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Liade Adulta: Meia-Idade Regina Margi, Aristides Volpato Cordioli A meia-idade é uma fase do ciclo vital que se estende aproximadamente dos 40 aos 60 anos. A transigdo do adulto jovem para o de meia-idade é lenta e gradual, sem modificagdes abruptas fisicas oui psicoldgicas. Resumir e reavaliar so caracteristi cas marcantes do perfodo, mesmo quando no levam a quaisquer mudangas naté- nao as metas, mas também as SatisfagGes interiores, em considerar se o queapessoa conseguiu é compativel com os seus sonhos ¢ idéias anteriores. Nestes anos, adultos intermedidrios, a maioria das pessoas progride na carreira profissional, na vida conjugal e familiar, nas 4reas civico e socioeconémica, tenden- do a ocorrer a consolidagiio dos ganhos anteriores. De acordo com a concepgio de Erikson dos oito est4gios do ciclo vital, na meia-idade 0 individuo encontra-se no estagio psicossocial: generatividade versus estagnagdo. O termo generatividade aplica-se nao tanto a Criar € ensinar a propria “prole; mas 4 preocupagiio protetora por todas as geracées ¢ instituigdes sociais. Segundo Erikson, generatividade designa principalmente a preocupagao em estabe- lecer e orientar a geracio seguinte. A partir de um comportamento generativo a pessoa é capaz de passar adiante conhecimentos e habilidades. A virtude associada nesse est4gio é 0 cuidado. Os aspectos duradouros da formaciio de identidade sao: “Tideranga e partidarismo versus abdicacao da responsabilidade, Considerando'o proposto por Erikson, uma falha na generatividade pode significar uma estagnacao pessoal. A estagnacao pode estar mascarada em dife- 160 _Eizirik, Kapezinski & Bassols (orgs.) rentes comportamentos da pessoa. Pode ocorrer uma crise na meia-idade, e as conseqiiéncias sfo percebidas nos proprios individuos, nos que os cercam e nas diferentes organizagdes que deles dependem. AS TAREFAS EVOLUTIVAS DA MEIA-IDADE As tarefas evolutivas da meia-idade sao: : — aceitagio do corpo que envelhece; ~ aceitagiio da limitagao do tempo e da morte pessoal; “ — manutengio da intimidade; — teavaliagio dés relacionamentos; “ —_ relacionamento com os filhos: deixar ir, atingir igualdade, integrar novos membros; ¢~ — relagiio com seus pais: inversio de papéis, morte e individuagdo; —_exercicio do poder e posigao: trabalho e papel de instrutor; ~~ ~~ novos significados, habilidades e objetivos dos jogos na meia-idade; ~ — preparago para a velhice. TRANSICAO E CRISE NA MEIA-IDADE A transi¢ao na meia-idade é um fendmeno evolutivo normal quase universal. A crise na meia-idade é um estad& patologioo vivenctado por poucgs. Colarusko gico_vivenciado por poucos. Colarusso (2000) cita que a “transigo consiste numa avalago intrapsiquica de todos os ‘aspectos da vida, precipitada pelo reconhecimento crescente de que ela é finita. Essa transigGo passa pela reavaliagao de diversos aspectos da vida, pela necessi- dade de tomar decisées para a manutengao de estruturas como 0 casamento, a Tamilia, as amizades ¢ a carreira, que foram construida: Na meia-idade, também pode ocorrer um perfodo de crise ou de ruptura. O conflito se estabelece entre manter tais estruturas, abdicar de sonhos mais ambicio- sos ou fantasias, satisfa 3 ue foi ob! ua ruptura, para novas tentativas seja na vida profissional, amorosa ou familiar, A crenca subjacente pode “serade que esta éa ultima oportunidade: adiar serd tarde demais”. Para aqueles que entram na meia-idade com uma patologia significativa e um sentimento de frustra- do com suas realizagGes, enfrentar a tarefa evolutiva de perceber a limitag’o do tempo e a prdépria morte pode precipitar sintomas que configuram uma verdadeira iss peso natureza psicoldgica e existencial: a crise da meia-idade. egundo Elliott Jacques (1966), a crise em relagdo A capacidade criadora pode expressar-se de trés formas diferentes: a carreira criadora