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Dissertação de Mestrado

ESTUDO DE METODOLOGIAS
ALTERNATIVAS DE DISPOSIÇÃO DE
REJEITOS PARA A MINERAÇÃO CASA DE
PEDRA – CONGONHAS/MG

AUTOR: MARCELO MARQUES FIGUEIREDO

ORIENTADORES: Prof. Dr. Romero César Gomes (UFOP) e


Profa. Dra. Terezinha de Jesus Espósito (UFMG)

MESTRADO PROFISSIONAL EM ENGENHARIA GEOTÉCNICA DA UFOP

OURO PRETO - NOVEMBRO DE 2007


F475e Figueiredo, Marcelo Marques.
Estudo de Metodologias Alternativas de Disposição de Rejeitos para a
Mineração Casa de Pedra - Congonhas/MG [manuscrito] : Estudo de
Metodologias Alternativas de Disposição de Rejeitos para a Mineração Casa
de Pedra – Congonhas/MG / Marcelo Marques Figueiredo. – 2007.
ix, 100 f.: il., color; graf., tabs, fotografía.

Orientadores: Prof. Dr. Romero César Gomes e Terezinha de Jesus


Espósito.

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Ouro Preto. Escola de


Minas. Núcleo de Geotecnia
Área de concentração: Geotecnia Aplicada a Mineração.

1. Geotecnia - Teses. 2. Refugos (mineração) - Aspectos ambientais. -


Teses. 3. Refugos (mineração) – Metodologia - Teses. 4. Mineração – Casa de
Pedra – Congonhas/MG - Teses. I. Universidade Federal de Ouro Preto. II.
Título.

CDU: 628.5

Catalogação: sisbin@sisbin.ufop.br
DEDICATÓRIA

A TODAS AS PESSOAS QUE FAZEM PARTE DA MINHA VIDA, AMIGOS E


FAMILIARES. COM ELES APRENDI QUE O CAMINHO É LONGO, PORÉM
POSSÍVEL DE SER TRILHADO COM PAZ, SABEDORIA E MUITO AMOR.
NAMASTÉ!!

iv
AGRADECIMENTOS
Ao professor Romero César Gomes, pela orientação e pelas excelentes discussões
geotécnicas.

A professora Terezinha Espósito, pela orientação, incentivo e apoio, desde o curso de


especialização até o mestrado profissional.

Á Companhia Siderúrgica Nacional – CSN, pela oportunidade do trabalho e


disponibilização de dados e informações, em especial à Dinalva, como principal contato
no início dos estudos.

Ao professor Jorge Valadão, pela conversa inicial, e ao Christian Osorio, pela


disponibilização de alguns resultados de ensaios.

A todos os professores e colegas do Mestrado Profissional em Geotecnia da UFOP


pelos conhecimentos trocados e pelas amizades feitas.

Aos meus pais, irmãs e avó, pelo apoio e amor incondicional. Em especial ao meu pai e
a minha mãe. Obrigado por tudo, sem vocês nada disso seria possível.

A Juju, pela paciência, carinho e amor de todas as horas. Obrigado por existir!

Aos amigos da SETE, pelo companheirismo e pela possibilidade de aprendizado e


amadurecimento profissional. Em especial ao Rogério, por ter sido a primeira pessoal a
me instigar nos caminhos da geotecnia.

Ao Morrabaxo, amigos, ontem, hoje e sempre. É bom saber que tenho amigos como
vocês, apesar dos caminhos e valores muitas vezes opostos.

Aos amigos do Núcleo Ananda, em especial ao Govinda e a Beá, pela amizade e


ensinamentos. Namasté!

v
RESUMO

Atualmente, os rejeitos do processamento dos minérios são descartados em barragens de


contenção em superfície, formadas através de barramentos convencionais (barragens de
terra compactada), construídas com a utilização de materiais provenientes de jazidas de
empréstimo ou com o próprio estéril e/ou rejeito gerado na mina e nas instalações de
beneficiamento. Essas barragens, geralmente são construídas em etapas, com
alteamentos sucessivos realizados preferencialmente por montante. Visando minimizar
os impactos ambientais e os custos associados aos processos de contenção e
recuperação de água do processo, as empresas vêm procurando novas alternativas de
disposição desses materiais. No presente trabalho foram estudadas para a Mineração
Casa de Pedra, metodologias alternativas de disposição de rejeitos, compreendendo: a
disposição do rejeito granular na forma de aterro hidráulico (pilha de rejeito), a
disposição de rejeitos desaguados (espessados) e/ou em pasta, e a co-disposição de
rejeitos e estéreis em superfície. Dessa forma, visando a definição das metodologias
propostas, foi feita uma caracterização tecnológica destes materiais, com base em
resultados de ensaios de campo e laboratório realizados ao longo da vida útil do
empreendimento. A partir dos estudos, pode-se concluir, preliminarmente, que os
rejeitos gerados em Casa de Pedra tendem a apresentar condições tecnológicas
favoráveis para disposição dos rejeitos granulares (rejeito da flotação) na forma de
aterro hidráulico e para disposição dos rejeitos finos (lama da ciclonagem secundária)
desaguados (espessados) e/ou em pasta. Com relação a co-disposição de estéreis e
rejeitos, este método deverá ser melhor estudado para aplicação aos rejeitos da CSN,
considerando sobretudo a previsão de utilização de estéril na construção da futura
Barragem do Batateiro.

vi
ABSTRACT

Currently, tailings from the ore processing have been discarded in surface containment
dams, which are formed through conventional lathe bed constructed by the use of
materials provided from “loan deposits” or by the own waste and/or tailings generated
in the mine and improvement facilities. These tailing dams are usually built in stages
with successive rising preferentially accomplished by upstream method. Seeking to
minimize the environmental impact and the costs associated to the containment and
water recovery processes, mining companies have been searching new alternatives for
these materials’ disposal. This present paper is a result from an analysis of alternative
tailings disposal methodologies for the Mining Casa de Pedra. The methodologies are:
a) the disposal of granular tailings as a hydraulic fill technique; b) the disposal of
drained tailings (thickened) and/or in paste; and c) the co-disposal of tailings and waste
in the surface. In order to define the above mentioned methodologies, a technological
characterization of these materials was developed. Preliminarily, it can be concluded
from these studies that the generated rejects in the Mining Casa de Pedra tend to present
favorable technological conditions for granular tailings disposal (flotation tailings) as a
hydraulic fill and for thin tailings disposal (secondary cycloning mud), which might be
drained (thickened) and/or in paste. Regarding to the co-disposal of wastes and tailings,
this method must be studied to a greater extent in a way to apply to CSN’s tailings. It
must be also considered the foreseen of tailing use in the future construction of
“Batateiro Dams”.

vii
Lista de Figuras

Figura 2.1 − Exemplo de pilha de rejeito construída pela técnica de aterro hidráulico
(Espósito, 2005).
Figura 2.2 − Praia de rejeito formada pela técnica de aterro hidráulico (Espósito, 2004).
Figura 2.3 – Esquema básico de um hidrociclone.
Figura 2.4 – Serie de hidrociclones localizados na crista de uma barragem.
Figura 2.5 – Grupos de materiais de empréstimo de acordo com a norma soviética
SNIP-II-53-73 (modificado – Moretti & Cruz, 1996, citado em Ribeiro, 2000).
Figura 2.6 – Correlações entre valores de ângulos de atrito e a densidade relativa para
solos granulares (modificado – Schmertman, 1978, citado em Ribeiro, 2000).
Figura 2.7 – Resultados de ensaios conepenetrométricos realizados na praia da
barragem de contenção de rejeitos de minério de ferro de Gongo Soco (Albuquerque
Filho, 2000).
Figura 2.8 – Relação entre massa específica dos grãos e teores de ferro em rejeitos de Fe
(modificado – Espósito e Lopes, 2000, citado em Hernandez, 2002).
Figura 2.9 – Relação de dependência do ângulo de atrito com a porosidade e a
granulometria (Lopes, 2002).
Figura 2.10 – Resultados de ensaios CIU para rejeitos de minério de ferro (Gomes et al.,
2002).
Figura 2.11 – Trajetória de tensões dos ensaios para o rejeito de minério de ferro
(Gomes et al., 2002).
Figura 2.12 – Exemplos típicos de rejeitos espessados.
Figura 2.13 – Caracterização de diferentes tipos de rejeitos (Laudriault modificado,
2002).
Figura 2.14 – Espessadores de alta densidade de cone profundo (Jewell, 2002).
Figura 2.15 – Ângulos de disposição para polpas de alta densidade e para pasta, para
diferentes tipos de terreno (Laudriault, 2002).
Figura 2.16 – Consistências de mistura para disposição, seus correspondentes
equipamentos para desaguamento e bombeamento, ângulos de repouso e incremento de
volume de rejeito para disposição (adaptado de Laudriault, 2002).

viii
Figura 2.17 – Disposições típicas de rejeitos espessados e/ou em pasta (Robinsky,
2002).
Figura 2.18 – Representação esquemática do teste de abatimento de cone ou “slump”
(Clayton, et al, 2003).
Figura 2.19 – Arranjo esquemático do teste de “flume” ou de calha (Sofrá et al., 2002,).
Figura 2.20 – Variação do ângulo de atrito para variadas taxas de concentração de
estéreis e rejeitos (Leduc et al., 2003).
Figura 2.21 – Variação na permeabilidade para variadas taxas de concentração de
estéreis e rejeitos (Leduc et al., 2003).
Figura 2.22 – Bacias de rejeito construídas no depósito de estéril (Leduc et al., 2003,
modificado).
Figura 2.23 – Mistura de rejeito com estéril no topo do depósito (Leduc et al., 2003,
modificado).
Figura 2.24 – Injeção de rejeito em furos verticais no topo do depósito de estéril (Leduc
et al., 2003, modificado).
Figura 2.25 – Injeção de rejeito em furos inclinados no topo do depósito de estéril
(Leduc et al., 2003, modificado).
Figura 2.26 – Disposição de rejeito em camadas finas no topo do depósito (Leduc et al.,
2003, modificado).

Figura 3.1 – Macrofluxograma da planta de beneficiamento – 16.000.000 t/ano.


Figura 3.2 – Vista de jusante da barragem B3 (CSN, 2006).
Figura 3.3 – Vista de jusante da barragem B4 (CSN, 2006).
Figura 3.4 – Vista de jusante da barragem B5 (CSN, 2006).
Figura 3.5 – Vista de jusante da barragem B6 (CSN, 2006).
Figura 3.6 – Seção esquemática da barragem do Batateiro (DAM, 2004).
Figura 3.7 – Seção típica da barragem Casa de Pedra (DAM, 2004).

Figura 4.1 – Microfotografias da amostra da lama da ciclonagem secundária: a) e-


secundários, 2000x; b) e- secundários, 3500x; c) e- retroespalhados, 1000x; d) seção
polida, e- retroespalhados, 750x (Osorio, 2005).

ix
Figura 4.2 - Microfotografias da amostra do rejeito da flotação: a) e- secundários, 750x;
b) e- secundários, 500x; c) e- retroespalhados, 1000x; d) seção polida, e-
retroespalhados, 500x (Osorio, 2005).
Figura 4.3 - Difratograma de raios x da amostra da lama da ciclonagem secundaria.
Figura 4.4 - Difratograma de raios x da amostra do rejeito da flotação.
Figura 4.5 – Distribuição granulométrica da lama da ciclonagem secundária (Osorio,
2005).
Figura 4.6 - Distribuições granulométricas do rejeito da flotação (Osorio, 2005).
Figura 4.7 – Resultados de ensaio de piezocone realizados na praia de rejeitos da
barragem B3 (DAM, 2004).
Figura 4.8 – Diagramas tensão desviadora x deformação axial, poropressão x
deformação axial e razão de tensões x deformação axial – Amostra I (DAM, 2004).
Figura 4.9 - Diagramas tensão desviadora x deformação axial, poropressão x
deformação axial e razão de tensões x deformação axial – Amostra II (DAM, 2004).
Figura 4.10 - Diagramas tensão desviadora x deformação axial, poropressão x
deformação axial e razão de tensões x deformação axial – Amostra III (DAM, 2004).
Figura 4.11 - Diagramas tensão desviadora x deformação axial, poropressão x
deformação axial e razão de tensões x deformação axial – Amostra IV (DAM, 2004).
Figura 4.12 – Envoltória de ruptura obtida em termos de tensões totais – Amostra III
(DAM, 2004).
Figura 4.13 – Envoltória de ruptura obtida em termos de tensões efetivas – Amostra III
(DAM, 2004).
Figura 4.14 – Trajetória em termos de tensões efetivas – Amostra III (DAM, 2004).
Figura 4.15 – Gráfico de viscosidade em função da velocidade de rotação da haste -
Amostra I – lama da ciclonagem secundária (Osorio, 2005).
Figura 4.16 – Gráfico de viscosidade em função da velocidade de rotação da haste -
Amostra II – rejeito da flotação (Osorio, 2005).
Figura 4.17 – Gráfico de viscosidade em função da velocidade de rotação da haste -
Amostra III – mistura de 75% da amostra I e 25% da amostra II (Osorio, 2005).
Figura 4.18 - Gráfico de viscosidade em função da velocidade de rotação da haste
Amostra IV – mistura de 50% da amostra I e 50% da amostra II (Osorio, 2005).

x
Figura 4.19 - Gráfico de viscosidade em função da velocidade de rotação da haste -
Amostra V – mistura de 25% da amostra I e 75% da amostra II (Osorio, 2005).
Figura 4.20 – Gráfico de altura de “slump” em função da porcentagem de sólidos das
pastas, considerando as amostras originais e misturas (Osorio, 2005).
Figura 4.21 – Gráfico de ângulo de repouso em função da porcentagem de sólidos das
pastas, considerando as amostras originais e misturas (Osorio, 2005).

Figura 5.1 – Distribuição granulométrica do rejeito da flotação.


Figura 5.2 – Densidades relativas x ângulos de atrito (amostras de rejeito coletadas na
praia da barragem B3).

xi
Lista de Tabelas

Tabela 2.1 – Custos relativos aos diferentes sistemas de disposição de rejeitos (Rice &
Davies, 2002 em Gomes, 2006).
Tabela 2.2 – Valores de altura de “slump” e ângulo de repouso para pastas com
diferentes conteúdos de sólidos (Chambers et al., 2002).

Tabela 4.1 – Análise química quantitativa dos rejeitos da CSN (Osorio; 2005).
Tabela 4.2 – Tamanhos d10, d50 e d90 das amostras sólidas dos rejeitos da CSN (Osorio,
2005).
Tabela 4.3 – Resultados de ensaios granulométricos obtidos através de 04 ensaios
realizados em amostras de rejeitos coletadas na praia da barragem B4 (Geolabor, 2005).
Tabela 4.4 – Resultados de ensaios granulométricos obtidos em amostras coletadas no
aterro experimental da CSN (UFV, 2005).
Tabela 4.5 – Resultados de ensaios granulométricos realizados pela CEMIG amostras
da praia de rejeito da barragem B3 (DAM, 2004).
Tabela 4.6 – Densidades dos rejeitos de Casa de Pedra (Osorio, 2005).
Tabela 4.7 – Resultados de ensaios realizados pela CEMIG em amostras da praia de
rejeito da barragem B3 (DAM, 2004).
Tabela 4.8 – Massas especificas secas e índices de vazios limites de amostras de rejeitos
coletadas na praia da barragem B6 (Geolabor, 2005).
Tabela 4.9 – Resultados de ensaios para determinação de pesos específicos dos sólidos e
índices de vazios obtidos no aterro experimental da CSN (UFV, 2005).
Tabela 4.10 – Tempos de passagem de fluxo de ar e valores de ASE segundo Blaine
(Osorio, 2005).
Tabela 4.11 – Resultados de ensaios de campo de palheta na praia de rejeitos da
barragem B3 (DAM, 2004).
Tabela 4.12 – Parâmetros de resistência dos rejeitos da barragem B3 (DAM, 2004).
Tabela 4.13 – Amostras de rejeito em pastas e misturas da mineração Casa de Pedra
(Osorio, 2005).

xii
Tabela 4.14 – Alturas do “slump” obtidas usando geometria cilíndrica (Osorio, 2005).
Tabela 4.15 – Porcentagem de sólidos necessária para abatimento de 50% da altura do
“slump” (Osorio, 2005).
Tabela 4.16 – Ângulos de repouso da disposição dos rejeitos em flume para diferentes
porcentagens de sólidos da pasta (Osorio, 2005).
Tabela 4.17 – Valores de altura de “slump” e ângulos de repouso para as amostras
originais dos rejeitos de Casa de Pedra (Osorio, 2005).

Tabela 5.1 – Análise comparativa das especificações granulométricas dos rejeitos de


Casa de Pedra (diâmetros em mm).

xiii
Lista de Símbolos, Nomenclatura e Abreviações

ASE – Área superficial específica


CSN – Companhia Siderúrgica Nacional
Deep Cone – Espessador de cone profundo
Piping – Erosão devido à percolação de água no interior do aterro, com carreamento de
sólido
Overtopping – galgamento
Overflow – Partição granulométrica de partículas mais finas
Underflow – Partição granulométrica de partículas mais grossas
Flume test – Ensaio de simulação de deposição hidráulica
Slump test – Ensaio de simulação de abatimento
Fe – Ferro
CIU – Ensaio triaxial consolidado, isotrópico e não-drenado
Tickened tailings – Rejeitos espessados
Paste tailings – Rejeitos em pasta
Wet cake tailings – Rejeitos filtrados a úmido
Dry cake tailings – Rejeitos filtrados a seco
Slurry – Polpa
Sinter feed – produto do beneficiamento do minério de ferro de granulometria fina
Pellet feed – produto do beneficiamento do minério de ferro de granulometria fina
Lump ore - produto do beneficiamento do minério de ferro de granulometria grossa
Paste – Pasta
Deck – Plataforma da peneira
Mn – Manganês
Si – Silício
Al – Alumínio
O – Oxigênio
Mg – Magnésio
Na – Sódio
S – Enxofre

xiv
P – Fósforo
SiO2 – Sílica
Fe2O3 – Hematina
FeO(OH) – goethita
MnO2 – Pirolusita
Mg3(OH)2Si4O10 – Talco
Al2Si2O5(OH)4 – Caulinita
Al(OH)3 – Gibsita
PG – Picnometria a gás
PS – Picnometria simples
Run-of – escoamento superficial
Backfill – Preenchimento de aberturas subterrâneas com estéril
Pastefill - Preenchimento de aberturas subterrâneas com pasta
TTD - Thickened tailings disposal
Mícrons – Unidade de medida de tamanho de partículas
Yield stress – Tensão de escoamento
Mpa – Megapascal
Μm – Micrômetro
CPTU – Cone penetration test com medida de poropressão (piezocone)
Su – Resistência não drenada
CP – Corpo de prova
VST – Vane test
SNIP-II-53-73 – Especificação soviética referente ao diâmetro de partículas necessário
para uma razoável segregação hidráulica na construção de aterros hidráulicos.
D10 – Diâmetro efetivo
D60 – Diâmetro médio
D90 – Diâmetro correspondente a 60% passando na abertura da malha da peneira
considerada e obtido na curva granulométrica
σ − tensão total
σ1 – Tensão principal maior
σ3 – Tensão principal menor
μ – Poropressão
φ - Ãngulo de atrito

xv
C – Coesão
Rpm – Rotações por minuto
HS – Altura do “slump”
θR - Ângulo de repouso

xvi
Lista de Anexos

Anexo I − Resultados de Ensaios – Parâmetros de Resistência.


Figura I.1 – Envoltória de ruptura obtida em termos de tensões totais – Amostra I
(DAM, 2004).
Figura I.2 – Envoltória de ruptura obtida em termos de tensões efetivas – Amostra I
(DAM, 2004).
Figura I.3 – Envoltória de ruptura obtida em termos de tensões totais – Amostra II
(DAM, 2004).
Figura I.4 – Envoltória de ruptura obtida em termos de tensões efetivas – Amostra II
(DAM, 2004).
Figura I.5 – Envoltória de ruptura obtida em termos de tensões totais – Amostra IV
(DAM, 2004).
Figura I.6 – Envoltória de ruptura obtida em termos de tensões efetivas – Amostra IV
(DAM, 2004).
Figura I.7 – Trajetória em termos de tensões totais – Amostra I (DAM, 2004).
Figura I.8 – Trajetória em termos de tensões efetivas – Amostra I (DAM, 2004).
Figura I.9 – Trajetória em termos de tensões totais – Amostra II (DAM, 2004).
Figura I.10 – Trajetória em termos de tensões efetivas – Amostra II (DAM, 2004).
Figura I.11 – Trajetória em termos de tensões totais – Amostra IV (DAM, 2004).
Figura I.12 – Trajetória em termos de tensões efetivas – Amostra IV (DAM, 2004).

xvii
ÍNDICE

CAPÍTULO 1 − INTRODUÇÃO

1.1 JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS DO TRABALHO ............................................1

1.2 ESCOPO DA DISSERTAÇÃO..............................................................................6

CAPÍTULO 2 − METODOLOGIAS ALTERNATIVAS DE DISPOSIÇÃO DE


REJEITO

2.1 DISPOSIÇÃO DE REJEITOS GRANULARES NA FORMA DE ATERRO


HIDRÁULICO...............................................................................................................8

2.1.1 Histórico e Considerações Sobre a Técnica de Disposição Hidráulica..........8


2.1.2 Aplicação da Técnica de Aterro Hidráulico ás Barragens de Contenção de
Rejeitos...................................................................................................................11
2.1.3 Critérios de Aplicabilidade da Técnica de Aterro Hidráulico......................17
2.1.4 Parâmetros Geotécnicos dos Materiais de Aterro Hidráulico......................20

2.2 DISPOSIÇÃO DE REJEITOS DESAGUADOS (ESPESSADOS) E/OU EM


PASTA.........................................................................................................................25

2.2.1 Histórico e Princípios da Técnica de Disposição de Rejeitos Espessados...25


2.2.2 Vantagens e Desvantagens da Técnica de Disposição de Rejeitos
Desaguados (Espessados) e/ou em Pasta................................................................33
2.2.3 Critérios de Aplicabilidade da Técnica e Condicionantes de Projeto de
Disposição de Rejeitos Desaguados (Espessados) e/ou em Pasta..........................38

2.3 CO-DISPOSIÇÃO DE REJEITOS DE ESTÉREIS DE MINA ...........................43

2.3.1 Princípios Gerais da Técnica de Co-Disposição de Rejeitos e Estéreis de


Mina........................................................................................................................43
2.3.2 Vantagens de Desvantagens da Técnica de Co-Disposição de Rejeitos e
Estéreis de Mina.....................................................................................................49

xviii
2.3.3 Critérios de Aplicabilidade da Técnica de Co-Disposição de Rejeitos e
Estéreis de Mina e Condicionantes de Projeto.......................................................51

CAPÍTULO 3 − GERAÇÃO E PRODUÇÃO DE REJEITOS DE FERRO DA


MINERAÇÃO CASA DE PEDRA - CSN

3.1 CARACTERIZAÇÃO GERAL DO EMPREENDIMENTO...............................53

3.2 PROCESSO DE BENEFICIAMENTO E GERAÇÃO DE REJEITOS DE CASA


DE PEDRA ..................................................................................................................55

3.3 SISTEMA DE DISPOSIÇÃO DE REJEITOS DE CASA DE PEDRA...............57

3.3.1 Barragem B3.................................................................................................57


3.3.2 Barragem B4.................................................................................................58
3.3.3 Barragem B5.................................................................................................59
3.3.4 Barragem B6.................................................................................................60
3.3.5 Estruturas Previstas para Implantação a Curto Prazo...................................61
3.3.5.1 Barragem do Batataeiro.....................................................................61
3.3.5.2 Barragem Casa de Pedra....................................................................62

CAPÍTULO 4 − CARACTERIZAÇÃO TECNOLÓGICA DOS REJEITOS DE


FERRO DA MINERAÇÃO CASA DE PEDRA - CSN

4.1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................65

4.2 CARACTERIZAÇÃO TECNOLÓGICA DA FRAÇÃO SÓLIDA DOS


REJEITOS............ .......................................................................................................66

4.2.1 Composição Química e Mineralógica...........................................................66


4.2.2 Distribuição Granulométrica.........................................................................70
4.2.3 Densidades, Pesos Específicos e Índices de Vázios......................................74
4.2.4 Superfície Específica das Amostras Sólidas..................................................77
4.2.5 Parâmetros de Resistência.............................................................................78

4.3 CARACTERIZAÇÃO TECNOLÓGICA DOS REJEITOS EM PASTA.............86

4.3.1 Preparação das Amostras dos Rejeitos em Pasta..........................................86


4.3.2 Viscosidade das Pastas..................................................................................87

xix
4.3.3 Testes de Slump.............................................................................................91
4.3.4 Testes de Calha ou Flume..............................................................................93

CAPÍTULO 5 − ALTERNATIVAS DE DISPOSIÇÃO DOS REJEITOS


GERADOS PELA MINERAÇÃO CASA DE PEDRA - CSN

5.1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................98

5.2 ALTERNATIVA 1: DISPOSIÇÃO DOS REJEITOS GRANULARES NA FORMA


DE ATERRO HIDRÁULICO .....................................................................................98

5.2.1 Premissas e Critérios de Referência..............................................................98


5.2.2 Aplicabilidade da Técnica aos Rejeitos da CSN.........................................100
5.2.3 Estudos Complementares............................................................................103

5.3 ALTERNATIVA 2: DISPOSIÇÃO DE REJEITOS DESAGUADOS


(ESPESSADOS) E/OU EM PASTA .........................................................................105

5.3.1 Premissas e Critérios de Referência............................................................105


5.3.2 Aplicabilidade da Técnica aos Rejeitos da CSN.........................................106
5.3.3 Estudos Complementares............................................................................107

5.4 ALTERNATIVA 3: CO-DISPOSIÇÃO DE REJEITOS E ESTÉREIS DE


MINA.........................................................................................................................108

5.4.1 Premissas e Critérios de Referência............................................................108


5.4.2 Aplicabilidade da Técnica aos Rejeitos da CSN.........................................109
5.4.3 Estudos Complementares............................................................................109

CAPÍTULO 6 − CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS

6.1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................110

6.2 PRINCIPAIS CONCLUSÕES ...........................................................................111

6.3 SUGESTÕES PARA TRABALHOS E PESQUISAS FUTURAS ....................117

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................119

xx
CAPÍTULO1

INTRODUÇÃO

1.1 - JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS DO TRABALHO

As atividades de mineração geram uma quantidade significativa de estéreis e rejeitos,


subprodutos inerentes ao processo de lavra e beneficiamento do minério, sendo que a
disposição destes materiais afeta de forma qualitativa e quantitativa o meio ambiente. A
quantidade de estéreis e rejeitos gerados numa mineração está relacionada ao método de
lavra empregado, seja a céu aberto ou subterrâneo, e ao teor do mineral de minério
presente na rocha de interesse. De uma maneira geral, estes materiais são gerados em
menor escala em minas subterrâneas, uma vez que, normalmente, os teores do minério
se apresentam mais elevados e a tonelagem de material lavrado é menor.

