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Vivam!

Introdução
Se a guerra da qual falamos fosse expressa em um sentido literal,

lutariamos com outras armas, mas uma vez que temos as nossas vidas

como um campo minado, porque não dançar entre as minas que estão

no terreno? Não que você não leve a guerra a sério, mas se será

essa guerra que nos levará a morte, o que faremos com o que nos

resta da vida? E na verdade se dançamos em território inimigo,

isso não quer dizer que já ganhamos a guerra?

Se rimos mesmo com os nossos olhos marejados, isso não mostra

que temos maiores motivos de riso do que de derrota? Se avançamos

mesmo que estremecidos de medo, isso não quer dizer que carregamos

no peito coragem mesmo quando amedrontados?

A essência da vida não é a sobrevivência mas sim a vida,

estar vivo faz de você uma matéria no espaço, mesmo morto ocupa

matéria no espaço, estar vivo em vida não ocupa espaço, mas

preenche sentido. Os corpos ocupam espaço na matéria tal como uma

casa ocupa um terreno. A ciência poderá explicar cada detalhe

teórico dentro do espaço, mas não poderá explicar porque alguém

dançaria num campo de guerra, um psicopata, ou um lunático e

pessoas que não tem amor à vida, com ajuda da psicologia traçaria

um perfil de como o fenômeno pode ser explicado. Mas não pode,

estar sobre a sobrevivência em vida também é sobre humano, dançar

sobre o campo minado não está nas teorias acadêmicas, está na

nossa esperança.

Talvez ainda estejamos aprendendo os passos dessa dança,

talvez ainda estejamos procurando por algum lugar em que se

esconder, é de se imaginar que nem tudo são flores, mas tudo isso

depende dos olhos de quem vê. Haverá momentos em que desligarão a

música e apagarão as luzes do salão, e é nesse momento sem música


sem público sem luz que o Senhor nos guia sobre os seus pés para

que dancemos e não vamos entender qual seguirá o próximo passo

pois não há música, não há coreografia.

Então vamos aprender a dançar, seremos levados conforme o som

de sua voz e os movimentos vão pairar sobre os braços do Senhor.

Agora dançaremos em campos minados, porque não é a música que está

guiando a dança mas é o som de sua voz e sua verdade. Aqui e agora

nada mais importa.

“Mas Davi disse a Mical: “Foi perante o Senhor que eu dancei,

perante aquele que me escolheu em lugar de seu pai ou de qualquer

outro da família dele, quando me designou soberano sobre o povo do

Senhor, sobre Israel; perante o Senhor celebrarei e me rebaixarei

ainda mais, e me humilharei aos meus próprios olhos. Mas serei

honrado por essas escravas que você mencionou ”


(2 Samuel 6. 22)

Em um modo literal “sobrevida” são motivos de alegria sobre a

vida que nem a morte poderá roubar porque dançar sobre minas

terrestres necessita de uma explicação “sobrevida”.

Ninguém lhes tirará essa alegria.


Agradecimentos
Depois de escrever este livro me pergunto sinceramente se sou

capaz de qualquer coisa por mim mesma, se meus próprios incentivos

e motivações, se somente a minha fé em Deus poderia ter me

sustentado, minha resposta para essa pergunta seria “não”. Não

poderia sequer ter esperança o suficiente para seguir com qualquer

plano ou sentimento ardente do meu coração, por medo ou por

covardia.

O Senhor e sua vida em mim foram os responsáveis pela

presente obra. Seu parecer e sua presença deram vista às

realidades encontradas em seu conteúdo. Ele foi o alicerce para a

construção e os tijolos que formam as paredes tanto quanto foi o

cimento que os une. Ele é o todo, por ele, para Ele, por meio dele

e através dele são formadas essas páginas. NEle minha esperança

esteve contida, me teceu por inteiro. Ele deu ao sonho um

propósito além do que a minha mente seria capaz de alcançar. Muito

maior do que eu, Ele fez acontecer, Ele é.

À minha mãe que esteve por mim como ninguém, fazendo com que

as coisas mais simples se tornassem essenciais. Por ser minha

amiga e companheira, estando ao meu lado, servindo cafés e vivendo

cada mínimo momento no meio de rotinas malucas. Ao meu pai que me

fez rir, me apoiou, conseguiu me dar dias de folga fora da folga,

pelas suas idas à farmácia comprar remédios da gripe que eu mesma

causei por teimosia em não parar nenhum pouquinho. Me protegeu

lembrando que eu não estou sozinha e sou amada.

Aos meus amigos que me fizeram rir e acreditar mesmo quando

todas as coisas pareciam simplesmente desabar, a eles eu devo

grande parte do que sou. A quem pertence o meu coração completo e

sem restrições, os que sabem que são meus simplesmente porque são,
que acreditaram de verdade e inclusive creram sobre a minha crença

que eu seria capaz de alguma coisa, sonharam comigo meus sonhos e

acreditei pela fé que eles tiveram em mim. Àqueles que sorriam e

diziam nas entrelinhas que as coisas iam ficar bem. Ao seus

olhares que trouxeram esperança. Aqueles que leram quando era

apenas um manuscrito mal desenvolvido com pensamentos de um

coração imperfeito. Sou grata inclusive àqueles que se foram com o

tempo, porque apenas suas memórias presentes em mim me fazem

amá-los.
Capítulo 1

Os sobreviventes cuidam para não morrer.


Falar sobre ser um sobrevivente requer o simples fato de não ter

morrido (levando em conta essa ter sido a frase mais óbvia que eu já tenha

dito) porém é necessário compreender na mais pura simplicidade o que

gostaria de tratar. Pois tenho em vista o medo de não ser compreendida da

maneira como deveria se não apresentar de maneira clara este conteúdo.

Com o pensamento que “sobreviver” vem a significar “passar por cima da

vida” “sobre vida” ou manter-se vivo. gostaria de esclarecer então que se

você se considera um sobrevivente então não, você não cumpriu a passagem de

Mateus 24.13 - “quem perseverar até o fim será salvo”. Pouco antes desta

declaração, Jesus jogou sobre os discípulos tudo que eles haviam de passar.

Sou capaz de ouvir essa passagem em uma frase simples: “se querem fugir, a

hora é agora”.

Entretanto o homem tem uma capacidade incrível que poderia ser

admirável se não fosse tão repulsiva, que é o talento de manter uma imagem.

Imagem que é muito bem desempenhada e até faz o ator se sentir bem em vista

que sua imagem é exterior. Então o reconhecimento que ele busca é de outras

pessoas e não de si próprio. É a habilidade de viver com a própria podridão,

mas não permitir ninguém ver, por que é mais fácil trilhar os dias em um

esgoto do que viver na luz do dia com pessoas sabendo que um dia você viveu

no esgoto.

O olhar das pessoas se torna mais gratificante do que o olhar que ela

tem de si mesmo. Por outro lado, dentro do cristianismo você não convive só

dentro de si, nossos corpos e nossas mentes são tratados como casa. E se

conhecemos a Cristo e estamos nesse estado deplorável o Senhor faz uma venda

de garagem. Tal venda de garagem coloca as coisas para fora, às vezes à vista

de todos, outras vezes não. A realidade é que o homem pode sim viver com todo

o seu lixo dentro de si e manter-se vivo, já o Senhor não habita no meio

disso, o Senhor faz vendas de garagem, ele abre as nossas portas e por muitas

vezes isso dói mais do que imaginamos que doeria, mas quando tudo foi vendido

temos uma garagem limpa e uma casa em ordem e espaço para um convidado mui

desejado.
Esse foi o exemplo daquilo que o Senhor pode fazer se nós permitirmos

que ele faça, mas a questão principal aqui é que as portas da casa podem

estar fechadas e cheias de tralha e entulho por dentro, porém a casa continua

de pé e continua ocupando espaço dentro do terreno. O dono provavelmente

limpa a frente de sua casa diariamente e não nego dizer que possivelmente

coloca parte da sujeira que aparece na frente da casa para dentro. Diante de

aplausos é muito fácil confundir o que você é e o que os outros pensam de

você.

Viver assim é viver no modo sobrevivência, não estou para condenar

tais sobreviventes, às vezes não somos sobreviventes, mas entramos no modo

sobrevivência, é apenas perigoso que isso se torne permanente, é perigoso que

você crie gosto pelo modo sobrevivência, que você se afaste do mundo real de

tal modo que já não consiga discernir o que realmente está fazendo e por que

realmente estás fazendo por que o seu objetivo se tornou mais do que nunca se

manter vivo.

O que eu posso chamar de destino mais egoísta possível. No meio de

uma guerra você não sai a luta pela sua vida, se estivesse zelando pela sua

vida teria fugido do alistamento e não da guerra, em uma guerra a sua vida é

dada por uma causa maior, pelo bem de seu país, pelo bem de seus entes

queridos e muitas vezes pelo seu irmão de farda. Não se trata de ter saído

vivo ou não, não é errado ter sobrevivido de maneira literal, errado é buscar

a sobrevivência acima do que importa.

