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O Professor

Você resistiria a paixão?


Trilogia profissões – Livro Um.

Ana Paula Vilar


1ª Edição
2016
Copyright © 2016 EDITORA NIX

Todos os direitos reservados à Editora Nix. Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou
reproduzida sob quaisquer meios existentes sem autorização da Editora. A violação dos direitos
autorais é crime estabelecido na lei n° 9.610/98, punido pelo artigo 184 do Código Penal.

Equipe Editorial:

Revisão: Bel Góes

Capa & Diagramação Digital: Míddian Meireles

Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes, personagens, lugares e
acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes,
datas e acontecimentos reais é mera coincidência.

Essa obra foi escrita e revisada de acordo com a Nova Ortografia da Língua Portuguesa.
O autor e o revisor entendem que a obra deve estar na norma culta, mas o estilo de escrita
coloquial foi mantido para aproximar o leitor dos tempos atuais.
Sumário
Sumário
Sinopse
Prólogo
Capítulo Um
Capítulo Dois
Capítulo Três
Capítulo Quatro
Capítulo Cinco
Capítulo Seis
Capítulo Sete
Capítulo Oito
Capítulo Nove
Capítulo Dez
Capítulo Onze
Capítulo Doze
Capítulo Treze
Capítulo Quatorze
Capítulo Quinze
Capítulo Dezesseis
Capítulo Dezessete
Capítulo Dezoito
Capítulo Dezenove
Capitulo Vinte
Capítulo Vinte e Um
Capítulo Vinte e Dois
Capítulo Vinte e Três
Capítulo Vinte e Quatro
Epílogo
Bônus
O que aconteceu na noite do acidente.
Agradecimentos
Sinopse
Faculdade, ou seja, agora era tudo ou nada. Para Kate isso não seria um problema, sempre
fora uma boa aluna, seu caráter e jeitinho de ser continuavam os mesmos, não importando as
mudanças no visual que adotasse. Ela só não esperava conhecer alguém como Thomas Wolf. Em
meio a uma paixão descomunal, Kate terá que enfrentar seus piores pesadelos. Problemas surgem
não se sabe de onde e vários segredos se revelam. Não importa o quanto você seja bom em
esconder algo, isso sempre vem à tona.

Thomas Wolf é um dedicado professor na área de Medicina da faculdade Stanford,


depois de um passado muito mais do que conturbado ele decide esquecer de vez o amor. O que
ele não esperava era Kate Snow, uma jovem capaz de libertar todos os sentimentos que um dia ele
jurou que não iria mais sentir. O passado volta para atormentá-lo, o presente cobra seu preço
para a felicidade e o futuro se torna incerto.

Será que os dois serão capazes de resistir a paixão? Uma química perfeita, uma ligação
instantânea e um amor verdadeiro.
Prólogo
Era horrível pensar que depois de tudo eles ainda teriam que passar por mais essa
provação e Thomas esperava que Kate o perdoasse antes que não houvesse mais solução. Ela era
a segunda pessoa de quem ele temia o desprezo.

Thomas terminou a limpeza e decidiu tentar, novamente, ligar para Kate, ele precisava
esclarecer tudo, mostrar sua versão dos fatos, fazê-la entender que tudo que ele fez um dia ficou
para trás.

O telefone chamou várias vezes antes de cair na caixa de mensagem, Thomas desligou e
ligou de novo, dessa vez o telefone chamou duas vezes, antes de ouvir a mensagem da secretária
eletrônica, então ele resolveu deixar algo gravado para que talvez ela pudesse ouvir.

***
Kate caminhou até a mesinha onde ficava o telefone e apertou o botão da secretária
eletrônica, para se preservar, ela não estava atendendo as ligações, nem mesmo as de seus pais,
por isso a secretaria estava cheia de mensagens.

“Filha, você pode me ligar quando ouvir isso? A mamãe está com saudade. Seu pai está
preocupado. Beijos." Como toda manhã, uma mensagem dos seus pais, que mesmo estando longe
não deixavam de se preocupar e tratá-la como uma criança. Ela aperta o botão para reproduzir
a próxima.

“Senhorita Snow, não se esqueça de que as duas aulas começam depois de amanhã, quero
vê-la em sua sala pontualmente." Essa era do reitor, sua voz como sempre profissional e ao mesmo
tempo distante.

"Amor, atenda, por favor. Preciso muito falar com você, deixe que eu te conte a minha
versão da história, porque sei que você não quer mais me ver, mas dê-me uma chance antes de me
deixar para sempre. Eu mudei faz muito tempo e estou disposto a mudar ainda mais para não te
perder. Não consigo mais me ver sem você, só preciso de cinco minutos, liga para mim. Eu te amo."
Essa mensagem a havia pegado desprevenida, várias lágrimas escorregam pelo seu rosto, Kate
também o amava, mas não sabia se aguentaria ouvir toda aquela história de novo, mesmo que
aquilo fizesse parte do passado dele. “Eu sinto muito" ela sussurrou para o telefone. Apertou o
botão para a próxima mensagem, tentando enxugar as lágrimas.
Então era isso? O fim? O fim de um amor que eles tanto lutaram para viver?!
Capítulo Um
Kate parou em frente aos portões da prestigiada faculdade de Stanford e suspirou. Agora
era a hora de ser feliz e de certo modo ela sentia que tudo estava prestes a mudar na sua vida,
até mesmo mais do que já havia mudado. Torcia para que essas transformações fossem boas e
sentia-se confiante.

A faculdade era composta por vários prédios, algumas torres com telhas em um formato de
cone e pátios enormes, poderia até ser comparada a um castelo; seus prédios eram divididos em
várias alas e ao canto haviam os dormitórios, tudo parecia muito antigo ao mesmo tempo que era
novo, como um antigo moderno.

Antes de criar coragem para finalmente atravessar os portões da faculdade, ela observou
os jovens universitários caminhando a sua volta e aos poucos analisava as pessoas, havia sido uma
dica da psicóloga da sua última escola para que se sentisse segura em um lugar. Havia uma
morena com óculos Gucci pretos passando perto dela, ela tinha um ar superior e parecia ser mais
velha que Kate. Em outro canto um cara com óculos de grau e muitos livros em mãos derrubou
todos e ao se abaixar apressadamente para apanhá-los acabou deixando cair o resto deles, o
que o fez bufar de raiva, ela tinha vontade de rir da cena, mas resolveu que apenas o ajudaria.

Deu dois passos na direção do garoto antes de esbarrar com alguém, com força do
impacto ela cambaleou um pouco e isso fez com que ela derrubasse a bolsa e alguns livros que
tinha em mãos. Era a vez dela de bufar com raiva.

Levantou o olhar prestes a reclamar com quem esbarrou nela, mas ficou sem palavras ao
ver um homem de terno, do tipo que parecia ter saído de um filme de romance, Kate o encarou por
um tempo enquanto os olhos azuis penetrantes do tal homem a olhavam com a mesma intensidade.
Quando se deu conta de que já estava o encarando muito decidiu se abaixar e recolher os livros,
mas ele se abaixou ao mesmo tempo e acabou que os dois bateram as cabeças, rindo em seguida.

Ela encarou novamente seus olhos e por um momento permitiu-se ficar perdida neles
enquanto avaliava seu lindo rosto, que mais parecia ser esculpido por anjos. Ao perceber os
pensamentos insanos que tinha em sua mente, ruborizou e olhou para baixo pegando os livros
apressadamente. Quando foi pegar o último livro as suas mãos se encostaram e como reflexo os
dois as puxaram para trás, evitando o contato.

Kate pegou rapidamente o livro e ajeitou a bolsa no ombro antes de levantar, ele levantou
ao mesmo tempo e falou baixo:

— Desculpe-me por isso, eu estava olhando o jornal e acabei não vendo você no caminho.
Eu te machuquei? — ele perguntou, falando rápido, parecia estar com pressa.

— Tudo bem. — Ela sorriu brevemente para ele, não estenderia uma conversa com um
completo estranho.

— Mesmo? — ele perguntou sem parecer convencido.

— Sim, não precisa se preocupar. Acho que os únicos que sofreram algum dano foram os
meus livros — ela fez uma brincadeira e ele sorriu.

— Desculpe-me, de verdade. Preciso aprender a olhar por onde ando. — Ele parecia
constrangido.

— Acontece. Se você não os derrubasse, com certeza eu os derrubaria logo logo. — Ela
sorriu abertamente. Queria continuar escutando a voz daquele homem, por mais estranho que isso
fosse. Ele sorriu também, seu sorriso era maravilhoso.

— Bem, já que está tudo em ordem, eu já vou — ele falou ainda constrangido.

— Ok.

— Até mais senhorita. — Ele piscou.

— Até o próximo esbarrão. — Só depois de pronunciar a frase que ela viu como isso soou
ridículo, mas havia conseguido arrancar outro sorriso dele.

Nunca mais o veria, estava certa disso. Esse era o carma da sua vida, coisas interessantes
aconteciam apenas por alguns minutos e depois nunca mais. Suspirou antes de voltar a andar em
direção aos prédios principais, por sorte tinha um pequeno mapa que indicava onde ficava a ala
de cada curso.

Ela andou por poucos minutos até encontrar uma placa que indicava o local das salas.

MEDICINA

MEDICINA AVANÇADA

ANATOMIA

BIOLOGIA
Além dos nomes, haviam setas enormes apontando para várias direções, a de Medicina
apontava para cima, ela subiu as escadas chegando ao segundo andar e pouco depois viu um
corredor, seguiu por ele por alguns minutos até encontrar a sala cuja a placa estava escrita
Medicina, entrou na sala onde quase não havia ninguém.

Poucas pessoas estavam sentadas nas carteiras e escrevendo no quadro negro estava uma
mulher já de idade, ao canto estava escrito Srª. Carther.

Kate tomou o cuidado de sentar-se em uma das cadeiras que ficavam no meio da sala. Na
sua concepção quem sentava nas cadeiras do meio queriam dizer "Eu sou descolada e ainda sim
estudo", assim como quem sentava nas da frente queria dizer “eu sou uma nerd" e como quem
sentava nas do fundo queria dizer “eu não quero nada com nada". Ou talvez não, ela só estava
pensando como era no colegial, só por terem chegado ali na faculdade e estarem onde estão já
queria dizer que estavam dispostos a estudar. Ou no caso dos jogadores de futebol americano,
chegaram ali por serem bons atletas, mas isso não se via em Medicina, ou pouco se via.

A sala rapidamente ficou cheia, todos calados, uns olhando e rabiscando algumas coisas em
seus cadernos, outros mexendo em seus celulares e alguns apenas parados olhando para
professora, que se levantou e começou uma breve introdução sobre o que eles iriam estudar.

— Bem-vindos, eu me chamo Elisabeth Carther, mas vocês só poderão me chamar de


senhora Carther. Nós vamos começar a estudar a Semiologia ou Semiótica, o que vocês preferirem.
Alguém sabe o que significa? — ela perguntou e ao ver que ninguém responderia voltou a
explicar. — Semiologia é a parte da Medicina que estuda os métodos de exames clínicos, pesquisa
os sintomas, indica o mecanismo e o valor deles, apurando todos os elementos para construir o
diagnóstico e deduzir o prognóstico. — Ela terminou de falar e alguns alunos pareciam meio
confusos, Kate decidiu pegar o livro e marcar as partes em que ficava com dúvidas para estudar
depois. A professora parecia saber decorado o livro por que as falas eram exatamente iguais.

No mesmo dia ela ainda explicou sobre as divisões da semiologia e suas diferenças. Ao
final da aula a professora falou um pouco sobre os outros professores e sobre como as aulas
seriam, algumas à tarde, algumas de manhã e outras à noite e entregou aos alunos uma chave, os
números de seus quartos no alojamento da faculdade e o nome de seus colegas de quarto. O de
Kate era o quarto 7c da ala feminina e o nome da menina com quem ela teria que dividir o quarto
era Tracy Fell, Kate sentiu-se confortável com aquele nome, ela não sabia bem o motivo.

A aula continuou por mais alguns minutos, na saída da sala, Kate acabou conhecendo
alguns de seus colegas de turma e marcou com uma das meninas de fazer um grupo de estudos
caso estivessem com dúvidas.

Depois que saiu da aula, decidiu ir até o estacionamento e pegar suas coisas, que ficaram
no carro, desceu as escadas lentamente com o seu celular em uma das mãos e na outra os livros,
por um momento ela se distraiu com o aparelho e acabou tropeçando no último degrau e se
desequilibrando, quando estava prestes a desabar no chão, sentiu as mãos de alguém na sua
cintura, pena que a pessoa não conseguiu salvar os seus livros que acabaram caindo de novo,
esses livros não durariam um semestre se continuasse naquele ritmo , ela ouviu aquela mesma voz
rouca dizer:

— Cuidado, mocinha.

—Obrigada — ela falou enquanto levantava o rosto para ver quem a segurou.

Era o cara de terno em que havia esbarrado pouco antes de entrar na faculdade, ela o
olhou e percebeu que ele ainda tinha as mãos em sua cintura, de repente sentiu o rubor crescer em
seu rosto, como se percebesse o homem afastou as mãos da cintura dela, meio constrangido, olhou-
a uma última vez antes de abaixar para pegar os livros, quando terminou de pegá-los, entregou
todos nas mãos dela e voltou a olhá-la.

— Acho que há um padrão se formando aqui — ela falou sorrindo timidamente. — Sentia
vontade de puxar assunto.

— Estou começando a desconfiar disso também.

— Você sempre esbarra nas calouras pelo campus? — ela pergunta com um tom de ironia
e vê um lindo sorriso se formar nos lábios do belo homem.

— Só quando elas são lindas. — Ele entra no jogo dela e a faz ruborizar.

— Licença — um rapaz falou e só naquele momento os dois perceberam que estavam


impedindo a passagem na escada. Eles se afastaram para o canto, ao lado da escada.

— Touché, deixou-me sem palavras. — Ela sorriu tentando afastar a sensação estranha que
havia se formado em seu estômago, como várias borboletas voando sem parar. Aquilo a
incomodava.

— Eu geralmente causo isso nas mulheres. — Ele gabou-se e ela sorriu com aquilo, tentando
afastar a sensação estranha. — Tenho que pedir desculpas novamente por mais cedo, acho que
não me apresentei como deveria e derrubei todo o seu material. Eu sou Thomas Wolf. — Ele não
parecia sem graça, pelo contrário, parecia mais do que confortável com aquela situação.

— Ah — ela falou, meio perdida, olhando para os lábios dele que eram naturalmente
vermelhos. Ela voltou a si quando o ouviu pigarrear, sentiu as bochechas queimarem novamente. —
Eu sou Kate Snow — falou e estendeu uma das mãos e ele apertou.

— Prazer em conhecê-la, senhorita Snow, o que a traz a Stanford? — ele perguntou com
interesse.

— Sou aluna de Medicina, vim do interior após lutar muito por uma vaga aqui. — Ela sorri
orgulhosa, sabia o quanto havia estudado para isso.

— Olha, temos interesses em comum, vejo que a vaga foi bem merecida. — Ele sorriu,
formando algumas rugas em seus belos olhos azuis. — Eu ensino Medicina Avançada na sala ao
lado da sua — ele falou animado. — O que está achando da matéria?

— Pela introdução da senhora Cather, parece meio complicada, cheia de termos que levam
a mais termos com ainda mais termos. — Kate sorriu sem graça.

— Vou te contar um segredinho, a velha Carther gosta de complicar as coisas, mas no


fundo no fundo a matéria é fácil — Thomas falou com tranquilidade, já Kate estava nervosa ao
lado dele.

— Bem lá no fundo, viu? — Kate falou e ele sorriu achando impressionante a


espontaneidade dela. — Fácil para você falar, já deve saber todas as matérias do começo até o
fim — ela falou, fazendo-o sorrir de novo.

— Vamos combinar uma coisa, vou te dar o meu número e se você precisar de ajuda em
alguma matéria, pode ligar ou mandar mensagem — Thomas disse anotando um número em um
pequeno cartão. — Estou aqui para ajudar. Todos os professores estão. — Ele parecia ter se
corrigido ao falar a última frase.

— Obrigada, professor, eu preciso ir. — Ela sorriu para ele.

— A gente se vê por aí e espero que sem esbarrões da próxima vez — ele falou e ela
sorriu.

Kate não respondeu nada, apenas saiu em direção ao estacionamento, meio perdida em
seus pensamentos, Thomas era um cara fascinante, mas infelizmente era um professor. Em sua mente
ela se perguntava se todos os professores eram gentis daquele modo, esperava que sim, já que
passaria bons anos naquela faculdade.

Chegando no portão da faculdade ela avistou seu carro, um luxuoso Porsche Panamera
preto, que seus pais haviam lhe presenteado pouco depois de saberem que ela entrou para
Stanford, Kate achava isso um exagero, mas considerando todo o dinheiro que a família Snow
tinha, era até pouco.

Ela destravou o carro ainda do portão mesmo e correu rapidamente até ele com a bolsa
em cima da cabeça, tentando evitar a neve que caía sobre ela. Chegando ao carro pegou, duas
malas e uma caixa. Empilhando uma das malas em cima da outra e as arrastou, enquanto
carregava a caixa com a outra mão.

Considerando o frio que fazia, Kate estava vestindo uma calça de tecido grosso com botas
baixas, uma blusa de mangas e um cachecol, tudo preto, o único contraste era seu sobretudo,
vermelho, era quase que uma vestimenta para enterros se não fosse pelo chamativo sobretudo
vermelho. Era difícil demais caminhar com os saltos finos de suas botas afundando na neve e sua
mala também. Nesse momento o que ela mais desejava era que a faculdade tivesse algum
carregador de malas, isso com certeza facilitaria a vida dela. Ou pelo menos que não estivesse
nevando.

Era engaçado pensar assim, até por que quando era menina o que ela mais esperava
durante o ano era que a neve caísse e ela pudesse brincar com suas amiguinhas. Agora sabia que
a neve poderia ser bem chata quando queria e pior ainda poderia dificultar a vida das pessoas.

Alguns minutos depois ela finalmente chegou a ala onde ficavam os dormitórios femininos. A
caminhada se tornou mais fácil, considerando que ela não tem que arrastar seus pés debaixo da
neve. O quarto dela era um dos primeiros, mas ficava já no fim do corredor e no segundo andar,
ela entrou e começou a arrumar todas as coisas na cama escolhida, a colega de quarto dela ainda
não havia chegado, para a grande sorte de Kate, que pode escolher a cômoda, a cama e colocar
suas coisas onde quisesse.

Depois de arrumar tudo, Kate decidiu tomar um banho. A água estava quente, tão quente
que dava até para pensar que lá fora ainda é verão. Quando saiu do banheiro, deu de cara com
uma garota de cabelos ruivos sentada na cama contrária a dela mexendo em um Iphone
provavelmente o 5s, na cor branca. A garota estava com um enorme sorriso nos lábios e assim que
percebeu a presença de Kate se virou para cumprimentá-la.
— Oi, você deve ser Katherine Snow. Eu sou Tracy Fell, sua colega de quarto — ela falou
rapidamente, tão rápido que Kate demorou um pouco para raciocinar o que ela havia dito.

— Pode me chamar de Kate, por favor, Katherine é meio formal demais e um tanto quanto
difícil de falar. — Kate sorriu de um modo gentil, a garota parecia alguns anos mais nova que ela.

— Oh, okay. Kate então. — A garota sorriu novamente, os grandes cabelos cacheados
dela caiam sobre o rosto de uma forma quase mágica delineando bem o rosto marcante, ela
estava usando uns óculos que não valorizavam muito o seu rosto. Como os que Kate usou durante o
colegial. Pelo sorriso largo em seu rosto a cada vez que ela olhava o celular parecia estar
conversando com alguém interessante, talvez um namorado.

Tracy parecia muito com Kate no colegial, mas ao contrário de Kate, a menina era bonita,
uma beleza meio exótica, os olhos claros entrando em contraste com o cabelo de cor forte que
parecia ser natural. A pele tão pálida que a blusa preta de frio chamava atenção, mesmo com os
traços marcantes do rosto ela parecia o tipo de menina inocente.

— Acho que vamos ter muito trabalho para arrumar este quarto — Tracy falou enquanto
bloqueava o celular e o deixava na cômoda. — Eu vou organizar algumas compras, que fiz lá, na
cozinha então fique à vontade para se arrumar.

— Obrigado. — Kate sorriu e foi até a cômoda pegar uma roupa, como o aquecedor
estava ligado e elas teriam que arrastar alguns móveis, ela vestiu apenas uma blusa cinza, sem
mangas e uma calça moletom na mesma cor.

Quando terminou de se vestir foi até a cozinha para ajudar Tracy a terminar de arrumar
lá.

— Isso aqui está uma bagunça, hein — Kate falou enquanto começava a lavar algumas
louças.

— Quem morava aqui antigamente praticamente destruiu o quarto. — Tracy concordou.

As duas começaram uma conversa animada enquanto arrumavam a cozinha e depois


seguiram para a parte do quarto. Kate torcia para que elas se dessem bem todos os dias como
naquele momento.
Capítulo Dois
A neve estava caindo cada vez mais forte quando Thomas chegou ao seu quarto, da janela
ele podia ver a moça com quem conversara a pouco tempo atrás, Kate. Ela se arrastava pela neve
com suas botas e malas afundando, era uma cena engraçada e até linda de se ver. Thomas teve
que lutar contra a vontade de sair correndo para ajudá-la, a menina realmente estava precisando
de uma ajuda, mas era arriscado manter proximidade com as alunas, ainda mais quando a nova
reitora da Universidade não gostava nem um pouco dele. O conselho poderia achar ruim e acabar
mandando-o embora e daí seu futuro estaria arruinado e talvez o de sua filha também.
Convenhamos que uma desculpa era tudo que aquela velha precisava para acabar com sua vida
e ele não sabia bem o motivo, mas ela estava com uma implicância sem tamanho para o lado dele.

A filha de Thomas estudava Psicologia na faculdade de Stanford, era caloura, havia


acabado de entrar e como sempre, a menina havia conseguido convencer o pai de que morar nos
alojamentos da faculdade seria melhor para o seu desempenho acadêmico. Antes, os dois
moravam em uma casa enorme em um condomínio fechado, nem tão próximo de Stanford, Thomas
sempre procurou dar o melhor à filha, antes de se tornar um professor em Stanford, trabalhou
como médico em alguns hospitais e isso tinha rendido a eles uma boa vida.

Thomas amava ser médico, não que achasse ser ruim ser professor, ele amava lecionar e o
salário valia mais do que a pena. Como a filha estava decidida a ir para o alojamento da
faculdade, Thomas estava decidido a apoiá-la e acabou indo para o alojamento também, colocou
a casa para alugar, seria besteira manter uma casa daquele porte morando sozinho.

O professor cuidava da filha sozinho desde que ela era apenas um bebê recém-nascido e
a mulher de Thomas, Emily, morreu na hora do parto e ele tem estado sozinho esse tempo todo. Na
época Thomas ficou desolado, era difícil olhar para a pequenina e sentir culpa pela morte da
mulher, mas bastou segurá-la no colo pela primeira vez para ele perceber que tinha um motivo
para viver e que precisava protegê-la de tudo e de todos.

Deixando as lembranças de lado, Thomas admitiu que tinha algo em Kate que certamente
chamava sua atenção, ela era bonita, mas não parecia convencida, sempre que ele a via, o que
haviam sido apenas duas vezes e estranhamente pareciam ser mais, Kate estava de cabisbaixa,
como se não soubesse o quanto era linda, essa postura deixava claro o quanto era tímida, as
maçãs de suas bochechas eram vermelhas, mesmo no inverno e tinha algo ainda mais especial nela,
uma mulher muito parecida com Emily, sua ex, em termos de aparência apenas uma coisa as
diferenciava, enquanto Kate era loira, Emily tinha o cabelo ruivo, exatamente como o da filha que
teve com Thomas. Mentalmente ele agradeceu pelas pequenas diferenças, porque, pela falta que
sentia de sua mulher, ele não tinha certeza de que conseguiria se manter longe. O desejo de
agarrar Kate era forte, mas sabia que isso poderia prejudicá-lo, ele sabia que isso não era certo
por vários motivos.

Primeiro por ela ser uma aluna da faculdade, mesmo não sendo aluna dele. Segundo,
porque ela tinha idade para ser sua filha. Terceiro, porque ele mal a conhecia, havia visto a
menina apenas duas vezes, conversaram por menos de 10 minutos, sem contar a de agora, esse
sentimento todo era bem precipitado. Ele não podia sair pela faculdade dando em cima de alunas
calouras, isso seria até um golpe para a sua integridade.

Estava decidido, sua relação com aquela aluna nunca passaria de um caso estritamente
profissional, ele pensou.

A verdade, no entanto, era que Thomas não pensava em outra coisa, mesmo que quisesse.
Desde a morte de Emily ele havia se fechado para o amor, não precisava mais daquele sentimento
que só o tinha feito sofrer. Havia sido um completo idiota no passado, não dando valor a família
que tinha e acabou perdendo-a. Fazia 19 anos que ele não se envolvia com alguém, era até difícil
de acreditar, alguns amigos tentavam jogar mulheres para cima dele e logo no primeiro beijo ele
não sentia nada e não queria continuar com aquilo, parecia que estava traindo a memória da
mulher.

Ainda em pé próximo a janela, Thomas continuou observando Kate até que saísse do seu
campo de visão, ele parecia um adolescente com uma paixão platônica, mas aquilo não era
paixão, era desejo e apenas isso.

Como não havia nada para fazer de imediato ele resolveu tomar um banho quente,
ajudaria a esquecer tudo e a se acalmar. Cenas como as que ele havia vivido hoje pareciam coisa
de filme. Jogou as roupas em um pequeno cesto e entrou no box, deixando a água quente escorrer
pelo seu corpo, com os olhos fechados ele só conseguia pensar em uma coisa, ou melhor uma
pessoa. Kate.

— Merda! — gritou batendo as mãos com força na parede.

Que diabos está acontecendo comigo? — perguntou-se em pensamento. Ele esperava não
ter que vê-la novamente, ou pelo menos não tantas vezes. A vida dele era algo calmo e monótono
e não precisava de nada que mudasse isso é nada que o fizesse agir de maneira inconsequente.

De repente o celular de Thomas começou a tocar, mas ele decidiu ignorar, não estava com
cabeça para falar com alguém agora, mas como o celular não parava de tocar resolveu que iria
atender, desligou rapidamente o chuveiro e enrolou-se em uma toalha indo em direção ao quarto.
Ele olhou para tela do aprelho e não reconheceu o número, mas mesmo assim resolveu atender,
afinal poderia ser algo importante.

—Alô? — ele atendeu num tom interrogativo.

— Oi, professor Wolf, é a Kate, eu me dei conta de que não havia lhe agradecido direito
por ter me ajudado mais cedo. — A voz dela parecia trêmula. — Desculpa ligar assim, não sabia
se você estaria ocupado.

— Oi, Kate — O coração dele dispara mesmo sem ele saber o motivo, até a voz dela
parecia com a de Emily. — Não foi nada, eu estava desocupado. — Mentiu, não diria a ela que
estava no banho, seria no mínimo estranho.

— Bem, era só isso mesmo. — A voz ainda estava trêmula, ela havia ligado só por isso? No
fundo ele sabia que não, mas deveria apenas estar imaginando coisas.

— Kate, — ele não sabia o que falar, apenas não queria que ela desligasse. — Se quiser
ajuda com alguma matéria já sabe, né? — Estava agindo como um mero adolescente, era como se
tivesse parado no tempo, que ótimo.

— Sei sim, obrigada. — Ela ri, o seu sorrido soa como uma bela melodia ao ouvido de
Thomas. — Tenho que desligar, obrigada mais uma vez — ela falou por fim, agora ele sabia a
verdade, ansiava pelo dia em que a encontraria pelos corredores da faculdade de novo.

— Não foi nada. Tchau. — Ela encerrou a ligação.

O coração de Thomas ainda estava batendo forte, mesmo que não quisesse se sentir
daquela forma, aquela garota tinha idade para ser filha dele, xingou mil vezes merda por estar
daquele modo com apenas uma ligação de celular. Ele olhou rapidamente no relógio e percebeu
que estava atrasado para dar uma aula de Anatomia no lugar de uma professora que
simplesmente desapareceu. Era a quinta que sumia do nada e o caso já havia chegado a polícia.
Ele terminou de se arrumar, havia esquecido completamente dessa aula, pegou a pasta com o
planejamento de aula e correu pelos corredores até a sala, conseguindo chegar ainda antes dos
alunos.

— Bem, pessoal, sou Wolf, o professor substituto — falou assim que todos os alunos já
haviam se instalado em suas carteiras.

Ele observou o movimento da sala e viu que todos estavam preocupados com o
desaparecimento da professora e não era para menos. O caso já estava em todos os noticiários
locais. Suspeitavam que poderia ser um possível serial killer, a ideia parecia meio ridícula, quem iria
querer raptar professoras?

A aula seguiu tranquila depois de Thomas falar para eles que tudo iria ficar bem. Saindo
da aula resolve ligar para a filha, para ver onde ela se acomodou e ver se estava bem, ele
sempre foi um pai coruja e muito atencioso, mas quem poderia culpá-lo?! Havia criado a filha
sozinho, era difícil ficar longe dela e mais difícil ainda admitir que sua menininha havia crescido.

— Olá pai. — Ela atendeu animada. Como sempre.

— Oi filha, liguei para saber em qual dormitório você está? Vou aí te ver. Já tem colega de
quarto? É uma menina, né? Ela fuma, usa drogas, se prostitui? — ele disparou e ouviu a filha
gargalhar do outro lado da linha.

— No dormitório 7c, minha colega de quarto é ótima, inteligente, educada e super legal e
não é nenhuma delinquente juvenil. Que horas você vem, pai?

— Vou passar em um restaurante e pegar algo para gente comer e vou logo em seguida.
Quer que eu leve para sua colega também?

— Claro, vou avisar a ela que você vem. Beijo.

Ele seguiu até o restaurante mais próximo e comprou um jantar para três, foi até rápido, o
local era do lado da faculdade, o bom de Stanford era que tudo ficava bem próximo,
principalmente quando se ia de carro, ele voltou e estacionou em frente ao prédio da residência
estudantil, seguiu até a ala de dormitórios e achou o quarto 7c e os momentos que se seguiram
pareciam estar em câmera lenta, bateu na porta e ela foi aberta devagar revelando uma pessoa
do outro lado que ele não esperava encontrar tão cedo , esse alguém era...
Capítulo Três
— Kate. — Ele realmente parecia surpreso em vê-la, só não deveria estar mais abismado
do que ela.

—Thomas? — Kate mal podia acreditar, que ele era o pai da colega de quarto? Não
poderia ser verdade, o professor não parecia ter mais de 30 anos, se bem que a idade engana.
— Você é o pai de Tracy, eu presumo — afirmou de um modo que mais parecia um
questionamento.

— Sou, e você deve ser a colega de quarto divertida, inteligente e que não é uma
delinquente juvenil. — Ele sorriu, enquanto a menina sentia um leve rubor queimar seu rosto, mesmo
que Thomas continuasse bem-humorado como no encontro mais cedo. — Posso entrar? — ele
perguntou e só naquele momento ela percebeu que estava obstruindo toda a porta.

— Oh... claro, desculpe. — Ela abriu passagem para ele, puxando a porta mais para o
lado.

Thomas entrou lentamente, colocou as sacolas que trazia consigo, que provavelmente tinham
comida, Kate imaginou, em cima da mesa, enquanto ela observava a roupa despojada dele, uma
calça jeans num tom de azul escuro e uma blusa social branca solta por cima dela, ela não
conseguiu reconhecer o perfume que ele usava, sabia apenas que era inebriante, ficava até difícil
pensar perto daquele homem, seu cabelo estava meio molhado e, com um ou outro floco de neve
ainda preso, penteado para trás. Depois que ele deixou as coisas na mesa, foi se sentar no
pequeno sofá, que ficava do lado oposto das camas, e ao lado do qual havia uma pequena
mesinha de canto.

O dormitório se dividia em três partes, um quarto/sala. Que era a parte principal. À direita
havia duas portas, uma para o banheiro e outra para a pequena cozinha americana, próximo a
essa, as meninas colocaram uma pequena mesa redonda com duas cadeiras. Depois da porta do
banheiro havia a cama de Tracy e uma cômoda ao lado. Do lado oposto do quarto ficava a cama
de Kate próxima à janela e ao lado outra cômoda. E a frente das camas na parede ao lado da
porta ficava um sofá e uma pequena estante com uma televisão. Era até bastante espaçoso, bem
mais do que Kate imaginaria que seria, mas também havia dado um trabalhão para as duas
poderem arrumar o quarto daquele modo.

— Vocês duas fizeram um belo trabalho nesse lugar, aposto que demoraram muito tempo
nisso — Thomas comentou e Kate sorriu, haviam ficado a tarde toda naquilo. — Onde está Tracy?
— ele perguntou enquanto passava os olhos pelo lugar.

— Nada, demoramos apenas o fim da tarde. — Ela mentiu, queria de algum modo
impressioná-lo. — Tracy ainda está no banho, mas já deve sair — falou sorrindo. Ainda estava em
pé perto da porta, não havia conseguido pensar o suficiente para andar até a cama e se sentar
lá. Estava se sentindo sufocada com Thomas ali, pelo menos ele não a estava escutando, ela já
estava com vergonha o suficiente.

Do nada, Thomas se remexeu parecendo ter sido cutucado por algo, levando as mãos às
costas, puxou de trás de si um objeto e levantou gesticulando para ela que era um sutiã, um sutiã
dela. Kate nem imaginava como poderia ter esquecido aquilo ali, o rosto dela queimava de
vergonha, era uma peça provocante de renda e vermelho, a cor do pecado. Sentia-se promíscua e
idiota por deixado ali.

— Acho que esse sutiã é seu — disse ele calmamente, mas parecia tentar não sorrir. Ela
andou a passos lentos até ele, pegou a peça de sua mão, correndo até o outro lado do quarto e
enfiando-o na primeira gaveta de sua cômoda.

Kate respirou fundo antes de se virar novamente para Thomaz, que estava com um lindo
sorriso de lado. Ela então apressou-se em explicar para ele, ainda com muita vergonha do que
havia acabado de acontecer.

— Desculpe-me, estava arrumando as coisas na cômoda e devo ter esquecido isso aí no


sofá — ela falou num tom de voz baixo, Thomas sorriu para ela antes de responder com a maior
calma do mundo.

— Não precisa se desculpar, coisas assim acontecem sempre. — Ele sorriu com essa última
parte. Ele estava zombando dela e ao perceber isso, Kate fechou a cara.

Será que Thomas era sempre assim, calmo ? Isso chegava a ser irritante, Kate se perguntou
em mente.

Apressou-se em sentar na cama e pegou o celular começando a mexer freneticamente,


queria evitar qualquer conversa que chegasse no ocorrido do sutiã. Precisava definitivamente
apagar aquilo da memória, pelo menos era uma peça da Victoria Secrets, imagina se fosse um
daqueles cheios de desenhos e de cores de bebê? A vergonha para ela seria triplamente maior.

***
Um banho nunca pareceu durar tanto quanto o que Tracy estava tomando, a bateria do
celular de Kate já havia acabado e ela sentia-se numa situação extremamente constrangedora.
Olhando para o nada.

— Paaaaaiii! — Tracy saiu do banheiro já gritando. A menina estava com uma toalha na
cabeça, enxugando o cabelo e vestia um pijama longo, cor rosa, com várias patinhas de cachorro
brancas estampadas nele. Ela foi até o pai e deu um forte abraço nele. — Que bom que o senhor
chegou. — Senhor. Uau! Realmente ele era mais velho do que aparentava e era estranho para
Kate ouvir ele ser chamado de senhor, já que ele conversava como um jovem e se vestia como um
também, além da bela aparência.

— Oi querida, o que está achando da faculdade? — Thomas perguntou, sendo atencioso


com a filha, aquilo era lindo e dava para Kate perceber que ele estava sendo sincero também.

— Tudo está perfeito e os alojamentos são até mais confortáveis do que eu esperava —
Tracy falou e Kate concordou com ela mentalmente. — E ah, eu quase me esqueci — ela falou
virando-se para Kate. — Essa aqui é a Katherin... ops, Kate — apontou para a companheira de
quarto com um enorme sorriso e ela, por sua vez, encolheu-se timidamente em sua cama.

— Já nos conhecemos — ele fala com tranquilidade, a mesma calma de sempre. Será que
nada era capaz de tirar esse cara do sério?

— Ah, que bom então, confesso que eu estou faminta, o que você trouxe para comer? —
Tracy perguntou e Kate agradeceu, mentalmente, a ela por isso. Também estava faminta e
qualquer coisa para se livrar do clima constrangedor que havia se instalado na casa.

A ruiva foi até a mesa e abriu os pacotes, verificando a comida, o cheiro chegou até Kate,
o que fez seu estômago roncar baixinho. Do nada a luz se apagou e o quarto se transformou num
breu total, um pânico foi crescendo dentro de Kate e sua respiração foi ficando mais pesada,
tentou pensar em quem estava mais perto e decidiu que era Thomas, ela levantou-se rápido e se
jogou no sofá ao lado dele. Desde pequena Kate tinha pavor do escuro, por isso naquele momento
de pânico, ela procurou apoio e assim que achou o braço dele, agarrou com todas as suas forças,
fechando os olhos.

— Ei, calma — Thomas falou ao perceber o pânico da menina, provavelmente ela estava
tremendo de medo, tentava controlar a respiração mas estava difícil. Em meio ao pânico conseguiu
falar algo.

— Por favor, liga a luz, eu odeio o escuro. — A voz dela saiu baixa e suplicante. Ela
apertou ainda mais o braço de Thomas.

— Calma, foi uma queda de energia, o que é bem incomum, mas deve ser por causa da
neve — ele falou, calmo. — Filha, vocês têm velas? Lanternas? — ele perguntou a Tracy.

— Não temos — Tracy respondeu e depois como se tivesse sido iluminada por alguma luz
divina, falou. — Eu vou ver se alguma das meninas dos outros quartos têm velas para nos
emprestar, pai cuide de Kate, ela parece meio apavorada — Tracy falou em tom de deboche e
colocou algo na mão de Thomas, que não viu bem o que era por causa do escuro. — Use a
lanterna do meu celular por enquanto, mas a bateria já está no fim, não vai durar muito.

Thomas ligou a lanterna que clareou metade do quarto, quando Kate percebeu a luz,
decidiu abrir os olhos, procurou por Tracy pelo quarto, mas essa por sua vez já não estava mais lá.
Aos poucos Kate foi se afastando de Thomas, ainda estava em pânico e com a respiração pesada
e agora, constrangida pelo segundo mico que havia pagado.

— Desculpe, eu não queria te machucar — ela falou observando as marcas das mãos dela
no braço de Thomas.

— Ah, isso? — ele perguntou apontando para as marcas. — Relaxa, não foi nada. — Ele
sorriu de modo sincero para ela.

— Mesmo assim, desculpa — ela falou e afastou-se um pouco dele.

— Quer conversar sobre isso? — ele perguntou depois que alguns minutos de silêncio.

— Sobre o que? — Kate perguntou confusa.

— Sobre esse negócio com o escuro — ele falou de um modo tímido.

— Ah — ela suspirou. — Foi a bastante tempo na verdade. Uma pegadinha de colegial.

— Se não quiser falar tudo bem. — Thomas parecia ter percebido como a menina estava
constrangida em contar aquilo.

— Não, tudo bem — Kate suspirou antes de continuar. — Eu era caloura, estava entrando
no ensino médio e geralmente eles fazem esse tipo de piadinha com calouras e vamos combinar, eu
era a mais feia delas, na época usava óculos, tinha cabelos castanhos e bem cacheados e
volumosos além de um aparelho terrível, além de cor de rosa nos dentes. Obviamente era a vítima
perfeita, eles inventaram que um dos caras mais lindos do terceiro ano queria ficar comigo e eu,
idiota, acabei acreditando. Haveria uma festa, a noite, na escola de boas-vindas. Eu me arrumei e
fui até a escola, no meio da festa um dos garotos falou que o tal menino estava me esperando em
uma sala e fui seguindo pelos corredores escuros, quando cheguei a tal sala, ela também estava
escura, então abri a porta devagar e quando estava completamente aberta várias pessoas com
máscaras pularam e me assustaram, jogaram papéis higiênicos em mim. Saí correndo, naqueles
corredores escuros, tropeçando e eles ainda atrás de mim, arremessando coisas, até que tropecei
em um dos rolos e cai batendo a cabeça. Acordei horas depois, no hospital — ela suspirou ao
terminar de contar. — Desde então o escuro me apavora, é como se vivesse tudo aquilo de novo.
Entende?

— Eu sinto muito — ele falou, aproximando-se dela. — Posso imaginar como deve ter sido
difícil. Você já foi em algum psicólogo ou algo assim? Eles podem ter uma solução.

— Eu nunca contei a história completa para ninguém além de você — ela falou e sentiu-se
constrangida.

A luz do celular apagou nesse momento e o pânico voltou novamente, fazendo-a agarrar o
braço dele.

— Não desliga a luz, por favor. — Aquilo soou como um grito de apelo.

— A bateria acabou, cadê o seu, talvez possamos usar a lanterna dele — Thomas falou e
Kate sentiu a preocupação em sua voz.

— Também está sem bateria. Por favor, não me solte — ela pediu com a voz baixa.
Apertando ainda mais ele.

— Não vou soltá-la, até porque, quem está agarrada em mim é você — disse ele em tom
irônico.

— Isso não é engraçado — ela falou, seu corpo está tremendo por causa do medo, as
imagens das máscaras e da perseguição voltando a sua mente, fazendo-a sentir ainda mais medo.

— Eu sei, desculpe. — Thomas colocou os braços em volta de Kate e seus rostos ficaram
bem próximos, quase colados, a luz da lua iluminava fracamente parte do quarto e dava para
Kate ver o contorno do rosto de Thomas, mas ela podia sentir sua respiração em seu rosto e
involuntariamente ela começou a se aproximar até que os rostos deles estavam a milímetros de
distância um do outro. O professor selou os lábios nos dela, começando um beijo lento e molhado.
Parecia que mil explosões aconteciam no corpo de Kate, que levou uma mão até o pescoço dele e
depois a outra, entrelaçando os dedos nos cabelos de Thomas. As mãos dele apertaram a cintura
da menina e o beijo foi se intensificando, ficando mais quente e sedento. Quando a respiração dos
dois já estava em falta eles pararam, afastando-se ofegantes. Ficaram ali, encarando-se no escuro
por um bom tempo. Até que um barulho na porta fez com que eles se afastassem, uma luz surgiu e
iluminou quase todo o quarto, era Tracy com uma vela acesa nas mãos.

— Graças a Deus — disse Kate aliviada. Levantando-se, pegou uma das velas da mão de
Tracy, acendeu na outra e colocou em cima da cômoda ao lado da cama. Sentou-se lá, o mais
longe possível de Thomas, não queria que toda aquela atração de momentos antes voltasse.

— Filha, eu preciso ir. Vejo você depois. — Ele parecia nervoso. — Vocês vão ficar bem?
— ele perguntou olhando diretamente para Kate.

Kate apenas acenou com a cabeça que sim e Tracy pediu para o pai não se preocupar.
Kate observou-o sair do quarto, será que ele estava arrependido? Essa pergunta pairou sem
parar na mente dela. Só que não era culpa dela, aquele beijo aconteceu porque Thomas parecia
querer tanto quanto ela. Era isso, Kate queria um beijo dele, aqueles lábios vermelhos pareciam a
atrair.

De uma coisa, a loira definitivamente tinha certeza, aquele havia sido o melhor beijo de sua
vida e não estava nem um pouco arrependida disso.

— Tracy, já vou dormir, não se esqueça de trancar a porta — Kate falou e foi se deitar,
deixou o celular conectado na tomada, para o caso de a energia voltar.

Kate se deita e embrulha totalmente o corpo com um cobertor grosso que havia ganhado
de sua mãe pouco antes de ir para Stanford, aquilo era realmente confortável, mas mesmo com
isso ela não conseguia dormir.

Aquela acabou sendo uma noite agitada, a energia só voltou pouco depois da meia-noite,
pelo menos o aquecedor voltou a funcionar, o que ajudava a dormir, porque sem ele, mesmo com o
cobertor, Kate estava congelando. Ela começou a pegar no sono, mas um bip vindo de seu celular à
acordou novamente. Uma nova mensagem de texto piscava na tela do celular, que estava
carregando com apenas 3% de bateria.

Oi, mandei mensagem agora porque vi que a energia voltou. Eu não consigo dormir pensando
no que aconteceu hoje, não quero que pense mal de mim. Boa noite. — Era uma mensagem de
Thomas.

Oi, não se preocupe que isso não vai acontecer novamente. Tchau. — Talvez ela estivesse
sendo muito grossa em sua resposta, mas era bom que eles se mantivessem afastados e a
mensagem dele não havia sido nenhum pouco fofa também.

Acho bom. Tchau. — Aquilo foi como uma facada no orgulho de Kate e mesmo que julgasse
ser melhor assim, ela queria que Thomas falasse algo como que o beijo havia sido bom, que não
havia sido um erro, que sentia o mesmo que ela.

Afinal, o que eu sinto? Realmente não sei, só tenho certeza de uma coisa: aquele foi o melhor
beijo da minha vida, ela pensou e sorriu.

Kate recolocou o celular na tomada e voltou para a cama com o intuito de dormir, ficou
mais algumas horas acordada, pensando sobre como o dia havia sido agitado.

— Que merda está acontecendo comigo? — ela perguntou a si mesma, alto.

— O que? — Tracy perguntou. Ela não havia percebido que Tracy estava acordada.

— Nada não, estava só pensando alto. Boa noite Tracy — ela falou tentando ser gentil.

— Boa noite — Tracy respondeu.

Ela ainda rolou várias vezes na cama antes de conseguir dormir.


Capítulo Quatro
Já era tarde quando Kate acordou, olhou pelo quarto e não viu Tracy, provavelmente ela
deveria ter ido ver o pai ou para a aula. Aliás, o pai de Tracy era a última pessoa em quem
queria pensar. Ao mesmo tempo que sentia algo bom dentro do peito ao pensar nele,
experimentava também uma raiva por ele a ter, praticamente, desprezado com aquelas
mensagens.

Um vento frio entrou pela janela mal fechada, fazendo com que ela estremecesse, foi só
então que notou que o aquecedor estava desligado, estranho, na noite anterior quando a energia
havia voltado ele estava ligado. Ela olhou então para uma estante e percebeu que a televisão
estava ligada, passava um noticiário sobre o desaparecimento de alguma professora, ela correu
para aumentar o volume, mas quando alcançou os botões o noticiário já havia acabado.

Após desligar a tevê e foi para o banho, por sorte a aula do dia seria à tarde, o que a
dava bastante tempo para pensar em tudo que havia acontecido, ela se lembrou de Tracy ter
falado algo sobre como era ser muito parecida com a falecida mãe dela, pelo menos em fotos,
Tracy havia contado toda a história e verdadeiramente Kate havia sentido muito por aquilo. Tracy
não conhecia a mãe, sabia dela apenas o que o pai havia contado.

De início, Kate não deu muita importância, mas depois de "conhecer" o pai de Tracy, ela
estava certa de que os olhares dele eram por causa dessa semelhança com a falecida mulher dele
e talvez o beijo tivesse sido apenas isso, uma memória dele.

Analisando friamente a noite anterior não parecia ser apenas isso, uma lembrança, uma
carência. Thomas pareceu querer a aproximação com ela, em seus pensamentos, Kate não poderia
ser tão parecida com sua falecida esposa, seria estranho demais. Tomou um banho tranquilo
enquanto cantava It's time, do Imagine Dragons.

I don't ever want to let you down

Não quero nunca te decepcionar

I don't ever want to leave this town

Não quero nunca deixar essa cidade

'Cause after all


Porque, depois de tudo

This city never sleeps at night

Esta cidade nunca dorme à noite

Ela saiu do banheiro ainda cantando, enrolada apenas em uma toalha, o cabelo louro caia
como cascata sobre os ombros. Caminhou de cabeça baixa até a cama e, de relance, percebeu
que havia alguém no quarto. Virou-se devagar e o olhar dela encontrou o de Thomas, que estava
sentado no sofá olhando fixamente para ela.

— Você não sabe bater na porta? — ela praticamente gritou por causa do susto.

— Eu bati, a culpa não é minha se você é surda. — Ele parecia uma pessoa completamente
diferente da pessoa do dia anterior, ele havia sido atencioso e educado e hoje parecia um
completo ogro, ela odiava aquilo.

— Além de mal-educado é grosso também — Kate bradou com raiva e ele apenas
levantou-se e caminhou lentamente até onde ela estava. O homem conseguia ser irritantemente
sexy e em menos de um dia já conseguia tirá-la do sério. — Sua filha não está aqui, então se fizer
o favor de me deixar trocar de roupa, eu agradeço — disse ela, enquanto dava dois passos para
trás, assustada com a proximidade, Kate não conseguia pensar direito.

— Eu não vim falar com ela — Thomas disse, aproximando-se novamente de Kate. — Vim
falar com você. — Seu rosto agora estava ameaçadoramente perto do dela, que conseguia, até
mesmo, sentir a respiração dele. Queria se afastar, mas as pernas se recusavam a responder às
suas ordens.

— Comigo? — ela perguntou ainda encarando ele.

— Sim. Eu fiquei pensando sobre ontem. — Ela estava em expectativa pelo que ele falaria,
seria burra de tentar resistir a um homem como aquele, não importava se foi o único homem que a
beijou de verdade, não importava se ela nunca havia tido outro homem, ela era de longe o homem
mais bonito que Kate já havia visto. — Eu.. ah.. — Ele parecia enrolado tentando falar algo, então
como se recobrasse a memória, ela resolveu falar.

— Você tem que sair desse quarto imediatamente para eu me vestir e depois conversamos
— ela disse. — Por favor.
Ele apenas concordou com a cabeça e virou-se para sair dali, Kate o levou até a porta e
antes que ela pudesse abrir para que Thomas saísse, ela foi aberta, era Tracy e pela sua
expressão ela estava mais do que surpresa.

— Okay, isso é muito estranho — disse Tracy. — Eu não esperava encontrar minha colega
de quarto seminua com o meu pai — Tracy analisou Kate de cima abaixo e olhou com um olhar
interrogativo para Thomas.

— Oh, Tracy, não e nada disso que você imaginou — ela suspirou. — Seu pai veio te
procurar e como eu estava saindo do banho, pedi justamente para ele vir outra hora, mas já que
você chegou podem conversar lá fora enquanto eu me arrumo, já estou de saída.

— Isso, filha vamos até o CoffeStar — ele disse, puxando Tracy pelo braço. Antes que
pudessem sair da vista de Kate, o olhar dela cruzou com o de Thomas.

Kate fechou a porta e deixou escapar um suspiro de alívio, enquanto escorregava até
sentar no chão apoiada na porta, ela colocou as mãos na cabeça e se perguntou o que estava
fazendo. Os pais não a haviam criado para que se jogasse em cima do primeiro cara que visse e
ela com certeza não era esse tipo de mulher, mas com Thomas era diferente, mesmo sendo errado,
parecia certo. Ela suspirou, uma grande confusão havia se formado em sua cabeça. Apenas
levantou-se quando um bip indicando uma nova mensagem soou pelo quarto, ela caminhou até a
cômoda e olhou o celular.

Ainda preciso conversar com você. — Era uma mensagem do número de Thomas e ela sabia
o que deveria fazer. Evitaria ao máximo encontrá-lo para atrasar essa conversa, já bastava o
fora por mensagem que havia ganhado na noite passada, não precisava de mais um, só que dessa
vez, pessoalmente. Seria duplamente humilhante.

Como se eu já não estivesse me sentindo vadia o suficiente. — Pensou e se jogou na cama,


largando o celular de mão. — Esse homem só pode ser bipolar.

Kate até considerou a possibilidade de responder, mas achou melhor simplesmente evitá-lo.
Levantou, com pouca coragem, e foi se arrumar, não demorou muito, pois tinha aula e ainda
precisava almoçar em algum canto. Vestiu roupas grossas por causa do frio que fazia lá fora,
pegou uma bolsa com seus cadernos e enfiou o celular dentro. Saiu do quarto, trancando a porta e
foi andando pelos corredores de um modo apressado.

Depois que passou pelo portão da faculdade, caminhou pelo estacionamento até um
caminho que levava a lanchonete mais próxima. Enquanto andava ela percebeu um carro todo
preto, com vidros escuros, andando na rua à frente devagar, por um momento ficou preocupada,
mas depois lembrou-se de que não havia com o que se preocupar, os sequestros eram bem
específicos, apenas professoras, o carro continuou a andar devagar na estrada e depois acelerou
sumindo pela neblina. Ela suspirou e acelerou o passo para poder chegar mais rápido.

Chegando à lanchonete, viu algumas meninas da sua turma de Medicina, que passaram por
ela comentando algo sobre um novo professor gato. Isso não importava muito, ela já estava cheia
de professores gatos, mais um em sua vida não seria algo bom. Ela pediu apenas um sanduíche
com um suco e comeu rápido. Passou mais uns minutos na lanchonete e resolveu ir quando olhou
para o relógio e percebeu que estava atrasada para aula.

Kate correu pelo caminho e quando olhou para o lado viu o mesmo carro preto passando
diretamente por ela, isso a assustou, então correu ainda mais rápido. Passou pelo estacionamento
praticamente voando e pelo hall da faculdade também alcançado logo as escadas. Subiu as
escadas o mais rápido que pode e chegou a porta ofegante e olhando para baixo.

— Bem, senhorita Snow, acho que gostaria de me responder essa questão que eu passei no
quadro já que está aqui na frente. — Era Thomas e ele estava com um olhar mortal para ela.

Não disse? Esse homem é bipolar e agora é eu professor. — Ela pensou e fez uma careta
com isso.

Aquilo deveria ser um sonho muito bom ou um pesadelo dos piores, ela não fazia ideia do
que ele estava passando no quadro, mal conseguia enxergar o quadro de onde estava.

— Bem eu... — Ela ficou sem palavras, ainda ofegante, olhou para o professor com um
olhar de súplica como se pedisse para ele não fazer aquilo, mas claro que não adiantou.

— Imaginei que não saberia. Sente-se aqui na frente, para ver se aprende algo. — Ele foi
terrivelmente ríspido, Kate passou por ele de cabeça baixa e deixou-se sussurrar um "idiota", ela
queria voar no pescoço dele e o xingar de todos os nomes possíveis naquele momento.

O coração de Kate ainda estava acelerado e agora suas bochechas queimavam de


vergonha. Como ele podia ser tão idiota em alguns momentos e tão fofo em outros momentos? Isso
fez com que ela se amaldiçoasse mil vezes por sentir algo por aquele homem, justamente aquele
homem. Um professor que apenas parecia querer humilhá-la, depois daquela cena, não estava
conseguindo prestar atenção na aula, muito menos queria levantar o olhar para ele. Dane-se esse
negócio de orgulho, ela não era o tipo de mulher que se vingaria o encarando com um olhar de
ódio até o final da aula, só precisava sumir dali. A aula seguiu normal, no final das aulas todos já
estavam recolhendo seus materiais para sair e Kate recolhia os dela rapidamente para fugir de
Thomas, não queria ter "aquela conversa" com ele, não precisava ser mais humilhada. A dose de
humilhação diária dela já havia sido tomada com o ocorrido do início da aula.

— Bom, pessoal podem ir, por hoje é só isso — ele falou num tom de voz calmo e todos os
alunos se levantaram saindo como uma manada de elefantes atropelando tudo. Kate levantou da
cadeira, mas quando ia sair, ouviu a voz de Thomas. — Menos você Katherine, você fica. — Ela se
sentou novamente, mesmo contrariada. Pegou o celular e ficou mexendo nele para disfarçar,
faculdade deveria ser sinônimo de liberdade, no entanto ele a estava tratando como se estivesse
no jardim de infância.

Quando o último aluno saiu, Thomas parecia distraído, então Kate juntou toda a coragem e
dignidade que ainda lhe restava e se levantou seguindo até a mesa dele, preparada para o
confrontar.

— O que queria falar comigo, senhor Wolf? Será que não basta de humilhação por hoje?

— Por favor, Kate, chame-me de Thomas. Não respondeu a minha mensagem mais cedo.
Sabe que não pode me evitar para sempre, não é? — Ele se levantou e deu a volta na mesa indo
até ela. — Não quero te humilhar Kate, muito pelo contrário.

— Uau! Que modo de demostrar, hein? — ela falou ironicamente, no mesmo instante ele se
aproximou dela do mesmo modo ameaçador que havia feito mais cedo.

— Não duvide de mim, Katherine, eu geralmente consigo o que quero — ele falou e sorriu
de lado. Mesmo que aquilo soasse como ameaça, ela não conseguia ver dessa maneira, a única
coisa que conseguiu pensar foi: “Ele me quer?”, ela parou de pensar nisso e deu um passo para
trás para raciocinar direito.

— Não torne isso um joguinho — ela respondeu de um modo ríspido. — Qual é o seu
problema? Uma hora me trata super bem, outra hora me destrata e age como se eu fosse uma
qualquer insignificante que cruzou o seu magnífico caminho. Decida-se. — Ela precisou juntar toda
a coragem que tinha para falar aquilo e ele parecia surpreso.

— Eu já me decidi e quero você Katherine, pelas razões óbvias que um homem quer uma
mulher ou por outras razões que ainda não sei, mas quero — ele confessou e ela ficou congelada
num canto. Então era verdade, Thomas realmente a queria, mas seria apenas para diversão? Como
um homem quer pegar numa balada e no outro dia agir como se nada tivesse acontecido?
— Não sou esse tipo. Se você realmente pensa desse modo, não deveria estar me
procurando — ela falou de modo decidido. Ele poderia ser o homem mais lindo do mundo, poderia
ser o Christian Grey, mas ninguém a reduziria daquele modo.

— Porra! Você entendeu errado. Eu não sou esse tipo de homem, não quero me aproveitar
de você. Eu te quero. Simples assim — ele falou com raiva e voltou a se aproximar dela. — Eu
estou disposto a arriscar meu emprego, mas eu te quero.

— Não fale besteiras, Thomas, nos conhecemos a apenas, o quê, dois dias? Como pode me
querer? — ela perguntou e se afastou novamente, parecia um tipo de perseguição em que ela
tentava se afastar e ele se aproximava.

— Não há tempo para se sentir atração, Katherine. Diga-me que não te atraio também? —
ele perguntou de um modo ameaçador. “Sim, você me atrai muito”. Ela pensou, mas não
responderia isso.

— Eu preciso ir — ela apenas falou.

— Não pode fugir de mim para sempre, você também me quer e sabe como vejo isso?
Basta eu me aproximar para você ficar nervosa, seus olhos brilham ao me ver. Não tente esconder
— ele falou essa última parte ao ver que ela havia abaixado o rosto. Então tocou o rosto dela
fazendo a olhar para ele.

— Bem, posso tentar te evitar. — Ela afastou a mão dele, mesmo querendo que Thomas
continuasse a acariciar seu rosto, a lógica dele estava certa, de um modo errado, mesmo que fosse
difícil resistir a um homem como ele, o que convenhamos era como resistir a um irmão Salvatore da
vida, Kate decidiu que resistiria não sabia se conseguiria por segundos, minutos, horas, dias ou
meses, mas tentaria. — Você não sabe o que está falando. — Mentiu.

— Não vou me afastar de você e você sabe disso. — Ele deu um beijo na bochecha dela,
perto demais da boca. — Não consigo me afastar e não quero me afastar. É a primeira vez em
anos que consigo sentir uma atração como essa por alguém, não posso simplesmente ignorar isso. E
você também não.

Ela suspirou sem saber o que falar, ainda perplexa pela sensação que o seu beijo causara
nela.

— Pode ir — disse ele, não parecia satisfeito. — Eu vou continuar tentando. Eu te vejo mais
tarde?
— Sim. — Aquilo saiu quase sem querer, ela pôs as mãos na boca e tratou de se corrigir
logo. — Quer dizer, não. Não sei. — Estava confusa, como acontecia com frequência nesses dois
últimos dias.

— Perfeito. — Ele sorriu cinicamente. — Pense em tudo o que eu te falei.

— Não há o que pensar — ela respondeu e tratou de sair o mais rápido possível da sala
tentando não abrir um enorme sorriso, estava feliz e confusa ao mesmo tempo, uma proposta como
a dele era realmente tentadora. O que havia de errado em ficar?

“Tudo Katherine, está tudo errado”, ela respondeu em pensamento.

Desceu as escadas praticamente correndo, precisava ir até um lugar bem longe dali e para
poder pensar com mais clareza. Quando parou em frente ao estacionamento deu de cara com o
misterioso carro preto novamente, sentiu todo o seu corpo se enrijecer e preparou-se para correr
dali quando a porta se abriu revelando alguém que ela não esperava ver.
Capítulo Cinco
Thomas se sentia atrevido e contrariado, nunca havia agido daquele modo, um dia foi o
que bastou para aquela menina o enlouquecer e o beijo na noite anterior havia sido o gatilho final
para que tomasse uma atitude. Ele não queria ficar longe de Kate e pensar nela como algo
impossível o estava matando aos poucos. Não sabia se ela realmente queria algo com ele até
conversarem na sala de aula.

A menina estava nervosa e por mais que negasse ele sabia que ela também o desejava,
não sabia se isso seria um caso, ou até se namorariam. A única certeza que tinha era a de que
precisava de Katherine Snow na sua vida. Não importava quanto tempo durasse, precisava tê-la e
estava disposto a fazer de tudo para consegui-la. Ele não sabia bem o porquê dessa necessidade
e muito menos se preocupava com o pouco tempo que levou para decidir que a queria e no
momento pouco se importava se era sua aluna e que tipo de problemas tal atitude traria, era isso
que Kate causava, ele não conseguia pensar direito quando se tratava dela.

Por que ela tinha que ser logo a colega de quarto de sua filha? Isso era algo horrível e
bom ao mesmo tempo, tem algum álibi melhor que "Fui visitar minha filha"?

Fechou a sala e caminhou lentamente pelos corredores, sabia que o modo que havia agido
não era o certo. Kate tinha razão quando apontava suas indecisões, mesmo que ele ainda não
entendesse a razão para essas dúvidas. Depois de longos 19 anos sem, ao menos, se interessar
por alguma mulher, por que só agora? Para piorar estava agindo como um adolescente bobo
apaixonado perto dela. Parecia que ele tinha urgência daquela menina, mas então outra dúvida se
fez presente, e se depois que a conseguisse a magia fosse embora para ele e não para ela? A
última coisa que queria era magoá-la e sabia que estava sendo egoísta quando pensava em tê-la,
mas não conseguia evitar isso. O pouco que havia tentando evitar já demonstrava que precisava
tentar para ver se todo esse sentimento acumulado entre si iria embora e se ele conseguiria deixá-
la em paz.

Thomas atravessou o hall da faculdade correndo com a pasta em cima da cabeça, estava
nevando um pouco e o frio de início de noite já havia tomado o lugar. Chegou a ala masculina e
caminhou um pouco até encontrar o seu quarto, olhou para tudo aquilo, mas não via seu quarto ali,
o que estava em sua mente era aquele beijo no quarto de Kate.

Quarto da minha filha também, ele pensou. O que eu estou fazendo? Essa merda não
poderia ser maior do que é, uma aluna e ainda por cima com idade para ser minha filha. Pior de
tudo, amiga da minha filha. Eu devo ser o cara mais filho da puta do mundo nesse momento,
Thomas pensou e em seguida se jogou na cama soltando a gravata e puxando o celular do bolso.
Sabia que o que estava prestes a fazer não era certo, mesmo depois de ter-se amaldiçoado tanto
por querer Kate, ele estava prestes a mandar uma mensagem para ela, não daria brecha para
que a menina desistisse dele ou melhor para não começasse a tentar. Se achava no direito disso,
pois quando estava perto dela não conseguia raciocinar, então era mais do que justo que ela não
conseguisse também.

Quero te ver amanhã. — Digitou, mas hesitou um pouco antes de enviar, parecia errado,
mas ao mesmo tempo ele julgava ser certo. A confusão interna já estava enlouquecendo-o, ele
estava decidido e não desistiria. Enviou a mensagem, já ansioso por uma resposta, mesmo que essa
viesse de modo grosseiro. Segundos se passaram e ela não respondia, minutos e horas. Anoiteceu e
nada de Kate responder, ela o estava evitando de novo, Thomas se sentiu magoado, mas ela já
tinha dito que o faria e de certo modo ele estava preparado para essa rejeição. Não desistiria,
era homem que sabia o que queria e teria.

***

O quarto estava frio, era consequência de Thomas ter esquecido de ligar o aquecedor. Ele
se levantou e seguiu até o aparelho, ligando-o e em seguida se jogou novamente na cama, dessa
vez puxando o seu MacBook para ter algo com que se distrair. Começou a vagar pelas séries no
Netflix enquanto o Facebook estava aberto, ele não tinha muitas pessoas no aplicativo, alguns dos
seus colegas de trabalho, alguns amigos antigos e só. Nem a família estava entre os contatos, já
que desde a morte de Emily, todos haviam se afastado dele.

Não conseguiu mexer no computador por muito tempo, estava extremamente impaciente e o
tempo parecia se arrastar. Eram quase 22 horas quando resolveu ligar novamente para Kate, mas,
novamente, a ligação caiu direto na caixa postal e Thomas começou a ficar preocupado, era
estranho o sumiço repentino de Kate.

Desligou o computador e o colocou de volta na pequena mesa que ficava ao lado da


cama. Ele estava se segurando para não ir até o quarto dela, saber o porquê de ela o estar
evitando. Sabia que havia sido um completo idiota tratando-a daquele modo grosseiro e esse com
certeza era um bom motivo para ser ignorado. Para se livrar de toda a preocupação, decidiu que
iria atrás da menina em seu quarto, só para constatar se ela estava bem. Para disfarçar, ele diria
que foi verificar a filha.
Foi até um canto do quarto e pegou um casaco e vestiu juntamente com um cachecol. Assim
que abriu a porta, Thomas sentiu o frio da noite atingir seu corpo, já não nevava mais, mas ainda
estava frio e chovia um pouco. “Ainda bem que esse tempo acaba em poucos dias”, Thomas pensou,
ele torcia para que o bom sol voltasse.

Foi andando perdido em seus pensamentos pelos corredores, atravessou o campus que
estava extremamente sombrio e frio, olhou para os portões que ainda estavam abertos, ainda não
havia dado hora de fechá-los. Correu um pouco para tentar não se molhar com a chuva e logo
chegou a ala feminina, subiu os poucos degraus que separaram o primeiro e o segundo andar e
foi até o quarto de Kate, bateu três vezes de um modo forte, ele esperava ver longos cabelos
loiros quando a porta se abrisse mas ao invés disso, estavam ali os belos cachos ruivos de sua
filha.

— Oi, pai — ela falou olhando para ele com uma cara de confusa. — Está um pouco
tarde, né? — Ela esticou as mãos, segurando as do pai, para esquentá-las.

— Oi, filha, desculpa por aparecer essa hora. — Ele apressou-se em falar. — O meu sexto
sentido de pai estava apitando. E vim ver se estava tudo bem.

— Ah, está tudo ótimo. — Ela sorriu.

— Filha, você está sozinha? — A voz dele soava mais preocupada do que de costume, ele
tentou controlar a voz, porque talvez Tracy percebesse e poderia estranhar sua súbita
preocupação com a colega de quarto.

— Estou, Kate não voltou depois da aula... — ela falou, também parecia preocupada. —
Não sei para onde ela foi.

— Vou ficar aqui com você, certo? Até sua amiga chegar. Não é seguro ficar sozinha com
essa história de sequestrador. — Ele a interrompeu passando por ela e entrando no quarto, mesmo
sem ser convidado. Thomas não sabia se era coisa de pai, mas definitivamente havia algo a mais
incomodando Tracy. — Você já tentou falar com ela?

— Claro, pai. Vou fazer um chocolate quente para você — ela respondeu e depois
acrescentou. — O celular dela só cai na caixa postal.

— Deve ter descarregado — ele falou mais para tranquilizar-se do que para tranquilizar
a filha.

— Pode até ser, pai, mas eu fico preocupada com esse negócio de sequestrador de
professoras. Vai que ele resolve mudar de tipo e começar a pegar alunas. Kate está sozinha em
algum lugar lá fora e eu acho que não vou conseguir dormir até saber se ela está bem — Tracy
falou de um modo lindo, será que em pouco tempo as duas já haviam criado amizade? Tudo bem
que nesse mesmo período de tempo Thomas já havia criado um tipo de obsessão por ela, mas era
diferente. Ele havia criado essa obsessão por causa da semelhança que Kate tinha com a sua
facilidade mulher.

Mesmo que pudesse ser esse mesmo motivo que desencadeou a amizade de sua filha com
Kate, era mais intenso para ele. Tracy só havia visto a mãe por fotos, enquanto ele havia convivido
e amado Emily com todas as suas forças, mesmo de seu modo torto de amar. Thomas sabia que
tinha sido um idiota com Emily fazendo tudo que fez para ela. Também se culpava por sua morte,
como todos da família dela.

Talvez a vida tivesse dando a ele uma segunda chance. A oportunidade de ser o homem
bom para Kate que ele não foi para Emily. Se fosse realmente isso ele iria lutar para conquistá-la.

Thomas estava aflito, olhou mais uma vez para o celular e nada de Kate, tentou ligar e a
ligação foi diretamente na caixa postal. Caminhou até a cama dela e sentou lá, agarrando o
travesseiro que ainda tinha o cheiro dela. Como era bom é tranquilizador sentir aquele cheiro, O
perfume se parecia tanto com o de Emily que Thomas teve que segurar as lágrimas para não
chorar, se ele não houvesse sido tão idiota Emily estaria ali cuidando de Tracy. Nunca se perdoaria
pelo que aconteceu a mulher.

— Pai, o senhor está passando mal? Nós podemos... — Era Tracy, ela o assustou chegando
do nada.

— Não, não. Só preciso descansar — ele falou, mas a filha não pareceu convencida.

— Tudo bem, pai. — Tracy saiu e foi novamente até a cozinha.

O celular de Tracy estava em cima da cômoda, a tela dele se acendeu então Thomas o
pegou para ler o que tinha chegado. Uma nova mensagem.

Tracy, desculpe-me por não avisar antes. Meu celular descarregou e estou fora da cidade. Vou
ter que passar uns dias por aqui, ajudando um velho amigo. Que acho que já sabe quem é, né? Não se
preocupe, estou bem, depois ligue para ele. Nesse momento, está precisando de todo o apoio possível.
Eu vou tentar carregar meu celular e qualquer coisa você pode ligar nesse. Beijos Kate S.

"Um velho amigo" aquelas palavras passavam na cabeça de Thomas sem parar. Ela iria
passar uns dias fora, mas fazendo o que? Ele estava para ficar louco perdido em seus
pensamentos, se continuasse naquele quarto a filha acabaria desconfiando. Então ele resolveu
inventar uma desculpa qualquer para poder escapar de volta para o seu quarto.

— Tracy, estou indo embora. Acabei de lembrar que tenho uma aula a mais amanhã e
tenho que planejá-la — falou levantando da cama.

— Mas pai... — ela começou a falar, mas ele a interrompeu.

— Tenho certeza que você ficará segura. Tem aquele spray de pimenta aí? — ele
perguntou só para ter certeza de que a filha ficaria bem.

— Tenho dois cheios. Não vai me dar outro, não é? — Ela fez uma careta e ele tentou
sorrir.

— Confio em você filha. Se cuida. — Ele deu um beijo na testa dela antes de sair.

Bateu a porta com um pouco mais de força do que o necessário e ouviu um grito de
reclamação de Tracy. Decidiu que não se preocuparia com o sumiço de Kate, iria ignorá-la e fingir
que não tinha reparado quando ela voltasse.

Atravessou novamente todo o campus e foi até o seu quarto. Por mais difícil que fosse
tentaria dormir e ignorar o que estava acontecendo. Ele não tinha o direito de cobrar nada dela,
pois os dois não tinham nada. Por boas horas ele tentou colocar isso em sua cabeça, mas era difícil
aceitar tal condição.

Por fim achou melhor dormir, trabalharia normalmente no outro dia e conseguiria esquecer o
maldito beijo que havia dado em Kate.

***

Três dias, esse foi o tempo que Kate passou longe de Thomas.

Depois da breve discussão com Thomas na sala de aula, ela saiu nervosa e estava a
caminho do dormitório quando deu de cara com o mesmo carro preto que a havia seguido mais
cedo. De início ela estava com medo, mas logo a porta do carro abriu revelando John. Ou melhor,
Jonathan Moore, seu melhor amigo de infância. Eles não se viam fazia pouco mais de um ano,
desde que ele entrou para a faculdade. Kate só não desconfiava que era aquela faculdade.
Havia perdido totalmente o contado com ele. Eles eram vizinhos há anos e cresceram com uma
amizade forte entre seus pais e entre si.
Correu e abraçou o amigo, algumas lágrimas escaparam de seus olhos azuis enquanto se
apertava firmemente a ele. Sentia tanta falta da única pessoa que a tratava bem. Mesmo John e
Kate crescendo juntos, eles eram de mundos muito diferentes. Ele sempre foi lindo e popular, amado
por todos na escola. Enquanto ela era a esquisita que ninguém se atrevia a chegar perto. Mesmo
com o desprezo de todos, John nunca deixava de falar com ela ou de almoçar com a amiga
quando tinha oportunidade.

— Que saudade — ela falou e mais lágrimas escorrem pelo seu rosto.

— Também pequena. — Ele apertou-a firmemente. — Tantos desencontros.

— É tão bom te ver — falou e se desvencilhou do abraço para olhar o amigo.

Ele estava ainda mais lindo do que antes. Aquele corpo magro de menino tinha dado lugar
a um belo e sarado corpo de homem que deixaria qualquer mulher de queixo caído. Os olhos
estavam num tom de azul mais intenso e o cabelo parecia mais preto e sedoso do que antes. Como
sempre, ela se sentia o patinho feio perto dele.

— Uau! — ele falou assim que deu uma boa olhada na amiga. — Kate, você está muito
gata.

— Olha quem fala, não é?! — ela respondeu sem jeito.

— Eu estou falando sério. Como conseguiu mudar tanto em um ano? — ele perguntou,
ainda parecia abismado.

— Dinheiro. — Ela sorriu. John entendia bem, já que a sua família era quase tão rica
quanto a de Kate.

— Adorei a nova cor do cabelo — ele falou, encostando-se ao carro.

— Você também não está nada mal — ela zombou.

— Academia. — Ele sorriu. — Eu te vi outro dia, mas não tinha certeza se era você.

— Esse seu carro me dá medo — ela admitiu e os dois sorriram. — Era eu sim.

— Preciso da sua ajuda — ele falou um pouco mais sério.

— O que houve? — a menina perguntou preocupada.

— Minha mãe não está muito bem. Eu vou viajar, para vê-la, hoje mesmo, não quer me
acompanhar? Eu não sei se consigo sozinho — ele admitiu.

— Claro — ela falou e se apressou em dar outro abraço no amigo. — Vamos pegar
algumas coisas e podemos ir, ok?

Ele fez que sim com a cabeça e os dois subiram para o dormitório onde Kate ficava.
Chegando lá os dois tiveram uma surpresa.

— Espera, você é colega de quarto da Tracy? — John perguntou e parecia surpreso.

— Sou, por que? — Kate perguntou e quando o amigo sorriu, ela percebeu o que estava
acontecendo. — Não, John, não pode machucá-la.

Kate falou porque sentia certo carinho por Tracy e desde sempre John apenas ficava com
as mulheres e depois as dispensava. Todas de coração partido, ele nunca havia namorado na vida.

— Relaxa, pequena, dessa vez é sério. Eu realmente quero essa ruiva — ele falou e um
sorriso enorme surgiu em seu rosto. — Ela é diferente, estamos só ficando, mas eu quero levar
adiante. Só preciso criar coragem para isso.

— Finalmente, senhor Moore. — Kate zoou. — Fico Feliz por vocês — falou com
sinceridade.

Depois de pegar o que precisava para a viagem, eles foram até a lanchonete, mas ao
chegar lá John recebeu uma ligação urgente do pai e disse que precisava se apressar para ver a
mãe, como Kate já havia combinado de ir junto, simplesmente pegou os lanches e foi em direção ao
carro, ela não deixaria o amigo ir sozinho naquele estado de nervosismo. Eles estavam indo para
a fazenda dos pais de John, onde moravam fazia alguns meses. John ligou o som numa música
calma do Simple Plan. Kate sentiu que o amigo estava meio desconfortável ao seu lado e decidiu
tocar no assunto que tanto parecia incomodá-lo.

— O que aconteceu com ela? — Kate perguntou num fio de voz, havia juntado todas as
suas forças para fazer aquela pergunta.

— Há seis meses os médicos descobriram um tumor em seu cérebro, era para ser apenas
um tumor benigno. Tirariam e tudo ficaria bem, mas ao fazer outros exames descobriram que ela
estava com leucemia. Mamãe decidiu se afastar do agito da cidade e ficar na fazenda, papai
concordou em ficar lá e contratou alguns profissionais para ficarem 24 horas cuidando dela. —
Kate encarou o amigo enquanto ele contava, com o olhar fixo na estrada, mas Kate podia ver
lágrimas se formando nos olhos dele. — Eu soube só essa semana, ela pediu para esconderem de
mim, por que não queria me ver sofrer. — Nesse momento algumas lágrimas escorreram pelo rosto
de John e ele apertou firmemente o volante.

— Ei. — Kate enxugou a lágrima que corria pelo rosto do amigo. — Vai ficar tudo bem, eu
vou estar do seu lado.

— Eu sei que vai. — Ele tirou uma das mãos do volante e apertou a dela.

Era bom saber que tinha ali o amigo e que mesmo depois de tanto tempo os dois ainda
conseguiam confiar um no outro.

As lembranças daqueles três dias eram dolorosas para Kate, ela havia visto o estado da
mãe de John, que vivia cercada de médicos, não falava mais e estava numa cadeira de rodas. Ela
acompanhou todo o sofrimento do amigo e sofreu ao ver a dor dele. Houveram também algumas
discussões entre John e o Pai.

Naqueles três dias Kate não havia conseguido carregar o celular. Na pressa de arrumar as
coisas para a viagem ela havia esquecido o carregador e John também não havia levado o dele.
A diferença era que o dele teve bateria por umas horas mais que o dela.

Quando voltaram a Stanford, John a deixou em seu alojamento e teve que ir para o
apartamento onde mora, mas antes ele prometeu que passaria ali no dia seguinte para levá-la
para um passeio mais feliz.

***

Sentada em sua cama olhando para a tela do celular, Kate se perguntava o que faria.
Esperava que Thomas tivesse deixado várias mensagens, mas havia só uma do dia em que havia
sumido. Talvez aquele beijo não significasse tanto para ele quanto para ela. Era uma boba de
achar que ele havia sentido algo com o beijo. Para homens era normal beijar o tempo todo, ainda
mais para homens como ele.

Para algumas mulheres também, mas não para ela. Ela era o tipo de romântica incurável.
Acreditava solenemente em um romance perfeito, com direito a príncipe encantado e final feliz.
Mesmo que nunca houvesse tido nenhum romance. Só que era nova, tinha a vida toda pela frente
para poder construir a sua história. Um dia um dia ela sabia que o príncipe encantado chegaria.

Jogou o celular na cama e decidiu que esqueceria aquele beijo. Se não havia significado
nada para Thomas não significaria nada para ela. Ele agora era seu professor e nem ao menos
havia sentido falta dela na aula, mais um motivo para sentir-se uma idiota por ter saudades dele
nos dias que passou com John.

Caminhou até a cozinha e analisou a geladeira, precisava de algo bem gorduroso para
comer, fugir da dieta não faria mal algum. Na geladeira havia algumas barras de chocolate,
ainda bem que ela dividia o quarto com Tracy que era tão chocólatra quando ela. Pegou uma
barra de chocolate e abriu o congelador torcendo para ter sorvete ali.

Claro que tinha, ela pegou um pouco de sorvete e colocou num copo quebrando alguns
pedaços de chocolate e jogando dentro. Seguiu para sala e ligou a tevê em um canal onde
passava um filme romântico. Era a velha tática de: Se sua vida sentimental está uma merda,
coloque um filme triste e ferre ainda mais com ela.

Depois de vinte minutos assistindo o filme Tracy chegou e a julgar pelo sorriso radiante,
certamente estava com John. Nesse momento Kate sentiu um pouco de inveja dos amigos, queria
estar apaixonada. Não apaixonada de um modo ruim, onde só há sofrimento e sim de um modo
bom, onde a vida é colorida e feliz até nos dias mais sombrios.

— Menina, que deprê, hein? — Tracy brincou enquanto se jogava no sofá ao lado de Kate.

— Minha vida é uma merda. Em compensação esse sorvete está muito bom — Kate falou
gesticulando uma colher cheia de sorvete para amiga.

— Nesse frio? Você vai ficar doente. — Tracy fez um movimento com a mão como se
dispensasse o sorvete que a amiga estava oferecendo.

— O aquecedor está ligado — Kate falou como desculpa.

— Isso não é desculpa. — Tracy sorriu com a atitude da amiga. — O que está te
chateando? — perguntou e Kate pensou se contava ou não. Decidiu contar omitindo alguns fatos,
tipo que o cara era o pai dela.

— Eu sou uma idiota. — Começou bufando. — Eu beijei um cara, ou ele me beijou, sei lá.
Nós nos beijamos. Depois brigamos e nesses dias que passei fora ele não me procurou. Eu jurava
que tinha significado algo a mais e parece que me enganei — ela suspirou. — Não estou
acostumada com esse tipo de coisa, nunca tive um namorado ou ficante. Não sei como essas coisas
acontecem e muito menos como agir. O que sei sobre romances é o que eu leio nos livros ou vejo
nesses filmes deprimentes.

— Eu te entendo — Tracy falou e Kate revirou os olhos. — É sério. — Tracy deu um


pequeno empurrão em Kate. — Isso, com o John. Ele é o primeiro cara com quem eu me envolvo. Eu
às vezes não sei como agir, o que fazer, o que cobrar. Só que ele sempre parece ter a resposta
para tudo. No começo não acreditei que um cara como ele estava interessado por mim, pensei que
era alguma pegadinha por ser caloura. Agora eu sei que é real, só tenho medo de me machucar,
às vezes.

