Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
DIAGNÓSTICOS NA
PSIQUIATRIA
CONTEMPORÂNEA
Conselho Editorial
A CRIAÇÃO DE
DIAGNÓSTICOS NA
PSIQUIATRIA
CONTEMPORÂNEA
Copyright © dos autores
Direitos cedidos para esta edição à
Editora Garamond Ltda.
Rua Candido de Oliveira, 43/Sala 101 - Rio Comprido
Rio de Janeiro - Brasil - 20.261-115
Tel: (21) 2504-9211
editora@garamond.com.br
Revisão
Alberto Almeida
Editoração Eletrônica
Editora Garamond / Luiz Oliveira
Capa
Estúdio Garamond
INTRODUÇÃO
A psiquiatria contemporânea e seus desafios
Benilton Bezerra Jr.
PARTE 1
Aspectos da história das nosologias psiquiátricas em curso no século XX
O lugar do diagnóstico na clínica psiquiátrica
Cláudio Banzato e Mario Eduardo Costa Pereira
Sobre os DSM’s como objetos culturais
Rafaela Zorzanelli
A Neurose como Encruzilhada Narrativa: Psicopatologia Psicanalítica e
Diagnóstica Psiquiátrica
Christian Ingo Lenz Dunker
PARTE 2
Diagnósticos e seus usos
O diagnóstico da esquizofrenia no contexto dos serviços de saúde mental
de base comunitária
Octavio Domont de Serpa Jr., Erotildes Maria
Leal, Nuria Malajovich Muñoz, Catarina Magalhães Dahl
Transtorno de ansiedade social no DSM-5: o paradoxo da ansiedade sem
sujeito
Rafaela Zorzanelli e JulioVerztman
Transtornos Psicóticos: a propósito da classificação espectral do DSM-5
Nelson Goldenstein
As fronteiras disputadas entre normalidade, diferença, patologia.
Jurandir Freire Costa.
PARTE 3
A psiquiatria no contexto do SUS
Classificações em Saúde Mental na Atenção Primária: mudam as doenças
ou mudam os doentes?
Sandra Fortes, Daniel de Almeida Gonçalves, Emilene Reisdorfer,
Ricardo Almeida Prado, Jair de Jesus Mari, Luis Fernando Tófoli
Do DSM-III ao DSM-5: Traçando o Percurso Médico-Industrial da
Psiquiatria de Mercado
Fernando Ramos
PARTE 4
Inflexões nosológicas sobre o campo da infância
Riscos e limites do uso do diagnóstico psiquiátrico na infância
Ana Maria Rocha e Ana Elizabeth Cavalcanti
A linguagem do DSM: entre a Novilíngua e a Lingua Tertii Imperii
Rossano Cabral Lima
NOTA DOS ORGANIZADORES
7
8
Rafaela Zorzanelli
Benilton Bezerra Jr.
Jurandir Freire Costa
9
Introdução
A PSIQUIATRIA CONTEMPORÂNEA
E SEUS DESAFIOS
Benilton Bezerra Jr.
O problema da classificação
Com a famosa citação no início de As palavras e as coisas, Mi-
chel Foucault tornou muito conhecido o conto intitulado “O idio-
ma analítico de John Wilkins”, de Jorge Luis Borges. Nele, Borges
afirma que “sabidamente não há classificação do universo que não
seja arbitrária e conjectural. A razão para isso é muito simples: não
sabemos o que é o universo”. Para persuadir o leitor da justeza da sua
tese, o escritor argentino lança mão de diversos argumentos e recorre
a uma de suas inúmeras pérolas literárias: uma incerta enciclopédia
chinesa chamada Empório celestial de conhecimentos benévolos em cujas
“remotas páginas” encontramos uma classificação de todos os ani-
mais existentes. Eles são divididos em 14 categorias:“(a) pertencentes
ao imperador, (b) embalsamados, (c) amestrados, (d) leões, e) sereias,
(f) fabulosos, (g) cães soltos, (h) incluídos nesta lista, (i) que se agitam
como loucos, (j) inumeráveis, (k) desenhados com um pincel finíssi-
mo de pelo de camelo (l) etc., (m) que acabam de quebrar o jarro, (n)
que de longe parecem moscas” (BORGES, 1989: 111).