Não quero ser uma extremista aqui dizendo que você deve morrer pela

causa, mas também não vou falar por meio de enigmas, a causa dessa vida única

e suficiente é Cristo, se Cristo não vale a sua vida, então nada mais vale,

sem dúvida você pode desfrutar do seu modo sobrevivência e ser feliz dessa

maneira se você acha que essa é a verdadeira felicidade. E é claro muito mais

que óbvio que quando as colocações são “morra pela causa” eu não estou

falando de morte a vida espiritual, eu estou falando de morte a sua carne, de

renúncia, de deixar aquilo que de alguma maneira lhe é importante por causa

de Cristo e pela sua vontade.


É realmente complicado tratar deste tipo de assunto pois é pessoal,

ninguém entra em sua casa bagunçada a não ser que você queira e ninguém é

capaz de descobrir que um corajoso combatente de guerra que luta por seu país

tem medo de morrer e talvez na hora da verdade quando não sobrarem pessoas

para contarem a história, o sobrevivente não contar que ele não foi o cara

que se deitou no arame farpado, na verdade alguém se deitou no arame farpado

por ele. por esse motivo cada um sabe de si.

Mas como eu disse anteriormente, não condeno os sobreviventes, já

entrei no modo sobrevivência algumas vezes, porém uma experiência em sala de

aula uma vez me fez parar de uma vez por todas. um dos meus professores de

teologia entrou em sala e com o semblante até meio abatido como quem tinha

vivido muito dia para um dia só, começou a entrar na matéria, mas como todo

bom professor ele fugiu do tema que estamos tratando e começou a falar sobre

a vida real. Lembro da voz dele gritando “VIVAM!”, parecia um clamor

desesperado de quem queria que nós víssemos com nossos próprios olhos a vida.

E seguidamente ele repetia “VIVAM! VIVAM, não passem a vida de vocês

cumprindo prazos e entregando trabalhos, não sejam robôs que vivem no

automático”.

Essa foi uma das palavras mais fortes que eu já havia ouvido em toda

minha vida e eu acabara de fazer 14 anos, mesmo assim preencheu meu coração,

de uma maneira que eu não consigo me lembrar com clareza qual era a matéria

de teologia que estavamos tendo, mas com certeza eu levei dali ensinamentos.

E isso com certeza é uma das coisas pela qual vale muito a pena, eu posso não

lembrar com clareza o tema daquela aula, (claro que eu conheço a matéria) mas

não foi uma aula teórica que me marcou, eu não vivi a teoria daquela aula, eu

vivi a emoção daquele homem cheio do Espírito Santo que não queria que nós

vivêssemos de qualquer maneira.

É esse tipo de coisa que o modo sobrevivência roubaria de nós, o modo

sobrevivência passaria por cima daquela aula, levaria aquela aula como

simples teoria, com certeza anotaria o que foi dito para manter o caderno de

notas completo, mas não levou ao coração e nem sequer pensou sobre a maneira
a qual poderia estar vivendo. O modo sobrevivência suga a vida de nós, a vida

que é vivida em Cristo. eu nunca acreditei que esse é o destino do Senhor

para as nossas vidas. Pregamos um evangelho de vida, as igrejas cristãs

pregam um evangelho de vida e amor. O que vamos levar para as pessoas se nós

mesmos não tivermos desfrutado da vida que a salvação promete.

Como já mencionei em Mateus 24, não seria fácil, mas a questão é que

esse mundo é terrível, e é impossível de alguma forma não ter dificuldades, a

questão é ter um motivo para lutar. O mundo todo é um completo caos e todos,

TODOS estão em guerra. Quem tem uma causa vive e morre por ela, quem não tem,

se preocupa em manter uma vida mesmo que não a viva. As pessoas que realmente

vivem não temem a morte, porque a vida vivida toca o presente e são

satisfeitos em Cristo sabendo que são completos e podem ir, mesmo que seja

pouco o que viveram valeu a pena em cada instante. Já os sobreviventes não

viveram, mesmo que velhos e com muitos anos de “vida”, não podem morrer por

que nada valeu a pena e nada foi feito, então o que lhes resta não pode ser

perdido.

O soldado que morreu em guerra é sempre mais honrado do que aquele que

voltou pra casa e o motivo pela qual não mataram a Jesus um pouco antes foi

por medo de fazerem dele um mártir. Por fim, eles não fizeram de Jesus nenhum

mártir, ele mesmo se deu por nós. E se o próprio Cristo viveu e deu sua vida

por nós, que outra causa pode ser mais importante que essa. Se Cristo teve um

ministério de 3 anos e fez infinitamente mais do que qualquer Cristão em uma

vida inteira, por que existem cristãos que se recusam a viver?

Creio ser interessante ressaltar que o que deve ser vivido não é

apenas as alegrias, não estou falando pra todos nós nos sentamos ao redor de

uma mesa e conversar e se divertir. Quando falo de vida me refiro a viver o

todo, esse todo se trata de dor, angústia, tristeza, amor, luto, renúncia,

trabalho, alegria, risadas e tudo que vier no pacote. Um bom exemplo foi um

dia em que estava estudando e fazendo alguns trabalhos e tinha um texto do

Monteiro Lobato para interpretar. Toda semana eu fazia isso, mas na maioria

das vezes eu apenas fazia, procurava pelas respostas das perguntas pelos
textos. Mas esse texto do Monteiro Lobato eu o li com o coração e não só

isso, mas dei boas gargalhadas sozinha.

É disso que se trata, sobre não fazer de qualquer maneira, sobre

deixar com que tudo seja parte da nossa vida, tudo pela qual passamos faz

parte da nossa caminhada, temo que se me negar a passar por certas coisas não

estarei moldada de maneira completa no futuro e assim talvez falhe em tarefas

que haviam sido para mim de antemão designadas. Penso que talvez um dia o

Senhor coloque no meu caminho alguém que seja apaixonado pelos contos do

Monteiro Lobato e assim eu tenha uma porta aberta para ganhar essa pessoa

para Cristo.

Portanto eu aprendi sem dúvida nenhuma que nada é por acaso. Ser um

sobrevivente faz com que muitas coisas sejam negligenciadas, ser um

sobrevivente não vale a vida que você custou para manter. O sobrevivente não

é capaz de viver as coisas boas por que não vive nada. Ele passa a tornar

tudo que acontece em sua vida de maneira simples, ele torna o extraordinário

em ordinário. O objetivo dele é simples e apenas passar por cima daquilo.

Um sobrevivente não dança quando a melhor música toca na rádio, porque

ele está preocupado com a sua postura de maduro e sério, está preocupado com

opiniões de terceiros. Por isso não dança, não ri de uma piada ruim, mesmo

que ela tenha sido péssima, pois existem tantas coisas para se pensar.

Eu voltarei então a dizer que eu não condeno tais sobreviventes,

muitos deles sofreram de modo que querem inibir todo tipo de sentimento que

façam com que eles sintam um mínimo de dor ou remorso talvez inibir tudo que

possa trazer a eles arrependimento, e arrependimento gera mudança. O modo

sobrevivência é fácil, não se importar e perder toda a sua humanidade, aliás

se você nunca teve nada, você não perde nada e não sofre a dor da perda.

Imagino que todas as pessoas já devem ter sofrido a perda de alguém e

não estou aqui falando apenas de morte, estou falando de perder amigos,

perder amores, companheiros de batalha. Após uma perda imensurável como essa

geralmente as portas do nosso coração tardam a abrir novamente e até o mais

fiel dos combatentes entra em modo de sobrevivência.


Li um texto uma vez que dizia: para ser presença é necessário se

permitir ser a dor da ausência. Um outro que dizia que é impossível ser feliz

o tempo todo, nunca teríamos conhecido a felicidade se não tivéssemos sentido

a tristeza. (peço perdão aos grandes poetas que compreenderam esse assunto,

mas eu não lembro quais os seus nomes para fazer uma referência decente,

provavelmente foi o tipo de frase que eu li em uma parede de cafeteria ou em

texto da escola secular) É exatamente disso que se trata, esse contraste com

os sentimentos, quando se negligencia a dor você negligência a alegria,

quando se negligencia a ausência de alguém também negligência a presença.

Quando se negligencia a obra de Deus você negligencia o peso de Glória e a

coroa de honra que nos aguarda nas mansões celestiais.

Quando se negligencia o processo você negligencia o resultado, e nesse

ponto eu poderia te parabenizar porque se você foi capaz de negligenciar

todas essas coisas, você não tem presença nem ausência, nem dor nem alegria,

nem luto nem celebração.

O sobrevivente também é cego, ele segue esse caminho aleatório a qual

ele não pode enxergar, ele não pode contemplar, talvez apoiado em alguém ou

apalpando as paredes ele anda por vários lugares e sua presença não pode ser

negada, ele não sabe o que está fazendo nem para onde está indo, mas ele está

lá. Estar não é o suficiente, precisa ser. E para ser é necessário conhecer,

entender. E eu fico pensando em como vou explicar isso, como explicar que é

necessário mergulhar de cabeça, não, eu não estou dizendo que você “pode”

mergulhar de cabeça, eu estou dizendo que você deve mergulhar de cabeça.

