Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Curso de Pedagogia/Centro de Ciências Humanas e Sociais
Disciplina: Fundamentos e Metodologia em História e Geografia
Referência: MOREIRA, Ruy. O que é geografia? 14 ed. SP: Brasiliense. 1994. p. 07-47.
O que é geografia?
A geografia não é um saber inútil e
desinteressado. “Quando os historiadores se remetem
ao que ela tem sido, não fazem mais do que esconder
sob uma pitada superficial de critica, o significado e
extensão do seu comprometimento real”, afinal a
geografia e não serve somente para fazer guerra.
A geografia é um saber tão antigo quanto a
própria história do homem, nasceu na Grécia,
juntamente com o nascimento das história, da
filosofia e do teatro. Sendo a base econômica grega o
comércio, e a divisão política e espacial do país
tornou-se fundamental o conhecimento e domínio da
geografia. O legado histórico pode ser resumido em
registro de relatos de povos. Registro de terras,
mapas, rotas marítimas entre outros. Assim, podemos
dizer que a geografia é uma reflexão colada à pratica
da vida. Guerras gregas/talassocracia Com o Império
Romano, a geografia passa a ter como finalidade
maior a expansão. Com o advento do capitalismo e
do imperialismo, a geografia teve sua imagem
cunhada na luta de classes, luta de povos e terras.
“A geografia familiariza-nos com os
ocupantes da terra e dos oceanos com os frutos e
peculiaridades dos vários quadrantes da Terra; e o
homem que a cultiva é um homem profundamente
interessado no grande problema da vida e da
felicidade”. (MOREIRA, 1994, p.17).
Por volta 1754, com os alemães a geografia
passa a ter ‘status científico’, os passos nesse sentido
são nítidos nas discussões entre duas vias que
surgem: a geografia político-estatístico e a geografia
pura, a primeira define o papel da geografia como
sendo o de montagem do painel mais amplo,
privilegiando a problemática da unidade interna da
Alemanha. Já a geografia pura assenta a tônica de
unidade de base regional, sendo para ela critério os
limites naturais do terreno.
A geografia não pode continuar sendo um
quadro descritivo, o capitalismo alemão carecia de
soluções práticas e quando deixar de ser uma ciência
alemã, na virada do século XIX encontra-se com suas
bases epistemológicas, teóricas e metodológicas
próprias, a geografia, como forma de saber a serviço
do capitalismo, está posta como mais requerida pela
burguesia inglesa e francesa.
A geografia que se desenvolverá na
Alemanha e mais tarde no mundo, nasce, por
conseguinte, prenhe da filosofia de Kant , para Kant o
conhecimento é dado pelos sentidos, é portanto um
conhecimento empírico que advém da percepção
pelos próprios sentidos, havendo um sentido interno,
que revela o homem (antropologia pragmática) e um
sentido externo, que revela a natureza (geografia
física), a percepção orienta a experiência que precisa
ser sistematizada, à geografia cabe a sistematização
no plano do espaço, cabendo à história no plano do
tempo, isto porque a sistematização passa por dois
processos: a narrativa (história) e a descritiva
(geografia).
A geografia e a historia são saberes distintos,
mas que se encontram, pois nascem de um mesmo
processo, a geografia é a localização do fenômeno no
espaço e a história é a sua localização no tempo. A
historia é uma geografia contínua.
Hoje o que temos em nossas escolas e
universidades é a geografia sistematizada sob a
versão dada pela “escola francesa” no fim do século
XIX e início do século XX.
No Ocidente, durante os séculos XIX e XX, a
disciplina geográfica passou por quatro fases
importantes: determinismo geográfico, geografia
regional, revolução quantitativa e geografia radical.
“Geografia ratzeliana”: é a ideologia do
imperialismo alemão, formulará um discurso
geográfico cujas chaves de compreensão são a “teoria
do determinismo geográfico” e a “teoria do espaço
vital”.
A “escola francesa” nasce após a derrota da
França para a Alemanha na guerra de 1870, surgindo
para servir à burguesia francesa, visando a
recuperação de perdas territoriais decorrentes da
guerra.
A geografia da época na França tinha caráter
informativo, descritivo e até utilitário, ensinada nas
universidades como disciplina auxiliar ao ensino de
História. O espelho para o ensino da geografia na
França era o que acontecia na Alemanha, onde tinha
um nível de ciência.
Surgem intelectuais nas academias francesas,
dentre estes o criador da teoria do possibilismo: Paul
Vidal de La Blache, após sua morte em 1918 seus
discípulos continuam por disseminar sua teoria.
Como foi gerada para servir o imperialismo
francês, a geografia francesa têm em si os limites da
denúncia e da crítica em si mesma. É na França que a
geografia ganha legitimidade acadêmica em 1892.
Com o conceito de geopolítica como arma renovada,
é na Alemanha Nazista que a geopolítica torna-se
disciplina escolar.
Desde que a geografia passou a ser objeto das
universidades, deixou de ser um saber produzido por
estrategistas e oficiais ou a serviço do Estado, ganhou
assim, um ar de neutralidade, justamente como Karl
Mannheim (1891-1947) sugeriu que fossem os
saberes universitários, diferente da geopolítica.
Tenta-se defini-la como um saber "liberal", pelo
menos até a chegada da crise da "geografia
quantitativa e teorética", conforme o autor.
São os estrategistas das guerra do Vietnã que
dão origem e denominam a "revolução quantitativa e
teorética" (geopolíticos), de origem estadunidense,
difundem-se rapidamente pelo mundo nos anos 60, e
dentre seus membros encontram-se até geógrafos
franceses (nação que reagiu ao movimento). A rápida
disseminação da "escola" pelo mundo deve-se a
hegemonia mundial do capitalismo americano e
consequentemente as empresas multinacionais.
A denominação "geografia quantitativa"
revela-se como ruptura ao funcionalismo-positivo e a
adesão a sua nova base: o neopositivismo
(positivismo lógico/filosofia analítica). Já o caráter
"revolucionário" dá-se no plano do método,
combinando o "quantitativo", com a "teoria dos
sistemas" e a "teoria dos modelos". Em síntese, tenta-
se abandonar uma geografia descritiva para alcançar
uma geografia explicativa, o que não acontece por lhe
faltar um método.
O "salto epistemológico" só se da a partir da
instrumentalização da matemática e da cibernética,
ou seja, "em vez da descrição da paisagem, toma seu
lugar a matematização da paisagem. [...] Em vez da
pesquisa de campo, toma seu lugar o computador."
(MOREIRA, 1994, p. 44). Este salto se dá nos anos
60 , com a revolução da matemática, favorecendo o
desenvolvimento dos computadores,
consequentemente permitindo uma considerável
precisão de movimentos sobre o espaço mundial,
facilitando a realização de trocas, bem como, ao
bombardeamento de pontos estratégicos (a exemplo,
o Vietnã).