprir as necessidades do lar; o descarte inadequado
de lixo e o acúmulo exagerado de materiais de reciclagem; a alteração do ambiente natural de espécies que podem ser reservatórios ou
vetores de patógenos; a entrada do homem em ambientes silvestres.
Algumas arboviroses são consideradas doenças emergentes, ou seja, ocorrem pela primeira vez numa região
determinada (ou mundialmente, como aconteceu com o SARS-CoV-2 recentemente), tendo uma alta incidência
(elevado número de casos novos numa população e intervalo de tempo determinados) e destacando-se pela
sua gravidade e capacidade de dispersão. Já as doenças denominadas reemergentes se caracterizam por serem
conhecidas ou existentes numa determinada região ou população e que haviam sido controladas, porém, devido
a mudanças no comportamento epidemiológico (características genéticas, ampliação da lista de hospedeiros e
modificações no padrão de virulência ou na distribuição geográfica), voltaram a representar uma ameaça para a
saúde humana e animal, gerando novos casos.
Seguiremos juntos nesta unidade, estudando temas e conteúdos para que você possa compreender a tríade
arbovírus-vetor-hospedeiro, os mecanismos de transmissão dos patógenos, a patogênese das infecções
provocadas pelos arbovírus e a importância do diagnóstico diferencial.
Faça a leitura cuidadosa do material e vamos juntos nesse aprendizado tão importante para a sua prática
profissional e para a sua ação na comunidade em que atua.
Bons estudos!
SIM NÃO
Os vírus estão presentes em todos os reinos do mundo Não têm habilidade de importar nutrientes e energia do
natural ambiente
SAIBA MAIS
Os vírus gigantes, Acanthamoeba polyphaga mimivirus ou mimivírus e o Acanthamoeba castellanii
mamavirus ou mamavírus, os dois da família Mimiviridae, foram descobertos recentemente. Trata-se
de vírus que têm dimensões maiores que as dos já conhecidos (até 800 nm) que infectam espécies
de amebas e que têm genoma DNA de fita dupla.
Um aspecto importante desses vírus e que os diferencia de outros é que eles sintetizam uma
variedade de proteínas estruturais e enzimas que participam no reparo do DNA, na biogênese de
membranas, na motilidade celular, no metabolismo de nucleotídeos, na função de chaperonas,
entre outros. Dito de outra forma, são vírus com características morfológicas e genéticas que
permitem a replicação e atuação com mais independência na célula hospedeira (OLIVEIRA; LA
SCOLA; ABRAHÃO, 2019).
Outra característica relevante dos mimivírus e mamavírus é que são suscetíveis à infecção pelo vírus
chamado Sputnik, que é um vírus relativamente pequeno (50 nm) e com complexidade genética e
estrutural interessante.
O Sputnik, ao infectar o mimivírus e o mamavírus, prejudica a morfogênese e a produção de vírions
normais, indicando que ele é um parasita genuíno. A descoberta dos vírus gigantes e do vírus
Sputnik mostra que há características dos vírus que apoiam a hipótese de que os vírus podem ser
considerados seres vivos (LA SCOLA et al., 2008).
Agora, vamos ver as características morfológicas dos vírus e detalhar cada um dos seus componentes.
Informação genética
Genoma DNA ou RNA
e infectividade
Nucleocapsídeo
Proteção do genoma
Cápside Proteínas
União a receptores celulares
Vamos definir brevemente cada uma das partes de uma partícula viral (Figura 2) (FLINT et al., 2015; CARTER;
SAUNDERS, 2007).
1.3.3 Cápside
A cápside é uma capa proteica que protege o genoma viral durante a sua transferência de uma célula
hospedeira para outra. Pode estar conformado por múltiplas cópias de uma mesma proteína ou por
associação de várias proteínas diferentes. Pode ter várias formas geométricas que são características de
cada família viral.
Glicoproteína de Proteína de
membrana (M) Nucleocápside (N)
Envelope ou
envoltura
RNA
Aedes mosquito
Ciclo silvestre
Haemagogus
Sabethes
Humano
Ciclo urbano
Homem
Aedes aegypti
A B
Estômago
Intestino médio
Intestino médio posterior
anterior
Divertículo
dorsal Intestino posterior
anterior
Poliproteína
P H R
anc C prM E NS1 NS2A NS2B NS3x NS4A NS4B NS5
Sinal para a
? Protease desconhecida peptidase do
hospedeiro
Viral Viral
RNA RNA
Anticorpos
IgG
IgM
NS1 NS1
0 4 8 16 90-180 0 4 8 16
Dias após o início Dias após o início
ÁFRICA AMÉRICA
Macacos Macacos
Macacos Macacos
Homem Homem
Homem Homem
Recuperação
ou Óbito
Isolamento Viral
RT-PCR Sorologia (S1 ou S2 - MAC-ELISA
Sorologia (S1 - MAC-ELISA) para IgM e ELISA-IgG)
Material: SORO Material: SORO
1º ao 5º dia de sintomas A partir do 6º dia de sintomas
O vírus da zika pode ser transmitido pelas seguintes vias: 1) pela picada do mosquito infectado
Aedes aegypti, sendo essa a principal forma de transmissão; 2) por transmissão sexual; 3) da
mãe para o feto durante a gravidez; e 4) por transfusão de sangue, plaquetas ou células-tronco
hematopoiéticas (JONES et al., 2020; ROOSSINCK, 2020).
A maioria das infecções pelo vírus da zika é assintomática, com menos de 20% sendo
sintomáticas. Nesses casos, ocorre uma doença leve, autolimitante, com um período de
incubação de até 10 dias, muitas vezes confundida com outras infecções por arbovírus.
SAIBA MAIS
Conheça a história da febre zika no Brasil
O vírus da zika começou a circular no Brasil em 2014, na região Nordeste. Estudos mostram que o vírus veio
do Haiti, provavelmente com migrantes ilegais e militares brasileiros que participaram da missão de paz no
país caribenho. No início, parecia ser uma doença leve e autolimitada que desaparecia em quatro a cinco dias.
Posteriormente, surgiram casos de síndrome de Guillain-Barré em adultos e milhares de bebês com microcefalia.
A partir de novembro de 2015, os casos de microcefalia passaram a ser notificados no Registro de Eventos em
Saúde Pública (RESP), no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), no Sistema de Informação
sobre Nascidos Vivos (SINASC) e no Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM).
Consulte sempre o Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde e o Boletim da Secretaria de Estado
de Saúde da sua região para se manter atualizado sobre a situação epidemiológica dos arbovírus.
A RT-PCR em tempo real é uma técnica molecular que permite detectar o genoma viral dos arbovírus na fase aguda
da doença, além de quantificar a carga viral (concentração do vírus no paciente infectado). A RT-PCR em tempo real
possibilita a amplificação de fragmentos genômicos, e a detecção dos produtos é feita diretamente no equipamento,
utilizando marcadores fluorescentes e métodos sensíveis de mensuração da fluorescência emitida (SANTOS;
ROMANOS; WIGG, 2015; VALLE; PIMENTA; CUNHA, 2015; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2009).
SAIBA MAIS
Assista ao vídeo para entender como funciona a
técnica de RT-PCR em tempo real. Disponível em:
www.youtube.com/watch?v=B-cEFNwax1A
Nota dos Autores: Os vídeos de YouTube indicados neste módulo são complementares ao conteúdo
e podem ser retirados do ar a qualquer momento e sem aviso prévio, não havendo qualquer
responsabilidade das instituições envolvidas.
Alphavirus genome
NS-ORF S-ORF
5’m7G Mtr Hel Pro X Rep A(N) 3’
nsP1 nsP2 nsP3 nsP4 CP E3 E2 6K E1
sgRNA 5’ A(N) 3’
Rubivirus genome
NS-ORF S-ORF
5’mG Mtr X Pro Hel Rep A(N) 3’
p150K p90K CP E2 E1
sgRNA 5’ A(N) 3’
Fonte: Fauquet et al. (2005).
SAIBA MAIS
Reação cruzada ou proteção cruzada: quando um
anticorpo pode se ligar a mais de um antígeno que não
é específico. No exemplo anterior, seria a ligação de um
anticorpo a antígenos.
Início da infecçao
em 5-7 dias Mialgia,
usualmente
nos últimos
7 a 10 dias
(90% dos
pacientes)
0 2 4 6 8 10 12 14 dias
Picada do mosquito
Biomarcadores Sintomas
infectado por mayaro
ARTRALGIA (DORES Quase sempre presente: Presente em 90% dos Pode estar presente:
NAS ARTICULAÇÕES) dores moderadas casos: dores intensas dores leves
VERMELHIDÃO NOS
Não está presente Pode estar presente Pode estar presente
OLHOS
SAIBA MAIS
A diferença entre sintoma e sinal é que o sinal é aquilo
que pode ser percebido por outra pessoa sem o relato ou
comunicação do paciente, e o sintoma é a queixa relatada Por outro lado, considerando que as arboviroses
pelo paciente, mas que só ele consegue perceber. têm um amplo espectro clínico, o diagnóstico delas
Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação do deve considerar a existência de outros agentes
próprio paciente. patógenos que geram manifestações exantemáticas,
hemorrágicas e artralgia (Figura 12).
ARBOVIROSES
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL SINDRÔMICO
SÍNDROME FEBRIL SÍNDROME SÍNDROME
COM ALTRALGIA EXANTEMÁTICA HEMORRÁGICA
Proteína Gn
Proteína Gc
Orthobunyavirus
L segment vRNA (˜6 kb)
3’ 5’
5’ L 3’ L mRNA
5’ Gn NSm Gc 3’ G mRNA
5’ N 3’ N mRNA
NSs
SAIBA MAIS
Conheça a história do vírus oropouche no Brasil
Foi isolado no Brasil em 1960 em soro de bicho-preguiça Bradypus trydactylus capturado em região de floresta
durante a construção da BR Belém-Brasília e em pool de mosquitos Ochlerotatus serratus coletados numa região
próxima.
No ano seguinte, o vírus foi detectado na cidade de Belém, no Pará, durante surto relatado na cidade que
acometeu 11.000 pessoas. A partir desse momento ficou demonstrado o potencial epidêmico do vírus.
Outros surtos foram descritos nos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Pará, Rondônia e Tocantins,
no ano de 1989. Mais recentemente, o vírus foi relatado em diferentes municípios do estado do Pará. Em 2009,
outro surto da doença foi reportado nos municípios de Altamira e Santa Bárbara, no Pará, e em Mazagão, no
Amapá.
Na Tabela 1, são mostrados, de forma resumida, diferentes aspectos do ciclo de transmissão dos Flavivirus, Alphavirus
e Orthobunyavirus tratados nesta unidade, com o objetivo de facilitar a compreensão das semelhanças e diferenças
entre esses arbovírus.
Febre do Oeste do
Dengue Chikungunya Zika Febre amarela (*) Mayaro Oropouche
Nilo
Urbano:
Urbano: Aedes Silvestre: gênero Ochlerotatus
Urbano: Aedes aegypti no continente Urbano: Aedes Culex; espécies
Silvestre: gêneros serratus e
aegypti no americano; aegypti no stigmatosema,
Mosquito vetor Sabethes sp. e Haemagogus. Coquilletidia
continente Silvestre: várias continente nigripalpus, pipiens, venezuelensis;
Haemagogus sp.
americano. espécies do gênero americano. quincefaciatus,
restuans e tarsalis. Urbano: Culicoides
Aedes.
paraensis.
Os pássaros
da ordem
Macacos dos Silvestre: primatas
Passeriformes,
gêneros Alouatta não humanos, Silvestre: bicho-
Falconiformes e
O ser humano spp., Sapajus pássaros, roedores, preguiça, primatas
Strigiformes, no
Reservatório O ser humano. e primatas não O ser humano. spp., Callithrix bicho-preguiça, não humanos e
ciclo silvestre.
humanos. spp. O homem entre outros pássaros.
é hospedeiro O ser humano e mamíferos.
Urbano: homem.
acidental definitivo. os equinos são
Urbano: O homem.
hospedeiros
acidentais.
(*) A febre amarela urbana foi erradicada do Brasil na década de 1940 e era transmitida pelo mosquito Aedes aegypti para os seres humanos.
Para finalizar a unidade, vamos falar do tratamento das arboviroses e das medidas que permitem controlar a
circulação e disseminação desses arbovírus.
Glossário
Anticorpos monoclonais: proteínas produzidas pelo nosso organismo que ajudam o sistema imunológico a combater vírus, bactérias e
câncer por meio do reconhecimento de antígenos.
Anticorpos neutralizantes: anticorpos capazes de impedir e neutralizar a ligação do vírus ao receptor da célula hospedeira.
Artrópodes: animais dotados de patas articuladas que se alimentam de sangue. Compreendem os insetos (6 patas na fase adulta) e os
carrapatos (8 patas).
Biogênese: palavra de origem grega que significa origem da vida. É a produção de novos organismos ou organelas vivas.
Célula hospedeira: sistema vivo estável ao qual um agente patógeno (vírus, bactérias, protozoários, entre outros) se acopla utilizando
nutrientes, proteínas e outras macromoléculas para se multiplicar.
Chaperonas: termo coletivo utilizado para proteínas que impedem o dobramento incorreto de uma proteína-alvo.
Competência vetorial: capacidade de uma população de mosquitos de se infectar e transmitir um vírus após o período de incubação
extrínseco (EIP). Depende das características do vetor, do vírus e da temperatura ambiente.
Comorbidades: associação de duas ou de várias doenças que aparecem de modo simultâneo em um mesmo paciente.
Culicídeo: mosquitos da família Culicidae.
Doença exantemática: é uma doença infecciosa sistêmica onde as manifestações cutâneas estão presentes no quadro clínico.
Exantema maculopapular: tipo de exantema caracterizado por uma área vermelha e plana na pele com pápulas pequenas e confluentes.
Caro trabalhador estudante, estamos finalizando a Unidade 1. Ao longo do texto falamos de diferentes aspectos
dos arbovírus. Enfatizamos três famílias que, no Brasil e em outras regiões tropicais e neotropicais, produzem
doenças que afetam de forma importante a população humana, trazendo consequências epidemiológicas,
econômicas e psicológicas.
Fizemos uma breve descrição das características morfológicas, genômicas, do ciclo de transmissão, da
patogênese, dos sintomas, do diagnóstico e das medidas de controle da dispersão dos arbovírus.
Com essas informações e com a bibliografia recomendada, você pode ampliar seu conhecimento sobre esses
vírus, o que lhe será, sem dúvida, de grande utilidade no exercício de sua profissão.
BAHUON, C.; LECOLLINET, S.; BECK C. West Nile infection. eLS, maio 2015.
BLACK, W.C. et al. Flavivirus Susceptibility In Aedes Aegypti. Arch. Med. Res., 2002. 33 (4): 379– 388
BRASIL. Ministério da Saúde. Manual de manejo clínico da febre amarela. Brasília, 2020. 56 p.
BRASIL. Ministério da Saúde. Chikungunya: manejo clínico. Brasília, 2017. 67 p.
BRASIL. Ministério da Saúde. Guia de vigilância de epizootias em primatas não humanos e entomologia aplicada à vigilância da febre amarela. 2. ed.
Brasília, 2014. 102 p.
BRASIL. Ministério da Saúde. Manual de vigilância epidemiológica de febre amarela. Brasília, 2004. 69 p.
BREHIN, A. C. et al. Production and characterization of mouse monoclonal antibodies reactive to Chikungunya envelope E2 glycoprotein. Virology, n. 371, n.
1, p. 185-195, 2008.
CÂMARA, F. P. et al. Estudo retrospectivo (histórico) da dengue no Brasil: características regionais e dinâmicas. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina
Tropical, n. 40, p. 192-196. 2007.
CANN, A. J. Principios de virología molecular. Tradução de Javier Buesa Gomez. 4. ed. Zaragoza: Editorial Acribia S.A., 2010. 296 p.
CARTER, J. B.; SAUNDERS, V. A. Virology: principles and applications. Nova Iorque: John Wiley & Sons, Ltd., 2007. 383 p.
CHEN, R. et al. ICTV Virus Taxonomy Profile: Togaviridae. Journal of General Virology, n. 99, p. 761-762, 2018.
CHENG, C. C. et al. Life as a vector of dengue virus: The antioxidant strategy of mosquito cells to survive viral infection. Antioxidants, v. 10, n. 3, 2021.
DIAGNE, C. T. et al. Mayaro Virus Pathogenesis and Transmission Mechanisms. Pathogens, n. 9, 2020.
FAUQUET, C. M. et al. (ed.). Virus taxonomy: Eighth report of the international committee on taxonomy of viruses. Cambridge: Elsevier Academic Press, 2005.
1273 p.
FLINT, J. et al. Principles of virology. 4. ed. Washington DC: ASM Press, 2015. v. 1. 1060 p.
GOVERNO DE SANTA CATARINA. PROGRAMA DE VIGILÂNCIA E CONTROLE DA FEBRE AMARELA EM SANTA CATARINA. Guia de orientação. Florianópolis 2017.
HUGHES, H. R. et al. Peribunyaviridae. ICTV Virus Taxonomy Profile: Peribunyaviridae. Journal of General Virology, v. 101, n. 1, p. 1-2. 2020.
INTERNATIONAL COMMITTEE ON TAXONOMY OF VIRUSES. Genus: Orthobunyavirus. 2021. Disponível em: https://talk.ictvonline.org/ictv-reports/ictv_online_
report/negative-sense-rna-viruses/w/peribunyaviridae/1238/genus-orthobunyavirus. Acesso em: 14 out. 2021.
JONES, R. et al. Arbovirus vectors of epidemiological concern in the Americas: A scoping review of entomological studies on Zika, dengue and chikungunya
virus vectors. PLoS ONE, v. 15, n. 2, fev. 2020.
KUMAR, S. et al. Morphology, genome organization, replication, and pathogenesis of Severe Acute Respiratory Syndrome Coronavirus 2 (SARS-CoV-2).
Coronavirus Disease 2019 (COVID-19), p. 23-31, abr. 2020.
Unidade 2
Nesta unidade, você estudará o papel da vigilância em saúde na resposta aos desafios de saúde pública impostos pelas arboviroses e
as definições da epidemiologia descritiva na identificação do perfil dos casos (pessoa), quando (tempo) ocorrem mudanças no padrão
espaço temporal dessas doenças e onde essas mudanças (lugar) ocorrem. Os temas estão organizados de forma a facilitar a compreensão,
a aplicação de instrumentos e definições que auxiliam na identificação de períodos epidêmicos e não epidêmicos, o papel de cada ente
que compõe o Sistema Único de Saúde (SUS) no controle destas doenças e a interface entre a vigilância e as equipes de controle vetorial
e de assistência.
Leia com atenção o material e acesse os links que levam a materiais complementares e atividades práticas propostas, assim você estará apto
a utilizar os conhecimentos adquiridos nesta unidade para aplicar no cotidiano de trabalho da vigilância.
Adequação para
transmissão da Dengue
Alta transmissão
Baixa transmissão
Não-endêmica
Fonte: traduzido de Pan American Health Organization (2014) apud Simmons et al. (2012).
Nº de casos
de 2019 e 2020, conforme Figura 2.
100.000
80.000
60.000
40.000
20.000
0
2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020
Semana epidemiológica/ano
Fonte: traduzido e adaptado de World Health Organization (2021a).
1981/1982 1986 1990 2000 2006 2008 2010 2015/2016 2019 2021
Surtos de
Chickungunya
Países afetados
Período 1950-1979
Período 1980-2004
Período 2005-outubro 2013
Nenhum surto
TAXA DE ATAQUE:
é o coeficiente ou taxa de incidência de uma determinada doença em um grupo de
pessoas expostas ao mesmo risco expressa em percentual.
Nº de casos de uma determinada doença em um dado local e período
x 100
Legenda Legenda
50 casos ou mais Municípios com casos notificados
11 a 49 casos UF com casos confirmados
2 a 10 casos UF sem casos confirmados
1 caso
UF com casos notificados
Por razões ainda não tão compreendidas ou suficientemente exploradas, os casos de zika, assim como os casos
de chikungunya, ocorreram predominantemente na Região Nordeste do Brasil. Dessa forma, ainda existe um
contingente populacional expressivo de pessoas suscetível a esses arbovírus em território nacional.
Após refletirmos um pouco sobre as três arboviroses discutidas nesta unidade, podemos compreender que
cada uma delas tem suas implicações para o indivíduo afetado e para a coletividade, devido à magnitude e à
transcendência que abordamos no início. Além disso, temos que ter em mente que a transmissão de dengue
(por qualquer um dos quatro sorotipos), zika e chikungunya pode ocorrer de forma concomitante e que todas
essas doenças têm alguns sintomas semelhantes, o que torna o cenário extremamente desafiador, seja para a
vigilância, seja para a assistência. Dessa forma, apesar das limitações do diagnóstico laboratorial específico em
razão das reações cruzadas entre dengue e zika em testes indiretos (sorológicos), conforme abordado na Unidade
1, é necessário que se avance na oferta de exames específicos para auxiliar no diagnóstico diferencial entre elas.
O aumento de epizootias no Brasil no período de julho de 2019 a janeiro de 2020, concentradas principalmente
nas Regiões Sul e Sudeste do Brasil, levou à elaboração de Nota Técnica (BRASIL, 2019b) com recomendações.
Concluiu-se que a análise para definição das ACRV e ASRV deve ser realizada em esfera municipal, baseada
em uma série de indicadores.
Dados mais recentes de febre amarela, relativos ao período de julho de 2020 a abril de 2021, mostram o
aumento das notificações de epizootias em primatas não humanos, sendo 15% delas confirmadas. A
circulação do vírus em PNH foi confirmada nos estados do Acre, Goiás, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e
Rio Grande do Sul e no Distrito Federal, representando aumento do risco de transmissão para os residentes
dessas regiões (BRASIL, 2021a).
Vários são os determinantes relacionados ao aumento da carga das arboviroses e à reemergência dessas
doenças (STRUCHINER et al., 2015). Entre eles estão:
As mudanças climáticas;
Rápido fluxo de pessoas entre os países;
Aumento do contingente populacional vivendo em áreas urbanas;
Crescimento populacional;
Condições precárias de saneamento e abastecimento de água.
A definição de caso descreve os sinais e sintomas compatíveis com a doença e manifestadas pelo indivíduo, cujos objetivos são:
Nos casos de dengue, antes de se tornarem graves, é usual o aparecimento dos sinais de alarme.
Na presença desses sinais, é indicado que se retorne ao serviço de saúde para que a pessoa fique
em observação e receba os cuidados necessários.
2.3.2 Chikungunya
Estima-se que cerca de 70% dos casos dos indivíduos infectados pelo vírus chikungunya
(CHIKV) apresentarão sintomas da doença e esses valores são mais altos do que se
observa nas demais arboviroses. Na fase aguda da doença, os principais sintomas são a
febre e a artralgia, que, comumente, afeta mais de uma articulação. Também podem estar
presentes dor retro-ocular, calafrios, conjuntivite, faringite, náusea, vômitos, diarreia,
dor abdominal, linfoadenomegalia cervical, manifestações do trato gastrointestinal
(mais comum em crianças) e neurite. Essa fase aguda dura, em média, 14 dias.
Casos
assintomáticos
Formas
típicas
Infecção
As formas atípicas e graves são mais frequentes em neonatos de mães infectadas durante a
gestação. Nesses casos, os sintomas podem aparecer no bebê a partir do quarto dia podendo
variar de 3 a 7 dias e são caracterizados por diversos sintomas: febre, síndrome álgica, recusa
da mamada, exantemas, descamação, hiperpigmentação cutânea e edema de extremidades.
Essas crianças são mais propensas a apresentar manifestações neurológicas e complicações
hemorrágicas e cardíacas.
SISTEMA/ÓRGÃO MANIFESTAÇÕES
2.3.3 Zika
Em geral, a doença causada pelo vírus zika tem curso agudo e manifestações clínicas
autolimitadas. A busca pelo serviço de saúde, em geral, é decorrente do incômodo ocasionado
pelo exantema pruriginoso. No entanto, os casos que cursam com manifestações neurológicas
e síndrome congênita do zika são considerados eventos graves.
Para efeitos de notificação, as definições de caso para o zika adotadas pelo Ministério da Saúde
são conforme segue.
Mialgia ++ +
Sangramentos ++ -/+
Choque -/+ -
Plaquetopenia +++ +
Leucopenia +++ ++
Linfopenia ++ +++
Neutropenia +++ +
Mialgia ++ +
Artralgia +/- +
Sangramentos ++ -
Choque -/+ -
Leucopenia/trombocitopenia +++ -
Fonte: Brasil (2016b, p. 13).
Considerando esse conceito, podemos compreender que a vigilância deve coletar e analisar os dados
permanentemente, para ter condições de identificar qualquer mudança nos padrões de transmissão.
As medidas de vigilância, independentemente do nível de gestão, envolvem ações diferentes de acordo com a
situação epidemiológica local. Para isso, é fundamental conhecer o número de casos esperado para o período
com base em uma série histórica da doença e na análise de dados laboratoriais e da situação entomológica local,
a distribuição dos casos por faixa etária e a ocorrência de óbitos e hospitalizações.
Como já comentamos, é possível que as arboviroses circulem ao mesmo tempo em um local e que, devido à
semelhança dos sintomas, é importante manter uma vigilância viral ativa, em consonância com a capacidade
laboratorial pactuada com cada Secretaria Estadual de Saúde. A alternância de sorotipos de dengue, por exemplo,
ou a circulação de chikungunya e zika em áreas onde o vírus ainda não foi identificado anteriormente ou que
tenha circulado há muito tempo, pode apontar para possível aumento de casos no futuro próximo.
É importante, ainda, analisar a curva que consolide essas três arboviroses, uma vez que todas têm em comum o
vetor. Isso pode tornar a análise mais sensível e oportuna e direcionar melhor as ações de controle vetorial.
Como a vigilância compreende várias etapas, por questões didáticas, os objetivos específicos da vigilância de cada
arbovirose serão apresentados após discutirmos o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), as
fichas de notificação e investigação e os softwares de análise.
SAIBA MAIS
Acesse aqui as fichas de notificação do SINAN:
portalsinan.saude.gov.br/images/documentos/Agravos/
NINDIV/Notificacao_Individual_v5.pdf
Além dos campos em comum, existe uma parte da ficha que é relativa a campos específicos de
cada arbovirose, com exceção da zika, que não tem ficha de investigação específica, utilizando-se
uma ficha simplificada chamada de notificação/conclusão. Em geral, esses campos se referem aos
exames laboratoriais, LPI, classificação final (confirmado ou descartado), critério de confirmação
(laboratorial ou clínico-epidemiológico), evolução (óbito ou cura) e hospitalização. A seguir, como
exemplo, observe os campos da ficha de notificação/investigação de dengue (Figura 8).
Esse sistema tem duas versões, uma on-line, para dengue e chikungunya, e uma versão Net, para os demais
agravos, mas que só pode ser acessada por usuários autorizados, mediante login e senha (Figuras 9 e 10). O
módulo on-line desenvolvido para dengue e chikungunya permite que, feita a notificação, todas as esferas
do SUS tenham conhecimento dos casos. A febre amarela, as epizootias e o zika são notificados no SINAN
Net, e os dados são transferidos do município para as demais esferas do SUS, no entanto, especialmente
com relação à febre amarela e às epizootias, devem ser usados meios mais rápidos de comunicação com as
demais instâncias do SUS, simultaneamente à notificação no SINAN, para que as ações de controle sejam
iniciadas de maneira oportuna.
SAIBA MAIS
Não esqueça da importância dos dicionários de variáveis que
orientam o preenchimento dos campos das FIN e do SINAN,
e roteiros de investigação específicos que estão disponíveis
tanto no Guia de Vigilância, como no site do Ministério da
Saúde, no portal do SINAN:
portalsinan.saude.gov.br
É possível que muito do que abordamos nesta seção sobre o SINAN já seja do seu conhecimento.
No entanto, caso não tenha familiaridade com o tema, você pode concluir que esse é o principal
sistema de informação utilizado pela vigilância.
SAIBA MAIS
Aprofunde seu conhecimento sobre o SINAN:
www.youtube.com/watch?v=_4sbHBlGSmM
scielo.iec.gov.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S1679-49742004000300002
2.4.3.1.1 Município infestado com história prévia de transmissão de dengue, chikungunya e/ou zika
Nos municípios infestados pelo Aedes aegypti com histórico de transmissão, os principais objetivos da vigilância
são detectar precocemente a circulação viral, identificar o vírus predominante e adotar medidas que reduzam a
ocorrência de casos e, se possível, a duração da epidemia nos períodos epidêmicos (BRASIL, 2019a).
Nos períodos não epidêmicos, a vigilância deve investigar e encerrar rapidamente os casos, identificar o agente
etiológico e acompanhar oportunamente a curva de casos e qualquer mudança no padrão de ocorrência, para
reduzir assim a ocorrência de epidemias ou preparar a assistência para evitar óbitos.
É necessário manter diálogo permanente com as equipes de controle vetorial para sinalizar áreas de maior
transmissão no território.
Nos períodos não epidêmicos, a vigilância deve orientar a realização dos exames laboratoriais específicos, para
que não haja sobrecarga dos laboratórios de saúde pública. As recomendações sobre a notificação compulsória
são mantidas. O SINAN deve estar atualizado para permitir as análises oportunas com dados fidedignos.
IMPORTANTE
Jamais deve-se aguardar a confirmação laboratorial dos casos para reconhecer a epidemia,
direcionar medidas de controle e, muito menos, orientar a condução clínica dos casos.
GAL
Histopatologia/
Imunohistopatologia
Amostra post
mortem (vísceras)
Sorologia
Amostras
ELISA (IgM/lgG) Teste de Neutralização
Redução de Placas
(PRNT)
GAL Resultados
Resultado
(Reagente/
Inibição da
Não Reagente)
Hemaglutinação (IH)
Atenção
Básica e
Vigilância
Epidemiológica Coleta = 5 dias do
início dos sintomas Biologia
Molecular Isolamento Viral
(RT-PCR) Resultados
Sequenciamento
GAL
GAL
Resultado
(Detectável/
Não Detectável)
Resultados e
Informações
GAL
Histopatologia/
Imunohistopatologia
Amostra post
mortem (vísceras)
Sorologia
Amostras
ELISA (IgM/lgG) Teste de Neutralização
Redução de Placas
(PRNT)
GAL Resultados
Resultado
(Reagente/
Inibição da
Não Reagente)
Hemaglutinação (IH)
Atenção
Básica e
Vigilância
Epidemiológica Coleta = 5 dias do
início dos sintomas Biologia
Molecular Isolamento Viral
(RT-PCR) Resultados
Sequenciamento
GAL
GAL
Resultado
(Detectável/
Não Detectável)
Resultados e
Informações
GAL
Manter a elevada cobertura vacinal em áreas de risco e infestadas por Aedes aegypti,
considerando as áreas com recomendação de vacinação no país;
Orientar medidas de proteção individual para as pessoas que se expõem em áreas de risco;
Reduzir os índices de infestação vetorial do Aedes aegypti;
Isolar os casos suspeitos no período de viremia;
Implementar a vigilância laboratorial voltada para o diagnóstico diferencial;
Implementar a vigilância sanitária de portos, aeroportos e fronteiras.
A partir de 2020, a vacinação contra a febre amarela (atenuada) foi ampliada em todo o Brasil, passando a ser
recomendada nas ACRV, na população de 9 (nove) meses de vida a 59 anos de idade, com administração de uma
dose de reforço para crianças de 4 anos de idade (BRASIL, 2019c).
Para contextualizar o que já estudamos até aqui, nossa última seção abordará alguns exemplos de análises que
devem ser realizadas pela vigilância.
Você observa que os dados gerados pelas notificações, após sua inserção no SINAN, se transformam em
informação??
