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Volume 1 – 2022
PORTUGrAL
CONDIÇÕES
VOLUME 1
SUMÁRIO
introdução
julieta dos espíritos manter a ignorância de ti
nuno m. boulevards au détour de paris
pedro mello margens (génesis, pangeia da
existência e desintegração da
metamorfose)
silvie wacknbath mentiras vivas como a
verdade/água ilusória & eu
serei...
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Capítulo I
Manter a ignorância de ti e conhecer-te, é difícil. És instável por
natureza e a natureza é instável. És inevitavelmente tempestuoso e
molhas quem entra na tua tempestade.
E sem querer, molhaste-me. A água que agora me cai pelo rosto
mistura-se com as lágrimas que não te quero mostrar.
Respingaste-me com momentos alargados de um tempo de deceções e
agruras que revelam quem és, quem sou e que nos leva, possivelmente,
a ser mais nós, a entendermo-nos... ou não. Mas pelo menos senti-me
mais forte de coração.
Olhas-me e reconheces o que pedes sem medo da minha incerteza.
Deambulas à minha volta, num circuito que é meu, é de todos, mas que
para ti é só teu. Os teus olhos contam e procuram solução para a dor de
um possível erro, de um possível medo que tiveste, o de não saber viver.
Mas eu também não sei!!! Passo a passo calco os dias de mim, de ti,
do António ou do Francisco e aprendo o caminho para não me perder,
para não errar, mas não adianta!!! Porque o erro caminha connosco,
ajuda-nos a levantar do tombo, a equilibrar do tropeço e a mudar de
caminho sem medo de errar de novo.
Agora és tu que deixas cair a lágrima que não te quis mostrar e abres
os braços no meio do mundo e ris e cantas e danças e perguntas:
- É difícil conhecer-me?!
- Não! (respondi)
- E porquê? (perguntas novamente)
- Porque libertei a minha ignorância.
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Capítulo II
Uma escova de Dentes
Sei que se não desistir de te procurar, algures num jardim, numa
entrada mais escondida ou ao dobrar duma esquina, acabo por te
encontrar e é isso que faço, procuro.
Dia após dia, na minha rotina diária, procuro com olhos sedentos
daquela pessoa que por breves momentos de braços abertos, dançou, riu
e cantou p'ra mim.
Mas não, não consigo encontrar-te. Outros haverá que te procuram e
se calhar por isso mudas de sítio para lhes dares o que me deste naquele
dia, "o libertar da minha ignorância" ou se calhar estou a forçar o
Universo.
Por mais que pense, ainda não descobri em que momento da minha
vida e porquê, te tornaste num lugar no meu mapa.
Procuro-te, porque sinto a tua falta e porque me fizeste sentir que um
peso nos ombros nem sempre é pesado.
Algum fundamento tem de ter este teu "desaparecimento" e se calhar
tenho de voltar ao sítio onde te encontrei naquele dia.
E fui. E sentei-me à tua espera.
Na espera do segundo momento, vi alguém próximo, deitado de braços
amarrados ao peito. Tal como o salto do meu coração, saltei e aproximei-
me na esperança de que fosses tu, abriu os olhos e... Não, não eras.
Como que mecanicamente, levo a mão à bolsa na procura de algum
dinheiro para lhe dar e pergunto:
- Está bem? Tem fome? Precisa de alguma coisa?
- Sim, preciso (respondeu sem desamarrar os braços do peito).
- Do quê? (perguntei novamente)
- Duma escova de dentes.
Por segundos senti-me tola e ele percebeu.
Levantou-se então e mostrou-me o seu saco, onde tinha alguma
comida (sandes, peças de fruta, sumo), papel higiénico e uma manta já
gasta.
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- Tá ver? (disse) Só preciso duma escova de dentes.
- Ok e pasta e gel de banho? (perguntei)
- Não preciso, onde tomo banho tem sabão.
- Então e a pasta? (perguntei novamente)
- Olhe lá bem p'ra mim, já não preciso de ter os dentes brancos, é só a
escova p'ra tirar o "lixo".
- Ok, eu vou buscar a escova, espere aqui que eu lha trago.
- Eu espero, eu espero, tenho tempo.
E lá fui comprar meia dúzia de escovas de dentes.
Quando voltei, entreguei-lhas.
- Obrigado (disse)
Guardou as escovas e tornou a deitar-se amarrando novamente os
braços ao peito.
Vim embora.
