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PORTUGrAL
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CONDIÇÕES
VOLUME 1
SUMÁRIO
julieta dos espíritos introdução
O brilho
À procura do Natal
Quando o natal rima com chocolate
O Natal é…
nuno m. imagina
decolores i
ah os dias felizes
decolores ii
sou um poema
pedro mello margens (Irmãos de
Sangue…Irmãos no sangue, Aqua
Veritati e Renascitur ex cinere e
Revelação)
Na minha igreja
Despe as luzes
silvie wacknbath Amor binário
Introspeção fragmentada
Imagens reflexivas
berth patrício Mosteiro de Tibães (em quiasmo)
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Introdução
Textos de
JULIETA DOS ESPÍRITOS
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O Brilho
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À procura do Natal
Por uma rua desta cidade, por entre os pingos da chuva e com um
nevoeiro que nos faz sentir molhados até aos ossos, caminho sem certeza
de nada.
Há uma montra que se desfaz, outra que se faz. Há um carro que passa
e... Arreda que vai doido, o estúpido molhou-me. Praguejo, não devia,
eu sei.
Cheguei ao fim da rua e virei à direita, ups, choquei-me com outra
pessoa.
- Desculpe (disse eu, desviando o guarda-chuva para olhar para a
pessoa).
Sorrimos e ambos seguimos caminho.
Tudo se cruza e descruza, se alinha e desalinha, se movimenta e pára,
se concentra, se distrai e choca, tudo se empurra e se desculpa.
Mais uma montra, mas esta chamou-me a atenção. Tudo nela é lindo
e brilhante, mas com o preço tudo se desvanesse num instante.
Em frente que atrás vem gente, sigo o meu caminho, afinal nem sei
porque parei. Vim para a rua sem certeza de nada.
Não, não é verdade.
Vim à procura dos olhares que sorriem, do fervilhar do sangue nas
veias quando vemos uma montra como aquela onde tudo era lindo e
brilhante.
Vim à procura das luzes que cintilam, dos cantos que ecoam. Dos
cheiros que despertam sabores que nos fazem recordar. Dos sorrisos e
gargalhadas de mouras encantadas que acordam os anjos.
Vim à procura de mãos que se enlaçam, de respirações ofegantes por
olhares que se cruzam em gestos atentos.
Vim à procura de burgueses envergonhados da pobreza feliz.
Vim à procura de crianças soltas com olhos irrequietos e mãos
bailarinas com pais enfeitiçados.
Vim à procura do poder do vagabundo que nos pára e abraça.
Vim à procura do ladrão que... num gesto súbito fica de garganta seca
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e desiste da acção.
Vim à procura do mistério da vida.
Apetece-me fechar o guarda-chuva, estender os braços e rodopiar,
procurar alguém para dançar (foi só uma vontade que se me deu),
porque vim à procura do Natal.
Por vezes há alturas em que não temos nada para dizer, ou nem sabemos
sequer o que dizer, ou escrever. Ficamos "prostrados", por vezes
incrédulos com tudo o que se passa à nossa volta.
São os gestos que desajeitados e sem vontade se manifestam. Para quê?
Se não tem vontade, não faça nenhum, todos temos esses momentos.
São os olhares a despirem-te a alma. Sim, mesmo de máscara os olhares
estão lá.
São os elogios a alguém para tu ouvires. É, não sou surda. Mas se é
um elogio a alguém que merece, para quê "metê-lo no mesmo saco" dos
que não têm valor algum, só para que o outro, que quer (magoar? talvez,
não sei) ouça???!!!
São os "E se" antes dos "Gosto, mas e se".
É a frase já gasta do "São estas as horas de chegar?" em vez da
"Aconteceu alguma coisa para chegares a esta hora?!"
É o chegares junto de um grupo e esse grupo "disfarçar" o tema de
conversa (e por vezes o tema nem tem haver contigo). E sim, mea culpa,
também já o fiz.
É o passares por um "pedinte" e se calhar até vais distraído, passas
sem lhe prestar atenção e o mesmo manda-te p'ro raio que te parta, ou
pior.
É o dares uma pequena ajuda, ao pedinte e este olha para o que deste
e pergunta; "Só??!!" com aquele desprezo que te gela o peito.
São as críticas aos risos abertos e desculpem, mas até acho que são os
medos dos risos abertos.
É o leres um livro e interpretá-lo à tua maneira. Sim, também o faço,
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Quando o natal rima com chocolate
O sol vai-se despedindo dando lugar ao frio que a cada minuto aperta os
nossos casacos mais quentes. As luzes cintilam e parecem caminhar ao
nosso lado indicando-nos que o natal está a cada passo dado. Os cheiros,
esses variam a cada esquina, sigo um, o do chocolate.
Joaninha, a menina doce que ficou à espera da minha promessa para ir-
mos ver "as ruas do natal de chocolate", como ela diz, não saía da minha
cabeça. Joaninha adora chocolate e eu também.
É. Estava na hora de a ir buscar, de fazer cumprir a minha promessa na
primeira pessoa.
Acelerei o passo, estou ansiosa por estar com a Joana e contar-lhe que
tinha decidido ir já, agora, mostrar-lhe "as ruas do natal de chocolate".
Ensiná-la descobrir, a distinguir os seus aromas, a côco, a café, a
citrinos, a nozes, enfim uma imensidão de aromas e sabores
chocolatados. Fazê-la descobrir as formas, as cores, a poesia, o calor, o
rubor até (quando nos deliciamos com o picante, mas esses sou eu que
vou degustar, a Joaninha só descobrirá pelo meu rubor, ah ah ah).
