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A última estação

Não existem trilhos para além de Neblina. Flutua persistente como a eterna última
estação. Alguns a descrevem como sombria, inquietamente monótona, como se se silenciasse
à espera dos pensamentos de seus visitantes. Outros, como a própria definição de magia,
exuberante e embebida em constante euforia. Neblina acomoda essas e todas as outras
impressões que imprime. Talvez a melhor forma de descrevê-la seja inconciliável . Ruas
antigas de paralelepípidos, luzes de natal, caminhos tortuosos, relógios de bolso, ar frio e
cortante, fachadas coloridas em tons frios. Bistrôs, sinfonias distantes, máscaras venezianas,
cartas de tarot, canetas sem tinta, lampiões solitários. O ar é constantemente impregnado com
canela, caramelo e gengibre, embora ninguém saiba exatamente a origem dessa curiosa
característica.
Aliás, pouco se sabe da origem da cidade de forma geral, permanece sem história. Seu
passado é embaçado, e noções como “futuro” se tornam desnecessárias, Neblina é um fim em
si mesma. Isolada no tempo e no espaço, se sustenta pela certeza de que é mais reconfortante
do que quer que seja aquilo que existe para além dela. A cidade escorre pela encosta, ligada
por degraus desproporcionalmente altos e gastos que levam a espuma das ondas que batem
incessantes no píer de madeira antiga . Neblina é cercada pela água dormente, que agita-se
sonâmbula como se escondesse um estado desperto embaixo de suas grossas camadas escuras.
Casa de poetas imaginativos, atores frustrados, artistas, párias, viciados, mas também de reis
de terras distantes, príncipes incompreendidos, criminosos carismáticos mundialmente
famosos. Enfim, dos simples observadores.
Aqueles que visitam rapidamente se tornam moradores e, invariavelmente, parte
permanente da paisagem.

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