Não eras tu naquele sítio, era uma outra versão de ti.
Também eu mudei. A minha versão atual está mais sábia.
Ah ah ah ah, uma escova de dentes!
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Capítulo III
As prateleiras onde arrumo a minha vida
Hoje saí tarde. Meti-me no carro e segui rumo a casa. Um pensamento
vagueava-me a cabeça e já não era a primeira vez, que preciso reformar-
me, reformar as prateleiras onde arrumo a minha vida. Há lá coisas que
já estão desatualizadas, coisas demais, insignificantes, coisas que nunca
foram mexidas e outras importantes, mas por acabar.
Quase sem dar conta cheguei ao meu destino, procurei
estacionamento e estacionei.
Saí do carro e olhei o relógio, ainda dava tempo. Sinto que hoje...
- Olá "Soutora", então? Está atrasada?!
- Olá, sr. Augusto (o homem do talho), não, não estou, porquê?
- Porque vem a olhar p'ro relógio!! Ah ah ah!
O sr. Augusto e as suas piadas, pergunto-me sempre porque lhe
respondo e acabo sempre por me rir também. E ele tinha razão, estava
atrasada, mas... Ainda dava tempo, a luz do dia ainda o permitia.
Pés ao caminho tentando ser a ninja do tempo, rumo a mais um ponto
da cidade, na ânsia de te encontrar e quem sabe, acabar uma das coisas
que tenho nas prateleiras.
No caminho sinto o cheiro desta chuva que não nos larga e lembro o
dia e um a um os conselhos que me deste sem saber, a lágrima, o riso, os
encontros que tive na tua procura (as outras versões tuas que também
outros conselhos me deram sem o saber) e dou por mim a concluir que
nada no Universo vive para si mesmo! Será?!
Dos nossos cinco sentidos, há três sentidos fundamentais que me
ajudam nesta procura e a compreender o que me rodeia, um já o referi
atrás, os outros são a visão e a audição. Ainda faltam dois, mas esses
deixo para um dia diferente e quem sabe usufruí-los contigo... Ah ah ah,
rio do meu divagar, com dificuldade, pois o passo acelerado que levo
deixa-me quase sem fôlego.
Começo a aproximar-me de outros sítios prováveis de te encontrar.
Em estado de alerta, abrando o ritmo, vou parando aqui e ali e observo.
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Encontro umas arcadas com colunas tão largas como o meu corpo, paro,
encosto-me e ali permaneço. É, hoje fico por aqui e espero.
No entretanto desta decisão, há algo que me chama atenção... Um riso,
uma cantoria que não me eram estranhos de todo (entusiasmo-me),
nada estranhos mesmo. Era ele, só podia meu Deus, era ele.
De coração fora do peito (e estupidamente) escondo-me atrás da
coluna e espreito.
És tu, sim és tu a fazer o que tão bem-fazes a outro transeunte que por
ti passa e sabe-se lá porquê, achas que precisa desse teu lado alegre e
perturbador. Revelas o teu tempo e esperas que ele to retribua. Tal como
fizeste comigo.
Está a anoitecer. O que é que eu faço? Revelo-me? Provavelmente nem
se vai lembrar de mim!? Não, não te vou desviar do caminho, pois já vi
que não andas na rua por nada.
E eu só queria contar-te um dos erros da minha vida, que naquele
primeiro encontro trouxeste ao de cima e que fizeste com que me pusesse
a olhar para as prateleiras onde arrumo a minha vida.
Venho embora, mas a caminho de casa vou calcando uma má decisão.
Isto não pode acabar assim...
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Boulevards
~ au détour de Paris ~
Textos de
NUNO M.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia
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Fartei-me de escrever sobre monarcas absolutos e herdeiros
incapazes, mas reinantes e consortes. Fartei-me de escrever sobre os
seus validos e ministros déspotas esclarecidos; confidentes e confessores;
Távoras e Mascarenhas – pessoas mortas que (já) não trazem felicidades
a ninguém. Fartei-me. Saio de casa e sento-me num banco a admirar –
ou a praguejar – Monsieur Jacques Bertin, director do Théâtre du
Gymnase Marie Bell, que com o seu ar francófono e voz intelectual exibe
charme cultural a um grupo de jovens aspirantes atores. Sentado neste
banco da movimentada Boulevard Bonne-Nouvelle, sinto-me só. Tudo
à minha volta é mesquinho: os transeuntes; os bon vivants dos cafés e
restaurantes; os cartazes do teatro… tudo. Ou será apenas
inconformismo e, até, autocondescendência. Queria ser eu a estar
naqueles hors-média; queria também ter a minha assinatura naquelas
encenações como tiveram Balzac e Alexandre Dumas pai e filho.