1. Selecione o sistema
2. Selecione a
modalidade
3. Selecione o
tipo de arquivo
4. Selecione
o ano
5. Selecione
a UF
6. Clique
em enviar
Algumas análises mais específicas não são possíveis por meio do Tabwin, devido às
limitações do software. Nesse caso, um software de análise gratuito muito utilizado é
o Epi Info, desenvolvido pelo Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC)
(disponível em: www.cdc.gov/epiinfo/por/pt_index.html).
O site oficial disponibiliza tutoriais sobre o uso do software, incluindo vídeos com
apresentação da ferramenta, e pode ser acessado aqui: www.youtube.com/watch?v=-uT
Hl9E6NK8&list=PL9B9157E47AB3FDFA&index=1.
120
100
Coef. de incidência
80
60
40
20
0
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39 41 43 45 47 49 51
Observe, na Figura 17, que a análise do número absoluto 676 677 0,06
0,01
0 0,00
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
100
90
80
70
% de casos/critério
60
50
40
30
20
10
0
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39 41 43 45 47 49 51
Hospitalizações.DG+DSA
Nº de casos notificados
de dengue grave e de dengue com sinais de alarme, o que pode 100.000
refletir, em algum grau, a dificuldade de classificar corretamente 1.500
os casos. É possível que o número de casos graves esteja 80.000
subestimado.
60.000 1.000
Em condições reais, a vigilância poderia fazer a investigação
em prontuários dos casos hospitalizados, inclusive com a 40.000
ajuda das equipes dos Núcleos de Vigilância Hospitalar, para 500
confirmar a hipótese de subnotificação. Observe que o número 20.000
de hospitalizações está representado no eixo y à direita e que
a escala é menor do que aquela utilizada para representar o 0 0
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39 41 43 45 47 49 51 53
número de casos notificados.
Semana epidemiológica
Casos notificados Hospitalizações DG+DAS
100
90
80
56 54 53
Proporção de casos
70
60
50
40
30
44 46 47
20
10
0
Notificados (%) DG+DAS (%) Hospitalizações (%)
Masculino Feminino
Fonte: elaboração do autor.
Já o coeficiente de incidência por faixa etária demonstra o risco de cada faixa etária adoecer por dengue. Os eventos do
numerador representam um risco de ocorrência em relação ao denominador (MERCHÁN-HAMANN; TAUIL; COSTA, 2000).
Assim, o coeficiente de incidência é calculado utilizando-se:
a faixa etária
nº de expostos na mesma faixa etária
Vejamos o exemplo a seguir (Figura 21). Apresentamos a proporção de casos por faixa etária. Observe que a faixa etária
com maior proporção de casos foi a de 40 a 49 anos, seguida das faixas etárias de 50 a 59 anos e 60 a 69 anos. Em pessoas
com 14 anos ou menos ou em idosos acima dos 80 anos, a proporção foi menor.
35,0
30,0
25,0
% de casos/fx etária
20,0
15,0
10,0
5,0
0,0
0a4 5a9 10 a 14 15 a 19 20 a 29 30 a 39 40 a 49 50 a 59 60 a 69 70 a 79 80 anos
anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos ou mais
Fonte: elaboração do autor.
5,0
4,5
4,0
Coef. de incid. x 100 mil hab.
3,5
3,0
2,5
2,0
1,5
1,0
0,5
0,0
0a4 5a9 10 a 14 15 a 19 20 a 29 30 a 39 40 a 49 50 a 59 60 a 69 70 a 79 80 anos
anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos ou mais
2.5.1.7 Número absoluto de óbitos confirmados e taxa de letalidade por faixa etária
A análise do número de óbitos pode ser feita com base no número absoluto de óbitos confirmados, uma vez
que, proporcionalmente ao número de casos notificados, é pequeno, o que pode distorcer a magnitude do
problema ao se calcular a taxa de letalidade. Apesar das limitações de se trabalhar com números absolutos,
devemos ter em mente que a maioria dos óbitos por dengue é evitável com medidas simples de manejo
clínico. Em outras palavras, o número deveria ser bem menor do que é observado normalmente no país.
É importante observar ainda a distribuição dos óbitos por faixa etária e assim identificar grupos etários de
maior risco, para os quais a assistência deve ter os cuidados intensificados.
FIGURA 23 – NÚMERO ABSOLUTO DE ÓBITOS POR DENGUE, SEGUNDO FAIXA ETÁRIA, 2019
25
20
nº de óbito/fx etária
15
10
0
Menos 0 a 4 5a9 10 a 14 15 a 19 20 a 29 30 a 39 40 a 49 50 a 59 60 a 69 70 a 79 80 anos
que
1 ano anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos ou mais
12,0
10,0
8,0
% de óbito/fx etária
6,0
4,0
2,0
0,0
Menos 0 a 4 5a9 10 a 14 15 a 19 20 a 29 30 a 39 40 a 49 50 a 59 60 a 69 70 a 79 80 anos
que
1 ano anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos ou mais
A positividade (Figura 25) deve ser distribuída ao longo do tempo, conforme exemplo a seguir.
Supondo que o período epidêmico ou de maior transmissão ocorra nas primeiras 27 semanas
do ano, podemos concluir que o percentual de exames realizados (linha azul) teve um ligeiro
aumento nas últimas semanas do ano e que a proporção de exames positivos foi maior no primeiro
período do ano (linha vermelha) e caiu ao longo do tempo, sugerindo que a sensibilidade para
suspeita clínica se manteve elevada mesmo nos períodos de menor transmissão e que a elevada
positividade de sorologias durante o período de alta transmissão reflete que os casos testados
realmente eram casos confirmados de dengue.
80
70
60
% de casos/critério
50
40
30
20
10
0
1 4 7 10 13 16 19 22 25 28 31 34 37 40 43 46 49 52
SAIBA MAIS
Nas Diretrizes Nacionais para a Prevenção e
Controle de Epidemias de Dengue (BRASIL, 2009),
há um exemplo e o passo a passo para elaboração
de diagramas:
b v s m s . s a u d e . g o v. b r / b v s / p u b l i c a c o e s /
diretrizes_nacionais_prevencao_controle_
dengue.pdf
Incidência
140
Nível 03
130
Média móvel
120
Limite superior
110 2011/2012
100
Nível 02
90
80
70 Nível 01
60
Nível Zero
50
40
30
20
10
0
27 29 31 33 35 37 39 41 43 45 47 49 51 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27
Semana epidemiológica
Fonte: Brasil (2015a, p. 12).
Nos níveis zero e um, observe que os casos (linha pontilhada) ainda não ultrapassam o limite superior
(linha vermelha), no entanto, no nível 1, a tendência de aumento semanal já pode ser identificada. Para
o nível zero é recomendado que a vigilância analise o coeficiente de incidência, identifique o sorotipo
circulante e trabalhe na captura de rumores que possam antecipar a detecção do aumento de casos por
meio dos sistemas oficiais.
Já no nível 1, além do coeficiente de incidência, deve-se monitorar atentamente a notificação de óbitos
ou casos graves.
O nível 2 é acionado quando o número de casos notificados ou o coeficiente de incidência ultrapassam
o limite máximo esperado, com transmissão sustentada e/ou quando for detectado aglomerado de
óbitos suspeitos de dengue.
No nível 3, os indicadores são o coeficiente de incidência e número de casos de óbitos. O número de
casos notificados ultrapassa o limite máximo com transmissão sustentada de acordo com o diagrama
de controle por pelo menos 4 semanas, e a letalidade apresenta tendência de aumento.
Nesta unidade, você teve oportunidade de compreender a importância da vigilância no enfrentamento das
arboviroses, pôde revisitar fatos históricos da epidemiologia dessas doenças e conhecer um pouco do cenário
atual no que se refere à expansão da circulação desses vírus no território e sua importância na vigência da
circulação do COVID-19.
Os conhecimentos adquiridos vão contribuir para o seu crescimento profissional e para o seu olhar crítico a todas
as etapas que constituem o processo de vigilância.
BARBI, L. et al. Prevalence of Guillain-Barré syndrome among Zika virus infected cases: a systematic review and meta-analysis. The Brazilian Journal of
Infectious Diseases, v. 22, n. 2, p. 137-141, 2018. DOI: 10.1016/j.bjid.2018.02.005.
BESERRA, F. L. C. N. et al. Clinical and laboratory profiles of children with severe chikungunya infection. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical,
v. 52, abr. 2019. DOI: 10.1590/0037-8682-0232-2018.
BONIFAY, T. et al. Atypical and severe manifestations of chikungunya virus infection in French Guiana: A hospital-based study. PLOS ONE, v. 13, n. 12, dez. 2018.
DOI: 10.1371/journal.pone.0207406.
BORTEL, W. van et al. Chikungunya outbreak in the Caribbean region, December 2013 to March 2014, and the significance for Europe. Eurosurveillance, v. 19,
n. 13, abr. 2014. DOI: 10.2807/1560-7917.es2014.19.13.20759.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Monitoramento dos casos de arboviroses urbanas causados por vírus transmitidos pelo
mosquito Aedes (dengue, chikungunya e zika), semanas epidemiológicas 1 a 33, 2021. Boletim epidemiológico, v. 52, n. 31, 2021a.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. SINAN-net. 2021b. Disponível em: http://sinan.saude.gov.br/sinan/login/login.jsf. Acesso em:
2 dez. 2021.
BRASIL. Ministério da Saúde. Tabwin. 2021c.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 264, de 17 de fevereiro de 2020. Altera a Portaria de Consolidação nº 4/GM/MS, de 28 de setembro de 2017. Diário
Oficial da União, 19 fev. 2020a. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-264-de-17-de-fevereiro-de-2020-244043656. Acesso em: 2
nov. 2021.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 264, de 17 de fevereiro de 2020. Altera a Portaria de Consolidação nº 4/GM/MS, de 28 de setembro de 2017.
Diário Oficial da União, 19 fev. 2020b. Disponível em: http://www.saude.sp.gov.br/resources/cve-centro-de-vigilancia-epidemiologica/publicacoes/
portaria264_17fev2020_inclui_doenca_chagas_cronico.pdf. Acesso em: 2 nov. 2021.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Coordenação-Geral de Desenvolvimento da Epidemiologia em Serviços. Guia de Vigilância
em Saúde: volume único. 3. ed. Brasília, 2019a. 740 p
BRASIL. Ministério da Saúde. Ofício circular nº 136/2019/SVS/MS. Brasília, 2019b. Disponível em: https://www.saude.go.gov.br/files/imunizacao/legislacao/
Oficio-Circularn136_2019_SVS_MS.pdf. Acesso em: 2 nov. 2021.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Informe Epidemiológico nº 25 – Semana Epidemiológica (SE) 18/2016 (01/05 A 07/05/2016).
Monitoramento dos casos de Microcefalia no Brasil. Brasília, 2016a.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. Dengue: diagnóstico e manejo
clínico: adulto e criança. 5. ed. Brasília, 2016b. 58 p.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. Plano de Contingência Nacional
para Epidemias de Dengue. Brasília, 2015a. 42 p.
Unidade 3
Caro trabalhador estudante, que bom estarmos juntos nesta unidade em que estudaremos a vigilância e o controle de vetores.
Serão apresentadas suas principais características e informações sobre a biologia dos vetores desses arbovírus. Conheceremos também as
condições favoráveis para a proliferação dos vetores e as ações recomendadas pelo Ministério da Saúde (MS) para sua vigilância e controle
e faremos uma releitura atualizada dos manuais, guias e normativas sobre o assunto, além de informações complementares provenientes
de outras publicações científicas relacionadas.
Esperamos que você compreenda a importância da vigilância e do controle dos vetores das arboviroses urbanas e silvestres, conheça as
atividades recomendadas pelo MS e reconheça a sua importância nesse processo.
Vamos juntos neste caminho aprendendo sempre mais, para você contribuir com a saúde no território em que atua. Desejamos a você bons
estudos e que possa fazer a diferença para a população do seu território.
1. Identificar os vetores, hospedeiros, reservatórios das Arboviroses urbanas (Dengue, Zika, Chikungunya) e silvestres (Febre Amarela, Oropouche e Mayaro);
2. Descrever os ciclos de vida dos vetores dos arbovírus;
3. Destacar as principais diferenças entre as Arboviroses urbanas (Dengue, Zika, Chikungunya) e silvestres (Febre Amarela, Oropouche e Mayaro);
4. Compreender o conceito da vigilância e do controle de vetores, hospedeiros e reservatórios das arboviroses urbanas e silvestres;
5. Relatar a importância da vigilância e do combate de vetores, hospedeiros e reservatórios das arboviroses urbanas e silvestres;
6. Identificar os objetivos da vigilância de epizootias em primatas não humanos;
7. Descrever as atividades de vigilância passiva e ativa de epizootias em primatas não humanos;
8. Compreender as ações de vigilância dos vetores das arboviroses;
9. Descrever ações intersetoriais necessárias ao controle das arboviroses;
10. Conhecer brevemente o histórico das ações de controle do Ae. aegypti em saúde pública no Brasil, até a construção das Diretrizes Nacionais para Prevenção
e Controle de Epidemias de Dengue, seguidas atualmente;
11. Compreender os métodos de controle do Ae. aegypti preconizados pelo Ministério da Saúde;
12. Conhecer os critérios para preconização dos inseticidas pelo Ministério da Saúde para uso pelos Programas Municipais de Controle de vetores;
13. Compreender o conceito de Manejo Integrado de Vetores (MIV) e sua contribuição para o controle de vetores;
14. Reconhecer a estratificação de municípios em infestados e não infestados pelo Aedes aegypti;
15. Diferenciar os métodos de vigilância e controle do Aedes aegypti preconizados pelo Ministério da Saúde para municípios não infestados e infestados
pelo vetor;
16. Enumerar as atribuições dos profissionais envolvidos no controle vetorial;
17. Apontar aspectos importantes para o planejamento e organização das operações de campo;
18. Compreender a importância de integração das atividades e do território trabalhado pelas equipes
A B
Fontes: (A) Rodrigo Mexas e Raquel Portugal. Acervo da Fundação Oswaldo Cruz. (B) Foto gentilmente cedida pelo PhD. Lawrence Reeves,
cientista assistente de pesquisa, do Laboratório de Entomologia Médica da Universidade da Florida/EUA. Disponível no Instagram @
biodiversilary (https://www.instagram.com/p/B78kyX4nipQ/).
Fonte: fotos gentilmente cedidas pelo PhD. Lawrence Reeves, cientista assistente de pesquisa, do Laboratório de Entomologia Médica da
Universidade da Florida/EUA. Disponíveis no Instagram @biodiversilary (https://www.instagram.com/p/B78kyX4nipQ/).
A FA é enzoótica nas florestas das Américas, sendo transmitida por mosquitos dos gêneros Haemagogus e
Sabethes aos primatas (Figura 3) e, ocasionalmente, aos humanos. Os Aedes aegypti podem se infectar com
o vírus amarílico ao picar essas pessoas nas cidades, iniciando assim o ciclo urbano da FA.
A B
Conhecer as características do ciclo de vida de tais vetores (seu habitat, em que animais e períodos do dia as
fêmeas fazem seu repasto ou alimentação sanguínea, onde se escondem e botam seus ovos, qual o seu tempo de
vida, entre outras características) é importante na definição de ações para vigilância ou controle das arboviroses.
Adultos
Ovos
Água
Pupa
Larva
Fonte: www.fiocruzimagens.fiocruz.br
As principais características do mosquito vetor do vírus da dengue, Aedes aegypti, foram apresentadas no
manual Dengue: instruções para pessoal de combate ao vetor: manual de normas técnicas (BRASIL, 2001):
Espécie tropical e subtropical que possui hábitos urbanos, o Ae. Aegypti possui estreita relação
com o homem. Seus ovos medem, aproximadamente, 1mm de comprimento e possuem contorno
alongado e fusiforme. São depositados pela fêmea, individualmente, nas paredes internas dos
depósitos que servem como criadouros, próximos à superfície da água... A fecundação se dá
durante a postura e o desenvolvimento do embrião se completa em 48 horas, em condições
favoráveis de umidade e temperatura. Uma vez completado o desenvolvimento embrionário, os
ovos são capazes de resistir a períodos de dessecação de mais de um ano, facilitando seu transporte
em recipientes secos (dispersão passiva) e dificultando seu controle (BRASIL, 2001, p. 11-12).
Fonte: foto gentilmente cedida pelo PhD. Lawrence Reeves, cientista Fonte: Rodrigo Mexas e Raquel Portugal. Acervo da Fundação Oswaldo
assistente de pesquisa, do Laboratório de Entomologia Médica da Cruz.
Universidade da Florida/EUA. Disponível no Instagram @biodiversilary
(https://www.instagram.com/p/B78kyX4nipQ/).
Fonte: www.fiocruzimagens.fiocruz.br
Fonte: www.fiocruzimagens.fiocruz.br
SAIBA MAIS
Informações detalhadas sobre essas e outras espécies
capazes de transmitir o vírus amarílico podem ser
encontradas no Guia de vigilância de epizootias em
primatas não humanos e entomologia aplicada à
vigilância da febre amarela (BRASIL, 2014a).
b v s m s . s a u d e . g o v. b r / b v s / p u b l i c a c o e s / g u i a _
vigilancia_epizootias_primatas_entomologia.pdf
Notificação
Investigação
Resposta de serviços:
• Imunização
• Busca de casos e epizootias
Ação
• Investigação vetorial e controle vetor urbano
• Informação, educação e comunicação
Fonte: Brasil (2014a).
LEMBRE-SE
A detecção de eventos suspeitos de FA em tempo oportuno
permite a investigação do LPI e dos locais de circulação do
paciente e/ou PNH, assim como as ações de bloqueio e outras
medidas de controle que se fizerem necessárias.
A migração rural-urbana, o crescimento da densidade populacional sem fornecimento regular de água encanada, o aumento
da produção de lixo e, consequentemente, de criadouros para o vetor, tornam o ambiente urbano cada vez mais favorável
à infestação e o Aedes aegypti um vetor bastante eficiente. Aedes aegypti é um mosquito domesticado que se desenvolve
em containers construídos pelo homem em ambiente urbano, e a abundância do mosquito aumenta com a urbanização
(HIGA, 2011). Somados a esses fatores, um inefetivo controle do mosquito, globalização, mudanças no estilo de vida e
viagens internacionais contribuíram para a reemergência da dengue em áreas endêmicas e não endêmicas (GUBLER, 2011).
A capacidade de sobrevivência dos ovos por longos períodos na ausência de água, contribuindo para sua manutenção no
ambiente, as condições climáticas favoráveis à sua reprodução e sua dispersão passiva para novas localidades pelos meios de
transporte são outros fatores que contribuem para a transmissão das arboviroses (ZARA et al., 2016).
SAIBA MAIS
Atividades sistematizadas para
eliminação de focos do Aedes aegypti
vêm sendo conduzidas no Brasil
desde o início do século passado,
com a campanha de controle da FA
urbana comandada por Oswaldo
Cruz e com o apoio da fundação
norte-americana Rockefeller
para atuação nas regiões Norte e
Nordeste do país. O vetor chegou a
ser erradicado por mais de uma vez
no território, porém algum tempo
depois havia a reinfestação e, nas
décadas seguintes, os mosquitos
se disseminaram para diversas
Fonte: www. flickr.com localidades.
FIGURA 11 – LINHA DO TEMPO DO CONTROLE DO MOSQUITO AEDES AEGYPTI EM SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL
Programa Nacional de
Controle da Dengue (2002) –
proposta de execução
permanente das ações,
objetivo de redução da
infestação vetorial.
Controle mecânico
O controle mecânico consiste na adoção de práticas de manejo ambiental capazes de impedir a reprodução do Aedes, tendo como principais atividades a
proteção (cobertura, criação de barreiras físicas como telas em janelas e portas), a destruição (drenagem e eliminação) ou a destinação adequada de depósitos
e/ou recipientes que podem servir de criadouros (caixas d’água, depósitos diversos, pneus, etc.) (Figuras 12 e 13). O manejo ambiental tem grande importância
na geração de resultados mais duradouros pela eliminação definitiva dos criadouros, quando executado de maneira correta e rotineira pela população. Essa
forma de controle deve ser priorizada e aliada às ações de promoção da conscientização sanitária e educação voltadas à população, bem como as ações de
caráter intersetorial, com envolvimento das áreas de saneamento e meio ambiente, educação, ordenamento urbano, cidadania, entre outras.
Controle legal
FIGURA 13 – USO DE CAPAS PARA VEDAÇÃO DE DEPÓSITOS DE ÁGUA
O controle legal consiste no amparo de legislações que objetivam a
manutenção dos ambientes livres de criadouros do vetor, apoiando a
atividade dos agentes públicos, sejam eles Agentes de Controle de Endemias,
Agentes Comunitários de Saúde, Fiscais Sanitários, Guardas Municipais
ou gestores. Os códigos de postura municipais devem permitir ao poder
público a responsabilização de proprietários de imóveis, terrenos baldios
e pontos estratégicos por sua manutenção livres de criadouros, prever a
entrada forçada em imóveis fechados, abandonados ou com recusa à visita
dos agentes para inspeção sanitária, além de outras medidas necessárias à
redução de riscos à saúde da população.
Fonte: www.flickr.com
Controle químico
O controle químico consiste no uso de substâncias químicas – inseticidas – para o controle do vetor. O MS recomenda
o controle químico nas fases larvária (Figura 14) e adulta (Figura 15), segundo orientações técnicas, somente com a
utilização de inseticidas pré-qualificados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para uso em água destinada ao
consumo humano ou para aplicação no meio ambiente. No processo de pré-qualificação, os produtos passam por
avaliações confiáveis de segurança, toxicidade ambiental e eficácia. Seu uso deve respeitar as recomendações de
formas de aplicação e dosagens recomendadas pela OMS para minimizar os riscos à saúde da população humana e
animal e desequilíbrios ao meio ambiente, já que outras populações podem ser afetadas e não apenas a de mosquitos.
Além disso, o MS avalia os compostos em condições locais antes de sua aquisição para utilização pelos Programas
Municipais de Controle de Vetores (LIMA et al., 2011). Os inseticidas indicados para uso em água de consumo
humano passam por avaliação adicional do Programa Internacional de Segurança Química, órgão vinculado à OMS, à
Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e à Organização Internacional do Trabalho (OIT).
FIGURA 15 – APLICAÇÃO
FIGURA 14 – APLICAÇÃO DE DE INSETICIDA DE AÇÃO
LARVICIDA QUÍMICO RESIDUAL
QUADRO 1 – ATIVIDADES PRECONIZADAS PELO MINISTÉRIO DA SAÚDE PARA A VIGILÂNCIA E CONTROLE DA TRANSMISSÃO
DE ARBOVIROSES NOS MUNICÍPIOS, SEGUNDO SUA SITUAÇÃO DE INFESTAÇÃO PELO AEDES AEGYPTI
Atividades de educação em saúde para prevenção e controle das arboviroses pela população
Fonte: adaptado de Brasil (2009). Atuar como facilitador, oferecendo os esclarecimentos sobre cada ação que envolva o
controle vetorial;
Garantir com o pessoal sob sua responsabilidade, o registro correto e completo das
atividades;
SAIBA MAIS
Você pode entender um pouco mais sobre a
regulamentação das atividades dos ACS e ACE conhecendo
a Lei nº 13.595, de 5 de janeiro de 2018, que altera a Lei
nº 11.350, de 5 de outubro de 2006, para dispor sobre a
reformulação das atribuições, a jornada e as condições
de trabalho, o grau de formação profissional, os cursos
de formação técnica e continuada e a indenização de
transporte dos profissionais ACS e ACE (BRASIL, 2018).
Fonte: www.flickr.com
* Extradomiciliar: atividade realizada em via pública, sem adentrar nos imóveis. Caminhonete pick-up 1 para apoiar as ações de controle
Geralmente é utilizada para complementar às atividades de UBV utilizando
equipamento acoplado a veículo, nas localidades de difícil acesso. Microscópio** 1 para cada 50.000 imóveis
** Intradomiciliar: atividade realizada com nebulizador costal, onde o jato de aspensão 1 para cada 600 quarteirões ou 15.000 imóveis/
é direcionado para o interior do imóvel. Nebulizador pesado 2 operadores por máquina (considerando 30%
*** Peridomiciliar: atividade realizada com nebulizador costal no quintal ou lado dos quarteirões existentes)
externo do imóvel.
1 para cada 25 quarteirões ou 625 imóveis/ 2
Fonte: Brasil (2009). Nebulizador portátil operadores por máquina (considerando 20%
dos quarteirões existentes)
* Rendimento de 10 a 25 imóveis/agenda/dia.
** Municípios de 10.000 a 50.000 habitantes podem optar por possuir microscópios e
laboratoristas ou executar as atividades laboratoriais com apoio do estado.
*** Número estimado de PE igual a 0,4% do número de imóveis existentes no município.
Fonte: Brasil (2009).
Êmbolo:
Movimento repetitivo,
cansaço
Tampa:
Despressurização
acidental, vazamento
Sistema de descarga:
de calda
Sistema pressurizado,
risco de rompimento e
ferimentos, vazamento
de calda em conexões
e mangueiras
Bandoleira:
Contaminação com
calda derramada, Tanque de inox:
peso mal distribuído Tanque sob alta
no corpo, ferimento pressão, risco de
da pele no ponto rompimento de
de apoio costura
Êmbolo e mangueira
Tampa:
Despressurização
acidental, vazamento
de calda
Alavanca de
pressurização:
Movimento repetitivo,
cansaço
Haste de
pulverização:
Entupimento do bico
Bandoleira:
Contaminação com
calda, peso mal
distribuído no corpo,
ferimento da pele 3.3.3.4.2 Nebulizador/pulverizador costal motorizado
O nebulizador costal motorizado (Figura 18) destina-se ao
Tanque de
polietileno: controle espacial do vetor com a aplicação de inseticida a
Sistema de descarga: Risco de ultrabaixo volume (UBV), com a formação de partículas muito
Sistema pressurizado com risco rompimento pequenas. Esses equipamentos devem ser regulados com a
de rompimento, vazamento de acidental vazão indicada, e as gotas geradas devem ser periodicamente
calda em conexão e mangueira avaliadas quanto ao seu tamanho, o que permite mantê-las
flutuando pelo maior período de tempo possível e garantir
sua eficácia, evitando a deriva para áreas não tratadas.
Fonte: adaptado de Brasil (2019b). Podem também ser utilizados para aplicação residual em
pontos estratégicos (PE), devendo ser adequados quanto à
vazão e ao produto apropriado, observando-se as instruções
estabelecidas pelo programa.
Lança e linha de
saída do inseticida:
Vazamentos em
mangueiras e
torneira, contato com
jato de inseticida
Tanque de
formulação:
Derrames e
vazamento
Turbina:
Peça em movimento
Escapamento:
Alta temperatura,
monóxido de carbono
Motor:
Peças de rotação, choque
de alta tensão, ruído excessivo
Tanque de combustível:
Vazamento, risco de incêndio,
contato com solvente
3.3.3.4.3 Equipamento nebulizador pesado
O nebulizador pesado é utilizado no programa de
Áreas de risco do nebulizador motorizado portátil
controle do Aedes aegypti para manejo espacial do
vetor pela nebulização do inseticida em pequenas
gotículas (Figura 19). A produção dessas gotículas
Fonte: adaptado de Brasil (2019b).
deve se concentrar em torno de 5 a 25 micras (85%), o
que determina a regulagem ideal da vazão conforme
o produto utilizado e a realização periódica de coleta
e contagem estatística das gotículas, garantindo a
maior eficácia do tratamento.
Escapamento:
Contato com alta temperatura, Tanque de
monóxido de carbono inseticida:
Risco de
vazamento,
contato com
a pele
Lança e bocal
de nebulização:
Contato com fluxo
de ar, contato com
calda de inseticida Tanque de
combustível
(gasolina):
Risco de vazamento,
contato com a pele
e incêndio
Motor de 4 tempos:
Peças de rotação,
caloria, contato com alta
conexão entre tensão e temperatura,
motor/compressor: ruído excessivo
Peça em rotação,
risco de ferimento
FIGURA 20 – UNIFORMES E EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL (EPIS) DE USO NECESSÁRIO AOS ACE DURANTE A VISITA DOMICILIAR
USO
TIPO CUIDADOS E MANUTENÇÃO
Constante Eventual
Camisa gola pólo ou camiseta Substituir diariamente
Calça de brim cáqui ou jeans Substituir diariamente
Boné ou chapéu de brim Substituir quando necessário
Calçado de segurança Substituir quando necessário
Máscara facial PFF2 Substituir diariamente
Luva nitrílica parede fina Substituir quando necessário
Cinto de segurança com talabarte Regulagem e verificação constante
USO
TIPO CUIDADOS E MANUTENÇÃO
Constante Eventual
Camisa gola pólo ou camiseta Substituir diariamente
Calça de brim cáqui ou jeans Substituir diariamente
Boné ou chapéu de brim Substituir quando necessário
Calçado de segurança Substituir quando necessário
Luva nitrílica cano médio Substituir quando necessário
Vestimenta hidrorrepelente, capuz
Substituir quando necessário
viseira plástica, avental impermeável
Máscara hemifacial PFF2 Substituir diariamente
Máscara facial PFF2 Substituir diariamente
Protetor auri-
Proteção contra
cular (inserção
ruídos excessivos
ou concha)
Avental Proteção contra
E E E E
impermeável derramamento
Luvas Proteção das
nitrílicas para mãos contra E E E
procedimentos agentes químicos
Proteção das
Luvas nitrílicas
mãos contra E E
cano médio
agentes químicos
Proteção das
Luvas de
mãos em ativida-
raspa de couro
des agressivas
Proteção dos pés
Bota
em ambientes
impermeável E
úmidos ou ala-
de borracha
gados
Proteção
Cinto de
contra quedas
segurança E
(nas situações em
com talabarte
que se aplicar)
PARA REFLETIR
Você já vivenciou algum acidente de trabalho agravado pela falta de uso
dos Equipamentos de Proteção Individual, ou percebeu algum risco à sua
saúde ou à saúde de algum colega de trabalho por não estarem executando
suas funções de acordo com as normas de segurança do trabalho? O
respeito a essas normas é bastante importante, e vale a pena deixar esse
material instrucional em local de fácil acesso para consulta, sempre que for
necessária.
SAIBA MAIS
Você pode aprofundar seus conhecimentos sobre mosquitos de
forma dinâmica e bastante interessante ouvindo o podcast #115
Pra que servem os mosquitos?, do projeto de divulgação científica Alô,
Ciência?, disponível no endereço eletrônico:
alociencia.com.br/podcast/115-pra-que-existem-os-mosquitos
e também na plataforma Spotify:
open.spotify.com
Fonte: www.flickr.com
• Pesquisa larvária
A pesquisa larvária consiste na inspeção de formas imaturas (larvas e pupas) em todos os depósitos de
imóveis visitados e coleta e envio desse material para o laboratório para análise e geração de indicadores.
A pesquisa larvária objetiva a estratificação das áreas de risco entomológico, o monitoramento das ações
de controle realizadas e a avaliação de metodologias de controle em estudo. A inspeção é realizada em
uma amostragem de imóveis, que difere segundo a metodologia adotada. Foram preconizados pelo MS
dois tipos de pesquisa larvária: o Levantamento de Índice Amostral (LIA) e o Levantamento de Índice
Rápido para Aedes aegypti (LIRAa).
• Levantamento de Índice Amostral (LIA)
O LIA é um levantamento larvário realizado em uma amostragem sistemática de imóveis do município,
de modo a apresentar significância estatística. É geralmente realizado em localidades pequenas, uma
vez que, para aquelas com mais de 8100 imóveis, é recomendada a realização do LIRAa.
Fonte: Rondon Vellozo (BRASIL, 2013). Fonte: Rondon Vellozo (BRASIL, 2013).
