Rui Moreira (Parte I)

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| ost Fereing 2 Exenay 4 unerae ‘Sesto Cention Prof De, Rubio Palo Pale esi Dd “Tn Reina de Lies Ruy Moreira O DISCURSO DO AVESSO para a critica da geografia que se ensina c.toracontexto © DISCURSO DO AvESSO © tema deste lvro €0 modo como 0 pensamento geogréfico express e 20 mes- smo cempo configura esa rclacio de interacso universidade-escola feta a0 redor do troca-troca de experitncia curricular e gradil, © papel dessasinstcwig6es de sujeios intelecruas da Geografa no Brasil ¢ no mundo. Para tanto, iro fe di ‘© papel origindsio das sociedades de geografia e das uigBese manuais de ensino no Brasil (particularizando sero, como ese quidro mona o condo programatcoe Visio , a tendéncia do sistema univers @ nono, por Fim, f , por Ee, fa o balango strospectivo-projctiva da cignca edo ensno geogriic. E na chamads§ refleao, como os que anteriormente publcamos pela Context ~ a eles, por isso mesm z eal! pober elerea's rece ografia que seen sempre recorrendo como fonte lade do ensino de um saber que pe entre os que mais problematizem 0 mundo confuso, mas mudanga, em que vivemos. Pot at 7ea0 14 UNieAP COMO PENSAMOS Pray un ‘A Gcografia ja foi definida como 0 estudo descrcivo da paisagem, 0 extudo da relagio homem-meio e o extudo de organizacio do espago pelo homem. & apresentada hoje como a ciéncia que sinteti2a © mundo a parti do espaco global, assim como no passado 0 era como a cigncia de sua das paisagens locas. ‘Caracterizam-na, assim, o enfoqu da paiager, do meio am como categorias-chavesisoladas quanto como categorias combinadas num 8 espectio decomp o. E, para muitos, eambém uma indisfarsada dificuldade de fala sja do bhomem, sea da nawureza mesmo que empiricamente. cemolégica que ela vers sendo erguida desde tempos através das universidadese das escoas,a que no flraram os esc tbrios de pesquisa e de planejamento em sua fice de geografiaaplicada. ientee do espago tanto ATRAJETORIA DAS DEFINICOES A trajet6ria do saber geogréfico vem ds séculos I € de nossa era, quando 29 jada por Estabio ¢ ao segundo, por Claudio Prolomeu. Em homem-meio e acoléa organizagio espacial como base da construgio discursiva, de modo que cada definico demarca um periodo da histéria do pensamento geogréfico hast © DISCURSO DO AvESSO A citncia da descrigao da paisagem A Geografia nasceu, assim, na antiga Grécia, e sob dupla modalidade. Com Estrabio é a descricéo direra da paisagem, a modalidade da leitura da sip re vista em sua escala horizontal. Com Prolomeu é essa mest descrgio da paisagem, mas na perspectva da sie erreste, Ea mesma ideia de Geografla, mat com enfaque e ecala de olhae distintos. Em Estrabao, a Geografa é una forma de olhar que fagra o mund diversidade de paisagens que expres a mul uma forma de olhar que flag esse mesmo so verticalmente se projeta em paisagens na superficie do planeta, as paisagens expressindo em sua diversidade de formas a com- plexidade cdsmica das rages da Tersa com 0 univers. E essa forma dupla val existe aéo séeulo XV, quando intervém Ber 2006). pa superficie da Terra: Em mundo, mas no modo como o todo do icin tndepeaienrentencetda moda como ava'yidn taneamente esteja em seu estado de organizagao tet como era a Grécia independent do tempo de Homero e é agora enquanto um pedaco sul Com P mercadores ¢ Estados em sua relagies com povos ¢ tert ‘No século XVI esa concepeio e seu duplo enfoque gankam um novo formato, O smundo vive uma grande transformacio e4 Geogafia deve acompanhélaajustando-se casando num grandes descoberea e navegagies os e povos a0 conhecimento da superficie terrestre © a subscituigio do geocentrismo pelo heliocentrismo dé um now mento da organizagio do universo, para dencro da teorizagao geagrifc dda Cosmagrafia de Prolomeu, para quem o geocen COMO PENSAMOS mutagio do mundo sublunar ¢ imutabilidade do supraltnar de Arist6reles ~ que leva sua teoria cosmogrifica a ficar conhecida como atistotélico-peolomaica — como rualiza essa toriaagso prolomaica nos movimentos corpéreos de Newton Descartes. Eat zontal da Geognaphia de Eserabio, trazendo-a 569, ede outroa nova percepeio de espago ctiados pela viagem