Penso na Bastilha. De súbito uma vontade de correr os boulevards
de Paris que me levassem até lá: Bonne-Nouvelle, Saint-Denis, Saint-
Martin, os boulevard du Temple, des Filles du Calvaire,
Beaumarchais… et voilà: la Place de la Bastille!
Trinta e seis minutos a pé. Está claro que poderia demorar pouco
mais de dez minutos de metro, mas precisava de ar (im)puro. Percorro
estas avenidas a pé, a passo ligeiro, depois de comprar Cigarillos Café
Crème goût vanille. A paisagem urbana não passa de um constante
entrecruzamento de planos que se cortam numa intersecção de
percepções e de sensações; imagens prolixas, inteligíveis, herméticas e
estrepitosas; pessoas apressadas para o trabalho, estudantes que
convivem, velhos que se passeiam, turistas que se deixam perder… e,
por fim, La Colonne de Juillet coroada pelo Le Génie de la Liberté! É
curioso: o que outrora fora palco de trevas e terror, é, para mim, salvação
e conforto – e para os parisienses, símbolo e génio de liberdade! Não
deixa de ser igualmente interessante que ainda antes de ser a terrorífica
prisão, o “Bastião de Saint-Antoine” servia muito mais como lugar de
lazer e depósito de armas do exército francês. Hoje é mais um lugar de
manifestação republicana, local regular de feiras, mercados e concertos;
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Margens
(Génesis, Pangeia da Existência e a desintegração da
metamorfose)
Textos de
PEDRO MELLO
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Génesis
A viagem ao Centro de Nós, começa no momento em que aceitamos
que não somos um, mas vários Seres em busca da mesma conquista
por caminhos diferentes.
Água da Verdade... São as Margens que, através dos reflexos, dos grãos
de areia partilhados, dos odores das quatro estações da Existência, lhe
conferem cor... A Vida das Margens transforma o Amor numa Tisana,
com a cor, sabor e odor da identidade de cada Margem.
Beber a Tisana do Amor é beber a Vida das Margens e Ela, Margem de
Concepção, foi a primeira a mergulhar nas nossas Águas a Essência
corante da Tisana Suprema. Permite que assim, tingidos de Amor,
olhemos a submersão das Margens curarizadas, como fonte de Luz e
Crescimento, numa capacidade Aprendida de tolerar e Amar em
permanência.
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A desintegração da metamorfose
A Existência molda por vezes Margens confusas. Margens que lançam
grãos de Esperança noutras Margens e no momento em que se
avizinham como grãos de Identidade, dissolvem-se na Água da Verdade.
Na remota memória de uma Margem, esses grãos de areia dissolvidos,
tornam-se gotas de longínqua Dor! Uma Dor moldada num sorriso, na
dádiva do Presente, na dádiva do Perdão.
O Perdão permite às Margens manterem-se ligadas pela inesquecível
memória das neblinas de separação. Perdoar uma Margem é entendê-la
como única, mas igualmente como um afecto mútuo que fere, que
promove uma cicatriz abaulada na areia de outra Margem... Mesmo
preenchida com a Água da Verdade, aquando da Maré cheia, permanece
presente, numa memória perdoada, mas lembrada na Eternidade.
Assim, no tectónico caminhar da Sobrevivência, os abaulamentos
cicatriciais tornam-se aprendizagens. Na Verdade, cada Margem tem
nas suas cicatrizes a Identidade, a distinta Vivência dos afectos, o único
e inigualável molde que lhe confere Valor. As Cicatrizes das Margens
conferem-lhes Valor Acrescentado, o Valor da Aprendizagem pela Dor.
A Dor da Desilusão torna-se, com o limar do Tempo, uma reconstrução
de uma Margem antes vista como de inevitável pertença, para uma
Margem que passa a ser de inevitável distância. É uma distância
aproximada, a da desilusão entre as Margens, pois o afastamento da Dor
une-as para Sempre no Perdão.
Quando uma tempestade invade a Existência, as gotas de chuva
tornam-se punhais de Dor que cortam a Água da Verdade... Mas
quando entram no profundo azul da Verdade, entram em Metamorfose
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de Algodão... A Dor é tempestade, com o Fado de se tornar Algodão e a
Verdade o caminho.