Ou fique na areia, nem coloque os pés na areia, fique em casa e tenha

uma vida de sobrevivente. Não conhece verdadeiramente ao Senhor aqueles que

não se jogam na água. Não estou escrevendo para que você tem que virar um

pastor, abandonar a sua casa e ir para as missões internacionais. Eu só estou

dizendo para desfrutar de todo o processo que o Senhor colocou diante da sua

vida e se entregar inteiramente. Estar comprometido.

Se jogue no mar e nade até você não controlar mais o seu próprio

destino, acredite em mim, chegar lá vai ser difícil, sair de lá vai ser fácil
também, (o modo de sobrevivência nos prega peças) mas estar lá, estar lá é

maravilhoso de maneiras que você é levado pelas ondas que não avisam. Esse

mar te faz estar completamente SUBMERSO.


Capítulo 2

Submerso (seja um peixe).


Então a essa altura do campeonato ser submerso não é ser um

sobrevivente, é ser “vivo” estar vivo em Deus. Viver submerso em Deus. Em

Marcos 8 temos uma situação em que Pedro declara que Jesus é o filho de Deus

e logo depois ele não quer a morte do Cristo, mesmo sendo esse o propósito de

Deus. Jesus repreende Pedro fortemente. Jesus diz a Pedro que ele estava

vendo as coisas a partir do ponto de vista humano e não do ponto de vista de

Deus.

Essa frase será primordial, “ponto de vista humano” e “ponto de vista

de Deus”. O seu ponto de vista depende do lugar em que você está e como você

se coloca ali. Enxergar uma paisagem do alto de uma montanha é inteiramente

diferente de ver de qualquer outro lugar. Imagine ver o “além”, como muitos

gostam de chamar os raios de sol atravessando as montanhas, simplesmente

aquela vista inexplicável que você pode contemplar quando termina uma trilha.

Que não existiriam palavras.

Inexplicável e quase impossível de descrever, mas se descrevêssemos a

quem nos perguntasse diríamos: vejo árvores, vejo o sol, vejo o céu, vejo as

nuvens e um silêncio ensurdecedor. Ao descrevermos isso toda a magia que

envolvia a paisagem se perdeu. Porque a paisagem não foi contemplada, mas foi

listada como uma lista de elementos. Esses elementos quando separados da obra

se tornam simples como o cotidiano.

A paisagem contemplada de uma cidade teria sobre ela a sombra de fios

de luz e toda a selva de concreto que impediria uma visualização perfeita da

obra. Partindo daí é óbvio que estar no lugar errado te dá a perspectiva

errada sobre uma situação. Por isso estar submerso foi o melhor exemplo que

eu encontrei para explicar a questão do ponto de vista.

Se você já mergulhou na parte da piscina que não lhe dava pé você com

certeza sabe que é quase impossível ouvir com clareza qualquer coisa que é

dita no exterior da piscina. Geralmente estar submerso é estar inteiramente

dentro da água, o que quer dizer que nada fora dela fará sentido.

Esse seria o ponto de vista de Deus, você provavelmente entendeu que o

mar aqui do qual eu me refiro é Deus, estar mergulhado nesse relacionamento.


Assim nada fará sentido sem Deus. Os elementos da paisagem podem ser lindos

fora da paisagem, mas não estão completos fora dela.

Mas quando eu falo sobre estar submerso não trato como esconder-se da

“realidade” ou esconder-se da guerra que travamos, quando falo sobre ser

submerso falo sobre ponto de vista, ou mais especificamente sobre como você

vê tudo isso. O que chamam de “realidade” normalmente é usado como argumento

para chamar um cristão genuíno de fanático.

Agora que apresentei um pouco da parte profunda, posso falar dessa

“realidade” que tanto falam, posso apresentar a parte exterior, a parte fora

da água, o raso, a “realidade”. Vou tentar colocar nessa breve ilustração;

vivemos aqui neste mundo com trabalhos, estudos, rotinas e cotidianos. (Use

sua imaginação agora para criar esse cenário) Todos nós no passado vivíamos

em um reino de Glória com um grande rei, havia paz e grande harmonia, até

então o momento em que parte dos súditos desse rei desertaram do povo e

renunciaram à sua nacionalidade e deixaram o reino.

Foi uma ótima oportunidade de rebelião muitos no meio do povo, porém

muitos permaneceram junto ao rei honrando-o. até chegar um momento em que

muitos dos desertores não haviam saído do meio dos fiéis e nem se declarado

desertores, mas estavam no meio do povo com o objetivo de levar mais e mais

súditos do rei para fora do seu reinado com a tentativa de derrubar o grande

rei.

Como uma “jogada mestra”, o inimigo do grande rei, aquele que liderava

a rebelião, lançou uma maldição que levou todos que estavam nesse reino para

essa terra a qual conhecemos e todos que viviam ali perderam a memória e já

mais ninguém podia se lembrar do que acontecia.

O inimigo que já estava comemorando a sua vitória sentiu uma derrota

quando viu que os verdadeiros súditos do rei conseguiam encontrar ele, mesmo

naquela terra de angústia que ele os tinha enviado. Após perceber tais

acontecimentos passou a usar de suas artimanhas para fazer as pessoas

gradativamente esquecerem de quem elas mesmas eram. A única coisa que o

inimigo podia fazer para ganhar era de alguma forma impedir que eles se
vissem como verdadeiros filhos do grande rei, por que uma vez que os súditos

se viam como filhos do grande rei sabiam que o inimigo não poderia lutar

contra eles, de modo que continuando fiéis eles poderiam voltar a sua

verdadeira terra, ao palácio do grande rei, para suas casas.

Assim concluída essa ilustração e eu realmente creio que os leitores

dessa obra já compreenderam o que eu realmente quero dizer com essa

ilustração, do mesmo jeito, eu tenho de dizer que se você descobriu que toda

a sua vida foi uma mentira e que na verdade lutamos contra potestades e não

contra sangue.

De maneira geral o mundo caiu nessa maldição de não poder se lembrar

do próprio criador. Foi colocado sobre esse povo um lençol de “realidade” em

que ter uma vida normal é sensato e ser bem sucedido para viver do material

para ter uma vida boa da qual você não pode levar nada porque a única certeza

que todos têm em vida é a morte, ninguém dentro dessa “realidade” pode

impedir a morte.

Estar submerso na verdadeira realidade não é ser maluco, é ser

sensato, por isso eu admiro tanto aqueles que realmente consideraram as

coisas do mundo como uma loucura, como uma verdadeira lavagem cerebral. O

inimigo fica à espreita tentando nos chamar de loucos por não viver na

“realidade falsa” que ele criou para todos nós. É por isso que tem cristãos

que se auto declaram loucos, são loucos mesmo, por jesus e por jesus apenas.

Tudo isso por ser submerso, por ter aceitado o verdadeiro destino.

A palavra de Deus diz que nós teremos novos nomes, exatamente porque o

que passa aqui não é real. Tem um inimigo sempre tentando esquecer quem nós

somos, tem alguém tentando fazer uma lavagem cerebral nas nossas mentes dia

após dia. Corremos risco de morte dia após dia.

E eu posso com muita naturalidade voltar ao texto de Mateus 24, não é

fácil. E posso com naturalidade dizer que quando Pedro viu as coisas do ponto

de vista de Deus por um momento, logo ele viu pelo ponto de vista humano. A

explicação para essa afirmação ao meu ver sempre foi muito simples. Pedro

entrou no modo sobrevivência, em menos de segundos.


Apenas para o esclarecimento geral, Jesus perguntou aos seus

discípulos “quem vocês dizem que eu sou?” Pedro em prontidão disse: “tu és o

Cristo, o filho do Deus do vivo” (vamos chamar essa cena de “primeiro ato”).

Após essas palavras Jesus falou sobre sua morte, (essa cena chamaremos de

“segundo ato'').

No primeiro ato Pedro estava deslumbrado pelo fato de andar com o

próprio messias e em seu coração contemplava isso e creio que ele até tenha

dito a frase um tanto orgulhoso. No segundo ato Pedro ouvindo sobre como

Jesus morreria, entrou no modo sobrevivência. Ele ouviu que perderia seu

mestre e frustrou a esperança de que ele tinha onde em algum momento na vida

de Jesus ele desembainhou a espada contra os romanos e acabaria com toda a

dor de ser subjugado por aquele povo.

No segundo ato Pedro viu seus castelinhos sendo destruídos e

arruinados, em segundos, Pedro construiu muros contra tudo aquilo, mas neste

momento em que Pedro constrói muros para a dor, ele constrói muros para a

vida que seria vivida com Cristo. (Já falamos sobre isso, se você nega a dor,

você nega a alegria)

Ou seja, Pedro entrou no modo sobrevivência e construiu muros para que

suas esperanças não o frustrarem e nesse momento que ele fechou, o Senhor foi

claro em dizer que as palavras de sua boca eram de satanás. Pois é satanás

quem constrói o caminho fácil, é satanás que tenta nos dizer que não estamos

em guerra.