de circur-navegagio de F reunindo Estabio e Prolomeu numa sb teoriaagio, seu Geograpia gen Jado do Pl de Mercator as bases do modo de ver © mundo da modernidade. ‘Acciéncia do estudo da relago homem-meio dos séculos XVIII e XIX a atencio do gedgrafo se desloca do plano da dlescigio da paisagem para o do estado da relao homem-meio, Immanuel Kane € a grande tansigéo. E Alexander von Humboldt e Carl Ritter os seus criadores. Discordando do Sistema da ratureea de Lines, para quem ¢ 0 combinado de ssubstinai a ordem légica deste pela empirica dos ni {ice terestreo fundamento da toda taxonomia eerazendo 0 co-campo da linguagem e dos mia do homer de Bulfon, dh btcaestraboniana do primado gnoseolégico da paisagem sobre os fenémenos. E assim que, com Kant, homem e nacureaa sso levados 2 se por no quadro comum da coabitagio da superficie teres, instrumentados na visio da tno entanto, os teérices que vio sistemaclzar a Goografia trarendo Kant para dentro do fundamento estraboniano- adaro nos novos termos modem: mos atualizados de Varenius, ¢ sobre essa base v8 © DISCURSO DO AvESSO. ‘A ciéncia do estudo da organizagio do espago de compreender @ anrumagio visual desses tragos na forma do arranjo do espago que esténo sul ando de habieat 0 conjunto ‘rutural de paisagem.c espaso que dai resulta Bum mode de enfoque que tem seu embriso em Kant. Ao conceber onicho geogrifico como o huger eal de existencia ¢ identificagio de plantas, animals e do homem, fem seus modos de ser e suas caractersticas pelas formas de organizagio da vida segundo seus lugares, Kant introduziu uma componente de abscragio na empiria, dando 4 superficie cerestre 0 cardter de um todo de organizagio geogrifica a que chama espaco terrestre, assim forjando © duplo de paisagem e espago que vai aflorar em Brunhes. J& com Reclus a categoria do ‘espaco ganhou realce num combinado espaso-tempo que © levou a conceber 2 Geografia como um estudo espacial das comunidades num movimento da his- téria, dizendo da histdria sera geogeafia no tempo ¢ da geografia, a histéria no espago. Em Ratzel 0 expaco aparece de modo menos exprestivo. E em Vidal, de modo matizado, Portanto, Brunhes 60 estudio desse passo de quadro conceitual ¢ linguistico, mas também o momento em que paisagem ¢ espaco emergem como smizam dentro do discurso de sua organizacio, desig da relagio homem-meio. Combinando « olhar paisagistico © 0 teorizacio vai exprimir uma espécie de momento de pas ‘0 modo de arranjo do espaco, arranjo que 0 imanizado, recriando nessa transmutagio «xxi vindo, Por baixo da paisagem ele hhomem iré transformar em um habitat 1 forma da relagio nda com Sorre¢ Sauer, de manter a Geografia como ura frente & avalanche fragmentéria que desde a virada dos séculos XIX ¢ 3X puh ema das citncias em wm mundo de formas de conhecimenco fechadas ¢ dssocia- 1 sie cujo ponto de virada € a separacio ncokantiana do conhecimento em :ncias nanuras ¢ ciéncias humanas, E que se anuncia na Geografia na emancipagio- Jo da paisagem e do cxpago. fora eentada essa permanéncia da v tegralizada na forma da wage. A o etude de integralidade ao assent vida. Ka geografia COMO PENSAMOS regional é uma tentativa de conciliagio de integralizacto-fragmenracéo ao reunir na tonidade is do quadra fico © humano, proprias entarhas do vidalismo que nasce a fragmentario, quando Emannuel De Marionne cra a Geografia Fisica, auravés de seu clissico Trutado de geografa fica de 1910,¢ Brunbes, s Geografia Humana, através de seu livio Geografa humana, de 6, as partes dedicadas & descoberta das leis gerais da Geografia — por designada de Geografia Geral - que, ao ser aplicadas aas estudos mon Geografia Regional, convergem e se sinterizam na unidade espacial da regiio. Uma solugdo que ver do resgate do geral e do especial do discurso teérico de Varenius, jtima a pulverizagio ras que ao invés de evita, 20 contritio, antes precipita © fragmencitia na divisio agora tanto da Geografia Fisica quanto da Geografia numa infinidade de geografia sexorials So tentacivas que tém sobrevida em Sorre ¢ Sauer, Sorre através da geo- grafia ecolégica e Sauer, da geografia cultural. No fundo duas modalidades de visio que a0 fim ¢ 20 