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CURSO SUPERIOR EM TEOLOGIA

DISCIPLINA: MINISTÉRIOS
ECLESIÁSTICOS
MINISTÉRIOS ECLESIÁSTICOS

INTRODUÇÃO

Alguns animais vivem totalmente isolados. Não se associam nem com outros da sua
própria espécie, exceto, com a mãe no primeiro período da vida e com a
companheira (o) durante o cio. O ser humano, ao contrário, é gregário. Vive em
grupos. Tal associação é necessária a fim de alcançar objetivos que,
individualmente, não seriam possíveis. Além disso, a própria natureza humana sente
necessidade do companheirismo e do amor. Depois de haver criado Adão, Deus
disse: "Não é bom que o homem esteja só." Quem insiste em se isolar luta contra o
bom senso e torna-se infeliz. Como disse Salomão, aquele que se separa insurge-se
contra a verdadeira sabedoria. (Pv.18:1).

Contudo, viver em grupo tem também seus problemas e cria novas necessidades. O
primeiro problema é a direção a ser tomada. Se forem muitos os componentes do
grupo, muitas são as cabeças e diversas as opiniões. Por isso, são necessários os
líderes. Não para fazer a sua própria vontade, mas para interpretar a vontade do
grupo e viabilizar sua execução. Esta é uma dura tarefa. Exige sabedoria e bom
senso, porque pode ser que o grupo esteja enganado quanto aos seus propósitos.
Por isso, o líder precisa ter capacidade e preparação superior a média do grupo, a
fim de poder conduzi-lo de modo eficaz. Outra necessidade que surge com o grupo é
divisão de tarefas. É preciso identificar habilidades, talentos e atribuir
responsabilidades.

A liderança é necessária em qualquer empreendimento coletivo. A igreja não é uma


exceção. O líder da igreja é , em última instância, o Senhor Jesus. Ele é a cabeça da
igreja. (Ef.1:20-23). Entretanto, os homens ainda precisam de líderes visíveis;
precisam de modelos humanos e direção humana, uma vez que nem sempre estão
aptos a ouvir a ordem direta de Deus. Por isso, Deus instituiu ministérios na igreja. O
que é um ministério? Quais são os ministérios estabelecidos por Deus? Tal liderança
é ainda necessária nos nossos dias? Como está a realidade das igrejas em relação
a tudo isso?

Neste estudo procuraremos respostas a essas questões. Precisamos obtê-las


urgentemente, pois a indefinição nesse assunto tem causado problemas diversos na
obra de Deus e dificultado a expansão do seu Reino.
MINISTÉRIO

Entre outras informações, o dicionário da língua portuguesa nos diz que ministério é
"trabalho ou serviço na igreja". Biblicamente, entendemos que todo serviço cristão
que se desempenha de modo contínuo é um ministério. Desde a liderança até
tarefas operacionais permanentes. Um trabalho eventual não pode ser assim
considerado. Eis aí um fator que serve até para diferenciar ministérios e dons
espirituais.

Existem quatro termos gregos que se relacionam aos vocábulos ministro e


ministério:

- huperetai (huperetai)

- leitourgos (leitourgos)

- sunergon (sunergon)

- diakonos (diakonos)

Paulo emprega quase que invariavelmente, diakonos. O termo aparece, nas quatro
formas, 25 vezes no Novo Testamento.

A forma "diakonia" aparece 24 vezes, sendo traduzida por:

- Distribuição de serviço, socorro, serviço, ministério ou administração.

Os ministérios de liderança apresentados no Novo Testamento são :

- Apóstolos

- Profetas

- Evangelistas

- Pastores (bispos, presbíteros)

- Mestres (Efésios 4:11)

Os diáconos são apresentados como auxiliares. Eles não dirigem a igreja local, mas
são responsáveis por algumas áreas. (At.6).
Ministério é serviço. Logo, o ministro é um servo. Algumas vezes, o apóstolo Paulo
usou o termo doulo (doulos), que significa escravo. "Onde está pois a jactância?" O
Verdadeiro espírito do ministro, não deve ser a ambição carnal de mandar ou ser
servido, mas encarnar o que Jesus sempre fez no seu ministério terreno, que foi
"não ser servido, mas servir". (Mc.10:45).

