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POEMAS, HÉLIO GUEDELHAH

SAUDADE, ABSTRAÇÃO
Saudade, quem nunca sentiu?
Saudade de quem partiu,
Saudade de quem está presente?
Se saudade é a falta que se sente
A saudade em mim sempre existiu.
O meu choro é de saudade
O meu riso é de ausência
É a falta da presença,
De algo com similaridade
Ao que se diz ser feliz...
Então, alguém vem e me diz:
A saudade é apenas metáfora do enfado,
De algo que nunca será,
Ou que já foi mas está
Preso às raias do passado?
Hélio Guedelhah
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É VOCÊ QUEM FAZ SEU DIA

Não se reprima
Viva seu dia
Aprecie a neblina
Abra a cortina
Boceje e sorria

Pela fresta da janela


Deixe o sol entrar
A manhã será bela
Com paisagem na tela
Saltando ao olhar

Deixe as certezas de lado


E viva mais a ousadia
O sentimento recalcado
Expurgue-o, livre-se do fardo
Entregue-se à fantasia

Amanhã será um novo dia,


Isso não é redundância
Não é alegoria
Mas o amanhã só terá importância
Se você perceber, sem arrogância
Que é você quem faz cada novo dia

Hélio Guedelhah
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SÍNCOPE
Na esquina dos templos
Ouço vozes,
Murmúrios, como se fosse de gente,
Pensamentos velozes
Que singram as ondas do tempo
O clamor, o credo dos inocentes,
Que buscam socorro onde não há,
E no ligeiro eclipse da mente,
Turvam-se encalhados pensamentos,
Enlevando suaves semblantes
Que desfilam em trotes compassados
Encrespando, tangendo
O trote desencontrado
Que despetala a flor dos ventos
Hélio Guedelhah

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AO LÉU

Não tenho convicções


Sou um sujeito autômato
Vivo o momento e pronto,
Mas, quando vivo,
O faço intensamente
Não corro, nem persigo
Apenas espero o momento
Cada detalhe,
Cada gesto
Analiso, observo
E mergulho nesse mar
Entre as feras me reservo
Deixo a onda me levar
Com você eu surfei
Mergulhei, me entreguei
Até que a onda me ejetou
E em um tubo me lançou,
Tudo passa, mas você não passou
Em seus braços, a nostalgia,
Vivi minha melhor poesia
Duas noite e um dia
Isso o vento não levou
Hélio Guedelhah
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UMA VIDA POR UM CORAÇÃO

Descanse sua desilusão em meus ombros,


Eu te ajudo a juntar o escombros
E, quem sabe, reconstruir do pó.
Nenhum grande projeto se constrói só
Pois, a vida é um complexo de propósitos,
Não faça de seu coração um depósito
Do que a vida tem de pior...
Vamos, levante-se!
Junte os cacos!
Há uma moldura à espera de um retrato,
E sua melhor aparência deve estar lá,
Para a crítica avaliar...
Faça pose,
Dê em close
Seu melhor sorriso,
Pois às vezes é preciso
Sorrir para não chorar.
Vou te esperar no cruzamento,
Te servir de acalento
Nesse ponto agitado da cidade!
Brindar a felicidade
Que se foi, mas vai voltar...
Dê-me sua mão,
Vou me esforçar pra ser teu guia.
Esqueça o que passou.
Pois te esperando eu vou
Viver o resto dos meus dias.
Hélio Guedelhah
RETRÓGRADO
A humanidade sofre de um mal
Tão lesivo, tão letal,
Tão abrasivo,
Que atravessou os séculos
E continua tal e qual,
CADA DIA MAIS VIVO
É o mal da ignorância
E, quanto mais rude, mais arrogância
E assim se escreve a vida
Em tantas eras
Tantas primícias e quimeras
Tantos sonhos incertos
É que o homem não aprendeu a pensar
A experiência não deu certo.
Apesar do raciocino ser um dote singular
Se voltássemos dez mil anos atrás
Estaríamos em melhor patamar
Disputando comida com os animais

Hélio Guedelhah
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DEPRECAÇÃO

Não é ainda o último suspiro.


As noites vêm e vão como folha a vento.
De tudo o que admiro
Guardo um pouco no pensamento.
As lógicas se desfazem lentamente
Na escatologia dos tempos
Não é hora pra sonhar,
Nem de chorar, um ledo lamento.
Quem sabe seja o momento
De sanear o coração,
Alinhar o sentimento
Que ruiu na solidão,
Porque ainda não é hora
De desistir dos seus sonhos
Quem sabe esse agora
Seja apenas um impulso
Não decisão de ir embora,
Pois, apesar do sofrer medonho,
O sol hoje nasceu risonho,
Ainda há muita vida lá fora
Hélio Guedelhah.
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AUTÔMATO

Oh, não fujas...