A Dor torna-se algodão, quando soprada pela brisa da partilha...
Quando das Margens sopram ventos de altruísmo e pertença, dissipa-
se o algodão sobre a Água da Verdade... A partilha e o altruísmo tornam
suave o horizonte da existência, com a Dor de Algodão esvoaçando rumo
à Verdade.
Aprender é olhar sobre os ombros e sentir o refrescar da água que se
rebate em nós, com o impacto das pedras que em erros se afirmam como
luzes, no embate com a Verdade!
Quando aprendemos somos Luz e iluminamos o Caminho de Nós,
tornando-se as Margens como partilhas iluminadas pelos Erros, que se
tornam afinal, possibilidades. Errar e Aprender iluminam o Futuro das
Margens, sob o efeito Comburente do Amor.
Perdoamos constantemente, pois o Perdão é combustível para a chama
da Sobrevivência! Sem Perdão, aliado ao Comburente de Amor, não
sobreviveriam as Margens. Perdoar é permitirmo-nos viver em
Existência Mútua. Todo o Sobrevivente o é, porque é perdoado… Os
que não perdoam, promovem o suicídio, afogando-se na Água da
Verdade, mas serão sempre perdoados pelos sobreviventes. Assim, na
mútua sobrevivência pelo Perdão, persiste a Humanidade das Margens.
Reconhecemos que somos marginais quando percebemos que a Verdade
é a Água que nos une, separando-nos. Uma Água de Nascente Divina
que nos apoia na Marginalidade, para nos conduzir à Semelhança da
Criação. Semelhança apenas percebida no momento em que olhamos os
outros Marginais em Perspectiva Superior. Assim, Existimos
Mutuamente numa Semelhança Marginal, banhados pela Verdade
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Divina.
São as pedras do Perdão que rolam pelo Rio e moldam o percurso de um
pecado Imaculado. Ser Humano e Existir é moldar muitas pedras na
Beleza do Perdão! O júbilo destas pedras que se arrastam no Destino
sem Destino, é Luz sob o entardecer de Nós... As Pedras do Perdão doam
o Amor das Margens à Foz da Mútua Existência. Por isso devemos
Gratidão às Margens que nos magoam. Devem-nos o respeito da
Distância, mas são merecedoras de Gratidão.
O Sentido de cada Margem, é o Sentido equilibrado entre o que as outras
Margens permitem e a Ousadia identitária do que cada uma É. Somos
assim aquilo que ousamos, no confronto elíptico com a permissão alheia.
Assim se Manifesta a Existência: num Equilíbrio orientado para a
Ousada aceitação Mútua. Uma aceitação que nos revela a Alma.
O Espelho da Alma está na verdade nas Mãos. As Mãos que deixam
passar por entre os espaços dos dedos, os grãos de areia das Margens,
para a Água da Verdade.
Cada Margem faz das mãos uma ampulheta que deixa o Tempo
murmurar a Vida e o Tempo desvendar a Alma... O Tempo desliza nas
mãos o reflexo da Alma. Um Tempo sem Tempo, uma Eternidade vazia.
É a Distância do Perdão de Margens que jamais se Encontrarão, mas
permanecerão Unidas pela Aprendizagem Mútua.
Uma desunião em permanente ligação que só permite a troca através do
vapor da Água da Verdade, um vapor que eleva a Essência do Passado
de cada uma das Margens, na única Verdade, revelada num Futuro
enevoado, mas de distância certa.
E assim, distantes em proximidade perdoada, continuarão Margens,
que se desconhecem, numa desilusão outrora partilhada, numa
metamorfose em Perdão.
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Mentiras vivas como a Verdade,
Águas Ilusórias
&
Sou e Serei…
Textos de
Silvie Wacknbath
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Mentiras vivas como a Verdade
Vejo o silêncio do universo face às desigualdades e á dor alheia em cada
batimento cardíaco. Ouço sombras… as sombras da minha alma que
gritam implorando resolução e onde cada momento de reflexão se torna
mera alucinação.
Tento a meditação, mas fico dobrada em joelhos que se encontram crus,
nus e sangrentos por cada semelhante meu que me confessa em verdade
a sua desumanização.
Perdoo-lhes cada invasão de mentira aplacando-me com anestésicos de
esperança, sufocando, calando, silenciando.