A imagem simples que aparece em minha mente é Pedro maravilhado com

Cristo e submerso, literalmente submerso, dentro da água, ouvindo tais coisas

e dentro da imensidão do amor de Deus. Até ouvir coisas que lhe assustaram,

nesse momento ele cai em si e sai da água assustado e até meio afogado. Em

segundos Pedro sai da submersão e é atingido em cheio.

Se for possível não permita a si mesmo sair da água, se for preciso

seja um com a água, seja um peixe. Respire o mar, nade no mar viva nesse

mar., mas nem por um segundo se atreva a viver na falsa realidade que esse

mundo oferece, não caia nas charadas que dizem ‘caia na real” continue nessa
realidade. Seja um peixe, seja qualquer animal marinho que você quiser, mas

não ouse duvidar de que fazemos parte de um outro reino, de um outro lugar e

se você começar a se esquecer de onde você veio e onde é a sua casa creio que

sua chance de voltar ao desconhecido é minúscula. Você jamais voltará para

casa e jamais será completo.

Não apenas esteja na água com a cabeça para fora e pensando, você não

pode só estar, não quando há uma profundidade indescritível de água que não

são conhecidas e um Oceano infinito de uma paixão inesgotável. Você não pode

só estar, precisa fazer parte também, precisa ser um com a água fazer da água

a sua casa. Esteja submerso na sua verdadeira realidade. SEJA UM PEIXE!


Capítulo 3

Criando raízes em solo pedregoso.


Convenhamos, eu posso dizer que é completamente impossível estar

submerso quando se está usando uma boia. Boias podem ser essas coisas que não

entregamos ao Senhor como podem ser aquilo que não é nosso para que

entreguemos ao Senhor. O que na realidade já é dito e feito pois qualquer

coisa fora do nosso controle está no controle do Senhor. A questão é que a

boia a qual me refiro é a sua situação, o seu solo pedregoso, seja um solo

bom ou com espinhos.

O “seu solo” é a “sua realidade”, por mais que eu ame tratar o reino

de Deus como o reino do grande rei da qual fomos tirados e trazidos para esta

terra, é bom lembrar que ao sair de lá não estamos mais em um campo de

flores. A plantação de solo aqui é diferente. O inimigo nos colocou em um

mundo que é de sua “propriedade” (o mundo jaz no maligno) e nos mandaram a

esse mundo sem memória da nossa verdadeira casa, exatamente para dificultar

que encontremos ao Rei, ou seja, não é fácil crescer. O solo para o plantio é

completamente diferente, ele é pedregoso.

O nome do capítulo não é em vão, as pedras não serão tiradas, as

raízes têm de crescer mesmo em solo pedregoso, é isso que faz com que

possamos ver a qualidade real dessas das plantas. “não rogo para que os tire

do mundo, mas que os livre do mal”, foi o que Jesus disse em oração ao Senhor

sobre nós. Ou seja, até a hora própria não sairemos deste mundo.

Não é um campo de flores e como já dito realmente não será fácil, o

cerne da questão aqui é que não estou tratando dos problemas já pertinentes

em Mateus 24, estou falando dos bônus. Estar no meio do mar em total

confiança em Deus e submerso já é uma grande dificuldade, mas estar nessa

situação com uma boia torna isso difícil, mais difícil.

Ainda é o terceiro capítulo, porém eu vou me atrever a apresentar mais

uma ilustração. Nesta vida (nesse meu período curto de vida que tem sido

muito bem vivido eu confesso) um dia enquanto eu passava pela beira de uma

praia eu vi uma árvore linda, porém ela estava em uma rocha. E pra todas as

pessoas que eu contei me questionaram inúmeras vezes sobre a impossibilidade

de tal fenômeno. Árvores crescem em terra. E em terra boa.


Grande mentira, creio que a árvore é quem determina como está o seu

próprio solo. Creio que para que uma árvore possa nascer em um terreno

pedregoso, será difícil, mas ela pode se manter viva se decidir estar viva.

Como aquelas flores que nascem na beirinha entre a calçada e asfalto que te

fazem lembrar esperança.

Quem tem limões faz limonada e quem tem um pouco de terra planta um

jardim. Quanto ao “fenômeno impossível” que eu pude presenciar, eu também não

tenho uma opinião sobre isso, possivelmente pensando pelo meu lado racional

provavelmente teria um buraco naquela pedra e talvez terra dentro para que a

árvore pudesse crescer, não tem como saber. Eu não vi a terra. E Deus falou

fortemente ao meu coração naquele dia dizendo: “depende de você mesma querer

crescer”, então por mim eu prefiro acreditar que era puramente uma rocha. (Já

para aqueles que se dedicam ao estudo de plantas, fotossíntese e afins,

perdão a minha ignorância acerca do ciclo natural das coisas quanto ao fato

da raiz precisar de terra.)

Mas o meu objetivo de maneira alguma é contradizer o fato da planta

nascer com terra, água e luz do sol, esse não é um livro sobre plantas, usei

plantas para falar da vida cristã e nesse caso eu posso dizer que você decide

se você florescerá ou não. A carta que jeremias enviou ao povo que estava em

exílio dizia; "plantem vinhas e edifiquem casas.” Ou seja, se estabeleça. E

se preciso escute a frase brega que está presente em qualquer cafeteria e

“floresça onde Deus te plantou”.

Não existia uma notícia pior para o povo que queria libertação. Dizer

para quem estava fora de casa que o resgate não vem, que você deve ficar ali,

apenas desfazer as malas e estabelecer a sua casa porque ninguém vem te

buscar. Ninguém vai te tirar dali agora. Aquela era a vontade absoluta de

Deus e não é tão fácil, não é um campo de flores.

De vez em quando me encontro em momentos que se tornam uma boia para a

âncora que me leva para mais fundo. Por favor imagine agora de maneira

simples estar no meio do mar, entre o fundo e a superfície, eu disse no

início que as pedras eram as coisas que não poderiam ser tiradas da terra e
que as bóias eram as coisas que nem sempre tínhamos como nos livrar. Se você

realmente não se livrar da boia ou das pedras, as boias continuam na

superfície. Sempre serão parte da sua superfície e por um longo período de

tempo será tudo que as pessoas irão ver.

Suas boias são suas ao mesmo tempo que você as tenha abandonado, não

se trata de tirá-las da sua superfície, mas de se manter longe delas. Nesse

momento, se manter longe das boias é uma responsabilidade de quem quer estar

no fundo. Para as pessoas que querem estar na superfície, as boias estão lá.

Tudo que eu posso dizer é que as pessoas que te conhecem pela superfície

apenas te viram quando você saiu da submersão, ou seja, as boias para algumas

pessoas vão sempre determinar quem você é. A não ser que você desapareça da

superfície.

As mesmas pessoas que te conhecem pela superfície são as pessoas que

te jogaram as boias como uma tentativa de “salvamento”, te chamando para a

“vida real”. Quanto mais longe da superfície você estiver, menos essas boias

serão jogadas, por que mais pessoas vão acreditar que você foi fundo demais e

morreu. É exatamente isso que eu quero dizer com crescer em terreno de

pedras, em meio a perigos e em meio às dúvidas e em seu solo, no seu círculo

de convívio. Você não pode simplesmente se fechar dentro de sua casa longe de

tudo que é mundo e fingir que não existe nada além disso, não tem como tirar

essas pedras. Essas pedras são o mundo de mentira, essas pedras, essas boias

ou como você prefira chamar, são sempre esse algo que te faz duvidar, é isso

que te faz esquecer sua identidade e geralmente são essas coisas que tocam

nossas feridas a ponto de nos colocar de volta no modo sobrevivente.

O povo quando estava construindo a torre de babel estava totalmente

confortável vivendo entre eles e não se importaram em se separar. Viver nesse

contexto de conforto nos faz tomar decisões malucas como construir uma torre

por apenas não obedecer a uma ordem. Conforto no dicionário da autora desse

livro também quer dizer tédio e tédio normalmente te coloca em posição de

inventar coisa para fazer, o que te põe em posição de ser um completo

desocupado.
Faça o que precisa ser feito e cresça em uma rocha se for preciso por

que crescer em uma rocha é melhor do que virar lenha para fazer fogo.

A real questão do seu próprio solo é que é “A REALIDADE” (continuo

repetindo isso como se eu não fosse capaz de esclarecer da maneira certa).

Contamos aqui com duas realidades, uma delas é uma farsa, e a outra é a

verdadeira. Porém você vive na farsa e precisa constantemente lembrar que é

uma farsa por que essa farsa pode ser traiçoeira, ela parece real.

Geralmente quando a sua “farsa” se torna muito real é muito difícil

dizer que ela é mentira. Quando você obteve bons resultados na “farsa”,

quando você encontrou o amor na realidade de fachada, quando sua família é

feliz e você é um bom cidadão com bons valores. A partir desse ponto de vista

não é fácil aceitar que tudo o que você vive é uma farsa, por que de alguma

maneira a farsa se tornou boa e conveniente para você.

Ou até quando a sua farsa é terrível, quando sua família está

destruída e tudo que você sentiu sobre um amor te frustrou, quando tudo se

torna ruim, quando você escuta constantemente sobre como você é um eterno

fracassado. Nesse contexto a farsa grita. Ela estoura os tímpanos, as

mensagens que chegam a você na maioria das vezes são como você usa da

religião para encobrir seus fracassos, e como você se envolveu em acreditar

nessa realidade para fugir dos seus problemas.

