Você está na página 1de 1

MENU "Eles vieram com uma Bíblia

e sua religião - roubaram


Home nossa terra, esmagaram
Religião é Veneno DENTRO DA IGREJA UNIVERSAL (Parte 20) nosso espírito... e agora nos
Textos dizem que devemos ser
Notícias da igreja agradecidos ao 'Senhor' por
Estudos bíblicos sermos salvos".
Frases históricas Chefe Pontiac, Chefe
Humor Indígena Americano.
Testemunhos
Arquivo Campo Novo
Links ENQUETE:
Divulgação
Uma cidade distante cerca de 150 km de Ariquemes, muito pequena, o lugar Qual a religião mais inútil e
mais pequeno que eu já conheci, o município de Campo Novo de Rondônia não sem fundamento que existe?
ESPECIAL tinha sequer uma rua asfaltada. Contudo das cidades que conheci aquele Católica
lugarejo isolado foi o mais aconchegante. A paz e a solidão compensavam as Evangelicas em geral
várias horas de balançadas dentro do ônibus desconfortável. Muçulmana

COLUNA De um povo muito simples, a maioria colonos do sul, com uma economia Bundista (do mestre
bunda)
totalmente dependente das fazendas e madeireiras da região, o trabalho da
Espirita
Igreja Universal na cidade se resumia a um pequeno prédio, onde funcionava
sem regularidade um Núcleo de Oração. A verdade era que esse núcleo só era Sarava
Fale conosco
aberto quando a sede regional precisava de dinheiro em caixa. Porto Velho não Jeova
sabia do potencial da cidade que tinha pelo menos 20 membros batizados. Lá, Judaica
com um trabalho eficiente, poderíamos explorar um mês de mais ou menos R$ Outra
3500,00. A única obreira da cidade era dona também do único mercado da
Todas as opções
cidade. O núcleo era freqüentado por dois vereadores, os donos de um
armazém, um fazendeiro, e pela dona de um bar. Para que se tenha uma idéia Votar
do tempo em que isso aconteceu, eu me lembro de assistir pela TV da sorveteria resultado parcial...
que funcionava ao lado da igreja a primeira versão do programa No Limite, da
rede Globo.

O povo era esperançoso, via a cada novo pastor que dirigia os cultos a
possibilidade da abertura da tão sonhada igreja. Eu era tratado como profeta.
Confesso que me senti como Moisés. Quando perguntei ao pastor Antonio sobre
a possibilidade de se abrir uma igreja na cidade ele me disse friamente que era
para que eu “mentisse”, e disse com essas palavras, para as pessoas dizendo
que se a campanha da fogueira santa que viria em breve tivesse bons
resultados a igreja seria aberta.

Minha missão era garantir uma boa arrecadação na campanha de Israel. Como
artifício para tal tinha como arma a promessa de uma igreja. A história de
promessas não cumpridas naquele lugar era longa, desde antes do pastor
Emilson, e por conta disso a igreja já tinha perdido muitos membros para
denominações tradicionais, como Assembléia de Deus e Batista. Os Batistas
eram meus arqui-rivais em Campo Novo, sua igreja vivia lotada em contraste
com a minha que dificilmente passava da metade. O salão era minúsculo, tinha
dez bancos, tudo muito apertado. Eu não me animei em evangelizar em Campo
Novo, sabia que não lucraria com isso. O Antonio não iria me ajudar se eu
arrecadasse bastante lá e eu sabia que por mais gente que eu trouxesse para a
igreja, tudo que eu poderia fazer era mentir, enganar as pessoas dizendo que a
igreja estava interessada na salvação deles.

Foi basicamente o que eu fiz. Fui ameaçado pelo pastor Antonio, ele era do tipo
de homem que cumpre ameaças. Era amigo do bispo, não adiantava denunciá-
lo, seria a palavra dele contra a minha. Na medida do possível eu fiz a
campanha de Israel em Campo Novo, ia duas vezes por semana, às quartas e
nos fins de semana. Cerca de 15 pessoas haviam pego o envelope.

A covardia foi uma marca forte desses três anos de igreja, o medo também,
como bem disse Hermam Melville:

"O não saber é o pai do medo."

(Moby Dick, capitulo 03)

No meu caso era pior que a ignorância. Eu tinha optado por aquela vida. Era o
pior tipo de cego, o que não queria ver. Mais uma vez o isolamento e a solidão
me ajudaram a recobrar a consciência. Eu havia decidido a fazer de tudo para
não pedir a oferta da fogueira santa em Campo Novo, mas tinha medo de deixar
de ser pastor. Por isso preguei a campanha, por isso iludi as pessoas que
pegaram os envelopes. Ao invés de evangelizar nos fins de semana em Campo
Novo eu tirava os dias para passear pela natureza, subir em morrinhos, andar
pelo mato, respirar o ar puro do mato ou simplesmente andar pelas ruas
empoeiradas da cidade. Também dormia muito, teve sábados em que eu dormi o
dia todo. Em Ariquemes o pastor Antonio havia colocado um esquema puxado
de oração pela madrugada. Não queria deixar a desejar ao bispo, por isso
escalou alguns obreiros que passavam a madrugada acordando de hora em
hora na igreja para orar pelos participantes da campanha de Israel. Por conta
disso eu quase não dormia, aproveitava os fins de semana isolado em Campo
Novo para dormir bastante. No domingo eu fazia o culto. Confesso que fazia
algum esforço para não agradar as pessoas, eu queria enganar o menor numero
de gente possível, mas parece que a sorte não ajuda muito nessas horas. Os
membros estavam voltando com a freqüência dos cultos e eu tinha medo de
simplesmente fechar a igreja e não fazer reunião alguma. Mas cheguei a cogitar
isso.