Em minas a céu aberto, devido ao aprimoramento das técnicas de lavra e de


beneficiamento e aos esforços para redução dos custos de produção, o aproveitamento
de minérios de baixos teores, considerados no passado como material de baixo valor
agregado, tornou-se prática comum nas mineradoras, contribuindo significativamente
para o aumento nos volumes de rejeitos gerados, podendo ser citadas as seguintes
razões médias entre o produto final e a geração de rejeitos de alguns minérios: ferro 2/1,
carvão 1/3, fosfato 1/5, cobre 1/30 e ouro 1/10000 (Abrão, 1987).

Neste contexto, visando minimizar impactos ambientais e melhorar aspectos de


segurança e de desempenho das obras geotécnicas, existe hoje uma preocupação de
dispor de forma otimizada os resíduos de mineração. Segundo Martin et al. (2002), a
principal função de qualquer estrutura de disposição de rejeito consiste no
armazenamento seguro, a longo prazo, do material de rejeito proveniente do processo de
beneficiamento do minério, visando minimizar os impactos sócio-ambientais. O projeto

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de cada estrutura e a metodologia de disposição são específicos para cada mineração e
levam em conta fatores operacionais e condicionantes locais.

Os rejeitos podem ser descartados sob a forma sólida (pasta ou granel), ou líquida
(polpa de água com sólidos ou lama), podendo sua disposição ser feita em superfície,
em cavidades subterrâneas ou em ambientes sub-aquáticos, esta última com algumas
restrições do ponto de vista ambiental. A forma de disposição dos rejeitos está
relacionada diretamente ao tipo de minério e de processo empregado para o seu
beneficiamento, ou seja, a princípio, seu estado de disposição (pasta, granel ou polpa)
estará condicionado às etapas do processo e às características da planta, podendo,
posteriormente, ser alterado conforme a metodologia proposta para a sua disposição
final. Ressalte-se, entretanto, que a alteração do estado do rejeito para atendimento à
metodologia de disposição compreende, única e exclusivamente, mudança no seu estado
de concentração e não de suas características intrínsecas físico-químicas e
mineralógicas. Além disso, as diversas metodologias existentes e os procedimentos de
disposição de rejeitos resultam em depósitos com propriedades de engenharia
substancialmente diferentes.

Segundo Robertson et al. (1987), estruturas de disposição de rejeitos são construídas


com os seguintes objetivos preliminares:

¾ servir como estrutura de separação dos sólidos e da água presente nos rejeitos,
através de decantação dos sólidos na bacia, e recuperação da água para o
processo industrial;

¾ conter e controlar a água adicional do processo e a água intersticial presente nos


rejeitos e na lagoa formada no processo de deposição;

¾ conter os sólidos presentes nos rejeitos que, muitas vezes, são reativos e não-
inertes, de forma a atender as exigências dos órgãos ambientais.

Segundo Gomes (2006), em função das características granulométricas dos rejeitos,


estes podem ser classificados como arenosos ou finos (lamas), sendo, na maioria das
vezes, essencialmente granulares em ambos os casos. Os rejeitos de granulometria fina,

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apesar de comumente avaliados como materiais com características similares às dos
solos siltosos e argilosos, apresentam distinções físicas, químicas e estruturais, nem
sempre comportando-se geotecnicamente como solos.

Com relação à disposição atual de rejeitos, tem-se verificado uma preferência por
barragens de contenção em superfície, uma vez que sua disposição em cavidades
subterrâneas estará condicionada necessariamente à geração e à necessidade de
preenchimento destas aberturas, assim como o método de lavra empregado na mina
subterrânea. As barragens de superfície podem ser construídas em etapa única, através
de barramentos convencionais (barragens de terra compactada), onde os materiais
utilizados na construção são provenientes, em sua maioria, de jazidas de empréstimos
localizadas próximas à área da barragem ou com outros tipos de material como, por
exemplo, estéreis e rejeitos gerados na mina e nas instalações de beneficiamento,
respectivamente.

Quando da utilização dos rejeitos gerados na planta, essas barragens, geralmente são
construídas em etapas, com alteamentos sucessivos e ao longo do tempo. Em muitos
casos, quando o rejeito se apresenta com granulometria mais grosseira (acima de
0,074mm), sua deposição pode ser feita através da técnica denominada de aterro
hidráulico, conformando pilhas e barragens de rejeitos, sendo que os alteamentos são
preferivelmente realizados a montante. A construção em alteamentos sucessivos, além
de diluir os custos envolvidos, dá ao minerador maior flexibilidade de operação, pois
possibilita adaptar a construção destas estruturas às necessidades reais da mina.

Segundo Parra et. al. (1991), rejeitos mais granulares, com coeficiente de
permeabilidade superior a 5 x 10-4 cm/s, podem ser removidos do reservatório e
diretamente utilizados no aterro da barragem, sem passar por um processo de secagem.
Nestes casos, a velocidade de construção do aterro é condicionada pelo tempo
necessário para a drenagem da camada de material lançada, sendo este, suficientemente
curto para permitir uma boa continuidade dos serviços. Rejeitos mais finos também
podem ser utilizados na execução de aterros, se passarem por processos de secagem
mais onerosos.

3
Quanto aos métodos construtivos de barragens de rejeitos, construídas por alteamentos
sucessivos, os três tipos clássicos podem ser citados: Método de Montante, Método de
Jusante e Método de Linha de Centro, sendo que o Método de Montante é considerado o
mais econômico e de maior facilidade executiva. Entretanto, neste caso, apesar das
vantagens apresentadas e da necessidade de menores áreas para disposição, estas
estruturas, principalmente quando alteadas com o próprio rejeito do processo, merecem
maior controle no acompanhamento durante a etapa construtiva, uma vez que
apresentam algumas desvantagens relacionadas à dificuldade de controle da superfície
freática, susceptibilidade ao piping, superfícies erodíveis e probabilidade de liquefação
(Espósito, 2000).

Segundo Robertson et al (1987), as propriedades de engenharia de relevância crítica na


definição da escolha do método de construção estão relacionadas à porcentagem do
material granular presente no rejeito, densidade relativa dos grãos, estudo do potencial
de liquefação e grau de consolidação do rejeito, além de suas características de
permeabilidade e solubilização. Na disposição dos rejeitos, além dos aspectos de
construção e segurança, pode ser requerido que o reservatório formado seja estanque
para impedir a infiltração dos efluentes danosos à qualidade das águas como, por
exemplo, soluções contendo cianetos, metais pesados ou com pH muito ácido.

Neste sentido, visando minimizar os impactos ambientais e os custos associados aos


processos de contenção e recuperação de água do processo, esses rejeitos, apesar de não
possuírem valor econômico direto, têm sido alvo de grande interesse por parte das
empresas do setor de mineração, que vêm procurando novas alternativas de disposição
desses materiais. Desta forma, a adoção de novas metodologias para a disposição dos
rejeitos oriundos das atividades de mineração tornou-se uma proposta não apenas
válida, mas estratégica. (Gomes, 2006).

Considerando que o principal problema relacionado à estabilidade das estruturas de


contenção citadas anteriormente refere-se, basicamente, aos procedimentos e efeitos
relativos ao confinamento da água residual do processo em barragens convencionais, a

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adoção de novas metodologias baseadas no desaguamento dos rejeitos também tem sido
estudada por meio de técnicas de espessamento do rejeito, reduzindo a incorporação da
água residual ao produto final resultante.

Neste caso, o reaproveitamento imediato de grandes volumes de água diretamente a


partir de espessadores, em relação aos procedimentos para recuperação da água e de seu
retorno à planta industrial, a partir da polpa acumulada e do reservatório formado em
barragens (cujas perdas são de difícil previsão), constitui a feição mais relevante desta
tecnologia, além do ganho em volume que isto representaria numa área de disposição.
Apesar do custo relativamente elevado desta técnica, do ponto de vista geotécnico e
ambiental, adicionalmente, a disposição de rejeitos espessados e/ou em pasta incorpora
as seguintes vantagens (ainda que considerando que estes aspectos referem-se, muitas
vezes, a previsões de comportamento, uma vez que tais tecnologias são muito recentes):

¾ menor área para disposição;

¾ maior vida útil;

¾ maior recuperação de água;

¾ maior densidade e estabilidade das estruturas de disposição;

¾ menor susceptibilidade à liquefação e a rupturas catastróficas;

¾ menor potencial de contaminação das águas subterrâneas;

¾ maior recuperação dos reagentes utilizados nos processos de tratamento;

¾ maior facilidade de aceleração dos procedimentos de reabilitação das áreas


degradadas.

Por fim, outra metodologia alternativa que merece destaque e que também tem sido
estudada em algumas minas no Brasil e no mundo, está relacionada à disposição destes
materiais em áreas já mineradas, e em depósitos específicos, juntamente com o estéril
da mina, através da co-disposição ou disposição combinada destes materiais (rejeitos e
estéreis). Esta disposição pode se dar em ambientes confinados, como é o caso da

5
disposição destes resíduos em cavas exauridas, ou até mesmo em barragens de
contenção e pilhas de estéril, conformando parte do barramento ou o próprio depósito.

Desta forma, um estudo detalhado das características tecnológicas e condições do rejeito


a ser depositado é de fundamental importância como condicionante de projeto e
parâmetro de viabilidade, considerando a enorme variabilidade operacional da planta de
beneficiamento e, conseqüentemente das condições dos rejeitos e de sua disposição.

Face a estas novas condicionantes e perspectivas, uma proposta de avaliação de


implementação de metodologias alternativas para disposição de rejeitos, a partir de uma
caracterização tecnológica destes materiais envolvendo ensaios de campo e laboratório,
torna-se imperativa para quantificação da relação custo-benefício de um dado
empreendimento mineral.

O objetivo fundamental dessa dissertação é avaliar tais propostas alternativas para um


estudo de caso de uma mineração de ferro situada na região do Quadrilátero Ferrífero,
no estado de Minas Gerais. Estes estudos compreendem a caracterização tecnológica
dos rejeitos gerados no empreendimento minerário de Casa de Pedra, de propriedade da
Companhia Siderúrgica Nacional - CSN, localizado no município de Congonhas-MG,
visando à definição e a avaliação da aplicabilidade de metodologias alternativas de
disposição de rejeitos propostas, quais sejam: disposição de rejeito granular na forma de
aterro hidráulico (pilha de rejeito), disposição de rejeitos desaguados (espessados) e/ou
em pasta e a co-disposição de rejeitos e estéreis em superfície.

1.2 - ESCOPO DA DISSERTAÇÃO

Essa dissertação apresenta-se dividida em seis capítulos. No Capítulo 1 são


apresentados os objetivos e as justificativas, como também o escopo geral do estudo
proposto.

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No Capítulo 2 é apresentada uma revisão bibliográfica sobre as metodologias de
disposição de rejeitos propostas nesse trabalho, compreendendo histórico e
considerações sobre as técnicas abordadas, aplicação das técnicas e suas principais
características, vantagens e desvantagens dos métodos, além de critérios de
aplicabilidade, condicionantes de projeto, melhorias das condições de segurança e
correlações empíricas abordadas.

No Capítulo 3, encontra-se apresentada uma breve descrição do processo de geração e


produção de rejeitos de ferro da Mineração Casa de Pedra, incluindo uma caracterização
geral do processo de beneficiamento adotado, uma descrição das estruturas e do atual
sistema de disposição de rejeitos da mineração estudada e, por fim, uma descrição dos
projetos de expansão das estruturas de contenção de rejeitos e previsão de construção
das futuras barragens.

Com base na caracterização tecnológica dos rejeitos de ferro da Mineração Casa de


Pedra, no Capítulo 4, são apresentados os principais resultados obtidos a partir de
ensaios de campo e laboratório realizados em amostras representativas dos rejeitos
gerados no processo de beneficiamento e, atualmente, dispostos nas estruturas de
contenção e barragens existentes (Barragem Casa de Pedra).

No Capítulo 5, faz-se uma avaliação das metodologias de disposição para os rejeitos de


Casa de Pedra, a partir dos resultados de caracterização tecnológica dos rejeitos. Nesse
capítulo, para cada metodologia de disposição proposta, são apresentadas as principais
premissas e critérios de referência, as condições de aplicabilidade ao rejeito da CSN,
além dos estudos complementares propostos.

No Capítulo 6 encontram-se apresentadas as conclusões dos estudos desenvolvidos


nesta dissertação, incluindo-se também algumas sugestões para pesquisas futuras.

7
CAPÍTULO 2

METODOLOGIAS ALTERNATIVAS DE DISPOSIÇÃO DE


REJEITOS

Nesse capítulo, será apresentada uma revisão bibliográfica de três metodologias


alternativas de disposição de rejeitos, consideradas não convencionais, quando
comparadas ao sistema de disposição de rejeitos em forma de polpas minerais contidas
em barragens de terra e/ou bacias de rejeito. Essas metodologias foram consideradas no
estudo proposto e serão avaliadas como alternativas de disposição para os rejeitos
gerados na Mineração Casa de Pedra, considerando as vantagens que estes métodos
apresentam em relação às práticas convencionais de disposição, principalmente em
termos da necessidade de menores áreas de disposição e, conseqüentemente, de
impactos ambientais mais reduzidos.

2.1 - DISPOSIÇÃO DE REJEITOS GRANULARES NA FORMA DE ATERRO


HIDRÁULICO

2.1.1 - Histórico e Considerações Sobre a Técnica de Disposição Hidráulica

Segundo Moretti e Cruz, citado em Cruz (1996), a hidromecanização pode ser


caracterizada como a atividade que envolve um conjunto de técnicas relacionadas à
explotação, transporte e deposição de qualquer material sólido em uma área
predeterminada, com o auxílio de água ou outro tipo de fluido. Os aterros construídos
por meio de hidromecanização são comumente denominados como aterros hidráulicos.

A Figura 2.1 a seguir apresenta o aspecto de um aterro formado com o rejeito de


mineração, construído pela técnica de aterro hidráulico.

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Figura 2.1 – Exemplo de pilha de rejeito construída pela técnica de aterro hidráulico.
(Espósito, 2000)

Durante anos, o processo de hidromecanização foi utilizado na construção de diques,


desvios de rios, barragens de contenção de sedimentos e barragens de contenção de
cheias, sendo utilizado, entretanto, sem técnicas de projeto e metodologias construtivas
que minimizassem os riscos de potenciais rupturas.

A Holanda foi um dos primeiros países a utilizar a técnica de aterro hidráulico, por volta
do Século XVII, obtendo grande sucesso na remoção de sedimentos de portos e canais,
e nos processos de recuperação de áreas abaixo do nível do mar, através de atividades
de dragagem. Além da Holanda, outro país pioneiro nesta técnica foi o Canadá, por
meio da utilização de dragagem para escavação do canal de Suez em 1856. Mais
recentemente, entre 1947 e 1973, mais de 100 estruturas de projetos hidrelétricos foram
construídas utilizando o processo de hidromecanização nos países que formavam a
antiga União Soviética (Morgenstern & Küpper, 1988).

A metodologia de disposição baseada na técnica de aterro hidráulico foi aprimorada


pelos americanos, iniciada durante o período de exploração de ouro na Califórnia (HSU,
1988). Inicialmente as barragens de aterro hidráulico soviéticas foram construídas de
forma similar à americana, sendo gradualmente adaptadas à experiência acumulada na
construção de diversas usinas hidrelétricas. A partir de 1973, a experiência soviética
gerou critérios e prescrições específicas.

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Inicialmente, a seção típica de uma barragem de aterro hidráulico era constituída por um
talude de montante com inclinação 1V:3H, um talude de jusante com inclinação 1V:2H
e um núcleo impermeável de argila. Entretanto, a falta de controle construtivo levava
comumente à ruptura destas estruturas ainda na fase de construção, em função do lento
processo de adensamento do material do núcleo, normalmente de alta plasticidade, em
oposição às altas velocidades de lançamento do aterro.

A experiência brasileira com a aplicação da metodologia de aterro hidráulico envolveu


cerca de dezesseis aterros de baixa altura, construídos entre 1906 e 1945, adotando-se
principalmente a metodologia americana. Estas estruturas tinham, em média, 30m de
altura e foram construídas a partir de um núcleo de argila siltosa e com espaldares de
areia fina lançados hidraulicamente, destacando-se, pela importância e tamanho, as
barragens executadas ao longo dos rios Grande e Guarapiranga.

Embora essas barragens tenham apresentado um desempenho satisfatório, a falta de


controle do método de lançamento sempre representou uma grande dificuldade em
termos de se prever o real comportamento do material depositado, bem como da
estabilidade da estrutura como um todo, causando restrições e dúvidas sobre o método
de hidromecanização.

Como síntese desta abordagem geral, constata-se que, embora com muitas restrições
devido principalmente à execução de projetos inadequados e falta de controle dos
métodos construtivos, que resultaram em uma série de rupturas de estruturas dessa
natureza, a técnica de aterro hidráulico, desde que bem controlada e bem avaliada
tecnicamente, pode ser considerada como uma excelente alternativa de construção,
principalmente quando aplicada à disposição de resíduos tais como os rejeitos oriundos
das plantas de beneficiamento da mineração. Estes condicionantes e as principais
vantagens da técnica de aterro hidráulico aplicada a barragens de contenção de rejeitos
são detalhadas no tópico a seguir.

10
2.1.2 - Aplicação da Técnica de Aterro Hidráulico às Barragens de Contenção de
Rejeitos

Visando principalmente diluir os custos envolvidos na implantação de uma barragem


convencional para contenção de rejeitos, estes, quando granulares, são usualmente
utilizados pelas mineradoras como materiais de construção do próprio barramento,
sendo, então, realizados alteamentos sucessivos conforme cronograma construtivo e de
acordo com a sua geração na planta. Neste caso, o rejeito granular também é
transportado e depositado por meio da técnica de aterro hidráulico, conformando a
barragem alteada com rejeito e formando a praia, porção do reservatório mais próxima à
barragem, que recebe este nome devido às suas características que proporcionam o
afastamento da lâmina d’água em relação ao barramento.

A Figura 2.2 a seguir apresenta o aspecto de uma praia de rejeito, formada pela técnica
de aterro hidráulico.

Figura 2.2 - Praia de rejeitos formada pela técnica de aterro hidráulico. (Espósito, 2000)

A técnica de disposição envolve, inicialmente, a construção de um dique de partida,


geralmente composto por solo ou material de enrocamento. Os alteamentos começam a
ser executados com o rejeito, somente após a implantação deste dique, que terá a função
de conter o rejeito lançado hidraulicamente. A partir daí, o rejeito é lançado a montante
da periferia da crista, formando uma praia, a qual servirá de fundação para o próximo
alteamento.

11
O rejeito utilizado como material de construção é depositado fazendo uso dos espigotes
(canhões de lançamento), distribuídos ao longo da crista da barragem e dispostos
conforme a necessidade de formação da praia. Em alguns casos, o rejeito já lançado
pode ser retrabalhado por meio de pás carregadeiras e/ou tratores, o que tende a alterar a
distribuição granulométrica original oriunda da segregação hidráulica.

De acordo com a natureza do minério e com o processo de beneficiamento na planta,


quando o rejeito não apresenta características adequadas em termos de distribuição
granulométrica, resistência e/ou permeabilidade, estes devem ser tratados por meio do
chamado processo de ciclonagem, realizado por equipamentos conhecidos como
hidrociclones ou apenas ciclones, que fazem uma separação das frações granulométricas
dos rejeitos. Entretanto, deve-se estar atento ao fato de que este procedimento só será
consistente quando não ocorrer diferenças de densidades relativas entre as frações
granulométricas (Ribeiro, 2000).

Os hidrociclones são estruturas metálicas ou de plástico em forma cilíndrica-cônica,


com uma entrada lateral na parte superior para a polpa, e com duas saídas, uma inferior
para o underflow ou material mais grosso e outra superior, para o overflow ou material
mais fino (Figura 2.3).

A primeira função da ciclonagem é a de proporcionar a retirada da água da polpa, sendo


esta, normalmente realizada nas proximidades da própria usina de beneficiamento,
visando a recirculação da água no processo industrial. A segunda função é a partição
granulométrica, nas parcelas correspondentes ao overflow e ao underflow. Esta segunda
função, normalmente, é realizada próxima à barragem, visando à utilização dos rejeitos
mais grosseiros na conformação do barramento. A Figura 2.4 apresenta uma seqüência
de hidrociclones localizados na crista de uma barragem de contenção de rejeitos,
utilizados para a separação do material para formação do barramento.

12
CABEÇALHO DA MENSAGEM
(CAPA DO DOCUMENTO)
(ALT+ E)
SUBTÍTULO (ALT+T,S)

Título (Alt+U)

Figura 2.3 - Esquema básico de um hidrociclone.

Figura 2.4 – Série de hidrociclones localizados na crista de uma barragem.

Independente do tipo de tratamento e das técnicas de descarte da polpa, as propriedades


e as características que governam o desempenho adequado de aterros construídos via
descarga hidráulica passam, necessariamente, pela composição da mistura e pelo
método de disposição (Ribeiro, 2000).

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As principais variantes que caracterizam a composição da mistura estão relacionadas ao
tipo de fluido, à granulometria e à concentração da polpa, esta última com influência
direta no processo de segregação dos sólidos, ou seja, na tendência da fração sólida a
sedimentar, criando um gradiente de concentração dentro do conjunto. As características
do método de deposição são condicionadas pela velocidade de descarga, concentração
da polpa e espaçamento dos canhões utilizados.

O comportamento da segregação ou não dos sólidos da polpa pode ser entendido como
fator crítico no dimensionamento e operação destas estruturas. As polpas não
segregáveis tendem a gerar praias mais íngremes, com granulometria constante e baixa
densidade. Caso contrário, o processo de segregação tende a gerar praias mais densas e
planas, com a granulometria variando a partir do ponto de descarga. Diferentemente dos
aterros convencionais, cuja densidade aumenta com o aumento da energia de
compactação, Küpper (1991) relata que, nos aterros hidráulicos, o aumento da
densidade in situ é obtido por meio de elevadas vazões, baixas concentrações de polpa e
baixas velocidades de fluxo, comprovando-se também a influência da segregação no
processo de densificação do aterro.

O processo de segregação hidráulica constitui um fenômeno bastante complexo nos


rejeitos de minério de ferro, em virtude da interação de diferentes granulometrias e
densidades dos grãos de sílica e dos óxidos de ferro. Devido a essa grande variabilidade,
torna-se difícil avaliar o comportamento dessas estruturas (Ribeiro e Assis, 2002, citado
em Cavalcante, 2004).

Considerando o processo de segregação, a concepção clássica proposta por Kealy e


Busch (1971), em Vick (1983), citado em Cavalcante (2004), prevê a existência de três
zonas distintas na praia: uma de alta permeabilidade formada pelos rejeitos granulares,
situada próxima ao ponto de descarga, uma de baixa permeabilidade, situada distante
deste ponto e uma intermediária, entre as duas primeiras. Entretanto, a presença do ferro
no rejeito faz com que esta deposição gere uma segregação hidráulica bem diferente da
tradicionalmente conhecida. As partículas de sólidos mais finas, porém mais densas do

14
minério de ferro, tendem a se depositar próximo ao ponto de descarga, mais facilmente
do que as partículas mais grossas, porém mais leves, do minério de quartzo.

A partir daí, ocorre a deposição das partículas mais grossas do minério de quartzo, e nos
pontos mais distantes ocorre a deposição das partículas mais finas e mais leves. Nestas
condições, próximo ao ponto de descarga e nos pontos mais afastados, têm-se regiões
com menores condutividades hidráulicas, com uma região central onde a
permeabilidade é maior (Ribeiro, 2000).