Quando os discípulos disputavam entre si para saber quem era o maior, Jesus "os
chamou para junto de si e disse-lhes: sabeis que os que são considerados
governadores dos povos, têm-nos sob seu domínio, e sobre eles seus maiores
exercem autoridade. Mas entre vós não é assim; pelo contrário, quem quiser tornar-
se grande entre vós, será esse o que vos sirva; quem quiser ser o primeiro entre
vós, será servo de todos." (Mc.10:41-44).

Apesar das especificações bíblicas, as igrejas e denominações estabelecem alguns


ministros e desprezam ou ignoram os demais.

Os Metodistas têm bispos e pastores.

Os Presbiterianos, Assembléia de Deus e outras igrejas pentecostais têm pastores,


diáconos e presbíteros.

Os Batistas têm somente pastores e diáconos.

Na seqüência, procuraremos explicitar alguns detalhes de cada um dos ministérios


supracitados.

APÓSTOLOS

O nome que designa o primeiro ministério estabelecido na igreja (I Cor.12:28) é de


origem grega (apostolos) e significa "enviado", ou seja, um indivíduo que executa
serviço especial, agindo em nome e pela autoridade de quem o enviou.

O maior de todos os apóstolos é o próprio Senhor Jesus, que foi enviado pelo Pai
para executar sua obra na terra. (Heb.3:1 Jo.4:34). Para que essa obra fosse
continuada após sua ascensão, Jesus escolheu doze homens. (Mt.10:1-2 Jo.20:21).
Um deles, Judas Iscariotes, o traiu e foi substituído por Matias. (At.1:16-26). Tais
homens foram equipados pelo Senhor com autoridade, poder para operar milagres,
ousadia para pregar, etc. Tudo isso, mediante a operação do Espírito Santo que lhes
fora dado (At.1:8). Toda essa "munição" tinha por objetivo capacitá-los a desbravar
todas as frentes por onde iam e aí estabelecerem a igreja de Jesus Cristo. Muitos
cristãos afirmam que o ministério apostólico não existe mais. Entretanto,
observamos que, além dos doze, o Senhor levantou outros apóstolos no período do
Novo Testamento, como, por exemplo, Paulo e Barnabé. (At.14:14). Por que ele não
o faria ainda hoje, quando muitos povos estão ainda por serem alcançados pelo
evangelho?

O apóstolo não é um cacique ou um papa. Donald Gee diz: "Esse ministério exigia
praticamente que um apóstolo reunisse quase todos os outros ministérios num só
homem. Assim, ele participava da inspiração do profeta, fazia a obra de um
evangelista, conhecia o pastoral "cuidado de todas as igrejas", devia ser apto para
ensinar, ao passo que, atendendo à administração de negócio, seguia o exemplo do
Senhor em não se esquivar dos deveres de um diácono, quando fosse necessário."

Possivelmente, muitos dos missionários da atualidade sejam, de fato, apóstolos de


Jesus. Outros há que, por não terem ido a terras distantes, não são assim
reconhecidos, mas estão desempenhando esse ministério em sua própria
"Jerusalém" (At.1:8), e receberão do Senhor o devido galardão.

PROFETAS

O profeta é a pessoa que recebe a mensagem diretamente de Deus e a transmite ao


povo. Esse anúncio pode ser uma revelação, uma admoestação, ou uma predição.