Essas são as boias. Cada grito que a “sociedade” da farsa grita, todas

as pressões que impõem sobre os que vivem na verdadeira realidade. Vem do

mínimo das coisas. Ao entender que você não pertence a esta terra e que não é

cidadão daqui você pode se contentar em ser um completo rejeitado por todos.

Porque o curso natural da realidade da farsa é andar de navio por sobre as

águas. O mundo inteiro conhece o mar e tem a audácia de andar por sobre essas

águas sem mergulhar, chegar perto e não conhecer, fazendo um trabalho de

salva vidas que eu poderia facilmente chamar de gente que faz lavagem

cerebral.

Essas pessoas são aquelas que sabem que a maior parte da sociedade tem

fundamentos do cristianismo e foi fundada com esses valores. O fato é que se


realmente as pessoas começassem a reconhecer a “verdadeira realidade” a

realidade farsa ia declinar até ser totalmente destruída. Não acredito,

porém, que exista um grupo de gente que conscientemente coloca seus esforços

em fazer todos os seres humanos a esquecerem de que vieram do céu e foram

feitos para o céu. (tirando os próprios demônios é claro)

Mas creio sim que existem pessoas que se frustraram com a religião e

discordam dela em todos os sentidos possíveis e muitas vezes são usados por

satanás para jogar boias e te tirar do fundo do mar. Então não, não será

fácil em nenhuma circunstância, mas não lute contra as boias nem contra as

pedras, cresça ali. Apesar de tudo, cresça mesmo assim, mergulhe na realidade

real, trabalhe no território do inimigo contra o inimigo. Vai ser realmente

lindo quando as boias forem jogadas e você simplesmente virar as costas

porque você sabe exatamente o que quer. Não sabe como nem onde, mas sabe que

tem que mergulhar. Não embarque em navios. Seu lugar é no mar. Não procure

por aquários, não tente prender toda a imensidão do mar em um pote limitado

só para que você faça parte.

O grande erro da maioria das pessoas é pensar que está no mar

simplesmente porque conhece o mar ou porque já mergulhou uma vez ou por um

milhão de motivos. Então essas pessoas têm aquários porque queriam o mar,

queriam ao Senhor, então pegaram a sua garrafinha mística parecida com a que

eles carregam a água benta e tomaram aquilo como um objeto que tira a sua

culpa de não ter mergulhado. Então eles carregam aquilo que eles conhecem

como se fosse uma certeza e o desencargo de consciência.

Eles têm seus aquários quebrados, mas pude compreender que nascemos

para o mar, e jamais seremos felizes fora dele.


Capítulo 4
Ativando o modo sobrevivência.
Por mais confuso que possa parecer, existe um momento na sua vida que

o modo sobrevivência vai ser realmente necessário e acredite ou não, é para

sua própria sobrevivência. Foi bem enfatizado no capítulo 1 que eu não abri

um julgamento aos sobreviventes na realidade é preciso estabelecer um limite

e uma diferença entre “ser um sobrevivente” e "precisar sobreviver” e pode

ser colocado no “ser e estar” ou seja você pode ser um sobrevivente ou estar

sobrevivendo. A segunda alternativa não é a problemática.

Falando de guerra se entende que sobreviver não é ruim, mas não se o

seu único objetivo for sair vivo, então sobreviver te torna covarde, esse

capítulo mostra como você ativa o modo de sobrevivência e sobrevive e isso

acaba te tornando muito mais corajoso do que pensava.

A dor aciona um gatilho para a sobrevivência, assim como Pedro no ato

2, quando sentiu que teria de viver sem seu mestre e sua autopreservação

falou mais alto que a parte dele que estava submersa. Cada vez que uma parte

de nós sente que vai desabar ou que algo vai ser tirado de nós é quase

automático entrarmos em modo de defesa. geralmente isso acontece em guerra,

depois que todo seu pelotão morre e você fica em terreno desconhecido. Você

já não tem alguém por quem se atirar na frente de uma bala ou alguém que você

precise proteger, esse momento da batalha é uma luta em que você luta

sozinho, e é totalmente permitido que você entre no modo sobrevivência e zele

pela sua vida.

Aqui é permitido e necessário que você entre em modo sobrevivência por

fatos não tão simples. Você tinha um pelotão com pessoas que querendo ou não

você passa a confiar e a dar a vida por elas, se tornam seus irmãos. Mas por

estar em guerra você já perdeu companheiros outras vezes, um ou outro e isso

teoricamente se torna normal. Mas voltar pra casa depois de um ano ou mais na

linha de frente e saber que tudo que você pode ter das pessoas que lutaram

lado a lado são memórias.

Antes, quando a teoria se tornou simples e perder os companheiros de

batalha tinha se tornado comum quando se parava para pensar sobre isso,
também se tratava isso como se fosse parte da guerra e eu tentava não dar

tanta importância, na verdade tentava esquecer. Mas não se pode subestimar

isso. Quando o primeiro tiro atingir um aliado fiel e uma granada fazer os

outros voarem para longe, tudo que se sente são todos os tipos de bloqueio

possíveis para não sentir aquela dor e não aceitar que ficou sozinho

espontaneamente o soldado vai fechar os olhos por meros segundos tentando não

ver em que situação ficou e então vai sair tentando fazer curativos e talas,

e ressuscitação, por não aceitar aquela realidade, aquele ressuscitamento

pode durar horas, o que trazendo para realidade pode durar meses.

Então vocÊ aceita que não há nada que você possa fazer, mas o estágio

agora é lidar com isso, e não é lidar com a morte, você já lidou com a morte

de soldados antes mas para lidar com essas mortes os seus aliados fiéis ainda

estavam com vocÊ, agora o estágio é lidar com a morte de um soldado olhando

em volta de tudo e não vendo nada além de corpos estirados e barulhos de

armamentos se descarregando. Você já está dando a vida por essa guerra dia

após dia, então é fato em seu coração que a guerra não terminou por causa da

morte do seu pelotão. vocÊ sabe no seu coração e na parte racional que

existem mais de sete mil soldados espalhados em campo e fora de campo que não

abaixaram a guarda diante do inimigo. Mas quando tudo que a sua visão tem

acesso é a corpos estirados e o som de disparos é muito difícil ouvir o

coração.

E quanto mais tempo você demora para aceitar tudo mais tempo sua mente

tem para bolar estratégias de fuga, você começa a pensar em “porque foram

eles e não eu?”sobreviver começa a ser um destino pior do que a morte. Então

as certezas no seu coração vão começar a se dissipar porque você entrou no

modo sobrevivência no segundo em que o primeiro disparo foi feito e no

segundo seguinte em que soltaram o pino da granada. O modo sobrevivência faz

com que a sobrevida do sobrevivente esteja em perigo, mas ainda assim é o

modo mais seguro. Vão existir as perguntas do porquê essa guerra precisa

existir?, e se existe qual a sua relação com ela, “porque continuar lutando?”

Pouco a pouco o modo sobrevivência transforma sua tristeza e angústia em


raiva, porque é mais fácil de lidar. Começam todos os questionamentos que

fazem com que vocÊ queira se jogar na frente da bala por quem já morreu,

começam os questionamentos que te fazem nunca querer ter se alistado e se

pergunta se aquela coragem toda que você tinha no começo ainda estaria viva

se você tivesse se contentado em viver um vida de civil. Se casar, ter seus

filhos e um emprego que você sonhava toda a vida que você achava medíocre

agora é a mais perfeita expressão de paz.

O modo de sobrevivência foi ativado nessa situação por que você ainda

estava em terreno de guerra, não era um luto em casa, ainda eram feitos

disparos então mesmo com todas as coisas dentro de vocÊ em pedaços e

duvidando do sentido de tudo aquilo, sentindo raiva dos comandantes que mesmo

com homens morrendo mandavam mais e mais soldados para morrerem em linha de

frente. Se você não estivesse no modo sobrevivência aqui, provavelmente já

estaria morto.

Está no modo sobrevivência porque não existem motivos visíveis para

lutar por si mesmo.quando não se tem mais nada a perder e a sua vida não lhe

é mais preciosa então se não houver medidas drásticas como ativar o botão de

sobrevivência, então não demoraria a vocÊ ser mais um no chão. em uma

situação assim, sair do modo sobrevivência se torna quase impossível. Por que

é nesse momento que você gostaria que não houvesse guerra, há o momento que

você gostaria de deixar a guerra, mas sabe que os desertores são a pior raça

que você poderia ser e não pode de maneira nenhuma permitir que o inimigo

ganhe a guerra que matou seus compatriotas.

Dentro do contexto em que estamos realmente tratando, a vida em si vai

mostrar os aspectos de uma guerra. Mas uma das descobertas mais incríveis mas

também uma das piores é que nada vivido fora do modo sobrevivente pode ser

verdadeiramente apreciado se não for compartilhado. os relacionamentos com

outrem são um dos combustíveis para viver. são eles que fazem com que a nossa

alegria seja completa, é com eles que compartilhamos as alegrias e as dores e

são os laços com os outros que fazem com que avancemos.