— Somos duas bobonas, né? — Kate perguntou abraçando Tracy. — Ainda vamos ser
muito felizes, eu sei que vamos. Eu vou, né? Porque você já é.

As duas continuaram conversando por um tempo até que Tracy convenceu Kate a sair, as
duas se arrumaram e foram até o Coff Star, beber algo quente dessa vez. Já estava no fim da
tarde quando decidiram voltar para Stanford, por ironia do destino assim que atravessaram os
portões, Kate viu Thomas e enquanto a amiga foi falar com o pai, a menina decidiu que o melhor
seria subir e ficar quieta.

Passou o resto do dia sem fazer nada e foi dormir cedo, não queria continuar pensando
bobagens.
Capítulo Seis
Kate estava em uma rua estranha, cheia de árvores sem folhas e troncos quebrados, como
se algum raio os tivesse atingido, ela olhou para os seus pés e viu lama, então andou tentando
procurar algum caminho para sair daquela floresta, olhou para o céu e a única coisa que via eram
nuvens nubladas, não havia sinal de luz ou vida naquele lugar.

Kate gritava, mas da sua boca não saia som algum, levou as mãos até o rosto e sentiu a
chuva cair sobre ela, depois olhou para o céu novamente e a chuva que antes era água, agora se
transformara em sangue. Olhou para os pés e a lama do chão havia virado sangue, também. As
árvores que haviam na floresta não estavam mais lá e em seu lugar tinham pessoas, várias pessoas
vestidas de preto, todas de cabeça baixa murmurando palavras que Kate não entendia.

— Kate... Kate... Katherine... Kate.. — O som de uma voz familiar chamava por ela, só que
não parecia ser naquele local.

Tudo começou a ficar claro novamente, Kate apertou os olhos e colocou as mãos sobre um
reflexo que vinha da janela, quando sua visão finalmente voltou ao normal, ela olhou para a ponta
da cama e lá estava John, ele parecia preocupado por um momento, mas logo a preocupação
desapareceu de seu rosto.

— Ei, gatinha — disse ele sorrindo — Estou te chamando faz um tempão. — Ele se afastou
da cama e ela sorriu. Em sua mente ainda vagavam algumas partes de seu esquisito sonho, nunca
havia ficado tão assustada com algo.

— Hummmm. — Ela se espreguiçou levantando da cama. — Oi, panda — ela sorriu


docemente, panda era um apelido que ela tinha dado a John quando eles ainda eram apenas
crianças, no começo o amigo havia odiado o apelido, mas depois pareceu se acostumar, tanto que
não mais brigava quando ela o chamava assim.

— Deu até tempo de dar uns amassos com a Tracy — ele falou com um sorriso de lado.
Kate revirou os olhos para o amigo, John sempre seria John.

— Me poupe dos detalhes — ela falou levantando-se da cama.

— Se arruma, eu preparei um monte de coisas legais para fazermos juntos hoje — ele
falou, empurrando-a para o banheiro. — E não demore ou eu entro e te arranco de lá. — Ele
levantou as sobrancelhas e ela riu.
Entrou no banheiro e ligou o chuveiro, esperando a água ficar morna, lá fora
provavelmente estava frio. Fez um coque desarrumado no cabelo loiro, não queria molhá-lo, já que
não teria tempo de secá-lo e ficar com os cabelos rebeldes o dia todo não era uma opção
aceitável. Após alguns minutos no banho, voando em seus pensamentos, Kate começou a ouvir a voz
de John, chamando-a novamente, ele parecia zangado. A loira simplesmente não sabia que já
haviam passado tantos minutos.

— Katherine Snow, saia desse banheiro agora ou vou entrar e te puxar para fora. — Ela
ouviu entre o barulho da água que caia do chuveiro, ignorou o chamado dele e demorou mais
cinco minutos até sair de lá.

— Pronto, criatura irritante — ela falou atravessando o quarto enrolada em uma toalha.

— Vocês mulheres demoram um século para tomar banho e se arrumar. — John reclamou.

— Meu Deus, o que eu fiz para merecer um amigo tão dramático? — Ela revirou os olhos e
sorriu.

— Vista-se logo por que o dia vai ser longo — ele falou.

— Eu me visto quando você sair do quarto. — Ela deu língua para ele, um gesto muito
imaturo para a idade dela, mas podia ser imatura perto do amigo.

— Já nos vimos assim várias vezes antes. — Ele sorriu de lado.

— Nós tínhamos 5 anos. Anda logo, John, vai lá para fora. — Ela revirou os olhos.

— Tudo bem, mas se demorar mais que quinze minutos entro de novo para te puxar. Estou
esperando no carro — ele falou enquanto andava até a porta.

Ela ouviu uma porta bater atrás de si e finalmente caminhou até a cômoda. Procurou uma
roupa quentinha, gostava do frio, mas às vezes era irritante ter que usar tanta roupa e mesmo
assim congelar. Optou por uma meia calça preta quentinha com uma vestido vermelho de mangas
longas que ia até metade da sua coxa, pegou luvas pretas e um sobretudo simples também
vermelho. Calçou botas baixas com salto grosso e soltou o cabelo. Não quis passar muita
maquiagem, então optou por apenas o básico para se estar apresentável.

***

Mesmo sendo 10:00h da manhã o tempo estava fechado, em algumas frestas entre as
nuvens ainda dava para ver um raio de sol tentando sair. Ela caminhou até o carro preto e
assustador, onde John se encontrava ao lado.

— Ressuscitou dos mortos? — ele disse rindo e indo abrir a porta para ela.

— Com esse carro você que parece ter vindo do inferno, mesmo com essa aparência de
anjo. Se bem que, Lúcifer também era um anjo e veja no que deu — ela brincou e ele sorriu.

— Anda cheia das graças, não é? — John perguntou de modo sarcástico.

— Claro eu... — Kate parou ao ver uma cena mais do que inesperada, Thomas e uma
morena, linda, a mulher parecia ser um pouco mais velha do que ela. Olhava para ele com paixão
e Thomas sorria serenamente para ela, pareciam até dois namorados. Talvez um casal. Kate sentiu
o peito doer com tal pensamento. Menos de uma semana e isso acontecia, não que ela estivesse
querendo algo mais sério, definitivamente não era isso. Então, por que se sentia tão traída ao ver a
cena?

Kate ficou paralisada os observando enquanto a mulher corria a mão pelo braço de
Thomas, eles pareciam estar em uma conversa animada. O que eu esperava?! Ele é homem e
homens fazem isso o tempo todo. Na verdade, ela não sabia bem, não tinha experiência nenhuma
com relacionamentos. Relacionamento. Essa palavra pairava sobre a memória dela e ela nem ao
mesmo sabia o porquê disso. Estava tão confusa que mal conseguia raciocinar direito. Era errado
sentir ciúmes de alguém que não lhe pertencia, então por que ela sentia?

— Kate — disse John pousando a mão no ombro de Kate, só nesse momento ela percebeu
o quanto ridícula a cena era, ela parada como uma barata tonta secando o casal. — Vamos? —
ele perguntou quando não obteve resposta dela. Kate sacudiu a cabeça tentando afastar os
pensamentos, uma tentativa um tanto quanto falha.

— Oh... Sim, vamos. — Ela voltou sua atenção para John e sorriu tentando tranquilizar o
amigo quanto aquela situação, o seu olhar em John não durou muito tempo, Thomas tinha um tipo
de magnetismo que fazia ela querer olhá-lo. Ela o encarou enquanto entrava no carro e ele
também estava a encarando, os olhares dos dois se cruzaram e Kate sentiu seu coração acelerar, o
quão errado aquilo poderia ser?! O olhar de Thomas passou de Kate até John e o olhar
indecifrável de antes havia se tornado um olhar interrogativo. Ela imaginou que aquele olhar
significava "o que você está fazendo?" Ela não entendia como ele a fazia se sentir assim, devia ser
o fato dele ser mais velho ou de ser a primeira vez que tinha aquele tipo de sentimento por
alguém, mas Thomas a confundia de um modo impressionante.

John fechou a porta e deu a volta no carro rapidamente entrando no lado do motorista, ele
sorriu para Kate enquanto colocava uma música animada no som, era a cara de John fazer isso
quando percebia que ela estava para baixo. “Meu Deus, está tão na cara assim?”, ela perguntou
para si mesma em sua mente. Claro que estava, Thomas abalava todas as suas estruturas. Depois
de três dias longe ela achava que aquilo passaria, culpa daquele maldito beijo que havia
implantado esperanças em seu coração. Kate abaixou a cabeça tentando não chorar, não sabia
porque estava tão emocional deveriam ser suas regras chegando. Respirou fundo enquanto uma
lágrima escorria pelo lado esquerdo de seu rosto, apressou-se em enxugá-la antes que o amigo
percebesse. Infelizmente, foi em vão.

— Ei, o que isso? — John pôs a mão no rosto dela e a fez olhar diretamente em seus olhos,
ela sentiu-se envergonhada com a situação. — Você quer me contar o que aconteceu? — ele
perguntou de modo doce.

— Eu não sei o que aconteceu — ela confessou e sentiu mais algumas lágrimas escorrerem
pelo seu rosto. — Eu estou tão confusa.

— Vocês tiveram algo? Não me diga que vocês...

— Não, isso não — ela falou um pouco envergonhada.

— Ah! — ele exclamou em alívio. — Aquele é o pai de Tracy, não é? — ele perguntou.

— Sim, por favor não comente com ela — suplicou.

— Não comentarei. Só quero que você me conte o que aconteceu — ele insistiu novamente.

— Nós nos beijamos, foi o meu primeiro beijo e senti algo estranho. Algo que nunca havia
sentido. Depois disso tivemos uma conversa ainda mais estranha e eu estou confusa. Quando estou
perto dele me sinto tão irritada e ao mesmo tempo tão realizada. Ele é a pessoa mais irritante que
já conheci na minha vida, mas me faz rir com seus comentários desnecessários e faz com que me
sinta especial. Porém, acho que ele não sabe que faz isso. — Ela despejou rapidamente, era isso.

— Você gosta dele! — John afirmou.

— Eu não sinto nada por ele. Só o acho gatinho — ela falou tentando se explicar, Kate
sabia que isso não era verdade. — E olhe para mim, John, ele nunca se interessaria por mim —
falou e deu um riso irônico.

— Eu te conheço melhor que a mim mesmo, Katherine Snow. — Ele beijou-a no rosto e a
abraçou, ela se acolheu em seus braços enquanto ouvia o que ele tinha para dizer. — Você se
subestima demais às vezes. Você é linda, encantadora e inteligente, qualquer pessoa que disser o
contrário é um idiota. Não tem como não gostar de você, Kate. — Ele sorriu e ela o abraçou ainda
mais forte.

— Obrigada, John, você é a melhor pessoa que existe — ela falou e se afastou dele para
enxugar as lágrimas.

— De nada, loira. — Ele piscou e ela finalmente sorriu de modo sincero.

Ao mesmo tempo que John ligou o carro o celular de Kate tocou com uma nova mensagem.

Kate, precisamos conversar, à sós de preferência. — A mensagem era de Thomas, ela ficou
surpresa ao receber aquilo e mais uma vez seu coração acelerou. Ela queria ter forças para falar
que não tinham nada o que conversar e queria mandá-lo voltar para a namoradinha, mas não
tinha. Precisava conversar com ele, precisava entender o que era tudo isso que estava
acontecendo.

Ela apertou o celular e hesitou um pouco antes de começar a escrever uma resposta. Mesmo
que fosse difícil admitir ela queria muito encontrá-lo. Deslizou os dedos sobre a tela do aparelho e
apertou em responder, digitou vagarosamente a mensagem. Suspirou e pensou mais um pouco
antes de responder, entenderia tudo o que estava acontecendo. Finalmente apertou enviar.

Encontre-me amanhã, depois da aula no meu quarto e de Tracy — ela suspirou e olhou
novamente para Thomas, que agora se encontrava sozinho olhando fixamente para o carro, ela
sabia que ele não poderia vê-la pelos vidros escuros, mas continuou encarando os olhos dele. John
deu partida no carro e finalmente começou a deixar o estacionamento.

— Esse professor me assusta. — John fez uma piada. Realmente o olhar de Thomas estava
no modo matador.

— Você me assusta. — Ela retrucou, de início aquilo saiu de um modo grosseiro, nem sabia
o motivo de estar defendendo Thomas, ela sorriu para disfarçar e em seguida beijou a bochecha
de John. — E então o quê de tão espetacular você preparou para nós? — Ela mudou de assunto
imediatamente, pelo resto do dia só queria esquecer isso tudo e se divertir.

— Para nós, não! — John afirmou e em seguida fez uma pausa dramática. — Para você.
— Sorriu daquele modo irônico.

— O que? Ah, vai, conte-me. — Ela sentiu-se ansiosa, mas John não falaria tão facilmente,
ela conhecia o amigo.

— Calma que logo logo chegaremos lá. — Ele fez mais suspense e ela suspirou
pesadamente ao lado dele.

— Você não vai me contar, não é?! — ela falou.

— Não mesmo. — Ele sorriu.

— Pois bem, se eu tiver um ataque de ansiedade e morrer, você vai sentir culpa para
sempre — ela falou, cruzando os braços.

— Quem está sendo dramática agora? — ele perguntou e sorriu. Ela não conseguiu evitar
e sorriu também.

Depois que saíram totalmente de Stanford, John dirigiu até o CoffStar, mas não a deixou
descer, foi sozinho até o interior da lanchonete, quando voltou estava com dois copos de
cappuccino. Entregou um a Kate e foi bebendo o outro. Ele pegou uma estrada que a menina não
conhecia ainda e depois de mais 15 minutos chegaram a uma Vila, deveria ser uma vila
universitária, já que as casas eram praticamente iguais. Ele parou o carro na primeira rua e
encarou Kate.

— Isso é algum tipo de sequestro? — ela brincou.

— Se fosse, você já estaria amarrada. Venha comigo. — Ele desceu do carro e deu a volta
abrindo para ela, puxou-a pela mão e a arrastou até a frente de uma casa vermelha, que Kate
julgou ser uma gracinha.

— Olha só, John, se for invadir uma casa não me arraste junto. Agora nós dois somos
maiores de idade e da última vez não deu muito certo — ela falou lembrando-se do dia em que
ela e John invadiram uma casa abandonada que havia no final da rua em que moravam, um dos
vizinhos havia estranhado o barulho é chamado a polícia.

— Não é nada disso, sua boba, entra logo — ele falou, assim que abriu a porta.

— E o que é então? — ela perguntou, ainda com receio de entrar e algum alarme
disparar.

— Eu falei com seus pais e eles decidiram que você já é madura o suficiente para morar
sozinha e então eles compraram essa casa para você, fica perto da faculdade, não é lá essas
coisas, mas eles já a decoraram. — Kate piscou várias vezes até acreditar no que estava ouvindo
do amigo, uma casa, esse era o presente mais caro que os pais haviam dado a ela até o momento.
Isso não era tudo, esse voto de confiança deles era ainda melhor do que a casa em si.

— Oh, John. — Ela o abraçou forte, aquilo era perfeito. — Isso é bem mais do que eu
mereço — ela falou com emoção. — Obrigada.

— Não agradeça a mim, agradeça ao tio Snow. Eu apenas joguei um verde e isso me dará
passe livre para o quarto de Tracy, sem você para atrapalhar! — ele falou e ela deu um tapa em
suas costas.

— Idiota. — Murmurou.

— Entre e veja se gosta — ele falou, abrindo espaço para ela.

A casa era certamente maior por dentro do que parecia por fora. Havia uma sala, já
mobiliada com um sofá bege de canto, duas cadeiras estilo poltrona na mesma cor, uma televisão
presa a parede e embaixo dela um rack. Havia ainda alguns enfeites que certamente eram coisas
da mãe de Kate, era a cara dela fazer algo assim. Um tapete redondo, marrom, estava no meio
da sala, mesmo o espaço sendo pequeno, tudo havia se encaixado perfeitamente.

Ainda na sala, perto da parede havia uma mesinha com um vaso de flores. Kate caminhou
até a cozinha, era toda moderna, havia uma mesa redonda de quatro lugares na cor branca. Um
conjunto de armários brancos, ocupando toda uma parede. A geladeira era um sonho, prata de
duas portas, bem espaçosa e já completamente abastecida, o fogão era um cooktop e ficava
sobre a bancada e seu forno era separado, também preso a bancada. Como na sala, o local
também estava completamente decorado, tudo de modo muito organizado. Kate olhou maravilhada
para aquilo tudo. A casa tinha dois quartos, ela entrou no primeiro, que estava mobiliado
exatamente do mesmo modo que o seu antigo quarto na casa dos pais. Uma cama box enorme com
uma cabeceira marrom com branca, um guarda-roupas na mesma cor, uma mesinha para estudos
com um computador e uma televisão na parede. No canto do quarto havia um banheiro. Era
pequeno e simples, totalmente branco.

Saiu do quarto e passou para o outro, a decoração era mais básica, mas o quarto também
tinha um banheiro próprio. Entre os dois quartos existia mais um banheiro. Ela caminhou em um
pequeno corredor até uma porta e quando abriu, deparou-se com um jardim, morto por causa da
neve, no final, uma churrasqueira feita de tijolos, uma mesinha de jardim com duas cadeiras e um
balcão.

Aquilo era muito mais do que Kate precisava, os pais como sempre haviam exagerado, mas
isso era bom.

— Eu acho que essa casa merece uma festa para inauguração — John apareceu do nada,
assustando-a. — Eu posso cuidar das bebidas e de convidar as pessoas, como estudo aqui a mais
tempo conheço o um pessoal legal e animado e todos já voltaram das férias assim como eu — ele
falou todo animado.

— Não sei se isso é uma boa ideia, não sou boa com festas — Kate falou, não gostando
muito da ideia do amigo.

— Mas eu sou e por isso vai ser a melhor festa de todas. — Ele sorriu. — Vamos, eu te
ajudo a trazer suas coisas para a casa — ele falou puxando-a para sala. Kate não queria se
mudar sem avisar Tracy, mas estava ansiosa para se instalar na casa.

— Eu não estou concordando com essa festa, hein? — Ela cruzou os braços e franziu a
testa.

— Eu ainda farei você mudar de ideia. — Ele piscou e ela revirou os olhos.

— Aceito a ajuda com a mudança. Não vejo a hora de estar aqui novamente — Kate falou
animadoramente, teriam o dia todo para aquilo.

— Então vamos. — Ele a puxou até o lado de fora, Kate trancou com cuidado a casa e
desceu os três degraus de escada correndo para chegar ao carro de John.

Ela entrou no carro, em seguida os dois saíram e foram até o campus buscar tudo de Kate,
por sorte quando chegaram no quarto a menina lembrou-se que havia guardado algumas caixas e
que poderia colocar as coisas lá. Enquanto John pegava algumas coisas e enfiava nas caixas Kate
fazia novamente a mala e ao terminar tudo ela escreveu uma carta e deixou para Tracy, era um
modo antigo, mas perspicaz de explicar o que aconteceu. Quando terminaram de colocar todas as
coisas no carro de John já passava do meio-dia, eles resolveram ir até um restaurante e
almoçaram lá.

Ficaram mais alguns minutos, apenas conversando no restaurante e foram novamente para
a casa nova de Kate. John e ela passaram algumas horas lá organizando tudo. Pouco antes de
escurecer tudo já estava pronto. John decidiu que era hora dele voltar para o seu apartamento,
perguntou se Kate ia ficar bem e quando ela respondeu que sim, ele ficou aliviado e foi embora,
disse que no dia seguinte a levaria para faculdade, já que o carro dela havia ficado lá.

***
Aquela casa era linda, confortável, mas Kate iria sentir falta de Tracy e de seu jeito
atrapalhado e de seu pai também, mesmo que fosse difícil admitir. Ela gostava de toda a
implicância dele e não o veria mais com tanta frequência como antes, isso poderia ser bom para
ela esquecê-lo ou ruim por que de algum modo ela não queria esquecer. Kate se jogou em uma
das cadeiras na sala e afundou em seus pensamentos com o celular em mãos, ela olhava para o
contato dele e sem querer, ou talvez por querer mesmo acabou ligando.

— Kate, tudo bem? — A voz dele soava como se estivesse dormindo, mas ainda era cedo.
Ela ficou nervosa, não sabia o porquê de ter ligado e não conseguia desligar. — Kate? — ele
perguntou de novo e finalmente ela conseguiu falar algo.

— Tudo, eu te acordei? — perguntou ainda com medo de entrar no assunto que queria.

— Não, não se preocupe — ele respondeu de um modo meio grosseiro, parecia bravo com
algo, talvez pelo fato dela ter saído com John. Só que ele não poderia julgá-la, afinal estava com
aquela mulher e ela o alisando. Kate sentiu o rosto ferver de raiva ao lembrar da cena e se eles
fossem namorados? Ela era a errada da história, a outra. Ela precisava colocá-lo contra a parede
e dizer de uma vez por todas que ele precisava se afastar e que não queria ser amante de
ninguém. Com um surto de coragem ela finalmente falou.

— Thomas, eu preciso conversar com você, é algo sério, pode me encontrar agora? — ela
perguntou, a voz não saiu tão confiante quando ela esperava.

— Posso, em seu quarto? — A voz dele agora parecia temerosa.

— Não, não estou mais lá. Estou em uma casa na Vila universitária — ela afirmou.

— Na casa de seu amigo? — A pergunta tinha um tom acusador, Kate fantasiou por um
momento que ele poderia estar com ciúmes, mas logo descartou a opção.

— Não, nada disso. — Ela não tinha certeza do motivo que estava se explicando e se
sentiu assustada com isso. — Minha casa — ela completou.

— Tudo bem, eu vou. — O coração de Kate pulsava forte em seu peito, como simples
palavras, mesmo ditas de um modo meio grosseiro, conseguiam fazer aquilo com ela? Ela não
sabia, mas não gostava desse sentimento novo. — Pode me passar o endereço. — Ela ficou
confusa por um momento, ainda nem sabia o endereço de sua casa.

— É a terceira casa da primeira rua, não tem erro. Ainda não decorei o endereço — falou
do modo mais seguro que conseguiu.
— Ok, não demorarei — ele falou por fim e desligou.

Kate se sentia nervosa, não sabia como agir. Esperava que a conversa esclarecesse tudo,
não poderia ficar se envolvendo com o seu professor. O mais confuso é que queria estar se
envolvendo com ele, era tudo tão confuso que ela mal conseguia pensar direito. Ficou ali jogada no
sofá por um tempo até decidir tomar um copo d'água para se acalmar.

— Não é como se eu nunca tivesse visto ele — ela falou alto para si mesma. — Nossa eu
estou horrível — ela exclamou ao analisar o reflexo no espelho da sala.

Kate se arrumou, sem saber porque se sentia tão nervosa, não era como se fosse um
encontro, mas queria que fosse. Alguns minutos se passaram e o nervosismo aumentou. Ela tomou o
remédio para ansiedade, não queria desmaiar antes mesmo de falar tudo o que queria para ele.
Será que ele iria? Talvez ela tenha sido muito precipitada em chamá-lo até sua casa e talvez ele...
Ela ouviu o barulho da campainha e correu para abrir, dando uma olhada rápida no espelho para
ver se estava bonita.

Antes de abrir a porta ela olhou pelo olho mágico, suspirou e arrumou novamente o cabelo.
Quando julgou que estava bem decidiu abrir.

— Oi — ela falou timidamente.

— Oi — ele respondeu a encarando.

— Entra. — ela abriu espaço para que Thomas entrasse e em seguida fechou a porta,
quando se virou para ele e começou a falar, foi surpreendida. — Thomas, eu.. — Ele a agarrou e
beijou de modo sedento, inicialmente ela ficou assustada e não retribuiu o beijo, mas logo ela
acalmou. O toque macio dos lábios de Thomas nos seus fazia com que se sentisse no céu, sua língua
procurava a dela e uma de suas mãos apertava sua cintura com força, transmitindo um desejo
ardente. Quando o beijo acabou, ela ficou encarando ele, meio atordoada pelo que aconteceu,
mas logo conseguiu falar.

— Eu, preciso conversar com você — ela disse ainda tentando recuperar o fôlego perdido
durante o beijo.

— Eu também preciso. — Ele a beijou de novo, dessa vez ela não recusou, mesmo sabendo
que era errado aceitar.

— Você precisa parar de fazer isso! — ela exclamou assim que eles pararam de se beijar.
— Você não gosta? — ele perguntou de modo irônico e sorriu de lado. Ela ficou sem
palavras enquanto observava o sorriso dele.

— Não... Quer dizer sim. Não sei — respondeu confusa. — Merda! Para de me deixar
confusa.

— Aí, já não é culpa minha. — Ele levanta as mãos e sorri e ela suspira pesadamente de
raiva.

Kate saiu andando até a sala e se jogou no sofá, já havia esquecido tudo o que queria
falar. Ele sentou-se ao lado dela, um pouco perto demais. Kate juntou toda a coragem que tinha
para despejar algumas palavras sobre ele.

— Por que você está brincando comigo? Não acha que já chega desse maldito joguinho de
sedução, não quero ser uma amante. Você tem que parar com isso, chega desses beijos, chega de
me confundir. De ser gentil uma hora e depois virar um completo idiota, quero que você decida o
que quer ser, Thomas. Posso ser nova, mas não sou nenhuma criança e definitivamente não gosto de
brincar — ela falou com raiva e mágoa, ainda pensando na mulher morena que estava com ele
mais cedo. Sim, ela estava com ciúmes. Não havia porque dizer que não já que ela não poderia
esconder a verdade de si mesma.

— Eu não estou brincando, Kate. Eu só não sei o que eu quero direito. Faz muito tempo que
não sinto algo parecido e você despertou isso em mim do nada. Sinto muito que seja um idiota às
vezes, isso é um modo de me defender desse sentimento. Querer você por perto é tão doentio e
egoísta da minha parte, mas eu simplesmente não consigo evitar — ele falou e puxou uma das
mãos de Kate para a sua e a apertou.

— Não consigo acreditar em você, por que deveria? O que vi mais cedo fala mais do que
muitas palavras que você me disse. Eu espero que decida o que sente e me deixe em paz — ela
falou, enquanto uma lágrima teimava em escorrer pelo seu rosto. Merda de TPM. Ela pensou e
revirou os olhos mentalmente.

— Mais cedo? — ele perguntou confuso e como se entendesse o que ela tinha dito
continuou. — Você acha que eu e a Kristy estamos namorando? Não! Isso é um engano terrível. Ela
é apenas uma amiga.

— Eu não ligo! — ela gritou, sabia que aquilo não era verdade. — Você faz o que quiser
da sua vida — ela falou e puxou a sua mão da dele.
— Escute-me, Kate. — Ele colocou a mão no rosto dela, fazendo com que ela sentisse o seu
coração amolecer com tal gesto. Odiava ser tão vulnerável em relação a Thomas. — Eu não
estaria aqui se tudo que estou dizendo não fosse verdade, eu gosto de você. Não sei se isso
parece meio precipitado ou se estou indo rápido demais. O problema é que senti algo diferente
desde a primeira vez que te vi, quero que me dê uma chance, Kate. Eu posso ser um homem
quebrado, posso ter muitos defeitos, mas eu preciso dessa chance. — Ela congelou ao ouvir
aquelas palavras e toda a sinceridade que elas transmitiam. Ficou olhando para os olhos de
Thomas, ela também o queria, queria dar essa chance a ele, mas tinha medo do que poderia
acontecer se o fizesse. — O que me diz? — ele perguntou num tom suplicante.

— Eu não quero me magoar, Thomas, eu nunca passei por isso antes, não sei como funciona
e tenho medo desse sentimento todo. Tem dias que você me fez sentir mais do que qualquer pessoa
que já se aproximou de mim. Eu estou tão confusa, não gosto de me sentir vulnerável e estar sem o
controle das coisas. Eu me sinto assim agora. — Ela desabafou, sabia que queria dar uma chance
a ele, mas não queria ignorar seus receios.

— Eu também tenho esses medos, Kate. Eu não namoro alguém desde que a minha mulher
morreu e não achei que fosse gostar de alguém para isso novamente. Perto de você eu perco a
razão, não consigo pensar direito, acabo sendo impulsivo e fazendo coisas que nunca fiz. Só que
longe de você eu me senti um trapo, não consegui me concentrar em nada e mal consegui dormir,
preciso de você Kate. Fica comigo? Vamos tentar, você pode chutar a minha bunda se eu fizer
merda, mas por favor me dê uma chance — ele falou e os olhos dela marejaram.

— Eu fico — ela falou baixo, quando olhou para Thomas, ele estava tão surpreso que ela
sentiu vontade de sorrir. — Eu te dou essa chance, Thomas, eu dou essa chance a nós dois — ela
suspirou antes de continuar. — Eu não me importo se isso vai durar minutos, horas ou até anos. Eu
quero você e vou aproveitar ao máximo o tempo que pudermos ficar juntos — ela falou decidida,
mais para si mesma do que para ele. Tinha chegado a hora de lutar pelo que queria, a hora de
arriscar e talvez quebrar a cara. Ela estava se sentindo corajosa e pela primeira vez não queria
pensar no futuro, nos problemas ou no que os outros iriam pensar.

— Deus, como eu esperei por essas palavras. — Ele apertou a mão dela e sorriu — Eu
preciso de você. — Ele deu-lhe um breve selinho.

— Eu também preciso de você. Como nunca achei que precisaria de alguém.


— Você pode me chamar de louco por dizer isto, mas acho que estou gostando de você
Kate — ele falou. Ela ainda não sabia o que responder, gostava dele, mas era cedo para afirmar
isso em voz alta. Como ela não se manifestou ele continuou. — Leve o tempo que precisar para se
acostumar com isso. — Ele sorriu e ela agradeceu por isso.

Thomas a beijou de um modo intenso, com paixão e Kate teve a certeza de que era ali que
queria estar, nos braços dele. Não importava se iria se machucar, nada mais importava. Ela não
sabia bem que envolvimento eles tinham, mas qualquer coisa estava boa, só precisava estar do
lado dele.

— Eu preciso conhecer você — ela falou depois que o beijo foi interrompido.

— Como num jantar? — ele perguntou sorrindo.

— Também, mas agora. Quero que me fale coisas sobre você — ela pediu.

— Falo tudo o que quiser saber — ele falou com sinceridade.

— Aonde você nasceu? Quantos anos tem? Qual o nome dos seus pais? Comida preferida?
— ela disparou.

— Opa! Calma. — Ele sorriu. — Eu nasci em Phoenix no Arizona, tenho 38 anos e a minha
comida preferida é lasanha. Gosto de escutar rock, mas não metal. Mudei-me para Stanford com
20 anos, quando Tracy tinha 1 ano e desde então trabalho aqui — ele falou e sorriu, Kate não
conseguiu deixar de reparar que ele tinha pulado a parte dos pais, mas deixaria passar. Talvez
fosse um assunto delicado. — Sua vez. Conte-me um pouco sobre você.

— Tudo bem, nasci e cresci em Needles, aqui na Califórnia mesmo. Tenho 21 anos e por
mais incrível que pareça a minha comida preferida também é lasanha. — Ela sorriu e ele também.
— Você acha que isso vai dar certo? — ela perguntou apreensiva.

— Eu torço para que dê. — Ele a abraçou e ela sentiu-se mais segura.

— Eu também — ela sussurrou.


Capítulo Sete
Thomas permaneceu no sofá com a cabeça de Kate em seu colo e enquanto acariciava o
seu cabelo, vendo-a sorrir timidamente, ele só conseguia pensar em como era bom o sentimento de
tê-la consigo. Quando olhava dentro de seus olhos sentia que nada mais importava desde que
estivessem juntos. Era estranho sentir-se daquele modo, eles se conheceram fazia pouco tempo, mas
parecia que se conheciam há anos. O que viria depois ele não sabia, mas tinha certeza que não ia
aguentar ter que ficar com ela somente escondido. Não era certo com ela e muito menos com ele.

Cada vez que ele olhava para aquele rostinho de anjo que ela tinha, sentia-se egoísta por
não conseguir ficar longe dela e culpado por ter que fazê-la passar por isso, se eles tivessem se
conhecido em outro lugar tudo poderia ser diferente. Ela merecia mais do que isso, merecia ter
alguém ao seu lado a todo momento e ele certamente estaria com ela sempre que pudesse, mas
desejava também poder mostrar a isso a todos. Sair gritando aos quatro cantos que estava com
Katherine Snow, aquela menina havia fodido completamente a sua mente e ameaçava a entrar em
seu coração.

Era estranho, Kate e Tracy tinham praticamente a mesma idade e no entanto, Thomas iria
surtar se visse a sua filhinha com algum aproveitador. Entretanto pensar em nele com Kate não
parecia estranho mesmo com a diferença de idade, eram 17 anos de diferença, isso não era
qualquer coisa. Ele imaginava o que o pai de Kate diria se soubesse do envolvimento dos dois,
provavelmente surtaria e acabaria brigando com Thomas, exigindo que ele se afastasse de sua
filha. Thomas o entenderia, agiria do mesmo modo se fosse a sua filha, mas não seria capaz de se
afastar de Kate. Ela trazia a sua vida tudo de bom que a muito tempo ele não conseguia sentir.

Era estranho como poucos minutos perto dela já eram o suficiente para mudar o humor de
Thomas. Kate tinha um tipo de alto astral contagiante e mesmo quando estava como naquele
momento, quietinha, quase dormindo, ela deixava as pessoas ao seu redor felizes. Era bom estar
perto de alguém tão pura, de alma e coração. Enquanto conversavam, Kate contou a ele sobre o
fato de nunca ter namorado com ninguém e o fato dele ter sido o primeiro a beijá-la daquela
forma. Ele sentia-se extremamente feliz em saber disso, não suportava imaginar que outra pessoa
pudesse beijar aqueles macios lábios rosados.

— O que você está pensando? — A voz doce de Kate invadiu os pensamentos dele, em
sua voz ele pode sentir uma insegurança, talvez ela estivesse pensando que ele estava
arrependido de ter se declarado. Mesmo que parecesse muito cedo para aquilo, em momento
algum Thomas se arrependia de seus atos, era homem o suficiente para não voltar atrás em sua
palavra e muito menos em seus sentimentos.

— Em você — ele falou e alisou novamente os longos cabelos loiros dela. — Em tudo isso
que aconteceu. — Ele sorriu tentando passar segurança para ela.

— Mas estou aqui — ela disse com sua voz doce, levantando a cabeça do colo de Thomas
e ficando ao lado dele. O olhar que ela dirigiu ao homem era de total curiosidade. — É algo ruim?
— ela perguntou timidamente. Isso era o que o encantava nela, esse modo inocente e tímido de ser,
ela parecia uma garotinha frágil e isso fazia tê-lo vontade de lhe dar carinho.

— Em parte sim — ele admitiu e percebeu que o rosto dela ficou meio apreensivo, ela
abaixou a cabeça e Thomas logo tratou de segurar seu queixo e levantar sua cabeça novamente.
— Eu estava pensando em como vai ser difícil me controlar perto de você nas aulas. — Ela sorriu
ao ouvir aquilo.

— Para mim será ainda mais. — Kate corou assim que as palavras foram ditas.

“Oh, minha doce, Kate”, ele pensou, já poderia chamá-la de sua, pelo menos queria que ela
fosse.

Thomas se inclinou e a beijou suavemente na testa, abraçando-a em seguida. Era tão bom
ter aquele misto de sentimentos perto dela, era como se estivesse nascendo uma nova
personalidade de si, uma que pertencia totalmente aquela pequena e doce mulher.

Uma mensagem apitou em seu celular, ele o pegou rapidamente no bolso e o nome de sua
filha, Tracy, apareceu na tela. A mensagem dizia que ela já havia chegado no dormitório e que já
iria dormir. Isso havia sido uma exigência dele, Tracy deveria mandar mensagem toda noite para
ele saber que tudo estava bem. Poderia até ser um exagero de sua parte, mas preferia pecar
pelo excesso de zelo do que se culpar depois. Olhou as horas e já passavam das onze da noite, o
tempo havia passado rápido.

— Kate, eu tenho que ir. Nós dois temos aula amanhã e você precisa descansar. — Ele se
levantou do sofá puxando-a consigo, seus corpos se chocaram e ele deu um beijo sedento nos
lábios dela. Se continuasse daquele modo ele não conseguiria ir embora e talvez não quisesse
mesmo ir.

— Sabe que pode ficar se quiser, tem um quarto de hóspedes — ela falou fazendo
beicinho. Thomas sorriu com a atitude infantil, mas fofa, dela. Sentia-se entranho quando pensava
que antes nunca se imaginaria numa cena como essa.

— Outro dia, não quero atrapalhar seu descanso, sei como o seu dia foi corrido. E também
preciso terminar de preparar a aula de amanhã. — Ele beijou a testa dela novamente.

— Tudo bem, você me liga quando chegar na faculdade? — Ela pareceu contrariada.

— Ligo sim. Se cuida baixinha — ele falou fazendo com que Kate fizesse uma cara feia.

Eles foram até a porta envolvidos em um longo beijo, quanto mais se beijavam, menos
suficiente parecia ser, cada beijo deixava um gostinho de quero mais. Com a mão livre Thomas
abriu a porta, para só depois parar de beijar Kate. Quando recuperou o fôlego ele olhou para
fora percebeu uma figura masculina saindo de um carro preto em frente da casa dela, era o tal
amigo. Thomas começou a ficar com raiva, isso não era hora dele aparecer na casa de Kate. Ele já
não ia com a cara dele, sentia raiva só de pensar nesse homem perto de Kate. Até por que não
seria hipócrita, o cara era boa pinta e ainda por cima bem mais novo.

— Professorzinho — o amigo de Kate falou em tom de deboche e abriu um sorriso largo.


— Hey, minha linda — ele acrescentou, piscando para Kate de modo descarado, parecia mesmo
querer provocar.

— Playboy — retrucou Thomas, puxando Kate novamente para os seus braços e a


segurando pela cintura de modo possessivo. Ele sabia que era uma coisa idiota de se fazer, mas
não conseguiu evitar.

— Então quer dizer que vocês estão juntos — John disparou em tom divertido, mas Thomas
não estava para brincadeiras.

— Eu não sei se você é cego ou se faz... — Ele não terminou a frase, Kate o interrompeu.

— Gente, por favor — Kate falou meio irritada, por um momento Thomas sentiu-se culpado,
sabia como mulheres odiavam esse negócio de "marcar território" — O que veio fazer aqui a essa
hora da noite, John? — ela perguntou com a mesma voz doce, nem com raiva ela alterava o tom
de voz.

— Vim ver a minha baixinha preferida — John falou sorrindo. — E esse cara, o que faz
aqui essa hora? — ele perguntou, parecendo preocupado com Kate. Idiota. Thomas pensou e se
imaginou dando um murro bem no olho esquerdo dele.
— Fala a verdade, John. — Ela sorriu para ele. Kate sorriu para o idiota? Thomas pensou
e fuzilou Kate com o olhar.

— Vim deixar essa caixa que você esqueceu no meu carro — ele falou e estendeu uma
pequena caixa para ela. — Como você está ocupada eu posso voltar outra hora — completou
dando de ombros.

— Pela primeira vez concordo com você — Thomas disse sarcasticamente.

— Não! Thomas já estava de saída, não é?! — Ela olhou para Thomas e ele apenas
concordou com a cabeça. — Pode entrar e deixar a caixa lá dentro. — John passou por eles e
entrou na casa deixando a caixa em cima da mesa. — Como eu já estava indo dormir, você
também já vai embora — ela falou e Thomas sorriu satisfeito. — Amanhã eu te conto tudo — ela
disse um pouco mais baixo e John apenas concordou.

— Eu posso dormir aqui se você quiser — Thomas falou.

— Talvez outro dia — Kate falou normalmente o que acabou deixando Thomas irritado. —
Hoje é melhor você ir descansar.

— Já estou indo. Se cuida, pequena. — Ele passou e deu um beijo na testa de Kate e vai
em direção ao carro. — Amanhã cedo eu te busco. — Ele pisca para ela.

— Ok — ela respondeu apenas.

— Tem certeza que vai ficar bem sozinha? — Thomas perguntou e em seguida beijou Kate
para que John visse.

— Tenho sim, pode ir. — Ela sorriu timidamente. — Os dois podem ir — ela falou virando
para John.

— Tudo bem então, eu te vejo amanhã na aula, linda — ele disse enquanto saiu em direção
ao carro. — Idiota. — Thomas falou ao passar por John, alto o suficiente para que ele ouvisse,
mas não para que Kate ouvisse. Era frustrante se sentir como um adolescente, ele nunca agiria
daquele modo em um dia comum. Talvez só precisasse dormir e no outro dia tudo estaria normal.

John e Thomas saíram ao mesmo tempo em seus carros, o que fez com que ele ficasse um
pouco mais seguro, ele não gostava nada do fato de John estar sempre por perto de Kate e pelo
modo como se tratavam, mostrava que os dois eram bem íntimos. Só a possibilidade de eles
chegarem a se envolver já fazia com que Thomas tivesse uma drástica mudança de humor, era
evidente que um cara novo como aquele conseguiria conquistar uma mulher mais rapidamente que
ele. Não que estivesse muito velho, ele ainda ia completar 40 anos e para a sua idade estava
"inteiro" como Tracy costumava falar.

O caminho de volta para a faculdade estava bem escuro, não haviam postes de luz nessa
estrada. Apenas o farol do carro iluminava o caminho, a luz forte iluminava as árvores da vasta
floresta e a neblina também. Thomas dirigia em velocidade reduzida, sabia o quão perigoso era
dirigir em alta velocidade àquela hora da noite. A neblina espessa lembrava o dia em que ele
sofreu o acidente de carro que matou sua mulher, estava tão desesperado por que a filha iria
nascer que ignorou todas as normas de trânsito e como o hospital que a mulher havia escolhido
ficava fora da cidade, eles haviam pegado um autoestrada. Se arrependia, com todas as suas
forças, das decisões que tomou no dia em que a perdeu.

Se ele tivesse sido mais responsável, se não tivesse passado parte da noite fora, nada
aquilo teria acontecido, eles teriam ido com calma para o hospital ao ver que ela sentiria as
primeiras contrações. Aquele havia sido o pior dia de sua vida e ele nunca se perdoaria por tê-la
matado. Era um assassino, podia não ter matado diretamente sua esposa, mas era ele quem dirigia
o carro, quem havia bebido. A única coisa boa que restou daquele dia foi Tracy, sua tão amada
filha, o seu pequeno milagre, a sua redenção.

Não demorou muito até que Thomas chegasse à faculdade, mesmo com a velocidade
reduzida. Estacionou o carro na vaga mais próxima da entrada do campus e quando desceu, o
frio lhe atingiu em cheio. Mais cedo havia saído tão eufórico e agitado que nem pensou ou lembrou
de pegar um casaco mais pesado. Naquele momento tudo estava calmo pelo pátio, todos os
estudantes já deviam estar dormindo, ele andou suavemente pelos corredores, mais uma vez
perdido em seus pensamentos, essa tinha sido a melhor noite de sua nova vida, ele não lembrava
de sentir-se assim nem quando conheceu sua falecida esposa. Toda essa paixão não podia ser
algo normal e o pior de tudo é que com ela veio o ciúme também, Thomas sabia que precisava
esconder esse sentimento, isso sem dúvidas poderia afastar Kate e essa era a última coisa que ele
queria.

Ao chegar ao seu quarto, deu-se conta de que o celular descarregou, ele colocou
rapidamente para carregar e foi tomar um banho, o celular pegou apenas um pouco de carga,
mas já era o suficiente para ligá-lo e avisar Kate que estava tudo bem. Ele discou o número e seu
coração se acelerou ao ouvir o doce som da voz dela.

— Oi, chegou bem? — A voz dela era um misto de ansiedade e de timidez.


— Oi, cheguei sim, embora já esteja com vontade de voltar. — Ele ouviu o som de um riso
do outro lado da linha. — Estou arrependido de não ter aceitado o seu convite.

— Também estou arrependida de não ter reconsiderado que você ficasse, espero que a
noite passe rápido para eu poder te ver. — Ouvir aquilo fez seu coração saltar.

— Vai passar, linda, só liguei para ouvir sua voz mesmo, já estou indo dormir.

— Espera — ela falou com urgência.

— O que foi?

— É normal eu estar me sentindo assim? — ela perguntou e ele ficou confuso.

— Assim como?

— Coração acelerado, boca seca, pele formigando, uma ansiedade incomum e eu não sei
descrever mais. É tudo tão intenso, tão diferente que mal consigo arrumar palavras para descrever
— ela suspirou.

— Olha só, segundo os meus livros o seu diagnóstico é Falta de Thomas aguda — ele falou
e ela sorriu.

— Fala sério.

— Eu não sei dizer se é normal, Kate, eu não me sinto assim desde... Bem você sabe. Faz
tantos anos que eu não me lembro se a sensação era a mesma, pode ser coisa da minha cabeça,
mas agora tudo parece mais intenso, mais urgente. Há momentos que eu me pergunto o que diabos
está acontecendo comigo, acho que não me sentia assim nem quando era um adolescente com os
hormônios à flor da pele. — Thomas terminou de falar e ouviu um suspiro vindo do outro lado da
linha.

— Você acha que isso é algo bom, ou algo ruim?

— Eu ainda não sei dizer, depende de que rumo à nossa história vai seguir. Também não
sei o que espero disso, só quero ser feliz e sou feliz quando estou ao seu lado.

— Tudo isso é muito novo para mim, Thomas. Desde o primeiro momento, do primeiro toque,
eu senti que era diferente e até tentei dizer a mim mesma que não era nada, só a minha mente me
pregando uma peça, mas não acredito que seja só isso. Eu tenho um pouco de medo, Thomas, sinto
que você tem o poder de partir meu coração, não é uma coisa que eu queira experimentar.

— A última coisa que quero é te magoar, Kate. Vamos apenas deixar que tudo aconteça,
sem tentar mudar o destino, sem tentar apressar as coisas ou fugir do que sentimos. Okay?!

— Okay.

— Não fique pensando nisso, vejo você amanhã na aula. Boa noite.

— Bem, então boa noite. Até amanhã.

— Beijo.

Ele desligou o celular, colocando-o de volta no carregador e indo dormir em seguida.


Naquela noite sonhou com Kate, não acontecia nada no sonho, ela apenas estava lá olhando para
ele como um anjo, intocável.

A noite passou num pulo, quando Thomas se levantou parecia que ele tinha acabado deitar
a cabeça no travesseiro. Mesmo assim arrumou-se rapidamente para garantir que chegaria à sala
antes de qualquer aluno. Enquanto passou pelo saguão avistou no estacionamento o carro de John,
isso o fez andar mais rápido até a sala e quando chegou, lá estava ela, mais linda do que nunca,
sentada na primeira carteira da fila sorrindo como sempre.

Thomas tomou o cuidado de fechar a porta e então Kate se levantou e jogou-se em seus
braços. Pareciam que não se viam há muito tempo, logo ela já estava de volta em seu lugar e ele
abriu a porta, conforme os minutos passavam mais alunos chegavam à sala, Kate de cabeça baixa,
de vez e quando, levantava o olhar para Thomas, que também a olhava sempre, aquilo tudo
estava sendo mais difícil do que ele imaginava.

A aula passou tranquila, poucos alunos tinham ido a aula, uns haviam trocado de faculdade,
por causa dos rumores envolvendo os sequestros de professoras. Faltando pouco mais de meia
hora para acabar a aula, dois policiais apareceram na sala dando o aviso de que por precaução
haveria um recesso de duas semanas e que todos os alunos e professores tinham dois dias para
deixar a faculdade. A notícia atormentou os alunos, agora as coisas pareciam bem mais sérias do
que todos imaginavam ser, em um mês mais de dez professoras haviam sumido. Quando a aula
terminou Thomas acompanhou Kate até o quarto da sua filha, Tracy, Kate precisava falar com ela
sobre a mudança repentina e Thomas precisava conversar com a filha sobre fazer uma viagem
nesses dias que eles não poderiam estar na faculdade. Ele não queria que a filha continuasse ali,
naquele lugar perigoso e como fazia tempo que os dois não viajavam resolveu que seria algo
bom.

— Kate, pai. — Ela sorriu — Vocês dois aqui, juntos? — Kate e Thomas se entreolharam
por causa do duplo sentido daquela frase.

— Sim e não — disse Kate rapidamente — Viemos da sala de aula, eu para me desculpar
por ter me mudado ontem sem te avisar nada. Meus pais que planejaram tudo e John me ajudou
com a mudança. — Kate olhou para Tracy de um modo que Thomas não entendeu, havia algo ali
que ele não sabia.

— Tudo bem, eu recebi suas mensagens. Depois quero que me conte mais sobre a nova
casa, sei só o básico. Estou louca para conhecê-la — falou agarrando o braço de Kate. — Pai,
você vem? — ela perguntou virando apenas a cabeça para trás.

— Sim — Thomas falou e entrou no quarto, fechando a porta a trás de si. — Filha, você já
soube do recesso? — Ele foi direto ao ponto.

— Já sim, pai, todos na minha sala estão desesperados com isso tudo. Antes, ninguém sabia
o motivo das professoras estarem sumindo e o fato da polícia suspeitar que há um assassino em
Stanford, fez com que todos ficassem em alerta — ela falou enquanto sentava-se no pequeno sofá
que havia no canto do quarto.

— Confesso que estou bastante assustada com tudo isso, só de pensar que há um louco à
solta por aí e que qualquer uma de nós pode ser sua próxima vítima, sinto vontade de voltar para
os braços dos meus pais — Kate falou.

— Vire essa boca para lá, Katherine. Não quero ser vítima de louco nenhum. — Tracy
olhou para a amiga com uma cara feia. — Você vai passar essas duas semanas na casa dos seus
pais?!

— Ainda não sei, acho que seria bom. Mas voltar agora seria como se eu não fosse forte o
suficiente para lidar com alguns dias de faculdade — falou pensativa. Thomas apenas observava
a desenvoltura da conversa das duas.

— Você não tem que provar nada a ninguém, Kate. — Ele finalmente resolveu opinar.

— Talvez eu queira provar a mim mesma, quando vim para Stanford, achava que não iria
aguentar muito tempo longe dos meus pais, afinal nunca havia passado muito tempo longe deles.
Então conheci vocês, isso está ajudando muito na adaptação. Além do mais, também tem o John
aqui, sinto-me bem com ele por perto. — Ela deu de ombros.
— Eu te entendo — Tracy falou.

— Vocês vão ficar por aqui mesmo?! — Kate perguntou.

— Não sei. Vamos, pai?!

— Acho que todos os dormitórios serão fechados também e como alugamos a casa, acho
que seria bom viajar para algum lugar — ele disse mais para si do que para elas.

— A gente poderia ir para aquele hotel que fomos, quando completei quinze anos. Fala
sério, pai. Fugir desse frio e ir para um lugar com uma bela praia era tudo que eu queria agora.

— Caribe?! — perguntou.

— É pai, por que não?! — Tracy falou animada. — Kate poderia vir conosco, para não
ficar sozinha nessa vila. — Thomas chegou a considerar aquela possibilidade, olhou para Kate que
parecia tão surpresa quanto ele.

— É uma ideia boa, afinal todos temos duas semanas livres, para que ficar nesse "Polo
norte." — Thomas deu de ombros. — O que você acha Katherine?!

Ela o fuzilou com o olhar antes de responder. — Não sei, não quero me meter no meio da
viagem de vocês dois.

— Seria divertido e você não estaria se metendo em nada. Afinal, fui eu que te chamei —
Tracy suspirou. — Pense por um momento, uma praia de águas transparentes, área branca, sol
forte e muitos coqueiros na beira da areia. — É como um sonho.

— Não sei se é uma boa ideia — Kate insistiu.

— É claro que é, não há nada que te prenda aqui — Tracy afirmou.

— Bem, há o John. Não posso deixá-lo sozinho — Kate falou entrando no jogo das amigas

— Ele pode vir junto — Tracy falou tranquilamente.

— O que? — Thomas perguntou um pouco alto demais.

— Bem pai, há uma coisa que eu preciso te contar. — Tracy começou.

— Aí tem coisa — Thomas falou se preparando para o que viria.

Tracy suspirou um pouco antes de falar, Kate colocou a mão sobre a da amiga a
encorajando. — Eu e John estamos saindo há alguns dias, acho que seria legal se ele viesse junto.

— E desde quando você tem um namorado? — ele perguntou sem deixar Tracy terminar
de falar.

— Ele ainda não é o meu namorado, mas é um cara legal e eu realmente gosto dele — ela
afirmou. — Qual é pai, eu já tenho 19 anos, não sou nenhuma criança e sou responsável o
suficiente para lidar com um "namoro", já que você quer chamar assim.

— Seu namorado é aquele playboy? — Thomas não sabia se surtava ou se sentia aliviado,
ela ainda era a sua menininha.

— Thomas — Kate o repreendeu, ela odiava o modo presunçoso como ele falava do
amigo.

— Você sabia disso, Katherine? — ele perguntou irado, não queria acreditar que ela havia
escondido dele.

— Sabia, mas achei melhor deixar que ela te contasse. Não era algo meu para eu sair
contando. — Kate tentou se explicar.

— Não brigue com Kate, ela é só minha amiga não tinha obrigação de te contar nada.
Além do mais, se ele não for eu também não vou, prefere que eu fique aqui com esse assassino à
solta?! — Ela usou o método mais baixo possível para lidar com o pai, a chantagem.

— Não torne as coisas difíceis, Tracy Wolf Fell. Você acabou de conhecer esse cara e já
quer que ele viaje conosco? — ele perguntou com ironia na voz.

— Kate o conhece toda a vida, eles são quase irmãos. E conheço Kate a menos tempo que
começo John — falou e olhou para a amiga. — Nada pessoal, amiga.

— Sem problemas. — Kate fez um gesto com a mão.

— Ele é homem — Thomas falou tentando argumentar com a filha.

— Eu sou mulher. E daí?! — ela respondeu de modo grosseiro, Tracy nunca havia agido
daquele modo com o pai.

— E daí, que ele não vai nessa viagem conosco.

— Estamos no século vinte e um, pai. Que pensamento mais pré-histórico.


— Tracy, quando você tiver uma filha você vai me entender.

— Com você me prendendo desse jeito, eu nunca vou ter uma — falou cruzando os braços.

— Acho melhor eu deixar vocês sozinhos — Kate falou e se levantou do sofá, já estava
constrangida com toda aquela situação.

— Kate, espere-me lá fora quero conversar com você sobre esse rapaz — Thomas falou
com a voz firme, ele ainda estava magoado por ela ter escondido algo tão importante dele.

— E então, pai? Vai deixá-lo viajar com a gente? Ou prefere que eu fique aqui com ele?
— Tracy apertou os braços. — É uma equação simples.

— Tudo bem, Tracy, ele e Kate vem conosco. Só que antes eu tenho que ter uma conversa
muito séria com esse cara — Thomas falou, dando-se por vencido.

— Ótimo, vou arrumar as minhas coisas, você compra as passagens. — Tracy beijou a
bochecha dele, nem parecia que a segundos atrás estavam discutindo.

— Eu já vou e você, pelo amor de Deus crie juízo.

— Você é o melhor pai do mundo — ela falou, acenando para ele.

Thomas apenas balançou a cabeça negativamente e saiu do quarto, Tracy sempre


conseguia o que queria dele, era impossível negar algo a filha. No corredor, Kate o esperava
encostada na parede com os olhos fixos nos sapatos.

— Katherine — ele falou com a voz firme.

— Antes que você comece a brigar, prometi ao John que não contaria. Não era um
segredo meu, logo não poderia contar assim — ela falou sem parar.

— Eu sei, mas é frustrante saber que você pode guardar algum segredo de mim. Não
quero que hajam segredos entre nós — ele falou e se encostou na parede ao lado dela.

— Eu queria te contar, juro que queria, mas não podia trair a confiança do meu amigo.
Quando John me contou, fiquei surpresa, até porque ele nunca falou de nenhuma garota para mim
e vir falar de alguém quer dizer que essa pessoa significa muito para ele. Entende?!

— Então a confiança dele vale mais do que a minha? — Thomas perguntou ignorando tudo
o que ela havia dito.
— Não foi isso que eu quis dizer, Thomas, não vá por esse caminho — ela falou magoada.
— Não me faça ter que escolher entre os dois, pois ficarei com ele. Ele não é só meu amigo, é meu
irmão — ela falou com raiva, não acreditava que ele estava falando aquilo.

— Tudo bem, desculpe-me, linda. — Ele passou as mãos pelos cabelos. — Eu nunca te
pediria algo assim — ele disse.

— Não quero brigar com você — ela afirmou com a voz baixa.

— Não vamos mais brigar, tudo bem?! — afirmou e se aproximou da menina, olhando para
os lados antes de dar um breve selinho em seus lábios. — Você vem com a gente para o Caribe?

— Não sei, não acho isso certo — ela falou. — Nós conhecemos agora e já vamos viajar
juntos? Não acha isso precipitado demais?!

— Talvez seja, mas quem irá nos julgar?! — perguntou. — Lembra o que eu disse sobre
deixarmos rolar?! Vamos fazer isso. Será bom para nós dois.

— Eu preciso pensar.

— Não há o que pensar, Kate. Apenas diga que sim — ele falou enquanto segurava o
queixo dela. Seria quase impossível resistir a aqueles belos olhos azuis.

— Tudo bem — falou.

— É sério?! — ele perguntou.

— Sim — ela afirmou.

— Você não vai se arrepender disso — Thomas falou e deu outro breve selinho na boca
dela. — Eu preciso ir para a minha próxima aula, você quer que eu te acompanhe até o carro?! —
ele perguntou e ela negou com a cabeça.

— Ficarei bem.

— Hoje mesmo compro as passagens. — Ele piscou para ela. — E antes que eu me
esqueça, quero ter uma conversa com o seu amigo.

— Não seja duro com ele — ela falou.

— Não vou ser. — Ele mentiu. — Vejo você mais tarde. — Ele mandou um beijo no ar e
caminhou pelo corredor a fora.
Capítulo Oito
— Essa aqui não, essa também não, nem essa aqui — gritava Kate enquanto jogava as
roupas para o alto. — Eu não tenho nada para vestir. — Ela se jogou na cama ao lado de John.

— Eu não acredito que vim até aqui para você jogar roupas na minha cara e reclamar que
não tem nada o que vestir. — John ria sem parar dos pequenos ataques dela, ele olhou para a
enorme pilha de roupas que havia se formado no chão.

— Quero dizer que não tenho nada de usar em uma praia, nem um biquíni — ela se
explicou.

— Até porque você não precisaria de um biquíni aqui, não é?! Pelo menos não nessa época
do ano. — Ele deu de ombros. — Por que você está tão nervosa? É só uma viagem.

— Só uma viagem? — ela falou alto. — Não é só uma viagem para mim, John, É a viagem.
— Ela pegou um travesseiro e cobriu o rosto. Em seguida o tirou e completou. — Acho que eu não
deveria ir — ela falou.

— Nem pense em desistir, Katherine Snow — John falou sério. — Eu sei que você quer ir,
precisa apenas relaxar um pouco.

— Tudo bem, mas também preciso de algumas roupas novas. — Kate levantou da cama
num pulo. — E você vem comigo.

— Não acredito como você mudou enquanto eu estive longe — John falou. — Não parece
aquela mesma menina retraída de antes.

— Ainda sou, só decidi que não devo deixar mais ninguém me rebaixar. Os anos no ensino
médio foram os piores da minha vida, não queria que isso continuasse na faculdade. Por isso vim
para tão longe e sabe, acabei me encontrando de verdade nessa nova personalidade. Até me
sinto melhor comigo mesma. — Ela deu de ombros. — Você também mudou bastante, o antigo John
nunca aceitaria se apegar a uma garota.

— O antigo John era imaturo demais para qualquer relacionamento, porque tinha medo de
que as pessoas se aproximassem demais dele e descobrissem seus defeitos. Tracy faz eu me sentir
uma nova pessoa, sabe?! Eu sinto vontade de ser alguém melhor por ela.

— Nunca imaginei ouvir você falando algo assim, mas fico feliz que esteja se sentindo bem.
Thomas, também faz com que me sinta diferente, nunca experimentei algo tão forte quanto o que
sinto por ele, acho que isso me assusta um pouco, estou mergulhando em águas profundas sem
saber o que tem dentro. Isso pode ser perigoso. — Ela sentou novamente na cama. — Talvez essa
viagem seja algo bom para nós quatro, acho que se for para ficar junto dele, de verdade, vou
saber lá. Preciso saber se realmente o amo.

— Não acha que está muito cedo para isso?! — John falou com ironia.

— Acho, mas não sei como frear esses sentimentos que crescem no meu peito. Simplesmente
não consigo. Ou não quero.

— Eu te entendo, mas no meu caso eu tentei frear os sentimentos. Só que toda vez que eu
via aquela ruiva, meu coração dava um salto dentro do peito, cada vez que ela sorria, sentia uma
vontade incontrolável de beijá-la. Ela é tão boa que fico me perguntando se a mereço?!

— Não fale bobeira, claro que você merece. Agora chega de falar e vamos agir mais. —
Kate se levantou da cama. — Levanta essa bunda daí que você irá me ajudar nas compras. — Ela
sorriu triunfante.

— Estou com preguiça — ele reclamou.

— Pronto para levar mais algumas roupas na cara?! — Ela estendeu duas blusas e as
jogou em John.

— Oh... não. — Ele sorriu. — Eu devia ter ido embora enquanto não era tarde.

— Devia — ela disse animada. — Só que agora não vai conseguir mais.

— Se for jogar roupas em mim. Jogue sutiãs, calcinhas e biquínis. — Ele gargalhou. — Isso
tornaria as coisas mais interessantes.

— Você é um cafajeste. — Kate gargalhou, pegou um travesseiro e o arremessou na cara


de John.

— E você é previsível — Ele o jogou de volta nela. — Vamos, eu te levo numa loja para
comprar algo.

— Sabia que você iria. — Ela jogou travesseiro no chão.

— Anda logo antes que eu desista, hein! — Ele gritou enquanto saia do quarto.

Kate pegou o casaco e foi correndo para alcançá-lo, os dois entraram no carro e seguiram
para o shopping que havia ali perto. Chegando lá, Kate provou algumas roupas e alguns biquínis
desfilando para John, enquanto ele a apressava. Depois de duas horas escolhendo roupas,
voltaram para a casa de Kate, John entrou carregando todas as sacolas enquanto cambaleava
sem enxergar direito o caminho.

— Que tal uma ajudinha aqui, Kate? — ele pediu, em um tom abafado pelas caixas
enquanto passava pela porta de entrada.

— Pode largar tudo aí mesmo — ela falou com deboche.

— Engraçadinha você, hein? — Ele tentou parecer sério. — Tenho que ir, agora você vai
ter que arrumar outra pessoa para ser sua cobaia de roupas. — John sorriu antes de passar pela
porta.

— Que pena, amei jogar roupas na sua cara. Sabe, rosa combina muito com você. — Ela
debochou mais uma vez.

— Deixe-me ir antes que você resolva testar as roupas em mim — ele falou rindo e fechou
a porta.

— Não me dê ideias. Tchau, panda — ela gritou.

Assim que John saiu, Kate foi até lá e fechou a porta, em seguida pegou algumas sacolas e
levou para o quarto, quando chegou lá reparou na bagunça que havia deixado, então decidiu que
arrumaria tudo durante a tarde, já que não tinha mais nada para fazer. Havia comprado tantas
roupas que nem sabia como faria tudo aquilo caber dentro da mala, passariam apenas uma
semana e meia no Caribe, mas Kate era péssima em arrumar mala, sempre colocava roupas
demais e acabava não usando nem a metade. Ela suspirou olhando para as roupas bagunçadas
no chão do quarto, sentiu um pouco de preguiça, mas começou a dobrá-las e colocar em cima da
cama, uma a uma. Separando blusas em uma pilha, calças na outra, vestidos em outra. Enquanto
dobrava as roupas viu um vestido preto, ela o havia ganhado para ir a sua formatura do colegial,
mas havia sentido vergonha de usar aquela roupa tão decotada. Resolveu que o levaria para o
Caribe, talvez agora ela conseguisse usá-lo.

Levou pouco mais de uma hora até que o guarda-roupas de Kate estivesse totalmente
arrumado e então ela começou a tirar as roupas que havia comprado das sacolas e as organizar
na mala, haviam momentos que ela amava ser filha de um casal tão importante, como a mãe
gostava de se autointitular. A mãe era estilista, uma muito boa, aliás, por isso havia aberto várias
lojas e criado sua própria marca de roupas: Snow Woman, que é claro, era uma marca que
produzia apenas roupas femininas. Por isso Kate tinha tanta coisa no guarda-roupas, isso porque
não havia trazido quase nada quando se mudou para Stanford, mas como a mãe não seria ela
mesma se não houvesse enchido o guarda-roupa daquela casa com as peças da sua última
coleção, quando Kate se mudou foi difícil achar uma vaga no móvel para encaixar tudo, ela havia
passado a noite em claro arrumando o que faltava na casa.

O pai de Kate era um homem de negócios, ele tinha alguns escritórios de contabilidade
espalhados pelos Estados Unidos, mais na porção Sul. Assim como, a mãe de Kate, ele também era
muito bom no que fazia e isso havia dado muito prestígio para a sua empresa. A parte ruim de
tudo isso, era que o pai viajava muito, ele havia perdido várias fases da vida da filha. Já a mãe
sempre a levava junto em suas viagens e por isso as duas eram mais próximas.

Kate terminou de arrumar a mala e ficou encarando-a, como fecharia aquilo?! Primeiro
tentou do jeito tradicional, mas eram tantas roupas que o zíper não fechava. Depois ela tentou
colocar o peso dos cotovelos sobre a mala e fechar, mas isso também não deu certo. Ela finalmente
conseguiu fechar a mala quando subiu na cama e sentou em cima dela, mas ainda com um pouco
de dificuldade. Ao terminar de fechar o zíper ela se jogou ao lado da mala, na cama, ofegante
pelo esforço.

Pegou o celular no bolso de trás da calça e resolveu pesquisar algumas coisas, agora ela
estava quase namorando, ficando na verdade. Haviam muitas coisas que não sabia e sim estava
pesquisando sobre sexo, não era tão inocente a ponto de não saber nada sobre isso. Também
sabia que existiam outras coisas além do ato e quando fosse fazê-lo, queria saber dessas coisas.
Por um momento ela sentiu-se idiota por estar pesquisando coisas assim, mas por que não?!
Ninguém saberia mesmo, ela não queria parecer ingênua de mais quando a sua primeira vez
acontecesse. Não que ela estivesse planejando ter a sua primeira vez agora, na verdade ela tinha
medo de ter relações sexuais. Navegando por uma página, descobriu um livro, Cinquenta Tons de
Cinza, já havia ouvido falar. Uma das tias não parava de falar no tal Christian Grey e como
queria que o marido fosse como ele.

Num ato de curiosidade ela abriu o site da Amazon e resolveu comprar o livro, talvez
pudesse aprender algo com ele. Kate passou três horas seguidas lendo o livro, desde que
começara a ler não havia conseguido mais parar, sempre que falava que iria parar, acabava não
resistindo e lendo outro e com isso terminou rapidamente o livro. Estava em choque com o final da
história, frustrada e sentia: desejo?! Depois de ler aquilo, ela sentia vontade de ter uma relação
como aquela, sentia vontade de agarrar o Grey. Agora sim ela entendia o ponto de vista da tia,
não havia como resistir aos encantos daquele livro e de seus personagens.

Kate largou o celular e decidiu tomar um banho, precisava se refrescar depois de ter lido
aquilo e se continuasse ali só pararia após ter lido todos os livros da série. Ajustou a temperatura
da água para morna, não era maluca de tomar um banho gelado sendo que lá fora deveria estar
fazendo um frio de matar. Quando saiu do banheiro, vestiu apenas uma calça branca de moletom,
daqueles bem confortáveis e uma blusa segunda pele, rosa chá.

Decidiu que assistiria algo para passar o tempo mais rápido, pegou o celular novamente na
cama e caminhou até a sala. Se jogou no sofá confortável e ligou a televisão, estava passando
uma maratona de filmes de terror e naquele momento passava o filme O Chamado. Ela adorava
assistir filmes assim, mesmo estando sozinha e morrendo de medo. Kate estava superconcentrada
no filme, na tela passava a parte em que a mulher assiste a fita, Kate pulou no sofá quando o
toque de seu celular soou alto. Com um pouco de relutância atendeu, imagina se fosse a Samara
ligando para ela.

— Oi, linda. — Era Thomas do outro lado da linha, Kate suspirou aliviada e sorriu baixo.
Sentia-se idiota por pensar que a Samara ligaria justo para ela.

— Olá, professor — ela falou e ouviu uma risada do outro lado da linha.

— Como vai a minha aluna preferida? — Ele falou com uma voz sexy.

— Acho que ela está com saudade e ficando burra, precisa aprender muitas coisas —
falou aquilo de um modo provocante.

— Ah é?! Não podemos deixar que ela fique sem conhecimento, temos que dar um jeito
nisso — ele falou.

— Como?

— Abra a porta para mim que você irá descobrir.

Ela jogou o telefone em cima do sofá sem desligar e correu até a porta, abrindo-a e se
jogando nos braços de Thomas, eles se beijaram ardentemente enquanto ela o puxava para
dentro de casa e ele fechou a porta atrás de si. Eles pausaram o beijo por um momento, ambos
sem fôlego.

— De onde veio tanta saudade? — Thomas perguntou.


— Não sei — ela admitiu. — Não gosto de sentir, mas é inevitável.

— E então, falou com os seus pais sobre a viagem? — ele perguntou e foi até o sofá para
sentar-se.

— Comentei com eles, claro que deixei de fora a parte em que iria com o meu ficante. —
Kate sorriu. — Eles nem deram muita bola — ela falou pensando na conversa que teve com a mãe
antes de John chegar.

— Que bom então. — Ele sorriu, Kate caminhou até o sofá e sentou ao lado dele. — Eu
consegui passagens para amanhã de manhã.

— Que bom, vamos sair que horas?

— Às 10 horas, também já conversei com o seu amigo. — Ele fez uma careta. — Tenho que
admitir que o cara é legal, mesmo que esteja chupando a língua da minha menininha.

— Esqueça-os e se concentre em nós, ok? — Kate falou puxando-o para um beijo. Thomas
envolveu-a nos seus braços puxando seu corpo de encontro ao dele. Kate mordeu o lábio inferior
de Thomas e em seguida o chupou, do mesmo modo que havia lido em um dos sites. Quando o
beijo cessou eles mantiveram as testas encostadas, Thomas estava com a mão sobre o rosto de
Kate.

— Desculpe-me por te fazer passar por isso. — Ele quebrou o silêncio, pela sua voz
parecia apreensivo.

— Não — ela falou e se afastou dele, estava com raiva.

— Não? — O tom dele agora estava sério, ele parecia um pouco assustado com a reação
dela.

— Não faça isso, não fique se desculpando como se fosse algo errado. Eu quero tanto
quanto você. Não sou uma garotinha indefesa, Thomas — ela falou cruzando os braços.

— Não faça esse suspense de novo. — Ele estava sério. — Fiquei pensando que você não
queria mais.

— Eu quero, essa é a questão. Pare de se culpar, você não está me usando e nem me
forçando a nada — ela falou decidida.

— Tudo bem, Amor — ele falou e Kate sentiu o coração acelerar, o simples fato dele
pronunciar aquela palavra se referindo a ela fazia com que ficasse ainda mais apaixonada.

— Amor?! — perguntou emocionada.

— Sim! — Thomas afirmou, sem parecer ter muita certeza.

— Então você me ama? — ela perguntou.

— Não posso afirmar isso ainda, mas quero te amar Katherine, essa é a coisa que mais
desejo no momento — ele falou, puxando-a para um abraço.

— Eu também, Thomas — ela falou e em seguida resolveu mudar de assunto. — Qual é o


hotel para onde vamos. mesmo? — Ela se ajeitou no sofá de modo que pudesse olhar diretamente
para o rosto dele.

— Lo Caribe. — Ele pareceu estar pensativo.

— O que foi? — ela perguntou.

— Segui seus conselhos — afirmou com a voz fraca.

— Quais deles?

— Sobre o "namoro" do seu amigo com a minha filha. Concordei com tudo que ela queria.

— E?

— E agora ela dormirá no mesmo quarto que ele, acho tão cedo para tudo isso — falou
passando as mãos pelos cabelos.

— Eles são responsáveis e adultos, não fique se preocupando com isso. — Tentou
tranquilizá-lo.

— Eu sei, mas não há como não ficar preocupado, John parece ser uma ótima pessoa.
Talvez seja isso que me dá tanto medo, não quero perder a minha menina para ele.

— Não perderá nunca. Não pense assim.

— Ele realmente conseguiu conquistá-la.

— Vai dar tudo certo. — Kate se aconchegou novamente nos braços de Thomas.

— Sabe o que é mais injusto em tudo isso?


— O que?

— Eles dormirem no mesmo quarto e nós dormimos em quartos separados.

— Isso já era de se esperar, não?

— Mas. — Ele fez uma pausa. — Espere até descobrirem que pedi um quarto com duas
camas de solteiro ao invés de uma de casal. — Ele tentou imitar uma gargalhada malvada
enquanto juntava as mãos como um vilão de desenhos animados. Isso fez Kate gargalhar.

— Desculpe cortar o seu barato. — Ela sorriu entre uma palavra e outra. — Mas isso não
impede ninguém.

— Ah é?! — Ele direcionou a ela, um olhar sexy. — E o que te impede? — Ele falou a e
puxou para um beijo, mais intenso do que os outros que havia dado, levou suas mãos até a cintura
dela e a puxou para cima dele, sem quebrar a conexão do beijo. Ele alcançou a barra da blusa
dela e começou a puxar para cima, mas ela o impediu.

— Não, Thomas. — Ela saiu de cima dele. — Ainda não estou pronta.

— Desculpe-me, linda. Eu não sei o que eu estava pensando. Esperarei o tempo que for
preciso — ele falou e ela sentiu-se um pouco mais segura. Claro que ela sentia vontade de transar
com ele, ainda mais depois de ter lido aquele livro, se as sensações fossem como eram descritas lá
seria maravilhoso. Só que ela sentia que aquele ainda não era o momento certo.

Os dois resolveram assistir o final do filme, abraçados no sofá, era bem melhor assistir ao
filme com Thomas do lado. Assim poderia esconder o rosto sempre que algo feio aparecesse,
quando o filme terminou Kate resolveu puxar assunto.

— Thomas — ela o chamou.

— Oi?

— Tracy que escolheu usar o sobrenome de solteira da mãe? — ela perguntou, mantinha
extrema curiosidade sobre o assunto.

— Primeiramente fui eu, mas com o passar dos anos, quando ela foi crescendo eu e contei
para ela exatamente o que aconteceu, Tracy disse que preferia usar esse sobrenome. Era uma
forma de sentir a mãe mais próxima dela.

— Entendi — Kate falou e sorriu fraco, sabia que aquele assunto era muito complicado.
— Você está pronta para a viagem? — ele perguntou mudando de assunto.

— Sim, espero que lá nos possamos ficar mais tempo juntos.

— Quanto a isso, arrumei um modo de você ir do meu lado no avião. Comprei passagens
de duas cadeiras na parte da frente e outras duas mais ao fundo, Tracy ficou com medo de que
eu tentasse assassinar o namorado dela e resolveu que iria junto com ele, então também vamos
juntos. — Ele sorriu.

— Uau, que gênio.

— Eu sou e acho melhor eu ir para casa antes que comece a nevar — ele anunciou. —
Preciso terminar de arrumar a minha mala.

Thomas foi embora e Kate resolveu colocar a mala no carro, depois de terminar voltou
para o quarto, determinada a terminar a série, comprou os outros dois volumes de Cinquenta Tons
e começou a ler, passou pouco mais de uma hora lendo até que o toque de um celular chamou a
sua atenção. Primeiramente ela achou que havia esquecido a televisão ligada, depois ela pensou
que havia algum fantasma na casa mexendo com os aparelhos eletrônicos. Porém, ao chegar na
sala descobriu que era apenas o celular de Thomas tocando, ele a havia esquecido. Ela não queria
parecer controladora, mas não pode evitar, assim que pegou o celular o toque cessou, na tela dele
indicava que haviam quatro ligações não atendidas, era de uma mulher chamada Carmen Danner,
uma pontinha de ciúme invadiu a mente de Kate. Foi essa pontinha de ciúme que a fez agir
precipitadamente, pegou a bolsa que estava em cima do criado-mudo, jogou o seu celular e o de
Thomas dentro e pegou as chaves do carro determinada a dirigir, àquela hora, só para entregar o
celular a ele.

Após trancar a casa, entrou no carro e ligou o rádio na esperança de estar tocando
alguma música legal, mas ao invés disso, estava passando um noticiário que falava sobre uma
possível nevasca essa noite.

"Se eu dirigir rápido o suficiente, chegarei lá e voltarei antes da nevasca atingir Stanford",
Kate pensou e assim saiu em direção a faculdade, não demorou mais que 10 min. Ela desceu
correndo do carro para escapar da neve que caia sobre ela, parou sob o teto do corredor e
apertou o botão do alarme que fechava o carro. Correu pelos corredores até chegar ao quarto
de Thomas, bateu algumas vezes antes que ele abrisse. Quando a porta foi aberta o olhar de
Kate caiu sobre o corpo dele, que estava coberto apenas com uma toalha.

— Ai meu Deus, Katherine, você está congelando — ele disse puxando-a para dentro. —
O que veio fazer aqui a essa hora? Sabe que há uma tempestade vindo? — ele perguntou e ela
apenas fez que sim com a cabeça.

— Eu tive que vir — ela disse em meio ao bater de dentes.

— Espere, sente-se perto do aquecedor. — Ele mostrou uma poltrona para ela. — Eu já
volto.

Thomas, demorou alguns minutos e depois voltou devidamente vestido.

— O que de tão importante fez você sair nessa tempestade? — perguntou zangado.

— Não haja como se fosse meu pai, está bom?! — ela disse num tom de desgosto. — Vim
trazer seu celular. Que aliás, não parou de tocar um só minuto. Ela procurou o celular e estendeu
para ele.

— Não queria brigar contigo, desculpe-me. — Ele suspirou pesadamente. —Eu nem quero
imaginar o que poderia ter acontecido a você.

— Nada, não sou nenhuma criança. — Não, ela não era. Apenas agia como uma no
momento.

— Por que está tão zangada? — ele perguntou tentando analisá-la.

— Eu não estou zangada. — O tom dela estava duro. — Preciso ir, antes que a
tempestade piore.

— Deixe pelo menos eu te levar — ele disse apreensivo.

— Não precisa.

— Não seja teimosa, Katherine.

— Apenas até o carro, Thomas.

Ele concordou.

Eles caminharam pelo corredor em silêncio, Thomas passou a mão pela cintura dela e a
puxou para perto de seu corpo, o que fez com que Kate quase sorisse. Ao chegar no final do
corredor os dois perceberam o quanto a neve já estava espessa no chão, não teria como ela
voltar para casa.

— Acho que você vai ter que passar a noite aqui — Thomas disse, sério. — Você se
importa?

— Não — Kate respondeu sem tirar os olhos do carro.

— Vamos lá para dentro, aqui está frio. — Ele convidou.

— Espere, tenho que pegar minha mala — ela falou começando a andar até o carro.

— Você veio preparada? — ele zombou, mas ela não respondeu. — Eu pego para você.

— Eu deixei ela no carro para não ter trabalho amanhã. — Ela deu de ombros.

— Esperta. — Ela destravou o carro e ele pegou a mala. — Vamos? — Ele passou o braço
pelo ombro dela.

Eles voltaram abraçados para o quarto, depois disso Kate não tocou mais no assunto das
ligações, não queria mais brigar com ele. Por isso, resolveu simplesmente ignorar para não
atrapalhar na viagem. Kate tomou um banho, que, por acaso, ela teve muita vergonha de pedir.
Logo em seguida, foi se deitar, após alguns minutos deitada observando Thomas ela finalmente
adormeceu, já ele ficou mais uma hora trabalhando num projeto e depois foi se deitar com ela,
abraçando-a como um urso, assim ele não demorou muito a adormecer também.
Capítulo Nove
Deitada ali, observando Thomas, Kate estava pensando no quanto tudo parecia perfeito.
Ele era tudo que sempre sonhou, mas em meio a tais pensamentos, a menina também se deu conta
de que não o conhecia realmente, eram poucas as coisas que sabia sobre ele, talvez essa viagem
pudesse ajudá-la nisso.

Os cabelos negros de Thomas certamente entravam em contraste com a sua pele branca e
grandes olhos azuis, A boca era macia e vermelha, seu rosto tinha uns traços delicados e outros
mais fortes, como o queixo meio quadrado, tudo nele parecia se encaixar perfeitamente, como num
quebra-cabeças. Ele certamente era o professor mais lindo que Kate já havia visto, não era só isso,
a beleza dele tinha a encantado, só que havia mais, quando ele a tocava uma corrente elétrica
percorria a sua pele, ela havia sentido isso da primeira vez que o viu, quando a tocou apenas por
um segundo ao pedir desculpas pelo esbarrão. O despertador tocou acordando Thomas de seu
sono pesado e Kate de seus pensamentos.

— Bom dia — ele falou, em meio a um bocejando.

— Bom dia. — Ela sorriu.

— É hoje.

— É — ela suspirou.

— Você não parece muito feliz — disse, preocupado enquanto passou a mão pelo rosto
dela de modo carinhoso.

— Contei que tenho medo de aviões? — Ela abaixou o rosto com vergonha.

— Estarei lá com você. — Ele a abraçou. — Agora vamos nos arrumar por que não
queremos perder o voo. Pode ir tomar um banho quente se quiser e ficar à vontade para se
arrumar, estarei lá fora ligando para Tracy — ele falou pegando uma blusa de frio.

— Obrigada! — Conseguiu dizer antes que ele saísse.

Kate foi até a mala pegar uma roupa para a viagem, olhando para aquela mala cheia,
ainda tentava entender como tudo coube lá. A ideia era vestir algo que não fosse muito quente ou
muito frio, imaginava como seria chegar no Caribe com roupas de esquimó. Ela procurou pela mala
suas roupas e acessórios, achou algumas coisas que a agradaram. Entrou no banho, a água bem
estava quente mas o ar estava frio o que deixava um clima agradável. Kate voltou a se perder em
seus pensamentos, já estava totalmente apaixonada por Thomas, mas ainda assim sentia que não o
conhecia direito e isso era verdade, não fazia nem uma semana que se conheciam. Se esse negócio
de amor à primeira vista realmente existia, ela tinha certeza de que era algo muito forte. Os
cupidos pareciam realmente seguir os alunos de Stanford, pois até John, alguém que ela achava
que nunca se apaixonaria, estava caidinho por Tracy. Kate imaginou um Cupido bravo por ter
gastado todas as flechas em John e esse pensamento fez ela sorrir.