O botão ainda brota
Em meio ao esterco fertil.
Não! aborte esse passo,
É o processo.
Mude a rota,
É extenso o deserto.
Não te aflijas...
Tem um oásis ali, perto.
Saudades, todos temos!
Vontade, é inevitável,
Somos genes do mesmo espectro.
Frutos do mesmo ventre,
Que gera seres abjetos...
E pseudodependentes.
Não, não vá embora...
Ainda tem tempo pra gente
Hélio Guedelhah
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CONFISSÕES DE UMA GUEIXA

Quando quero
Quero de verdade,
Quando amo,
Amo com vontade
Vontade de ter
Aquele alguém bem pertinho
Pra eu lhe dar meu carinho
E acariciar seu rosto
Quando amo
Amo com gosto
Com aquela intensidade
De uma primeira vez...
Quando gosto
Faço de tudo,
Me entrego, aposto
Até de um jeito estúpido,
Pois, não tenho talvez.
Me entrego sem reservas...
Eu sou assim..
E que descobre isso em mim,
Facilmente me leva
Hélio Guedelhah
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LOUVAÇÃO A JOSUÉ MONTELLO


Os tambores que ecoam da Ilha
E acordam o orgulho de um povo
A história a memória palmilha
Alimentando um sonho novo
Com a pujança de célebre escritor
O poeta conta uma saga
Ao som de um solitário tambor
Que na noite perdido vaga
A Viagem Sem Regresso,
As Janelas Fechadas
A Luz da Estrela Morta,
O Fio da Meada
Nos Degraus do Paraíso, Aleluia!
A Mulher Proibida,
Na Noite Sobre Alcântara
O Baile da Despedida
Antes que os Pássaros Acordem
Os Tambores de São Luis
A ilha dos amores desperta feliz
A dor da senzala é inspiração
Para um sonho de liberdade
O Cais da Sagração
Desnudando o perfil da verdade
A educação se constrói
Respeitando a história do povo
Reconhecendo os verdadeiros heróis
Construindo um sonho novo
Josué Montello
Teu exemplo é belo
Teu dom tão singelo
Abre novos caminhos
Com orgulho, afeto e esperança
Passa a história a limpo
Com grande pujança

MURMÚRIO DE UMA NOITE DE SÃO JOÃO


Bateu meia noite
Logo o dia vai raiar
E nem um tambor se atreveu a rufar
Amparando a toada e a animação
Anunciando o aboiar
Dessa noite de São João.
De toda a vida,
A noite mais triste
Morreu pai Francisco
E Mãe Catirina
Sobejou-se a sina
De um verme místico
A índia guerreira agoniza sem ar
O boi do sacrifício se negou a berrar
A fogueira não foi acesa
Só se ouve o lamentar
Lamúria, tristeza...
Um são João pra chorar
O fazendeiro se foi
Nem pôde castigar
A morte do boi
Não pôde vingar.
Morreu a alegria
São João da agonia,
Que não quer passar!
A fazenda em silêncio
A senzala murmura
Pela noite a dentro
Um berro sussurra
Boi ressuscitado,
Melhor rés entre o gado
São Joao de amargura
Já foi Santo Antônio
Já foi São João
E nesse pandemônio
Pedro e Marçal também irão
A melancólica balada
Da tragédia orquestrada
Para a noite de São João
Cadê meu boi ligeiro?
A matraca onde está?
O domador fagueiro
Onde ele estará?
Cadê a alegria,
O som, a magia
Meu Deus, onda andará?
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ÚLTIMA PALAVRA

Entregue-se
Corpo e alma
Perca a calma
Mas, não perca a ilusão.
Ande por caminhos tortos,
Tatue nos seus ossos
A marca da decepção,
Mas, viva...
Ainda que o viver seja Incerto,
Que à frente só o deserto
Espere por ti...
Caminha, planta tua flor
Que invernos virão,
Por mais íngreme que seja o chão
Seja o vento que for...
E, diante da adversidade,
Entre soluços e dor,
Se uma última palavra restar,
Que possas pronunciar,
Que essa palavra seja amor.
Hélio Guedelhah

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SELINHO

Recolha-se ao canto preferido,


Vai ser algo e tanto,
Que te direi ao ouvido.
Nem sei se deveria,
Mas, minha vida
É transigir...
Trocar noite por dia
Tentando me descobrir...
E no canto que escolheu
Olhe lá com cuidado
Pois lá tem um recado,
Selado,
Marcado,
Com um beijo meu.
Hélio Guedelhah

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LEGUAS

A noite pode ser pouca


Pra essa vontade
Que tenho,
Essa ânsia tão louca
De provar do teu veneno.
Esses lábios grossos
Convidativos
Beijarei sem remorsos,
À porta do paraíso.
Tenho andado léguas,
Percorrido caminhos
E só encontrarei trégua
Quando tiver teu carinho.
Não procuro oásis
Porque viver é buscar...
Assim desafio as fases
Se o prêmio for te amar.
Hélio Guedelhah

SONAMBULISMO

Minha vida sempre foi


Passar noites acordado
Horas a fio, em claro.
Sonambular pela madrugada.
Ninguém pode ser eu,
Nem pensar que um dia
Serei seu...
Não o sou, nem de mim...
Tenho vazios, enfim...
Que ninguém nunca preencheu.
Não sou mal, sou do bem,
Nunca quis ferir ninguém,
Protejo até quem não merece.
Mesmo a traição se esquece.
Não! Não digas que fui mal
Que fui covarde, coisa e tal...
Porque, seduzi, usei e descartei.
Não! Nunca!!
Em cada pessoa com quem fiquei,
Algo de mim eu deixei...
E tantos algos levei.
E de cada pessoa vou levar no meu pensamento,
A minha vontade de proteger
De motivar e promover...
E nunca ressentimento.