Mas como soldados que vivemos e lutamos por uma causa maior temos que

por uma armadura nos momentos mais sensíveis, para que pior do que a morte

venhamos a desistir de toda a causa.

O nosso coração sente. A nossa alma desfalece, sob a nossa vista, não

há nada que tape os vãos que a ausência deixa. Diziam os homens que os

soldados que voltam da guerra voltam mais corajosos e mais patriotas, mas o

pós guerra de um soldado que sofreu perdas é que a guerra não vale a pena.

Não é uma luta que valha a pena. Qualquer um que ficou em casa olha para os

soldados que voltaram de guerra e os chama de heróis, os soldados que escutam

essas coisas sentem apenas em seu coração a dor da guerra. A porcentagem de

soldados que volta da guerra e levam traumas para a cova é infindável,

aqueles que viram alcoólatras, drogados e homens que frequentam grupos de

apoio e por aí vai a lista.

Esposas de soldados dizem que a guerra nunca devolveu seus maridos.

Existem perigos de perder tudo na guerra, de voltar para casa e continuar na

guerra. Essas pessoas nunca ganharam guerra nenhuma. Elas foram fracas quando

a guerra não exigiu armas de fogo mas a coragem de ter um coração puro e

verdadeiro.
Capítulo 5
Estrondo e silêncio
Existe uma expressão que diz: “o mundo é uma lata de sardinhas.” Que

se refere ao fato de ser um mundo pequeno e de haver coincidências notórias.

Nesse mundo temos dois tipos de pessoas: aquelas que apreciam o prazer do

silêncio, e aquelas que amam o estrondo. A grande maioria das vezes as

pessoas que apreciam o silêncio são chamadas de chatas ou velhas por aquelas

que apreciam o estrondo. Enquanto as que apreciam o estrondo são chamadas de

escandalosas e inconvenientes pelas que apreciam o silêncio. (em certo

sentido mas não deve ser levado ao pé da letra) Também podem não ser pessoas,

mas a forma como é ouvido. O silêncio pode ser ensurdecedor a alguns e os

ruídos podem gerar silêncio para outros. Mas a real questão é o que você

escuta, e se realmente escuta o que fala ao seu coração.

Descobri nestes tempos que existe uma essência que nos guia a quem nós

somos em Cristo, tal como a estação de rádio que precisa ser sintonizada para

que se escute com clareza. Essa identidade em Cristo só pode ser encontrada

conhecendo quem Ele é e ouvindo a sua voz. A questão é; quem pode distinguir

a voz de Deus? Afinal o Senhor fala de diversas maneiras e de diferentes

modos para cada pessoa específica que ele ama e que ele mantém.

“Depois de um longo tempo com um total de zero apreciação

pelo silêncio que se torna ensurdecedor, passei a conhecer uma parte

minha que ama com todas as forças esse silêncio.

Quando nenhuma voz é realmente clara, mesmo em busca de uma só

voz, tentar encontrar a razão no meio de gritos é consequentemente

impossível. Cheguei à conclusão de que o que eu conheço acerca da voz

que me guia ainda é raso, e não posso me dar ao luxo de confundir o

que ele diz para mim. Pessoas erradas com as palavras certas, pessoas

certas com as palavras erradas, opiniões irregulares acerca de uma só

verdade.

Quanto mais eu ouço, mais o meu coração palpita e eu me lembro

que eu ouvia a sua doce voz nos silêncios dos meus dias, mas a sua

voz é única até em meio a multidões. Me encanta, me encontra, me faz

ser eu comigo. Ouvir sua voz.


Existe uma diferença na mente e no coração, sendo estrondo ou sendo

silêncio Deus não deixa de falar, esse realmente é o segredo; saber ouvir.

Saber conhecer a voz que fala. Mas acima de tudo, querer ouvir. Os processos

enfrentados na vida pedirão de cada um comprometimento e determinação para

fazer o que seja necessário para que a obra do reino seja completa. Embora

talvez chegue um momento em que você não saiba o que fazer ou como agir.

Obviamente se espera que nesse momento se busque ao Senhor ao invés de se

afastar dele. Essa busca pelo que fazer, como fazer e fazer direito só vai

acontecer se houver no coração um desejo de dar o seu melhor para o Senhor.

Só se busca a voz de Deus quem quer ouvir a voz de Deus e só ouve a voz de

Deus quem a busca.

Não é buscar para que o Senhor fale, pois Ele fala o tempo todo. Mas

ouvir o Senhor. O problema está nos nossos ouvidos, na maioria das vezes nós

apenas ouvimos aquilo que queremos ouvir. E vamos sempre culpar os estrondos

ou os silêncios. Porque é simplesmente mais fácil. Mas a verdade é que a voz

do Senhor é “estrondo e silêncio", os dois e não um. Viver num ambiente onde

existem bilhões de verdades de uma verdade só às vezes é insuportável, não

vai existir uma resposta correta, vão existir um mar de opções e uma

incerteza terrível sobre quem é o Senhor no meio de todos os tiros de

estrondo. Mas a voz de Deus é uma só, não há confusão mesmo que o façam. Não

se pode ouvir a voz de Deus se não conhecê-la ou se não a voz de Deus terá o

mesmo peso que os gritos da multidão. é necessário que haja uma certeza no

coração de quem seu Deus é, de onde ele te tirou de como te chamou e quem

você é no Senhor, e isso deve existir antes de qualquer doutrinação e

qualquer idéia de autores externos sobre como deve ser a vida com Deus.

Muitos livros são escritos sobre isso e muitas mensagens são pregadas sobre a

verdade, mas se o guia da vida cristã individual for as doutrinas e as vozes

ela vai ser levada a dezenas de lugares mas não será a voz de Deus. Se a

multidão e suas influências foram o que te levaram a Cristo, as mesmas

multidões podem tirar. Agora se existe um conhecimento pleno da voz de Deus


ligado diretamente a essência de quem você é, a voz de Deus será um estrondo

gritante, ensurdecedor e inconfundível no meio da multidão.

Mas o silêncio, depois de ouvir a voz de Deus no estrondo é confuso, o

silêncio é desconfiado, porque dizemos “Deus está em silêncio" e alguns

jargões de cristãos que dizem que ele está trabalhando, como se Deus não

fizesse o próprio tempo. A única coisa que Deus está trabalhando é em ser

ouvido. A essência é a mesma, dentro do coração, mas não se é necessário

separar as vozes, na realidade não há vozes em si, há o significado e o

sentido. Não se pode enquadrar esse tipo de coisa, como ouvir a voz de Deus,

não se pode mapear o relacionamento com Deus, ele é íntimo, único e

completamente individual. Por isso, relutantemente gostaria de jogar cada

página desse livro fora, porque creio que um cristão genuíno será genuíno

confirme amar a Deus e descobrir em sua essência tudo que ele exige de si. Da

mesma forma ouvir a sua voz será completamente individual. é como o autor de

um livro e sua obra, um homem pode escrever mil livros em diferentes

contextos, o autor do livro pode já estar morto e o livro ser antigo, o autor

pode estar vivo e até terminando algumas obras que não foram publicadas. A

questão é, o quanto a obra lhe foi importante, a cada dia a literatura e

escrita são invadidas por escritores chulos com (me perdoe) histórias que não

deviam ser publicadas. O que nos deixa em uma situação onde é difícil

encontrar bons livros, mas existem autores que conquistam corações e quando

esses autores são encontrados outras obras ganham credibilidade mesmo ainda

não tendo lido. Se a biografia e as obras são conectadas, o sentido de se

fazer parte da vida do autor se torna inteiramente diferente. É possível se

quer entender porque a linguagem algumas vezes muda repentinamente ou o tipo

da escrita. Conforme algumas coisas se tornam aprendizado na vida do autor

elas são escritas, a escrita de alguns livros se torna parte de sua

biografia, é a vida do autor contada pelas histórias ou pela abordagem da

linha teológica.