cabo iréo pavimencat a divisio brunhiana das categorias da paisagem ¢ do espaco como as faces geogrificas da relagio homem-meio, farcagio que rerio ao desembocar a paisagem n0 0 esparo no discurso da organizacéo espacial da preparando-as para 2 que leva a am+ ssicos a ser suprimida ecada campo setorial a ter de ir buscar no Ambito das cigncias da fronteira imediata ~ como a Gomorfologia na Geolozia, a Climatologis na Mereorologia, a Geografla Urbana za Arquitetura e na Sociclogia Urbana, a Geografia Agriria na Agronomia e na So- ciologia Ageiria—ou na pon’ 6 sitio na relagdo da Geomorfologia e da Geografla Urbana, a da Geomorfologia e da Biogcografia ¢ 0 mercado na rlagao da Geografia Agrétia © idade que thes ficou faltando. ide superar olhando a lade sem a qual fia, Eo caso justamente O desafio de Riter ¢ formular a vese de Kant dos nichos reels da superficie terrestre como critério de clasificaczo dos sistemas da interagéo homem-natureza como um discurso geogrifico sistemitico, mas considerendo ees nichos & fue da temitica estrboniana de sistemas de paisagens, as paisagens sendo esses niches, 20 ‘mesmo tempo em que expresses dos modos de vida dos povos seguindo os diferentes lugares da superficie terrestre, Pas isagens de recortes de espago € 0 conjunto das paisagens-recor para a formulagio reérico-metodol6gica do mosaico assim forrado, Seu objet lade-diferenca espacial de cada recorte de paisagem, definindo cada qual como uma individualidade regional no mosaico corogréfico da superficie terresre. O mécado usado 60 da comparagéo dos recortes palsaglsticos por seus componentes, exeraindo da si comum cde espectfco o casiter de individ pedaco de recorte dentro clo todo corogréfic. prptio designa de geografia comparada. Humbo! do de Ritter ¢ sua geografa comparativa como pres- suposto, buscando, todavia, nas relagbes para baixo c para cima da vegetagio ~ para baixo mo sentido interativo com a base inorganica do substrao ¢ para cima no sen- fo interativo com as formas de vida em que se inclui o homem —, eno do recorte tegrazio da totaidade dos fenémenos, dai partindo isagens da superficie tereste. O.quadio im mais apropriado. E é dessa inspiragso gto do seu Casas, livro em cinca volumes em assim que surge a teoria que ele denominar de geog: o contetido ea substi {que em ambos surge, uma teoria que corresponde ao espirito da época em sua busca da compreensio mapeamento da diversidade geogrifica de um mundo ampliado, rico de uma superficie eerresre que desde 0 agora construida no parimetro técnico e de mercado da Revolugzo Indus the satisfazendo apenas descrever e mapear, mas acupat economicamente, -ompreende por homem e meio, bem coma pelo carer de suas reno do registro cientifco do vai-vemm Daiqueo que ‘procasrlacées, nfo mais édeixado no fa chega e se desenvolve ise Reclus, Paul Vidal La Blache nese periodo, na forma clissca que Ihe vo dar t161 COMO PENSAMOs 3s ede pouca disponibilidade de dgua das cord tadas pelo paralelo de 40° do hemisério norte, na linha de recuo das geleras da glaciagéo qua - E aise localizarn, al ¢ extracio dele com seu drduo uabalho ais de grande po: cias de lida com o meio nai sa combinagio de 8 € das dreas anfibias, & ilizagio, as culcuras que vio originas em cada grande vale fluvial sua respectiva forma de ci espalhar-se para levar © povoamento & atual aq da superficie terestre. ‘Também para Ratzel a humanidade forma suas civilzagdes a partir de peg nichos de relagio incegral de homem e meio, © homem movendo-se em ceabitagéo como quad integral do lugar escolhido para vives, mudando ¢ remodelando meio segundo seus interesses de modo de vida. Ai fa sua passagem de espécie para giner ‘organiza 0 todo do seu espace vi sobre essa base, sua civilizagio, num processo de antropogeografa. Igualmente dese quadro preliminar nascem as formas de 0 para Reclus, svando desde o comiego de sua relaso com o meio um modo de convivio io que espelhaa forma das relagdes que vivem entresi. As civilizacbes urgern assim, antes de cudo, como comunidades humanas em que a riqueza é produzida e compartilhada por todos. Dai o estado culeural do homem como a natureza cons- cence de si mesma, num trago de