De repente, a loira, suspirou ao perceber o que estava prestes a fazer, viajar com alguém
que ela mal conhecia. Reprimindo esse sentimento saiu do banho, repetindo para si mesma que
deveria parar de pensar bobagens e viver aquele momento. Tratou de se arrumar rapidamente e
voltou a lutar com sua mala, agora era ainda mais difícil de fechá-la. Depois de alguns minutos ela
finalmente conseguiu, mas aí percebeu que esqueceu sua bolsa com as maquiagens dentro do
carro, ela pegou o casaco que havia deixado em cima da cama e resolveu finalmente sair atrás
da bolsa, ao lado da porta estava Thomas, praticamente congelando.

— Você é louco — ela falou sorrindo — Não precisava esperar aqui fora.

— Achei... — Ele bateu os dentes. — Mais... — Bateu os dentes novamente. — Adequado.


— Ele terminou a frase ainda batendo os dentes.

— Vamos, entre. só vou até o carro e já volto. — Ela beijou os lábios frios dele. — Trate de
tomar um banho quente.

— Não... demore.. — ele falou ainda batendo os dentes e entrou no quarto.

Kate correu até o carro, destravando-o e se jogando para dentro dele. Ligou o aquecedor
e pegou bolsa no banco de trás que estava cheia de maquiagens e resolveu se arrumar ali mesmo,
para dar tempo de Thomas terminar de tomar o banho e se vestir. Era meio difícil fazer algo legal
no rosto com pouco espaço no espelho, por isso Kate optou por passar apenas o básico: base, pó,
corretivo (por que certamente ela estava com olheiras), um rímel preto que dava volume aos cílios,
um pouco de blush para parecer menos morta e um batom rosa claro. Ela se olhou no espelho
vendo como o rímel realçava os seus olhos azuis, depois procurou na mala as lentes de contato, não
queria ficar quase cega quando tentasse ler alguma placa, ou alguma coisa que estivesse meio
longe. Colocou-as com cuidado e piscou várias vezes parar lubrificar os olhos, ela ainda estava se
acostumando com aquelas lentes.

Kate pegou a bolsa das maquiagens e a sua bolsa de mão e saiu do carro correndo de
volta para o corredor e apertando o alarme de trancar o carro de longe. Chegando no quarto de
Thomas ela entrou e bateu a porta atrás de si, suspirando porque conseguiu fugir do frio. Quando
ela finalmente levantou o olhar para Thomas, que estava de costas para ela, ele vestia apenas
uma cueca boxer cinza e estava com a toalha na mão secando o cabelo. Kate reparou em seu
corpo, ele era perfeito, o que a hipnotizou por longos 5 min, quando finalmente voltou a si, foi até
Thomas que ainda não tinha percebido que ela estava ali, abraçou-o e disse suavemente.

— Como você está? — Ela o soltou e se afastou.

— Menos gelado agora. — Ele se enrolou na toalha e virou para beijá-la e Kate se culpou
mentalmente por querer ver o corpo quase nu dele.

— Bom. — Foi o que ela conseguiu dizer antes de ser surpreendida por um beijo

— Nossa — Thomas disse ao olhar bem para ela. — Quem deixou uma modelo invadir o
meu quarto? — Ele sorriu, de um jeito delicioso, o jeito que ela adorava.

— E existem modelos baixinhas? — Ela debochou de si mesma.

— Você é única. — Thomas passou a mão por seu rosto. — Vou terminar de me arrumar, o
táxi chega daqui a pouco.

— Que pena! — Ela fez biquinho — Eu estava adorando te olhar seminu. — Ela piscou
para ele.

Ele sorriu. — Você terá mais oportunidades. — disse, indo para o outro cômodo. — Tente
se controlar agora. — Ele piscou para ela antes de desaparecer.

Kate se jogou na cama e mais uma vez se culpou, ontem negou a ele algumas carícias a
mais e hoje o seu corpo parecia um imã em relação ao dele, queria provocá-lo de todas as
maneiras possíveis. Aquele livro estava mexendo com a sua mente. Ela tentou não pensar nisso e
pegou seu celular, abriu em um aplicativo de mensagens e começou a ler as conversas, fazia alguns
dias que ela não olhava, havia mensagens de uma das amigas, vários grupos que ela nem sabia
que estava, mensagens de seus pais e de John, que havia acabado de chegar.

John: Nervosa?

Kate: Nem tanto. E você, panda?

John: Nadinha, estou mais para ansioso. Quer que eu te busque aí e te leve para faculdade?
Estou indo para lá agora.
Kate: Não precisa, já estou aqui.

John: Como? tão cedo, madrugou?

Kate: Dormi para ser mais sincera.

John: No quarto de Tracy?

Kate: Não. Longa história, conto depois. Bjs.

John: Ok então, bjs.

Kate, largou o celular na bolsa, a verdade era que ela não tinha paciência para ficar
digitando naquelas teclas minúsculas, levantou-se da cama, arrumando o cabelo, pouco depois
Thomas apareceu. Ele estava simplesmente lindo, ela só conseguia pensar em quanta sorte tinha
por estar com ele.

— Uau! — Foi a única coisa que ela conseguiu dizer.

— O que? Está muito ruim? — ele perguntou olhando para a roupa.

— Não. Está perfeito. — Ela sorriu — Quero nem ver quantas vadias vão ficar te olhando
no aeroporto. — Fez uma cara feia. — Você está parecendo o Matt Bomer.

Thomas começou a rir o que deixou Kate com raiva.

— Ei, não me compare com aquele cara. Jogamos em times diferentes — Thomas afirmou.
— É com isso que você está preocupada?

— Basicamente sim. — Ela parou por um momento.

— Você sabe que sou seu. — O coração dela acelerou. — Isso que importa, não? — ele
perguntou se aproximando dela.

— Também.

— Vamos, o táxi já deve ter chegado. — Ele passou a mão pela nuca dela e a puxou para
um beijo. Era uma vez um batom.

Thomas pegou as malas e Kate ficou trancando o quarto, depois os dois foram meio
separados até o táxi, chegando lá John já estava os esperando e só faltava Tracy, que logo
chegou também. Kate ficou boquiaberta quando viu a amiga, ela estava simplesmente maravilhosa.
Thomas e John colocaram as malas no carro com a ajuda do motorista e logo todos se
acomodaram. Thomas foi na frente junto com o motorista, Tracy e John foram atrás juntinhos e Kate
também, segurando vela por longos 45 min. Durante o caminho o taxista, que era um gato, Kate
não pode deixar de reparar, foi tentando puxar conversa com Thomas, já Tracy e John ficaram
trocando carinhos e conversando e Kate apenas tentando prestar atenção em todos. O que não
estava sendo fácil.

— Viajando com a família, é? — O taxista perguntou.

— Sim — Thomas respondia tentando parecer interessado na conversa, sem muito sucesso
pelo que Kate podia perceber.

— As duas são suas filhas? — Ele fez uma pausa. — Belas filhas, com todo respeito.

— Não, apenas uma é. A ruiva.

— E essa loira linda? — O taxista disse olhando para Kate pelo retrovisor,
descaradamente.

— É amiga da minha filha — Thomas respondeu, tentando não parecer bravo.

— Ah.

O carro ficou silencioso por um tempo, apenas podia se ouvir o som dos pneus na neve e
do motor. Tracy dormia no ombro de John, ela estava linda com os seus cachos estilo "Valente"
caindo sobre o rosto e uma maquiagem suave que realçava seus olhos e sardas. Thomas tentava se
manter impassível, parecia até uma estátua, John olhava pela janela e Kate estava no celular.

Tracy só acordou ao chegar no aeroporto, todos desceram do carro ajudando a pegar as


malas, Thomas entregou o dinheiro para o motorista que não parava de olhar para Kate, logo
depois dele dar o dinheiro ao cara, o tal foi até Kate e entregou um cartão com um número. Ela
ficou meio sem reação e então Thomas pegou o cartão e o rasgou na frente do cara.

— Eu prometi cuidar dessa mocinha, então senhor "garanhão" trate de se afastar dela —
Thomas disse com raiva empurrando o cara.

— Calma aí, cara, era só um número — o taxista disse entrando no carro.

— Pai! — Tracy falou repreendendo Thomas. — Que vergonha.

— Tudo bem, Thomas — Kate chamou a atenção dele. — Você está certo — ela falou com
ironia na voz.
— Então família, vamos?! — John disse animado tentando quebrar o clima ruim que havia
se instalado no local.

Uma coisa Kate tinha que admitir, ela amava quando Thomas sentia ciúme, a expressão de
raiva no rosto dele o deixava ainda mais lindo. Tudo estava sendo quase que perfeito para ela
hoje, pelo menos até antes de ter que ir para a sala de embarque, onde ela teve que tirar os
saltos para poder passar no detector de metal, isso era humilhante. Para piorar tudo o voo estava
atrasado, eles despacharam as malas e foram tomar café em uma lanchonete que tinha na sala de
embarque, não demoraram muito e logo todos ficaram com tédio, na verdade nem todos, Só
Thomas e Kate, por que Tracy e John estavam muito bem. De vez em quando Kate pegava
algumas mulheres olhando para Thomas e todas simplesmente lindas. Em resposta a isso ela
secava-as até que ficassem sem graça e saíssem. Thomas parecia se divertir com a reação dela,
mas não falava nada, mas de vez em quando eles trocavam olhares e risos. Sem deixar os outros
perceberem. Não era bem um ciúme possessivo, até por que ela sabia que ele estava com ela e
não com nenhuma das outras, era mais uma brincadeira.

O voo atrasou 1 hora, mas finalmente estavam liberados para o embarque, eles foram
alguns dos primeiros a entrar no avião, como Thomas havia dito, os assentos de Tracy e de John
eram na última fileira e os deles na primeira, eles já estavam fingindo que não tinham nada há
mais de duas horas e Kate não via a hora de poder se jogar nos braços de Thomas. Todos já
estavam no avião, então as aeromoças anunciaram os procedimentos de segurança e passaram
checando se os cintos estavam presos e se os "porta-objetos" estavam bem travados, quando o
avião começou a subir Kate se agarrou ao braço de Thomas e fechou bem os olhos.

Esse ia ser um voo longo para ela.

***
Thomas olhava para Kate, ela estava tão vulnerável ali em seus braços, com os olhos
fechados e apertando seu braço. Agora, pouco antes da decolagem, o professor chegou a pensar
que a menina estava brincando quando disse ter medo de aviões, mas naquele momento olhando o
pânico estampado em sua face, era nítido para ele que era realmente sério. O avião demorou
cerca de 5 minutos até começar a decolar mesmo, saindo da pista de pouso e indo para os céus,
que embora tivessem acabado de soltar uma tremenda tempestade, naquele momento, acima das
nuvens, parecia mais limpo e azul. O aviso que indicava que eles deveriam apertar os cintos já
fora apagado, mas o que falava sobre os celulares ainda estava aceso. Kate ainda estava com os
olhos apertados e uma expressão de medo em sua face. Thomas se perguntava se isso era
realmente necessário, chegou a sorrir da expressão dela.

Uma aeromoça que mais parecia uma modelo de roupas íntimas a julgar pelo belo corpo
que tinha, chegou perto de Thomas e abriu-lhe um belo sorriso.

— Olá, senhor, sua filha está bem? — perguntou a moça em um tom provocador.

Kate pareceu ter percebido, porque abriu os olhos e a sua expressão que antes era de
medo, agora, havia se transformado em ódio. Ela olhou para a aeromoça, fuzilando-a com o olhar.
Thomas estava achando aquilo divertido, Kate parecia uma leoa com ciúmes.

— Eu estou perfeitamente bem — respondeu, Kate, em um tom sarcástico.

— Que bom amorzinho — disse a mulher em uma falsidade pior que nota de 30 dólares.
— O que posso lhe oferecer senhor...?

— Wolf — Thomas respondeu, sem dar muita importância às provocações da mulher.

De repente Thomas viu Kate se levantar da cadeira e segurar a aeromoça pelo lenço de
seu uniforme puxando-a para mais perto.

— Olha aqui, sua vadiazinha, eu sei muito bem o que você está querendo oferecer a ele,
então faça o favor de manter seus seios bem longe do meu homem. Antes que eu resolva não
responder por mim e arrancar essa merda de silicone barato daí — disse Kate em um tom baixo,
mas cheio de raiva. — Entendeu, Amorzinho? — Kate soltou o lenço e fingiu arrumar a roupa da
mulher.

— Me... Me desculpe. — A aeromoça saiu em passadas rápidas.

Thomas começou a rir, olhando para a expressão séria de Kate, aquilo o deixava louco de
paixão e de desejo. Kate ainda mais brava virou-se para janela, tentando ignorar os risos de
Thomas.

— Uau, alguém chame a polícia porque temos uma louca a bordo — Thomas disse, ainda
rindo do pequeno ataque de ciúmes de Kate, se não fosse assustador seria hilário.

— Cala a boca, Thomas Wolf, estou tentando me controlar aqui para não esganar você
junto com a vadia. Eu vi como você deu condição aquela assanhada — rebateu ela.

— Calma amorzinho, a única a quem quero dar condição aqui é você — ele disse dando
beijinhos no pescoço dela.
— Amorzinho é uma ova.

— Tão linda quando fica brava.

Kate cedeu aos carinhos de Thomas e ficou mais calma, mas dava para ver a raiva em seu
olhar cada vez que a aeromoça passava. Thomas admitia que tinha olhado por um segundo para
os peitos daquela mulher, que praticamente saltavam de seu uniforme apertado, ele havia olhado
para os de Kate também, que embora ela tentasse esconder em suas roupas, eram grandes.
Maiores até do que os da aeromoça.

Kate limpou a garganta alto, chamando a atenção de Thomas. Ele havia sido pego em
flagra. — Espero que esse olhar esteja procurando meus olhos. — Ela debochou

— É pedir muito que eu não repare em seus...

— Você é um tarado, senhor Wolf. — Ela não o deixou terminar a fala.

— Não tenho culpa, a namorada gostosa aqui é você. — Ele deu de ombros, mas por um
segundo se preocupou se aquilo que ele tinha dito a tinha incomodado, ele sabia que ela era
inexperiente e não queria assustá-la.

Kate deu um tapinha brincalhão em Thomas, que percebeu que estava tudo bem. Eles eram
quase namorados, sentia-se bobo por se preocupar com isso.

— Se voltar a olhar para os meus seios eu arranco teus olhos. — Ela tentou parecer
assustadora, o que Thomas julgava ser bem difícil.

— Terei muito tempo para olhá-los durante a viagem. — Deu de ombros mais uma vez. —
Eu te garanto que o calor do Caribe fará você querer andar nua por aí.

— E você vai deixar? — Kate o provocou.

— Nunca! — ele falou e a puxou para um beijo.

Depois de soltá-la, decidiu que iria ver como Tracy estava, ou melhor, se John não estava
agarrando a filha. Levantou-se e foi andando pelo corredor enquanto passava viu a aeromoça,
que ao vê-lo entrou na cabine, o furacão "Katherine" realmente a tinha assustado e não era para
menos, aquela mulher era uma loucura. Ele chegou ao acento de Tracy, que dormia serenamente
nos braços de John, que por sua vez dormia com a cabeça sobre a dela. Thomas pensou em como
estava sendo mal com ele, o rapaz realmente parecia uma boa pessoa. Admitir isso era doloroso
para ele, que não conseguia deixar de sentir ciúmes da sua filha. Ele voltou lentamente pelo
corredor e assim que ouviu a risada de Kate percebeu que havia alguém ao lado dela. Andou
mais rápido até encontrar com os olhos o homem que dava em cima de Kate, era um loiro, alto e
musculoso.

— Posso saber o que está acontecendo aqui? — Thomas perguntou com a voz baixa, não
queria chamar a atenção.

— Ah, você já voltou Thomas. — Kate sorriu. — Esse é o Bruno, ele estava me contando
que vai para o mesmo hotel que nós. Ele veio pedir um dos fones de ouvido emprestado, pois o
dele não estava funcionando. — Ela deu de ombros.

— Olá. — O tal Bruno acenou com a mão para Thomas e voltou a encarar Kate.

“Tudo bem Katherine, você conseguiu se vingar por causa da aeromoça”, Thomas pensou.

— Olha só, vou ser bem direto, você tem cinco segundos para se levantar dessa poltrona e
dar o fora — disse Thomas em tom sério, cerrando os punhos. — Não quero ser inconveniente e
ter que te arrancar daí.

— Eu te vejo depois, Kate. — O tal do Bruno levantou-se e ao passar por Thomas falou
baixo para que só ele pudesse ouvir que conseguiria Kate de um modo ou de outro e depois se
foi. Thomas teve que lutar contra a vontade de partir para cima do cara, não fez isso porque não
queria chamar a atenção dos outros passageiros. Ele não havia entendido bem qual era a daquele
cara, mas coisa boa não poderia ser.

— O que diabos você pensa que está fazendo, Katherine? — esbravejou e sentou-se ao
lado dela. — Isso é uma vingança?!

— Conversando e não vejo nada de errado nisso. Não é uma vingança Thomas, eu já te
contei o que aconteceu. Problema seu se você acha que tudo se resume ao seu umbigo. — Ela deu
de ombros zangada, odiava que duvidassem de sua palavra.

— Você vai acabar me deixando louco — ele falou tentando se acalmar.

— Acho que isso você já é — ela falou e deu um breve selinho nele, fazendo com que ele
se acalmasse.

O resto do voo foi tranquilo, Thomas riu bastante quando Kate agarrou seu braço em meio
a uma turbulência e gritou "Ai meu Deus, eu vou morrer", todos do avião estavam olhando para ela
naquele momento. Também achou engraçado quando ela pediu para que a abraçasse durante o
pouso, ele estava achando graça de tudo aquilo. Já no aeroporto, Kate parecia chamar a atenção
de vários homens e não era para menos, ela estava simplesmente linda naquele vestido.

Só que naquele momento ele não podia fazer nada para que os olhares parassem, então
apenas tentou se manter calmo. Nenhum deles a teria mesmo.
Capítulo Dez
O voo havia sido uma droga para Kate, quer dizer, grande parte dele foi. Tinha aquela
aeromoça idiota praticamente jogando os peitos em cima de Thomas, teve aquela maldita
turbulência que a fez passar um bom tempo com medo, achando que o avião iria cair. Para piorar
tudo, o pouso não foi lá essas coisas. Quando todos desceram do avião Kate viu Thomas ficar
rígido, olhando como um caçador para alguns caras, ele nem mesmo disfarçava. Kate por sua vez
estava morrendo de medo que a amiga descobrisse o que havia entre ela e seu pai. A loira
preferia que ela soubesse pela sua boca, tinha medo de que isso pudesse afetar a frágil e
iniciante amizade das duas.

O ar naquele lugar era realmente diferente, Kate agora se sentia uma idiota por estar
usando um vestido tubinho que ia até os joelhos e tinha mangas longas, ela não esperava que o
lugar fosse tão quente assim e se arrependeu ao ver que vários homens olhavam diretamente para
o enorme decote em seu vestido, Thomas também não parecia muito feliz com aquilo.

"Não quero nem imaginar o que ele fará ao ver meus biquínis", pensou Kate, ela tinha
comprado uns biquínis que realmente não cobriam nada, John a tinha ajudado nisso, escolhendo
vários modelos e jogando em cima dela.

Todos se dirigiram à esteira onde pegavam as bagagens, mas elas ainda não haviam
chegado, era realmente chato o modo como eles tinham que esperar as bagagens. De longe Kate
avistou o cara com quem conversou no avião, Bruno. Ele era lindo e de um jeito exótico, parecia um
armário de tão grande, tinha músculos bem definidos e distribuídos pelo corpo, o seu cabelo era
um loiro escuro, seus olhos azuis e marcantes. Ele estava usando uma blusa social, o que não
parecia apropriado para a ocasião. De repente o seu olhar encontrou o dela e ele sorriu.
Entretanto, ela não se atreveu a sorrir de volta, apenas desviou o olhar. Não era como se ela
quisesse algo com ele, mas olhar não arranca pedaço né?

Finalmente as malas começaram a correr pela esteira, Kate viu a dela e foi tentar pegá-la.
Uma tentativa falha, já que a mala passou direto por ela, mais à frente alguém a tinha pegado,
era Bruno novamente. "Que merda", ela pensou. Ele veio se aproximando com um sorriso enorme no
rosto e foi quando Thomas a encarou de longe.

— Acho que essa mala é sua — disse Bruno, entregando a grande mala rosa.

— Obrigada — Kate agradeceu, sem jeito. — Eu preciso ir.


— Espere — ele disse segurando-a pelo braço — Ligue-me depois. — Ele entregou um
cartão de visitas a ela.

— Não sei se de... — ela foi interrompida por ele.

— Tudo bem, a gente se vê por aí. — Ele apenas saiu andando.

Um calafrio percorreu o corpo de Kate, aquilo parecia mais um aviso do que um simples
tchau. Ela tentou ignorar o acontecido e voltou para perto de Tracy e John, que também já
estavam com suas malas. Quando Thomas se juntou a eles direcionou um frio olhar para Kate, que
ela sabia que significava "Conversaremos mais tarde". Thomas tinha sido pai por tanto tempo que,
agora, com Kate como ficante, às vezes acabava a tratando como uma filha, dando broncas e a
controlando. Isso em partes era legal, mas em outras ela se sentia incomodada. Todos caminharam
em silêncio até o estacionamento, enquanto Thomas foi retirar o carro alugado para que eles
pudessem ir para o hotel, quando voltou ainda estava sério, apenas ajudou Kate a colocar as
malas porta-malas e entrou no carro, ainda calado.

Tracy foi na frente com o pai e Kate e John acomodaram-se no banco de atrás, de vez em
quando Kate pegava Thomas olhando-a pelo espelho retrovisor e quando isso acontecia ele
desviava o olhar. Ela resolveu que melhor seria fingir que estava dormindo, assim, John não
perceberia que ela estava triste e o clima não ficaria tão pesado no carro. Alguns minutos depois
que Kate começou a "dormir" ela ouviu uma conversa de Thomas e Tracy.

— Pai, eu sei o que está acontecendo — ela disse, séria.

— Não sei do que você está falando. — Ele tentava parecer imparcial.

— Você está apaixonado por Kate, todo mundo consegue ver isso.

— Eu... — Ele começou a falar, mas foi interrompido.

— Sei que eu não tenho nada a ver com isso, mas você precisa contar a ela. — Tracy o
aconselhou. — Eu entendo por que gosta dela, quem não gostaria?! Ela é uma pessoa incrível.

— Eu sei, filha, mas não é tão fácil quanto parece. O que eu diria a ela? Sou tão mais
velho e cheio de problemas — Thomas respondeu num fio de voz, ele parecia triste. — Me dói só
de pensar que não sou o melhor para ela, eu vi como aquele cara a olhou e ele certamente é mais
jovem que eu e tem mais a ver com ela.

Kate ouviu John suspirar ao seu lado, ele provavelmente estava ouvindo também.
— Conte para ela hoje, leve-a para jantar — disse Tracy.— Tenho certeza que depois
disso ela será sua.

Um sentimento de culpa invadiu Kate, ela escondeu todo esse tempo da amiga e agora ela
só queria o melhor para ela.

— Obrigado, filha. — Ele pareceu um pouco mais animado.

Kate sentiu os olhos pesarem novamente, tentou ficar acordada por mais tempo, mas não
conseguiu.

— Acorda, dorminhoca. — Thomas balançou Kate levemente. — Chegamos, todos já


desceram do carro, só falta você.

— Hummmm... — ela disse se espreguiçando. — Que horas são?

— Já está quase anoitecendo — ele respondeu e a ajudou a sair do carro.

Ela arrumou o vestido antes de pegar a mala começar a andar sem sequer saber para
onde estava indo. Ainda estava meio que dormindo.

— Ei! — Thomas estava rindo. — É por aqui.

Ela ficou envergonhada e o seguiu, eles passaram pela recepção e pegaram as chaves de
seus quartos que eram um ao lado do outro e seguiram por uma trilha de pedras até chegarem na
área de piscina, os quartos ficavam próximos a ela. Kate olhou na chave o número de seu quarto e
em seguida passou os olhos rapidamente pelas portas para achar o seu. Quando finalmente o
achou caminhou até lá e abriu a porta, ao entrar, ela se surpreendeu ao ver o tamanho e o luxo,
havia uma cama e um guarda roupa enormes em um canto, no outro uma mesinha já com
computador, mais à frente uma mesa de jantar pequena e quadrada, um pouco mais à frente
havia uma banheira, com duas escadas em volta dela. A banheira ficava de frente para uma
janela que ia do chão até o teto, com a vista direto para o mar. Era simplesmente perfeito e Kate
ficou imaginando como deveria ter sido difícil conseguir quartos como esses de última hora.

— Obrigada por tudo isso, Thomas, é perfeito — falou e o abraçou.

— De nada, princesa. Tome um banho e se arrume que quando for 20:30h eu passo aqui
para te buscar, vamos a um lugar especial. Aconselho a vestir algo mais formal. — Ele depositou
um beijo na testa dela e em seguida se despediu.

Como Thomas havia dito, ela tomou um banho morno, rápido, não molhou os cabelos pois
daria trabalho para fazer algum penteado depois. Foi até a mala e com muito esforço consegui
colocá-la em cima da cama, estava procurando aquele vestido preto que havia guardado em um
impulso, essa definitivamente era uma ocasião especial o bastante para usá-lo. Ela vestiu uma
calcinha de renda, que não marcava no tecido do vestido e optou por não usar sutiã, já que
apareceria no decote.

O vestido era longo, com uma abertura que ia do início da coxa até os pés e um decote no
busto que chegava pouco abaixo dos seios, essa era a coisa mais ousada que ela já havia usado
na vida, felizmente seu corpo magro ficou bonito naquela roupa. Kate procurou o único salto que
havia colocado na bolsa, era um salto nude simples, que tinha apenas uma tira para dar apoio ao
pé e outra que fechava o sapato. Soltou os cabelos loiros que caíram sobre os ombros com um
pouco de volume, foi até o banheiro e fez uma maquiagem carregada nos olhos com uma boca
mais clara. Ao terminar colocou um de seus perfumes preferidos e como já estava em cima da
hora, ela ouviu batidas na porta do quarto.

Ela apressou-se em abrir, Thomas estava parado vestido em uma maravilhosa roupa social
escura, o cabelo penteado para trás e o cheiro da loção pós-barba inebriante, Kate não
conseguiu esconder a admiração ao olhar para ele. Assim como Thomas não conseguia esconder a
admiração ao olhar para ela.

— Você está maravilhosa — ele falou.

— Você está perfeito — ela respondeu.

Ele estendeu o braço para ela como um cavalheiro. — Vamos, Senhorita Snow? Se ficarmos
aqui por mais um minuto eu desistirei do jantar e te agarro agora mesmo.

— Vamos, senhor Wolf — ela disse segurando seu braço. — Não queremos estragar a
noite, não é mesmo?!

Eles passaram pela porta e foram na direção à um restaurante que tinha no hotel. Ao
chegar todos olhavam para eles, com isso, Kate se sentiu tímida e um tanto envergonhada, o
garçom os levou para uma mesa perto das grandes portas de vidro que mostravam à vista
deslumbrante da praia. O restaurante era moderno, sua luz baixa, o que passava uma sensação
de romance, nas mesas tinham velas em castiçais, tudo parecia perfeito. À esquerda da entrada e
longe das portas que davam para a praia, um cantor apresentava músicas românticas,
acompanhado apenas do toque de seu violão. Kate pousou a mão sobre a de Thomas e lhe deu
um breve beijo, ela estava com um sorriso enorme no rosto, sorriso esse que sumiu assim que ela viu
quem havia acabado de chegar ao restaurante, era Bruno, ele estava desacompanhado e olhava
diretamente para ela.

Ela sentiu-se mal com aquilo, os olhares que Bruno lançava para ela já estavam começando
a assustá-la, será que ele a estava perseguindo? Como Kate estava paralisada encarando Bruno,
Thomas seguiu o olhar dela e também o viu, Kate o sentiu ficar desconfortável ao seu lado.

***
— Puta que pariu! — Thomas falou ao ver Bruno entrando no restaurante. — Esse pé no
saco está em todos os lugares.

— Thomas! — A voz dela parecia um misto de irritação e constrangimento.

O tal do Bruno estava sozinho na porta do restaurante, conversando com o garçom e não
tirava o olhar de Kate. Thomas não o culpava, era realmente difícil resistir à aquela loira, na
verdade o culpava sim, ele poderia ao menos disfarçar. Kate por sua vez já havia desviado o
olhar, ela com certeza sabia que Thomas não estava gostando disso. Quando viu o garçom guiar
Bruno para uma mesa distante da deles, deu graças a Deus e voltou seu olhar para Kate, que
estava visivelmente tensa.

— Ei amor — Thomas a chamou e isso fez o coração de Kate saltar, eram poucas às vezes
que ele a chamava assim. — Eu falei com Tracy e... — ela o interrompeu.

— Eu ouvi — ela afirmou com vergonha. — Eu estava fingindo que dormia, escutei tudo. —
Ela passou uma mecha do cabelo por trás da orelha e olhou para ele

— Danadinha, e então? — ele suspirou e estendeu para ela uma caixa, abrindo-a e
mostrando uma aliança de prata, a filha havia comprado enquanto ele se arrumava. Até porque
ele não fazia ideia de como se fazia um pedido desses. — Você aceita namorar comigo? Eu sei
que parece precipitado, nós nos conhecemos agora, mas eu te amo Kate. Você trouxe a minha vida
uma luz diferente, fazia muito tempo que eu não me sentia tão bem e acho que não quero nada
mais do que o seu amor para poder viver. Apenas diga que sim.

— Eu nunca recusaria, eu nunca amei ninguém antes e te amar me faz uma pessoa melhor,
eu achava que era errado me sentir assim, mas não quero resistir a esse sentimento. — Ela
estendeu a mão para ele colocar a aliança. — Eu aceito, Amor — ela falou experimentando a
sensação de chamá-lo de amor, era maravilhosa.
O clima no restaurante estava bom, o local todo cheirava a rosas e Kate já não parecia
tensa, Thomas no entanto se sentia estranho, sabia que Bruno mexia com sua loirinha, não era de
um modo bom e não ia deixá-lo se aproximar mais. O professor afastou esse pensamento e pensou
que nada atrapalharia aquele momento especial.

O restaurante estava silencioso até que o cantor voltou a cantar, era uma música lenta e
Thomas viu nisso uma oportunidade de tirar Bruno dos pensamentos de Kate e conquistar mais um
pouco o coração dela. Ele se levantou e caminhou para o lado dela, estendendo-lhe a mão e a
chamando para dançar, quando ela finalmente pegou sua mão e se levantou, nesse momento, já
livre da tensão, Thomas observou atentamente como Kate estava linda, ele havia reparado
rapidamente quando a havia buscado em seu quarto, mas agora reparando melhor, o vestido que
usava lhe caia muito bem, era preto descia colado até o início dos quadris e depois ficava mais
solto e no lado direito do vestido tinha uma abertura que ia da coxa até o pé dela, mostrando
suas belas pernas enquanto ela andava. Isso o teria incomodado bastante se ela estivesse
andando sozinha, aquela mulher era linda e esse vestido piorava tudo, deixando-a extremamente
sexy.

Quando eles andaram em direção à pista de dança, vários olhares se viraram para eles e
maioria masculinos, é claro. Thomas só conseguia pensar em como queria bater em cada um que
desejava a sua mulher. "Minha mulher", essa ideia ecoava nos pensamentos de Thomas, pelo menos
aqui no Caribe. ele não teria que fingir ser apenas o pai da amiga de Kate, não mais. Agora ele
poderia estar sempre com ela sem deixar que outras pessoas os atrapalhassem, o que o
incomodava era o fato de ter que manter uma relação professor/aluna com ela na faculdade, era
difícil para ele se manter discreto quando ouvia alguns alunos comentarem sobre ela, fazendo
apostas imbecis relacionadas a ela.

Era meio difícil se controlar durante as aulas, sempre havia algum momento em que olhava
para Kate, ou olhava feio para quem olhasse para ela. Quando conheceu a mãe de Tracy foi da
mesma forma, ou até pior. Eles eram colegas de turma, no último ano do colegial e ela era líder de
torcida e uma das mais belas mulheres que ele havia visto. Quando começaram a namorar ele
tornou-se extremante possessivo, isso fez eles terminarem várias vezes e a saudade os fazia voltar
de novo.

Ainda perdido em suas lembranças, Thomas conduzia Kate pela pista com leveza, eles
dançaram por mais alguns minutos até que Thomas viu Tracy e John entrarem no restaurante, como
haviam combinado. O casal então voltou para a mesa e segundos depois a filha dele se juntou a
eles. Era estranho para Thomas ver como a filha havia lidado bem com tudo isso, ele esperou que
ela o crucificasse por isso, mas ela o apoiou.

— E então? — A voz de Tracy era um misto de curiosidade e ansiedade.

— Então? — John falou com o mesmo tom de curiosidade.

Thomas segurou a mão de Kate e logo todos perceberam, que eles já estavam namorando.

— Finalmente, hein, baixinha — disse John, abrindo um enorme sorriso.

— Concordo, amor — falou Tracy — Todo mundo já sabia que vocês se gostavam, só
faltam vocês admitirem isso.

— Obrigada. — Kate sorriu timidamente.

— Ah, que isso, eu que agradeço, quem sabe agora ele para de pegar no meu pé para
pegar no seu — Tracy falou de modo irônico.

— Vai sonhando filha — disse Thomas. — Nesse corpinho maravilhoso há ciúme de sobra
para as duas.

— Infelizmente não foi dessa vez — Tracy falou.

— Posso anotar o pedido de vocês? — Um garçom chegou interrompendo a conversa. Ele


falava com todos mas olhava apenas para Tracy, isso deixou Thomas com raiva e ele percebeu
que John também não havia gostado.

Thomas resolveu não arranjar confusão, o momento estava perfeito e ele não queria
estragar isso, além do mais Tracy não tinha percebido o garçom, o que era um alívio, tanto para
John, quanto para Thomas. Todos fizeram seus pedidos e voltaram a conversar, Thomas estava feliz
por estar ali com as duas mulheres que mais amava e com o cara que felizmente deixou de ser um
pé no saco. Ao olhar para filha, reparou na mudança que ela tinha feito, não usava mais os
enormes óculos de antes, usava lentes, suas roupas agora estavam ousadas, seu cabelo,
diferentemente de mais cedo, caia num liso quase perfeito sobre as suas costas e o rosto dela
agora parecia mais expressivo e marcante, "Acho que a minha menininha cresceu, rápido demais
para o meu gosto" ele se permitiu pensar.

Cerca de 20 minutos depois o garçom voltou com os pedidos, Thomas pediu um vinho de
1987 que logo em seguida chegou. Eles riram e se divertiram por um bom tempo, até decidirem
que já estava na hora de irem embora.
***

O jantar havia sido ótimo e Thomas agora que já estava em seu quarto e deitado em sua
cama se perguntava o que Kate estava fazendo no dela, a vontade de ir até lá ficar com ela era
enorme, mas Kate não se deixava influenciar facilmente e isso o deixava com mais vontade ainda.
Ele até tinha tocado no assunto dos dois poderem dividir o mesmo quarto agora que eram
oficialmente namorados e não precisavam mais esconder o namoro de ninguém, mas ela pediu um
tempo, dizendo que tudo isso era novo e que ela precisava pensar. Ele até entendia, mas era difícil
mesmo assim.

Lutando contra a vontade de ir até o quarto dela pedir abrigo em seus braços ele resolveu
ir dormir, torcendo por bons sonhos ao invés de pesadelos essa noite.
Capítulo Onze
Eram 5:30h da manhã quando Kate acordou, ela ficou alguns minutos deitada na cama
esperando que o sono voltasse, mas nada. Ela olhou para o dedo onde se encontrava o anel,
tentando garantir que tudo não havia sido apenas um sonho e ele estava lá, era lindo, tudo havia
sido lindo, o jantar, a dança, o pedido, as conversas. Logo ela lembrou-se de Bruno, aquele cara
não desistiria, parecia até a perseguir e isso a estava assustando bastante. Tentando reprimir a
ideia de que aquele loiro insistente parecia um psicopata ela foi tomar um banho, decida a fazer
uma caminhada.

A água estava quente e aconchegante, Kate passou vários minutos apenas deixando a
água cair sobre o seu corpo. Sem vontade nenhuma para sair dali, ela até começou a cogitar a
ideia de desistir da caminhada e se jogar na banheira, mas decidiu que o melhor era gastar
energia e conhecer um pouco do hotel. Que pelo pouco que havia visto parecia maravilhoso.

Kate vestiu um short curto que seguia o modelo "calça de moletom", cinza, pegou um top
preto e jogou uma regata também cinza por cima, calçou um tênis que ela havia comprado para
viagem e amarrou o cabelo molhado em um "rabo de cavalo", o bom de ter o cabelo liso era isso,
ela poderia amarrar como fosse que quando secasse ele estaria lindo, mesmo que em grande
parte do tempo ela preferisse usá-lo com cachos nas pontas ou totalmente cacheados.

Ela finalmente saiu do quarto, deixando a porta fechada, o ar ainda estava meio úmido,
mas quente, o sol havia nascido e já iluminava o céu, e que céu, "Tão azul quanto os olhos de
Thomas", ela pensou e logo sorriu. O céu nunca havia ficado tão azul em Stanford.

Ela começou a correr por uma pequena trilha que viu, tinha muitas árvores tropicais, mas
não era como uma floresta, era mais como um paraíso. Alguns minutos correndo até ela finalmente
conseguir ver o mar, que era de tirar o fôlego, que ela já não tinha depois de correr tanto. Kate
diminuiu a velocidade e começou a andar na direção do mar, achou um banco próximo à praia e
se sentou, agora com um pouco de preguiça por causa de todo o caminho que tinha que percorrer
de volta ao hotel, chegando lá a única coisa que ela iria querer era se jogar naquela banheira.
Estava desejando isso desde o dia anterior.

Kate se permitiu alguns minutos lá apenas admirando o mar e então decidiu que era hora
de voltar, os planos dela eram só de caminhar pelo pequeno bosque e não sair dali, ela entrou
novamente na trilha e começou a correr, mas numa velocidade pouco menor a que ela havia
corrido para a praia.

— Kate Snow. — Uma voz masculina chamou-a. Ela parou de correr para olhar quem era.
Seu corpo todo tremeu ao olhar para ele, não era possível que até naquela trilha ele fosse segui-
la, logo ali onde não haviam muitas pessoas e nem para onde correr.

— Oi, Bruno. — Ela tentou sorrir, para não deixar que ele percebesse quanto a deixava
nervosa.

— Que bela surpresa te encontrar aqui. — Pena que ela não poderia dizer o mesmo —
Não imaginava que você também gostava de caminhadas — ele disse, agora parecendo mais
simpático do que assustador.

— Digo o mesmo de você. — Ela sorriu, agora pensando no quanto havia sido exagerada
ao pensar nele como um psicopata.

— Eu te vi no restaurante ontem, estava linda. — Ele se aproximou um pouco mais dela,


que deu uns passos para trás. — Seu namorado parecia um cão de guarda ao seu redor, mas eu
não o culpo. Se tivesse uma namorada tão deslumbrante como Katherine Snow também agiria
assim. — Ele riu de um modo cínico.

— Como sabe o meu nome? Não me lembro de ter falado, apresentei-me com o apelido e
também não te falei meu sobrenome. — Ela se afastou um pouco mais.

— Eu sei de muitas coisas. — Ele deu um sorriso meio forçado.

— De qualquer maneira obrigada pelos elogios, mas já está na hora de voltar para o
hotel — ela disse já se virando para ir embora.

— Até depois então, mas cuidado ao sair sozinha, esse lugar pode ser lindo, mas também é
muito perigoso para uma moça como você. — Aquilo era um aviso ou uma ameaça?!

— Vou me lembrar disso, Bruno. Adeus. — Ela voltou a correr, dessa vez mais rápido do
que antes, só queria estar o mais longe possível daquele cara.

Agora ela tinha voltado a pensar, talvez ela não tivesse exagerado tanto assim. Em menos
de 5 minutos já estava de volta ao hotel, entrou em seu quarto ofegante e começou a tirar a blusa,
estava morrendo de calor e estava suada por causa da corrida até ali. Ela tirou a blusa e então
ouviu a voz do amigo atrás de si.

— Calma, quando quiser fazer um strip para mim, avise antes para eu me preparar —
John falou em seu tom mais irônico, Kate deu um pulo, segurando a blusa à frente do corpo.

— Vai se ferrar! — Kate falou, rindo do amigo e em seguida jogando a blusa na cara
dele. — Por que invadiu meu quarto?

— Eu vim avisar que Thomas e Tracy já foram tomar café e eu estou indo agora, portanto
vista essa blusinha — Ele jogou a blusa de volta para ela — E venha comigo.

— Estou suada e nojenta. — Ela fez uma cara de nojo

— Sem exagero. — Ele fez uma careta. — Não importa! Vamos logo. — Ele a puxou pela
porta.

Kate tinha sorte de não estar tão mal, por que todos ali pareciam devidamente vestidos e
ela parecia que tinha acabado de acordar.

— Amor. — Thomas se levantou ao vê-la e lhe deu um beijo, seria difícil acostumar a ser
chamada daquele modo, mas ela adorava.

Eles tomaram um café rápido, até por que Kate perturbou muito Thomas para voltar rápido
para o quarto e tomar um banho. Os dois foram os únicos a levantarem da mesa, foram
abraçados em direção aos quartos, conversando sobre as diversas atividades que iriam fazer
juntos. Thomas disse que iria até o quarto dele se arrumar para que eles fossem para piscina e
Kate foi para o dela. Ela escolheu um biquíni rosa pequeno, como se os outros fossem de modelo
diferente, pegou o traje na mala e levou até o banheiro, tomou um banho rápido e vestiu o biquíni
que parecia ser feito para ela, penteou os cabelos e saiu. Não se preocupou em vestir nada por
cima do biquíni afinal a piscina era perto do quarto, apenas pegou uma toalha. Assim que saiu ela
deu de cara com Thomas.

Ele estava simplesmente lindo, seu corpo parecia algo moldado por anjos, parecia até
melhor do que antes, quando ela o tinha visto apenas de toalha. Ele estava sentado na cama de
Kate apenas com uma sunga preta e uma toalha no ombro esquerdo, ele olhava diretamente para
Kate como se estivesse hipnotizado, mas ela quem deveria estar, cada parte de seu corpo agora
reagia a ele e chamava por ele. Por um momento Kate se culpou por ter lido Cinquenta Tons Mais
Escuros na noite anterior, pois pela sua mente passavam várias ideias nada comuns.

— Nossa! — Thomas finalmente quebrou o silêncio. — Estou me sentindo tentado a não


deixar você sair linda desse jeito. — Ele sorriu e fez um gesto pedindo para ela sentar ao lado
dele na cama.
— Acho que eu não deveria deixar você sair assim. — Ela fez biquinho. — Você é uma
tentação ambulante.

Thomas sorriu, encarou-a por um segundo antes de tomá-la em seus braços para um beijo,
que não se parecia nada com os anteriores, que eram carinhosos e quase inocentes. Dessa vez era
um toque ardente, transbordando desejo. Ela sabia que deveria resistir e esperar mais um pouco,
mas o seu corpo não respondia a sua mente.

— O que você acha de ficarmos na hidromassagem um pouco antes de ir para piscina lá


fora? — Kate perguntou, desejando que mais nenhuma mulher pudesse olhá-lo dessa forma.

— Acho uma ótima ideia. — Ele se levantou da cama e foi ligar a banheira, voltou e pegou
Kate no colo. — Vamos.

— Eu ainda posso andar — ela falou ironicamente.

— Mas eu prefiro te carregar. — Ele deu um beijo nela.

Ele só a colocou no chão ao chegar perto da banheira de hidromassagem, ela desceu as


escadas enquanto ele segurava em sua cintura para apoiá-la. Kate adorou a banheira desde a
primeira vez que a viu, era quase uma relação de amor à primeira vista e só não entendia por
que o título de banheira, aquilo mais se parecia uma piscina de águas borbulhantes, por ser muito
grande. Thomas entrou logo em seguida, sentando-se num degrau a frente do que Kate estava.

— Eu já te falei que não deveria me provocar desse jeito? — disse Thomas ao olhar para
Kate, que estava mordendo o lábio inferior.

— Se já disse eu não ouvi — Kate o provocou mais uma vez. — Ou não ligo.

— Quanto atrevimento, senhorita Snow — ele falou enquanto chegava mais perto dela. —
Não faça isso comigo, não tem ideia de quanto tem sido difícil não te agarrar — ele disse e então
a beijou ardentemente.

— E por que não me agarra? — ela disse assim que eles pararam de se beijar.

— Porque não tenho certeza se vou conseguir me controlar — ele falou olhando nos olhos
dela, o olhar dos dois transmitia desejo.

— Então não se controle — ela falou.

— Você não tem medo de brincar com fogo não é mesmo, senhorita Snow?
— Não — Ela beijou-o, estava pronta e nada mais importava. — Sabe, acho que brincar
com fogo é justamente o que eu quero nesse momento.

Kate viu um olhar confuso no rosto de Thomas, mas ela queria mesmo, era até difícil de
acreditar nisso, mas sentia-se finalmente pronta, pensando nisso e vendo que Thomas não estava
acreditando nela, ela decidiu "Partir por ataque", não queria ter tempo de se arrepender ou
deixar o medo tomar conta, mesmo assim era difícil não se sentir receosa. Apenas sabia o que
havia lido e estava com medo de errar, mesmo assim ela se aproximou e passou uma das mãos
pelo seu pescoço, fazendo com que seus corpos ficassem colados. Thomas passou as mãos pelas
coxas de Kate e fez com que ela ficasse agarrada em sua cintura. Kate arfou com o contato tão
íntimo e isso fez Thomas apertar ainda mais o seu corpo contra o dela.

Ele a sentou na beirada da hidromassagem, ajoelhou-se no primeiro degrau, à frente dela,


logo em seguida voltou a beijá-la, era um toque lento e prazeroso. Ao mesmo tempo, Thomas, levou
uma das mãos até o nó da parte de cima do biquíni e o puxou. Em seguia levou as mãos até o
outro nó e também o desatou, fazendo com que os seios dela ficassem revelados. Kate estava
envergonhada por estar tão exposta, mas não iria desistir, ela o desejava mais do que tudo.

Eles ficaram só em beijos e amassos por um tempo, mas logo Thomas pegou Kate no colo
novamente e saiu da piscina, indo em direção a cama, ele deitou-a, sem se importar se estavam
molhados ou não, parou fitando-a por um momento e então veio para cima dela, distribuindo
vários beijos pelo seu corpo, desde o pescoço até quase a parte de baixo do biquíni em seguida
voltando a beijar a boca macia e inchada da loira.

Um pensamento corria pela cabeça de Kate,"Será que estou fazendo a coisa certa?!", mas
ela decidiu ignorá-lo, nada mais importava. Thomas parou fitando-a por um instante, o que fez
Kate corar. Mesmo com toda vergonha que sentia, ela não queria parar, então o puxou pelo
pescoço para mais um longo beijo, enquanto as mãos de Thomas deslizavam ansiosas por todo o
corpo dela, a sensação que a pele dele em contato com a sua causava era embriagante. Com
delicadeza, ele foi retirando a parte de baixo do biquíni dela enquanto ainda a beijava, parou
apenas por alguns segundos para poder retirar totalmente a calcinha dela. Depois voltou a se
concentrar nos lábios de Kate, até descer beijos pelo pescoço, ombros e finalmente chegar aos
seios. Chupou um enquanto agarrava o outro com uma mão, aquilo estava fazendo Kate delirar,
era muito melhor do que apenas ler em livros e até achava que a sensação que estava tendo era
bem mais intensa do que a descrita no livro. Thomas desceu mais beijos, causando pequenos
arrepios na pele dela e então ele parou por um momento acariciando o meio de suas pernas e
abrindo-as.

Thomas depositou um beijo leve no íntimo dela, em seguida abriu um pouco mais suas
pernas e começou a beijá-la, no começo Kate tentou conter os sons que teimavam em escapar de
sua boca, mas a sensação era tão inebriante que não conseguiu por muito tempo e logo o som que
ecoava pelo quarto era o dos gemidos dela. Ela levou a mão até o cabelo dele e o puxou, sem
conseguir controlar os movimentos involuntários que o seu corpo fazia, quando sentiu que ele
acelerava o movimento que fazia com a língua, Kate ela notou algo apertar dentro de si e uma
sensação muito boa começar, mas logo ele parou, o que fez ela soltar um suspiro pesado.

— Eu não tenho um preservativo aqui.

— Eu tomo pílula para controlar minha menstruação desde os quinze anos — ela falou com
a voz fraca.

Ao ouvir isso ele não se controlou mais, afastou-se o suficiente para arrancar a sunga e
voltou a deitar-se sobre ela, subindo na cama enquanto depositava beijos por todo seu corpo.

— Você está pronta, amor? — ele perguntou passando a mão pelo rosto delicidado e, no
momento, completamente vermelho dela.

— Sim. — Por algum motivo ela já não tinha mais medos e muito menos dúvidas.

Thomas se posicionou entre as pernas dela, deixando que Kate sentisse quando seu membro
encostou na entrada macia e úmida dela, tentou não pensar se doeria, apenas relaxou. Ele foi
entrando aos poucos, tentou se controlar para não a machucar. Kate sentia um desconforto, a dor
não era tão grande quanto todos falavam. Thomas a abraçou e ela cravou as unhas em suas
costas, em parte pela dor, em parte pela pressão e desconforto, em pouco tempo ele já estava
totalmente dentro dela, parado apenas esperando que ela se acostumasse. Quando ela deixou de
cravar as unhas em suas costas, Thomas decidiu que aquele seria o momento correto para começar
a se movimentar. Ele se moveu lentamente, várias vezes.

— Se doer você pode falar que eu paro — ele falou e ela apenas concordou com a
cabeça.

Não doía muito, apenas incomodava um pouco, mas quanto mais ele se movia menos dor ela
sentia. Thomas começou a aumentar a velocidade aos poucos, ouvindo pequenos gemidos de Kate.
Ela já não sentia quase dor nenhuma, era como se estivesse anestesiada pelo prazer. Ele
movimentou-se cada vez mais rápido fazendo com que os gemidos dela aumentassem, não
demorou muito para ela sentir o calor preencher seu corpo, aquela sensação maravilhosa estava
vindo de novo. Ela o agarrou e sentiu o prazer tomar conta de seu corpo, deixou um gemido alto
escapar quando veio a si e Thomas não demorou muito para gozar também. Ele se manteve dentro
dela por mais alguns minutos antes de finalmente sair.

— Acho que precisamos de um banho — falou e ela apenas concordou com a cabeça.

Thomas se levantou e a ajudou a se levantar, Kate olhou com vergonha para a pequena
mancha de sangue que havia nos lençóis brancos, o que o pessoal do hotel iria achar?! Ela tentou
não pensar nisso e seguiu Thomas até o banheiro. Ele ligou o chuveiro na água gelada e entrou
primeiro, fechando os olhos quando sentiu os jatos massageando a pele. Quando ele abriu os olhos
fez um gesto para que Kate se juntasse a ele, a jovem entrou no box timidamente. Ele saiu de
baixo do chuveiro e a deixou entrar, molhando-se com os olhos fechados, enquanto Thomas
colocava um pouco de sabonete líquido nas mãos e começou a passar pelo corpo dela, ajudando-
a a se lavar.

— Você é perfeita — ele falou e a beijou debaixo do chuveiro.

— Eu te amo — ela falou, não sabia porque, mas algumas lágrimas escorreram de seus
olhos. Tudo parecia ter criado uma intensidade maior, como se eles estivessem conectados não só
pelo corpo, mas também pela alma.

Ele a abraçou e sussurrou em seu ouvido. — Eu também te amo, minha doce, Katherine. —
Ela sorriu ao ouvir aquilo.

Eles terminaram o banho minutos depois, Thomas vestiu a sunga e avisou que iria até o
quarto vestir algo mais completo. Kate vestiu uma roupa confortável e trocou os lençóis da cama,
por outros limpos. Felizmente não havia molhado o colchão, ela deitou na cama esperando por
Thomas, mas foi vencida pelo cansaço e acabou dormindo.
Capítulo Doze
Thomas voltou ao seu quarto com um sorriso enorme estampado no rosto, entrou no quarto e
foi surpreendido, em sua cama havia uma mulher sentada de costas para a porta, de início ele não
a reconheceu, mas ela se virou lentamente. Era como ver uma assombração, Thomas ficou
paralisado sem saber o que falar. Fazia tantos anos que não a via que ele mal sabia o que falar,
várias perguntas rodeavam sua mente. "O que ela está fazendo aqui e como ela descobriu onde eu
estou?", a mente dele parecia rodar, ela estava com um sorriso cínico no rosto, adorando vê-lo
atordoado.

— Olá, querido. — Ela se levantou de cama e caminhou até onde Thomas estava. — Sentiu
a minha falta? — perguntou passando a mão pelo rosto dele.

— O que você está fazendo aqui? — Foi a única coisa que ele conseguiu dizer.

— Eu vim ver você, estava com saudades — ela falou fingindo estar magoada pela
pergunta. — Já faz 19 anos que não nos vemos.

— Eu preferia não te encontrar nunca mais. — Ele disparou.

— Não diga isso. — Ela colocou a mão no peito. — Assim você fere os meus sentimentos,
ainda mais do que já os feriu. Sabe, os anos fizeram muito bem a você. — Ela passou os olhos pelo
corpo seminu dele. — Está ainda mais gostoso. — Ela passou a língua pelos lábios.

— Eu não tenho nada para conversar com você — ele disparou com raiva, não esperava
ver aquela mulher nunca mais. — Saia do meu quarto.

— Calminha, querido, já estava de saída mesmo. — Ela caminhou até a porta e mandou um
beijo no ar para ele antes de fechar a porta atrás de si.

Thomas se jogou na cama, exausto, como poderia estar vivendo um sonho a minutos atrás e
logo depois ele se transformar em um pesadelo?! Aquela mulher ameaçava a destruir tudo o que
ele havia construído, se Tracy ou Kate soubessem da existência dela e de toda a história que havia
entre eles, talvez nunca mais olhassem na cara de Thomas. Ele havia enterrado essa história há
muito tempo, mas parece que a história se recusava a ficar onde deveria estar.

O jovem professor precisou se acalmar antes de finalmente voltar a realidade, ele foi até a
mala pegou uma roupa e a vestiu, mas tudo de modo automático. A visita inesperada ainda o
atormentava, ele não esperava que aquela mulher aparecesse justo agora, ainda mais naquele
hotel, não tinha como ela saber que ele estava ali.

Thomas tentou reprimir todos os pensamentos em relação aquela pessoa, ela estava
conseguindo o que queria, deixá-lo sem reação. Ele decidiu que voltaria para o quarto de Kate
para ver como ela estava e também para garantir que ninguém a incomodasse. Ele saiu do quarto
e o trancou dessa vez, não seria maluco de deixá-lo aberto de novo. Não foram precisos mais do
que dez passos para que chegasse ao de Kate, quando ele entrou percebeu que ela estava na
cama, parecia um anjo dormindo. Thomas se aproximou e sentou com cuidado na cama, ao lado de
Kate, ele não queria acordá-la. Naquele momento, ele pensava em como queria contar tudo para
ela, ser totalmente sincero, mas não podia. Ele sabia que se contasse correria o risco de perdê-la,
haviam coisas no passado dele que ninguém poderia saber.

Nesses poucos dias, Kate havia conseguido conquistá-lo de um modo que ele jamais
imaginaria ser possível. Thomas achou que era incapaz de amar novamente, mas ao estar com
Kate tudo mudou, o seu coração se acelerou de um modo que ele conhecia e que não sentia há
muito tempo. Se antes ele só queria ficar o mais longe possível dela, agora ele só desejava estar o
mais junto possível, porque todos os caminhos que ele tentava seguir o levavam diretamente a ela.

Thomas passou a mão pelos cabelos loiros de Kate, que abriu os olhos, espreguiçando-se
como uma gatinha. Ele a encarou, encantado, poderia passar horas apenas a olhando. Agora, ela
parecia ter uma luz diferente, os olhos dela estavam com um brilho mais forte, a pele parecia mais
reluzente, ela estava simplesmente linda.

— Oi — Kate falou, um pouco tímida.

— Olá, princesa. — Thomas depositou um breve beijo na testa dela.

— Que horas são? — ela falou procurando pelo celular na cama. — Dormi muito?

— Ainda é cedo. Não dormiu mais que 30 minutos. — Thomas se aproximou mais dela. —
Não quer dormir mais? Você deve estar cansada. — Ele a olhou com segundas intenções o que a
fez corar imediatamente.

— Obrigada, mas não me sinto cansada. Muito pelo contrário, estou ainda mais disposta.
— Ela piscou para ele.
— Pronta para outra?! — ele falou com a voz rouca e depois começou a rir. — Estou
brincando.

Ela pegou um travesseiro e bateu nele. — Idiota! — Ela sorriu, mas aos poucos, sua
expressão foi ficando mais séria. — Posso te perguntar algo?

— Claro que pode. — Ele passou a mão levemente pelo rosto corado dela.

— Foi... Você sabe... Bom? — Ela respirou para conseguir fazer a pergunta. — Quer dizer,
foi bom para você?

— Não se preocupe com isso amor, você foi maravilhosa — ele falou e se aproximou para
dar um leve beijo na testa dela. — E para você?

— Foi maravilhoso. Melhor do que em meus sonhos — ela disse essa última parte sem
querer.

— Espero que eu esteja nesses sonhos, hein!

— Em todos. — Ela sorriu.

— Bom saber que tem tido sonhos eróticos comigo. — Ele piscou para ela.

— Idiota! — Ela sorriu.

— Às vezes sou. — Ele deu de ombros. — Que tal almoçarmos e depois irmos à praia?!

— Perfeito. — Ela sorri para ele.

Thomas fez Kate trocar de roupa três vezes, falando que ela estava muito sexy para sair
daquele quarto, só parou de fazê-la trocar de roupa quando percebeu que não adiantava, todas
as roupas que ela havia levado eram praticamente do mesmo modelo. Ele começava a sentir falta
do frio de Stanford, onde Kate andava sempre cheia de roupas e ninguém podia admirar suas
belas curvas. Depois que fizeram amor, algo mudou nele, ele não sabia bem o porquê. Só sabia
que ele a olhava de um modo diferente, com uma paixão a mais e uma admiração que só parecia
aumentar. Cada sorriso dela fazia com que seu coração acelerasse, cada gesto dela chamava a
sua atenção e tudo parecia tão perfeito. As cores mais vivas, o ar mais puro, o dia mais feliz e a
vida mais completa. Toda a tensão de momentos antes havia desaparecido.

Eles almoçaram juntos, em um restaurante na cidade, depois passearam um pouco, olharam


algumas lojas e voltaram para o hotel para poderem ir à praia. A tarde passou rápido, eles
ficaram na praia até o sol começar a se pôr e depois voltaram conversando pelo "Bosque" até o
hotel.

— O que você acha de ficar no meu quarto? — ela perguntou, ele se surpreendeu por ela
ter sugerido aquilo.

— Você acha uma boa ideia? — Ele franziu o cenho.

— Claro, vamos fazer assim. Durma comigo essa noite e se você não roncar muito eu te
deixo dormir todos os dias comigo — ela falou dando de ombros.

— Acho justo. E se eu roncar muito o que acontece?

— Aí eu vou ter que arrumar um novo namorado. — Ela deu de ombros.

— O que você disse, mocinha?! — Thomas a repreendeu e a pegou no colo rodando-a no


ar. — Nunca mais repita uma coisa dessas. — Ele a beijou. — Diga: Eu nunca deixarei Thomas
Wolf — ele falou a colocando no chão.

— Não vou dizer isso. — Ela cruzou os braços.

Ele se aproximou dela e começou a fazer cócegas em sua barriga. — Diga que nunca vai
me deixar.

Kate gargalhou enquanto falava. — Eu nunca vou deixar Thomas Wolf. — Ela repetiu.

— Muito bem.

— Juramentos sob ameaças não são válidos — ela disse e saiu correndo.

— Ah, sua danada. — Ele correu atrás dela.

Quando chegaram ao hotel os dois já estavam cansados, então Thomas resolveu que era
melhor pedir o jantar no quarto. Thomas foi para o seu quarto e tomou um rápido banho e depois
voltou para o de Kate, quando chegou ela ainda estava no banho, exatos cinco minutos depois ele
escutou alguém bater na porta, presumiu que o jantar já estava pronto. Ele caminhou até a porta e
a abriu, ao abrir deu de cara com o seu pior pesadelo novamente. Ele sabia que ela não desistiria
de destruir a vida dele, não com tanta facilidade.

— O que você faz aqui novamente, Alice? — A raiva dele era evidente até em sua voz. —
Não te falei para ir embora?
— Calma aí, só vim te entregar o jantar. — Ela sorria de um jeito que ele lembrava bem.
— Subornei o entregador para poder trazer a sua comida.

— Você é maluca — ele falou passando a mão no cabelo. — Tudo bem, já entregou,
agora pode ir — ele disse já fechando a porta.

Ela pôs o pé e empurrou a porta de volta. — Não pense que vai se livrar de mim tão
rápido.

— Thomas, quem está aí? — Kate gritou do banheiro.

— Olha, o que temos aqui, quem é a vadiazinha, Thomas? — ela perguntou sorrindo.

— Ela, ao contrário de você, não é nenhuma vadia. É a minha namorada.

— Veremos por quanto tempo. — Ela sorriu de um modo assustador. — Creio que, a sua
"namoradinha" adoraria saber sobre o seu passado. — Alice colocou uma mão sobre o ombro
dele. — Você faz com ela o que fazia comigo, querido? — Assim que ela falou Thomas empurrou
a mão dela de seu ombro.

— Não me ameace, você sabe do que sou capaz. — Thomas replicou rapidamente, não
sabia ao certo o porquê de estar falando aquilo, só queria Alice fora dali o mais rápido possível.

— Vamos ver quem é mais perigoso nessa história, meu querido — ela disse saindo do
quarto. — E antes que eu me esqueça... — Ela se virou para ele novamente — Mande um beijo
para a sua namoradinha, diga a ela que temos muito em comum.

Ele fechou a porta, ainda atordoado e apoiou a testa na madeira, uma série de
pensamentos invadiu a sua mente.

***

— Me solta — Alice gritou.

— Você armou isso tudo, eu tenho certeza — Thomas falou com raiva, ela puxou o braço e
conseguiu se soltar.

— Você é um covarde, só não quer admitir que traiu aquela vadia da sua mulher. — Assim
que ela terminou de falar ele deu um tapa em sua cara, ela o olhou aterrorizada. Ele estava
desesperado, não sabia por qual razão tinha feito aquilo e não lembrava de nada daquela noite.

Thomas se virou e saiu do quarto, fechando a porta com força atrás de si.
— Não me deixe. — Ele sentiu o braço ser puxado por Alice e se virou por um momento. —
Eu... Eu... Não posso ficar aqui sozinha. — Ela gaguejou um pouco.

— Adeus Alice.

— Eu vou com você — ela gritou e Thomas a ignorou. "

***

— Ouvi uma voz vinda daqui — Kate disse de algum lugar atrás dele, fazendo com que
ele acordasse de seus pensamentos. — Quem era?

— Ninguém, só vieram entregar a comida — ele respondeu, meio atordoado e virou-se


para ela, para a surpresa dele Kate estava usando apenas uma lingerie e tinha a toalha em mãos
enquanto secava os cabelos. — Assim não tem como eu me concentrar.

— Oh — Ela caminhou até a mala, pegou a camisola e a vestiu. — Desculpe — ele apenas
assentiu, não sabia como agir naquele momento só precisava ficar sozinho e colocar os
pensamentos e ordem.

— Eu preciso resolver algumas coisas. — Ele inventou uma desculpa.

— Não vai comer?

— Estou sem fome. — E ele realmente estava, havia perdido a fome assim que vira quem
havia entregue a comida. Ele caminhou até ela e beijou a sua testa.

— Vai dormir aqui? — ela perguntou.

— Vou sim.

Thomas saiu do quarto e foi caminhar pelo hotel, ele se perguntava como era possível
alguém esquecer uma noite tão importante de sua vida?! Ele não lembrava de nada do que havia
acontecido antes de acordar no motel, não sabia o que realmente havia feito e o porquê de estar
lá. Apenas sabia o que Alice havia contado. Caminhou por quase uma hora até que decidiu voltar
para o quarto, não queria deixar Kate sozinha. Ao chegar no quarto ele encontrou Kate
concentrada, lendo algo em seu celular. Assim que notou sua presença, a jovem largou o celular e
se ajoelhou na ponta da cama.

— Você voltou. — Ela passou as mãos pelo pescoço dele e o beijou. -

— Eu disse que voltaria, tem um lugar sobrando nessa cama para mim? — Ele passou as
mãos ao redor da cintura dela.

— Sempre tem — ela disse se inclinando para beijá-lo novamente, sinais dessa vez o beijo
dela não estava mais tão doce, na verdade, deixava claro a necessidade que ela sentia por ele.

Thomas queria aquilo tanto quanto Kate, mas ele não poderia fazer amor com ela do jeito
que estava, sua concentração, seus pensamentos não estavam totalmente ali, eles insistiam ir para
outra noite, uma que havia acabado com a sua vida. Thomas pretendia amar aquela linda jovem
apenas quando estivesse inteiro para ela, era o que a jovem merecia isso. Thomas apenas a
afastou um pouco e deu um beijo em sua testa, sentou-se ao lado dela na cama e a envolveu em
seus braços. Os dois ficaram assim por um longo tempo, até que o sono começou a tomar conta
deles e os dois deitaram. Dormindo abraçados.
Capítulo Treze
Thomas ainda dormia e deitada ali ao seu lado, Kate o admirava, pensando em como ele
parecia um anjo quando dormia, toda a preocupação em seu rosto havia ido embora, agora, seu
rosto encontrava-se totalmente sereno. Desde a manhã do dia anterior ele havia agido de um
modo esquisito, sempre perdido em pensamentos e mais cuidadoso do que de costume. Isso a
deixava intrigada, ela era curiosa e estava morrendo de vontade de perguntar a ele o motivo
daquilo, mas havia se controlado, se fosse para ela saber ele mesmo contaria.

Enquanto tomava banho, à noite, ela havia ouvido uma voz feminina juntamente com a de
Thomas, a primeira reação foi ir lá fora e surpreender a vadia, mas lembrou-se de que eles
haviam pedido comida no quarto, então não deveria ser ninguém mais que a entregadora. Por via
das dúvidas ela resolveu chamar a atenção de Thomas e da mulher apenas gritando do banheiro
"amor" e perguntando quem estava lá. Ele respondeu e logo em seguida ela ouviu a porta ser
fechada e por isso decidiu sair do banheiro, vestindo apenas uma lingerie sensual.

A intensão de Kate era provocá-lo, o que parecia ter funcionado até ele pedir para ela
vestir a camisola que tinha em mãos, aquilo tinha sido extremamente constrangedor, ele a havia
rejeitado pela primeira vez na noite e para piorar, logo em seguida, deixou-a sozinha no quarto,
afirmando que tinha algo importante para resolver. Quando voltou, Kate tentou novamente
provocá-lo, mas novamente foi rejeitada, ele apenas ficou ali, abraçando-a até dormirem. Tudo
bem que havia sido ótimo dormir nos braços dele pela primeira vez, mas não era daquele modo
que ela esperava acabar a noite, ainda mais depois de terminar de ler Cinquenta Tons Mais
Escuros.

Havia algo de errado com Thomas e ela queria descobrir o que era, sabia que seria muito
precipitada em se meter em sua vida daquele modo e por isso decidiu sair para se acalmar um
pouco. Ela estava decidida a seduzi-lo de qualquer maneira e para isso já tinha algo em mente,
faria uma coisa que havia visto em um filme uma vez. Provocar ciúmes sempre funcionava, não?!
Ela se levantou devagar da cama, torcendo para não o acordar. Foi até o guarda-roupa e pegou
o menor biquíni que tinha, ele era preto e contrastava muito com sua pele, ela penteou os cabelos e
deixou-os cair sobre as costas. Escreveu num bilhete um recadinho para Thomas, dizendo aonde
estaria e em seguida saiu na ponta dos pés, antes pegando um short folgado e o vestindo. Kate foi
até a piscina, mas lá estava vazio devido ao horário então decidiu caminhar até a praia, seria
ainda melhor se ele a procurasse que nem louco.
Se o plano desse certo, ele não a rejeitaria mais, Kate caminhou despreocupada pela
praia, esperando que Thomas ainda estivesse dormindo, ela ficaria apavorada se encontrasse um
bilhete como aquele que ela deixou. Ela não queria nem imaginar como ele ficaria bravo.
Chegando a praia ela reparou em alguém sentado num banco, era Tracy e ela parecia meio triste,
ou desanimada não dava para saber. Decidiu se aproximar e saber o que estava acontecendo.

— Hey, Tracy — Kate gritou sorrindo enquanto se aproximava de Tracy.

— Oi. — Tracy tentou parecer animada, o que deu a Kate a certeza de que ela não
estava bem.

— Aconteceu alguma coisa? — Kate perguntou, sentando-se ao lado dela.

— Nada.

— Pode falar comigo. Sou sua amiga, lembra?

— E também é a namorada do meu pai — Tracy falou com um pouco de desgosto em sua
voz, mas logo em seguida percebeu o que tinha dito e resolveu se desculpar. — Desculpe-me, Kate.
Eu não quis dizer que... — Kate a interrompeu.

— Tudo bem, você tem toda razão de estar frustrada. Sei como isso tudo deve ser difícil
para você e juro que não me apaixonei por ele de propósito, apenas aconteceu. quando eu me
dei conta já estava totalmente envolvida. — Ela tentou não parecer magoada.

— Eu sei disso, acho lindo o modo que olha para ele, não é isso que está me incomodando.

— Então me conta, o que está te deixando assim?

— O John — ela suspirou.

— O que aquele idiota fez? — Kate esbravejou.

— Não é nada demais. É que... — Tracy começou a frase, mas não conseguia falar aquilo
alto.

— Pode confiar em mim, amiga. Ficarei do seu lado e até a ajudarei a dar uma lição nele
se for preciso.

— É que ele quer fazer "coisas", eu sei como deve ser difícil para ele ter que esperar, mas
não estou pronta para isso ainda — ela falou meio constrangida. — Mas eu tenho medo de
perdê-lo.
— Sei como isso é complicado, mas nem tão complicado assim, se não se sente pronta, não
faça. Tenho certeza que John vai entender o seu lado, eu vejo como ele te olha, nunca o vi tão
envolvido com alguém desse modo. Acredite, você é especial. — Ela fez uma prece pausa. — Mas
se ele não entender, sempre há outros modos de convencê-lo, o rosa e pink.

Tracy a olhou confusa. — Como assim?

— Eu te apresento o rosa. — Kate levantou uma das mãos fechadas. — E o pink. — Ela
levantou a outra, isso fez com que Tracy sorrisse. — Eles são infalíveis. — Kate deu de ombros.

— Obrigada, Kate — Tracy falou.

— Quando precisar, estamos à disposição. Kate levantou novamente as mãos fechadas.

Tracy sorriu por um momento e depois ficou um pouco retraída. — Você já fez?

— Já sim. — Kate suspirou, lembrando do que havia acontecido na noite anterior.

— Agora você é que não me parece bem. Quer ajuda em algo?

— É melhor não.

— Você acabou de me ajudar, posso fazer o mesmo por você.

— Não seria muito comum falar sobre isso com você.

— Não seja boba.

— Okay, vou ser bem direta — ela suspirou. — Eu e seu pai fizemos amor pela primeira
vez e também foi a minha primeira vez, mas eu estou achando que fiz algo de errado, porque
desde então ele tem evitado qualquer contato mais ousado comigo. Isso me deixa frustrada,
porque não sei o que saiu errado, eu li tanto antes disso, achei que soubesse tudo, mas na prática
é diferente. Para mim foi perfeito e não sei se para ele também foi — ela falou esperando
alguma reação vinda da amiga.

— Ah, realmente essa é uma conversa bem incomum. — Tracy sorriu por um momento. —
Mas acho que ele só está com medo de ter te machucado ou coisa assim, homens são cheios disso,
pelo menos os dos filmes. Não é como se eu fosse uma expert no assunto. — Ela deu de ombros. —
Acho que sei como te ajudar, enquanto eu caminhava pela praia eu vi uma placa.

— Uma placa?! — Kate perguntou confusa.


— Sim, essa será a solução — Tracy falou e logo em seguida começou a explicar como
aquela placa ajudaria Kate, ela se surpreendeu ao saber como a mente da amiga é perversa. E o
melhor de tudo é que era um plano infalível, consistia em alugar uma pequena ilha que havia ali
perto por dois dias, comprar algumas coisas na cidade para levar para lá, alugar dois jet-skis e
deixar pistas para que Thomas chegasse até a ilha.

Primeiro, Kate ligou para alugar a ilha, que por pura sorte do destino estava livre, depois
Tracy foi até o quarto de Kate e buscou algumas roupas e coisas que ela precisaria, enquanto
Kate foi até o porto alugar os jet-skis e ficou esperando por Tracy. Que demorou alguns minutos
enrolando Thomas, que segundo ela, estava louco atrás de Kate. Tracy também já entregou a
primeira pista para Thomas.

— Aqui tem tudo que você precisa — Tracy falou entregando uma bolsa para Kate. —
Comprei comida também, boa sorte.

— Obrigada, Tray. — Kate se despediu da amiga e subiu no jet-ski.

No começo ela teve dificuldade para pilotar aquilo, mas depois entendeu o que o cara
havia explicado e conseguiu finalmente sair do porto. Tracy havia garantido que Thomas também
sabia andar naquele veículo então Kate ficou um pouco mais tranquila. Chegando a ilha, ela
prendeu o jet-ski numa enorme pedra, esperando que ela fosse firme o suficiente para poder
segurá-lo. Por sorte e a ajuda de Tracy, ela havia achado uma ilha de aluguel, justamente para
casais, o aluguel diário da ilha não era caro, visto que lá tinha uma linda cabana toda decorada e
algumas cachoeiras e piscinas naturais, além da privacidade. Que era essencial. O problema só
seria explicar aquilo para seu pai quando chegasse a fatura do cartão de crédito, mas ela
resolveu não se importar com aquilo.

Kate guardou algumas das coisas que Tracy havia comprado, na cozinha e em seguida foi
até o quarto para poder vestir o conjunto de lingerie que havia pedido para Tracy comprar, Kate
não sabia como a amiga havia criado coragem para entrar em uma loja daquelas, mas seria
eternamente grata por isso. Foi para o banheiro do quarto e tomou um banho rápido, apenas para
se livrar de toda a terra que tinha em seu corpo. Ela vestiu o conjunto de sutiã e calcinha, em
seguida prendeu a cinta liga, com um pouco de dificuldade, nunca havia usado aquilo. Colocou
meias 7/8 e as prendeu na cinta, calçou um salto alto fechado e colocou as luvas.

Tracy era genial por ter conseguido tudo aquilo em um tempo recorde de uma hora e meia.
Kate caminhou até à frente do enorme espelho que havia no quarto e se encarou, nunca havia
usado algo tão ousado na vida. O conjunto que vestia era rosa escuro com rendas pretas, o salto e
as luvas também eram pretos.

Ela precisaria de dias para planejar isso de um modo perfeito, mas teve só algumas horas
e mesmo assim seria maravilhoso, ela caminhou até a sala e conectou o celular no aparelho de som,
deixando uma playlist de músicas sexy, que ela já havia encontrado pronta no Music. Tudo estava
pronto, só faltava uma coisa ali, Thomas. Kate suspirou um pouco nervosa, desejando que tudo que
ela havia aprendido com o seu mestre, Christian Grey, servisse naquele momento. Ela queria tornar
aquele dia inesquecível na vida de Thomas.

Demorou quinze minutos até finalmente ouvisse o som do jet-skis chegando a ilha, ela se
escondeu ao lado da porta e quando Thomas a abriu não percebeu que estava ali.

— Kate? — ele chamou um pouco inseguro.

— Estou aqui, amor — ela falou atrás dele.

— Katherine Snow, você pode me dizer que diabos de... — ele parecia zangado até se
virar e olhar para ela, o olhar dele subiu de pés até os seios dela e ficou paralisado ali.

— Você não fala nada. — Kate se aproximou dele, colocando um dedo sobre sua boca. —
Só fala quando eu disser que pode falar, entendido? — Ela o puxou pela camisa, as mãos tremiam
de nervosismo, ela sabia que não conseguiria fazer tudo o que tinha em mente, mas queria
surpreendê-lo.

— S...sim. — Ele parecia paralisado e não era para menos, aquele era um lado de Kate
que nem mesmo ela conhecia.

— Sente-se ali — ela apontou para um sofá.

— Eu... — Ele começou a falar, mas foi interrompido.

— Shii, você não fala, esqueceu?! Apenas obedeça. — Ele se calou e sentou-se no sofá de
um modo meio rígido.

Kate foi até a estante que ficava à frente do sofá em que Thomas estava e se abaixou
levantando bem a bunda, para dar uma boa visão a ele. Ela colocou a música Sexyback, de Justin
Timberlake, a primeira vez ninguém pode planejar como será, mas a segunda sim. Kate voltou-se
para Thomas e o empurrou para o encosto do sofá, ela começou a dançar sensualmente junto a
música, movendo-se em total sintonia, às vezes rebolando perto a ele e lhe lançando olhares
provocantes. O que estava funcionando muito bem, por que Thomas parecia perdido olhando para
o corpo dela.

Ela continuou dançando de maneira sensual e cada vez se aproximando mais de Thomas,
ela o puxou pela camisa, para fazê-lo ficar de pé, dançou colando seu corpo ao dele enquanto
descia passando as mãos ao seu corpo, por alguns momentos ela fingia que o beijaria, mas se
afastava quando ele tentava estreitar o contato, fugia de todos os toques dele, querendo estar no
controle de toda a situação.

— Não me toque até que eu diga — ela o ameaçou mordendo, em seguida, o lábio
inferior dele.

Voltou a dançar ao redor dele, como uma onça cerca sua presa, ele por vários momentos
tentava tocá-la e ela o repreendia com tapas leves. Outra música começou a tocar, dessa vez era
Shania Twain, com I Feel Like a Woman, essa era mais rápida que a outra, ela empurrou Thomas
para sentar de volta no sofá e virando-se de costas para ele começou a rebolar, passando sua
bunda na ereção dele de acordo com a música. Sem perder tempo, ele a agarrou pela cintura, o
que valeu uma nova repreensão por parte dela.

— Você não está se comportando bem, acho que vou te castigar por mais tempo. — Ela
ouviu Thomas xingar algo do tipo "puta merda" enquanto passava as mãos no cabelo.

Kate voltou a rebolar na frente dele, mas mantendo uma certa distância, ele agora passava
as mãos pela sua ereção, como quem não aguentava mais. "Hora de um castigo diferente" ela
pensou. Então se aproximou dele, inclinando-se como se fosse beijá-lo, mas ao invés disso, passou a
língua em seus lábios e começou a desabotoar a blusa que ele vestia. Ela o puxou, através da
blusa fazendo ficar em pé, novamente, assim terminou de arrancar a blusa.

— Agora eu sou a professora e você é apenas o aluno — ele apenas concordou com a
cabeça.

Ela desceu as mãos pelo abdômen sarado do namorado, chegando até o cós da bermuda,
ela desabotoou e ele terminou de tirar, arrancando primeiramente os sapatos. — Vamos para o
quarto. — Ela seguiu na frente dele, fez um sinal para ele sentar na cama e então se ajoelhou
entre as suas pernas, puxando sua ereção para fora da cueca.

Thomas olhou-a com uma cara de surpresa e prazer ao mesmo tempo, ela tomou a ereção
dele em suas mãos e começou a masturbá-lo, ele arqueou a cabeça para trás em prazer, ela
passou a língua pela glande e o sentiu estremecer, em seguida começou a fazer movimentos
circulares com a língua enquanto o masturbava. Thomas apertava as mãos no colchão da cama,
ela parou de masturbá-lo e começou a chupar sua ereção, que por ser muito grande, não cabia
toda em sua boca, ela esperava estar fazendo tudo corretamente e por mais nervosa que
estivesse, ela se recusava mostrar isso a ele.

Ela continuou a chupar, enquanto com uma mão o masturbava e com a outra mexia em suas
bolas, ele começou a estremecer na boca dela e nesse momento ela parou de chupá-lo, isso era
parte do castigo, Kate queria que Thomas demorasse a gozar, então puxou sua cueca deixando-o
completamente nu. Começou, logo em seguida, a fazer um strip-tease lentamente, virando se de
costas e retirando primeiro o sutiã e jogando para ele, que agora de masturbava sozinho olhando
ela, depois tirou a cinta-liga e as meias e jogou ao pé da cama. Retirou as luvas puxando-as com
os dentes.

Thomas se ajeitou na cama de modo que o seu corpo ficava apoiado em seus cotovelos,
Kate começou a se aproximar dele, agora apenas de calcinha e subiu na cama, caminhando de
quatro por cima dele, fazendo-o ficar completamente deitado. Ela juntou sua cabeça ao pescoço
dele e sussurrou.

— Já pode me tocar. — Tentando fazer uma voz sexy.

Dito isso, ele a puxou contra seu corpo e a virou, jogando-a na cama enquanto descia aos
beijos pelos seus seios e barriga, até chegar a calcinha, que ele arrancou, rasgando-a sem se
importar se ela aprovava ou não e jogou-a longe, agarrou uma das coxas de Kate, colocando
sobre o seu ombro e então começou a chupar o sexo dela, fazendo movimentos rápidos com a
língua, que estavam matando-a de tesão aos poucos.

Ele enfiou um dedo em seu sexo, ainda chupando o clitóris, Kate emitiu alguns gemidos de
prazer, enquanto ele aumentava o ritmo da língua, logo ela gozou na boca dele, estremecendo.
Thomas não parou, subiu aos beijos até chegar nos seios dela e então começou a mordiscar um,
enquanto apertava o outro. Ele parecia não aguentar mais o tesão, por isso penetrou-a devagar,
ainda doía um pouco no começo, mas quando já estava dentro dela, entrando e saindo, a dor
havia diminuído significativamente e ela sentia o prazer se construindo em seu interior. Kate
entrelaçou as pernas nas costas de Thomas que agora entrava e saía em estocadas mais rápidas e
firmes, ele sussurrou algo em seu ouvido, mas ela não conseguiu entender direito.