Da mesma forma que as obras do autor contam a sua vida de maneira

diferente da própria biografia, a obra de Deus conta a sua história de uma


maneira diferente da normal. A “biografia de Deus” é o estrondo, conhecer a

ele por quem ele é e a partir de sua voz e de um relacionamento íntimo, mas

creio que ouvir a Deus no silêncio é o resultado de tê-lo conhecido no

estrondo, é como encontrá-lo na página de seus livros, é ver a Deus nas obras

não óbvias, é ver o Senhor falando ao olhar para o céu ou para a luz do sol

ultrapassando as árvores nas montanhas no entardecer. É não escutar a voz de

Deus audivelmente mas ligar o que você já conhece sobre ele à sua obra e

entender que ele grita através do silêncio, e entender que algumas vezes

quando o autor está narrando uma história, não é algo vindo inteiramente da

imaginação, e sim que quando o escritor diz “o garoto se sentia aflito por

estar sozinho na escura noite daquela cidade pacata quando todos já haviam

ido embora” em algum livro de algum tema fantasioso é um sentimento do

próprio autor fora da sua realidade habitual. Por isso alguns escritores

dizem que escrever liberta, porque eles podem dizer tudo sobre si mesmos sem

contar a ninguém, mas o melhor amigo do escritor sabe o que ele quis dizer na

maioria das vezes porque presencia muitas coisas e liga a biografia á obra, e

relaciona o que ele faz com o que ele sente e o que ele é. Talvez não

conheçamos alguns dos nossos autores favoritos, mas a verdade é que a sua

obra o torna conhecido tal como a obra do Senhor o revela. De qualquer

maneira é preciso ler, um escritor pode ser famoso e seu nome conhecido, mas

se sua obra não for revelada, se seus livros não forem livros, o mundo não

vai saber. Cabe ao desejo do coração de cada um, ver o Senhor revelado no

silêncio. Ele já deu todas as respostas de antemão a todos os seus filhos,

bastam apenas olhos para ver, ouvidos para ouvir, e uma habilidade mais

natural que o normal de ouvir o silêncio, e de subir em telhados mais altos

que nós mesmo para contemplar o entardecer, e nisso conhecer o Autor fora de

sua biografia e da história já contada.

Capítulo 6
Esperança.
Estamos envoltos em novas realidades e diferentes realidades,

somos moldados por cada situação que o Senhor deseja nos colocar.

"Por amor a ti enfrentamos a morte todos os dias.” Perdemos

combatentes de batalha, trazemos cicatrizes e voltamos para nossas

casas pela metade. Nada é como antes, as coisas mudaram e quando

traçamos nosso panorama de vida, tudo mudou, pessoas partiram,

pessoas novas chegaram, o ambiente nem parece o seu dia a dia e a

sua vida habitual.

Em Números 13, 12 espias são mandados para explorar a terra

que havia de ser deles, depois de 40 dias o relato de 10 homens

foi de morte e derrota. Mas o relato de dois homens em específico

foi de uma nova vida, foi de vitória e conquista. São avaliações

completamente opostas, como os homens que tiveram a mesma visão,

tiveram conclusões tão diferentes?

A palavra dos dez homens em números 14 foi a seguinte:

“E por que o Senhor nos traz a esta terra, para cairmos à espada,

e para que nossas mulheres e nossas crianças sejam por presa? Não seria

melhor voltarmos ao Egito?

Eles não tinham medo dos homens da terra, a verdade é que eles não

saíram do Egito, todas as suas desculpas e reclamações tem por

final: "Não seria melhor voltarmos ao Egito?” O Egito foi o

passado de Israel, seu começo, as primícias de um povo que

precisava ser liberto, aquele por outro lado nunca foi o lar

deles, seus descendentes não tinham pertencido ao Egito. Abraão

saiu de Canaã, A casa deles era Canaã, mas eles se apegam de tal

maneira a aquilo que eles conhecem, o conhecido e o previsível se


torna tão confortável que não importa se as coisas a frente serão

melhores, o medo de arriscar é maior do que a coragem de viver.

O Egito pode-se chamar de estabilidade, eles mantinham-se na

mesma rotina e com os mesmos fardos. Estabilidade pode ser

definido como “imobilidade” e imobilidade significa: Ausência de

movimento ou o ato de permanecer muito tempo em um mesmo local” Essa

estabilidade é conforto, contentamento.

C.S Lewis disse uma vez: Existem coisas melhores adiante do

que qualquer outra que deixamos para trás. A essência do que foi

dito não está no fato de que a vida sempre será melhor nos dias

que virão, mas sim que mesmo que as coisas que tenham passado

sejam incríveis e maravilhosas, não serão melhores que o momento

que toca o presente. Por mais que sejam incríveis e maravilhosas,

são lembranças e elas nunca poderão se igualar ao que é vivido no

aqui e agora. Sentir fome e comer um pedaço de pão com manteiga

sempre será melhor que lembrar de uma boa fatia de empadão, por

mais que o empadão com certeza seja muito melhor que o pão com

manteiga, o empadão é passado e é apenas uma lembrança, enquanto o

pão com manteiga está saciando a sua fome.

O medo da incerteza pode suprimir toda a vida que se

apresenta adiante, todas as coisas podem ser perdidas. Estar preso

ao Egito é como estar preso a lembranças de uma vida antiga. A

vida antes de haver se alistado. E na imaginação as coisas parecem

ser tão perfeitas e bem estruturadas, como se o soldado que

lamenta ter ido a guerra, pois se aliou a pessoas que o traíram e

se aliou a pessoas que morreram, e de certa maneira depois de 4

anos de muitas coisas ele parece estar mais vazio do que quando

saiu de sua casa.


Se ele não tivesse partido ele não teria perdido todos os

aniversários da Julia, quando ela fez 3 anos, 4 anos, 5 anos, 6

anos, os amiguinhos que ela fez na escola. A simplicidade de ter

um emprego comum e chegar em casa todos os dias às 19:00 e ter sua

filha correndo pros seus braços e sua esposa cozinhando a janta.

As coisas mais simples pareceram muito mais dignas de honra no seu

ponto de vista. Por outro lado, se ele não tivesse ido a aquela

guerra talvez se culpasse pela vida medíocre e nunca entenderia o

quanto a normalidade da rotina é importante. Se os laços de

irmandade que ele fez em campo de batalha não fossem tão fortes

quanto foram ele não seria metade do homem que foi, ele não teria

visto o quanto a lealdade e irmandade podem fazer com que você se

coloque na mira de uma arma e deite no arame farpado pra que o

outro passe. Pra dizer na realidade os anos que se passaram

valeram muito mais a pena do que ele gosta de admitir.

Josué e Calebe estavam dispostos a fazer o que tivesse de ser

feito porque sabiam que as promessas do Senhor são inquebráveis

porque sua fidelidade vai além de nossas dúvidas. A palavra do

Senhor para os homens que acreditaram foi: “Vocês disseram que

seus filhos seriam tomados como prisioneiros de guerra. Pois bem,

eu os farei entrar na terra em segurança, e eles desfrutarão

daquilo que vocês desprezaram.” O desfrutar de uma nova terra e de

um novo tempo estava aberto para aqueles que estavam dispostos a

abrir os corações e acreditar de novo. Acreditar que as coisas

poderiam ser melhores. Abrir o coração para as coisas novas que o

Senhor pode colocar nos caminhos e nos momentos que ele pode

proporcionar, ou senão todas as coisas desde a guerra em diante

serão lamentos.
A parte interessante de um coração disposto é que ele está

disposto e descoberto e diante do desconhecido, não mais na

segurança do seu peito, mas fora dele, exposto. Exposto aos

“perigos” de viver. Aos perigos de amar e aos perigo de se

entregar completamente. Mas também exposto a todo amor, das

expectativas do desconhecido que é novidade, exposto aos momentos

bons e novas memórias. Ir à guerra trouxe as dores que trouxeram,

mas também houveram fins de noites, confissões de “quase morte” e

risadas pelos nervosismos, e honra pela pátria que não foi

perdida. Mas para que o coração esteja exposto novamente é preciso

já ter visto o quanto valeu a pena, para que valha a pena mais uma

vez.

E cada uma dessas memórias é para que eles tivessem

esperança que o mesmo Deus que fez todas essas coisas estava com

eles e por eles e declarou sobre eles que eles seriam o povo

escolhido e seleto, propriedade especial do Senhor. Não era uma

esperança contida do quanto eles foram fortes e corajosos de

passarem por tantas coisas em sua própria história, mas como O

SENHOR os tirou de cada situação e os livrou de todos os seus

inimigos, por amor ao seu povo.

É compreender que existem perigos em andar de carro, avião,

ônibus, a pé, mas também são os únicos meios para chegar a lugares

que desejamos e não paramos de viver por medo de morrer,

continuamos porque nos é necessário. Mas o coração precisa estar

disposto a atravessar tudo isso mais uma vez, olhar para a terra

de gigantes e ao invés de ver gigantes e maneiras que possamos ser

derrotados, ver uma vida maravilhosa, usar a imaginação e ver pela

fé todas as coisas maravilhosas que vão acontecer depois de termos


a terra, ver os nossos filhos crescendo, o fruto das nossas mãos e

em tudo isso glorificar ao Senhor porque ele nos deu paz.

O desfrutar é recompensa dos que acreditaram, não dos que

tiveram medo e quiseram retroceder, não perder o ânimo e a

esperança mesmo diante de situações desesperadoras, olhar com

ternura, agir como criança no sentido de amar mais do que temer.

De usar uma peneira para todas as situações e ser muito mais

otimista do que realista. Apesar de enfrentarmos muitas coisas

diante dos nossos caminhos, a força para lutar as batalhas vem

completa e totalmente de confiar no Senhor, de acreditar e manter

a cabeça erguida.