civilizagio que forma a base do caréeer de todos os iveis do seu modo de vida -véas formagées humanas brotando seminalmente da relaggo uindo para ganhar complexidade. A planta, diz, ps gua © 6 homem persegue a égua, sobreposigio de cartografiss que dat Brunhes tal homem-meio, dai de comunicasio e as trocas vlo unir no conjunto de espaco que é o habitat. © DISCURSO DO AvESsO Indo do seu campo para 0 todo e trazendo 0 tode para seu campo, nesse pesso cria um siseema de classficagso de tipos de meio ambiente em torno da ideia da integralidade da paisagem. O ponto de pattida é 0 relevo vis colégico cteto ndéncias opost mergem as elevacées e os desni ido desbasta e converte em formagées rebaixadas e aplainadas, de forcas intetnas versus forcas externas do modelado « reste. Ese cho é também, por seu aspectoaltiméttico-topogrifico, a base spac sobre, a partic em fungio da qual os tipos de meio ambiente edificam tamb © seu arranjo. A essa integralidade de geologia e clima se acrescenta a vegetasio, tendo na relagao para baixo com a base pedog ) € para cima com o nivel da supe fica) 0 elo de integrario e regulagio (! forossin 205 ipos de meio de acordo com o nivel de eseala, eeunindo, por uma ordem de grandeza territorial que vai do nivel local ao mais extenso, BeGcopo, 0 geoficies, a regido natural, o dominio a: tum claro combinado da teoria da paisagem e do espago de Brunhes da tcoria ral ¢ a zona térmica. holisca da geografia das plantas de Humboldt nesse discurso a um 6 tempo integrado de Tricart. Acresce a contradicio que se estabelece especificamente geomorfolégico ¢ universalment que age por d de ese 10 de todos esses nv 2 entre a morfogénese pedogénes fo também se poder classificar ae segundo seu estado de estabilidade, assim podendo-se ter um cio estivel, quando a pedogénese predomina sobre a morfogénese, um meio intergrade, quando pedogénese e morfogénese se equilibram, c um meio instavel quando a morfogénese predomina sobre a pedogénese. A sabedoria humana es fazendo do uso do pap: crumento de administrack vir sem desconhecer estes estados do la cobertura vegetal umm forma de modo de produséo da sociedade nessa v sobrea base da especifcidade geomorf sempre parte, Ji George é um geégrafo urbano, que dai camina para o codo integrativo, mas a parti do espago. E as astamente por suns formas de orga onganizadas e ‘no organizadas espacialmente. Estas sio as sociedades da naruteza sofia, aquelas em ‘que’ lacie co Romer com 0 meio sc fr ainda num quadro de ago técnica que pouco aque pura ee as socedades variam na h pacial Hi antes de mais nada as soc [20] COMO PENSAMOS ‘modifica paisagem narural queo homem habita. © alcance de um grau superior de nivel ‘técnico leva © homem, entretant, a alverare ajusar a paisagem natural a0 seu modo, assim nascendo as socieclades de espago organizado. Estas podem se sociedades espacial ‘mente organizadss com dominante agricola e sociedadesespacialmenceorganizadas com ddominante industal, a ciferenca do grau de evolugio ds téenica distingue umae otra. A icainduseral 6, assim, para George, o divisor de 4guzs, dissolvendo a paisgem natural lo-a pelo espaco na organizacio geogrifca global da sociedad. ‘Beam Centge. poli qieh defini do crude da crpininasic Spates rode” dads pelo homem se estabelece de modo sistemitico, Nele 0 espago sai da condigfo de subalternidace em emparelhamento com a paisagem para se vomara categoria discursiva ppor exceléncia da Geografia, ao ganar a empiricidade da paisagem o carétercécnico gue lhe faltava, O aspecto de categoria abstrata que lhe dera Kant di lugar agora a0 fenoménico da forma de organizacéo hisebrico-concreta da relagio homem-meio que jé ‘nsdiara em Reclus, Vidal e Rate eadquire mais explcieude em Brunhes, com quem espago gunha seu comeso de auronomizaco, vie o proceso de destruicio-producio do Ahabitar humano, um aco de destuie para construir, de onde part justamente George Por sso, no podia esa emergénciacategorial deixar de trazer para dentro do conceito 0s percalgos dese rajeto de curs frequencemente tio enviesado. Presente como um jé dado em Kant, 0 espago € por isso mesmo uma categoria a scr preenchida necessariamente pela