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Segurança, Higiene e Saúde do Trabalho

da Construção Civil

Saúde ocupacional

Introdução
As doenças profissionais na construção civil
A alimentação do trabalhador
O álcool

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Índice

Saúde ocupacional

1. Introdução............................................................................................................................. 3
2. As doenças profissionais na construção civil........................................................................4
2.1. Causas das doenças profissionais.................................................................................4
2.2. Profissões susceptíveis de contraírem doenças profissionais........................................5
2.3. Afecções cancerosas..................................................................................................... 9
2.4. Doenças de pele profissionais......................................................................................14
2.5. Afecções profissionais no aparelho locomotor.............................................................21
2.6. Afecções bronco-pulmonares de origem profissional...................................................27
2.7. Educação sanitária geral..............................................................................................33
3. A alimentação do trabalhador.............................................................................................34
3.1. Erros mais frequentes.................................................................................................. 34
3.2. Pormenores dos erros alimentares...............................................................................35
3.3. As 10 regras de ouro da alimentação...........................................................................35
4. O álcool............................................................................................................................... 37
4.1. As bebidas alcoólicas – seu lugar na alimentação do homem.....................................37
4.2. O álcool – causa de doença no homem.......................................................................39
4.3. Falsos conceitos e virtudes do álcool...........................................................................40
4.4. Alcoolismo crónico – alguns dos seus múltiplos efeitos...............................................43
Bibliografia.............................................................................................................................. 45

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Capítulo 13

1. Introdução

A
indústria da construção civil apresenta características muito especiais. O corpo de
trabalhadores é muito numeroso e diversificado: trolhas, pedreiros, carpinteiros,
pintores, electricistas, serralheiros, etc.

É no mesmo estaleiro, ou “obra”, que todos eles se encontram reunidos e aí trabalham; mas,
por vezes, o local de trabalho é móvel, em vários sítios diferentes, o que exige uma
organização especial dos cuidados médicos.

Esta é uma indústria de mão-de-obra, com postos muito diversificados em que as técnicas
vão evoluindo no sentido de uma mecanização cada vez maior. Mesmo as pequenas
empresas utilizam engenhos mecânicos: gruas, betoneiras, etc. Por outro lado, o emprego de
materiais pré-fabricados generaliza-se, acarretando o trabalho com peças pesadas,
delicadas e por vezes com manuseamento perigoso. Aparecem também sem cessar novos
produtos para a construção (materiais plásticos, vernizes, tintas, isolantes, etc.), acerca dos
quais é preciso estar alerta para potenciais efeitos tóxicos. Convém também referir a
“dureza” e a “violência” de certos postos de trabalho, o que, somado aos erros de higiene
alimentar, por vezes más condições atmosféricas, etc., transforma estes trabalhadores em
alvos de muitos acidentes e doenças.

A medicina do trabalho aplicada à construção civil rodeia-se, pois, de inúmeras dificuldades,


já que à diversificação e ao número elevado de trabalhadores se junta, por vezes, a
mobilidade do local de trabalho, as tarefas potencialmente perigosas, o uso de ferramentas e
maquinaria também susceptíveis de causar acidentes e ferimentos aos seus utilizadores, os
problemas inerentes ao uso de mão-de-obra estrangeira, o risco inerente a trabalhar em
construções elevadas e em profundidade sem a protecção adequada, as refeições
deficientes em qualidade e nem sempre em horário adequado, etc.

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2. As doenças profissionais na construção civil

A
s doenças profissionais são consequência de uma exposição mais ou menos
prolongada a um factor de risco, nem sempre facilmente identificável e cujo
resultado (lesão ou doença) não é facilmente reconhecido, quer por se manifestar
através de queixas em tudo sobreponíveis a outras doenças não profissionais, quer por se
manifestar, num grande número de casos, muitos anos após a cessação da exposição.

As doenças profissionais são as doenças que, por serem consequência directa do trabalho,
conferem direito a reparação específica.

Praticamente todas as doenças profissionais podem atingir o trabalhador da construção civil,


sendo todavia de notar, em ordem decrescente de frequência, as seguintes:

Afecções causadas pelo cimento


Higromas do joelho
Silicose
Doenças provocadas pelos alcatrões, hulha e óleos antracénicos
Asbestose
Afecções osteoarticulares provocadas pelos martelos pneumáticos
Perturbações angioneuróticas provocadas pelos trabalhos de moldagem
Doenças de pele provocadas pelos lubrificantes
Afecções resultantes do ruído
Doenças provocadas pelas madeiras exóticas
Doenças provocadas pelas resinas epóxi e seus constituintes

2.1. Causas das doenças profissionais

Relativamente às causas das doenças profissionais devem ser considerados os seguintes


factores:

a) O agente causa, que pode ser físico (ruído, vibrações, radiações ionizantes),
infeccioso ou tóxico.
b) Defeito de higiene, seja ela geral (defeito de evacuação dos vapores ou poeiras
nocivas, ausência de desinfecções, etc.) ou individual (não lavar as mãos, não mudar
de roupa, tomar as refeições num local poluído, etc.). É importantíssimo o papel
educativo do médico do trabalho.
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c) Susceptibilidade individual, que pode ser fácil de reconhecer, por exemplo


quando se confronta o esforço exigido por certa tarefa com a robustez do
trabalhador.

É sobretudo com os tóxicos (como agentes causais) que é preciso ter cuidado, no sentido de
prevenir as intoxicações com os produtos usados na indústria, tão frequentemente
associados às doenças profissionais.

É conhecido o duplo mecanismo de defesa do organismo contra os venenos: primeiro ele


retém-nos e transforma-os, para, de seguida, os eliminar.

É o fígado que desempenha o principal papel anti-tóxico. Uma das consequências disto é a
toxicidade geralmente maior dos venenos absorvidos por via respiratória: eles penetram
imediatamente na circulação geral e podem lesar vários órgãos antes de chegar ao fígado,
onde são transformados (nalguns casos totalmente, noutros em percentagens variáveis) em
produtos inócuos, prontos a serem eliminados pelos rins ou pulmões. Como facilmente se
depreenderá do exposto, as deficiências do fígado aumentam o risco de intoxicação.

A eliminação dos tóxicos faz-se pelos pulmões, mas sobretudo pelos rins, quer se trate do
tóxico propriamente dito, quer dos produtos resultantes da transformação daquele pelo
fígado. O aparelho urinário pode ser lesado aquando da intoxicação, mas a eliminação dos
tóxicos fica sobretudo comprometida se os rins forem deficientes.

Geralmente, as deficiências ou insuficiências do fígado e dos rins produzem sintomas


evidentes para o médico, e a própria pessoa sabe que “sofre” desses órgãos; outras vezes,
essas mesmas deficiências são latentes e discretas e escapam ao médico, ao mesmo tempo
que o indivíduo não as refere, por desconhecê-las. Nestes casos, as intoxicações são mais
graves, porque o organismo não está preparado para transformar e eliminar os venenos de
forma adequada, e como não há qualquer suspeita desse facto daí poderão advir
dificuldades no diagnóstico e, consequentemente, no tratamento eficaz destes doentes.

2.2. Profissões susceptíveis de contraírem doenças profissionais

Analisemos as patologias mais frequentemente associadas às diferentes categorias


profissionais na construção civil.

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Os carpinteiros estão sujeitos a acidentes mecânicos de vária ordem resultantes do uso de


inúmeras serras, serrotes, tupias, berbequins, plainas, martelos, limas, etc.

No decurso do melhoramento de madeiras, podem também ser afectados pelas resinas


sintéticas e pelo uso de prensas. No fabrico de madeiras modificadas (placagem,
contraplacagem, painéis de partículas ou fibras, conglomerados), estão igualmente sujeitos a
vários acidentes.

A preparação das superfícies também pode ser perigosa devido, por exemplo, ao uso de
abrasivos.

Por outro lado, estes trabalhadores estão igualmente sujeitos a lesões devido às próprias
madeiras utilizadas, exóticas ou não, e que se traduzem essencialmente por reacções
alérgicas aquando da manipulação das mesmas, por vezes agravadas pelas poeiras
associadas a este tipo de trabalho.

Como consequência, poderá ser observada irritação na pele, nos olhos ou nos brônquios e
pulmões; recentemente, tem-se insistido na frequência relativa dos cancros do etmóide nos
trabalhadores da madeira.

Os produtos de protecção utilizados nas madeiras para evitar que estas sejam atacadas por
insectos, fungos, organismos marinhos e condições meteorológicas também podem ser
tóxicos para o trabalhador; estes produtos são numerosíssimos e podem ser de vários tipos,
entre os quais óleos líquidos, compostos metálicos e compostos orgânicos, ocasionando por
vezes doenças que podem atingir os mais variados órgãos ou aparelhos do corpo humano.
Por último, é de referir que podem igualmente ser causa de doença as colas, vernizes,
pinturas, lacas e tinturas utilizadas em certos trabalhos da madeira.

Os operários que trabalham com sistemas de aquecimento, ventilação e ar


condicionado estão sujeitos aos riscos profissionais directamente relacionados com os
processos de soldadura utilizados em todas as fases de fabrico e instalação destes sistemas.
Poderá, em consequência, haver libertação de fumos ou gases (acetileno, propano, butano,
vapores nitrosos, monóxido de carbono), emanações de cobre, de chumbo (telas
galvanizadas, ligas), de vanádio ou de zinco (telas galvanizadas), poeiras (nomeadamente
sílica), riscos de explosão e de incêndio pela utilização de misturas potencialmente
explosivas (gás, combustível, ar, electricidade) e radiações emitidas pelos diferentes tipos de
solda, que podem resultar em alergia, intoxicação ou doença em vários órgãos humanos.