Muitos profetas existiram na história de Israel. Sua presença é constante no Velho


Testamento, apontando o caminho para o povo de Deus. Sua importância era
grande pois, como afirmou Salomão, "Sem profecia o povo se corrompe". (Pv.29:18).
No Novo Testamento, Deus continuou levantando profetas. O primeiro foi João
Batista, que veio no estilo dos profetas antigos, assemelhando-se, sobretudo, a
Elias. (Lc.1:76 Mt.11:9-14 Mc.11:32). Seu papel foi preparar o caminho para o
profeta maior - Jesus, que, por sua vez, levantou outros profetas para orientar a
igreja que surgia. No Novo Testamento, existem menções a esse ministério,
havendo muitos deles em Jerusalém, Antioquia, Corinto, e outras cidades. (At.13:1
At.11:27 I Cor.14:29).
O profeta não é um mero pregador da palavra, um mestre da Bíblia, nem um preditor
de futuro. O profeta é um ministro de Cristo. Não apela para os poderes da lógica,
erudição, oratória, psicologia, ignorância ou misticismo. Sua mensagem pode vir
através de uma pregação, mas não necessariamente.

EVANGELISTAS

É uma pessoa dotada de capacidade especial para pregar o evangelho. Alguns


usam esse título apenas em relação aos escritores dos quatro evangelhos. A Bíblia,
no entanto, cita ainda Filipe e Timóteo como evangelistas. (At.21:8 II Tm.4:5).

Todos os cristãos podem e devem anunciar o evangelho. Todavia, a maioria não é


capaz de fazer uma pregação propriamente dita. O evangelista é um pregador, e faz
isso com maestria, habilidade, e poder que lhe são conferidos pelo Espírito Santo
especialmente para esse fim. Evidentemente, nem todo pregador é evangelista. É
bom frisarmos também que o trabalho do evangelista não se restringe à pregação,
mas abrange também o evangelismo pessoal.

Consideramos que todo apóstolo é um evangelista, mas nem todo evangelista é


apóstolo. O ministério apostólico é mais abrangente e extrapola os limites da igreja
local.

PASTORES

Voltando à origem do termo, um pastor é a pessoa que cuida de um rebanho de


ovelhas. Seu trabalho vai desde a procura do melhor alimento para elas, até a
defesa contra ladrões ou animais selvagens que possam atacá-las. Abel foi o
primeiro pastor de ovelhas. Os patriarcas - Abraão, Isaque e Jacó - foram pastores.
Esse trabalho era muito comum no meio dos israelitas e outros povos antigos. O
próprio Davi, que veio a ser rei de Israel, cuidava de ovelhas quando era jovem, e
percebeu que, da mesma forma, Deus cuidava dele e de seu povo. Ao reconhecer
esse fato, Davi escreveu o conhecido Salmo 23: "O Senhor é o meu pastor e nada
me faltará".

Em muitos outros textos da Bíblia, o termo "pastor" é utilizado em referência a Deus


e aos líderes do seu povo. (Sl.100:3 Jr.23:1-2). No Novo Testamento, esse título já
era usado normalmente como o usamos hoje. Jesus disse de si mesmo: "Eu sou o
bom pastor". (Jo.10:11). O termo grego para pastor é poimen (poimén).O ministério
do pastor na igreja tem as atribuições que vimos no início: alimentar, cuidar,
proteger, defender, conduzir. Esse é um ministério lindo. Dos cinco ministérios de
Efésios 4:11, o pastor é o que está mais próximo da ovelha, mais comprometido e
mais atencioso para com ela. Nos nossos dias, constatamos que existem pastores
demais. Quando, porém, conhecemos muitos desses ministros, percebemos que
não são, de fato, pastores. Podem até ter um dos outros ministérios bíblicos, mas,
por uma distorção tradicional e histórica da igreja, receberam o título de pastor. Isto
é, algumas vezes, prejudicial, pois muitos líderes vivem se esforçando para serem o
que não são e deixam de fazer aquilo para que foram chamados.

O trabalho do pastor na igreja, não é somente batizar, celebrar casamentos,


funerais, pregar sermões, mas, de acordo com Ef.4:11-16 :

- Aperfeiçoar os santos para o desempenho do serviço de cada membro do Corpo


de Cristo.

- Edificar o corpo de cristo que é a igreja.

Outros títulos utilizados para o pastor no Novo Testamento são: bispo e presbítero.