Essa surpreendente taxonomia perturba o leitor por sua aparên-
cia de absurdo, incoerência e arbitrariedade. É curioso observar, no
entanto, que a lista consegue realizar o seu intento, que é o de reco-
brir a totalidade dos animais – sucesso garantido (de forma preguiço-
sa, insinua Borges) pela presença do item (l). Classificações não são
14
DSM I e DSM II
No início dos anos 1950, o campo da psicopatologia era marcado
pela pluralidade de orientações e princípios. Fundadas em premis-
sas filosóficas e eixos de ordenação diversos, diferentes tradições se
constituíram desde o surgimento da psiquiatria como especialidade
médica no início do século XIX, norteadas por dois grandes paradig-
mas: o clínico-descritivo, presente nos tratados nosográficos de Pinel
e Esquirol, e o etiológico-anatômico, encontrado nas obras de Morel,
Kahlbaum e Griesinger. Na primeira metade do século XX, duas
figuras centrais se destacam nesse cenário. De um lado, Emil Krae-
pelin. De outro, Freud. Kraepelin alicerçou as bases das classificações
contemporâneas, construindo uma classificação fundada na evolu-
ção dos pacientes e no estabelecimento de categorias mutuamente
excludentes. Com Freud, o centro de gravidade do diagnóstico se
17
2 Rose, N. The Politics of Life Itself: Biomedicine, Power, and Subjectivity in the Twenty-first
Century. Princeton e Oxford: Princeton University Press, 2007.
28
Referências bibliográficas
APA (American Psychiatric Association). DSM I, 1952.
APA (American Psychiatric Association). DSM III, 1980.
BECK, U. Risk Society: Towards a New Modernity. Londres: Sage Publications,
1992.
BEZERRA JR., B. “O ocaso da interioridade e suas repercussões sobre a
clínica”. In: PLASTINO (org.). Transgressões. Rio: Contra Capa/Rios
Ambiciosos, 2002, vol. 3, p.111.
BORGES, J.L. “O idioma analítico de John Wilkins”. In: Prosa completa, vol.
3, p.111. Buenos Aires: Bruguera, 1980.
_______________ “Sobre o rigor na ciência”. In: História universal da infâ-
mia. São Paulo: Ed. Globo, 2001.
CANGUILHEM, G. O normal e o patológico (1966). Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 2011.
COOPER, J.E. Psychiatric Diagnosis in New York and London: A Comparative
Study of Mental Hospital Admissions. Oxford: Oxford University Press,
1972.
DEMAZEUX, S. Qu’est-ce que le DSM? Genèse et transformations de la bilbe
américainde de la psychiatrie . Paris: Ithaque, 2013.
GAINES, A. D. “From DSM I to DSM II; Voices od Self, Mastery and the
Other: a Cultural Constructivist Reading of U.S. Psychiatric Classifica-
tion”. In: Soc. Csi. Med. Vol. 35, No.1, 1992, pp. 3-24.
GIDDENS, A. Consequences of Modernity. Cambridge: Polity Press, 1990.
GROB, G. N., (1991). “Origin of DSM-I: A study in appearance ad reality”.
In: American Journal of Psychiatry, 148, 421-431.
LAKOFF, G. Women, Fire and Dangerous Things. What Categories reveal about
the Mind. Chicago: Chicago University Press, 1987.
ROSENHAN, D. “On being sane in insane places”. In: Science 179 (70):
250-258
SZASZ, T. “Diagnoses are note diseases”. In: Lancet vol 338: Dec 21/28,
1991.
__________ The Second Sin. New York: Doubleday, 1973.
BRENDEL, D. H. Healing Psychiatry. Bridging the Science/Humanism divide.
32