Ao longo da praia, após a lama ser descartada, os grãos tendem a depositar ou fluir
próximo à superfície do aterro sob diferentes regimes de fluxo, sendo estas condições as
principais responsáveis pela morfologia da praia e pela geração de diferentes formas de
leito que podem ser caracterizadas por camadas planas e onduladas, de acordo com a
velocidade e natureza do fluxo, tamanho do sedimento e forma da superfície do fundo
da camada.

Além da alteração dos leitos de superfície, as condições de fluxo e as características do


sedimento também condicionam a formação de diferentes feições morfológicas da praia.
Assim, a análise do tipo de mecanismo de deposição e a influência das condições
mencionadas acima são de fundamental importância para avaliação da geometria do
depósito formado, o que pode ser estabelecido por meio da realização de ensaios de
simulação em laboratório ou no próprio campo por ensaios em modelos-piloto.

Em resumo, a variabilidade dos depósitos de rejeitos formados por aterro hidráulico está
associada a diferentes fatores: (Ribeiro, 2000)

¾ Fatores externos, relativos às características do processo de deposição, como a


velocidade de descarga, vazão e concentração da lama ou mistura e altura e
inclinação do canhão de lançamento;

¾ Fatores internos, relativos à mistura (polpa), caracterizados pelas características


dos grãos, densidade e viscosidade do fluido;

15
¾ Fatores relacionados ao regime de fluxo e à interação entre as camadas de
superfície e forma do leito.

A técnica de aterro hidráulico, no caso da utilização do próprio rejeito para conformação


do barramento, permite que a barragem seja construída sem a necessidade de aporte de
grandes investimentos iniciais, uma vez que os alteamentos ocorrem concomitantemente
à geração do rejeito na planta, além de permitir a construção do maciço em várias
etapas, amortecendo também os investimentos a longo prazo.

Grishin (1982), citado em Cavalcante (2004), apresenta algumas vantagens operacionais


dos aterros hidráulicos em comparação com as barragens convencionais: alta taxa de
construção (até mais de 200.000 m3 por dia), possibilidade de construção de aterros
submersos, simplicidade dos mecanismos utilizados, menos trabalho humano e custo
unitário menor. Mesmo sendo uma técnica atrativa para as mineradoras, as barragens de
rejeito construídas por aterro hidráulico não apresentavam um controle técnico rigoroso,
possivelmente pelo descaso técnico que era associado a estas obras no passado.
Atualmente, pela imposição dos órgãos ambientais e mesmo devido aos riscos
associados às obras, o panorama geral de controle e segurança deste tipo de estrutura
tem mudado radicalmente.

Considerando as dificuldades intrínsecas relacionadas a aterros construídos


hidraulicamente pelo método de montante, como por exemplo: dificuldade de controle
da superfície freática, redução da capacidade de armazenamento, susceptibilidade ao
piping, geração de superfícies erodíveis e probabilidade de liquefação (rejeitos
granulares, fofos e saturados), tais estruturas devem ser implantadas e operadas com
rigoroso controle de campo e acompanhamento das obras, visando um maior
entendimento do comportamento geotécnico dos aterros hidráulicos e um maior
controle na qualidade do processo construtivo.

16
2.1.3 - Critérios de Aplicabilidade da Técnica de Aterro Hidráulico

Conforme apresentado anteriormente, as partículas sólidas da polpa de rejeitos


apresentam maior segregação para altas vazões, baixas concentrações de polpa e baixas
velocidades de fluxo, aumentando também a densidade in situ, que se apresenta como
benefício adicional para o aumento da vida útil destas estruturas, além de propiciar
maior segurança com relação a sua estabilidade. Com base na experiência soviética de
construção de aterros hidráulicos, a especificação SNIP-II-53-73, relatada em Küpper
(1991), considera como material razoável para segregação hidráulica, aquele que atende
ao seguinte critério:

D60
• > 2,5 (3.1a)
D10
D90
• > 5,0 (3.1b)
D10

A Figura 2.5 apresenta as prescrições da norma soviética, sobre barragens construídas


pela técnica de aterros hidráulicos, que divide os solos em cinco classes distintas, cada
uma delas associada a um tipo específico de seção.

Conforme citado em Ribeiro (2000), a norma soviética recomenda que sejam utilizados
como materiais de construção de aterros hidráulicos preferencialmente os solos
correspondentes aos grupos I e II, devendo ser utilizados em barragens e aterros de
seção homogênea e heterogênea, respectivamente. Os materiais com as características
do grupo V somente devem ser utilizados na construção dos espaldares e os do grupo IV
como material do núcleo. Com relação aos solos do grupo III, algumas restrições e
cuidados devem ser tomados, principalmente com relação às velocidades de
lançamento.

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Figura 2.5 - Grupos de materiais de empréstimo de acordo com a norma SNIP-II-53-73
(modificado - Moretti & Cruz, 1996, citado em Ribeiro, 2000).

Devido aos problemas de ordem construtiva e as rupturas associadas a estas estruturas,


Hazen (1920), citado em Cavalcante (2004), propôs algumas medidas de controle
construtivo que deveriam ser incorporadas aos projetos de aterro hidráulico, tais como:
uso de enrocamentos de pé como medida de controle de infiltrações e estabilização dos
taludes de jusante; remoção das frações finas coloidais do núcleo, admitindo-se um
máximo de 10% de partículas com diâmetro inferior a 0,01 mm, como medida de
aceleração do processo de adensamento do núcleo ainda na fase de construção; redução
da largura do núcleo e aumento da largura do espaldar como medida de estabilização do
aterro; e redução dos índices de vazios por compactação dos espaldares arenosos, como
medida de segurança contra a possibilidade de ruptura por liquefação.

Espósito (2000) cita medidas complementares que incluem rebaixamento da linha


freática, densificação do rejeito, utilização de material drenante e utilização de camadas
intermediárias com materiais granulares mais grossos, além de medidas corretivas
específicas no caso de problemas como galgamento (“overtopping”), erosões
superficiais, erosões devido à percolação (“piping”), instabilidade de taludes e
liquefação.

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Melent’ev et al. (1973) e Yufin (1965), citado em Cavalcante (2004), relatam
recomendações baseadas na experiência soviética, definindo a distribuição
granulométrica do material como a mais importante característica a ser observada em
aterros hidráulicos. Outras recomendações são a eliminação de núcleos de alta
plasticidade, adoção de estruturas homogêneas e taludes abatidos. Segundo Chammas
(1989), citado em Cavalcante (2004), os próprios rejeitos podem ser utilizados como
material de construção, desde que seja adotado em conjunto as seguintes medidas:
separação da fração grossa e da lama, sendo utilizada apenas a fração areia para
construção do aterro; controle dos procedimentos de separação granulométrica;
drenagem interna eficiente; e compactação dos rejeitos e proteção superficial.

Assis e Espósito (1995) propõem uma metodologia de controle da qualidade durante a


construção dos aterros hidráulicos, baseada nos seguintes princípios:

¾ medida em campo da variabilidade das massas específicas secas e dos grãos;

¾ determinação da porosidade e determinação da sua freqüência calculada em


função da densidade in situ, dos grãos e da umidade;

¾ obtenção dos parâmetros geotécnicos em laboratório;

¾ correlações entre a porosidade e os parâmetros encontrados;

¾ distribuição estatística dos parâmetros geotécnicos;

¾ cálculo da média e do desvio padrão da distribuição granulométrica;

¾ análise probabilística da estabilidade e percolação;

¾ avaliação do comportamento da barragem e análise de risco.

Diante do exposto e considerando que o arranjo físico da praia pode ser alterado em
função das características do material a ser depositado, do método de descarga e do
processo de segregação, ensaios de simulação de deposição hidráulica (flume) têm sido
realizados, aplicado aos estudos de geometria dos aterros hidráulicos (Ferreira et al.,
1980; Blight et al., 1985; de Groot et al., 1988; Winterwerp et al., 1990; Fan &
Masliyah,1989; Küpper, 1991; Ribeiro et al., 1998; citado em Gomes et. al., 2002).

19
2.1.4 – Parâmetros Geotécnicos dos Materiais de Aterro Hidráulico

Do ponto de vista geotécnico, os materiais utilizados como aterro hidráulico (solos de


empréstimo ou rejeitos de mineração) são complexos em termos de amostragem e
inspeção, com comportamento dominado basicamente pela composição, densidade in
situ, estrutura e estado de tensão. Neste sentido, ensaios de campo e de laboratório têm
sido utilizados, sendo que os ensaios de campo visam contornar os problemas relativos
à obtenção de amostras representativas da realidade de campo.

A avaliação dos parâmetros de resistência dos rejeitos granulares constitui um elemento


fundamental para a elaboração dos projetos de disposição superficial destes materiais,
principalmente quando utilizados como material constituinte dos alteamentos destas
estruturas, implicando necessariamente a identificação do estado de densidade e dos
parâmetros de resistência ao cisalhamento do material constituinte do depósito.

Considerando as limitações da fixação rigorosa de índices de vazios e estados de


compacidade em praias de rejeitos e sua reprodução em ensaios de laboratório, diversas
correlações empíricas e semi-empíricas têm sido propostas para a determinação do
índice de densidade ou densidade relativa com diferentes parâmetros geotécnicos,
particularmente ângulos de atrito (Figura 2.6).

Figura 2.6 - Correlações entre valores de ângulos de atrito e de densidades relativas para
solos granulares (Schmertman, 1978, modificado - citado em Ribeiro, 2000).

20
Estas correlações são ainda incipientes em termos de resultados de ensaios in situ em
depósitos de rejeitos. A Figura 2.7 apresenta alguns destes resultados obtidos para
rejeitos de minério de ferro da região do Quadrilátero ferrífero de Minas Gerais, com
base em resultados de ensaios CPTU (Albuquerque Filho, 2000, citado em Gomes et. al
2002).

Índice de densidade (%) Ângulo de atrito efetivo (°)


22 24 26 28 30
0 20 40 60 80 100
0
0
2
2

4 4

Profundidade (m)
6
Profundidade (m)

8 8

10 10

12 12

14 14

16 16

18 18

20 20

Figura 2.7 – Resultados de ensaios conepenetrométricos realizados na praia da barragem


de contenção de rejeitos de minério de ferro de Gongo Soco (Albuquerque Filho, 2000).

Com base em correlações entre parâmetros geotécnicos dependentes, torna-se possível


verificar as mudanças no comportamento da estrutura e quantificar as variações nos
parâmetros geotécnicos durante a formação do depósito pela deposição hidráulica. A
importância da caracterização da densidade é justificada pela necessidade de se garantir
a estabilidade da estrutura, uma vez que depósitos fofos e saturados, estratificações e
variações granulométricas geram uma grande variabilidade nos parâmetros geotécnicos
associados aos aterros hidráulicos.

21
Potencialmente crítico nestas condições é a possibilidade da formação de depósitos com
baixas densidades que, aliada ao estado saturado e a uma baixa granulometria do
material depositado, podem viabilizar mecanismos de liquefação, tanto sob solicitações
estáticas como dinâmicas (Pereira, 2005, citado em Cavalcante, 2004).

Correlações entre teores de ferro (Fe) e densidades de partículas de rejeitos de minério


de ferro foram apresentadas por Espósito (2000) e Lopes (2000), cujos resultados estão
sistematizados na Figura 2.8. Constata-se uma variação incremental bastante
característica da densidade dos grãos com o aumento do teor de Fe presente no rejeito
estudado.

Figura 2.8 - Relação entre massas específicas dos grãos e teores de ferro em rejeito de
Fe (Espósito, 2000; Lopes, 2000, modificado, citado em Hernandez, 2002).

Visando estabelecer uma relação entre a variação do teor de ferro, a densidade


específica dos grãos, a granulometria dos materiais depositados e a resistência ao
cisalhamento, Lopes (2000) apresenta a relação de dependência do ângulo de atrito com
a porosidade e a granulometria do material (Figura 2.9), tomando como base a clara
relação existente entre a porosidade e os parâmetros de resistência, assim como o

22
princípio de que cada amostra é caracterizada por um teor de ferro, e apresenta uma
granulometria determinada que pode ser representada por seu respectivo valor de D50.

Presotti (2002), citado em Albuquerque Filho (2004), avaliou a influência do teor de


ferro nos parâmetros de resistência dos rejeitos granulares de Morro Agudo. A
realização de ensaios triaxiais drenados permitiu atestar o aumento do ângulo de atrito
com o teor de ferro nas amostras de rejeitos. Adicionalmente, observou-se uma
tendência de aumento dos valores de índice de vazios máximo e mínimo com a redução
do diâmetro dos grãos e com o acréscimo da presença de ferro nas partículas.

Figura 2.9 - Relação de dependência do ângulo de atrito com a porosidade e a


granulometria (Lopes, 2000).

Outro aspecto importante já levantado nos itens anteriores diz respeito ao potencial de
liquefação dos rejeitos, principalmente no caso de depósitos com elevados índices de
vazios e um complexo processo de segregação das partículas, em face das diferentes
densidades dos minerais presentes. Assim, análises e estudos experimentais têm sido
implementados a partir de ensaios triaxiais, executados em condições não-drenadas e
sob diferentes estágios de tensões (Casagrande, 1975; Poulos et al., 1985; Sladen et al.,
1985; Verdugo et al., 1991; Ishihara, 1993; Tibana et al., 1998, Gomes et al., 2002,
Pereira, 2005; citado em Gomes et. al., 2002). A Figura 2.10 apresenta resultados

23
típicos destes estudos para o caso de um rejeito de minério de ferro do Quadrilátero
Ferrífero, com as respectivas trajetórias de tensões apresentadas na Figura 2.11. A partir
dos resultados de ensaios triaxiais CIU, é possível avaliar a evolução das poropressões
geradas durante as fases de carregamento, sob condições de cisalhamento não drenadas,
permitindo-se, assim, uma avaliação do potencial de liquefação dos rejeitos sob
carregamento estático.

Figura 2.10 - Resultados de ensaios CIU para rejeitos de minério de ferro (Gomes et al.,
2002).

Figura 2.11 - Trajetória de tensões dos ensaios para o rejeito de minério de ferro
(Gomes et al., 2002).

24
Conforme pode ser observado nas Figuras 2.10 e 2.11, o rejeito em questão apresenta
características de uma areia siltoso, com poropressões geradas nas fases iniciais de
carregamento bastante elevadas, induzindo um comportamento colapsível dos rejeitos
sob baixas deformações, demonstrando também um comportamento de tipicamente de
contração destes rejeitos sob cisalhamento em condições não drenadas. (Gomes et. al.
2002).

2.2 - DISPOSIÇÃO DE REJEITOS DESAGUADOS (ESPESSADOS) E/OU EM


PASTA

2.2.1 - Histórico e Princípios da Técnica de Disposição de Rejeitos Espessados

Dependendo da magnitude e do processo de desaguamento (retirada de água) da polpa


de rejeito fino, oriunda do processo de beneficiamento do minério, os rejeitos podem
apresentar diferentes estados físicos (polpa, pasta ou massa tipo torta), com
comportamentos geotécnicos distintos (Gomes, 2006). Normalmente, o processo de
desaguamento é realizado por meio de espessadores de grande porte ou em potentes
filtros a vácuo (no caso de rejeitos filtrados), implicando em última instância, em um
aumento do teor de sólidos e na melhoria dos parâmetros de resistência do material.

Do ponto de vista subjetivo, entende-se um rejeito em pasta como sendo aquele que
apresenta uma consistência típica de pasta de dente, não tende a fluir facilmente quando
não confinado e não libera água durante a sua disposição final. Entretanto, rejeitos
espessados de alta densidade também tendem a exibir, pelo menos em certa medida, tais
características, podendo ser definido como uma massa viscosa que não apresenta
segregação e nem libera, na disposição, significativas quantidades de água. Uma
conceituação mais objetiva caracteriza os rejeitos em pasta como sendo rejeitos
espessados que incorporam algum tipo de aditivo, de forma a se obter a consistência
típica destes materiais.

25
Assim, no contexto dos projetos de sistemas de disposição de rejeitos, a premissa básica
atualmente refere-se à natureza e à caracterização tecnológica do que se entende como
“rejeito”. Ao conceito vigente de rejeito sob a forma de polpa (mistura sólido - água
tipicamente passível de segregação), incorporam-se vários conceitos, que caracterizam
os seguintes tipos principais (Gomes, 2006):

¾ Rejeitos espessados (“thickened tailings”) - rejeitos desaguados parcialmente,


mas que apresentam ainda a consistência de uma polpa, com alto teor de sólidos
e ainda passível de bombeamento;

¾ Rejeitos em pasta (“paste tailings”) - rejeitos espessados mediante a


incorporação de algum tipo de aditivo químico (tipicamente um agente
hidratante);

¾ Rejeitos filtrados a úmido (“wet cake tailings”) - rejeitos na forma de uma massa
saturada ou quase saturada, não mais passível de bombeamento;

¾ Rejeitos filtrados a seco (“dry cake tailings”) - rejeitos na forma de uma massa
não saturada (grau de saturação tipicamente entre 70% e 85%), não passível de
bombeamento.

Na Figura 2.12, são apresentados os aspectos visuais de pastas de rejeito, considerando


diferentes graus de espessamento.

Figura 2.12 – Exemplos típicos de rejeitos espessados.

26
Laudriault (2002), citado em Osorio (2005), correlaciona em um gráfico esquemático,
as tensões de escoamento em função da porcentagem de sólidos da mistura (Figura
2.13), destacando diferentes estados de consistência de rejeitos: polpa, polpa de alta
densidade, pasta e torta, indicando-se também alguns dos equipamentos utilizados nas
tarefas de desaguamento, bombeamento e filtração dessas misturas sólido-líquido, os
regimes e velocidades de fluxo possíveis e as características de segregação das
partículas sólidas.

Figura 2.13 – Caracterização de diferentes tipos de rejeitos (Laudriault, 2002,


modificado, citado em Osorio, 2005).

Jewell et al. (2000), citado em Martin et al. (2002), propõem o seguinte sistema de
classificação para os diferentes tipos de rejeitos:

¾ Um valor de tensão de escoamento da ordem de (200 ± 25) Pa (no ponto de


descarga do sistema) é proposta para a definição do ponto de transição entre
rejeitos em polpa e pasta;

27
¾ Rejeitos espessados podem ser subdivididos em baixa, média e alta densidade,
conforme o grau de desaguamento e espessamento;

¾ O termo polpa é usualmente utilizado para rejeitos espessados que podem fluir a
uma distância suficiente a partir do ponto de descarga, ao longo da superfície de
deposição. Em um sistema de deposição deste tipo de rejeito, normalmente,
bombas de deslocamento positivo são requeridas para o seu transporte;

¾ O termo pasta pode ser empregado para rejeitos espessados de alta densidade,
com características de baixo fluxo e viscosidade apropriada. Atualmente as
pastas são preparadas para sua utilização como material de preenchimento em
minas subterrâneas (backfill ou pastefill), mas este sistema também pode ser
requerido para disposição de rejeitos em superfície;

¾ A transição entre a pasta e a torta (‘cake’) pode ser definida, subjetivamente, de


acordo com a suas consistências; a pasta apresenta um estado plástico e a torta
apresenta um estado semi-sólido;

¾ Outros dois termos utilizados estão relacionados a rejeitos filtrados a úmido


(“wet cake tailings”) e a rejeitos filtrados a seco (“dry cake tailings”).

A técnica de disposição de rejeitos espessados ou TTD - “Thickened Tailings Disposal”


foi introduzida pioneiramente por Robinsky (1968), citado em Robinsky (2002),
inserida como uma técnica alternativa viável para disposição dos rejeitos gerados nas
minerações, frente aos potenciais riscos inerentes à disposição de rejeitos em formas de
polpa em barragens convencionais e/ou frente à falta de controle durante o processo
construtivo de aterros hidráulicos, embora este último também apresente vantagens com
relação às barragens convencionais. Segundo Slotte et al. (2005), a tecnologia de
rejeitos espessados ou em pasta tem-se mostrado como um método eficaz de disposição
de rejeitos, no intuito de recuperação de água e, principalmente, como alternativa viável
à metodologia de disposição em barragens de rejeito.

28
A aceitação da metodologia de disposição de rejeitos em pasta, em especial na maioria
das minerações, foi bastante incrementada ao longo da última década, desde que as
primeiras plantas modernas foram construídas no Canadá. O uso de espessadores de alta
densidade para produção de pastas não-segregáveis, durante os últimos anos, foi
praticado na Austrália para disposição do rejeito (lama vermelha) gerado no
processamento da alumina (Slotte et al., 2005). A tecnologia de pastas de rejeito
progrediu principalmente através de pesquisa baseada em sua disposição no subsolo
como material de preenchimento nas minas subterrâneas (backfill ou pastefill),
apresentando também elevado potencial para sua disposição em superfície,
minimizando os riscos associados à disposição de rejeitos (polpa) em barragens
convencionais. Isto se deve ao fato da quase inexistência de um componente líquido e,
conseqüentemente, de grandes riscos no sentido que os rejeitos possam ser
transportados para jusante devido a uma eventual ruptura ou falha do sistema.

A mina de Bulyanhulu na Tanzânia, que iniciou sua operação em março de 2001,


tornou-se a primeira mina no mundo a adotar uma solução total de pasta para todos seus
rejeitos, através da utilização de uma parcela do rejeito gerado como material de
preenchimento no subsolo (backfill) e o restante disposto em superfície em forma de
pasta. Deste volume, 25% dos rejeitos produzidos são transformados em pasta
misturada com material estéril para preenchimento e 75% dos rejeitos são dispostos em
superfície através de um sistema de tubulação com descarte em torres múltiplas
(Theriault e al., 2003).

A disposição de rejeitos como material de preenchimento de minas subterrâneas, seja na


forma de enchimento hidráulico com polpa convencional, seja na forma de pasta, ou até
mesmo na forma de material consolidado, geralmente é feita concomitantemente com o
método de lavra denominado ‘cut and fill’, onde o material de enchimento, rejeito ou
estéril, preenche os realces gerados pela explotação do minério.

Na atualidade são praticadas duas técnicas de preenchimento de minas subterrâneas,


escolhidas em função do objetivo perseguido. A primeira corresponde à necessidade de
preenchimento para formar um novo piso, a ser utilizado para desmontar a fatia de

29
minério imediatamente acima da área lavrada. Neste caso o preenchimento, que ocorre
obrigatoriamente junto com a lavra do minério, pode se dar com a utilização dos rejeitos
da usina misturado com estéril e areias (backfill ou pastefill). A segunda técnica se
aplica quando o preenchimento da câmara ou realce é necessário para garantir a
manutenção permanente da estabilidade do maciço rochoso. Neste caso o
preenchimento pode se dar durante o processo de lavra ou quando do fechamento da
mina, podendo ser realizado com argamassa constituída de rejeito (pastefill) e/ou estéril,
areia e cimento. Entretanto, quando a disposição da pasta é realizada em superfície,
situação em que a demanda por maiores resistências é menor, não existe a necessidade
de incorporação de cimento.

A disposição de rejeitos espessados e/ou em pasta, em superfície, tornou-se necessária


para armazenamento de rejeitos gerados a partir do processamento do minério em minas
a céu aberto, conduzindo também a possibilidade de utilização de rejeitos desaguados
para minimização de grandes áreas para sua disposição em superfície. A Mina de
Kimberley (África do Sul), de propriedade da DeBeers CTP, é um exemplo de
disposição de rejeitos em pasta em superfície, através da utilização de uma planta de
espessamento e de processamento de rejeitos em pasta (Houman, 2003, citado em Slotte
et. al., 2005).

No caso de rejeitos espessados ou sob a forma de pasta, a preparação inicial e a técnica


de transporte dos rejeitos têm tanta relevância quanto os aspectos relacionados à
concepção e ao dimensionamento do sistema de distribuição em si. Assim, o
comportamento geotécnico dos rejeitos nas áreas de disposição vai depender de suas
características reológicas durante as fases de preparação e bombeamento. Segundo
Slotte et al. (2005), as características reológicas e de transporte da pasta são,
principalmente, dependentes da fração das partículas finas (partículas menores que 20μ)
presentes no rejeito. As características reológicas de uma pasta são o resultado da
interação das partículas sólidas de diferentes diâmetros e volumes, fazendo uma
porcentagem de volume apropriado necessária para caracterizar a concentração de
sólidos.

30
A preparação de rejeitos espessados e/ou em pasta é iniciada através de desaguamento
mecânico, normalmente realizado em espessadores de grande porte (com mais de 50 m
de diâmetro em média e profundidades típicas de 1 e 2 m), apresentando forma tronco-
cônica. Um sistema de pás em movimento complementa a ação de remoção do material,
sem adição de floculantes. Entretanto, com o forte desenvolvimento desta tecnologia
aplicada a rejeitos e a adição de produtos floculantes de naturezas diversas, que
incrementaram substancialmente os efeitos da sedimentação, os espessadores passaram
a apresentar formas cônicas de reduzida área transversal e relações altura - diâmetro
maiores que 1.

O conceito de espessadores de cone profundo (Figura 2.14) foi desenvolvido em 1960


nas minerações de carvão localizadas na Inglaterra. Com o passar dos anos, a idéia de
espessamento em cones profundos foi combinada com as técnicas de floculação
utilizadas em plantas de flotação convencionais.

Figura 2.14 - Espessadores de alta densidade de cone profundo (Jewell, 2002)

Numa segunda etapa, dependendo da necessidade de melhoria das condições de


resistência da pasta, o que ocorre normalmente quando o rejeito espessado é utilizado
como material de preenchimento de minas subterrâneas, este é encaminhado a uma
planta específica adicional, para a preparação da pasta através de adição de outros
materiais componentes (estéril, areia e/ou cimento), além de seu condicionamento.