evidéncia dos dados empiricos da paisagem. Assim © mantém em Vidal, através do discurso da repo, esta aparecendo como o modo de pelo espaco a Geografia Regional unir uma Geo cae uma Geografia Huma- 1a reciprocamente desgarradss desde dentro dt relacio homem-meio, ‘espago-regiéo vindo em socorro, A fragmentagio, que ji ai entio tem Inga, fo neste salto de autonomis,inceferindo Fortemente em seu percurso. Daf que 0 que cra imperceptivel no momento da separagio caregoral do discurso de Brunhes vai se explicitando como uma dicoromia radical, a paisagem indo articular-e 20s componentes antfcial que a geografa, © Geografia Humana, sso de integralidade, paisagem € sindnimo de Geografia Fisica, eem George espaco ésindnimo de Geografia Humana, ppaisagem e espaco seguindo o destino reciproco do esvaziamento epistémico que © discurso Fragmentério vai emprestar 4 totalidade das categorias. Gradativamente a até apagar- al. Jéo espago vai no nokantiana vai con E assim que em presenca da paisagem desaparece no pi 0 com o implemento da su 3 frmando-se como categoria ‘mas 20 prego de icarihado dda geografia humana, até mente se setoraliza © DiscuRso Do Avesso O HOMEM ATOPICO, A NATUREZA AUSENTE EO PENSAMENTO FRAGMENTARIO. ‘Mortem, pois, cotalmente a paisagem e o espago como categorias diseursivas E muda, em consequéncia, seja 0 corejo srdem qualquer parimetzo de fs te pulverizam num O homem e a natureza dessitualizados As primeiras vitimas sio justamente os conceitos de homem e de nacureza. Em, todas as definigées homem e naruteza parecem centrar as relagées. Embora nem sempre claas no que se designam por tas, hem todas as definigSes uma certa es tratura discursiva. A paisagem na primeira definigSo, o meio na segunda e o espaco na terezira so nexos montadores de discurso, Paulatinamente, todavia, essa Fangio val se perdendo quando os conceitos de homem e de navureza caem na ambiguidade incerpretativa de a Geografia ser um discurso fragmentério-intcgrativo ao mesmo tempo. A paisagem, 0 meio © 0 espaco se tornam 0 tema, no mais o homem ¢ a natureza,e di-se entéo um comeco de imprecisio conceitual que se radicaiza com a viinda da fragmentagio generalizada. ‘Talver pela concomitancia do surgimenco das cigacias do homem —a Sociologia, sularmente—enquanto produtos da dicoromiaagio , 0 esraziamento ocorre primeiro com o conceito nce na relagfo com 2 paisagem, € 0 cxpago até se perder como canceito completamente. Dessa condigio de coadjuvancia do homem vem por decorténcia a ds narue inseca de clareza que entéo no oe pinged cio do pero sce gan Aiscucto geogrfic na plerora de palavasincompletas que vemos povoatotniverso. ico da geogfafia sional fagmencala ‘Um enorme esforco assim é feito em busca da definiggo de um centro de efecén- cia de encendimento do homem que convenha conceialmente & geografiacisica, sta, todavia, sinda se mantém no indesejado estado de vagucza a que se condena, Domina a deplorivelfituacio de entendimento, Ea sensagio eiterada deno fando sencialidade perdida da relagao homem-natareza dos sempre se ter que voltar & fFundacores em busca do sentido de rudo, © bomem atépico Acé os anos 1950, quando paisagem vereentes opostas de Tricart © George, vigora ainda, seneralizada, 0 discurso integrado da relacio homem-meio, Tem-se a impressio dda presenga consirutora do homem. Com a separacio, « paisagem vindo a sig- a € 0 espago, uma categoria da geografia -mediagao, ponte de al ransformada pela io de formas tomadas de meio & fragmentagéo nificar uma categoria da geografia ‘humana, 0 homem passa a ser entendido como um sujei passagem \€ dai o conceito quebra-se ntum estranho icine opulasio, tirada de discurso ‘uma paisagem natural ¢ uma paisagem ra conceitualmente um ente eldstico que passeia na vagueza do impreciso. Nio é mais a categoria que se relaciona com a paisagem, @ meio ou o espago dizendo destes 0 que sio, mas, 0 concritio, estes vindo a dlzer o que ela é Eoque ida Geografiacomo, no Fundo, tum balango da ioque dos recursos ura. E apresenta 0 homem como um homentransformador-da-natureza- laro em George quando este or-meio-do-scu-trabalho, um homem que se define por it a0 encomiro do melo premido por suas