Durante o levantamento, as larvas são coletadas e o tipo de recipiente em que se encontravam é registrado. O cálculo do
percentual de cada tipo de recipiente em relação ao total de recipientes (indicador ITR) permite o direcionamento de medidas
de controle específicas, como o recolhimento de pneumáticos, a cobertura de depósitos de água com capas ou a intensificação
de coleta de inservíveis. As ações de comunicação e mobilização social também podem ser mais direcionadas para os tipos de
recipiente mais encontrados naqueles municípios.
O índice entomológico mais utilizado estimado com base no LIRAa é o IIP, que representa o percentual de imóveis com
criadouros do Aedes aegypti em uma localidade. Segundo o MS, um IIP maior que 3,9% indica a existência de risco aumentado
para a ocorrência de epidemias de dengue. Os índices de infestação são indicadores bastante utilizados na definição de áreas
prioritárias para intensificação de ações de controle vetorial dentro de um município.
Os índices de infestação predial por Aedes aegypti são classificados, de acordo com o risco, em:
<1 Satisfatório
1 a 3,9 Alerta
PARA REFLETIR
Você acredita que, na localidade em que você trabalha, as ações de controle vetorial são
orientadas pelos resultados do monitoramento entomológico?
Consegue compreender as vantagens da realização do monitoramento entomológico?
Quando bem-feito, ele pode auxiliar na definição das áreas em que é necessária a
intensificação das ações de controle, ou avaliar se o que já foi executado trouxe bons
resultados. É interessante que a comunidade conheça os resultados do monitoramento
entomológico de sua localidade, pois isso pode auxiliar na compreensão das pessoas a
respeito da necessidade de manutenção dos ambientes livres de criadouros e motivar a
transformação do conhecimento em práticas.
Fonte: www.flickr.com
Fonte: www.flickr.com
Fonte: www.fiocruzimagens.fiocruz.br
Constituir Comitê Gestor Intersetorial, sob coordenação da SES, com Executar as ações de controle das arboviroses de forma complementar aos
representantes das áreas do estado que tenham interface com o problema das estados ou em caráter excepcional, quando constatada a insuficiência da ação
arboviroses (defesa civil, limpeza urbana, infraestrutura, segurança, turismo, estadual;
planejamento, saneamento, etc.), definindo responsabilidades, metas e
indicadores de acompanhamento de cada área de atuação. Apoiar os estados com insumos e equipamentos da reserva estratégica, em
situações de emergência;
Fonte: adaptado de Brasil (2009). Manter e controlar estoque estratégico de insumos e equipamentos;
Análise das notificações dos casos de arboviroses, detalhando as informações pela menor
unidade geográfica possível para identificação precisa dos locais em situação epidêmica;
Caso o município não tenha indicadores entomológicos atualizados, fornecidos pelo último
ciclo de trabalho, deve realizar o LIRAa, com o objetivo de nortear as ações de controle;
Intensificar a visita nos pontos estratégicos, com a aplicação de inseticida residual a cada dois
meses, de acordo com residualidade do inseticida Fludora ® Fusion;
Com base nos dados dos indicadores entomológicos, executar ações direcionadas, priorizando
as áreas onde o LIRAa apontou estratos em situação de risco de surto (IIP > 3,9%) e de alerta (IIP
>1 e <3,9%), visando ao manejo e/ou à eliminação dos depósitos com ações específicas, como
mutirões de limpeza, instalação de capas de caixas d’água e recolhimento de pneumáticos;
Compostos Constitui-se em alternativa para o controle químico; utiliza inseticidas Há necessidade de estudos de eficácia e custo- efetividade em comparação
Atividade larvicida.
naturais mais seguros. ao controle químico.
Bactéria que, ao colonizar os mosquitos, As diferenças climáticas, protocolos de liberação de mosquitos, nível de
Faz uso de microrganismo natural; é autossustentável; dispensa
Wolbachia provoca esterilidade e redução da transmissão urbanização e densidade humana podem limitar o potencial invasivo dos
sexagem dos mosquitos; não utiliza inseticidas e radiação.
de arbovírus. insetos nos locais de soltura.
Produção de genes letais, esterilização de Há necessidade de uso de tecnologias de sexagem dos mosquitos;
Mosquitos Leva à redução do tempo de vida dos mosquitos; diminui a
mosquitos ou introdução de gene que reduza depende do protocolo de soltura; requer produção e liberação constante
transgênicos infestação de mosquitos; e dispensa uso de radiação.
ou bloqueie a transmissão de doenças. de mosquitos no meio ambiente.
Chegamos ao final desta unidade, e reconheço que trabalhamos com muitas informações importantes para a sua
prática profissional. As arboviroses são um problema bastante importante para a saúde pública e, durante minha
experiência de trabalho em município, estado e no governo federal, sempre pude perceber a complexidade
deste assunto. O principal motivo de ser tão complexo é que a transmissão das arboviroses é influenciada por
vários fatores que vão além do setor Saúde, como a educação e o saneamento básico. Certamente, na sua rotina
de trabalho você já se deparou com diversos desafios nesse sentido.
Aprendendo um pouco mais sobre as arboviroses, você conseguiu perceber a importância do seu trabalho
para a saúde pública? Imagine que o SUS é uma corrente e que cada elo é um trabalhador. Todos os elos são
importantes e devem estar bem articulados para que o objetivo seja atingido, que é, no caso do SUS, oferecer
assistência às pessoas por meio de ações de promoção, proteção e recuperação da saúde.
Tenha certeza de que este material vai auxiliar seu trabalho e, sempre que você sentir necessidade, procure os
materiais adicionais indicados. Converse também com os colegas da sua e de outras equipes de trabalho, porque
a troca de experiências nos faz mais fortes!
Unidade 4
Carlos Henrique Alencar • Daniela Buosi Rohlfs • Francisco Gustavo Silveira Correia • Jackeline Leite Pereira Pavin
APRESENTAÇÃO DA UNIDADE
Este pode ser o seu primeiro contato com o tema da Vigilância em Saúde Ambiental voltada para as ações de controle de vetores.
Esperamos, com esta unidade, que os conceitos apresentados lhe ofereçam conhecimentos sobre as questões ambientais voltadas ao
controle das arboviroses. Para isso, vamos apresentar as etapas de construção da política de Vigilância em Saúde Ambiental que vem sendo
desenvolvida no Brasil, pautada pela Política Nacional de Vigilância em Saúde. Buscamos descrever algumas situações de risco à saúde
humana relacionadas com o controle de vetores. Para tanto, os tópicos foram criados com o objetivo de relacionar a realidade vivenciada
no território com os conceitos descritos, com a problematização de cenários de risco e, principalmente, com a atuação do setor Saúde ante
os problemas identificados.
Diante disso, apresentamos alguns pontos de discussão sobre a relação da Vigilância em Saúde Ambiental com o controle das arboviroses.
Esta unidade está dividida em duas seções principais: seção Vigilância em Saúde Ambiental: aspectos conceituais, organizacionais e marcos
regulatórios, na qual trabalharemos os seguintes temas: aspectos históricos da Vigilância em Saúde; o conceito de Vigilância em Saúde
Ambiental; modelos conceituais da relação saúde e meio ambiente; e marcos regulatórios da Vigilância em Saúde Ambiental no Brasil,
e seção Componentes da Vigilância em Saúde Ambiental, em que serão abordados os seguintes conteúdos: avaliação de riscos à saúde
humana; indicadores de Vigilância em Saúde Ambiental; fatores ambientais de riscos biológicos; saneamento e arboviroses.
Seguimos juntos nos estudos desta unidade!
Enfrentamento das Arboviroses | Unidade 4 - Vigilância Ambiental e Controle das Arboviroses 193
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM DA UNIDADE
1. Conhecer o marco conceitual e organizacional e os marcos regulatórios da Vigilância em Saúde Ambiental no Brasil;
2. Conhecer a política e atuação da vigilância em saúde ambiental, com destaque para o controle de arboviroses;
3. Compreender os fundamentos sobre avaliação de risco à saúde humana;
4. Identificar os impactos do modelo de desenvolvimento, consumo e atividades humanas no controle de arboviroses;
5. Reconhecer os processos socioambientais associados às arboviroses no território;
6. Estabelecer a relação entre a vigilância em saúde ambiental e seus fatores de risco para o combate às arboviroses;
7. Identificar a importância da intersetorialidade nas ações de combate às arboviroses.
Enfrentamento das Arboviroses | Unidade 4 - Vigilância Ambiental e Controle das Arboviroses 194
4.1 Introdução
A identificação das relações entre saúde e ambiente é fundamental para
a inserção do profissional na problemática dos riscos ambientais. Você já
pensou nisto? O processo histórico de formação de uma comunidade, de
sua cultura, suas crenças e suas necessidades dialogam conosco. Todos
os profissionais da saúde podem utilizar as características da população
como ferramentas para uma prática em saúde preventiva e assistencial de
qualidade nas intervenções de saúde da comunidade.
Enfrentamento das Arboviroses | Unidade 4 - Vigilância Ambiental e Controle das Arboviroses 195
No século XIX, a Segunda Revolução
Industrial trouxe inovações
tecnológicas e mudanças sociais,
acompanhadas pelo advento da
bacteriologia e aprofundamento
do conhecimento sobre as doenças
infecciosas. Nessa época, as novas
máquinas e uma organização do A Revolução Industrial e a vida do trabalhador: relações de atualidade
trabalho mais intensa e algumas Reflita sobre as duas fotos a seguir: como era a rotina dos trabalhadores à época
vezes torturante provocaram uma da Segunda Revolução Industrial nas fábricas? Havia cadeiras, exaustores ou
deterioração das condições de vida ventiladores, equipamentos de proteção individual (EPI)? A que elementos
da população de trabalhadores nas nocivos os trabalhadores eram expostos durante os turnos de trabalho? Qual
grandes cidades. a qualidade de vida que as cidades proporcionavam? O trabalhador saía de
uma fábrica após extenuantes 12 (até 16) horas de um trabalho contínuo, um
ambiente muitas vezes poluído, e encontrava uma cidade limpa, organizada,
saudável? Havia espaços de lazer, rios para nadar, praças para caminhar,
alguma forma de lazer para este trabalhador e sua família?
Às vezes os filmes que retratam aquela época são exageradamente
românticos e ficcionais, não acha?
Enfrentamento das Arboviroses | Unidade 4 - Vigilância Ambiental e Controle das Arboviroses 196
No entanto, como tudo muda com o tempo, o conceito de vigilância também foi sendo
modificado ao longo das décadas de estudos das áreas biológica e social. Tradicionalmente, a
vigilância era tratada como o “ato de observar, de acompanhar os doentes”, no entanto, a partir de
1950, a vigilância passou a significar algo mais abrangente, mudando seu foco para as medidas
de controle e para o processo de “acompanhar sistematicamente os eventos adversos à saúde
na comunidade” (WALDMAN, 1998, p. 17-18). Observe que se passaram pelo menos 13 anos da
aparição conceitual do termo vigilância em saúde, quando, no ano de 1963, vigilância em saúde Saiba mais
foi referida como a “observação contínua da distribuição e tendências da incidência de doenças
mediante a coleta sistemática, consolidação e avaliação de informes de morbidade e mortalidade, Achou interessante este tema? Recomendamos dois textos que
assim como de outros dados relevantes, e a regular disseminação dessas informações a todos os apresentam ricos detalhes sobre a construção da Vigilância em Saú-
que necessitam conhecê-la” (MONKEN; BATISTELLA, 2009). de Ambiental no mundo: A construção da Vigilância em Saúde Am-
Um ponto fundamental merece destaque aqui: o embate histórico-econômico entre as forças biental no Brasil (ROHLFS et al., 2011): http://www.cadernos.iesc.
produtivas. Esse conflito se torna explícito na década de 1970, e faz com que vivamos um ufrj.br/cadernos/images/csc/2011_4/artigos/csc_v19n4_391-
confronto que gera uma tensão cada vez mais explícita entre as forças produtivas. As crises 398.pdf.
ambientais como as entendemos são consequências desses embates entre as formas de Vigilância em Saúde Ambiental no Brasil: heranças e desafios (BE-
produção, apropriação da natureza, exercício do poder e organização social (RADICCHI; LEMOS, ZERRA, 2017): https://www.scielo.br/j/sausoc/a/QW39pKs4mM-
2013). Desses conflitos conceituais entre a ação do Estado e a necessidade do crescimento na fkbGxVryfrJ3v/?lang=pt.
economia do país, a partir do poder de geração de lucros, surgem termos como sustentabilidade,
desenvolvimento sustentável e saúde ambiental. Vale a pena a leitura!
Enfrentamento das Arboviroses | Unidade 4 - Vigilância Ambiental e Controle das Arboviroses 197
A doença de Minamata: um silencioso exemplo de desastre ambiental e social
Trabalhador estudante, você conhece a doença de Minamata? Ela ocorreu na primeira metade do século XX, no Japão. Alguns habitantes da cidade de Minamata
apresentaram febre, fortes convulsões, perda de consciência e surtos de psicose. Além dessa rara doença, os investigadores tinham outro ponto a investigar:
elas não tinham quase nada em comum. Quase! Os indivíduos haviam consumido peixes
coletados da baía de Minamata, na qual uma tradicional empresa de produção de PVC
descartava seus resíduos industriais. Após cerca de 900 óbitos e 5000 pessoas atingidas FIGURA 1 – MAPA DA BAÍA DE MINAMATA, JAPÃO
pela doença, a causa da doença de Minamata foi esclarecida, em 1956: o mercúrio.
Na baía de Minamata, no Japão, fontes locais de poluentes geraram contaminações
crônicas nas populações por exposição prolongada a concentrações de metilmercúrio.
Uma indústria lançava dejetos contendo essa forma orgânica do mercúrio na baía da
Minamata desde 1930.
O mercúrio era despejado em um rio que desaguava no mar, um importante ecossistema
para animais que alimentavam as comunidades da região. A fauna marinha foi intoxicada.
A substância acumulou-se gradualmente na biomassa (“carne”). Pela comida, o metal
altamente tóxico chegou aos seres humanos. Cerca de 20 anos depois, começaram a
surgir sintomas de contaminação: peixes, moluscos e aves apareceram mortos. Em 1956,
o primeiro caso de contaminação humana – uma criança com danos cerebrais – foi
identificado. Muitos casos foram observados depois dessa data, e a moléstia ficou conhecida
Fonte: Google Maps.
como Doença de Minamata.
FIGURA 2 – SEQUELAS DA DOENÇA DE MINAMATA Trabalhador estudante, reflita sobre esse desastre
ambiental: quais ações poderiam ter sido implementadas
para evitar tantos óbitos e adoecimentos? O governo local
e as iniciativas privadas precisam construir quais conexões
para que haja um intercâmbio de informações mais claro
e menos burocrático? Para além de buscar os culpados
(em um desastre ambiental, sempre existem os atores que
permitiram o fenômeno acontecer), que atitudes legais e
solidárias você acredita que podemos aprender com esse
triste episódio para impedir um evento dessa magnitude
na sua comunidade?
Interessado nesse tema? Indicamos o documentário
Fonte: www.japaoemfoco.com/a-misteriosa-doenca-de-minamata/ AMAZÔNIA, A NOVA MINAMATA?, dirigido por Jorge
Bodanzky. Ele acompanhou médicos e pesquisadores que investigaram a contaminação por mercúrio na Amazônia entre 2019 e 2020. Esse filme resgata a história
de Minamata, no Japão, enquanto desvenda o real tamanho dessa ameaça para a floresta e seus habitantes. Vale a pena conferir!
Enfrentamento das Arboviroses | Unidade 4 - Vigilância Ambiental e Controle das Arboviroses 198
Diante das transformações que vinham acontecendo nos últimos 30 anos e
que ainda estão ocorrendo, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS)
conceituou a Saúde Ambiental como a ciência que compreende aspectos
da saúde humana, incluindo qualidade de vida, que são determinados
por fatores físicos, químicos, biológicos, sociais e psicológicos no meio
ambiente (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 1993). Um ponto importante
a ser considerado foi a vinculação do conceito à teoria e à prática de avaliação,
correção, controle e prevenção daqueles fatores que, presentes no ambiente,
podem afetar potencialmente de forma adversa a saúde humana das Saiba mais
gerações do presente e do futuro (ORGANIZACION PANAMERICANA DE LA Você sabe como as políticas públicas são construídas no
SALUD, 1994). SUS?
No Brasil, a Política Nacional de Vigilância em Saúde define Vigilância em Achou interessante esta discussão sobre o conceito de
Saúde Ambiental como um Saúde Ambiental? Recomendamos o livro 1ª Conferência
conjunto de ações e serviços que propiciam o Nacional de Saúde Ambiental (1ª CNSA), em especial o
conhecimento e a detecção de mudanças nos fatores capítulo sobre Saúde Ambiental nas Cidades (AMORIM et
determinantes e condicionantes do meio ambiente al., 2009):
que interferem na saúde humana, com a finalidade de
Disponível em: www.saude.sp.gov.br/resources/cve-
recomendar e adotar medidas de promoção à saúde,
prevenção e monitoramento dos fatores de riscos centro-de-vigilancia-epidemiologica/areas-de-vigilancia/
relacionados às doenças ou agravos à saúde (BRASIL, doencas-ocasionadas-pelo-meio-ambiente/doc/cnsa_
2018). livro.pdf#page=31
Esse conceito nasce do aprimoramento das políticas públicas na área Boa leitura!
de vigilância em saúde e foi construído com a participação de todos os
representantes dos estados e municípios durante as conferências municipais,
regionais, estaduais e nacional.
Enfrentamento das Arboviroses | Unidade 4 - Vigilância Ambiental e Controle das Arboviroses 199
O modelo mágico-religioso
Antes de estudarmos esses modelos, é importante que você, trabalhador estudante, saiba que
existiu uma concepção bastante antiga de que o estado de higidez (saúde e harmonia interior) e
de doença cabia aos deuses e a forças místicas que fluíam pelo corpo humano. Essa concepção
é nomeada de modelo mágico-religioso.
Bastante difundido na sociedade grega, teve defensores famosos, como Platão, Aristóteles 4.2.3.1 Modelo biomédico
e Demócrito. Eles acreditavam que o processo de adoecimento no homem acontecia por O modelo biomédico tem como principal vertente, o
um desequilíbrio entre corpo e alma e que o meio externo podia afetar seu estado de saúde diagnóstico e cura de doenças infecciosas, associando as
(CEBALLOS, 2015). doenças diretamente a um agente patogênico. Esse é um
modelo por excelência focado no indivíduo. Ele é bastante
específico e com os conhecimentos científicos aplicados
FIGURA 3 – ASCLÉPIO E HIGEIA: DEUS GREGO DA MEDICINA E DEUSA DA SAÚDE de forma fragmentada; perceba que neste modelo há uma
resistência à interdisciplinaridade. O ambiente hospitalar é
elevado ao patamar máximo do processo curativo (ALMEIDA
FILHO; ROUQUAYROL, 2006).
Descartes, no século XVII, propôs que o corpo e a mente
deveriam ser estudados de forma separada, sendo o corpo
analisado pela medicina e a mente estudada pela religião e
pela filosofia. Esse modelo fragmentado de pensar o fenômeno
do adoecimento foi fortalecido pelas descobertas de Pasteur
e Virchow em seus trabalhos com microrganismos no século
XIX. Esses pesquisadores estabeleceram uma relação entre os
recém-descobertos agentes (microrganismos) patogênicos
como causadores de doenças, até então com causas misteriosas
(BARROS, 2002). Há, neste modelo, uma ênfase na microbiologia,
fisiologia, patologia e clínica centrado no funcionamento do
corpo humano e do microorganismo. Neste modelo, a doença é
Fonte: https://www.worldhistory.org/Asclepius/ Fonte: http://aves.edu.pt/tas/?p=449
uma falha ou um desequilíbrio do organismo humano diante de
outros seres, caracterizando um modelo unicausal para explicar
O modelo mágico-religioso perdeu sua hegemonia na sociedade científica com o desenvolvimento o surgimento do processo de adoecimento.
das tecnologias e das teorias biológicas sobre o processo saúde-doença, porém ainda podem ser
percebidos traços de sua presença. No Brasil, nossa cultura acolhe fenômenos sobrenaturais, por
exemplo cerimônias de cura, uso de amuletos e “pagamento” de promessas, como ritos fidedignos
para alcançar um estado de saúde melhor. Ainda são muito comuns no país as benzedeiras e
indivíduos com a capacidade de manipular fluxos de energias vitais.
Enfrentamento das Arboviroses | Unidade 4 - Vigilância Ambiental e Controle das Arboviroses 200
Descartes e Virchow: homens além dos seus séculos. FIGURA 4 – QUADRO DE RENÉ DESCARTES
René Descartes foi filósofo, cientista e matemático. Viveu entre 1596 e 1650 na França. Desde a
infância impressionava pela insistência em não aceitar sem reflexão os ensinamentos e opiniões
recebidos de seus mestres. Aos 17 anos, já havia aprendido tudo que era ensinado àquela época
nas escolas.
Em 1619, concebeu a ideia de uma ciência universal, a qual unificaria todas as verdades filosóficas
e científicas. Ele descreveu um sistema de raciocínio. Descartes se engajou no desenvolvimento
do método de questionamento pelo qual se alcançaria o progresso filosófico e científico.
Descartes concebeu um método científico novo para sua época (século XVII) que permitia a
resolução de todos os problemas suscetíveis à razão. Convencido do potencial da razão humana,
recorreu à dúvida como método de raciocínio. Ao duvidar de tudo, reconhece que duvidar
significa pensar, chegando à sua mais famosa conclusão: “Penso, logo existo” (EMILIO, 2007).
Fonte: amenteemaravilhosa.com.br/rene-descartes-biografia/
Rudolf Virchow viveu entre 1821 e 1902 na Alemanha. O médico foi considerado “Pai da Patologia”, especialidade
que procura explicar os mecanismos pelos quais surgem as doenças a partir de alterações morfoestruturais das
células e órgãos. Era professor em um importante hospital em Berlim.
Em 1845, Virchow demonstrou que células doentes eram provenientes de células e tecidos sadios. Pode parecer
óbvio, não? Não para aquela época! Naquele período, respeitados patologistas afirmavam que as alterações
patológicas ocorriam devido a um desequilíbrio no sangue. Virchow contestou diretamente a teoria de que todas
as doenças eram produto de ação de germes. A teoria microbiológica não estava estabelecida ainda!!!
Além desse pensamento revolucionário, Virchow se dedicou à divulgação científica: criou sua própria revista
médica (atualmente conhecida como Virchows Archiv). Sua revista era produzida para profissionais especializados
e leigos, pois defendia a ideia de que “era preciso tornar o conhecimento acessível. A ciência avança a passos
rápidos, e a imprensa precisa se adequar a isso”. Rudolf Virchow sabia que o conhecimento científico só alcança
Fonte: cbc.org.br/artigo-rudolf-virchow/ seu verdadeiro impacto quando se torna público e compreensível à maior parte da sociedade (GUARISCHI, 2019).
Enfrentamento das Arboviroses | Unidade 4 - Vigilância Ambiental e Controle das Arboviroses 201
4.2.3.2 Modelo processual
O modelo processual surgiu no final do século XX no contexto
de uma transição epidemiológica na Europa. Essa transição
se refere à redução no número de casos de doenças infecto FIGURA 6 – MODELO DE HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA
parasitárias (DIP) na população (redução na prevalência) e
aumento dos casos de doenças e agravos não transmissíveis
(DANTs). Este modelo já apresenta avanços conceituais
quando comparado ao modelo biomédico, pois baseia-se no
modelo de História Natural da Doença, conceito inicialmente
proposto pelos pesquisadores Leavell e Clark. A história
natural da doença já se relaciona a uma visão multicausal da
doença: “Estímulos patológicos desencadeados pelo ambiente
desencadeiam uma resposta no corpo, e terá como desenlace
a cura, cronicidade, sequela ou óbito” (LEAVELL; CLARK, 1976).
Nesse ponto, você pode observar que o modelo processual
multicausal prevê uma tríade ecológica, formada pelo agente
causador da doença, pelo hospedeiro, ou pessoa suscetível, e,
finalmente, pelo meio ambiente em que a relação do agente
e do hospedeiro acontece. Na visão explicativa do processo
saúde-doença, percebe-se um destaque e a importância do
meio externo, um espaço com seus próprios fatores de risco e
no qual interagem determinantes e agentes. Merece destaque
também o meio interno, local em que se desenvolve a doença
(PUTTINI; PEREIRA JUNIOR; OLIVEIRA, 2010).
Pela primeira vez, os fatores externos foram destacados como
causa para o adoecimento. No entanto, muitas vezes, esses
fatores externos são difíceis de controlar, pois são caracterizados
pela natureza física, biológica, genética, cultural, psicossocial
e sociopolítica da população. Observe que, por outro lado,
o meio interno é o lugar em que se processam modificações
fisiológicas e histológicas no indivíduo, e essas modificações
podem ser ajustadas por: mudanças de hábitos, atitudes
positivas para evitar contaminações, vigilância individual,
exames periódicos, entre outros. Fonte: Almeida Filho e Rouquayrol (2006).
Enfrentamento das Arboviroses | Unidade 4 - Vigilância Ambiental e Controle das Arboviroses 202
4.2.3.3 Modelo sistêmico Um modelo sistêmico para arboviroses
É possível observar uma evolução do processo Caro trabalhador estudante, vamos desenvolver uma proposta de modelo sistêmico para arboviroses? Desenvolver a
saúde-doença no modelo sistêmico, se aplicação da História Natural da Doença pode explicar o sinergismo (interação) entre fatores de risco para as epidemias
comparado aos anteriores. Este modelo trouxe de arboviroses que assolam periodicamente o Brasil. Isso pode facilitar sua compreensão de um fenômeno que está
uma abordagem mais abrangente do processo ocorrendo na sua comunidade!
saúde-doença. Ele rompe com a ideia de meio Inicie pontuando alguns dos principais fatores de risco que estão relacionados à doença em análise. A leitura de literatura
externo e interno observados de forma separada científica é essencial neste momento! No caso da dengue, temos alguns fatores associados à realidade epidemiológica:
e desenvolve o conceito de sistema de fatores.
Como exemplos desses fatores podemos Fatores políticos e socioeconômicos (políticas de planejamento urbano, condições de moradia e distribuição
destacar os fatores políticos, socioeconômicos, populacional);
culturais, ambientais e patogênicos. Neste Fatores ambientais (quantidade de criadouros e potenciais criadouros do mosquito vetor Aedes na comunidade e em
modelo, um sistema atua como “um conjunto outras próximas);
de elementos de tal forma relacionados que
uma mudança no estado de qualquer elemento Fatores biológicos (sorotipos circulantes do vírus da dengue na comunidade, susceptibilidade da população local
provoca mudança nos demais elementos” (PAIM; para um sorotipo recém-identificado e insetos vetores); e
ALMEIDA FILHO, 2000). Fatores culturais (hábitos da comunidade que facilitam a reprodução do mosquito, como armazenamento inadequado
É importante destacar que, de acordo com o de água).
modelo sistêmico, uma situação de saúde pode Após esse exercício de identificar potenciais fatores de risco, é o momento de organizá-los em uma cadeia de ações. A
ser analisada da perspectiva funcional de um seguir apresentamos uma proposta para compreensão dos fatores que potencializam as epidemias de dengue.
sistema epidemiológico em equilíbrio dinâmico.
Os fatores são abordados de forma sinérgica, ou FIGURA 7 -FATORES POTENCIAIS RELACIONADOS
seja, interagem de tal forma que a modificação AO RISCO DE EPIDEMIAS DE ARBOVIROSES
de um afetará os demais (ALMEIDA FILHO;
ROUQUAYROL, 2006), em um processo pelo qual
o sistema busca novo equilíbrio.
Enfrentamento das Arboviroses | Unidade 4 - Vigilância Ambiental e Controle das Arboviroses 203
4.2.3.4 Modelo de determinação social da doença
Desde a década de 1960, sucessivas mudanças na forma de pensar a doença, a preocupação com o bem-estar social e o conceito
ampliado de saúde permitiram uma ampliação do modelo sistêmico. A necessidade crescente de sistematizar e estudar com
maior especificidade os variados processos que resultam nas condições de vida e saúde em uma dada coletividade ultrapassou
a barreira da hegemonia biomédica (PUTTINI; PEREIRA JUNIOR; OLIVEIRA, 2010). A proposta de um novo conceito vinculado
ao processo saúde-doença foi elaborada com base no conceito de determinação social da saúde e da doença. Você já deve
ter percebido que os modelos processual, sistêmico e de determinação social aqui descritos são contemporâneos em suas
idealizações, no entanto, cada um deles teve seu momento de maior destaque ao longo do tempo.
Quanto ao modelo de determinação social da saúde e da doença, vamos dar destaque ao de Dahlgren e Whitehead, por ser
o mais abordado no Brasil. Esse modelo organiza níveis de fatores determinantes que partem do individual e se ampliam até
os determinantes de ordem macrossocial. Ele apresenta os determinantes sociais de saúde (DSS), incluindo-os em diferentes
camadas segundo seu nível de abrangência, desde uma camada mais próxima aos determinantes individuais até a camada
mais distante, na qual se situam os macrodeterminantes.
Determinantes sociais de saúde: os fatores que explicam o Classe social é um fator fortemente
fenômeno da saúde relacionado ao acesso (ou não)
a bens e serviços, e o nível de
Em 1948, com a criação da Organização Mundial da Saúde (OMS),
saúde está fortemente associado
nova definição de saúde, que leva em consideração não só a
à classe social e à posição que um
ausência de doença, mas um completo bem-estar físico, psíquico e
indivíduo ocupa no estrato social
social foi construída. Com o passar dos anos, novas definições foram
(BUSS; PELLEGRINI FILHO, 2007).
criadas, buscando-se alternativas tanto à concepção biomédica
quanto à própria definição da OMS (SILVA; SCHRAIBER; MOTA, 2019).
Sabe-se que a saúde é influenciada por diversos fatores do
cotidiano das pessoas. A situação financeira é um ator de grande Fonte: https://www.conasems.org.br/gestor-tem-ate-15-2-para-
relevância, por exemplo, pois pode (ou não) prover as condições indicar-escolas-para-o-programa-saude-na-escola/.
necessárias para um mínimo de qualidade de vida, consumo de
bens, serviços, prevenção e promoção da saúde. Dessa forma, as Esses dois fatores têm repercussão na
condições socioeconômicas influenciam diretamente a saúde, são qualidade das moradias, no saneamento
determinantes da saúde. Vamos analisar brevemente dois fatores básico, nas condições de trabalho, entre
que influenciam a maioria das doenças: a educação e a classe social outros. Juntos, esses fatores interagem
(BUSS; PELLEGRINI FILHO, 2007). de forma a expor/proteger um indivíduo
A educação, de uma perspectiva holística da saúde, pode privilegiar ao risco de desenvolver algumas doenças
ou prejudicar outros fatores: a baixa escolaridade compromete o (BUSS; PELLEGRINI FILHO, 2007).
conhecimento geral, assim como a educação em saúde. Observe
que a desistência ou privação de adquirir conhecimento contribui
para comportamentos não saudáveis e piores condições de vida
(BUSS; PELLEGRINI FILHO, 2007). Fonte: https://ci.eco.br/o-problema-do-saneamento-
no-brasil/.
Enfrentamento das Arboviroses | Unidade 4 - Vigilância Ambiental e Controle das Arboviroses 204
FIGURA 8 – REPRESENTAÇÃO DOS DETERMINANTES SOCIAIS DE SAÚDE
Saiba mais
Sugestão de leitura complementar: Modelos conceituais de saúde, determinação social do processo saúde e doença, promoção da
saúde (CEBALLOS, 2015). Disponível em: https://ares.unasus.gov.br/acervo/html/ARES/3332/1/2mod_conc_saude_2016.pdf.