Bispo - vem do grego episcopos (episkopos). Indica, não ofício, mas função, o
trabalho específico de um pastor dotado de visão administrativa, um
superintendente. Ele não faz todo o trabalho, mas organiza, providencia tudo e
depois supervisiona. O termo episkopos era dado àquele que tinha a função de
vigiar, fiscalizar, principalmente as embarcações. Os gregos e os romanos usavam
este termo para designar superintendentes de obras profanas ou sagradas. O bispo
como pastor tem a responsabilidade de ver que o serviço seja bem feito. Não se
encontra no Novo Testamento o uso do vocábulo bispo no sentido de um oficial
eclesiástico que tem autoridade sobre os outros ministros do evangelho.

Presbítero - significa velho, ancião. Na primeira viagem missionária, Paulo e


Barnabé, na ida fizeram trabalho evangelístico e público; no retorno, em cada cidade
por onde passaram reuniram os convertidos, organizaram igrejas e ordenaram
presbíteros (At.14:21-23). Deveriam ser homens de certa idade, firmes na fé,
inabaláveis no amor e constantes na obra do Senhor. Eles foram eleitos pela igreja
para desempenhar funções pastorais na palavra, nos batismos, na celebração das
ceias, etc.
O ministério pastoral surgiu no livro de Atos. Em Jerusalém surgiu o primeiro
rebanho pela obra do Espírito Santo. Constituído de 120 pessoas, no princípio,
aumentou para 3.120; foi crescendo sempre até chegar a "dezenas de milhares"
(At.21:20). No princípio, os doze cuidavam de tudo. Houve problemas e os doze
cuidaram da oração e da palavra e outros homens passaram a ser designados para
outras tarefas. O trabalho do Senhor foi além de Jerusalém e chegou até Antioquia
da Síria. Antioquia organizou trabalhos no continente. Em cada cidade havia
presbíteros. Na era apostólica encontramos pluralidade de pastores em cada igreja
(Fp.1:1). Os presbíteros recrutados entre os convertidos das igrejas, deveriam ser
homens de negócios e de trabalho. Alguns se dedicaram grandemente ao trabalho
do Senhor e passaram a dar tempo integral ao ministério e o apóstolo Paulo mandou
dar a esses homens, salários dobrados (I Tm.5:17). Pelo retrato que a Bíblia guarda
de alguns pastores, homens transformados pelo Espírito Santo, cheios da graça do
Senhor, revestidos de poder, conduta exemplar, irrepreensíveis, consagrados,
dedicados exclusivamente ao ministério da palavra, bons chefes de família, sérios,
operosos e humildes, encontramos reprodução perfeita hoje em muitos obreiros que
se sacrificam por Cristo, colocam o Reino de Deus acima de tudo e constituem a
galeria daqueles que vivem para glorificar o Senhor. A Bíblia alinha nessa imortal
galeria de pastores reais, Tiago, o irmão do Senhor que foi pastor da igreja em
Jerusalém. Paulo e Barnabé somaram ao dom apostolar o dom pastoral. Um modelo
de pastor nos tempos modernos foi no século passado Charles H. Spurgeon, do
famoso Tabernáculo de Londres e milhares de outros famosos ou que viveram na
sombra do anonimato, mas realizaram o imortal trabalho de conduzir almas a Cristo
e apascentá-las com paciência e amor.