31
No caso da Mina de Bulyanhulu anteriormente citada, o processo de preparação envolve
inicialmente o desaguamento dos rejeitos para formação da pasta e a sua filtração em
filtros de disco, formando uma torta seca, que é transportada por correia transportadora
até a planta da pasta, onde a mesma é preparada até atingir a consistência desejada
(Theriault et al., 2003).

Considerando que a eficiência do processo está diretamente associada à utilização


equilibrada entre o sistema de bombas, a viscosidade da pasta e a extensão da linha, as
operações de transporte desempenham funções essenciais num projeto de disposição de
rejeitos espessados e/ou em pasta. Assim, para o transporte da polpa espessada ou da
pasta, considerando as elevadas tensões de escoamento induzidas pelo aumento da
concentração de sólidos durante o processo de desaguamento e preparação, são
utilizadas as chamadas bombas de deslocamento positivo, principalmente para pressões
de bombeamento superiores a 5 MPa (Gomes, 2006).

Considerando o processo de preparação e transporte de rejeitos espessados e/ou em


forma de pasta, o sistema de disposição final tende a apresentar uma conformação
bastante distinta da praia de rejeitos em uma barragem convencional ou conformada sob
a técnica de aterro hidráulico.

No caso de descarte dos rejeitos em áreas planas ou irregulares, este irá se conformar
segundo a topografia natural. No caso de vales ou taludes, a massa viscosa tende a fluir
e a se adensar, ajustando-se à topografia local ou sendo barrada por um dique de
contenção à jusante. No caso de áreas planas, o descarte geralmente é feito em um ponto
central, conformando uma estrutura tipicamente cônica, de taludes suaves e uniformes.

Uma vez depositada, a pasta continuará a fluir até se estabelecer as condições de


equilíbrio para a sua disposição final. Os mecanismos preliminares que envolvem estas
características estão relacionados ao processo de adensamento da polpa espessada ou da
pasta e ao processo de desidratação e ressecamento do material (evaporação). Ambos os
processos envolvem a expulsão e redução da massa de água dos rejeitos.

32
A Figura 2.15 apresenta a conformação dos rejeitos sobre condições topográficas
distintas, considerando polpa de alta densidade (rejeito espessados) e pasta, em uma
abordagem de cunho meramente qualitativo.

POLPA DE ALTA DENSIDADE PASTA

A) SOBRE TERRENOS PLANOS SEM BACIAS

B) SOBRE TERRENO SUAVEMENTE INCLINADO OU PLANO

C) EM UM VALE

D) NA BASE OU PÉ DE UMA MONTANHA

Figura 2.15 - Ângulos de disposição para polpas de alta densidade e para pasta, para
diferentes tipos de terreno (Laudriault, 2002, citado em Osorio, 2005)

No exemplo apresentado da Mina de Bulyanhulu, após o processo de preparação, uma


vez atingido a consistência desejada, a pasta é bombeada com bombas de deslocamento
positivo com duplo pistão, por uma tubulação de aproximadamente 1,6 Km até a bacia
de disposição de rejeitos em pasta. No depósito, os rejeitos em pasta são depositados em
camadas finas (máximo 0,3m) e a deposição é realizada através de ciclos regulares, com
o objetivo de se promover a desidratação e o ressecamento dos rejeitos próximos à
superfície (Theriault et al., 2003).

33
2.2.2 - Vantagens e Desvantagens da Técnica de Disposição de Rejeitos Desaguados
(Espessados) e/ou em Pasta

Uma das feições mais relevantes relacionada à tecnologia de rejeitos espessados e/ou
em pasta é o reaproveitamento imediato de grandes volumes de água diretamente a
partir dos espessadores, em relação aos procedimentos para recuperação de água e de
seu retorno à planta industrial, a partir da polpa acumulada em barragens convencionais,
cujas perdas são, na maioria das vezes, de difícil previsão.

Segundo Newman et al. (2001), os benefícios ambientais associados com a disposição


de pasta em superfície podem ser divididos em dois aspectos principais: as
características físicas da própria pasta e as vantagens operacionais associadas com a sua
disposição.

Com relação às características físicas das pasta, as principais vantagens estão


relacionadas à quantidade inexpressiva de água incorporada ao rejeito, minimizando a
disponibilidade de água livre necessária para gerar o percolado, principalmente no caso
de rejeitos reativos. Outro aspecto que merece destaque é a permeabilidade
relativamente baixa do material depositado, característica que limita a infiltração e
reduz o volume de percolação na pasta.

O processo de preparação da pasta permite que, quando necessário, esta seja manuseada
com o uso de aditivos que podem melhorar as suas propriedades de resistência,
principalmente quando utilizadas como material de preenchimento em minas
subterrâneas. Para a sua disposição em superfície, o custo elevado de adição de aditivos
torna esta prática menos atrativa, embora sua utilização possa ser considerada fonte de
neutralização de drenagens ácidas e mobilização de alguns metais através de
precipitação mineral, principalmente no caso de rejeitos não-inertes.

Adicionalmente, os processos de desaguamento e espessamento dos rejeitos incorporam


as seguintes vantagens operacionais, ainda que considerando que estes aspectos
referem-se, muitas vezes, a previsões de comportamento, uma vez que tais tecnologias

34
são ainda muito recentes (Gomes, 2006): maior densidade e estabilidade das estruturas
de disposição; menor susceptibilidade à liquefação e a rupturas catastróficas; menor
potencial de contaminação das águas subterrâneas; maior recuperação dos reagentes
utilizados no processo de tratamento e maior facilidade de aceleração dos
procedimentos de reabilitação das áreas degradadas.

Considerando que as pastas, a partir de uma determinada porcentagem de sólidos, não


apresentam segregação das partículas sólidas na mistura, os ângulos de disposição
obtidos são mais elevados do que ao utilizar polpas, por exemplo na faixa de 2 até 5%,
representando um ganho importante em termos de volumes armazenados, sobretudo
para grandes áreas (Araújo et al., 2003, citado em Osorio, 2005). Laudriault (2002),
citado em Osorio (2005), apresenta uma comparação (Figura 2.16) entre as distintas
opções de disposição de um rejeito de mineração: as características de consistência das
misturas, os tipos de equipamentos requeridos para o desaguamento e transporte, os
possíveis ângulos de repouso e o incremento no volume depositado.

Segundo Robinsky (2002), o sistema de disposição de rejeitos espessados e/ou em pasta


requer mais dados do desempenho que o sistema de disposição de rejeitos empregado
em barragens convencionais, uma vez que no sistema convencional as propriedades do
material (rejeito) são fixadas pelas plantas de processo, enquanto que no sistema de
disposição de rejeitos espessados e/ou em pasta estas propriedades sofrem grande
influência também durante o processo de disposição, de acordo com a topografia da
área, diferenciando completamente o comportamento dos rejeitos em ambas as
abordagens.

Além disso, nos depósitos convencionais, os rejeitos segregam-se devido ao fluxo, e


sedimentam-se, conformando depósitos tipicamente planos. No caso das praias
formadas por rejeitos espessados e/ou em pasta, uma vez que os rejeitos são
previamente espessados, induzindo-se um fluxo laminar sem segregação, a curtas
distâncias para descarga, são formadas superfícies mais inclinadas, permitindo-se obter
um depósito mais estável com lados muito íngremes (Figura 2.17).

35
Entretanto, considerando principalmente os aspectos relacionados ao transporte dos
rejeitos espessados e/ou em pasta, os custos associados à infra-estrutura necessária para
instalação de bombas de deslocamento e tubulações de transporte são relativamente
altos, além do fato de que a linha de montagem tem de ser projetada para cada caso
específico, dependendo da localização da planta com relação ao depósito e do tipo e das
características da pasta a ser transportada.

A Tabela 2.1 a seguir apresenta uma relação dos custos e índices relativos aos diferentes
sistemas de disposição de rejeitos, seja na forma convencional, seja na forma de rejeitos
em pasta (Rice & Davies, 2002; em Gomes, 2006).

Tabela 2.1 - Custos relativos aos diferentes sistemas de disposição de rejeitos (Rice &
Davies, 2002; em Gomes, 2006)

Custo Custo de Potencial de


Tipo de rejeito operacional desativação (em recuperação de
($US/ton) 100) água (em 10)

polpa 0,3 - 1,2 100 3

espessado ou em pasta 0,6 - 3,5 50 6

No caso específico da Mina de Bulyanhulu, o método de disposição de rejeitos em


superfície sob a forma de pasta foi escolhido, principalmente devido a necessidade de
recuperação da água incorporada no rejeito para re-utilização no processo (água
recirculada), além da topografia desfavorável para implantação de uma estrutura
convencional de contenção para os rejeitos. Neste mesmo projeto decidiu-se também
pela utilização de parte do rejeito como material de preenchimento de mina subterrânea.

Este método de gerenciamento de rejeitos permitiu uma simplificação no gerenciamento


da água, reduziu significativamente os custos de construção de estruturas de contenção,
permitiu a expansão modular da bacia dos rejeitos e facilitou o fechamento e a
reabilitação progressiva das áreas do empreendimento.

36
Equipamento de Incremento
Sistema de
Consistência da Disposição Desaguamento Ângulo no Volume
Bombeamento
requerido Repouso depositado
requerido

Polpa Bomba
Espessador Centrífuga
convencional (Baixas pressões)

Espessador Bomba centrífuga


Polpa de de alta ou de
alta densidade velocidade Pistão/Diafragma

Pasta de Deep Bomba de


alto slump cone Diafragma

Pasta de
Bomba de
baixo slump Filtro
Deslocamento
de
Positivo
Disco

Figura 2.16 - Consistências de mistura para disposição, seus correspondentes equipamentos para desaguamentos e bombeamento,
ângulos de repouso e incremento de volume depositado (adaptado de Laudriault, 2002; em Osorio, 2005).

37
Figura 2.17 - Disposições típicas de rejeitos espessados e/ou em pasta (Robinsky, 2002).

2.2.3 - Critérios de Aplicabilidade da Técnica e Condicionantes de Projeto de


Disposição de Rejeitos Desaguados (Espessados) e/ou em Pasta

Para a concepção e o projeto do sistema de disposição de rejeitos espessados e/ou em


pasta, são aplicados todos os conceitos e análises considerados também para rejeitos sob
a forma de polpa, ou seja, sob o ponto de vista geotécnico é necessária à determinação
de parâmetros de resistência do material, condições de adensamento e condutividade
hidráulica, além de estudos de liquefação e determinação das condições de formação da
praia (Gomes, 2006).

Entretanto, considerando a dependência do comportamento geotécnico de rejeitos


espessados e/ou em pasta com relação às suas características reológicas durante as fases
de preparação e bombeamento e à influência destas atividades nas características de
formação dos depósitos de superfície, elementos tais como: tipo de espessador, aditivos
a serem usados, procedimentos adotados na preparação da pasta, arranjo e
compatibilização entre o sistema de bombas e linhas de bombeamento, têm influência
decisiva na concepção e seqüência de projeto, associando tais abordagens a um forte
caráter multidisciplinar com outras áreas da engenharia.

No contexto de preparação dos rejeitos, as propriedades a serem investigadas são:


granulometria, mineralogia do material e análises químicas da água, compreendendo
medidas de pH, cátions presentes e concentração iônica.

38
Segundo Fourie (2002), citado em Osorio (2005), em termos de distribuição
granulométrica, uma porcentagem de finos inferior a 20μm parece fornecer uma boa
indicação do potencial de aplicação da técnica de espessamento ao rejeito, uma vez que
o comportamento das partículas inferiores a 20μm tende a ser governado por forças
elétricas, ao passo que partículas maiores são dominadas por efeitos de forças
gravitacionais. Por outro lado, partículas inferiores a 20μm não são necessariamente
partículas argilosas. A resposta deste material à adição de um floculante pode ser
substancialmente diferente para o caso de um rejeito com a presença de argilo-minerais.

Segundo Jung et al. (2002), citado em Osorio (2005), o excesso da quantidade de


partículas finas pode produzir uma redução da resistência da pasta, ainda que uma certa
quantidade de material fino (tamanho < 20µm) seja necessária para bombear a pasta
através da tubulação sem perdas da resistência requerida para preenchimento.

A caracterização mineralógica dos materiais presentes está intimamente associada à


análise química da água, uma vez que o comportamento da pasta será ditado pela
interação catiônica do meio com a carga superficial elétrica das partículas presentes,
justificando a necessidade de realização de ensaios de difratometria de raios x,
capacidade de troca catiônica e determinação do potencial zeta das partículas.

Considerando que, durante o transporte de rejeitos espessados e/ou em pasta, existe uma
relação direta entre a viscosidade da polpa espessada e o valor da tensão de escoamento
necessária para induzir o início do fluxo (pressão de bombeamento), nesta fase, estas
são as principais propriedades a serem investigadas.

Segundo Boger (2003), com relação à viscosidade, as polpas minerais podem exibir um
comportamento dependente do tempo. Quando a viscosidade decresce com o tempo, seu
comportamento é considerado tixotrópico e, quando esta é crescente com o tempo, seu
comportamento é considerado reotrópico.

39
Para a determinação da tensão de escoamento do material, parâmetro de extrema
relevância em projetos de disposição de rejeitos espessados, são utilizados ensaios de
campo, do tipo Vane Mecanizado, e ensaios de laboratório, comumente denominado
slump test (Figura 2.18), que mede a consistência do material para diferentes teores de
sólidos e concentrações de floculantes, correlacionando as alturas da pasta colapsada em
um cilindro com as correspondentes tensões de escoamento (Fourie, 2002, citado em
Osorio, 2005).

altura do
slump
H

Figura 2.18 - Representação esquemática do teste de abatimento de cone ou slump test


(Clayton et al., 2003, em Osorio, 2005).

Segundo Robinsky (2002), para a correta manutenção do sistema de disposição, são


requeridos rejeitos espessados contendo um máximo de 50 a 70% de sólidos (rejeitos de
minérios típicos) e cerca de 30 a 50% para rejeitos extremamente finos. Os rejeitos
espessados ou em pasta com concentrações de até 74% de sólidos são possíveis de
serem bombeados com bombas centrífugas.

Considerando que o rejeito resultante do processo de preparação da pasta consiste em


uma massa viscosa de elevada consistência e alta viscosidade, capaz de fluir sem
segregação, geralmente, os taludes conformados irão se apresentar mais abatidos, com
ângulos tipicamente entre 2% e 6% (de 1,1º a 3,4º sob climas moderados), sendo a
declividade uma das principais características de projeto a serem definidas,
influenciando diretamente na capacidade de armazenamento de rejeitos espessados e ou
em pasta em uma determinada área.

40
As condições de formação de uma praia de rejeito podem ser mais bem entendidas em
escala piloto através da execução de ensaios de flume ou de calha (Figura 2.19), onde os
resultados são analisados em termos de ângulos de deposição, altura de queda,
velocidade de descarga, concentração da polpa, etc, como também pode ser realizado
para outras praias de rejeito, seja para um depósito convencional ou para um aterro
hidráulico.

Figura 2.19 - Arranjo esquemáticoa do teste de flume ou de calha (Sofrá et al., 2002, em
Osorio, 2005, modificado).

41
Chambers (2002), citado em Osorio (2005), apresenta correlações obtidas entre
resultados de ensaios de flume e de slump para rejeitos com diferentes teores de sólidos
(Tabela 2.2).

Tabela 2.2 - Valores de altura de slump e de ângulos de repouso para pastas com
diferentes porcentagens de sólidos (Chambers et al., 2002, em Osorio, 2005).
Altura de slump Porcentagem de sólidos Ângulo de repouso
(mm) (% em massa) (% de inclinação)
177,8 67,7 13
203,2 65,5 ---
213,4 --- 8,9
228,6 63,1 ---
254 60,2 1,4

Na tabela 2.2, pode-se observar que, quanto maior a concentração de sólidos na pasta,
menores serão as alturas de slump e maiores os ângulos de repouso (expressos como %
de inclinação).

No exemplo de caso real citado, a praia inicial dos rejeitos oriundos da Mina de
Bulyanhulu tem aproximadamente 780m de comprimento por 285m de largura (no
sentido norte-sul) e inclinação geral de 1V:13,5H. Na prática, o ângulo de deposição
previsto em projeto (1V:10H) pode ter sofrido alteração por vários fatores: condições de
tempo, variações de temperatura e efeitos de interrupção durante o bombeamento, taxa
de deposição e variações inerentes à natureza do material. O depósito ainda é composto
por cinco torres elevadas de 12m de altura e espaçadas em intervalos de 120m, além de
bermas implantadas perimetralmente na bacia para controle do run off. A disposição
homogênea e uniforme da pasta na praia é conseguida através de válvulas de controle,
conectadas às torres, que permitem a paralisação do fluxo do rejeito quando necessário;
além da relocação das torres de deposição para o topo dos rejeitos e deslocamento
periódico no sentido do avanço de deposição, a fim de facilitar o fechamento
progressivo de parcelas esgotadas do depósito dos rejeitos (Theriault et al., 2003).

42
2.3 - CO-DISPOSIÇÃO DE REJEITOS E ESTÉREIS DE MINA

2.3.1 – Princípios Gerais da Técnica de Co-Disposição de Rejeitos/Estéreis de Mina

O projeto, a construção e a operação de estruturas de disposição de rejeitos e estéreis


são melhor compreendidos quando estes materiais são dispostos separadamente,
considerando as características inerentes de cada material. Entretanto, considerando que
certos materiais possuem características geotécnicas mais desfavoráveis, estéreis e
rejeitos podem ser dispostos em conjunto (co-disposição), visando-se obter uma
melhoria das propriedades de resistência e drenabilidade destes materiais, além de
oferecer, como vantagem adicional, a necessidade de áreas menores para a disposição.

Segundo Martin et al. (2002), a co-disposição envolve, basicamente, a disposição


combinada de estéreis, de preferência de granulometria mais grosseira, com os rejeitos
gerados no processo, em que as partículas grosseiras do estéril compõem a matriz
granular do material resultante, ao passo que as partículas finas do rejeito tendem a
preencher os vazios dos grãos do estéril.

Para Leduc et al. (2003), o conceito de co-disposição envolve a disposição de rejeitos


finos, preenchendo os espaços vazios dos estéreis granulares gerados nas operações de
lavra. Os estéreis apresentam-se com elevados índices de vazios quando dispostos em
pilhas, devido principalmente à metodologia empregada, que envolve o desmonte do
material nas frentes de lavra através de explosivos (no caso de rochas mais duras),
gerando material estéril de diferentes tamanhos e formas, variando de matacões a
pedregulhos a materiais mais finos, no caso de atividades de decapeamento em camadas
de solo e rocha alterada.

Quando aplicados a materiais mais competentes, os espaços vazios presentes no


depósito de estéril mostram-se muito favoráveis para a alocação de partículas oriundas
de rejeitos finos.

43
Estudos realizados mostraram que materiais co-dispostos apresentaram melhoria das
condições de drenabilidade, principalmente relacionadas ao rejeito fino quando disposto
separadamente, além de ganho nas propriedades de resistência, maior recuperação da
água e possibilidade de recuperação progressiva das áreas de disposição (Wilson et al.,
2001, citado em MMSD, 2002). A Figura 2.20 apresenta as variações de ganho de
resistência relacionado aos ângulos de atrito, para diferentes composições da mistura
estéril - rejeito.

Figura 2.20 - Variação no ângulo de atrito para variadas taxas de concentração de


estéreis e rejeitos (Leduc et al.,2003)

Um exemplo do processo de co-disposição envolvendo resíduos de mineração é feito


em uma mina de carvão da Austrália, denominada Jeebropilly, localizada a sudeste da
cidade de Queesland. Os rejeitos fino e grosso do processamento de carvão são co-
dispostos em um depósito único através de bombeamento desde a planta de
beneficiamento até o local de disposição. A concentração destes materiais pode variar
de 30 a 60% de sólidos, sendo bombeados e também transportados por gravidade.

Segundo Morris & Williams (1997), um processo significativo de segregação ocorre


com os rejeitos finos depositados, conduzindo à formação de uma camada superior e
inferior na praia, dominada por rejeitos grossos e finos, respectivamente. A camada
superior é, assim, rapidamente drenada, permitindo o tráfego de máquinas pouco tempo
após a deposição.

44
Vector (2002), analisando processos de disposição de estéreis e rejeitos em conjunto, e
separadamente em diversas proporções, mostrou que elevadas proporções de estéril
misturado com o rejeito (4:1) apresentaram altos ângulos de atrito interno e, em casos
de proporções mais baixas (2:1), este parâmetro apresentou-se de magnitude similar ao
do rejeito disposto separadamente. Os resultados demonstraram também que, para
proporções baixas da mistura estéril-rejeitos, a permeabilidade é semelhante a dos
rejeitos e, para elevadas proporções, o material tende a exibir uma permeabilidade do
estéril granular. A figura 2.21 apresenta as variações de permeabilidade para diversas
proporções de mistura de estéreis e rejeitos.

Figura 2.21 - Variação permeabilidade para diferentes taxas de concentração de estéreis


e rejeitos (Leduc et al., 2003).

Existem várias maneiras de se realizar a co-disposição de estéreis e rejeitos, conforme


apresentado a seguir, sendo que cada uma deve ser avaliada de maneira a se determinar
sua aplicabilidade a um determinado local. De modo geral, o processo de co-disposição
compreende as seguintes técnicas:

¾ Disposição do rejeito em pontos específicos no depósito de estéril, em pequenas


lagoas e diques de contenção dentro do depósito, formando pequenas camadas
na pilha de estéril;

¾ Mistura do estéril e rejeito, durante as atividades de processamento e transporte


(caminhões e/ou correias transportadoras) ou por mistura no próprio depósito de
estéril, gerando um material homogêneo;

45
¾ Injeção dos rejeitos, após seu desaguamento e espessamento, sob a forma de
pasta, diretamente no depósito de estéril, através de furos de injeção;

¾ Disposição do rejeito em camadas finas, diretamente no depósito de estéril, de


maneira que o rejeito se infiltre na pilha, até secagem, para que, posteriormente,
esta camada seja novamente coberta com material estéril.

O primeiro método envolve a construção de bermas com o próprio material estéril


(Figura 2.22), objetivando a contenção dos rejeitos lançados em baias independentes.
Enquanto uma lagoa estará sendo formada, outra estará seca ou em processo de
secagem, e uma terceira, em processo de construção, para posterior recebimento dos
rejeitos.

Após um período de tempo para ocorrer o adensamento e o ressecamento dos rejeitos, a


camada de estéril seguinte é colocada sobre os rejeitos consolidados. Sobre a camada de
estéril, novamente os rejeitos são dispostos de maneira semelhante a anterior, e assim
sucessivamente.

Figura 2.22 - Bacias de rejeito construídas no depósito de estéril (Leduc et al., 2003,
modificado).

Para o método de co-disposição considerado, aspectos relacionados à espessura dos


rejeitos, teor de sólidos e taxa de adensamento, apresentam fundamental importância na
concepção do projeto, sendo considerado, em geral, uma relação de espessura de estéril
e rejeito da ordem de 4:1.

46
Com relação ao método de mistura dos rejeitos com a rocha estéril diretamente no
depósito, este pode ser realizado através da mistura do material no topo do depósito,
perto da crista do talude, efetuando-se o acerto da camada através de equipamentos
específicos (Figura 2.23) ou pelo transporte da mistura prévia, por correia
transportadora, até a área de disposição final.

Figura 2.23 - Mistura de rejeito com estéril no topo do depósito (Leduc et al., 2003,
modificado).

A metodologia de co-disposição através de injeção dos rejeitos no depósito de estéril é


realizada por meio de furos e tubulações perfuradas instalados diretamente no topo do
depósito (Figura 2.25).

Após o avanço do depósito, a extremidade das tubulações estará diretamente conectada


ao sistema de distribuição dos rejeitos. O processo de injeção pode ser realizado em
furos inclinados (Figura 2.25) e/ou verticais (Figura 2.24).

Por fim, a disposição do rejeito em camadas finas (Figura 2.26), diretamente no topo do
depósito, com espessuras variando entre 0,2 a 0,5m, visando à infiltração dos mesmos
nas camadas de estéril com espessuras entre 1 e 5m, é realizada através da instalação da
tubulação de descarga direcionada para o topo do talude. Devido às dimensões limitadas
das camadas de rejeitos, essencialmente finas, a sua colocação entre as camadas de
estéril permite a dissipação completa do excesso das poropressões geradas no interior do
maciço de rejeitos.

47
Figura 2.24 - Injeção de rejeito em furos verticais no topo do depósito de estéril. (Leduc
et al., 2003, modificado).

Figura 2.25 - Injeção de rejeito em furos inclinados no topo do depósito de estéril.


(Leduc et al., 2003, modificado).

48
Figura 2.26 - Disposição de rejeito em camadas finas no topo do depósito (Leduc et al.,
2003, modificado).

2.3.2. Vantagens e Desvantagens da Técnica de Co-Disposição de Rejeitos e


Estéreis de Mina

Segundo Martin et al. (2002), a principal vantagem da técnica de co-disposição está


relacionada à melhoria das condições de resistência e drenabilidade do rejeito, além da
minimização da potencialidade de geração de drenagem ácida do estéril, quando este se
encontra associado a sulfetos. Isto ocorre devido à maior porosidade do estéril com
relação ao rejeito, além de maiores índices de vazios gerados quando da sua disposição
de forma separada, facilitando o seu contato com os agentes oxidantes (água e/ou ar),
permitindo uma maior lixiviação dos minerais presentes.