Gostou desta seção sobre os modelos de saúde? Recomendamos alguns materiais que podem auxiliá-lo a compreender melhor
a aplicação deles na saúde ambiental:
Vigilância em Saúde Ambiental (OLIVEIRA; ROHLFS; VILLARDI, 2017). Disponível em: https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/
icict/39903/2/T%C3%A9cnico%20de%20Vigil%C3%A2ncia%20em%20Sa%C3%BAde%20-%20Vigil%C3%A2ncia%20em%20
sa%C3%BAde%20ambiental.pdf.
Vigilância ambiental em saúde e sua implantação no Sistema Único de Saúde (BARCELLOS; QUITÉRIO, 2006). Disponível em:
https://www.scielo.br/j/rsp/a/KRGj4FpbpkCpYHxqdy6fcdG/?lang=pt.
Enfrentamento das Arboviroses | Unidade 4 - Vigilância Ambiental e Controle das Arboviroses 205
4.2.4 Marcos regulatórios da Vigilância em Saúde Ambiental no Brasil
Conforme aprendemos até aqui, a ampliação do conceito de saúde ao longo da evolução dos
modelos apresentados fez com que fatores políticos, sociais, ambientais e comportamentais
passassem a ser considerados determinantes dos estados de adoecimento das pessoas. No entanto,
há outro assunto de grande importância nesse contexto: os serviços de saúde pública, que devem
ser essencialmente intersetoriais. É com esse pensamento que os princípios das práticas de Saúde
Pública no Brasil vêm amadurecendo.
Desde a publicação do Decreto Federal nº 79.367/1977, o Ministério da Saúde elabora normativa
federal que trata dos padrões de potabilidade da água para consumo humano, de forma a atender
as diretrizes e orientações do SUS.
Em 1986, as ações da Vigiagua ficaram sob a responsabilidade da Divisão de Ecologia Humana
e Saúde Ambiental, vinculada a extinta Secretaria Nacional de Ações Básicas de Saúde (SNABS)
do Ministério da Saúde. A partir de 1998 a Fundação Nacional de Saúde (Funasa), instituída pela A área finalística responsável pela gestão da política em construção de
Lei nº 8.029/1990, com a proposta de estruturação de vigilância ambiental em saúde, assume a saúde ambiental foi formalmente criada em 2000, por meio da Portaria
atribuição de definir as políticas públicas do setor saúde quanto à vigilância da qualidade da água Funasa nº 410 (BRASIL, 2000), que estabeleceu as competências da
para consumo humano. Coordenação Geral de Vigilância Ambiental em Saúde (CGVAM) no
âmbito do Centro Nacional de Epidemiologia (CENEPI). A partir dessa
Com a Constituição Federal de 1988, e sua posterior regulamentação na Lei 8.080/90 (Lei Orgânica normativa, iniciou-se a indução das estruturas de Vigilância em Saúde
da Saúde), a responsabilidade do setor saúde sobre a fiscalização da água para consumo humano Ambiental nos estados e municípios brasileiros.
se consolida, e há descentralização das ações de saúde, transferindo diversas ações para os
municípios, viabilizado com o auxílio do projeto de reestruturação das Ações de Epidemiologia e No ano de 2003, com a criação da Secretaria de Vigilância em Saúde
Controle de Doenças no Sistema Único de Saúde (VIGISUS) (BASTOS, 2003). (SVS), as ações de vigilância em saúde, antes executadas pelo CENEPI/
Funasa, passaram a ser de responsabilidade da SVS. Em 2005, a Instrução
Normativa nº 1 do Ministério da Saúde (BRASIL, 2005) apresentou a
organização operativa da Vigilância em Saúde Ambiental subdividindo-a
em oito áreas, representadas por programas específicos: Vigilância da
Qualidade da Água para Consumo Humano (Vigiagua); Vigilância da
Qualidade do Ar (Vigiar); Vigilância da Qualidade do Solo (Vigisolo);
Vigilância em Saúde de Pessoas Expostas a Contaminantes Químicos
(Vigipeq); Vigilância em Saúde Ambiental Relacionada aos Desastres
Naturais (Vigidesastres); Vigilância em Saúde Ambiental Relacionada
aos Acidentes com Produtos Perigosos (Vigiquim); Vigilância em Saúde
Ambiental Relacionada aos Fatores Físicos (Vigifis); e Vigilância de
Ambientes de Trabalho (Vigiambt). Essa Instrução Normativa também
estabeleceu as competências em Vigilância em Saúde Ambiental para
União, estados e municípios.
Enfrentamento das Arboviroses | Unidade 4 - Vigilância Ambiental e Controle das Arboviroses 206
Entre as competências da União para a Vigilância em Saúde Ambiental estão
(Decreto nº 9.795/2019):
I - gerir o Subsistema Nacional de Vigilância em Saúde
Ambiental, incluído o ambiente de trabalho;
II - coordenar a implementação da política e o
acompanhamento das ações de vigilância em saúde
ambiental e saúde do trabalhador;
III - propor e desenvolver metodologias e
instrumentos de análise e comunicação de risco em
vigilância ambiental; A exposição a fatores ambientais não afeta toda a população da mesma
IV - planejar, coordenar e avaliar o processo de
forma, variando conforme suas características individuais (como idade, sexo,
acompanhamento e de supervisão das ações de características genéticas, hábitos, entre outras) e sociais (condição social, renda,
vigilância em saúde ambiental; escolaridade, cultura, entre outras). Assim, o planejamento e a organização das
ações de Vigilância em Saúde Ambiental devem ser orientados tendo como base
[...]
os modelos locais de produção e consumo, a organização política, territorial, social
VII - gerenciar o Sistema de Informação da Vigilância e cultural, sendo o território o centro desse planejamento. Para tanto, a análise
Ambiental em Saúde (BRASIL, 2019a). de situação em saúde ambiental é o instrumento que proporciona a geração de
Diante disso, desde sua concepção no Brasil, a Vigilância em Saúde informações qualificadas para o planejamento e execução das ações no território.
Ambiental destacou-se pelo caráter territorial que caracteriza sua atuação, A Vigilância em Saúde Ambiental é pautada a partir das relações entre grupos
que é pautada por desafios contínuos na operacionalização, em um país de populacionais e seu processo de exposição a fatores ambientais. Assim, a
diferentes dimensões e diversidades. compreensão das complexas relações socioambientais existentes sobre a saúde
e o processo de adoecimento, tornam-se fatores essenciais na busca de soluções
para a melhoria das condições de saúde da coletividade.
Sendo assim, a análise do território e dos fatores socioambientais, que condicionam
e determinam a saúde humana, e a identificação e compreensão das inter-relações
entre saúde humana e meio ambiente em um determinado território são essenciais
para o planejamento e execução de ações de Vigilância em Saúde Ambiental.
Buscando-se uma (re)organização para otimizar o processo de trabalho, atualmente, são componentes básicos da Vigilância
em Saúde Ambiental: a Vigilância da qualidade da água para consumo humano; a Vigilância em saúde de populações expostas
a substâncias químicas; e a Vigilância em saúde de populações expostas a poluentes atmosféricos. São eixos transversais da
Vigilância em Saúde Ambiental, suas ações básicas, a governança, construção de políticas públicas e a vigilância laboratorial,
tendo ainda como temas transversais as mudanças climáticas, mobilidade urbana, meio ambiente, saneamento e agricultura.
Enfrentamento das Arboviroses | Unidade 4 - Vigilância Ambiental e Controle das Arboviroses 207
Vimos nesta seção que a Vigilância em Saúde é uma prática antiga nas comunidades humanas, apesar de esse
termo técnico ser atual. Os seres humanos historicamente aplicavam medidas sanitárias das mais diversas (como a
quarentena) para impedir a propagação de doenças dentro de suas populações. O avanço da tecnologia potencializou
a capacidade do homem de alterar o meio ambiente, ao mesmo tempo que novos e complexos agravos em saúde
surgiram. A arte de vigiar o processo saúde-doença se aprimorou. Buscou-se compreender sistematicamente os
eventos adversos à saúde na comunidade.
Observamos também que, ao longo dos últimos 20 anos, o conceito de Vigilância em Saúde Ambiental passou por
discussões e aperfeiçoamentos e teve sua consolidação em 2018, por meio da Política Nacional de Vigilância em
Saúde. A seguir vamos conhecer os principais programas de Vigilância em Saúde Ambiental e sua relação com o Saiba mais
controle das arboviroses. Sugestão de leitura complementar: Política
No Brasil, vimos alguns dos marcos que pautam a atuação da Vigilância em Saúde Ambiental, tais como a criação Nacional de Vigilância em Saúde (BRASIL,
do SUS através da Lei nº 8.080/1990, a Lei nº 8.142/1990, a Instrução Normativa nº 1 de 2005 e a Política Nacional 2018). Disponível em: conselho.saude.gov.br/
de Vigilância em Saúde (PNVS), de 2018. A PNVS considera suas ações a serem contempladas em toda a população resolucoes/2018/Reso588.pdf.
brasileira, priorizando territórios, pessoas e grupos populacionais com maior risco de vulnerabilidades (sociais e
ambientais). Seus objetivos visam superar as desigualdades sociais e de saúde na busca da equidade e atenção à
saúde, o que inclui as intervenções intersetoriais entre todos os órgãos.
2001
IN 01/2001:
Funasa regulamenta 2018
a Vigilância em • Política Nacional de
Saúde Ambiental Vigilância em Saúde
no Brasil 2009 • Aprovação pela
(Portaria 1.399/1999) • 1ª Conferência
CONITEC das
Nacional de Saúde
2003 Ambiental: 2011
Diretrizes
Diagnósticas e
CRIAÇÃO DA SVS: participação social na
• Criação do IIMR Terapêuticas para
A Vigilância em Saúde discussão intersetorial
Instrumento de intoxicação por
Ambiental inserida no Identificação de Agrotóxicos
organograma do MS • Publicação: Municípios de Risco
Subsídios para • Implantação de
2005 construção da Unidades Sentinela 2016
• IN 01/2005 Política Nacional de como instrumento da Publicação:
SVS regulamenta a Vigilância em Saúde Vigilância de Populações Diretrizes de Vigilância
Vigilância em Saúde Ambiental Expostas a Poluentes
de Populações Expostas
Ambiental • Estruturação da Atmosféricos
à Agrotóxicos
• Decreto n° Vigilância de
5440/2005:
instituiu mecanismos e
Populações Expostas
a Contaminantes
2012
instrumentos para Portaria 2938:
Químicos
divulgação de
informação
Estruturação da
Vigilância de Populações
2014
Nova versão do Sistema
ao Consumidor sobre a
Qualidade da Água
2010 Expostas à Agrotóxicos de Informações sobre a
para Consumo Humano
• Publicação: Diretrizes Vigilância da qualidade
para elaboração de da água para consumo
2006 estudo de Avaliação
de Risco à Saúde 2013
humano
Publicação: Plano de
Humana por
Programa Nacional Segurança da Água
exposição a
de Vigilância da Qualidade
contaminantes
da Água para Consumo
químicos
Humano
• Criação do Sissolo
Fonte: DSASTE/SVS/Ministério da Saúde (2021).
Enfrentamento das Arboviroses | Unidade 4 - Vigilância Ambiental e Controle das Arboviroses 208
4.3 Componentes da Vigilância em
Saúde Ambiental
Conforme apresentado na seção anterior, a Vigilância em
Saúde Ambiental é orientada por práticas que envolvem três
eixos principais:
1. Reconhecimento do território: busca a caracterização
das atividades, situações e processos que afetam o meio
ambiente e podem impactar a saúde humana;
2. Identificação dos condicionantes e determinantes 4.3.1 Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano – Vigiagua
socioambientais de saúde: identificação dos riscos à saúde, A Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano é o primeiro Programa da Vigilância
tendo como instrumento a análise de situação em saúde: em Saúde Ambiental instituído no âmbito do SUS. Suas ações iniciaram em 1977, como
doenças e agravos, exposição, populações vulneráveis, entre destacado anteriormente, sendo fortalecidas em 2005 com a publicação do Programa Nacional
outras; do Vigiagua. O Vigiagua tem o objetivo de promover a saúde e prevenir agravos e doenças de
3. Elaboração e execução de plano de ação: considerando transmissão hídrica fazendo o gerenciamento de risco à saúde relacionado ao abastecimento
os problemas e riscos identificados nas etapas anteriores, de água, por meio de ações executadas pela União, estados e municípios brasileiros.
a equipe de Vigilância em Saúde Ambiental deve elaborar Entre seus objetivos específicos citam-se:
e coordenar um plano de ação que tenha medidas de
intervenção com seus respectivos prazos e responsáveis, com • Gerenciar o risco à saúde relacionado ao abastecimento de água;
o objetivo de eliminar, controlar ou minimizar e prevenir os • Diagnosticar a situação do abastecimento de água visando identificar, avaliar os riscos à
riscos à saúde da população. saúde e planejar as ações de vigilância da qualidade da água para consumo humano;
• Reduzir a morbimortalidade por agravos e doenças de transmissão hídrica, por meio do
acesso à água potável em quantidade suficiente e qualidade adequada para garantia da
qualidade de vida;
• Participar do desenvolvimento de políticas públicas destinadas ao saneamento, à
preservação dos recursos hídricos e do meio ambiente, entre outras;
• Melhorar as condições sanitárias das formas de abastecimento de água em articulação
com os responsáveis pelo abastecimento de água;
• Informar à população a qualidade da água distribuída e os possíveis riscos à saúde;
• Apoiar o desenvolvimento de ações de educação em saúde e mobilização social.
Enfrentamento das Arboviroses | Unidade 4 - Vigilância Ambiental e Controle das Arboviroses 209
O Vigiagua atua em todas as FIGURA 10 – ATUAÇÃO DA VIGILÂNCIA DA QUALIDADE DA ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO – VIGIAGUA
formas de abastecimento de
água, independentemente das
especificidades da estrutura Identificação e
cadastramento
física, da gestão administrativa
(pública ou privada) ou da Amostra fora
localização (área urbana ou rural), Inspeção do padrão
como apresentado a seguir:
Adoção de medidas e
processos administrativos
Análise e requeridos
classificação do
grau de risco
Realização de
inquéritos e
investigação
Comunicação, Atividades de educação
informação e em saúde
mobilização do
consumidor
AÇÕES DE GERENCIAMENTO
AÇÕES DE INFORMAÇÃO AÇÕES EXECUTIVAS DE RISCO
Saiba mais sendo exemplo positivo utilizado pela OMS para os demais países.
A normativa de qualidade da água para consumo humano é estabelecida pelo Algumas definições importantes estabelecidas na normativa:
Ministério da Saúde desde 1977. A Portaria de qualidade da água é submetida a
SAA – Sistema de Abastecimento de Água (exemplo: companhias de água
avaliações periódicas e sistemáticas para revisão dos conceitos, competências e
estaduais, municipais e privadas)
parâmetros, tendo como referência as melhores evidências científicas disponíveis.
SAC – Solução Alternativa Coletiva (exemplo: cisternas, poços comunitários,
Você sabia que a legislação de qualidade da água do Brasil é uma das mais
chafariz, carro pipa)
completas e modernas do mundo? O Brasil é o único país no mundo que
estabelece a elaboração de Plano de Segurança da Água em sua normativa, SAI – Solução Alternativa Individual (exemplo: poço unifamiliar)
Enfrentamento das Arboviroses | Unidade 4 - Vigilância Ambiental e Controle das Arboviroses 210
A Portaria de potabilidade de água possui como FIGURA 11 – NORMATIVAS BRASILEIRAS DE PADRÃO DE POTABILIDADE DE ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO
linha norteadora a avaliação holística da qualidade
da água, considerando os princípios de avaliação Portaria GM/MS nº 518
de riscos propostos pelos Planos de Segurança da Publicação do Programa Nacional de Vigilância Portaria de Consolidação
em Saúde Ambiental Relacionada à Qualidade
Água (PSA), que contempla a concepção de risco Portaria GM/MS nº 36 da Água para Consumo Humano nº 5 de 2017 Anexo XX
dos fatores ambientais, desde o manancial até o
ponto de consumo e aborda, ainda, os princípios
1990 2005 2017
de boas práticas e múltiplas barreiras. Além disso,
inclui a valorização dos direitos do consumidor, por
meio do acesso à informação sobre a qualidade da
água consumida.
Tal normativa também estabelece as
responsabilidades do setor Saúde nas três
esferas de gestão (federal, estadual e municipal)
para o desenvolvimento da Vigiagua, assim
como as competências e responsabilidades dos
responsáveis pelo abastecimento coletivo da água,
no exercício do controle da qualidade da água 1977 2000 2011 2021
para consumo humano. É preconizado pelo SUS,
que a Portaria de Potabilidade seja revista a cada 5 Decreto nº 79.367 SISAGUA Portaria GM/MS nº 2.914/2011 Portaria GM/MS nº 888
Atruibui ao Ministério da Saúde a Primeira versão do Sistema
anos, onde o serviço, a academia e os prestadores competência para elaborar normas de Vigilância da Qualidade da de 04/05/2021
e estabelecer o padrão de Água para Consumo Humano
de serviço discutem a eficiência e eficácia dos potabilidade no Brasil
parâmetros propostos, com as mudanças globais. Portaria GM/MS nº 56 Portaria GM/MS nº 1.469
Primeira Portaria de Potabilidade
Ao longo dos anos, cerca de sete portarias foram
publicadas no Brasil, desde sua primeira versão,
Fonte: elaboração dos autores.
em 1977. A figura abaixo mostra o percurso das
publicações de normativas de qualidade da água
para consumo humano.
Os dados e informações sobre a qualidade da água para consumo humano são colocados no Sistema
de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua), que tem entradas
para dados de cadastro das formas de abastecimento de todos os municípios brasileiros, bem como
para dados dos parâmetros de qualidade da água.
Cabe destacar que a relação entre a água e a saúde da população não se restringe à qualidade da água,
mas abrange a quantidade e o acesso ao abastecimento pela população. Esse tema é de tamanha
relevância, que a Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu, em 2010, o acesso à água como
um direito humano.
Enfrentamento das Arboviroses | Unidade 4 - Vigilância Ambiental e Controle das Arboviroses 211
4.3.1.1 Relação entre a Vigilância da qualidade da A atuação da Vigipeq é baseada na identificação da população potencialmente exposta a substâncias químicas;
água e o controle das arboviroses na caracterização do perfil de morbimortalidade das doenças e dos agravos dessa população, com base nos dados
dos sistemas de informações do SUS; na realização de avaliação do risco à saúde; na elaboração de protocolos
Como é de seu conhecimento, a relação entre água e
clínicos para auxiliar a assistência no diagnóstico e tratamento dos casos de intoxicações; e na elaboração de
vetores é bastante clara. Essa complexa relação vai das
protocolo de rotina que vise interromper ou reduzir a exposição da população à substância química.
formas de abastecimento e estocagem da água nas
instalações prediais (residências, comércio) até a forma
de combate de criadouros nesses reservatórios de água. FIGURA 12 – FLUXO DE ATUAÇÃO DO PROGRAMA NACIONAL DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE DE
POPULAÇÕES EXPOSTAS A CONTAMINANTES QUÍMICOS (VIGIPEQ)
Assim, o Vigiagua, nas três esferas de gestão do SUS,
deve participar das atividades de planejamento e
execução das ações de combate a vetores, em especial:
• Do mapeamento de pontos de risco/atenção: locais
com estocagem precária e/ou com intermitência
no abastecimento ou abastecimento alternativo
(carro-pipa, reservatórios abertos, entre outros);
• Do uso de larvicidas em reservatórios de consumo
humano: especial atenção para a proporção de
larvicida na água, considerando o volume de água
do reservatório no momento da aplicação e não a
capacidade máxima do reservatório;
• Das orientações em situações de desastres (secas e
inundações): em emergências observar a forma de
estocagem da água, sua qualidade e a destinação Fonte: elaboração dos autores.
de resíduos sólidos que podem propiciar uma
ampliação da oferta de criadouros de vetores. Principais instrumentos:
• Sistema de Informação de Vigilância em Saúde de Populações Expostas a Solo Contaminado (Sissolo);
• Ficha de Intoxicação Exógena do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan Net);
4.3.2 Vigilância de populações expostas a • Portaria de Consolidação nº 4, de 28 de setembro de 2017, Anexo 1 do Anexo V;
substâncias química – Vigipeq • Diretrizes Nacionais para a Vigilância em Saúde de Populações Expostas a Agrotóxicos;
A Vigilância em Saúde das Populações Expostas • Diretrizes Brasileiras para Diagnóstico e Tratamento de Intoxicações por Agrotóxicos (DBDTIA).
a Contaminantes Químicos (Vigipeq) objetiva o
desenvolvimento de ações de Vigilância em Saúde
Vigilância em Saúde de Populações Expostas a Químicos
Ambiental com foco nas substâncias químicas que
afetam a saúde humana, que gera agravos e doenças,
e as inter-relações entre o homem e o ambiente, de
forma a adotar medidas de atenção integral à saúde das
populações expostas, prevenção e promoção da saúde. Prevenção Promoção Vigilância Atenção Integral
Formação
de GT
Objetivo: Assegurar a participação social na construção
Objetivo: Executar ações de
de políticas públicas, nos processos decisórios relativos à
Objetivo: Instruir os trabalhadores Objetivo: Convergir as ações promoção da saúde visando
saúde, assim como, na elaboração de planejamentos e
da saúde que atuam na RAS e na dos diversos setores de modo a a melhoria da qualidade de
nas ações de VS, que considerem as especificidades de
VS para o desenvolvimento das potencializar os resultados e a vida das populações expostas
seus territórios, visando a prevenção, proteção e
ações da VSPEA sustentabilidade da VSPEA ou potencialmente expostas a
promoção da Saúde das populações e trabalhadores
agrotóxicos
expostos aos agrotóxicos
Nas estratégias de controle de vetores, a utilização em larga escala de inseticidas e larvicidas torna os agentes
de endemias, bem como a população das localidades em que há aplicação desses agrotóxicos, populações
expostas. O uso desse mecanismo de controle de vetores está amparado nas legislações, normas e manuais
do setor Saúde, mas merecem especial atenção quanto ao cumprimento das medidas de proteção individual e
coletiva preconizadas nessas políticas.
Enfrentamento das Arboviroses | Unidade 4 - Vigilância Ambiental e Controle das Arboviroses 213
Você sabia: todo caso suspeito ou confirmado de intoxicação por substâncias químicas deve ser notificado no SINAN?
A PRC nº 4 de 3 de outubro de 2017 em seu capítulo I, estabelece a lista nacional de notificação compulsória de doenças,
agravos e eventos de saúde pública nos serviços de saúde públicos e privados em todo o território nacional, nos termos
do Anexo 1 do Anexo V (Origem: PRT MS/GM 204/2016, Art. 1º). A mesma portaria define notificação compulsória como
a comunicação obrigatória à autoridade de saúde, realizada pelos médicos, profissionais de saúde ou responsáveis
pelos estabelecimentos de saúde, públicos ou privados, sobre a ocorrência de suspeita ou confirmação de doença,
agravo ou evento de saúde pública, descritos no Anexo 1 do Anexo V, podendo ser imediata ou semanal. A notificação
compulsória por Intoxicação Exógena (por substâncias químicas, incluindo agrotóxicos, gases tóxicos e metais pesados)
está respaldada na referida Portaria, em seu Anexo 1 do Anexo V. Para ler a portaria na íntegra, acesse: https://bvsms.
saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2017/prc0004_03_10_2017.html#ANEXOVCAPISECI.
Enfrentamento das Arboviroses | Unidade 4 - Vigilância Ambiental e Controle das Arboviroses 214
4.3.3.1 Relação entre a Vigilância em saúde de populações expostas a poluentes
atmosféricos e o controle das arboviroses
Dos 3 pilares de organização da Vigilância em Saúde Ambiental, o Vigiar é o programa
que apresenta o processo mais difuso e complexo para a identificação do território
e das populações expostas. Essa exposição ocorre principalmente nas atividades
que envolvem a aplicação de inseticidas com escapes para o ar atmosférico em larga
escala, apresentando maior impacto quando utilizada a dispersão por aeronaves.
Considerando a baixa utilização dessa técnica no país, a orientação, de forma geral,
deve ser com base no Programa VSPEA, anteriormente apresentado.
Você sabia?
Segundo a OMS, estima-se que a poluição do ar contribua para pelo menos 7 milhões
de mortes prematuras por ano em todo o mundo, sendo as crianças, mulheres e pessoas
que vivem na pobreza os grupos de populações vulneráveis, com 94% dessas mortes
ocorrendo em países de baixa e média renda (SCIENCE-POLICY INITIATIVE, 2019).
Enfrentamento das Arboviroses | Unidade 4 - Vigilância Ambiental e Controle das Arboviroses 215
Como percebemos pelo histórico de criação da Vigilância
em Saúde Ambiental, é imprescindível realizar atividades
de vigilância e controle de riscos ambientais para a saúde
humana em uma ação conjunta de todos os setores
envolvidos com o ambiente e a saúde humana de um
território (BRASIL, 2002a). Como destacado na PNVS (BRASIL, 4.3.4 Avaliação de riscos à saúde humana
2018), a inter-relação entre todas as vigilâncias (ambiental, Veja que a ideia de que a qualidade do ambiente afeta a saúde das pessoas é uma ideia recorrente
sanitária, epidemiológica, laboratorial e do trabalhador), na história da sociedade humana, porém a aplicação do método científico para estimar os riscos
tendo como transversalidade a análise de situação em associados aos fatores ambientais é recente!
saúde e como base o território, é uma necessidade para bem
realizar a vigilância! Diante disso, destacamos aqui os principais métodos e instrumentos empregados para avaliar os
riscos à saúde humana decorrentes de exposições aos fatores ambientais: a avaliação de riscos, a
Perceba que no ambiente ocorrem processos ecológicos e epidemiologia e os biomarcadores. O quadro abaixo apresenta algumas informações sobre esses
sociais que sofrem interferências de tecnologias humanas métodos (DALLARI, 2007).
(torres, empreendimentos, aterramentos, etc.). Esses
ambientes podem configurar situações de risco para a
saúde e qualidade de vida humana! Para definirmos as QUADRO 1 – MÉTODOS ATUAIS DE INVESTIGAÇÃO DOS RISCOS À SAÚDE ASSOCIADOS A
características desses riscos, apresentaremos a seguir FATORES AMBIENTAIS
alguns conceitos relacionados à exposição e às populações
humanas expostas.
Método de investigação Conceito Aplicações/Ferramentas
O profissional responsável pela Vigilância em Saúde
Ambiental que desenvolve um raciocínio com as tecnologias Estudos descritivos
disponíveis à sua atuação, adquire uma maior compreensão
Estuda a distribuição e determinantes de Estudos analíticos
sobre o controle de vetores de doenças e sua relação com a
prevenção dos agravos à saúde, entendendo que áreas em
Estudos epidemiológicos estados ou eventos relacionados à saúde
em populações específicas Séries temporais
rápida urbanização requerem não somente ações de saúde,
mas políticas de mobilização social, educação ambiental, Análise espacial
melhorias de engenharia sanitária e habitacional e ações
Seleção de contaminantes de
para conservação das áreas verdes e ecossistemas urbanos
(MACHADO et al., 2013).
interesse
Metodologia aplicada para identificação Rotas de exposição (fontes, meios,
Avaliação de riscos dos riscos relacionados aos determinantes vias de exposição, população ex-
ambientais posta, entre outras)
Implicações para a saúde
Classificação do perigo
Saiba mais
Substância, estrutura ou processo que pode Exposição
Você pode consultar o Guia de Vigilância em Saúde
ser medido dentro de um organismo ou em
do Ministério da Saúde (BRASIL, 2019b) para mais Biomarcadores Efeito
informações sobre Investigação Epidemiológica de seus produtos, que influencie ou prediga a
Casos, Surtos e Epidemias. incidência de efeito deletério ou doença Suscetibilidade
Fonte: adaptado de Dallari (2007).
Enfrentamento das Arboviroses | Unidade 4 - Vigilância Ambiental e Controle das Arboviroses 216
A escolha de cada um desses métodos depende dos objetivos do estudo,
da natureza da exposição, das informações disponíveis em campo ou
sistemas de dados oficiais, dos recursos e tempo disponíveis.
A avaliação de risco analisa as implicações da exposição na saúde humana
e as preocupações da comunidade pela exposição aos contaminantes de
interesse identificados na área estudada, com o intuito de determinar os
riscos decorrentes da situação, levando em consideração os cenários no
passado, presente e futuro, bem como recomendar ações para recuperação
e proteção da saúde humana. O processo de avaliação de risco tem as sete
etapas, conforme listadas a seguir, que devem ser seguidas de modo a
adquirir os dados e informações necessárias para avaliar os riscos à saúde
da população no local:
a) Levantamento e Avaliação da Informação do Local;
b) Levantamento das Preocupações da Comunidade;
c) Seleção dos Contaminantes de Interesse;
d) Definição de Mecanismos de Transporte; A metodologia de Avaliação de Riscos à Saúde Humana – Diretrizes do Ministério da Saúde -
e) Identificação e Avaliação de Rotas de Exposição; foi aplicada em diferentes locais no Brasil, onde históricos de contaminações por compostos
químicos variaram em grau, diversidade de compostos e intensidade de contaminação.
f ) Descrição das Implicações para a Saúde Pública; Todos os estudos realizados apresentaram conclusões e fizeram recomendações para o
g) Definição das Conclusões e Recomendações. setor Saúde, de forma a minimizar riscos à saúde humana da população afetada.
Um exemplo de aplicação dessa metodologia em área de armazenamento de inseticida
aconteceu em Porto Nacional-TO. A metodologia foi aplicada pelo Ministério da Saúde,
em parceria com a Secretaria Estadual de Saúde, em um antigo depósito da extinta
Superintendência de Campanhas de Saúde Pública (SUCAM). O local era utilizado pela
SUCAM como central de distribuição de Dicloro-Difenil-Tricloroetano (DDT) para os
municípios do estado e ainda guardava material e produtos vencidos da época das
campanhas. A metodologia foi aplicada com o objetivo de avaliar a possibilidade de
exposição, passada e presente, dos trabalhadores aos resíduos estocados no terreno.
Saiba mais
Para mais informações sobre a metodologia de estudos de Avaliação de Risco à Saúde Humana,
consulte as diretrizes do Ministério da Saúde (BRASIL, 2010b) disponíveis em: www.saude.ba.gov.
br/wp-content/uploads/2021/05/Diretrizes-para-elaboracao-de-estudo-de-avaliacao-de-risco-a-
saude-humana-por-exposicao-a-contaminantes-quimicos.pdf.
Enfrentamento das Arboviroses | Unidade 4 - Vigilância Ambiental e Controle das Arboviroses 217
Exemplo do método científico aplicado à Vigilância em Saúde Situação de saúde na comunidade: um mapa da mina!
Ambiental: epidemiologia ambiental e biomarcadores
No contexto de identificar problemas de saúde relacionados aos
Uma das aplicações para o entendimento dos fatores determinantes na fatores ambientais, a Análise de Situação de Saúde (ASIS) é um método
saúde ambiental da comunidade é a Epidemiologia Ambiental, que pode que produz informações qualificadas, orientando o planejamento e
ser organizada em epidemiologia descritiva (estudar a distribuição dos as intervenções no território. Entre várias aplicações, a ASIS pode ser
riscos e dos efeitos adversos na saúde da população), e epidemiologia aplicada ao contexto ambiental para orientar estratégias e protocolos
analítica (analisa a relação entre a exposição a um determinado fator e de controle sobre processos produtivos e modos de consumo, bem
o efeito na saúde das populações). como evidenciar áreas e situações potenciais de riscos ambientais. O
A epidemiologia ambiental utiliza informações sobre os fatores de método de análise de situação dos problemas de saúde relacionados
risco existentes (físicos, químicos, biológicos ou psicossociais), as aos fatores ambientais implica a definição e a seleção de instrumentos
características do ambiente que interferem nas características de saúde que potencializem o processo de coleta de dados e análise. Para mais
da população e os efeitos adversos à saúde relacionados à exposição a detalhes, pesquise no guia técnico Vigilância em Saúde Ambiental
fatores de risco ambientais (BRASIL, 2002a). (OLIVEIRA; ROHLFS; VILLARDI, 2017).