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Os pedreiros, trolhas, ferreiros, trabalhadores dos poços, trabalhadores que lidam com
cimento ou mineiros utilizam diversos materiais, como elementos pré-fabricados (em betão,
barro, argila, materiais arenosos, cascalho), elementos de ligação (cimento, cal, granito,
areia), materiais de revestimento (com grande variedade de materiais sintéticos), materiais
para o betão armado (cimento, gravilha, pedra, ferro) e também materiais para as cofragens
e fundações (armações com barras de aço, fio de ferro, arame, pranchas).
Entre os produtos que podem estar em contacto com os trabalhadores há um certo número
que envolve risco profissional. Os mais importantes são:

os cimentos;
o crómio e os seus sais;
o monóxido de carbono;
a sílica livre ou o quartzo cristalino.

Como é lógico, tanto para estes trabalhadores como para outros, somente o estudo do posto
ou local de trabalho pode permitir o perfeito conhecimento dos riscos que lhe estão
associados.

Os pintores desempenham uma profissão em constante evolução, tanto pelos produtos


utilizados como pelos processos de aplicação, e apresentam ao médico uma grande
quantidade de problemas tóxicos. Devido à enorme variedade de tintas utilizadas (tintas e
vernizes celulósicos, gliceroftálicos e vinílicos, tintas com silicones, betuminosas, fosfatantes,
etc.), à grande quantidade de diluentes (acetatos de butileno e de etilo, acetona, álcool
metílico e etílico, tolueno, benzeno, etc.) e aos inúmeros pigmentos utilizados (óxidos,
sulfatos, sulfuretos, carbonatos, cromatos, aluminatos, etc.), é de prever que o organismo
destes trabalhadores entre em contacto com uma infinidade de substâncias perigosas.

Além disso, hoje em dia os pintores industriais utilizam frequentemente os jactos de areia
para fazerem a limpeza a seco das superfícies a pintar, o que vem juntar a silicose aos já
numerosos riscos profissionais.

Também a pintura à pistola, verdadeira pintura industrial, acarreta riscos, nomeadamente os


riscos eléctricos, os riscos inerentes aos gases comprimidos e à toxicidade dos diluentes
utilizados e os riscos inerentes à utilização de produtos em aerossol. Igualmente são nocivos,
especialmente para a pele, os produtos à base de amoníaco e lixívia utilizados na limpeza
das superfícies a pintar.

Os condutores (de todos os tipos de veículos ou engenhos usados na construção


civil) estão sujeitos a danos causados pelas condições climatéricas (sol, vento, chuva, frio),
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pelas poeiras abundantes, pela emanação de gases queimados, cuja toxicidade é


indiscutível, especialmente quando se trabalha em ambientes fechados ou subterrâneos,
pelo elevado ruído associado e pelas vibrações (sobretudo nos veículos com pneus), que
podem causar lesões na coluna (pelo que estes trabalhadores devem usar cintas lombares
de protecção). Devido a trabalharem quase sempre sentados, verifica-se também uma maior
frequência de hemorróidas.

O alcatrão e os pavimentos asfaltados têm na sua composição elementos com toxicidade


indiscutível. O trabalho com certos tipos de hulha está associado a lesões da pele, podendo
mesmo haver cancro deste órgão. Os chamados “cancros do alcatrão” são devidos aos
produtos de destilação da hulha ou refinação do petróleo bruto, e são precedidos por
doenças pré-cancerosas da pele, que devem dar o alarme: eczemas, melanoses, foliculites
crónicas, hiperqueratose, papilomas. Estas doenças devem ser reconhecidas precocemente
para se proceder ao seu tratamento adequado e evitar o aparecimento do cancro.

Os óleos antracénicos utilizados pelos asfaltadores têm uma acção fotodinâmica real,
causando dermatites de fotossensibilização, equivalentes a microqueimaduras.

Há um grande número de doenças que podem ser observadas nestes operários, tais como
conjuntivite, perturbações digestivas e pulmonares, fadiga, insónia e dores de cabeça, bem
como um risco aumentado de silicose.

Os trabalhadores de isolamentos térmicos utilizam numerosos materiais à base de


amianto, cujos principais efeitos na saúde humana são a fibrose pulmonar (asbestose) e os
cancros do aparelho respiratório e pleura.

Actualmente está proibida a utilização do amianto e os trabalhadores devem ser objecto de


vigilância especial, nomeadamente aqueles que fabricam bainhas isolantes, os que instalam
placas ignífugas e os que fabricam e sobretudo destroem certos fornos para o tratamento
térmico, estando este último trabalho associado também à silicose.

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2.3. Afecções cancerosas

2.3.1. Cancros da pele de origem profissional

Este tipo de cancros ocorre normalmente no seguimento de lesões da pele provocadas pelo
contacto, ao longo dos anos, com certo tipo de substâncias cancerígenas. Um aspecto com
importância é o longo período de “latência”, isto é, o tempo que o cancro demora a
manifestar-se desde que começam os contactos com a substância cancerígena: este período
é da ordem dos 15 a 20 anos, por vezes mais.

Seguidamente enumeram-se alguns produtos que estão implicados nos cancros da pele:

Arsénico e compostos minerais

O papel cancerígeno do arsénico é conhecido desde há longa data, quando se começaram a


constatar tumores da pele nos operários expostos durante numerosos anos aos compostos
minerais do arsénico, como acontecia na extracção e tratamento dos minerais ou na
utilização de compostos arsenicais nos trabalhos de pintura.

Produtos derivados da hulha e do petróleo

É neste grupo que se encontram os produtos cancerígenos mais activos.

Alguns produtos da combustão do carvão, o alcatrão, o carvão de hulha, os óleos


antracénicos, de xisto ou de petróleo, a parafina e o negro de carbono não deixam dúvidas
acerca do seu papel na génese do cancro de pele diagnosticado em alguns operários que
trabalham com estes produtos durante longos anos sem qualquer protecção.

Clinicamente, o cancro da pele provocado pelos derivados da hulha e do petróleo sobrevêm


após um longo período de incubação, que pode ir de 15 a 30 anos. Houve casos em que foi
observada uma aparição mais rápida, após uma queimadura de pele provocada por óleo ou
alcatrão quente.

Estes cancros são precedidos, na grande maioria das vezes, por alterações na pele
perfeitamente visíveis, que podem tomar várias formas, e que logicamente devem ser objecto
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de uma consulta médica, no sentido de despistar qualquer lesão que possa eventualmente
vir a tornar-se maligna.

A aparição de verrugas exuberantes e irregulares é muito suspeita; quando são coçadas,


tendem a sangrar.

Os cancros da pele demoram tempo a disseminar-se para os gânglios, e só raramente


atingem os outros órgãos, o que faz com que o seu diagnóstico e tratamento precoces
conduzam a uma elevada taxa de curas.

2.3.2. Cancros das vias respiratórias de origem profissional

Estes cancros normalmente não apresentam diferenças em relação aos cancros das vias
respiratórias não atribuíveis ao meio profissional. No caso dos cancros bronco-pulmonares, a
acção do fumo do tabaco (indiscutível causa de cancro) faz com que, para alguns autores, no
caso de pessoas que fumam, a relação entre certos cancros e o meio profissional seja
discutível.

Os cancros das vias respiratórias superiores (nariz, faringe, laringe, traqueia)


assinalados como sendo de origem profissional são relativamente raros. Alguns casos de
cancro da laringe e do osso etmóide (osso da cavidade nasal) foram atribuídos ao arsénico,
ao cobalto e ao crómio. Os subprodutos da hulha e do petróleo (alcatrão, óleo mineral,
betume) podem ser suspeitos em certos casos. A frequência do cancro da laringe nos
mineiros do carvão é superior à da população em geral.

A frequência de tumores do etmóide e do maxilar foi posta em evidência nos trabalhadores


das madeiras na indústria do móvel e na construção civil.

A duração da exposição ao factor de risco é normalmente longa, da ordem dos 40 anos.

Apesar de o agente causal não ter sido identificado, todos os autores estão de acordo em
que se deve reduzir o mais possível o empoeiramento.

Vários autores descrevem a associação do cancro dos brônquios e pulmões com os


trabalhadores do amianto. Este cancro sobrevem muitas vezes após um tempo de latência
muito longo, da ordem dos 20 a 30 anos, e pode manifestar-se, por exemplo, nos
trabalhadores que instalam os sistemas de calorificação ou de isolamento, que utilizem
soldaduras e materiais (tubos, placas) de amianto.
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O fumo do tabaco favorece nitidamente o aparecimento destes cancros nos trabalhadores do


amianto.

A aparição de cancros da pleura é igualmente mais frequente nos trabalhadores do amianto,


e muitas vezes é difícil afirmar que houve exposição ao risco, pois esta muitas vezes
decorreu há longos anos; com efeito, estes cancros podem manifestar-se 20 a 40 anos após
a exposição ao amianto.

O papel cancerígeno do amianto está mais directamente ligado ao amianto puro, e não a
compostos que o contenham.

