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RSIDADE FE EDUCAGAO ESCOLAR 0S DA DIVERSIDADE NA ESCOLA” ‘Newser Maria Mendes de Gusmiio’” 6 Brasil € suas muicas imagens ow | Pf 5 diferengaso que move | Por sua ve do Amaral, com o magnifico quadro Opendriose seus muitos ros- AA cos que nos olham,revela um se ie pouco de nossa diversidade y ip social e cultural, apontando : para diferentes formas de ser, OOKGQ“"“ PT a *} estar ese pensar como parte Y dessa realidade chamada Rac} Brasil eeducacao Cee | Bono 2000, p- 920 fsa da Facldade de Educaio dn UNI biversipave, CULTURA € EDUCAGKO Pensar, portanto, o Brasil ms Diz Terena (1996, p. 32-33), dan fer buscar da nagao indy oa igena Terena: oe ae tempo na minha vida, eu come sain wes » até mesmo de meus pais peckes care eee dizer assim. um eas oe ane rei trabalhar a minha anaes ea : meme nl cstnnp dena prido, nao significava nie 80s, ctiando um preconcei dizado de aren, Preeancto stabelci concrito estabeleido no pry a formasio do profexot Figura 2 Dine Mase algumas vozes. ‘Ouniames enuxador a5 Por outro lado, num exercicio imagindrio, um professor ¢ convidado a pensar num seu aluno negro, ou preto, como fre- giientemente dizemos, Imediatamente, sem qualquer duivida, pensa logo no Sebastiao. Segundo o professor, 0 Sebastiio é negro porque tem tragos negrdides acentuados: é escuro, tem cabelo “ruim”, nariz chato. E negro porque também descende de escravos, embora ele, professor, nio tenha disso a imediata “ petcepeao. Por outro lado, além da cor da pele e de seus tragos, " Sebastio ¢ pobre e carrega consigo a imagem de pobre ¢ tudo que ven com ela (Adaptado de SANTOS, J. R., 1989). Figuer = Astin Gaudeno/Folha Imagem. Quem so 0s sujeitos envolvidos nessas duas pequenas his- torias? So os considerados outros, ou seja, os diferentes porque indio e negro, diferentes do modelo socialmente insticuldo por ‘um pafs que se pensa branco, de origem européia, embora, como bem mostra Tarsila, nao scja essa a nossa realidade. E verdade que reconhecemos a presenga do indio ¢ do afticano em nossa formagio, mas quando contamos a nossa histéria, ficam eles cesmaccidos ou ausentes, dada a magnitude do branco. ” DIVERSIOADE, CULTURA & EDUCAGAO. i nos informa 0 que nos consti- Com isso, rais histérias nos dizem muitas coi primeiro ialmensa ee nk alteridade. hos lembram aqueles que sio vstos como diferentes dizens a Oe ee de gic dgue ecsnuco onnve lim contexto escolar e de educasdo; dizem também de aspecton ie, ‘porém constitui um jogo de Préptios desse contexto, ou sea, o processo educativoe rn e Se aicis diverso, Saber 0 que eu sou e 0 que 0 outro io professor-aluno, do que acredito que sou, com quem No entanto, o que ¢ dito no se reduz apenas a esses fatos, de is cane das conshderagbes que ou ‘ais histrias nos revelam aspectos mais complenos que ney I eine. vrcapsae dee exo, pois€ nese proceso falam de como se do processo de formacto Sean sujeito, membro de um grupo, de de imagens no contexto sociale hisérico em que viveman ee Depende também do lugar a par- fadio como selvagem ou preguigoso; 0 negro come indoleree. ia enleura e urna olhamos. Trata-se de processos decorrentes bom de samba; a mulata como sensual; acrianca como panees Bees cusonis que nos foam. ieformam, dees esa ete, Flam de como esas imagens criadastransitam por mana Foon aes te rau e nossa petios ente0 TIERS € Por nossas vidas, nesta medida, acarretam consequen. ido. ie a éias sobre o que é vivido por nds I Sas caer ersinado na ecols ameticanas