Outras ferramentas de investigação ambiental são os biomarcadores. Para o controle de arboviroses, algumas perguntas podem auxiliar o
Utilizados como parâmetros biológicos de exposição às substâncias profissional de saúde a construir um panorama mais claro e completo
químicas, os biomarcadores podem oferecer uma melhor estimativa do possível da situação de saúde:
risco à saúde, avaliando a exposição do indivíduo ou população. Como é o comportamento das arboviroses no município?
Um exemplo são os biomarcadores de substâncias neurotóxicas, Há aumento do número de casos em um determinado período do ano?
que evidenciam uma associação com a exposição a baixos níveis,
fornecendo evidências para a identificação de uma potencial fonte de Como está a distribuição territorial dos casos?
contaminação. Dessa forma, permite a aplicação de políticas públicas Quais os depósitos de água predominantes?
de prevenção e controle da exposição aos agentes químicos ambientais
(AMORIM, 2003). Como desenvolver estratégias para atuar de forma preventiva para
que não ocorram novos casos de arboviroses nos meses quentes e
Interessou-se por este assunto, trabalhador estudante? Nós chuvosos?
recomendamos fortemente a leitura do documento Diretrizes para
elaboração de estudo de avaliação de risco à saúde humana por Como organizar a atenção de forma a atender esses casos com
exposição a contaminantes químicos (BRASIL, 2010b), do Departamento resolutividade e em tempo oportuno?
de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador. Nele, Como reduzir a ocorrência de casos ao longo do tempo?
você poderá encontrar referências técnicas e modelos de avaliação
de risco à saúde humana: http://www.saude.ba.gov.br/wp-content/
uploads/2021/05/Diretrizes-para-elaboracao-de-estudo-de-avaliacao-
de-risco-a-saude-humana-por-exposicao-a-contaminantes-quimicos.
pdf
Enfrentamento das Arboviroses | Unidade 4 - Vigilância Ambiental e Controle das Arboviroses 218
4.3.5 Indicadores de Saúde e Ambiente
Conforme vimos na seção anterior, os indicadores de saúde são instrumentos importantes para avaliar e
monitorar os objetivos da Vigilância em Saúde Ambiental. A criação de indicadores parece inicialmente um
método burocrático, mas não se engane! Indicadores permitem uma visão abrangente e integrada da situação
de saúde e do ambiente ao mesmo tempo e permitem orientar as ações no território.
Os indicadores são utilizados como modelos simplificados da realidade que facilitam a compreensão de
eventos, fenômenos ou percepções e aumentam a capacidade de comunicação de dados brutos e de adaptação
das informações aos diferentes públicos interlocutores. Para os gestores, são ferramentas essenciais para o
processo de tomada de decisão. Para a sociedade, são instrumentos importantes para o controle social. Não
são elementos explicativos ou descritivos, mas informações pontuais no tempo e no espaço, cuja integração e
evolução permitem o acompanhamento dinâmico da realidade (MAGALHÃES JÚNIOR, 2007).
Atualmente, há uma necessidade crescente de estruturar sistemas de monitoramento e vigilância que permitam
antecipar e, na medida do possível, prevenir consequências negativas das mudanças ambientais na saúde das
comunidades. Um dos grandes desafios para alcançar essa eficiência é a sistematização da coleta e análise de
dados que permitam construir indicadores que apontem essa relação ambiente x homem (BRASIL, 2011b).
A PNVS define
análise de situação de saúde: ações de monitoramento contínuo da situação de saúde da população
do País, Estado, Região, Município ou áreas de abrangência de equipes de atenção à saúde, por estudos
e análises que identifiquem e expliquem problemas de saúde e o comportamento dos principais
indicadores de saúde, contribuindo para um planejamento de saúde abrangente (BRASIL, 2018).
Enfrentamento das Arboviroses | Unidade 4 - Vigilância Ambiental e Controle das Arboviroses 219
Uma metodologia para análise dos indicadores de saúde
ambiental é o modelo Força Motriz-Pressão-Estado/Situação-
Exposição-Efeito-Ação (sigla FPEEEA ou FPSEEA), que foi
desenvolvido pela OMS e pelo Programa das Nações Unidas para Vamos ver um exemplo de aplicação desse modelo? Utilizaremos, para contextualizar, uma
o Meio Ambiente (PNUMA). Esse modelo tem como pressuposto análise da efetividade das ações de controle da dengue no município de Uberlândia-MG
as complexas relações entre a saúde humana, o ambiente e feita com o auxílio da matriz FPEEEA. Cada relação da cadeia de produção/efeito ambiental
o trabalho e visa propor ações de prevenção e mitigação dos e humano pode ser caracterizado com indicadores que irão nortear as pressões, a situação
problemas complexos que surgem dessas inter-relações. Foi do problema, a exposição e os efeitos nas comunidades humanas (ARANTES; PEREIRA, 2017).
desenvolvido com base na estrutura de um outro modelo, o FIGURA 15 – MODELO FPSEEA DE CONSTRUÇÃO DE INDICADORES DE SAÚDE
Pressão-Estado-Resposta ou PER, em que P é a pressão exercida AMBIENTAL ENVOLVENDO O CONTROLE DA DENGUE
pelas atividades humanas sobre os recursos naturais e grupos
populacionais indicadores de situação ou estado (S ou E) e R são Forças motrizes
Crescimento populacional
as respostas específicas que garantem processos sustentáveis de Índice de GINI
desenvolvimento (ARAÚJO-PINTO; PERES; MOREIRA, 2012).
O modelo FPEEEA/FPSEEA se baseia na construção de indicadores Pressão
Densidade demográfica
de vigilância ambiental das populações humanas, sistematizando Grau de urbanização
alguns determinantes de saúde provenientes dos impactos Ação
. Crescimento populacional sustentável e equilibrado;
de tecnologias ou processos no ambiente e na saúde humana . Projetos de desenvolvimento que promovam igualdade social;
(ARAÚJO-PINTO; PERES; MOREIRA, 2012). Vamos analisar alguns Situação ou estado
Esgotamento sanitário . Ações para o saneamento mantidas e aperfeiçoadas;
pontos desses indicadores, com alguns exemplos práticos: Tratamento de esgoto . Planejamento urbano;
Coleta de lixo . Gerenciamento e manejo dos resíduos sólidos urbanos;
Inseticida utilizado
a) Força motriz: corresponde aos fatores em escala macro dos . Política de fiscalização do uso de inseticidas/larvicidas;
. Pesquisar outras formas de controle vetorial;
vários processos que influenciam a saúde ambiental (taxa de . LIRAa como ferramenta de comunicação com a população;
urbanização e taxa de crescimento populacional); Exposição . LIRAa como instrumento para guiar ações de controle do vetor.
LIRAa
Depósitos predominantes
b) Pressão: expressa pelas consequências dos processos citados
(o consumo de energia derivado do aumento do crescimento
populacional); Efeito
Casos de dengue
c) Situação ou estado: o resultado da pressão no ambiente, Óbitos por dengue
Hospitalização por dengue
geralmente um aumento na frequência ou magnitude de
fenômenos ambientais que afetam a saúde (qualidade da água, Fonte: adaptado de Arantes e Pereira (2017).
do ar e do solo);
d) Exposição: um conceito-chave no modelo, pois estabelece as Nessa Figura, podemos perceber alguns indicadores relacionados à problemática dos
relações das situações ambientais e seus efeitos sobre o estado resíduos. Esses indicadores foram organizados por tópico de acordo com o modelo FPSEEA
de saúde da comunidade e população. É resultado da pressão e em uma cadeia de eventos que culmina com efeitos negativos na comunidade. Em resposta
força motriz; a esses tópicos, ações são pensadas para mitigar ou bloquear os eventos deletérios antes
e) Efeito: consequência da exposição na saúde humana e dos efeitos cumulativos nos indivíduos. Trabalhador estudante, percebe como a solução de
ambiental, que pode se manifestar de forma subclínica (redução um problema crônico nos centros urbanos (acúmulo de lixo hospitalar) pode ser resolvido
da qualidade de vida na comunidade) ou como agravos de forma estruturada? Fica muito mais fácil pensar um problema quando organizamos os
(indicadores de morbimortalidade); e passos que o geraram e trabalhamos em cima de cada um deles!
Enfrentamento das Arboviroses | Unidade 4 - Vigilância Ambiental e Controle das Arboviroses 220
Vigilância Ambiental e fatores de risco biológico para arboviroses
A vigilância de fatores de risco biológico para arboviroses está relacionada com o controle ou a eliminação dos mosquitos vetores,
principalmente. A seguir, explicitamos algumas arboviroses de maior preocupação epidemiológica no país, seus agentes transmissores
(vetores) e os agentes etiológicos (causadores da doença).
Entre as ações de controle de vetores no território, a vigilância em saúde deve atuar na identificação dos transmissores e dos criadouros
dos vetores e nas rotas de transmissão da doença. Para exemplificar, trazemos duas ações da vigilância ambiental realizadas quando
registrada suspeita de febre amarela em uma comunidade:
- Visitas domiciliares em áreas de borda (300 ou 400 metros a partir da mata) para realizar ações de comunicação e educação em
saúde e manejo de criadouros envolvendo eliminação e/ou proteção e tratamento focal, quando necessário. Estas ações devem ser
realizadas semanalmente com a participação da população e dos profissionais de saúde para interromper o ciclo do mosquito vetor
(Aedes aegypti) na área urbana;
- Recomenda-se a aplicação de adulticida (inseticida que atua na forma adulta do mosquito) nas áreas de borda. Caso tenha equipamento
e pessoal suficiente, o município deverá avaliar a possibilidade de aplicação intradomiciliar de inseticida nas residências vizinhas à mata.
Essas informações adicionais podem ser consultadas no Guia de Vigilância em Saúde (BRASIL, 2019b), material bastante rico disponível
na Internet. Para mais detalhes sobre a vigilância e controle de vetores, consulte a Unidade 3 deste módulo!
Doenças como zika, chikungunya, dengue e febre amarela apresentam grande complexidade dentro do ambiente antrópico, tornando
essencial repensar a estratégia de controle dessas doenças. O mecanismo da doença requer a adoção de políticas integradas entre
diversos setores, e as ações de controle no território tornam-se mais efetivas com o mapeamento de áreas de risco.
Pode-se alcançar esse mapeamento utilizando a vigilância entomológica (priorizar locais que apresentam grande quantidade de
criadouros de mosquitos vetores; levantamento rápido do índice de infestação predial), a vigilância epidemiológica (produzir dados
sobre incidência e prevalência dessas doenças e do impacto das ações de controle), a interação com a rede de laboratórios de saúde
pública e a inter-relação com ações de saneamento (MEDRONHO, 2006).
Enfrentamento das Arboviroses | Unidade 4 - Vigilância Ambiental e Controle das Arboviroses 221
4.3.6 Saneamento e arboviroses
Apesar de ser um termo de conhecimento comum, o saneamento é uma
prática ainda abstrata no imaginário da população: não se trata apenas de
fazer esgotamento sanitário! O saneamento básico promove a prevenção de
doenças por meio da interrupção das vias de transmissão de doenças.
A integração do saneamento básico com a saúde pública está prevista na
Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988), em que a saúde é garantida
mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de
doenças e de outros agravos à saúde. É importante destacar que a Lei nº 8.080, Compreendendo um pouco melhor a amplitude do saneamento, podemos
de 19 de setembro de 1990 (BRASIL, 1990), registra que o pleno funcionamento perceber que diversas doenças infecciosas e parasitárias estão diretamente
dos serviços de saneamento básico é um dos fatores determinantes e relacionadas à falta de saneamento nas comunidades. Uma vez que elas
condicionantes para a saúde, porém não é de competência do setor Saúde apresentam ciclos de veiculação hídrica (Quadro 2), o sistema de saneamento
a execução da política e de ações de saneamento. Vamos discutir sobre essa efetivamente instalado reduz drasticamente a transmissão das doenças.
estreita relação entre saneamento e saúde da comunidade (BRASIL, 1990).
Como você entende o saneamento? QUADRO 2 – ALGUMAS DOENÇAS DE RELEVÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA
Saneamento é definido pela OMS como o “gerenciamento ou controle dos RELACIONADAS COM A ÁGUA E A FALTA DE SANEAMENTO
fatores físicos que podem exercer efeitos deletérios ao homem”, prejudicando
seu bem-estar físico, mental e social (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2018). Forma de transmissão das doenças Doenças
Só pelo princípio do conceito, percebe-se que o saneamento e a saúde são Transmissão por via fecal-oral Diarreia, hepatite A, entre outras
indissociáveis!
Transmitidas por inseto-vetor Dengue, febre amarela, leishmaniose,
A Lei Nacional do Saneamento Básico – Lei nº 11.445, de 5 de janeiro de 2007
(BRASIL, 2007) – considera o saneamento básico o conjunto de serviços, filariose, doença de Chagas, malária,
a infraestrutura e as instalações operacionais de “abastecimento de água febre do Nilo Ocidental, entre outras
potável [...]; esgotamento sanitário [...]; limpeza urbana e manejo de resíduos
sólidos [...]; drenagem e manejo das águas pluviais urbanas [...]” (BRASIL, 2007). Transmitidas pelo contato com a água Esquistossomose, leptospirose, entre
Aconselhamos você, trabalhador estudante, a pesquisar essa Lei e apreciar outras
cada descrição dos tópicos que compõem o termo saneamento.
Relacionadas com a falta de higiene Tracoma, conjuntivites, micoses super-
ficiais, entre outras
Fonte: adaptado de Calijuri et al. (2009).
Saiba mais
Sugestão de leitura complementar: atualização
do marco legal do saneamento básico (Lei nº
14.026/2020). Disponível em: www.in.gov.br/
en/web/dou/-/lei-n-14.026-de-15-de-julho-
de-2020-267035421.
Enfrentamento das Arboviroses | Unidade 4 - Vigilância Ambiental e Controle das Arboviroses 222
Cobertura brasileira de água e esgoto: mapas e detalhes fazem a diferença!
A apresentação de dados em mapas, por exemplo, pode expressar detalhes importantes ou diluí-los em grandes manchas coloridas. Vejamos um
exemplo das coberturas de água e esgoto no país organizado por estados da Federação.
Enfrentamento das Arboviroses | Unidade 4 - Vigilância Ambiental e Controle das Arboviroses 223
Alguns estudos vêm confirmando uma relação mais íntima entre deficiências nos
serviços de saneamento e a incidência e o aumento na prevalência de arboviroses
(VILCARROMERO et al., 2015; FLAUZINO; SOUZA-SANTOS; OLIVEIRA, 2011; VILANI;
MACHADO; ROCHA, 2014; MONTEIRO; ARAÚJO, 2020). A ocorrência de dengue
reflete a estrutura social de um território, com seus fatores de risco e vulnerabilidade
socioambiental (QUEIROZ; SILVA; HELLER, 2020). Um exemplo pode ser observado
durante epidemias: a infestação pelo vetor é identificada em diversas localidades,
porém o volume de casos e a mortalidade ocorrem de forma mais notória onde
a população mais vulnerável socioeconomicamente reside e onde os índices de
cobertura de saneamento são mais precários!
Saiba mais
Para mais informações sobre esse assunto, sugerimos acessar:
Portal Brasileiro de dados abertos (cobertura de abastecimento de água): https://
dados.gov.br/dataset/sisagua-cobertura-de-abastecimento2;
Qualidade da água para consumo humano: https://dados.gov.br/
dataset?tags=QUALIDADE+DA+%C3%81GUA;
Painel saneamento: Painel Saneamento - Conjuntos de dados - Portal Brasileiro de
Dados Abertos.
Enfrentamento das Arboviroses | Unidade 4 - Vigilância Ambiental e Controle das Arboviroses 224
ENCERRAMENTO DA UNIDADE
Nesta unidade, compreendemos que a Vigilância em Saúde Ambiental não é um conceito puramente acadêmico, mas uma conjunção de
práticas, processos e saberes que envolvem saúde, sociedade, meio ambiente, economia, entre outras áreas inter-relacionadas.
Os fatores envolvidos nesse contexto são complexos e sinérgicos e ultrapassam a visão fragmentada de olhar apenas fatores físicos,
químicos e biológicos, envolvendo em especial as questões sociais, culturais, de estilo de vida, produção e consumo, e compreendê-los
requer sistematizações em modelos de estudos, os quais vêm sendo aprimorados com o tempo e a evolução tecnológica.
No âmbito particular das arboviroses, vimos a importância da integração das vigilâncias e do saneamento como uma das formas de controle
dessas doenças. Não podemos esquecer a inclusão das populações mais vulneráveis de um território no planejamento das ações em saúde!
Assim, como preconizado pela PNVS, a vigilância em saúde deve ser entendida e fortalecida como uma “política pública de Estado e
função essencial do SUS, tendo caráter universal, transversal e orientador do modelo de atenção nos territórios, sendo a sua gestão de
responsabilidade exclusiva do poder público” (BRASIL, 2018).
Enfrentamento das Arboviroses | Unidade 4 - Vigilância Ambiental e Controle das Arboviroses 225
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Enfrentamento das Arboviroses | Unidade 4 - Vigilância Ambiental e Controle das Arboviroses 229
MINICURRÍCULO DOS AUTORES
Enfrentamento das Arboviroses | Unidade 4 - Vigilância Ambiental e Controle das Arboviroses 230
MINICURRÍCULO DOS AUTORES
Enfrentamento das Arboviroses | Unidade 4 - Vigilância Ambiental e Controle das Arboviroses 231
Programa Educacional em Vigilância e Cuidado em Saúde
no Enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais
Unidade 5
Caro trabalhador estudante, seja muito bem-vindo à Unidade 5, intitulada Vigilância em Saúde do Trabalhador. Nós preparamos este
material com muito carinho e cuidado para você aprofundar sua compreensão acerca de alguns aspectos relacionados à Vigilância em
Saúde do Trabalhador.
Durante nossa prática nos serviços de saúde, é comum não atentarmos para o papel do Trabalho como determinante do processo saúde-
doença. Disso resulta (também), a dificuldade que sentimos, muitas vezes, em incorporar as ações de Saúde do Trabalhador no cotidiano
prático. Como forma de facilitar esse processo e promover uma imersão nessa temática, organizamos este percurso didático em quatro
seções, além da introdução.
Inicialmente, apresentamos um breve resgate histórico sobre alguns dos principais elementos responsáveis pela estruturação da Rede
Nacional de Atenção Integral à Saúde dos Trabalhadores e das Trabalhadoras (RENAST). Nosso ponto de partida foi demonstrar que a saúde
do trabalhador já fazia parte dos serviços de saúde antes mesmo da instituição do Sistema Único de Saúde (SUS).
O que havia na época eram experiências isoladas, desenvolvidas essencialmente nos Programas de Saúde do Trabalhador (PST) ou pelos
Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (CERESTs). Geralmente eram localizadas em grandes centros urbanos, onde os movimentos
sindicais eram mais atuantes. Além disso, o foco era predominantemente assistencial, ou seja, a preocupação principal era a investigação e
o tratamento das doenças e agravos relacionados ao trabalho.
A ausência de uma coordenação nacional, bem como a necessidade de ampliação dos serviços para os trabalhadores motivou
a criação da Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (RENAST), pela Portaria nº 1.679, de 2002.
Em seguida, a RENAST passou por uma revisão e ampliação do seu escopo com a Portaria nº 2.437/2005. Um dos principais
avanços dessa Portaria foi a reorganização do papel dos CERESTs como suporte técnico para o desenvolvimento de ações de
vigilância e assistência, bem como a criação do que a Portaria convencionou denominar de Municípios e Unidades Sentinela.
Uma nova readequação na RENAST ocorreu com a Portaria nº 2.728/2009 (BRASIL, 2009a). Desta vez, foi assumido o desafio
de incorporar a noção de Redes de Atenção, tendo a Atenção Primária à Saúde como a principal referência para a reorientação
e disseminação das ações em Saúde do Trabalhador em todos os níveis de atenção do SUS.
Na segunda seção, abordamos de forma mais aprofundada as potencialidades e desafios para o desenvolvimento das ações
de Vigilância em Saúde do Trabalhador (VISAT) voltadas ao combate das arboviroses em ambientes de trabalho e residências.
Este é o momento de compreender um pouco melhor a centralidade da Atenção Primária à Saúde para a efetivação das
ações de VISAT nos territórios, sobretudo no atual contexto pandêmico em que vivemos, em que milhares de famílias estão
desempregadas. O desemprego favorece o aumento da informalidade e da precarização das relações de trabalho, desse
modo, a única alternativa para milhares de pessoas ganharem seu sustento é utilizar a residência como local de atividades
laborais.
Por fim, abordamos as medidas de proteção coletivas e individuais e sua importância para a promoção da saúde
e prevenção de doenças entre os Agentes de Combate às Endemias. Para o planejamento e desenvolvimento
de ações mais efetivas e eficazes nos ambientes e processos de trabalho, trouxemos uma matriz que
busca hierarquizar as medidas de controle, proteção coletiva e individual. Além disso, você conhecerá um
pouco melhor os riscos ocupacionais das principais etapas do processo de trabalho dos ACE. Em seguida,
apresentamos alguns Equipamentos de Proteção Individual utilizados por esses trabalhadores.
Temos certeza de que, com base nas reflexões aqui suscitadas, você conseguirá fazer diversas relações com
sua prática profissional. Pronto para começar?!
No entanto, a incorporação da categoria trabalho como um dos determinantes sociais que influenciam no processo de morbimortalidade e das ações em
ST no arcabouço do SUS, não foi suficiente para garantir a qualidade da atenção à população trabalhadora. Por outro lado, profissionais da área técnica
do Ministério da Saúde, trabalhadores da saúde, bem como representantes de movimentos populares e sindicais sinalizavam para a necessidade de se
constituir um modelo de atenção mais resolutivo e alinhado às necessidades de saúde dos trabalhadores no âmbito do SUS (DIAS; HOEFEL, 2005).
Dentre as alternativas implementadas à época, destacam-se a criação de Programas de Saúde do Trabalhador (PST) e dos Centros de Referência em Saúde
do Trabalhador (CEREST). Alguns desses serviços já existiam antes mesmo da instituição do SUS e concentravam-se principalmente nas Regiões Sul e
Sudeste. Neles, prevalecia uma dimensão assistencial, voltada para estratégias e condutas que valorizavam o diagnóstico, tratamento e acompanhamento
de doenças ocupacionais em detrimento das ações de vigilância e promoção da saúde (GOMEZ; VASCONCELLOS; MACHADO, 2018).
1 2 3
Ações na Rede de Rede de Centros Ações na rede
Atenção Básica e de Referência assistencial de
no Programa em Saúde do alta e média
Saúde da Família Trabalhador complexidade
Apesar da proposta de incorporar todos os níveis de atenção do SUS, o que se observou na prática
foi a centralização das ações no âmbito dos CERESTs. Além disso, o próprio texto da Portaria nº 1.679
de 2002 confere o predomínio das ações assistenciais em detrimento das de vigilância e promoção
da saúde do trabalhador.
O viés assistencialista identificado na Portaria supracitada pode decorrer de vários fatores, desde
a origem de sua publicação, advinda da Secretaria de Assistência à Saúde do Ministério da Saúde;
o modelo centrado nos CERESTs que carregam, desde a nomenclatura, um sentido ambulatorial,
especializado em tratamentos; até ser confundida como mais uma porta de entrada nos serviços de
saúde (DIAS et al., 2011).
Por outro lado, um aspecto relevante da Portaria nº 1.679 de 2002 foi que proporcionou a habilitação
de novos Centros de Referência no país. Especialmente por meio da garantia de financiamento
contínuo advindos da rubrica extra-teto, de média e alta complexidade. Para se ter uma ideia, esses
recursos possibilitaram a habilitação de 11 novos CERESTs em 2002 (BRASIL, 2002).
Em 2005, a RENAST passou por uma revisão e ampliação do seu escopo, com a publicação da Portaria
nº 2.437, de 7 de dezembro de 2005 (BRASIL, 2005). Buscou-se, com isso, diminuir o viés assistencial
identificado na Portaria de 2002, de modo a caminhar em direção à atenção integral à saúde dos
trabalhadores. Tentou-se ainda diminuir o escopo assistencial-ambulatorial dos CERESTs para fomentar
sua atuação como retaguarda técnica e de apoio matricial para a mobilização da rede de atenção à saúde
no SUS (BRASIL, 2005). Entre as tarefas a serem cumpridas pelos CERESTs, estão:
prover suporte técnico adequado às ações de assistência e vigilância em saúde do trabalhador;
recolher, sistematizar e difundir informações de modo a viabilizar as ações de vigilância; facilitar
os processos de captação e de educação permanentes para os profissionais e técnicos da rede do
SUS e do controle social (DIAS; HOEFEL, 2005, p. 17).
Dessa forma, a RENAST passou a ser caracterizada como uma rede de atenção integral à saúde dos trabalhadores no SUS. Permaneceu adotando os
CERESTs como principais unidades organizativas da rede, contudo avançou para a proposição de municípios e unidades sentinela, na tentativa de
qualificar as ações de vigilância e promoção da saúde dos trabalhadores. Essa proposta objetivava a produção, sistematização e disponibilização da
informação em saúde do trabalhador. Assumia, com isso, a tarefa de desenvolver metodologias e organizar o fluxo de atendimento aos adoecidos
e acidentados do trabalho em todos os níveis de atenção. Para tanto, almejava articulação não apenas entre as redes de Atenção Primária, Média
e Alta Complexidade, mas uma atuação alinhada com os demais componentes da Vigilância em Saúde (DIAS; HOEFEL, 2005).
A Portaria nº 2.437/2005 possibilitou também a ampliação do financiamento para as ações em Saúde do Trabalhador no SUS. Em 2005, foram
liberados cerca de 30 milhões de reais para o financiamento das ações em ST no SUS. Somente até agosto do mesmo ano, registrou-se ainda a
habilitação de mais 100 CERESTs no Brasil (BRASIL, 2005).
Além disso, os princípios e diretrizes que norteiam a RENAST estão em sintonia com o que
preconiza a Política Nacional de Saúde dos Trabalhadores e das Trabalhadoras (PNSTT), e podem
ser sintetizados em:
Outro ponto de destaque incorporado à Portaria nº 2.728/2009 refere-se ao reforço da Atenção Primária
à Saúde (APS) como a principal referência para a reorientação e disseminação das ações em ST no SUS
(BRASIL, 2009a). Com isso, busca fortalecer uma atuação mais efetiva nos territórios pela orientação por
critérios epidemiológicos e sociais. Dessa forma, passaram a ser considerados objetos de atuação os
problemas mais relevantes, privilegiando uma atuação mais eficaz nas comunidades. Por fim, foi ampliada
a oferta de serviços de promoção e prevenção da saúde, vigilância, assistência, recuperação e reabilitação,
de modo a qualificar o cuidado integral à saúde dos trabalhadores (FERREIRA et al., 2017).
A Figura 1 ilustra os papéis da APS e dos CERESTs como ordenadores do cuidado e organizadores do fluxo
de atenção à saúde dos trabalhadores.
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Integração CEREST
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Centro Especializado em Reabilitação
Até março de 2009, a RENAST contava com 178 CERESTs habilitados no país.
Por outro lado, diversos desafios ainda precisam ser superados. Dentre eles, destacamos o fomento à
qualificação da informação em saúde do trabalhador. Para tanto, faz-se necessária maior sensibilização
dos profissionais quanto à importância do preenchimento correto das fichas de notificação de acidentes e
doenças relacionadas ao trabalho. A ampliação e consolidação dos municípios e unidades sentinela também
são estratégicas para a qualidade da informação em ST. Por fim, reforçamos a necessidade de melhor
articulação entre as vigilâncias epidemiológica, sanitária e ambiental.
Somente com o engajamento de todos os atores envolvidos com a Saúde do Trabalhador conseguiremos
superar os desafios de modo a efetivar o cuidado integral a essa população. Dessa forma, avançaremos
para que a RENAST não seja lembrada apenas como mais uma dentre tantas siglas incorporadas ao SUS.
Acreditamos que por meio da disseminação do conhecimento e a sensibilização de diversos atores,
contribuiremos para que a RENAST cumpra seu papel institucional e social junto à população trabalhadora
do Brasil.
Integrar e articular as linhas de cuidado da Atenção Básica, da média e alta complexidade, ambulatorial, pré-hospitalar e
hospitalar sob o controle social, nos três níveis de gestão: nacional, estadual e municipal, tendo como eixo os CERESTs.
Estes, por sua vez, deixam de ser porta de entrada do Sistema e assumem o papel de suporte técnico e científico e núcleos
irradiadores da cultura da centralidade do trabalho e da produção social das doenças no SUS (DIAS; HOEFEL, 2005, p. 126).
Nesse contexto, a APS assume o papel de ordenadora da Rede de Atenção à Saúde (RAS) e coordenadora do cuidado. Do ponto
de vista da Saúde do Trabalhador em específico, a RENAST também reconhece a centralidade da APS para o cuidado dessa
população, tendo em vista sua capilaridade e o alto grau de descentralização, o que proporciona maior garantia de acesso e
atenção à saúde de qualidade para os trabalhadores.
Desse modo, as Unidades Básicas de Saúde (UBSs) representam a porta de entrada ao sistema de saúde, incluindo as ações em
saúde do trabalhador. Sua vinculação aos territórios nos quais se materializam os modos de vida e de trabalho das populações,
proporciona um lugar de destaque para a disseminação de práticas alinhadas às principais demandas de saúde dos usuários
trabalhadores. Funcionam, portanto, como espaços estratégicos para o fortalecimento de uma cultura em saúde do trabalhador
no SUS. As Equipes de Saúde da Família (EqSF), por sua vez, lidam de forma mais próxima com os contextos de vida e morte dos
usuários que estão sob sua responsabilidade sanitária. Isso possibilita maior visibilidade sobre as formas de adoecimento, que
muitas vezes guardam relações diretas ou indiretas com o trabalho (BRASIL, 2018).
Jornada de trabalho excessiva; pagamento Sofrimento mental, depressão, distúrbios Trabalhadores de confecção de roupas,
Riscos Psicossociais
por produção do sono. informais, com vínculos precarizado.
Conforme observamos na definição acima, as práticas de VISAT no Brasil não se restringem apenas ao monitoramento sistemático e à análise da situação
de saúde dos trabalhadores em uma população definida, elas vão além, incorporando a implementação das ações necessárias para o controle dos riscos
ocupacionais, a prevenção dos agravos e a promoção da saúde.
Desse modo, a VISAT aborda aspectos epidemiológicos, tecnológicos, sociais, culturais e políticos relacionados à saúde dos trabalhadores e ao mundo do
trabalho. O Controle Social e a participação dos trabalhadores são considerados elementos centrais para a efetivação de suas práticas, tendo em vista seu
potencial de articular os saberes científicos e populares (PINHEIRO; RIBEIRO, 2020).
Em outras palavras, podemos dizer que a VISAT é sinônimo de informação para ação. A complexidade de suas atividades exige uma atuação interprofissional,
capaz de integrar diversas disciplinas, campos de conhecimento e atores sociais. Sua prática se desenvolve nos territórios, na realização de atividades de
campo, onde o trabalho real acontece, de preferência lado a lado com os trabalhadores. É nessa sinergia de técnicas, saberes e olhares que a VISAT deixa
de ser um componente burocrático para alinhar-se às necessidades de saúde dos trabalhadores em defesa da vida (FERREIRA et al., 2017).