Mostrar-lhe o humor, sim porque o chocolate muda-nos o humor, dá-
nos alento, embriaga-nos, muda-nos até a mente, faz-nos rir.
O chocolate mesmo amargo, adoça-nos. Pode até acompanhar-nos num
filme.
Pelo caminho já há montras com árvores de natal enfeitadas com bolas
de chocolate, pais Natal de chocolate. Há montras com neve de algodão
doce, com chuva de pintarolas a cair sobre guarda-chuvas de chocolate
abertos e havia também os fechados, da Regina (do meu tempo de
criança, huuummm como eram bons), com montanhas de chocolate e
cascatas de presentes chocolatados envoltos em pratas coloridas e fitas
brilhantes de todas as cores.
Hhuuummm, o cheirinho que paira no ar, levou-me até ao filme
"Charlie e a fábrica de chocolate".
Ai, mortinha por ver a Joaninha lambuzar-se em chocolate, se calhar
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Natal é:
Ter família longe, mas tê-la no Ouvir o som da tua voz, da tua
coração. respiração.
Nascimento. Cantar.
Rezar.
Julieta dos Espíritos
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❖ imagina
❖ decolores i
❖ ah os dias felizes
❖ decolores ii
❖ sou um poema
Textos de
NUNO M.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia
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imagina senti do sono de seu pai
nuno m.
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ah os dias felizes louvat os dias felizes
pois os anjos anunciam e
escondido pela cortina levam pedidos
opaca da minha janela
julgo ver o mundo são tantas as dores as
desmoronar desaparecer máscaras de ferro
mas os pássaros continuam as mordaças nos nossos
nos seus ninhos sorrisos
todos os dias eles cantam a que apenas tu és a
pulmões cheios esperança
num idioma que conheço e que resiste existe e dá
como todos finjo ter sentido à vida
esquecido o fim de uma sombra
o começo de outro mundo
eu sei que o meu o coração de uma esperança
está preso a uma bigorna enquanto cruzo
mas ao observar as tuas enlaçando os meus dedos
penas deixo que a vida dance em
ó fénix sábia mil vezes pianos de cauda
renascida louvo os dias felizes
a minha fé sorri pois os anjos anunciam os
e desnivela o nível do meus desejos de amor
infortúnio
retoma os seus velhos ah as pessoas amar-se-ão
hábitos um pouco mais
e (re)aprende dançarão sobre pianos de
(re)descobrindo a tua cauda
sabedoria louvarão os dias felizes
– amar
para amar é necessário ah os dias felizes
deixar a vida dançar em
pianos de cauda nuno m.
decolores ii
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sou um poema
um verso em branco
que espera o futuro
advém-me
compõe-me
declama-me
renova-me
renasce-me
habita-me
nuno m.
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❖ Margens (conclusão)
(Irmãos de Sangue…Irmãos no sangue, Aqua Veritati,
Renascitur ex cinere e Revelação)
❖ Na minha igreja
❖ Despe as luzes
Textos de
PEDRO MELLO
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia
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Irmãos de Sangue, Irmãos no Sangue
Senti no momento que que te percebi no meu caminho em
cruzamento paralelo, que somos parte de Nós, num Eu
partilhado em dois corpos.
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Aqua Veritati
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Renascitur ex cinere
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Na minha igreja,
na humilhada humildade,
Texto de
Silvie Wacknbath
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Eles derretem água, terra, ar, e no seu fogo vulcânico tornam todos
os que os cercam cegos!
Agora...?
Ela:
©Silvie Wacknbath
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Photographer - Silvie Wacknbath
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Introspeção Fragmentada
Olho para o céu amarelo e uma melodia sem nome invade a dor que
se faz presente em cada árvore que ainda permanece.
Você deve estar disposto a mudar a sua perspetiva para não aceitar a
opção finita quando existir uma quantidade infinita de opções.
Que seja o seu principal alimento uma alma com corpo e nunca um
corpo sem alma!
Tenha paz no seu coração e voará tão alto que jamais será alcançado
pelo mal! Mantenha por perto quem lhe faz bem e esteja sempre
empenhado(a) em buscar novas maneiras de retribuir e agradecer.
Sairá do outro lado mais forte, mais sábio e livre da tirania do trauma
por outra pessoa infligido, ou simplesmente do curso da própria vida!
É!
Todos sabemos que os atalhos inesperados da vida fazem com que nos
percamos da viagem original, mas, se soubermos elevar a essência
humana nas diferentes tonalidades de cada obstáculo que em nós,
deposita o seu desacreditar encontraremos o caminho que
harmonizando e unificando em plenitude um mero corpo, fará dele
um viajante com alma, no risco inerente de uma outra e qualquer
viagem!
© Silvie Wacknbath
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❖ Mosteiro de Tibães (em quiasmo)
(série dualidades)
Textos de
Berth Patrício
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Mosteiro de Tibães
(Em quiasmo)
Em Tibães há um mosteiro
um exército de árvores de pedras parideiras
filtro que sussurra
da luz intensa histórias e segredos
em tons diáfanos empapando
uma cerca de bênçãos… a terra…
isolada no claustro
no centro um carvalho
secular
narrativa afundando raízes e rizomas
que se alimenta eternamente…
avidamente nas cavalariças e retraites…
da antiga
“casa Mãe”.