A supressão do empoeiramento, a protecção das vias respiratórias e um acondicionamento


correcto deste produto são medidas perfeitamente realizáveis tendentes a prevenir os riscos
do trabalho com o amianto.

2.3.3. Cancros relacionados com agentes físicos

Traumatismos mecânicos

Os médicos estão longe de estar de acordo sobre a probabilidade de um cancro se declarar


em qualquer órgão ou zona do corpo humano que tenha sido sujeita a traumatismo; o tempo
que o cancro demora a manifestar-se após o traumatismo é tão variável que, para muitos
autores, o cancro pós-traumático não passa de uma coincidência.

O cancro que aparece nos primeiros meses que se seguem a um traumatismo,


especialmente na pele, tem, segundo alguns autores, boas probabilidades de ser devido a
esse mesmo traumatismo; os cancros que aparecem anos após já não merecem tanto
crédito como sendo de origem pós-traumática.

Há três pontos particulares que devem ser sublinhados:

1. Existem certos cancros que parecem desenvolver-se precisamente nos sítios


sujeitos a microtraumatismos profissionais, por exemplo no ponto de apoio de uma
correia, no ponto de apoio de uma ferramenta manual, etc.
Os médicos devem, todavia, ser cautelosos antes de responsabilizarem estes
microtraumatismos, pois muitas vezes existe uma outra razão para explicar a
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evolução maligna duma zona continuamente irritada: assim, poderá ter havido
contacto continuado com algum agente químico cancerígeno, e que tenha passado
despercebido, ou, por outro lado, poderá existir nessa zona uma predisposição
especial, como seja, por exemplo, a existência de uma verruga.

2. Outros cancros parecem desenvolver-se sobre as sequelas de um traumatismo


antigo: cicatriz, fístula, traço de fractura, estilhaço que tenha ficado alojado dentro do
corpo, etc. Para este caso, também é válido o raciocínio precedente, no sentido em
que uma irritação crónica mais ou menos latente preparou o terreno para o cancro se
manifestar.

3. Existem, certamente, outros cancros que são revelados por um traumatismo, como
seja o caso das fracturas nas pessoas que têm os ossos descalcificados por alguma
doença maligna, problema este que, logicamente, é completamente diferente dos
precedentes.

Traumatismos térmicos

Tem-se atribuído algum papel às queimaduras na génese de certos cancros; contudo, é


preciso eliminar todos os cancros subsequentes a queimaduras com agentes tidos como
cancerígenos (alcatrão, parafina, etc.), para se poder atribuir as “culpas” à queimadura em si.
Convém igualmente fazer a distinção entre o cancro que aparece na cicatriz de uma
queimadura única, os cancros que se desenvolvem na sequência de queimaduras repetidas,
e os cancros térmicos devidos ao calor propriamente dito, em que não existe queimadura.

Existem queimaduras que são indiscutivelmente acidentes de trabalho, e em cuja cicatriz se


pode desenvolver um cancro, meses ou anos após.

Por outro lado, existem queimaduras insignificantes, que aconteceram há muito tempo, e que
são por vezes invocadas como estando na origem de um cancro da pele; este problema é
diferente e, com efeito, é a sua repetição continuada, ocasionada pelo tipo de trabalho, que
poderá provocar alterações nos tecidos e levar posteriormente à sua transformação maligna.

Este tipo de queimaduras pequenas e repetidas, aliadas às múltiplas agressões quotidianas,


acabam por alterar profundamente certas zonas da pele dos trabalhadores manuais; é
nestas condições que o cancro da pele se poderá desenvolver, ajudado por uma higiene
deficiente, e é praticamente impossível atribuir a responsabilidade a um único “acidente”.
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Frequentemente existem agressões químicas que se misturam com as agressões térmicas,


como sejam o ácido sulfúrico, potassa, óleo mineral, e que podem igualmente ter uma parte
activa na determinação do cancro.

Os cancros térmicos nos operários expostos ao calor dos fornos de fundições, por exemplo,
são excepcionais, apenas sendo detectados esporadicamente.

Luz solar

Hoje em dia, ninguém põe em dúvida que o cancro da pele seja favorecido pela exposição
intensa e continuada às radiações solares, pelo que nunca é demais alertar para a protecção
adequada, com chapéu e vestuário, de todos os trabalhadores que trabalham sob a acção de
intensa luz solar.

Os trabalhadores da construção civil estão fortemente expostos aos raios solares e,


infelizmente, assiste-se com muita frequência (principalmente no Verão) à execução das
suas tarefas sem vestuário que proteja o tronco.

Os raios ultravioletas artificiais, que seriam originados, por exemplo, na soldadura com arco
poderiam ter um efeito comparável, mas isto nunca chegou a ser provado.

Características comuns dos cancros relacionados com agentes físicos

A noção de uma predisposição local parece evidente. Na maior parte dos casos, sobretudo
para a pele, o cancro declara-se em algum tecido patológico: grande cicatriz, calosidade
exagerada, verruga, sinal, calo ósseo, corpo estranho alojado sob a pele, etc.

A noção de uma lenta transformação maligna resulta de numerosas constatações clínicas. O


cancro não se desenvolve bruscamente nas lesões pré-existentes; pelo contrário, parecem
dar-se modificações insensíveis a partir dessas lesões de inflamação crónica da pele, no seio
das quais, a pouco e pouco, se começa a dar a transformação maligna.

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2.3.4. Prevenção

A prevenção é variável conforme o tipo de agentes cancerígenos, mas, de uma maneira


geral, é preciso fazer tudo para que a exposição a tais agentes seja nula e para prevenir
qualquer risco de acidente.

Quando isto for possível, deve substituir-se o produto perigoso por outro que não apresente
riscos.

As medidas técnicas de prevenção devem ser confirmadas através de exames médicos


doseando os teores sanguíneos do produto suspeito, ou qualquer seu metabolito.

É igualmente preciso que se verifique o teor de poluentes na atmosfera (por exemplo, o teor
de fibras de amianto).

A prevenção dos cancros profissionais não difere sensivelmente da prevenção geral,


salientando-se o facto de os trabalhadores não deverem correr riscos desnecessários,
cumprirem todas as normas de segurança e adoptarem o bom senso na sua conduta
profissional.

2.4. Doenças de pele profissionais

As doenças de pele (dermatoses) profissionais apresentam aspectos muito diversos, por


vezes complexos: estas doenças inscrevem-se num conjunto de grandes sintomas
dermatológicos, observam-se em mais de uma centena de profissões, dizem respeito a uma
trintena de famílias profissionais e relacionam-se com centenas de agentes causais.

A classificação destas doenças em:

dermatoses ortoérgicas,
e
dermatoses eczemáticas, proposta há alguns anos por um autor francês, continua
válida para uma primeira aproximação, pois tem o mérito da clareza e da
simplicidade.

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2.4.1. Dermatoses ortoérgicas

As dermatoses ortoérgicas são definidas por um aspecto particular na pele doente, pela
localização no ponto de aplicação da agressão, pelo seu carácter colectivo (em princípio,
atingem todos os indivíduos expostos aos mesmos riscos), o que implica a não existência de
alguma predisposição particular. Estas dermatoses curam mais ou menos rapidamente
quando se suprime a causa. Devido aos progressos registados pela prevenção, este tipo de
dermatoses tem vindo a tornar-se cada vez mais raro.

As dermatoses ortoérgicas podem ser de origem microbiana, devendo-se essencialmente a


bactérias como o estafilococo e o estreptococo, e podem observar-se em todas as
profissões; muitas vezes, as dermatoses infecciosas acontecem a seguir a um ferimento
mínimo acidental e são favorecidas por situações que acarretam deficientes defesas do
organismo, tais como o alcoolismo e a diabetes. Estas infecções normalmente localizam-se
nas mãos ou na cara, dando origem a dermatoses como:

piodermite;
impetigo;
foliculite;
furunculose;
antrax.

É muito frequente que um grande número de dermatoses profissionais, quer sejam


ortoérgicas ou eczemáticas, de causas diversas, se infectem secundariamente com alguma
bactéria, o que provoca agravamento da dermatose e favorece a sua continuação.

Outra situação frequente consiste nas onixis microbianas, ou seja, nas infecções microbianas
da unha e dos tecidos que a rodeiam; estas infecções localizam-se em um ou vários dedos e
caracterizam-se por um deslocamento da unha, que aparece com fissuras, ao mesmo tempo
que se desenvolve à volta dela dor, inchaço, vermelhidão e finalmente a saída do pus – o
vulgar panarício. Estas infecções, assim como as precedentes, devem ser tratadas
precocemente, para que não haja complicações.

A tuberculose profissional localizada na pele caracteriza-se por uma ulceração no local de


inoculação ou por uma verruga violácea com o centro infectado.

Existem igualmente dermatoses infecciosas provocadas por fungos e não por bactérias;
estas dermatoses são as vulgares tinhas, que devem ser eficazmente tratadas porque são
muito contagiosas.
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Em numerosas profissões é possível observar as rágadas, que são pequenas feridas


lineares, superficiais, com fundo vermelho, muito dolorosas, localizadas normalmente na
polpa dos dedos; estas rágadas são provocadas por traumatismos mínimos devido às
partículas sólidas manipuladas: partículas de cimento nos operários da construção, fibras de
vidro nos vidraceiros, etc.