MESTRES

Deus disse: "O meu povo foi destruído porque lhe faltou o conhecimento". (Os.4:6).
Essa afirmação nos mostra claramente a importância do ensino da Palavra de Deus.
O apóstolo Paulo disse que não queria que os coríntios fossem ignorantes a respeito
dos dons espirituais (I Cor.12:1). Certamente, Deus não quer que sejamos
ignorantes acerca de nenhuma das doutrinas bíblicas, pois isso poderia significar a
nossa destruição. Por esse motivo, ele estabeleceu mestres, ou doutores, na igreja.
Estes são pessoas que possuem o dom da palavra do conhecimento e da sabedoria.
(I Cor.12:8). Além disso, possuem capacidade intelectual e facilidade de
comunicação.
Atualmente, o nome que damos a quem exerce esta função é o de "professor".
Entretanto, o professor não é tratado com a mesma importância, honra e respeito
que o mestre recebia nos tempos bíblicos. Provavelmente, trata-se de um problema
ligado à conjuntura político-social do nosso tempo, ou, especificamente, da nossa
nação, onde a educação é relegada a último plano. A Bíblia valoriza o mestre, como
acontecia na comunidade judaica. Acima de tudo, vemos que Deus os valoriza e os
estabeleceu na igreja. Esse homens desempenham uma nobre função, carregam
uma grande responsabilidade (Tg.3:1), que só não é maior do que o galardão que os
aguarda na eternidade . (Dn.12:3).

TRABALHO MINISTERIAL EM EQUIPE

Os apóstolos e profetas são os alicerces da igreja, sendo Jesus a principal pedra de


esquina. (Ef.2:20-22). Os evangelistas são aqueles que buscam o material para a
construção. (Mat.22:9). Os mestres são os edificadores. Os pastores são os que
zelam pelo "Edifício de Deus". (Hb.13:17 I Cor.3:5-17).

Essa ilustração nos dá uma idéia aproximada de como é a integração do trabalho


dos cinco ministérios.

DIÁCONOS

Outro ministério que figura no Novo Testamento é o dos diáconos. Sua primeira
menção se encontra em Atos dos Apóstolos, no capítulo 6, quando, devido às
murmurações dos cristãos helenistas, foram escolhidos sete homens para a direção
do trabalho social da igreja de Jerusalém.

Hoje em dia, há pessoas que questionam a utilidade dos diáconos em nossas


igrejas. Conta-nos o autor de uma de nossas fontes bibliográficas o seguinte:

"Depois duma semana passada no Estado de Virgínia, onde falara numa reunião de
diáconos, recebi uma carta da esposa dum diácono que exercia esse ofício numa
igreja batista rural. Lera uma reportagem daquela escola de diáconos no jornal da
localidade e queria saber se ainda havia razão plausível para a continuação de tal
ofício. Haverá algum serviço particular que o diácono possa prestar numa igreja rural
com um número reduzido de membros? Dizia ela que o marido era fiel cristão no
serviço da igreja, mas que o ser ele diácono não significava coisa alguma. Na
resposta, assegurei-lhe que o ofício de diácono é escriturístico e, quando bem
compreendido, oferece uma oportunidade real de servir à igreja."
Que significa para a igreja o ofício de diácono? Em que afetaria o seu programa, se,
por deliberação geral e por amor à paz esse ofício fosse abolido? Em muitas igrejas
batistas a cessação desse ofício seria mera formalidade. E mui possivelmente,
algumas igrejas até recebessem com entusiasmo essa mudança. Bom número de
diáconos e pastores acham mesmo que nossas igrejas seriam melhor servidas por
outros oficiais e comissões eclesiásticas. E tais irmãos não são herejes, nem
reacionários; em sua maior parte, estão sinceramente procurando fazer progredir o
reino de Deus.

Temos, portanto, que pesar cuidadosamente as situações que vêm provocando esse
questionamento. E devemos dar-lhe uma resposta sincera, inteligente e
escriturística. Por isso, vamos analisar algumas questões que se formam sobre o
assunto:

- Primeiro: O mundo em que vivemos é diferente. Quais as condições que levaram o


povo pensante a levantar a questão da necessidade de diáconos? Antes de tudo,
temos que reconhecer o desconcertante contraste entre o mundo do primeiro século
e o do século XX. Enorme distância separa o mundo em que a Igreja Primitiva
deliberou sobre a necessidade de homens para servirem às mesas deste nosso
mundo em que as igrejas hoje lutam por Cristo. O ritmo de hoje é muitíssimo mais
acelerado. Nas nossas igrejas atuais vemos refletida a complexidade da vida
hodierna. O crescimento das grandes cidades, o desenvolvimento das igrejas em
tamanho e número, a multiplicidade das organizações eclesiásticas, bem como as
vastas beneficências que as igrejas desejam oferecer ao povo. Tudo isso exige
novos métodos de trabalho, organizações modernas e de crescente eficácia. Num
mundo como este em que vivemos, mui facilmente nos confundimos no que respeita
ao lugar do diácono na igreja.