De modo esquemático, a VISAT pode ser caracterizada por quatro principais vetores: vigilância das doenças e dos agravos relacionados ao
trabalho; vigilância da situação de saúde e monitoramento de indicadores; articulação com as ações assistenciais, de prevenção e promoção
da saúde; e vigilância dos ambientes e processos de trabalho. Este último deve ser desenvolvido tanto em estabelecimentos e atividades dos setores
públicos como privados, urbanos ou rurais. Inclui, portanto, a produção, divulgação, qualificação e difusão de informações e abrange ainda as atividades
de educação em saúde. Por fim, a VISAT deve atuar de forma sistemática conectada à rede de serviços assistenciais, além da articulação imprescindível
com os demais componentes da Vigilância em Saúde (BRASIL, 2018).
Vigilância
Vigilância da
epidemiológica Vigilância dos Assistência,
situação de saúde
das doenças e ambientes e dos prevenção e
dos trabalhadores
dos agravos processos de promoção da
e monitoramento
relacionados ao trabalho saúde
de indicadores
trabalho
Do ponto de vista da vigilância dos ambientes e processos de trabalho, a atuação da VISAT deve considerar as principais
características do território. Para tanto, o primeiro passo deve ser a identificação dos diferentes processos produtivos
inseridos nas áreas sob responsabilidade sanitária da APS. É importante atentar para o fato de que não basta apenas
a inclusão de atividades produtivas cujos trabalhadores sejam formalmente vinculados ao mercado de trabalho: a ST
segue o princípio de universalidade do SUS, portanto também devem ser incluídas as atividades realizadas no próprio
domicílio ou no peridomicílio, além das pessoas envolvidas direta e indiretamente (BRASIL, 2018).
O mapeamento das atividades produtivas inseridas nos territórios vem se mostrando uma excelente ferramenta para a
VISAT, sobretudo quando realizado de forma colaborativa, envolvendo profissionais de saúde e diversos atores locais,
incluindo a participação efetiva de trabalhadores e trabalhadoras. Além disso, uma boa alternativa a essa atividade é
o envolvimento dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e dos Agentes de Combate às Endemias (ACE), são eles os
profissionais com melhor conhecimento dos territórios e maior capilaridade entre os usuários (BRASIL, 2018). Além
disso, a integração entre essas duas categorias profissionais representa uma oportunidade ímpar para se discutir
ações articuladas com base em uma realidade local. Significa (re)aprender a olhar o território de modo a pactuar
conjuntamente as prioridades, assumindo o compromisso efetivo com a saúde das populações (BRASIL, 2018).
Do ponto de vista das ações voltadas especificamente para o combate das arboviroses em ambientes de trabalho e residências, o trabalho
conjunto de profissionais envolvidos no combate às arboviroses, como os ACS e os ACE, é estratégico para identificar e intervir oportunamente
nos problemas de saúde-doença da comunidade. Nesse sentido, chamamos a atenção para algumas atribuições dos ACE que podem ter um
caráter complementar, qualificando as atividades de VISAT nos territórios, veja a seguir.
Realizar ações de prevenção e controle de doenças e agravos à saúde, em integração com os ACS e as
equipes da APS nos ambientes e processos de trabalho;
Cadastrar e atualizar a base de imóveis para o planejamento e definição de estratégias de
planejamento e controle de doenças, dentre elas as arboviroses;
Divulgar entre a comunidade, incluindo os trabalhadores, informações sobre sinais, sintomas, riscos e
agentes transmissores de doenças, com foco nas arboviroses, além das medidas de prevenção
coletivas e individuais;
Realizar atividades de campo, incluindo os ambientes de trabalho e residências, para pesquisa
entomológica e malacológica e coleta de reservatórios de doenças;
Executar ações de prevenção e controle de doenças, com a utilização de medidas de controle químico
e biológico, manejo ambiental e outras ações de controle integrado de vetores;
Executar ações de campo em projetos que visem avaliar novas medidas de intervenção em VISAT
voltadas para a prevenção e controle das arboviroses;
Identificar e cadastrar situações que interfiram no curso das doenças ou que tenham importância
epidemiológica, associadas aos fatores ambientais relacionados às arboviroses;
Mobilizar a comunidade para o desenvolvimento de manejo ambiental e outras formas de intervenção
em ambientes de trabalho e residências direcionadas ao controle de vetores (BRASIL, 2018).
Desse modo, não basta apenas conhecer o quantitativo de pessoas, famílias e sua delimitação
espacial. Não é suficiente apenas dividir o território por cores para indicar as respectivas Equipes
de Saúde da Família que serão responsáveis pelo cuidado em saúde naqueles limites, conforme
a Figura 4.
Outras fontes de informação também podem ser coletadas: dados sociodemográficos, econômicos, epidemiológicos,
sanitários e culturais, requeridos para o delineamento de situações-problemas e das necessidades de saúde de uma
população. Isso facilita a identificação de vulnerabilidades, as populações expostas a riscos ocupacionais e ambientais,
bem como a seleção dos problemas prioritários para as intervenções necessárias.
O próximo passo é o reconhecimento do território por meio de visitas de campo, atividade que deve ser planejada
previamente, de modo a possibilitar a identificação de barreiras geográficas e sociais, áreas de risco, equipamentos sociais
públicos ou privados, organizações não governamentais, empresas, pastorais, espaços religiosos e de lazer, processos
produtivos formais e informais, dentre outros.
Em seguida, é chegado o momento de inserir no mapa todas as informações importantes para que os principais elementos
identificados fiquem visíveis a todos. Há diversas formas de se fazer essa atividade, incluindo o uso de tecnologias mais
robustas, como satélites e marcações por GPS. Contudo, os procedimentos que requerem a utilização de tecnologias mais
robustas muitas vezes criam barreiras à participação de pessoas que não são familiarizadas com tais ferramentas. Por isso
preferimos a adoção de tecnologias simples, capazes de incluir o maior número de atores possível. A Figura 5, a seguir, é
um bom exemplo que pode ser adotado para a identificação do perfil e das atividades produtivas inseridas nos territórios.
Identificação da empresa ou processo produtivo: caso seja uma empresa formal, descreva aqui a razão social, a localização e o ramo de atividade. Se for
uma empresa informal, descreva o nome conforme os relatos recebidos.
Aspectos históricos da organização da empresa: origem e histórico da empresa (aberta desde qual data, tempo em anos de atuação no endereço atual);
procedência; existência de outras unidades; motivos que levaram à instalação da empresa neste local; situação atual no mercado; o que produz e para quem
produz.
Trabalhadores e relação de trabalho: número de empregados vinculados formal ou informalmente (incluir mesmo que sejam diaristas, estagiários, dentre
outros); distribuição dos trabalhadores por sexo, idade, nível de escolaridade; perguntar aos trabalhadores se passaram por algum tipo de treinamento ou
capacitação para exercer as funções atuais; absenteísmo; critérios para a seleção e contratação dos funcionários; como é feita a avaliação de desempenho; os
profissionais são pagos de acordo com a produtividade; formas de contrato de trabalho; jornada de trabalho; remuneração e benefícios.
Instalações da empresa: neste momento, devemos conduzir o olhar para as instalações físicas das empresas ou residências. No que tange ao combate de
arboviroses, é sempre importante atentar para lugares onde possivelmente haja acúmulo de água ou outros elementos que contribuam com a proliferação
dos vetores de transmissão. Pode ser útil perguntar aos trabalhadores se alguém já contraiu dengue, chikungunya ou zika. Além disso, vale a pena visitar cada
um dos espaços ou cômodos onde ocorrem as atividades, principalmente em ambientes utilizados como “depósito” ou para guardar ferramentas ou sobras do
processo de produção.
Processo de produção: aqui é necessário procurar entender quais matérias-primas são utilizadas, em que volume e/ou quantidade. Algumas podem
apresentar importante potencial de toxicidade para os trabalhadores ou serem poluidoras para o ambiente. Então, precisamos avaliar essa etapa com bastante
critério. Outro elemento importante é compreender todas as etapas do processo produtivo: desde a aquisição da matéria-prima até o produto final.
Somente dessa forma teremos clareza de todas as etapas do processo produtivo, seus potenciais riscos à saúde e ao ambiente. Uma estratégia que ajuda
bastante nesta fase é a elaboração de um fluxograma contendo cada etapa do processo produtivo e seus produtos. Não se esqueça de investigar como os
resíduos são liberados no ambiente, pois é de fundamental importância para a compreensão do potencial poluidor ou gerador de doenças no entorno.
Organização do trabalho: divisão do trabalho; conteúdo das tarefas; formas de organização do trabalho; controle de ritmo, produtividade e modo operatório;
relações sociais na empresa; relação entre os empregados. Neste momento, é importante também saber se existe diferença entre o trabalho prescrito (aquele
que o trabalhador foi contratado para realizar) e o trabalho real (o que verdadeiramente ele desempenha no cotidiano).
Condições ambientais de trabalho e atenção à saúde: este é o momento para identificação dos riscos ocupacionais. Desse modo, é importante atentarmos
para a presença de riscos físicos, químicos, biológicos, ergonômicos e de acidentes – natureza , dose, fontes, pontos críticos; medidas de proteção individual
e coletiva – adequação, manutenção, eficácia, uso efetivo; política de assistência médica; campanhas e ações educativas; ações em segurança e saúde no
trabalho; existência e funcionamento da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), do Serviço Especializado em Segurança e Medicina do Trabalho
(SESMT), do Programa de Controle Médico em Saúde Ocupacional (PCMSO) e do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA); dados epidemiológicos
sobre doenças e acidentes.
Relação com o meio ambiente: área – recursos físicos e espaço ocupado; consumo de água, energia elétrica e combustíveis; dissipações de calor –
chaminé, gases quentes, vapor de água, fornos, caldeiras, reatores, cinzas quentes, material quente, fluido refrigerante, torres de condensação; poluentes
do ar – produtos da combustão, gases combustíveis residuais, emanações de substâncias químicas – formas de captação e tratamento; poluentes da água
– vazamentos de tanques, dutos, canalizações, válvulas, bacias, valas e canaletas; borras e lamas; efluentes líquidos; descarte de fluidos; saídas líquidas das
estações de tratamento de esgotos e de despejos industriais – dimensionamento e adequação do tratamento; poluentes do solo – resíduos sólidos, aparas e
sucatas, borras, cinzas e poeiras coletadas, embalagens utilizadas – tratamento e destinação; geração de ruído; transporte de matérias-primas e de produtos
finais – eixos; coletividades humanas concernidas – vizinhos e transeuntes.
Relações institucionais: com o município, o Estado, órgãos fiscalizadores do trabalho e do ambiente, o sindicato dos trabalhadores.
SAIBA MAIS
O objetivo da Sala de Situação em Saúde é disponibilizar
informações e análises para gestores e profissionais
de saúde que subsidiem a tomada de decisão e a
organização do processo de trabalho no cotidiano da
prática profissional. Consulte o site da plataforma RENAST:
renastonline.ensp.fiocruz.br/recursos/sala-situacao-
saude-ministerio-saude
IMPORTANTE
Ao notificar um caso suspeito ou confirmado de agravo relacionado ao trabalho, certifique-
se de que todos os campos da ficha de notificação e investigação estejam corretamente
preenchidos.
A completude e a qualidade da informação são muito importantes para a compreensão
do perfil de saúde da população e para o planejamento das ações de saúde no território,
especialmente para a vigilância e intervenções nos ambientes e processos de trabalho.
A notificação de agravos relacionados ao trabalho segue os mesmos fluxos dos demais
agravos no SINAN – se necessário, consulte a equipe de vigilância em saúde do seu município
(BRASIL, 2018).
Propomos a seguir alguns critérios que podem ser utilizados para definir as ações prioritárias de VISAT pelas EqSF no âmbito da APS.
Nosso terceiro e último passo foi a proposição de alguns critérios técnicos para auxiliar na priorização e no
acompanhamento das ações de Vigilância em Saúde do Trabalhador nos territórios. Para isso, sugerimos
a adoção de outras fontes de informação em saúde para complementar aquelas adquiridas durante o
reconhecimento do território e do mapeamento: Fichas de Cadastro Individual do e-SUS AB; informações
geradas no atendimento aos usuários trabalhadores na própria unidade; informações advindas do Sistema de
Informação de Agravos de Notificação e do Sistema de Informações sobre Mortalidade; além do Sistema de
Informação Hospitalar.
Lembre-se de que outras fontes de dados podem e devem ser utilizadas. Contudo, o principal é que você
consiga transformá-las em ação! Nesse sentido, o agir epidemiológico é um modelo de racionalidade muito
importante para auxiliar no planejamento, organização e realização das ações de VISAT nos territórios.
Nesse momento falaremos um pouco sobre a importância da adoção de medidas de proteção coletivas e
individuais para a promoção da saúde e prevenção de doenças entre os Agentes de Combate às Endemias.
Afinal, nada mais justo (e importante!) do que cuidar também da saúde dos profissionais da área.
Conforme abordamos na seção anterior, para o reconhecimento dos riscos ocupacionais e ambientais em
qualquer tipo de atividade produtiva, o primeiro passo é conhecer como o trabalho é desempenhado. Contudo,
para o planejamento e desenvolvimento de ações mais efetivas e eficazes nos ambientes e processos de
trabalho, o National Institute for Occupational Safety and Health (NIOSH) desenvolveu uma ferramenta muito
interessante e amplamente aceita pela comunidade internacional e por entidades envolvidas com a saúde
dos trabalhadores no mundo: um esquema que busca hierarquizar as medidas de controle, proteção coletiva
e individual. Estas medidas serão mais eficientes na proteção da saúde e prevenção de doenças relacionadas
ao trabalho quanto mais próximas estiverem do topo da pirâmide. Vamos conhecê-las?
MAIOR
EFICIÊNCIA
MEDIDAS
EPI DE PROTEÇÃO
Utilização de EPI
INDIVIDUAL
MENOR
EFICIÊNCIA
Fonte: National Institute for Occupational Safety and Health (2015).
A primeira e mais importante medida consiste na eliminação do perigo. É a ação mais eficaz do ponto de vista da saúde e
segurança dos trabalhadores. Consiste em eliminar a fonte de exposição considerada danosa para o organismo humano.
No Brasil, um bom exemplo que ilustra essa iniciativa é o amianto. A literatura internacional já demonstrou diversas
evidências que comprovam seu potencial reconhecidamente carcinogênico e as evidências motivaram uma série de
iniciativas judiciais no país. Contudo, somente em 2017 o Supremo Tribunal Federal decidiu, com base no argumento de
que não há níveis seguros para o uso, o banimento do amianto em todo o território nacional (BRASIL, 2017b).
Na impossibilidade ou inviabilidade da eliminação do perigo, sugere-se sua substituição. Essa iniciativa já foi adotada no
decorrer da história das campanhas de saúde pública no Brasil. Substâncias como o diclorodifeniltricloroetano (DDT) foram
utilizados para o combate a doenças endêmicas como malária e febre amarela até o início dos anos 1990. Diversos casos
de intoxicações foram diagnosticados e muitos trabalhadores desenvolveram doenças como cânceres ou evoluíram a
óbito. Apesar de todo o potencial de toxicidade e carcinogenicidade amplamente difundido pela comunidade acadêmica,
o DDT só foi proibido no Brasil em 2009 pela Lei nº 11.936/2009 (BRASIL, 2009b).
SAIBA MAIS
A Norma Regulamentadora nº 35 estabelece os quesitos mínimos e as medidas de
proteção para o trabalho em altura e incluem o planejamento, a organização e a
execução, de modo a garantir a segurança e a saúde dos trabalhadores envolvidos direta
ou indiretamente nessa atividade. Para tanto, a Norma considera trabalho em altura toda
atividade executada acima de 2 metros do nível inferior. De acordo com o documento,
considera-se trabalhador capacitado para o exercício das atividades em altura aquele que
foi submetido e aprovado em treinamento teórico e prático, com carga horária mínima de
oito horas, e cujo conteúdo programático deve incluir, no mínimo:
• As normas e regulamentos aplicáveis ao trabalho em altura;
• Análise dos riscos e condições impeditivas;
• Riscos potenciais inerentes ao trabalho em altura e medidas de prevenção e controle;
• Sistemas, equipamentos e procedimentos de proteção coletiva (NR 35).
Para obter mais informações sobre a Norma Regulamentadora nº 35, que trata do Trabalho
em Altura, clique aqui.
No que tange ao uso de inseticidas para o controle de mosquito adulto, algumas etapas merecem destaque: preparação da
calda, lavagem e manutenção de equipamentos e veículos, transporte do inseticida, além dos Equipamentos de Proteção
Individual (BRASIL, 2019).
Caro trabalhador estudante, chegamos ao final de mais uma unidade deste curso. Quanta coisa aprendemos juntos
no decorrer deste percurso. Quantas reflexões surgiram com base na leitura deste material. E, principalmente,
quantos desafios ainda temos pela frente para alcançarmos um modelo capaz de garantir atenção integral à
saúde dos trabalhadores e trabalhadoras.
Sabemos que fazer saúde do trabalhador não é tarefa fácil. Contudo, esperamos ter mobilizado corações e
mentes em defesa dos direitos e da saúde da população trabalhadora de nosso país. Em tempos de retirada de
direitos e garantias, nosso papel como profissionais de saúde torna-se ainda mais estratégico e importante.
Temos certeza de que, daqui em diante, a saúde do trabalhador será ainda mais fortalecida por seu olhar, sua
prática cotidiana e sua capacidade técnica. Sigamos engajados no compromisso de fortalecer o nosso Sistema
Único de Saúde!
BRASIL. AGÊNCIA NACIONAL DE TRANSPORTES TERRESTRES. Resolução Nº 5.848, de 25 de junho de 2019. Atualiza o Regulamento para o Transporte Rodoviário
de Produtos Perigosos e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 26 jun. 2019.
BRASIL. Ministério da Saúde. Manual sobre Medidas de Proteção à Saúde dos Agentes de Combate às Endemias. Brasília, 2019. v. 1.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Saúde do trabalhador e da trabalhadora: versão preliminar.
Brasília, 2018. (Cadernos de Atenção Básica n. 41).
BRASIL. Ministério da Saúde. Vigilância em Saúde do Trabalhador: um breve panorama. Boletim Epidemiológico, v. 48, n. 18, p. 1-7, 2017a.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade 3.470 Rio de Janeiro. Substituição progressiva da produção e da comercialização
de produtos contendo asbesto/amianto. Recorrente: Conf. Nacional dos Trabalhadores na Indústria. Relatora: Min. Rosa Weber. Inteiro Teor de Acórdão.
Brasília, DF, 29 nov. 2017b.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 1.823 de 23 de agosto de 2012. Institui a Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora. Diário Oficial
da União, Brasília, DF, 24 ago. 2012.
SOUSA, F.N.F. RENAST: Apresentação da Rede, Responsabilidades e Atribuições. Brasília. 09 de Março de 2021. Disponível em: http://renastonline.ensp.fiocruz.
br/sites/default/files/arquivos/recursos/2021_09_mar_apresentacao_para_renast.pdf
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 2.728 de 11 de novembro de 2009. Dispõe sobre a Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (Renast)
e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 12 nov. 2009a.
BRASIL. Lei nº 11.936, de 14 de maio de 2009. Proíbe a fabricação, a importação, a exportação, a manutenção em estoque, a comercialização e o uso do
diclorodifeniltricloretano (DDT) e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 15 maio 2009b.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 2.437, de 7 de dezembro de 2005. Dispõe sobre a ampliação e o fortalecimento da Rede Nacional de Atenção Integral
à Saúde do Trabalhador (Renast) no Sistema Único de Saúde – SUS e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, dez. 2005.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria GM/MS nº 1.679, de 18 de setembro de 2002. Dispõe sobre a estruturação da Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde
do Trabalhador no SUS e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, set. 2002.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 3.120, de 1 de julho de 1998. Institui a Instrução Normativa de Vigilância em Saúde do Trabalhador no SUS. Diário
Oficial da União, Brasília, DF, jul. 1998.
BRASIL. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o
funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 20 set. 1990.
BRASIL. MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. SECRETARIA DE INSPEÇÃO DO TRABALHO. Portaria No.25, de 15 de Outubro de 2001. Altera a Norma
Regulamentadora que trata de Equipamentos de Proteção Individual – NR06 e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 17 out. 2001.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 15 ago. 2021.
Unidade 6
Caro trabalhador estudante, vamos começar essa unidade com um convite à reflexão. Gostaríamos que você, tomando por base suas ações
cotidianas, pensasse um pouco sobre o volume de informações que recebe diariamente e o papel dessas informações em suas escolhas.
Por exemplo, uma informação meteorológica pode fazer com que você pegue o casaco e o guarda-chuva ao sair de casa e uma notícia sobre
o trânsito pode fazer com que você escolha uma rota diferente. Você pode escolher almoçar em determinado restaurante por influência de
um colega ou pela pontuação de um aplicativo.
Agora vamos pensar para além das situações cotidianas e trazer esses questionamentos para uma situação de evento inesperado que traz
riscos a você e sua comunidade, como um surto de uma doença ainda desconhecida na região onde mora. Qual é a importância de uma
informação certa e no momento oportuno para que você adote comportamentos e atitudes que venham a proteger você e a comunidade?
O acesso à informação de qualidade, como direito humano, é um aspecto fundamental para a tomada de decisão em torno do bem-estar
de si e do outro. E garantir tal acesso por meio da construção e do fortalecimento de fluxos de comunicação engloba o ciclo da vigilância
em saúde. Por isso, atentos à importância do desenvolvimento de competências e habilidades comunicacionais, debruçaremo-nos nesta
unidade nos aspectos centrais da comunicação de risco e mobilização social para o combate às arboviroses.
Enfrentamento das Arboviroses | Unidade 6 - Comunicação para Vigilância e Controle das Arboviroses 271
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM DA UNIDADE
1. Compreender o papel da comunicação de risco em períodos epidêmicos e não epidêmicos para o enfrentamento das arboviroses;
2. Identificar as atribuições da área de comunicação intersetorial e mobilização social dentro do Ministério da Saúde, SES e SMS e as
possibilidades de fomento da participação social no enfrentamento das arboviroses;
3. Apontar as diretrizes contemplando objetivos, público e mensagens para o desenvolvimento de campanhas de comunicação a fim
de enfrentar as arboviroses em cenários epidêmicos e não epidêmicos.
Enfrentamento das Arboviroses | Unidade 6 - Comunicação para Vigilância e Controle das Arboviroses 272
6.1 Introdução
O conteúdo desta unidade está organizado em três grandes temas: comunicação
de risco no combate às arboviroses; comunicação de risco, educação em saúde
e mobilização social; e a construção das estratégias de comunicação de risco
no combate às arboviroses. A trilha de aprendizagem percorre aspectos gerais
da comunicação de risco na vigilância em saúde, a definição da percepção de
risco e o delineamento de estratégias com base em um movimento dialógico de
comunicação e de reconhecimento das comunidades, ações de comunicação em • Criar e manter um diálogo com as comunidades de risco e partes
cenários epidêmicos e não epidêmicos no combate às arboviroses, a importância envolvidas;
de uma perspectiva intersetorial, a definição do resultado primordial da
• Agir rapidamente e de forma credível, eficaz e contínua;
comunicação, a caracterização de públicos e a construção de mensagens eficazes.
Tudo para que você, trabalhador estudante, possa desenvolver e contribuir para • Ter como premissa a honestidade sobre o que se conhece e o que
as ações de comunicação e mobilização no enfrentamento às arboviroses com é desconhecido para manutenção e fortalecimento da confiança
foco no engajamento comunitário. e do direito à informação de qualidade para a tomada de decisão;
• Desenvolver empatia e trabalhar com uma linguagem entendível
para uma comunicação eficaz de informações técnicas;
6.2 Comunicação de risco no combate • Reconhecer as características das comunidades de risco
às arboviroses levantando suas crenças, conhecimentos, atitudes e práticas e,
com isso, contextualizando a informação;
Nesta unidade, nosso ponto central são as especificidades pelas
quais as ações de comunicação de risco no combate às arboviroses • Envolver as comunidades de risco no planejamento e no
se caracterizam. Isso quer dizer que nosso objetivo aqui é desenvolvimento das ações de comunicação de risco,
compreender o papel da comunicação de risco tanto em cenários capacitando-as;
epidêmicos como não epidêmicos, reconhecendo que diferentes • Estabelecer e manter parcerias para a promoção e disseminação
atividades devem ser planejadas e realizadas de acordo com as das ações de comunicação de risco.
características do público e de outros envolvidos.
Tomamos como ponto de partida o entendimento de que a
comunicação de risco engloba um conjunto de estratégias Nesse sentido, é importante ressaltarmos logo de início que a
e práticas cujo objetivo consiste em prover o público com comunicação compõe o ciclo da vigilância em saúde, sendo uma
informações sobre os riscos de determinada ação ou situação, atividade essencial na prevenção e combate não somente às
a fim de que se promova a conscientização para a adoção de arboviroses como também a outros agravos, tanto em cenários
medidas para proteção de si e de sua comunidade (REYNOLDS, epidêmicos como não epidêmicos. Por isso, trata-se de uma frente
2014; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2018). de atuação que deve ser assumida não somente pelas equipes de
comunicação no sistema de saúde de modo geral, mas também por
Recomendações trazidas pela Organização Mundial da Saúde sobre profissionais e trabalhadores da saúde e área técnica, incluindo você,
a comunicação de risco em emergências em saúde pública (WORLD trabalhador estudante.
HEALTH ORGANIZATION, 2018) e também especificamente sobre o
surto de zika (PAN AMERICAN HEALTH ORGANIZATION, 2016) definem
que a comunicação de risco deve:
Enfrentamento das Arboviroses | Unidade 6 - Comunicação para Vigilância e Controle das Arboviroses 273
Saiba mais
A comunicação de risco é uma atividade que pode e deve ser realizada por todos os integrantes da equipe de
vigilância das arboviroses. A exemplo, temos as ações comunicacionais que estão dispostas nas atribuições do
Agente de Combate de Endemias, assim como em sua ação conjunta com os Agentes Comunitários de Saúde
(ACS). Segundo o Art. 3º da Lei Federal nº 13.595, de 5 de janeiro de 2018, fazem parte das atribuições dos
Agentes de Combate de Endemias, entre outros pontos:
• Desenvolver ações educativas e de mobilização da comunidade relativas à prevenção e ao controle de
doenças e agravos à saúde;
• Realizar ações de prevenção e controle de doenças e agravos à saúde em interação com os ACS e as equipes
de Atenção Básica;
• Divulgar, entre a comunidade, informações sobre sinais, sintomas, riscos e agentes transmissores de doenças
e sobre medidas de prevenção coletivas e individuais;
• Mobilizar a comunidade para desenvolver medidas simples de manejo ambiental e outras formas de
intervenção no ambiente para o controle de vetores;
• Orientar a comunidade quanto à adoção de medidas simples de manejo ambiental para o controle de vetores,
de medidas de proteção individual e coletiva e de outras ações de promoção à saúde para a prevenção de
doenças infecciosas, zoonoses, doenças de transmissão vetorial e agravos causados por animais peçonhentos;
• Realizar campanhas ou mutirões para o combate à transmissão de doenças infecciosas e outros agravos.
Fonte: Brasil (2018).
Vejamos agora como essas recomendações sustentam as estratégias de comunicação de risco no combate
às arboviroses e podem ser incorporadas e fortalecidas em sua atuação, trabalhador estudante.
Enfrentamento das Arboviroses | Unidade 6 - Comunicação para Vigilância e Controle das Arboviroses 274
No campo da saúde, especialmente na vigilância
epidemiológica, o risco relaciona-se à probabilidade
de ocorrência de determinado evento com desfechos O papel dos atores, entre os quais você, trabalhador estudante, faz parte, que desenvolvem a
desfavoráveis (CASTIEL; GUILAM; FERREIRA, 2010). comunicação de risco é justamente articular a definição do perigo compartilhada pelos especialistas
No entanto, essa noção não é entendida da mesma com a percepção da população sobre ele. E, para isso, diferentes estratégias comunicativas podem
maneira pelos especialistas que compõem a área ser realizadas de acordo com a magnitude do risco e a reação emocional, ou o que podemos
técnica e pela população em geral. Vejamos o que chamar de indignação, do público. A fim de uma melhor compreensão dessa relação para práticas
isso significa. comunicativas eficazes, Peter Sandman (2012) nos propõe a seguinte fórmula:
Para esses especialistas, o risco relaciona-se com
a magnitude de um evento e a probabilidade de
sua ocorrência. Já para a população, o risco está
RISCO = PERIGO + INDIGNAÇÃO
ligado ao entendimento desse perigo e à reação
emocional gerada por ele. Fatores como: ser algo É importante que, para o desenvolvimento das estratégias de comunicação de risco, essa
imposto ou voluntário; controlável ou incontrolável; percepção seja compreendida e levada em conta. Um exercício interessante para isso, que
desconhecido ou exótico; reversível ou irreversível; a você pode aplicar em sua comunidade, é a identificação dos problemas relacionados às
extensão da emergência e o perigo para crianças e doenças transmitidas por vetores pela população e a categorização dos seus riscos (Quadro 1).
futuras gerações influenciam na percepção do risco
pelo público (SANDMAN, 2012). E toda essa acepção A avaliação da percepção de risco, realizada por meio de pesquisas rápidas como o a do exercício
sustenta-se em crenças, valores e comportamentos a seguir, permite reconhecer o entendimento da população sobre determinados cenários e
oriundos, também, de determinados contextos como as ações de comunicação de risco podem ser realizadas. Por exemplo: sensibilizar os
socioculturais, econômicos e ambientais. Por isso, indivíduos em um contexto de apatia – quando se observa uma percepção de baixo risco, mas,
é essencial que tais aspectos sejam levados em de fato, há uma situação de grande perigo – diante de doenças já endêmicas como a dengue.
consideração na comunicação em saúde de modo Ao questionar os motivos pelos quais tais percepções são construídas pelo indivíduo, ainda é
geral e na comunicação de risco especificamente. possível coletar informações sobre o conhecimento da população, suas crenças e até sobre os
meios pelos quais ela se informa.
Tomemos como exemplo a percepção do risco da
zika para mulheres grávidas. Um estudo realizado
por Lima e Iriart (2021) com gestantes de diferentes QUADRO 1 – EXERCÍCIO PARA CARACTERIZAÇÃO DA PERCEPÇÃO DE RISCO DA
realidades sociais em Salvador (BA) apontou a POPULAÇÃO SOBRE AS ARBOVIROSES MAIS COMUNS NO PAÍS
influência dos cenários econômicos e ambientais
dessas mulheres na percepção do risco e no impacto Risco muito alto Risco alto Risco moderado Risco baixo
emocional da doença. A pesquisa também revelou Dengue
que as gestantes atendidas pelo SUS compartilharam
de um entendimento sobre o vírus e seus riscos Por quê?
orientado por experiências de mães de crianças com Chikungunya
microcefalia amplamente veiculadas pelos meios Por quê?
de comunicação. Mesmo depois de três anos após a
Febre amarela
epidemia, momento em que a pesquisa foi realizada,
os autores destacam a necessidade de produção Por quê?
e disseminação de informações levando em conta Zika
essas diferentes realidades e sua importância para a Por quê?
prevenção.
Fonte: adaptado de Pan American Health Organization (2016a).
Enfrentamento das Arboviroses | Unidade 6 - Comunicação para Vigilância e Controle das Arboviroses 275
Outro método eficaz para a
avaliação da percepção de risco da
população é a pesquisa de opinião,
que também pode ser aplicada por
você, trabalhador estudante, junto
com outros agentes que atuam na
comunicação e mobilização para • Familiaridade. Exemplo: você está ciente dos riscos da zika?
o combate às arboviroses. Nesse
caso, as perguntas, tomando por • Conhecimento. Exemplo: você compreende quais são as complicações causadas pela zika?
base a zika (PAN AMERICAN HEALTH • Incerteza. Exemplo: você consegue prever se poderá ser infectado pelo zika vírus nos
ORGANIZATION, 2016a), podem próximos cinco anos?
abranger as seguintes dimensões:
• Controle. Exemplo: você consegue realizar ações e tomar atitudes para reduzir o seu risco de
infecção pelo zika vírus?