As ulcerações da pele podem ser provocadas pela manipulação de certos produtos caústicos
ou agressivos.

As calosidades consistem num aumento localizado da espessura da pele e são


consequência de pressões sobre a mesma zona.

Existem numerosos agentes capazes de provocar lesões na pele, e o mesmo agente pode
ser o responsável por dermatoses ortoérgicas ou dermatoses eczemáticas. Alguns desses
agentes químicos irão ser descritos a seguir:

Ácidos

Os ácidos minerais podem provocar queimaduras, geralmente limitadas e secas, mas que
demoram a curar. O ácido sulfúrico, por exemplo, além destas queimaduras pode provocar
uma coloração amarelo-acastanhada nas mãos, com acentuação das rugas da pele.

Bases

As bases, por exemplo a lixívia, provocam igualmente queimaduras da pele, mas mais
profundas e húmidas do que aquelas provocadas pelos ácidos.

Amianto

Além de outras lesões já estudadas, o amianto, que serve, por exemplo, para fabricar telhas
e revestimentos incombustíveis, pode provocar verrugas originadas por inclusão de
pequenos fragmentos na pele. Estas verrugas ficam normalmente curadas quando se
extraem esses pequenos fragmentos de amianto.

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Cal viva

Provoca obviamente queimaduras.

Alcatrão e seus derivados

Utilizados em inúmeras profissões, estes produtos são susceptíveis de provocar alterações


na pigmentação da pele; quando essas alterações são mínimas, caracterizam-se por uma
pele acinzentada, seca e lisa; à medida que se acentuam, as alterações provocam uma
pigmentação difusa na face, dando um aspecto característico.

Os óleos minerais são igualmente susceptíveis de provocar lesões na pele, consistindo em


ruborização da mesma e no aparecimento de pequenas bolhas e crostas, localizadas
preferencialmente nos braços e nas coxas, e muito semelhantes às lesões da acne.

2.4.2. Dermatoses eczemáticas

As dermatoses eczemáticas originam sempre prurido (comichão), ao contrário das


dermatoses ortoérgicas. Estas dermatoses também começam no ponto de aplicação do
agente agressivo, mas raramente ficam localizadas aí; pelo contrário, tendem a estender-se
à distância e mesmo a generalizar-se. Estas lesões apenas atingem os indivíduos
predispostos, pelo que têm um carácter individual e não colectivo; normalmente, não curam
sempre que se suprime a causa, porque têm tendência a recidivar (tornar a aparecer)
quando se dá um novo contacto, quer com os mesmos agentes causais, quer com outros
quaisquer. Devido aos progressos da química industrial, que todos os dias, inunda o
mercado com novos produtos, o número destas dermatoses eczemáticas tende a aumentar
consideravelmente de ano para ano.

Os eczemas aparecem muitas vezes com lesões primitivas, mas podem suceder às
dermatoses ortoérgicas, modificando o seu aspecto primitivo; assim, um operário que lide
com o cobre e que apresente os reflexos esverdeados da pele, característicos deste produto,
pode ser vítima de um eczema provocado igualmente pelo cobre, e que modifica
completamente os banais reflexos esverdeados, dando outro aspecto à lesão.
Estes eczemas profissionais aparecem alguns meses após o início do contacto com o agente
agressivo.

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Convém sublinhar que estas dermatoses são extremamente frequentes e podem revestir-se
de características muito diversas, ao contrário das dematoses ortoérgicas, em que
normalmente os agentes químicos provocam na pele lesões características e pouco
variadas.

A consequência prática desta faceta das dermatoses eczemáticas é que, quando aparece
um eczema em algum trabalhador, pode ser muito difícil para o médico descobrir o agente
químico implicado, devido à variedade e inconstância dos vários tipos de eczema que
qualquer produto pode originar.

O eczema do cimento constitui a doença profissional mais frequente entre os trabalhadores


da construção civil, atingindo percentagens variáveis; com efeito, o eczema do cimento
representa 20 a 60% das doenças de pele profissionais, sendo o responsável por 49%
dessas doenças nos trabalhadores da construção civil.

Devido às constantes complicações infecciosas e à sua evolução crónica, este eczema


constitui por vezes um grave problema médico legal.

Condições de aparecimento

Esta dermatose é observada nos trabalhadores que manuseiam o cimento, sendo


praticamente inexistente nos operários que o fabricam na indústria cimenteira; este eczema
observa-se, em mais de metade dos casos, nos trabalhadores com vinte ou trinta anos de
prática, mas por vezes pode atingir operários no início da profissão.

Esta doença parece ser facilitada por certos estados anómalos da pele: assim, a secura, a
maceração (resultante do suor durante os meses quentes), os microtraumatismos repetidos
ocasionados pelos grãos de cimento, uma doença de pele preexistente (com realce para as
micoses), são tudo condições anómalas que tendem a favorecer o aparecimento do eczema
do cimento.

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Aspectos clínicos

Esta doença começa geralmente pelos dedos, podendo ficar localizada na face dorsal do
indicador e do dedo médio e à volta das unhas, sendo acompanhada de comichão. Neste
estádio, é possível a cura através do repouso, sobretudo se a pele reagir bem,
“acostumando-se” ao contacto com esse material estranho que é o cimento.

Infelizmente, contudo, na maioria dos casos as lesões evoluem, constituindo o aspecto da


“mão do cimenteiro”: a pele do dorso dos dedos fica “inchada”, rósea ou violácea, com
aspecto carnudo, enquanto a pele da face palmar dos dedos se espessa, ficando dura, com
calosidades, erosões e gretas. Muitas vezes estas lesões atingem a face anterior dos
punhos.

Na fase seguinte, que acontece invariavelmente, esta pele tão alterada acaba por se infectar
secundariamente; neste estádio, também ainda é possível curar estas lesões, mas o facto é
que isso se torna bastante mais problemático.

Esta dermatose agrava-se por vezes devido ao uso de luvas, que favorecem a maceração da
pele, especialmente em tempo quente, e agrava-se também com o uso de certos detergentes
cáusticos utilizados na higiene após o trabalho.

À medida que o tempo passa e as lesões vão evoluindo, o eczema do cimento torna-se
crónico, atingindo o estádio de dermatose residual: nesta fase, nem a suspensão do trabalho
permite esperar a cura da doença, tornando-se o operário num verdadeiro “doente da pele”.

A evolução posterior é bastante variável e depende de muitos factores, nomeadamente do


tipo de infecção secundária, do tipo de lesões constituintes do eczema, da boa ou má
circulação sanguínea nas zonas afectadas, da existência de alcoolismo, etc.

Causas de aparecimento

Para a grande maioria dos dermatologistas, o eczema do cimento é de origem alérgica e o


produto responsável pela relação alérgica é o cimento em si mesmo, ou então o crómio que
ele contém.

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O tratamento das dermatoses eczemáticas, como é evidente, é do foro médico; o que não
poderá deixar de se fazer é alertar as pessoas para o facto de que é preciso subtrair o
doente ao contacto com o produto que provoca o eczema, o que, na prática, normalmente
implica a suspensão do trabalho.

2.4.3. Diagnóstico das dermatoses profissionais

O diagnóstico destas dermatoses baseia-se na história do aparecimento das lesões, no


aspecto clínico das mesmas e, eventualmente, em testes cutâneos efectuados pelo médico.

Devem ser logicamente excluídas as dermatoses de origem extra-profissional, o que poderá


ser difícil em certos casos, e descartadas as vulgares dermatoses infecciosas onde o
trabalho não tem qualquer influência.

2.4.4. Prevenção das dermatoses profissionais

A prevenção das dermatoses profissionais constitui uma das tarefas essenciais do médico do
trabalho e deve ser uma preocupação constante deste.

Esta prevenção deve exercer-se desde que o trabalhador inicia as suas funções e prosseguir
durante o tempo em que o trabalhador estiver no activo.

1º As pessoas que já têm problemas alérgicos (por exemplo, asura) estarão predispostas
às dermatoses profissionais?

Esta pergunta tem respostas contraditórias conforme a opinião de vários autores; parece,
no entanto, mais prudente recusar-lhes certas tarefas que os ponham em contacto com
numerosos produtos susceptíveis de provocar reacções alérgicas.

2º Será sempre preciso efectuar testes cutâneos aos trabalhadores, quando estes
iniciam o seu trabalho na empresa, com os produtos que serão ulteriormente
manipulados?

A resposta é definitivamente negativa. Com efeito, a existência de testes positivos,


acusando alergia, não implica minimamente que a pessoa vá contrair uma dermatose
eczemática, pois esta alergia pode ficar indefinidamente sem se manifestar; por outro

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lado, a existência de testes negativos não constitui qualquer prova irrefutável de que a
pessoa não venha a sofrer uma dermatose eczemática.

3º Que medidas colectivas devem ser tomadas para prevenir as dermatoses


profissionais?

A substituição dos produtos que podem provocar alergias por produtos inofensivos, no
caso de ser tecnicamente possível, é com certeza uma medida eficaz.

Devem ser rigorosamente proibidos os produtos de lavagem irracionais, tais como os


sabões com ph muito elevado e, logicamente, os produtos abrasivos, o petróleo e a
benzina, que são susceptíveis, por si só, de provocar dermatoses. Se o petróleo e a
benzina forem indispensáveis para a limpeza das mãos, aconselha-se a sua diluição com
40% de lanolina.