necessidades de subsisténcia, mas como homem-mediagio plo homem-trabalho, . desapasece na ido n0 homer-consumidor. O hhomem concieto, ass de surpreender que no mesmo George a relagd0 0 dade de equi fim o caréter mais dilatado de nec vel do meio ¢ consumo io © homem, vi de-elementos-de- que © planejamento est ;miem-populagio-consumid de magica, que torna o homeni um set multiplamente presente, mas atépico © desqualificedo ho que é ele mesmo, © DISCURSO DO AvESSO A totalidade em cacos Pastindo do fato de que a ciéncia € uma leitura empitica do real, cada for ima de ciéncia operando como um campo de conhecimento parcelan 7 geografia, fragmentiria toma por suposto a nocio equivocada de que 0 mundo é um todo formado pela soma de suas partes. Juntar o todo é portato, juntar as partes num sisrema, Estas partes nfo tém 2 mesma origem, surgindo desde o comeso como , distintos © paralelos. Por se encontrar no mundo uma ao lado ra numa pura coexistncia espacial aabam, por meio do recorte comum de espago, entrando numa relacfo de conjunto umas com as outras e, nessa relagio vinda de fora, influcnciando-se eciprocamente, cada parte evoluindo no convivio por alterages e mudancas sem mudas, entretanto, em sua essencialidade de coisa ‘externa. E isso 0 que acontece com 0 homem e a natureza. Ea forma de relacéo que entre cles se trava, ‘entre os clssicos, homem enacureza tendem a aparecer junto 20 empenho dese vé-los em suas relagbes de integralidade como entes distintos que se influen- ciam e se envolvem numa telagio de exceenalidade, Do que deriva o problema " tedtico de como explicar essa simultancidade de relagio excerna que é também interna dentro do ambience da paisagem, do meio edo espaco. O problema advém do faro de entender-se a natureza como o todo-do-mundo-natural-excluide-o- hhomem, ¢ o homem como © todo-do-mundo-humano-excluids-a-natureza, a natuteza-sem-o-homem © © homem-sem-a-natureza do comentirio criti Hartshorne, que a Geografia Fisica e a Geografia Humana ret discurso neokantiano de cigncias. Fragilidade de coeréncia epi contradigio de discurso, que Reclus, Vidal « Ratzel, além de Brunhes, cede per- ceberam, Afinal, podia-se conceber essa externalidade para o contexto do discurso da Geografia Fisica (afimal, € da cultura exiseente conceber-se que a natureza ja existia antes do homem aparecer no mundo, a natureza por isso podendo ser mica, mais que esudada com base em categorias€ leis puramente narurats), 0 mesmo jé nao se podia fazer com a Geografia Humana (porque terfamos que admitir que o homem pode ser de carne ¢ oss0 ¢ existir fora da nutureza). ‘Dai que De Mattonne aparcntementé possa elaborar 0 Trasado de geografia fia sem recorter& presenga do homem, embora a0 prego de sentir a necessidade de incluir um capiculo inteiro de Biogeografis, meimo que como puro adendo dos capftulos de Geomorfologia e de Climacologia, a Geografla Fisica verdadeira, ‘mas Brunhes nio possa fazer 0 mesmo com a natureza em sua Geografia humana, por entender ser esta um discurso de relagio homem-meio. O faro é que, dado © vinculo orginico com a teoria do homem e da natureza do neokantismo, a ‘geografia cléssita jd nfo pode mais pretender proclamar-se na linha do roman- COMO PENSAMOS tismo fllosdfico e da teoria da histéria natural do homem de Darwin seguida por Humboldt. Era através do alinhamento comum ao romantismo que Humboldt ¢ Darwin trocavam regularmente correspondéncia 20 redor de mesmas ideias sobre a naturcza co homem, nas quais o homem integra @ narureza tanto quanto 4 natureza integra o homem, de modo a firmar-se a relagio destes como uma relasio holists, a0 mesmo tempo de internalidade e externalidade, Manter essa ica quanto a Geografla H proclamasio seria abalar tanto a Geografia Porque encio néo se poderia dizer do homem ¢ da natureza que metade esteja dencea e merade este fora um do outro, respectivamente. A safda fol optar por olhar homem e narureza pelo prisma obliquo da interioridade-exterioridade con- temporizando uma e outta linhas por meio de conceitos de abrangéncis integral, ‘mas no holistas. como o tempo-espaco cm Reclus, 0 género de vida em Vidal, © solo-espago em Ratzel ¢o habitat em Brunhes. A