pode acabar; pode mostrar- se pela primeira vez ou pode produzir-se uma mudanga decisiva na qualidade e no contetido da criatividade. O trabalho criador no adulto maduro, algumas vezes, pode O Ciclo da Vida Humana 161 parecer niio elaborado externamente, no entanto, o que parece uma criagio répida e no elaborada é geralmente uma reelaboragdo de temas que jé haviam sido trabalha- dos anteriormente ou que foram emergindo lentamente ao longo dos anos de trabalho. No désfecho da crise; pesarir diferentes fatores, como o grau de satisfagdo ou insatisfagdo com o que foi obtido; o grau de confianga em si mesmo eas expectativas de sucesso; a auto-estiia; a capacidade de correr riscos e conviver com incertezas. Em resumo: a solidez das estruturas de ego, estabelecidas ao longo das etapas anteria: tes. Hé 0 predominio de defesas mais maduras, o estabelecimento de uma identidade propria, autonomia, ter completado ou niio de forma satisfat6ria o processo de separa- Gdofindividuagio, a integridade pessoal, o predomiinio de formas mais ou menos adap- tativas de lidar com os desafios e medos proprios de cada fase, etc. Pesam ainda o grau « de exigéncia consigo mesmo, a coeréncia éntre pensar/sentir/agir e a intolerncia com a discrepncia ou incoeréncia entre esses diferentes niveis. Individuos com déficits em-tais estruturas, mesmo em altos niveis de insatisfagao, por desacreditarem em suas capacidades e seus potenciais, podem preferir a estagnagiio, a acomodacio a situag6es insatisfatérias cdmo forma de fuga de conflitos e evitar um aumento da ansiedade, solugdo que acarreta uma reducio da auto-estima, insatisfaco, desespe- ranga e quadros depressivos. Podem recorrer ainda a solugées paliativas como rela- cionamentos paralelos, abandonos intempestivos de carreiras profissionais promis- soras, rupturas com antigos relacionamentos e amizades, muitas vezes, de forma impensada ou até mesmo desadaptativa e, em outras, de forma criativa e renovadora. Elliott Jacques (1966) ressalta que o cendrio psiquico entie a realidade e a inevitabi- lidade da propria morte € ponto centrale Basico dessa fase, que caracteriza a nalureza “GHitica desse perfodo. Segundo omesmo autor, areagao de cada um frente ao entrenta mento da metade da vida com a realidade da propria morte a qualquer momento, seja a capacidade para enfrentar esta realidade ou a negacao da mesma, encontra-se inten- samente influenciada pela relagao inconsciente infantil que se ii com a morte, Telagdo que depende da etapa e da natureza da elaboragao da po: depressiva. A aceitagao da limitagao do tempo pode estimular uma Maior apreciagao de valor de relacionamentos, uma reavaliacdo dos objetivos e um ordenamento de prioridades. LL RR Cc — ~ ALTERACOES FisICAS As mudaneas fisicas, nessa fase, provocam um efeito significativo do ponto de vista psicolégico. Com o envelhecimento, pensamentos, sentimentos a respeito da idade corporal, falhas de meméria e da capacidade de raciocinio sao mais freqiientes Preocupagées com o disfargar/esconder a idade podem ser observadas e, muitas vezes, provocar uma busca de cirurgias plasticas ou de longos perfodos em acade- mias, qué pode ser excessiva. O envelhecimento, o declinio de capacidades fisicas como déficits visuais, a diminuigao da forga fisica e da agilidade, o evidente aumen- to do aparecimento de doengas na prépria pessoa e nos contempordneos e a ocor- Instituto de Psicologia ~ UFRGS Biblioteca 162 Eizirik, Kapczinski & Bassols (orgs.) réncia de mortes devido a estas comecam a fazer parte das vivéncias dessa fase da ‘vida e, muitas vezes, sio acompanhados de intensa ansiedade. As taxas de mortalidade e morbidade permanecem baixas até aproximada- mente os 50 anos, quando passa a s¢ observar uma aceleragdo progressiva. As principais causas de morte modificam-se com a idade. As mortes violentas por acidentes ou suicfdio so a causa principal de