Infelizmente, numerosos operários não se submetem a estas instruções, o que é de


lamentar, porque é indiscutível que, se as normas de higiene no trabalho fossem
escrupulosamente cumpridas, o número de dermatoses profissionais seria praticamente
nulo.

2.5. Afecções profissionais no aparelho locomotor

As afecções profissionais no aparelho locomotor manifestam-se, geralmente, através das


atitudes, gestos e esforços, devendo ser considerados como factores potenciais de afecção
osteoarticular (dos ossos e articulações):

os gestos que ultrapassam a amplitude fisiológica dos movimentos articulares;


os gestos que, sem ultrapassar a amplitude normal, são violentos e repetidos;
a pressão contínua exercida sobre uma articulação;
os choques repetidos sofridos pelas extremidades ósseas;
o deficiente repouso muscular;
em suma, a não observância de condições óptimas de funcionamento do aparelho
articular, do ponto de vista da amplitude, da força e do ritmo; outros factores
profissionais importantes são o frio e a chuva.

Os agentes químicos (flúor, cádmio, chumbo, fósforo, cloreto de vinilo) podem provocar
alterações várias ao nível dos ossos e articulações, o mesmo sucedendo com os agentes

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físicos (radiações ionizantes, ar comprimido, poeiras). No caso dos operários da construção


civil, todavia, as principais causas profissionais das afecções osteoarticulares são as
enumeradas a seguir.

Dores de postura

As dores atribuídas a posturas viciosas localizam-se inicialmente ao nível dos músculos e,


por vezes, ao nível do sistema osteo-ligamentar. Estas dores incidem sobretudo na coluna
vertebral, especialmente nos seus músculos da parte posterior, quer sejam da zona cervical
(pescoço), dorsal ou lombar.

Estas traduzem-se por um fenómeno doloroso ritmado, que não existe quando o operário
inicia as suas funções, mas que começa a aparecer após alguns meses, por vezes um ou
dois anos. Estas dores fazem sentir-se então no final da manhã de trabalho, aumentam
progressivamente durante a tarde e desaparecem quando o operário se deita, à noite, não
havendo normalmente qualquer episódio doloroso nocturno; por vezes, este ritmo da dor é
menos nítido e ela faz-se sentir durante a noite ou ao levantar.

A evolução deste tipo de dores de postura é variável e vai desde a habituação até à
incapacidade passível de implicar a suspensão do trabalho.

Há múltiplos factores que condicionam estas dores:

por exemplo, um trabalho em que o antebraço esteja flectido a 90% sobre o braço,
não apoiado, necessita de uma tensão estática contínua por parte de uma série de
músculos, que vão desde o antebraço até ao pescoço e região dorsal. É este tipo de
trabalho estático que é susceptível de se tornar doloroso a longo prazo.
por outro lado, a circulação sanguínea, aquando de uma contracção estática
permanente, não é estimulada como acontece com os movimentos dinâmicos, o que
resulta numa pior irrigação dos músculos, o que também contribui para o
aparecimento da dor.

Estas dores de postura podem localizar-se em qualquer grupo muscular solicitado por um
esforço anormal. É sabido que os músculos são constituídos por três tipos de fibras com
funcionamento, respectivamente, rápido, médio e lento, o que permite, através da sua
presença simultânea, a adaptação suave e sensível da contracção muscular ao gesto
efectuado. Mas, como estes tipos de fibras serão repartidos desigualmente, a fadiga e as
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dores musculares aparecerão mais rapidamente, no seguimento de um esforço sustentado


estático efectuado por um músculo que funciona habitualmente de maneira rápida, e vice-
versa.

Escoliose e cifose

A escoliose é um desvio patológico lateral das curvaturas normais da coluna vertebral, sendo
a cifose um exagero da curvatura normal da coluna dorsal – a vulgar “marreca” ou
“corcunda”.

Tem-se insistido muito na relação dos factores profissionais com estas deformidades da
coluna; sem dúvida que uma posição viciosa do trabalhador, ao longo do tempo, pode ter um
papel importante no seu aparecimento, mas tais deformidades são frequentemente de
aparecimento espontâneo e não deve ser exagerada a importância do factor profissional.

Lesões diversas da coluna vertebral

Em todos aqueles que praticam esforços violentos ou carregam cargas pesadas, as dores
vertebrais são frequentes; por vezes, o exame radiográfico não mostra nenhuma lesão, ou
então mostra apenas uma discreta escoliose. Estas dores podem ser devidas a posições
viciosas ou então pode tratar-se de pequenas entorses vertebrais, como quando aparece o
“lumbago” na sequência de um esforço particularmente violento ou mal executado.

Pode igualmente constatar-se uma grande variedade de lesões da coluna, nomeadamente:

artroses com osteófitos (“bicos de papagaio”);


deformações na vértebra;
achatamentos da vértebra;
achatamentos dos discos intervertebrais;
hérnias discais;
fracturas, etc.

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Afecções do ombro

Muitos trabalhadores braçais são afectados por dores do ombro, com limitação de certos
movimentos, que são consequência dos mecanismos descritos atrás. Por vezes, existe dor
no ombro associada a nevralgia do pescoço; outras vezes, o braço inteiro fica “sem acção”,
como se diz popularmente, o que, na maioria das vezes, corresponde a uma impotência
funcional de um dos músculos do ombro, o deltóide. Esta impotência acontece quando existe
um movimento brusco e violento do braço, que provoca uma distensão do músculo deltóide e
um estiramento da cápsula articular do ombro; esta afecção é conhecida também como
“braço caído” e, devido aos fenómenos de inflamação da articulação do ombro que acarreta,
necessita de tratamento médico.

Afecções do cotovelo

A lesão mais importante deste tipo de afecções é a chamada artrose hiperostosante do


cotovelo, devida ao emprego de martelos pneumáticos, doença esta completamente
reconhecida como doença profissional.

Outras afecções do cotovelo são conhecidas sempre que, por exemplo, os músculos do
antebraço sofrem uma sobrecarga excessiva, como acontece nos trabalhos em que é preciso
apertar e desapertar com força parafusos ou outro tipo de material. Nestes casos, a dor
aparece com os movimentos, cessa com o repouso, mas acaba por se tornar incapacitante.

Lesões do punho e mão

Neste capítulo, a afecção mais importante também resulta do uso dos martelos pneumáticos,
que podem provocar lesões do semi-lunar e do escafóide, que são pequenos ossos da
articulação do punho.

Os traumatismos e microtraumatismos desta zona implicam fracturas dos tendões e


articulações com todo o tipo de sintomas normalmente associados.

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Lesões das ancas

As lesões na articulação das ancas com importância profissional normalmente aparecem em


pessoas que já têm problemas anteriores nestas articulações, e normalmente resultam em
artrose.

Lesões dos joelhos

Todos os exercícios e trabalhos violentos podem lesar a articulação do joelho, com afecções
que vão desde o arrancamento da espinha tibial às entorses, artroses e artrites.

Lesões do pé

Quando existe marcha forçada, e nomeadamente quando esta se faz com pesos excessivos,
os músculos do pé fatigados deixam de produzir a normal curvatura do pé, que tende a ficar
plano e mais frágil às sobrecargas, o que, por vezes, ocasiona fracturas espontâneas de
certos ossos, mais frequentemente no segundo metacarpiano.

As artroses da articulação do pé não são raras.

Lesões dos músculos, tendões e tecidos superficiais

Este tipo de afecções acompanha muitas vezes as lesões osteoarticulares já descritas, e


compreende:

as miosites (inflamações dos músculos), as rupturas musculares e as tendinites


(inflamações dos tendões);
as sinovites, que são inflamações das bolsas que rodeiam as articulações,
normalmente acompanhando-se de dor muito forte e incapacitante, e que são típicas
nos polidores que executam movimentos muito rápidos e vigorosos, esforçando as
articulações do membro superior;

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os higromas, ou seja, a acumulação de líquido dentro das bolsas articulares, que são
devidos à inflamação ou hemorragia dessas mesmas bolsas articulares, causada por
traumatismos, por atrito ou pelo esforço “normal” causado pela profissão; os
higromas são frequentes nos joelhos das pessoas que trabalham ajoelhadas,
ocasionando acumulação de líquido nas bolsas articulares das rótulas;
a doença de Dupuytren, que consta de fibrose dos tendões do punho, levando à
deformidade conhecida como “mão em garra” e à perda de função dos dedos,
observando-se frequentemente nos operários que profissionalmente serram com
força materiais duros; as causas desta doença são desconhecidas, mas a sua
frequência em certos trabalhadores faz pensar que haja intervenção de um factor
profissional actuando em conjunto com outros factores mal conhecidos;
os calos profissionais são calosidades epidérmicas e, mais do que doenças, são
estigmas profissionais; por vezes, contêm uma serosidade que pode infectar, e se
não forem bem tratadas, podem propagar a infecção às bainhas dos tendões dos
dedos.

2.5.1. Agravamento do estado anterior por um traumatismo

Por vezes, existem dificuldades de diagnóstico quando surgem acidentes de trabalho, tais
como “esforços” ou contusões, e quando não existe qualquer sinal nas radiografias que
confirme a realidade de uma lesão traumática; essas dificuldades advêm do facto de uma
pequena entorse, uma ligeira rotura muscular ou um derrame sanguíneo profundo poderem
provocar alterações nas articulações e nos ossos.