dificuldade dos elissicos & combinar 0 discurso holista dos criadores com 6 de homem-centauro neokantiano positivista a que agora aderem, tendo que ‘encontrar uma alternativa de conceito de homem e de natureza que minimamente significasse algo proximo de uma leitura de integraidade. E é esse que chega aos anos 1950 de Tricart e George, instados a lidar com uma teoria de um homem que nfo esti na nacureza nem esté na sociedade e ao mesmo tempo enconcrar uma sativa, sem ter de pagar o prego de operar com uma norao de rotaidade como uum amontoado de cacos. Solugio que Teicart vai encontrar no conccito de Fitoestasia. E Geonge, no de situasio. A entropia negativa E 2 concepcao do homem 2r6pico, pois, o mlicleo central do problema. que melhor se expliciea no paradigma de fragmencaridade. Quando se pie ho- ‘mem e narureza em relagéo entre si jé partindo do pressuposto de partes que pela soma formam um todo, envereda-se por um buraco sem fim ¢ sem rumo. Entes individuais que entram no todo pela janela, homem ¢ natureza acabam por se apresentar como categoria soltas entre si dentro seja da paisagem, do meio ou do espago, Nao hi como falar entre eles de roralidade, que € 0 pressuposto de codo conhecimente, Dai se supor que 0 estudo da relagSo deva antes ser precedido do conhe- cimento prévio de cada “parte” ¢, «6 depois, por jungio de agregado, proceder ao conhecimento das influéncias reciprocas que essas partes realizam entre si no contexto somatério do todo. Um mérodo de roralizago que, néo tendo em sium nexo estrururante, vagueia sem biissola de referéncia unieiria B que ao fim acaba por levar cada parte avira, em consequencia, uma ciéncia out ramo de ciéncia. 251 © DISCURSO DO AVESSO Essa €a teoria do conhecimento que leva a Geogs i a se multiplicar em sub- Aivisoes setoriais ao infinico, mas também a alimentar a crenca, no maimo curios, de através do estudo das inrrligagSes ser cla a ponte capuz de tragar a unidade que falta & propria fragmentaridade neo! graft Fsica e Geografia Infinda de geografes ser a numa encrusilhada sem saida, vitima da impossibilidade de ‘agar uma ponte de ligaso interna dentro de si mesma, patinando num homem ¢ rpacureza metafiscos Compreendido na tama das relagies reeiprocas perpetrada por um processo do trabalho conccbido como elo de mediagéo da relacio homem-mcio visando transformar o meio em sobrevivencia (num eseranho esquecimento de que trabalho, twansformagdo e sobrevivéncia sdo conceitos que negam a prépria nocéo do cosmos como um todo de partes reunidas por soma), 0 homem é uma parte junto as outras dentro do todo, Por tabela, a natureza. Fé este, justamente, 0 ponta de estabeleci- ‘mento da filsa polémica do determinismo versus posibilismo que pbs Vidal e Ratzel ‘m suposta relagSo de conttaponto, Ratil sendo tido como equivocado e Vide, como um correo teorizador da relagio homem-meio, cuja aceitagéo generalizada € 2 confissio da prépria falta de clarezareinante. Poi, no fund, est se falando de idade, duas categorias-chaves de tod teoria do homem sujeito-objewo da sua pré determinagio e de poss Soba proclamacio de ences que encram em interagio por elagio de exter de, 0 que seedifica é uma pura colcha de reralhos. E com o prego da auséncia, ao fim, dda propria soma da t ‘nur sistema, conceito do todo que no momento que se fecha morte, atingida pela absoluta falta de movimento. E assim que se passa com a Geografia 0 mesmo que se passa com a filosofia neokantians inspira. A fragmentacio do conhecimento pe em suspenso 0 ‘campo discursivo sobre o scr. © homem, a naturezs, 0 mundo, cada qual deixa antes de mais nada de sero que &. Por isso, apés a riqueea sucessiva das de ‘que a cada tempo a exp mo discurso de algo, a geograf ira imprecisa e ambigua de falar da n de relagao e de organi io da ontologia, O que a Geografia é da natureza, presa numa entranhada ‘ninguém mais sibe, [261 A natureza opacificada 1H, pois, urn vacio conceimual da nacureza, cao do homem, mas cujafonte rel € o conceito de navuresa rginico ¢ do vivo, que por intermediagio da geografia das plat todo holista. E que o sistema neckantiano esfacela atribuindo o campo de ciéncias, 0 orginico a um outro ¢ 