Thomas saiu de dentro dela, puxando-a para cima dele, numa rapidez que ela
desconhecia. Sabia que uma hora isso iria acontecer, temeu não dar conta, mas mesmo assim
começou a se mover devagar com a ajuda de Thomas, que segurava a cintura dela, ajudando a
subir e descer, então ela conseguiu se mover com mais facilidade, cada vez mais rápido. Kate
começou a sentir que iria gozar novamente e Thomas começou a estremecer junto com ela como se
soubesse que Kate estava quase gozando, os dois gozaram juntos.

— Puta merda! — Thomas exclamou.

Kate deixou seu corpo cair ao lado do de Thomas, ainda ofegante, ele a puxou para um
abraço.

— A aprendiz supera o mestre. — Ele sorriu beijando os cabelos dela.

— É o que parece — ela zombou um pouco dele, que a abraçou mais forte.

O abraço indicava proteção e ela se sentia mais segura do que nunca e mais realizada
também, agora ela sabia que tinha armas potentes para domar um certo professor. Eles ficaram
ali, deitados, um acariciando o outro, por um longo tempo.

***
— Agora me diz, onde aprendeu tanta coisa em pouco tempo? — Ainda acariciando os
cabelos de Kate, Thomas tentava não parecer tão desconfiado.

— Agradeça ao Senhor Grey, ele me ensinou tudo o que sabe. — Ela sorriu com a
expressão que ele fez. — Ele foi bem prestativo a mim.

— Quem diabos é senhor Grey? — ele perguntou com raiva.

— Um personagem de um livro que eu li e meu amante secreto literário. — Ela gargalhou.

— Lembre-me de agradecê-lo então, só depois de morrer de ciúmes — ele falou e ela deu
um beijo rápido nele, adorando tudo aquilo.

Kate se levantou lentamente da cama. — Vou para o banho — disse se enrolando num
lençol. — Não demorarei — completou.

— Tudo bem — Thomas a observou sair na ponta dos pés até o banheiro, algumas vezes
levantando o lençol que teimava em cair de seu corpo, como se agora tivesse voltado a ser aquela
garota tímida. Ele tinha adorado isso, as duas faces dela e com toda a certeza essas duas faces o
deixavam totalmente louco.

O telefone dele começou a apitar em som de nova mensagem, ele escorregou pelos lençóis
e apanhou as roupas para poder vesti-las novamente. Pegou o celular do bolso da bermuda e se
deteve um pouco antes de finalmente abrir as mensagens que haviam chegado.

Ele abriu a primeira, bufando ao ler cada palavra, "Parece que alguém não para de pensar
em mim haha", isso não era verdade, não necessariamente. Ele abriu a segunda, "Está com medo,
não é Tommy? Tem medo de machucá-la como fez comigo". Aquilo parecia um pesadelo, ele se
conteve antes de finalmente abrir a última, "Nem preciso assinar as mensagens por que você saiba
quem é, a menos que tenha feito mal a tantas moças assim".

Um flash de memórias invadiu Thomas novamente e ele voltou à aquela noite no hotel.

***

— Eu vou com você. — Os olhos dela estavam cheios de lágrimas.

— Não recebeu o suficiente? — Ele a encarou, não sabia o motivo de estar agindo daquele
modo, nunca havia tratado nenhuma outra mulher daquele jeito, mas sentia nojo de Alice e queria que
ela ficasse longe dele e de sua mulher.

— Espere! — Ela agarrou o braço dele. — Eu também vou, não pode... Simplesmente... — ela
falou entre soluços.

— O que que eu não posso?! — Ele sorriu ironicamente. — Olhe para você, tão fraca e
pequena, o que poderia fazer?!

— Eu... Eu... — Ela tentou falar chorando.

— Volte lá para cima Alice, ou vou te machucar ainda mais — ele disse por impulso, em sua
mente não parava de falar para si mesmo que parasse de agir como um idiota, mas as palavras duras
simplesmente saltavam da sua boca.

— Sua mulher saberá, se me deixar aqui contarei a ela. — Ela abraçou enxugando os olhos.

— Olha só, sua vadiazinha, se ousar a chegar perto da minha mulher eu te mato.

Ele tinha saído do hotel, dirigindo feito um maluco, a mulher dele, que estava grávida de quase
nove meses, esperava por ele em casa e ligou, desesperada, dizendo que a bolsa havia estourado. Ele
buscou-a, mas ainda estava nervoso pelo acontecido, não conseguia pensar direito no que estava
fazendo, parecia que estava no piloto automático.

***
Quando entrou naquela boate, havia seguido os conselhos do seu irmão, foi lá que
conheceu Alice, não tinha como saber que ela era apenas uma garota, ele também não era velho,
estava no auge de seus 20 anos, mas ainda assim ela era nova para ele.

Naquela noite ele havia bebido muito, não se lembrava de tudo o que tinha feito, mas se
lembrava de perder o controle do carro e acordar num hospital..."

Thomas não queria mais pensar nisso, não seria igual com Kate, ele não a machucaria como
fez com Alice ou com a sua mulher. Ele já tinha pago por isso, a dor de ver crescer a sua filha sem
uma mãe, a culpa o tinha consumido todos esses anos, mas ele sequer falava sobre isso, nem sua
própria filha sabia qual havia sido a real causa da morte da sua mãe e da sua quase morte.

Poucas pessoas da família sabiam e haviam excluído totalmente ele e Tracy da família,
como culpados da morte de Emily. Estavam certos, afinal. Depois do acidente Thomas nunca havia
conseguido se envolver com mulher alguma, nada que durasse mais de uma noite. Alice havia
corrido atrás dele por alguns meses e depois, simplesmente, sumiu. Quando ele conheceu Kate uma
chama reacendeu dentro dele, havia uma chance novamente e dessa vez ele não iria errar.

— Ei... Ei... — Kate estava na frente dele estalando os dedos. — Você me assustou. — Ela
forçou um sorriso. — Parecia em choque.

— Desculpe, estava só pensando.

— Seu olhar estava vazio, estou te chamando faz uns minutos — ela disse sentando ao
lado dele na cama. — Está tudo bem?

— Sim, não quero que se preocupe. Vamos só aproveitar. — Ele beijou a testa dela e
começou a levantar da cama. — Volto já, disse entrando no banheiro.

Ele tirou as roupas e entrou debaixo da ducha, a água estava gelada, isso era bom
considerando o calor que fazia naquela ilha, ele se limitou a passar não mais que cinco minutos no
banho, para não se perder em seus pensamentos novamente. Secou-se e vestiu apenas a cueca e a
bermuda, não sabia quais eram os planos de Kate para o dia, mas devido ao local em que eles se
encontravam ele não precisaria de muita roupa.

— Então... — ele disse saindo do banheiro enquanto secava os cabelos com uma toalha. —
O que essa mente criminosa preparou como próxima atividade?

— Hummm... Primeiro vamos a uma cachoeira linda que tem no meio da ilha — ela disse
levantando e indo buscar algo, quando voltou trouxe consigo um mapa.
— Sabe que não me incomodo de ficar aqui nesta cama, né?! — Ele lançou um olhar
sedutor a ela. — Mas se você quer tanto se enfiar no meio do mato, eu me rendo. — Ele levantou
as duas mãos fazendo ela sorrir.

— Não precisamos nos limitar apenas a camas. — Ela piscou para ele. — Venha logo!

— Estou indo, senhorita mandona — ele zombou da autoridade dela.

— Bom mesmo — ela disse e começou a andar rebolando na frente dele, o que o deixava
descontrolado.

Thomas não tinha reparado antes, mas agora ela vestia apenas um minúsculo short e uma
blusa folgada, seus cabelos caíam sobre as suas costas em leves ondas molhadas. Durante todo o
caminho Thomas a questionou sobre onde iam e ela apenas o mandava ficar quieto, a curiosidade
já estava matando ele, mas ela não diria. Eles andaram por pouco mais de vinte minutos, em meio
a uma trilha, até chegarem finalmente ao local. Era um tipo de enseada pequena, as águas eram
bem azuis, dava para ver através delas alguns corais coloridos, do outro lado da enseada havia
uma cachoeira pequena, por onde as águas corriam tão delicadamente que quase não se ouvia
barulho. Havia também uma caverna, iluminada pela água, que refletia em seu teto, Thomas estava
tão perdido olhando ao redor que nem percebeu que Kate já estava dentro da enseada, boiando
de olhos fechados como se não houvesse mais nada ali, para sua surpresa ela vestia apenas uma
calcinha.

— Você não vai entrar? — ela perguntou.

— Não trouxe roupa de banho. — Ele deu de ombros.

— Quem disse que precisamos de roupas? — Ela arqueou uma sobrancelha, se moveu um
pouco em baixo d'água e logo em seguida levantou a calcinha para ele, jogando-a em uma
pedra.

— Você me surpreende cada vez mais, Katherine Snow — ele falou sorrindo e começou a
tirar toda a sua roupa.

— Essa é a ideia, Senhor Wolf — ela falou e começou a nadar em direção a cachoeira.

Ele se deteve por um momento apenas, olhando a bela mulher a sua frente, só quando ela
começou a nadar que ele resolveu entrar na água, Kate estava nadando em direção à cachoeira
e ele seguiu-a sem retirar seus olhos dela. Naquele local ele quase poderia esquecer todos os seus
problemas, mas isso era impossível. Thomas chegou até ela e abraçou-a entrando também para
trás da cachoeira, a água era tão transparente que dava para ver o outro lado, a mata verde e
suas plantas coloridas.

Kate se libertou do abraço dele e foi nadando para longe, jogando água nele, de um
modo brincalhão e Thomas não resistiu saiu nadando atrás dela, que agora nadava mais rápido,
soltando de vez enquanto algumas gargalhadas, era como brincar de pique pega. Thomas se
sentia extremamente infantil, mas se sentia bem, o que era incrível, em anos não se sentia assim, tão
leve.

— Eu me rendo! — Kate gritou, levantando as mãos em sinal de rendição.

— Finalmente. — Thomas aproximou-se dela e a agarrou por trás, pela cintura.

Ela se virou para ele e iniciou um beijo sedento, eles ficaram alguns minutos entre beijos e
carícias, depois saíram de dentro da água e ficaram na beirada da caichoeira, Thomas amou Kate
ali mesmo, amou cada pedaço do corpo dela. Não havia como ele se sentir mais completo do que
naquele momento. Enquanto vestiam suas roupas novamente algo chamou a atenção de Kate e ela
manteve o olhar fixo em um local, ele levantou o olhar para onde o dela estava, a caverna. Tinha
uma luz diferente lá dentro, como se tivesse uma lâmpada acesa ou como se tivesse uma passagem
para outro lugar.

— Vamos entrar? — ela perguntou virando-se para ele.

— O que? Sem equipamento? Nem pensar.

— Sim, ah, vamos. Se você não for, vou sozinha. — Ela fez biquinho e ele a apertou mais
em seus braços.

— Se não tenho escolha.

— Olha, tem como andar por cima dali — ela disse, apontando para um pedaço de terra
e pedras no interior da caverna.

— Tudo bem, vamos.

Ele segurou-a, ajudando-a a subir em uma pedra e quando ela já estava segura no canto
perto da parede da caverna ele subiu também, algumas das pedras estavam cobertas de musgo,
o que fazia o chão ficar escorregadio. A parte mais firme era onde tinha areia, que estava um
pouco molhada, mas ainda assim, era mais segura que o musgo. Eles caminharam cuidadosamente
pela beirada até onde não tinha mais areia ou pedras. Kate começou a descer e ele a segurou
pelo braço.

— Está maluca?! — ele continuou segurando-a

— Falta só mais um pouco, se não quiser seguir não tem problema, eu volto já. — Ela se
retirou do braço dele e saltou na água, que por estar clara, ainda dava para ver como ela se
movia.

Por alguns segundos, Thomas se deixou admirar a bela mulher pela transparência da água,
aquela era uma das cenas mais lindas que ele já havia visto e com certeza nunca esqueceria
aquilo.

Ele sorriu e se jogou logo atrás dela, nadou debaixo d'água até onde seu fôlego durava.
Quando voltou a superfície viu um pedaço de terra onde Kate já se encontrava e nadou até lá. De
onde ele se achava agora dava para ver uma abertura que levava até uma outra pequena
enseada, ainda mais linda que a anterior, só que essa era verde e a vegetação era mais colorida
que a outra e tinha uma cachoeira enorme, mas ainda sim silenciosa.

— Uau. — Foi só o que conseguiu dizer. — Você já sabia disso? — ele perguntou.

Ela riu baixinho antes de responder — Sim, não sou tão corajosa assim. Faz parte do
passeio, vem.

Ele a seguiu por um caminho na areia até um tipo de balanço, ela sentou-se e Thomas ficou
observando-a, Kate era como uma boneca de tão delicada, por mais que tentasse parecer forte e
decidida ele só conseguia vê-la como uma boneca de porcelana, tinha medo de que o mundo
pudesse a quebrar, ou pior, que ele mesmo fizesse isso. Com esses pensamentos sentou ao lado de
Kate e agarrou a sua mão.

— Olhe para lá, é tão lindo — ela disse apontando para um local.

Ele olhou e ficou paralisado com tanta beleza, sol perto de se pôr era realmente
impressionante, o céu tinha as cores vermelho, laranja, amarelo e um azul intenso. Era perfeito, mas
infelizmente ele sabia o que isso significava, eles teriam que voltar, não poderiam ficar ali ao
anoitecer, era loucura andar no meio de toda aquela mata no escuro.

— Acho que devemos voltar amor — ele disse se levantando. — Não só para cabana, mas
para o hotel.

— Também acho, estou faminta. — Ela fez uma pausa. — De pizza. — E pulou como uma
criancinha, levantando do balanço. — Mas queria passar mais um tempo aqui, ainda temos um dia
livre.

— Então podemos ir amanhã pela manhã.

— Só teremos que avisar a Tracy, eu falei para ela que não sabia se voltaria hoje mesmo.

— E checar os jet-skis.

***

Eles atravessaram novamente a caverna, que agora estava mais escura, já estava
anoitecendo eles teriam que correr para chegar na praia a tempo. A água também já estava
gelada, o que o fez tremer durante o tempo que ficou dentro dela e ao sair, o frio de início da
noite o atingiu, ele abraçou Kate, supondo que ela também deveria estar com frio e eles
caminharam juntos em silêncio pela trilha, mesmo estando escuro ainda dava para ver o caminho.

A luz da lua e das estrelas iluminavam a trilha, passando por entre as árvores e plantas e
chegando até o solo, eles caminharam por cerca de vinte e cinco minutos até chegarem a cabana
novamente.

— Você não deixou o seu jet-ski perto do meu? — Kate perguntou

— Não. — Thomas se sentiu envergonhado por ter que admitir que teve uma pequena
ajuda para chegar na ilha. — Eu não vim guiando um, apenas me deixaram aqui.

— Ah, então vamos até o meu.

Eles seguiram em silêncio pela praia, devagar até chegar a uma pedra, Thomas procurou
por algo atrás dela que deveria estar amarrado, mas não havia nada além de uma corda que
parecia arrebentada.

— Diga-me que não foi aqui que você deixou seu jet-ski — Thomas falou passando as
mãos no cabelo.

— Eu... Eu... — Ela parecia estar em choque. — Estava aqui! Eu deixei ele aqui! — Kate se
jogou na areia e agarrou os joelhos. Ela tentava manter a respiração constante, mas estava
ficando impossível, a visão dela começou a escurecer, fazia anos que a jovem não tinha ataques de
pânico. "Meu Deus agora não", ela pensou e apertou ainda mais os joelhos contra o corpo. Ela já
não conseguia enxergar mais nada e aos poucos os sons do mar estavam sumindo.

***

Um campo cheio de rosas, iluminado pelo sol. Parecia até sereno, mas essa serenidade não
afetava Kate, na verdade, deixava-a ainda mais nervosa.

— Onde estou? — Kate gritou ouvindo o eco de suas palavras. — Olá?!

Como pode haver eco em um lugar aberto?! — Ela pensou.

Kate começou a andar e bateu em algo sólido, como uma parede mas não havia nada lá. Ela
tentou andar mais uma vez e bateu de novo contra algo sólido.

— Alguém me ajuda! — ela gritou correndo para o outro lado do campo, bateu contra uma
outra parede invisível e caiu no chão aos prantos. — Socorro — ela sussurra para si mesma em meio
ao choro.

Alguém começou a vir em sua direção, ela demorou um pouco para reconhecer, mas quando a
mulher se aproximou mais, ela a reconheceu, era a sua mãe. Ela caminhou como se não visse nada, até
enxergar a filha. Pousou as mãos contra a parede invisível, do outro lado. Kate se levantou e colocou
as mãos sobre a parede tentando tocar a mão de sua mãe, olhou para o rosto apreensivo da mãe que
sussurrava algo como 'Adeus minha filhinha'.

— Não! Não mãe... N..não me deixa aqui sozinha. — Ela começou a gritar batendo com força
na parede invisível. Então sua mãe sorriu e lágrimas de sangue tomaram seu rosto.

Tudo começou a ficar escuro e vermelho, o vermelho do sangue que ela já conhecia. Kate
olhou em volta e depois voltou a olhar mais uma vez para a sua mãe, mas ela não já estava lá. De
repente, Kate sentiu alguém tocar seu pé, ela olhou para ele e lá estava a mãe, ela parecia quase sem
vida, o vestido longo e vermelho estava coberto de sangue, Kate sentiu uma forte dor no peito ao vê-
la daquele modo.

— Não, mãe, fica comigo — ela gritou novamente, agora agarrada ao corpo quase morto da
mãe.

Ela fechou os olhos, torcendo para que aquilo fosse só um sonho..."

***

— Amor, ei olha para mim. — Uma voz fraca surgiu na mente de Kate.
— Mãe — ela falou em um sussurro.

— Não, meu amor, sou eu. Seu Thomas. — Alguns fios de luz apareceram, ela piscou várias
vezes tentando se acostumar com a claridade. — Como você se sente? — perguntou, Thomas,
apreensivo.

— Minha mãe. — Kate respondeu chorando, lembrando-se do sonho. — Ela estava...

— Calma, eu estou aqui com você — ele suspirou em alívio. — Foi só um sonho ruim.

— Foi tão real — ela disse levantando e abraçando-o

— Não pense mais nisso. — Ele fez uma breve pausa. — Você me deixou preocupado.

— O que aconteceu? — ela perguntou confusa. Não se lembrava de nada.

— Estamos presos. — Ele bufou — Nessa ilha.

— Não, não, deve ter algo errado eu vim de...— Ela parou quando conseguiu lembrar-se
de tudo. — Ai meu Deus.

— Calma, muita calma — ele disse pausadamente. — Não quero que você desmaie de
novo.

— Não seja bobo, eu estou bem — ela disse levantando rapidamente do sofá.

Sentiu as pernas fraquejarem e achou por um momento que ia cair, mas Thomas a segurou
na cintura.

— A senhorita, vai ficar sentadinha aqui — ele disse fazendo-a sentar no sofá novamente.
— Enquanto eu preparo algo para comermos.

— Você não está nenhum pouco preocupado? — ela disse fitando-o — Estamos presos
aqui.

— Claro que estou, mas vão sentir a nossa falta e virão nos buscar.

— Não tenho tanta certeza disso — ela disse cruzando os braços.

— Não pense assim amor, eu estou aqui com você.

— Nós vamos acabar como naqueles filmes em que duas pessoas se perdem num naufrágio
e ficam presas em uma ilha vivendo na mata.
— Princesa. — Ele riu, chegou mais perto dela e se abaixou segurando o seu rosto Com as
duas mãos. — Sentirão a nossa falta, confie em mim.

— Eu confio — ela disse e então o beijou. — Você não trouxe um celular?

— Sim — ele disse de cabeça baixa. — Mas a bateria já estava fraca quando cheguei
aqui, ele descarregou. E eu não consegui achar o seu.

— Isso só pode ser brincadeira. — Ela sentiu as lágrimas virem, mas as conteve.

— Vai ficar tudo bem — Ele disse, abraçando-a, lágrimas ameaçaram a vir novamente. —
Se esse medo todo é porque vai ficar aqui comigo, relaxa, eu não mordo.

— Bem que eu queria que mordesse — ela disse, agora sorrindo.

***

Thomas preparou algo para eles comerem, por sorte a geladeira estava cheia, isso fazia
parte do pacote de aluguel que Kate tinha assinado, os dois estavam famintos. Mesmo com toda a
preocupação, conseguiram se divertir. Conversaram muito, até riram da situação, não que fosse
engraçado, talvez fosse apenas o efeito do vinho que estavam tomando. Logo foram dormir, no
outro dia com certeza alguém já estaria na ilha, aí eles iriam para o hotel. Era o que ela esperava.

***

Alguns barulhos na cozinha acordaram Kate, ela se revirou na cama, tentando se convencer
de que era apenas coisa da sua imaginação, os barulhos não persistiram, mas ela se manteve
acordada, agora com insônia. Ela virou para o outro lado e viu Thomas, ele por sua vez parecia
estar num sono bem pensado. A jovem então decidiu ir tomar um copo de leite quente, isso sempre
a fazia dormir quando era pequena. Talvez pudesse funcionar agora.

Lembrou dos barulhos na cozinha e pensou em desistir, mas nunca iria dormir, ela repetiu
várias vezes em sua mente que isso não passava de coisas da cabeça dela e resolveu ir. O chalé
estava todo escuro, ela tropeçou em algo e caiu de bruços no chão da sala.

— Ai! — ela exclamou baixo. — Porcaria.

Ela se levantou, aquilo iria deixar uns bons roxos na sua pele, ela tentou tomar mais
cuidado ao andar, chegou até a cozinha americana e acendeu as luzes, a cozinha era minúscula e
a geladeira também, ela se ajoelhou para procurar o leite na geladeira mas não achou, procurou
de novo, retirando tudo que tinha lá e nada de leite, ela colocou tudo de volta, meio indignada.
Pensou em como fazer para se livrar da insônia, sem o leite ela demoraria ainda mais para dormir.

Kate se jogou no sofá e tentou voltar a dormir, mas não conseguia, uma parte do seu braço
direito doía, ali com certeza já tinha uma mancha, ela tentou não pensar nisso, ser pálida tinha suas
consequências. Ela passou algum tempo no sofá até conseguir pegar no sono, que pareceu não
durar nem 10 minutos. Ela sentiu duas mãos em seus olhos e um beijo quente, ela se espreguiçou
levantando do sofá, estava escuro e ela não conseguia ver quase nada.

— Amor, você...— Ela parou de falar assim que a mão atingiu sua boca.

Um braço circulou seu corpo, prendendo-a. Ela tentou se livrar, mas não conseguiu, agora
estava sendo arrastada para fora do chalé, ela tentava gritar, mas não saia muito som por causa
da mão que cobria a sua boca.

— Fique quietinha — a voz masculina disse, ela achava que já a tinha ouvido em algum
lugar.

Ela tentou morder a mão que tampava sua boca, mas não conseguiu, estava totalmente a
mercê a pessoa que a arrastava, o pânico já havia tomado conta dela, que tentava manter a
respiração frequente para não ter outro ataque, não poderia se defender desacordada.

— Vai ficar tudo bem, docinho. — A voz, que naquele momento parecia ainda mais
familiar, disse. — Agora somos só eu e você.

Ela estava sendo arrastada pela areia, ele a segurava firme, não tinha como escapar de
seu aperto. Kate já não tentava mais gritar, o chalé já estava tão longe que não conseguia vê-lo.
Eles estavam chegando no mar, ela sabia disso porque dava para ouvir o som das ondas e sentir o
cheiro de algas.

— Estamos chegando. — Cada palavra que ele pronunciava a fazia tremer de medo.

Ele retirou a mão da boca dela e agora segurava a só pelo braço, quando ele a fez virar
ela percebeu quem era, Bruno, ele estava com um sorriso cínico no rosto, encarando-a.

— Você é maluco — ela disse tentando se soltar da mão dele.

— Por você, docinho. — Ele tentou beijá-la a força, mas ela o afastou e ele desistiu. —
Pode ficar tranquila, meu bem, eu já preparei tudo para ficarmos sozinhos.

— Eu não sou o seu bem. — Kate retrucou e em seguida cuspiu na cara do Bruno.
— Isso não é nada educado da sua parte — ele falou, limpando o rosto. — Acho que você
está muito agitada, melhor se acalmar.

— Solte-me — ela gritou tentando se livrar do aperto da mão dele.

— Shhh! — Ele disse com o dedo frente a boca. — Vai acabar acordando o professor.
Imagine o quão frustrante será para ele, acordar e ver que a sua amada o deixou. Que coisa feia
Kate.

— Você é um doente, solte-me — ela disse, dessa vez quase chorando.

— Calma, docinho, eu vou te deixar caminha — ele falou enquanto tirava algo do bolso,
uma seringa.

— Não, não. Por... Por favo,r Bruno — ela falou desesperada ao ver a seringa.

— Não vai doer nadinha, uma picadinha de formiga. — Ele sorriu e a segurou mais forte
antes de enfiar a agulha pouco abaixo do ombro dela.

— Ai!— ela disse chorando, começou a se sentir mais leve e sonolenta, tentou manter os
olhos abertos, mas não conseguia, queria dormir, ela se rendeu ao sono e apagou.

***

Kate acordou com uma terrível dor na cabeça, sua visão ainda estava escurecida, ela havia
tido um sonho terrível com Bruno. Quando ela conseguiu ajustar a visão à luz, percebeu que estava
em um quarto cinza. Que não havia sido apenas um sonho, era real e agora ela estava presa. No
quarto havia apenas uma cama de solteiro, onde ela se encontrava e um pequeno banheiro. Ela
sentiu uma dor no tornozelo direito, ao olhar para ele percebeu que estava acorrentada. Uma
onda de pânico se espalhou por todo o corpo dela, aquilo só poderia ser um pesadelo. Ela
procurou se acalmar para pensar em um modo de fugir dali.

Reparou em cada detalhe do quarto, tinha uma janela coberta por madeira, uma porta
também de madeira e a cama era cimentada no chão e encostada na parede a sua direita, a
corrente era longa o suficiente para que ela chegasse até a janela que ficava a esquerda da
cama e até a porta que ficava em frente a cama. Na porta havia um tipo de janelinha com um
apoio e lá tinha algo.

Kate se aproximou hesitante, na porta tinha um prato de comida e um copo de suco, com um
bilhete, ela pegou-o e começou a ler.
"Meu amor, eu tive que ir a cidade para comprar algumas coisinhas, você merece tudo de bom,
minha rainha. Quando eu voltar ficaremos juntos para sempre. Não tente fugir, vai se machucar se
fizer isso. De seu eterno, Bruno."

Que tipo de brincadeira doentia é essa?! — Ela pensou.

— Desgraçado — Kate disse ao empurrar o prato de comida para o chão. Ela correu
para a janela. — Socorro, alguém me ajuda, por favor — ela gritava em meio às lágrimas. —
Socorro! — Ela se deixou cair no chão, abraçou as pernas e começou a chorar. — Eu não vou ficar
presa aqui, eu não vou.
Bruno

Você deve estar pensando, "Que cara mais idiota, por que surgir na vida da Kate agora?".
Até posso concordar com você sobre o fato de ser um cara idiota, mas a culpa não é minha por ter
aparecido na vida dela, culpe o destino, ele me jogou no caminho dela. Eu apenas fiz o que era de
minha obrigação. Nunca afirmei ser um cara perfeito, nem mesmo quando me aproximei dela no
avião, talvez tenha dado a entender que sim, mas ninguém é perfeito. Não é mesmo?!

Vou te contar a minha história desde o início dessa loucura, por assim dizer. Talvez você até
repense essa opinião que tem sobre mim, não posso garantir que sim, até porque, nem eu mesmo
entendo meus motivos. Para isso vamos voltar a dois anos atrás, em uma pousada próxima a
faculdade Juliart. Eu estava totalmente entediado em frente à televisão do meu quarto, na verdade
nem estava conseguindo prestar atenção nela. Estava na cidade porque tinha uma reunião com
alguns acionistas e como meu pai não pode comparecer, então fui em seu lugar. Naquele dia eu
realmente estava muito agitado e nem sabia bem o motivo, apenas queria sair um pouco e respirar
um ar puro. Resolvi então fazer uma caminhada, quando estava passando pela frente da
faculdade eu vi uma das professoras saindo, não sei o que me deu naquele momento, apenas
resolvi trombar com ela para chamar sua atenção.

Aproveitei que estava olhando para uma partitura e dei um encontrão nela, apenas um dos
cadernos que ela segurava caiu, apanhei rapidamente e me desculpei. A tal professora apenas
disse que não tinha sido nada, quando tentei puxar assunto, ela desconversou, falou um boa noite e
saiu quase correndo, como se eu fosse algum psicopata. No dia seguinte eu deveria ter pegado um
voo e voltado para casa, mas não consegui fazer isso. Ao em vez de voltar, eu aluguei um carro e
resolvi que passaria mais alguns dias na cidade. Daí para frente a loucura tomou conta de mim,
todos os dias eu a esperava sair da faculdade, só para vê-la, cheguei a falar com ela outra vez e
fui ignorado, acabei descobrindo que ela tinha um namorado. Fiquei com tanto ódio que jurei a
mim mesmo que nunca mais a veria, claro que isso foi em vão.

Ali estava eu, novamente assistindo a um documentário, quando mudei de canal e vi uma
notícia sobre sequestros. O assunto me chamou bastante a atenção e então eu fui pesquisar, algo
mudou em mim aquele dia. Eu não sei se aquilo apenas estava mascarado em minha personalidade
ou se me transformei quando decidi que a sequestraria e a faria minha. Fui a uma loja de
construção e comprei algumas coisas necessárias, como cordas, correntes, fitas, entre outras coisas.
Ainda não sabia bem o que estava fazendo então tudo pesquisei na internet, descobri um líquido
que fazia a pessoa desmaiar, aluguei uma cabana, bem distante da cidade, por telefone e com um
nome falso.

Só precisei de um dia para me sentir pronto, eu iria tornar ela apenas minha. Era uma
sexta-feira, eu estava parado em frente à faculdade a esperando sair, fiquei pouco mais de uma
hora esperando até que finalmente a vi. Ela não estava me vendo, o que facilitou bastante as
coisas. Desci do carro e caminhei até ela, sabia que haviam câmeras por ali e tomei o cuidado de
deixar o carro em um ponto cego e usar uma roupa escura e uma máscara. Aproximei-me por trás
dela e tirei o pano encharcado com o líquido do bolso e coloquei sobre o rosto dela, infelizmente
apenas o líquido não foi suficiente para apagá-la. Por isso usei as minhas mãos e a asfixiei até
que ela ficou desacordada, peguei seu corpo quase morto do chão e joguei sobre os ombros corri
para o carro e a coloquei no banco de trás.

Acho que nunca dirigi tão rápido na minha vida, no meio do caminho eu me senti culpado,
olhei pelo retrovisor e vi as marcas das minhas mãos no pescoço dela. Juro que pensei em desistir,
mas já havia ido até ali, não voltaria atrás. Já na cabana, amarrei-a ao pé da cama com a
corrente, lacrei todas as janelas do quarto e esperei que ela acordasse.

Eu a fiz de refém por uma semana e meia, até que as atitudes dela acabaram com a minha
paciência e resolvi que precisava me livrar dela, na época eu não fazia ideia de como fazer
aquilo, então fiz do único modo que conhecia. Enchi a banheira de água e a afoguei, levei um dia
para me livrar do corpo.

Depois dela houveram muitas outras, não apenas professoras, mas também uma moradora
de rua e algumas dançarinas de uma casa noturna. Quanto mais mulheres eu sequestrava, mais
sentia minha humanidade se esvaindo. Era prazeroso vê-las sentindo dor, eu me sentia poderoso,
único e era aquilo que me fazia continuar.

Vamos nos adiantar um pouco mais na minha história, até o momento que conheci Kate, o
modo dela andar pela faculdade lembrou muito a minha primeira vítima e esse foi o início da
minha obsessão por ela. Depois que descobri seu nome fiz várias pesquisas, descobri coisas
interessantes sobre a vida dela e o melhor de tudo era que ela era feliz. Estava em uma fase de
sua vida em que tudo era perfeito, dois melhores amigos perfeitos, um namorado atencioso e o
curso que sempre quis na faculdade.

O que atrapalhou um pouco os meus planos foram os policiais, que estavam no meu rastro e
fizeram a faculdade entrar em recesso, só que depois, isso me ajudou muito. Quando descobri que
Kate iria para o Caribe, vi nisso uma oportunidade de fugir e de completar a minha necessidade.
Eu precisava ver aquela garota pura sofrendo em minhas mãos. Acompanhei-a desde o aeroporto
até a ilha, estive por perto durante todos os acontecimentos importantes daquele local. Eu a via
cada vez mais feliz e cada vez mais, sentia vontade de acabar com toda aquela felicidade. Não
era apenas por matar, não teria graça matar alguém que quisesse morrer, era bom vê-las lutando
para sobreviver, acreditando que iriam conseguir passar por aquilo e voltariam para os seus lindos
sonhos.

Eu só as matava quando apenas restava um fio de esperança, por que esse era o fio mais
forte, aquele que não queria ser rompido.

Continuando, os meus planos foram mudados diversas vezes, principalmente por que ela
resolveu alugar aquela maldita ilha, o que dificultaria tudo, enquanto estive observando-a também
conheci uma outra pessoa, Alice. Esta parecia ter um rancor enorme do namoradinho professor da
Kate e isso me ajudou bastante. Firmei uma parceria com ela, que me ofereceu bastante dinheiro
para isso, mas não aceitei pelo dinheiro e sim pelo fato de poder por meu plano em prática. Eu
fiquei na ilha durante a tarde toda esperando que eles saíssem da casa, quando finalmente se
afastaram eu fui até o jet-ski e cortei a corda, deixei que fosse para longe. Meu barco estava do
outro lado da ilha, na parte menos acessível, onde eles não o achariam.

Foi divertido ver o desespero dos dois ao constatarem que não havia como sair dali, tive
que me controlar para não gargalhar e chamar a atenção deles. Só tive que esperar os dois
dormirem. Para começar a pôr meu plano em prática, primeiramente escrevi um bilhete para
Thomas, tentando imitar ao máximo a letra de Kate e em seguida fiz um pouco de barulho na
cozinha, o que foi mais do que suficiente para chamar a atenção dela, quando ela dormiu no sofá
da sala eu a agarrei e arrastei para fora da casa. Ela se debatia e relutava muito e por isso
precisei aplicar um calmante nela.

Foi tudo mais fácil do que eu imaginava, só precisei colocá-la no barco e sair da ilha,
deixando o namoradinho ao Deus dará.
Capítulo Quatorze
Thomas havia acabado de acordar quando se virou procurando por Kate na cama e não a
achou. Ele levantou da cama e foi em direção à cozinha chamando-a, mas ela não respondia,
primeiro pensou que ela havia saído para nadar ou escrever SOS na areia da praia, até tinha
achado divertido esse pensamento. Ele decidiu fazer algo para comer, pegou ovos na geladeira,
quando foi até o fogão achou um pedaço de papel dobrado. Pensou em jogá-lo, fora sem checar
o que era, mas lembrou-se do dia anterior, onde ela havia espalhado papéis como esse para ele
chegar até a ilha e talvez fosse mais um de seus jogos. Largou os ovos em cima de bancada e
pegou-o, abriu com um certo receio e começou a ler.

"Thomas, sei que você acha que o que vivemos foi amor e sinto muito por ter que te dizer o
contrário. Eu não o amo. Criei toda essa fantasia na ilha para decidir isso e depois desse dia com
você, agora posso ver mais claramente que eu apenas estava me iludindo e te iludindo. Estou voltando
para Stanford, peço que não me procure mais, não quero mais vê-lo.

Atenciosamente,

Kate"

Aquilo foi como um choque, a doce Kate dele nunca falaria aquilo, Thomas estava
atordoado, não tinha como ela ir embora, o jet-ski havia sumido no dia anterior. Algo parecia
errado, tudo parecia errado. Ele leu mais uma vez o bilhete, essa caligrafia, ele lembrou-se de um
bilhete que Kate havia deixado para ele no porto, talvez ele pudesse comparar. Thomas saiu
correndo em direção ao quarto e procurou a bermuda pelo chão quando a achou, pegou o fino
pedaço de papel no bolso. A caligrafia estava manchada por ter sido molhada, mas ainda assim é
extremamente diferente da outra, ele sabia que havia algo de errado.

Vários pensamentos invadiram a sua mente, primeiro o pensamento de que Alice poderia
estar envolvida nisso, ela seria capaz de fazer isso, lembrava da corda "arrebentada" do jet-ski,
ela parecia ter sido cortada. Aos poucos tudo foi fazendo sentido, as mensagens de Alice, o jet-ski
e o sumiço de Kate.

Ele tinha que dar um jeito de sair dessa ilha e procurá-la, não aceitaria as palavras
daquele bilhete sem ouvir as palavras diretamente da boca da jovem e não sossegaria antes de
ter certeza que ela estava bem. Ele saiu da cabana desesperado, precisava achá-la, Kate tinha
que estar na ilha em algum lugar escondida.

— KATE — ele gritava, andando pela areia.

Ele procurou por horas, foi até a enseada, foi ao outro lado da ilha, procurou pela mata e
nada dela, nada de jet-ski e nem sinal de alguém na ilha. "Que merda", ele xingava sem parar em
sua mente. O pensamento de que algo ruim pudesse acontecer a ela era perturbador e seria culpa
dele, ele a trouxe para o Caribe, ele mexeu com Alice e ele era a razão da raiva de Alice por
Kate.

Naquele momento, tudo que ele conseguia pensar era em Kate, várias imagens foram
aparecendo na sua mente, primeiro a de quando se conheceram quando esbarrou nela por estar
apressado para dar sua aula e como o seu coração disparou quando a olhou, Thomas ficou
vidrado em seus olhos, os mesmos olhos de sua falecida esposa. Como elas poderiam ser tão
parecidas e ainda assim tão diferentes ao mesmo tempo?!

Outra imagem veio a sua mente, a escada, ele estava passando pelo corredor quando viu
Kate se desequilibrar e a segurou, passou seu número a ela, como que por impulso, tinha prometido
a si mesmo não se envolver com ela, mas não conseguiu se manter longe.

Agora a imagem que vinha a sua mente era a da cara de espanto de Kate, ao vê-lo na
porta de seu quarto, ele quis saber se a sua cara era parecida no momento, ele ficou tão chocado
quanto ela ao perceber que Kate era a colega de quarto da sua filha. Naquele momento, mesmo
sabendo que não podia ele desistiu de lutar contra a vontade que tinha dentro de si.

A lembrança mais importante que veio a sua mente, foi a do dia em que ele bateu na porta
da casa de Kate e não conseguiu se controlar, apenas a beijou, sentia vontade de gritar que
queria estar com ela e de um modo meio precipitado o fez. Ficou surpreso quando soube que ela
compartilhava desse mesmo sentimento. Quando a teve em seus braços, ele não conseguiu pensar
mais em nada, era como estar numa bolha onde nada pudesse atingi-lo.

Os pensamentos fizeram lágrimas escorrerem pelo rosto de Thomas, ele se sentia idiota e
egoísta. Se não tivesse mantido tanto contato com ela isto não estaria acontecendo. Temia pelo pior,
mas ainda sim esperava que ela entrasse sorridente pela porta da cabana falando como foi
divertido fazer alguma trilha pela ilha. De alguma forma seu coração dizia que isso não iria
acontecer e ele estava ali, preso numa ilha sem poder fazer nada, sem celular e sem jet-ski. Estava
tudo perdido, dessa vez nem sua filha o faria ser forte, ele não viveria em um mundo onde ela não
estivesse. Ele já havia passado por essa dor antes e agora tudo parecia voltar.

***

— Você tem que comer. — Bruno estava com um prato de comida à frente de Kate
tentando enfiar comida na boca dela a força.

— Não, eu não quero nada feito por você — ela falou com ódio e em seguida cuspiu na
cara dele. — Seu monstro idiota.

— Você está sendo muito infantil, Katherine Snow — ele falou limpando o rosto. — Se
quiser ser a minha mulher tem que ser forte e para isso deve se alimentar bem.

— Eu não sou sua mulher e muito menos quero ser — ela disse dessa vez chutando o prato
para longe.

— Você está me fazendo perder a paciência. — Bruno disse se levantando para limpar a
comida derramada. — Eu preciso ir à cidade e espero te encontrar mais calma quando voltar.

— Não vai me encontrar quando voltar — Kate falou em um sussurro tão baixo que só ela
poderia ouvir.

— Eu espero que você não faça nenhuma bobagem enquanto eu estiver fora — ele falou,
saindo do quarto. — Ou eu vou ter que amarrar as suas mãos também. — Ele fechou a porta
assim que terminou a última palavra.

— Seu monstro — ela gritou com raiva enquanto algumas lágrimas escorriam pelas
bochechas. — Eu tenho nojo de você — ela gritou ainda mais alto. — Nojo!

Bruno havia passado a manhã quase toda com ela no quarto/prisão. Ele contou a ela todo
o seu plano, contou como escreveu um bilhete para Thomas, como cortou a corda do jet-ski e como
conseguiu tirá-la da ilha. Era tudo muito doentio, ela não entendia o porquê de ele estar fazendo
aquilo, não fazia sentido algum. Na verdade, ela não queria entender, queria só acordar e
descobrir que tudo não passou de um pesadelo. Ela abraçaria Thomas e tudo ficaria bem.

A corrente apertava seu pé direito, fazendo-a gemer de dor, no seu tornozelo já haviam
algumas manchas roxas, ela as conseguiu tentando escapar das correntes. O que não foi algo
muito inteligente a se fazer. As correntes eram enormes e fortes, não havia um jeito de escapar
daquele lugar, a não ser pegando a chave, o que era quase impossível.
Nunca esperaria isso de Bruno, mesmo sem o conhecer direito, ele não parecia alguém tão
maluco. A primeira coisa que falou ao entrar no quarto foi "Eu te avisei de que uma moça como
você não deveria andar sozinha por aí". Ele falou de como sentia ciúmes quando via Thomas
tocando-a de um jeito que ele queria tocar desde que a viu no aeroporto, pouco antes de
embarcar no voo para o Caribe. O modo como ele falou a fez pensar se ainda estavam no Caribe
ou na ilha, não sabia quanto tempo havia ficado desacordada, mas pela dor no corpo que sentiu
ao acordar ela diria que muito tempo.

A torneira do banheiro pingava, fazendo um barulho horrível que ecoava por todo o
quarto, praticamente vazio, o estômago de Kate doía de fome, mas ela não iria comer nada que
Bruno desse para ela. Em seus pensamentos ela prometia a si mesma que ele só a teria se fosse
morta. Kate lembrou-se de seu pai, ele era amigo do comandante da polícia de sua cidade, mas
seu comando se restringia só à área do estado de Massachusetts, o que não adiantaria muito. Ela
tentou relacionar esse ocorrido com os sonhos que vinha tendo, sempre achou que sonhos nunca
eram apenas sonhos, eles poderiam ser desejos obscuros ou até avisos do subconsciente.

Kate sentia vontade de gritar agora, mas de que adiantaria?! Bruno já a tinha alertado de
que não existia nada próximo à casa onde estavam, nenhuma estrada ou casa e disse também que
as chances de alguém aparecer por aqui eram mínimas. Ela já não via como sair dali, mesmo que
conseguisse as chaves, até onde ela seria capaz de correr antes de Bruno a pegar e trancar
novamente?! "Por que comigo?!" Ela se perguntou em mente, começando a chorar novamente.
Levantou-se do pé da cama e começou a andar pelo quarto até onde as correntes permitiam. Ela
foi até o banheiro e abriu ainda mais a torneira, pegando uma porção de água com as mãos e
jogando no rosto, olhando para o espelho descascado e vendo apenas fragmentos de seu rosto
que agora era ainda mais pálido e tinha grandes marcas roxas em volta dos olhos. Ela parecia
quase sem vida.

Uma raiva crescente foi tomando o corpo dela, ela juntou todas as forças que tinha e bateu
no espelho várias vezes até conseguir quebrá-lo, agora as lágrimas caiam pelo rosto de modo
incanssável, tudo estava indo tão perfeito antes dela conhecer Bruno. Uma ideia passou pela mente
dela, então ela pegou um pedaço de vidro quebrado e voltou para a cama, apertando-o forte na
mão esquerda, sentindo a dor do vidro cortando sua pele e o sangue escorrendo entre seus dedos.
A dor incomodava muito, mas era silenciada pela dor emocional que ela estava sentindo.

— Querida, voltei. — Quase uma hora depois ela ouviu a voz de Bruno, seguida por um
bater de porta.
Ela apertou ainda mais o vidro, ouviu o barulho da chave na porta metálica do quarto e
quando Bruno entrou ela viu o terror na face dele, antes dele largar as chaves no chão e ir
correndo até ela, com desespero.

— Você está tentando se matar?!— Ele falou com raiva tomando o vidro ensanguentado
das mãos dela e arremessando-o longe. — Não posso deixar você sozinha por uma hora e já faz
uma bagunça dessas, Katherine?! — ele falou enquanto segurava com raiva no braço dela,
machucando-a.

— Não vou ser sua, prefiro morrer — ela falou com dificuldade, sorrindo de modo irônico
para ele. Ela se sentia fraca, mas não queria se deixar vencer pelo cansaço. Temia que Bruno
fizesse alguma coisa com ela desacordada. Ou o que já poderia ter feito, esse pensamento fez ela
sentir náuseas.

— Você já é minha Kate, não vê isso?! — falou aproximando seu rosto do dela. — Não há
como fugir. Acho melhor você começar a ser uma boa menina e se alimentar direito ou realmente
vai morrer.

— Por que você acha que eu ficaria com você? Ainda mais depois de tudo o que está
fazendo?! — ela perguntou com os olhos cheios de lágrimas.

— Por que você não tem escolha, se não quiser ficar comigo, não ficará com mais ninguém.
Você escolhe, Katherine.

Aquilo soou mais como uma ameaça do que como um aviso, todos os ossos de Kate
tremeram em resposta ao que ele disse. Seus olhos começaram a marejar e ela não conseguiu
controlar as lágrimas que vinham, ela não queria mais ser forte, ela só queria sair dali.

***

Mais duas horas haviam se passado e nada de solução de como sair da ilha, a
preocupação de Kate ainda estar viva ou não, fazia lágrimas escorrerem por seu rosto. Ele nunca
havia se sentido tão vulnerável assim, precisava tentar algo para sair da ilha, mas não via nada
que pudesse fazer. Havia apenas um lugar que ele ainda não tinha olhado em toda a ilha, o
porão, ou uma porta que ele acreditava levar até o porão, ele reuniu todas as forças que ainda
lhe restavam para levantar.

Chegou a porta já hesitante, pensando em como seria uma tentava frustrada, o que ele
esperava encontrar um barco a velas, ou um jet-ski. Tudo isso era perda de tempo. Ele acendeu a
luz do local e viu várias caixas por todo o cômodo, algumas com palavras escritas em branco.

Filmes

Ferramentas

Memórias

Álbuns

Kits

CDs

Pesca

A última caixa chamou a atenção de Thomas, ele tirou duas caixas que estavam em cima
dessa e pegou a caixa em seus braços, levando-a para a sala e a colocando no sofá. Ajoelhou-se
diante dela e removeu a fita que lacrava sua abertura. Uma nuvem de poeira emanou da caixa
fazendo ele tossir. Dentro da caixa havia outra caixa, uma caixa vermelha de pesca. Ele tirou-a de
dentro e viu que ela tinha um cadeado fechado, por sorte o cadeado parecia frágil.

Ele se levantou correndo e foi para a cozinha, mexeu em várias gavetas a procura de um
martelo de carne e uma faca com ponta fina, quando achou, voltou correndo e se jogando de
joelhos no chão enfiou a faca na fechadura do cadeado e tentou rodá-la para abri-lo, mas isso
não adiantou. Ele tentou dessa vez bater com o martelo na parte superior do cadeado que já se
encontrava mole. Bateu 10 vezes antes de obter algum resultado, o cadeado ficou mais frouxo e
ele forçou o restante com a mão até conseguir abrir.

Removeu o cadeado e abriu desesperadamente a caixa. Na primeira parte tinham apenas


linhas e anzóis, alguns alicates e enfeites de vara. Ele removeu e na parte inferior haviam mais
coisas, ele procurou por lá algo que pudesse ajudá-lo, não sabia exatamente o que estava
procurando até achar um par de sinalizadores. Isso teria que servir. Ele limpou a escrita que havia
ao lado dos sinalizadores para poder ler as instruções, nunca havia usado um daqueles, mas valia
o risco.

Ele correu para o lado de fora da cabana, algumas vezes tropeçando em seus próprios
pés ou na areia. Chegou até a beira da praia e abriu um dos sinalizadores, puxando-o para
acender e escondendo o rosto para não queimar, certificando-se apenas se o sinalizador estava
apontando bem para o alto. O sinalizador disparou em vermelho pelo céu azul, a luz era tão forte
que Thomas não aguentava olhar para ela. Agora era esperar e rezar para que alguém o
encontrasse.

--

Sentado na areia, Thomas mexia no sinalizador usado nervosamente. Vez ou outra olhava
para o sinalizador intacto que estava ao seu lado, ele torcia para que alguém em um barco tivesse
visto o seu sinal ou até a Guarda Costeira. Ele esperaria até o anoitecer antes de acender o outro
sinalizador, acreditava que durante a noite a luz do sinalizador ficaria mais forte e alguém
conseguiria o ver. Era a esperança dele, a última chance que restava estava ali. Quanto mais
tempo se passava mais Thomas se sentia agoniado, andando de um lado para o outro sem parar
na areia da praia, ele chegou até a cogitar nadar até encontrar o outro lado, mas seria um
esforço em vão, não sabia o quanto teria que nadar.

Várias ideias malucas passaram pela cabeça de Thomas, ideias que ele sabia que não
funcionariam, coisas que tinha visto em filmes de náufrago. Passaram-se horas e nada de resgate,
o sol já estava se pondo no horizonte. Ele esperaria até estar mais escuro para poder acender o
outro sinalizador. Maldita hora para o celular ficar sem bateria, maldita hora para estar preso em
uma ilha. Pensou ele, xingando mentalmente Alice, pensando em arrancar cada fio do cabelo negro
dela se ela fizer algum mal a Kate.

Thomas se sentia fraco, não comia nada desde que acordou e como poderia?! Não queria
nada, apenas Kate, o que não daria para tocar em seus cabelos loiros novamente, sentir o
inebriante cheiro de sua pele e olhar naqueles olhos azuis. O céu escureceu ao ponto máximo,
Thomas levantou e abriu o outro sinalizador, torcendo mentalmente para ele funcionar, acendeu-o e
apontou para o alto cobrindo o rosto para nenhuma faísca o acertar. Ele observou a listra
vermelha seguindo céu a cima, traçando uma linha no céu escuro. Realmente o sinal parecia mais
intenso agora. Ele se jogou na areia novamente esperando por um milagre.

— Por Deus, funcione — ele gritou atirando o resto do sinalizador ao mar.

***

Algo estava muito estranho, quando conversou com Kate e a ajudou a planejar o encontro
romântico com seu pai, ela havia dito que voltaria no mesmo dia e avisaria se fosse permanecer na
ilha e naquele dia, cedo, quando foi ao quarto do pai não o encontrou, pensou que ele estava no
quarto de Kate, mas ao ir lá não o encontrou também. Quando falou com John sobre isso ele
apenas zoou dizendo:
— Eles devem ter prolongado a lua de mel — ele falou, fazendo aspas durante as três
últimas palavras.

— Você não está nenhum pouco preocupado? — ela indagou arqueando uma sobrancelha.

— Confesso que estou, mas não acho que esteja acontecendo algo tão sério — ele disse
suspirando. — Vamos esperar mais umas horas antes de qualquer coisa.

Foi o que fizeram, esperaram por mais 5 horas e quando perceberam que Kate e Thomas
ainda não haviam voltado, resolveram recorrer à guarda costeira. Eles chegaram a guarda por
volta das 18:00h, Tracy levou consigo um panfleto da ilha que elas tinham alugado, os guardas
avaliaram e falaram que não deveria haver nenhum problema porque na ilha não existiam animais
selvagens nem nada. Falaram que não poderiam fazer nada por enquanto. Caso eles ainda não
tivessem aparecido depois de anoitecer, iriam até a ilha. Ela esperou por mais duas horas
ansiosamente e nada deles, ela ficou na guarda com John, quando eles viram um sinal de luz
vermelho percorrer o céu estrelado.

— Ali — ela gritou. — Devem ser eles, agora vocês já podem desgrudar a bunda dessas
cadeiras e ir até a ilha.

— Senhora tenha mais respeito ou iremos prendê-la — um dos guardas a advertiu.

— Amor, calma — disse John, abraçando-a. — Primeiro vamos buscá-los, depois você
briga com os guardas. — Ele sorriu e ela olhou de cara feia para ele.

— Tudo bem — ela suspirou. — Melhor nós irmos logo.

— Esperem, antes vocês vão ter que preencher algumas papeladas do consulado.

— Como assim? Têm duas pessoas presas numa ilha, não posso perder meu tempo com
papéis.

— Senhora, quanto mais rápido resolvermos, mais rápido iremos buscá-los — disse o
guarda, entregando a ela uma prancheta com alguns formulários e caneta.

— Pare de me chamar de senhora, sou mais nova que você — ela falou erguendo uma das
sobrancelhas. — Espero que isso não demore.

Um dos guardas murmurou algo baixo o suficiente para ela não entender, ela deu uma
última encarada nele antes de começar a preencher os papéis. No formulário pedia coisas como
nome, número de identidade, cidade de origem e outras coisas. Tracy levou cerca de 15 minutos
para responder e quando terminou levantou-se e foi até um dos guardas e empurrou a prancheta
no peitoral dele.

— Agora vamos — ela falou com raiva.

Eles caminham pelo cais até o barco da Guarda Costeira. “Espero que essa joça seja
rápida”, ela pensou, temendo falar isso em alto e deixar os guardas ainda mais zangados. A essa
hora o sinal vermelho já havia desaparecido do céu. Ela se aconchegou nos braços de John e
tentou ao máximo evitar as lágrimas. Eles estava bem, eles mandaram um sinal. Ela tentou se
convencer mentalmente. Foram longos 15 minutos até a ilha, assim que os guardas pararam o
barco, ela desceu rapidamente, já correndo pela areia, tentando enxergar no panfleto da ilha, o
mapa que dizia onde ficava a cabana. Segundo o mapa ela não estava muito longe. Tracy
continuou seguindo sem tirar os olhos do mapa, com os guardas e John logo atrás dela, os guardas
murmuravam em reclamação e John gritava constantemente para ela ir mais devagar.

Tracy parou ao ver um corpo quase que jogado a beira da praia, era seu pai, ele parecia
sem vida, o desespero tomou conta de todo o corpo dela, suas pernas fraquejaram e ela se
permitiu cair no chão assim que as primeiras lágrimas atingiram seu rosto, John a alcançou,
colocando-a em um abraço protetor e os guardas correram até Thomas.

— Ele está respirando! — falou um dos guardas ao outro. — Vá checar o resto da ilha e
procurar pela moça, eu cuido dele.

— Ok, nos encontramos no barco em meia hora — disse o outro guarda correndo em
direção à cabana.

— Senhora, senhor. Venham me ajudar a colocá-lo no barco.

Tracy levantou, aos prantos e foi até o guarda, os três levantaram Thomas devagar e
foram o levando pela beira da praia. Durante o caminho o guarda explicou que Thomas estava
bem, ele poderia ter tido uma queda de pressão ou um ataque de pânico, duas coisas que eram
muito comuns em situações de estresse como aquela. Eles chegaram ao barco e colocaram Thomas
em uma maca, prendendo-o para não haver risco dele se machucar com o movimento das ondas.
Por enquanto não havia nada do outro guarda e nada de Kate, Tracy conseguia ver a
preocupação estampada no rosto de John e sentia até um pouco de ciúmes daquilo. Mesmo
sabendo que era bobagem e idiotice pensar daquele modo, ela também estava preocupada. Ela
sabia como Kate era importante na vida de John e desejava um dia poder ter tamanha
importância também.

Uma pequena luz vinha em direção ao barco, ela foi aumentando até chegar perto o
suficiente para se saber de que era uma lanterna, o guarda. Tracy viu a animação crescer no rosto
de John e animou-se também, mas logo toda essa animação foi embora, o homem estava sozinho e
com uma expressão nada boa. Tudo de pior passou pela cabeça dela, a amiga poderia estar
morta, isso fez ela começar a chorar, era muita emoção para um dia só. Ela não estava
acostumada com esses sentimentos e todos de uma vez quase a deixavam maluca.

Por um momento ela parou de pensar em si, olhou para John, o guarda havia falado algo e
ele estava em choque com um papel na mão, Tracy foi até ele e pegou o papel para ler, era uma
mensagem de Kate para Thomas, não dava para acreditar no que estava escrito, uma raiva
crescente tomou conta dela, raiva que se esvaiu ao ouvir John.

— Isso não está certo! — ele falou baixo, quase imperceptível. Passando as mãos pelos
cabelos freneticamente.

— Não está mesmo, ela... Ela não podia fazer isso — disse Tracy ainda com raiva.

— Não, você não me entendeu, isso não está certo, não está — disse John já gritando. —
Essa letra não é dela, tem algo errado, a minha Kate não faria isso. Ela não faria. — Ele andou
até um canto do barco e se jogou lá, sentando com os joelhos perto do peito.

— Calma, nós vamos até o hotel e vamos falar com a polícia, vamos olhar seu quarto dela
e vamos achá-la — disse Tracy andando até o John.

— Ela pode estar em qualquer lugar, perdida, sozinha ou pior, sofrendo — ele disse
passando as mãos pelo cabelo novamente.

— Vai ficar tudo bem, eu sei que vai. — Ela tentou tranquilizar o namorado, mas a
verdade era que estava tão aterrorizada com tudo aquilo quanto ele.

***

Bruno continuava a ir no quarto com a comida tentando fazê-la comer, mas ela nunca
aceitava, com medo do que ele poderia colocar na comida, nem água Kate estava bebendo. Ele
insistia em ficar no quarto olhando para ela e contando suas histórias, contando como a conheceu,
porque gostou dela e sobre "Seus feitos incríveis", que era como ele intitulava o que fazia.
— Foi aí que eu decidi — ele disse esperando por uma resposta dela. — Você tem que
falar "O que?"— Ele esperou ela falar e quando não obteve resposta ele continuou. — Por que
não sequestrar algumas professoras, foi tudo tão fácil.

— Você é doente.

— Essas professoras, tão carentes de atenção, tão vulneráveis, eu me diverti bastante,


confesso. Nenhuma durou mais que uma semana, eu usei, usei, usei e quando enjoei as matei,
simples assim. Tudo branco no preto. — Ele fez uma pausa rindo para si mesmo. — Você não será
diferente, Katherine, pena que não é uma professora e sim uma aluna, mas vim até aqui por você e
olha espero que isso valha a pena, hein. Eu tinha planos de manter o meu padrão apenas em
professoras, seria mais dramático e Stanford tinha as melhores, tão divertido.

Kate se perdeu em pensamentos, aquele cara agora parecia mais doente e o pior, ele já
tinha marcado a data da sua morte.

— Ei, Katherine, preste atenção em mim quando eu falo — ele gritou, fazendo-a sair de
seus devaneios. — Você e aquele professor me ajudaram a fugir dos tiras. Deixe eu explicar
melhor, com tantos assassinatos, a polícia já estava ficando desconfiada e sair das redondezas de
Stanford foi ótimo para mim, agora estou bem longe deles e não devo ser um dos suspeitos.

— Eu vou sair daqui e vou te entregar para polícia, seu maluco de merda — ela gritou
tentando fazê-lo calar a boca.

— Uma palavra tão feia como essa, não deveria sair da sua boca, doce Kate. Como você
só falou besteiras desde que eu te trouxe, vou dar um jeito de você não falar mais nada — ele
disse sumindo pela porta e voltando instantes depois com uma fita adesiva preta. — Isso vai te
manter quietinha. — Ele prendeu os braços de Kate atrás das costas dela e colocou uma fita na
boca dela, pegou-a no colo e colocou-a na cama. — Você vai se entregar para mim, mais cedo ou
mais tarde, nem que seja a força.

Ele saiu batendo a porta atrás e deixando um som horrível ecoando pelo quarto, estava
ficando pior, ele estava impaciente e Kate já temia pela hora que ele tentaria forçá-la a algo. "Eu
resistirei até o fim, até não me restar mais forças." Ela pensou.

***

Quando Thomas acordou, estava em uma cama de hospital, com um tubo de soro conectado
ao seu braço direito, no quarto estavam apenas Tracy e o médico, que explicaram que ele
desmaiou por conta de todo o estresse que estava tendo, soube também que algumas equipes de
busca estavam vagando pela ilha atrás de Kate e outras no hotel, a procura de pistas, ele sabia
quem havia feito aquilo, queria poder dizer mas não podia. Alguns minutos depois o médico e
Tracy estavam saindo do quarto com a intenção de deixá-lo descansar. No entanto, instantes
depois que eles deixaram o quarto uma enfermeira de cabelos negros entrou, trancando, atrás de
si, a porta.

— Quem diria, Thomas Wolf, só para mim — disse a mulher se virando e foi aí que ele a
reconheceu, Alice. Ele sabia que ela estava envolvida.

— Temos tanto a resolver — Alice falou, animada. — Que bom que consegui esse tempinho
a sós com você.

— Onde está a Kate? — Thomas gritou, essa era a única coisa em que ele conseguia
pensar. — Não a machuque, Alice, ou vou te machucar, muito. — Ele tentou parecer ameaçador, o
que era meio difícil quando se estava numa cama de hospital com tubos de soro ligados ao seu
corpo.

— Mais? — Ela gargalhou. — Não se preocupe, a sua queridinha Kate ainda está bem.

— Ainda?! — Ele tentou não parecer em pânico. — O que você fez a ela? Onde ela está?

— Quantas perguntas, querido, calma, eu vim aqui para falar de nós e não dela. — Ela
chegou mais perto da cama. — Vamos começar a falar do dia em que te conheci.

— Não vamos falar de nada, eu quero falar com Kate — ele disse, tentando levantar da
cama, ainda se sentia meio fraco.

— Kate, Kate e Kate. Será que você não tem outro assunto? — Ela fez uma cara de nojo.
— Seja um bom menino e te deixarei falar com ela. Agora, onde estávamos mesmo? — Ela fez
uma pausa. — Ah, no dia em que te conheci. Lá estava eu, com apenas 16 anos numa balada
comemorando meu aniversário e você estava no bar com uns amigos, não parou de me olhar a
noite toda, isso me faz pensar em como os homens são cafajestes, a sua mulher estava grávida e
sozinha em casa e você se divertindo.

— Você não tem direito nenhum de falar nada dela. — Ele tentou ameaçar, mas ela o
ignorou e continuou falando.
— Uma bebida, não seria capaz de deixar uma mulher do jeito que me deixou, que
vergonha Thomas, colocando comprimidos nas bebidas de mulheres, não sabe o quão patético você
é por isso.

Thomas levantou da cama, arrancou os tubos de soro que estavam ligados ao seu corpo e
começou a caminhar em direção da porta, mesmo na época em que ele era um idiota, não seria
incapaz de levantar a mão para uma mulher, só havia feito isso uma vez com ela e se arrependia
muito. Antes de alcançar a porta, Alice segurou o braço dele.

— Se sair por essa porta você nunca mais verá a sua querida Kate. — Ela arqueou uma
sobrancelha. Ele não respondeu apenas voltou para a cama. — Vamos continuar, acho que não
tomei tanto da bebida quanto você queria, não é?! Acordei quando você estava abusando de mim,
aquilo foi covarde e doentio, eu estava desacordada, drogada e incapaz, você nem ao menos se
preocupou em usar um preservativo.

— Eu não fiz isso... — Thomas começou a falar, mas ela o interrompeu. — Não me lembro
de nada disso.

— Calado! Você não sabe o quanto me prejudicou e a maneira como saiu daquele hotel,
deixando-me lá sozinha e com dor, seu miserável. Eu, boba, fui atrás de você, achando que você
iria ficar comigo se eu pedisse, mas você só me disse adeus. Cretino, você destruiu a minha vida.

— Eu sinto muito, Alice, eu não era eu mesmo naquele momento. Sequer me lembro de algo
daquela noite.

— Você era mais do que imaturo, Thomas, você foi um covarde. No momento que me
deixou naquele hotel, desejei tanto que você morresse, pedi tanto por isso e o meu desejo quase
foi atendido. Infelizmente você sobreviveu e quem morreu foi a sua mulher. — Ela parou um pouco,
enxugando as lágrimas. — Kate é a cópia fiel da Emily. Você me diz que mudou, mas não mudou,
Thomas e nem vai mudar. Olhe para Kate, ela tem idade para ser sua filha, você é doente, a culpa
de toda a merda que aconteceu é sua.

— Você não sabe o que está falando, eu amo a Kate. E você nem sabe o que é amor.

— Eu realmente não sei o que é amor, você tirou isso de mim também. Sabe o que
aconteceu depois que você foi embora? Eu descobri que estava grávida, meus pais não aceitaram
e me expulsaram de casa, eu tive que me virar sem ter ninguém para me apoiar e para piorar
tudo eu perdi o meu menino no parto. Desejei tanto morrer quando o médico me deu a notícia,
desejei a sua morte mais ainda.
— Eu sinto muito. — Ele tentou falar mais uma vez.

— Não! Não diga que sente muito, porque você não sente. Não quero sua pena, Thomas,
quero que você sofra, tanto quanto eu sofri. Não se preocupe que não vou fazer nada contra a
Tracy, já contra a Kate... — Ela sorriu enxugando as lágrimas.

— Por favor, Alice, não faça nada com a Kate, faça comigo, ela não tem culpa de nada, eu
tenho.

— Eu sei que tem, mas qualquer coisa que eu fizer a você não será suficiente para reparar
o que fez a mim, eu perdi tudo que eu amava, é mais do que justo você perder o que ama
também.

— Eu faço qualquer coisa. — Ele segurou o braço dela. — Qualquer coisa se a deixar ir.

— Não quero nada que venha de você, Além de suas lágrimas, claro. — Ela sorriu. — Não
sou eu quem vai machucar a Kate, Thomas, outra pessoa vai e pelo que eu soube dele, de duas
semanas ela não passa. — Ela começou a rir. — Está vendo o que ganha por ser tão idiota?! Como
prometido eu te deixarei falar com ela, mas cuidado com o que diz, qualquer coisinha eu faço ela
morrer num estralo de dedos.

Ela pegou o telefone e discou alguns números esperou uns segundos antes de alguém na
outra linha atender.

— Alô. Sim, sim eu estou com ele. — Ela fez uma pausa escutando a pessoa do outro lado
da linha. — É claro que é uma boa ideia, não discuta comigo. — Ela fez outra pausa. — Coloque
ela no telefone agora. — Ela se virou para Thomas e estendeu o celular. — Tome.

— Kate?! — ele perguntou em desespero.

— Amor, me tira daqui — ela disse desesperada do outro lado da linha. — Ele é maluco
Thomas e vai me matar, eu sei que vai. Eu não tenho mais forças.

— Quem amor? Diga-me onde você está. — Ele olhou para Alice para ver se ela parecia
irritada.

— Bruno, o cara loiro do avião — ela disse com a voz meio rouca, parecia estar chorando.
— Eu não sei onde estou, em algum sítio ou fazenda, é distante de tudo, ajude-me...

— Olá, Thomas, seu tempo acabou. — Era Bruno do outro lado da linha. — O tempo dela
está quase acabando.
— Eu vou te achar seu vagabundo e vou acabar com você — ele gritou.

— Estou te esperando, vamos ver quem acaba com quem — Bruno disse e então desligou.

— Merda! — Thomas gritou e jogou o telefone no chão.

— Eeei! Meu celular — Alice gritou e apanhou o celular do chão. — Nosso tempinho juntos
acabou.

— Alice, diga onde ela está. Ou..

— Ou então o que, Thomas? Vai chamar a polícia? Faça isso e a morte dela vai ser mais
rápida, só concordei em mantê-la viva porque o Bruno exigiu isso. Não me importo se ela morrer
agora mesmo.

— Você não vai conseguir o que quer — ele disse, segurando-a pelos braços.

— Parece que as pessoas não mudam com o tempo, afinal. — ela disse olhando para as
mãos dele em seus braços.

— Eu... — ele soltou ela.

— Enquanto você está aqui brigando comigo, o tempo está passando, Thomas, se você
quiser que ela continue viva é melhor começar a procurá-la, sozinho. — Ela destrancou a porta e
saiu.

Ele ficou ali, parado alguns instantes pensando no que fazer, no que fez e no que estava
fazendo. Ele não tinha ação, agora o sentimento que prevalecia era o ódio de si mesmo, por ter
sido tão idiota no passado e estar sendo tão idiota agora. A primeira coisa que ele queria fazer
era correr até a polícia e denunciar os dois, mas tinha medo de que algo acontecesse a Kate. Ele
até pensou em pegar o telefone da Alice e rastrear a ligação, mas sabia que se o fizesse ela ia
arrumar uma forma de ligar para Bruno e tudo acabaria.

Ele andou de um lado para o outro dentro do quarto de hospital, até que decidiu agir,
pegou as roupas que estavam em cima de uma cadeira e vestiu, após tirar as roupas de hospital
que estava usando. Ele saiu meio atordoado pelos corredores do hospital, pensou na primeira coisa
a fazer, pesquisar lugares distantes e com bastante vegetação, sítios ou fazendas como Kate disse.
Ele tinha menos de duas semanas para ajudá-la, mas esperava não demorar nem um dia para
encontrá-la.

***
Depois que Kate falou ao telefone com Thomas ela se sentiu um pouco mais tranquila, ainda
não conseguia comer ou beber nada, mas de algum modo ela sabia que ele iria salvá-la, ou pelo
menos ela esperava por isso. Bruno continuava a ir no quarto levando comida e Kate recusava
sempre, agora ela tinha as mãos amarradas e a perna presa a cama, quase não dava para se
mover pelo quarto.

Depois de muito pensar Kate decidiu que deveria começar a "cooperar" com Bruno, ou
melhor, fingir que está cooperando. Assim ele soltaria as mãos dela e se ela tivesse sorte soltaria a
perna também e as chances de fugir seriam maiores. Pelo menos era isso o que ela esperava.

— Querida! — Bruno gritou prologando o "a". — Cheguei. — Ela ouviu o som da porta do
quarto sendo destrancada e ele entrou.

— Oi. — Ela abriu o sorriso mais falso que pode.

— Olha, temos um avanço. O que fez enquanto eu estive fora? — Ele começou a rir e logo
falou. — Ah, claro, nada. — Ele sorriu mais ainda fazendo com que Kate revirasse os olhos. —
Agora que você já está falando sem xingamentos posso te contar mais umas historinhas sobre a
minha vida e até sobre a sua.

— Sobre a minha?

— Sim, sei mais do que você pensa. Gosto de conhecer bem as mulheres com qual passo
meu tempo. — A maneira como ele disse isso a fez ter náuseas.

— E o que de tão interessante você sabe sobre a minha vida?

— Tão apressada, primeiro vamos falar sobre mim — ele disse sorrindo.

— Ok — ela suspirou, precisaria de mais calma do que havia imaginado.

— Posso te contar todos os meus segredos, você não vai ter para quem contá-los mesmo.

— Não precisa me lembrar da minha possível morte.

— Vai ser a mais divertida entre todas, tenho que me gabar. — Ela gelou ao ouvir. — Aliás
você é a única para quem posso contar essas coisas, vamos lá. Além das professoras, eu matei
mais algumas outras mulheres, mas não em Stanford, matei-as no Arizona. A primeira que eu matei
foi uma jovem, poucos anos mais nova que você, ela era uma professora na faculdade de Juliart.

Ele continuou contando a ela cada detalhe de cada morte por horas, era doentio e ainda
pior cansativo. A única coisa que ela queria saber era sobre o que ele sabia da vida dela, ela
tinha medo dele poder fazer algo a alguém da sua família, ou a Tracy. Para interromper a
falação de Bruno ela resolveu dizer que estava morrendo de fome e realmente estava, ele saiu do
quarto e foi preparar algo, voltou minutos depois com uma bandeja, ela mesmo resistente comeu
um pouco da comida, tinha que manter o seu papel de "prisioneira conformada" e pelo modo como
o estava fazendo já poderia desistir de ser médica e virar uma atriz.

— Agora, por que não me conta o que sabe sobre mim?! — ela disse levantando uma
sobrancelha.

— Tudo bem. Você é uma aluna de Stanford que estuda Medicina, namora o seu professor
escondido de todos, menos da filha dele e do seu amigo, que aliás, parece querer te pegar. Seus
pais são milionários, sua mãe é estilista e seu pai contador.

— Primeiro, meu amigo não está apaixonado por mim e segundo, não era disso do que eu
estava falando. Quero saber o que você sabe que eu não sei.

— A curiosidade matou a gata — ele disse rindo.

— Se curiosidade não me matar, você vai. Então não faz diferença — ela disse tentando
manter a voz regular.

— Tudo bem gatinha curiosa, só te contarei porque você falou algo que me agradou. Seu
pai fez uma viagem de negócios quando você tinha três anos e passou metade de um ano fora,
nessa viagem ele conheceu uma mulher e ela engravidou, todos esses anos ele tem pago essa
mulher para se manter calada e com a filha longe. Parabéns Kate, você não é mais filha única. —
Ele despejou tudo rindo.

— Não é possível.

— Relaxa querida. Você nunca vai conhecê-la. Que tipo de pessoa eu seria se deixasse
você morrer sem saber disso.

— Eu ainda tenho doze dias, até lá Thomas irá me buscar.

— Se pensar isso te faz bem. Agora, saiba que seu Thomas não é o príncipe encantado
que você acha que é.

Naquele momento ela já tinha perdido toda a paciência que restava, quem ele pensava
que era para se meter daquele jeito da vida dela. Algum tipo de detetive?! Procurar todas as
informações das vítimas dele só o fazia ser mais doente. Kate nunca desejou a morte de alguém
como desejou a dele naquele momento. Ele só deveria estar inventando mentiras.
Capítulo Quinze
— Olha só, se você vai me manter presa aqui poderia ao menos trazer uma comida que
preste?! Essa tem um gosto terrível — Kate falou cruzando os braços, que aliás já estavam soltos
porque Bruno havia sentido pena dela, o plano estava funcionando bem.

— E o que você sugere, senhorita sabe tudo?! — ele respondeu arqueando as


sobrancelhas.

— Sorvete, chocolate, batata frita e refrigerante. — Ela bateu palmas tentando parecer
animada. — Pizza, lasanha e tudo o que há de melhor. Se vou passar meus últimos dias aqui eu
deveria ao menos ser feliz, não é?!

— Sabe, Katherine, isso aqui é um cativeiro e não um hotel de luxo.

— Dá para ver que isso aqui não é nenhum hotel cinco estrelas. — Ela sorriu. — Você disse
que faria tudo por mim.

— Tudo menos te soltar — ele falou, sentando na cama.

— Eu sei — ela suspirou. — Não sou tão idiota assim.

— Eu vou comprar. E você espere aqui. — Ele riu — Como se fosse capaz de ir a algum
lugar.

— Tchau Bruno.

Assim que ouviu o som da porta da sala batendo, Kate pegou a faca de ponta que havia
escondido em sua última refeição e se esforçou em tentar abrir o cadeado com ela. Já fazia 5 dias
que ela estava presa ali, nesse tempo Bruno não havia recebido ou feito qualquer ligação, ou seja,
nem sinal de Thomas. Kate fez Bruno descrever a irmã e prometeu a si mesma que quando
conseguisse fugir dali uma das primeiras coisas que tinha a fazer era procurá-la e fazer seu pai a
assumir como filha. Essa promessa era uma das únicas coisas que fazia ela continuar fingindo ser
legal com ele. Ela ainda não havia perdido todas as esperanças, uma hora ou outra Bruno teria
que dar algum vacilo e ela conseguiria fugir. O que viria depois? Ela não sabia e nem queria
saber, só pensava em se libertar e voltar para os braços de Thomas.

Nesse pouco tempo que passou presa, Bruno fez questão de mostrar que sabia mais da
vida dela do que ela mesma, ele também fez questão de continuar se gabando pelos assassinatos
e quando ela perguntou porque professoras ele disse que era para chamar atenção. Ela ainda
perguntou porque Stanford, não outra. Ele disse que seria mais dramático, só que ele não gostava
do clima de lá.

Ela ainda estava tentando se libertar e se conseguisse teria que fingir ainda estar presa,
pelo menos até conseguir bolar um jeito de escapar da casa. Infelizmente o lance com a faca não
estava funcionando, ela teria que pensar em outro plano. Decidiu então esconder a faca em suas
roupas e quando fosse tomar banho ela poderia dar um jeito de fugir, não pela janela do
banheiro até por que estava coberta por tábuas de madeira, mas sim pela porta, usando a faca
como algo que certificaria que ela saísse de lá viva.

Essa ideia vinha rondando a cabeça dela há dias, mas nunca tinha coragem o suficiente
para colocá-la em ação. Faltava pouco menos de uma semana de prazo para ela, isso se Bruno
não enjoasse e a matasse antes, algumas horas ela se pegava pensando em como se meteu em
algo assim, se alguma cigana lesse a mão dela um mês e falasse que ela iria se meter nessa
roubada Kate nunca acreditaria. Outra coisa em que ela não parava de pensar era em como tinha
agido impulsivamente todas essas semanas, não parecia a mesma Kate do colegial.

A única coisa da qual não se arrependia e nunca iria se arrepender, era de ter conhecido
Thomas, ele fazia tudo valer a pena. Toda luta se tornava vitória ao pensar que no final o prêmio
seria o seu amor. Toda a angústia se tornava segurança do de lembrar de seu aconchego e toda
dor de tornava alegria e era isso que a mantinha forte. A vontade de viver nunca iria embora
enquanto ela o tivesse ele. Kate lutava para se libertar pela certeza de que de onde estivesse, ele
estava lutando para libertá-la.

***

Há dois dias Thomas havia decidido ignorar os avisos de Alice e Bruno. Ele havia feito
Tracy ir até a polícia e contar tudo o que estava acontecendo e para que Alice não ficasse
sabendo, ele marcou um encontro com ela dizendo querer pagar para que libertassem Kate. Ela,
claro negou. E ainda, repetiu todas as ameaças.

Funcionou, ela negou também, deixá-lo falar com Kate, mas o assegurou de que ela ainda
estava viva. No dia seguinte à equipe de polícia começou às buscas, Thomas não podia manter
contato com eles, o que o estava deixando louco. Nem Tracy e nem John poderiam também, então
eles decidiram que um amigo de Thomas faria isso.

Cada dia que passava só o deixava com mais medo do que poderia acontecer a Kate, às
vezes tinha vontade de apenas torturar Alice até que ela o levasse até Kate. Mesmo sabendo que
isso seria irresponsável, imaturo e precipitado. Tudo o que Thomas não era mais, mesmo que todos
os acontecimentos o estivesse matando por dentro ele se mantinha forte. Era surreal o rumo que as
coisas haviam tomado, dias tão felizes não deveriam virar dias tão tristes num piscar de olhos.

A reitora de Stanford havia ligado pela manhã, falando que adiariam a volta às aulas,
não haviam encontrado o assassino ainda. Mesmo que as professoras tivessem parado de
desaparecer não era seguro deixar todos os alunos lá, com quem quer que fosse à solta. Thomas
ouviu tudo que ela disse atenciosamente, mesmo que nada disso importasse a ele. Chamem-no de
egoísta se assim quiserem, mas a única coisa que realmente importava para ele era ter Kate
novamente em seus braços. Quando isso acontecesse ele faria de tudo para não deixar que,
ninguém, nunca mais a pusesse em perigo.

Os três dias que se seguiram foram extremamente depressivos, os fios de esperança que
restavam a ele já estavam para se romper. Não havia mais uma gota de felicidade em seu ser, a
vontade de viver aos poucos já se esvaía e o medo crescia em seu peito.

Como ela estaria? Talvez sendo torturada, acorrentada e sangrando. Esses pensamentos o
faziam chorar, não o julgue, esse negócio de homem não chora é pura besteira. Claro que o whisky
ajudou nessa parte, não era de seu feitio beber, mas esse havia sido o único modo que ele
encontrou de se consolar. Era isso ou deixar que a culpa tomasse conta de sua mente. Se, por
acaso, ele deixasse isso acontecer não haveria como voltar atrás, estaria perdido, ficaria louco.
Talvez até já estivesse.

Tracy e John estavam tentado de tudo para acalmá-lo, mas a verdade é que os dois
estavam sofrendo tanto quanto ele. John até sofria mais, mantinha-se controlado para poder
cuidar de Tracy. O amigo de Thomas continuava sem dar notícia, ele perguntava a si mesmo se
algo poderia ter dado errado. Todo dia sua rotina era a mesma, acordar chorando, passar o dia
ao lado do telefone, beber a noite, voltar para casa, bêbado, apenas para dormir e ter pesadelos
horríveis. Neles Kate sempre estava sangrando muito e gritando, além dos gritos, o que mais o
aterroriza é a frase que ela sempre falava, "Olha o que você fez comigo Thomas Wolf, eu te
odiarei para sempre." Voltava a gritar.

Mais dois dias sem notícia nenhuma de Kate. Thomas sentia sua sanidade ir embora. E se
ela não estivesse mais viva?! Doía muito pensar nessa possibilidade. Ele via o último fio de
esperança que restava, ameaçando a se partir. Nem a bebida o consolava mais e ele decidiu que
não a procuraria mais como consolo. Quando Kate voltasse ele quer estar como ela o deixou, em
perfeito estado.

Thomas decidiu ir atrás de notícias de Kate, ligou para Alice e marcou um encontro com ela
em seu quarto. Demorou algumas horas até que ela chegou.

— Diga logo o que quer, Thomas — ela disse, jogando a bolsa em cima da mesa.

— Eu quero saber de Kate — ele falou num tom desesperado.