A interpretação das radiografias feitas logo após o acidente fica ainda mais difícil quando são
visíveis lesões indiscutivelmente antigas; neste caso, o problema que se põe é o saber se os
sintomas invocados se devem ao traumatismo recente ou se, pelo contrário, estão
relacionados com lesões antigas.

Convém saber que as lesões podem ficar muito tempo sem dar qualquer problema e ser
mesmo compatíveis com trabalhos violentos, até ao dia em que se lhes sobrepõe um
traumatismo que as pode tornar dolorosas.

Cada caso deverá ser estudado isoladamente; se o indivíduo exercia as suas funções
normalmente, nunca tinha sido tratado de “dores” antes do traumatismo, se os fenómenos
dolorosos aparecem logo após este se dar, então uma relação de causa-efeito deverá ser
admitida, por agravamento traumático de um estado anterior.

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2.5.2. Prevenção

Em primeiro lugar, é preciso desaconselhar os trabalhos violentos às pessoas que


apresentem lesões radiográficas importantes; depois, é preciso insistir na importância do
treino progressivo, no “aquecimento” antes de executar tarefas violentas, e aconselhar
igualmente a educação física e a prática desportiva: ao desenvolver a força muscular, o
equilíbrio e as reacções de defesa, diminui-se, consequentemente, a frequência dos
acidentes.

2.6. Afecções bronco-pulmonares de origem profissional

Pondo de parte as agressões agudas devidas a vapores sufocantes, que são consideradas
acidentes de trabalho, as afecções bronco-pulmonares, ou seja, as afecções dos brônquios e
dos pulmões, repartem-se entre dois grandes grupos:

as pneumoconioses (doenças bronco-pulmonares causadas pela inalação de


poeiras minerais);
as afecções de origem alérgica.

2.6.1. Pneumoconioses

A SILICOSE é uma doença dos pulmões resultante da inalação de poeiras de sílica livre
ou de dióxido de silício, e é de longe a mais importante das pneumoconioses.

Causas:

1ª Exposição ao risco - No que diz respeito à silicose, o risco está relacionado com certas
actividades profissionais. Existem três tipos de trabalhos que se expõem ao risco de silicose:

a) Os trabalhos debaixo do solo (minas), qualquer que seja o mineral explorado,


porque as rochas da vizinhança contêm sempre sílica; a título de curiosidade, dentro
do trabalho nas minas existem alguns minerais inegavelmente perigosos (as minas
de ouro do Transvaal, por exemplo, ocasionavam silicoses típicas por causa da
riqueza destas minas em quartzo).

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Ao lado do trabalho nas minas, qualquer tarefa subterrânea, como seja a abertura de
túneis ou galerias, ou ainda a abertura de poços, expõem aos mesmos perigos de
silicose, proporcionais à quantidade de poeiras de sílica inaladas.

b) A metalurgia expõe igualmente à silicose, particularmente nas fundições, porque


a areia, muito rica em sílica, constitui a base dos moldes que recebem o material em
fusão.

Os trabalhadores que projectam areia sobre peças a decapar estão muito expostos,
mas o risco tem vindo a diminuir à medida que, nas tarefas de decapagem, se vai
substituindo a areia por grenalha de aço.

Os trabalhadores encarregados da manutenção e reparação dos fornos de fundição


estão igualmente expostos à silicose.

c) A cerâmica, em todas as sua variedades, expõe igualmente os trabalhadores ao


risco de silicose.

2º Natureza das poeiras - O empoeiramento é o principal responsável por este tipo de


doença, devendo-se ter em conta:

a) a dimensão das poeiras - o aparelho respiratório está dotado de meios de


filtragem e eliminação extremamente potentes, através do muco produzido pelas
glândulas brônquicas, que fixa as poeiras, e do movimento dos cílios (pequeníssimos
“pêlos”) que revestem o aparelho respiratório, eliminando-as para o exterior; devido a
estes mecanismos, apenas chegam aos alvéolos pulmonares as poeiras com
diâmetro inferior a 10;

b) a natureza química das poeiras - as poeiras poderão ser mistas, mas o mineral
que inegavelmente ocasiona a silicose é a sílica ou o dióxido de silício;

c) o número de partículas na atmosfera, suficiente para constituir um risco de


silicose, foi objecto de vários estudos, chegando-se à conclusão de que existe risco
de silicose quando o número de partículas de sílica ou dióxido de silício é superior a
135 por cm3 de ar.

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3º Factor individual - Como todas as pessoas são diferentes, é inegável que a mesma
exposição ao risco de silicose provoca alterações e sobretudo evoluções muito diversas
conforme as pessoas atingidas. Todavia, sabe-se que em todas as pessoas as infecções,
sobretudo crónicas, dos brônquios e dos pulmões aumentam o risco nas pessoas expostas;
a tuberculose favorece os efeitos nefastos da sílica livre e, reciprocamente, a silicose
aumenta o risco de contrair a tuberculose.

Estudo clínico

O diagnóstico da silicose é feito com base nos antecedentes profissionais e nos exames
radiográficos; o interrogatório sobre os sintomas e o exame clínico são indispensáveis para
apreciar o prognóstico da doença (e a sua evolução).

1º Sintomas

a) falta de ar ou sensação de tensão no tórax são os sintomas fundamentais da silicose,


aparecendo todavia após serem detectadas alterações nas radiografias pulmonares.
Inicialmente, a falta de ar só se manifesta durante os esforços, mas progressivamente
começa a afectar a capacidade de trabalho, a fadiga aumenta e progressivamente acaba
por manifestar-se mesmo nos actos da vida corrente;

b) perda de sangue com expectoração é rara na silicose, devendo levantar suspeitas


para a existência de uma tuberculose associada;

c) tosse e expectoração são frequentes, traduzindo a bronquite que complica a silicose;

d) dores torácicas são frequentes nas pessoas atingidas pela silicose.

2º Exame clínico

As lesões da silicose não dão nenhum sinal físico particular, havendo todavia os sinais
inerentes à dificuldade e insuficiência respiratórias.

A tuberculose nunca poderá ser despistada através da auscultação, mas sim através dos
seus sintomas próprios ou de alterações das imagens radiográficas.

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3º Complicações

a) A tuberculose é classicamente a maior complicação da silicose.


b) As infecções bronco-pulmonares são, hoje em dia, a complicação mais frequente da
silicose; apesar de os antibióticos atenuarem a sua gravidade, não deixam, contudo, de
constituir uma causa essencial de sobrecarga respiratória e de morte.

c) O pneumotórax, a hipertensão pulmonar e outras complicações podem eventualmente


aparecer no decorrer da silicose.

Prevenção técnica

Este tipo de prevenção assenta, em parte, no conhecimento dos postos de trabalho,


estudando comparativamente a frequência das pneumoconioses e o empoeiramento. Para
apreciar este último, deve dosear-se a quantidade de sílica livre nas poeiras, que deverão ser
medidas no que diz respeito ao número e tamanho; estas medições, no entanto, devem ser
feitas cuidadosamente, através de amostras de ar em geral e de ar situado perto da boca do
operário, feitas em diferentes alturas do dia, porque o empoeiramento pode variar
extraordinariamente ao longo da jornada de trabalho.

A produção de poeiras contendo sílica deve ser evitada, substituindo-se, na medida do


possível, as matérias silicosas por matérias não silicosas ou, em certos casos, efectuando-se
o seu processamento por via húmida.

A difusão destas poeiras deve ser evitada, através de sistemas de captação e aspiração bem
estudados.

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A ASBESTOSE é uma pneumoconiose diferente da silicose, e é o nome que se dá a um


conjunto de manifestações patológicas resultantes da inalação de poeiras de amianto.
Este mineral (o amianto) é um silicato duplo de cálcio e magnésio, do qual existe um
grande número de variedades minerais (crisolite, crocidolite, amosite, tremolite).

As propriedades físico-químicas dos amiantos (resistência ao fogo e aos ácidos, capacidade


de certos destes minerais transformarem-se em fibras longas, adquirindo utilidade têxtil)
explicam o seu uso em indústrias muito variadas, com uma notável taxa de crescimento,
apesar da proibição existente em algumas situações.

Causas:

Contrariamente à sílica, que tem aplicações industriais bem conhecidas, o amianto é utilizado
numa quantidade de aplicações que, por vezes, é difícil de identificar. Por isso, o risco
profissional situa-se principalmente na extracção do mineral, na indústria têxtil, no fabrico de
placas, de lajes e condutas que contenham amianto, e nos trabalhos de isolamento,
calorificação e insonorização com materiais contendo este mineral.

Estudo clínico

As manifestações clínicas da asbestose dividem-se em três grandes grupos:

atingimento pulmonar;
manifestações pleurais benignas;
tumores malignos.

a) O atingimento pulmonar consiste em alterações na estrutura do pulmão, que levam a


uma situação chamada fibrose pulmonar. Esta fibrose resulta, geralmente, de um
empoeiramento importante e a precocidade da aparição dos sinais clínicos e radiológicos
depende também da intensidade do empoeiramento.