Dizem-se portadores da verdade transcendente, no entanto são mero
amor altruísta e desumano, de intelecto cristalino e desmedido fazendo
disso um sentimento imaculado. São espíritos tristes e exilados em
simples mortais.
O remorso é a pulsação em taquicardia da inclinação, para a invocação
de exoneração, da vida que se pretende viva e sem morte.
O meu cérebro é um bloco de matizes em constantes mutações e no meu
ventre permanecem as feridas de guerra, mas apesar de me tentarem
com um sepulcro em vida, atrás dos meus olhos permanecerá sempre a
luz e no meu peito…
No meu peito um coração vasto, livre e selvagem como um continente
africano.
Todos os dias comtemplo as sombras da inquisição imorais de silêncio
no Éden, onde vejo anjos que caminham sobre as águas perfumadas com
hortênsias.
Se eu tivesse um dia que escolher entre a minha alma e as minhas
paixões, eu escolheria a caneta que tenho nas mãos que, apesar de pesada
sempre que a uso torna a minha alma melhor por dentro.
Muitas vezes passo por muda, surda, cega, prepotente ou simples
ignorante. É sempre um carretel cheio de círculos e enigmas que cada
vez mais parecem longe de uma linha reta.
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Na minha embarcação e comigo ao leme não tem lugar, nem qualquer
tipo de vaga para pessoas sem paixão, para pessoas sem verdade de
bolsos estreitos e espinhosos que inibem os outros, utilizando o olhar ou
apenas uma palavra que seja, como flecha venenosa.
E quando me perguntam porquê somente lhes respondo: “Se essas
pessoas tivessem alma não procurariam outra para por uma simples
paixão adicionar à sua incompletude e então assim sentirem-se vivos,
completos e tocando à omnisciência.”
Não existe magnitude suficiente para a verdade essencialmente aquela
que uma mulher enxerga, precisando apenas de confiar nos seus
instintos biológicos.
Vale sempre a pena ver a verdade da mente e a verdade do coração, com
um senso de consciência, sem nunca cair no comum hino do vulgar. Se
alguém um dia vos disser que consegue ouvir as lágrimas de uma
mulher e sentir as suas dores para além da superfície corpórea, então
esse alguém é um dos poucos “escolhidos”.
Os escolhidos, são abençoados para dançar em sonhos de campos
Elíseos, ornamentados por pétalas perfumadas e ordenados pelas
estrelas, onde o longe se faz perto e o silêncio se faz grito.
Os escolhidos, podem atravessar essa ponte no tempo, ungidos pelo
dever e cumpridos de sabedoria e conhecimento. Não haverá pedágios
nem nenhum obstáculo mental no seu portador, para dar lições sem
qualquer fé ou numa qualquer tentativa de erro.
Quando se fala em verdade, o seu dialeto e a troca dessa mesma
linguagem é o presente mais bonito que qualquer ser humano pode
compartilhar com outro, é amor em respeito sem costuras rasgadas e
infortúnios, e constrói pontes sem qualquer outra disparidade de mal-
entendidos e frustrações.
Precisamos de aniquilar a mentira e substituí-la por pessoas com alma
pura, com toque, com visão, com sensibilidade e todos nós sabemos que
vivemos cegos na nossa própria arrogância, nas vaidades complexas e
assim surge a própria morte do que apelidamos de se ser humano.
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O amor interior começa dentro do nosso templo sagrado e o nosso
templo sagrado tem o brilho das boas sementes, (as sementes que foram
semeadas contra o pecado Pai se falarmos no sentido bíblico)
Dentro de cada um de nós há guarda numinoso da aura que na sua
forma mais pura, eu considero o Santo gral do nosso universo terreno,
Esse guarda numinoso de aura permite à boca que fala ser a voz da
razão, permite aos olhos que veem olhar com admiração e nunca com
condenação, e aos ouvidos (aqueles que realmente conseguem ouvir)
ouvir os sons harmónicos da aprendizagem, da evolução e da superação.
Todos nós quando nascemos damos um suspiro, um sopro de vida assim
também como dizem que quando morremos daremos um último suspiro
da vida terrena, não me preocupo nunca no que acontece entre um
suspiro e outro em relação a mim como pessoa e ser individual, mas,
preocupa-me desde que eu dei o primeiro sopro de vida e até ao último
suspiro da morte deixar a humanidade um pouco melhor, do que quando
a encontrei.