Como principal desvantagem, impõe-se a necessidade de um maior controle operacional


destes depósitos, uma vez que, devido as diferentes taxas de geração de rejeito na planta
de beneficiamento e de geração de estéril nas frentes de lavra, maiores proporções de
rejeito adicionadas ao depósito de estéril poderia comprometer a sua estabilidade.

No caso das metodologias de co-disposição apresentas por Leduc et al., (2003), com
relação ao método de disposição do rejeito em pontos específicos na área do depósito,
formando pequenas lagoas e diques de contenção, a principal vantagem está relacionada

49
ao baixo custo operacional, quando comparado aos outros métodos de co-disposição,
uma vez que não são demandados equipamentos especiais para a formação das lagoas e
diques. Entretanto, este método requer um avanço lento do depósito e um planejamento
cuidadoso para a construção dos diques e para a formação das lagoas, evitando-se a
geração de poropressões e o comprometimento da estabilidade dos taludes, sendo estas
as principais desvantagens desta metodologia.

Quanto à disposição do estéril e rejeito, através do processo de mistura deste último


diretamente no topo do depósito, Leduc et al. (2003) apresentam como desvantagem a
necessidade de equipamento móvel para mistura dos rejeitos e acerto das camadas e da
face dos taludes, elevando o custo de capital e operacional. As principais vantagens
estão relacionadas à simplicidade e flexibilidade do método, além do controle durante o
processo de mistura e homogeneização do material.

Diferentemente do método de mistura do rejeito no topo do depósito, a metodologia de


injeção do rejeito espessado ou em pasta diretamente no depósito de estéril apresenta-se
vantajosa devido a não necessidade de equipamentos adicionais móveis para manuseio
do material, além do baixo custo operacional, somando-se a ele apenas os custos
relativos à execução dos furos, instalação dos tubos de injeção e conexão do sistema.
Entretanto, são raras as minas que aplicaram esta metodologia de disposição de rejeitos
em pasta com a técnica de injeções concomitantemente. Somando-se a isto, apresenta-se
como desvantagem a necessidade de bombas de alta pressão para a penetração adequada
dos rejeitos no depósito, além da necessidade de manutenção do sistema e cuidados
especiais de instalação e operação do sistema.

Quando o rejeito espessado é disposto em camadas finas, diretamente no topo do


depósito de estéril, também não existe necessidade de equipamento adicional para a
mistura dos rejeitos, uma vez que sua disposição no depósito é feita por gravidade,
permitindo também que todo o processo seja acompanhado e inspecionado em
superfície, além do método não requerer bombas de alta pressão e de ser considerado
simples e flexível. Da mesma forma que o processo de injeção dos rejeitos no depósito,
a metodologia de disposição em camadas finas também não foi experimentada em

50
conjunto em minas no Brasil e no exterior, apresentando como principal desvantagem, a
possibilidade de aplicação não uniforme dos rejeitos no depósito, o que poderia gerar
excessos de poropressões em diferentes partes do depósito, bem como comprometer a
estabilidade global do mesmo.

Segundo Morris & Williams (1997), a co-disposição combinada de rejeitos de natureza


fina e grosseira, tal como utilizada na mina de carvão Jeebropilly da Austrália, possui o
potencial de minimização de problemas associados à disposição convencional destes
materiais em pilhas e barragens de rejeito, principalmente relacionado ao processo de
segregação e drenabilidade destes materiais.

2.3.3. Critérios de Aplicabilidade da Técnica de Co-Disposição de Rejeitos e


Estéreis de Mina e Condicionantes de Projeto

Como para todas as metodologias de disposição de rejeitos e estéreis existentes, numa


primeira etapa, é de fundamental importância a realização de estudos e ensaios
geoquímicos e geotécnicos nos materiais de interesse, neste caso, nos materiais que
serão utilizados para a co-disposição (estéreis e rejeitos), quais sejam: ensaios de
cisalhamento para diferentes misturas e concentrações de estéril e rejeito, ensaios de
granulometria e adensamento do rejeito, ensaios de permeabilidade, variações dos teores
de umidade dos materiais após a mistura, ensaios de compressão confinada e, no caso de
materiais sulfetados, ensaios específicos para a verificação do potencial de geração de
drenagem ácida.

Os principais condicionantes do processo estão associados aos efeitos de conjugação de


materiais com comportamentos geotécnicos tão distintos em uma mesma estrutura de
grande porte, demandando análises específicas em termos das poropressões geradas e
das análises de estabilidade global.

51
Pelo caráter inovador de tais estruturas, torna-se de suma importância um plano de
instrumentação e monitoramento dos depósitos de resíduos formados pelo processo de
co-disposição, cujos resultados viabilizarão as premissas e as diretrizes para eventuais
reestudos ou rearranjos de projeto.

52
CAPÍTULO 3

GERAÇÃO E PRODUÇÃO DE REJEITOS DE FERRO DA


MINERAÇÃO CASA DE PEDRA - CSN

3.1 - CARACTERIZAÇÃO GERAL DO EMPREENDIMENTO

A Mineração Casa de Pedra, empreendimento da Companhia Siderúrgica Nacional -


CSN, está localizada a aproximadamente 10 Km do município de Congonhas e cerca de
73 Km de Belo Horizonte, no estado de Minas Gerais, e contempla as atividades de
lavra, beneficiamento e embarque de minério de ferro.

Atualmente, em Casa de Pedra, a lavra se desenvolve em duas cavas distintas


denominadas de Corpo Principal e Corpo Oeste. Conforme previsto no projeto de
expansão da unidade, estas cavas deverão ser unificadas, atingindo área total de cerca de
402 ha. Adicionalmente, prevê-se a expansão da lavra para dois novos corpos de
minério localizados na porção norte do empreendimento, denominados de Corpo Norte
e Corpo Mascate, ocupando uma área de aproximadamente 309 ha, pertencentes ao
Manifesto de Lavra 234/06 da Mineração Casa de Pedra.

O processo de beneficiamento inclui todas as etapas necessárias para obtenção de


concentrados de minério de ferro que geram produtos (carga metálica) para a Usina de
Volta Redonda e outros clientes. As etapas de beneficiamento incluem britagem,
peneiramento e homogeneização, classificação, concentração e filtragem. Os produtos
gerados na mineração Casa de Pedra são: granulado, “hematitinha”, sinter feed e pellet
feed. Atualmente, o granulado e o sinter feed oriundos da planta de classificação e o
pellet feed oriundo da planta de concentração por flotação são enviados para o pátio de
estocagem da área 32, para posterior carregamento ferroviário. A hematitinha é
transportada por meio de caminhões.

53
Os rejeitos gerados no processo são provenientes das etapas de classificação e
concentração. O primeiro corte do rejeito se dá na planta de ciclonagem, que realiza a
deslamagem do minério através de quatro linhas de ciclone que operam em paralelo. O
overflow de cada linha de ciclone alimenta o espessador de rejeitos, cuja função é
recuperar a água de processo, enviando a lama final para a barragem existente. O
segundo corte do rejeito, realizado na planta de concentração, acontece durante a etapa
de flotação, que recebe o underflow da etapa de ciclonagem e também descarta o rejeito
gerado na barragem existente, que compreende um complexo de barragens composto
por pequenos e médios barramentos, denominados B1/B2/B3/B4/B5 e B6, construídos
ao longo do córrego Casa de Pedra.

Com a ampliação da mina e o conseqüente aumento da produção, a CSN realizou uma


série de estudos visando ampliar a capacidade de contenção de rejeitos, provenientes do
beneficiamento do minério de ferro nas instalações de beneficiamento, através da
construção das chamadas Barragem de Rejeito Casa de Pedra e Barragem do Batateiro.

As barragens de rejeito do Batateiro e Casa de Pedra foram projetadas para capacidades


finais de 181.782.961 m3 e 22.015.459 m3, respectivamente, devendo atingir alturas
totais de 310m e 80 m em suas seções máximas, ocupando áreas de, aproximadamente,
354ha e 374 ha, respectivamente. Para uma produção de 30.000.000 t/ano de produtos, a
previsão de geração de rejeitos e lamas em Casa de Pedra, até 2028, seria de,
aproximadamente, 340.000.000 t, aumentando significativamente este valor quando a
produção prevista chegar a 40.000.000 t/ano de produtos.

Diante do exposto, considerando as barragens e as metodologias de disposição previstas


em projeto, que possuem como principais características, além de suas grandes
capacidades de armazenamento e áreas ocupadas, as dimensões significativas das
estruturas previstas (barramentos), entende-se como válido e estratégico o estudo de
novas metodologias de disposição dos rejeitos gerados em Casa de Pedra.

54
3.2 - PROCESSO DE BENEFICIAMENTO E GERAÇÃO DE REJEITOS DE
CASA DE PEDRA

Inicialmente, o minério proveniente das minas é enviado para as instalações de


britagem, onde é realizada a britagem primária (britador giratório), secundária e
terciária (britadores cônicos), estas últimas compostas por duas linhas paralelas de
britagem e peneiramento secundário e três linhas paralelas de britagem e peneiramento
terciário, que operam em circuito fechado (Figura 3.1).

Figura 3.1 - Fluxograma da planta de beneficiamento da CSN – 16.000.000 t/ano.

55
Após passar pelos processos de britagem e peneiramento, o minério segue para o pátio
de homogeneização, onde o material será homogeneizado, retomado e enviado para a
etapa de classificação.

A planta de classificação consiste de sete linhas de peneiramento a úmido em peneiras


de dois decks (8” x 20”), seis linhas de classificadores espirais, seis linhas de peneiras
de desaguamento de um deck (6’’ x 10’’), uma linha de classificação de peneiramento e
ciclonagem e uma linha de britagem quaternária, que opera em circuito fechado com as
linhas de classificação. Nesta etapa são gerados dois produtos denominados de
granulado (lump ore), com granulometria <50mm >6,3mm, e hematitinha (<12mm
>10mm).

A etapa seguinte do processo é realizada na planta de ciclonagem, onde ocorre a


deslamagem do minério, retirando com isso minerais deletéreis como alumina, fósforo e
manganês. O overflow de cada linha de ciclones alimenta o espessador de rejeito, cuja
função é recuperar a água de processo, enviando a lama final para barragem de rejeito.
O underflow alimenta a planta de flotação, passando antes pela planta de reagentes para
condicionamento e adição de reagentes.

A concentração é feita por meio de um sistema de flotação formado por seis colunas,
sendo quatro colunas rougher e duas colunas cleaner, com capacidade de produção de
pellet feed para redução direta e alto-forno. A espuma produzida é descartada como
rejeito para a barragem e o concentrado é enviado para o espessador de concentrado,
sendo conduzido através de um mineroduto de 5km de extensão e 12 polegadas de
diâmetro até a planta de filtragem.

O minério filtrado (desaguado) em filtros verticais a vácuo segue por transportadores de


correia até uma empilhadeira, que forma uma pilha longitudinal no pátio de estocagem.
O efluente da filtragem é encaminhado para um sistema de sedimentação composto por
seis baias, que operam em regime alternado. Os produtos recuperados no pátio são
descarregados em um sistema de transportadores, que por sua vez descarrega no
transportador de carregamento equipado com tripper e carregador de vagões.

56
Depois de carregado, a composição ferroviária segue para a Usina Presidente Vargas em
Volta Redonda, no estado do Rio de Janeiro, percorrendo cerca de 300km de malha
ferroviária. Além da parcela enviada para a usina, parte do minério é também
comercializada diretamente com outras empresas.

3.3 - SISTEMA DE DISPOSIÇÃO DE REJEITOS DE CASA DE PEDRA

Conforme exposto previamente, o atual sistema de disposição de rejeitos de Casa de


Pedra é composto por uma série de pequenos e médios barramentos construídos ao
longo do córrego Casa de Pedra, que recebem os rejeitos gerados no processo de
beneficiamento industrial da mineração.

3.3.1 - Barragem B3

A barragem B3 (Figura 3.2) foi projetada para ser construída em 6 etapas, com
alteamentos máximos de 4m, para permitir uma melhor acomodação da fundação. Para
o maciço da barragem, foi prevista a utilização de um material que assimilasse melhor
as deformações esperadas durante e após a construção, sendo que o próprio rejeito
arenoso disposto no reservatório apresentava características adequadas a este propósito.

O projeto inicial do dique de partida foi elaborado pela Leme Engenharia em


julho/1979. O dique de partida foi construído em 1980/1981 com crista na El. 892,0 m,
atingindo uma altura máxima de 20,0 m. Este dique foi alteado para montante em 1990
até a EL. 897,0 m e, em 1992, até a El. 900,0 m.

A barragem foi construída com solo argiloso compactado, com talude de montante com
inclinação de 1V: 2H e o de jusante com inclinação 1V:1,75H. O dique de partida
possui um sistema de drenagem interna composto por filtro, chaminé e tapete drenante.
A drenagem interna do dique do primeiro alteamento é composta por um filtro vertical e
uma camada drenante implantada no contato com o talude de montante do dique de
partida e no contato com os rejeitos.

57
Figura 3.2 – Vista de jusante da Barragem B3 (CSN, 2006)

A estrutura do vertedouro é composta por um poço em seção retangular de concreto, o


qual conecta-se a uma galeria que emerge a jusante em canal de concreto. O poço de
entrada d’água possui uma estrutura de aço que eleva o nível d’água de entrada em 0,50
m, para controlar a entrada de sedimentos. Os taludes encontram-se protegidos por
vegetação e com canaletas de drenagem em perfeito funcionamento.

3.3.2 - Barragem B4

A barragem B4 (Figura 3.3) tem 54,0 m de altura com 272m de comprimento de crista.
É constituída de um dique de partida de 41m de altura. O maciço é composto de uma
seção zonada de aterro compactado, construído em 1987 e dois alteamentos posteriores
totalizando 10,0 m, implantados em 1991 e 1993.

O dique de partida tem um filtro em chaminé, inclinado e um dreno horizontal elevado


acima do nível da fundação. Não há informações sobre a construção descrevendo
detalhes dos materiais dos filtros e drenos. O alteamento para montante tem um dreno
de base que descarrega sobre a crista do dique de partida para jusante, não conectado ao
filtro vertical do dique de partida, impondo, assim, uma freática elevada no talude de
jusante. A barragem está instrumentada com 6 piezômetros e 3 medidores de NA.

O vertedouro, na crista da barragem sob a estrada consiste de 5 tubos de concreto que


descarregam em um trecho curto de canal revestido de concreto que liga a um poço de

58
queda do vertedouro, semelhante ao da barragem B3, o qual por sua vez conecta-se a
uma galeria horizontal na elevação da crista do dique de partida que lança o fluxo em
um canal que desce sobre a encosta da ombreira esquerda em degraus até a restituição
do fluxo a jusante. Os taludes encontram-se protegidos por vegetação e com canaletas
de drenagem em prefeito funcionamento.

Figura 3.3 – Vista de jusante da Barragem B4 (CSN, 2006)

3.3.3 - Barragem B5

Esta barragem (Figura 3.4) possui altura de 32 metros e comprimento de crista de 455
metros e está situada a montante da barragem B6, em vale adjacente ao da barragem B4.
Os dados de projeto da DAM de 1992 indicam a remoção dos aluviões na área da
fundação. A barragem foi construída em 1993, porém, não há desenhos do projeto
“como construído”. Entretanto, a comparação dos relatórios da DAM de 1992 com os
desenhos mais recentes incluídos nas análises de percolação e estabilidade (2002 e
2003) mostram informações distintas quanto à escavação do terreno de fundação. A
instrumentação foi instalada conforme especificações estabelecidas pela DAM de 1995.

Conforme DAM (2002), a barragem possui uma seção zonada com uma porção central
de material siltoso e os espaldares em solo argiloso. O sistema de drenagem interna
constitui-se de um filtro em chaminé e um tapete drenante de material grosso. Não há
informações sobre os critérios de filtro utilizados.

59
O reservatório da barragem está cheio com rejeitos e a vegetação sobre os mesmos foi
formada. O vertedouro é constituído de uma caixa de concreto conectada a uma galeria
que desemboca em um canal vertente. Os taludes encontram-se protegidos por
vegetação e com canaletas de drenagem em prefeito funcionamento.

Figura 3.4 – Vista de jusante da Barragem B5 (CSN, 2006)

3.3.4 - Barragem B6

Esta barragem (Figura 3.5) possui uma altura atual de 23 metros e comprimento de
crista de 320 metros. A barragem B6 foi construída sobre rejeitos do reservatório da
barragem B3, com projeto inicial implementado pela DAM em 1987.

Conforme DAM (1991), o dique de partida foi projetado com taludes suaves de 1V: 3H
de montante e 1V:5H a jusante com bermas. Sobre a superfície de fundação foi
projetada uma camada de rejeito grosso da barragem B2 para prover uma plataforma de
trabalho para lançamento de uma camada drenante. A barragem tem seção homogênea
construída de xisto alterado e foi alteada em 4 metros por jusante para atingir a altura
atual de 23 metros, correspondente à El. 916,0 m.

A barragem apresenta um sistema adequado de drenagem interna com um dreno


sanduíche, filtro em chaminé e tapete drenante. Dois piezômetros e dois medidores de

60
NA foram instalados e mostram leituras de uma linha freática baixa, a jusante do filtro
em chaminé, fora alguns valores erráticos de leituras.

O vertedouro é constituído por uma estrutura em canal lateral, situado na ombreira


esquerda, revestido em concreto. Os taludes encontram-se protegidos por vegetação e
com canaletas de drenagem em prefeito funcionamento. A Barragem B6 possui como
instrumentos de controle geotécnico 04 medidores de nível d’água, em perfeito
funcionamento, instalados ao longo do maciço.

Figura 3.5 – Vista de jusante da Barragem B6 (CSN, 2006)

3.3.5 – Estruturas Previstas para Implantação a Curto Prazo

3.3.5.1 - Barragem do Batateiro

Conforme projeto básico (DAM, 2004), a Barragem do Batateiro, que deverá ser
implantada entre a Serra do Batateiro e a Serra da Boa Vista, ao longo do ribeirão do
Esmeril, será construída com material estéril de mina, constituído, basicamente, por
itabirito e laterita, sobre fundação composta basicamente de filito e quartzito. O
lançamento do rejeito grosso será feito pela crista, através do processo de
espigotamento.

O projeto desta barragem está em estágio conceitual e prevê a construção de um maciço


de estéril compactado, formando uma barragem de 300 metros de altura, entre o pé do

61
talude de jusante e a crista (Figura 3.6). Sob a crista, a barragem terá 250 metros de
altura. O talude de montante terá inclinação de 1V:2H e o de jusante de 1V: 3H, sendo
que a barragem comportará um volume de reservatório de aproximadamente 180 Mm3.

O sistema de drenagem interna deverá ser constituído por um dreno inclinado de areia,
posicionado na transição entre os dois materiais de construção empregados, um tapete
drenante do tipo sanduíche e dreno de montante. Prevê-se para a barragem um dreno de
montante independente que terá a função de drenar e adensar o rejeito junto ao talude
para torná-lo não susceptível aos fenômenos de liquefação e solifluxão. O sistema de
estruturas hidráulicas será formado por um túnel, com a função de desvio e de
vertedouro, túneis emissários e três torres de tomada d’água.

1 – Material terroso compactado


2 – Material estéril RANDOM compactado
2A – Material para drenagem (areia fina e grossa)
3 – Material de enrocamento
Figura 3.6 – Seção típica da Barragem do Batateiro (DAM, 2004)

3.3.5.2 - Barragem Casa de Pedra

Conforme projeto básico (DAM, 2004), a Barragem Casa de Pedra, localizada a jusante
da Barragem B3 existente, será construída, inicialmente, até elevação El. 920,0 m. Esta

62
barragem será subseqüentemente alteada, devendo atingir uma altura máxima de 90,0 m
com cota na El. 954,0 m, com um comprimento de crista de 2.000,0 m (Figura 3.7).

Figura 3.7 – Seção típica da Barragem Casa de Pedra (DAM, 2004)

O projeto básico da primeira etapa da barragem Casa de Pedra na El. 920,00 m foi
concebido de modo a permitir o seu alteamento em qualquer uma das duas hipóteses
consideradas: empilhamento drenado ou aterro compactado. No primeiro caso, o maciço
projetado funcionará como dique de partida para o empilhamento do rejeito.

A barragem, em sua primeira etapa na El. 920,00m, será constituída por um maciço de
aterro compactado, dotado de um sistema de drenagem interna composto por um filtro
vertical, tapete drenante e dreno de pé. O corpo de aterro da barragem será executado
com material proveniente de áreas de empréstimo e, quando possível, das escavações
obrigatórias.

A barragem será constituída por um maciço de aterro de material proveniente de área de


empréstimo, com 650 m de extensão pelo coroamento e 65 de altura máxima sobre as
fundações. A crista, com 8,0 m de largura, estará posicionada nesta etapa na EL. 920,00
m. Inclinações de 1V:2H em são previstas tanto para o talude de montante quanto para o
talude de jusante. O talude de jusante deverá ser dotado de bermas intermediárias de 4,0
de largura a cada 10,0 m de desnível.

63
O sistema de drenagem interna será formado por um filtro vertical de areia com 0,80 m
de largura, associado a um tapete drenante de areia e brita, tipo sanduíche, com 1,0 m de
espessura, apoiado na fundação. Na extremidade do tapete, no fundo do vale, foi
previsto um dreno de pé de enrocamento e transição.

Para a drenagem do rejeito, visando o alteamento da barragem por montante nas etapas
futuras, foi previsto um dreno longitudinal, constituído por pedra britada e transições, a
ser implantado na superfície do talude de montante da barragem, com saída em ambas
as ombreiras.

O sistema vertedouro será composto por canal revestido em concreto projetado, escadas
hidráulicas e estrutura dissipadora de energia em concreto armado, implantado na
ombreira esquerda.

A drenagem superficial da barragem Casa de Pedra em sua elevação 920,00 m foi


projetada na forma de canaletas meia-cana nas bermas (concreto armado), as quais
convergem para uma descida d’água principal localizada no centro do maciço (em
concreto armado).

64
CAPÍTULO 4

CARACTERIZAÇÃO TECNOLÓGICA DOS REJEITOS DE


FERRO DA MINERAÇÃO CASA DE PEDRA - CSN

4.1 – INTRODUÇÃO

A análise do comportamento geotécnico dos rejeitos, essenciais para a definição do


sistema de disposição final dos mesmos, compreende a análise integrada da natureza
física da fase sólida, da natureza química da fase líquida e das propriedades de interação
entre estas fases, visando estabelecer a caracterização tecnológica dos rejeitos.

Em princípio, a caracterização tecnológica dos rejeitos pode ser estabelecida por meio
de ensaios realizados em amostras e com base em análises isoladas da fase em estudo,
devendo em outras condições, estar associadas diretamente às especificações dos
sistemas de disposição de rejeitos. Em termos gerais, a caracterização tecnológica de
rejeitos de mineração pode abranger a avaliação criteriosa de algumas das seguintes
características destes materiais (Gomes, 2006):

¾ Distribuição granulométrica da fração sólida;

¾ Composição mineralógica das partículas sólidas;

¾ Densidade dos grãos e índices de vazios máximo e mínimo;

¾ Resistência ao cisalhamento sob condições drenadas e não drenadas;

¾ Susceptibilidade a liquefação;

¾ Densidade in situ;

¾ Segregação hidráulica;

¾ Compressibilidade e adensamento;

65
¾ Permeabilidade e drenabilidade;

¾ Propriedades de contração e ressecamento;

¾ Análise química da água e identificação de potenciais substâncias


contaminantes;

¾ Variáveis de deposição, incluindo vazão e concentração da polpa.

Desta forma, visando caracterizar tecnologicamente os materiais estudados, foram


avaliados vários projetos e estudos sobre os rejeitos de ferro gerados em Casa de Pedra.
A partir desses projetos, foram compilados uma série de dados e informações
provenientes de ensaios de campo e laboratório realizados em amostras representativas
dos rejeitos gerados no processo de beneficiamento e, atualmente, dispostos nas
estruturas de contenção e nas barragens existentes.

Considerando que rejeitos de mineração são materiais distintos, com características


específicas incorporadas a partir dos processos de beneficiamento industrial, o processo
de amostragem, realizado por empresas distintas, buscou uma representatividade das
amostras dos rejeitos gerados em Casa de Pedra, tanto na planta de beneficiamento
quanto nas praias de rejeito.

4.2 – CARACTERIZAÇÃO TECNOLÓGICA DA FRAÇÃO SÓLIDA DOS


REJEITOS

4.2.1 - Composição Química e Mineralógica

As características químicas e mineralógicas dos rejeitos apresentam consideráveis


variações em função da natureza do minério e das especificações dos processos de
beneficiamento industrial, incluindo ações afetadas por mudanças nas frentes de lavra.
Nesse contexto, assume especial relevância o estudo da composição química e
mineralógica dos rejeitos, devendo ser consideradas metodologias correntes em estudos
da caracterização tecnológica dos resíduos de mineração.

66
Estes ensaios foram realizados, por meio da técnica de fluorescência de raio-X, em
amostras representativas da lama da ciclonagem secundária e do rejeitos de flotação
(Osorio, 2005). Os resultados mostraram, no caso da lama da ciclonagem secundária, a
presença de ferro como principal componente da amostra, com a presença importante de
manganês, além da contribuição de elementos como o sílicio, alumínio e,
secundariamente, magnésio e sódio. Em pequenas quantidades, foram detectados
elementos como enxofre e fósforo.