— Ai caramba, Thomas, por que ainda não aceitou que ela vai morrer? — ela perguntou
passando a mão no cabelo. — Eu já te falei que iria mandar matá-la. Não há nada que você
possa fazer, apenas aceite.

— Alice, eu tenho sido muito paciente todos esses dias. Ou me diz um modo de libertar ela
ou eu mesmo vou acabar te matando — ele falou apertando as mãos.

— Tente! Você não acha que estou sozinha nessa, não é?! Uma hora e se eu não voltar
nesse tempo a garota morre. Simples assim.

— Ela vai sair viva, porque eu vou procurá-la e eu vou encontrá-la e depois você vai
parar na cadeia.

— Não se esqueça de que você tem uma filha, Thomas. Trate de cuidar dela para que não
a perca também — ela falou e riu baixinho. — Por que não agradece por eu estar sendo tão
caridosa em te deixar vivo?

— Eu preferia morrer.

— Eu sei disso. É isso que torna tudo mais interessante.

— Você é doente — ele disse se aproximando da mesa.

— Eu sei disso, querido. Não se esqueça, se sair desse hotel eu mando matar a sua
adorável Kate — ela falou se olhando no espelho.

— Seu amigo disse que se eu a quisesse viva, eu mesmo iria buscá-la.

— Ele não é meu amigo. É só mais um dos meus peões. Um maluco homicida que eu tive o
desprazer de conhecer. Felizmente ele me serviu para algo.

— Tanto faz. Alice, eu suplico, ao menos me deixe falar com Kate.

— Por que tanta tortura, querido?! Se já sabe que o fim da história não é de seu agrado
por que insiste nela? — ela falou pegando o celular na bolsa. — Eu vou ligar, mas apenas eu irei
falar com ela. — Ela começou a digitar os números na tela, Thomas chegou mais perto para poder
ver os números e tomou cuidado para decorar todos. — Bruno... Como está a menina?... Tudo bem...
Tchau... — ela desligou o telefone. — Feliz? Ela está viva, mas está chegando a hora de matá-la.

— Ela não vai morrer — Thomas retrucou.

— Veremos. Agora eu tenho que ir, conforme-se. — Ela pegou a bolsa e saiu.

Assim que Alice deixou o quarto, Thomas correu para anotar o número, talvez assim a
polícia localizasse Kate, logo depois ligou para John e mandou ele passar o número para o tal
amigo. Alguns fios de confiança estavam inteiros de novo, tinha que dar certo. Para isso, ele não
poderia mostrar-se confiante, iria fingir continuar na pior é torcer para tudo dar certo.

***

— O seu prazo de validade está acabando, sabia? — Bruno falou. Ele estava sentado ao
chão encarando Kate.

— Legal — ela disse com indiferença. Nos últimos dias a única coisa que havia feito era
chorar, havia desistido de tudo, qualquer plano, qualquer esperança. Agora só queria que tudo
acabasse o mais rápido possível. Naquele exato momento, ela estava sentada na cama abraçando
os joelhos e deixando que mais algumas lágrimas escorrerem pelo seu rosto.

— Você não parece animada como eu. Não come faz três dias. — Ele enfiou uma batata
na boca. — Desse jeito nem vai precisar da minha ajuda para morrer.

— Dispenso seus comentários irônicos e dispenso a sua companhia — ela falou virando o
corpo para a parede e encontrando a cabeça nela.

— Não entendo porque está assim a essa altura do campeonato. Passamos dez dias juntos.
Foi mais do que você passou com aquele professorzinho velho e sem graça — ele falou meio
irritado.

— Pelo menos ele não é um maluco homicida.

— Não, tem razão. Ele é pior. — A frase chamou a atenção dela.

— O que você disse? — ela disse se virando.


— Achei que você dispensasse minha companhia — ele falou se levantando e andando até
a porta. — Fique aí sozinha pensando sobre isso. — Ele sorriu e fechou a porta.

Aquela frase ficou martelando na mente de Kate, o que ele queria dizer com aquilo?! Ela
pensou, pensou, até se convencer que Bruno só queria causar encrenca. Os últimos dias haviam sido
de cão, vários flashbacks vinham a sua mente, lembrando-a de momentos felizes. Aquilo era uma
tortura. Não era assim que ela havia imaginado um fim. Ser assassinada e jogada numa vala
qualquer. Isso até parecia um filme de terror. O estado do quarto estava deplorável e desumano. E
ela não estava num estado muito melhor.

Às vezes Kate brincava de imaginar como seria o futuro se ela conseguisse sair dali. Era a
única hora do dia que conseguia acender uma chama de felicidade em seu corpo. Ela ouviu o som
da porta e Bruno entrou de novo no quarto.

— Pensando sobre o que pode ser? — Ele sorriu de modo cínico.

— Não quero saber. — Ela cruzou os braços.

— Eu iria querer saber se meu namorado fosse um monstro.

— Eu não quero saber.

— Você quer saber, Kate, eu sei que quer — Bruno falou sentando-se na cama. — Mas
não te contarei agora, contarei quando for te matar.

— Acho que tanto faz me contar agora ou depois — ela falou abraçando novamente os
joelhos. — Não faz a mínima diferença.

— Não, eu não quero tirar toda a esperança de você. Gosto de ver que você realmente
acredita que sairá viva dessa.

— É a única coisa que posso fazer.

— Eu sei e isso torna tudo ainda mais divertido. Não é só por matar, Kate. Seria fácil tirar
a vida de alguém que não quer viver, o melhor é tirar a vida daqueles que mais querem viver, por
isso que não mato minhas vítimas de primeira, gosto de saber tudo sobre elas — ele falou
passando a mão no rosto dela. Ela deu um tapa na mão dele.

— Minha vida parecia um conto de fadas antes de você aparecer. Não entendo por que
me escolheu. — Ela apertou ainda mais os joelhos.

— Você está se esquecendo que em todo conto de fadas as mocinhas sofrem bastante, a
diferença desse conto de fadas é que ele é moderno. Não termina com um final feliz — ele disse
se afastando da cama e indo em direção à porta. — Pense nisso.

Ele saiu deixando-a sozinha naquele quarto escuro. A noite estava chegando e com ela os
pesadelos logo viriam de novo, a angústia de não saber o que ele tentava dizer com aquilo já
estava a consumindo por dentro. Às vezes Kate odiava ser sensível como era. "Hora de acordar
para a realidade Katherine Snow, seu conto de fadas acabou", ela dizia em sua mente. Em um
momento pensava em desistir e em outro a esperança voltava de novo.

Era isso então, ou ela fazia algo e morria tentando ou não fazia nada e morria do mesmo
jeito, ela tinha que bolar algo, não podia perder todas as esperanças. "Amanhã", pensou ela,
"fugirei desse inferno". Se sentia muito cansada, havia chorado maior parte do dia, então resolveu
dormir.

***

" — Olá?! — ela gritou dentro da gruta. — Alguém?

— Amor, você voltou para mim. — Ela ouviu a voz de Thomas.

— Cadê você? Eu consegui, eu voltei — ela disse chorando.

— Eu estou aqui. — A voz dele vinha de trás dela. Já com os olhos cheios de lágrimas virou e
deu de cara com um Thomas que não conhecia, ele estava ensanguentado e com uma faca na mão,
vindo em sua direção. Pela primeira vez ela queria ficar longe dele, o mais longe possível. Então ele
continuou a falar. — Por que não me abraça, amor?

— Você não é o meu Thomas, sai daqui — ela gritou e fechou os olhos, por um momento
houve um silêncio assustador, ela abriu novamente os olhos e não era mais Thomas lá e sim Bruno.

— Sua hora chegou docinho — ele falou e enfiou a faca na barriga dela. "

***

Kate acordou ofegante aos gritos, colocou a mão na barriga onde tinha levado a facada
de Bruno, mas não havia nada lá, ela quase podia sentir a dor. Alguns raios de sol já passavam
entre as frestas da janela, por quanto tempo será que ela havia dormido. Pareciam minutos não
horas. Pelo menos havia sido só um sonho ruim, mas logo se tornaria realidade.
— Merda! — ela gritou levantando da cama.

— Xingando já tão cedo, querida — Bruno falou entrando no quarto com uma bandeja de
comida. — Eu decidi que vou te contar a história toda.

— Talvez eu não queira saber — ela disse num tom cínico.

— Vou falar do mesmo modo. — Ele começou a falar de tudo o que sabia, desde como
conheceu Alice até a história dela com Thomas e sua falecida esposa. Kate ficou horroriza com
tudo, era como se aquele Thomas do seu sonho estivesse ali agora, ela sentia medo e pavor. Agora
mais do que nunca tinha vontade de fugir dali e nunca mais vê-lo.

— Eu preciso tomar um banho — ela falou assim que terminou de raciocinar tudo. — Pode
retirar a corrente, por favor?

— Posso, mas estarei na porta, então não tente nenhuma gracinha — ele falou pegando as
chaves do bolso destravando a corrente dela, agora no lugar onde estava a corrente haviam
cicatrizes e marcas roxas. Ela entrou no banheiro, escondendo a faca entre as roupas que estava
usando, trancou a porta, ligou o chuveiro para fingir estar no banho e colocou apenas o pé de
baixo d'água. Ela tinha que pensar em algo, mesmo que conseguisse ferir Bruno, ainda precisaria
pegar suas chaves e passar por duas portas antes de chegar até o carro.

"Tudo bem Kate, pensa", ela pensou e foi aí que teve uma ideia.

— Eiii — ela gritou de dentro do banheiro. — Eu preciso de sabonete aqui.

— Não dá para tomar banho sem isso? — Ele falou meio alto demais.

— Não — ela gritou de volta. — Não sairei daqui sem um sabonete.

— Fique quietinha aí — ele falou e ela ouviu passos, uma porta abrindo e em seguida
fechando. Demorou pouco mais de um minuto antes dela finalmente ouvir o som da porta abrindo e
antes que ele fechasse ela resolveu colocar o plano em ação.

— Ahhhh. — Ela soltou um grito estridente e passou a faca na palmas da mão.

— O que foi, você está bem? — Bruno gritou do outro lado da porta. Ela abriu uma fresta
da porta e estendeu a não ensanguentada. — Ai meu Deus, como você conseguiu fazer isso? —
Ele segurou a mão dela.
— Assim — ela falou saindo do banheiro e enfiando a faca na barriga do Bruno e
puxando logo em seguida.

Tudo parecia acontecer rápido, ele caiu no chão gritando de dor com as duas mãos na
barriga e derrubando a chave ao seu lado. Ela pegou a chave e passou pela primeira porta,
trancando a em seguida, correu pela cozinha e sala e abriu a porta e a fechou em seguida.
Começou a correr para o carro quando ouviu uma voz.

— Parada aí. — Era a voz de uma mulher, uma voz que ela reconhecia de algum lugar. —
Aonde você pensa que vai, vadiazinha? — Ela se virou para ver quem era, não a reconheceu de
primeira, talvez fosse a mulher com quem tanto Bruno falava ao telefone. Kate começou a correr
de novo para o carro, mas logo foi alcançada pela mulher. — Você vai morrer agora, já esperei
demais pela sua morte.

— Largue-me, sua cadela — ela gritou e em seguida chutou a mulher morena no joelho. Ela
lembrou-se de quem se tratava, era a Alice. Essa por sua vez soltou um grito de dor e caiu no
chão, mas logo segurou o pé de Kate levando-a para o chão também. As duas começaram a
brigar rolando pelo chão, era murro de cá, tapas de lá e muitos puxões de cabelo.

O nariz de Kate já sangrava e o penteado bem feito da Alice já estava parecendo um


ninho de ratos, mas as duas ainda continuavam brigando. Kate forçou e enfiou a chave na perna
da Alice que gritou de dor e segurou a perna. O que de tempo para Kate se levantar e começar
a correr novamente.

— Pare! Mais um passo e eu atiro em você. — Alice gritou.

— Parada você, senhorita! — gritou algum homem. — Ponha a arma no chão e as mãos
onde eu possa ver.

Kate se virou para a direção deles e atrás deles haviam muitos outros policiais com cães de
busca e armas apontadas para ela. Eles tinham vindo resgatá-la, ela se sentia feliz e exausta.

— Não! — Tudo passou numa fração de segundo, a mulher apontando a arma novamente
para Kate, apertando o gatilho, John pulando em cima dela, o tiro pegando na perna de Kate e a
dor estridente tomando conta de toda sua perna, ela não conseguiu mais se manter em pé e
desabou no chão batendo com a cabeça forte e tudo ficando escuro.

***

Uma luz muito forte atingiu os olhos de Kate, assim que os abriu, ela tentou reconhecer o
local, mas não conseguia, tudo estava branco.

— Filha! — Ela piscou um pouco até que os olhos se acostumassem com a claridade.
Quando conseguiu focar sua vista, viu a sua mãe ali perto, correu o olhar pelo quarto e encontrou
seu pai e John ao lado da cama. — Você acordou! Oh, meu Deus, você me deixou tão
preocupada, quando a polícia me ligou dizendo que você havia sido raptada, entrei em
desespero. Oh, querida. Achei que te perderia — sua mãe falou, chorando.

— Isso é um sonho? — Kate perguntou confusa e colocou a mão na cabeça que doía por
causa da claridade.

— Filhona, você nos deu um belo de um susto — o pai dela disse chegando mais perto da
cama.

— Nanica! Achei que não fosse acordar mais — John falou, chegou perto e deu um breve
abraço nela. — Como está a perna?

— Meio furada — ela falou e sorriu, tentando quebrar o clima. — Por quanto tempo eu
dormi? — ela perguntou meio atordoada.

— Pouco mais de quatro horas — sua mãe respondeu. — Filha você está tão desidratada,
tão magrinha. — A mãe sorriu fraco, com lágrimas nos olhos.

— Nós vamos te levar para casa, assim que você se sentir melhor. — O pai completou.

— Obrigada, gente. — Ela tentou sorrir, ignorando as lágrimas que queriam cair devido a
emoção daquele momento. O pesadelo havia acabado, finalmente.

— Antes de tudo, Kate, tem uma pessoa lá fora que quer falar com você — John falou
animado.

— Não, John. Eu não quero vê-lo — ela respondeu já imaginando quem deveria ser. — Por
favor, John, não posso olhar para ele agora. Invente alguma desculpa.

Os pais a olharam confusos, Kate lembrou-se de toda a história que Bruno havia contado
para ela, tudo sobre o pai, tudo sobre Thomas e aquilo fez seu coração doer. Era muita coisa para
digerir, ela sabia que aquele era o passado dele, mas sentia repúdio por ele no momento. Não
conseguiria olhar para o homem que amou e o acusar de ser um assassino, ela só precisava de um
tempo e talvez depois desse tempo estivesse pronta para ouvir o que ele tinha a dizer.
John

Conheci a Kate aos 6 anos de idade, meus pais e eu, havíamos acabado de terminar a
mudança quando o senhor e a senhora Snow chegaram com sua linda criancinha de cabelos
castanhos claros e grandes olhos azuis, ela me encantou nesse mesmo instante. Meus pais e os dela
se tornaram amigos inseparáveis e por consequência nós também. Ela era um amo mais nova que
eu, logo meus pais me matricularam na mesma escola que ela.

Desde então me tornei quase que seu segurança pessoal, odiava ver as outras pessoas
perto dela e odiava ver qualquer pessoa mexer com ela. Uma vez puxei o cabelo de uma
menininha da turma dela apenas porque a menina havia empurrado a Kate. No terceiro ano eu já
batia nos meus colegas de turma porque eles chamavam de feia e esquisita. Kate sempre teve
mais dificuldade em fazer amizades que eu, deveria ser pelo jeito meio desconfiado e tímido dela.

Não vou dizer que eu não gostava disso, pois eu gostava sim e gostava muito. Naquela
época eu era apenas um garotinho. Os anos foram se passando e a cada ano nós ficávamos mais
e mais amigos. Éramos como irmãos inseparáveis, onde um estava o outro sempre estava também.
Foi assim durante todo o nosso ensino fundamental. Infelizmente crescemos, quando eu passei para
o ensino médio, mudei de escola e ela continuou na mesma escola. Conheci várias pessoas novas e
comecei a andar com outros amigos.

Entrei para o time de futebol americano e comecei a ficar com uma garota um ano mais
velha que eu, tudo isso foi me afastando cada dia mais da Kate e ela de mim. Quando ela
finalmente veio para o mesmo colégio que eu, já não estávamos mais tão próximos, tentei manter
contato com ela, mas era difícil, meus amigos não gostavam dela e todas as garotas com quem eu
ficava também não se davam bem com ela.

Os meses foram passando e eu cada vez mais rodeado de amigos e garotas, já para Kate
não era nada fácil. As únicas pessoas que se aproximavam dela, faziam isso para machucá-la. Ela
passou todo o ensino médio sozinha, como alguém invisível. Nós tínhamos nos afastado de vez.
Quando eu saí da escola e entrei para Stanford já não via ela mais, eu me mudei e passei a
morar em um apartamento com um colega de quarto, perto da faculdade. Eu e ela sempre
falávamos que queríamos vir para cá, eu como engenheiro e ela como médica. Alguns meses
estudando em Stanford e conheci a Tracy, primeiro eu só a observava de longe, a verdade é que
ela me lembrava muito a Kate. Toda sensível, linda (mas que insistia em se achar feia) e o melhor
de tudo, ela não era como as garotas que eu costumava pegar e descartar dias depois. Mesmo
ela me lembrando a Kate, não era do mesmo modo fraternal, havia outra coisa nela que me
chamava a atenção.

Continuei observando a por mais um mês, até que finalmente criei coragem para falar com
ela. Tracy estava na biblioteca da faculdade procurando um livro. Ouvi ela bufar e dizer alguma
coisa sobre os livros estarem muito altos, ri um pouco com a cena e decidi ir até lá ajudá-la.
Quando cheguei perto, ela parou de tentar alcançar o livro e ficou me olhando, peguei o livro e li
o nome na capa, "As crônicas do Gelo e do Fogo — Guerra dos tronos", fiquei maravilhado por ela
ter o mesmo gosto literário que eu. Sentamos numa mesinha e começamos a conversar sobre o livro,
nisso foram horas conversando até fazermos as devidas apresentações. Só deixamos de conversar
mesmo quando a biblioteca estava para fechar.

Depois disso encontrei-a de novo e os encontros se tornaram constantes até que eu dia eu
finalmente criei coragem para chamá-la para sair, começamos a ficar, por causa do pai dela, ela
insistiu ficássemos escondido por umas semanas, mas logo contaríamos tudo.

Nisso já havia se passado um ano que eu não via Kate, meu pai me ligou falando que a
minha mãe estava muito doente, eu tive que ficar fora da faculdade por uma semana apenas
ajudando a minha mãe com os exames, foi aí que eu soube que a Kate havia ido para outro
estado fazer um curso intensivo. Quando eu e Kate finalmente nos reencontramos eu estava prestes
a voltar para Stanford. Ela estava diferente, não parecia mais uma garotinha e sim uma mulher e
agora era mais decidida, conversamos por quase um dia todo e em um dos meus encontros com
Tracy na biblioteca ela me revelou que agora havia mudado de quarto e que havia, também,
conhecido uma colega de quarto muito legal que se chamava Katherine Snow. Gelei ao ouvir o
nome, falei para Tracy que havíamos sido amigos desde muito pequenos e que estávamos
afastados agora, ela se ofereceu para me ajudar claro, mas eu falei que eu faria por minha
conta. Eu pensei em ir até o apartamento delas, mas logo desisti. No dia seguinte eu estava
passeando de carro e vi a Kate saindo do prédio de Biológicas, segui ela por um tempo
esperando o momento certo de ir falar com ela, esperei ela sair da aula e finalmente falei com
ela.

Quando eu e Kate estávamos no carro a caminho da lanchonete mais próxima, eu recebi


uma ligação do meu pai falando que o estado de saúde da minha mãe havia piorado. Eu tentei
marcar para ver a Kate outro dia, mas ela insistiu que queria ir comigo. Passamos em seu quarto
para pegar algumas coisas suas e em seguida no meu apartamento e fomos para a fazenda onde
meus pais estavam, ficamos três dias lá até que a minha mãe havia melhorado bastante e eu
consegui me sentir tranquilo para voltar. No caminho conversamos sobre as nossas atuais vidas, ela
me relatou sobre algo com um professor, que eu acabei descobrindo ser o pai de Tracy. Eu contei
tudo para ela sobre o namoro secreto com Tracy e o resto das coisas que tinham acontecido.

Chegamos em Stanford muito tarde, estava frio então abracei-a e fui levando-a para o
dormitório dela, quanto mais nos aproximávamos do prédio eu conseguia ver a figura de um
homem, que ela cochichou no meu ouvido ser Thomas. Fomos até lá falar com ele, que não parecia
nada bem, estava furioso. Ignoramos isso e quando estávamos saindo para o dormitório dela o
ouvimos bufar de raiva. Rimos juntos.

Já no quarto eu dei um beijinho de boa noite em Tracy e contei para ela tudo sobre o dia,
menos a parte de Kate e o pai dela. Voltei para o meu apartamento e dormi, mas acordei no meio
da noite com um telefonema dos pais de Kate, eles me revelaram que haviam comprado uma casa
como presente de boas-vindas a faculdade para Kate e pediram que eu fosse levá-la até lá. No
outro dia acordei bem cedo e fui fazer uma surpresa para as minhas duas meninas, mas só
encontrei Kate, dormindo e é claro que fiz questão de acordá-la. Esperei ela se arrumar e levei-a
até a surpresa, ela amou tudo.

Passamos o resto do dia embalando as coisas para levar para a nova casa, Kate estava
ansiosa, terminamos tudo já no fim da tarde. Arrumamos algumas coisas e deixamos outras para
arrumar no dia seguinte. Depois disso fui para casa, tomei um banho e pensei em jantar em algum
restaurante estava sem vontade nenhuma para cozinhar, quando entrei em meu carro percebi que
ela havia esquecido uma caixa dentro dele e fui até a casa dela devolver. Foi quando vi o
professorzinho saindo da casa dela, claro que fechei a cara como todo irmão mais velho faria.
Não que eu seja um, mas sou quase um. Tive uma pequena discussão com ele, certo que ele é meu
sogro, mas não deixaria que se aproveitasse Kate, ela é muito nova para ele.

Nós dois fomos embora. Depois disso a faculdade mandou um e-mail falando que entraria
em recesso por conta das professoras que haviam sumido, logo recebi uma ligação de Tracy
pedindo para que eu viajasse com ela e dizendo que finalmente me apresentaria para seu pai.
Não fiquei muito animado quanto a apresentação, mas quanto a viagem fiquei.

Pouco depois Kate me ligou pedindo para ajudá-la com as malas, passei o dia ajudando-a,
ela foi me contando como estava com Thomas e ela estava extremamente feliz, eu achei tudo
aquilo muito precipitado e não concordava com o fato dela namorar um cara tão mais velho, mas
não quis estragar a felicidade dela.
No dia que se seguiu viajamos para o Caribe. Coisa que eu achei que não veria Kate
fazer, claro que Thomas se mantinha relutante quando a minha ida junto e eu relutante com a ideia
de deixá-lo perto demais da minha baixinha, mas nós dois no fim aceitamos. Depois que
desembarcamos a viagem se manteve tranquila, até demais. Kate dormiu até finalmente chegarmos
no hotel. A viagem seguiu tranquila até o momento em que Thomas e Kate foram para uma ilha, no
começo parecia tudo normal, mas quando eles não voltaram, eu comecei a me desesperar,
passamos por uns guardas bem chatos e fomos até a ilha procurá-los, encontramos apenas Thomas
desmaiado e nada de Kate. Depois disso, morri cada dia sem notícias suas, já esperava pelo pior
até Thomas vir falar sobre um suposto sequestro. Desesperei-me mais ainda, passaram quase duas
semanas e foi quando os policiais ligaram falando que haviam a encontrado, como Thomas não
poderia se envolver muito nisso, pois estava sendo ameaçado e poderia estragar tudo eu fui. Foi
doloroso ver Kate ser baleada, mas só em saber que ela ficaria bem, eu me senti mais tranquilo.
Quando cheguei no hospital dei de cara com os pais de Kate, que ficaram muito felizes em me ver,
os policiais haviam ligado para eles dois dias atrás e eles haviam vindo o mais rápido que podiam.

Entramos no quarto e a esperamos acordar. Quando ela acordou eu avisei que Thomas
queria vê-la, mas para a minha alegria ela não queria vê-lo. Não me julguem mal, eu só quero o
bem dela. Ainda tentei discutir com ela falando que deveria vê-lo, mas não adiantou. Então me
rendi, eu não deixaria esse professor aproximar-se novamente dela enquanto ela o quisesse longe.
Capítulo Dezesseis
Thomas estava parado em frente à casa de Kate tentando falar com ela, mas John o
impedia.

— Desculpe-me, Thomas, ela precisa de um tempo — John falou e torceu para que ele não
insistisse.

— Eu só preciso saber como ela está — Thomas insistiu. As últimas semanas haviam sido um
verdadeiro pesadelo em sua vida.

— Por favor, Thomas. Ela não está preparada para te ver. Ela passou por muita coisa, dê a
ela um tempo.

— Já se passaram duas semanas desde que a resgataram — Thomas insistiu, precisava ver
Kate. Mesmo sabendo o porquê de ela não querer vê-lo.

— Pai, vamos — Tracy disse agarrando o braço do pai.

— Thomas, eu tentarei falar com ela — John falou firme, o que deu a Thomas um pouco
mais de segurança.

— Tudo bem. — Ele finalmente cedeu. — Diga que a amo.

— Direi — John falou se aproximando deles, apertou a mão de Thomas e deu um breve
beijo em Tracy.

Thomas observou John entrar na casa de Kate e sentiu uma dor familiar em seu peito. Era
como perdê-la novamente e o pior de tudo é que ele merecia isso, depois de tudo que havia feito
e depois de tudo que Kate sofreu por sua causa. Só que ele não conseguia deixá-la ir, era egoísta
demais para fazê-lo.

Thomas entrou no carro e suspirou, como ele havia dito a John, já faziam duas semanas
desde todo o acontecido e 10 dias desde que eles haviam voltado para Stanford. Desde que Kate
havia sumido na ilha ele não a via. Ela não permitiu que ele fosse vê-la, voltou com os pais para
Stanford que logo depois viajaram de volta para casa, deixando-a aos cuidados de John. Esse,
por sua vez, mantinha-se inflexível sobre todas as decisões de Kate e não deixava ninguém se
aproximar dela. As aulas já haviam voltado ao seu curso normal, um novo professor havia sido
contratado para dar aula na turma de Medicina em que Kate estava e Thomas, agora, só dava
aula na turma de Medicina avançada.

Tracy dirigiu devagar até chegar a faculdade, Thomas se manteve calado por todo o
caminho, pensando no que poderia fazer para conquistá-la de novo, ele não podia ficar sem ela.
Sua cabeça andava tão nas nuvens que mal conseguia dar as aulas, já havia sido chamado na
reitoria da universidade duas vezes durante esses últimos dias. Ele desceu do carro ainda em
silêncio e apenas sorriu para Tracy, ela por sua vez sabia que não deveria falar nada, mas sentia
uma certa curiosidade sobre tudo o que tinha acontecido.

Ao entrar em seu quarto, percebeu o quanto tudo estava bagunçado, logo o quarto dele,
que era um dos caras mais organizados que existia. Decidiu então começar a fazer uma limpeza
geral, as coisas precisavam voltar ao normal, agora Alice estava presa no Caribe e na semana
seguinte iria ser transferida para uma prisão dos Estados Unidos que ficava a algumas cidades de
distância de Stanford, Bruno havia sido condenado à morte por todos os assassinatos cometidos,
haveria um último julgamento para ele, em que Kate e Thomas teriam que depor, dentro a um mês.

Era horrível pensar que depois de tudo eles ainda teriam que passar por isso e Thomas
esperava que Kate o perdoasse antes do julgamento. Ela era a segunda pessoa da qual ele temia
desprezo. Thomas terminou a limpeza e decidiu dormir. No outro dia, pela manhã ele estava
agoniado com toda aquela situação, então decidiu tentar ligar para Kate, ele precisava esclarecer
tudo, mostrar sua versão dos fatos, fazê-la entender que tudo que ele fez um dia ficou para trás.

O telefone chamou várias vezes antes de cair na caixa de mensagem, Thomas desligou e
ligou de novo, dessa vez o telefone chamou duas vezes e caiu de novo na caixa de mensagens,
então ele resolveu deixar algo gravado para que talvez ela pudesse ouvir.

— Amor, atenda-me, eu preciso muito falar com você, deixe que eu te conte a minha versão
da história, porque eu sei que você não quer mais me ver, mas dê-me uma chance antes de me
esquecer para sempre. Eu mudei faz muito tempo e estou disposto a mudar mais para não te
perder. Não consigo mais me ver sem você, só preciso de cinco minutos, liga-me. Eu te amo. — Ele
suspirou, reconquistá-la iria ser mais difícil do que pensava, mas se ele havia a conquistado uma
vez, certamente conseguiria outra, pelo menos era o que ele esperava.

**

A cabeça de Kate andava perturbada desde a última conversa que teve com Bruno, antes
de o prenderem. Ela não imaginava como Thomas podia ser tão violento com alguém, mas o que
ela esperava, não fazia muito tempo que o conhecia. Sua vida havia virado totalmente do avesso
nesse último mês, algumas vezes era um avesso bom e outras um horrível.

Nas duas semanas anteriores ela se manteve distante de Thomas, sem ir para aula por
medo de encontrá-lo e evitando todas as suas ligações. Ela não queria esquecê-lo, só precisava de
um tempo para entender tudo que aconteceu e aí sim decidiria o que fazer, pois se fosse para
terminar tudo, era melhor que ela fosse embora de Stanford. Mais um dia trancada dentro de casa
e a jovem temia por que no dia seguinte ela finalmente voltaria as aulas, só havia conseguido duas
semanas a mais de recesso por que alegou estar com trauma, o que claro, não era totalmente
mentira. Ainda tinha pesadelos todas as noites e Bruno estava em todos eles. No momento ela se
encontrava sozinha em casa. O que tornava tudo ainda mais difícil, a dor em seu peito aumentava
significativamente quando não havia ninguém por perto. Kate caminhou até a mesinha onde ficava
o telefone e apertou o botão da secretária eletrônica, por ela não estar atendendo ninguém, nem
os seus pais, a secretaria sempre ficava cheia.

Kate caminhou até a mesinha onde ficava o telefone e apertou o botão da secretária
eletrônica, para se preservar, ela não estava atendendo as ligações, nem mesmo as de seus pais,
por isso a secretaria estava cheia de mensagens.

“Filha, você pode me ligar quando ouvir isso? A mamãe está com saudade. Seu pai está
preocupado. Beijos." Como toda manhã, uma mensagem dos seus pais, que mesmo estando longe
não deixavam de se preocupar e tratá-la como uma criança. Ela aperta o botão para reproduzir
a próxima.

“Senhorita Snow, não se esqueça de que as duas aulas começam depois de amanhã, quero
vê-la em sua sala pontualmente." Essa era do reitor, sua voz como sempre profissional e ao mesmo
tempo distante.

"Amor, atenda, por favor. Preciso muito falar com você, deixe que eu te conte a minha
versão da história, porque sei que você não quer mais me ver, mas dê-me uma chance antes de me
deixar para sempre. Eu mudei faz muito tempo e estou disposto a mudar ainda mais para não te
perder. Não consigo mais me ver sem você, só preciso de cinco minutos, liga para mim. Eu te amo."
Essa mensagem a havia pegado desprevenida, várias lágrimas escorregam pelo seu rosto, Kate
também o amava, mas não sabia se aguentaria ouvir toda aquela história de novo, mesmo que
aquilo fizesse parte do passado dele. “Eu sinto muito" ela sussurrou para o telefone. Apertou o
botão para a próxima mensagem, tentando enxugar as lágrimas.

"Pandinha, vou passar no CoffeStar e pegar o nosso café da manhã, chego ai em alguns
minutos, é bom que você esteja acordada." — Era John, toda manhã ele ficava com Kate, só a
deixava sozinha quando ia para a faculdade ou quando saía com Tracy. Kate ouviu batidas na
porta segundos depois e correu para abri-la achando que era John, mas ao abrir a porta ficou
surpresa e assustada ao mesmo tempo, ao constatar quem estava lá.

— Thomas — ela falou com espanto e ficou paralisada.

— Você ouviu a minha mensagem? — perguntou se aproximando.

— Eu... — Kate começou a explicar, mas foi interrompida.

— Dê-me alguns minutos, amor, posso te mostrar que não sou o monstro que você acha que
sou. — Ele deu um passo à frente e passou a mão no rosto dela.

— Eu não posso. Não quero — ela falou tirando a mão dele de seu rosto. — Preciso de
um tempo sozinha, não sou capaz de entendê-lo agora. Não sei se serei capaz algum dia.

— Já faz mais de duas semanas Kate e acho que estou morrendo sem você. — Ele falou e
algumas lágrimas surgiram nos olhos de Kate, ela também se sentia assim. Era doloroso vê-lo tão
fraco na sua frente, ela não acreditava que Thomas fosse capaz de fazer aquilo que Bruno havia
falado, mas em momento nenhum Bruno havia mentido para ela. Ela sentia-se culpada por não
conseguir perdoá-lo por algo que ela não sabia se ele realmente havia feito.

— Por favor, Thomas — ela falou tentando segurar as lágrimas.

— Eu posso te mostrar que o cara por quem você se apaixonou ainda está aqui. Eu fui ao
inferno todos os dias por causa daquela noite maldita, eu não consigo me lembrar o que realmente
aconteceu, mas eu nunca seria capaz de fazer algo assim — ele falou e aproximou seu corpo do
dela colocando a mão em sua nuca e encostando suas testas.

— Não — ela disse tirando a mão dele de sua nuca e se afastando um passo.

— Você sabe que ainda sente algo por mim. — Ele se aproximou mais, até que restasse
menos de um palmo de distância entre os dois. — E sabe também que meu beijo te desarma, só
está com medo de reconhecer isso. — Ele aproximou ameaçadoramente os seus lábios dos dela. —
Volta para mim. — Ele fala e dá um breve selinho nela.

A vontade chorar que Kate sentia já havia passado, mas ela sentia o muro que ergueu em
volta de si ser derrubado, Thomas mexia com todos os seus sentimentos, todos os seus sentidos e
toda a sua estrutura. O pouco que os lábios dele haviam tocado os dela, já fazia falta, queria
mais daquilo, mesmo magoada por tudo que descobriu sobre o passado dele, ela precisava dele,
como nunca precisou de ninguém, como se apenas ele pudesse curar toda a mágoa que sentia.

Thomas aproximou o rosto novamente como se fosse beijá-la e ela esperou que ele fizesse
isso, mas ele não o fez. Afastou-se novamente.

— Eu vou te dar o tempo que precisa — ele disse descendo as escadas.

Enquanto Thomas saia, John estava chegando, eles se cumprimentaram e Thomas foi
embora em seu carro. Quando John se aproximou mais Kate já não conseguia conter o choro,
jogou-se nos braços do seu amigo soluçando.

— Você poderia me contar tudo o que aconteceu, pequena. — Ele a puxou para dentro e
fechou a porta. — É meio difícil tomar partido de algo que eu desconheço.

— Eu sei — ela disse ainda em lágrimas, desejando poder contar a ele, mas sabia o
quanto John era protetor, então se ela o fizesse, mesmo depois da mágoa por Thomas acabar,
John não a deixaria ficar perto dele e a última coisa que ela desejava no momento era ter que
escolher entre os dois. — Tudo foi muito forte naquelas duas semanas. — Mentiu, ou bem dizendo
omitiu. — Aquilo ainda me perturba.

— Eu queria poder evitar que você sofresse com isso. — Ele a abraçou mais forte. — Tudo
vai ficar bem, depois do julgamento você nunca mais vai precisar vê-lo.

— O julgamento — ela disse com desgosto, saindo dos braços de John. — Não posso
imaginar como farei para lidar com isso.

— Estarei lá ao seu lado — ele falou e caminhou até onde ficava o sofá, jogando-se nele
em seguida.

— Eu sei que sim e também sei que não corro perigo mas queria não ter que passar por
isso.

— Eu sei pequena. No final tudo vai ficar bem.

— Panda — ela disse sentando-se no sofá ao lado dele.

— O que?

— Tem uma coisa que Bruno me disse...

— Acho que já chega de falar desse assassino.


— Não, essa coisa é importante.

— Hum. Então me conte a tal coisa — ele falou desgostoso.

— Ele falou sobre eu ter uma irmã.

— O que? — John falou em surpresa.

— Isso mesmo. Da minha idade. Eu quero que me ajude a encontrá-la — falou segura de
si. — Preciso conhecê-la e sem que meu pai saiba.

— Não seria mais fácil apenas perguntar a ele?

— Não, ele não me diria a verdade. Eu preciso encontrá-la sem acabar com o casamento
dos meus pais.

— Ele falou pelo menos aonde ela mora?

— Não.

— Nome da mãe?

— Não.

— O nome dela?

— Não.

— Então vai ser ainda mais difícil do que eu imaginava.

— Vai me ajudar?

— Vou. Mesmo não sabendo como encontrarei ela.

— Você é o melhor. — Ela parou por uns segundos e depois lembrou de algo, não algo
que ela quisesse fazer, mas que ela sabia que seria necessário. — Eu sei como podemos conseguir
informações sobre ela. — Ela sorriu misteriosamente e logo John entendeu o que ela queria dizer.

— Não, nem pensar — ele falou se levantando do sofá. — Você só pode estar maluca.

— Mas eu ainda nem disse o que eu pensei — ela falou com inocência fingida.

— Eu não sou idiota, Katherine, peça-me tudo menos isso. — Dava para sentir a raiva em
sua voz.
— É necessário, John.

— Ela nunca fez falta na sua vida, por que agora faz?

— Agora eu sei que ela existe.

— Isso é idiotice.

— Não é.

— O que te faz pensar que ele contaria onde ela está sem pedir algo em troca?

— Ele já falou uma vez.

— Você não pode ser tão inocente assim, ele está preso, não te levarei à um presídio, Kate.

— Se não o fizer eu acho alguém que o faça, ou vou só.

— Não, você não vai Katherine.

— Se não for comigo, eu vou sozinha, então o que me diz?

— Tudo bem. Quando você quer ir?

— Ainda nesta semana.

— Você é completamente maluca — ele falou balançando a cabeça em negação. — Tenho


que ir, ligue se precisar de algo. — Ele entregou a comida a ela. — Coma tudo.

— Está bom. — Ela apenas o observou sair.

Kate passou um bom tempo se perguntando se era isso que queria, reencontrar o cara que
a manteve presa por tanto tempo e não era, mas desde que ele tinha falado sobre sua possível
irmã isso a perturbava, queria conhecê-la. Desde pequena Kate desejava um irmão ou uma irmã,
mas sua mãe nunca conseguiu engravidar novamente, algumas vezes ela até se sentia culpada por
isso, mas nunca disse isso para ninguém. Uma coisa agora passava pelos pensamentos de Kate,
John não a deixaria ir, mesmo que tivesse concordado, ela o conhecia, ele com certeza faria de
tudo para não a deixar ir. Foi aí que ela pensou em ir sozinha, no mesmo dia ela colocaria o plano
em prática, precisava conhecer a irmã.

***

Depois de sair da casa de Kate, Thomas foi direto para a faculdade dar aula. Não que ele
tenha se concentrado, pois não conseguiu. Tudo que fez foi passar um trabalho para os alunos e
depois dispensá-los. Passou o restante do dia perdido em seus pensamentos, não fazia ideia do
que faria para reconquistá-la. Por volta das 17:00h alguém bateu em sua porta, quando ele abriu
descobriu que eram Tracy e John e os dois pareciam totalmente desesperados.

— Pai. — Ela o abraçou.

— Thomas, eu preciso da sua ajuda — John falou com o semblante sério.

— Vocês estão me deixando preocupado. Entrem.

— Não, não há tempo — John falou.

— Tempo para que?

— É a Kate, pai.

— O que houve com ela? Falem logo.

— Ela foi no presídio conversar com Bruno. — John despejou.

— Não! Como você deixou isso?

— Eu não deixei, nos iriamos amanhã, mas ela resolveu do nada ir sozinha. Eu só soube
quando um dos policiais ligou, mas ela não quer me ver.

— Eu vou atrás dela.

— Não vai adiantar Thomas, ela também não quer te ver. Ela disse que só saía de lá
quando resolvesse o que foi resolver.

— O que ela foi resolver?

— Ela quer achar a irmã dela.

— Ela tem uma irmã?

— Sim, cerca de três anos mais nova.

— Eu vou lá, convencerei ela a voltar.

— Eu vou com você, pai.

— E eu também.
— Não, vocês dois fiquem. Preciso fazer isso sozinho.

— Mas pai...

— Nada de mais, Tracy. Eu volto logo.

Nenhum deles insistiu, John sabia que aquilo era o melhor para Kate e também não queria
que Tracy fosse até a cadeia, já ela só estava obedecendo às ordens do pai, a ruiva sabia que
ele precisava ir sozinho por isso apenas concordou. Thomas pegou as chaves do carro e saiu,
tentou se concentrar enquanto dirigia, mas isso era quase impossível. Era horrível pensar em Kate
próxima a Bruno novamente, mesmo com toda a segurança da cadeia.

— Olá. Eu preciso saber sobre uma visitante — Thomas falou assim que avistou o primeiro
policial.

— Eu te levo até a recepção — falou o policial e seguiu até um balcão. — Ajude este
homem a encontrar uma visitante, por favor — ele disse para a atendente que estava no local. —
Prontinho. — Voltou-se para Thomas.

— Obrigado.

— Qual o nome da visitante? — interrompeu a atendente.

— Katherine Snow.

— Ela ainda está no meio da visita senhor — a moça falou depois de olhar no computador.

— Não tem como tirá-la de lá?

— Eu posso tentar, mas primeiro você vai ter que explicar todo o porquê disso.

Quando Thomas ia explicar, ele viu Kate. Caminhou até ela e percebeu que os olhos dela
estavam cheios de lágrimas, ele temeu que Bruno tivesse feito algo contra ela.

— Kate. — Ele caminhou até ela e ela o abraçou, chorando ainda mais.

— Acho que eu não preciso mais tentar, não é?! — A atendente falou e Thomas apenas
respondeu com um sinal de positivo. Abraçou Kate o mais forte que conseguia, essa era a primeira
vez que ela demonstrava que ainda sentia algo por ele.

— Eu encontrei, Thomas — ela disse saindo do abraço. — Eu sei onde a minha irmã está.

— Que bom. Eu fiquei tão preocupado quando soube que você veio aqui sozinha — ele
falou.

— Não falei diretamente com Bruno, um dos policias fez as perguntas que eu pedi e ele
respondeu o que foi muito estranho no começo.

— Onde ela está? — Thomas perguntou, disposto a arriscar um pouco mais de


aproximação.

— Eu não sei a cidade, só sei o nome dela e da mãe — ela respondeu.

— Se quiser posso te ajudar a procurá-la amanhã.

— Amanhã eu preciso voltar às aulas.

— Quer carona para casa?

— Eu vim de carro.

— Tudo bem — Thomas falou desanimado por nenhuma de suas tentativas terem
adiantado.

— Você me encontra no CoffeStar? — ela perguntou e um sorriso surgiu no rosto de


Thomas.

— Tudo bem — ele a observou entrar no carro e logo em seguida entrou no dele.

Entre a San Quentin State Prison e a Universidade de Stanford era pouco mais de uma hora
de viagem. Durante todo o caminho Thomas se manteve atento ao carro de Kate, tinha medo de
perder a oportunidade de poder finalmente se explicar para ela. Era estranho se sentir desse
modo, ele sentia um amor por ela até maior do que o amor que sentiu pela sua falecida mulher,
era como vida e morte misturados em um só, com ela parecia ser sempre tudo ou nada e ele tinha
medo de magoá-la ou pior, perdê-la. Ao chegar no CoffeStar Thomas desceu meio receoso do
carro, Kate o estava esperando na porta, em seu rosto ainda tinha um sorriso, provavelmente por
causa das notícias sobre a irmã. Quando Thomas se aproximou ela o abraçou e em seguida o
beijou, o que pegou ele de surpresa.

— Eu não ligo para o seu passado e quero, na verdade preciso construir um futuro ao seu
lado. Não faço ideia de como consegui ficar esse tempo longe de você e saiba que eu também
morri a cada dia sem você. Eu te amo Thomas Wolf e vou continuar te amando. — Ela o beijou de
novo. — Eu estava louca para fazer isso.
— Eu não mereço você — ele falou sorrindo e a beijando de novo.

— Só diga que me ama.

— Eu te amo, Katherine Snow. E pelo amor de Deus não fuja de mim novamente. Não sou o
mesmo sem você.

— Não fugirei. — Ela o abraçou. — Estou disposta a escutar a sua versão da história e
mesmo que seja culpado eu ficarei ao seu lado, por que não importa quem você foi no passado,
importa quem você é agora e eu tenho certeza de que agora você é a melhor pessoa que eu já
conheci. — Ela abriu um enorme sorriso. — Agora vamos entrar por que eu estou morrendo de
fome.

— Diga-me quando que você não está?

— Ei, eu estou em fase de crescimento — ela falou colocando a mão acima da cabeça.

— Vai sonhando baixinha. — Ele passou os braços em volta dela.

O resto da noite foi calma, quando Thomas chegou ao seu quarto, Tracy e John já não
estavam mais lá, ele ligou para avisá-los de que estava tudo bem e depois foi dormir, no outro dia
teria uma aula logo cedo.
Capítulo Dezessete
Durante todo o mês, Kate e Thomas estavam ocupados tentando encontrar Madson, a irmã
de Kate e apenas um dia antes, lembraram-se do julgamento de Bruno e Alice. No dia do
julgamento, os dois estavam nervosos, Kate porque teria que ficar frente à frente com aqueles dois
novamente e Thomas porque temia o que Alice iria falar ali. O julgamento demorou seis longas
horas, foi do início da manhã até o meio da tarde.

No meio do julgamento todos ouviram, primeiro, o depoimento de Kate, depois o


depoimento de alguns familiares das vítimas dele. Todos os assassinatos de professoras que
ocorreram em Stanford e Juliart foram ligados à Bruno e alguns assassinatos de dançarinas
noturnas também. Kate era a única vítima dele ainda viva e o seu depoimento foi crucial para o
veredito do júri, que era composto em sua maioria por mulheres. No final do julgamento, ele foi
condenado à pena de morte, no total somavam-se 35 assassinatos que ele havia cometido e tinha
mais uma tentativa de assassinato.

Quando o julgamento de Bruno terminou foi a vez de Alice ser julgada, ela foi julgada por
porte ilegal de armas, tentativa de assassinato, tráfico de drogas ilícitas e uma morte. Quando
Kate foi depor contra Alice, ela foi surpreendida ao ser agarrada por Alice e ser enforcada no
meio do júri, foram precisos dois policiais para afastá-la de Kate e depois disso ela foi retirada da
sala. Mesmo nervosa e com medo, Kate continuou ali e deu seu depoimento. No final Alice foi
condenada a 40 anos em regime fechado.

***

Já haviam se passado dois meses desde que Kate descobriu o nome da sua irmã e desde
então ela e Thomas haviam se empenhado em procurá-la e finalmente a haviam encontrado. Kate
havia conseguido um estágio e no período da tarde e da noite auxiliava um médico em seu
escritório como secretaria em um hospital perto de Stanford.

No momento ela, Thomas, John e Tracy estavam no aeroporto esperando Madson chegar.
Kate estava tão ansiosa que já havia até passado mal, isso sempre acontecia quando algo
importante estava para acontecer. Ela já vinha conversando com a sua irmã no Facebook e ela era
simplesmente o máximo, bonita, educada e inteligente, ela não via o porquê de seu pai escondê-la
de todos. Claro que não sabia a história toda e não queria tirar conclusões precipitadas, resolveu
que apenas se aproximaria da irmã e quando fosse a hora certa elas falariam com o pai.
— Senhores, informamos que o voo 17240 está na pista de pouso. — A voz saia dos alto-
falantes, Kate deu um pulo de felicidade e abraçou Thomas.

— É o dela, amor! — ela disse puxando-o para o desembarque, estava tão animada com
aquilo tudo que mal podia se conter.

Já parada em frente ao portão de desembarque, Kate mexia nas mãos nervosamente à


espera de Madson, toda mulher morena que saia pelo desembarque ela achava que seria a sua
irmã. O tempo parecia se arrastar e todo mundo parecia sair do desembarque menos quem Kate
queria que saísse. Uma morena usando um vestido preto que ia até metade dos joelhos andava de
cabeça baixa, mexendo em seu celular e arrastando uma mala vermelha enorme, quando ela
levantou a cabeça Kate viu quem era. Madson largou a mala e correu para abraçar Kate, as duas
ficaram ali por um tempo emocionadas e enquanto as duas conversavam Thomas pegou a mala da
jovem.

Kate reparou em como a irmã era mais linda do que nas fotos, o cabelo castanho escuro
era longo e liso, o rosto era fino e um pouco longo, a boca em formato de coração assim como o
queixo. Os olhos eram cor de mel, assim como os do pai de Kate. Mesmo que a irmã não estivesse
usando maquiagem alguma, estava perfeita. Madson era seis meses mais nova que Kate e mesmo
assim parecia ser mais velha, tanto por sua altura quanto por seu rosto e corpo.

— Vamos? — ele perguntou interrompendo as duas. — Prazer, Thomas Wolf. — Ele


estendeu a mão para Madson e abriu um sorriso.

— Prazer. Madson Martínez. — Ela sorriu e apertou a mão dele.

— Ah, esse é John e aquela é a sua namorada e minha melhor amiga Tracy — Kate falou
sorrindo, estava tão feliz por finalmente ter conhecido a irmã.

— E minha filha — Thomas acrescentou.

— Filha? — Madson perguntou em surpresa. — Mas você parece tão novo, eu poderia
dizer que são irmãos. — Ela sorriu de lado.

— Muita gentileza sua — Thomas respondeu com um sorriso.

Eles começaram a andar em direção ao carro, ao chegar lá Thomas guardou a mala e


entrou no lugar do motorista, Kate queria entrar ao seu lado mas não tinha contado para irmã o
fato de namorar um professor e iria esperar um tempinho até contar. Kate apenas direcionou um
olhar a John que rapidamente entendeu e entrou na frente, as três mulheres entraram atrás. O
caminho foi longo, mas durante todo ele John e Thomas mantinham uma conversa sobre jogos e
clima e as três conversavam entre si assuntos banais. Quando chegaram a Stanford, Madson ficou
maravilhada com o local, ela tinha passado para lá, mas ao contrário de Kate ela faria Psicologia.

— Estão entregues mocinhas — Thomas falou depois de retirar a mala de Madson do


carro.

— Obrigada, senhor Wolf — Madson respondeu com um enorme sorriso.

— Chame-me só de Thomas, por favor — ele respondeu com meio sorriso.

— Ok, Thomas. — Ela sorriu de volta e se aproximou para despedir-se de Tracy.

— Obrigada pela carona, Thomas. — Kate sorriu para ele, na verdade queria apenas se
jogar em seus braços como fazia todos os dias.

— De nada. — Ele sorriu por um momento, mas parou de sorrir assim que John chegou
abraçando Kate por trás. — Não quer carona, John? — Thomas perguntou em tom sugestivo.

— Hoje não, Thomas, deixei meu carro aqui. Obrigado. — John respondeu brincalhão.

— Tudo bem então. Tchau meninas, John. — Ele acenou com a cabeça.

John soltou Kate do abraço e foi pegar a mala de Madson. As duas entraram na casa
abraçadas, Kate levou Madson até um quarto que ficava ao lado do seu, que ela havia decorado
há alguns dias. Madson por sua vez falou ter adorado tudo e alegou estar cansada demais, já
eram 23:40. Ela entrou para o quarto e Kate e John foram para a sala conversar.

— Achei que o professorzinho fosse me matar quando te abracei — John comentou rindo.

— Shiii. — Kate pôs um dedo frente a boca. — Você provoca, né.

— Nada a ver, eu sou a pessoa mais inocente em toda essa história — ele falou com um ar
de seriedade falso.

— Hum hum. — Kate começou a sorrir, por que ela sabia que John adorava provocar
Thomas.

— Você está rindo, né? — ele falou vindo para cima dela. — Agora vai rir de verdade. —
Ele começaria a fazer cócegas na barriga dela.

— Para com isso — ela gritou meio aos risos. — Por favor... — Ela continuou rindo. — John,
para. — Ele finalmente parou. Ela se sentou de novo no sofá arrumando os cabelos. — Isso foi
muito infantil, até para você. — Ela tentou ser séria, mas adorava aquelas brincadeiras do amigo.

— Você que pediu. — Ele cruzou os braços.

— O que você achou dela? — Kate perguntou se referindo a irmã.

— Eu achei ela simpática e bem bonita.

— Agora você tem duas irmãs mais novas para tomar de conta — ela falou.

— Pelo visto vou ficar velho antes do tempo.

— Com certeza. Então, mocinho, já está na hora de você ir embora porque eu tenho aula
amanhã cedo e preciso dormir. — Kate levantou do sofá e começou a puxar John.

— Estou sendo expulso? — Ele colocou as mãos no peito e se fez de surpreso. — Achei que
eu tinha um lugar reservado na sua cama. — Ele levantou uma sobrancelha.

— Nem nos seus melhores sonhos. — Ela começou a rir. — O máximo que você conseguiria
seria o sofá.

— Depois dessa eu realmente acho que vou para casa dormir. — Ele se fez de magoado e
ela começou a rir.

— Tchau, John. — Ela o empurrou para fora e fechou a porta.

— Você vai sentir a falta desse corpinho na cama. — Ela ouviu ele falar e rir.

Depois de tomar um longo banho e se jogar na cama, Kate esperava que o sono viesse,
mas estava difícil dormir com toda aquela ansiedade, no dia seguinte seria oficialmente o primeiro
dia de Madson em Stanford e ela queria mostrar tudo a irmã. Parou por um momento lembrando-
se de tudo o que teria que fazer, não sobraria tempo para a irmã, com certeza Thomas e Tracy e
John fariam isso por ela. Depois de alguns minutos o sono chegou e ela conseguiu dormir.

***

O CoffeStar estava cheio, Kate esperava na fila nervosa, haviam no mínimo cinco pessoas
na sua frente e ela estava atrasada para o trabalho. O dia com certeza havia sido péssimo, o
despertador não tocou, o múmia do seu novo professor a tinha repreendido por chegar atrasada,
ela havia caído e se sujado toda de lama, teve que voltar para casa e trocar de roupa e agora
estava super atrasada para o trabalho e sabia muito bem que o seu chefe não tolerava atrasos.
Quando mais pessoas eram atendidas mais devagar o tempo parecia voar.

Quando chegou ao consultório do doutor Fitiz já estava com 10 minutos de atraso, a outra
secretaria lhe lançou um olhar sério e depois mandou ela ir direto à sala dele. Kate se preparou
psicologicamente para todo e qualquer sermão que ela fosse levar.

— Com licença Doutor Fitiz. — Ela entrou na sala dele de cabeça baixa, era sua primeira
semana de trabalho e já havia vacilado.

— Katherine, posso saber o motivo do seu atraso? — O Doutor Fitiz perguntou levantando
as sobrancelhas, aqueles olhos azuis conseguiam ser intimidadores. Douglas Fitiz era um rapaz
jovem, aparentava ter poucos anos a mais que Kate, se ele tivesse trinta era muito. Apesar de sua
idade não ser muita, ele era o melhor neurologista da Califórnia.

— Aconteceram imprevistos — respondeu ela ainda de cabeça baixa.

— Olhe para mim, Katherine — ele disse ainda sério. — Não quero que isso volte a
acontecer, ok?

— Tudo bem, Doutor Fitiz. — Ela levantou a cabeça e se dignou a encarar ele por um
momento, ele era um homem encantador. — Precisa de algo?

— Ainda não, mas às dez horas preciso que você me acompanhe e me auxilie numa
cirurgia na ala C. Esteja preparada. — Ele deu um meio sorriso e continuou. — Isso é tudo,
Katherine. Pode ir para sua sala.

— Com licença, Doutor — ela falou e seguiu para a sala interligada a dele que ficava aos
fundos.

Ao chegar na sala, ela fechou a porta e suspirou, esperava um sermão pior, mas ao que
parecia o Doutor Fitiz não era o bicho de sete cabeças que ela imaginava. Kate tirou a jaqueta
que vestia e pegou o jaleco com seu nome bordado, ela lembrava da emoção que sentiu quando o
recebeu do professor na sala, três alunos haviam sido escolhidos para estagiar, ela e mais dois
garotos e cada um foi designado a uma área, ela ficou na neurologia , Matt ficou na pediatria e o
outro (do qual ela não se recordava o nome) estava na psiquiatria.

O doutor Fitiz tinha duas secretarias, Anne que era a que ficava com a parte boa do
trabalho, que era só atender as ligações e cuidar das visitas e Kate que tinha que analisar cada
relatório, organizar o horário, pegar o café e tudo mais que o doutor mandasse.
As horas passaram rápido, quando Kate terminou de analisar os exames já eram 21:53, ela
caminhou até a sala do doutor e deixou os exames organizados no armário. Depois se dirigiu para
a Ala C do hospital, onde eram realizadas as cirurgias mais complicadas. Ela olhou na porta as
características da cirurgia e logo depois entrou para a sala para vestir a roupa e esterilizar os
equipamentos. A cirurgia durou três horas e o paciente havia tido complicações.

Quando estava prestes a ir embora, o doutor Fitiz chamou Kate em sua sala e ofereceu
uma carona, já que ele estava saindo de seu plantão também. Ela se viu obrigada a aceitar
porque havia pegado carona com John até a faculdade e da faculdade havia ido para o
trabalho a pé. Seu celular também estava descarregado e não tinha como ligar para John ou
Thomas buscá-la. O caminho foi silencioso, ao chegar na frente da casa de Kate, ele fez questão
de descer e abrir a porta do carro para ela, um cavalheiro.

— Obrigada pela carona, Doutor. — Ela agradeceu, assim que eles pararam em frente à
porta.

— Chame-me só de Douglas fora do trabalho, por favor, Katherine — ele respondeu com
um sorriso.

— Então me chame de Kate. — Ela sorriu também.

— Tudo bem, vejo você amanhã no hospital e sem atrasos — ele falou sério e depois sorriu
mostrando estar brincando.

— Claro, boa noite. — Ela estendeu a mão para ele, ele agarrou a mão dela e a puxou
para dar um beijo em sua bochecha. Beijo que a fez corar.

— Boa noite! — Ele se afastou um pouco e esperou que ela entrasse na casa.

Antes que Kate alcançasse a porta, a irmã abriu a porta para ela e ficou lá parada
encarando o nada, pelo menos era isso que Kate acreditava ter acontecido. Apenas quando Kate
entrou e fechou a porta atrás de si, Madson pareceu ter acordado de um transe. Elas passaram
duas horas conversando e quando se aproximava das três da manhã, foram dormir.

***

Thomas havia passado o dia com a sua filha e a irmã de Kate, eles passaram por cada ala
e cada lugar de Stanford, no dia seguinte Kate iria com eles a um local vizinho aproveitando que
era seu único dia livre na semana. Depois que Kate havia começado a trabalhar eram raras às
vezes que eles se viam, às vezes Thomas ia buscá-la no trabalho e ficavam juntos por pouco tempo
já que ela saia muito tarde e na manhã seguinte os dois teriam aula.

No dia anterior Thomas havia ficado de buscar Kate assim que ela ligasse, mas a jovem
não ligou. Por alguns momentos ele se preocupou, mas depois forçou a si mesmo ficar calmo até
receber uma ligação dela dizendo que o celular havia descarregado e o chefe lhe deu uma
carona, o que ele não gostou muito, se já era muito ciumento antes, com o tempo isso só piorava.
Depois de tudo que os dois haviam passado só o simples fato dela estar um pouco distante já o
assustava, ele queria poder controlar cada passo de sua amada e queria também controlar as
pessoas que estavam ao redor dela.

A irmã de Kate era uma pessoa legal, sempre sorrindo e cumprimentando as pessoas, mas
tinha algo nela que incomodava Thomas. Ele não sabia dizer ao certo o que era, talvez fosse
apenas paranoia sua. Ele não diria isso a Kate, porque certamente brigariam, esse era o motivo de
maioria das brigas, não a Madson, mas sim a preocupação exagerada de Thomas com Kate.

***

Depois de dar uma longa aula de anatomia para a turma de Medicina avançada Thomas
estava exausto, mas havia prometido a Kate que iria com ela à cidade vizinha e certamente o
faria. Ele caminhava lentamente pelos corredores de Stanford, de cabeça baixa devido ao
cansaço. Na noite anterior não havia dormido nada, primeiro por preocupação, quando Kate não
ligou. Depois por ciúmes, quando Kate ligou avisando que o seu chefe havia lhe dado carona.
Thomas ainda não conhecia o chefe de Kate, nem o nome ele sabia. Queria poder mudar isso, mas
provavelmente perseguiria o cara e causaria problemas a ela. Ele não era doente de ciúmes, só
havia aprendido que cuidar era a melhor maneira de evitar a perda.

Quando se falava em perda ele lembrava da sua mulher, Emily, lembrava de todas as
atrocidades que fez no passado, até mesmo com Alice. Não que ele lembrasse corretamente,
alguns vultos de memória vez ou outra apareciam em sua mente, o que confirmava a história que
Alice havia dito a ele. Ele não lembrava de tê-la drogado e muito menos de levá-la para um hotel,
uma das únicas coisas que ele lembrava era de ter acordado atordoado no meio da noite com o
toque de seu celular e visto Alice na cama, depois de atender ficou mais atordoado ainda, sua
mulher estava entrando em trabalho de parto, ele lembra da briga com Alice na recepção, lembra
de dirigir feito louco depois de pegar Emily e mais nada. Depois disso tudo tinha acabado, ou pelo
menos ele havia pensado que sim, mas ao ver Kate e sua semelhança a Emily parecia que todos os
sentimentos que um dia achou que haviam morrido votaram e sabia que dessa vez tinha que fazer
do modo certo.
O celular de Thomas tocou tirando-o de seus devaneios e ele percebeu que já estava em
frente ao seu quarto, entrou e se jogou direto na cama, atendendo em seguida.

— Thomas? — Era a voz doce de Kate do outro lado da linha.

— Oi, amor. — Ele abriu um sorriso, mesmo cansado.

— Ainda vai poder nos acompanhar hoje? — A voz dela falhava, com certeza ela estava
com vergonha do outro lado da linha, provavelmente por Madson estar por perto.

— Claro que vou, só preciso tomar um banho antes. Seria ótimo se você viesse junto — ele
falou com a voz rouca, queria provocá-la e sabia que neste exato momento do outro lado da linha
Kate estava com o rosto em chamas.

— Queria poder acompanhá-lo, mas como não posso, vejo você em alguns minutos — ela
falou séria e ele agora tinha certeza de que ela não estava sozinha. Ele sorriu ao telefone.

— Eu amo te deixar com vergonha, até logo, aluna.

— Até logo, professor. — Ele ouviu um risinho dela antes de desligar.

Levantou-se da cama em um pulo e foi para a ducha, estava feliz agora. Era
impressionante o poder que Kate tinha sobre ele, ela conseguia fazê-lo sentir-se mais vivo, mais
feliz, mais ele. Era como se com ela nenhuma barreira existisse, ele poderia ser quem quisesse ser,
o simples fato de ouvir a sua voz fazia o seu coração acelerar. Se isso não era amor, já não sabia
mais o significado de amar.

A felicidade que Thomas sentia era tão grande que ele dançava e cantava embaixo do
chuveiro e ainda por cima uma música que ele odiava antes, Man I feel like a woman. Passou a
adorar a música depois do "castigo" que Kate havia lhe aplicado usando a tal. Ele dançava no
chuveiro lembrando-se dos passos de sua amada, como cada curva do seu corpo mexia naquele
dia.

Perdendo a conta de quantas vezes cantou essa música durante o banho demorado ele
finalmente resolveu sair para se arrumar, os dedos das mãos já estavam enrugados. Secou-se
rapidamente e despejou a toalha sobre a cama, procurou uma roupa confortável pelo guarda-
roupas. Quando finalmente terminou de se arrumar pegou as chaves e seguiu para a vila
juntamente com Tracy e John que já estavam o esperando perto do carro quando chegou.

Durante o caminho os três cantavam animados uma música que tocava no rádio, Thomas
sequer sabia qual o nome daquela música. Ao chegar na vila, John ajudou a colocar as bolsas
delas no porta malas do carro e em seguida entrou.

Thomas e John foram na frente, isso porque Madson insistiu que ele tinha pernas maiores e
era melhor. Eles passaram para buscar um café e seguiram para a cidade vizinha, Kate queria
levar Madson a um clube e como na cidade ao lado o clima estava melhor eles resolveram que
seria melhor ir até lá. No meio do caminho Madson soltou uma piadinha sobre Kate estar tão feliz
por causa de um tal chefe gato, o que de fato incomodou muito Thomas. Ele procurou pelos olhos
de Kate no retrovisor e viu que a mesma não tinha dado a mínima para a brincadeira, durante
todo o caminho Kate se manteve concentrada em uma conversa com John.

Quando chegaram ao clube, todos foram descendo do carro e pegando as coisas


rapidamente, quanto finalmente terminaram de pegar tudo Thomas travou o carro e antes que
Kate pudesse sair dali.

— Kate, posso conversar com você? — ele perguntou levantando a sobrancelha.

— Claro — ela falou tranquila. — Podem ir que daqui a pouco vamos — ela falou para
Madson, Tracy e John e esperou que eles se afastassem. — O que houve, amor?

— Aquilo que Madson disse no carro — ele falou sem querer continuar, sabia que ela tinha
entendido.

— Foi só uma brincadeira, amor, não fique pensando nisso. Viemos aqui para nos divertir.
— Ela sorriu, daquele modo que o desarmava.

— Tudo bem, princesa. — Ele a puxou pela cintura e a beijou, aproveitando do momento.
— Que saudade disso — disse e lhe deu outro beijo.

— Se continuar não serei capaz de sair de seus braços — ela disse sorrindo.

— Oh, não, então você descobriu meu plano diabólico — ele falou colocando a mão sobre
a cabeça e fingindo surpresa.

— Bobo! — Ela deu um tapinha em seu peito e virou-se para ir até a entrada, mas Thomas
a puxou de novo e deu-lhe outro beijo.

— Último — ele falou e sorriu, os dois saíram andando separados até a entrada.

Onde Tracy e Madson pareciam manter uma conversa animada, Thomas agradeceu
mentalmente por isso, talvez agora as investidas de Madson cessassem. Quando Madson os viu ela
correu para abraçar Thomas e Kate ao mesmo tempo. Eles colocaram a pulseira de entrada e
foram todos para a beira da piscina.

Thomas não queria entrar na água e por isso não havia pego roupa de banho e toalha,
ficaria apenas observando. Kate e John tiraram as roupas ali mesmo é entraram na água, já Tracy
e Madson foram até o banheiro feminino se trocar, as duas pareciam um pouco mais tímidas. Em
seguida ele viu John se aproximar de Kate e a abraçar sussurrando em seu ouvido algo, aquilo
incomodou bastante Thomas, os dois começaram uma briga dentro da água como duas crianças,
Thomas conseguiu sorrir da cena.

Madson não entrou na água, ela apenas ficou ali deitada na cadeira ao lado da dele
tomando sol. Já Tracy se jogou na água e se juntou a brincadeira, logo Madson decidiu fazer o
mesmo. Alguns minutos depois todos saíram da piscina e sentaram-se ali perto também. Os cinco se
envolveram em uma conversa animada por uns bons minutos depois foram pegar algumas cervejas
no bar, a única pessoa que não bebeu foi Thomas, por estar dirigindo e por ter abdicado da
bebida há muitos anos, não queria cometer o mesmo erro do Caribe e voltar a beber.

Duas horas depois Thomas estava sozinho na cadeira, John estava na piscina e as meninas
haviam ido se trocar no banheiro do clube, logo em seguida John também foi se trocar e poucos
minutos depois eles já estavam todos no carro, a música tocava alto e todos com exceção de
Thomas, estavam cantando animados, ele apenas se permitia rir e sentir-se feliz por estar ali.

Chegaram a Stanford e primeiro foram ao CoffeStar, todos ali precisavam de um café, uns
para ajudar a curar o efeito da bebida e outros apenas para se manterem acordados. Voltaram
para os alojamentos e Kate pediu para que John levasse Madson até em casa, usou a desculpa de
que tinha muito o que fazer em Stanford. John logo entendeu o recado, mas Madson insistiu que
poderia ficar também. No final acabou cedendo e foi embora com John. Kate e Thomas entraram
no quarto e assim que ele trancou a porta na chave ela o puxou para um beijo longo.

— Senti saudade — ela falou entrelaçando os braços no pescoço dele.

— Eu também — ele falou, beijando-a com mais intensidade e puxou-a pelas pernas
fazendo-a segurar-se com elas em volta da sua cintura. — Você é somente minha, Kate — ele
sussurrou com a voz rouca ao ouvido dela.

— Eu nunca disse o contrário. — Ela sorriu, ele sorriu. E voltaram aos beijos.

Thomas apoiou Kate na cama e enquanto tirava a sua blusa, subia com beijos pela sua
barriga.
***

Deitados com apenas um lençol cobrindo seus corpos, Thomas e Kate conversavam agora.
Era uma mania, depois de fazer amor eles tinham uma longa conversa, não importava sobre o que
falavam, mas sempre era bom.

— Eu poderei ir te buscar amanhã? — Thomas perguntou com a voz embargada de


ressentimento.

— Sinto muito pelo outro dia — ela falou passando os dedos sob o peitoral nu de Thomas.

— Não se preocupe — ele falou baixo, quase inaudível.

— Claro que não, essa é a sua função — ela falou rindo, mas ele não riu.

— Qual o nome do seu chefe? — ele perguntou cortando o assunto. Um silêncio terrível
dominou o local por alguns instantes, não se podia ouvir nem o som do ar, talvez por que os dois
estivessem prendendo a respiração.

— Douglas Fitiz — ela respondeu com certo receio.

— Você só pode estar brincando! — Ele levantou da cama rapidamente com a raiva
eminente em sua voz.
Capítulo Dezoito
— Por que? — Ela indagou séria, imaginando quantos problemas a mais poderiam surgir
em sua vida.

— Ele foi meu aluno — Thomas respondeu com raiva em sua voz.

— E qual o problema disso? — Kate perguntou ainda sem saber onde ele queria chegar.

— O problema é que você trabalha justo com ele. Poderia ter ido trabalhar com qualquer
outra pessoa, mas não. É com ele que você trabalha — Thomas respondeu com desgosto.

— E que tal você ser mais direto?! — Ela ergueu a sobrancelha direita.

— Ele é um conquistador, pegador e alguma hora vai dar em cima de você — ele falou
com receio.

— Isso tudo por ciúmes? — Ela sorriu, por um momento achou que fosse algo sério.

— Não é só ciúmes.

— Não?! — ela perguntou num tom acusativo.

— Não! Ele me odeia e se souber de qualquer mínimo envolvimento seu comigo vai tentar
algo com você.

— Você tem mania de perseguição, primeiro o John agora o Douglas?

— Não é mania de perseguição Katherine. Você que é muito inocente — ele falou quase
que gritando. — Eu quero que você largue o estágio.

— Não, eu não sou. Só não espero o mal de todos o tempo todo. E não vou largar algo
que eu consegui com tanto esforço para satisfazer seus caprichos.

— Não é?! E quantas vezes você vai ter que ser raptada para se dar conta disso? Não são
caprichos, eu me preocupo com você.

— Talvez o mesmo tanto de vezes que você drogou alguém. — Ela despejou com raiva e
se arrependeu no mesmo momento, a expressão de Thomas era de mágoa. — Thomas eu...

— Talvez você esteja certa e se Douglas Fitiz é tão importante para você por que não vai
lá correr para os braços dele?

Ela queria argumentar, mas a raiva e a mágoa não deixaram, recolheu as próprias roupas
e as vestiu o mais rápido possível. Quando estava saindo do quarto de Thomas ele apenas disse:

— E se eu fosse você abriria o olho para a verdadeira face da sua irmãzinha.

Ela não disse nada, olhou com os olhos cheios de lágrimas para Thomas e saiu batendo a
porta atrás de si. Não estava de carro e por isso iria caminhando até conseguir ligar para John.
Passou dos portões de Stanford de cabeça baixa, chorando ainda mais, chorava pela briga e por
arrependimento do que tinha dito. Pegou o celular e discou o número de John, ao terceiro toque ele
atendeu.

— Kate? — Ele atendeu com uma voz animada. Ela tentou responder, mas as palavras não
saiam. — Kate, o que houve? — Agora a voz dele tinha uma preocupação nítida.

— Eu... — ela começou a soluçar. — Quero que você venha me buscar. — Ela terminou de
dizer entre soluços.

— O que houve? Eu vou te buscar agora mesmo, onde você está?

— CoffeStar, não demora John, por favor — ela falou tentando manter um certo controle
na voz.

— Não saia daí. — Ele desligou.

Ela ainda não estava no CoffeStar, mas até John chegar já estaria lá, acelerou os passos. A
rua estava incrivelmente deserta e escura e não era para menos, já passava da meia-noite.
Quando chegou, percebeu que o CoffeStar também já estava fechado. Sentou-se na escada e se
permitiu chorar mais um pouco, tinha sido uma discussão boba e sem cabimento nenhum. Ela odiava
quando Thomas tentava controlá-la e ele sabia disso, mas ele se deixou levar pelos ciúmes e ela se
deixou levar pela raiva momentânea e tudo virou algo maior.

Poucos carros passavam na rua, já fazia 5 minutos que Kate estava ali esperando John,
cada carro que passava ela torcia para ser ele vindo ao seu socorro. Depois de mais cinco minutos
John finalmente chegou, desceu do carro com pressa e Kate se levantou e foi até o amigo
chorando, ele a envolveu num abraço e eles ficaram assim por alguns minutos, até que ela se
acalmou um pouco e eles entraram no carro.

— Você poderia sair dessa bolha e me contar o que aconteceu — John falou quebrando o
silêncio que persistia.

— Eu e Thomas brigamos — ela falou com uma voz baixa, olhando para a paisagem pela
janela, já não chorava mais.

— E por qual motivo?

— Ciúme.

— Novidade! — John falou com falso humor. — Ele falta me matar com os olhos quando
estou perto de você. Agora ele pode ter medo, porque eu sou muito irresistível e estou solteiro —
ele falou sorrindo, mas seu sorriso não era verdadeiro.

— O que houve? — Era a vez de Kate perguntar.

— Brigamos também — ele respondeu com um pesar em sua voz.

— Qual o motivo?

— Ciúmes meu.

— Somos dois ferrados! — Kate falou tentando quebrar o clima que havia se formado ali.

— Com toda certeza, loira.

— Amanhã quero saber o que aconteceu — ela falou descendo do carro. — Obrigada
pela carona, você é o melhor, panda.

— As suas ordens madame. — Os dois riram. — Fique bem.

Ela entrou em casa e foi direto para o quarto, não queria encontrar Madson agora e ter
que explicar o porquê de um rosto totalmente inchado e dos olhos vermelhos. Lembrou-se das
palavras de Thomas e talvez devesse deixar um pouco de ser tão ingênua, ficaria de olho na irmã,
mesmo acreditando que ela não tinha nada demais.

Depois de um longo banho quente Kate foi dormir, no dia seguinte iria cedo para o hospital
já que não tinha aula e era melhor trabalhar no turno da manhã e ter o resto da tarde e à noite
livre. Precisava conversar com Thomas, tinha medo que ele não quisesse conversar com ela, mas
arriscaria.

***

Acordou cedo, mas não animada, estava péssima. Brigar com Thomas era a última coisa que
ela queria naquele momento, principalmente por tamanha besteira. Kate tomou um banho frio e se
arrumou para ir ao hospital, nem o banho havia ajudado na sua situação, ela continuava triste pela
briga de ontem e sabia que Thomas estava extremamente magoado tinha até medo de ir atrás
dele e não querer falar com ela.

Depois do expediente iria até lá falar com ele, ou ligaria. Entrou no carro ainda perdida
em seus pensamentos, saiu da garagem e dirigiu com calma, parou em um sinal e quando acelerou
outro carro buzinou, o sinal ainda estava fechado e ela quase havia batido. Depois de se
recuperar do susto resolveu prestar mais atenção no trânsito, não podia passar o resto do dia
nesse desânimo. Mesmo que não fosse fácil, teria que fingir.

Passou no CoffeStar e pegou um capuccino para si e outro para o chefe, como já sabia
que ele pediria era melhor se adiantar, só assim era algo a menos para ela fazer e talvez até
conseguisse chegar mais cedo. Entrou no escritório do hospital que estava praticamente vazio, essa
era uma das vantagens de chegar cedo.

Entrou direto para a sua sala, aproveitando que o Doutor Fitiz ainda não havia chegado,
vestiu o jaleco branco e voltou para a sala do seu chefe, arrumou os papéis que estavam jogados
na mesa, deixou o café ao canto e colou alguns recados no mural. Quanto mais coisas ela
adiantasse menos teria que falar com ele, depois da briga que tivera ontem com Thomas não se
sentia à vontade para ficar perto de ninguém, muito menos dele.

O pior de tudo era saber que Thomas tinha razão, às vezes ela era muito inocente e não
era para menos. Depois de tudo o que tinha passado ela só queria acreditar que ainda existiam
pessoas boas, não queria descobrir que todo mundo que se aproxima dela tinha algo ruim, por isso
era quase impossível alguém era tão azarento a esse ponto.

Voltou para sua sala e começou a analisar alguns exames de pacientes com leucemia,
ressonâncias e exames de sangue. Pegou o exame de um garoto de 12 anos, o quadro da doença
já era agravado e a cirurgia não era uma boa opção por que provavelmente o mataria, mas ali
no prontuário estava marcado uma cirurgia. Analisou por mais alguns minutos o caso desse garoto
até o telefone da sala começar a tocar.

— Assistente do Doutor Fitiz.

— Katherine, venha a minha sala por favor. — E desligou.

A voz do Douglas era séria, que erro ela havia cometido agora?! Pensou preocupada. Com
certo receio foi a sala dele, ele apenas fez um gesto para que ela se sentasse na cadeira à frente
da mesa.

— Sabe, Katherine, o que nós fazemos nesse hospital é algo muito sério. Cuidamos de vidas
e garantimos que pessoas continuem com ela. Espero que entenda a responsabilidade que esse
cargo lhe impõe e como seu chefe e instrutor, quero que faça as melhores decisões sobre a aérea
que irá escolher. — Ele começou em tom brando. — Seu professor pediu para que eu lhe instruísse
se essa fosse a área escolhida por você.

— Eu entendo e essa é realmente a área que eu quero seguir — falou desconcertada.

— Tudo bem, então. — Aquilo realmente havia sido algo estranho. — Pode voltar a fazer
o que estava fazendo e tem cirurgia às 13:00h na ala C, preciso que me acompanhe.

— Algo mais, Doutor Fitiz? — perguntou com um tom de voz calmo.

— Não, Katherine, obrigado.

Ela apenas acenou com a cabeça e voltou para a sua sala, sentou-se à mesa, voltando a
analisar o quadro de pacientes. A cirurgia das 13:00h era justamente a do garoto de 12 anos que
tinha leucemia, Kate sentiu seu coração apertar, participar justo de uma cirurgia que ela era contra.
A jovem sabia que não poderia se apegar aos problemas dos pacientes, que mesmo que às vezes
os médicos fizessem de tudo, algum paciente poderia não resistir e morrer.

Sentiu-se extremamente arrasada, imaginando a angústia da mãe daquela criança. Tentou


fugir desses pensamentos procurando outros prontuários para olhar, mas hora ou outra seu
pensamento se voltava no menino. Decidiu então ligar para Thomas, queria passar para vê-lo e
resolver aquela briga, mas não faria isso sem antes avisá-lo. Depois de três toques ele atendeu.

— Alô. — A voz dele era baixa.

— Oi — Kate falou sem graça, como falaria algo a ele? — Thomas, eu...

— Oi, amor — ele respondeu surpreendendo ela.

— Ainda está bravo? — Era uma pergunta besta, mas necessária.

— Não — ele apenas respondeu.

— Eu sinto muito por ontem. Foi bobeira brigar com você por algo tão pequeno e desculpe-
me por te ofender, eu sei que você não é mais aquele cara.

— Tudo bem, eu também preciso te pedir desculpas. Não queria te envolver em um


problema meu por ciúmes.

— Então, eu posso passar aí depois do trabalho? — perguntou sorrindo. Era tão ruim vê-lo
bravo. Parecia que faltava alguma parte dela.

— Quer que eu te busque?

— Eu vim de carro amor.

— Olha, nem precisa mais de mim — ele falou com falsa mágoa.

— Preciso mais do que imagina.

— E eu mais ainda.

— Katherine, por favor, venha até a minha sala. — Era o doutor Fitiz ao autofalante.

— Preciso ir, amor. Vejo você às quatro.

— Até logo, amor.

Ela desligou e seguiu rápido para a sala do chefe.

— Chamou Doutor?

— Sim, tem uma cirurgia de emergência na ala D, você tem 10 minutos para se preparar e
descer até lá — ele falou apressado saindo pela porta.

— Ok — ela respondeu mais para si mesma do que para ele.

Pegou as luvas de plástico, desligou e guardou o celular no armário e desceu para a ala D.
Chegando lá esterilizou todas os instrumentos e colocou ao lado do paciente, ele havia sido
baleado, a bala estava próxima ao coração. Kate não sabia se deveria se sentir mal por aquilo
não a incomodar ou bem porque isso não a afetaria tanto. Mesmo olhando para o ferimento
enorme no peito do homem de meia idade ela não se abatia.

A cirurgia demorou duas horas e logo que acabou ela e o doutor Fitiz tiveram que entrar
na cirurgia do garoto. Quando passava pela recepção da ala C ela percebeu a mãe do garoto,
que chorava desesperadamente, aquilo sim afetava a Kate, ferimentos não.

Durante a cirurgia do garoto, que a propósito se chamava Gary, o Doutor Fitiz parecia
nervoso e cansado, toda hora passava a mão no rosto como quem pergunta o que se deve fazer.
No final Gary não resistiu a cirurgia, foi difícil para Kate, que mesmo sabendo que não podia,
tinha se apagado a situação do garoto. Ela teve que acabar indo dar a notícia a mãe do garoto,
por que o Doutor não estava em condições de fazê-lo, ele também estava visivelmente abatido.