morte nas fases anteriores. A partir dessa idade, as doengas degenerativas, as cardiopatias e o cancer (de mama e préstata) tornam-se mais proeminentes, bem como as mortes que causam. Além desses aspectos, também é um periodo de elevada ocorréncia de trans- tomnos psiquidtricos, como depressio, transtornos mentais organicos, alcoolismo e diminuiciio do interesse sexual. ALTERACOES HORMONAIS As alteragdes ocorrem tanto na aparéncia, com mudangas facilmente identificdveis como a cor do cabelo e alteragio no aspecto da pele, como internamente, como, por exemplo, as alteragdes hormonais nas mulheres. : Os aspectos que envolvem 0 perfodo do climatério receberam atengio cres- cente nas tiltimas décadas. O climatério é uma fase de transic&io da vida reprodutiva para a ndo-reprodutiva. A menopausa é o tltimo perfodo menstrual identificado retrospectivamente apés 12 meses de amenorréia. Wender e colaboradores (1996) citam que esse é um perfodo de modificagées hormonais. Inicialmente, h4 uma redugdo da resposta ovariana as gonadotrofinas, processo que énvolve deplegao dos oscitos e diminuig&o da produgdo da inibina. Os niveis de FSH, inicialmente, elevam-se de maneira ciclica. Geralmente, a duragiio dos ciclos se reduz para 21 a 24 dias, o que se relaciona 4 diminuicao da fase folicular do ciclo menstrual. A maioria dos ciclo’ é anovulatéria, a produgao de progesterona cai © a secrecao de estradiol é erratica; os ciclos anovulatérios podem durar de 14 dias até varios meses. Assim, ocorre uma instabilidade da mulher a respeito do momento da sua préxima menstruagdo, Hé im aumento da secregdo de gonadotrofinas no clima- térionos dois ou trés anos apés 1 menopausa; apés, ocorre um declinio gradual nos 20 a 30 anos seguintes. O ovario pés-menopdusico permanece com sua produgio de androstenediona e testosterona; a adrenal também mantém a producao desses hor- minios. O estrogénio circulante mais importante na mulher pés-menopdusica é a es- trona, cuja principal fonte provém da conversio periférica da androstenediona. Tendo em mente toda essa alterago hormonal, é esperado que ocorram manifestag6es clinicas caracteristicas desse perfodo. Na pré-menopausa a irregu- laridade menstrual ja é freqiiente. O sintoma mais tipico da mulher climatérica é 0 fogacho, ujna alteragdo vasomotora que ocorre em até 80% das mulheres e j4 pode ser observado em mulheres na pré-menopausa. Partes dos epitélios vesical e uretral sio estrogénio-dependerites, assim ocorrem alteragdes como atrofia urogenital provocando queixas como ressecamento vaginal, dispareunia, vaginites O Ciclo da Vida Humana 163 € uretrites atr6ficas e agravamento da incontinéncia urindria ao esforgo. Também € observada uma perda acelerada de coldgeno provocando ressecamento e redu- go da espessura da pele. Além desses achados, também se observam patologias relacionadas & deficiéncia estrogénica prolongada como doengas cardiovasculares e osteoporose pés-menopdusica. Nos homens, essa transigdo da meia-idade nio é tio claramente percebida. No entanto, também ocorrem alteragGes em relagio ao funcionamento prévio. De acordo com o que é citado por Presti ¢ colaboradores (1998), aproximadamente 50% dos homens sofrém algum grau de impoténcia a partir dos 40 anos de idade; no entanto, a prevaléncia niio é bem estabelecida. Segundo o National Center for Health Statistics (1985), a disfungo erétil estd intimamente ligada 4 idade, com uma incidéncia de impoténcia moderada/severa de 1,9% dos homens aos 40 anos e cerca de 25% aos 65 anos de idade. FAMILIA Como mencionado anteriormente, a meia-idade é um momento em que sio feitas teavaliagSes; nestas, se incluem particularmente os relacionamentos. Por exemplo, quanto ao casamento, dtividas se devem continuar ou nao com os relacionamentos que possuem ou buscar um novo parceiro. Em alguns, esse conflito é ocultado; em outros, se expressa pela agdo, como