- Segundo: O ofício do diácono tem sido mal interpretado. Em muitas igrejas está
mal definido e mal compreendido o ofício do diácono e o serviço que ele deve
prestar. Boa parte dos batistas têm uma idéia errônea acerca do que o diácono deve
fazer. Que significa para a igreja o ofício do diácono? Qual a responsabilidade do
diácono? Que função exerce ele? Se precisamos de diáconos em nossas igrejas
hoje, certamente precisamos também reestimar, reapreciar e reaprender o serviço
que eles devem prestar.

- Terceiro: muitos choques têm acontecido entre pastores e diáconos. Às vezes


assumem a feição de verdadeiros conflitos, e com isso muito se prejudica a
influência e a obra dessas igrejas. Alguns pastores acham que não podem trabalhar
com seus diáconos. Então, às vezes, ouvimo-los dizer : "Sei muito bem o que devo
fazer. Se meus diáconos não concordarem comigo, levarei o caso à congregação, e
a assembléia que resolva." Uma situação dessas é, de fato, bem desagradável, e
denota enfermidade espiritual. Em algumas igrejas, o diaconato já foi abolido devido
a essas desavenças.

Existem igrejas cujos diáconos se apropriaram duma autoridade muito contrária aos
ensinos do Novo Testamento. Existe um complexo de "junta", e um pensamento
generalizado de que os diáconos é que são os "diretores" da igreja. Nada mais
distanciado da índole batista, e do esquema neo-testamentário que esta idéia. Onde
prevalecer este errôneo conceito, inevitavelmente surgirá aqueles que afirmam não
haver necessidade alguma de diáconos. Sim, a verdade é esta - não precisamos,
nas nossas igrejas, de tais diáconos, nem de juntas diaconais dessa espécie.

- Quarto: há muitos outros que servem na igreja. Nas nossas igrejas de hoje há
muita gente que ocupa posições de responsabilidade. São professores de Escola
Dominical, diretores de departamentos, presidentes de uniões, presidentes de
organizações missionárias, membros de corais, e outras atividades afins. Muitas
vezes essas pessoas dão muito mais tempo de serviço à igreja do que mesmo os
diáconos. Nas igrejas grandes das cidades, o número de irmãos eleitos excede, às
vezes, de quinhentos, ou mais, além dos eleitos por classe, ou unidades, e dos que
servem por nomeação. E nessas igrejas, o número de diáconos muitas vezes não
chega a cinqüenta.

Haverá necessidade de um ofício que dê honra a uns poucos, quando a vasta


maioria do povo que realiza a obra das igrejas não está incluída nesse ofício?
Certamente os diáconos não fazem mais jus a essa honra do que os outros, e, no
entanto, se lhes confere honra especial por um serviço não específico. Acresce notar
que certa revista aconselha que se constitua em diácono a todo aquele que exerce
algum ofício na igreja, seja homem, seja mulher. Tal idéia, para muitos batistas, toca
as raízes do ridículo, mas é certo o raciocínio que a sustenta. Fazem-se até
comparações nada aconselháveis entre o grupo chamado dos diáconos e o dos
outros obreiros ativos da igreja.

De fato, as dificuldades são reais, e o problema não pode ser esquecido. Muita
gente está perguntando qual a necessidade desse ofício. O bem-estar espiritual da
igreja exige uma resposta. A maioria dos batistas sente que o diaconato é parte
inseparável da vida batista. Mas, as razões da sua existência devem ser claras,
concisas, escriturísticas e práticas.
PRECISAMOS AINDA DOS DIÁCONOS?

