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PORTUGrAL
CONDIÇÕES
VOLUME 1
SUMÁRIO
introdução
julieta dos espíritos fazer sentido (com os cinco
sentidos)
a guerra que não sei
deixem-me estar
nuno m. de pé outra vez
és livre para tudo
palavra Humanidade
oh mãe babilónia
pedro mello margens (o renascimento para a
morte, octopus existencialis e
reflexos da identidade mútua)
sangue trigo
berth patrício cartuxa alentejana
Textos de
JULIETA DOS ESPÍRITOS
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FAZER SENTIDO (com os cinco sentidos)
Visão
"Vê com olhos de ver" dizia-me muitas vezes a minha velhotita. Nem
sempre o fiz, nem sempre o faço.
Ver com olhos de ver é como saber ouvir. Duas coisas difíceis, que têm
de ser feitas com consciência, têm de ser autênticas, senão não serão
verdadeiras.
Ver e ouvir, no meu entender, os dois sentidos que mais trabalho dão
ao nosso intelecto.
Ao fechar os olhos, a escuridão pode levar-me a ver tudo e nada ou só
o que me proponho ver. Posso inventar um cenário e entrar em palco,
posso ver sítios, coisas, pessoas que de olhos abertos nunca vi. Posso ver
o amor, a guerra.
Por outro lado, com os olhos abertos posso ver o que não quero ou não
gosto, mas também posso separar o bom do menos bom, o belo do menos
belo, posso ver o amor e a guerra de outra forma.
Audição
Se tapar os ouvidos, posso ouvir tudo e nada, posso ouvir a minha
música preferida, posso cantar sem ser audível. Ouvir aquela palavra
que há muito tempo esqueci, posso ouvir-me a mim. Posso ouvir uma
flor a crescer e ouvir Deus.
Se destapar os ouvidos, posso ouvir-te a dizeres-me coisas bonitas ou
não (posso sempre tapá-los... ou não, ah ah ah). Posso ouvir o vento,
posso ouvir os meus passos na terra, ouvir as estrelas, posso ouvir o
amor, pois quem ama ouve.
Estou a fazer sentido?
Olfato
A estes dois sentidos podemos juntar o olfato, pois com ele podemos
ver, ainda que não à nossa frente, uma pessoa ou uma flor. Podemos
"ouvir" o que disse determinada pessoa devido a um determinado
perfume que inalamos ou que simplesmente o vento nos trouxe.
O olfato pode transportar-nos no tempo sem sairmos do lugar. Por
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A guerra que não sei
A certeza incerta.
O deixar e querer levar tudo.
As trouxas cheias de nada
e de uma vida. Crianças que não percebem
O silêncio que fica porque o peluche ficou para
ruidosamente para trás. trás.
As prioridades que se tornam Armas desconhecidas
um luxo. em mãos demasiado pequenas.
O porquê do quê. Homens que veem
O quando e o quem. as suas mulheres partir
O onde do agora com os filhos que os querem de
e o agora mesmo à frente dos volta.
olhos. Mulheres que ficam
Olhos que se querem para os curar.
conhecidos, O cão que não se abandona
mas dão as mãos aos e o cão que procura o que é seu.
desconhecidos. O gato que se mete na mochila.
Olhos que procuram Deus. As paredes que caem.
Olhos que dizem: "vou ali, mas Pés feridos, corajosos,
já volto". que calcam as pedras do
Novas casas que se abraçam caminho
debaixo da terra. e... que vontade de pegar nelas.
Um sol que brilha, mas que não Uma pedra na mão
se vê. e uma grande vontade de
Sirenes que acordam o sono mudar o mundo.
dormente. Um gesto apenas simbólico,
engolido
por tão grandes egos.
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Deixem-me estar,
(estou cansado)
deixem-me decidir
(quero brincar)
Quero voar
(gostam das minhas asas?)
Dêem-me liberdade para ir
(conheço o caminho)
Não quero matar
(a arma é tão pesada)
e não quero morrer
(-Jesus, onde estás?)
Deixem-me falar,
(também sei)
deixem-me ser
(cresci)
Quero pensar
(que a guerra acabou)
Chamem por mim
(sou o Lucas)
Deixem a minha mãe ficar
(a minha rainha)
A minha irmã cheira a alecrim
(apanhar flores com ela é...) Cena do filme Johnny Mad Dog (2008).
Quero o meu pai Fonte: Printerest
(não morras)
-Pai, tens pão?
(tenho fome)
Em vez de guerra, ceifai!!
(ou... dançai)
-Pai, dá-me a mão.
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❖ de pé outra vez
❖ és livre para tudo
❖ Palavra Humanidade
❖ oh mãe babilónia
Textos de
NUNO M.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia
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de pé outra vez
basta
se há quem te empurre
para trás
corre para a frente
eu acredito em ti
é só uma questão de tempo
para estarmos
de pé outra vez
nuno m.
na Páscoa de 2022
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és livre para tudo
e ressoe o mundo
então nunca desistas
nunca te afastes de ti nem do teu caminho
e se não serves para anda
és livre para tudo
nuno m.
05.IV.2022
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PALAVRA HUMANIDADE
nuno m.
13.V.2022
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~
oh mãe babilónia
nuno m. (05.V.2022)
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❖ Margens (continuação)
(O renascimento para a morte, Octopus Existencialis e
Reflexos da identidade mútua)
❖ Sangue trigo
Textos de
PEDRO MELLO
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia
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O renascimento para a morte
Senti no momento em que me senti a pensar que te sentia que era
eu, porque a ponte é levadiça por isso mesmo, para poder deixar
de nos ligar, mas marcando o caminho na invisível linha do que
já foi...
Dolorosas são as confusões entre a Ponte que é a Paixão com a Meta que
é o Amor. O Amor é Meta, mas não um fim em si Mesmo. Afirmar que
se Ama enquanto se caminha na Ponte da Paixão é na verdade usar a
Afirmação como um punhal cortante, que corrompe o caminho, que
corta as cordas da Ponte. A construção ilusória da Meta, a meio do
caminho, é orientar ambas as Margens para punhais de Dor, que se
converterão em Algodão na Água da Verdade.
O Destino de Margens apaixonadas, que não se pertencem, conduz à
incontrolável (des) união destas, num Limbo entre a Vida e a Morte.
Um Limbo de Aprendizagem, um Limbo de Perdão, ou um Limbo de
Vazio preenchido por um Passado sem Futuro.
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Octopus Existencialis
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Reflexos da Identidade Mútua
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Sangue trigo
Textos de
Berth Patrício
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Cartuxa Alentejana
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