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30 de agosto
Hoje roí́ cinco unhas até o sabugo e encontrei no cinema, vendo Charles Chaplin e rindo às gargalhadas, de chinelos
de couro, um menino claro. Usei a toalha alheia e fui ao ginecologista.
9 de setembro
Tornei a aparar os cachos. Lúcifer insiste em se dar mal comigo; não sei mais como manter a boa aparência. Minha
amiguinha me devolveu a luva. Já́ recebi o montante.
28 de agosto
Dia de festa e temporal. Aniversário da Tatiana. Abrimos os armários de par em par. Não sei por que mas sempre que
se comemora alguma coisa titio fica tão apoplético. Acho que secretamente ele quer que eu... (Não devia estar
escrevendo isto aqui. Podem apanhar o caderno e descobrir tudo.)
5 de agosto
Ainda não consegui fazer filosofia, versos, ou colar retratos aqui.
30 de janeiro
Que nostalgia no ar, meu Deus! Hoje fui à casa da Ana levar um presentinho. Às vezes tenho a impressão de que
esses presentinhos constantes são um embaraço. Eu se fosse dona da casa não permitiria certas coisas. Me dá um
ennui, eu fico enjoada de ver tanta ignorância. Como as pessoas se ignoram! Depois de todos esses meses Sérgio
resolveu dar o ar de sua graça.
8 de julho
Nós estamos em plena decadência. Eu e você estamos em plena decadência. A nossa relação está em plena
decadência. Quando duas pessoas chegam a se dizer isso tranqüilamente, é sinal de terra á vista. Nem tudo é um
naufrágio na vida. Mas um dia eu ainda me afogo no álcool.
30 de novembro
Rita marcou hora comigo e não apareceu. Há muito tempo que eu não me sinto tão deprimida. Acho que vou ligar
para a
9 de agosto
Primeira fotografia que deve entrar para o álbum: um entardecer primaveril no Parque da Cidade. Preciso comprar
cola. Soube de fofocas em relação ao beijo de ontem. Como a Tatiana está obcecada com as suas fantasias! Eu
também começo a me sentir envolvida. Queria voltar ao atelier, leiloar tudo se necessário. Mas sentir as mãos livres,
os passos soltos! Minha vida chega a um impasse.
10 de agosto
Estou lendo um manual de alemão prático. Tenho ido à praia. Vi o Joel de manhã, com a mulher dele.
8 de julho
Recomecei a ginástica. Hoje quase me matei antes do almoço. Fez um dia quente para a estação. Amanhã começo o
estudo com os gêmeos. Apesar de tudo eu tenho restrições. Mas o que se há de fazer?
Água virgem
(Inéditos & Dispersos)
Perdi-me no entrelaçar-se de malhas.
Entreguei-me no manchar-se de sonhos.
Marquei-me no soluçar-se de perdas.
Sob o peso deste som
um flautim
Sob o som deste peso
uma queda
rachou
a chave
calou
a chuva
barrou
a chama
(chuvisca no centro meu – nenhum grito)
Inconfissões – dezembro/68
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Cassiano Ricardo
(Um dia depois do outro, 1947)
Serenata sintética
Rua
torta.
Lua
morta.
Tua
porta.
Quando eu morrer,
Anjos meus,
Fazei-me desaparecer, sumir, evaporar
Desta terra louca
Permiti que eu seja mais um desaparecido
Da lista de mortos de algum campo de batalha
Para que eu não fique exposto
Em algum necrotério branco
Para que não me cortem o ventre
Com propósitos autopsianos
Para que não jaza num caixão frio
Coberto de flores mornas
Para que não sinta mais os afagos
Desta gente tão longe
Para que não ouça reboando eternos
Os ecos de teus soluços
Para que perca-se no éter
O lixo desta memória
Para que apaguem-se bruscos
As marcas do meu sofrer
Para que a morte só seja
Um descanso calmo e doce
Um calmo e doce descanso
Julho/67
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Quartetos
(Inéditos & Dispersos)
Eu morro e remorro
Na vida que passa
Eu ouço teus passos
Compasso infernal
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Neste interlúnio
(Inéditos & Dispersos)
Neste interlúnio
Sou um dilúvio ou me afogo.
E entre espectros que comprimem,
Nada se cumpre,
O destino esfarela.
De querela e farinha se ergue um olho.
As vozes despetalam,
Os períodos se abrandam,
Orações inteiras lentas se consomem,
Em poços há sumiços de palavras moucas.
Neste interlúnio
Sou fagulha ou hulha inerte.
Enorme berne entra corpo adentro,
Entre os dentes, carne.
Arde o ente e cospe,
Cuspe inútil invadindo espaço.
Moléculas moles coleando,
Víboras vagas se rimando,
Poetas quietos entreolhando
Coisas coisas que falecem.
Neste interlúnio,
Sou coisa ou poeta.
Agosto/68.
Estou atrás
(Inéditos & Dispersos)
28-5-69
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33.ª Poética
(Antigos e soltos – “Pasta rosa”, 2008)
quero antes
a página atravancada de abajures
o zoológico inteiro caindo pelas tabelas
a sedução os maxilares
o plágio atroz
ratas devorando ninhadas úmidas
multidões mostrando as dentinas
multidões desejantes
diluvianas
bandos ilícitos fartos excessivos pesados e bastardos
a pecar e por cima
os cortinados do pudor
vedando tudo
com goma
de mascar.
Out. 75.
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