Um homem toma um trem para sair da cidade, mas não consegue deixar o perímetro urbano. Outro personagem acorda em seu quarto e percebe que está acompanhado de um crocodilo.
Uma casa redesenha a própria arquitetura como se estivesse viva. Nas
histórias de Deixe o quarto como está , a lógica cotidiana abre espaço para estranhos eventos e relações, que passam a impor suas próprias regras e configuram um novo mundo.Alguns dos contos, como "Auto- retrato", "Aprendizado" e "Para salvar Beth", permitem uma leitura realista.
Outros adentram sem hesitação o terreno do fantástico: "Hereditário", "O
crocodilo", "O rosto", "O encontro" - inquietantes fantasias kafkianas narradas com o humor sutil de um cineasta surrealista. Há também relatos a meio caminho entre o real e a fantasia, como "Exílio", "Correria" e "Espera", que induzem o leitor a questionar a sanidade (ou franqueza) do narrador, para decidir sobre a credibilidade da história.Invariavelmente, o que impressiona é a habilidade de Bettega Barbosa em enredar o leitor como cúmplice na construção de estranhos e perturbadores universos.
Considerações Sobre 'Canção Do Exílio', 'O Menino Sem Passado' e 'A Outra Infância' de Murilo Mendes e 'Os Sinos' e 'O Último Poema' de Manuel Bandeira - Literatura Brasileira III