entre o fin Portanto, fala de Marcos Terena fiz sentido: & necessirio Beclchoncada co inicie deme sfeulo pode nos gjudar noma Feouperar ensina scrianga o respeito mituo entre diferentes, do século passado a fanto como € preciso fazer ver ao professor as introjecoes da D discussio' . Diz o po _Pisiedade em sua percepsio de mundo e, com isso, resguay 4 historia de Scbastiio. As due histérias nos. ‘conduzem a reverter Pensamento, escrutind-lo em seus elementos, para entio com- ender os muivos significados em jogo. A partir de Tarsila, de Marcos e Sebastiio Indiozinho, Sioux ou Crow, pequeno esau sents quueno turco ou japoni Voces nao queriam ser eu? indicar que nem todos so compeenlema A uaa do poem a de nar gs rem ads so sf cal iguais— nem todos sio como eu sou, nbd, @ pluralidade social, cultural e émnica que envolvea reel iguais—n brasileira ex escola, Mais que tudo, suas historia revlon, escola como eu, andam como eu ando e falam como eu falo. A su, andam com inava, entao, que havia diferengas no mundo dos homens € ensinava, entio, 10 do outro como diferente. O que é ser diferente? a prin (1986, p. 7), 0 diferente e a diferenga sio ida descoberta de um sentimento que, armado pelos sim- 1. Poca de Stevenson (spud MEAD, 1982, p. 227) da culeura, nos diz que nem tudo & 0 que eu soe ners so eae ap Guat ieee Mie ne oe que nem tudo era igual. DIVERSIDADE, CULTURA E EDUCAGKO No entanto, © mesmo verso revela também alguns pontos fundamentais d; a critica antropolégica sobre as formas de compreensio de sie do outro, que constituem a identidade social ¢ cultural de um povo, de um grupo, de uma cultura ou sociedade. Fan primeico lugar, em qualquer parte do mundo, os po- “os indigenas siosioux, crow, kamayurd, xokleng, guarani, ava i ou outros, mas no so éndios, categatia inven cos Para, desrespeitanda.as especificidades de cada gtupo, colocé-los 4 todos, no mesmo saco — Indiozinhos, U6 tanto faz, sio Audios, para os bran so de fato © que pensam sobre: uma hist6ria singular de grupo qu. Porta significacos, sentidase vi dera-se aquilo que os sioux, ou crow -, isto 10s. Desconsidera-se afo que mesmos, como resultado de ic (em suas préprias marcas € io de mundo tinieas. Desconsi- faz screm quem so. Chamé-los de indios indistintamente € negar-Ihes o que de mais interior os habita e dizem deles por aquilo que sao: kamayurds, kadiweu, ticuna etc. Ou, como 0s exgumés— nome também forjado pelo bran. co dominador ~, que reagem dizendo: “..] ndo somos esqui més, somos Inuits [...]”, que quer dizer “[...] homens verdadei- 0s [...]”. Certamente 0s turcos nfo sio simplesmente turcos fampouco se pode afirmar que exista um tinico modo de se ser japonés. Como, entio, explicar o verso final: “[..] Vocés ni queriam ser et [...}? © que estd em jogo é a diferenca do outro e de sua identi- dlade, que exige que se abdiquie daquilo que seé, para assumir a identidade do ev como modelo a er imitado. O eu neste caso é © branco, ocidental, cristo, medida de todas as coisas e, como tal, superior. A histéria dos homens ¢ feta num jogo de ims, Sens expressadas num espelho de muitos angulos, em que a di- versidacle se mostra em seus muitos significadase, permanente. nos desafia, pois tem por base o faro de que a rela feu co outro é sempre confi mr mica orinstn “a i Um poder de dup! nt Mee, qb, io & um pode evi ebro que 1m a eclosio de relagdes de liberdade entre iguais. Tem ies de liberdade entre iguai lem a G6 i s diferentes ° im, entre os considerados vos tnd Sather, criangas, deficientes ¢ Ne » Bassin 4 cy i |, como diz ce precisa ser feito um igual, como diz Brando Aes spare inelhorserdominado. A questio sides " * we poreanto, passa pelo mundo onde estou, 20 Gud pee Be coccn ue vivo, massé é objeto de mew pensar como uma peso, ure problema, quando me defronto com 0 ous juestio, us n pane de mime af me pergunto: quem so ene te Aidensidadecaalteridade revelam, portato, a sean ce escrangeira, distance de nés e das Becca nosso une. © que a alteridade diz é que 0 outro tio: como nés estamos no dele. E esse eons z {no nosso mundo, : date eest{ 10 n0350 mi cosmo dele Ee ncontro que nos desafia € exige nossa denis O vag ou" a nds, é parte de um contexto relacional mers s = como ns, ‘ el atid a lesite ais nada, por relagdes de hierarquia® P der re Io tr lo seu ind el lam mesmo, transitat pel fio fazer do outro um mes a sen samn pelo nosso, sem confronto, sem conflitos, sem faz« ee ‘ naa 2 Como conviver com i Teal para melhor submeté-lo? ae) yn So een lagdes solidrias ¢ de eqitidade nas eestabelecer relagoes sol feenie seen Sercnues? Eases so os desafios permanentes da educagio ¢ diferentes? escola, Diversidade, Educacao e Escola Adiversi ps 0 parte d: goes de poder diversidade nos espelha como parte das relagdes de pos ¢ nos envolve em todas as dimensées da vida vivida, no nosso 10s envol DIVERSIDADE, CULTURA & EDUCAGKO cotidiano eaté mesmo ali on : des Cec Com ne ae seer spins desun exis Nos planos econdmico, soci Nor panos econdmico, socal, politico ¢ da relays ge siren tem signiead, erm nosso pa We oe cultura, fenoxipicas, servinen Me diteengas dtc, caltard,f serviram de marcas entre desigusie sar jan, No plano da cultura porém, 2 aplicagio dent cvai fine dferenga = dsigualdade), confunde os pulang emocracia,levando-os s posuar ofan dis dren chat fans de igualdade. Eis o que pensria umn democaa hong forem diferentes (SANTOR fae iBuais 4 nds sido no INTOS, J. R., 1989, p. 26; pif sone A questio & serd esse o Bale nosso). gual? E tornar todos iguais, caminho? Ser diferente ¢ sr desi- um ato autoritério, negad negando suas diferencas, nao seria poder? » negador do outro e, como tal, um ato de Tenucet: 50050 Lane nas | rats . agente] a Lanne £21) , AS) sipotéromet \akradee pein toate Figura 4 - Tonucei (1997) ~ © que esse cartum nos diz? Que, mesmo no micro-contexto da relagdo de poder entre ‘ot e aluno, © problema néo esté na diferenga, mas na le, como diz. Vargas (1989, p. 40) citando Dumont, supSc uma igualdade de fundo, aquela que reflete a minha no espelho, seja essa imagem a do professor ou, ainda, a laqueles que detém o poder. O eu é assim aquele que s6 aceita Jque considera iguais ou mais proximos de sua prépria imager “[...] ndo é a diferenga que pertence ao dominio da 7 », mas, ao contrdrio, é porque pensamos pelo dominio da semelhanga ¢ da identidade que hierarquizamos © diferente ¢ 0 traramos como desigual. ‘Nesse sentido, como diz Stolcke (1993, p. 28), compreen- | demos que “(...] igualdade e diferenca [...]" nao sio categorias absolutas — dependem das relagdes em juge para definir 2 i co diferente c assim, num processo de poder e dominasio, gerar a marginalizagio ea exclusio. “Aqui, a questio da escola se coloca por inteiro em sua com- plexidade ese defronta com seu maior problema, 0 fracasso di- ‘ante da diversidade que nos constitui, Nessa medida, entra em debate o que se entende por cultura € como cla € pensada ¢ compreendida no interior de projetos educativos e na pritica cotidiana, “Antes de mais nada, a cultura no