0 vivo a um terceiro, el ‘abela a integracio incemno-externa que homem e navutezatravara re do conceito de romanti nao é, encretanto, um modo positivista e neokantiano de entendimenso propriamente. Mas o discurso de ciéncia moderna que vio buscar na eriacéo da ciéncia da Fisica no albor do Renascimenco. Visando inaugurar um momento de cies ntcério, a primazia da paisagem. Valea orca descritiva da forma, a -dapaisagem que define na dimenséo heterogénea da eseala grande (a dea pequena ¢ de dominio dos decalhes) « homogénea da escala pequena (a érea grande e de dominio da generalzagio) 0 lugar d no categoral, Na escala da a heterogeneidade, a escala do expaco cvidencianda o poder page. © sremplo és dveniade dos banca de ala qu seem de dete, percber a acento dor moments de acremente ston age ome {© mavimenco erosive ¢ deposicional dos periodos de chuva, J na excala da drea ampla predomina a homogeneidade © a possiblidade da comparago fica dlffcultada pela perda dos detahesformais dos bancos, podendo-se quando muito formular um plano geral de imeragio encre os momentos sazonais da movimentaco dos sedimentos e sea ‘arreamento para formar os bancos de rei no lio. a esala espacial d paisagem que define, assim, o aleance conceal do que seve. E, assim, a prevaléncta do conceito ¢ © poder metadolégico da paisagem. A paimgem que é une realidade na exala grande « outra na escala pequena A pulsagem que & 6 reales a ecala grande coneeitual na esala pequena. Essesplaios da conceito 0 r0.do conceito inickido rento da paisager e do B com George e fim formito ainda empi sta por Brunbes. Neles 0 rm lal COMO PENSAMOS cexpaco expressam um modo de ser do real que aqui aparece como paisagem e al ‘como espaco, a depender da prépri ica processual do moviment Hi implicito neles o mesmo ponto de virada dialética deassoctagio-dissociaga0 si das categorias, que vernos a ceansparéncia per ade cransfigurasio ent strutura de que 0 espaco & io ambiente do homem, ergue biocendriea, numa ea partir de onde a paisagem, enquant suas compartimentagées de excala Estamos portanto no reino da centtalidade do olhas, visivel j4 em Brunhes, smas que sé aflora como referéncia ontoepistemolégica clara com as teorias de Tricart « George. Egressos ambos do marxismo, © Fundamento é o sentido de concreto da toralidade. O olhar que determina 0 que cu quando o que se tem é paisagem ou ‘espago categorialmente. Tem-se por percebida a nogéo de vineulo do conceito com (0 joge das interagées, que em Brunhes denomina-se habitat, em Teicart, paisagem € em George, espaco, jogo das interagdes que em todos eles € no fundo a eondicao de corganizagio dos modos geogrificos como tum ser-estar dos fendmenos. So asimeragbesas relagées que vinculam entre ios concetos, numa linha de co- lager do interno edo externa que a uadigio viu como estados parallos, no como frato clas milkiplas determinagies que definem 0 modo de se-estar que é proprio da condicio grogeifica das coisas, que serio 0 foco nove de olhar que vem a se estabelecer como 1 na recente emergéncia de renovagio das teorizagoes de que propésito de fundamen “Tricar e George de eereo modo sio a origem. Ds vyenha.asero ponte de ultrapassagem do que: _geografia tradicional ea dentincia desta pela lsolveo processo na forma ea enra naestrucura matemtca, anunciando a modalidade deentendimento nova que reorna& radio para fizer urna nova rodada de tse ‘Atravessido pelo tema do avivamento do conteddo, o movimento de renovacio recente aparece como uma celica justamence da excusividade unilateral da forma. Ha nos ancigos uma obliverasio do contetido que faz da forma, sea laa palsagem, se a © espago,o proprio discurea do conteido, Eque agors se explicita como uma necessiria dade dialética. A dalética de forma-conteido que permite desvender as face concrea di todavia, o momenta de auge da definigio da Geografia Jevando o primado do conceit ue se pudesse los de exiscéncia concreta das coisas. como estudo da org do espacoa dominaro debate por in ‘enipresiar 4 palsager, até que aos pouicos o debate va undo, um debate ainda da forma s expensas di stint ele’ mesino, nd last

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