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OS LUSÍADAS- reflexões do poeta

Canto Síntese
I O poeta reflete acerca dos perigos colocados aos humanos, não conseguindo, por isso,
(105-106) e também pela sua fragilidade, encontrar segurança.
V O poeta sublinha o desprezo a que os portugueses votam as artes e a sua incapacidade
(92-100) de aliar as armas às letras.
VII O poeta invoca as ninfas do Tejo e do Mondego e lamenta a situação em que se
(78-87) encontra, tendo já sido vítima de vários infortúnios. Critica os opressores e aqueles que
não prezam quem os canta, afugentando assim outros escritores. Por isso, pede o favor
das ninfas para que, no seu canto, enalteça apenas os que o mereçam.
VIII A reflexão prende-se com o poder do dinheiro que tanto a pobres como a ricos
(96-99) corrompe.
IX As reflexões centram-se no incitamento à ação daqueles que pretendem alcançar a
(85-95) imortalidade, devendo, para isso, recusar a tirania, lutar contra os sarracenos, pois só
deste modo se alcançarão as verdadeiras honras e o direito a serem recebidos na ilha
de Vénus.
X O poeta refere o seu desânimo por “cantar a gente surda e endurecida” e por a pátria
(145-1156) estar envolta na cobiça e na tristeza. Enumera as sevícias a que os portugueses são
capazes de se submeter para servir o rei (D. Sebastião) e exorta-o a realizar novos
feitos, oferecendo-se para mostrar ao mundo a grandeza do monarca, através do seu
canto.

 As reflexões do poeta surgem em momentos de pausa da narração, quase sempre no início


ou final de determinados cantos.
 É nesses momentos (estratégicos) que faz sentido tirar conclusões ou formular juízos
inspirados nas circunstâncias da viagem, da História de Portugal ou até da experiência
pessoal do poeta.
 Aquelas conclusões têm, normalmente, um sentido ideológico. Referem-se a valores e temas
com interesse coletivo e apresentam-se como discursos de moralização e de doutrina acerca
do comportamento dos homens e do destino de Portugal.
1. Canto I (est. 105-106)

105 106

O recado que trazem é de amigos, No mar tanta tormenta, e tanto dano,


Mas debaixo o veneno vem coberto; Tantas vezes a morte apercebida!
Que os pensamentos eram de inimigos, Na terra tanta guerra, tanto engano,
Segundo foi o engano descoberto. Tanta necessidade avorrecida!
Ó grandes e gravíssimos perigos! Onde pode acolher-se um fraco humano,
Ó caminho de vida nunca certo: Onde terá segura a curta vida,
Que aonde a gente põe sua esperança, Que não se arme, e se indigne o Céu sereno
Tenha a vida tão pouca segurança! Contra um bicho da terra tão pequeno?

Mostra que o Homem dificilmente encontra paz e segurança, tendo em cont ao ambiente que o
rodeia.

Motivo: acontecimento respeitante ao plano da Viagem- a chegada dos portugueses a Mombaça,


após várias peripécias urdidas por Baco.

v. 1-4: Poeta faz alusão à cilada preparada em Mombaça- o povo de Mombaça finge ser amigos dos
portugueses para os traírem, mas são descobertos (“Segundo foi o engano descoberto”).

“debaixo do veneno vem coberto”- engano é comparado a um veneno escondido para representar a
traição

Assim sendo, nestes versos o Poeta denuncia a falsidade, a mentira e a dissimulação dos homens.

v. 5-8: Fala-se dos perigos e inseguranças que a vida tem e da esperança que as pessoas colocam na
vida e no futuro.

Introduz o tema da reflexão: a fragilidade humana.

A interjeição (“Ó”), a adjetivação (“grandes” e “gravíssimos”, este no grau superlativo absoluto


sintético) e a hipérbole reforçam a extrema fragilidade do ser humano.

As apóstrofes e a anáfora da interjeição dos versos 5 e 6 (“Ó grandes e gravíssimos perigos, / Ó


caminho da vida nunca certo”) reforçam a perplexidade, a desilusão e a impotência do Poeta face às
situações adversas/aos perigos e nefastas que o ser humano enfrenta na vida, que lhe conferem
maior fragilidade

CAUSA DA FRAGILIDADE:

 A insegurança
 O enfrentamento de perigos superiores à sua condição
 A incerteza
 O facto de as suas esperanças darem lugar às desilusões

 
 
 • Através do paralelismo entre o mar e a terra, da enumeração, da hipérbole e da antítese, recursos
presentes nos primeiros quatro versos da estância 106, o Poeta evidencia os perigos a que o ser
humano está sujeito tanto no mar como na terra, intensificados pelo recurso à repetição – “tantas”,
“tanta”, “tanto” –, que traduz a multiplicidade de circunstâncias que podem colocar em perigo o
ser humano, isto é, as ameaças a que o Homem está sujeito são inúmeros o caráter humano, que se
revel falso, mentiroso e hipócrita, sendo causa de maior insegurança na vida.
 
• Os últimos quatro versos são apresentados sob a forma de interrogação, através da qual (e da
anáfora dos versos 5 e 6 dessa estância, que reflete a impossibilidade de o ser humano encontrar
um lugar seguro para se proteger), o Poeta questiona: poderá o Homem ultrapassar a sua pequenez
face ao universo, muito mais poderoso do que ele, representado pelo “Céu sereno” (v. 7), que,
representando os deuses ou o destino, constitui uma ameaça para o ser humano? A resposta é
negativa: dificilmente conseguirá encontrar um lugar onde possa encontrar segurança e
tranquilidade (“Onde pode acolher-se um fraco humano” – v. 5, est. 106), dada a sua pequenez e
fragilidade (“Onde terá segura a curta vida” – v. 6, est. 106 – tema da brevidade da vida humana).
 
• A metáfora do verso 8 da estância 106 (“um bicho da terra tão pequeno”) designa o Homem e
enfatiza a fragilidade humana e a pouca probabilidade de fazer frente ao universo. Além disso,
destaca a desproporção entre o ser humano e os obstáculos que enfrenta para alcançar os seus
propósitos.
 
• O tema das duas estâncias é, pois, a fragilidade e a efemeridade da vida humana face aos grandes
perigos enfrentados no mar e na terra e às circunstâncias da vida.
 
• O Poeta lamenta essa incerteza e insegurança a que o ser humano está exposto. O seu estado de
espírito é caracterizado pela desilusão, tristeza, desânimo, perplexidade e impotência.
Os motivos da tristeza e do lamento podem sintetizar-se desta forma:
- a pequenez humana face ao Universo e aos perigos;
- o Homem à mercê de um destino cruel;
- o sofrimento humano provocado por numerosos perigos.

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