tentativas de separagdo, casos extraconjugais. Essa decisio geralmente provoca conseqiténcias nao sé para as duas pessoas envol- vidas, mas também para os filhos, os pais e os parentes mais proximos. Essa fase pode significar um teste para o casamento, uma vez que os filhos j4 no mais constituem o principal foco de atengao e o casal esté novamente entregue asi s6, Para Erik Erikson e Harry Stack Sullivan (1953), a capacidade para intimidade € parte importante do desenvolvimento. Um bom casamento proporciona seguranca, pois os parceiros estiio certos da afeigdo da pessoa mais importante para ele ou ela. Para que a intimidade sexual continue, os parceiros devem aceitar a aparéncia do outro e continuar a ach4-la sexualmente excitante, aceitar as mudangas na sua propria aparéncia e aceitar as mudangas que ocorrem no funcionamento sexual. Para muitos casais, o ajustamento sexual é mais satisfat6rio do que quando eram jovens, pois j4 conhecem as necessidades miituas e as formas de satisfazé-las, Nos relacionamentos que se iniciam na meia-idade, além das preocupagdes reais e imaginérias sobre a diminuigao da capacidade sexual e o retraimento emocio- nal, hé um aumento das presses relacionadas ao trabalho, com o sustento de filhos dependentes e, por vezes, de pais idosos, com a manutengio da intimidade que pode ser comprometida pela auséncia de um passado em comum ou pelas diferencas que foram-se acumulando ao longo dos anos em fungio de diferentes progressos nas respectivas carreiras, circulos de amizades, conquistas pessoais, etc. Os individuos com problemas com a sexualidade podem fazer uso do enve- lhecimento, do trabalho e do relacionamento com 05 filhos ¢ com os pais idosos | i i : I i | -164 Eizirik, Kapczinski & Bassols (orgs.) como forma de justificar seu desinteresse, evitando, com 0 uso da racionalizagio, o enfrentamento de seus conflitos. Com 0 passar dos anos, os filhos passam a ser adolescentes e adultos jovens. Hé uma mudanga no equilibrio do poder entre pais e filhos que tende a ser gradu- al. No entanto, so freqiientes os conflitos nessa fase: dificuldades de separagio (sobretudo por parte dos filhos), conflitos de poder e autoridade (competigio), dificuldades dos pais em confiar e delegar poderes. Muitos podem sentir inveja da vitalidade dos filhos e reviver de forma ressenti- da ou deprimida oportunidades perdidas. Os pais devem reconhecer a individuagao de seus filhos, propiciando assim a consecucao de identidades firmes de ego. Pikunas (1979) cita que, com o crescimento e a independéncia dos filhos, a mie pode sentir-se aliviada pela diminuig&o da carga do trabalho doméstico ¢ da responsabilidade, mas também lamenta e sente um vazio na sua vida —a sindrome do ninho vazio. Ela pode perceber os filhos como ingratos e negligentes em relagdo a ela que tanto fez por eles. Com o crescimento dos filhos, muitos tendem a se deparar com a promissora sexualidade dos adolescentes e o declinio da sua. Pais saudaveis lutam com a sua inveja e preocupagdes conscierites e inconscientes e gradualmente aceitam que seus filhos passarao a ter uma vida sexual ativa. ‘Aos sogros cabe renunciar & pretensao de estarem na posigao de principal objeto de amor na vida dos seus filhos, aceitar 0 novo parceiro e cultivar sua amizade. Como 0 cénjuge e 0 progenitor do mesmo sexo amam a mesma pessoa, forma-se um tridngulo semelhante ao triangulo edfpico infantil. O nascimento dos netos pode desencadear em alguns a sensagdo de estarem velhos. Fiske (1981) reforga que a condi¢do de avé é recebida com prazer por muitos, pois os netos podem servir como substitutos parciais dos filhos “‘perdidos”. Como os netos possibilitam uma ligagio entre o desenvolvimento da meia-idade e os temas da infancia, muitos encaram a condigdo de avé como uma confirmagao da renovaciio ou continuidade bioldgica. Para alguns, a atragiio pelos netos nao substitui em