• Equidade. Exemplo: há condições sociais, econômicas e ambientais que podem colocar
determinadas pessoas em uma situação de maior probabilidade de infecção pelo zika vírus?
• Medo. Exemplo: você tem medo de contrair doença ou desenvolver complicações causadas
pela zika?
• Desconfiança. Exemplo: você acredita que as instituições responsáveis pela prevenção da
zika estão adotando medidas para o controle da doença?
• Reversibilidade. Exemplo: pessoas que foram infectadas pelo zika vírus podem recuperar-se?
• Benefícios. Exemplo: há algum benefício em ser infectado pelo zika vírus?
• Interesse pessoal. Exemplo: você sente que você ou alguém próximo corre o risco de infectar-
se pelo zika vírus?
• Relação com vítimas: você já teve zika ou conhece alguém que tenha desenvolvido a doença?
• Magnitude: você acredita que seu país/estado/cidade tem risco de desenvolver um cenário
de epidemia pela zika?
Enfrentamento das Arboviroses | Unidade 6 - Comunicação para Vigilância e Controle das Arboviroses 276
6.2.2 Estratégias de comunicação de risco em cenários não epidêmicos
Talvez você, trabalhador estudante, já tenha percebido que campanhas de combate
ao Aedes aegypti circulam de forma mais intensa em determinados períodos do ano.
Normalmente, sua divulgação, ou a intensificação dela, ocorre em períodos em que há
maior proliferação do mosquito e que constituem, muitas vezes, cenários epidêmicos.
Mesmo que a comunicação de risco ganhe ainda mais destaque nas ações de vigilância
em saúde em cenários epidêmicos ou de maior incidência de arboviroses, é preciso
entender que as ações de comunicação e mobilização social devem ser um processo As estratégias importantes de comunicação de risco em
contínuo, ou seja, abrangem tanto as emergências em saúde pública como situações cenários não epidêmicos – como exemplo daquelas
de normalidade. em que observamos indignação e riscos baixos – são
Nesse sentido, vamos descrever como você, trabalhador estudante, pode trabalhar atividades voltadas ao relacionamento com as partes
a comunicação de risco levando em conta os cenários e as percepções de risco pela interessadas.
população, como apresentado na matriz a seguir (Figura 1). Fora das situações de emergências sanitárias, é
importante que sejam construídas e fortalecidas as
relações com as comunidades, com especial atenção para
que os potencialmente afetados sejam envolvidos neste
FIGURA 1 – COMUNICAÇÃO DE RISCO E A PERCEPÇÃO DE RISCO processo. Exemplos do que chamamos de comunidade
ou partes interessadas são: a população diretamente
afetada, profissionais de saúde, gestores, organizações e
coletivos comunitários, organizações da sociedade civil,
REAÇÃO EMOCIONAL DO PÚBLICO-ALVO
Indignação
Enfrentamento das Arboviroses | Unidade 6 - Comunicação para Vigilância e Controle das Arboviroses 277
Como desdobramento de tais ações, tem-se o fomento à divulgação de medidas preventivas para adoção e consolidação de hábitos, a fim de
evitar a proliferação do vetor.
Na abordagem proposta pela Secretária de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde, nas Diretrizes Nacionais para a Prevenção e Controle de
Epidemias de Dengue (BRASIL, 2009), apresenta-se como atividades da comunicação em cenários não epidêmicos para prevenção e controle da
doença a produção de materiais informativos que tratem:
• Da eliminação dos criadouros do Aedes aegypti;
• Dos locais de concentração do vetor da doença;
• Da biologia e hábitos do mosquito;
• Dos sintomas da doença;
• Das recomendações para a população sobre os serviços de atenção primária à saúde em caso de doença.
Enfrentamento das Arboviroses | Unidade 6 - Comunicação para Vigilância e Controle das Arboviroses 278
Em cenários não epidêmicos, é importante compreender o escopo das áreas
de comunicação em âmbito federal, estadual e municipal no desenvolvimento
dessas atividades. Aqui também as Diretrizes Nacionais para a Prevenção e
Controle de Epidemias de Dengue (BRASIL, 2009) descrevem a atuação das
assessorias de imprensa e da área de publicidade no Ministério da Saúde, em
Secretarias Estaduais e Municipais (Quadro 2), que pode ser ampliada para o
combate às arboviroses de modo geral.
Enfrentamento das Arboviroses | Unidade 6 - Comunicação para Vigilância e Controle das Arboviroses 279
Já em momentos em que temos um
cenário não epidêmico com uma alta
reação emocional – cabe aqui lembrarmos
que a percepção de risco da população é
regida por esse âmbito emocional, como
vimos no item anterior – a comunicação
de risco pode desenvolver estratégias de
gerenciamento da indignação. Isso acontece, Saiba mais
por exemplo, quando a população tem uma
reação desproporcional e até equivocada A importância do combate à desinformação no âmbito da saúde
diante do perigo real. Essa é uma situação Provavelmente você já deve ter se deparado com alguma fake news sobre saúde. Sejam
que pode ser bastante comum em um orientações infundadas para o tratamento de determinadas doenças ou até inverdades
contexto de desinformação – quando sobre efeitos adversos de medicamentos e vacinas, o fato é que essas informações falsas têm
temos a disseminação de rumores e falsas gerado um impacto cada vez mais preocupante para a saúde pública.
informações.
No Brasil, um estudo realizado ainda em 2019 pela Avaaz em parceria com a Sociedade
Brasileira de Imunizantes (SBIm) revelou que 57% dos brasileiros que não se vacinaram, ou
não vacinaram uma criança, utilizaram como justificativa o acesso a informações falsas. A
pesquisa sobre o papel da desinformação na queda da cobertura vacinal no país também
aponta serem as redes sociais as principais fontes de informação sobre imunização para 48%
dos entrevistados. Entre aqueles que acreditam nos dados incorretos sobre imunizantes,
73% costumam informar-se pelo aplicativo WhatsApp. Conheça a pesquisa na íntegra aqui.
Esses números são apenas uma pequena mostra do cenário de desordem informacional no
qual nos encontramos e que nos demanda ações cada vez mais efetivas para a comunicação
de risco. Informar para a prevenção de doenças deve somar-se à informação para combater
a desinformação e, por consequência, o medo e a insegurança gerados. E, neste caso, uma
resposta aos rumores e fake news deve sempre ser pautada por evidências científicas e pela
tradução desse conhecimento à população em um processo contínuo de educação em
saúde.
Aproveite para aprofundar-se neste tema consultando o artigo:
PONTALTI MONARI, A. C.; BERTOLLI FILHO, C. Saúde sem fake news: estudo e caracterização
das informações falsas divulgadas no Canal de Informação e Checagem de Fake News do
Ministério da Saúde. Mídia e Cotidiano, v. 13, n. 1, p. 160-186, 26 abr. 2019. Disponível em:
https://periodicos.uff.br/midiaecotidiano/article/view/27618. Acesso em: 12 out. 2021.
Enfrentamento das Arboviroses | Unidade 6 - Comunicação para Vigilância e Controle das Arboviroses 280
Nesse sentido, é importante que você, trabalhador estudante, valha-se de FIGURA 3 – CARTAZ DA CAMPANHA #ACULPANÃOÉDOMACACO
dois fundamentos da comunicação de risco: a empatia e a comunicação
com base em evidências científicas.
As emoções e os sentimentos da população devem ser levados em conta
tanto em cenários epidêmicos como não epidêmicos. Para isso, é importante
que os responsáveis pela comunicação de risco, especialmente aqueles que
lidam diretamente com a comunidade, desenvolvam a empatia, o diálogo
e a escuta ativa para reconhecer e identificar as reações emocionais e suas
causas. Algumas ações podem ajudá-lo no fortalecimento dessas habilidades
(REYNOLDS, 2014):
Enfrentamento das Arboviroses | Unidade 6 - Comunicação para Vigilância e Controle das Arboviroses 281
6.2.3 Estratégias de comunicação de risco em cenários epidêmicos
Tratamos até agora da comunicação de risco em cenários não epidêmicos relacionando-a
com a percepção de risco. Agora vamos nos centrar nas estratégias comunicacionais em
situação epidêmicas, especificamente da sensibilização preventiva e da comunicação
de crise. E, para entendermos melhor o desenvolvimento da comunicação de risco nessas
situações, vamos recorrer a dois exemplos que você pode reconhecer em nossa realidade
brasileira: epidemias de dengue e zika. É importante reforçamos que não se trata de
estratégias excludentes. Ao contrário, elas podem e devem ser trabalhadas conjuntamente
levando em conta as especificidades da evolução dos cenários e das comunidades de risco.
Trazendo um panorama geral da dengue no Brasil, vemos que a primeira epidemia com
registro clínico e laboratorial ocorreu ainda no início da década de 1980. Nesses 40 anos, a
doença tem caracterizado-se como endêmica e com ciclos epidêmicos, cujas ações para o
combate ao Aedes aegypti vêm sendo feitas recorrentemente, especialmente em tempos de
maior proliferação do vetor e, com isso, de maior probabilidade de surtos.
Enfrentamento das Arboviroses | Unidade 6 - Comunicação para Vigilância e Controle das Arboviroses 282
Em cenários epidêmicos contínuos ou alongados Primeiramente, vamos retomar as atribuições das frentes de assessoria de imprensa e publicidade
de surtos, como a dengue, é comum que, por mais no Ministério da Saúde, em Secretárias Estaduais e Municipais, compartilhando o objetivo geral
que sejam grandes os riscos, a população tenda de evitar óbito (Quadro 2). Segundo as Diretrizes Nacionais para Prevenção e Controle de Epidemias
a um estado de normalização e apatia. Nesses de Dengue (BRASIL, 2009), são focos das ações de assessoria de imprensa, de modo geral:
casos, é importante que as ações comunicacionais
visem à sensibilização da população. Humanizar e
compartilhar experiências tornam-se estratégias • Divulgar sintomas e sinais de complicação das doenças;
eficazes e ampliam as possibilidades de • Alertar sobre os perigos da automedicação;
mobilização.
• Orientar a população na busca por atendimento médico logo nos primeiros sintomas;
Já quando se há tanto um alto risco como uma
forte reação emocional diante da percepção de • Esclarecer medidas de autocuidado;
tais riscos, caracteriza-se uma situação para a • Reforçar as ações e campanhas já realizadas em períodos não epidêmicos.
comunicação de crise. Segundo a explicação
apresentada pelo Centro de Prevenção e Controle
de Doenças dos Estados Unidos (REYNOLDS, 2014), Essas diretrizes orientam as atividades dos profissionais de comunicação que compõem essas frentes de
o termo comunicação de crise é normalmente atuação – assessoria de imprensa e publicidade –, mas destacando a ação conjunta com a área técnica
empregado em dois sentidos. O primeiro refere-se e os gestores, como vemos no quadro de atribuições a seguir (Quadro 3).
às atividades de comunicação de uma organização
que esteja enfrentando uma crise e precisa
estabelecer fluxos de informação efetivos com
seu público, parceiros e formadores de opinião. QUADRO 3 – ATRIBUIÇÕES DAS FRENTES DE ASSESSORIA DE IMPRENSA E PUBLICIDADE
O segundo engloba a resposta a emergências EM CENÁRIOS EPIDÊMICOS NO COMBATE ÀS ARBOVIROSES
em situações nas quais as comunidades de risco
Assessoria de imprensa Publicidade
precisam ser alertadas e orientadas sobre os
perigos que correm. Definição do porta-voz responsável pelo relacionamento com os públicos, em Veiculação de campanhas publicitárias, de acordo com o plano de
decisão conjunta com gestores e área técnica. comunicação estabelecido pelas esferas de gestão.
E o que há em comum em ambos? A noção de que,
em eventos inesperados e considerados perigosos, Acompanhamento de entrevistas cedidas pelo porta-voz, orientando-o.
é preciso uma resposta imediata, uma vez que Divulgação periódica de resultados do levantamento de índices de infestação do
tempo e precisão de informação são componentes vetor e casos registrados.
fundamentais para reduzir riscos e garantir o bem- Realização de coletivas de imprensa.
estar da população.
Atendimento às demandas dos veículos de comunicação.
A articulação entre comunicação de risco e Integração e participação em reuniões de grupo de monitoramento a fim de
crise consiste, assim, em uma estratégia na divulgar informações de qualidade e oportunas à população.
qual especialistas e comunicadores divulgam
informações que contribuem para uma tomada Divulgação de sintomas das arboviroses e dos serviços de saúde para atendimento
de decisão consciente dos envolvidos, sobretudo da população.
levando conta o imediatismo e as urgências que Divulgação periódica do cenário epidemiológico no estado, articulado com a
caracterizam essas situações (REYNOLDS, 2014). situação dos municípios.
Mas como isso se aplica em surtos de arboviroses? Divulgação periódica do cenário epidemiológico em bairros e nos municípios.
Fonte: adaptado de Brasil (2009).
Enfrentamento das Arboviroses | Unidade 6 - Comunicação para Vigilância e Controle das Arboviroses 283
Observe, trabalhador estudante, nas diretrizes sobre o escopo
das áreas de assessoria de imprensa e publicidade, o reforço
da divulgação e as atualizações constantes sobre o cenário
epidemiológico. Entre as atribuições que constam no Quadro
3, gostaria que nos detivéssemos um momento na figura
essencial da comunicação de crise: os porta-vozes. Você,
trabalhador estudante, reconhece exemplos de porta-vozes
em situações de crise? Podemos tomar como exemplo o papel
exercido pelo bombeiro Pedro Aihara no rompimento da
barragem de Brumadinho (MG) em janeiro de 2019. Na ocasião,
o tenente ficou conhecido como o “rosto da Corporação” no
relacionamento com a imprensa, ao realizar comunicados e
entrevistas. Relembre a atuação do porta-voz aqui. Em um evento de importância em saúde, os porta-vozes são responsáveis por atender
os diferentes públicos e comunicar-lhes as informações relevantes e precisas sobre a
Em uma situação de emergência em saúde pública, com um alto situação. Os fluxos de comunicação construídos como vias de mão dupla, em um aspecto
grau de perigo e uma grande reação emocional, esses atores são sempre dialógico, devem fortalecer a confiança da população nas estruturas de respostas
essenciais tanto para a definição de fluxos seguros de informação e ações empreendidas pelo sistema oficial de saúde, reduzir riscos e garantir a todos o
e a unificação de discursos como também para a construção de direito à informação. Assim sendo, porta-vozes devem estar preparados para responder
uma relação de confiança com as comunidades de risco. dúvidas e questionamentos variados, bem como para ouvir as preocupações e anseios das
Vimos que o desenvolvimento de habilidades relacionadas à comunidades de risco (REYNOLDS, 2014).
empatia e escuta ativa são importantes para aqueles que estão A escolha desses atores, como vimos nas Atribuições das Assessorias de Imprensa, é
responsáveis pelo relacionamento direto com a população, uma decisão tomada conjuntamente com a área técnica e os gestores, observando seu
atividade que você, trabalhador estudante, pode vir a exercer conhecimento sobre o evento, a confiança, a credibilidade e a empatia. Espera-se que tal
ou já exerce. Para além delas, você conseguiria reconhecer escolha, a preparação do porta-voz e o desenho de um plano de gestão de crise sejam
outras qualidades e competências necessárias aos porta-vozes realizados em uma etapa anterior ao surto, quando possível. Em suma, podemos elencar
em crises sanitárias, como epidemias de arboviroses? como princípios para uma boa atuação de porta-vozes (REYNOLDS, 2014):
Enfrentamento das Arboviroses | Unidade 6 - Comunicação para Vigilância e Controle das Arboviroses 284
A definição e orientação de porta- • As comunidades, em situações de incerteza sobre os riscos da doença e suas complicações, que precisam tanto
vozes é apenas uma das atividades de informações de qualidade sobre o que se sabe ou não até o momento quanto das ações pelas autoridades
da comunicação de crise. Para para buscar respostas baseadas em evidências científicas;
entendermos melhor a dimensão
• A divulgação periódica de informações de qualidade, precisas, acessíveis e baseadas em evidências científicas
dessas ações, vamos tomar
gera e fortalece a confiança da população nas ações e orientações dadas pelas autoridades em saúde. Para isso, é
como exemplos as orientações
importante que se considerem diferentes meios de comunicação para alcançar as comunidades de risco;
compartilhadas pela Organização
Mundial da Saúde e pela Organização • A importância de manter os veículos de comunicação e jornalistas constantemente atualizados sobre a evolução
Pan-Americana da Saúde (Figura da doença, assim como de sanar as dúvidas que possam ter. É essencial também orientar e treinar porta-vozes;
5) para uma comunicação de risco
• A coordenação de mensagens e unificação de discursos de modo a evitar confusões e gerar desconfiança;
eficaz relacionada ao zika vírus e
que compreendem ações macro que • O conhecimento e a caracterização das comunidades de risco levando em conta suas especificidades e
podem ser aplicadas em surtos de regionalidades na construção de mensagens-chave;
modo geral. Naquele cenário, foram • As comunidades, que devem ser o centro das ações de comunicação de risco na resposta a emergências em
elencados princípios norteadores saúde e, nessas situações, devem ser fortalecidas e encorajadas à mobilização social para a prevenção e combate
para a elaboração de um plano ao vetor;
de comunicação de risco, que
compreendem (PAN AMERICAN • A redução de rumores, o combate à desinformação e a reação desproporcional diante dos dados, que são
HEALTH ORGANIZATION, 2016a): objetivos da comunicação de risco;
• As recomendações, que podem ser modificadas a medida que se conhece mais sobre o comportamento do vírus
e sobre a doença, e isso precisa ser esclarecido e reforçado com a população;
• Criação de mecanismos e estratégias para campanhas de conscientização e mobilização social;
• A educação em saúde, que é um processo fundamental para a mudança de comportamentos e práticas. Nesse sentido,
é essencial o envolvimento de escolas e educadores, bem como de lideranças comunitárias.
Enfrentamento das Arboviroses | Unidade 6 - Comunicação para Vigilância e Controle das Arboviroses 285
Você deve estar pensando: como transformar tais princípios em ações a
serem executadas em meu território no caso de uma epidemia de uma ou
mais arboviroses? Compartilhamos aqui alguns exemplos de atividades que
você, trabalhador estudante, pode implementar de maneira coordenada em
emergências em saúde pública (PAN AMERICAN HEALTH ORGANIZATION,
2016a).
Enfrentamento das Arboviroses | Unidade 6 - Comunicação para Vigilância e Controle das Arboviroses 286
6.3 Comunicação de risco, educação em saúde
e mobilização social
Tratamos, até o momento, do papel da comunicação de risco no combate às
arboviroses tanto em cenários epidêmicos como não epidêmicos. Agora nosso
objetivo é identificar as potencialidades da comunicação de risco articulada aos
aspectos mobilizador e educativo.
Para isso, vamos nos aprofundar em pontos já abordados anteriormente,
como o engajamento comunitário e o entendimento de que as mudanças
de comportamentos, práticas e atitudes que a comunicação de risco almeja
fazem parte de um processo contínuo baseado, entre outros componentes,
na educação em saúde.
Enfrentamento das Arboviroses | Unidade 6 - Comunicação para Vigilância e Controle das Arboviroses 287
Focamos aqui no combate à dengue pelas Essas organizações, ao atuarem intersetorialmente, são recomendadas a (BRASIL, 2009):
orientações compartilhadas já nas referidas
• Orientar sua organização com base nas diretrizes da Política Nacional de Gestão
Diretrizes Nacionais para Prevenção e Controle
Estratégica e Participativa, aprovada pela Portaria nº 3.027/2007;
de Epidemias de Dengue (BRASIL, 2009), e que
também já estavam delineadas no Programa • Elaborar escopo de trabalho, baseado em evidências e dados entomológicos e
Nacional de Combate à Dengue instituído em epidemiológicos, de mobilização e conscientização social;
2002, especificamente do sexto componente
• Alinhar fluxos de trabalho para acompanhar e avaliar as atividades de mobilização;
que dispõe as ações integradas de educação
em saúde, comunicação e mobilização social. O • Definir o cronograma de trabalho e o escopo da equipe e dos parceiros do comitê;
documento orienta sobre a elaboração, em todos • Promover materiais informativos de prevenção de combate à dengue articulados à
os municípios, de programas de educação em realidade da comunidade a ser engajada e à linguagem adaptada a ela, levando em
saúde e mobilização social, com ações que, entre conta e apoiando manifestações culturais e artísticas que podem ser articuladas na
outros pontos, fomentem tanto a participação comunicação e mobilização;
popular na fiscalização de atividades e medidas
de prevenção e combate ao Aedes aegypti como • Desenvolver parcerias e articulações com conselhos de saúde.
também a constituição de comitês de mobilização Você conhece as ações dos comitês de sua cidade ou estado? Se conhece, deve ter
com a participação de diferentes setores da observado na intersetorialidade as atividades e as vozes de diferentes setores que se
sociedade. organizam para o combate à dengue. Se não, convidamos você a buscar na Secretaria
Antes de adentrarmos especificamente nas Municipal ou Estadual pelo Comitê de sua cidade ou que atue em sua região.
questões relacionadas à mobilização, vamos nos
ater um pouco mais na perspectiva intersetorial
que sustenta uma perspectiva mais ampla de
saúde pública.
Ainda tomando como exemplos as estratégias de
combate à dengue, a intersetorialidade é premissa
das ações de comunicação e mobilização social
promovidas pelo Ministério da Saúde e pelas
Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde Saiba mais
(BRASIL, 2009), que vão desde a qualificação
Conheça pesquisas que avaliam as ações intersetoriais de Comitês de
de ouvidorias, colaboração na realização de
Mobilização:
oficinas e encontros formativos até ao apoio na
implantação de comitês de mobilização estaduais CANÇADO, M. S. M. et al. A intersetorialidade no plano de vigilância em
e/ou municipais para o controle da dengue. saúde: um desafio nas ações de prevenção da dengue. CIAIQ2016, v. 2, 2016.
Disponível em: www.proceedings.ciaiq.org/index.php/ciaiq2016/article/
Esses comitês, conforme disposto nas Diretrizes
view/1083. Acesso em: 11 out. 2021.
(BRASIL, 2009), são frutos de iniciativas das
gestões estaduais e municipais do Sistema Único CHAVES, S. C. L.; SILVA, G. A. P. da; ROSSI, T. R. A. Avaliabilidade do Projeto de
de Saúde e devem articular diferentes frentes do Mobilização Social para Prevenção e Controle da Dengue no Estado da Bahia.
governo e outros setores da sociedade, como Saúde em Debate, v. 41, p. 138-155, 2017. Disponível em: www.scielo.br/j/sdeb/a/
lideranças comunitárias, empresas privadas e a gRtpScTYVmYjKptK7LSDczF/abstract/?lang=pt. Acesso em: 11 out. 2021.
sociedade civil organizada.
Enfrentamento das Arboviroses | Unidade 6 - Comunicação para Vigilância e Controle das Arboviroses 288
6.3.1 Mobilização social e engajamento comunitário
O envolvimento e a participação da comunidade nas estratégias
de comunicação de risco estruturam-se como um movimento
contínuo de construção de um relacionamento entre as partes
em torno de uma visão coletiva e em benefício do grupo. Um
relacionamento que você pode construir e fortalecer suas ações
cotidianas de comunicação de risco. Isto possibilita estabelecer Interessa aqui a compreensão da comunicação não como uma ferramenta
a mobilização social como eixo condutor do engajamento para a simples transmissão efetiva de mensagens, mas como processos que
comunitário na comunicação de risco para o combate às envolvem a construção e a produção de sentidos que são criados e recriados
arboviroses. Mobilizar significa “[...] convocar voluntários a um em interações simbólicas diversas e em contextos específicos. As estratégias
propósito, com interpretações e sentidos compartilhados” (TORO; para o engajamento comunitário na comunicação de riscos requerem, muitas
WERNECK, 1996, p. 26). vezes, a articulação de diferentes níveis comunicacionais: o uso da publicidade
Na definição de Bernardo Toro e Nísia Werneck (1996), destaca-se televisiva de massa para a adoção de determinado comportamento
a ideia de que, por ser direcionada a um propósito, a mobilização da população em geral, campanhas direcionadas para profissionais de
social envolve um ato de precisão e de necessidade: ela não saúde e iniciativas comunicacionais locais, feitas, por exemplo, para e pela
se concretiza nem se efetiva em torno de algo vago. E, por comunidade, empregando uma linguagem acessível com base na realidade
ser preciso, esse propósito necessita de uma convocação, do de seus interlocutores. Nesse conjunto de ações, há um papel que deve ser
compartilhamento de percepções e da partilha de um imaginário levado em conta: o dos reeditores. Para Toro e Werneck (1996), a comunicação
comum, o que coloca a comunicação como um aspecto intrínseco na sociedade se organiza em torno dessas pessoas que podem
à mobilização. Em situações de surto, esse imaginário comum aos
[...] negar, transformar, introduzir ou criar sentidos frente ao
diversos grupos se orienta para a resolução e a superação da crise seu público. Esse é o poder do reeditor. Podemos dizer todas
sanitária, por exemplo, a eliminação de vetores das arboviroses. as mensagens que desejamos, mas a pessoa acabará aceitando
apenas a mensagem que lhe está sendo interpretada pelo
reeditor. Se o reeditor lhe diz: “isso não é importante”, isso
não será importante. Se o reeditor lhe diz: ‘veja bem, esse
assunto deve ser entendido dessa maneira’, a pessoa será
capaz de moldar-se, reformular seu arcabouço perceptivo para
interpretar determinado assunto de maneira precisa (TORO,
1996, p. 32-33, grifos do autor).
Tomando por base a comunidade na qual está inserido, você seria capaz de reconhecer reeditores e o papel que exercem
nesse processo de conscientização da população, por exemplo, no combate ao Aedes aegypti? Podem ser lideranças
comunitárias, agentes comunitários de saúde, líderes religiosos, professores e até influenciadores digitais.
Por serem capazes de persuadir grupos nos quais estão inseridos, modificando formas de pensar e atuar, reeditores são
agentes-chave para o engajamento comunitário. Cabe, no planejamento das ações de comunicação de risco, identificar
quais reeditores são estratégicos para determinada situação e como alcançá-los e instrumentalizá-los.
Veremos, a seguir, como trabalhar com a comunidade e como conhecer o público para construir estratégias eficazes de
comunicação de risco.
Enfrentamento das Arboviroses | Unidade 6 - Comunicação para Vigilância e Controle das Arboviroses 289
6.4 Construindo estratégias de comunicação
de risco no combate às arboviroses
Para que você possa compreender como construir ações eficazes de
comunicação de risco no combate às arboviroses, vamos abordar nesta
seção três diretrizes gerais: estabelecer o resultado da comunicação, definir e • Ser estabelecido de acordo com o ponto de vista do público;
caracterizar os públicos e elaborar mensagens-chave. • Ter clara a mudança desejada;
Vamos começar? • Ter um espaço de tempo definido para a atuação;
Quando trabalhamos com a comunicação de risco, trabalhamos com a adoção • Ser possível de ser alcançado.
de comportamento e atitudes das comunidades de risco que possam garantir
o seu bem-estar diante da situação de emergência em saúde pública. Dessa O desenvolvimento do SOCO é estruturado em quatro
forma, você precisa ter clara qual é a mudança que pretende vislumbrar a questionamentos, que são:
partir da conscientização e mobilização social. 1. Qual é o tema ou o ponto central?
Para isso, temos de desenvolver o resultado primordial da comunicação – ou 2. Por que centrar-se nesse tema neste momento?
SOCO, acrônimo da expressão em inglês Single Overaching Communication Outcome.
Esse resultado consiste na mudança que você deseja vislumbrar no seu público 3. Qual é o público que precisa mudar de comportamento?
como fruto das ações de comunicação que são realizadas. É importante ter claro 4. Qual é a mudança nesse público que se quer alcançar como
que o SOCO, como resultado, deve (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2015): resultado da comunicação?
Vamos pensar o resultado QUADRO 4 – EXEMPLO DO DESENVOLVIMENTO DO RESULTADO GLOBAL ÚNICO DA COMUNICAÇÃO
primordial da comunicação
tomando como exemplo o Qual é o tema? Combate ao mosquito Aedes aegypti
combate do Aedes aegypti Por que trabalhar com esse A época de sazonalidade das arboviroses, entre janeiro e junho (semanas epidemiológicas 01 a 26) é quando há
em uma perspectiva mais tema neste momento? maior proliferação do mosquito Aedes aegypti e incidência de casos, ainda que as medidas preventivas devam
abrangente? (Quadro 4). ser tomadas durante todo ano.
Já há uma década, o bairro Roseirinha é a área com maior registro de casos de dengue no município de Jardineira,
sendo necessário o reforço das ações de comunicação de risco com a população local antes do período mais
crítico de proliferação.
O combate ao vetor é uma ação coletiva, que deve mobilizar diferentes setores da sociedade e a participação
ativa da população. Assim, os indivíduos devem agir no controle da doença eliminando potenciais criadouros e
os já existentes, especialmente no decorrer da época de sazonalidade das arboviroses.
Qual é o público que precisa Público 01: Lideranças comunitáias
mudar de comportamento?
Público 02: População do bairro
Qual é a mudança nesse Público 01: Que os líderes comunitários se sintam convencidos da importância de mobilizar a população local
público que se quer para as ações de prevenção e o controle do Aedes aegypti.
alcançar como resultado da
Público 02: Que a população do bairro esteja mobilizada a agir no controle da dengue eliminando criadouros existentes
comunicação?
e possíveis locais de reprodução do vetor durante o período em que há maior proliferação do mosquito.
Fonte: elaboração da autora.
Enfrentamento das Arboviroses | Unidade 6 - Comunicação para Vigilância e Controle das Arboviroses 290
Note que neste exemplo trouxemos FIGURA 6 – ANÁLISE DO PÚBLICO-ALVO PARA ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO DE RISCO
dois diferentes grupos para os quais
as ações de comunicação de risco
Muito ativos
são voltadas buscando as mudanças
de seus comportamentos: as
Obstrutores Defensores
lideranças comunitárias, que podem
(resistência ativa) (apoio ativo)
ENERGIA INVESTIDA
aqui ser entendidas como reeditores,
e a população do bairro. Por isso,
conhecer e analisar seu público-
alvo são etapas fundamentais
para a efetividade das estratégias
construídas e é sobre esta diretriz
que vamos nos centrar neste
Evasores Promotores silenciosos
momento. Isso porque precisamos
(resistência passiva) (apoio passivo)
entender a realidade, suas crenças,
Sem ação
valores, conhecimento e a própria
percepção de risco dessas partes
interessadas, a fim de que possamos
Discordam do INTERESSE COMUM Concordam com
tanto identificar possíveis barreiras
à circulação da informação como resultado o resultado
fortalecer a adesão. Fonte: adaptado de World Health Organization (2015).
A Organização Mundial da Saúde Vejamos, então, quais são os passos para a análise de público que permitirão a você desenvolver estratégias e
(WORLD HEALTH ORGANIZATION, mensagens mais efetivas.