A mulher chorou nos braços de Kate e essa teve que se segurar para não chorar junto.
Depois alguns médicos tiveram que dar calmantes a ela. Kate retornou à sua sala desolada,
quando passou pela sala do doutor Fitiz, ele estava em silêncio na sua cadeira. Ela pegou o
celular, tirou o jaleco e vestiu uma jaqueta e quando estava saindo da sala ela ouviu-o falar:

— Eu tinha esperanças de que ele sobrevivesse. Mesmo depois de anos de trabalho, ainda
não aprendi que não posso me apegar os pacientes. — Ele riu sem graça, um riso irônico. — Eu
estava tão cansado, se não houvesse aquela outra cirurgia talvez eu pudesse salvá-lo, mas eu
falhei. — A voz dele agora era baixa e rouca.

— As chances de ele sobreviver eram poucas, não se culpe, Douglas. Eu li os prontuários,


em maioria dos casos como esses os pacientes não sobrevivem.

— Ele tinha que sobreviver — ele falou aproximando-se de Kate. — Era como um sobrinho,
eu vi ele crescer. Eu peguei essa cirurgia mesmo sabendo que estaria apegado demais, afetado
emocionalmente, mas eu não conseguiria deixá-lo nas mãos de outra pessoa e agora eu falhei.

— Meus pêsames. Eu sinto muito por você estar passando por isso — ela respondeu com
sinceridade. E o abraçou.

— Obrigado, Katherine, você é sempre tão atenciosa. — Ele sorriu com lágrimas.

— Eu preciso ir, doutor, espero que fique bem.

Ele apenas concordou com a cabeça, ela saiu em silêncio da sala. Sentia-se mal por deixá-
lo nesse estado, mas com todos os problemas que já tinha arrumado com Thomas não poderia ficar
ali e principalmente não poderia arriscar que ele entendesse errado.

Dirigiu com calma até Stanford, não foram mais que cinco minutos ao volante, deixou
algumas lágrimas escorrerem de seus olhos. Ao chegar, estacionou perto do apartamento de Tracy,
não queria que ninguém desconfiasse de nada ao ver o carro parado perto do dormitório de
Thomas, andou pelos corredores devagar, parou na frente da porta de Thomas e bateu, demorou
um pouco até ele finalmente atender.

— Amor, você chegou cedo — ele falou nervoso. Mas por que? Kate se perguntou em
mente.
— Algum problema? — ela perguntou tentando entrar, ele a impediu.

— Nada, nada. Agora só não é uma boa hora.

— Thomas quem está aí com você? — ela falou passando por ele e entrando no quarto.
Não acreditou quando viu quem era.

Kate começou a rir freneticamente ao ver aquilo, o que ela esperava? Encontrar alguma
amante? Meu Deus como havia sido boba.

— Saia daí, John — ela falou ainda rindo.

— Isso não tem graça, Kate — ele falou, saindo do banheiro, que foi para onde entrou
assim que a viu entrar no quarto.

— Você está simplesmente uma gracinha. — Ela continuou rindo e Thomas se juntou a ela.

— Foi mal cara, eu tentei. — Thomas deu de ombros.

— Vocês dois são amigos da onça — ele falou bravo. — Eu estou tentando reconquistar a
mulher que eu amo.

— Oh tadinho. — Kate foi abraçá-lo.

— Sem abraços — Thomas falou da porta.

— Okay! — Ela soltou John e suspirou. — De quem foi a brilhante ideia de te vestir de
coração? — Ela falou ironicamente.

— Culpe o seu namorado — John falou com raiva e cruzou os braços — ele falou que
Tracy iria gostar se eu aparecesse lá assim.

Kate parou por um momento analisando John, ele estava de sapato social, meias até as
canelas, uns shorts Rosa saindo pela fantasia de coração, que aliás era enorme. Não teve como,
ela voltou a rir.

— Vocês homens. — Gargalhou.

— Ei, foi uma ótima ideia, minha filha iria adorar. — Thomas se defendeu.

— Ou iria ficar traumatizada para o resto da vida — ela falou em deboche. — John, eu
te ajudarei a reconquistar a minha amiga, mas só amanhã, agora vista uma roupa decente. — Ela
debochou mais um pouco.
— Eu nunca mais te ajudo nas compras, Kate.

— Ajuda sim, porque me ama, agora vá vestir algo — ela o observou enquanto ele
pegava as roupas em cima da cama e saia em direção ao banheiro. Voltou-se para Thomas para
falar. — Vocês são ótimos.

— Disso eu já sabia — ele disse com falso convencimento.

— Eu também — John gritou com a voz abafada pela porta do banheiro. Os dois riram.

— Agora sim, oi, meu ciumento — ela falou entrelaçando os braços ao redor do pescoço
dele.

— Oi, minha baixinha — ele disse passando os braços pela cintura dela.

— Não sou baixinha, vou crescer ainda — ela falou em sua defesa.

— Ah é? — Ele falou sorrindo e beijou-a.

— Fico feliz de estar tudo bem entre os dois, mas não se esqueçam de que eu estou aqui
— John falou segurando a fantasia de coração.

— Eu deveria ter filmado você vestido de coração — Kate falou sorrindo.

— Relaxa amor, eu tenho fotos — Thomas falou ainda com as mãos na cintura de Kate.

— Vocês são dois traíras, se mandarem para Tracy eu te mato seu bastardo — ele falou e
todos riram.

Kate se sentia feliz, toda essa confusão tinha feito ela esquecer um pouco da morte do
garoto, mas não totalmente ainda se sentia triste, mas não demonstraria isso, não queria nenhuma
cena dramática, queria estar feliz e apenas isso.

— Eu já vou, mais tarde passo na sua casa, Kate — John falou e recebeu um olhar furioso
de Thomas. — Calma sogrinho — falou rindo.

Depois que John saiu, Thomas apertou ainda mais a cintura de Kate e a beijou.

— Eu já estava com saudade — ele disse depois do beijo.

— Sério? Eu acho que você está me iludindo — ela falou em desafio.

— Posso te provar o contrário — ele disse, estava misterioso hoje.


— Esperarei ansiosa — ela falou beijando o queixo dele. — Eu tomei uma decisão.

— Qual? — ele perguntou curioso.

— Vou contar a Madson sobre o nosso namoro. Não acho que devo ficar escondendo isso
— ela disse, alegre. — Farei isso hoje mesmo.

— Isso é ótimo amor! — ele animou-se também. — Não vejo a hora de poder ficar com
você sem ter que esconder de mais alguém.

— Eu também, ciumento e não vejo a hora de voltar a usar minha aliança, ela faz falta.

— Isso também, só assim terá menos caras dando em cima da minha pequena — ele falou
com um sorriso enorme.

Kate sorriu também, adorava aquele jeito ciumento dele. Mesmo que às vezes fosse
excessivo, mostrava se importava tanto com ela e aquilo era bom, ter alguém que sentiria a sua
falta, que diria que te amava e que sentia saudades. Esse cuidado fazia com que Kate o amasse
mais ainda, também fazia com que ela se amasse, por que sentia-se importante e mais bela. Era
ótimo para o ego. Sorriu com o pensamento.

— Está rindo do que? — ele perguntou beijando o pescoço dela.

— Desse jeito fica difícil raciocinar — ela falou baixo.

— Não quero que que raciocine, porque eu não estou conseguindo raciocinar — ele falou
e continuou com os beijos pelo pescoço dela.

— Você é um tarado — ela falou rindo.

— Como não ser com você por perto?

— Tem como.

— Não consigo resistir aos seus encantos.

— Então não resista — Kate falou e ele a beijou, puxando o corpo dela contra o seu e já
começando a arrancar a blusa de sua namorada.

Ela o ajudou a desabotoar a calça e tirar a blusa, enquanto Thomas tirava toda a roupa
dela, jogando aquelas peças no chão. Em seguida, pegou-a no colo e colocou em cima da cama.
Amando cada parte do corpo dela, como se fizesse dias que não a via.
***

Kate chegava em casa e estava até um pouco nervosa, teria que falar com a irmã, seria
melhor se ela soubesse, evitava ter que inventar desculpas e não poder ficar perto de Thomas.
Parou em frente à casa e esperou um pouco antes de descer. “Coragem Kate!”, ela pensou antes
de descer do carro. Desceu e tocou a campainha, havia esquecido sua chave, demorou alguns
minutos para que a irmã finalmente atendesse a porta. Ela estava enrolada em uma toalha e com
outra secava os cabelos negros.

— Kate. — Ela parou de secar os cabelos e abraçou a irmã. — Eu estava preocupada,


você demorou a voltar.

— Oi Mad — ela falou entrando em casa, após se soltar do abraço da irmã. — Depois
que você terminar seu banho eu preciso falar com você sobre algo.

— Eu já terminei, vou só vestir uma roupa e nós conversamos — ela disse entrando para o
quarto.

Kate entrou para o seu quarto e vestiu uma roupa confortável, iria passar o resto do dia
trancada em casa, então não havia motivos para usar uma roupa mais arrumada. Pegou um pijama
de panda que tinha em seu guarda-roupas e vestiu, era um baby-doll que parecia infantil, mas era
confortável. Voltou para a sala para esperar a irmã. Dois minutos depois ela apareceu.

— O que você queria me contar, maninha? — Madson falou sentando no sofá ao lado de
Kate enquanto penteava os cabelos.

— Ok — Kate suspirou. — Eu te escondi algo e não quero mais que haja segredo entre a
gente, o problema é que esse segredo envolve algo maior e o que não pode sair daqui, ok?

— Ok. Kate fala logo que está me deixando nervosa — Madson respondeu deixando a
escova no braço do sofá.

— Olha — Kate apontou para a aliança no dedo.

— Ok, você está namorando. Esse é o grande segredo? — Madson perguntou rindo. —
Isso eu já desconfiava.

— O grande segredo é quem eu estou namorando. — Ela fez uma pausa. — Sabe o
professor, pai da minha amiga?

— Não! — Madson falou em surpresa. — Danadinha! Eu achei que você fosse falar que
estava namorando o seu chefe. Eu vi quando aquele delícia te deixou aqui, agora eu posso falar
assim, né? Já que você não está namorando com ele e tal?

— Pode. — Kate riu. — Achei que você fosse surtar.

— Eu estou surtando — ela falou sorrindo. — Agora eu preciso confessar que eu já desejei
o corpo nu do seu namorado, mas isso foi quando não sabia que ele era seu namorado então tudo
bem, né? Não vou mais desejar o corpo nu dele, mas o do seu chefe eu vou. Estou pensando em
começar a dirigir só para ir te buscar todo dia no trabalho.

Kate riu, sabia que sua irmã era meio maluca, mas nem tanto. — Tudo bem, respira Mad.
— As duas sorriram.

— Por isso que ele não me dava bola e eu achando que o cara havia mudado de lado,
virado gilete, trocado de fruta. Fico feliz que tenha confiado em mim para contar isso — ela disse,
por fim.

— Eu fico feliz que tenha sido sincera comigo. — Kate sorriu docemente. — Acho que você
estava começando a assustar o meu namorado — falou e as duas riram.

— Eu causo isso nas pessoas. — Ela fez uma pausa. — É tão bom saber que aquele seu
chefe delícia está solteiro. Você vai me apresentar ele, não é? Diz que sim. Olha com todo o
respeito que a frase permite, o seu chefe é mais gostoso do que o seu namorado. Que imã, hein, só
atrai homem bonito para perto de você. Ainda tem aquele seu amigo que é um gos...

— Gostoso — John completou entrando na casa. — Eu malho cinco vezes por semana. —
Kate viu Madson ficar vermelha.

— Chegou o convencido — Kate falou e jogou uma almofada nele. — Senta aí — ela
falou abrindo espaço para ele no sofá. — Mad, sobre o meu namoro...

— Ninguém pode saber. Eu entendo — ela falou ainda sem graça.

— Agora as duas já podem me ajudar a reconquistar o meu namoro, não é? — John falou
animado.

— Claro. — Elas responderam juntas.

— E sem fantasia de coração? — ele perguntou animado.

— Fantasia de coração? — Madson perguntou confusa.


— É uma longa história, depois te conto — Kate disse e os três riram. — Vamos ajudar
você a reconquistar Tracy com algo mais romântico e menos radical. — Kate continuou.

— Que tal um jantar à luz de velas? — Madson deu a ideia.

— Isso é uma boa, poderíamos organizar tudo para você. O jantar podia ser no quarto
dela, como ela ainda não tem colega de quarto acho que está tudo bem. Só precisamos distrair
ela — Kate concluiu.

— Ah e compra um daquele hiper, mega, grande urso. Toda mulher pira nisso. Buquê de
rosas, chocolates. Vinho tinto. — Madson foi falando sem parar.

— São ideias boas — ele apenas falou.

— Vamos fazer isso amanhã, nós cuidamos do jantar e de distrair ela e você compra o
urso, as rosas e o chocolate — Kate falou decidida.

— Tudo bem. Nós formamos um belo trio — John falou.

— Com certeza — Madson respondeu.

— Concordo — Kate falou e os três riram.

Era tão bom tudo estar no lugar certo, todos que ela amava estavam ali perto dela e sem
problemas. A única coisa que faltava era contar para o seus pais, essa era a parte mais difícil da
história. Depois que John foi embora, Kate e Madson foram assistir um filme, fizeram pipocas,
pegaram algumas guloseimas e sentaram no chão da sala.

— Ainda vai me apresentar seu chefe gato, não é? — Madson perguntou enfiando uma
pipoca na boca.

— Você não tem jeito! — Kate sorriu.

— Não mesmo, mas ainda quero conhecer ele. É muito injusto que você e sua amiga tenham
namorados gatos e maravilhosos e eu esteja assim sozinha. — Madson falou fingindo estar brava.

— Vou te arrumar um namorado gato e maravilhoso também — Kate disse e tomou um


pouco do refrigerante.

— De preferência seu chefe. — Madson disse e não teve como ela não rir.

— De preferência meu chefe. — As duas riram.


Capítulo Dezenove
Depois de 3 horas de aula pela manhã, Kate combinou de encontrar Madson no CoffeStar
e agora estava sentada bebericando um cappuccino de chocolate e esperando a irmã. Quando a
morena finalmente chegou, as duas começaram a conversar, animadas, sobre a surpresa que John
faria a Tracy.

— Eu acho que deveríamos colocar a música do Velozes e Furiosos para tocar na hora que
ela entrar no dormitório — Kate falou sonhadora.

— Não, Deus me livre. Vai que o Paul Walker resolve baixar lá. Se bem que um fantasma
daqueles eu queria. — Elas riram.

— Você anda muito assanhada, querida maninha — Kate falou cutucando a irmã.

— Sempre fui, só escondia para não te assustar e funcionava.

— Com certeza, voltando para o assunto da música. Acho que colocar Sam Smith seria algo
maravilhoso.

— Eu tinha pensado em Michel Bublé, mas lembrei que não é um enterro, e Home com
certeza é muito depressiva — ela falou pensativa. — Que tal colocar Bruno Mars também?

— Ótima ideia. Agora o jantar, que tipo de comida pedimos? — Kate perguntou, estava
anotando tudo em um caderninho.

— Italiana, sem dúvida.

— Ok. E o vinho? — Kate anotou no caderno novamente.

— Qualidade Merlot, quem sabe assim ele já não leva ela para cama também. — As duas
riram.

— Você é terrível — Kate falou. — Vamos deixar o vinho para que Thomas escolha então,
acho que ele entende mais que nós — Madson concordou com a cabeça. — A decoração agora.

— Pétalas de rosas vermelhas pelo chão.

— Ótimo. Velas, espalhadas pelo quarto, em forma de flores. Só temos que ter cuidado
para não colocar fogo na faculdade. — As duas riram novamente.
— Temos que arrumar uma desculpa para tirá-la de lá — Madson ponderou.

— Thomas se encarregará disso.

— E temos que arrumá-la também. Deixá-la linda para o jantar, mas sem que ela
desconfie.

— Isso fica para você maninha, hoje eu tenho que trabalhar até mais tarde.

— Queria eu trabalhar com um chefe gato daqueles até tarde — Madson falou sonhadora
e as duas riram.

Passaram mais alguns minutos combinando tudo e finalmente saíram para encomendar tudo
o que precisavam, Kate ligou para Thomas e pediu para ele distrair Tracy, já que logo elas
estariam lá para arrumar tudo. Foram até a floricultura e compraram rosas vermelhas, depois
passaram em um restaurante italiano.

Kate deixou Madson terminando de organizar tudo enquanto seguia para casa, precisava
tomar um banho rápido e ir para o estágio.

***

Madson estava no dormitório de Tracy, organizando tudo. Já passava das 18 horas, a


comida italiana havia chegado e estava no forno, as velas já estavam posicionadas por todo o
quarto, ela agora estava espalhando pétalas de rosa pelo quarto, deixando apenas um caminho
que levava até onde a mesa de jantar foi arrumada. A mesa estava com uma longa toalha
vermelha, os pratos e os talheres estavam organizados e dois castiçais a enfeitavam, um em cada
lado da mesa, cada um com três velas em cima. As únicas coisas que faltavam era Thomas trazer o
vinho e John chegar com o urso e o buquê.

Ela estava animada com tudo isso, mesmo não conhecendo muito bem a Tracy, tinha certeza
de que ela iria gostar. Era o sonho de toda mulher, um cara lindo e romântico e um jantar a luz de
velas. Thomas entrou no quarto tirando-a de seus devaneios. Ele parecia meio sem graça e ela
percebeu isso, tinha que reparar aquilo. Não foi certo dar em cima do namorado da irmã mesmo
que por uma fração de segundo, mas em sua defesa, ela não sabia que eles eram namorados.

— Eu trouxe o vinho — ele falou, sem graça, entrando ali.

— E eu trouxe todo o meu corpo para você, gato — ela falou com voz sedutora, viu a
cara de susto de Thomas, então começou a rir. — Eu te enganei direitinho. — Ela começou a rir
freneticamente. — Você tinha que ver a sua cara.

— Idiota. — Thomas jogou um cubo de gelo nela e começou a rir.

— Ai! — ela disse passando a mão no braço, onde o gelo havia acertado. — Agora
falando sério, queria te pedir desculpas. Por ter dado em cima de você, sabe? Eu não imaginei que
você estivesse com a minha irmã, nunca faria isso de propósito.

— Tudo bem. Fico feliz que ela tenha te contado, odeio ter que esconder das pessoas o
meu relacionamento com ela — ele falou, pensativo.

— Vocês se gostam muito, não é? — perguntou mesmo sabendo a reposta.

— Eu a amo, com todas as minhas forças. Eu nunca encontrei alguém como ela em toda a
minha vida, mesmo sabendo que a nossa diferença de idade é muito grande e que muitas pessoas
podem ficar contra o nosso relacionamento, tenho vontade de gritar aos quatro cantos do mundo
que achei a mulher da minha vida. Jogaria tudo para o ar para ficar com ela, que me aceitou,
mesmo com tantos defeitos e estando quebrado. Consertou meu coração, que a muito tempo não
funcionava e acreditou em mim, mesmo quando tudo apontava o contrário. — Uma lágrima
escorreu no rosto de Thomas, que tratou de limpar tudo bem rápido.

— Isso foi lindo, Thomas, você precisa dizer isso a ela. Nem imagino o quão emocionada
ela ficaria ao ouvir.

— Eu preciso da sua ajuda, Mad — ele falou pensativo, contou para ela toda a ideia que
estava tendo e eles discutiram sobre isso até John chegar. Quando ele chegou os dois começaram
a combinar tudo com o rapaz, que concordou. Agora Thomas havia ido embora e Madson e John
estavam terminando de arrumar tudo.

— Sabe, eu nunca a pedi oficialmente em namoro — John confessou.

— Por que não? — Madson perguntou enquanto arrumava o som.

— Eu era muito galinha antes de conhecer a Tracy, mas ela era tão meiga e tão diferente.
Tinha medo de não dar certo, mesmo querendo com todas as minhas forças que desse. Tracy é a
mulher mais linda que já vi, mesmo quando é desastrada ou quando usa aqueles enormes óculos.
Ela me faz rir sempre e nunca fico entediado com ela. Tenho vontade de protegê-la a todo tempo
e morro de ciúmes com a aproximação de qualquer cara.

— Eu devo ser um tipo de ímã de declarações, vocês têm que falar isso para as suas
mulheres — ela falou e ele começou a rir.

— Obrigado pela ajuda, Mad. — John deu um breve abraço nela e foi até a cozinha
para tirar a comida do forno.

O big urso estava em cima da cama com um buquê enorme escorado nele e pétalas no
resto da cama.

— Eu comprei alianças também — John falou da cozinha. — Farei um pedido de namoro


decente para ela esta noite.

— Que bom. — Ela sorriu. Uma mensagem chegou em seu celular, era de Thomas avisando
para eles acelerarem tudo que já estava voltando com Tracy. — Thomas já está voltando. Você
está pronto?

— Estou nervoso — ele falou vindo até perto dela. Mexendo freneticamente no celular.

— Isso é normal — ela disse, ligou o som e o ambiente foi embalado por Ed Sheeran. —
Agora me dê seu celular.

— Ah não — ele falou escondendo o celular nas costas.

— Ordens da Kate. Amanhã cedo ela te devolve.

— Eu vou me vingar dessa baixinha — ele disse e entregou o celular.

— Só queremos que tudo saia perfeito.

— Eu sei Mad. Obrigado por tudo — ele falou e beijou a testa de Madson. — Já te
considero uma irmã.

Ela se emocionou. — Também te considero meu irmão, boa sorte — disse e saiu do quarto
rapidamente.

***

Foi doloroso ver o Douglas daquele modo, não eram amigos, mas ela odiava ver qualquer
pessoa passar por esse tipo de situação. Imaginara que agora ele deveria estar se culpando pela
morte do sobrinho. Queria ir lá e falar alguma palavra de conforto, mas não era boa nessas
coisas. A única coisa que fez foi lhe entregar um copo enorme de chocolate quente, aquilo
funcionava quando ela se sentia triste e talvez o ajudasse. A verdade é que Kate sabia que
aquele tipo de tristeza não era facilmente curada. O Doutor Fitiz se manteve calado durante todo
o dia, sentado em sua mesa, respondia às coisas vagamente.

— Katherine, venha a minha sala, por favor. — Ouviu pelo pequeno telefone.

— Chamou, doutor? — ela perguntou assim que parou em frente à mesa dela.

— Pode ir para casa — ele falou tentando sorrir para ela. — Não teremos nenhum
plantão hoje.

— Obrigada, Douglas. — Ela lhe direcionou um sorriso doce. — Passar bem.

Voou até a sala e pegou as suas coisas, saiu devagar da sala dele. Já nos corredores do
hospital tentou ligar para o celular de Thomas, dava para encontrar ele. Depois de ter caído na
caixa postal por três vezes ela desistiu. Foi direto para casa chegando lá se envolveu numa
conversa com a irmã.

***

John estava suando frio, nunca estivera tão nervoso como naquele momento. Doeu muito
brigar com Tracy e precisava reconquistá-la. Acendeu todas as velas que havia no quarto e
desligou a luz, voltou novamente as músicas para deixar tocar aquela que tanto gostava. Mexeu
ansiosamente na caixinha de veludo em suas mãos. Ouviu alguns passos e logo em seguida o som
da porta sendo aberta.

— Mas o que? — Era a voz de Tracy. Ele ouviu os passos dela até ela ficar frente a frente
com ele. — John?! — Ela estava simplesmente linda, nunca havia a visto tão arrumada.

— Olá, amor. — Ele sorriu de um jeito tímido. Era a hora de começar, ajoelhou-se e
suspirou.

— John, por... — já com lágrimas nos olhos ela foi interrompida por ele.

— Tracy, eu não sei o que falar. Eu sempre fui terrível com palavras, mesmo com as mais
simples e você sabe disso. — Ela riu entre lágrimas. — Vou fazer o meu melhor. Desde a primeira
vez que te vi, senti algo diferente, não sabia o que era pois nunca havia sentido nada comparado
com aquilo, isso me assustou bastante no começo, só sabia pensar em você. Isso era até irritante, eu
me perguntava muitas vezes “Que macumba essa garota fez comigo?” — os dois sorriram. —
Demorou para eu finalmente admitir que gostava de você e foi difícil. Eu não era o tipo de cara
que se apegava, nunca havia tido uma namorada antes e ainda estava assustado com tamanho
sentimento dentro de mim. Sei que errei, sou ciumento, imaturo e inexperiente em relação ao amor,
preciso de uma nova chance para aprender com você como amar. — Ele parou por um momento e
ela enxugou as lágrimas. — Tracy Fell Wolf, você aceita ser a mulher da minha vida e estar todos
os dias ao meu lado? Aceita esse pobre homem louco de paixão? Namora comigo, princesa? — Ele
abriu a caixa de veludo e estendeu-a, Tracy tapou a boca com as mãos.

— É claro que aceito. — Ele colocou a aliança no dedo dela e Tracy repetiu o gesto,
colocando a outra aliança no dedo de John, depois deram um longo beijo apaixonado.

***

Uma hora depois eles estavam abraçados no sofá, rindo ao lembrar de toda as situações
que viveram juntos.

— Você fez tudo isso sozinho? — ela perguntou, aconchegando-se ainda mais nos braços
de John.

— Tive a ajuda de três grandes amigos — ele disse e beijou a testa dela.

— Sabia que tinha um dedo deles no meio disso. — Ela sorriu. — Amei tudo, obrigada.

— Eu te amo pequena — ele falou encarando-a.

— Eu também te amo, namorado. — Eles ficaram ali aos beijos.

***

— Você tinha que ver a tristeza nos olhos dele — Kate falou, recordando sobre o dia de
trabalho.

— Queria poder consolá-lo — Madson disse.

— Você realmente está interessada nele, não é? — Kate perguntou.

— Com todas as minhas forças. Infelizmente ele nem sabe da minha existência —
respondeu triste.

— Eu tenho certeza de que se soubesse, gostaria de você. Não tem como não gostar de
você. — Kate tentou tranquilizar a irmã.

Um celular começou a tocar, Kate procurou na esperança de que fosse Thomas, mas era o
celular de John.

— Alô? — Era a voz do pai de John.


— Peter? É a Kate.

— Olá, meu doce. Como você está?

— Muito bem e o senhor?

— Não muito bem. — Kate estava prestes a perguntar o motivo quando ele continuou. —
John está por aí?

— Infelizmente não, ele tinha algo a fazer e eu fiquei com o celular dele. Quer deixar
algum recado?

— Na verdade sim. — A voz dele estava baixa. — Katherine, a mãe de John faleceu esta
manhã.

— O que? — A voz dela era fraca agora, várias lágrimas começaram a rolar pelo seu
rosto. — Não pode ser, ela estava melhorando. Diga que isso é uma brincadeira sem graça, tio. —
Chorou ao telefone.

— Ela piorou muito e antes de chegar ao hospital morreu. Preciso que seja forte Katherine,
John precisará de você. Tente ajudá-lo, por favor. — Ele implorou.

— Eu tentarei — ela disse em meio às lágrimas, dona Beatrice era uma pessoa muito
importante na sua vida, havia feito parte de vários momentos importantes de Kate.

— Sinto muito por ter que fazer você dar essa notícia, eu ligo amanhã para falar com meu
filho. Se cuida Kate.

Ele desligou, Kate jogou o celular com toda força que tinha na parede, caiu no choro ali
mesmo e Madson veio abraçá-la. Era uma dor muito forte, Beatrice era como sua segunda mãe. O
pior de tudo era ter que contar isso para John, não suportaria ver o amigo sofrer. Ele estava tão
feliz, maldito destino que teimava em brincar com a vida de todos eles.

***

Acordou com uma forte dor de cabeça, havia chorado a noite toda nos braços de Madson.
Não tinha tentando falar com John, sentia-se péssima por ter que contar aquilo para ele. Sentou-se
na mesa da sua cozinha deitando a cabeça por cima dos braços. Madson estava preparando um
café para as duas, Kate havia optado por não ir a aula. Não aguentaria ficar lá, com certeza
choraria sem parar.
— Você precisa ficar calma — Madson falou ao colocar uma xícara de café à frente de
Kate. — Ele vai precisar do seu apoio mais do que o de qualquer pessoa.

— Eu sei. Se está sendo tão difícil para mim, nem imagino como será para ele — Kate
falou e tomou um gole do café.

— Está melhor? — Mad perguntou tocandoa mão da irmã.

— Vou ficar. — Ela deu um sorriso fraco.

— Bom dia irmãs mais lindas do mundo! Vocês não sabem da novidade. — John entrou na
casa gritando alegre e foi até elas.

Nesse momento Kate caiu no choro de novo, soluçando alto. John olhou confuso.

— O que houve? — ele perguntou.

— Melhor a gente ir lá para sala, não é? — Madson falou e Kate apenas assentiu com a
cabeça.

— Terminou com o Thomas? — John perguntou assim que todos se sentaram no sofá.

— Não — Kate falou enxugando as lágrimas. — Seu pai me ligou ontem, John — ela falou
e viu o olhar do amigo ficar triste na mesma hora. — E sua mãe, ela não...

— Não, Kate, ela não morreu, ela está bem, não é? — ele perguntou deixando algumas
lágrimas caírem.

— Eu sinto muito — ela falou e eles se abraçaram.

— Ela estava melhorando, eu não entendo — John disse aos prantos.

— Eu queria poder mudar isso — Kate falou apertando-o mais no abraço.

Kate não contou por quanto tempo eles ficaram ali abraçados, Madson foi para cozinha
fazer um chá e depois teve que sair para faculdade. Kate e John pegaram um colchão e puxaram
para a sala e ficaram ali deitados abraçados. Kate já não chorava mais, mas John soluçava ainda.

***

John estava desolado, todo o seu mundo havia caído. Como um dia poderia ser tão feliz e
o seguinte poderia se tornar tão triste? Era tão difícil aceitar, fazia meses que a mãe lutava contra
aquele câncer e agora ela simplesmente havia sido vencida. Sentia-se aliviado por não ter que ver
a mãe sofrer mais e sentia-se vazio porque a mulher mais maravilhosa que existia havia deixado o
mundo. Ele sabia que ela estava num lugar melhor, mas não era tão fácil aceitar na prática quanto
era na teoria.

Chorou muito. Chorou como um garotinho ali nos braços de Kate, estava aliviado por sua
amiga estar ali e sabia que ela também estava sofrendo, as duas famílias eram tão apegadas que
pareciam apenas uma. Ouviu o barulho da porta e levantou a cabeça para olhar e lá estavam
Tracy e Thomas. Ela com os olhos inchados, ele olhou para Kate e essa por sua fez lhe direcionou
um sorriso fraco que dizia "Eu a chamei" agradeceu mentalmente por isso. Ele levantou-se e correu
para abraçá-la, ficou ali por alguns minutos, não sabia quanto exatamente, mas aos poucos
conseguiu se acalmar.

Aquela dor nunca iria passar, parecia que um enorme buraco havia se aberto em seu peito
e naquele lugar só havia dor.

**

3 dias depois

Os pais de Kate, haviam ligado para ela no dia anterior falando que não poderiam ir ao
enterro, estavam fora do país por conta dos negócios. Mesmo precisando mais do que nunca dos
dois não reclamou, Thomas e Madson resolveram que iriam com ela.

Thomas dirigia o carro, Kate estava ao seu lado e no banco de trás estavam John, Tracy e
Madson. Todos estavam visivelmente abatidos, aquelas roupas pretas tinham um significado maior
do que qualquer dia tiveram. Kate virou para trás e viu que John estava com a cabeça encostada
no ombro de Tracy e essa fazia carinho nos cabelos dele e com a outra mão segurava a mão de
Madson como quem pedia força para passar por aquilo.

Kate olhou para Thomas com os olhos cheios de lágrimas, não queria chorar agora,
precisava ser forte por John. Thomas viu as lágrimas nos olhos de Kate e pôs sua mão sobre a
dela, apertando-a como quem passa segurança. Ela não conseguiu mais segurar as lágrimas e
chorou. Os três últimos dias haviam sido os mais tristes que presenciara.

Chegaram ao cemitério um pouco atrasados. Kate desceu do carro e abraçou Thomas e a


irmã. John foi abraçado com Tracy. John não quis ir a cerimônia antes do enterro, falou que não se
sentia bem com isso, queria apenas despedir-se da mãe. Viu o pai de John se aproximar, ele
estava com uma expressão abatida, não parecia que havia chorado parecia apenas cansado. Ver
John chorando abraçado com o pai doía no coração de Kate. Naquele exato momento ela queria
poder absorver toda a dor que o amigo sentia e ter o poder de tranquilizá-lo.

— Você sempre me dizia que eu tinha que viver a minha vida com intensidade, pois a vida
era curta. Você sempre apoiou todas as minhas escolhas e os meus sonhos e sempre me deu forças
para seguir. Infelizmente não sou tão bom com palavras como você, mãe. — Ele riu baixinho em
meio às lágrimas. — Eu sei que agora você está em um lugar melhor, sinto muito que tenha sofrido
tanto para isso. Você não perdeu a vida, a vida perdeu uma mulher maravilhosa. Eu queria que
você ainda estivesse aqui para ver as minhas escolhas, tenho certeza que se orgulharia delas.
Talvez você esteja aqui, eu espero e acredito que sim. Não tem como eu retribuir com simples
palavras tudo o que já fez por mim, mas quero que saiba que sempre estará no meu coração. —
Ele jogou um pouco de terra sobre o caixão marrom. — Eu te amo mãe — falou em um sussurro.

Ele se afastou do caixão e em seguida o pai se aproximou.

— Como posso descrever em palavras o sentimento que agora habita em meu coração? A
mulher da minha vida me deixou. Quando o médico disse para mim que você não havia resistido,
não acreditei, demorou para cair a ficha de que aquilo tudo era real e por mais que quisesse que
não passasse de um pesadelo terrível, percebi que era muito real. Cheguei a me beliscar, pedindo
para acordar e não acordava, continuei vivendo preso nesse pesadelo. Pedi a Deus para morrer
junto, mas sabia que você não concordaria com isso e que precisava cuidar do nosso filho. Você foi
uma ótima mãe, uma esposa excelente e uma mulher maravilhosa. Eu me arrependo de todos os
momentos que deixei passar, mas não me arrependo de nenhum dos que vivemos. Eu não sou bom
com palavras e nunca fui e acho que John puxou a mim. Queria apenas dizer que não desisti de
nós, seja lá onde você estiver eu vou te encontrar. Prometi uma eternidade juntos e não importa
onde você esteja, a minha alma e o meu coração estão com você — o pai de John falou e jogou
mais um pouco de terra, ele que até agora estava sendo forte, desabou em prantos. — Sempre te
amarei.

Depois do enterro, todos se reuniram na casa de John, o reverendo James foi até lá para
dar a sua palavra de conforto a família e ficaram reunidos conversando sobre os bons momentos
com Beatrice, a mãe de John. Quando estava perto de anoitecer, Kate decidiu que estava na hora
de ir, havia conseguido apenas aquele dia de folga com o chefe e amanhã cedo teria que voltar a
rotina. John disse que queria ficar, passaria um mês com o pai e depois retornaria a Stanford.

Todos se despediram e foram para o carro, indo Kate e Thomas nos bancos da frente e
Madson e Tracy atrás. As duas estavam tão cansadas que adormeceram.
— Como você está, amor? — ele perguntou sem desviar o olhar da estrada, já estava
escuro.

— A ficha ainda não caiu — ela falou olhando para o céu escuro.

— Eu sinto muito.

— Eu também.

— Sempre vou estar ao seu lado — ele disse colocando a mão sobre a dela.

Kate se inclinou e deu um beijo no rosto de Thomas, voltou a olhar para o nada. Ficou assim
por alguns minutos e os seus olhos começaram a pesar, ela adormeceu com a cabeça sobre o
braço apoiado na janela.
Capitulo Vinte
Três meses haviam se passado desde a morte de Beatrice. John se esforçava para levar a
sua vida normalmente, tentando parecer o mesmo cara alegre e brincalhão de sempre, isso dê
certo modo o ajudava a seguir em frente. Todos seguiam suas vidas normalmente. Thomas havia
largado a faculdade para exercer a profissão de médico no mesmo hospital em que Kate estava
estagiando. Eles já não precisavam mais esconder o namoro das pessoas a sua volta, o que era
muito bom.

Quando os horários dos dois batiam, combinavam de ir juntos para casa, Thomas havia se
mudado para a mesma vila onde Kate morava, com a diferença de apenas algumas ruas. Tudo
estava seguindo na mais perfeita das ordens, com exceção de uma coisa: Kate ainda não havia
falado com os pais sobre o seu namoro e nem sobre a irmã. Estava esperando o momento certo,
mas ele nunca parecia chegar. Temia a reação do pai ao seu namoro e temia a reação da mãe as
traições do pai.

Faltava menos de uma semana para o aniversário de Kate, que estava super animada,
completaria 22 anos e todos a sua volta estavam tão ocupados que pareciam não lembrar disso.

— Hoje vou dormir na casa do Thomas — Kate gritou para a irmã da cozinha.

— Tome cuidado, não pretendo ser titia por agora — Madson falou entrando na cozinha e
Kate jogou um pano de prato na irmã.

— Sabe, eu queria um filho — Kate falou sonhadora. — Mas apenas depois de terminar a
faculdade.

— Já pensei sobre isso também — Madson falou com o olhar triste.

— Como vai Tyler? — Kate perguntou vendo a expressão da irmã. Tyler era um cara da
turma da irmã com quem ela saiu uma vez.

— Não era para ser — ela apenas respondeu.

— Sinto muito, Mad — Kate falou enquanto ligava o forno e em seguida colocou a lasanha
lá dentro.

— Tudo bem, fico feliz de não ter me apegado a ele. — Ela sorriu. — E quando esse
almoço fica pronto?
— Daqui a alguns minutos, sua gorda. — As duas riram. — Faz um favor para mim?

— Iihh, lá vem. Pode falar.

— Vai no mercado lá da ponta da vila comprar as bebidas, por favor.

— Tudo bem, mas só por que eu sou uma ótima irmã. — Gabou-se.

Kate observou a irmã passar pela porta levando a chave do carro consigo. Era tão boa a
relação que as duas tinham, ela nunca imaginaria que seriam tão amigas. Torcia para que a irmã
fosse feliz e arrumasse alguém bom para ela, era triste vê-la sozinha, achou que fosse vê-la
namorando, mas pelo que ela falou não tinha dado certo. Logo a porta foi aberta e John entrou.

— O irmão mais lindo e gostoso acabou de chegar — ele falou se gabando, atrás dele
estava um amigo loiro, olhos claros, porte atlético. Era até gato, só tinha um defeito: ele não era
Thomas. — Esse aqui é o meu amigo Alex — falou quando o amigo passou por ele e foi até Kate,
cumprimentaram-se e os dois homens foram para a parte de trás da casa, dizendo que
acenderiam a churrasqueira.

Kate foi tomar um banho enquanto a lasanha terminava de assar, não era nenhuma data
comemorativa era apenas uma reunião de amigos em pleno domingo. Demorou um pouco mais do
que deveria no banho e teve que correr enrolada na toalha para desligar a lasanha, chegando lá
encontrou Thomas com aquele olhar que significava tudo. Graças a Deus que na cozinha só estava
ele.

— Nem vem — ela disse seguindo para o quarto, precisava trocar de roupa.

— Não pode me provocar e sair sem ao menos me dar um beijo — ele disse seguindo-a
até o quarto. Quando os dois entraram. ele a colocou contra a parede e a beijou, de um modo que
só ele sabia fazer.

— Thomas, temos convidados lá fora sabia? — ela falou assim que romperam o beijo.

— Sim, eu sabia e não, não me importo. — Ele sorriu de lado.

— Não me provoque, senhor Wolf, não sabe do que sou capaz — ela falou mordendo o
lábio inferior.

— Do que você é capaz, senhorita Snow? — Ele aproximou-se e lhe deu um selinho.

— Só saberá esta noite — ela disse passando por baixo do braço dele e abrindo a porta.
— Vejo você lá fora, deu-lhe um breve selinho.

Ele fez bico e saiu, sendo empurrado por ela, que riu com a cena. A verdade, era que
Thomas conseguia parecer um garotinho e ela adorava aquilo. Fechou a porta e sorriu, estava
arrependida por não o ter agarrado, mas se começassem algo não sairiam dali tão cedo e os
convidados estavam lá fora.

Ela pegou um vestido de alças florido, justo até a cintura e solto a partir daí que pegava
no meio das suas coxas e calçou uma rasteirinha dourada. Secou rapidamente o cabelo deixando-
o ondulado. Fez uma make discreta, com um batom puxado para o roxo e saiu do quarto em
direção à cozinha. Quando foi pegar a lasanha queimou a ponta dos dedos e largou a lasanha
em cima da mesa.

— Espera, deixa eu cuidar disso — Alex, o amigo de John falou, pegando a mão dela e
colocando em baixo da água gelada. — Melhor?

— Uhun — ela assentiu. Logo ouviu o barulho da porta e viu Madson entrar animada.

— Nossa a fila estava enorme e eu só consegui comprar tudo agora — Madson falou e
levantou a cabeça. — Quem é esse ai? — ela perguntou e só nesse momento Kate percebeu que
eles ainda estavam com as mãos juntas.

— Alex, um amigo de John. — Kate respondeu e Alex olhou fixamente para Madson antes
de ir até lá e cumprimentá-la. Kate ficou observando os dois ali parados como bobos encarando
um ao outro.

— Alex, porque você não ajuda Madson com as bebidas? — Kate falou e piscou para ele,
ele parecia ter entendido o que ela queria dizer.

Os dois saíram para buscar as bebidas e ela voltou para a lasanha, dessa vez colocou
luvas de cozinha e se dirigiu até os fundos. O cheiro da carne estava ótimo e fazia seu estômago
roncar. Estava feliz porque os meninos haviam adiantado o churrasco. Na churrasqueira estava
Thomas e num canto abraçados estavam John e Tracy. Ela deixou a lasanha em cima de uma mesa
na área de lazer e foi dar um selinho em Thomas, antes de voltar para dentro e buscar o resto
das coisas.

Encontrou-se com Alex e Madson na cozinha, os dois estavam tendo uma conversa animada.
Quando Kate chegou eles pararam por um momento, Alex seguiu com duas garrafas de
refrigerantes lá para fora e Madson ficou para ajudar a irmã.
— E aí? — Kate perguntou em um tom sugestivo.

— E aí nada, ué — Madson falou envergonhada.

— Eu sei que você se interessou — Kate falou levantando a sobrancelha.

— Acabei de conhecê-lo — Madson falou, rindo envergonhada. — Mas ele é gato.

— Sabia! — Kate quase gritou.

— Você é maluca. — As duas riram. — Vou tomar um banho rápido e me arrumar —


Madson falou indo em direção ao quarto.

Kate começou a levar o resto das coisas para fora e chegando na porta ouviu um som alto
começar a tocar, a música era Summer, de Calvin Harris. Sorriu, aquela era uma das suas músicas
preferidas.

Todos estavam reunidos no fundo, na área de lazer. Kate e Thomas abraçados próximos à
mesa, John e Tracy aos beijos e Alex próximo a churrasqueira. Ela viu o olhar de Alex parar em
algo e olhou para onde ele olhava, lá estava a irmã. Madson estava com um short alto e uma
blusinha solta Rosa, os cabelos dela estavam cadeados e no rosto tinha um make básica bem feita.
Ela estava simplesmente linda e Kate viu o olhar de Alex sobre ela.

Eles estavam se divertindo muito até que o celular de Kate tocou, ela se afastou do barulho
para poder atender.

— Alô? — Ela falou confusa, não conhecia aquele Numero.

— Olá senhorita Snow, aqui é o Detetive Bryan.

— Olá detetive, do que precisa? — ela perguntou preocupada.

— Alice foi atacada por outra presa na cadeia e não vai resistir por muito tempo, ela
pediu para que a senhorita e o senhor Wolf fossem contatados, a presa afirmou que tem
esclarecimentos a fazer aos dois. É importante. — Kate ficou confusa, deveria ir até lá? Poderia
ser apenas mais uma armação de Alice, mas algo dizia que não era.

— Ok, tem como você me passar o endereço e nome do hospital?

O detetive passou todas as informações que ela precisava e logo em seguida desligou,
Kate sentou-se por um momento na sala da sua casa, estava pensando no que fazer. Sentiu uma
mão no seu ombro direito e virou-se para ver quem era, Thomas.
— O que foi amor? — ele perguntou e sentou-se ao lado dela.

— O detetive Bryan me ligou, queria falar sobre Alice — Kate falou e viu o rosto de
Thomas ficar ainda mais branco do que já era. — Ele disse que Alice está morrendo e queria falar
conosco, o endereço do hospital é esse. — Ela lhe entregou um papel.

— Mas esse é o hospital abandonado da rota 66 — ele disse em surpresa, o corpo de


Kate estremeceu. — Brincadeirinha, amor. — Ele riu e ela deu um tapa nele.

— Isso não teve graça. Quase tive um ataque — ela falou fazendo biquinho. Ele deu um
selinho nela.

— Vamos então?

— Vamos! — ela disse. — Antes deixa eu só falar com John.

Kate foi até os fundos da casa onde todos estavam sorrindo e brincando e puxou John num
canto. Pegou com ele a chave da moto emprestada e deixou a do seu carro com ele. Voltou e foi
até o quarto trocar de roupa, vestiu uma calça jeans justa, clara com uma blusa segunda pele
preta e calçou botas de cano curto. Passou pela sala e puxou Thomas, pegando os capacetes.

— Eu não sei dirigir moto, Kate — ele falou quando ela lhe estendeu as chaves.

— Então eu dirijo.

— E isso é seguro? — ele perguntou em provocação enquanto colocava o capacete.

— Terá que descobrir. — Ela piscou para ele antes de colocar o capacete e subir na moto.

Nunca havia contado para ele, mas dirigia moto até melhor do que dirigia um carro. A
primeira coisa que fez ao completar 18 anos foi tirar a carteira de motociclista, escondido de seu
pai e claro, que quando descobriu a fez tirar a carteira de motorista. Afirmando que nunca
deixaria sua princesinha andar de moto.

Alguns minutos em alta velocidade e eles finalmente chegaram ao hospital, estacionaram e


pegaram os capacetes. Na recepção, uma mulher indicou para eles o caminho até o quarto da
Alice, na porta havia dois seguranças enormes e mal encarados, eles entraram e na cama no meio
do quarto estava Alice, com uma aparência péssima.

— Cheguem mais perto — ela pediu com uma voz fraca. — Eu preciso contar toda a
verdade para vocês.
— Qual verdade? — Thomas perguntou confuso.

— Sobre aquela noite — ela suspirou. Os dois chegaram mais perto para ouvir o que ela
tinha a dizer.

Ouviram atentamente a tudo e se surpreenderam com o rumo que as coisas tinham tomado.
Ela contou cada detalhe daquela noite da maneira como tudo aconteceu verdadeiramente. Thomas
não a tinha drogado, ela o drogou. Alice confessou que sempre havia sido apaixonada por ele,
mas nunca foi correspondida, quando soube que Thomas estaria ali naquela boate pensou em um
modo de estar com ele e o prender para sempre. Então comprou a droga de um amigo e colocou
na bebida de Thomas, mas o efeito não havia durado o bastante, apenas serviu para deixar
Thomas atordoado e fazê-lo esquecer de tudo sobre aquela noite. Kate sentiu-se feliz, era tudo
mentira, Thomas não havia feito nada e agora poderia conviver com a consciência limpa. Até a
história do filho, dos pais a terem expulsado tudo havia sido mentira.

***

— Eu estou tão feliz — Thomas falou ao chegar em sua casa. Kate jogou as chaves numa
mesinha e se jogou no sofá em seguida. — Sei que isso parece mesquinho, mas estou.

— Eu também meu amor e estou morta, o dia hoje foi corrido. — Ele se jogou do lado dela.
Já era noite.

— Sabe o que me deixaria mais feliz ainda? — ele perguntou erguendo uma sobrancelha.

— Eu sei exatamente — Kate falou levantando-se do sofá, puxou a blusa e a jogou no


chão, caminhando em direção ao quarto de Thomas enquanto desabotoava o sutiã. — O que você
está esperando? — ela disse enquanto deixava o sutiã cair no chão.

— Eu ia falar pizza, mas a sua ideia é bem melhor — ele disse levantando e seguindo ela
até o quarto.

— Eu sou cheia de boas ideias. — Ela gabou-se enquanto tirava a calça e a calcinha
jogando-as em cima da cama. Dirigiu-se até o banheiro e entrou no box deixando a água quente
escorrer por seu corpo. Olhou na direção de Thomas. — Vai ficar só me olhando?

Ele tirou a roupa e se juntou a ela. — Eu te amo muito — falou beijando-a contra parede.

— Eu também amo você ex professor. — Eles riram e voltaram a se beijar.

A noite foi longa e feliz. Uma notícia como aquela era sempre bem-vinda na vida dos dois.
Kate acordou sozinha na cama, a noite havia sido maravilhosa. Tudo sempre era
maravilhoso ao lado de Thomas. Faltava uma hora para ir para aula e estava morrendo de sono
ainda, forçou-se a sair da cama e foi até o banheiro dar um jeito na cara de sono e no cabelo,
tomou um banho rápido e saiu à procura de Thomas pela casa, que era bem maior que a sua. Ela
adorava estar ali, o lugar era muito aconchegante e lembrava a ela a casa de seus pais.

Foi até a cozinha e viu uma badeja com um café da manhã digno de rainha e algumas
flores ao lado. Sorriu com aquilo, pegou o cartão que estava preso entre as rosas e leu em voz
baixa.

“Amor, eu tive que sair cedo para trabalhar, meu turno hoje é de dia. Ver você deitada tão
linda e espalhada sobre a minha cama deu vontade de continuar lá, que vida injusta,” — ela sorriu ao
ler aquilo. — “Espero que me perdoe por ter que sair sorrateiramente. Esse café da manhã é para a
namorada mais linda desse mundo, busco você a noite”.

Lendo aquele cartão ela teve certeza de uma coisa, Thomas era, sim, o melhor namorado
do mundo. Depois de tomar o café rapidamente, saiu da casa colocando a chave no lugar onde
Thomas geralmente a deixava. Subiu na moto e dirigiu-se para casa, precisava antes de tudo,
trocar de roupa para poder ir para a faculdade.

— Querida, cheguei! — Kate gritou entrando em casa, imitando o Fred Flintstone. Não
houve nenhuma resposta, então ela imaginou que a irmã já deveria ter ido à faculdade.

Correu para o quarto e pegou uma roupa simples para vestir, uma calça jeans branca e
uma blusa estilo moletom, solta, também branca, calçou tênis brancos e foi para a faculdade. Ainda
estava com a moto, a aula até estava interessante visto que hoje era uma aula prática. Eles
estavam estudando os órgãos do corpo de uma mulher morta, ninguém sabia o nome da mulher ou
qualquer outra informação. Geralmente os corpos para o estudo de anatomia eram aqueles que
não haviam sido identificado por nenhum parente ou amigo.

A aula do dia acabou demorando mais do que as outras, ela teve que passar rápido em
casa para tomar banho e correr para o trabalho. Lá ela ainda esperava ver Thomas, já que ele
faria o turno do dia, mas tudo indicava que ele já havia saído. Ninguém parecia ter visto seu
namorado no hospital. Depois de falar com Anna, uma secretaria, Kate carregou a bandeja com
dois cappuccinos para a sala do chefe.

— Olá, Douglas, como está? — ela perguntou entrando na sala.

— Ótimo e você Kate? — Ele sorriu para ela.


— Muito bem, trouxe um cappuccino do jeito que você gosta. — Ela deixou o copo na mesa
do chefe e se dirigiu à sua sala, antes de chegar lá, ouviu a voz do chefe ao dizer:

— Hoje você pode sair as 18:00h — ele disse sorrindo e piscando para ela.

Ótimo. Ela pensou. Teria mais tempo para ficar com Thomas, era impressionante quanto mais
tinha dele mais queria. Pegou o celular e digitou uma breve mensagem.

Amor, sairei mais cedo hoje. Você me pega às seis?

Ela esperou por alguns minutos antes da resposta a mensagem chegar.

Claro baixinha. Eu quero te levar em um lugar especial hoje.

Ela digitou rapidamente outra mensagem.

Mal posso esperar meu amor.

Ela largou o celular e tentou se concentrar no trabalho, só tentou porque era muito difícil se
concentrar em qualquer outra coisa quando estava ansiosa. Três horas depois chefe a chamou pelo
telefone até a sua sala.

— Aceita almoçar comigo, Katherine? — ele perguntou assim que ela parou em frente à
sua mesa. Ela ficou analisando a expressão dele por alguns segundos, que mal haveria em comer?
Então decidiu aceitar.

— Aceito sim, doutor Fitiz. — Ela sorriu e ele se levantou.

— Não deveria me chamar de doutor, sabe que eu não tenho doutorado — ele disse
enquanto caminhavam em direção ao elevador.

— Então vou te chamar de mestre. Já vi o diploma de mestrado que você tem em sua sala
— ela falou e apertou o botão do elevador.

— Muito atenciosa, senhorita Snow. — Eles entraram no elevador.

— Essa é uma das minhas infinitas qualidades. — Ela gabou-se.

— Menos, querida. — Os dois riram. — O seu namorado é um doutor, sabia? — perguntou


como quem não quer nada.

— Eu vi o diploma na sala dele. — Ela sorriu, nem lembrava daquilo, se ele soubesse o que
eles estavam fazendo naquela sala, a noite, sozinhos. Riu um pouco mais.
— Opa, senhorita atenciosa. Ele já foi meu professor, é um ótimo cara — Douglas disse
enquanto saiam para o restaurante que ficava no primeiro andar do hospital.

— Que bom que acha isso. — Ela sorriu para ele.

— Há quanto tempo namoram? — ele perguntou olhando por cima do cardápio.

— Quase seis meses — ela falou olhando para o cardápio, decidiu o que iria pedir.

— Um bom tempo, mas eu não a via usando aliança há três meses atrás — ele disse
erguendo uma sobrancelha.

— A faculdade. Era complicado a relação de aluna e professor — ela respondeu meio


sem jeito.

— Entendo. Já escolheu o que vai pedir? — ela apenas confirmou com a cabeça e logo
Douglas fez um sinal e o garçom veio.

Os dois fizeram o pedido e almoçaram conversando sobre assuntos aleatórios, depois


voltaram para a sala juntos. Ela seguiu para a própria sala no cantinho da sala do chefe e ele
ficou na sua sala. Só falta duas horas para Thomas vir buscar ela e ela estava extremamente
ansiosa em vê-lo.

Ficou apenas mexendo no celular, não tinha mais nada para fazer o hospital estava calmo,
pelo menos a ala C e a D estavam, já a pediatria estava praticamente lotada. Quando mais
rápido Kate torcia para que o tempo passasse, mais devagar parecia passar. Não aguentando
mais mexer no celular e visto que ainda faltava uma hora e meia Kate seguiu até a sala do chefe
para ficar jogando papo fora.

— O que deseja, Kate? — ele perguntou assim que viu ela passar pela porta.

— Estou entediada — ela falou e se jogou na cadeira que ficava frente à do chefe. Ele
riu.

— Que estagiária mais folgada essa minha.

— Você me deu liberdades. — Ela sorriu.

— Okay, então quer conversar? — ele perguntou fechando o prontuário que estava
analisando.

— Que tal jogar aquilo? — ela apontou para um tabuleiro de xadrez.


— Xadrez? Você sabe jogar? — Ele levantou uma sobrancelha.

— Isso e não sei não. — Ela sorriu. — Mas você poderia me ensinar. Temos uma hora e
meia.

— Está tão entediada assim? — ele perguntou.

— Mais do que você imagina. — Os dois sorriram.

Douglas levantou e foi pegar o tabuleiro de xadrez, Kate apenas o observou, por mais que
tenha sido "nerd" na escola ela não sabia jogar aquilo, sempre achava que era muito complicado.

***

— Xeque mate — ela falou sorrindo. — Eu ganhei de novo.

— Acho que eu não deveria ter te ensinado a jogar. — Douglas cruzou os braços. — Sorte
de principiante.

— Três vezes seguidas? — ela perguntou ironicamente.

— Você é uma principiante com mais sorte do que eu esperava. — Os dois começaram a
rir. Nesse momento Thomas entrou na sala.

— Kate? — ele chamou entrando mais na sala, fazendo-a se levantar da cadeira em um


pulo e o abraçando em seguida.

— Finalmente, amor — ela falou e Douglas fez uma cara feia.

— Eu sei que esse jogo é chato, mas não despreza. — Ela sorriu.

— O jogo foi ótimo — ela falou. — Espere aqui, amor, vou pegar a minha bolsa e nós
podemos ir.

Ela entrou em sua sala, pegou a bolsa, as chaves e voltou para junto dos dois médicos,
chegou a tempo de ver Thomas e Douglas conversando de um jeito animado. Uau! Ela achava que
nunca viveria para ver isso.

— Vamos amor? — ela perguntou, indo para o lado dele. — Até amanhã Douglas.

— Até, Kate! — Ela pensou ter ouvido uma espécie de sarcasmo na sua voz, mas achou
melhor ignorar.
— Amor, ainda estou com a moto de John — ela falou assim que saíram da sala.

— Eu pensei em tudo, amor, trouxe John para buscá-la — ele disse e então ela entregou-as
chaves a ele.

Os dois saíram em direção ao elevador, abraçados. Receberam alguns olhares ruins,


maioria de mulheres é claro. Esse médico bonitão ao seu lado fazia sucesso. Não ligava mais para
essas provocações, sabia que ele era totalmente dela. Chegaram ao subsolo onde Kate logo viu
John parado ao lado da moto com um enorme sorriso.

— Finalmente a minha linda — ele falou pegando a chave que Thomas jogou no ar.

— Quanto amor por uma moto — Kate disse sorrindo.

— Nem tanto, se eu a amasse tanto assim não teria deixado com uma certa loira — John
falou e ela deu língua para ele. — Essa é a minha deixa, divirtam-se — ele falou e subiu na moto,
piscou antes de colocar o capacete.

— Aonde vai me levar, Doutor Wolf? — ela disse, assim que entrou no carro.

— É uma surpresa, amor — ele falou e piscou para ela. Ligando o carro logo em seguida.

Durante todo o caminho Kate tentou convencê-lo a falar, mas Thomas se mantinha inflexível
sobre isso. À medida que o tempo passava mais longe da cidade eles estavam e mais escuro o céu
se encontrava.

— Você por acaso não está tentando me sequestrar, não é senhor Wolf?!

— Você já é minha, não preciso disso. — Ele piscou e ela apenas sorriu.

Depois de mais uma hora no carro estavam bem afastados de Stanford, Kate se perguntou
que horas eles voltariam para lá. Ela também estava ansiosa com a tal surpresa, toda hora
perguntava a ele se estavam perto. Parecia mais o burro do Shrek do que ela mesma.

— Chegamos, amor — ele falou quando eles pararam perto de uma praia.

— Aqui é lindo, amor — ela disse admirada.

— Vou ter que te vendar, não quero que veja para onde vamos — ele disse e tirou um
pano do porta-luvas e colocou sobre os olhos dela amarrando delicadamente, realmente ela não
conseguia ver nada.
— Isso realmente está parecendo um sequestro — ela comentou.

— Espera aí que te ajudo a sair do carro — ele disse e logo em seguida ela ouviu a porta
do lado dele abrir e bater, logo depois ouviu a do seu lado abrir e sentiu a mão de Thomas em
sua cintura.

— Obrigada. — Assim que ela falou ele a pegou no colo. — O que você está fazendo?

— Com esses saltos você iria atolar na areia. — Ela sorriu de novo. Ele andou por uns 5
minutos e a colocou no chão. — Espere aqui, amor. — Ela ouviu barulho de porta e logo sentiu as
mãos de Thomas estavam em sua cintura, conduzindo-a para algum cômodo. Ele abriu outra porta
e falou, — Pode tirar a venda, ela abriu os olhos e estava num quarto, em cima da cama havia um
vestido longo vermelho e sapatos. — Madson preparou tudo. Eu te espero lá fora, sem pressa
amor. — Ele beijou sua testa e saiu fechando a porta.

Ela olhou novamente para aquele vestido, a surpresa deveria ser algo melhor do que ela
imaginava. Entrou no banheiro, junto ao quarto e na pia encontrou várias maquiagens espalhadas.
Ela tirou a roupa e tomou um banho rápido, depois voltou para o quarto e colocou o vestido, que
ficou perfeito em seu corpo, Madson realmente era maravilhosa, calçou os sapatos e fez uma
maquiagem rápida, mas bem-feita. Prendeu o cabelo em um coque e passou um perfume suave
que também estava dentro da mala. Saiu do quarto e encontrou Thomas sentado em uma poltrona,
ele levantou assim que a viu.

— Você está simplesmente maravilhosa, amor — falou pegando na mão dela. Ele também
estava lindo, com um terno elegante e sapatos sociais, o cabelo estava para trás e um pouco alto.
— Vamos?

— Você também está lindo, amor.

Os dois andaram até a porta de entrada e quando Thomas abriu Kate viu o quanto o lugar
estava lindo. Havia uma tenda, enfeitada com pequenas luzes e várias rosas, na areia, Kate
deixou uma lágrima cair, aquilo era perfeito, no meio da tenda havia uma mesa com velas e vinho.

— Vai me pedir em namoro novamente? — ela perguntou enxugando as lágrimas e rindo.

— Vou fazer ainda melhor — ele falou e estendeu o braço para ela, estavam na beira da
praia em um jantar à luz de velas, poderia ser melhor?

— Isso é tão perfeito — ela falou suspirando e sentou-se em uma das cadeiras. Thomas
veio ao seu lado e se ajoelhou. — Thomas o que você... — Ela começou a falar, mas ele fez um
sinal para que ela não dissesse mais nada.

— Katherine, nunca senti algo como o que sinto por você e sei que isso pode parecer meio
precipitado e acho que precipitado deveria ser o meu nome do meio, mas quero passar o resto da
minha vida ao seu lado. Quando te conheci, tentei lutar contra os meus sentimentos, vivia em uma
briga interna constantemente, mas decidi que não quero lutar contra o que eu sinto, nunca quis. Sou
capaz de enfrentar tudo por você e sou incapaz de viver sem você. — Ela sabia o que viria a
seguir e ficou ansiosa por isso, mas o que diria? — Katherine Snow, aceita ser a nova senhora
Wolf? Aceita se casar comigo? — Ele abriu uma caixinha vermelha de veludo e dentro tinha um
anel maravilhoso com uma pequena pedra de diamante.

— Eu... Eu... — Ela tentou falar, mas estava muito nervosa, o sorriso no rosto de Thomas
sumiu. Ela se levantou da cadeira e ele ficou em pé na frente dela, o que ela diria? Ela abaixou a
cabeça e começou a caminhar de volta para a casa. Espera! O que eu estou fazendo? — ela se
perguntou em silêncio. Parou onde estava e virou-se novamente para Thomas. — Eu aceito, estou
meio assustada com tudo isso, mas a única coisa que tenho certeza é que quero passar o resto da
minha vida ao seu lado. Você me conquistou de todas as maneiras possíveis, Thomas Wolf, eu estou
disposta a viver intensamente esse amor.

Ele a abraçou, beijou-a e a girou no ar. — Eu te amo mais que tudo, minha pequena
princesa.

— Eu te amo ainda mais, meu querido professor — ela disse e os dois se beijaram
novamente, no peito dela várias emoções desconhecidas explodiam, a felicidade era tanta que mal
cabia ali, naquele pequeno coraçãozinho.

— Impossível, senhora Wolf. — Ela sorriu com aquilo.


Capítulo Vinte e Um
Kate estava deitada, aninhada ao peito de Thomas, que mexia em seus longos cabelos
loiros. A noite havia sido perfeita, não como as outras, havia sido ainda mais perfeita. Antes, ela
não achava que isso era possível. Breves flashes de memória vinham à sua mente toda hora,
fazendo-a pairar em pensamentos.

— Senhora Wolf. — Eu gosto disso. Ela pensou. Deixaria de ser a senhorita Snow a partir
daquele momento. Ela estava noiva e aquilo parecia um sonho, o mais lindo deles. — Tenho outra
surpresa para você — Thomas falou dando outro beijo nela.

— Cuidado, hein, senhor futuro marido. Meu pobre coração pode não aguentar — ela
disse rindo, mas percebeu a expressão séria dele.

— Nunca fale isso, não posso nem pensar em te perder — ele disse e puxou-a para um
abraço.

— Não irá me perder. — Ela o apertou ainda mais. — Nunca. E cadê a outra surpresa?
Estou curiosa.

— Olhe para lá — ele falou virando ela em direção a casa.

— Tudo bem, o que tem? — ela perguntou sorrindo.

— Ela é nossa — ele falou e ela não acreditou, havia contado a ele que sempre sonhou em
morar em uma casa na beira da praia e ali estava.

— Você é completamente maluco. — Ela sorriu entre lágrimas. — Oh, Thomas, isso é tão
perfeito. — Virou-se para beijá-lo.

— Nada mais vai nos separar, Katherine. — Ela fez cara feia com a menção de seu nome
e não de seu apelido. — Não faça essa cara, é um lindo nome.

— Parece nome de princesa da Disney. — Ela fez outra cara feia. — Pelo menos o apelido
é fácil. — Deu de ombros.

— Você é única mesmo. — Ele beijou a testa dela. — Eu havia planejado isso a três meses
atrás, mas infelizmente aconteceu tudo aquilo e resolvi deixar as coisas se resolverem — ele falou
e ela sentiu uma pontada de tristeza a invadir, sentia falta de Beatrice. — Desculpe tocar nesse
assunto — ele disse por fim.

— Tudo bem, amor, o importante agora é que todos estão muito felizes. Não mais do que
eu, é claro. — Ela se gabou.

— O que você acha de inaugurarmos o quarto de casal? — Ele lançou um olhar sexy para
ela.

— Que noivo mais assanhado — ela falou e lhe deu um beijo.

— Culpa desse vestido. — Ela riu.

— Sabe — ela falou movendo os dedos pelo peitoral dele e agarrando a gravata. — Eu
também quero inaugurar aquele quarto.

Ele a colocou no colo novamente e a carregou até a casa, chegando lá colocou-a no chão
e ela abriu a porta. Assim que Thomas fechou a porta, Kate começou a puxar uma das alças do
vestido, que por causa do enorme decote que tinha nas costas e no busto, saiu facilmente. Em
seguida tirou a outra e deixou o vestido cair até os seus pés, agora estava apenas com uma
pequena calcinha de renda e o salto. Ela o provocou virando-se de costas e começando a andar
para o quarto. Chegando lá, sentou-se na cama e tirou os saltos lentamente.

Kate observou enquanto Thomas jogava o terno no chão, puxava a gravata e começava a
desabotoar a camisa social. Ela fez um movimento com o dedo pedindo para que ele se
aproximasse, quando estava perto o suficiente ela começou a desabotoar a calça social que ele
estava usando e puxou-a para baixo. O resto da roupa, Thomas tirou com uma facilidade
inacreditável. Ele estava com um olhar de predador sobre o corpo dela, começou a beijá-la
levemente e aumentou a intensidade, ela se levantou da cama sem romper o beijo e o fez sentar-se
em um pequeno sofá que havia no canto do quarto, em seguida sentou em cima dele com cada
uma das pernas de um lado do corpo dele.

Kate se libertou dos pensamentos assim que percebeu que Thomas a encarava.

— O que estava pensando amor? — ele perguntou ainda acariciando seus cabelos.

— Ontem — ela disse.

— Foi maravilhoso. — Ele beijou o topo da testa dela.

— Quando teremos que ir embora amor? — Ela fez bico.


— Amanhã de manhã, infelizmente só consegui um dia de folga para você com o seu chefe
— ele falou.

— Vocês agora estão se dando bem? — ela perguntou levantando a cabeça de seu colo e
sentando.

— Acho que sim, agora ele sabe que você é minha namorada, ou melhor, noiva. — Thomas
sorriu, de um modo como só ele sabia fazer.

— Amor, sobre essa casa. Quase não poderemos vir para ela enquanto eu estiver na
faculdade. — Ela fez uma carinha triste.

— Eu sei, mas sempre que der vamos nos reunir aqui com os nossos amigos e parentes,
para lembrar o quanto a vida é bela e como devemos curti-la. — Ele piscou para ela.

— Você anda tão romântico. — Ela mandou um beijo.

— Eu sempre sou romântico. — Ele gabou-se.

— Desculpa aí, garanhão. Agora me diga, o que vamos fazer hoje? — Ele lançou um olhar
significativo para ela. — Eu adoraria, mas também quero aproveitar a praia — ela falou
piscando para ele.

— Sabia que você iria querer isso. Então, Madson preparou uma bolsa com algumas
roupas, lá deve ter um biquíni. — Ele levantou da cama. — Vou me trocar no outro quarto.

— Por que não aqui?

— Não conseguiria me controlar. — Passou pela porta a fechou.

Ela sabia que ele tinha razão e por um momento desejou ter pedido para ficar trancada
naquela casa o dia todo, não que fosse uma ninfomaníaca ou algo assim, pois não era, mas todo
mundo sabia que sexo era bom e ponto final. Sorriu com aqueles pensamentos, a antiga Kate
ficaria vermelha só de ouvir a palavra sexo e hoje em dia tratava isso com tanta naturalidade.

Procurou na bolsa um biquíni e lá no fundo achou um branco, foi até o banheiro e se trocou.
Agradeceu a irmã mentalmente pelo biquíni que ela escolheu, que lhe caia perfeitamente, assim
como o vestido. Apesar de nenhuma daquelas roupas serem dela. Saiu do quarto e observou
Thomas na porta, ele parecia pensativo. Andou devagar para não fazer barulho e o abraçou por
trás.
— Está pensando em que? — ela perguntou encostando o rosto nas costas dele.

— Amanhã é o seu aniversário — ele falou virando para ela.

— Eu nem me lembrava disso. — Ela sorriu. — Não quero festa nenhuma. — Ela lançou
aquele olhar desafiador.

— Nem pensamos nisso. — Ele foi irônico.

— Estou falando sério.

— Tudo bem, amor, vamos aproveitar a praia e depois discutimos isso. — Beijou a testa
dela e pegou em sua mão.

— Vai me ensinar a surfar? — ela perguntou incrédula ao ver duas pranchas cravadas na
praia.

— Não, elas não são minhas — ele falou confuso. — Deve haver outras pessoas na praia.

— Ah sim, eu já estava pensando em voltar correndo para dentro da cabana.

— Eu deveria ter falado que íamos surfar — ele falou fazendo careta. Ela sorriu.

— Bobo, temos todo o tempo do mundo para isso, sabia?

— Tudo bem, você venceu. — Ele levantou as mãos em rendição. — Vamos para a praia.

Eles seguiram até uma parte mais calma da praia, aonde a água era quase que
transparente e a areia bem branquinha. Kate soltou a mão de Thomas e correu para entrar no
mar, logo ele correu atrás dela e os dois começaram a brincar no mar. Pareciam duas crianças.
Depois de pouco mais de uma hora eles voltaram para a casa.

— Eu preciso de um banho — ela falou entrando no quarto principal.

— Nós precisamos de um banho — Thomas disse puxando-a pela cintura e a envolvendo


em um beijo.

— Precisamos sim — ela falou depois que eles pararam o beijo, começou a desamarrar a
parte de cima do biquíni e foi em direção ao banheiro. — Você vem? — ela perguntou arqueando
uma sobrancelha.

— Acha que eu recusaria? — ele falou se aproximando dela e a envolvendo em outro


beijo enquanto os dois entravam no banheiro.
Kate rompeu o beijo sorrindo e depois de entrar e fechar a porta ela foi para o box
soltando as tiras da parte de baixo do biquíni. Thomas entrou no chuveiro e a puxou em sua
direção, levantando-a, que por sua vez rodeou o corpo dele com as pernas. O beijo se intensificou
e do nada se ouviu o toque de um telefone.

— É só ignorar que uma hora a pessoa desiste de ligar — Thomas falou e volta a beijar
ela, o toque continuou.

— Você está mais vestido do que eu, você atende — ela falou se desvencilhando dele. —
Depois continuamos — ela disse e piscou, observou-o sair do banheiro e ligou o chuveiro e
começou o banho. Passaram-se minutos e Thomas não voltava. Decidiu terminar o banho e ir
procurá-lo. Enrolou-se em uma toalha, ela estava com uma sensação ruim sobre aquilo, temeu sair
do banheiro por um minuto. Quando saiu viu Thomas arrumando as malas, ainda era o comecinho
da tarde, eles tinham muito tempo para fazer aquilo. — Amor, o que você está fazendo?

Ele levantou o rosto e ela percebeu que os olhos dele estavam vermelhos, como se tivesse
chorado. Preocupou-se ainda mais.

— O que houve? — ela perguntou preocupada enquanto se aproximava dele, percebeu


que ele já estava vestido.

— Eu recebi uma ligação do John — ele falou com o semblante sério.

— Aconteceu algo com Tracy? — ela perguntou chegando mais perto dele.

— Com Tracy não, com a Madson — ele falou e nesse momento Kate sentiu seu mundo
desabar, lágrimas encheram seus olhos, pensou em mil possibilidades do que havia acontecido e
esperava que a irmã não estivesse tão ruim. — Amor eu sinto muito — ele disse abraçando-a. —
Teremos que voltar hoje mesmo para Stanford.

— O... O que aconteceu com a Mad? — ela perguntou praticamente gritando, sentou-se na
cama e colocou a cabeça entre as mãos. Thomas tentou chegar perto dela. — Não se aproxima!
— ela gritou caindo no choro, não queria ninguém perto dela agora, sabia que aquela sensação
ruim havia um motivo, acaba de conhecer a irmã e não poderia perdê-la.

— Amor, fica calma — ele falou, chegou perto dela e a puxou por um abraço, ela relutou
por um momento mas cedeu abraçando ele.

— Como ela está? — ela perguntou entre soluços. Ele não respondeu, não estava pronto
para dizer aquilo. — Eu preciso saber, Thomas.
— Ela está em coma — ele falou e sentiu Kate estremecer em seus braços. — Foi um
acidente de moto.

— Não posso perdê-la, Thomas — Kate falou chorando ainda mais. — Diga que isso é
apenas um pesadelo e que amanhã tudo vai estar bem.

— Não vai perdê-la amor, fique calma — ele disse passando a mão em sua cabeça e
depois deu um beijo em sua testa. — Troque de roupas amor, vamos chegar lá o mais rápido
possível.

Ela levantou-se devagar e foi pegar as roupas que estavam estendidas em cima da cama,
entrou para o banheiro e trocou-se rápido. Era uma roupa confortável, ela agradeceu
mentalmente por isso. Lembrou de que aquelas roupas haviam sido escolhidas pela irmã e voltou a
chorar, amarrou o cabelo e saiu do banheiro, as malas já não estavam mais na cama,
provavelmente Thomas as havia levado para o carro.

— Vamos? — ele perguntou aparecendo na porta.

Ela apenas assentiu e o seguiu pelo caminho de areia, em silêncio, perdida em pensamentos.
Ficava se perguntando como isso havia acontecido, o que a irmã estava fazendo em uma moto, ela
odiava motos. Chegaram ao carro e entraram em silêncio. Depois de alguns minutos de estrada
Kate rompeu o silêncio.

— Como isso aconteceu? — ela perguntou.

— Sua irmã estava voltando para casa de madrugada com aquele amigo de John, o Alex.
Parece que um carro vinha em alta velocidade e eles bateram de frente, os dois foram
arremessados da moto. O Alex morreu na hora do acidente e a Mad sofreu fraturas e entrou em
coma por causa da pancada forte na cabeça — ele suspirou.

Ela começou a chorar baixinho ali do lado, encostou a cabeça no vidro e esperou que
chegassem, o tempo parecia se arrastar e os quilômetros também. Depois de mais duas horas e
meia de estrada eles finamente estavam chegando a Stanford.

Assim que Kate chegou ao hospital, que era o mesmo em que ela e Thomas trabalhavam,
correu para a recepção para saber onde a irmã estava. Descobriu que estava no meio de uma
cirurgia, na ala D, havia fraturado a costela e se não fizesse a cirurgia poderia acabar
perfurando algum órgão. Naquele momento nada do que ela sabia sobre Medicina, nenhuma das
cirurgias que ela já havia presenciado pareciam ajudar. O desespero tomava conta do corpo dela.
Foi até a sala de espera onde estavam Tracy, John e Thomas. Ela sentou se ao lado de
Thomas e recostou a cabeça no ombro dele deixando algumas lágrimas caírem. Conversou um
pouco com John e ele esclareceu algumas coisas que ela não sabia, o doutor Fitiz estava cuidando
da irmã dela. Infelizmente o caso era grave, além dessa cirurgia ela teria mais três para fazer. O
médico ainda não havia dado uma previsão de melhora e não sabia se ela um dia acordaria.

— Você precisa ligar para o seu pai — John falou depois de puxá-la para um canto.

— Não, John — ela respondeu brava, o pai não viria.

— Ele é pai dela também, Katherine, ele precisa saber — ele falou.

— Tudo bem, eu ligo, mas antes preciso ligar para a senhora Martínez.

— Nós já a avisamos, Kate. Ela pegará um voo essa tarde. Chegará pela noite — ele
falou.

— Okay. Então vou ligar — ela falou e se afastou um pouco de todos, discou o número do
pai e torceu para que ele atendesse rápido. Algumas lágrimas rolaram pelo seu rosto. Após alguns
toques o pai finalmente atendeu.

— Filha? — Não era o seu pai e sim sua mãe.

— Mamãe, eu preciso falar com o papai. — A voz dela era chorosa e por um momento
falhou.

— O que houve? — A mãe estava preocupada.

— Depois eu te explico, passe para ele por favor. — Ela ouviu a mãe gritar o nome de seu
pai e logo ele atendeu.

— O que houve filhinha? — Ele também estava preocupado. Ela sentiu uma raiva crescente
no peito, precisava culpar alguém por aquilo e culpava justamente o pai.

— Comigo nada, a Madson, pai, ela está morrendo — ela falou chorando ainda mais e um
longo silêncio se estendeu na ligação.

— Como você sabe dela? — ele perguntou e parecia zangado, como se não tivesse ouvido
nada o que ela tinha falado, apenas o nome da irmã.

— Isso importa mesmo agora? Você não ouviu o que eu disse? A Madson está morrendo,
você precisar vir para Stanford, pai — ela falou com um pouco de raiva. — Pelo amor de Deus,
precisa fazer algo.

— Tudo bem filha. — Ela ouviu ele suspirar. — Eu sairei de casa o mais rápido possível.

— Ok — ela falou ainda com raiva e desligou, estava incrédula. Será que o pai era tão
sem coração a ponto de se preocupar mais com ele mesmo do que com a própria filha?!

Kate sentiu braços a envolverem num abraço forte, era Thomas. Chorou como uma
criancinha nos braços dele, ela queria acordar e descobrir que tudo havia sido um pesadelo,
mesmo sabendo que não era.

O que fazer quando a vida de alguém que você ama está por um fio? Kate não sabia, ela
mal conseguia se manter firme, teve que ser sedada para conseguir dormir aquela noite. Quando
acordou no dia seguinte estava em um quarto do hospital, não se lembrava de como havia
chegado ali, começou a andar pelos corredores escuros.

— Eu não quero saber, Gerald, como pode me esconder isso por tanto tempo? — Era a
mãe de Kate falando.

— Eu não achei que você fosse aceitar, eu errei. Desculpe-me. — O pai de Kate falava
desesperado.

Kate continuou andando pelos corredores até chegar na sala de espera, lá viu seus pais
que pareciam brigar, viu a mãe de Madson num canto abraçada com o marido e Thomas
adormecido em um banco, ele ainda estava ali. Ela pensou, por um momento se sentiu segura.

— Filha! — A mãe de Kate falou e correu para abraçá-la. — Você está bem? — Assim
que ela ouviu essa pergunta, todas as dores voltaram, tudo mais intenso, com a mãe por perto ela
sentia-se uma criancinha.

— Mãe, eu não quero perdê-la, eu acabei de conhecê-la. Ela não pode ir. — Começou a
chorar e a mãe a apertou mais em seus braços. — Como ela está? — Gaguejou.

— Ela está na UTI agora. — o pai de Kate falou. — O médico disse que houve
complicações na cirurgia, mas agora o quadro dela já está estável.

— O seu amigo passou a noite toda ali — a mãe de Kate falou apontando para Thomas.

— Eu vou falar com ele — ela disse enxugando as lágrimas.

Caminhou devagar até onde estava Thomas e sentou-se ao lado dele, colocou a mão
suavemente sobre o rosto dele fazendo-o acordar.

— Ei. — Ela deu um sorriso fraco. — Você precisa descansar, eu sei que tem turno essa
noite.

— Eu aguento ficar aqui amor — ele falou e logo depois bocejou.

— Eu vou ficar bem — ela disse.

— Tem certeza? — ele perguntou.

— Tenho, meus pais estão aqui e a mãe da Madson. — Ela pronunciou o nome com tristeza.
— John também deve chegar a qualquer momento.

— Eu vejo você mais tarde — ele falou levantando-se, inclinou-se e beijou a testa dela e
foi embora.

Kate observou os pais de longe, que ainda pareciam discutir. Olhou para o lado e viu a
mãe de Madson, resolveu ir até lá. Imaginou que se ela estava sentindo dor, a mãe da irmã estaria
ainda pior.

— Oi — ela falou e sentou-se ao lado dela.

— Olá, menina. — A senhora Martínez deu um sorriso fraco. — Vem cá. — Ela estendeu os
braços como quem pedia um abraço.

— Eu estou com tanto medo — Kate falou, chorando.

— Eu também, querida, mas tudo vai dar certo. Temos que ser positivas, não? — Ela
apertou ainda mais Kate.

— Eu queria a ter conhecido antes — confessou Kate. — Meu pai não tinha o direito de
escondê-la de mim.

— Ele não fez por mal, ele tinha medo de se afastar de vocês.

— Isso não muda o erro dele — ela falou e as duas ficaram abraças em silêncio. Ela ouviu
passos, então passou as mãos pelos olhos para enxugar as lágrimas e levantou da cadeira. Era
Douglas. — E aí? — ela perguntou esperançosa.

— A cirurgia foi um sucesso, mas ela ainda está em coma, as visitas vão ser liberadas a
partir de amanhã. Vá para casa e descanse, Kate, não vai precisar trabalhar essa semana — ele
falou e deu um sorriso fraco para ela.