Sim! É a resposta mais adequada. Precisamos dos diáconos em nossas igrejas


atuais tanto quanto deles precisaram os da primitiva igreja de Jerusalém. A
compreensão exata e o emprego adequado do diaconato constitui resposta clara
para os problemas vitais que hoje desafiam as igrejas e , às vezes, emperram o seu
glorioso avanço.

O diaconato é um modelo neo-testamentário. O motivo principal que nos faz


reconhecer a necessidade da existência do diaconato em nossas igrejas hoje deve
ser apresentado em primeiro lugar, pois que todo o resto se relaciona com ele.
Precisamos dos diáconos hoje, porque esse ofício é parte inseparável do modelo da
igreja neo-testamentária. "Modelo Neo-Testamentário" é uma frase mui significativa
para nós, batistas, que gostamos de chamar nossas igrejas de igrejas do Novo
Testamento e que não nos filiamos a nenhuma outra sorte de igreja. Estamos
perfeitamente convictos de que a igreja precisa derivar suas doutrinas, organização
e métodos, e sua comissão igualmente, das páginas do Novo Testamento. Assim, o
programa da igreja deve ser organizado em plena harmonia e inteira consonância
com os ensinos do Livro Sagrado. Foi a direção do Espírito Santo que levou as
igrejas do Novo Testamento a criar o diaconato. A sabedoria divina trouxe à luz o
diaconato, dando-lhe existência, e ele tem, assim, uma finalidade divina.

Será que admitimos o diaconato por mera tradição? Absolutamente, não. No estudo
deste ofício, três coisas são verdadeiras e mui significativas quanto à igreja neo-
testamentária. Primeira - aquela igreja estava fundada sobre uma relação íntima, a
de pecadores salvos, com um Deus santo, por meio de Jesus Cristo. Assim, a igreja
não é primeiramente um companheirismo, e sim uma afinidade, cuja pedra
fundamental é a confissão duma fé pessoal em Jesus. Em segundo lugar, a igreja é
uma organização que salienta a grande responsabilidade que temos para com Deus.
E, finalmente, a sua origem divina torna eternos tanto o seu significado como a sua
utilidade. Os programas, os planos e a estratégia de Deus nunca ficam fora de
tempo ou da moda.

Quais os fatos históricos que devemos considerar aqui? Relembremos as tormentas


que davam contra a igreja primitiva em Jerusalém. Os judeus parecia estarem
convencidos de que a morte de Jesus poria fim aos seus problemas teológicos.
Achavam que uma vez morto o Chefe dos nazarenos, seus seguidores logo se
dispersariam. Algum tempo depois, no entanto, perceberam que eles ganhavam vida
nova, vida esta, oriunda da certeza de haverem estado com Jesus, pois
testemunhavam que Jesus ressuscitara. Veio o pentecoste, e , com este o poder de
Deus e o crescimento da igreja. Uma das questões que foram levantadas contra a
igreja foi em relação ao tratamento que davam às viúvas, aos órfãos e aos
necessitados. Os crentes helenistas da congregação reclamavam, dizendo que as
viúvas hebréias estavam sendo melhor contempladas que as outras. Foi nesse
impasse que o Espírito Santo apresentou aos doze uma solução: separariam sete
homens de certas habilidades e lhes confiariam os problemas da distribuição. E
assim, por sugestão do Espírito Santo, foram eleitos pela congregação os sete, para
acudir a quaisquer outras necessidades da igreja. "Então os doze convocaram a
multidão dos discípulos e lhes disseram: Não é razoável que nós deixemos a palavra
de Deus e sirvamos às mesas. Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete varões de
boa reputação... aos quais constituamos sobre este importante negócio. Nós, porém,
perseveraremos na oração e no ministério da palavra. (Atos 6:2-4).