importancia outros interesses extrafamiliares e isso pode ser mal compreendido, surgindo uma fonte de conflitos entre geracdes. O cuidado dos pais é uma tarefa evolutiva dificil, tanto pelos aspectos finan- ceiros e administrativos como pelo fato de forgar, de certa forma, um reexame dos temas da infancia, concentrando a atengao nas limitagdes do tempo e na prépria morte. Com essa inversio de papéis, os filhos passam a antever o falecimento dos pais e isso pode estimular uma separagio psicolégica. ‘A doenga de um dos pais pode constituir a maior fonte de tensio na meia- idade. Hé ainda um aumento da ansiedade em face da perspectiva da inversiio que ir ocorrer com seus préprios filhos. A esquiva dessa tarefa evolutiva pode levar a conseqiiéncias psicolégicas, incluindo uma depressio de inicio tardio. Enfim, se considerarmos que os filhos esto saindo da casa dos seus pais cada vez mais tarde, por diferentes motivos, como dificuldades de trabalho, con- digdo financeira, perspectivas de diminuig&o do nivel de vida, pode-se considerar que os individuos de meia-idade tém tido uma sobrecarga por precisarem ainda cuidar dos filhos (25-35 anos) e dos seus prdprios pais (70-90 anos). O Ciclo da Vida Humana 165 PROFISSAO, O trabalho é um organizador psiquico. A meia-idade tende a ser uma época de realizag6es do exercicio do poder, resultado de anos de trabalho. Muitas vezes, as gratificagdes narcisistas em relagio ao trabalho podem ser consideraveis, com- pensando a realidade didria, podendo acontecer de o trabalho transformar-se na principal fonte de gratificagdio. Com o progresso na posigiio ocupacional, o avan- ¢o econémico também tende a nivelar-se. 7 Segundo Lidz (1983), com 9 passar dos anos, na meia-idade, muitas pessoas, sejam executivos ou trabalhadores bracais, preocupam-se mais em manter a posi- Gao © a seguranca atingidas em vez de procurar outras oportunidades, mesmo que melhores. Geralmente, com 0 aumento da idade, a seguranga do futuro progressiva- mente vai tendo precedéncia sobre a oportunidade, mas nem todos sao assim. Outro aspecto em relagao ao trabalho nessa etapa da vida consiste em reconhe- cer a justaposig&o da realizagio e do poder ¢ a aceitag&io do eventual deslocamento pela préxima geracdo: 0 conflito do instrutor que passa o conhecimento para a pré- xima geracdo enquanto reconhece que isso levard ao seu eventual deslocamento. Nas pessoas saudaveis, a raiva e a inveja geradas por essa compreensio no so atuadas, so. sublimadas no sentido da generatividade. Em alguns individuos, podem ocorrer ataques verbais ou atitudes com a intengdo de impedir o desenvolvimento e a progressdiodo outro. Existem carreiras que chegam ao fim na meia-idade e os que as seguem podem ter dificuldades, se nao estiverem preparados. Alguns individuos nessa faixa etdria perdem o emprego por diferentes razdes: a acelerada mudanca que se verifica no mercado de trabalho, no qual a atividade em si tem precedéncia sobre o emprego; as exigéricias cada vez maiores no que diz respeito a qualificagdo profissional (dominio de linguas estrangeiras, familiaridade com o uso de computadores), decorrentes das novas tecnologias de produgao, como a da automaciio, por exemplo; a concorréncia gerada pela globalizagio, que obriga a uma diminuigao de custos e as proprias mu- dangas aceleradas do mercado. As pessoas na meia-idade nao sio bem-vindas em campos nos quais no esto treinadas; j4 os trabalhadores especializados, muitas vezes, tendem a resistir ao treinamento. 7 APOSENTADORIA Umacontecimento relevante dessa fase de vida, pelos seus intimeros significados, 6 a aposentadoria. Aguardada, muitas vezes, como uma solugio magica quando a. nsatisfagdo ou os conflitos no trabalho so muito intensos ou como a ocasifio de. realizar os sonhos que ndo puderam ser realizados nas etapas anteriores, a aposenta- doria pode ser vivenciada como uma perda tanto nos aspectos financeiros, como no poder e nas relacGes sociais vinculadas ao trabalho e, nao raro, traz grandes desi sdes, sendo desencadeante de desadaptagies, crises emocionais ou transtornos psi- quidtricos como a depressio, 0 abuso de dlcool ¢ 0 isolamento social. 