No caso do rejeito da flotação, verificou-se a predominância de ferro e uma presença


menos importante de manganês, em comparação com a amostra de lama da ciclonagem.
Aparecem também outros elementos importantes como o silício e, em grau muito
menor, alumínio, magnésio e sódio. Elementos presentes em pequenas quantidades,
como o caso de enxofre e fósforo, também foram detectados.

As análises químicas quantitativas, obtidas através de ensaios de absorção atômica,


ratificaram a presença de ferro como predominante na amostra da lama da ciclonagem
secundária. Para o caso da amostra de rejeito da flotação, foram constatados elevados
conteúdos de sílica e de ferro (Tabela 4.1).

Tabela 4.1 - Análise química quantitativa dos rejeitos da CSN (Osorio; 2005)
elemento (% em massa) lama da ciclonagem secundária rejeito da flotação
Fe total 51,67 30,81
SiO2 9,65 52,35
Al2O3 8,97 0,30
Mn ----- -----
Mg 0,128 0,016
P 0,087 0,017
PPC* 6,63 0,46
(*) PPC – perda por calcinação

67
Verifica-se que a parte fina dos rejeitos, correspondente à lama da ciclonagem
secundária, é composta essencialmente por elementos ferrosos. A parte grossa, por sua
vez, correspondente ao rejeito da flotação, é composta essencialmente por sílica e,
secundariamente, por ferro.

Com relação à composição mineralógica da lama da ciclonagem secundária, cujas


análises foram realizadas por microscopia eletrônica de varredura, verificou-se a
presença predominante de hematita, goethita, pirolusita, talco e caulinita. No caso dos
rejeitos de flotação, as análises indicaram a presença predominante de quartzo, hematita,
gibbsita e caulinita, estas últimas em quantidades menores, conforme pode ser
observado nas fotografias apresentadas nas Figuras 4.1 e 4.2, correspondentes às
amostras da lama da ciclonagem secundária e do rejeito da flotação, respectivamente.

a b

Fe2O3

SiO2

SiO2

c d

Figura 4.1 - Microfotografias MEV da amostra da lama da ciclonagem secundária: a) e-


secundários, 2000X; b) e- secundários, 3500X; c) e- retroespalhados, 1000X; d) seção
polida, e- retroespalhados, 750X. (Osorio; 2005)

68
a b

Fe2O3
Fe2O3
SiO2

SiO2
SiO2
Fe2O3

c d

Figura 4.2 - Microfotografias MEV da amostra do rejeito da flotação: a) e- secundários,


750X; b) e- secundários, 500X; c) e- retroespalhados, 1000X; d) seção polida, e-
retroespalhados, 500X (Osorio; 2005).

Na Figura 4.1, pode-se observar a morfologia da estrutura cristalina e o tamanho fino


das partículas presentes na amostra da lama da ciclonagem secundária, correspondente a
minerais de ferro e de quartzo. No caso da Figura 4.2, a morfologia das partículas
(cúbicas) e o tamanho evidenciam a diferença em relação a amostra da lama da
ciclonagem.

As Figuras 4.3 e 4.4 apresentam os resultados qualitativos de difratograma de raios X


realizados nas amostras de lama da ciclonagem secundária e do rejeito da flotação,
respectivamente.

69
1400
H = HEMATITA
C
1200 G - GOETHITA
C = CAULINITA
1000 H
T = TALCO

I (pulsos/s)
G
P = PIROLUSITA
800
C

600
G

400 H
H G
G H
T G P
H G H GG
200 C G P
G H
H
H
G P G G
G G
GG H
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80
2 (Theta)

Figura 4.3 - Difratograma de raios X da amostra da lama da ciclonagem secundária

5000
Q H = HEMATITA
B - GIBSITA
4000 C = CAULINITA
Q = QUARTZO
I (pulsos/s)

3000

2000
Q
H
1000 Q
Q Q
H HQ
Q HQ Q Q QQ Q H Q
B QHQ Q H H HHQ
C C Q H H H
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80
2 (T heta)

Figura 4.4 - Difratograma de raios X da amostra do rejeito da flotação

4.2.2 - Distribuição Granulométrica

Os ensaios para a determinação da distribuição granulométrica dos rejeitos gerados em


Casa de Pedra foram realizados por meio da metodologia de classificação em peneiras
de laboratório, classificação centrífuga mediante o uso do Ciclosizer e também pelo
método de difração a laser através do granulômetro Helos – Sympatec.

70
Os resultados obtidos mostram uma distribuição de partículas muito finas para a lama
da ciclonagem secundária (lama com ultrafinos) e uma distribuição de partículas mais
grosseiras para o rejeito da flotação, conforme apresentado na Tabela 4.2, que fornece
os tamanhos D10, D50 e D90, expressos em μm, para as amostras da lama da ciclogem
secundária e do rejeito da flotação.

Tabela 4.2 - Tamanhos D10, D50 e D90 das amostras sólidas estudadas (Osorio; 2005)

D10 D50 D90


Origem/Características
(mm) (μm) (mm) (μm) (mm) (μm)
Lama da ciclonagem secundária 0,0008 0,84 0,004 4,34 0,014 14,52
Rejeito de flotação 0,021 20,72 0,071 71,54 0,152 152,59

As Figuras 4.5 e 4.6 apresentam os resultados de distribuição granulométrica obtidos


para as amostras de rejeito ensaiadas por meio de classificação centrífuga (Cycloniser e
granulômetro a laser) e peneiramento, para a lama da ciclonagem secundária e para o
rejeito da flotação respectivamente.

100
90
% Passante acumulada

80
70
60
50
40
30
20
10
0
0,1 1 10 100
Tamanho de partícula (µm)

Cyclosizer Sympatec Peneiramento

Figura 4.5 - Distribuição granulométrics da lama da ciclonagem (Osorio, 2005)

71
100
90

% Passante acumulada
80
70
60
50
40
30
20
10
0
1 10 100 1000
Tamanho de partícula (µm)

Sympatec Peneiramento Cyclosizer

Figura 4.6 - Distribuição granulométrica do rejeito da flotação (Osorio, 2005)

Os ensaios de granulometria realizados pela Geolabor (2005) em amostras de rejeitos de


minério, coletadas na praia de rejeitos sedimentados na Barragem B6, são apresentados
na Tabela 4.3.

Tabela 4.3 - Resultados de ensaios granulométricos obtidos em 04 ensaios em amostras


de rejeitos coletadas na praia da Barragem B6 (Geolabor, 2005)

% passante - amostras da praia de rejeitos sedimentados na Barragem B6


solo
B6AM1 B6AM2 B6AM3 B6AM4
Argila 21,6 18 23,6 37,3
Silte 45,9 45,6 58,5 48,2
Areia fina 19,9 34,6 17,8 12,6
Areia média 3,6 1,8 0,1 0,7
Areia grossa 3,9 0,0 0,0 0,5
Pedregulho 5,1 0,0 0,0 0,7

72
Em geral, os rejeitos depositados nesta praia apresentam natureza silto-argilosa, com
exceção da amostra 2, que apresentou composição silto-arenosa. Ensaios adicionais
foram realizados pela Universidade Federal de Viçosa, em amostras de rejeitos
provenientes da praia formada em um aterro hidráulico experimental que está sendo
construído em Casa de Pedra, a partir do rejeito gerado na flotação (Tabela 4.4).

Tabela 4.4 - Resultados de ensaios granulométricos obtidos em amostras coletadas em


aterro experimental da CSN (UFV; 2005)

% passante – amostras coletadas em furos de sondagem realizados na


solo praia do aterro experimental em Casa de Pedra (UFV; 2005)
AEAM1 AEAM2 AEAM3 AEAM4 AEAM5
Argila 2 2 2 1 3
Silte 54 58 57 49 74
Areia 44 40 41 49 23
Pedregulho 0 0 0 0 0

Outros ensaios de caracterização granulométrica foram apresentados em DAM (2004),


tendo sido realizados no laboratório da CEMIG, em amostras de rejeito depositado na
praia do reservatório da barragem B3 (Tabela 4.5).

Tabela 4.5 - Resultados de ensaios granulométricos realizados pela CEMIG em


amostras da praia de rejeito da Barragem B3 (DAM, 2004)

% passante
solo
B3AM1 B3AM2 B3AM3 B3AM4
Argila 26 4 4 56
Silte 55 80 72 21
Areia 15 16 18 19
Pedregulho 4 0 6 4

73
No aterro experimental, todas as amostras retiradas dos cinco furos realizados na praia
de rejeito apresentaram natureza silto-arenosa, confirmando a granulometria mais
grosseira dos rejeitos depositados nesta estrutura, proveniente da etapa de flotação.

As amostras coletadas na praia da Barragem B3 (DAM, 2004), apresentaram natureza


distinta, cuja granulometria variou de silto-argilosa a silto-arenosa. Quanto aos ensaios
realizados em amostras provenientes da praia de rejeito da Barragem B3 (DAM, 2004) e
B6 (Geolabor, 2005), locais onde atualmente são dispostos os rejeitos gerados em Casa
de Pedra, seja ele proveniente da etapa de ciclonagem ou da etapa de flotação, vale
observar os diferentes valores obtidos para diferentes locais da praia, confirmando a
grande variabilidade granulométrica observada no campo. Isto se deve ao complexo
processo de segregação hidráulica das partículas do rejeito de minério de ferro, em
virtude da interação de diferentes granulometrias e densidades dos grãos de sílica e dos
óxidos de ferro.

4.2.3 - Densidades, Pesos Específicos e Índices de Vazios

A densidade dos grãos que compõem um determinado tipo de solo está diretamente
relacionada com sua natureza, origem e composição química. Os rejeitos de minério de
ferro, por exemplo, por serem compostos basicamente de partículas de quartzo e
hematita, podem apresentar valores superiores a 4,0. Para as amostras dos rejeitos de
Casa de Pedra, foram obtidos os valores apresentados na Tabela 4.6 (Osorio, 2005).

Tabela 4.6 - Densidades dos rejeitos de Casa de Pedra (Osorio, 2005)

Amostra Densidade (PS)* Densidade (PG)** Densidade Média


Lama da ciclonagem 3,55 3,76 3,65
Rejeito da flotação 3,32 3,30 3,31
(**) PS – Picnometria simples; (****) PG – Picnometria à gás.

74
Analisando-se os valores de densidade obtidos, observam-se maiores valores para os
grãos da amostra da lama da ciclonagem secundária (3,65), quando comparada ao valor
da densidade obtida para a amostra do rejeito da flotação (3,31), confirmando a relação
proposta por Espósito (2000), a qual correlaciona a variação da massa específica dos
grãos com teores de ferro, constatando-se também uma tendência de acréscimo do valor
da massa específica dos grãos com o aumento do teor de ferro presente na amostra
proveniente do processo de ciclonagem.

Os resultados dos ensaios de determinação das densidades dos grãos apresentados em


DAM (2004), realizados no laboratório da CEMIG, em amostras do rejeito depositado
na praia do reservatório da barragem B3, são apresentados na Tabela 4.7. Observa-se
uma ampla variabilidade destes parâmetros ao longo da praia, o qual deve estar
relacionada também à distribuição granulométrica devido ao processo de segregação.

Tabela 4.7 - Resultados de ensaios realizados pela CEMIG em amostras da praia de


rejeito da Barragem B3 (DAM, 2004)

Amostra Densidade dos grãos

B3AM1 2,99
B3AM2 3,01
B3AM3 2,89
B3AM4 2,98

Os resultados dos ensaios de massas específicas secas e de índice de vazios limites


realizados pela Geolabor (2005) em amostras (deformadas e reconstituídas em
laboratório) de rejeitos de minério coletadas na praia de rejeitos sedimentados na
Barragem B6, são apresentados na Tabela 4.8.

Similarmente aos ensaios de granulometria, valores de massas específicas secas e de


índice de vazios limites foram obtidos a partir das amostras coletadas nos furos de
sondagem realizados em praia de rejeitos formada em aterro hidráulico experimental da
CSN, pela Universidade Federal de Viçosa (Tabela 4.9).

75
Tabela 4.8 – Massas específicas secas e índices de vazios limites de amostras de rejeitos
coletadas na praia da Barragem B6 (Geolabor, 2005)

Massa específica Massa específica


Índice de vazios Índice de vazios
Amostra seca máxima seca mínima
máximo mínimo
(g/cm3) (g/cm3)
rejeito da
1,09 0,68 3,16 1,03
barragem B6

Tabela 4.9 - Resultados de ensaios para determinação de pesos específicos dos sólidos e
índices de vazios obtidos no aterro experimental da CSN (UFV, 2005)

Peso Peso Peso


Índice de Índice de
específico específico específico
amostras vazios vazios
dos sólidos seco mínimo seco máximo
máximo mínimo
(kN/m3) (kN/m3) (kN/m3)
AEAM1 38,96 18,08 24,43 1,15 0,59
AEAM2 37,06 17,86 24,26 1,07 0,53
AEAM3 37,83 17,77 23,89 1,13 0,58
AEAM4 40,64 18,38 24,53 1,21 0,66
AEAM5 35,17 16,37 21,81 1,15 0,61

Estes resultados comprovam a grande influência da segregação no processo de


densificação do aterro que, segundo Küper (1991), esta diretamente associada às
elevadas vazões, baixas concentrações de polpa e baixas velocidades de fluxo. Na
presente situação, a lama da ciclonagem secundária é descartada com menores
concentrações de polpa que o rejeito da flotação, devido também a maior quantidade de
água incorporada ao espessador que recebe o overflow da ciclonagem.

A avaliação dos índices de vazios constitui uma premissa fundamental para a


caracterização do estado de compacidade dos rejeitos depositados, além da importância

76
destes valores para a reconstituição de amostras para realização de ensaios de
laboratório e também para avaliação do potencial de susceptibilidade destes materiais à
liquefação. Os dados apresentados na Tabela 4.9 caracterizam baixos valores de índices
de vazios quando comparados a valores comumente obtidos para rejeitos de ferro na
região do Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais.

4.2.4 - Superfície Específica das Amostras Sólidas

Os resultados do índice de Blaine, representado pelo valor da área superficial específica


(ASE), obtidos para amostras sólidas originais e misturas da lama da ciclonagem e do
rejeito da flotação gerados em Casa de Pedra, são apresentados na Tabela 4.10.

Tabela 4.10 - Tempos de passagem de fluxo de ar e valores de ASE segundo Blaine.


(Osorio, 2005)

Amostra Origem e ou características Tempo (s) ASE (cm2/g)


1 Lama da ciclonagem secundária 537,99 9.541,61
2 Rejeito da flotação 3,66 813,11
Mistura de 75% da lama da ciclonagem
3 84,72 3.753,60
com 25% do rejeito da flotação
Mistura de 50% da lama da ciclonagem
4 57,94 3.149,79
com 50% do rejeito da flotação
Mistura de 25% da lama da ciclonagem
5 31,62 2.358,00
com 75% do rejeito da flotação

Segundo Osorio (2005), dos valores de ASE (Índice de Blaine), para as amostras que
apresentam distribuição granulométrica mais fina (amostras 1 e 3), nota-se a tendência,
já esperada, de aumento do valor de resistência à passagem de ar, fato que indica uma
maior presença de materiais ultrafinos no material analisado.

77
4.2.5 - Parâmetros de Resistência

Para a determinação dos parâmetros de resistência e limites de consistência dos rejeitos


de Casa de Pedra, foram considerados os estudos e ensaios de campo e laboratório
realizados por DeltaGeo (2003), Geolabor (2005) e CEMIG (2004) nas praias de rejeito
das barragens B3, B4, B5 e B6, que envolveram ensaios do tipo CPTU (piezocone) e
VT (vane test), além de ensaios de caracterização e de compressão triaxial.

Os ensaios de piezocone (CPTU) visaram à caracterização do rejeito depositado no


reservatório da barragem B3, permitindo ainda a determinação dos parâmetros de
resistência, permeabilidade e adensamento. A Figura 4.7 apresenta os resultados obtidos
em um ensaio de piezocone realizado na praia de rejeitos da barragem B3.

Figura 4.7 - Resultados de ensaio de piezocone realizado na praia de rejeitos da


barragem B3 (DAM, 2004).

78
Os principais resultados indicaram que o rejeito pode ser caracterizado por material silte
argilo-arenoso, com algumas lentes de areia de pequena espessura, desenvolvendo, de
uma maneira geral, poropressões positivas durante a cravação do instrumento (DAM,
2004).

Os ensaios de palheta (VT) foram executados com o objetivo de determinar a resistência


não drenada (Su) do rejeito depositado nos reservatórios das barragens estudadas. Os
ensaios demonstraram resistência ao cisalhamento variável com a profundidade, devido
à influência de ciclos de ressecamento/molhagem nas camadas mais superficiais,
conforme apresentado na Tabela 4.11, sendo observado também o desenvolvimento de
poropressões positivas durante a cravação dos instrumentos de campo (DAM, 2004).

Tabela 4.11 - Resultados de ensaios de campo de palheta na praia de rejeitos da


barragem B3 (DAM, 2004)
Su = 7KPa para z < 3m
resistência não drenada in situ (KPa)
Su = - 4KPa ± 3,67 z (para z > 3m)

resistência não drenada do solo amolgado (KPa) Sur = 2 + 1,11 z

Os ensaios de laboratório especiais compreenderam ensaios triaxiais do tipo CIU, com


medidas de poropressões, a partir de amostras indeformadas coletadas nas barragens de
rejeito estudadas. A partir dos dados medidos durante o cisalhamento não-drenado das
amostras, tornou-se possível a construção de curvas e envoltórias características para a
determinação dos parâmetros de resistência dos rejeitos da CSN.

Neste sentido foram obtidos, para os rejeitos ensaiados, os diagramas tensão desviadora
x deformação axial (utilizando-se critérios distintos, em termos de tensões desviadoras e
relações entre as tensões principais) e poropressão x deformação axial, para tensões
confinantes de 100 kPa (CP1), 200 kPa (CP2), 400 kPa (CP3) e 800 kPa (CP4) para 04
diferentes amostras dos rejeitos depositados na praia da Barragem B3, conforme
indicado pelas Figuras 4.8 a 4.11.

79
Figura 4.8 - Diagramas tensão desviadora x deformação axial, poropressão x
deformação axial e razão de tensões x deformação axial para a amostra B3AM1 (DAM,
2004)

80
Figura 4.9 - Diagramas tensão desviadora x deformação axial; poropressão x
deformação axial e razão de tensões x deformação axial para a amostra B3AM2 (DAM,
2004)

81
Figura 4.10 - Diagramas tensão desviadora x deformação axial; poropressão x
deformação axial e razão de tensões x deformação axial para a amostra B3AM3 (DAM,
2004)

82
Figura 4.11 - Diagramas tensão desviadora x deformação axial; poropressão x
deformação axial e razão de tensões x deformação axial para a amostra B3AM4 (DAM,
2004)

83
Analisando-se os diagramas tensão desviadora x deformação axial, para as amostras
ensaiadas, observa-se que as curvas apresentam comportamentos similares, com
exceção do ensaio realizado sob tensão confinante de 800 kPa. Observa-se também, em
todos os casos analisados, que a tensão desviadora não cresce tanto com as
deformações, caracterizando, de certa forma, a resistência residual destes materiais e o
estado fofo dos rejeitos depositados na praia, com exceção da amostra B3AM4, cujos
diagramas apresentados evidenciam sua natureza mais consolada (adensada).

Os resultados apresentados nos diagramas da amostra B3AM4 demonstram claramente


a diferença na natureza desta amostra quando comparada com as outras, o que pode
estar associado ao processo de consolidação, segregação e adensameno do rejeito em
diferentes locais da praia. Os ensaios demonstram claramente maiores tensões
desviadoras para deformações axiais proporcioais aquelas observadas para as outras
amostras.

Com relação ao diagrama poropressão x deformação axial, observa-se também a


diferença no comportamento da amostra B3AM4 para baixas tensões de confinamento
(100 kPa - CP1 e 200 kPa - CP2), quando comparada com as outras amostras. Devido a
natureza mais consolidada desta amostra, durante a fase de cisalhamento a qual esta foi
submetida, observa-se a geração de poropressão negativa para baixas tensões
confinantes, característica típica de materiais mais adensados, os quais tendem a se
expandir durante este processo, devido ao rearranjo estrutural das partículas.

Com base nos resultados dos ensaios triaxiais, foram obtidos os parâmetros de
resistência em termos de tensões totais e efetivas (Tabela 4.10) e se fez a avaliação do
comportamento global do rejeito em termos de resistência ao cisalhamento, mediante o
traçado das envoltórias de ruptura e das respectivas trajetórias de tensões efetivas, como
ilustrado para o caso da amostra B3AM3 estudada (Figura 4.12 a 4.14). Os demais
resultados dos ensaios triaxiais são apresentados no Anexo I.

84
Tabela 4.12 – Parâmetros de resistência dos rejeitos da Barragem B3 (DAM, 2004)
parâmetros de resistência

tensões totais tensões efetivas


amostras
ângulo de atrito ângulo de atrito
coesão (kPa) coesão (kPa)
(º) (º)
B3AM1 11,8 5,8 28,7 2,5
B3AM2 9,7 9,7 22,8 5,8
B3AM3 12,7 6,6 27,8 3,5
B3AM4 11,2 21,9 33,8 2,0

Figura 4.12 – Envoltória de ruptura obtida em termos de tensões totais - amostra


B3AM3 (DAM, 2004)

Figura 4.13 – Envoltória de ruptura obtida em termos de tensões efetivas - amostra


B3AM3 (DAM, 2004)

85
Figura 4.14 – Trajetória de tensões efetivas obtida para a amostra B3AM3 (DAM, 2004)

Os resultados caracterizam a natureza bastante distinta dos materiais depositados na


praia de rejeitos da Barragem B3. Com efeito, em termos de tensões efetivas, os rejeitos
mostraram uma baixa coesão (tipicamente inferiores a 5 kPa) e valores de ângulos de
atrito variando entre 23º e 34º.

Uma análise complementar de extrema relevância considera a susceptibilidade dos


rejeitos ao fenômeno da liquefação sob cargas estáticas e dinâmicas (Gomes et al.,
2002). Neste contexto, verifica-se que as poropressões geradas nos ensaios foram
maiores sob baixas deformações (tipicamente inferiores 3,0%) e para grandes tensões de
confinamento (acima de 400 kPa), indicando, a princípio, portanto, baixo potencial de
liquefação destes materiais.

4.3 – CARACTERIZAÇÃO TECNOLÓGICA DOS REJEITOS EM PASTA

4.3.1 – Preparação das Amostras dos Rejeitos em Pasta

Neste item são apresentados os resultados de caracterização de pastas minerais


preparadas com amostras de rejeitos provenientes das etapas de ciclonagem (lama da
ciclonagem) e de flotação (rejeito da flotação) da mineração Casa de Pedra, para
diferentes composições (Tabela 4.13).

86
Tabela 4.13 – Amostras de rejeitos em pasta da mineração Casa de Pedra (Osorio, 2005)
Origem e/ou Temperatura
amostra % Sólidos
Características (°C)
Amostra I Lama da ciclonagem secundária 60 – 77 21 - 22
Amostra II Rejeito da flotação 60 – 81 22
Mistura de 75% da lama da
Amostra III ciclonagem e 25% do rejeito da 60 – 73 20 - 22
flotação
Mistura de 50% da lama da
Amostra IV ciclonagem e 50% do rejeito da 60 – 77 21
flotação
Mistura de 25% da lama da
Amostra V ciclonagem e 75% do rejeito da 60 – 81 22
flotação

As amostras sólidas originais, relacionadas à lama da ciclonagem secundária e ao rejeito


da flotação, foram estudadas nas faixas de concentração (% de sólidos) nas quais os
materiais exibiram comportamento de pasta (conforme resultados preliminares obtidos
por ensaios de slump).

4.3.2 – Viscosidade das pastas

Os ensaios de viscosidade realizados por Osorio (2005) através de um medidor


denominado viscosímetro, instrumento que mede a viscosidade da pasta para diferentes
concentrações e velocidade de rotação, para a amostra I (lama da ciclonagem
secundária), mostraram que o material não tende a exibir um comportamento reológico
único. Com efeito, as amostras com menores porcentagens (58% e 61%) apresentaram
uma tendência de diminuição do valor da viscosidade na fase de retorno do ciclo (1-
180-1 rpm), comportamento tixotrópico – viscosidade decrescente com o tempo,
enquanto que a amostra com maior porcentagem de sólidos (65%) apresentou maior
predomínio do comportamento reotrópico (viscosidade crescente com o tempo), dado os
maiores valores registrados na viscosidade na fase de retorno do ciclo (Figura 4.15).

87
7 0 00

6 0 00

5 0 00

Viscosidade (cP)
4 0 00

3 0 00

2 0 00

1 0 00

0
0 50 100 150 2 00
V e lo c id a d e d e ro taç ã o d a h a ste (rp m )

% S=58 % S = 61 % S=65

Figura 4.15 – Gráfico de viscosidade em função da velocidade de rotação da haste


amostra I – lama da ciclonagem secundária (Osorio, 2005)

7000

6000
Viscosidade (cP)

5000

4000

3000

2000

1000

0
0 50 100 150 200
Velocidade de rotação da haste (rpm)

%S=78 %S=80 %S=82

Figura 4.16 – Gráfico de viscosidade em função da velocidade de rotação da haste


amostra II – rejeito da flotação (Osorio, 2005)

88
No caso da amostra II (rejeito da flotação), verifica-se um comportamento
predominantemente reotrópico (viscosidade crescente com o tempo), em todas as
amostras estudadas (Figura 4.16). As amostras apresentaram a tendência a um
comportamento crescente na viscosidade com o tempo (20 – 80s), o que confirma o
caráter mais reotrópico desta pasta.