Os sintomas da asbestose são lentamente progressivos, sendo o principal a dificuldade


respiratória, seguida da tosse e expectoração devidas à irritação brônquica. O exame

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radiológico não é o mais seguro para fazer o diagnóstico, apesar de dar alguns sinais
que podem ajudar bastante.

b) As manifestações pleurais benignas têm em comum o facto de evoluírem


independentemente da fibrose pulmonar e podem constar de pleurisias (inflamações da
pleura), espessamentos ou calcificações da pleura.

c) Os tumores malignos devem-se à capacidade do amianto em poder originar cancros


nos brônquios ou na pleura.

Evolução e prognóstico

A duração da evolução desta pneumoconiose é variável, sendo por vezes muito longa.

As manifestações na pleura têm muitas vezes uma longa evolução, e um grande intervalo de
tempo separa o início da exposição ao risco do aparecimento dos tumores malignos nos
brônquios ou na pleura, que, quando aparecem, normalmente atingem os “velhos”
trabalhadores do amianto.

2.6.2. Afecções profissionais de origem alérgica

Este tipo de doenças acontece quando algum tipo de poeira, animal ou vegetal, provoca na
pessoa com que ela contacta determinado conjunto de reacções alérgicas que levam à
inflamação dos alvéolos pulmonares.

As afecções profissionais de origem alérgica são um conjunto vasto de doenças, com nomes
que geralmente indicam a profissão do indivíduo que delas sofre.

Exemplos:

Doença do pulmão de fazendeiro;


Doença dos trabalhadores da cortiça (suberose);
Doença dos trabalhadores da madeira;
Doença dos trabalhadores do sisal, etc.

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2.7. Educação sanitária geral

O principal papel do médico do trabalho, dentro das empresas, não é o de tratar doenças,
mas o de actuar fundamentalmente na prevenção das mesmas, contribuindo para a
educação sanitária dos trabalhadores. Assim, durante as suas conversas com os
trabalhadores, deverá explicar-lhes, por exemplo:

que as férias não devem ser um factor de cansaço mas pelo contrário devem servir,
fundamentalmente, para descansar;
a necessidade da higiene pessoal, compreendendo a lavagem dos dentes, a
alimentação conveniente, os perigos do álcool, os perigos do tabagismo e das
drogas em geral;
a necessidade de terem as vacinas do tétano em dia e, no caso de os trabalhadores
fazerem serviço noutros países ou continentes, elucidá-los acerca das vacinas que
terão de efectuar;
os comportamentos a evitar e os sintomas a ter em conta para a prevenção de certas
doenças graves, nomeadamente o cancro.

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3. A alimentação do trabalhador

O trabalhador da construção civil está sujeito a grandes esforços.

A alimentação correcta é uma das formas de evitar que o desgaste físico e psíquico tenha
repercussões nefastas sobre a sua qualidade de vida.

Alguns erros alimentares são muito frequentes. A alimentação das cantinas ou dos
restaurantes peca por exageros e carências.

3.1. Erros mais frequentes

Sal:

O limite máximo admitido por dia é de 5g. A cozinha portuguesa habitual chega a utilizar 18g.

O excesso de sal pode estar na origem e/ou agravamento da hipertensão arterial, da


enxaqueca, dos acidentes cardiovasculares cerebrais (tromboses).

A alternativa à utilização do sal é a utilização de ervas aromáticas.

Gorduras:

O consumo excessivo de gorduras pode estar associado à obesidade, à arteriosclerose, aos


enfartes do miocárdio, a outras doenças do coração, a problemas do fígado e da vesícula,
etc.

As gorduras podem existir já no próprio alimento antes de confeccionado (toucinho,


salsicharia, pele do frango, pastas para barrar pão) ou resultarem da maneira como o
alimento é confeccionado (fritos, estrugidos, assados gordurosos, molhos).

Das gorduras utilizáveis a melhor é o azeite.

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Outro problema é o facto de se usar, para fritar, margarina, manteiga, óleos não próprios,
óleos já velhos e queimados.

Açúcar:

O consumo máximo diário deve ser inferior a 20 g. Habitualmente, o português consome


entre 80 g e 100 g.

Para além do açúcar utilizado para adoçar, deve incluir-se o açúcar utilizado na confecção
dos alimentos, tais como pão (pão para hambúrgueres, pão tipo “Panrico”), bolos, doces,
compotas, gelatinas, ketchup, maionese industrial, outros molhos, bebidas não light, sumos
produzidos com base em concentrados de frutas.

3.2. Pormenores dos erros alimentares

Intervalos entre as refeições superiores a 3,5 horas ou inferiores a 2,5 horas.


Intervalo entre a última refeição do dia e a primeira do dia seguinte superior a 8
horas.
Não tomar o pequeno-almoço.
Não beber leite ou comer derivados do leite (iogurte, queijo, requeijão).
Comer poucos legumes: fava, feijão, ervilha, cenoura, grão, lentilhas, vegetais de
folha verde, tomate, pepino, etc.
Beber bebidas alcoólicas em excesso.
Beber muitos aperitivos ou digestivos com álcool.

3.3. As 10 regras de ouro da alimentação

1) Ter um horário certo para as refeições, comendo devagar, com boa mastigação e em
tranquilidade.
2) Tomar sempre o pequeno-almoço e não fazer intervalos entre refeições superiores a
3,5 horas.
3) Fazer 6 refeições por dia: pequeno-almoço, meio da manhã, almoço, lanche, jantar e
ceia.
4) Nunca comer de modo a sentir-se “cheio”.

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5) Beber sempre quantidades suficientes de líquidos, de modo a que a urina nunca


tenha cor amarela escura ou cheiro intenso; beber também fora das refeições.
6) Fora das refeições beber principalmente água (½ litro).
7) Evitar bebidas com açúcar.
8) A quantidade de alimentos a ingerir deve ser adequada às características do
indivíduo e ao tipo de actividade física.
9) Usar maneiras simples de cozinhar, tais como cozer, assar na grelha, grelhar,
sempre com pouco sal.
10) Garantir a higiene na conservação, manipulação, preparação e transporte dos
alimentos.

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4. O álcool

P retende-se com este capítulo abordar um problema que afecta muitas pessoas ligadas
ao processo construtivo e que, muitas vezes, dá origem a acidentes graves.

4.1. As bebidas alcoólicas – seu lugar na alimentação do homem

A ingestão de vinho ou cerveja pode fazer parte dos hábitos normais do homem, quando ela
se der dentro das regras de moderação.

A ingestão de bebidas destiladas e o uso dos chamados “aperitivos” e “digestivos” não


devem fazer-se por hábito, mas só excepcionalmente.

Destino do álcool no organismo

Uma vez ingerido, o álcool de qualquer bebida alcoólica vem a ser destruído, na sua quase
totalidade, pelo fígado.

Só uma pequeníssima porção (cerca de 3%) não é destruída, sendo eliminada pelos
pulmões (através da respiração), pelos rins (por meio da urina) e pela pele (através da
transpiração).

Através da boca (1) e esófago, o álcool chega ao


estômago (2), onde permanece por um período de tempo
variável de escassos minutos (em jejum) a uma hora e
mais (nas refeições).

Daí e do intestino delgado (3) difunde-se no sangue,


através da circulação que o conduz ao fígado (4), onde
sofre degradação, lentamente.

É, pois, sangue alcoolizado que prossegue na circulação,


atingindo o coração (5), os pulmões (6), o cérebro (7), os
rins (8), os membros superiores (9) e inferiores (10) e
todas as partes do corpo.

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O álcool é destruído ou “queimado”, na sua maior parte, pelo fígado, através de várias fases:

ÁLCOOL

ALDEÍDO ACÉTICO

ÁCIDO ACÉTICO

ANIDRIDO CARBÓNICO + ÁGUA

No entanto, o fígado não tem possibilidades de destruir indefinidamente toda e qualquer


quantidade de álcool que lhe for chegando; o fígado só consegue queimar por dia cerca de 1
grama de álcool por cada quilo de peso do homem (por exemplo, um homem com 60 kg de
peso apenas consegue queimar 60 gramas de álcool durante as 24 horas do dia), e isto só a
partir dos 14-15 anos, altura em que este órgão já está preparado para destruir o álcool que,
em doses moderadas, deixará de ser nocivo ao organismo.

Regras da Sobriedade:

Podem resumir-se a três:

a dose habitual de bebida alcoólica permitida diariamente ao homem adulto, dividida


pelas duas principais refeições, não deve ultrapassar os ¾ de litro, ou seja, 75
centilitros de vinho a 12 graus;
não beber bebidas alcoólicas fora das refeições, e, de forma muito especial, no
trabalho, no desporto e na condução.
dar sempre à escolha: não obrigar ninguém a beber bebidas alcoólicas!

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4.2. O álcool – causa de doença no homem

Quando um homem consome regularmente bebidas alcoólicas em quantidades superiores às


que o seu organismo pode tolerar, adoece, torna-se dependente da bebida, e à sua doença
chama-se alcoolismo.

Alcoolismo - o que é?

É uma doença causada pelo uso imoderado de bebidas alcoólicas, doença que faz sofrer
não só o indivíduo (física e mentalmente), mas também a sua família, os que com ele
trabalham e ainda as pessoas com quem convive ou com quem de algum modo possa estar
relacionado.

Normalmente distinguem-se duas formas de alcoolismo:

alcoolismo agudo ou embriaguez;


alcoolismo crónico, que é a verdadeira doença alcoólica.

O que é Alcoolismo Agudo ou Embriaguez?