— Não vou conseguir, Douglas, ela é a minha irmãzinha. Sinto-me tão mal por ela estar
nesse estado.

— Eu entendo, Kate, ele falou e a puxou para um abraço. Lembra do meu sobrinho? Ele
era como um irmão mais novo para mim também. — Por um momento ela se sentiu culpada por não
o ter ajudado naquele momento. — Essas coisas não escolhem idade ou gênero, simplesmente
acontecem. Vamos torcer para que ela fique bem. Eu farei de tudo para salvar a sua irmã. — Ela
se emocionou ao ouvir aquilo. — Eu sei que é o seu aniversário — ele falou e ela se afastou
surpresa.

— Quem te contou? — ela sussurrou.

— Seu noivo. — Ela sorriu fraco, tirou uma caixinha do bolso e entregou a ela. —
Parabéns Kate.

— Obrigada — ela falou pegando a caixinha. Abriu e lá dentro havia um colar de ouro
com um pingente de estetoscópio. — Eu adorei. — Sorriu fraco.

— Ei, eu vou salvá-la — ele falou assim que viu as lágrimas nos olhos dela. — Vou dar o
meu melhor por ela, pode ter certeza disso. — Por um momento ela se sentiu tranquila.

***
Douglas queria realmente salvar Madson, não só por ela ser irmã de Kate, mas havia outro
motivo desconhecido até por ele. Ele já a havia visto, um dia em que foi deixar Kate em casa, mas
quando ele a viu naquele estado foi diferente, sentiu um vazio dentro dele, uma moça tão linda,
naquele estado. Ficou desesperado quando o coração dela parou em meio a cirurgia e ela quase
morreu.

Voltou para o quarto onde Madson se encontrava e sentou-se em uma cadeira ao lado da
cama dela. Pegou a mão direita dela e envolveu no meio de suas mãos, como havia feito na noite
passada.

— Ei menina, eu acho que consegui acalmar a sua irmã um pouco. Hoje é o aniversário
dela, sabia? Ela sente tanto a sua falta. — Ele deu uma pausa suspirando. — Todos sentem. Espero
que, de onde você está, consiga me escutar. Não sei o que você tem, mas sinto que é especial,
assim como a sua irmã. Quero que saiba que todos esperam a sua volta, queria ter te conhecido
em outro momento. — Ele deixou uma lágrima escapar. Não podia se envolver emocionalmente com
os casos do hospital, mas não tinha como não sentir por aquela família. Pela menina que estava ali
de cama desacordada. — Leve o tempo que precisar para se recuperar, menina, mas tente não
demorar muito, todos sentem a sua falta. Eu virei conversar com você todas as noites e estarei aqui
quando você acordar, mesmo não sabendo quem eu sou. — Ele se inclinou e deu um beijo na testa
dela e depois colocou, gentilmente, a mão dela na cama.

Levantou-se da poltrona e olhou novamente para ela, o belo rosto dela agora tinha um
corte que ia do início da sobrancelha até a bochecha, os braços tinham diversos arranhões e
cortes, as mãos também tinham arranhões e a perna que havia sido quebrada estava envolta em
uma bota de gesso, suspensa no ar.

Olhou o prontuário que estava preso ao pé da cama e depois saiu do quarto, dando
apenas uma última olhada nos batimentos cardíacos antes de ir. Dirigiu-se até a sua sala,
cumprimentando rapidamente a secretaria que estava ao telefone.

— Espere Doutor Fitiz. — A secretaria gritou e ele voltou rapidamente. — Telefonema na


linha 2, é a Abby — ela falou com a mão em cima está parte inferior do telefone.

— Pode transferir. — Ele se apressou em ir até a mesa.

***
— Vocês não podem resolver isso em outro lugar? — gritou com raiva, os pais estavam
discutindo há quase uma hora.

— Não levante a voz para mim, Katherine Snow — Gerald falou. — Eu ainda sou o seu
pai e você me deve respeito.

— Respeito? Como pode me cobrar respeito enquanto uma de suas filhas está em coma e
você só se importa com a porcaria da sua vida. Deveria respeitá-la e pelo menos fingir sofrimento
— Kate falou num tom mais baixo agora, mas que ainda estava acima do tom com qual falava
normalmente.

— Filha, seu pai... — A mãe de Kate tentou falar, mas ela a interrompeu.

— E você? Esta aí causando maior alvoroço enquanto deveria estar ali ajudando a mãe da
minha irmã, qualquer porcaria de discussão que vocês tiverem, deixem para continuar no hotel. —
A mãe de Kate arregalou os olhos com a atitude da filha, nunca tinha visto ela assim.
— Filha, sua mãe não tem culpa, não desconte nela. — O pai falou com mais calma dessa
vez. — Eu sei que errei quando a escondi de vocês, mas estou sofrendo tanto quanto você, posso
não reagir do mesmo modo, mas ela é minha filha, não quero que nada de mal aconteça a ela —
ele disse um pouco baixo e Kate o abraçou. — Vai dar tudo certo, princesinha. Estaremos todos
juntos. — Kate apenas concordou com a cabeça e eles foram até o canto onde estava a mãe de
Madson.

— Gerald — a mãe de Madson falou com os olhos cheios de lágrimas. — Não sei se você
se lembra do Dean. — Os dois apertaram as mãos.

— Lembro sim. Como você está Melissa? — ele perguntou.

— Eu não posso perder a minha menininha, Gerald — ela falou e as lágrimas aumentaram.
— Estou tentando ser forte, mas não tem como.

— Você não vai perdê-la, querida. — Foi a vez da mãe da Kate falar em seguida
abraçar a mãe da Madson. — Venha, vamos até o saguão procurar uma lanchonete e tomar um
chá para se acalmar. — As duas saíram juntas. Nesse momento Kate sentiu orgulho da mãe, essa
sim era a mãe dela e não aquela que estava brigando com o pai e pensando apenas em si
mesma.

— Dean, como vai? — ela perguntou e se sentou ao lado dele.

— Oh, menina, é tão difícil ver Melissa sofrendo e Madson nessa situação, nunca achei que
teria que passar por isso. Ela é como uma filha para mim, eu estou tentando ser forte pela Melissa,
mas às vezes é difícil.

— Eu entendo, Dean, mas eu conheço o Doutor Fitiz e sei que ele vai cuidar de Madson
como se fosse da família dele. Vamos apenas confiar e tudo vai dar certo — ela falou e segurou
as mãos dele.

— Deus te ouça, menina, Madson é um anjo de pessoa, tenho certeza de que ela vai voltar
para nós. — Ele sorriu fraco.

Passaram o resto da manhã e parte da tarde ali, até que Douglas os convenceu que seria
melhor ir para casa e descansar. Os pais de Kate resolveram que ficariam no hotel ao lado do
hospital e Kate pediu para que Melissa e Dean ficarem em sua casa, ofereceu a eles o quarto de
Madson. Logo depois de se acomodarem, John chegou e ficou ali com a amiga. Tracy estava na
faculdade e não pode ir junto, mas só a presença dele já acalmava um pouco ela.
— Eu sinto muito — ela falou em relação ao amigo dele.

— Eu também — ele assentiu.

— Eu sei que está sofrendo John, pode se abrir comigo — ela disse dando um abraço
apertado no amigo.

— Eu conhecia ele a poucos meses — John falou, Kate pode ouvir a tristeza em sua voz. —
Ele era uma boa pessoa.

— Eu tenho certeza disso — ela disse e os dois ficaram em silêncio por um bom tempo.

Kate ligou para Thomas no final do dia, eles passaram horas conversando e ele só não foi
a casa dela por que teria que ficar de plantão naquela noite.

***
O turno de trabalho de Douglas, estava prestes a acabar e depois de olhar como a
senhora Anderson estava, uma senhora de idade que havia feito uma cirurgia para retirada do
apêndice, ele resolveu passar novamente no quarto de Madson e olhar se ela havia apresentado
alguma melhora. Ele andou devagar pelos corredores e entrou no quarto em silêncio, não que isso
fizesse alguma diferença naquele momento, pois se barulho a acordasse com certeza ele faria
muito.

Sentou-se novamente na cadeira ao lado da cama e pegou a sua mão. Ficou em silêncio
por alguns momentos apenas a observando, fora o corte em sua face tudo parecia normal, era
como se ela tivesse apenas dormindo. já tinha visto diversas pessoas no mesmo estado em que ela
se encontrava, mas nunca havia sentido o que estava experimentando naquele momento.

— Ei, menina, aqui estou eu de novo. Não te disse que voltaria a noite?! Eu vou precisar ir
embora daqui a pouco, mas amanhã cedo eu volto para conversar mais com você. Sabe, foi difícil
convencer os seus familiares a irem descansar, eles são muito teimosos, mas tive uma pequena
ajudinha da sua irmã. Ela os convenceu de que eu cuidaria muito bem de você e é isso que vou
fazer — ele suspirou e encarou o rosto dela. — Quando eu for embora um outro médico tomará
conta de você e acho que você já o conhece muito bem, Thomas, o seu cunhado. Ele é um ótimo
médico, claro que eu nunca direi isso a ele, mas reconheço que ele é. Espero que você fique bem,
lute com todas as suas forças para voltar. — Ele deu um beijo na testa dela. — Até amanhã.

Ele se levantou e percebeu alguém o olhando na porta.


— Você ouviu? — ele perguntou a Thomas.

— Tudinho. — Thomas abriu um sorriso. — Obrigado pelo elogio.

— Nunca irá ouvir isso novamente, sabe disso, não sabe?! — Ele sorriu.

— Sei. Já é o suficiente. Você gosta dela? — Thomas perguntou andando até perto do
aparelho que media os batimentos cardíacos.

— Não sei, mas vê-la nesse estado realmente mexeu comigo.

— Ela é uma pessoa maravilhosa — Thomas falou sorrindo. — E sei que ela adoraria
acordar e continuar tendo você por perto.

Thomas falou e Douglas ficou sem graça por um tempo, depois de mais algumas palavras,
Douglas foi embora, entrou em seu carro já pensando em voltar para lá. Queria dar o melhor de si
para não perder Madson, como perdeu o sobrinho.
Madson
Eu nasci bem longe dos Estados Unidos, sou de Madrid. Toda a minha família por parte de
mãe é de lá. Minha mãe, Melissa, tinha apenas 18 anos quando ficou grávida, no meio de uma
viagem de férias com algumas primas. Ela sempre fez questão de deixar bem claro como tudo
aconteceu. Ela conheceu meu pai, Gerald Snow, no meio de um show, eles começaram a sair e
acabou que aconteceu. Logo depois ela teve que voltar para a Espanha, continuou mantendo
contato com ele por telefone e cartas. Quando ela descobriu que estava grávida ficou
desesperada, sabia que ele não acreditaria que o filho era dele.

Quando eu finalmente, nasci a minha mãe fez questão de mandar uma carta para ele com
uma foto minha, com certeza deve ter sido uma supresa para ele por que sou a cópia fiel do meu
pai. Ele logo deu um jeito de nos levar para os Estados Unidos e prometeu para a minha mãe que
ficaria com ela e por alguns meses ficou, mas ele sempre sumia e foi aí que a minha mãe descobriu
que ele era casado e tinha uma filha pouco mais velha do que eu. Nessa época ela resolveu
romper toda e qualquer ligação que tinha com ele, mas nunca o proibiu de ir me ver.

Eu cresci com um pai ausente, aos 5 anos de idade eu já havia me conformado com isso, ele
sempre me ligava e sempre que ia me ver, levava presentes. Eu sei o quanto foi difícil para a
minha mãe criar uma filha praticamente sozinha, mas ela não quis voltar para a Espanha, não
queria ser o motivo de desgosto da família e queria mostrar que poderia ser independente.
Quando eu completei 10 anos a minha mãe casou-se novamente, com um homem chamado Dean,
para a nossa sorte, ele sempre foi muito legal, com nós duas, e passou a me criar como um pai
também. Confesso que eu não gostava dele no início, ainda tinha esperanças do meu pai resolver
morar conosco.

Os anos foram passando e fui crescendo, graças a Deus sempre tive boas influências ao
meu redor. Dean e a minha mãe que faziam de tudo para me educar e meu pai que mesmo sendo
ausente também era um exemplo para mim. Quando completei 18 anos decidi que faculdade iria
fazer, optei pela faculdade do Arizona justamente por que era a que o meu namorado havia
escolhido, mas não consegui créditos suficientes para passar. Esperei mais um ano para tentar
novamente, antes de receber o resultado, quando completei 20 anos eu recebi mensagens de uma
mulher da minha idade no facebook. Estranhei no começo por ela ter o mesmo sobrenome do meu
pai e estava certa. Ela me contou toda a história sobre sermos irmãs e tudo que havia passado, até
mesmo como tinha me encontrado. Resolvi então que iria tentar passar na mesma faculdade que
ela e nunca me dediquei tanto a algo como a isso.
Minha mãe no começo não concordava com essa aproximação de nós duas, mas acabou
cedendo e deixou-me ir viver com ela. No dia que minha meio irmã foi me buscar no aeroporto
conheci Tracy, Thomas, John, além de claro Kate, a minha irmã. Eu estava extremamente feliz, os
dias que passamos juntas foram legais, comecei a faculdade de Psicologia e arrumei mais alguns
amigos. Primeiramente eu havia me interessado por Thomas e como não se interessar? Era era lindo
e atencioso. Depois eu conheci o chefe da minha irmã, que eu achei que tinha um caso com ela,
mas que depois ela me esclareceu tudo. De cara eu me senti atraída pelo chefe dela, mas não era
comum, não era apenas a atração física, quando eu olhei nos olhos dele me perdi, parecia que
mais nada existia ao meu redor e um sentimento como esse não havia existido nem mesmo com o
meu ex.

Ajudamos John a reconquistar o amor da vida dele, compartilhamos momentos de felicidade


e de tristeza. Foi ali que percebi o quanto todos a minha volta eram importantes na minha vida.
John era como um irmão mais velho super protetor, Tracy era como aquela melhor amiga que
estava pronta para te ajudar a todo o momento, Thomas era como um pai em tempo integral e
como um cunhado que faria tudo para proteger a todos e Kate, bem além de ser a melhor irmã
que eu poderia pedir a Deus, ela também era uma amiga para todas as horas, sempre disposta a
fazer tudo pelos outros, deveria ser por isso que ela e Thomas se davam tão bem.

No dia em que estávamos planejando o jantar de John, Thomas me falou que queria pedi-
la em casamento, mas depois da morte da mãe de John não havia clima para festa alguma. Os
meses foram se passando e todos estavam cada vez mais unidos, foi em um almoço na casa de
Kate que ele me falou que colocaria o plano em prática. Ajudei-o com tudo que era necessário e
no final marcamos o dia da supresa e tudo mais.

Eles viajaram e eu resolvi aceitar o pedido para sair com um amigo de John, Alex. Ele
queria ir de moto, mas eu não gostava muito da ideia, desde pequena tinha muito medo de motos.
Resolvi arriscar, a noite foi simplesmente maravilhosa, fomos para uma boate bem distante de
Stanford que era do seu pai e passamos quase à noite toda ali, no meio da noite recebi uma
mensagem de Thomas avisando que ela aceitou. Depois disso eu e Alex resolvemos comemorar,
fomos beber um pouco, mas não passamos de dois drinks e o resto da noite dançamos. Ele era um
cara encantador e tínhamos muito em comum.

Estávamos voltando pela estrada quando dois faróis surgiram do nada e depois disso tudo
ficou escuro. O escuro continuou por muito tempo, não sei dizer exatamente quanto. Eu tentava
falar, ou me mover e não conseguia, um desespero cresceu dentro de mim, será que morri e fiquei
presa num tipo de purgatório? Eu não entendo, nunca fiz nenhuma maldade, claro que já menti
para os meus pais, sai escondida, bebi e fiz outras coisas. Ai meu Deus, eu sou uma pecadora e
estou pagando.

Mesmo não conseguindo ver nada eu conseguia ouvir vozes, nenhuma delas conhecida.

— Levem-a para a sala de cirurgia.

— Ela está perdendo muito sangue.

— Chamem o doutor rápido.

Eu não estava morta, estava morrendo. Preciso viver, eu estava na parte mais feliz da
minha vida não posso morrer agora.

— Você vai ficar bem. — Alguma outra voz sussurrou no meu ouvido.

Depois disso ouvi várias vozes misturadas, pareciam estar desesperados, foi aí que eu me
dei conta de que meu caso não era nada bom. Tentei novamente abrir meus olhos, tentei me mexer,
mas nada aconteceu. O desespero tomou conta de mim, ouvi os "bipes" ficarem mais rápidos e logo
se tornarem um som continuo, então realmente chegou a minha hora. Acalmei-me e só esperei
deixar de escutar as vozes, mas isso não aconteceu.

— Um, dois, três. Afasta. — Alguém gritou e senti algo me puxar. — Reage, menina.
Aumentem a voltagem. Um, dois, três. Afasta. — Senti novamente um puxão ainda mais forte e ouvi
os bipes voltarem.

Não sei quanto tempo se passou depois disso, apenas ouvi cochichos e alguém mandando
me levarem para a UTI. Tudo ficou silencioso, mas o escuro continuava.

— Você precisa acordar. — Ouvi uma voz baixa e senti algo na minha mão, era como um
toque suave. — Têm pessoas lá fora que realmente se importam com você e eles estão muito mal.
— A voz erra um sussurro em minha mente.

Eu preciso voltar, eu vou voltar.

***

Todos os dias escutava a voz dele e era aquilo que me fazia ser forte, pois eu queria
desistir. Muitas pessoas entravam em meu quarto e conversavam comigo, mesmo sem saber se eu os
ouvia. Minha mãe chorava sempre que conversava comigo, implorando para que eu voltasse,
queria que fosse fácil assim. Eu tinha vontade de acolhê-la em meus braços e falar que tudo vai
ficar bem, mas não conseguia.

Eu esperava ansiosamente o momento em que ele viria falar comigo novamente, não sei
quantos dias fazem, mas sei que ele nunca deixou de vir me ver. Todas as declarações e todas as
palavras estavam gravadas em minha mente. Eu queria ter a certeza de acordar e lembrar de
tudo o que ouvi, mas ao invés disso eu tinha a certeza de que, se eu acordasse, eu não lembraria
de nada.

Kate vem conversar comigo sempre também, mas em horário diferente do dele. Apenas um
dia os dois vieram juntos e nesse dia quando senti o toque da minha irmã e ouvi ela chorar eu senti
uma vontade imensa de acalmá-lá, queria poder segurar a sua mão e passar-lhe força. Queria
tanto que consegui mexer alguns dedos da mão, ouvi os múrmuros de alegria dos dois, fiquei feliz
e tentei fazer de novo, mas não importava o quanto eu quisesse eu não conseguia.

Houve um dia em que quase desisti de viver, de lutar para voltar, ouvi os bipes diminuírem,
mas antes que desistisse de vez ouvi aquela voz novamente, a voz que me fazia ter vontade de
continuar a viver e essa voz me disse para lutar. E é o que eu tenho feito.

Aqui estou eu, esperando ansiosamente pelo momento no qual alguém virá falar comigo,
geralmente vem a minha mãe primeiro, a Kate depois, às vezes com o Thomas e por último o
Douglas. John vem falar comigo várias vezes, mas não tantas quanto os outros. Quando Thomas
não vem com Kate, vem sozinho e conversa comigo por alguns minutos, enquanto avalia meu
estado. Não sei bem se posso chamar isso de conversa na verdade, está mais para desabafos,
queria poder responder a cada um deles.

Algo me dizia que hoje seria diferente, só não entendia o motivo e também não sabia se
esse diferente era bom ou ruim. Ouvi passos se aproximando e senti uma pontada de esperança,
não parecia ser apenas uma pessoa. Ouvi a porta do quarto e os passos aumentarem.

— Ainda tem esperanças de que ela acorde? — Uma voz masculina perguntou.

— Não muitas, ela bateu feio com a cabeça quando foi arremessada da moto, já é um
milagre estar viva — outra voz masculina desconhecida falou.

— Será que a família dela tem esperanças?

— Acho que poucas, já faz quase dois meses que ela está nesse estado — o homem falou
e ouvi um barulho de algum tipo de máquina.

— Eu não acho que ela vá acordar.

— Sinceramente, eu também não. Agora vamos chegar a senhora Anderson. — Eu ouvi os


passos irem diminuindo, a porta bater e me desesperei.

Eu não vou viver? Como assim? Eu preciso viver, estou na melhor parte da minha vida, eu
não vou morrer. Não vou morrer. Acorda Madson.

Acorda Madson.

ACORDA!

Gritei para mim mesma na minha mente e de repente eu vi um clarão, a minha cabeça
latejou ferozmente. Tudo estava branco agora e eu já não ouvia mais nada. Aos poucos os sons
dos bipes foram voltando e a luz se estabilizando eu estava olhando para um teto azul bebê com
algumas lâmpadas espalhadas.

Eu... Eu acordei — gritei.

Tentei mexer os braços, mexer o corpo e nada doía. Olhei para o meu braço, eu estava
mexendo ele, levantei devagar da cama e olhei em volta do quarto, olhei para cama que eu
esperava ver vazia, mas ela não estava, eu estava lá. Só que também estava aqui. Toquei meu
corpo e tudo estava sólido. Toquei o corpo na cama e estava mais sólido ainda, em meu rosto tinha
um arranhão enorme. O resto do corpo parecia em perfeito estado, fora uma das pernas que tinha
uma bota de gesso. Olhei para a minha perna e nela não tinha a bota.

Voltei a olhar para o resto do quarto era tudo tão branco e azul. Dei alguns passos
vacilantes até a porta e a toquei, era sólida também. Tudo bem, agora eu sei que fantasmas não
atravessam paredes. Empurrei a porta e ela se abriu dei alguns passos pelo corredor branco e
cheguei a uma sala bem iluminada, haviam várias pessoas em cadeiras algumas em pé, procurei
por um rosto conhecido e não achei. Meus olhos ardiam, fazia tanto tempo que eu não via nada,
segundo um daqueles médicos, fazia quase dois meses.

— Eu acho que ela adoraria essas flores. — Ouvi a voz da minha mãe e procurei pela
sala. Encontrei-a ao lado de Kate caminhando em direção ao corredor.

— Eu queria que ela pudesse vê-las — Kate falou, as duas caminhavam em passos rápidos
até o meu quarto, eu as segui e passei rapidamente pela porta antes que Kate pudesse fechá-la.
— Olá, filha, eu voltei para te ver e trouxe tulipas. Eu sei que são as suas flores preferidas
— minha mãe falou sentando em uma cadeira que estava do lado da cama, tocou em minha mão,
ou melhor na mão do corpo que estava na cama e eu pude sentir seu toque, era incrível. — Sabe,
eu venho aqui todos os dias te ver na esperança de que você tenha acordado. Oh, minha menina.
Eu sinto tanto sua falta — ela falou e eu senti algumas lágrimas escorrerem pelo meu rosto. —
Filha, eu não posso te perder, preciso que você lute para voltar à vida e... — ela não deu conta de
terminar de falar e desabou no choro, Kate se abaixou e a abraçou.

Juntei-me a elas no abraço, mesmo que elas não pudessem sentir. Soltei-as assim que ouvi a
porta bater. Olhei para lá e vi Thomas e Douglas, ele era mais bonito do que eu lembrava. Fiquei
observando os dois, Thomas tinha em suas mãos algumas rosas, ele as depositou em uma mesinha
próxima a cama. Douglas se aproximou da cama e deu um sorriso fraco para a minha mãe,
observei ele apenas ficar me olhando. Thomas abraçou Kate e esta desabou no choro.

Senti-me culpada, todos ali estavam sofrendo por minha causa e eu não conseguia voltar,
mesmo querendo muito. A porta se abriu novamente e eu vi meu pai entrar no quarto. O que era
aquilo? Eles pareciam estar se despedindo de mim. Ele se aproximou da cama e pegou em minha
mão, nunca havia visto ele tão abatido.

— Gente, eu estou aqui! Eu não vou embora — falei quase chorando, mas ninguém me
ouviu, claro.

Vi meu pai se afastar e ir até a minha mãe e a abraçar, nunca mais havia visto os dois tão
próximos. Eu estava perdendo tantas coisas. Douglas se aproximou e se abaixou perto da cama,
colocou a minha mão esquerda ente as suas duas e sussurrou:

— Minha pequena, se você pudesse ver o quanto todos sentem a sua falta eu tenho
certeza de que voltaria, precisamos de você, Mad. Eu preciso de você, eu sei que você é forte o
suficiente para voltar, lute por nós, por você. — Ele me deu um beijo na bochecha, senti o toque de
seus lábios como se estivesse acordada. Levei meus dedos até onde ele havia beijado.

Uma luz forte invadiu o quarto, mas eu não ouvi nenhum deles reclamar ou sair do lugar,
nem mesmo forçar os olhos em desconforto. Coloquei uma mão ao lado dos olhos e forcei-me olhar
para a luz, caminhei um pouco em sua direção e ouvi o aparelho dos batimentos aumentar os
bipes, continuei caminhando até a luz e ouvi o bip se tornar um som único. Virei-me para olhar as
pessoas que choravam sem parar, Douglas parecia nervoso e tentava me reanimar com as duas
mãos, enquanto papai corria desesperado para fora do quarto gritando por socorro.
Aquela luz me chamava e eu precisava entrar lá. Vire-me novamente para trás e ao ver o
sofrimento de todos ali decidi que não poderia ir para luz, não agora. Corri na direção contrária
da luz e me joguei sobre o corpo na cama. Os bipes voltaram ao normal, mas tudo estava escuro
novamente, forcei-me a abrir os olhos. No início ardeu um pouco, depois fui me acostumando com
as luzes e reconhecendo alguns rostos a minha volta. Olhei assustada para todos que olharam
assustados para mim, um enorme sorriso crescia no rosto da minha mãe.

— Mãe — chamei-a com voz fraca.

— Você voltou para mim. — Ouvi a voz dela é várias lágrimas escorreram pelo meu rosto.
Quanto tempo eu havia sumido?
Capítulo Vinte e Dois
Um mês e 15 dias depois.

Todas as noites Douglas visitava Madson, a cada dia se encantava mais por ela, o difícil
era saber que quando ela acordasse nem saberia sobre os sentimentos dele, mesmo fazendo
questão de lembrá-la todas as noites que a estava esperando. Douglas lembrava da manhã da
semana anterior quando ele e Kate estavam com ela no quarto e ela mexeu a mão. Todas as
esperanças que estavam se esvaindo, voltaram naquele momento. A felicidade nos olhos de Kate
era imensa. Ali estava ele novamente, observando Madson. A cicatriz em seu rosto havia diminuído
bastante, quase não dava mais para notar. Isso, graças a alguns procedimentos médicos que Kate
havia autorizado. Mais algumas seções e já não haveria sinal de cicatriz nenhuma em seu rosto.

— Olá, princesa, voltei. Como faço todas as noites. — Ele sorriu e passou a mão no rosto
dela. — Sua mãe ainda está na cidade, mas o seu padrasto teve que voltar devido ao trabalho
dele. Todos estamos tão ansiosos para que você acorde e acho que não vai demorar para que
isso aconteça. Estarei te esperando quando acordar. — Ele beijou a testa dela. — Até amanhã.

Ele saiu do quarto com lágrimas nos olhos, viria vê-la todas as noites durante 10 anos se
preciso, mas esperaria por ela. Andou até a sua sala em silêncio e ao entrar foi surpreendido por
Abby.

— O que você aprontou dessa vez? — ele perguntou andando para a sua mesa e ela o
seguiu.

— Nada, eu juro, maninho! — Ela beijou os dedos cruzados.

— E o que está fazendo aqui a essa hora? — Ele levantou uma sobrancelha.

— Talvez eu tenha sido expulsa do internato — ela falou encolhendo os ombros.

— Como assim, Abby Fitiz? — ele perguntou bravo e se jogou na cadeira de sua mesa.

— Aquelas freiras não tem senso de humor, Doug — ela falou fazendo cara feia.

— Você não vai tomar jeito nunca, Abby, já está com 15 anos, tem que aprender a ser mais
responsável.

— Maninho, eu só fiz uma festinha de nada no meu quarto — ela falou com voz manhosa.
— Que acabou pegando fogo e quase queimando a escola toda, mas foi só uma festinha.

— O que eu vou fazer com você mocinha? — ele perguntou retoricamente.

— Deixar que eu fique com você, prometo não tocar fogo na casa. — Ela abriu um sorriso
enorme.

— A mamãe sabe disso?

— Sim, mas o papai está no Brasil e não sabe. Você pode me ajudar? — Ela juntou as
mãos e ficou de joelhos no chão.

— Levanta daí, pirralha. Eu vou ajudar, mas vou te colocar em outro colégio. — Ele cruzou
os braços. — E se você aprontar vai ter que ir morar com o papai.

— Eu serei a melhor irmã do mundo, eu juro. — Ela deu a volta na mesa e o abraçou. —
Agora me conte.

— O que?

— Aquela moça lá na UTI, é sua namorada? — ela perguntou com um tom triste.

— Vai ser! — ele falou com toda a certeza que tinha.

— Convencido. — Ela deu língua para ele.

— Eu farei de tudo para conquistá-la.— Ele sorriu. Nesse momento Kate estava saindo da
sua sala, olhou para Abby confusa.

— Olá? — Ela gostou e direcionou um sorriso para Abby.

— Oi — Abby respondeu tímida.

— Kate, essa é a minha irmã caçula, Abby. E Abby essa é a minha secretária e irmã da
moça que você viu.

— Sabia que o meu irmão vai namorar a sua irmã?

— Abby! — ele a repreendeu.

— Mas é verdade.

— Espero que sim — Kate falou e sorriu para eles. — Eu tenho que ir, você se importa
Doutor?
— Claro que não, Kate, seu turno já terminou faz tempo. — Ele sorriu para ela. — Pode ir.

— Obrigada.

Kate saiu da sala rapidamente e logo Abby já estava com um sorriso enorme no rosto.

— O que? — ele perguntou ao ver a expressão da irmã.

— Que família, hein! Ela também é uma gata — falou batendo palmas. — Será que ela
não tem nenhum irmão mais novo?

— Você só vai namorar aos 20! — ele falou.

— Vai sonhando — ela falou e se jogou num pequeno sofá que tinha no canto da sala.

— Folgada. Só tenho que terminar mais algumas coisas e vamos para casa, ok?

— Ok.

— Onde estão suas malas, Abby? — ele perguntou ao perceber que sua sala estava
vazia.

— No seu carro — ela falou estendendo a chave para ele.

— Como você conseguiu isso? — ele perguntou confuso.

— Deveria trancar a sua sala, viu?

— Vou me lembrar disso.

***
— Amanhã, depois da faculdade eu volto para ver como você está Mad — Kate falou,
despedindo-se da irmã e dando um beijo em sua mão.

O celular de Kate apitou e a tela se acendeu. UMA NOVA MENSAGEM.

"Amor, estou te esperando no saguão."

Era Thomas, hoje seria o dia em que ela finalmente o apresentaria como seu noivo para os
seus pais. Ela tinha adiado esse momento por muito tempo, mas seus pais estavam desconfiados de
toda a proximidade dos dois. Estava um pouco nervosa, tinha medo da reação dos pais, não
queria fazer Thomas passar por aquilo.
Seguiu pelos corredores até o elevador, apertou o botão e esperou, depois de quase um
minuto o elevador abriu as portas. Apertou o botão do térreo e esperou impacientemente o
elevador fazer o caminho lento ao seu destino. Estava nervosa e como não ficar? Nesses últimos
meses a sua vida havia dado várias voltas, parecia mais uma roda gigante do que uma vida,
quando tudo estava bem, logo surgia algo para atrapalhar e tudo ficava mal.

As portas do elevador se abriram e logo ela avistou Thomas, ele estava lindo,
exageradamente lindo.

— Se eu soubesse que você iria se arrumar tanto, teria caprichado mais — ela falou
andando em direção a ele, o analisou novamente, Thomas estava usando um calça jeans escura
com uma blusa azul marinho e por cima uma jaqueta marrom. O que ela mais adorava era aquela
aliança reluzindo em sua mão. Sorriu e caminhou para ele.

— Você fala como se estivesse horrível — ele respondeu e deu um beijo na testa dela
assim que chegou perto o suficiente. — Como você está? — ele perguntou passando o braço em
volta da cintura de Kate.

— Não muito bem — ela respondeu pensando na irmã, queria que ela estivesse nesse
jantar.

— Vai dar tudo certo — ele disse abraçando e a puxou para um beijo. — Pronta?

— Eu que deveria te perguntar isso. Você vai enfrentar a fúria do senhor Snow. — Ela fez
uma careta.

— Por você eu enfrento tudo — ele disse e a puxou para outro beijo.

— Eu te amo. — Ela sorriu para ele.

— Eu te amo — ele sussurrou para ela, abriu a porta do carro para Kate e depois que ela
entrou foi até o outro lado.

O restaurante que os pais dela haviam escolhido era aconchegante, um dos preferidos da
mãe de Kate nos arredores de Stanford. Era perto do hospital e por isso eles não levaram muito
mais que 5 minutos para chegar. Kate não havia dito aos pais o motivo daquele jantar, apenas
tinha dito que queria apresentar alguém a eles. Sua mãe insistiu por um bom tempo para que ela
dissesse o nome da pessoa, mas Kate se manteve inflexível.

— Chegamos — Thomas falou e suspirou, Kate percebeu que ele também estava nervoso.
Colocou a mão sobre a mão dele que estava no volante.

— Nada que eles disserem me fará mudar de ideia. — Ela sorriu.

— Eu sei amor. — Ele devolveu um sorriso nervoso para ela.

Desceram do carro e caminharam de mãos dadas até a entrada do restaurante. Na


recepção um garçom os acompanhou até a mesa onde estavam os pais de Kate, os dois olharam
confusos para a filha.

— Mãe, pai. Eu quero apresentar o meu noivo. — Kate foi direta. O pai que bebia um
pouco de vinho engasgou na hora e a mãe a olhou pasma.

Eles sentaram-se na mesa, enquanto a mãe de Kate tentava ajudar o marido que tossia
ainda com o susto. Kate abaixou a cabeça e sorriu, tinha adorado a cara do pai.

— Como assim noivo, filha? — a mãe perguntou.

— Noivo, mãe, do único modo que pode ser, ué — ela falou um pouco sem paciência.

— Thomas, certo? — A mãe perguntou.

— Sim, senhora — ele respondeu nervoso.

— Prazer, sou Grace Snow. — Ela estendeu a mão para ele, que deu uma pequeno beijo.

— Meu rapaz. — O pai de Kate falou. — Quantos anos você tem?

— Trinta e nove — Thomas falou numa voz pouco baixa.

— Katherine, você perdeu a cabeça de vez, ele tem idade para ser seu pai — o pai de
Kate falou alto, ignorando totalmente o ambiente em que eles estavam e o resto das pessoas.

— Mas não é — ela respondeu rapidamente. — Já tenho idade suficiente para fazer as
minhas escolhas. Marquei esse jantar porque não queria mais esconder de vocês isso e eu já tomei
a minha decisão, não importa o que vocês acham disso — Kate nunca havia falado daquele modo
com os pais, certamente agora o pai de Kate se perguntava onde estava a menininha doce dele.

— Filha, se você está realmente feliz, vou te apoiar, sabe disso, não é? — Grace falou
pegando a mão de Kate e envolvendo entre as suas.

— Grace — o pai de Kate a repreendeu.


— Gerald, a nossa menina está feliz e você deveria agradecer ao Thomas por estar
cuidando da sua filha que está internada. — Kate estremeceu com a menção que a mãe fez da
irmã.

— Você devia ter nos contado antes, Katherine — Gerald falou num tom ríspido, ignorando
totalmente a Grace.

— Não me fale de segredos, papai, não fui eu quem escondi um por 21 anos. — Ela
despejou. — Não pode apenas fingir que está feliz por mim?

— Filha, eu estou feliz por você. Só que a alguns minutos eu não sabia que você tinha
namorado e agora está noiva? Isso tudo é muito estranho. — Thomas escutava tudo em silêncio,
parecia constrangido.

Kate segurou a mão dele por baixo da mesa e falou.

— Que tal pararmos com essa discussão e pedirmos o jantar? — Kate falou, talvez o jantar
não havia sido uma boa ideia.

— Nós já pedimos querida — Grace falou e sorriu docemente.

— Aceita vinho Thomas? — Gerald perguntou.

— Eu não bebo, senhor — ele falou e sorriu.

— Ótimo, não me chame de senhor, afinal temos quase a mesma idade. — Kate lançou um
olhar de desaprovação para o pai ao perceber a ironia em sua voz.

— Então, filha, há quanto tempo se conhecem? — Grace perguntou, tentando cortar o clima
chato.

— Conheci ele no meu primeiro dia de aula mãe, nessa época ele dava aulas em Stanford
— Kate falou.

— Faz um tempo já, queria ter participado mais da sua vida nesses últimos meses filha.
Sinto muito. — Grace apertou a mão da filha por cima da mesa.

— Tudo bem, mãe. — Kate sorriu.

Todos se envolveram em uma conversa animada, o pai de Kate continuou implicando com
Thomas por algum tempo e depois, como se tivesse se rendido, começou a tratá-lo bem. O pedido
não demorou muito a chegar e como sempre o pai de Kate fez uma boa escolha. O jantar seguiu
normal, depois de pagar a conta, Grace resolveu falar do casamento, animada.

— Filha, vocês já tem uma data para o casamento? — ela perguntou.

— Ainda não, mãe.

— Como não? Vocês terão que olhar tantas coisas, tem que pensar nisso — ela falou ainda
mais animada.

— Quando decidirmos você será a primeira a saber — Kate falou tentando parar a
euforia da mãe, ela amava casamentos, no dia do casamento da prima de Kate, ela havia ficado
louca com a organizando querendo deixar tudo perfeito.

— Tudo bem, filha.

— Acho que já está na hora de irmos. Amanhã cedo o Thomas trabalha e eu tenho aula.

— Eu vejo você no hospital, Thomas — Gerald falou e estendeu a mão, Thomas apertou
com segurança.

— Até amanhã então — respondeu.

Kate e Thomas levantaram da mesa e seguiram juntos até o estacionamento do restaurante.


Ele abriu a porta para ela entrar como sempre fazia e logo em seguida entrou.

— Sobrevivemos! — Kate falou enquanto colocava o cinto.

— Seu pai parecia querer me matar — Thomas falou ligando o carro.

— Acho que ele gostou de você. — Ela sorriu para tranquilizá-lo.

— Eu já não tenho tanta certeza em amor. — Ele fez uma careta.

Depois que Thomas deixou Kate em casa, ela passou alguns minutos conversando com a
mãe da Madson, as duas combinaram de ir juntas ao hospital visitá-la.

***

Kate estava nervosa, sentia que alguma coisa muito importante iria acontecer, mas o que
seria? Ainda faltavam 30 minutos de aula e ela não tinha conseguido se concentrar hora nenhuma,
o professor falava, falava, falava e ela não entendia nada do que saia da boca dele. A turma
que havia começado com pouco mais de 50 alunos agora não tinha nem 40.
A jovem tinha combinado com a Melissa de ir almoçar perto do hospital e depois irem juntas
visitar Mad. Elas quase não tinham tempo para conversar, mesmo Melissa estando na casa de Kate.
Geralmente Kate saia cedo para a faculdade, almoçava fora e de tarde até a noite estava no
hospital. Todos os dias ficava até depois do horário para poder dar uma última olhada na irmã, a
esperança ainda não havia ido embora.

O professor liberou os alunos 15 minutos mais cedo, Kate pegou celular e andou
rapidamente pela faculdade digitando uma mensagem para Melissa. Depois outra para Thomas e
por fim uma para o seu pai. Ela tinha esperança de que todas as pessoas perto da irmã,
passassem uma energia positiva para ela e a fizesse voltar. Enquanto digitava uma mensagem
para John ela bateu com alguém e caiu de bunda no chão, o celular foi parar um pouco longe e a
bolsa de esparramou com os cadernos espalhados. Olhou para a pessoa a sua frente e viu que
era um homem moreno, que parecia ter um pouco mais de 20 anos. Ele também estava caído. Ela
levantou-se rapidamente procurando pelo celular, pegou-o no chão e quando virou viu que tinha
rachado a tela.

— Merda! — falou baixo.

— Moça, desculpe-me — o homem falou.

— Tudo bem, depois eu troco a tela — Kate respondeu se abaixando para apanhar os
cadernos.

— Deixa que eu te ajudo — ele falou se baixando e a ajudando.

— Obrigado. — Ela sorriu para ele.

— Deixe eu pagar pelo conserto do seu celular — ele insistiu.

— Não precisa, eu dou um jeito nisso depois — ela respondeu sem graça.

— Meu celular é igual o teu, eu sei o quanto é caro para consertar — ele falou
estendendo um iPhone prata. — Aqui está meu número. — Ele entregou um papel para ela. — Eu
sou Brad.

— Eu sou Kate. — Ela apertou a mão dele.

— Começamos com um pé esquerdo. — Ele sorriu sem graça.

— Tudo bem, eu que estava meio distraída. — Ela tentou tranquilizá-lo. — Eu tenho que ir.
Foi um prazer te conhecer, Brad.
— O prazer foi todo meu — ela falou e acenou para ela.

Kate analisou um pouco mais o celular, dava para conviver com aquele quebrado, juntou as
coisas que haviam se espalhado no chão e voltou a digitar a mensagem para John e logo terminou
de enviar. Chegou ao estacionamento e desativou o alarme do carro, o que fez um barulho
estridente. Entrou rapidamente e seguiu para o restaurante que a mãe de Madson estava. Era um
restaurante vegetariano, a mãe de Madson não comia qualquer tipo de carne de animal, nem
mesmo peixe.

Da porta do restaurante pode ver Melissa sentada em uma mesa próxima a uma janela,
logo caminhou até lá e sentou-se ao lado dela. A expressão de Melissa era triste e como não seria,
com a filha estando naquele estado. Kate admirava Melissa, ela se mostrou uma mulher
extremamente forte, foram poucas às vezes que ela a tinha visto chorar. Sempre tentava ser forte
e consolá-la. Já Kate não conseguia ser forte, chorava todas as noites, chorava sempre que ia ver
a irmã e passava o dia todo triste, quando estava com Thomas, conseguia esquecer um pouco tudo
isso, mesmo assim depois tudo voltava e ela se dava conta de que a situação não era nada boa.

— Oi, querida — Melissa falou assim que Kate se sentou à mesa.

— Olá, Melissa, como vai? — Kate perguntou apertando a mão de Melissa.

— Vou bem, na medida do possível, menina. — Ela sorriu fraco.

— E essas flores? — Kate perguntou ao ver um vaso com flores em cima de uma das
cadeiras.

— São tulipas, as referidas da Mad. — Ela sorriu fraco com a expressão triste.

— São maravilhosas. — Kate sorriu tentando passar segurança para ela.

Não tinha nada mais que Kate desejasse naquele momento do que ter algum tipo de poder
para ajudar a irmã. Como naqueles desenhos animados que ela assistia quando era criança. As
duas almoçaram rápido e seguiram juntas para o hospital, estacionaram na garagem interna e
esperaram alguns minutos dentro do carro, como se tivessem com medo de descer.

— Eu estou sentindo que algo vai acontecer — Melissa falou.

— Eu senti o mesmo mais cedo. Deve ser apenas nervosismo.

— Um médico me disse que quanto mais tempo a pessoa ficar em coma, menores são as
chances dela acordar. — Melissa falou com a voz embargada de tristeza.
— Ei, vai dar tudo certo. Madson é a pessoa mais forte que eu conheço. — Kate sentiu uma
dor no coração, ela havia dito essa mesma frase para John no dia em que ele contou da doença
da mãe. — Vamos?

— Vamos.

As duas desceram do carro e foram em direção ao elevador, em passos vacilantes, Melissa


tinha em suas mãos o vaso de tulipas e Kate o seu celular, havia recebido resposta de Thomas e de
seu pai. Thomas estava dizendo que a encontrava no quarto da irmã e antes do tinha que passar
no quarto de um paciente e ver como ele estava. Seu pai dizia que estava quase chegando.
Digitou rapidamente um Ok e enviou para os dois.

Ao chegar no andar da UTI, ela sentiu um frio descomunal. Olhou para os lados a procura
de alguém, mesmo sem saber quem, mas não encontrou rostos conhecidos.

— Eu acho que ela adoraria essas flores. — Melissa falou enquanto caminhavam em
direção ao corredor.

— Eu queria que ela pudesse vê-las — Kate falou.

Ela e Melissa foram caminhando até o quarto de Madson, que era um dos últimos do
corredor, geralmente era proibido a entrada de mais de duas pessoas por vez no quarto, mas
Kate havia falado com Douglas e ele havia permitido.

Entrou no quarto da irmã e segurou a porta para que Melissa passasse. Melissa depositou
as flores em uma das mesinhas ao lado da cama e começou a falar:

— Olá, filha, eu voltei para te ver e trouxe tulipas. Eu sei que são as suas flores preferidas
— Melissa falou sentando em uma cadeira que estava do lado da cama e tocou na mão de
Madson. — Sabe, eu venho aqui todos os dias te ver na esperança de que você tenha acordado.
Oh, minha menina. Eu sinto tanto sua falta. Filha, eu não posso te perder, preciso que você lute
para voltar à vida e... — Ela não deu conta de terminar de falar e desabou no choro, Kate se
abaixou e a abraçou.

A porta do quarto bateu e logo Thomas e Douglas entraram. Thomas andou até a outra
mesinha perto da cama e depositou umas rosas que trouxe com ele. Douglas se aproximou da
cama e direcionou um sorriso fraco para a Melissa. Ele ficou apenas olhando para Madson por
algum tempo. Thomas abraçou Kate e esta desabou no choro.

A porta se abriu novamente e Gerald entrou no quarto. Ele se aproximou da cama e pegou
na mão da filha, nunca havia estado tão abatido. Pouco depois ele se afastou e foi até Melissa,
abraçando-a. Douglas se aproximou e abaixou perto da cama, colocou a mão esquerda de
Madson ente as suas duas e sussurrou:

— Minha pequena, se você pudesse ver o quanto todos sentem a sua falta eu tenho
certeza de que voltaria, precisamos de você, Mad. Eu preciso de você, sei que é forte o suficiente
para voltar, lute por nós, por você. — Ele depositou um beijo na bochecha de Madson.

O aparelho dos batimentos aumentou os bipes, foi aumentando mais e logo o bip se tornou
um som único. Todos começaram a chorar desesperados, aquilo havia se tornado uma despedida.
Douglas parecia nervoso e tentava reanimar Madson fazendo força com as duas mãos, enquanto
Gerald corria desesperado para fora do quarto gritando por socorro. Kate encolheu-se nos
braços de Thomas chorando ainda mais, era isso, ela estava perdendo a irmã.

Como em um milagre os bipes voltaram ao normal, Kate parou de chorar e encarou o


corpo da irmã, todos olharam assustados para Madson e quando seus cílios começaram a se
mexer, um grande sorriso tomou conta do rosto de Melissa, Madson abriu os olhos de vagar e
piscou várias vezes como quem tenta se acostumar com a luz, todos ainda se mantinham
paralisados com o susto.

— Mãe — Madson chamou com voz fraca.

— Você voltou para mim — Melissa falou sorrindo e Kate viu algumas lágrimas escorrerem
pelo rosto da irmã.

— Mad. — Kate se ajoelhou perto da cama, chorando. — Nunca mais me de um susto


desses, eu... Eu... — Ela começou a chorar mais e encostou a cabeça na ponta da cama.

— Eu estou bem — Madson falou ainda com a voz fraca.

Depois houve um barulho de bater de porta e John e Gerald entraram chorando seguidos
por um médico.

— Filha? — ele falou com a voz baixa.

— Papai. — A voz dela falhava. — Meu corpo, minha cabeça, estão doendo muito. —
Madson chorava.

O médico entrou correndo e foi até ela.

— Eu vou precisar que todos saiam daqui, ela precisa ser medicada — ele falou com voz
alarmada.

— Ela vai ficar bem, não é doutor? — Kate perguntou preocupada.

— Ela vai sim, mas por enquanto temos que medicá-la e deixá-la descansar, nada de
visitas por hoje.

— Eu vou ficar por aqui — Douglas falou, os olhos dele estavam repletos de lágrimas.

— Não, Douglas, você está muito envolvido nessa história. Fique na sua sala e se acalme.

— Eu não posso deixá-la— ele insistiu.

— Está doendo — Madson sussurava aos prantos.

— Eu fico — Thomas falou e Douglas apenas assentiu.

Todos saíram da sala receosos, estavam preocupados com Madson. Ficaram na recepção
juntos, Douglas caminhava de um lado para o outro sem saber o que fazer, Kate estava abraçada
com Melissa, assegurando-a de que o pior já havia passado.

***
Mesmo tendo se candidatado a ficar, Thomas estava nervoso, enquanto o outro médico
havia ido buscar os remédios e a morfina, ele tentava acalmar Madson, que se contorcia de dor.

— Faz parar, Thomas. — Ela implorava chorando.

— Já vai passar, querida, tente não se mexer para não piorar — ele falava. — Você
chegou — falou assim que o médico entrou no quarto com os remédios necessários.

Depois que eles aplicaram os remédios que precisavam, logo a dor passou e aos poucos
Madson foi pegando no sono. No dia seguinte eles teriam que fazer vários exames.

— Thomas — O médico o chamou.

— Sim?

— Eu tenho que fazer os exames ainda e tudo mais, mas há uma grande chance dela ter
perdido os movimentos das pernas.

— Como assim, doutor?

— Pode não ser definitivo, mas pelo menos temporariamente, um acidente desse tipo
sempre deixa sequelas, já é praticamente um milagre ela estar viva — ele falou.

— Meu Deus — Thomas falou mais para si mesmo.

— Vamos deixar para falar com a família dela depois que fizermos todos os exames
necessários.

— Tudo bem. — E se ela realmente ficasse paraplégica, como ele daria essa notícia a
Kate?

***
Estava em sua sala, nervoso. Mesmo já tendo recebido a notícia de que Madson estava
bem, ele se sentia inseguro. O que viria a seguir? Ele queria ir lá vê-la, mas as visitas estavam
proibidas até o dia seguinte. Ainda era o início da tarde. Várias perguntas pairavam pela cabeça
dele e se Madson não se lembrasse dele ou o rejeitasse. Como ele faria para conquistá-la?

Não tinha um sentimento assim desde Sarah e achou que nunca mais fosse capaz de sentir
algo assim. Amou aquela garota com todas as suas forças e depois do que aconteceu ele não
queria se apaixonar, foram anos sofrendo até cair a ficha e conseguir seguir em frente.

O telefone da sala tocou e ele rapidamente atendeu. Era uma de suas secretárias avisando
que tinha alguém querendo falar com ele, mesmo sem cabeça para isso ele pediu para que ela o
mandasse entrar.

— Fala, mano. — Deveria ser um congresso da família Fitiz, primeiro Abby e agora ele.

— Brad, não me diga que você aprontou também?

— Também? — Brad pareceu pensar um pouco. — Ah, lembrei, Abby. E não, eu não
aprontei.

— Então o que trás você aqui?

— Estou estudando em Stanford.

— E o que vai fazer? — Douglas tentou parecer animado.

— Estou pensando em Direito.

— Papai sabe disso?

— Não e nem precisa saber. Ele acha que vim cursar Medicina.
— Você e a Abby só me dão trabalho.

— Preciso de um lugar para ficar.

— A minha casa vai acabar virando um hotel.

— Por favor.

— Tudo bem.

— Ótimo. Sabe, eu já amo esse lugar. Eu conheci uma garota hoje cedo na faculdade.

— Mas já?

— Sim, ela parecia um anjo.

— Cuidado, hein.

Nesse momento Kate entra na sala e para ao ver Brad.

— Falando nela — Brad fala baixinho.

— Kate, o que está fazendo aqui? — Douglas pergunta preocupado.

— Não me diga que ela é sua namorada? — Brad perguntou alto dessa vez.

— Ela é minha secretária — Douglas respondeu ríspido. Depois voltou-se para Kate. — Eu
te dei o dia de folga, lembra?

— Eu não conseguiria ficar em casa. Preciso estar aqui, perto dela, você entende não? —
Kate falou com a voz triste.

— Tudo bem Kate, sabe que estou aqui se precisar conversar, não é?

— Sei sim e oi de novo Brad. — Kate tentou sorrir, mas não deu muito certo. Ela caminhou
até a porta no canto da sala e entrou lá.

— Cara, a deusa é sua secretária? — Brad perguntou quase gritando.

— Sim e ela tem noivo. Um bem bravo por sinal. Não se meta em encrencas Brad.

— Eu nem pensei nisso.


Douglas
Eu nasci em uma cidadezinha no interior da Califórnia, FellsFord. Minha mãe, Amélia e o
meu pai, Calvin se conheceram no último ano de faculdade. Na época os dois estudaram em Yale.
Eu sou um dos filhos mais velhos deles, antes de mim tem o George, que é dois anos mais velho que
eu. Depois de mim, nasceu Brad, para ser mais exato, 6 anos depois. Sete anos depois dele, veio a
Abby. A minha família por parte de pai segue uma tradição de gerações de médicos e não foi
diferente comigo.

Deixe-me começar de onde realmente interessa. Aos 12 anos eu comecei a fazer aulas de
música, aos 14 já tocava 3 instrumentos. Com 15 passei a ter a minha própria banda e também
aos 15 eu me apaixonei. Uma paixão tão intensa que me consumiu por inteiro. Sarah Smith, era
uma jovem doce, ela entrou no colegial no primeiro ano. Havia mudado de cidade há pouco tempo,
não sei se foi amor à primeira vista, mas logo me encantei com ela. Eu já tinha namorado algumas
garotas, mas nada duradouro.

No começo ela me ignorava totalmente, não era o tipo de garota com quem eu geralmente
ficava. Ela era tímida e retraída, não tinha amigos e era inteligente, extremamente inteligente.
Passei meses tentando conquistá-la, não sabia o motivo, mas não conseguia desistir dela.
Namoramos por 3 anos e depois noivamos por 1 ano, tudo ia muito bem até que um dia eu cheguei
na casa dela para levá-la para sair e não havia ninguém la. Tentei ligar e contatar todos da casa
por semanas, mas nada. Um mês se passou e foi quando eu recebi a notícia de que ela havia
falecido.

Sarah nunca me contou, mas depois de sua morte descobri que ela lutava contra dois tipos
de cânceres, leucemia e câncer no útero. Lutava contra eles há anos, quando seu pai me contou
tudo isso eu me senti culpado. Cinco anos ao lado dela e não percebi o que estava acontecendo,
ela também nunca fez questão de me contar.

Amei aquela mulher como nunca imaginei ser capaz de amar e como acho que nunca mais
serei.

Eu resolvi começar a faculdade, meus pais me deram total apoio. A verdade era que
precisava ficar longe daquela cidade, não aguentaria se ficasse lá. Entrei para Stanford e
confesso que nessa época aprontei muito, minha vida virou mulheres e bebidas. Tive a sorte de
obter ajuda de dois dos meus professores, o professor Wolf e o professor Mathews. Comecei a
tomar jeito e virei o melhor aluno da turma, assim que me formei, comecei a trabalhar como
neurologista em um hospital próximo a Stanford.
Desde o dia em que deixei FellsFord, eu nunca mais coloquei meus pés lá. Mesmo com toda
a insistência da minha mãe. De vez em quando ela vem me visitar e passa alguns dias aqui. Não
me levem a mal, eu amo a minha família com todas as minhas forças, mas acho que não suportaria
voltar lá.

Depois da Sarah eu não consegui me envolver em nenhum relacionamento duradouro,


passava no máximo 2 semanas com uma mulher. A memória dela ainda vivia em mim e o amor que
sentia por ela não havia se apagado. Por um tempo temi não conseguir encontrar outra pessoa e
acabar vivendo esse luto eterno. Foi quando eu conheci Madson, também não posso dizer que foi
amor a primeira vista, mas ela me encantou. Gostar de Madson não foi algo instantâneo, quando
eu a vi apenas me interessei por sua beleza. Porém, quando comecei a cuidar dela no hospital
comecei a gostar dela. Talvez isso tenha acontecido porque estava cuidando daquela menina como
não tive a oportunidade de cuidar da Sarah. Todos os dias falando com ela, esse gostar foi
crescendo dentro de mim.

Agora aqui estou gostando de uma mulher que mal sabe da minha existência e pensando
em como vou me declarar para ela. Lembro do desespero que senti no dia anterior quando Mad
quase morreu, foi como reviver as dores que senti com a morte de Sarah. Ou com a morte do meu
sobrinho, que no caso era filho de um amigo que eu considerava irmão. Quando a vi abrir os olhos
fiquei feliz, na verdade não foi apenas isso, era como se eu estivesse nascendo de novo. Senti-me
agoniado quando ela gritou de dor, era de se esperar que isso acontecesse, mas eu não estava
preparado.

Ontem no final do meu expediente eu recebi a notícia de que ela poderia não voltar a
andar, meu mundo desabou novamente, hoje farei os exames necessários para ter certeza de seu
quadro clínico. Nesse momento estou indo até seu quarto para começar os exames. Paro em frente
à porta do quarto e suspiro, como seria encarar aqueles olhos e tentar esconder o que sinto?

— Bom dia — falo sem graça quando entro no quarto.

— Bom dia — ela responde com uma voz triste.

— As dores passaram? — pergunto me aproximando da cama.

— Sim, mas estou com medo.

— Medo de que? — pergunto.

— De me mover, tenho medo de tentar e descobrir que não posso.


— Não tenha medo, pequena. — a última palavra sai sem a minha permissão.

— Eu sonhei com você — ela falou, pegando-me de surpresa.

— Comigo?

— Sim, eu não via você, mas ouvia sua voz. — Ela cora ao falar isso.

— E o que eu te dizia? — pergunto com esperança dela se lembrar de algo.

— Sei que isso parece estranho, mas você me pedia para lutar — ela falou sem graça.

— E você lutou, é uma moça forte — falei enquanto montava a cadeira de rodas. — Está
pronta?

— Não — ela falou triste.

— Vai dar tudo certo.

— Ok — ela falou e comecei a desenrolá-la, depois mexi no controle da cama,


levantando-a devagar, até Madson estar quase sentada.

— Vamos ver o que você já consegue mexer.

— Está bom.

— Tente levantar os braços. — Vejo-a fazer força e com dificuldade levantar o braço
direito e depois o esquerdo. — Agora, os dedos das mãos. — Ela os mexe eles normalmente. —
Tente ficar sentada sem o apoio da cama. — Com dificuldade ela se afasta do encosto da cama.
— Agora vamos ver as pernas. — Ela faz força, mas não consegue levantá-las.

— Eu não posso mover as minhas pernas — ela falou em desespero começando a chorar.

— Tente os dedos dos pés — ela assentiu com a cabeça e conseguiu com dificuldade
mover alguns, mesmo os que estão presos na bota de gesso. — Ok, isso é um bom começo.

Depois disso a levei para fazer algumas ressonâncias e tirar raio X de algumas partes do
corpo, além de exames de sangue. Ela se manteve quieta o todo tempo, parecia pensar em algo e
sua expressão era extremamente triste.

— Doutor? — perguntou enquanto a colocava de volta em sua cama.

— Sim?
— O rapaz que estava comigo na moto. Ele está bem? — Fiquei receoso em responder,
suspirei antes de falar.

— Eu sinto muito — falei, não queria entrar em detalhes.

Ela começou a chorar e meu coração se apertou, era tão ruim vê-la assim frágil. Em uma de
suas pernas ainda havia uma cicatriz e no rosto ainda havia a marca da enorme cicatriz que
estava ali antes.

— Ele era seu namorado? — perguntei.

— Não, era um amigo — ela respondeu com a voz embargada de tristeza.

— Não queria que fosse eu a te contar isso — falei com a voz baixa.

— Obrigada por contar. — Ela fez uma pausa. — Quando receberei alta?

— Ainda vai demorar um pouco, você tem que fazer mais exames e começar a fazer a
fisioterapia.

— Eu vou voltar a andar?

— Eu tenho fé que sim, moça. — Sorri para ela.

Logo depois o meu nome foi anunciado nos altos-falantes do hospital e eu tive que sair, mas
antes deixei uma enfermeira cuidando dela. Mesmo eu havendo falado que ela voltaria a andar
eu não tinha certeza, demoraria até recuperar todos os movimentos do corpo. Teria que esperar o
resultado dos exames para saber, mas eu realmente torcia com todas as minhas forças para que
tudo ficasse bem.
Capítulo Vinte e Três
O sorriso enorme no rosto de Kate era inevitável, a irmã havia acordado e ver Melissa
toda sorridente pela casa também estava fazendo muito bem a ela. Havia decidido no dia anterior
que não iria a aula hoje, arrumaria toda a casa na espera de que logo Madson pudesse entrar
pela porta sorridente e alegrar a todos como sempre fazia.

Mesmo sabendo que faltava muito para a irmã se recuperar, Kate já estava feliz por ela
ter acordado. Depois de arrumar toda a casa com Melissa iria passar o dia todo no hospital ao
lado da irmã. Iria contar tudo o que aconteceu para ela. Antes teria que pegar Tracy em Stanford
e levá-la para ver Madson também.

Estranhamente, Gerald havia ligado logo cedo pedindo o número de Thomas. Ela hesitou
por um tempo, não sabia qual era a do pai. Ele havia aceitado muito rápido o noivado e Kate
conhecia bem o pai que tinha, ele faria de tudo para Thomas desistir desse casamento.

Olhando para a parte boa da história, pelo menos, se Thomas sobrevivesse ao Gerald,
sobreviveria a qualquer coisa. Kate nunca havia tido um namorado, mas houve uma vez que ele
desconfiou que John e Kate estavam namorando e John teve que aturá-lo por um dia, só faltou
Gerald dar uma palestra sobre camisinhas e DSTs. Pelo menos o assunto havia arrancado boas
risadas dos dois por semanas e uma quase suspensão por conversem durante uma palestra.

Limpava a casa animada enquanto Melissa fazia o almoço, foi até a sala e colocou um cd
da Kate Perry para tocar. Quando a música Roar começou a tocar, ela saiu dançando e varrendo
a casa.

— Quanta felicidade, menina — Melissa gritou da cozinha e pode se ouvir o som do bater
das panelas.

— É um dia lindo — Kate gritou de volta e começou a cantar a música sem parar, rodando
pela sala.

Mais ou menos uma hora depois as duas estavam conversando animadoramente enquanto
almoçavam, Melissa contava a Kate varias coisas sobre a irmã.

— Espere um pouco — Melissa falou levantando da mesa e correndo em direção ao


quarto, logo voltou com o celular em mãos. — Olhe, esse aqui é Caleb, o namorado da Madson,
quer dizer, ex-namorado. Eles terminaram pouco antes dela vir para cá.
— Por que eles terminaram? — Kate perguntou curiosa.

— Ele não passou para Stanford e quando ela decidiu vir sozinha o namoro acabou.

— Olha, eu sinto muito pelo namoro deles. Para falar a verdade, torço para que o Douglas
a conquiste — Kate falou sorrindo.

— Eu também, querida. O modo como ele ficou ao lado dela todos os dias, eu nunca havia
visto algo tão lindo — Melissa concordou.

— E ela já havia me contado que o achava uma gracinha. — Kate comentou animada.

— Mesmo isso tudo sendo tão lindo, eu acho estranho ele se apaixonar por ela assim. Mal
a conhece.

— Eu acho normal, já vi de perto duas vezes e sei que o amor à primeira vista existe.

— Fala de você e do Thomas? Sei que nesses últimos dias não tivemos tempo para
conversar, mas eu estava louca para saber a história de vocês.

— Sim, eu o conheci no meu primeiro dia de aula, estava distraída e ele estava andando
feito um louco. Esbarrou em mim e derrubou todas as minhas coisas no chão. Quando levantei meu
olhar prestes a reclamar eu encarei aqueles olhos azuis e fiquei totalmente perdida. Não sei se
aconteceu o mesmo com ele, apenas nos apresentamos e eu segui para o alojamento. E por algum
acaso do destino nos encontramos de novo, eu estava descendo as escadas e acabei tropeçando
nos últimos degraus e cai, mas nos braços dele. Ele ficou ali me segurando por um tempo e me
encarando, até que me dei conta e comecei a corar e ele percebeu e me soltou. Acabei
descobrindo que ele era professor de Medicina da turma avançada — Melissa suspirou. E Kate
continuou a falar. — Depois o destino nos deu mais algumas ajudinhas, encontrei-o em meu quarto
e descobri que era pai da minha colega de quarto. Logo depois ele virou professor da minha
turma, parecia que fazia questão de me irritar a todo tempo e quanto mais me provocava mais
caidinha por ele eu ficava. No começo achei tudo precipitado, nos conhecíamos a 4 dias quando
começamos a ficar escondidos e logo depois a faculdade foi interditada e ele teve a brilhante
ideia de viajar para um lugar tropical.

— E você foi, certo?

— Sim, parte por insistência da Tracy e outra parte porque eu não queria ficar longe dele.
O problema é que Tracy não sabia e nós não sabíamos como contar para ela. Além disso, somos
dois ciumentos possessivos, tinha tudo para dar errado e acabou dando certo. Tracy descobriu por
si só que o pai gostava de mim e o apoiou na decisão, ele me pediu em namoro no meio de um
jantar em um restaurante no Caribe, foi a coisa mais romântica que alguém já fez por mim. Na
verdade, ele foi o meu primeiro amor e único pelo visto.

— É uma história confusa e linda, mas por que será que eu sinto que tem muito mais coisa
ai? — Melissa perguntou curiosa.

— Tem muita coisa, um história complicada. A primeira mulher de Thomas morreu assim que
deu à luz a Tracy, ele teve que cuidar dela sozinho durante todo o tempo, porque a família da
falecida mulher dele os rejeitou. Tem outra coisa, eu vi uma foto dela e fora o cabelo, somos quase
iguais. Talvez isso explique o que ele sentiu ao me ver.

— Complicado é pouco, mas ele parece gostar de você de verdade. — Melissa falou
tranquilizando Kate.

— Disso eu nunca duvidaria, depois de tudo que passamos não me vejo mais longe dele.
Entende?

— Como assim tudo o que passaram?

— Durante a viagem eu conheci um cara chamado Bruno, você deve ter visto a audiência
na televisão, ele primeiramente se mostrou um cara legal, depois começou a me perseguir de um
modo brando e por último me sequestrou — Kate falou com uma tranquilidade que Assustou
Melissa. — Manteve-me presa por duas semanas e acabou confessando para mim todos os
assassinatos que havia cometido, tanto em Stanford quando em outras faculdades. Aliás, foi por ele
que eu descobri Madson.

— O que a minha filha tem a ver com esse homem? — perguntou espantada.

— Ele meio que investigou toda a minha vida. Eu não me arrependo de nada do que fiz, ou
de nada do que passei.

— Isso é bom, minha querida. E já sabe quando vai se casar?

— Ainda não, eu não esperava me casar antes de terminar a faculdade.

— Mas está feliz com isso, certo?

— Estou, só tenho medo do meu pai fazê-lo desistir. — As duas riram.

Depois de uma longa conversa as duas decidiram ir ver Madson, antes passaram em
Stanford para buscar Tracy e seguiram para o hospital, parando somente em uma floricultura para
comprar algumas flores. Assim que chegaram no hospital foram diretamente ao quarto de Madson,
ela estava sozinha e já havia feito todos os exames.

— Olá, maninha — Kate falou sorrindo para a irmã.

— Oi, loira. — Madson tentou sorrir, mas parecia fraca e triste. — Olá, mamãe, Tracy.

— Oi — as duas responderam em uníssono.

— Como se sente, amor? — Melissa perguntou.

— Não sei ainda, mãe, Douglas me levou para fazer uns exames — Madson respondeu
com a voz triste. — A comida daqui é péssima. — Tentou fazer uma piada, não queria um clima
pesado ali.

— A comida da sua mãe é ótima — Kate falou e Madson deu língua para ela.

— Não me faça inveja, sua chata.

— É tão bom ver as duas felizes — Tracy falou.

— Mãe, você poderia comprar comida para mim — Madson falou juntando as mãos.

— Tudo bem, filha. Eu volto já — Melissa falou e as duas esperaram ela sair do quarto
para começar a conversar.

— O que eu perdi? — Madson perguntou.

— Muita coisa, eu agora sou a futura madrasta da minha melhor amiga barra cunhada —
Kate falou.

— Isso é tão confuso — Tracy falou fazendo uma careta.

— Isso eu já sabia. — Mad se gabou. — Como john está? Com o negócio do Alex?

— Ele está superando aos poucos, toda semana visita o túmulo do amigo — Tracy
respondeu.

— Não gente, assuntos tristes hoje não — Kate falou. — Agora vamos ao assunto que
realmente interessa.

— E qual seria? — Madson perguntou confusa.


— Douglas é claro — Tracy falou, ela e Kate se aproximaram da cama.

— O que tem ele? — Madson perguntou novamente confusa.

— Então você não sabe? — Kate perguntou.

— O que? — Madson perguntou.

— Ela não sabe — Tracy falou espantada.

— Falem logo, vocês estão me deixando nervosa — Mad falou zangada, tentou cruzar os
braços, mas a dor a impediu.

— Tudo bem, eu falo — Kate disse. — Desde a sua entrada aqui no hospital que Douglas
não sai do seu lado. No começo eu pensei que fosse preocupação de médico, já que ele era o
médico responsável por você maior parte do tempo. Um dia, vim te visitar e ouvi uma voz masculina
aqui no quarto, quando olhei pela fresta da janela da porta, vi Douglas sentado aqui nesta
cadeira que estou. Ele segurava a sua mão direita entre as dele e chorava ao falar com você,
como se você pudesse ouvi-lo. Pedia que você voltasse para nós, dizia que iria cuidar de você
como se fosse dele. Havia tanta emoção nas palavras dele. Quando eu entrei no quarto ele se
assustou e depois de conversar um pouco comigo acabou confessando que vinha aqui todas as
noites conversar com você na esperança de que acordasse.

— Eu sonhei com ele. Com a voz dele na verdade — Madson falou envergonhada.

— Isso é tão romântico — Tracy disse com olhar sonhador.

— Por que ele não me falou nada quando acordei? — Madson perguntou.

— Não seria nada normal ele chegar e falar, eu estou gostando de você — Kate disse a
última parte imitando uma voz masculina.

— Eu sei, você está certa — Madson falou.

— Eu sempre estou. — Kate gabou-se.

Nesse momento um dos médicos chegou avisando que o horário de visita havia acabado,
mesmo Kate e Tracy tendo insistido muito ele não deixou que ficassem, deixou apenas Melissa ficar
por mais um tempo. Tracy ligou para John buscá-la e Kate foi em direção a sala do Douglas para
começar seu turno, antes deixou a chave do carro com Melissa, pois voltaria com Thomas. Quando
entrou na sala de Douglas ele havia saído, quem estava sentado à mesa era o irmão, Brad. No
pequeno sofá no canto da sala estava a outra irmã dele, Abby.

— Boa tarde — ela falou para os dois.

— Olá, Barbie — Abby falou sorridente.

— Boa tarde, Kate — Brad respondeu.

— Eu soube que a sua irmã está melhor — Abby falou, levantando do sofá e indo até
Kate.

— Sim — Kate respondeu sorridente.

— Kate, pelo amor de Deus, você precisa me ajudar — Abby falou arrastando Kate para
salinha dela.

— O que foi Abby? — Kate perguntou assim que elas passaram pela porta.

— O Doug quer me matricular numa escola apenas de mulheres — ela falou horrorizada
como se fosse a pior coisa do mundo.

— E como eu posso ajudar?

— Não deixe ele fazer isso, por favor, em breve seremos da mesma família e eu não
quero ser uma senhora solteira aos 50 anos com 100 gatos. — Dramatizou.

— Quanto drama, Abby, você tem apenas 15 — Kate falou. — Vou tentar convencê-lo.
Tem uma escola muito boa perto de onde eu moro e lá não tem só garotas. — Kate piscou.

— Você é a melhor quase cunhada que o meu irmão já teve. Aliás, já que toquei nesse
assunto, será que você não tem nenhum irmão mais novo com o gene bom, não?

Kate sorriu com aquilo, Abby daria certinho com Madson. — Infelizmente não, querida.

— Só o Douglas que se dá bem — falou fingindo indignação.

— Você é uma figura — Kate falou enquanto vestia o jaleco.

— Eu sou uma graça, eu sei — falou jogando os cabelos para trás. — Agora vou descer e
procurar algo para comer, não tem nada para fazer nesse hospital. Só pode ser castigo.

— Tudo bem. Até depois então — Kate falou e logo Abby saiu da sala, juntamente com
Brad.
Cerca de cinco minutos depois alguém bateu na porta e abriu, era Thomas e ele tinha um
sorriso enorme no rosto.

— Amor, o que faz aqui? — Kate perguntou levantando-se da mesa.

— Estava com saudade. — Ele fechou a porta e a puxou, dando um longo beijo nela. —
Não posso sentir saudades da minha noivinha?

— Se eu for ganhar beijos como esses, pode sentir toda hora — Kate falou num tom
provocativo.

— Ah é? — Ele voltou a beijá-la.

— Eu também estava com saudades — Kate falou colocando os braços em volta do


pescoço de Thomas. — Vai me esperar hoje?

— Vou sim. Quero te levar a um lugar especial.

— Da última vez que você me disse isso fomos parar há 3 horas daqui e eu fiquei noiva.

— É aqui perto dessa vez — Thomas falou. — Eu tenho que ir, vou analisar os exames da
sua irmã. — Beijou a testa dela. — Passo aqui para te buscar.

— Vou esperar, hein.

Logo ele saiu da sala novamente e Kate ficou imaginando aonde ele iria levá-la.

***
Thomas estava exausto, havia trabalhado muito depois que saiu da sala de Kate e para
piorar tudo, a pessoa que iria ajudá-lo na surpresa para Kate havia tido um imprevisto e só
poderia atendê-lo na semana seguinte. Pelo menos ele ainda tinha algo bom para mostrar a ela, o
resultado dos exames de Madson, que haviam ficado prontos a pouco.

Ele não queria dar falsas esperanças e muito menos tirar as esperanças de Madson. Os
exames tinham apontado que não havia coisa alguma que a impedisse de andar, mas infelizmente
ela teria que passar pela fisioterapia e talvez não voltasse a andar como antes. O turno de
Thomas havia acabado há alguns minutos, mas ainda faltava um tempinho para que o de Kate
acabasse.

Ele resolveu passar no quarto de Madson, pois tinha certeza de que Kate passaria lá para
falar com a irmã. Caminhou devagar pelos corredores do hospital, seguindo para o elevador. Pelo
caminho recebeu alguns sorrisos e cumprimentos de algumas enfermeiras e secretárias, era um
homem bonito e por onde passava chamava a atenção e mesmo que todos dali soubessem de seu
noivado, as mulheres pareciam não se importar.

Ao chegar no elevador apertou o número do andar que queria ir. Chegou no andar e
continuou a andar à passos lentos, tinha que achar um modo de passar o tempo. Quando estava
chegando no quarto de Madson ouviu uma voz masculina, primeiramente achou que era Douglas,
mas ao entrar percebeu que era o irmão dele, Brad. Esse por sua vez se despediu de Madson
assim que viu Thomas entrar e ao passar por ele apenas o cumprimentou com um aceno de cabeça.

Depois que finalmente Brad havia passado pela porta, Thomas sorriu para Madson e
sentou-se na poltrona ao lado da cama dela.

— Como a minha cunhadinha preferida está se sentindo hoje? — Thomas perguntou


sorrindo.

— Bem — ela falou com uma voz meio tristonha.

— Tem certeza? — ele perguntou, percebendo que ela estava triste.

— Na verdade, não. Eu estou cansada de ser forte, Thomas. Estou cansada de sorrir
enquanto só tenho vontade de chorar. Eu não quero que os outros percebam que sou fraca, não
quero que sintam pena de mim — ela falou começando a chorar. — Eu não sinto as minhas pernas,
Thomas e se eu não voltar a andar? Eu vou ficar para sempre dando trabalho para as outras
pessoas. Eu não quero isso, Thomas. Quero voltar a andar, parar de sentir dor e tirar toda essa
tristeza de mim. — Ela chorou ainda mais.

— Ei, pode chorar e desabafar o quanto quiser. Não precisa ser forte o tempo todo, só
basta não desistir. Você vai voltar a andar e todos que te amam vão continuar ao seu lado — ele
falou, envolvendo-a em um abraço. — Não desista, Mad.

— Eu não vou. — Ela tentou sorrir.

— Acho bom — ele falou enquanto enxugava as lágrimas dela.

Nesse momento Kate entrou no quarto, estava mais pálida que o normal, tinha uma feição
triste e parecia fraca.

— Amor, o que houve? — Thomas perguntou indo até onde ela estava e ajudando-a a
chegar até a poltrona.
— Não é nada, só um mal-estar, mas já estou melhor — ela falou sorrindo.

— Tem certeza? — perguntou preocupado.

— Você não parece bem — Madson falou.

— Tenho, não se preocupem. — Kate sorriu novamente. — Esses são os exames? — ela
perguntou referindo-se ao envelope na mão de Thomas.

— Sim — Thomas falou sorrindo. — Os resultados saíram há pouco.

— E aí? — Madson perguntou com receio.

— Os exames não apontaram nenhum trauma que te impeça de recuperar os movimentos,


com as sessões de fisioterapia e com esforço você poderá voltar a andar.

— Isso é ótimo — Kate falou o mais animada que conseguiu.

***

Kate estava se sentindo enjoada e fraca, ela estava indo em direção ao quarto de Madson
quando a vontade de vomitar veio, correu para o banheiro que tinha no corredor e vomitou tudo o
que tinha no estômago. Agora, ali no quarto da irmã, havia dito que já estava bem, mas essa não
era a verdade, só havia dito isso para tranquilizar Thomas e Mad. Ela estava feliz, a irmã voltaria
a andar.

— Nós vamos ficar ao seu lado durante a fisioterapia — Thomas falou e quando Kate
estava prestes a concordar ela sentiu o enjôo voltar mais forte e sentiu vontade de vomitar.

Levantou da poltrona e saiu correndo, batendo a porta com força, correu pelo corredor até
o banheiro feminino, jogou-se no chão rapidamente e despejou tudo o que tinha no estômago para
fora. Recompôs se rápido e trancou a porta do banheiro, não queria que Thomas a visse daquele
modo. Logo após trancar ouviu batidas na porta. Foi até a pia e começou a lavar o rosto.

— Amor. Você está bem? — Era Thomas, ele parecia preocupado.

— Vai embora — ela gritou, por algum motivo não o queria por perto naquele momento,
queria distância de todos.

— Amor, deixe eu te ajudar.

— Não quero ajuda. Quero ficar sozinha — falou e lágrimas começaram a escorrer pelo
seu rosto. — O que está acontecendo comigo? — perguntou baixinho para si mesma.

— Eu não vou sair daqui até você abrir a porta — Thomas falou com voz abafada.

Ela lavou o rosto, respirou fundo e foi abrir a porta. Thomas estava com uma preocupação
estampada na cara.

— Amor, vou te levar até a enfermaria.

— Eu já estou bem — ela falou, não tinha necessidade daquilo.

— Você disse isso da outra vez e não parece bem, mal consegue se manter em pé.

— Dessa vez eu realmente estou bem, amor. — Tentou outra vez.

Não teve discussão, Thomas a levou para a enfermaria e lá ela teve que tomar algumas
injeções e ficar tomando soro por mais de uma hora. Depois de avisar Madson, Kate e Thomas
foram para a casa dele. Thomas estava todo preocupado, cozinhou para ela, mas assim que ela
comeu, teve que correr para o banheiro para vomitar de novo.

— Ainda passando mal, amor? — ele perguntou aproximando-se dela, que estava sentada
perto da privada.

— Não quero que... — ela não terminou de falar e voltou a vomitar, Thomas agachou-se
ao lado dela, segurando seu longo cabelo.

— Eu vou te dar um banho — ele falou assim que ela pareceu se sentir melhor.

— Não precisa — respondeu fraca.

— Nós vamos nos casar, não precisa ter vergonha de mim.

Ela apenas concordou com a cabeça, ele ajudou ela a se levantar e tirou sua roupa
devagar, ainda a segurando, já que Kate estava tão fraca que mal conseguia se manter em pé.
Ele deu um banho lento e depois ajudou-a se vestir.

— Grave bem essa cena em sua mente, amor — Thomas falou.

— Por que? — ela perguntou confusa, enquanto levantava os braços para ele colocar a
camisola em seu corpo.

— Porque nunca mais me verá colocando roupas em você. Eu prefiro tirá-las. — Ele piscou
para ela. Ela sorriu com aquilo, ele realmente sabia como animá-la.
Thomas deitou na cama com ela e a aconchegou em seu peito, enquanto fazia cafuné em
seus cabelos, podia sentir a respiração da jovem ficando pesada até que finalmente conseguiu
pegar no sono. Acordou mais três vezes para vomitar aquela noite e Thomas sempre atencioso indo
cuidar dela. Na manhã seguinte Thomas teve que ir ao trabalho cedo, mas ele ligou para Tracy
pedindo que ela fosse até lá ficar com Kate, que passou parte da manhã assistindo filmes
românticos e chorando, primeiro assistiu Um Amor Para Recordar e logo depois começou a assistir
Uma Longa Jornada. No meio do segundo filme, Tracy chegou e aí foi choradeira em dobro.

Quando se aproximou do meio-dia, Kate estava morrendo de fome, não comia nada desde
o dia anterior, como tinha um novo restaurante inaugurando Kate fez Tracy levá-la até lá. O
restaurante era brasileiro, Kate nunca havia provado nada brasileiro, mas tudo nele parecia
bastante apetitoso.

1 semana depois.

Kate e Tracy estavam numa clínica esperando o resultado do exame sair. Kate passou mal
durante toda a semana e quase não conseguia comer algo e quando estava conversando com
Madson e Tracy, a irmã fez uma brincadeira sobre gravidez e foi aí que Kate se tocou. A sua
menstruação estava atrasada, como não havia percebido isso antes?

As duas estavam nervosas, Kate havia escolhido uma clínica longe do hospital para que
ninguém soubesse de suas desconfianças.

— Katherine Snow. — Uma mulher chamou.

— Sou eu. — Ela levantou-se e foi até a mulher.

— Aqui está o resultado dos seus exames. — A mulher entregou um envelope. — Assine
aqui. — Depois estendeu uma prancheta.

Kate assinou e voltou até onde Tracy estava, ela não havia feito exames de farmácia por
que sabia que eles poderiam ser inconclusivos ou dar resultados errados.