Considerando um ciclo reológico de 1-20-1 rpm para a amostra III (mistura de 75% da
amostra I e 25% da amostra II), constata-se uma clara tendência de convergência dos
valores das viscosidades para as diferentes porcentagens de sólidos, com exceção da
amostra com 73% de sólidos que, a partir de 40 rpm de rotação da haste, tendeu a
apresentar menores valores na viscosidade em relação às das amostras com 65 e 71%
em sólidos (Figura 4.17).

6000

5000
Viscosidade (cP)

4000

3000

2000

1000

0
0 50 100 150 200
Velocidade de rotação da haste (rpm)

60%S 63%S 65%S 71%S 73%S

Figura 4.17 – Gráfico de viscosidade em função da velocidade de rotação da haste


Amostra III – mistura de 75% da amostra I e 25% da amostra II (Osorio, 2005)

Os ensaios realizados na amostra IV (mistura de 50% da amostra I e 50% amostra II)


mostraram que pastas menos concentradas (60 e 65% de sólidos) apresentam
comportamentos muito similares, ao passo que pastas mais concentradas (75 e 76% de
sólidos) tenderam a apresentar curvas com maiores valores de viscosidade e claramente
diferenciadas, observando-se também uma elevada histerese (Figura 4.18).

89
30000

25000

Viscosidade (cP)
20000

15000

10000

5000

0
0 5 10 15 20 25
V e lo c id a d e d e ro ta ç ã o d a h a s te (rp m )

60% S 65% S 75% S 76% S

Figura 4.18 – Gráfico de viscosidade em função da velocidade de rotação da haste


Amostra IV – mistura de 50% da amostra I e 50% amostra II (Osorio, 2005)

6000

5000
Viscosidade (cP)

4000

3000

2000

1000

0
0 50 100 150 200
Velocidade de rotação da haste (rpm)

60%S 65%S 75%S 79%S 81%S

Figura 4.19 – Gráfico de viscosidade em função da velocidade de rotação da haste


Amostra V – mistura de 25% da amostra I e 75% da amostra II. (Osorio, 2005)

90
Na amostra V (mistura de 25% da amostra I e 75% da amostra II), observa-se um duplo
comportamento em todas as pastas estudadas. De forma mais específica, é possível
estabelecer que, para menores concentrações (60 até 75% de sólidos), predomina um
comportamento reotrópico e, para as mais concentradas (78 até 81% de sólidos), o
tixotropismo é cada vez mais dominante (Figura 4.19).

De uma maneira geral, o valor da viscosidade das pastas minerais aumentou na razão
direta do aumento da porcentagem de sólidos. Nas mesmas condições de operação, as
pastas preparadas com a amostra I (lama da ciclonagem secundária) apresentaram os
maiores valores de viscosidade, tanto nos ciclos reológicos mais lentos (1-20-1 rpm)
quanto naqueles mais rápidos (1-180-1 rpm). Este comportamento pode ser considerado
vantajoso no caso da conformação da praia, o que pode resultar na formação de taludes
mais íngremes e estruturas mais densas. Entretanto, considerando a necessidade de
transporte da pasta até a área de disposição, valores mais elevados de viscosidade
podem gerar também elevadas tensões de escoamento.

4.3.3 – Testes de Slump

Os resultados do teste de slump, também realizados por Osorio (2005), para diversas
porcentagens de sólidos, são apresentados na Tabela 4.14 e na Figura 4.20.

9
Altura de slump (cm)

8
7
6
5
4
3
2
1
0
50,00 60,00 70,00 80,00 90,00
% Sólidos em massa

AM I AM II AM III AM IV AM V

Figura 4.20 - Gráfico de altura de “slump” em função da porcentagem de sólidos das


pastas, considerando as amostras originais e misturas (Osorio, 2005)

91
Os ensaios demonstraram um comportamento esperado para todas as amostras
estudadas, ou seja, menores alturas de slump com maiores concentrações da pasta,
observando-se também um ordenamento das curvas obtidas: para granulometrias mais
finas, precisa-se de faixas de concentração cada vez menores (menor recuperação de
água), de modo a se obter uma resposta similar no teste de slump (Figura 4.20).

Tabela 4.14 – Alturas do slump obtidas usando geometria cilíndrica (Osorio, 2005)

Altura do teste de slump HS (cm)


% sólidos Amostra I Amostra II Amostra III Amostra IV Amostra V
60 6,70 - - - -
61 5,40 - - - -
62 4,80 - - - -
63 4,40 - - - -
64 3,75 - - - -
65 2,50 - - - -
70 - - 8,00 - -
71 - - 7,50 - -
72 - - 5,70 - -
73 - - 4,80 8,10 -
74 - - 4,00 7,20 -
75 - - 3,20 6,20 -
76 - - 2,40 4,60 7,70
77 - - 1,80 4,10 7,10
78 - 8,50 1,30 3,70 4,80
79 - 7,00 0,85 2,50 3,40
80 - 6,20 0,65 1,40 2,50
81 - 4,40 - 0,75 1,80
82 - 2,90 - - 1,20

92
Ensaios complementares de slump foram efetuados em planta piloto, adotando-se
arranjos cônicos e analisando-se a porcentagem de sólidos necessária para se atingir um
abatimento em 50% da altura inicial do cone ou cilindro de laboratório (Tabela 4.15).

Tabela 4.15 - Porcentagens de sólidos necessária para abatimento de 50% da altura do


slump (Osorio; 2005)

cone:
Nome da cilindro: Diferença absoluta
D = 20cm, d = 10 cm
amostra D = 10cm e H = 10cm (%)
H = 30cm
I 61,7% 75,2% 13,5
II 80,7% 81,0% 0,3
IV 75,8% 78,8% 3,0

No caso da amostra I, observa-se uma maior diferença das porcentagens de sólidos


necessária para se atingir 50% de abatimento na altura de slump, ao considerar
geometrias distintas cônica ou cilíndrica. No caso da amostra II, a diferença é
praticamente nula, fato que pode ser explicado pela distribuição granulométrica mais
grosseira desta amostra (rejeito da flotação). No caso da amostra IV, correspondente a
uma mistura de lamas e rejeitos, a diferença foi mínima, da ordem de 3%.

4.3.4 - Testes de Calha ou Flume

Os testes de flume foram realizados por Osorio (2005) em uma calha construída em
laboratório, constituída de material acrílico, com 100cm de comprimento, 20cm de
largura e 20cm de altura. Os resultados dos testes realizados para diversas porcentagens
de sólidos são apresentados na Tabela 4.16, para as cinco amostras estudadas. O ensaio
consiste em simular o processo de disposição dos rejeitos em campo por meio de um
canal ou calha chamado flume, construído em laboratório, para diferentes inclinações da
base.

93
A Figura 4.21 mostra a relação entre os ângulos de repouso das amostras de pasta em
função das porcentagens de sólidos consideradas, para inclinações da base da calha
variando entre 0 e 3% (Osorio, 2005).

Ângulo de repouso ( )
o

16
14
12
10
8
6
4
2
0
55 60 65 70 75 80 85

% Sólidos (em massa)


AM I - 0% AM I - 3% AM II - 0% AM II - 3%
AM III - 0% AM III - 3% AM IV - 0% AM IV - 3%
AM V - 0% AM V - 3%

Figura 4.21 - Gráfico dos ângulos de disposição da pasta para diferentes porcentagens
de sólidos, considerando amostras originais e misturas (Osorio, 2005)

Tabela 4.16 - Ângulos de repouso da disposição dos rejeitos em flume para diferentes
porcentagens de sólidos da pasta (Osorio, 2005)

Ângulo de repouso, θR (°)


% Inclinação do
Amostra I Amostra II Amostra III Amostra IV Amostra V
sólidos flume (%)
57 0 2.63 - - - -
3 1.89 - - - -
58 0 3.53 - - - -
3 2.68 - - - -
59 0 4.68 - - - -
3 3.39 - - - -
60 0 5.62 - - - -
3 4.76 - - - -
61 0 7.77 - - - -
3 6.26 - - - -
62 0 9.46 - - - -

94
3 8.47 - - - -
63 0 12.56 - - - -
3 11.44 - - - -
64 0 16.62 - - - -
3 15.58 - - - -
65 0 8.28 - - - -
3 8.63 - - - -
68 0 - - 5,5 - -
3 - - 5,0 - -
69 0 - - 7,2 - -
3 - - 6,5 - -
70 0 - - 10,5 - -
3 - - 9,9 - -
71 0 - - 12,3 - -
3 - - 11,8 - -
72 0 - - 16,0 - -
3 - - 15,4 - -
73 0 - - 13,1 5,0 -
3 - - 12,5 4,3 -
74 0 - 1,15 10,4 7,0 -
3 - 0,86 10,0 6,4 -
75 0 - 1,43 - 11,5 -
3 - 1,09 - 10,7 -
76 0 - 1,83 - 15,9 -
3 - 1,2 - 14,7 -
77 0 - 3,23 - 10,0 -
3 - 2,23 - 8,9 -
78 0 - 4,43 - - 4,12
3 - 4,07 - - 2,98
79 0 - 9,42 - - 6,32
3 - 9,34 - - 5,48
80 0 - 15,61 - - 10,79
3 - 16,54 - - 9,71
81 0 - 15,26 - - 15,04
3 - 14,48 - - 14,88
82 0 - 12,77 - - 6,12
3 - 10,11 - - 3,47

Conforme apresentado para os resultados de slump, para granulometrias mais finas


(amostra I), precisa-se de faixas de concentração cada vez menores (ou seja, menor
recuperação de água), de modo a se obter uma resposta similar no teste de flume.

95
Os resultados mostraram que há uma compatibilidade das curvas correspondentes aos
ângulos de repouso das pastas estudadas em função das porcentagens de sólidos, com
todas as curvas superando um valor de 15° para o ângulo de disposição. Este valor pode
ser considerado o mais elevado que o normalmente utilizado nas minerações que
empregam este tipo de sistema de disposição, embora deva ser considerada a escala
reduzida do experimento utilizado. A ampla faixa de porcentagens de sólidos das pastas
estudadas evidencia ser bastante atrativa a possibilidade de disposição destes materiais,
seja para preenchimentos subterrâneos ou superficiais. Observa-se também que, para
todas as amostras estudadas, para uma determinada porcentagem de sólidos, a pasta
tende a apresentar um comportamento sólido (enrijecimento), perdendo a sua
característica de plasticidade, o que justifica a diminuição dos valores de ângulo de
repouso. Isto ocorre a partir de um valor do ângulo de repouso máximo, no qual a pasta
ainda preserva as suas características reológicas.

Os resultados mostram que a maior inclinação da base do flume causa uma redução do
ângulo de repouso dos rejeitos em pasta, cujo valor está relacionado diretamente com a
topografia da área de disposição. A maior ou menor inclinação no terreno no qual vai
ser disposto o rejeito em forma de pasta pode influenciar outros aspectos como é o caso
da eliminação da água intersticial. A Tabela 4.17 apresenta as correlações dos ensaios
de slump e de flume para as amostras I e II estudadas.

No caso da amostra II (rejeito da flotação), a pasta com 81% de sólidos apresenta um


elevado valor de ângulo de repouso (14,48°) e uma altura de slump muito apropriada de
4,4cm no cilindro de laboratório (44% de abatimento). A pasta com 78% de sólidos
depositada com uma inclinação da base da calha de 3% apresenta 4,07° para o ângulo
de repouso, que é um valor menor que o anterior, e uma altura de slump muito grande
(8,5cm, ou seja, correspondente a um abatimento de 85%).

96
Tabela 4.17 - Valores de altura de slump e ângulos de repouso para as amostras
originais dos rejeitos de Casa de Pedra (Osorio, 2005)
Amostra I Amostra II
Rejeitos
Lama da ciclonagem Rejeito da flotação

% sól. Inclinação (%) HS (cm) θR (°) HS (cm) θR (°)

57 0 - 2.63 - -
3 1.89
58 0 - 3.53 - -
3 2.68
59 0 - 4.68 - -
3 3.39
60 0 6,70 5.62 - -
3 4.76
61 0 5,40 7.77 - -
3 6.26
62 0 4,80 9.46 - -
3 8.47
63 0 4,40 12.56 - -
3 11.44
64 0 3,75 16.62 - -
3 15.58
65 0 2,50 8.28 - -
3 8.63
74 0 - - - 1,15
3 0,86
75 0 - - - 1,43
3 1,09
76 0 - - - 1,83
3 1,2
77 0 - - - 3,23
3 2,23
78 0 - - 8,50 4,43
3 4,07
79 0 - - 7,00 9,42
3 9,34
80 0 - - 6,20 15,61
3 16,54
81 0 - - 4,40 15,26
3 14,48
82 0 - - 2,90 12,77
3 10,11
HS : altura do slump ; θR : ângulo de repouso da pasta.

97
CAPÍTULO 5

ALTERNATIVAS DE DISPOSIÇÃO DOS REJEITOS GERADOS


PELA MINERAÇÃO CASA DE PEDRA - CSN

5.1 - INTRODUÇÃO

A partir dos resultados e análises da caracterização tecnológica dos rejeitos de ferro da


Mineração Casa de Pedra apresentados previamente, são avaliados e discutidos neste
capítulo o potencial de aplicabilidade das diferentes metodologias de disposição para os
rejeitos estudados (lama da ciclonagem secundária e o rejeito da flotação).

5.2 - ALTERNATIVA 1: DISPOSIÇÃO DOS REJEITOS GRANULARES NA


FORMA DE ATERRO HIDRÁULICO

5.2.1 - Premissas e Critérios de Referência

Conforme apresentado no capítulo 2, Melent’ev et al. (1973) e Yufin (1965) definem a


distribuição granulométrica do material como a mais importante característica a ser
observada em sistemas de disposição segundo a técnica de aterro hidráulico.

Desta forma, a condição básica para a disposição de rejeitos sobre a forma de aterro
hidráulico é que o mesmo se caracterize por uma natureza tipicamente granular,
viabilizando a sua utilização como material de construção do próprio barramento ou
conformando pilhas de rejeito. Em certas condições, impõe-se a separação de frações
com distribuições granulométricas distintas, potencialmente por ciclonagem, permitindo
dessa forma um incremento de melhoria nas condições geotécnicas de resistência e de
permeabilidade do material.

98
Troncoso & Verdugo (1985), citado em Ribeiro (2000), consideram a importância de se
concentrar esforços e investimentos nos mecanismos de ciclonagem de modo a se obter
baixas concentrações de finos no material do aterro. Estas preocupações já refletem uma
evolução no processo construtivo das barragens de rejeito hidráulico, objetivando
controlar o processo de segregação in situ.

Conforme exposto previamente, o comportamento de segregação ou não dos sólidos da


polpa pode ser entendido como fator crítico no dimensionamento destas estruturas,
sendo que as principais propriedades que governam estas características estão
relacionadas à composição da mistura e ao método de disposição (Küpper, 1991;
Ribeiro, 2000).

Uma vez que o comportamento de um aterro hidráulico depende dos parâmetros


geotécnicos dos rejeitos, para o correto uso de rejeitos granulares como material para
formação dos barramentos e estruturas de pilha, é necessária a implementação de um
amplo e integrado programa experimental para uma avaliação adequada de suas
propriedades físicas, mecânicas e hidráulicas.

Este comportamento é dominado basicamente pela composição, densidade in situ,


estrutura e estados de tensões in situ. Desta forma, algumas correlações têm sido feitas
entre os parâmetros acima ou entre outros que possam não somente prever o
comportamento destes materiais durante a fase de projeto, mais que também possam
contribuir para um melhor entendimento da formação destas estruturas.

Outro aspecto importante bastante enfatizado na revisão bibliográfica dessa dissertação


diz respeito ao potencial de liquefação dos rejeitos depositados pela técnica de aterro
hidráulico, principalmente no caso de depósitos com elevados índices de vazios e um
complexo processo de segregação das partículas, em face das diferentes densidades dos
minerais presentes. Neste contexto, especial ênfase deve ser dada a análises e estudos
experimentais relativos à susceptibilidade do fenômeno, pelo caráter extremamente
crítico de sua eventual propensão.

99
5.2.2 - Aplicabilidade da Técnica aos Rejeitos da CSN

Em termos da distribuição granulométrica, a lama da ciclonagem secundária é


representada por partículas de granulometria mais fina (argila a silte), com cerca de 50%
do material passante na peneira de 0,004mm (4,0μm), enquanto que o rejeito
proveniente da etapa de flotação, com cerca de 50% do material passante na peneira de
0,071mm (71,0μm), pode ser considerado um rejeito com predominância de partículas
mais grosseiras (areia fina a areia grossa).

Efetuando-se uma análise comparativa da especificação SNIP-II-53-73, que considera


como material razoável para segregação hidráulica, aquele cujas partículas apresentam
relações de diâmetros tais que D60/D10 > 2,5 e D90/D10 > 5, ambos os rejeitos gerados
em Casa de Pedra tendem a apresentar boa segregação hidráulica, quando dispostos
hidraulicamente (Tabela 5.1).

Tabela 5.1 - Análise comparativa das especificações granulométricas dos rejeitos de


Casa de Pedra (diâmetros em μm)

D10 D60 D90


Tipo de rejeito D60/D10 D90/D10
mm μm mm μm mm μm

Lama de
0,0008 0,84 0,006 6,0 0,014 14 7,5 17,64
ciclonagem
Rejeito da
0,02 20 0,09 90 0,150 150 4,5 7,5
flotação

Entretanto, considerando que a lama da ciclonagem apresenta partículas com


características granulométricas mais finas, sua utilização como material de construção
do barramento e para a conformação de aterros autodrenantes não é recomendada,
apesar de que, muito provavelmente, dependendo da condição da mistura e da
metodologia de disposição, este material deverá apresentar segregação hidráulica
razoável.

100
A norma soviética recomenda ainda a utilização de materiais cujas partículas se
apresentem dentro da faixa granulométrica de areia fina a média (0,05 a 2,0 mm ou
50μm a 2.000 μm). Conforme as análises granulométricas efetuadas para os materiais
estudados (item 4.2.2), constata-se que apenas o rejeito da flotação encontra-se dentro
da faixa especificada (Figura 5.1).

100
90
% Passante acumulada

80
70
60
50
40
30
20
10
0
1 10 100 1000
Tamanho de partícula (µm)

Sympatec Peneiramento Cyclosizer

Figura 5.1 - Distribuição granulométrica do rejeito da flotação

Em relação a uma alternativa pela remoção das frações finas coloidais do núcleo,
admitindo-se um máximo de 10% de partículas com diâmetro inferior a 0,01 mm, como
medida de aceleração do processo de adensamento do núcleo ainda na fase de
construção, conforme prescrito por Hazen (1920), verifica-se a completa
incompatibilidade do procedimento relativamente à lama de ciclonagem estudada.

Com relação às correlações definidas por Schmertman (1978), citado em Ribeiro 2000,
entre densidades relativas e parâmetros de resistência, os resultados obtidos em ensaios
de cone realizados com amostras dos rejeitos granulares de Casa de Pedra
demonstraram um comportamento distinto, não apresentando uma relação direta e
crescente entre os valores de densidades e ângulos de atrito dos materiais, mesmo
considerando os poucos dados disponíveis (Figura 5.2).

101
14

13

12
Ângulo de Atrito (0)

11

10

8
27,5 28 28,5 29 29,5 30 30,5
Densidade Relativa (%)

I-049/04-002 I-050/04-002 I-051/04-002 I-052/04-002

Figura 5.2 – Densidades relativas versus ângulos de atrito (amostras de rejeitos


coletadas na praia da barragem B3)

As amostras coletadas na praia da Barragem B3 (DAM, 2004), apresentaram uma


granulometria predominantemente mais fina dos rejeitos, variando entre materiais silto-
argilosos a silto-arenosos. Uma justificativa para o não enquadramento dos rejeitos na
correlação proposta por Schmertman (1978), onde, no caso de solos arenosos, um
aumento no valor da densidade representaria um aumento no valor do ângulo de atrito,
pode estar relacionada à característica do material amostrado, que apresenta
granulometria predominantemente mais fina, uma vez que as amostras foram retiradas
da praia de rejeitos da Barragem B3.

Por outro lado, considerando os teores de Fe obtidos de 51,67% e de 30,81% e as


densidades médias de 3,655g/cm3 e 3,310g/cm3 para a lama da ciclonagem secundária e
para o rejeito da flotação, respectivamente, constata-se uma correlação direta entre
elevados teores de ferro (Fe) contidos nos rejeitos e a elevada densidade de suas
partículas, comprovando as correlações propostas por diferentes autores (Espósito,
2000; Lopes, 2000; Ribeiro, 2002).

102
Quanto ao potencial de liquefação dos rejeitos, aspecto importante relacionado a aterros
hidráulicos, os resultados demonstraram que, a princípio, os rejeitos amostrados na
barragem B3 apresentam baixo potencial de liquefação, considerando que, apesar dos
diagramas tensão-deformação apresentarem curvas típicas de material pouco
consolidado (fofo), estas demonstraram também que os elevados valores de poropressão
ocorrem somente para baixas deformações e sob elevadas tensões de confinamento.

Neste contexto, a avaliação dos aterros hidráulicos está intimamente associada aos
mecanismos de transporte das partículas sólidas dos materiais envolvidos. Desta forma,
os critérios e as condições de sua aplicabilidade prática dependem diretamente dos
métodos construtivos e operacionais. Desde que se imponha um controle criterioso
durante as etapas construtivas, a princípio, qualquer rejeito que apresente características
granulares, como é o caso do rejeito da flotação, pode ser utilizado como material de
construção de barramentos ou conformado em pilhas autodrenantes, sob a forma de
aterro hidráulico, incluindo-se a sua execução pelo método de alteamento para
montante.

5.2.3 - Estudos Complementares

Por princípio, o uso de materiais com densidade elevada representa um ganho adicional
no aumento da vida útil de estruturas de barragem e aterros, além de ser essencial para a
estabilidade da estrutura sob condições estáticas e dinâmicas. No caso de aterros
hidráulicos, como não é possível a estimativa preliminar das densidades in situ por meio
de ensaios de laboratório, faz-se necessário um estudo do processo construtivo
relacionado a estas estruturas, que, no momento, encontra-se restrito a determinação de
ângulos de deposição da praia e às propriedades físicas do aterro em função dos
parâmetros de descarga, bem como da composição da mistura e das velocidades de
descarga.

103
Quanto a uma possível susceptibilidade dos materiais ao fenômeno da liquefação,
influenciada por fatores relacionados à distribuição granulométrica, densidade relativa,
tipo de carregamento, tensões confinantes aplicadas, estrutura do solo, história de
tensões, entre outras, impõe-se a necessidade e estudos específicos, compreendendo a
determinação de índices de vazios na sua condição máxima, mínima e natural, através
do mapeamento de toda a praia de rejeitos, visto a grande variabilidade do material. De
posse dessas informações, torna-se possível a determinação dos estados de compacidade
dos rejeitos, a reconstituição de amostras representativas para a realização de ensaios de
resistência em laboratório e, consequentemente, a avaliação do potencial de liquefação
dos rejeitos.

Com relação à necessidade de conhecimento da forma e declividade final da praia de


rejeitos e das densidades dos aterros, recomenda-se a implementação de uma série de
ensaios de simulação de deposição hidráulica (ensaios de flume), específicos para esta
técnica de disposição. Segundo Gomes et al. (2002), tais ensaios devem ser realizados
considerando a análise dos parâmetros geotécnicos associados ao processo de deposição
hidráulica.

Considerando finalmente que, em sistemas de disposição de rejeitos por via úmida, é


imperativo estabelecer previamente as características da polpa, de forma a quantificar a
capacidade de armazenamento do reservatório ao longo da vida útil do empreendimento,
torna-se necessário a realização de ensaios de compressibilidade e adensamento dos
rejeitos. No caso de rejeitos granulares, o modelo deposicional pode ser interpretado à
luz das teorias clássicas de adensamento, com base em resultados de ensaios
convencionais de laboratório e/ou campo.

104
5.3 - ALTERNATIVA 2: DISPOSIÇÃO DE REJEITOS DESAGUADOS
(ESPESSADOS) E/OU EM PASTA

5.3.1 - Premissas e Critérios de Referência

No caso de rejeitos espessados e/ou em pasta, há que se enfatizar também a dependência


direta do comportamento geotécnico do material com relação às suas características
reológicas durante as fases de preparação e bombeamento do material. Adicionalmente,
propriedades como granulometria e mineralogia também mostram ser de fundamental
importância na definição destas metodologias. Em termos de distribuição
granulométrica uma porcentagem de finos inferior a 20μm parece fornecer uma boa
indicação do potencial de aplicação da técnica de espessamento a rejeitos de mineração
(Fourie, 2002).

De acordo com Jung et al. (2002), entretanto, o excesso da quantidade de partículas


finas pode produzir uma redução da resistência da pasta, ainda que uma certa
quantidade de material fino (tamanho < 20µm) seja necessária para bombear a pasta
através da tubulação.