É o conjunto de perturbações físicas e mentais que um ser humano pode apresentar quando
bebe, ocasionalmente, uma dose excessiva de bebidas alcoólicas.

Em consequência disso, ele fica ébrio ou embriagado, isto é, em estado de euforia, de


desinibição e excitação, perde o controlo das palavras e dos actos, perde o equilíbrio,
podendo mesmo cair, perder a consciência, entrar em coma, e até morrer.

O que é o Alcoolismo Crónico, isto é a verdadeira Doença Alcoólica?

É o estado resultante do abuso repetido de bebidas alcoólicas, mantendo-se o organismo


continuamente, em geral durante vários anos, sob a acção de quantidades de álcool que,
embora possam corresponder à ingestão de pequenas doses, somam diariamente uma
quantidade superior àquela que o fígado poderá destruir.

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No alcoolismo crónico há, pois, um permanente efeito tóxico sobre os órgãos do corpo
humano, produzindo no indivíduo alterações físicas (por exemplo, gastrite, polinevrite, cirrose
hepática) e mentais (por exemplo, delirium tremens, demência).

Alcoolémia - o que é?

É a designação da quantidade de álcool existente no sangue de um indivíduo num dado


momento.

Em certas circunstâncias, é importante fazer-se a determinação da alcoolémia, a fim de


poder ajuizar-se das capacidades do indivíduo, do seu grau de segurança, de
responsabilidade, etc., e evitar ou avaliar o risco que o álcool constitui no trabalho, na
estrada, etc.

Como se determina a Alcoolémia?

Normalmente, por um dos seguintes meios:

efectuando uma análise ao sangue para determinar o seu teor em álcool;


ou pesquisando o álcool no ar expirado pelo indivíduo.

4.3. Falsos conceitos e virtudes do álcool

Muitas vezes o homem cai no uso e abuso das bebidas alcoólicas pela influência que sobre
ele exercem os falsos conceitos e virtudes do álcool, e por ignorar as suas reais
propriedades e seus perigos.

O que haverá de falso ou verdadeiro nesses tão generalizados conceitos populares?

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O Álcool aquece?

Quando se bebe uma bebida alcoólica, a sensação de frio na face, nas mãos ou na pele
diminui ou mesmo desaparece, substituída por um certo rubor, o que leva a afirmar que “o
álcool aquece”.

No entanto, o que na verdade sucede é uma deslocação de sangue, do interior do organismo


para a superfície do mesmo, por se ter dado uma dilatação passiva dos pequenos vasos
sanguíneos da pele. Isto acabará por causar uma considerável perda de calor por irradiação.

Ao beber-se álcool “para aquecer num dia de frio”, o que na realidade acontece é um
aumento da temperatura cutânea (por passar a haver maior circulação de sangue na pele) e,
simultaneamente, a perda de calor dos órgãos no interior do organismo (onde era essencial
haver calor), arrefecidos por um sangue que volta para o interior mais frio.

Como conclusão, o álcool não aquece o organismo, antes pelo contrário provoca-lhe perda
de calor.

O Álcool mata a sede?

A sensação de sede significa a necessidade de água no organismo. Há mecanismos


fisiológicos que regulam os líquidos no organismo. O álcool tem uma acção sobre os
mecanismos fisiológicos que regulam a perda de líquido pelos rins. Há uma intensificação de
produção de urina que implica considerável perda de água, dando origem a uma maior
sensação de sede.

Por isso, se em vez de se beber água ou qualquer bebida sem álcool, se ingerir uma bebida
alcoólica quando se tem sede, a sede vai-se agravando.

Logo, quanto mais álcool uma bebida contiver, menos capacidade terá de “matar a sede” a
quem a bebe.

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O Álcool dá força?

A acção euforizante e anestésica do álcool vai “abafar” as fadigas muscular e nervosa


sentidas pelo homem que, após um trabalho intensivo e desgastante, necessitaria de um
repouso reparador do organismo. Nestas condições, ao beber álcool o indivíduo fica excitado
e impedido de sentir o verdadeiro e normal cansaço. O álcool provoca-lhe a ilusão de uma
energia, mas, na realidade, o trabalho muscular diminui o seu rendimento.

Os músculos do homem não trabalham com álcool, todos sabem como ele “corta as pernas”
dos desportistas.

Como conclusão, o álcool em vez de dar forças, tira-as!

O álcool facilita a digestão?

É habitual dizer-se que o álcool ajuda a digestão, fazendo com que o indivíduo, depois de
uma refeição opípara, sinta o estômago “menos cheio”.

O que se passa, no entanto, é apenas um acelerar do esvaziamento do estômago com a


passagem dos alimentos mal digeridos para o duodeno, o que faz com que a digestão
forçosamente se faça de modo deficiente.

Trata-se, portanto, de um falso efeito digestivo do álcool que traz, como é evidente,
perturbações digestivas de vária ordem.

O álcool é um remédio?

Embora muitas das queixas que um doente apresenta (mal-estar, dores, etc.) sejam muitas
vezes “abafadas” pelo álcool, ele não funciona como remédio, pois estes efeitos estão
apenas relacionados com as suas propriedades euforizantes e anestésicas. Será, por
conseguinte, um “falso” e perigoso remédio, tanto mais que provoca também uma verdadeira
diminuição das defesas e resistências do homem, que se torna, assim, mais facilmente
vulnerável à doença (os resfriados, gripes, tuberculose, pneumonias, etc., são exemplos de
doenças mais frequentes nos alcoólicos que nos outros homens).
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4.4. Alcoolismo crónico – alguns dos seus múltiplos efeitos

Os efeitos da Doença Alcoólica podem ser encarados sob dois aspectos: nas suas
consequências individuais e nas suas consequências sociais.

Consequências individuais:

São essencialmente de dois tipos: psíquicas e orgânicas.

Como consequências psíquicas, há dificuldade de raciocínio, de memória, do sentido das


responsabilidades e do senso moral; enfraquecimento da vontade; alteração do humor e do
carácter, irritabilidade fácil, etc., com deterioração mental progressiva que pode chegar à
demência; por vezes, no alcoólico crónico, surgem verdadeiras situações de psicose, doença
que necessita de tratamento psiquiátrico urgente, como é o caso do Delírio Alcoólico ou
Delirium Tremens, situação grave que, se não for tratada, pode levar à morte.

Como consequências orgânicas ou físicas, descrevem-se sumariamente os efeitos do


álcool em vários órgãos e aparelhos. No estômago e duodeno, o álcool causa gastrites e
eventualmente úlceras gástricas ou duodenais, que normalmente se acompanham de falta
de apetite, náuseas, vómitos e perturbações da motilidade intestinal. O fígado é, de uma
maneira geral, sempre atingido pelo alcoolismo, podendo passar por várias fases, como
sejam o fígado gordo, ou esteatose hepática, e a hepatite alcoólica, até chegar à cirrose
hepática, doença terrível que normalmente acarreta grande sofrimento para o doente, e
pode, eventualmente, levar à morte. Nos órgãos dos sentidos e no sistema nervoso, os
efeitos tóxicos do álcool podem manifestar-se por uma diminuição progressiva da visão, com
estreitamento do campo visual e alteração na percepção de distâncias, etc.; podem
igualmente aparecer sintomas neuromusculares, como “formigueiros” e “adormecimentos”
dos dedos das mãos e pés, cãibras, dificuldades de movimentos, tremuras, etc., traduzindo
uma neuropatia ou polinevrite alcoólica; pode também haver um aumento no tempo dos
reflexos, alterações na coordenação motora e sinais de encefalopatia alcoólica com
convulsões, demência, etc. No aparelho cardiovascular, a acção do álcool pode fazer sentir-
se no coração, que pode sofrer várias alterações, entre as quais a miocardiopatia, com a
consequente insuficiência cardíaca. No aparelho respiratório, há uma enorme variedade de
doenças que estão associadas aos alcoólicos, nomeadamente bronquite crónica,
pneumonias, broncopneumonias, tuberculose, etc.

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Consequências sociais

Para além do sofrimento físico e psíquico que o alcoolismo causa ao próprio indivíduo,
também na família e no lar existem graves repercussões, desde as privações materiais de
toda a ordem, às incompreensões, discussões, maus-tratos, miséria, doença; existe mesmo
o que poderá chamar-se uma doença do lar alcoólico. Os filhos de alcoólicos são vítimas
directas do alcoolismo dos pais, quer durante a gravidez e amamentação por mães
alcoólicas, quer durante toda a sua infância e adolescência, com consequências muitas
vezes irreparáveis.

No trabalho e na sociedade em geral, o álcool é também um importante factor de


deterioração e degradação nos meios laboral e social. O homem adulto passa um terço das
horas do seu dia no trabalho, pelo que não será de admirar que o ambiente de trabalho e as
próprias tarefas sejam perturbadas pelo alcoolismo, quer pelas dificuldades de convívio e
contacto que lhe são próprias, quer pela sua perda de rendimento, de capacidades
intelectuais e físicas, quer pelo maior número de faltas, acidentes e doenças. É também
importante referir o papel importante do alcoolismo como factor de criminalidade e
delinquência.

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Bibliografia

Curso de MEDICINA NO TRABALHO/ SAÚDE OCUPACIONAL NO SECTOR DA


CONSTRUÇÃO CIVIL - CICCOPN

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