No livro de Atos aqueles homens não recebem o nome de diáconos. São quase
sempre chamados de "os sete". Contudo, há acordo geral em que a eleição
daqueles sete varões qualificados significa realmente o início do diaconato como um
cargo na igreja. É no terceiro capítulo da primeira carta a Timóteo que aparecem
cuidadosamente esboçadas por Paulo as qualificações dos que deveriam servir à
igreja como diáconos. Também no início de sua carta aos Filipenses, lemos isto :
"Paulo e Timóteo, servos de Jesus Cristo, a todos os santos em Cristo Jesus que
estão em Filipos, com os bispos e diáconos". (Filipenses 1:1). Temos aqui forte base
escriturística para afirmar que, começando na igreja de Jerusalém, o ofício do
diaconato se desenvolvera com a aprovação e a bênção do Espírito Santo.

Deve-se distinguir entre a obra que o diácono realiza e o ofício em que é investido. O
esquecimento desta distinção tem acarretado muitos mal-entendidos acerca do
diaconato, porque não existe uma obra que seja feita exclusivamente pelos
diáconos, isto é, não há nenhum serviço que ele faça de que outros não possam
participar. Essa distinção entre a obra e a posição que ele ocupa origina-se do Novo
Testamento, onde encontramos a palavra grega "diakonos" empregada tanto para
significar "ministro" como para significar "servo". Tal palavra é usada na maior parte
das vezes não para determinar aquele que tem uma posição ou exerce um ofício na
igreja, ainda que vejamos claramente, pelas cartas paulinas, existir esse ofício.
(Fp.1:1 I Tm.3:8 e 3:12). O Novo Testamento emprega a mesma palavra para se
referir em geral a cristãos, como servos, e também a oficiais particularmente
separados para um determinado serviço. O diácono tem uma responsabilidade toda
especial para com o serviço, mas serve à igreja na mesma base em que são
chamados a servir todos os mais cristãos.

Dado que o ofício apareceu pela orientação da sabedoria de Deus, claro está que só
deve desaparecer quando dele nos vierem instruções bem claras. O que se faz
necessário é uma redescoberta do ofício, um novo estudo das Escrituras a esse
respeito, e uma reconsagração no sentido de melhor se avaliar esta criação da
vontade divina. O Novo Testamento, de fato, oferece a resposta certa à pergunta
sobre a necessidade de diáconos em nossos dias.

Os diáconos foram instituídos com os seguintes objetivos:

- Deixar desembaraçados os ministros para se dedicarem à oração e ao estudo e


ensino da palavra de Deus.

- Promover a paz na igreja ao preencher uma carência que estava gerando conflitos.

- Promover o bem-estar dos crentes que seriam beneficiados com o seu serviço.

- Reforçar a liderança da igreja.

CONCLUSÃO

A Bíblia nos apresenta diversos ministérios eclesiásticos. Se Deus os estabeleceu, é


porque eles são necessários e indispensáveis. O que se vê, entretanto, é que
apenas o ministério pastoral é valorizado atualmente. Creio que os outros ministérios
existem, mas não são reconhecidos. Quando são, parecem estar em um nível bem
abaixo do pastorado, e talvez até abaixo do diaconato. As igrejas, em geral, não
investem na formação nem na remuneração de outros ministros. Por exemplo: os
evangelistas, exceto os grandes vultos internacionais, não são vistos como
ministros, a não ser que sejam também pastores.

Quem perde com tudo isso? A própria igreja. O que vemos em muitas delas? A
liderança está centralizada nas mãos de um homem - o pastor. A igreja torna-se
então um retrato desse líder. Se limita aos seus limites e se especializa em suas
especialidades e dons. Daí o fato de existirem igrejas "especializadas" em cura, ou
expulsão de demônios, ou profecias, ou libertação de viciados, etc. Isto não é ruim.
O mal está do outro lado da moeda. Uma igreja "especializada" em curas
normalmente é deficiente no ensino da Palavra de Deus. Aí começam os problemas
e surgem as heresias. Para evitar esse tipo de situação Deus estabeleceu
ministérios vários e distintos na igreja. Precisamos valorizar cada um deles. É
necessário descobrir aqueles que os possuem, investir na formação e na
remuneração desses ministros. A liderança deve ser praticada pela equipe
ministerial. A igreja que assim fizer, será equilibrada, crescerá naturalmente e terá
saúde espiritual.

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