— O que deu? — Tracy perguntou.

— Ainda não sei — Kate falou. — Vamos até o hospital, Madson pediu que abrisse com
ela.

— Vou morrer de curiosidade até lá. — Tracy fez cara feia.


— Não está tão longe.

Tracy foi dirigindo até o hospital e pouco mais de 30 minutos depois elas já estavam no
estacionamento. Subiram o mais rápido possível até o quarto de Madson, que agora ficava em um
apartamento do hospital, o quarto era maior e bem mais aconchegante.

— Já pode abrir — Tracy falou assim que elas ultrapassaram a porta.

— Calma. — Kate respirou fundo e começou a abrir o envelope, folheou cada página e
achou a que falava o resultado do exame.

— O que deu? — Tracy perguntou.

— É, fala. — Madson parecia ansiosa.


Tracy
Por onde eu começo? Acho que do começo, não? Do meu começo. Então tá, lá vamos nós...

Eu nasci no dia 09 de janeiro do ano de 1997, não posso considerar esse dia o mais feliz
da minha vida, mas aprendi a lidar com ele. Minha mãe morreu pouco antes de dar à luz, dizem
que foi quase um milagre eu ter sobrevivido. Meu pai estava levando-a para o hospital e outro
carro bateu no nosso. Meu pai ficou em coma por alguns dias e quando acordou recebeu a terrível
notícia de que sua mulher havia morrido. Por um tempo ele não quis saber de mim, quase entrou em
depressão. Quando finalmente me viu pela primeira vez, disse que foi como se revivesse, era como
ver a minha mãe em meus olhos. Foi nesse momento que ele sentiu uma vontade extrema de me
proteger.

Meu pai disse que as famílias dele e da minha mãe o abandonou, eles o culpavam por sua
morte. A família do meu pai queria minha guarda, mas ele não permitiu. Já a família da minha mãe
não quis saber de mim, falavam que eu era tão culpada da morte dela quanto ele. Eu admiro o
meu pai por tudo o que teve que passar para cuidar de mim, trabalhando dia e noite para poder
pagar a minha babá e as despesas da casa, estudando nas madrugadas com a esperança de
poder passar na faculdade e conseguiu. Ele se formou em Stanford, onde eu estudo atualmente.

Ele é um vencedor, mesmo depois de ter passado na faculdade teve que continuar
trabalhando e estudando ainda mais. Quando eu completei 6 anos ele se formou, começou a
trabalhar em um hospital pouco distante de Stanford e tudo melhorou na nossa vida. Papai
conseguiu me dar tudo que eu precisava e até o que não precisava. Só que não parou por aí,
ainda fez mestrado e doutorado e depois começou a dar aula em Stanford. Assim sobrou mais
tempo para mim e a renda continuou praticamente a mesma.

Eu estudei a minha vida toda em um colégio para meninas, meu pai sempre teve medo da
famosa "conversa" é sempre teve medo da aproximação dos meninos. Eu era uma menininha linda
até os 13 anos, depois disso foram surgindo problemas de visões, o cabelo parece ter se rebelado
contra mim, a pele já não parecia mais a mesma. Tudo começou a dar errado, dos 13 aos 15 eu
sofri bullying na escola, umas meninas mais bonitas viviam no meu pé. Quando finalmente criei
coragem, contei tudo para o meu pai e ele me mudou de escola. Terminei meu ensino médio em um
colégio normal, mas não era como se alguém reparasse em mim, a feiosa de cabelos cacheados e
óculos redondos. Tornei-me ainda mais esquisita por ser uma nerd e pela escola me passar do
segundo para o terceiro por estar mais adiantada. Resultado: terminei o meu ensino médio aos 16.

De dois anos para cá a vida deu uma repaginada legal, primeiramente ouve o negócio deu
ter passado em Stanford, passei assim que sai da escola, mas decidi entrar apenas no ano
seguinte. E sabe aquela "conversa" que os pais têm com a filha numa determinada idade, a minha
aconteceu aos 17 e não poderia ter sido mais engraçada.

— Filha, você já tem uma certa idade e eu quero que saiba algumas coisas que acontecem
entre homens e mulheres quando eles estão apaixonados. — Meu pai começou e tive que segurar
o riso, aquela era a situação mais constrangedora que eu já tinha visto.

— Sexo — falei tranquila e vi meu pai engasgar, nesse momento não deu mais para
segurar o riso, eu explodi.

— Quem te ensinou isso? — ele perguntou espantado.

— Pai, eu fui a melhor aluna do colégio, passei direto para a faculdade. Esperava mesmo
que eu não soubesse sobre isso? — Arqueei uma sobrancelha.

— Eu esperava que não — ele falou, ainda espantado. — Você sabe que essas coisas se
fazem só depois dos 20, não é? Ou melhor dos 30?

— Eu torço para você arrumar uma mulher e direcionar esse seu ciúmes todo para ela.

Meu pai sempre foi uma pessoa alegre, engraçada e carinhosa. Acho que qualquer pessoa
que tem um pai como o meu deveria ser muito feliz. Sempre desejei que ele encontrasse uma
pessoa boa que lhe devolvesse a real felicidade. Não que ele seja infeliz, só precisa ser mais feliz.
Depois de quase um ano estudando em Stanford eu conheci John. Eu estava na biblioteca tentando
pegar o primeiro livro das Crônicas Do Gelo e Do Fogo. Quando ele chegou e pegou do alto da
prateleira para mim.

— Eu já li esse livro. — Ouvi uma voz masculina falar. Levantei os olhos para ver quem era,
o dono da voz era um moreno lindo de olhos vibrantes e azuis. — E se eu te desse spoilers? — ele
perguntou arqueando uma sobrancelha.

— Acho que eu teria que te odiar para todo o sempre — falei entrando na sua.

— Ok. Então não te darei spoilers. Posso me sentar aqui? — ele perguntou puxando uma
cadeira em frente da minha.

— Claro — tentei falar com desinteresse. Nunca tinha trocado mais que 4 palavras com um
cara tão lindo.

— Eu sou John — ele falou estendendo a mão.


— John tipo Jonathan? — perguntei e apertei a sua mão.

— Sim, e você é? — ele perguntou.

— Sou Tracy. Tracy de apenas Tracy mesmo. — Sorri sem graça.

— Prazer, Tracy, você estuda aqui em Stanford? — perguntou com interesse.

— Sim, estudo Psicologia. E você?

— Estudo Engenharia — falou quase que se gabando. — Está aqui há muito tempo? —
perguntou logo depois, quando me viu revirar os olhos.

— Isso é algum tipo de aposta besta com outros caras da faculdade? Por que se for,
deixe-me fora, ok? Escolha outra nerd ainda mais horrível do que eu e me deixe em paz.

— Isso não é nenhuma aposta e me surpreende ver como a sua autoestima é quase nula.

— Caras como você não se aproximam de garotas como eu sem algum motivo.

— Como pode saber isso se afasta todos com essa autopreservação?

— Não é autopreservação, é a ordem natural das coisas.

— Podemos mudar essa ordem, não acha?

— O que você quer comigo Jonathan? — perguntei incrédula.

— Vou te ajudar com essa autoestima. Primeiro lhe comprando um espelho — ele falou e
eu sorri sem humor.

— Já vi vários filmes como esse, você fez uma aposta e vai tentar me transformar na
menina mais gata e popular daqui e eu vou me apaixonar por você, que vai partir meu coração.
Então não, obrigado.

— Você anda lendo e vendo filmes demais, Tracy. A realidade é bem diferente. Aceita sair
comigo? — ele perguntou e sua voz parecia sincera.

— Isso é sério?

— Pode apostar que sim.

— Como posso ter certeza?


— Apenas me dê um voto de confiança.

Respirei fundo e finalmente resolvi ceder. — Pode ser.

Depois desse dia nos encontramos váriàs vezes e passamos a ser amigos, para minha
surpresa ele tinha varias coisas em comum a mim. Às vezes era até difícil de acreditar que alguém
como ele havia se interessado por alguém como eu. Como era de se esperar, passei a gostar dele.

Um dia estávamos caminhando pelos corredores de Stanford quando eu sem querer deixei
cair alguns livros, logo me abaixei para pegá-los e ele se abaixou junto, batemos nossas cabeças e
começamos a rir, quando encarei seus olhos ele estava sério e então me beijou. Foi surpreendente,
meu primeiro beijo, parecia apaixonado e cheio de desejo. Quando nos desvencilhamos, John falou
"eu queria fazer isso a muito tempo." Desde então começamos a ficar, ou namorar não sei. As
saídas ficaram mais freqüentes e ele já queria conhecer o meu pai, o que eu adiei por um bom
tempo.

Quando chegou o dia em que eu finalmente iria me mudar para o alojamento, cheguei um
pouco atrasada, a cama próxima à janela havia sido escolhida, então me acomodei na outra e
comecei a arrumar as minhas coisas no guarda-roupas. Sentei na cama e comecei a trocar
mensagens com John, depois de alguns minutos a minha colega de quarto saiu do banho e pareceu
surpresa ao me ver.

— Oi, você deve ser Katherine Snow. Eu sou Tracy Fell, sua colega de quarto — falei
levantando da cama e estendendo a mão.

— Pode me chamar de Kate, por favor, Katherine é meio formal demais — falou num tom
gentil, gostei dela de cara, achei que seríamos boas amigas.

— Oh, okay. Kate então. — Sorri e voltei a mexer no celular, contei a John sobre a colega
de quarto e para minha surpresa, acabei descobrindo que ela era melhor amiga dele desde
pequena, logo depois me envolvi numa conversa animada com ela sobre John e a infância deles,
confesso que fiquei com um pouco de ciúme por ela ser tão linda.

Os rumores na faculdade sobre o sumiço de várias professoras estavam aumentando e com


isso a preocupação do meu pai, um dia ele veio todo estranho no meu quarto perguntando sobre a
minha colega de quarto e se oferecendo para ficar até ela chegar, dizendo que estava com medo
de acontecer algo comigo. Para minha surpresa isso mudou do nada e ele decidiu que ia embora.

Ele andava meio estranho, no dia anterior eu o havia achado no quarto e Kate de toalha,
fiquei mais tranquila ao saber que ele me esperou chegar. Depois teve a notícia do fechamento da
faculdade para as investigações, meu pai teve a brilhante ideia de viajar para o Caribe
novamente, já havíamos viajado para lá duàs vezes. Eu pensei bem e achei que essa era a chance
de fazê-lo conhecer John e é claro que Kate me ajudou nisso.

Meu pai relutou bastante, mas no fim acabou aceitando. Eu não sou idiota, a essa altura do
campeonato eu já havia percebido os olhares de meu pai para Kate e os dela para ele, só que
ela era bem melhor em disfarçar do que ele. Um dia antes da viagem eu decidi que iria seguir os
conselhos de Kate, fui até um shopping que havia perto da faculdade e tentei mudar. Deixei os
óculos de lado, arrumei o corte de cabelo, hidratei e mudei as roupas, ainda consegui aprender um
pouco sobre maquiagem. No dia da viagem John ficou surpreso com a minha mudança, mas de um
modo bom, ele havia adorado.

No avião eu dormi praticamente o tempo todo. Já no Caribe descobri que realmente havia
um envolvimento do meu pai com Kate e é claro que dei o meu total apoio. Eu havia pedido muito
para meu pai ficar feliz e deixar os ciúmes de mim. Ao mesmo tempo que a viagem foi feliz,
também foi agoniante, houve o sequestro e todos aqueles dias de agonia, depois teve a internação
de Kate. A audiência e tudo ficou bastante confuso.

Quando tudo finalmente parecia estar se ajeitando teve a minha briga com o John, eu
estava fazendo um trabalho em grupo com alguns colegas e John não gostou de um deles é nós
discutimos feio. Felizmente depois da discussão veio um lindo jantar e um pedido de namoro oficial.
Só que como nem tudo são flores, no dia seguinte John recebeu a notícia de que a mãe havia
morrido. Meu mundo caiu junto com o dele, tentei consolá-lo, mas não sabia como fazer, tinha
perdido a minha mãe, mas isso foi antes de nascer.

Foi doloroso ver o quanto John sofria no funeral, quando ele decidiu ficar com o pai, quis
protestar, mas ele precisava daquele momento. Liguei para ele todos os dias durante as duas
primeiras semanas e depois decidi ir até lá e ficar com ele, meu pai relutou um pouco mais acabou
deixando. John acabou aceitando bem e voltou a ser o mesmo cara alegre e brincalhão de
sempre.

Dois meses depois meu pai decidiu que queria pedir a Kate em casamento, eu e Madson o
ajudamos na preparação de tudo e no final era para dar tudo certo, mas infelizmente aconteceu o
acidente, com Mad e Alex, e novamente as coisas pioraram.

Agora tudo realmente parece estar se ajeitando, Madson acordou e tem o Douglas que
parece bem apaixonado, John e eu estamos cada vez mais firmes e Kate e meu pai estão noivos,
acho que a história finalmente está chegando ao fim, mas um fim bom.
Capítulo Vinte e Quatro
— Fala logo, vai me matar de curiosidade — Madson falou.

— Deu... Deu... — Kate parecia em choque.

— Deu o que? — Tracy perguntou.

— Deu negativo — Kate falou.

— O que? — Madson praticamente gritou.

— Como assim? — Tracy perguntou.

— Eu estou brincando com vocês. — Kate sorriu. — Deu positivo. — Ela soltou um grito de
felicidade. Mesmo que ela quisesse um filho só depois do casamento estava feliz, um filho do
homem que amava era a melhor notícia que já tinha recebido.

Tracy gritou também e abraçou Kate.

— Ei gente, eu não posso me levantar — Madson falou e as duas correram e a abraçaram


na cama.

— Nós temos que planejar como você vai contar isso para o meu pai. Ele vai surtar —
Tracy falou sorrindo. — Um irmãozinho ou irmãzinha, que maravilha. Vou ser tipo uma irmã tia. —
Ela bateu palmas em animação.

— Eu sou tão nova para ser tia. — Madson fez uma careta. Depois sorriu. — Eu adorei
isso. Você tem que marcar exames, pré-natal, escolher nome e ... — Madson disparou e Kate a
interrompeu.

— Calma gente, eu acabei de descobrir que estou grávida, ainda tem tempo para vocês
surtarem.

Conversou por mais um tempo com Tracy e Madson, até que a fisioterapeuta chegou e as
duas tiveram que sair. Tracy arrastou Kate para o shopping ali perto, era o dia de folga de Kate
então ela nem se preocupou com o tempo, as duas foram animadas para o shopping.

Lá, Tracy parecia querer surtar, arrastou Kate para várias lojas de bebês e fez questão de
comprar varias coisas como "presente de irmã".
— Vamos passar nessa loja — Tracy falou arrastando Kate para mais uma loja de bebês.

— Meu Deus, Tracy, acabei de descobrir que estou grávida e você já encheu meu filho de
presentes? — Kate falou rindo da amiga, as duas estavam cheias de sacolas nos braços, todas de
roupas unissex para recém-nascidos.

— Só mais essa, prometo — Tracy falou e logo foi andando em direção a um balcão onde
haviam meias, luvas, tocas e outros acessórios.

Elas ficaram mais meia hora na loja e logo Kate convenceu Tracy a ir embora dali, a loira
sentia-se faminta e desde a semana anterior quando o restaurante brasileiro havia sido
inaugurado que ela estava viciada nas comidas de lá.

— Ainda não está na hora do almoço para você comer aquela feijoada — Tracy falou
emburrada, Kate havia amado o prato típico brasileiro, mas a amiga havia odiado.

— Mas eles também servem lanches — Kate falou em sua defesa.

— Poderíamos ter ido ao McDonalds — Tracy falou com um tom de ironia.

— Nada disso, você escolheu as lojas e eu escolho o restaurante, agora dirija amiga —
Kate falou animada. Ela já havia almoçado e jantado no restaurante, mas nunca havia provado os
lanches de lá.

Cinco minutos depois estavam estacionando em frente ao local, Tracy ainda estava
emburrada por que estava com vontade de comer um hambúrguer, mas Kate usou a famosa
desculpa do desejo de grávida e ela se convenceu. Ao entrar no restaurante ouviu uma música
animada, ela não conhecia aquela língua, quando perguntou a um dos funcionários, foi informada
que eram músicas populares do Brasil. Mesmo não entendendo nada do que a música falava ela
adorou.

As duas foram até a bancada onde havia alguns lanches e lá uma comida chamou a
atenção de Kate, quando perguntou a atendente o que era, a moça respondeu que aquilo era
coxinha de frango. Kate não sabia o que era uma coxinha mas quis comer mesmo assim, pediu uma
para ela e uma para Tracy e dois sucos naturais de laranja. Quando a comida chegou na mesa
Tracy fez uma cara feia e de início se recusou a comer.

— Isso é muito bom — Kate disse depois de dar uma mordida enorme na coxinha. — Se
você não comer a sua eu como — falou levantando uma sobrancelha.
— Ok, ok. Eu vou tentar comer. — Tracy deu uma pequena mordida na coxinha e pareceu
ter gostado por que em seguida deu mais outra, um pouco maior. — Caramba, isso é muito bom —
Tracy falou.

— Eu avisei e quero mais uma — Kate disse e Tracy concordou.

Depois de terminar de comer a outra coxinha, a garçonete foi até elas e sugeriu uma
sobremesa chamada brigadeiro e outra chamada beijinho. Kate resistiu um pouco a aceitar, mas
como já tinha provado que as comidas típicas do Brasil eram boas ela resolveu testar e amou,
assim como Tracy também. No final as duas resolveram levar alguns brigadeiros para Madson.

Compraram e no caminho para o hospital Tracy foi dando ideias para Kate de como contar
a Thomas sobre a gravidez. As duas decidiram sobre fazer um embrulho de presente com uma das
roupinhas de bebê, um sapatinho e colocar o exame junto. Chegaram no hospital e foram
diretamente para o quarto de Madson.

Quando chegaram lá deram de cara com Brad saindo do quarto, ele sorriu e as
cumprimentou. Elas entraram no quarto e Madson estava sorrindo feito boba, Kate e Tracy se
entreolharam.

— E aí? — Kate falou num tom provocador. — O que Brad queria? — Arqueou uma
sobrancelha.

— Ele tem conversado bastante comigo e me feito várias visitas. — Ela sorriu.

— Que bom, mas e o doutor gostoso? — Tracy perguntou.

— Ah? — Madson perguntou confusa.

— Ah, não se faça de desentendida, você sabe muito bem que estou falando do Douglas.
— Tracy cruzou os braços.

— O que tem ele? — Madson se fez de desentendida.

— Ele estava caidinho por você. — Kate fala.

— Acho que não mana. Ele só vem aqui para me levar para fazer os exames e nunca
demostrou algum tipo de afeição — Madson falou com a voz meio triste.

— Eu trabalho com ele e sei o quanto ele esta ocupado esses dias, mas tenho certeza de
que ele se importa mais com você do que você imagina — Kate falou.
— Vamos mudar de assunto. O que tem nessa caixinha aí? — Madson perguntou.

— São uns doces brasileiros que eu trouxe para você — Kate falou e entregou a caixa
para Madson.

— Brasileiros? — Madson perguntou.

— Ela anda fissurada em coisas brasileiras — Tracy respondeu revirando os olhos.

— Ei! As comidas brasileiras são ótimas e não me dão enjôos. Acho que o bebê gosta —
Kate falou.

— Que bebê? — Douglas entrou na sala perguntando.

— Pega em flagra — Kate falou.

— Quem está grávida? — ele perguntou preocupado.

— Podem falar meninas. Douglas, é um segredo, por enquanto. Thomas não pode saber —
Kate disse.

— Tracy está grávida? Thomas irá matar John com certeza. — Douglas falou e Kate viu
Tracy corar.

— Não! Eu estou — Kate falou.

— Meu Deus, parabéns Kate. — Douglas deu um abraço nela.

— Obrigado, Douglas. — Kate sorriu para ele, retribuindo o abraço. — Experimente o


doce brasileiro.

— Brasileiro? — Douglas perguntou confuso.

— Kate está fissurada em comidas brasileiras — Tracy respondeu.

— Diferente — Douglas falou.

— Pode apostar que sim — Tracy concordou.

— Prove logo — Kate falou entregando um brigadeiro para ele.

— Ei, eu que sou o chefe aqui — Douglas falou.

— Eu estou de folga, agora coma.


— Nossa isso realmente é ótimo. — Douglas falou depois de comer um brigadeiro.

— Eu falei. — Kate se gabou.

Depois de conversar por mais uns minutos com os quatro, Kate decidiu que queria ir para
casa. Antes passou em uma loja de presentes que havia no hall do hospital e comprou uma caixa
de presente com um laço enorme. Depois Tracy a deixou em casa e falou que seguiria para a
faculdade. Entrando em casa Kate encontrou Melissa na cozinha, o cheiro de comida fez o
estômago de Kate embrulhar, largou as sacolas de compra no chão da sala e ela correu para o
banheiro de seu quarto. Logo depois Melissa chegou no quarto preocupada.

— Ainda doente menina? — ela perguntou.

— Sim. Não — Kate respondeu rápido.

— Como assim? — Melissa perguntou confusa.

Kate lavou o rosto e saiu do banheiro o secando com uma toalha. — Eu fiz um teste.

— Teste para que? — Melissa perguntou ainda confusa.

— De gravidez — Kate falou baixo.

— Oh. E o que deu?

— Positivo.

— O seu pai vai matar Thomas — Melissa falou.

— Eu sei — Kate disse nervosa.

— Thomas já sabe? — Melissa perguntou.

— Vou contar essa noite. — Kate respondeu.

— Boa sorte.

— Vou precisar. — Assim que ela terminou de falar o telefone começou a tocar e a foto de
Thomas surgiu na tela. — É ele — ela sussurrou para Melissa que logo saiu do quarto.

— Amor? — Thomas falou ao atender o telefone.

— Oi amor — Kate falou animada.


— Você está bem?

— Estou sim e você? — ela perguntou.

— Estou, mas com muita saudade. Você anda me evitando — ele falou com a voz
parecendo magoada.

— Não, amor, claro que não. — Ela tentou sorrir, mas soou nervosa.

— Eu tenho uma surpresa para você. Essa noite — ele falou.

— Eu ouvi isso semana passada. — Kate provocou.

— Dessa vez vai dar certo — ele se defendeu. — Encontre-me na minha casa às oito
horas?

— Tudo bem, mas só por que eu sou uma noiva muito legal. — Gabou-se.

— Eu sei que sim — ele falou. — Vou voltar a trabalhar, até mais tarde meu amor.

— Até meu príncipe.

Ele desligou. Essa era a oportunidade perfeita para ela fazer uma surpresa para ele.
Correu até a sala e pegou as sacolas que ainda estavam esparramadas pelo chão e levou até o
quarto. Pegou a caixa que havia comprado e colocou uma roupinha de bebê dentro dela com um
sapatinho e o exame. Fechou com o laço e deixou do lado da cômoda.

— Kate! — Melissa gritou.

— O que?! — Kate gritou de volta.

— Trate de vir aqui comer algo! — Kate sorriu com aquilo, Melissa agora era como uma
segunda mãe para ela.

— O que tem de bom aí? — Kate falou ao chegar na cozinha.

— Eu fiz um bolo de milho e tem um suco de cranberry — Melissa falou e Kate sentiu o
estômago roncar.

As duas se envolveram numa conversa animada sobre crianças e gravidez. De tarde, Kate
sentiu vontade de comer brigadeiro, como não quis ir até o restaurante, ela e Melissa decidiram
tentar fazer um, pesquisaram a receita na internet e começaram a fazer. No fim não deu muito
certo, o brigadeiro ficou mole e não formou uma bolinha então as duas jogaram apenas o confete
em cima e comeram assim mesmo, pelo menos gostoso tinha ficado.

Por volta das 18:00h, Kate decidiu tomar um longo banho morno, ficou relaxando debaixo
do chuveiro por meia hora e depois que saiu resolveu secar e arrumar o cabelo com paciência,
escolheu um vestido preto e calçou saltos cor de pele. Depois de fazer uma make bem básica, já
estava pronta, resolveu ir para a casa do Thomas. Deu um beijinho na Melissa antes de sair e
dirigiu tranquila até a casa dele.

Chegando lá pegou a chave que ficava de baixo de um vaso de flores e abriu a porta e
entrou. Thomas ainda não havia chegado, ela deixou a caixa de presente em cima da mesinha da
sala e seguiu para a cozinha, estava com fome de novo. No caminho achou uma caixa enorme de
presente, ela sabia que não deveria olhar, mas curiosidade foi maior.

Caminhou até a caixa enorme e de lá ouviu um chorinho, parecido com o de um filhote,


caminhou mais rápido e ajoelhou em frente à caixa e abriu, lá dentro tinha um filhotinho de
labrador com uma fita rosa amarrada no pescoço.

— Ai meu Deus, você é uma gracinha — Kate falou pegando o filhote no colo e
abraçando. — Eu adorei você.

— Ah não! Você descobriu a primeira surpresa — Thomas falou entrando na casa.

— Amor, eu a amei — Kate falou se levantando, colocou o filhote no chão e se jogou nos
braços de Thomas, dando um beijo demorado nele. — Obrigada. — Ela sorriu.

— De nada amor, mas eu ainda tenho uma surpresa — Thomas falou e começou a puxá-la
para a saída da casa.

— Espera aí amor, eu também tenho uma surpresa. — Kate soltou a mão da dele e correu
até a mesinha da sala, pegando a caixa branca.

— Espera, amor, deixe eu te fazer a minha outra surpresa primeiro. — Thomas pediu
quando ela estendeu a caixa para ele.

— Tudo bem, amor. — Ela continuou com a caixa em mãos.

— Então vamos — Thomas falou abrindo a porta.

— Espera! — Kate falou e correu até o filhote. — A Lexie vai conosco.

— Ok, amor, você tem sorte que o lugar onde vamos aceita cachorros. — Thomas sorriu e
os dois saíram em direção ao carro dele. — Lexie? — ele perguntou confuso.

— Eu gosto de Diários de um Vampiro. — Kate se justificou.

— Okay então.

No carro Kate colocou a caixa branca no banco traseiro e manteve Lexie em seu colo,
sempre fazendo carinho e mimando-a. O caminho até o local que Thomas havia escolhido parecia
nunca acabar.

***
Thomas estava extremamente nervoso, não sabia se Kate gostaria da surpresa, ele estava
planejando isso a semanas. A cachorrinha era só uma pequena parte da surpresa, a maior supresa
estava por vir. Ele estava curioso para saber o que tinha na caixa branca que Kate havia
colocado no banco de trás. De vez em quando olhava pelo retrovisor a caixa, tentando imaginar o
que havia lá dentro. Justamente naquele dia, fazia 8 meses que Thomas havia conhecido Kate e
ele pensou no melhor modo de comemorar. Esperava que ela concordasse.

Quando estava próximo ao local que queria levá-la, parou o carro. Não se arriscaria em
parar na frente e ela descobrir o que planejava. Estava suando frio de tanto nervosismo.
Desceram do carro e Kate continuava com a cadelinha nos braços. Thomas a conduziu até o local e
quando pararam em frente Kate parecia surpresa.

Era uma das maiores catedrais da Califórnia. Kate parecia surpresa, mas não de um modo
ruim, ela parecia feliz e em seu rosto escorriam várias lágrimas.

— Vamos entrar? — Thomas perguntou.

— Claro — ela falou enxugando as lágrimas.

Os dois caminharam de mãos dadas até o altar onde estava um padre, Kate não sabia,
mas Thomas já havia marcado a data do casamento deles para 3 meses depois daquele dia. Três
exatos meses. Ao chegar lá o padre os conduziu até uma sala atrás do altar e começou a
conversar com eles.

— Então quer dizer que vocês querem se casar? — o padre perguntou.

— Sim — os dois responderam juntos.

— Você teve sorte meu rapaz, a data que você escolheu era a única livre tão próxima.
— Como assim? — Kate perguntou confusa.

— Essa é a surpresa amor. — Marquei a data do nosso casamento.

— Para quando? — ela perguntou parecendo perdida.

— Daqui a três meses — ele respondeu esperando um surto dela ou qualquer outra coisa,
mas ela começou a chorar. — O que houve princesa? — Thomas perguntou preocupado.

— Isso é tão maravilhoso — ela falou e o abraçou. — Mas a minha mãe vai surtar para
conseguir organizar a festa.

— Vocês podem assinar o caderno de datas por favor? — o padre os interrompeu.

Os dois assinaram e deram um beijo enorme. Saíram dali abraçados e seguiram para o
carro, Thomas sentia-se o homem mais feliz do mundo. Ela havia reagido bem, ele estava tão
nervoso antes e agora estava tranquilo e curioso para saber o que tinha na caixa.

— E a minha surpresa? — ele perguntou ao entrar no carro.

— Só quando chegarmos na sua casa — ela falou deixando-o curioso.

Thomas dirigiu o mais rápido que pode até a sua casa, a curiosidade estava o matando.
Quando chegou lá, Kate pegou a caixa e Lexie em braços e entrou antes dele na casa.

— Primeiro peço que tenha mente aberta — ela pediu ao sentar-se no sofá.

— Eu estou ficando com medo — Thomas falou e era verdade.

Ela entregou a caixa e ele relutou um pouco antes de abrir, puxou a fita e desfez do laço
devagar. Retirou a tampa e ficou surpreso com o que viu, era uma roupinha de bebê branca com
sapatinhos e um tipo de carta. Os olhos dele encheram-se de lágrimas. Ele olhou para Kate e ela
tinha um enorme sorriso no rosto, ele não pode evitar sorrir também.

Abriu o envelope e retirou de lá a carta, que na verdade era um exame e que confirmava
o que ele já imaginava. Mais lágrimas escorreram pelo rosto de Thomas, ele estava emocionado.
Um filho, Kate esperava um filho seu e isso o fazia a amar ainda mais.

— Isso é maravilhoso amor — ele falou colocando a caixa do lado no sofá e puxando
Kate para o seu colo. — Você não sabe o quanto eu te amo. — Beijou-a.

— Eu te amo mais ainda, meu amor. Nós vamos ser muito felizes — ela falou e ele sentiu um
aperto no coração. A primeira mulher dele havia dito a mesma coisa quando descobriu a gravidez.

— Eu tenho certeza de que vamos, senhora Wolf. — Ele ignorou aquela sensação de déjà
vu e a beijou.

Agora a felicidade dele estava completa, iria se casar com a mulher que ama. Ela estava
esperando um filho seu e o melhor de tudo, tudo estava na mais perfeita ordem.

3 meses depois

Todas as mulheres estavam reunidas na casa de Madson e vários maquiadores e


cabeleireiros estavam lá também, a correria estava grande. Eram exatamente 06:00 da manhã e o
casamento aconteceria às 10:00, todas estavam nervosas com o curto tempo que teriam para se
arrumarem. Kate estava sentada em sua cama pensando na cara de Thomas ao vê-la na sua
despedida de solteiro. Bem-feito! Se ele pensava que olharia para outra mulher que não fosse eu,
ele estava muito enganado. Kate pensou.

Ela havia acabado de acordar, no dia anterior Melissa a havia arrastado para a casa de
Madson e é claro que dado umas boas broncas nelas e em Tracy por causa do episódio na
despedida de solteiro. Claro que nenhum delas se arrependia daquilo, era a lição perfeita para
eles. Kate estava passando a mão em sua barriga que devido aos quase 4 meses de gravidez
estava enorme.

— Oi meus bebês, hoje é um dia especial para a mamãe e para o papai, hoje os seus pais
se casam e a mamãe esta muito feliz, não só porque o papai agora será só meu. — Ela sorriu
passando a mão na barriga, como Thomas geralmente fazia. — Mas feliz também por ter vocês
dentro de mim, nunca imaginei que amaria alguém tanto quanto amo o pai de vocês, mas quando
descobri que estava grávida percebi que isso é possível. É tão boa a sensação de sentir que há
duas vidas crescendo dentro de mim e não vejo a hora de poder segurá-los em meus braços, eu os
protegerei com a minha vida. Mamãe ama vocês. — Algumas lágrimas escorreram pelo rosto de
Kate, ela havia descoberto que estava grávida de gêmeos fazia um mês.

— Que mãe mais coruja essa — Tracy falou entrando no quarto e sentando-se ao lado de
Kate. — Oi irmãozinhos. — Ela passou a mão na barriga de Kate. — Está na hora de tomar
banho senhorita noiva. — As duas sorriram.

— Já vou — Kate falou e começou a se levantar da cama.


Mesmo que estivesse apenas com 3 meses e 3 semanas ela já se sentia pesada, a barriga
estava grande e ela amava aquilo, pouco importava se iria entrar na igreja parecendo uma
melancia, ela só sabia que lá no altar, ela estaria perto das pessoas que ela mais amava.

Andou a passos lentos até o banheiro, que por sorte tinha uma banheira, precisava relaxar
uns minutos antes de finalmente começar a se arrumar. Ela estava nervosa, hoje era o grande dia e
a sua vida definitivamente iria mudar. Depois de meia hora o banho Tracy começou a bater
freneticamente na porta gritando que ela iria se atrasar. Então ela criou coragem e saiu da
banheira. No canto do quarto estava o enorme vestido de noiva, ao lado dele tinha uma
penteadeira com várias maletas de maquiagem, em cima da cama tinha uma lingerie branca e no
chão ao lado da cama estava a mala que ela levaria para a viagem.

Ela vestiu a lingerie e um vestidinho por cima, logo o cabeleireiro entrou e começou a secar
seu cabelo. Enquanto o arrumava ela ficou conversando com Tracy, que insistia que só começaria a
se arrumar quando ela estivesse quase pronta. Quando o cabelo estava pronto, o maquiador
começou a arrumá-la, enquanto o cabeleireiro arrumava Tracy.

Já eram 08:30 quando Kate começou a vestir seu vestido e quanto mais se aproximava do
horário do casamento, mais nervosa ela ficava. Melissa e Tracy estavam ajudando. O vestido havia
ficado perfeito em seu corpo. Todas as damas também estavam vestidas e tudo havia ficado do
jeito que ela imaginou.

***
John, Gerald e Douglas haviam chegado na casa de Thomas há pouco, eles estavam
conversando animadamente para passar o tempo. Thomas estava nervoso, até mais nervoso do
que na primeira vez que se casou. Ele não havia conseguido dormir direito, depois que Kate saiu
do hotel ele ficou meio atordoado. Não havia entendido o que havia acabado de acontecer.

Os homens estavam bebendo, menos Thomas, ele tinha prometido a si mesmo que nunca
mais voltaria a por uma gota de álcool na boca. As horas pareciam se arrastar, Thomas decidiu ir
mais cedo para a igreja, queria checar se tudo estava certo. Colocou a mala no carro que os
levaria para o aeroporto depois da festa.

***
Estava chegando a hora de ir para a igreja e Kate estava cada vez mais ansiosa. Todas as
mulheres já estavam prontas e logo o motorista chegaria para buscá-la. Kate estava tão ansiosa
que passava mal, desde o dia anterior não havia conseguido comer nada. Começou a sentir enjôos
e correu para o banheiro sendo seguida por Tracy.

— O que houve? — Tracy perguntou ajudando Kate a limpar a boca com um paninho.

— Só um mal-estar — respondeu levantando-se. — O meu batom saiu todo.

— Vem que eu passo outra vez. — Elas seguiram para a penteadeira. — Você precisa
comer algo — Tracy falou enquanto retocava o batom de Kate.

— Não consigo, estou muito nervosa — ela respondeu.

— Vamos fazer a respiração de cachorrinho. Sempre funciona quando estou nervosa —


Tracy falou e começou a inspirar e respirar rápido. Isso fez Kate sorrir.

— Você está parecendo uma retardada. — Kate caiu no riso novamente.

— Sou retardada e você precisa comer. Meus irmãozinhos precisam de energia. E você
também. — Tracy sorriu maliciosa.

— Vou comer. Aliás, você poderia me contar para onde eu vou na lua de mel. — Kate a
olhou suplicante.

— Poderia, mas não vou — Tracy falou e Kate fez uma careta

Kate comeu algumas frutas leves e foi para a sala, olhou com orgulho para todas que
estavam ali, amigas e familiares. Várias primas e tias também vieram para o seu casamento e é
claro que falaram bastante por ela estar grávida e falaram ainda mais por Thomas ter uma filha.
No final a mãe de Kate havia colocado cada uma em seu devido lugar.

Estava chegando a hora de ir para a igreja, a limusine já estava posicionada na entrada


da casa e todas as mulheres prontas, apenas Tracy e a mãe de Kate iriam com ela no carro.
Madson iria com a mãe e o padrasto e as outras mulheres cada uma em seu respectivo carro.

Entrou na limusine e tentou se manter calma, aquele era o dia mais importante da sua vida
e ela não sabia como reagir, queria sorrir, chorar de felicidade, gritar, extravasar, mas decidiu
apenas se controlar. Quando chegou em frente à igreja um nervosismo cresceu dentro dela e ela
só conseguia pensar em uma coisa.

— Eu quero brigadeiro — ela falou para Tracy.

— Aonde eu vou arrumar brigadeiro, Kate? — Tracy estava confusa.


— Não sei. Eu quero brigadeiro. — Ela repetiu.

— Filha o restaurante está meio longe — a mãe de Kate falou.

— Eu não entro nessa igreja sem antes comer brigadeiro. — Cruzou os braços como uma
criança birrenta. — Querem que meus filhos nasçam com cara de brigadeiro?

— Não mesmo, você comeria eles. — Tracy gargalhou.

— Tudo bem, nós vamos arrumar brigadeiros — a mãe de Kate falou e pegou o celular
para ligar para o restaurante, quando estava prestes a ligar lembrou-se que no local da festa
teria brigadeiro, havia sido uma exigência de Kate.

***
Quase todos os convidados já haviam chegado, Thomas estava parado no altar, hora ou
outra arrumava a gravata ou passava as mãos pelo cabelo. O nervosismo o estava consumindo,
Kate já deveria estar ali. Se ela tivesse desistido? Ele olhou por toda a igreja e em meio a algumas
pessoas viu um rosto que nunca mais achou que veria. Ela caminhou com passos lentos até ele,
seguida das pessoas que ele quis esquecer.

— Mãe — ele falou com uma voz séria.

— Oi filho. — A voz dela era doce e o seu olhar suplicante, ao seu lado estava o pai de
Thomas e suas duas irmãs.

— Você veio — Thomas falou ainda sem acreditar que aquilo era real.

— Eu não perderia esse dia por nada — ela falou e algumas lágrimas escorreram por
seus olhos.

— Achei que me odiasse — ele falou.

— Foi besteira ter mantido esse sentimento ruim por tanto tempo, eu soube de tudo o que
aconteceu meu filho e me arrependo tanto de ter te afastado de mim, fico feliz que tenha
conseguido superar e esteja tão bem. — Ela sorriu fraco.

— Nós nos arrependemos muito filho, sabemos que a culpa do acidente não foi sua e temos
certeza de que você sofreu muito sem nossa presença todo esse tempo e por isso viemos pedir
perdão, nós queremos que você seja muito feliz com essa moça — o pai de Thomas falou.

— Nós estávamos com tanta saudade, Tommy. — As irmãs dele falaram juntas e o
abraçaram.

— Eu também estava. — Ele sorriu retribuindo o abraço.

— Agora nós vamos para os nossos lugares e na festa falamos com você e a sua noiva,
que aliás já deve estar chegando.

Ele os observou sair e por um momento até esqueceu a preocupação com Kate, mas assim
que viu Tracy correr em sua direção, passando pelo meio da igreja ele se lembrou. Seu coração se
apertou e se ela viesse falar que Kate desistiu. Ele não suportaria essa dor. Quando Tracy se
aproximou, ela respirou ofegante antes de falar.

— Kate já está vindo. Tivemos uns contratempos com brigadeiros — ela falou e voltou
correndo para a porta da igreja.

Thomas ficou confuso, brigadeiros? Aqueles doces brasileiros que Kate fazia ele comprar
todos os dias? Conseguiu se acalmar mais depois do aviso de Tracy. O som da marcha nupcial
começou a tocar, as duas priminhas de Kate entraram, uma delas carregando uma almofada com
as alianças e a outra despejando pétalas de rosa branca pelo tapete vermelho. Em seguida
estavam John e Tracy, de braços dados, Madson acompanhada por Douglas que empurrava a sua
cadeira de rodas, Abby acompanhada de Brad e Melissa juntamente com o seu marido. Atrás dele
estava Kate de braço cruzado com Gerald.

Thomas não pode deixar de admirá-la, ela estava simplesmente linda e o vestido não
escondia que estava grávida. “Grávida de mim. Carregando duas vidas em seu ventre, com certeza
eu sou o homem mais feliz do mundo”, Thomas pensou. Kate tinha um sorriso enorme no rosto, que
mesmo coberto pelo véu estava lindo. Aos poucos cada um foi tomando seu lugar no altar e
quando chegou a vez de Kate, Gerald levantou o seu véu e deu um beijo em sua testa, pegou o
buquê das mãos da filha e entregou para Madson. Logo depois voltou-se para Thomas, estendeu a
mão da filha e em seguida falou:

— Cuide dela como da sua própria vida, rapaz — ele falou num tom ameaçador.

— Pode ter certeza de que vou. — Thomas pegou o braço de Kate e os dois seguiram
para o altar, ajoelhando-se em frente ao padre.

— Queridos irmãos e irmãs, estamos aqui presentes para unir esse casal em santo
matrimônio perante a lei de Deus. — O padre começou a recitar o texto. — Thomas Ackles Wolf,
você aceita Katherine Stephen Snow, como sua legítima esposa, para amá-la e respeitá-la na
saúde e na doença, na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza, até que a morte os separe?

— Eu aceito — ele falou decidido.

— E você, Katherine Stephen Snow, aceita Thomas Ackles Wolf como seu legítimo esposo,
para amá-lo e respeitá-lo na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, na riqueza e na
pobreza, até que a morte os separe? — o padre perguntou voltado a Kate.

— Eu aceito — ela respondeu firme, olhou para Thomas e sorriu.

— Se há alguém aqui presente que seja contra esse santo matrimônio, fale agora ou cale-
se para sempre. — O padre falou e o silêncio tomou a igreja. Quando ninguém se manifestou ele
continuou. — Bem, pelo poder a mim investido, eu os declaro, marido e mulher. Já pode beijar a
noiva.

Os dois se levantaram e Thomas a puxou para os seus braços beijando-a enquanto todos
da igreja aplaudiam. Kate pegou o buquê com a irmã e voltou para Thomas, os dois saíram
andando felizes sendo seguidos pela multidão de convidados, ao passar pela porta da igreja a
chuva de arroz e confete os atingiu, os dois sorriram e se beijaram novamente. A limusine estava
esperando-os na porta, eles desceram as escadas correndo e entraram nela, dali iriam para o
local da festa, manteriam abraços, beijos e carinhos durante o caminho e quando chegaram ao
local foram separados trocar as roupas.

Thomas estava no meio da multidão de convidados, cumprimentava e sorria para todos os


que passavam desejando felicidades, quando olhou para as escadas lá estava Kate, ela vestia um
vestido diferente, mas que lhe caia perfeitamente, ele era vermelho e ficava pouco abaixo do
joelho. Ele caminhou a passos lentos até ela e a beijou.

— Olá, senhora Wolf — ele falou.

— Olá, marido. — Ela sorriu, os dois seguiram para perto dos convidados, mas não antes
de passar pela mesa de doces é claro, Kate queria mais brigadeiros.

Depois de alguns minutos a mãe, o pai e as irmãs de Thomas se aproximaram deles. A


primeira a cumprimentá-los foi Beth, que era cinco anos mais nova que Thomas.

— Tommy — ela falou, abraçando-o de novo. — Agora sim podemos conversar, eu estava
com tanta saudade.

— Eu também — falou Briana.


— Eu também estava, meninas, ah essa é Kate. Minha mulher — Thomas falou
apresentando-a a todos. — E Kate, essas são Beth e Briana, minhas irmãs, Rosaly, minha mãe e
Michel, o meu pai.

Kate o olhou confusa, ele apenas sorriu para ela como quem dissesse está tudo bem. — Oh,
prazer — Kate falou e sorriu.

— Está de quantos meses, querida? — Rosaly perguntou passando a mão pela barriga de
Kate.

— Quase quatro — Kate falou sorrindo, dessa vez com sinceridade.

— Só isso? Mas a sua barriga está tão grande. — Dessa vez Michael falou chocado.

— São dois bebês — Thomas respondeu.

— Já sabem os sexos? — Briana perguntou.

— Só saberemos depois da lua de mel. — Kate respondeu.

— Ah sim. — Rosaly falou meio desapontada. — Cadê Tracy, Thomas? Eu ainda não a vi.

— Ali ela — ele apontou para Tracy que estava junto a John. Quando ela o olhou ele fez
um sinal para que viesse até ele. — Filha, eu quero que você conheça umas pessoas.

— Quem? — Tracy estava confusa.

— Esses são Rosaly e Michel, seus avós. E aquelas são Beth e Briana, suas tias. — Thomas
despejou e Tracy parecia em choque. Ela não respondeu nada, apenas saiu correndo e Kate foi
atrás, quando Thomas insistiu em ir ela disse que não, era melhor conversar com ela sozinha.

Alguns minutos depois Kate voltou e disse que havia falado com Tracy, mas ela não quis
voltar para perto dessas pessoas pois se sentia desconfortável, Thomas demorou um pouco, mas
aceitou a decisão da filha. A festa seguiu calma, vários convidados vindo cumprimentá-los e os dois
dançavam juntos uma música calma.

— Vai me contar para onde vamos? — ela sussurrou no ouvido de Thomas.

— Quer mesmo saber? — ele perguntou baixinho, com certa ironia.

— Você nem imagina o quanto — ela falou aconchegando-se no peito dele.

— Vamos para Paris — ele falou.


— Espera. De avião? — ela perguntou incrédula, afastando-se dele.

— Sim — ele falou com calma.

— Mas você sabe que eu morro de medo de avião.

Thomas não respondeu, apenas sorriu. Logo Tracy apareceu com o buquê na mão gritando.

— Todos vocês, prestem atenção. Está na hora da noiva jogar o buquê — ela gritou e
várias mulheres começaram a se aglomerar em um canto, Tracy parecia mais calma, só que não
olhava de modo algum para a mesa onde estavam os pais de Thomas.

Kate foi até Tracy e pegou o buquê, virou-se de costas e contou até três antes de jogá-lo, o
buquê caiu nas mãos de Madson, que foi surpreendida pelos olhares de Douglas e Brad. Kate
sorriu. Thomas e ela se despediram de todos e foram em direção ao carro que já os esperava
para levá-los ao aeroporto.

***
Kate e Thomas estavam no aeroporto, já haviam despachado as bagagens e esperavam a
chamada para o seu vôo, Paris era muito mais do que ela já havia sonhado, seria como uma
segunda lua de mel, já que haviam tido uma "lua de mel" no Caribe no começo do namoro.

Enquanto esperavam, Thomas não parava de passar a mão na barriga de Kate e a beijar,
ela adorava aquilo. Toda aquela atenção e carinho. Thomas ainda não havia tocado no assunto da
noite anterior e ela estava achando aquilo muito estranho, achou que ele brigaria com ela, mas ele
mal parecia lembrar daquele episódio. Kate esperava que continuasse assim.

Kate havia invadido a despedida de solteiro de Thomas, juntamente com Madson e Tracy,
elas haviam subornado as dançarinas que os meninos contrataram e apareceram vestindo apenas
as fantasias que as dançarinas usariam. Havia sido um plano louco, mas a raiva que sentiu ao
saber que teriam mulheres quase nuas dançando para o seu futuro marido a havia dominado.

O voo finalmente estava no painel de embarque, eles se levantaram e caminharam de mãos


dadas até a porta de embarque, seriam algumas boas horas de voo e Kate estava nervosa.
Apertava a mão de Thomas com toda a força que tinha, quando os dois estavam no avião ela o
abraçou, morrendo de medo da decolagem. Quando o avião começou a decolar uma das
aeromoças pediu para Kate se manter na posição que estava no folheto, para sua segurança e
dos bebês. Kate quase voou no pescoço dela com raiva, a tal aeromoça a havia feito se afastar
de Thomas.

Entretando a viagem foi muito tranquila e tirando o desejo estranho de Kate de comer
gelatina com aveia, tudo havia corrido normalmente, Kate dormiu por boa parte do voo, então nem
sentiu tanto pavor quanto achava que sentiria. Depois de um pouso relativamente calmo, foram
para o desembarque esperar pelas malas. Seriam cinco dias em Paris e o melhor de tudo só os
dois, ou seja. Era um sonho realizado.

--

Quando chegaram ao hotel já passava da meia-noite, não estavam cansados, haviam


dormido muito durante o voo. Depois de pegar a chave do quarto, subiram pelo elevador, Thomas
a olhava com aquele olhar que só ela sabia o que queria dizer.

— Pare de me olhar assim — Kate falou sem graça.

— Assim como? — ele perguntou se fazendo de desentendido.

— Você sabe como — respondeu ainda sem graça. Ela sabia o que ele queria que
dissesse.

— Não sei de nada, estou te olhando normalmente — ele respondeu.

— Não está não, está me olhando como se quisesse me foder.

— E é isso mesmo que eu quero — ele falou e a prendeu contra a parede do elevador,
despejando beijos sobre o meu pescoço.

“Oh, Deus”, ela pensou, “espero que não tenha câmeras nesse elevador.”

Ela ansiava por seu toque e ele sabia disso, distribuía beijos pelo seu pescoço, mordia a sua
orelha, sussurrava algumas sacanagens em seu ouvido e suas mãos passeavam por dentro do
vestido de Kate, apertando sua cintura e bunda. Kate achava que nunca um elevador tivesse
demorado tanto para subir até o trigésimo andar, chegou até a pensar que a escolha havia sido
proposital. Quando a porta se abriu ele se afastou rapidamente e ela soltou um gemido de
desgosto. Ele sorriu e a puxou pela mão até a porta do quarto, quando entraram suas malas já
estavam num canto. Quando olhou para a sua mala lembrou-se que não estava com a lingerie que
queria, pensou em mil desculpas para dar naquele momento. Thomas aproximou-se da esposa com
aquele olhar, quando ele passou os braços a sua volta ela quase se esqueceu do que tinha que
fazer. A lucidez voltou e saiu de seus braços.
— Eu preciso de um banho — falou rápido.

— Vamos para o banho então — ele falou sorrindo.

— Não! — Kate gritou e ele a olhou confuso. — Eu preciso de um banho sozinha — falou
mais baixo dessa vez.

— Não demore, amor — ele falou e ela apenas assentiu.

Pegou sua mala e saiu arrastando pelo quarto até o banheiro. Como estava pesada, o que
havia colocado dentro dela, chumbo? Entrou no banheiro e trancou a porta, começou a se despir o
mais rápido possível, estava ansiosa, apressada, nervosa e todos os adjetivos que existem para
expressar isso.

— Bebês da mamãe, por favor não atrapalhem hoje — falou com sua barriga. Esperava
conseguir fazer tudo o que queria mesmo com uma "melancia" no lugar de barriga.

Entrou no banho e pegou o sabonete de rosas que havia colocado na mala, amarrou seu
cabelo para que não molhasse, lavou-se o mais rápido possível. Sua pele agora cheirava a rosas,
mas ainda assim passou um hidratante e um perfume. Vestiu a lingerie vermelha que havia
separado para essa ocasião, sabendo que serviria perfeitamente e tinha certeza de que
enlouqueceria o marido, vestiu um robe preto com transparência por cima e soltou os cabelos,
finalmente sentiu-se pronta.

Saiu do banheiro e respirou fundo, olhando pelo quarto, achou Thomas, apenas de cueca
de costas para ela, na sacada, olhando para a cidade abaixo, era uma visão linda, todo aquele
corpo e a torre Eiffel ao fundo, juntamente com todas as luzes. Como se sentisse sua presença,
Thomas se virou com um sorriso sacana no rosto e com passos lentos se aproximou de dela.

Mesmo que já tivesse visto aquele corpo diversas vezes ela nunca se acostumaria, era uma
visão dos deuses. Vários arrepios percorriam o seu corpo por causa de seu olhar. Ele continuava a
se aproximar, com aquele olhar de predador cercando a presa e era como ela se sentia, uma
presa.

Quando Thomas já estava próximo o suficiente do seu corpo, passou uma de suas mãos
pelo pescoço de Kate, descendo pelas costas e firmando-a na cintura, puxando-a para junto de si.
Arfou com seu toque, a sua outra mão estava no cabelo da esposa, puxando o rosto dela de
encontro ao dele. Seus lábios se tocaram, primeiro com delicadeza e depois com mais intensidade.

A sua mão que antes estava na cintura de Kate puxava o laço do seu robe e em seguida o
tirava do seu corpo. Suas duas mãos desceram até as pernas dela e Thomas a puxou para cima
dele, entrelaçou as pernas ao redor da sua cintura e prendeu-a contra a parede, enquanto se
beijavam, uma de suas mãos passeava por todo corpo macio e arredondado de Kate, nesse
momento ela já conseguia sentir a ereção do marido e o desejava dentro dela.

Porém, Kate sabia que ele a torturaria por mais um tempo antes de dar o que ela queria.
Thomas beijou o seu pescoço e suas mãos voltaram para a bunda da esposa, que ainda estava
entrelaçada no corpo do marido, que andava em direção a cama, até depoisitá-la com cuidado na
cama e se afastou, com um sorriso malicioso nos lábios. Ficou olhando-a por um tempo e em
seguida voltou a beijá-la, depositou beijos desde a sua boca até a altura dos seios, as mãos
hábeis passearam pelas costas e desabotoaram o sutiã de Kate, que foi puxado com lentidão e
jogado no chão ao lado da cama.

Thomas ouviu um gemido saído da boca da esposa, quando ele olhou para os seus seios,
ela mordeu os próprios lábios e sorriu, ele retribuiu com um sorriso safado e voltou a beijá-la,
desceu novamente aos beijos até encontrar um de seus seios, chupou e mordiscou o seio direito
enquanto com a mão direita mexia no outro, gemeu com seu toque, aquilo era maravilhoso e ela
pensava que nunca me acostumaria com tanto prazer. Seu marido continuou descendo os beijos
pela barriga, o que a fez arrepiar, parou os beijos na altura da calcinha e olhou com aquele
sorriso sacana no rosto, em seguida puxou-a dos dois lados, rasgando-a, o que arrancou um
gemido de desaprovação, ele sorriu ainda mais e atirou a calcinha no chão.

Ele continuou com os beijos enquanto com as mãos afastava as pernas da esposa, beijou
seu sexo e começou a chupá-la, fazedo com que Kate gemesse cada vez mais alto. Ao ouvir os
gemidos, ele introduziu um dedo dentro dela, que arfou de prazer, enquanto ele começava com os
movimentos de vai e vem, pouco tempo depois chegou ao ápice, gozando em sua boca. Ainda não
estava saciada, precisava tê-lo dentro de delae Thomas sabia disso.

Thomas levantou-se e puxou a mulher mais para a ponta da cama, enquanto ele tirava a
cueca, Kate pensou na vontade de rasgá-la para que ele soubesse como ela se sentiu, mas
deduziu que não teria tanta habilidade quanto ele em rasgar tecidos. Quando ele ficou
completamente nu, Kate pode admirar sua ereção, que era enorme, ele sorriu ao ver a expressão
da esposa e colocou suas mãos na cintura dela, virando-a rapidamente para ficar de quatro e
fazendo com que ela gemesse novamente quando ele voltou a passar as mãos pelo seu corpo.

— Você é tão linda, Kate — falou com voz rouca. — Tão pronta para mim. — ele passava
uma de suas mãos pela bunda da esposa.
Thomas a posicionou e acomodou na ponta da cama e ela pode sentir a sua ereção, que
ele deslizava pela bunda de Kate, provocando-a. Ela já estava louca de desejo, mas Thomas
continuava com o seu joguinho de tortura. Introduziu apenas a cabeça em meu sexo, colocando-a e
tirando-a em um movimento lento de enlouquecer qualquer um.

— Thomas — falou suplicante, precisava tê-lo dentro dela.

— O que você quer amor? — ele perguntou com voz rouca, sabia o que a mulher queria
mas só daria quando ela falasse.

— Você sabe o que eu quero — falou em meio aos gemidos.

— Diga! — ele ordenou com aquela voz sexy.

— Foda-me — falou suplicante.

Entrou nela de uma vez, o que a fez arfar alto. Começou com movimentos lentos e aos
poucos foi aumentando o ritmo, falando sacanagens, chamando-a todo tempo de gostosa e sua.
Chegaram ao ápice juntos, Thomas deixou o seu corpo cair ao lado do dela e ficou passando a
mão em seu rosto, a respiração era tão ofegante quando a dela.

— Eu te amo — ele falou sorrindo.

— Eu te amo — Kate respondeu sorrindo fraco.

— Acho que agora eu mereço um banho junto com a minha mulher — falou as duas últimas
palavras lentamente.

— Merece sim — sorriu para ele.

Ele se levantou primeiro e a puxou. Colocou-a na frente dele e foram caminhando juntos
até o banheiro, enquanto ele continuava beijando o seu pescoço. Chegando no banheiro ele
colocou a banheira para encher e voltou-se para ela, prendeu-a a parede e voltou a beijá-la.

A verdade era essa, um banho nunca seria apenas um banho com Thomas Wolf e Kate
adorava aquilo.
Thomas
Finalmente havia chegado o dia em que iríamos descobrir o sexo dos bebês, Kate estava
tão ansiosa quanto eu. Já estávamos no consultório da obstetra que Kate escolheu, claro que deixei
bem claro que deveria ser mulher. Nunca deixaria um homem tocar em minha esposa, ela achava
isso uma besteira, mas concordou.

Durante a semana da lua de mel, Kate quase havia enlouquecido, tivemos rodar Paris
inteira atrás do tal doce brasileiro, falei que se continuasse assim ela iria engordar. Como não
achamos, ela fez questão de fazer o tal doce, no quarto do hotel não tinha cozinha. Ou seja, Kate
me fez levá-la até a cozinha do restaurante do hotel para fazer o doce. Foi difícil convencer os
cozinheiros a deixá-la usar a cozinha, mas quando ela fez o doce e distribuiu para todos, eles
falaram que ela poderia usar a cozinha toda vez que quisesse. Foi o que aconteceu, ela usou
aquela cozinha mais três vezes.

Voltando à consulta. Já estávamos no consultório, ela estava comendo um desses doces e se


recusava a dividir comigo. Dizendo que já estava dividindo com duas pessoas e aquilo já era um
milagre. Assim que terminou de comer, fomos chamados, Kate apertou a minha mão forte e
seguimos para a sala. Minha loira queria ter um casal, eu queria que fossem dois meninos e Tracy
queria que fossem duas meninas. Mesmo com essas preferências, independente do sexo dos bebês,
eles iriam ser muito amados. Já eram muito amados por todos.

— Olá, Katherine — a obstetra falou, sorrindo para nós. — Como tem passado?

— Muito bem, tirando a vontade louca de comer a toda hora. — Kate sorriu, dava para
ver que estava um pouco nervosa.

— Deite-se aqui — a médica falou apontando para uma cadeira.

Ajudei Kate a subir na cadeira e segurei a sua mão, a médica ligou todo o equipamento e
levantou a blusa de Kate até a altura dos seios, pegou um gel e passou por toda a barriga com
uma luva. Logo pegou o equipamento e posicionou na barriga de Kate.

— Vocês já decidiram os nomes? — a médica perguntou.

— Ainda não, queríamos decidir só depois de descobrir o sexo dos bebês — Kate
respondeu.

— Vão querer a ultrassom gravada?


— Sim — respondemos juntos.

A médica começou a passar o equipamento pela barriga de Kate e eu fiquei atento às


imagens na tela, emocionei-me ao ver o corpinho de um dos meus filhos e logo em seguida o outro,
a médica aumentou o som para que ouvíssemos os batimentos cardíacos. Nunca pensei que seria
tão emocionante passar por isso de novo, Kate estava com lágrimas nos olhos e um enorme sorriso.
O que me deixava ainda mais emocionado.

— Olha bem aqui — a médica apontou na tela. — Esse é um menino — ela falou sorrindo
e movimentou o aparelho para o outro lado da barriga. — E esse, mesmo estando viradinho, da
para ver bem aqui — ela apontou e circulou outra parte da tela. — Também é um menino.

Não consegui segurar o choro, eram meus dois rapazes, tão pequenos dentro da barriga
da mulher que eu amo. Eu não poderia estar mais feliz, Kate também chorava de felicidade. Nunca
imaginei poder ser tão feliz novamente.
Kate.
Aquela notícia havia mexido comigo, mesmo querendo um casalzinho estava super feliz,
meus dois meninos eram saudáveis e cresciam fortes dentro de mim. Thomas não conseguia
esconder a sua alegria também, dois meninos era tudo o que ele queria. Ele falava que meninas
dariam muito trabalho.

Agora teríamos que escolher os nomes e não estávamos conseguindo chegar a uma decisão,
tentei convencê-lo a deixar que nossos filhos se chamassem Harry e Percy, ou seja, os dois heróis
dos meus livros preferidos. Infelizmente ele não concordou, ele queria que eles se chamassem Zack
e Nicolas. Para chegar a uma decisão concreta, resolvemos que eu escolheria um dos nomes e ele
o outro.

Eu escolhi Harry e ele escolheu Zack. Depois da consulta, Thomas fez questão de ir direto
contar a Tracy e aos outros, marcamos todos de nos encontrar em um restaurante ali perto e
almoçarmos juntos. Você já deve imaginar como foi uma festa quando todos souberam do sexo dos
bebês, não é?! Até a mãe, o pai e as irmãs de Thomas haviam ido no almoço, aos poucos eles
estavam se reaproximando do filho e da neta, Tracy ainda ficava meio insegura perto deles, mas
já estava começando a os aceitar.

Meus pais não puderam ir no almoço, minha mãe estava em Londres e meu pai no Brasil a
negócios. Ainda no mesmo dia falei com a minha mãe pelo FaceTime e contei a notícia. Ela por sua
vez, ficou tão emocionada que resolveu criar uma coleção de roupas para bebês e crianças. Já ao
meu pai, contei por telefone, mas ele do mesmo modo que a minha mãe ficou muito emocionado e
já tratou de falar que eles cuidariam das empresas dele. Vê se pode, os meninos ainda nem
nasceram e já arrumaram um trabalho.

Madson havia ido juntamente com a mãe, agora, elas estavam morando em uma casa no
mesmo condomínio que Douglas. Havia sido um presente do meu pai, a casa era totalmente
acessível o que facilitou a locomoção dela com a cadeira de rodas para todo o canto. O padrasto
de Madson as visitava uma vez no mês, já que trabalhava muito no Arizona.

A irmã mais nova do Douglas havia arrumado um namorado, claro que o irmão havia
surtado e proibido tudo, mas com a ajuda de Madson ela conseguiu driblá-lo. O irmão de Douglas
por sua vez, também parecia estar namorando, o que foi muito bom. Já que ele parou de pegar
no pé de todo ser humano que use saias, principalmente de Madson.

Douglas continuava a supervisionar os tratamentos de Madson, se os dois estivessem no


mesmo local dava para se ver a atração no ar, mas eles não admitiam isso. Um mais cabeça dura
do que o outro, inventando desculpas sem fundamento para adiar o que todos já sabiam que iria
acontecer.

Vez ou outra, Madson me contava sobre uma menininha que estava em coma no hospital e
justamente por causa do mesmo acidente que a deixou em coma meses atrás. Madson me contou
sobre a menina agora ser órfã e disse que o seu sonho era adotá-la e faria de tudo para realizar
esse sonho depois que ela acordasse.

No tratamento de Madson, as melhoras eram significativas, minha irmã é muito forte e cada
dia mais surpreendia a todos. Era para ela demorar mais para se recuperar, no entanto já havia
recuperado quase todos os movimentos, conseguia ficar de pé e até dar alguns passos com a
ajuda das muletas, mas ainda precisava da cadeira de rodas. Douglas dizia que era só uma
questão de tempo para ela finalmente voltar a andar.

Tudo estava seguindo o caminho certo e dessa vez, sem nenhuma surpresa ruim para
atrapalhar as nossas vidas.
Epílogo
Já era véspera de Natal, uma das épocas mais felizes do ano. Várias pessoas estavam
reunidas na casa de Thomas, que agora não era mais na vila e sim em um condomínio fechado
próximo a Stanford, eles haviam decidido que precisavam de mais espaço para quando os
meninos chegassem e como Tracy agora também morava com eles, seria melhor ter bastante
espaço. Sem falar em Lexi, que de pequeno e fofo filhote havia se transformado num cachorro
enorme e majestoso. Já haviam se passado quase cinco meses desde eles haviam descoberto o
sexo dos bebês, nesse curto espaço de tempo muita coisa havia mudado.

Tracy já aceitava os avós e as tias e havia se aproximado muito de todos eles, mas estes
por sua vez só os visitavam de dois em dois meses. Os pais de Kate haviam optado por fazer um
novo "casamento", já até tinham data marcada e tudo mais. John estava passando uns dias com o
pai e a sua família. Madson estava viajando em lua com seu marido e sua filha, Anna. Ela
finalmente havia conseguido adotar a menina, depois de três longos meses de luta na justiça para
isso.

A barriga de Kate estava enorme, tão grande que ela tinha dificuldade de se levantar e
até de andar e não era para menos, faltavam apenas quatro dias para que os bebês dela
viessem ao mundo. Kate estava ansiosa pelo dia em que teria os seus bebês em seus braços, o
quarto deles já estava todo montado na nova casa e Thomas havia ficado tão animado com a
ideia de ter dois meninos que já havia enchido os dois de presentes que eles só usariam quando
tivessem mais de um ano.

Aquele era um dia muito feliz para Kate, aquele mês era feliz. Finalmente Madson havia
recuperado os movimentos das pernas, ainda precisava de uma das muletas, mas isso era por
pouco tempo. A melhora que ela já havia tido era significativa e tudo graças a um certo médico
apaixonado.

Todos estavam reunidos na sala de estar da casa, a lareira estava acesa e toda a sala
enfeitada com os enfeites de Natal, ao canto da sala, próxima à lareira havia uma enorme árvore
de Natal e ao pé dela vários presentes, maioria destinados aos bebês. As mães de Kate e de
Madson se encarregaram de ficar na cozinha e desde cedo estavam preparando tudo. Já era
noite e o horário da ceia se aproximava, todos estavam conversando animadoramente. Era tão
bom para ela ver todos unidos daquele modo.
— Escutem — Thomas falou, levantando-se. — Eu queria agradecer a todos por estarem
aqui, cada um de vocês teve um papel muito importante na minha história com a Kate e eu hoje sou
o homem mais feliz que existe no mundo inteiro. — Todos sorriram.

— E eu sou a mulher mais feliz do mundo — Kate falou e logo em seguida sentiu uma dor
forte no ventre. — Ai! — Ela gritou e logo Thomas estava ao lado dela amparando-a.

— O que foi amor? — Thomas perguntou, todos voltaram a atenção para Kate.

— Nada, amor, só uma dor, mas é besteira. — Ela sorriu fraco.

— Tem certeza? — ele perguntou desconfiado.

— Eu tenho sim.

— Gente, o jantar já está servido — Melissa falou entrando na sala.

— Vamos — Kate falou animada, levantando-se com a ajuda de Thomas, que ainda tinha
um olhar desconfiado no rosto.

Enquanto caminhava até a sala de jantar Kate sentiu a dor voltar novamente. Segurou o
grito de dor, mas a sua expressão a entregou.

— Amor, você tem certeza de que está bem? — Thomas perguntou ainda mais preocupado.

— Claro que estou! Que besteira. — Ela tentou parecer convincente.

— Tudo bem então.

— Ai! — ela gritou quando a dor voltou novamente.

— Acho melhor levarmos ela para o médico — Tracy falou chegando até a amiga.

— Thomas, você é médico. Faça alguma coisa — Grace gritou.

Kate gritou novamente, todos se desesperaram. Thomas se aproximou e puxou uma cadeira
para ela se sentar. A dor estava mais forte, mas ela já havia sentido dores assim antes. Não tão
constantes, mas logo passariam. Ela sentiu mais uma pontada de dor. Thomas estava tirando o pulso
dela e parecia desesperado.

— Gente, parem com isso. Eu estou b... Ai! — Ela tentou sorrir. — bem.

— Kate, você parece estar entrando em trabalho de parto — Thomas falou e todos alí
ficaram ainda mais desesperados.

— Não é possível, ainda faltam quatro dias — Kate falou colocando uma das mãos sobre
a barriga.

— Acho que seus meninos cansaram de esperar — Gerald falou.

— Eu vou buscar as coisas. Pai, prepare o carro, precisamos levá-la até a obstetra —
Tracy falou e começou a subir as escadas.

Thomas parecia paralisado, foi ai que Gerald pegou as chaves do carro e saiu correndo
pela porta de entrada.

— Amor, vai ficar tudo bem — Kate falou sorrindo para ele.

— Ele que deveria falar isso para você — Grace falou sorrindo.

Tracy estava descendo as escadas com a bolsa que já estava preparada, Thomas parecia
ter acordado de um transe e juntamente com Dean, estava ajudando Kate a se levantar e
começaram a conduzi-la até o carro. Quando estavam passando pela porta Kate sentiu um líquido
escorrer pelas pernas, a bolsa havia rompido. Thomas parecia ainda mais desesperado, Gerald
estava relativamente calmo e já estava no carro.

Kate entrou no carro e Thomas entrou em seguida, ela estava inspirando e respirando
tentando amenizar a dor que agora vinha com mais frequência. Demorou meia hora para eles
chegarem no hospital e por sorte a obstetra não estava em nenhum parto quando eles chegaram.

Kate foi levada a uma sala onde uma enfermeira a ajudou a trocar de roupa e a deitou
em uma maca, hora ou outra a enfermeira checava a dilação. Demorou pouco mais de uma hora
até Kate conseguir a dilatação necessária para o parto normal.

Kate entrou na sala de parto, nervosa, ela era fraca para dor e não sabia de onde tiraria
forças para fazer o parto. Thomas havia entrado com ela e a todo o momento manteve sua mão
na de Kate, que a cada vez que fazia força apertava a mão do marido.

Foram horas na sala de parto, fazendo força com uma dor quase que insuportável. Chorou
por diversas vezes com a dor. Chorou ainda mais de emoção quando seu primeiro filho veio ao
mundo, foi a cena mais emocionante pela qual ela havia passado. Aquele ser pequenino chorando
nos braços de uma das enfermeiras.

Alguns minutos depois seu segundo filho veio ao mundo, ela chorava ainda mais de emoção
e Thomas também. Estava fraca quando a enfermeira colocou os dois bebês em seus braços.

— Esse é o melhor presente de Natal que você poderia me dar — Thomas falou beijando
a testa de Kate.

— Esse é o melhor Natal das nossas vidas.

2 anos e alguns meses depois.

— Harry, não corra! Zack volte aqui. — Kate falava enquanto corria atrás dos filhos em um
parque no meio da cidade, estavam em um piquenique.

Harry e Zack já estavam com quase três anos, eram dois meninos saudáveis e sapecas.
Kate e Thomas tinham muito trabalho correndo atrás deles para cima e para baixo o dia todo. Eles
já arriscavam algumas palavras, era fofo ver os filhos tentando falar tudo o que eles falavam.
Sempre que olhava para os seus dois meninos Kate sabia que teria trabalho pela frente, quando
crescessem. Aqueles menininhos dos olhos azuis iriam arrancar muitos suspiros por onde passassem.

Os meninos eram super unidos e aprontavam todas juntos, todo mundo amava muito eles e
aquelas cabecinhas loiras conquistavam os corações de todos. Madson era uma tia super babona,
Tracy era uma irmã muito coruja. Fazia de tudo pelos pequenos que eram muito mimados. Anna,
sempre que podia fazia a mãe levá-la na casa deles para poder passar um tempo com os meninos
e com Lexie.

— Não adianta amor, deixe eles se divertirem — Thomas falou, abraçando-a por trás e
dando um beijo em sua nuca.

— Tão pequenos e já tão independentes — Kate falou pensativa.

— Você é uma ótima mãe — Thomas disse querendo tranquilizá-la, Kate era o tipo de mãe
que se preocupava demais com os filhos.

— E você um ótimo pai. — Ela se virou para beijá-lo.

Nesse momento os dois pequeninos correram em direção ao lago. — Não! — Kate e


Thomas gritaram juntos e correram pegando-os. Sorriram com aquilo.

Algumas coisas nunca iriam mudar.

— Eu não poderia querer nada mais além disso — Thomas falou sorrindo e abraçando
Kate juntamente com os meninos.
— Que tal isso! — Kate entregou uma pequena carta para ele.

— Isso é o que eu estou pensando? — Thomas perguntou com um sorriso enorme no rosto.

— Sim — Kate falou sorrindo também.

— Eu sou foda. — Thomas gabou-se e Kate sorriu.

— Sim você é e a nossa família está aumentando. — Eles teriam outro bebê, Kate já havia
perdido as contas de quantas vezes Thomas havia pedido mais um filho para ela e dessa vez ele
queria que fosse menina e Kate sentia que seria.

— Eu sou o homem mais feliz do mundo.

— E eu te amo.

— Eu te amo para sempre, meu amor.

O fim será apenas um começo...


Bônus
10 anos depois.

— Beatrice, venha aqui. O almoço já está na mesa. — Kate gritou chamando a filha, havia
dado aquele nome a ela em homenagem a mãe de John. — Chame seus irmãos.

— Está bom mãe! — A menina correu pela areia branca da praia.

Beatrice era a cópia fiel do pai, desde a cor de cabelo escura até os traços do rosto e os
olhos profundos. Uma menina linda e especial. Naquele dia, todos estavam reunidos na casa de
praia para comemorar o aniversário de 9 anos dela, os pais de Kate estavam lá, os pais e as
irmãs de Thomas também, a mãe e o padrasto de Madson. Os irmãos de Douglas e o pai de John.

— Oi, mãe. — Zack passou correndo.

— Oi, mãe. — Harry ia correr mas Kate o puxou.

— Peça para o seu irmão lavar as mãos — ela falou e deu um beijo na testa do filho,
liberando-o em seguida.

— Oi, tia Kate — Anna falou e deu um beijo no rosto de Kate, ela já era uma moça muito
bonita. Iria completar 17 anos em alguns meses e já estava deixando Douglas sem cabelos de
tanta preocupação.

— Oi, querida — Kate falou.

— Mamãe. — Beatrice correu para os braços de Kate gritando.

— O que foi pequena?

— Avise ao papai que não sou mais uma criança para ele ficar correndo atrás de mim e
fingindo que é um jacaré, vai me fazer passar vergonha. — Kate sorriu ao ouvir isso, a pequena
tinha o gênio da avó materna inteirinho. Beatrice saiu correndo em direção à casa.

— Thomas! — Kate o chamou. — Finja ser alguém normal — ela falou e ele a abraçou.

— Eu sou normal — Defendeu-se.

— Isso! Está no caminho certo — ela zombou.


— Ah, sua atrevida. Mais tarde eu te mostro o que é ser normal — ele falou olhando para
ela com segundas intenções.

— Arrumem um quarto — Madson falou e se aproximou deles. — Alguém viu o Douglas?

— Provavelmente vigiando a Anna — Kate falou e viu a irmã bufar de raiva.

— Ele nunca tomará jeito — ela disse e saiu batendo pés.

— Acho que essa família vai me deixar de cabelos brancos — Kate falou para Thomas.

— Se eu ainda não criei cabelos brancos você também não criará. — Ele tentou
tranquilizá-la.

— Vai zoando, quando a Tris arrumar um namorado eu quero ver você continuar com esse
sorriso.

— Ela só vai namorar depois dos 30 — falou decidido.

— A menos que ela conheça algum professor safado, aí aos trinta ela já estará com três
filhos. — Kate deu de ombros.

— Você anda com a língua muito afiada hoje, querida esposa — ele falou se aproximando
dela. — Eu vou te mostrar quem irá perder os cabelos essa noite.

Kate apenas sorriu com aquilo, algumas coisas nunca mudariam na vida deles e isso era
bom, ela não queria que nada mudasse, pois tudo parecia estar na mais perfeita ordem.
O que aconteceu na noite do acidente.
Depois de muita relutância, Thomas havia aceitado ir para a boate que o irmão da mulher
sugeriu. Ele disse que beberia pouco e voltaria logo para casa já que a mulher não podia ficar
sozinha por muito tempo. A mulher de Thomas já estava grávida de 9 meses e poderia entrar em
trabalho de parto a qualquer momento.

— Ei cara, vá buscar umas bebidas para nós — cunhado falou.

Thomas se aproximou do balcão e pediu seu whisky e um Blood Mary para o amigo. Assim
que o drink chegou uma mulher se aproximou dele e puxou conversa, enquanto ele conversava com
a mulher. Alice, que estava ao seu lado despejou um pó na bebida dele. Thomas pegou o copo de
whisky e virou, deixando o líquido descer pela sua garganta. Enquanto esperava pelo outro drink
ele começou a se sentir tonto, colocou a mão na cabeça como se estivesse doendo.

— Você está bem? — Alice perguntou.

Ele não conseguiu ouvir aquela pergunta, na verdade não conseguia distinguir nada ao seu
redor.

— Vem comigo — ela falou e ele apenas deixou ser levado, não sabia o que estava
fazendo, não sabia onde estava e muito menos com quem estava.

— Ajuda aqui, seu idiota — Alice chamou um homem que a ajudou a colocar Thomas no
carro, que havia pegado as chaves do bolso dele.

Thomas tentou falar mas não conseguia dizer nada, estava acordado, mas parecia estar em
um outro mundo. Ele olhou para o lado enquanto Alice dirigia e viu nela a sua mulher, tão
nitidamente que parecia ser real. Ao chegar no motel, o cara que havia ajudado Alice a colocar
Thomas no carro também a ajudou a carregá-lo para o quarto e em seguida foi dispensado por
ela.

— Agora, nós dois vamos nos divertir como eu sempre sonhei — ela falou e começou a
tirar as roupas dele.

Em seguida se despiu rápido e quando se aproximou da cama novamente Thomas já estava


apagado.

— Não. Não. Não! — Ela correu até ele é checou seu pulso, que estava um pouco fraco. —
Seu idiota, era para termos uma noite de amor — ela falou e algumas lágrimas escorreram pelos
seus olhos.

Decidiu então que mesmo que não tivessem feito nada, ela faria ele achar que sim. Foi até
o banheiro e parou em frente ao espelho, com uma das mãos apertou firme o braço, mas aquilo
não surtiria muito efeito. Então voltou ao quarto e procurou por algo que pudesse a ajudar com os
hematomas. No canto do quarto havia um ferro solto, pegou ele e começou a se espancar,
controlando os gritos de dor com um pano na boca.

Quando já estava com marcas o suficiente por todo corpo e rosto ela pegou um estilete que
tinha no bolso de sua calça e fez um corte pequeno próximo a virilha.

O sangue se espalhou pelas pernas e pelos lençóis, ela apenas deitou do lado dele e
esperou que ele acordasse. Demorou pouco mais de três horas para que o efeito da droga
passasse, quando ela percebeu que ele começava a acordar ela se encolheu na cama e começou
a soluçar.

Thomas acordou atordoado, não sabia direito onde estava, nem o que havia acontecido.
Ouviu soluços ao seu lado e quando olhou havia uma menina nua, toda machucada e
ensanguentada chorando. O desespero cresceu dentro do peito dele, olhou para o seu corpo e
também estava nu.

— Não pode ser — ele falou e isso chamou a atenção da menina. — Eu não...

— Seu monstro! — ela gritou, levantando da cama com dificuldade, parecia estar sentindo
dor.

— Eu não fiz isso. — Ele se levantou e começou a procurar pelas roupas espalhadas pelo
quarto. Vestiu-as rapidamente e ouviu o toque do telefone, quando foi atender a ligação já havia
acabado. Em seguida uma mensagem chegou em seu celular, era de sua mulher e ela dizia que
precisava dele urgentemente.

— Você não pode me deixar aqui — ela gritou de frente para ele e dessa vez ele pode
ver quem realmente era. O nome da garota era Alice e ela morava perto de sua casa.

— Eu... Eu preciso ir — ele falou.

Os dois acabaram discutindo e Thomas bateu no rosto da garota, no mesmo momento ele se
arrependeu daquilo, ele não era aquele tipo de cara. Ainda atordoado Thomas recolheu a chave
do carro do chão e foi embora, deixando-a lá sozinha. No meio do caminho recebeu outra ligação
da mulher, ela estava entrando em trabalho de parto e isso fez ele se desesperar mais ainda.

Buscou a mulher em casa e dirigiu feito pouco pela autoestrada, quando ia ultrapassar um
carro, outro veio em sua direção e tudo ficou escuro.
Agradecimentos
Tenho que dizer que meu coração está apertado por ter que dizer adeus a esse casal que
tanto participou da minha vida. Sentirei saudades de todas as confusões, todas as loucuras, todas
as declarações, todo o amor e todos os personagens. O que me conforta é saber que logo teremos
o segundo livro e que isso não é realmente um adeus.

Tenho que agradecer primeiramente a minha amiga Kamila Cavalcante, se não fosse por
ela eu não teria enviado o meu livro para Nix e também não teria conseguido publicar. Obrigada
pelo apoio, amiga, mesmo eu não sendo filha de mafioso (como você afirma por aí) ainda te amo!

Agradeço também a Míddian Meireles por ter me dado essa chance maravilhosa e por ter
acreditado em mim, talvez eu também tenha que agradecer por ela escrever uns livros
maravilhosos que me deram inspiração para começar a escrever (não fique se achando).

Tenho que agradecer à constelação mais brilhante desse planeta, que é formada pelas
estrelinhas da Nix. Ali, Line, Kami, Carlie, Maria Rosa, Ana (xará), Carol, Isa, Ari, Suany, Camille,
Thaís, Tati, Bia, Eli, Mí, Nanda, Sophia, Jaíne e Lais. Meninas, muito obrigada por todo apoio e amor,
fico feliz por fazer parte dessa grande família. Adoro vocês!

Agradeço as minhas amigas leitoras, meninas que participam do meu grupo e estão sempre
aguentando os meus surtos e loucuras. Mary, Eliahbe, Darlen, Fernanda, Bia, Karla, Mirian, Thays,
Werusca e todas as outras que me apoiaram tanto durante a criação desse livro. Obrigada, gente,
sem vocês eu não seria nada. Espero sempre poder melhorar, por que vocês merecem isso, o
melhor.
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