2015) sistematizou uma série de
etapas para a análise de público QUADRO 5 – PASSOS PARA A ANÁLISE DE PÚBLICO”
que, ao fim, permite-nos identificá-
Passo 1: Retomar as partes interessadas (públicos);
los em quatro grandes grupos a
depender da energia investida e do Passo 2: Escrever o resultado primordial da comunicação junto à matriz, de modo que possa identificá-lo e retomá-lo com facilidade;
posicionamento diante do resultado Passo 3: Analisar o eixo horizontal (interesse comum) considerando quais são as partes interessadas que apoiam e discordam do seu resultado
primordial da comunicação. São primordial da comunicação;
eles: obstrutores, defensores, Passo 4: Analisar o eixo vertical (energia investida);
evasores e promotores silenciosos,
conforme matriz (Figura 6): Passo 5: Identificar e anotar cada grupo ou pessoa que possa influenciar a obtenção do seu resultado primordial de comunicação, a exemplo dos
reeditores, formadores de opinião e influenciadores;
Passo 6: Entender e reconhecer as relações dinâmicas de mudança de posição e de influência de cada grupo e indivíduo;
Passo 7: Decidir quais pessoas e grupos são os melhores “alvos” para que você alcance seu resultado primordial de comunicação, considerando o
que precisa ser feito e quando;
Passo 8: Pensar nos anseios, necessidades, dúvidas e preocupações de cada indivíduo ou grupo “alvo”. Busque responder a essas perguntas, que o ajudarão
no desenho das estratégias de comunicação: Como mobilizá-los? Qual linguagem e nível de complexidade devem ser utilizados nas mensagens que serão
veiculadas? Quais são os melhores canais para que a informação chegue a eles? Como produzir mensagens que cativem esses públicos?
Passo 9: Rever a análise de público periodicamente e sempre que a situação mude.
Fonte: adaptado de World Health Organization (2015).
Enfrentamento das Arboviroses | Unidade 6 - Comunicação para Vigilância e Controle das Arboviroses 291
Uma dúvida que pode surgir nesse momento do desenvolvimento das estratégias
de comunicação reside, justamente, em como conhecer as comunidades de risco
a fim de que se possa compreender ou, ao menos, vislumbrar seu posicionamento
diante do resultado que se pretende. Já abordamos, no momento da avaliação
da percepção de risco, método e exercício para uma identificação desse ponto.
Mas há outras indicações de métodos, sobretudo oriundos das Ciências Sociais,
para avaliação de percepções e necessidades, tais como discussão em grupo,
comunicação interpessoal, entrevistas, monitoramento de redes sociais e veículos
de comunicação tradicionais, e mapeamento de influenciadores e formadores de
opinião (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2016).
Outro exemplo de método de análise de público, são os questionários de
Conhecimento, Atitudes e Práticas (CAP) – KAP survey – ferramenta empregada
pela OMS em suas pesquisas. A Organização desenvolveu um pacote de recursos
para a coleta de dados sobre zika e potenciais complicações com a finalidade
de contribuir para o desenvolvimento de estratégias de resposta, incluindo a
comunicação de risco, em comunidades de risco. O banco de questões aborda,
entre outros temas, a comunicação e informação. Saiba mais sobre o inquérito em:
www.rets.epsjv.fiocruz.br/sites/default/files/arquivos/biblioteca/port_0.pdf.
Saiba mais
Um exemplo de aplicação dos inquéritos de Conhecimento, Atitudes e Práticas
foi a pesquisa realizada sobre a dengue em uma comunidade no município de
Cabo de Santo Agostinho (PE). O estudo, de autoria de Solange Laurentino
dos Santos, Ana Catarina dos Santos Pereira Cabral e Lia Giraldo da Silva
Augusto, identificou o conhecimento, as atitudes e as práticas dos moradores
de Santa Rosa acerca da transmissão da doença, prevenção e controle, bem
como sobre a participação da comunidade no combate ao vetor. Você pode
saber mais sobre a pesquisa, seu método e resultado no artigo: SANTOS,
Solange Laurentino dos; CABRAL, Ana Catarina dos Santos Pereira; AUGUSTO,
Lia Giraldo da Silva. Conhecimento, atitude e prática sobre dengue, seu vetor
e ações de controle em uma comunidade urbana do Nordeste. Ciênc. Saúde
Coletiva, v. 16, p. 1319-1330, 2011. Disponível em: www.scielosp.org/article/
csc/2011.v16suppl1/1319-1330/#top. Acesso em: 11 out. 2021.
Enfrentamento das Arboviroses | Unidade 6 - Comunicação para Vigilância e Controle das Arboviroses 292
Com a análise do público é QUADRO 5 – ESTRATÉGIAS GERAIS DE COMUNICAÇÃO DE ACORDO COM A ANÁLISE DO PÚBLICO
possível delinear atividades gerais
da comunicação (Quadro 5). Interesse Energia Estratégias de comunicação
Nesse sentido, é necessário que comum investida
você também leve em conta as Defensores Sim Apoio público e • Dar informação;
estratégias de comunicação de risco ostensivo
• Valorizar sua contribuição;
abordadas anteriormente tanto
em cenários epidêmicos como não • Permitir que defendam sua causa.
epidêmicos: a comunicação de Promotores silenciosos Sim Apoio silencioso • Educar, apoiar, informar e motivar;
crise, a sensibilização preventiva, o
relacionamento com atores-chave e • Obter apoio de defensores que admiram de modo a incentivá-los.
o gerenciamento da indignação. Evasores Não Oposição • Informar ou ignorar (a depender da situação);
silenciosa
• Buscar influenciá-los por meio da atuação dos defensores.
Bloqueadores Não Oposição pública • Ignorar, caso não sejam influentes;
e ostensiva
• Confrontar, caso sejam bastante influentes;
• Argumentar amparado por evidências científicas;
• Monitorar as informações que divulgam e seus apoiadores.
Fonte: adaptado de World Health Organization (2015).
Note que, para diferentes perfis, que levam em conta não apenas o posicionamento, mas a GLOSSÁRIO
força de atuação desses indivíduos, ou seja, a energia investida, diferentes estratégias podem
Release: é um material informativo
ser desenvolvidas visando tanto reforçar a adesão quanto compreender e minimizar o impacto
distribuído aos jornalistas e veículos de
dos opositores.
comunicação. No caso de emergências em
Por fim, com o resultado primordial da comunicação estabelecido, o público analisado e as saúde pública, os releases se caracterizam
estratégias delineadas, você, já reconhecendo as estratégias de comunicação de risco e o seu como comunicados sobre a situação, o
papel nessas atividades, pode criar as mensagens-chave que serão os pontos centrais dos andamento das ações e o compartilhamento
produtos de comunicação de risco a serem desenvolvidas. Nesse sentido, é importante que de informações e dados importantes sobre o
tenha em mente os 7 Cs da comunicação (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2015). cenário epidemiológico, além de orientações
à população. É importante que, ao final do
O primeiro deles consiste em chamar a atenção abordando de imediato o ponto central e utilizando
comunicado, haja direcionamento para
argumentos em formatos multissensoriais baseados sempre em evidências científicas. O segundo é
contatos se os jornalistas precisarem de mais
clarificar a mensagem, ou seja, esclarecer aquilo que está sendo abordado a fim de que se evitem
informações ou explicações. Nesses casos, o
dúvidas. O terceiro é comunicar um benefício explicitando os efeitos positivos para o público. O
release é enviado diariamente em horários
quarto trata de ser consistente a fim de fortalecer a confiança do público. Considerar as coisas do
que estejam alinhados com o fechamento
coração e da cabeça é o quinto ponto e se volta à importância de reconhecermos as necessidades
das edições dos jornais e programas.
e reações emocionais do público. O sexto reflete sobre criar confiança, especialmente em cenários
de incerteza, como surtos. E, por fim, chamar para a ação, uma vez que a comunicação em saúde
deve convocar o público a realizar uma ação.
Enfrentamento das Arboviroses | Unidade 6 - Comunicação para Vigilância e Controle das Arboviroses 293
ENCERRAMENTO DA UNIDADE
Caro trabalhador estudante, ao longo das últimas páginas percorremos pontos centrais para o desenvolvimento
de competências e habilidades comunicacionais na especificidade da vigilância em saúde e com o objetivo
principal de compreender o papel da comunicação de risco no combate às arboviroses. Perpassamos as principais
estratégias da comunicação de risco, tanto em cenários epidêmicos como não epidêmicos, pela articulação entre
comunicação, educação em saúde e mobilização social, além de identificar diretrizes para o desenvolvimento de
ações comunicacionais levando em conta três aspectos fundamentais: o resultado primordial da comunicação, a
análise de público e as mensagens-chave.
Enfrentamento das Arboviroses | Unidade 6 - Comunicação para Vigilância e Controle das Arboviroses 294
REFERÊNCIAS
Enfrentamento das Arboviroses | Unidade 6 - Comunicação para Vigilância e Controle das Arboviroses 295
Indicamos quatro referências bibliográficas que mencionam aspectos gerais e importantes referentes ao conteúdo trabalhado nesta unidade.
1) BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Diretrizes nacionais para prevenção e controle de epidemias
de dengue. Brasília, 2009. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_nacionais_prevencao_controle_dengue.pdf. Acesso em: 15 jul. 2021.
2) REYNOLDS, Barbara et al. Crisis + Emergency Risk Communication. Atlanta: CDC, 2014. Disponível em: https://emergency.cdc.gov/cerc/ppt/cerc_2014edition_Copy.pdf.
Acesso em: 15 jul. 2021.
3) WORLD HEALTH ORGANIZATION. Comunicação de riscos em emergências de saúde pública: um guia da OMS para políticas e práticas em comunicação de risco de
emergência. Geneva, 2018. Disponível em: http://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/259807/9789248550201-por.pdf?ua=1. Acesso em: 17 jul. 2021.
4) ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Comunicação de riscos no contexto do vírus Zika: orientações provisórias. Genebra, 2016. Disponível em: http://apps.who.int/iris/
bitstream/handle/10665/204513/WHO_ZIKV_RCCE_16.1_por.pdf?sequence=5. Acesso em: 15 jul. 2021.
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MINICURRÍCULO DO AUTOR
Enfrentamento das Arboviroses | Unidade 6 - Comunicação para Vigilância e Controle das Arboviroses 297
Programa Educacional em Vigilância e Cuidado em Saúde
no Enfrentamento da COVID-19 e de outras doenças virais
Unidade 7
A operacionalização da integralidade do cuidado requer, necessariamente, a revisão dos processos de trabalho buscando-se integrar tanto
os vários atores envolvidos nos diversos níveis de atenção à saúde quanto os envolvidos nas medidas de prevenção e controle de doença e
em fatores determinantes e condicionantes do adoecimento. É como uma engrenagem que funciona de forma harmônica e complementar,
envolvendo as diversas nuances do cuidado integral.
Nesta unidade, iremos percorrer caminhos para que, no âmbito do enfrentamento das arboviroses, possamos compreender como esses
atores devem ter processos de trabalho integrados e serem corresponsáveis pelas ações que antecedem ao adoecimento, ou seja, de
promoção, prevenção e proteção à saúde, até a assistência direta ao usuário com arbovirose e as atividades de vigilância em saúde que
impactarão no controle e redução de casos.
Vamos juntos nesse estudo?
O foco da discussão desta unidade é o processo de trabalho da equipe de Saúde da Família (SF) no contexto da
implementação do Sistema Único de Saúde (SUS) e da reorganização da Atenção Primária à Saúde (APS), tendo como
base a Estratégia de Saúde da Família (ESF) para as ações de enfrentamento das arboviroses. Desta forma, o nosso
cenário é o SUS e os atores principais são os profissionais que atuam na APS e Vigilância em Saúde.
Esperamos, a partir dos textos elaborados, proporcionar uma reflexão crítica sobre
a organização do trabalho das equipes da APS no enfrentamento das arboviroses
e fornecer elementos para possível aprimoramento no processo de trabalho. A
expectativa é de que esta unidade possa contribuir para a consolidação de uma
mudança real do modelo assistencial em conformidade com os princípios e as
diretrizes do SUS.
Iniciamos esta reflexão com a afirmação de que nossa atuação se faz com base em
modelos, ou seja, nosso modo de agir é sempre orientado por algumas concepções
do que deve ser e do que não deve ser, nos diferentes âmbitos e realidades.
Quando falamos em processo de trabalho, estamos nos referindo, necessariamente,
No caso do setor Saúde, surgem, cotidianamente, situações de muita aos objetivos do trabalho, dos sujeitos que atuam, do objeto da ação e dos
complexidade, envolvendo uma diversidade de relações e com alta pressão meios disponíveis e utilizados na execução da ação. Para entender e transformar
por resultados. Lidar com as demandas e necessidades de indivíduos, famílias e nosso processo de trabalho de modo a torná-lo mais eficiente e eficaz, devemos
comunidades requer, entre outras coisas, instrumentos também complexos, para considerar esses elementos e suas especificidades. Com relação aos objetivos
que façamos intervenções e avaliações adequadas. Portanto, a estruturação das das ações, temos de nos perguntar: Como foram definidos, por quem e por quê?
atividades de vigilância e assistência das arboviroses em processos de trabalho Beneficiam a quem? Quais são suas consequências e desdobramentos e a quem
bem estabelecidos será um instrumento valoroso para superar um cenário tão prejudicam? Será que, no nosso dia a dia, temos clareza dos objetivos de todas as
adverso de atuação profissional. ações que realizamos?
O conceito processo de trabalho em saúde diz respeito à dimensão microscópica
do cotidiano do trabalho em saúde, ou seja, à prática dos trabalhadores/profissionais
de saúde inseridos no dia a dia da produção e do consumo de serviços de saúde.
Contudo, é necessário compreender que, neste processo de trabalho cotidiano,
está reproduzida toda a dinâmica do trabalho humano, o que torna necessário
introduzir alguns aspectos centrais do trabalho que é a grande categoria de análise
da qual deriva o conceito de processos de trabalho em saúde.
FIGURA 2 – DIAGRAMA DE CONTROLE DOS CASOS PROVÁVEIS DE ARBOVIROSES CONSIDERANDO OS ANOS DE 2011 A 2020 E A OCORRÊNCIA EM 2021
LEGENDA:
Linha vermelha (limite superior): indica o número máximo de casos esperados por SE.
Linha amarela (média móvel): indica o número médio de casos esperados por SE e forma
o canal endêmico junto com a linha do limite superior.
Linha pontilhada preta (incidência): indica o comportamento da transmissão da dengue
no período observado, podendo sinalizar para os seguintes cenários:
Cenário I: quando a incidência (linha pontilhada preta) se posicionar acima do limite
superior (linha vermelha) indica transmissão em nível epidêmico;
Cenário II: quando a linha da incidência (linha pontilhada preta) se posicionar entre o
limite superior (linha vermelha) e a média móvel (linha amarela), indica transmissão da
doença dentro do padrão endêmico do estado;
Cenário III: quando a linha da incidência (linha pontilhada preta) se posicionar abaixo da
média móvel (linha amarela), indica período de baixa transmissão.
A - Cenário não epidêmico: situação registrada da 1ª a 6ª e a partir da 24ª SE, nas quais a
ocorrência está com padrão de transmissão do nível endêmico calculado pelo número de
casos esperados para cada semana, com base na média dos anos anteriores do estado.
B - Cenário epidêmico: situação observada entre a 7ª e 24ª SE, nas quais os números
de casos registrados ultrapassam o limite máximo esperado para o período. Incidência
máxima nas SE 16ª e 20ª ocorre quando o patamar de 34 casos para cada 100 mil
habitantes foi atingido.
Os dados representados na linha da incidência relativa ao ano 2021 (linha pontilhada
preta) são referentes ao número de casos prováveis.
7.2.3.3 Vigilância epidemiológica e laboratorial de arboviroses, pois a confirmação da maioria dos casos será feita pelo critério
clínico-epidemiológico, após a confirmação laboratorial da circulação viral na
• Fazer notificações de todos os casos suspeitos de arborviroses semanalmente,
área. Em geral, tem-se estabelecido a coleta de amostra de sangue de um a
de acordo com o fluxo estabelecido para o município e para o estado;
cada dez pacientes (10%) com suspeita de arboviroses;
• Reduzir gradativamente a investigação dos casos de acordo com a situação
• Realizar monitoramento viral conforme rotina estabelecida pela vigilância
epidemiológica da localidade e da capacidade da vigilância;
epidemiológica estadual e pelo laboratório;
• Incluir os casos suspeitos no SINAN em até sete dias e encerrar os casos em
• Em casos de óbitos suspeitos por arboviroses, que não foi possível determinar
até 60 dias;
a causa e/ou na impossibilidade de exames confirmatórios, recomenda-se
• Manter a digitação de todas as fichas de notificação do SINAN. Na digitação encaminhar ao Setor de Verificação de Óbitos (SVO) para esclarecimento da
das fichas de investigação deverão ser priorizados os casos graves e óbitos em causa mortis;
relação aos demais casos;
• Reorganizar o fluxo de informação, para garantir o acompanhamento da
• Investigar imediatamente os óbitos notificados para identificação e correção curva epidêmica; analisar a distribuição espacial dos casos, a fim de orientar nas
dos seus fatores determinantes; medidas de controle; acompanhar os indicadores epidemiológicos (incidência
• Investigar e colher amostras laboratoriais de 100% dos casos graves, e letalidade), para conhecer a magnitude da epidemia e a qualidade da
manifestações atípicas e óbitos, e encaminhar imediatamente ao laboratório assistência à saúde;
de referência para confirmação laboratorial; • Elaborar/acionar o plano de contingência;
• Realizar a sorologia em apenas uma amostragem dos pacientes com suspeita • Elaborar boletim informativo sobre a situação da doença e medidas adotadas.
Para tanto, a assistência dos usuários com suspeição diagnóstica de dengue, Na rede de assistência, a APS é a porta de entrada preferencial do SUS e deve estar
zika ou chikungunya deve estar inserida em um conjunto de medidas preparada para o acolhimento e atendimento dos casos agudos mesmo fora de
organizativas e de capacitação, que deve ser aplicado em cada unidade de situações de epidemia. Numa situação de epidemia, devem-se avaliar estratégias
saúde e se resume nas seguintes ações estratégicas: que possibilitem a ampliação do acesso às Unidades Básicas de Saúde (UBSs) como
unidades da ESF, postos e centros de saúde, principalmente aqueles localizados
em áreas de existência ou previsão de maior incidência de arboviroses. A avaliação
do número de unidades necessárias e a localização devem estar de acordo com a
realidade da região e situação de risco.
Para esses usuários, devem sempre ser solicitados exames inespecíficos como o hemograma simplificado de urgência. A
hidratação oral é recomendada. Devem ser programados retornos diários dos usuários para reavaliação clínica completa
(incluindo aferição de PA em duas posições) e laboratorial (hemograma) até 48 horas após o final da febre. Caso seja
identificado algum sinal de alarme, deve ser feita a reclassificação desse usuário para o terceiro grupo ou grupo C.
Os usuários poderão receber alta do acompanhamento ao apresentarem hematócrito normal e estável, e ausência de
febre; estarem hemodinamicamente estável por 48 horas e apresentarem melhora clínica; e terem plaquetas acima de
50.000 e em ascensão. Os usuários idosos, mesmo que hígidos, têm maior risco para agravamento de qualquer arbovirose.
Os usuários do grupo B também podem ser acompanhados em unidades de menor complexidade, como Unidades
Básicas de Saúde da Atenção Primária e Estratégia Saúde da Família.
Segundo o Ministério da Saúde, a hidratação oral para grupo A e grupo B deve ser iniciada ainda na sala de espera,
considerando, para adultos, o volume de 60 ml/kg/dia; para crianças de até 10 kg, o volume de 130 ml/kg/dia; para
crianças de 10 a 20 kg, o volume de 100 ml/kg/dia; e para crianças acima de 20 kg, o volume de 80 ml/kg/dia. Deve-se
orientar pelo menos 1/3 da hidratação com soro de reidratação oral e para 2/3 da hidratação com a ingestão de outros
líquidos. A hidratação deve ser bem orientada e fracionada para facilitar a adesão ao esquema, que deve ser mantido de
24 a 48 horas após a diminuição da febre.
As alterações hemodinâmicas podem ser configuradas por hipotensão postural, ou seja, pressão arterial aferida na posição
deitada com divergência de > 20mmHg, se comparada a pressão arterial aferida em pé. Já a hipotensão em adultos é
considerada ao ser constatada uma pressão arterial sistólica < 90 mmHg. A pressão arterial convergente caracteriza-se
pela diferença < 20 mmHg entre a pressão arterial sistólica e a pressão arterial diastólica.
Os parâmetros de hemoconcentração são hematócritos aumentados em mais de 10% acima do valor basal. Na ausência
dele, adotar as seguintes faixas de valores: crianças maiores de 10 anos > 42%; mulheres > 44%; homens > 50%; e usuários
maiores de 65 anos > 47%.
QUADRO 1 – MANEJO DOS CASOS, SEGUNDO A CARACTERÍSTICA DOS TRÊS NÍVEIS DE ATENÇÃO
(PRIMÁRIA, SECUNDÁRIA E TERCIÁRIA)
Atenção Primária Atenção Secundária Atenção Terciária
• Classificação de risco; • Classificação de risco; • Classificação de risco;
• Tratamento do Grupo A: hidratação • Tratamento do Grupo B: hidratação • Tratamento dos Grupos C e D:
oral, antitérmico e analgésico; oral ou venosa, se necessário; hidratação venosa imediata;
• Encaminhamento; • Encaminhamento de usuários dos • Realização de hemograma com
Grupos C e D após atendimento; contagem de plaquetas;
• Acompanhamento;
• Verificação e preenchimento do • Realização de outros exames que forem
• Notificação;
cartão de acompanhamento; necessários;
• Investigação;
• Notificação; • Provimento de leitos de UTI, se
• Preenchimento do cartão de necessário;
• Orientação aos familiares;
acompanhamento;
• Encaminhamento de usuários dos
• Solicitação ou agendamento dos
• Orientação aos familiares quanto aos Grupos A e B após atendimento;
exames específicos;
sinais de alarme;
• Verificação e preenchimento do cartão
• Realização de hemograma com
• Tratamento do Grupo B se houver de acompanhamento;
contagem de plaquetas;
condições de suporte para observação
• Notificação;
por 24 horas; • Encaminhamento à Atenção Primária
ou Terciária após atendimento. • Encaminhamento à Atenção Primária
• Atendimento nos finais de semana e
após alta hospitalar.
feriados por 12 horas nas epidemias;
• Solicitação ou agendamento de
exames específicos;
• Provimento da realização dos exames
inespecíficos para o Grupo A especial.
Fonte: elaboração da autora.
A confirmação da infecção pelo vírus zika ou a presença de microcefalia no concepto não são
indicações para parto cesariana, devendo-se indicar o parto normal e proporcionar condições
para o parto humanizado, de acordo com as diretrizes vigentes. Todos os bebês com confirmação
de microcefalia devem manter as consultas de Puericultura na APS e ser encaminhados para
estimulação precoce com fisioterapeuta, objetivando reduzir o atraso do desenvolvimento
neuropsicomotor (DNPM). Algumas crianças poderão apresentar dificuldade de sucção e de
coordenação sucção/deglutição.
Fonte: flickr.com Dessa forma, todo caso de arbovirose, ainda durante a suspeição, deve ser notificado no momento
da consulta que normalmente acontece na APS. Essa ação permite que medidas oportunas de
prevenção e controle do adoecimento sejam instauradas pelas equipes de vigilância em saúde.
Saiba mais
Seguem sugestões de cursos EAD sobre manejo clínico dessas arboviroses:
Dengue: Casos Clínicos para Atualização do Manejo (UNA-SUS) www.unasus.gov.br/cursos/curso/45291;
Diagnóstico y manejo clínico del dengue (2020) (OPAS) www.campusvirtualsp.org/es/node/28968;
Atualização do Manejo Clínico da Pessoa com Chikungunya (UNA-SUS) www.unasus.gov.br/cursos/curso/45393;
Zika: Abordagem Clínica na Atenção Básica (UNA-SUS) www.unasus.gov.br/cursos/curso/45516.
Fonte: flickr.com
Além dos usuários que estão nos Grupos C e D,
há outros casos em que o clínico pode indicar a
internação hospitalar. Veja novamente quais são os
E assim são possíveis quatro grupos de usuários: A, B, critérios de indicação para internação hospitalar:
C e D, sendo o usuário A menos grave e o usuário D
gravíssimo, norteando a necessidade de cuidados de
saúde menos ou mais complexos. Entenderemos o fluxo • Presença de sinais de alarme ou de choque, sangramento grave ou
de encaminhamentos a seguir. comprometimento grave de órgão (grupos C e D);
A partir daí, é importante conhecer o fluxo de • Recusa a ingestão de alimentos e líquidos;
encaminhamento desses usuários, caso tenham uma piora
do quadro clínico ou já estejam em condição crítica no • Comprometimento respiratório: dor torácica, dificuldade respiratória,
momento da chegada à unidade de saúde. diminuição do murmúrio vesicular ou outros sinais de gravidade;
Então, esse usuário deverá ser encaminhado e regulado • Impossibilidade de seguimento ou retorno à unidade de saúde;
dentro de uma fila de mais usuários que também • Comorbidades descompensadas como diabetes mellitus, hipertensão
necessitam de cuidados intensivos. Como fluxo reverso, arterial, insuficiência cardíaca, uso de dicumarínicos, crise asmática, etc.;
deve-se ainda desenhar o acompanhamento pós-alta,
retornando a informação de alta para a unidade da APS de • Outras situações à critério clínico.
referência do bairro dos usuários.
Saiba mais
Para saber mais sobre o Sistema Nacional de Regulação, veja o documento Regulação em saúde e promoção
da equidade: o Sistema Nacional de Regulação e o acesso à assistência em um município de grande porte
(PEITER; LANZONI; OLIVEIRA, 2016):
https://www.scielo.br/j/sdeb/a/qv9rMq4S3MvHP9WPHCWDjdb/?format=pdf&lang=pt
Outro agente público com grande influência nesse controle do ambiente domiciliar é o ACS, que visita as residências para
fornecer serviços de saúde diretamente aos habitantes e informações sobre os riscos à saúde pública àqueles que estão correndo
maior risco de infecção. Esses profissionais, assim como os agentes de endemias, na maior parte do Brasil, já trabalham de forma
territorializada, visitando casas e interagindo ativamente com as comunidades. Um aspecto histórico importante que precisa ser
lembrado é o risco de deslocar os servidores das endemias para atuar nas ações da COVID-19.
Permanecerá o desafio de pensar qual estratégia poderemos adotar diante de um novo cenário de aumento de casos da COVID-19
Mas como integrar
durante a estação de arboviroses. Como poderemos continuar a desenvolver as ações de vigilância e controle vetorial, casa a casa, as ações? É o
sem aumentar o risco de transmissão da COVID-19? que veremos na
As ações de enfrentamento das arboviroses devem ser desenvolvidas de forma integrada com a equipe de Vigilância em Saúde próxima seção
no âmbito municipal. Deve ser promovida também a qualificação dos profissionais de saúde para diagnóstico oportuno, manejo
clínico adequado desses agravos (dengue, zika e chikungunya) e preenchimento correto do cartão de acompanhamento do
usuário. As equipes de APS devem ter conhecimento dos pontos de atenção existentes nos municípios, bem como do fluxo de
atendimento na Rede de Atenção à Saúde (RAS) para o encaminhamento dos usuários, e as unidades de saúde da APS devem ser
estruturadas para acolhimento, classificação de risco e realização da hidratação oral, conforme pactuado nos Planos Municipais
de Contingência, como vimos nas seções anteriores.
Fonte: flickr.com
Os ACS também devem identificar possíveis casos de gestantes com zika e pessoas com queixas de
sintomas para chikungunya, para que assim possam acionar os demais profissionais das equipes de
saúde de APS para devida condução e manejo adequado dos casos.
A sua resposta, como profissional da APS, com certeza deverá ser “Conhecimento do
território”. E o fará refletir: Por qual território sou responsável? Como é esse território?
O que o compõe? Determinantes e condicionantes da saúde, população de risco,
locais cobertos pela ESF, locais sem cobertura, territórios indígenas, áreas de fronteira,
área com alto índice de criminalidade, riscos ambientais, atividades econômicas
existentes, áreas de difícil acesso, perfil epidemiológico e sociodemográfico,
potencialidades, fragilidades, etc.
É importante ter o mapeamento de vulnerabilidades e, para isso, utilizar a
epidemiologia como uma ferramenta para a identificação dos principais problemas
de saúde do território. Esse procedimento lhe permitirá planejar, executar e avaliar
ações no território.
Em especial, numa rotina da ESF, as visitas domiciliares se revelam oportunas para
a identificação de sintomáticos de doenças causadas pelos arbovírus, tendo em
vista a necessidade de implementação de medidas para a interrupção de cadeias de
transmissão. A partir daí, é possível detectar surtos na comunidade com a finalidade
de identificar as fontes de contaminação para prevenir que novas pessoas adoeçam, Fonte: flickr.com
interrompendo a exposição. Nessa ocasião, será possível identificar fatores de risco
intradomiciliares para a transmissão, bem como a intervenção em tempo oportuno,
evitando seu agravamento.
Fonte: flickr.com
Finalizamos a nossa caminhada sobre os processos de trabalho para o enfrentamento das arboviroses no âmbito
da APS. Ainda para a reflexão crítica dos profissionais que atuam ou atuarão na vigilância das arboviroses é
importante responder às seguintes perguntas: O que é importante para melhorar nossa forma de trabalhar e de
produzir? Quais elementos temos de considerar? Por onde começar?
Para responder a essas questões, você já está instrumentalizado para a reflexão sobre o que é processo de
trabalho e, mais especificamente, o que é processo de trabalho em saúde e no enfrentamento das arboviroses.
Considerando essa reflexão, você poderá identificar os elementos que são fundamentais para melhorar
os resultados do nosso trabalho e a satisfação e, assim, controlar um conjunto de doenças que impactam
significativamente na população, com custos para os sistemas de saúde e com perdas para as famílias.
Prezado trabalhador estudante, estamos muito felizes que você tenha chegado ao final do nosso módulo.
Esperamos que tenha aproveitado cada conteúdo, cada conhecimento e os materiais complementares, todos
pensados e elaborados com muita competência, responsabilidade, muito carinho e zelo.
Ao final das sete unidades, certamente, você terá muito mais conhecimentos e instrumentos técnicos para
melhorar sua atuação na área das arboviroses, independentemente do nível de sua atuação no território. Nossa
expectativa é de que você tenha se atualizado a respeito das medidas de vigilância e controle das principais
arboviroses, compreendendo o cenário atual e as perspectivas de um futuro próximo.
Desejamos sucesso em sua caminhada e que consiga aproveitar ao máximo os conhecimentos trabalhados em
nosso módulo. Siga em frente!
BRASIL. Ministério da saúde. Secretaria de Vigilância à Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Portaria Ministerial nº 2.031, de 23 de setembro de 2004.
Dispõe sobre a organização do Sistema Nacional de Laboratórios de Saúde Pública. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2017/
MatrizesConsolidacao/comum/5634.html Acesso em: 2 dez. 2021.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância à Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Diretrizes Nacionais da Vigilância em Saúde. Brasília, 2010.
108 p. (Série F. Comunicação e Educação em Saúde (Série Pactos pela Saúde 2006; v. 13).
BRASIL. Ministério da Saúde. Coordenação-Geral do Programa Nacional de Controle da Dengue. Nota Técnica nº 191/2015. Brasília, 2015.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. Manual de vigilância sentinela de
doenças neuroinvasivas por arbovírus. Brasília, 2017. 44 p.
BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Resolução MS/CNS nº 588, de 12 de julho de 2018. Fica instituída a Política Nacional de Vigilância
em Saúde (PNVS), aprovada por meio desta resolução. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 13 ago. 2018.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Coordenação-Geral de Desenvolvimento da Epidemiologia em Serviços. Guia de Vigilância
em Saúde: volume único. 3. ed. Brasília, 2019. 740 p.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Coordenação-Geral de Vigilância de Arboviroses (CGARB). Nota Informativa nº 9/2020-CGARB/
DEIDT/SVS/MS. Suspensão da realização do 2º Levantamento Entomológico (LIRAa e LIA) do ano de 2020 em decorrência da pandemia causada pelo
Coronavírus (COVID – 19). 2020. Disponível em: https://central3.to.gov.br/arquivo/501380/. Acesso em: 2 dez. 2021
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MÓDULO
ENFRENTAMENTO DAS
ARBOVIROSES
REALIZAÇÃO:
FIOCRUZ MATO GROSSO DO SUL