UMA NOITE A MAIS

Mais uma noite esmaece


E perde seu breu
Mais um dia amanhece
Mais um sonho se perdeu
E não vejo brilho
Nem pegadas a me guiar
Tateio pelos trilhos
Frios do meu caminhar
Perdido em filosofias
Agonias, imprecações
Palavras, letras frias
Paradoxos, tergiversações
A noite não é um colo
Que acaricia sonhos
Pois segue seu protocolo
Hermético, medonho...
E junto com o sono
Vem imagens surreais
E um pensamento errôneo
Que emerge dos pantanais,
Pântano da incerteza
Que afronta a natureza
De um viver sem razão...
A noite não é companheira
Ela é algoz, sorrateira,
É a mãe da solidão.
Hélio Guedelhah

DESIDERATA

Tem dias (e noites) que você procura alguém para conversar no Facebook, no
Instagram e no Zap e não encontra ninguém... aí você olha para a lista de "amigos" e
vê o exército de gideão, mas bem poucos dispostos ao combate... você está só na
selva... vida que segue!
Aí, olho no canto e vejo meus livros e corro pra eles. Compre livros e converse com
eles, certamente, eles te falarão mais eloquentemente e não sabem a diferença entre
uma noite escaldante e o aconchego de um edredom.

ALITERAR

Lobisomem,
Trans-homem
Metro-homem
Homem...
Meme
Mambembe.

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AUTÔMATO
Sei que vou sentir saudades
Vou morder o travesseiro
Me consumir na vontade
De ter teu corpo, teu cheiro
Sinto você se afastando
Eu te perdendo na miragem
Uma lágrima rolando
Borrando a maquiagem
Saudade, palavra dura
Que corta a alma bem fundo
Calando na noite escura
Um soluço tão profundo.
Já me perdi nos teus cabelos
Me envolvi em teus abraços
Agora, que não vou tê-los
Fico a pensar no que faço.

VOLUPIA
Não me julgues atrevido
Se numa bela manhã
Invadir o teu quarto
E me atirar no teu divã
Se sussurrar no teu ouvido
Palavras desconexas
E de modo impreciso
Afagar tuas mechas
E no teu corpo
Repousar meu cansaço...
Não me reprima
Se no calor de tua boca
E no fulgor do teu hálito
Numa ânsia tão louca
Te disser palavras vãs
Tirar a tua roupa
E te esculpir toda
Ao sabor das maçãs
Não, não diga não!
Apenas me empreste seu beijo
E a volúpia e o desejo
Bote na conta da paixão.
Hélio Guedelhah
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UM POEMINHA BREGA
Se você vier comigo
Eu não vou prometer muito
Prometo só ser amigo
Dar colo e abrigo
Estar perto, estar junto.
Sei que é pouco,
Bem sei...
É só um motivo louco
Pelo qual enveredei
Mas esse amor,
Tão pequeno,
Tao sereno,
Tudo a ele eu dei...
Deixei de viver
Deixei-me levar,
Pra que esse amor
Não viesse a faltar...
É amor incontestável
Rico em amizade,
Desprovido de maldade.
Comprometido, inefável.
É só o que tenho pra dar,
Mas, se isso não bastar
Ainda, assim...
Com você perto de mim...
Terei motivo pra sonhar.
Hélio Guedelhah

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BALADA DE JUNHO
Antes de acordar por inteiro
E pôr o pé no chão
Nesta manhã quente de junho
Você vai sentir meu cheiro
Meu suor, meu desejo
Tudo isso junto
Invadindo seu coração
Neste dia ensolarado
Quero estar em cada passo seu
Sentindo aqui ao meu lado
O teu corpo junto ao meu
E viver nosso romance
Até que a noite nos alcance
E nos adormeça abraçados
Vamos acender a fogueira
E fazer a nossa festa,
No barulho da cidade
Ou no mistério da floresta
E viver sem preconceitos
Volúpias, carinho, desejo
O amor, mesmo imperfeito
Quando você acordar
Olha este poema e diz:
Não terei medo de amar
De curtir de me entregar
De viver e ser feliz...
Hélio Guedelhah

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SINTAXE

Sorria da cara do tedio


Dê de ombros para a solidão
Rir é sempre o melhor remédio
Para libertar um coração.

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