166 Eizirik, Kapczinski & Bassols (orgs.) Em conseqiiéncia da aposentadoria, ocorre uma mudanga nos papéis que pode ser acompanhada por sentimentos de inutilidade,,improdutividade e dimi- nuico da auto-estima, também por caracteristica de nossa sociedade, que tende a valorizar o poder e a produtividade. Na Constituigdio da Republica Federativa do Brasil, promulgada em 1988, consta do seu Capitulo II, Artigo 7°, inciso XXIV, que a aposentadoria é um direi- to dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem a melhoria da sua condigao social. Na Constitui¢ao, nos seus Artigos 40 e 201, so expostos aspec- tos referentes 4 aposentadoria e seus proventos. No entanto, observa-se que a vasta maioria das pessoas, apesar do direito assegurado na Constituigdo, tem difi- culdade de se manter com os proventos da aposentadoria, ocorrendo, muitas ve- zes, inclusive um declinio financeiro. MEDIDAS PREVENTIVAS ‘Uma das tarefas importantes da meia-idade € a preparagdo para.a cl mada tercei: 1a idade ou velhice (fala-se jd na quarta idade). Algumas providéncias sao essen- ciais para compensar as perdas ocorridas no perfodo, que podemos denominar de decdlogo da meia-idade: 1. Manter a satide fisica com a prevencao das doengas degenerativas. Alguns cuidados sao criticos nesse sentido, Nas mulheres, a detecgiio pre- coce do cancer de mama e do colo do titero; nos homens, o exame periddi- co do PSA e da préstata. Tanto nos homens como nas mulheres a preven- go das doengas cardiocirculatérias: exame periddico da pressio arterial, niveis séricos do colesterol, glicemia (detec¢do do diabetes), abolic¢ao do fumo e do abuso de bebidas alcodlicas; prevengdo da osteoporose (exerci- cios, reposig&o hormonal e ingesta adequada de cAlcio em mulheres). Si fundamentais ainda o exercicio fisico, a redugio do estresse, os hdbitos saudaveis de alimentago (abolig&o de comidas gordurosas) e 0 sono. 2. Independéncia econémica: chegar ao final dessa fase de vida com reservas ou com uma aposentadoria ou aposentadorias complementares que permitam manter um nivel minimo de qualidade de vida e no de- pender dos filhos. 3. Ter seu préprio espaco fisico ou moradia, para no ter que morar com 8 filhos ou necessitar do apoio da assisténcia social publica e eventual- mente nao ter outra alternativa que a institucionalizagio. 4. Ter lacos de amizade e vinculos fortes com a familia: 0 isolamento social é um risco para a depressio e 0 suicidio, além de comprometer a alegria de viver, Poder ser ttil aos filhos auxiliando no cuidado dos netos e em outras necessidades. 5. Manter um relacionamento intimo com um(a) companheiro(a), pos- sibilitando uma vida sexual ativa ao longo da velhice: refazer um casa- O Ciclo da Vida Humana 167 mento desfeito ou conseguir um novo relacionamento, se ocorreu uma viuvez. 6. Ter um vinculo com a comunidade, seja em atividades voluntirias, “ organizagées nfio-governamentais ou hobbies ou grupos de lazer. 7. Manter-se sempre ocupado e com planos para o futuro: lazer, empre- endimentos, viagens. 4 8. Se possivel, manter um vinculo com seu antigo trabalho ou profissio (como consultor) ou reduzindo a um nivel compativel com suas energias e interesses, 9. Buscar ajuda na comunidade para os problemas fisicos (grupos de auto-ajuda) e emocionais (depresso, quadros demenciais, etc.) 10. Praticar exercicios, manter uma atividade fisica regular (caminha- das, hidroginAstica, etc). . REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS COLARUSSO, C.A. Adulthood. In: SADOCK, B.; Sadock, V. Comprehensive textbook of psychiatry, 7th ed. 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