O dia-a-dia em Ariquemes já me lembrava a rotina da Catedral. Dormia pouco,


os obreiros tinham sido proibidos de me oferecer ajuda, novamente eu tive de
me virar. Almoçava num restaurante ao lado da igreja, o que consumia boa parte
do meu salário, até que o Antonio olhasse pela primeira vez meu contra-cheque.
Eu recebia a remuneração de titular. Assim que viu o quanto eu ganhava se
prontificou a denunciar, o que ele rotulou como abuso. Voltei a ganhar o salário
que recebia quando entrei para a obra. Escondido do pastor, quase todas as
sextas feiras saíamos eu e alguns obreiros mais chegados para dar continuidade
ao trabalho do pastor Emilson, invadindo cemitério e interrompendo o trabalho
de umbandistas. Continuava em Campo Novo pregando a fogueira santa no
núcleo, na sexta-feira anterior ao domingo da campanha nacional eu fiz um culto
especial na cidade, para “rapar o bolso das pessoas”, segundo as ordens do
meu titular. Consegui arrecadar algo em torno de R$ 3000,00 naquela
campanha, montante que ultrapassou algumas igrejas oficiais da região de
Ariquemes.

Quando cheguei do núcleo, no sábado de noite, o pastor Antonio esperava por


mim no escritório. Com o rosto mais fechado do que o de costume, ele mandou
que eu trancasse a porta, pediu o dinheiro da fogueira santa, que eu
prontamente entreguei, junto com um abaixo-assinado dos membros do núcleo,
endereçado ao bispo Milton, pedindo para que a igreja fosse construída
imediatamente, oferecendo também o terreno e todo o material de construção.
Antes de contar o dinheiro ele leu e depois rasgou o documento. Contou a
oferta, riu, e pediu para que eu sentasse.

— Olha aqui, moleque, eu vou embora segunda-feira, porque a campanha vai


arrebentar aqui. O bispo me prometeu a regional de Ji-Paraná e ela será minha
nessa segunda. O pateta do Idelfonso não sabe trabalhar como eu. Mas fique
certo de uma coisa. De lá, mesmo de longe, eu vou ficar atento a cada deslize
seu e você vai sair da obra. Eu vou te pegar, eu vou te expulsar dessa obra para
você aprender a não ser fofoqueiro, seu endemoniado. Agora some daqui.

Foi mais ou menos o que eu ouvi do pastor Antonio Carlos naquele sábado à
noite. Alguém tinha falado de mim para o pastor, alguém tinha contado para o
pastor Antonio, que eu, obedecendo as ordens do bispo, me recusava a chamar
o tecladista dele de pastor, que eu me recusava a chamar o filho dele de obreiro.
Eu havia sido traído, mas por quem? Essa era a dúvida. Como medida de
segurança, para evitar que tudo que eu falasse caísse nos ouvidos do Antonio,
mesmo ele estando em Ji-Paraná, preferi me afastar de todos os obreiros.
Começou minha pior fase na igreja.

Na semana seguinte, o pastor Antonio foi mesmo transferido para Ji-Paraná. Em


seu lugar o pastor Carlos assumiu a região. Carioca, de olhos azuis, estatura
mediana, voz de quem tem certeza do que fala, o pastor Carlos era um homem
muito carismático. Não demorou muito para conquistar a afeição de todos os
obreiros e a minha própria. Sua mulher era um doce de pessoa, tinha dois filhos
maravilhosos que me lembraram o quanto era prazeroso brincar com crianças.

Foram dias felizes em Ariquemes com o pastor Carlos. Ele era meu amigo, ou
pelo menos me fazia acreditar nisso. Me reaproximei de uma obreira em
especial, dona Vanda, uma senhora de meia idade, a primeira obreira que me
ajudou em Ariquemes. Quando eu fui até lá pela primeira vez seus filhos eram
bons rapazes, trabalhadores, íntegros, Everton e Giovanni. O primeiro vendia
consórcios de moto, o segundo trabalhava com venda de madeira. Ela era
sustentada pelos filhos e uma obreira muito dedicada, daquelas raras pessoas
que está na Igreja Universal para servir a Deus, para servir às suas crenças.

Não aconteceu nada de que merecesse ser contado nos tempos do Carlos. Ele
tinha um relacionamento suspeito com algumas obreiras, ficava até a
madrugada se divertindo em clubes, mas na maioria das vezes acompanhado
de sua esposa. Mas seu reinado durou pouco.

Emerson Silva
E-mail

<<<<< Voltar
© Copyright 2003. O ENCOSTO HOME PAGE! Todos os direitos reservados. Não é permitida a reprodução parcial ou total das materias publicadas , sem prévia
autorização dos responsáveis pela HP. As opiniões emitidas nos artigos assinados não expressam necessáriamente a opinião da redação. Todo o esforço foi
feito para investigar os direitos de copyright das fotos contidas nesta HP, mas algumas estavam fora do alcance. Site criado e mantido por O ENCOSTO. Caso
você tenha alguma contribuição, favor entrar em contato ograndemesias@yahoo.com.br

Você também pode gostar