interior de uma realidade humana ésempre dinmica, néo ¢ fechada ou cristalizada como tum patriménio de rafzes fixas € permanentes, A culeura possui fronteiras méveis eem constante expansio, Tampouco € con} gada no singular, a que é plural, marcada por intensas trocas ¢ mnuitas contradig6es nas relagdes entre grupos culturais diversos e mesmo no interior de um mesmo grupo. Por,esse motivo, “[...] nfo é possivel reduzir nem os grupos, nem os individuos & igual / —— on DIVERSIDADE, CULTURA & EDUCAGKO sua cultura [...]”, como diz Auy sein liz Augé (1998, p. 115). Do mesmo le afitmar exiscir duc igor ° ist uma esséncia propria desta ou [eo] S0 as 5 cultura, © nao so as omar ane vel tetam a (CUNH 1909, alts a formam as sciedades O desatic son pono diol des Projetos educativos que orientam “namo km metres ‘ar asociedade onde o grupo ou o indi foe viven E inc dtenrntn genie lade ¢ definem © papel da alterid: dagen se homens. Primeiramente fi lazemos parte de i f cin que arog ee Bat de uma sociedad de clases To: Prvilegiando w ir ordem institucional, n one veves a dificuldade d {...] paraibano, nordestino, favel Prosticuta (..” (SANTOS, E. Educar ¢, entao, um desafio, no interior de um embate entre lado, vesgo, canh ieee oon 100, filho de » considerando que se processa qual o diferente deve ser transformado em igual para que se possa submerer, daminar ¢ explorar em nome de um modelo Cultural que se acredita natural, universal ¢ humano [...] (GUSMAO, 1999, p. 43). No campo de forga que envolve as relagies da escola frente aos diferentes e frente a diferenga cultural prépria da sociedade brasileira, Santos, J. R. (1989) afirma existir uma imensa inge- nuiidade. Para ele, ¢ inggnuo pensar em salvar o ensino a partir de uma falsa nogio de igualdade que desconsidera ¢ faz tabula rasa das diferengas. . Exemplar é a reagio de professores € dirigentes de escola quando indagados sobre as diferengas do alunado. E freqience se ouvir que naquela escola todos sao iguais e que aos olhos do ‘educador nao hi diferenga. No entanto, todos sabemos que essa igualdade nfo € real. Os alunos que ali estiio tém as mais dife- rentes origens, sio portadores de diferentes hist6rias de vida, as guais informam seu modo de ser e suas possibilidades de apren- der. Por que, entao, os dizemos iguais? Porque todos sio vistos a partir do lugar que ocupam no interior da escola. Ali eles sio alunos, categoria geral ¢ abstraca que, tal como a categoria indio, ccoloca a todos no mesmo saco e nega as diferengas que os tor- ham, cada um, sujeitos socioculturais. Diante da pergunta so- bre quem so 0s jovens e 0 que vao buscar na escola, Dayrell (1996, p. 139) afirma que: Para grande parte dos professores, perguntas como estas nao fazem muito sentido, pois a resposta € dbvia: sto alunos. Fé ‘essa categoria que vai informar seu olhar ¢ as relagdes que mantém com 0s jovens, a compreensio de suas atitudes ¢ expectativas. Assim, independente do sexo, idade, da origem social, das expectativas vivenciadas, todos sao considerados igualmente alunos, procuram a escola com as mesmas expec- tativas e necessidades. [...] A homogeneizagio dos sujcitos 94 DIVERSIDADE, CULTURA B EDUCAGKO como alunos corresponde & homog escolar, compreendila como universal, >“ mstituisdo Por outro lai carrot ® lado, diz Santos, J. R. (1989, p. 29), ingenui- He attbém pensar em salvar 0 ensino pura e simplesmente Peo teconhicimenco das diferengas culrurais.Fazt-lo ¢reificar a

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