Sei que no alto de uma qualquer colina, existirá sempre o meu sopro e
este dará significado às vidas vindouras, abraçará os humanos quando
os ventos de tornarem demasiadamente frios e superará os jogos
mentais, as humilhações, as farsas e outras graças nela desgraças da
própria autoaversão humana, sem respeito pelos seus direitos, mas
essencialmente pelos seus deveres.
Por isso vivam em pleno equilíbrio, valorizando o que realmente deve
ser valorizado e a terem discernimento e total clareza das mentiras vivas
como a verdade!
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Água Ilusória...
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Sou e serei...
Sou…Palavras de limão, boca de gengibre, língua de gelo, garganta de água.
Pôr do sol, uma doçura tonta. A chuva é forte e a rua fica mais suave.
Raios salgados num olho aberto, escalas invertidas de conceito.
É o escuro para o cego e no crepúsculo do estado, o citrino rodopia opala no mapa celeste
envidraçado.
Enegrece o tambor. São teclas de atenuação.
Adoçando a areia nos olhos, os ponteiros do relógio enrolam-se em redor da ponta do fio
da videira.
E em pensamentos perdidos vivo o que me pertence...
Inicio a viagem de olhos cerrados. O meu corpo encontra-se junto de outros na mesma
ânsia de viajar, na mesma humildade de busca, de reencontro e de fuga. Cada um tem o
seu karma e um processo único de alienação para a cura dos seus chakras.
A simplicidade do caminho é concreta e é a única chave-mestra que abre e desbloqueia
a realidade que nós não vemos ou melhor, não sentimos.
O som alternado das taças tibetanas provoca inicialmente uma implosão no meu peito,
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a intensidade da minha energia parece rebentar de dentro para fora, embora a paz seja
anestesiante. Torna-se uma violenta luta do que retraio e deseja fluir apenas e elevar o
meu corpo numa vontade muito própria, uma vontade solitária e para além de mim.
Todas as memorias me assolam em milésimos de segundos, atropelam-se em caos,
visualizome aquando completa e em paz total. Relembro a distância do que fui outrora,
de como comecei a existência terrena. Ouço o meu próprio choro aquando do meu
nascimento e sinto a aragem fresca que me interrompe o conforto e distância do corpo
da minha mãe.
Sinto-me assustada e perdida tal como naquele momento 42 ciclos atrás.
Os cristais mais audíveis são interrompidos pela intempestiva sonoridade marítima e
sereno.
A respiração acalma, o ritmo cardíaco está no seu normal apaziguador.
Mas todo este processo de busca interior é um turbilhão constante, uma guerra sem
causa, sem mortos, sem sobreviventes, somente uma pessoa ferida, ou seja, Eu!
Alguém que aparentando ser ninguém, sangra sem sangue, que grita sem voz, que viaja
mundo sem sair daquele chão onde o seu corpo permanece deitado e aparentemente
inerte.
E o tempo dança em rodopio por entre cada um de nós...
As respirações ansiosas e afogueadas dão lugar á calmaria, alguns até adormecem num
sonho encantador.
De formas diferentes e concisas cada um viaja dentro de si mesmo. Cada um enfrenta
os diversos testes entre luz, escuridão, interrogativas e medos. Uma viagem onde todos
estão envoltos na sonoridade de cura e libertação e despidos de qualquer oxidação ou
poluição terrena.
Ainda gritei no meu silencio interno, "Eu sou amor, eu sou luz, eu sou a cura..."
E logo de imediato a voz do orador e mentor surgiu num cântico doce, num mantra
apaziguador e respondeu-me no breve instante daquele momento.
Então subitamente um vento quente aquece o meu corpo e vejo um azul profundo.
Consigo sentir o cheiro da terra, associo os cristais às gotas de orvalho, sinto-me a
caminhar sobre uma relva molhada e fresca. Sinto uma luz imensa como se do próprio
sol se tratasse ativando o meu ADN.
Humedeço os meus lábios que repentinamente são doces, parecem untados com mel e
sinto a pureza a ativar cada célula deprimida.
O diapasão limpa a mente e liberta o meu coração num ato de extração de qualquer
toxina.
Num relaxamento total encontro-me no topo da montanha da minha alma e a mente
pede-me somente para voar.
Então eu voo sem medo do abismo...estou finalmente dentro de mim.
E dentro de mim, sou simplesmente a base de uma suculenta coroa …E para sempre?!!!
Para sempre serei poetisa... Eu sou a poetisa que é possuidora de um interior selvagem
tal qual mata nativa.
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Sou e serei…!
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