Por outro lado, durante o transporte de rejeitos espessados e/ou em pasta, existe uma
relação direta entre a viscosidade da polpa espessada e o valor da tensão de escoamento
necessária para induzir o fluxo (pressão de bombeamento). Esta fase constitui, portanto,
fase crítica do processo e tais grandezas constituem, por sua vez, as principais
propriedades a serem investigadas. Segundo Robinsky (2002), para a correta
manutenção do sistema de disposição, são requeridos rejeitos espessados contendo um
máximo de 50 a 70% de sólidos (rejeitos de minérios típicos) e cerca de 30 a 50% para
rejeitos extremamente finos.

Considerando que uma pasta de rejeito pode ser caracterizada como uma massa de
elevadas consistências e viscosidades, capaz de fluir sem segregação, a declividade
(inclinação) dos taludes do sistema final de disposição representa uma das principais
características e condicionantes de projeto a serem definidas, influenciando diretamente

105
na capacidade de armazenamento de rejeitos espessados e ou em pasta em uma
determinada área. As principais propriedades que influenciam as condições de formação
da praia estão relacionadas à altura de queda, à velocidade de descarga e à concentração
da polpa. Conforme discutido previamente no Capítulo 2, quanto maior a concentração
de sólidos presentes na pasta, menores serão as alturas de slump e maiores os ângulos de
repouso, expressos em termos de porcentagem da inclinação dos taludes (Chambers et
al., 2002).

5.3.2 - Aplicabilidade da Técnica aos Rejeitos da CSN

Conforme resultados de distribuição granulométrica apresentados no Capítulo 4 deste


trabalho, cerca de 90% das partículas presentes nas amostras da lama da ciclonagem
secundária encontram-se com granulometria inferior a 20 μm (0,02mm), o que
caracteriza potencialmente a aplicabilidade da técnica de espessamento a este rejeito da
CSN.

Com relação ao rejeito da flotação, esse valor corresponde a 10% das partículas
presentes na amostra, uma vez que esse material apresenta característica
predominantemente mais grosseira. Em face da utilização prevista dos resíduos como
material de preenchimento subterrâneo, não há fator limitante em relação ao excesso da
quantidade de partículas finas presentes e sua interferência na resistência global da
pasta.

Conforme resultados obtidos nos estudos de caracterização tecnológica da lama da


ciclonagem secundária, a viscosidade não apresenta um comportamento reológico
único, sendo que as amostras com menores porcentagens de sólidos (58 e 61% de
sólidos) apresentaram uma diminuição do valor da viscosidade com o tempo
(comportamento tixotrópico) enquanto que, no caso da amostra com maior porcentagem
de sólidos (65%), esta apresentou maior predomínio do comportamento reotrópico
(viscosidade crescente com o tempo). Com relação ao rejeito da flotação, os resultados
dos ensaios de viscosidade demonstraram um comportamento tipicamente reotrópico
para todas as amostras estudadas.

106
As amostras sólidas originais foram estudadas nas faixas de concentração de 60 a 77%
de sólidos para a lama da ciclonagem secundária e de 60 a 81% para o rejeito da
flotação, apresentando, em todas estas faixas, comportamento típico de material em
pasta. Constata-se, assim, a viabilização de uma ampla faixa de porcentagens de sólidos
para as quais a técnica de espessamento tende a ser muito atrativa, condição ratificada
pelos resultados dos testes de slump e flume realizados.

Os ensaios de slump demonstraram que, para granulometrias mais finas da lama da


ciclonagem, são necessárias faixas de concentração de sólidos presentes cada vez
menores (60 a 65%), de modo a se obter uma mesma resposta em termos de alturas do
slump em relação aos resultados dos ensaios para o rejeito da flotação (78 a 82% de
sólidos). Entretanto, no geral, observou-se menores alturas de slump à medida que
cresce a concentração da pasta, para todas as amostras estudadas.

Os resultados dos ensaios de flume mostraram que todas as curvas superaram o valor de
15° no ângulo de repouso, para todas as amostras estudadas. Os resultados mostraram
também que, a partir de uma determinada porcentagem de sólidos, para todas as faixas
estudadas, o ângulo de repouso começa a decair com o aumento da % de sólidos, uma
vez que a pasta passa a se comportar como um sólido (enrijecimento), perdendo as suas
características de plasticidade.

Destaca-se, mais uma vez, a ampla faixa de porcentagens de sólidos das pastas
estudadas, para as quais diferentes sistemas de rejeitos e lamas de ferro são consistentes
para a disposição destes materiais, seja para preenchimentos subterrâneos, seja em
termos de uma disposição superficial.

5.3.3 - Estudos Complementares

Considerando que, para a concepção e o projeto do sistema de disposição de rejeitos


espessados e/ou em pasta, são aplicáveis todos os conceitos e análises considerados
também para os sistemas de disposição de rejeitos sob a forma de polpa, recomenda-se

107
para as pastas estudadas, a realização de ensaios para determinação de parâmetros de
resistência do material, condições de adensamento e condutividade hidráulica, além de
estudos de liquefação e determinação das condições de formação da praia.

Além disso, vale ressaltar a necessidade de estudos para a verificação do tipo mais
apropriado de espessador, potenciais aditivos a serem usados (e o impacto econômico
de sua utilização no processo), procedimentos adotados na preparação da pasta e
arranjos e compatibilização entre o sistema de bombas e linhas de bombeamento. Estes
estudos demandam, previamente, a definição clara da natureza e das características
físico-químicas do rejeito espessado e/ou em polpa a ser gerado na planta industrial.

5.4 – ALTERNATIVA 3: CO-DISPOSIÇÃO DE REJEITOS E ESTÉREIS DE


MINA

5.4.1 - Premissas e Critérios de Referência

A técnica de co-disposição de rejeitos e estéreis de mina, embora bastante promissora,


constitui ainda técnica incipiente no país. Em função desta escassez de experiências
práticas, sua implantação requer ainda um elevado grau de empirismo e monitoramento
contínuo do sistema implantado, de forma a se analisar continuamente o comportamento
geotécnico do maciço estéril – rejeito.

Numa etapa inicial, os estudos e ensaios devem abranger a caracterização das


propriedades geoquímicas e geotécnicas dos materiais a serem utilizados (estéreis e
rejeitos ou rejeitos com características gralulométricas distintas) e, numa segunda fase, a
caracterização geotécnica dos materiais conjugados, nas proporções esperadas. Estes
ensaios devem compreender ensaios de cisalhamento para diferentes misturas de estéril
e rejeito (ou rejeito fino e grosso), ensaios de granulometria e adensamento do rejeito
fino e grosso, ensaios de permeabilidade, variações dos teores de umidade dos materiais
após a mistura, ensaios de compressão confinada e, no caso de materiais sulfetados,
ensaios específicos para a verificação do potencial de geração de drenagem ácida.

108
5.4.2 - Aplicabilidade da Técnica aos Rejeitos da CSN

Em princípio, esta técnica de disposição parece ser bastante viável para os futuros
projetos de sistemas de disposição de resíduos da CSN. Uma possibilidade direta seria a
aplicação em escala experimental na Barragem do Batateiro, prevista para utilizar como
material de construção os próprios estéreis da mina. Desta forma, tornar-se-ia de fácil
operação a proposição de conjugar os diferentes materiais em um maciço comum,
analisando-se, assim, o comportamento global do maciço de co-disposição.

Por outro lado, uma vez que não se dispõe de ensaios específicos para a metodologia em
questão, dado que os rejeitos foram estudados separadamente e para concentrações e
consistências de pasta, todo um programa experimental diferente há que ser
implementado para uma avaliação efetiva da aplicabilidade dessa técnica para os
rejeitos da CSN, incluindo-se, nestes estudos, a construção do maciço experimental
referido previamente.

5.4.3 - Estudos Complementares

Para o método de co-disposição, compreendendo o lançamento dos rejeitos em zonas


específicas do depósito de estéril, formando lagoas e diques de contenção, aspectos
relacionados à natureza, teor de sólidos e taxa de adensamento dos rejeitos devem ser
avaliados primariamente. Enfatiza-se, neste sentido, devido a grande variabilidade de
tais parâmetros frente à metodologia operacional, que se implemente o projeto
inicialmente em escala piloto, visando definir as condições de sua aplicabilidade.

Com relação ao método de mistura e da injeção dos rejeitos no depósito de estéril, os


estudos complementares devem abranger aspectos e parâmetros relativos ao transporte e
bombeamento do rejeito por meio de ensaios específicos, compreendendo também a
definição e a compatibilização entre o sistema de bombas e as linhas de bombeamento
utilizadas para a condução dos rejeitos até o topo do depósito de estéril.

109
CAPÍTULO 6

CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS

6.1 - INTRODUÇÃO

Com base na revisão bibliográfica considerada neste estudo, com relação à disposição
de rejeitos, verifica-se que, na atualidade, tem-se praticado quase que de forma
generalizada, a disposição de rejeitos por meio de barramentos convencionais em
superfície. Tipicamente, materiais com granulometria mais granular (acima de
0,074mm), são depositados através da técnica denominada de aterro hidráulico, com
alteamentos sucessivos e ao longo do tempo, conformando pilhas de rejeito
autodrenantes.

Nesta abordagem, o principal problema relacionado à estabilidade das estruturas de


contenção de rejeitos refere-se, basicamente, aos procedimentos e efeitos relativos ao
confinamento da água residual do processo de beneficiamento. Neste contexto, a adoção
de novas metodologias, baseadas no desaguamento dos rejeitos, também tem sido
estudada por meio de técnicas de espessamento do rejeito, reduzindo a incorporação da
água residual ao produto final resultante.

Uma outra metodologia alternativa, ainda em caráter incipiente no Brasil e no mundo,


implica a disposição de rejeitos em áreas já mineradas (cavas exauridas) e em depósitos
específicos, juntamente com o estéril da mina, através da co-disposição ou disposição
combinada destes materiais.

O trabalho desenvolvido nessa dissertação buscou avaliar a aplicabilidade de algumas


destas metodologias alternativas, consideradas não convencionais quando comparadas
ao sistema de disposição de rejeitos em polpa em barragens e/ou bacias de contenção,
para o caso dos rejeitos gerados na planta industrial da Mineração Casa de Pedra,

110
empreendimento da Companhia Siderúrgica Nacional – CSN, localizado em
Congonhas/MG. Desta Forma, buscou-se avaliar a aplicação de tais metodologias, a
partir da caracterização tecnológica dos rejeitos de ferro gerados (lama da ciclonagem
secundária e rejeito da flotação), considerando também as premissas e critérios de
referência especificados para cada uma das metodologias propostas.

Uma vez que, no capítulo anterior, foram estabelecidas as premissas e condicionantes da


aplicabilidade destas metodologias de disposição separadamente, são expostas a seguir
as principais conclusões obtidas nas avaliações estabelecidas e uma síntese comparativa
entre as alternativas estudadas.

6.2 – PRINCIPAIS CONCLUSÕES

Como etapa preliminar da avaliação pretendida, buscou-se compilar e sistematizar os


resultados de todas as campanhas experimentais disponíveis relativas à caracterização
tecnológica dos rejeitos de ferro gerados na Mineração Casa de Pedra, por meio de
ensaios de campo e laboratório, realizados em amostras, consideradas representativas,
dos rejeitos atualmente dispostos nas estruturas de contenção e barragens existentes da
mineradora (Capítulo 4).

Os estudos e ensaios para a caracterização tecnológica dos rejeitos foram realizados a


partir de amostras da lama da ciclonagem secundária e do rejeito da flotação, e também
a partir de amostras provenientes diretamente das praias de rejeito formadas. Além
disso, as amostras originais também foram estudadas nas faixas de concentração (% de
sólidos) nas quais seu comportamento apresentava a consistência de pasta, de acordo
com os resultados preliminares dos testes de slump.

A seguir, são apresentadas as principais conclusões com relação à aplicabilidade das


metodologias de disposição propostas e analisadas neste trabalho, para os rejeitos de
ferro gerados em Casa de Pedra, considerando os resultados de caracterização
tecnológica sistematizados e avaliados de forma integrada e sob a ótica da sua aplicação
no contexto das diferentes técnicas de sua disposição final.

111
• os resultados dos ensaios granulométricos realizados em amostras dos rejeitos
gerados em Casa de Pedra confirmaram a diferença de granulometria entre as
partículas da lama da ciclonagem secundária, representada por partículas de
granulometria mais fina (argila a silte) e do rejeito da flotação, este com
predominância de partículas mais grosseiras (areia fina a areia grossa), podendo ser
considerados, como dois materiais de características distintas;

• a análise comparativa, efetuada nos termos da especificação SNIP-II-53-73, que


considera razões entre porcentagens passantes nos ensaios granulométricos, mostrou
que, apesar de ambos os rejeitos estudados indicarem boa segregação hidráulica, o
rejeito da flotação tende a apresentar melhores condições de segregação para
disposição hidráulica e conformação da praia, considerando as suas características
granulares, com cerca de 50% do material passante na peneira de 71,0μm;

• de acordo com a norma soviética referida acima, apenas o rejeito da flotação


encontra-se dentro da faixa especificada, caracterizada por partículas que
apresentam granulometrias variando de areia fina a média (50μm a 2.000 μm);

• De acordo com as observações de Hazen (1920), que admite um máximo de 10% de


partículas com diâmetro inferior a 0,01 mm para utilização em projetos de aterro
hidráulico, os resultados demonstraram que apenas o rejeito da flotação atende tal
prescrição;

• os resultados dos ensaios granulométricos, realizados para a lama da ciclonagem


secundária, mostraram que esse material parece fornecer uma boa indicação do
potencial de aplicação da técnica de espessamento ao rejeito, considerando que 90%
das partículas presentes nas amostras encontram-se com granulometria inferior ao
valor de referência de 20 μm;

112
• as comparações feitas a partir das correlações definidas por Schmertman (1978),
entre a densidade relativa e a resistência dos solos, a partir de ensaios de cone
realizados na praia da barragem B3, demonstraram um comportamento distinto, não
apresentando uma relação direta do valor da densidade com o valor do ângulo de
atrito. Este fato pode estar relacionado à presença de partículas de granulometria
mais finas na região da praia onde foram realizados os ensaios.

• no caso da correlação entre os teores de ferro e as densidades médias das partículas,


para ambos os rejeitos (lama da ciclonagem secundária e rejeito da flotação)
verificou-se a relação direta entre elevados teores de ferro (Fe) contidos nos rejeitos
e a elevada densidade destas partículas, elemento positivo no que diz respeito à
estabilidade de estruturas formadas pela técnica de aterro hidráulico;

• as análises químicas quantitativas realizadas nos rejeitos de Casa de Pedra


demonstraram que a parte fina dos rejeitos, que corresponde à lama da ciclonagem
secundária, é essencialmente composta por elementos ferrosos, e a parte mais
grosseira, que corresponde ao rejeito da flotação, é composta essencialmente por
sílica; neste último caso, o material é constituído secundariamente por ferro, porém
em porcentagens suficientes (30,81%) para garantir um comportamento adequado da
estrutura, no que diz respeito a sua disposição sob a forma de aterro hidráulico;

• quanto ao potencial de liquefação, conforme verificado nos ensaios triaxiais


realizados nos rejeitos amostrados na praia da Barragem B3, apesar dos resultados
apresentarem curvas típicas de material pouco consolidado (fofo), os valores das
poropressões geradas mostraram-se elevados somente para altas tensões de
confinamento (400 e 800 KPa); assim, cuidados específicos devem ser adotados
quando do projeto destes empreendimentos sob elevadas tensões confinantes, no
sentido de se avaliar a influência específica do problema no processo de alteamentos
sucessivos;

113
• de uma maneira geral, os resultados dos ensaios de viscosidade realizados em
amostras de pastas preparadas com os rejeitos de Casa de Pedra (menores
porcentagens de sólidos – baixas concentrações quando comparadas com as
amostras sólidas originais), indicaram um aumento da viscosidade com o aumento
da porcentagem de sólidos; a lama da ciclonagem secundária apresentou maiores
valores de viscosidade, o que era de se esperar, devido à sua característica
granulométrica mais fina;

• ainda com relação aos ensaios de viscosidade, as amostras com menores


porcentagens de sólidos da lama da ciclonagem secundária (58 e 61% de sólidos)
apresentaram uma diminuição do valor da viscosidade com o tempo; a amostra com
maior porcentagem de sólidos (65%) apresentou um maior predomínio de
comportamento reotrópico (viscosidade crescente com o tempo);

• os testes de slump demonstraram um comportamento esperado para todas as pastas


estudadas, ou seja, menores alturas de slump à medida que aumentava a
concentração da pasta;

• os testes de slump evidenciaram também a necessidade de adoção de faixas de


concentrações cada vez menores (60 a 65%), para granulometrias mais finas, de
modo a se obter uma mesma resposta com relação ao abatimento dos corpos de
prova, quando comparado com o rejeito da flotação (78 a 82%). Isto indica, mais
uma vez, que a lama da ciclonagem secundária tende a apresentar características
vantajosas para sua disposição na forma de pasta, uma vez que, concentrações na
faixa mencionada acima tendem a apresentar baixas tensões de escoamento,
facilitando, assim, o transporte da pasta e requerendo apenas a utilização de bombas
convencionais, o que implica em menores custos de transporte;

• a ampla faixa de porcentagens de sólidos das pastas estudadas (60 a 77% para a
lama da ciclonagem secundária e 60 a 81% para o rejeito da flotação) configura uma
base forte para a implementação da técnica de espessamento para os rejeitos

114
estudados, conforme indicado pelos resultados dos ensaios de slump e flume
realizados;

• os resultados dos ensaios de flume mostraram que as amostras superaram o valor de


15° no ângulo de repouso, valor muito elevado em relação aos comumente adotados
pelas minerações que empregam este tipo de sistema de disposição. Os resultados
mostraram também que, a partir de uma determinada porcentagem de sólidos, para
todas as faixas estudadas, o ângulo de repouso começa a decair com o aumento da
porcentagem de sólidos, o que mostra a mudança no comportamento da pasta a
partir de uma determinada concentração de sólidos.

• do ponto de vista operacional, os testes de flume demonstraram que, no geral, para


todas as pastas estudadas, um aumento na inclinação da calha resultou em menores
ângulos de repouso; os elevados valores de ângulos de repouso, obtidos nos ensaios
realizados, tendem a gerar pilhas e praias de rejeito com taludes mais abatidos,
ocupando menores áreas para a disposição final dos rejeitos;

• a correlação entre os resultados dos ensaios de slump e flume mostrou que elevadas
concentrações de sólidos tendem a induzir maiores ângulos de repouso e,
conseqüentemente, menores alturas de slump (abatimentos), enquanto que menores
concentrações de sólidos na pasta geram maiores alturas de slump (abatimentos),
proporcionando menores ângulos de repouso;

• com relação à metodologia, ainda recente, de co-disposição de rejeitos e estéreis de


mina, pode-se concluir que a aplicabilidade dessa técnica de disposição aos rejeitos
gerados em Casa de Pedra ainda merece uma discussão apropriada, considerando a
necessidade de estudos e ensaios geotécnicos conjuntos e específicos para ambos os
materiais de interesse (estéril e rejeito); somente com base em estudos inerentes ao
material composto (estéril mais rejeito), torna-se possível avaliar as efetivas
condições de segurança e de estabilidade de uma estrutura formada em conjunto
com materiais de natureza tão distintas.

115
Diante do exposto acima, conclui-se, preliminarmente, que os rejeitos gerados em Casa
de Pedra tendem a apresentar condições tecnológicas favoráveis para duas das
metodologias de disposição propostas: Disposição de Rejeitos Granulares na Forma de
Aterro Hidráulico e Disposição de Rejeitos Desaguados (Espessados) e/ou em Pasta.

O presente estudo concluiu pela possibilidade de disposição do rejeito gerado na etapa


de flotação através da técnica de aterro hidráulico, considerando principalmente as suas
características granulométricas. Diferentemente do que ocorre atualmente, onde o
rejeito é disposto hidraulicamente em barragens convencionais de terra, propõe-se que
seja avaliada a disposição do rejeito da flotação em locais previamente preparados,
dentro ou fora das áreas das barragens em operação e previstas, conformando pilhas de
rejeito com elevada permeabilidade. Ressalta-se, entretanto que, para que isso ocorra, o
terreno de fundação deve ser preparado, tanto topograficamente quanto
geotecnicamente, além da necessidade de se estabelecer um maior controle das obras e
dos aspectos construtivos desse tipo de estrutura, conforme exposto na revisão
bibliográfica. Caso seja necessário o tratamento do rejeito através da etapa de
ciclonagem, visando melhorar as suas características granulométricas, de resistência e
permeabilidade, esse procedimento deve ser implementado.

Com relação ao rejeito gerado no processo de ciclonagem (lama da ciclonagem


secundária), que atualmente também é disposto hidraulicamente nas barragens
convencionais existentes, os estudos demonstraram a possibilidade de disposição deste
material na forma de rejeitos espessados e/ou em pasta, considerando além de sua
granulometria mais fina, a resposta das amostras frente aos ensaios específicos,
principalmente os de viscosidade, slump e flume. Entretanto, como a preparação inicial
e a técnica de transporte dos rejeitos sob a forma de pasta têm tanta relevância quanto os
aspectos relacionados à concepção e dimensionamento do sistema de distribuição em si,
ressalta-se que a efetiva implementação desta metodologia requer a avaliação integrada
de todos estes aspectos. Por outro lado, apesar do elevado custo operacional que essa
metodologia proporciona, o método de transformação do rejeito em pasta, através do
processo de desaguamento, apresenta um elevado potencial de recuperação de água,
com conseqüente diluição dos custos operacionais ao longo do tempo.

116
6.3 – SUGESTÕES PARA TRABALHOS E PESQUISAS FUTURAS

Através do presente estudo pôde-se concluir, mais uma vez, sobre a importância de uma
caracterização tecnológica dos rejeitos como instrumento para a definição de
metodologias de disposição e previsão de comportamento desses materiais. Entretanto,
para uma efetiva definição, tanto do ponto de vista técnico como econômico, tem-se
claro que muitos aspectos e parâmetros merecem ser melhor estudados. Para isso, são
sugeridos os seguintes trabalhos e pesquisas futuras:

- maior detalhamento dos estudos do processo construtivo de estruturas formadas por


aterro hidráulico, principalmente os relacionados à previsão e estimativa de densidades,
considerando a importância da definição deste parâmetro e que a sua estimativa
encontra-se restrita à determinação de ângulos de deposição da praia e às propriedades
físicas do aterro em função dos parâmetros de descarga;

- realização de ensaios para a determinação dos índices de vazios na sua condição


máxima, mínima e natural, através do mapeamento de toda a praia de rejeito, face a
grande variabilidade do material depositado na praia, visando à determinação do estado
de compacidade dos rejeitos, a reconstituição de amostras para realização de ensaios em
laboratório e também a avaliação do potencial de liquefação dos rejeitos;

- realização de ensaios de simulação de deposição hidráulica (flume), específicos para a


técnica de disposição hidráulica, uma vez que os ensaios de calha apresentados nesse
estudo foram realizados apenas para os rejeitos em pasta;

- realização de ensaios de compressibilidade e adensamento, no caso de projeto de


aterros hidráulicos, de forma a quantificar a capacidade de armazenamento do
reservatório ao longo da vida útil do empreendimento;

117
- realização de estudos específicos para verificação do tipo de espessador, aditivos a
serem usados, procedimentos adotados na preparação da pasta, arranjo e
compatibilização entre o sistema de bombas e linhas de bombeamento, para cada tipo de
material a ser utilizado para preparação dos rejeitos em pasta;

- realização de estudos e ensaios geotécnicos compreendendo misturas diversas entre os


estéreis e rejeitos gerados em Casa de Pedra, visando avaliar, principalmente, as
condições de segurança e estabilidade de uma estrutura formada pela composição destes
materiais, no caso da metodologia de co-disposição;

- implantação de estruturas experimentais, compreendendo as diferentes técnicas


alternativas estudadas, visando estabelecer as concepções mais pertinentes a cada uma
delas, bem como a determinação dos parâmetros geotécnicos e tecnológicos mais
adequados a cada tipo de rejeito e a cada método de disposição estudado.

118
Referências bibliográficas

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Rejeitos Dispostos Juntos em um Mesmo Bota-Fora – Opções de Disposição e Projeto
Conceitual
Anexo I

RESULTADOS DE ENSAIOS – PARÂMETROS DE RESISTÊNCIA

Figura I.1 – Envoltória de ruptura obtida em termos de tensões totais - Amostra I (DAM,
2004)

Figura I.2 - Envoltória de ruptura obtida em termos de tensões efetivas - Amostra I (DAM,
2004)

I
Figura I.3 - Envoltória de ruptura obtida em termos de tensões totais - Amostra II (DAM,
2004)

Figura I.4 - Envoltória de ruptura obtida em termos de tensões efetivas - Amostra II (DAM,
2004)

II
Figura I.5 - Envoltória de ruptura obtida em termos de tensões totais - Amostra IV (DAM,
2004)

Figura I.6 - Envoltória de ruptura obtida em termos de tensões efetivas - Amostra IV


(DAM, 2004)

III
Figura I.7 – Trajetórias de tensões totais - Amostra I (DAM, 2004)

Figura I.8 – Trajetórias de tensões efetivas - Amostra I (DAM, 2004)

IV
Figura I.9 – Trajetórias de tensões totais - Amostra II (DAM, 2004)

Figura I.10 – Trajetórias de tensões efetivas - Amostra II (DAM, 2004)

V
Figura I.11 – Trajetórias de tensões totais - Amostra IV (DAM, 2004)

Figura 1.12 – Trajetórias de tensões efetivas - Amostra IV (DAM, 2004)

VI

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