E isso nem sempre vai ser uma das decisões mais fáceis ou um

dos caminhos mais simples, mas aqueles homens que foram explorar a

terra não representavam apenas a si mesmos como deviam trazer

esperança para todo um povo, seu relatório não poderia ser

negativo porque o povo não viu com seus próprios olhos o que eles

viram. Os doze homens eram os seus olhos, ouvidos e credibilidade,

e de repente ao invés de serem mensageiros de paz, foram

mensageiros de destruição. Aqueles 10 homens não só tiveram uma fé

insuficiente diante de uma situação difícil, como desencorajaram

um povo gigante e trouxeram desgraça para a sua geração que

ficaria 40 anos no deserto e jamais desfrutaram da paz que o

Senhor havia reservado. Disseram repetidas vezes que o melhor era

morrer, ter morrido no Egito ou ter morrido no deserto, e de

repente aquele “desejo” concretizou-se, trouxeram isso sobre as

próprias cabeças porque não souberam ter esperança. Dizem que ser

otimista é um atalho para se frustrar, ou que se não se cria

expectativa não se decepciona. Funciona na verdade, e então não se


espera por nada e nada pode frustrar o que não existe ou o que não

foi planejado. Em outros contextos pode até ser real, mas não

diante do Senhor. Ele não decepciona, e se não termos esperança

nele pra que ela seja de combustível para nossas almas então não

avançamos e permanecemos no deserto, por falta de esperança. falta

de combustível. É preciso olhar com esperança e ter uma

perspectiva positiva mesmo que ela seja impossível. Ver o quadro

em que a há vida e não morte.


Capítulo 7

Gastando a Gasolina
Por incrível que pareça, coisas paradas tendem a desgastar-se

mais do que as coisas em movimento, água parada, bicicleta sem

manutenção, carro sem troca de óleo, muitas coisas se tornam

sujeitas a acumular poeira, a ferrugem e danificações. Mesmo que

não sejamos de ferro, nossos corações estão sujeitos aos mesmos

perigos. Acúmulo de poeira e ferrugem. Sendo alguém que morou na

praia por toda a vida, uma das coisas que eu aprendi foi o quanto

o ferro em nenhuma circunstância é forte diante da maresia.

2 Crônicas 12 traz uma realidade que deixa isso um pouco mais

palpável. Roboão tornou-se rei de Israel, se estabeleceu, firmou

seu reino e logo ele e todo Israel esqueceram-se da lei do Senhor.

Efeito dominó clássico, com o reino estabelecido, Roboão já não

buscou mais ao Senhor, com “tudo” o que alcançou já estava com seu

reino firmado e não precisava mais do Senhor. Um povo em paz, sem

guerras, sem nada pelo que lutar. Ter se estabelecido e firmado

levou Roboão a esquecer-se da lei do Senhor. Estabelecer,

estabilidade, imobilidade, falta de movimento. Não me refiro à

movimentação física do povo de conquistas e guerras. Porém o fato

do povo não estar em nenhuma situação angustiante ou de perigo

iminente fez com que eles esquecessem do Senhor. O Senhor os

trouxe a aquela situação para início de qualquer argumentação, se

não fosse o amor do Senhor por seu povo eles ainda estariam no

Egito.

Esse sentido falso de paz em estabilidade e conforto de estar

completamente confortável e não me leve por maluca, o descanso

deve ser prezado como uma virtude. O sentido de estabilidade leva

a outro tipo de imobilidade que é o de manter-se na corrida. É de

manter o navio no mar, e as vezes depois de um naufrágio, de


alguma maneira depois de um tipo de acidente assim o navio fica no

porto por um tempo indeterminado até o capitão criar coragem de

colocar os pés na embarcação mais uma vez. Não haverá naufrágios

com o navio no porto mas por outro lado o fruto do trabalho seja

qual for nunca vai chegar.

O combustível humano para continuar trabalhando é esperança,

confiança. É preciso apostar nas fichas que alguma coisa vai

acontecer, sem fichas, sem jogo, sem ao menos tentativas.

Esperança são as nossas fichas, nossa gasolina, nosso querer. Um

dos motivos porque Israel constantemente ficava sem gasolina, sem

esperanças e sem fé era porque esquecem, esquecem-se do que o

Senhor havia feito e do que ele havia dito. Lembrar-se é comprar

gasolina, de cada promessa do Senhor e então usar todas as suas

fichas e toda a sua fé e esperança de que o Senhor irá fazer

infinitamente mais. E cada uma dessas memórias é para trazer

esperança que o mesmo Deus que fez todas as coisas que já fez

antes, quando o povo de Israel lembrava do passado e do que o

Senhor fez, não se tratava da história deles, do povo de Israel,

mas se tratava da história de Deus, e tudo que Ele é. Isso traria

a verdadeira esperança. Ele declarou sobre eles que eles seriam o

povo escolhido e seleto, propriedade especial do Senhor. Não era

uma esperança contida do quanto eles foram fortes e corajosos de

passarem por tantas coisas em sua própria história, mas como O

SENHOR os tirou de cada situação e A estabilidade que eles

desejavam quando pensavam no Egito não os levaria a nada, e mesmo

estando “seguros” eram escravos, Um navio parado é um navio

abandonado, com um motor que não foi lubrificado e agora

danificado e sem utilidade. Assim como as coisas que o Senhor fez


na história do povo devem trazer esperança para que eles

compreendam que o Senhor vai continuar na frente da batalha com

eles. A esperança é combustível para continuar. trazer à memória

as coisas boas com esperança e não com lamento é combustível para

continuar e permanecer, os livrou de todos os seus inimigos, por

amor ao seu povo.

Israel sempre pareceu ser um povo que não queria ser liberto,

sempre pareceu um povo que não tinha esperança, por isso vivia se

lamentando e reclamando a cada passo da viagem, constantemente

dizendo que morreriam e que deveriam voltar ao Egito,e sempre indo

a outros deuses por não acreditar. Acreditar requer tudo, todas as

fichas, talvez se fosse me quaisquer outras expectativas fosse

mais difícil, mas se tratando daquilo que o Criador tem, TODAS AS

FICHAS ainda é muito pouco.

Quando se trata do Senhor é para se atirar de cabeça e gastar

gasolina e ir o mais longe o possível mesmo sem saber para onde

está indo, tomar a direção do carro, manter o motor quente e a

troca de óleo em dia, de certa maneira, todas as vezes que o

combustível começar a dar sinal de descarga, nos lembramos de

todas as obras do Senhor, de toda a obra de suas mãos, e somos

abastecidos por saber que o mesmo Deus que realizou tudo em nossas

vidas continua e continuará realizando. O fato é que se deixarmos

de abastecer o carro e o carro ficar parado, nunca sairemos do

Egito, e da escravidão. E mesmo que pareça que não existe como

haver esperança. Um coração disposto sempre pode encontrar

gasolina.
Capítulo 8
Mais do que a própria guerra
Completamente imperfeitos seguindo e trilhando caminhos cada

vez mais longe de nossas “casas”, a cada passo que damos é um

passo longe do que conhecemos e um passo ao caminho do

desconhecido. É desconhecido e nenhum de nós tem verdadeira

experiência no caminho que seguiremos além das instruções que o

Senhor nos deixou e isso é bom, não é ruim. Os caminhos não estão

prontos, mas se formam conforme o trilhamos. E se os caminhos são

construídos à medida que trilhamos então são caminhos novos e

desconhecidos, embarcamos no desconhecido. Assim como o carro

precisa de gasolina para se locomover, ele precisa de estrada, e

aí está a sua aposta mais alta, abastecer seu carro e andar por um

caminho que se forma à medida que se trafega, isso é confiar

completamente no Senhor.

Temos então uma nova realidade, desconhecida, ou seja, que

ninguém conhece. Assim como avançar em território desconhecido

durante a guerra precisamos estar preparados para tudo e todas as

coisas porque adentramos em território não sondado.

-Quem estará com você nas trincheiras?

-E isso importa?

-Mais do que a própria guerra.

(Ernest Hemingway)

E enfim, isso importa? Será que não é a guerra que havemos de

ganhar? Não será a causa mais importante que fazer amigos? Não,

isso vale mais que a própria guerra. Como se destrói o inimigo se

quem está ao seu lado não é de confiança? A desconfiança já é

inimiga o suficiente. A dúvida e o questionamento não podem ser um


problema, já estamos em territórios desconhecidos e ao menos

alguma coisa precisa ser constante. Muito sobre a guerra nos muda

e é importante, perdemos combatentes sim, mas se perdemos e

sentimos é porque eles foram presentes conosco, porque não

perdemos aquilo que não temos.

Somos imperfeitos seguindo caminhos desconhecidos, e isso é

apavorante, a simples face do desconhecido e do incerto, daquilo

que não sabemos. Sinceramente, e nas palavras mais simples, a

guerra é dura demais para estarmos sozinhos.

Creio que os piores momentos a serem vividos são quando toda

a esperança que você devia ter se esvai e quando as coisas ao seu

redor parecem estar se dissipando, quando os suspiros do dia a dia

se tornam súplicas incalculáveis de misericórdia, pedindo ao

Senhor seu socorro seu afago, sua proteção, pedindo que por poucos

segundos cada passo seu, não provocasse algum tipo de explosão,

pedindo que as coisas fossem simples e que o seu coração não

estivesse tão pesado no seu seu peito, saber que seus amigos estão

bem e vê-los sorrir as vezes é um lampejo de suscitação, mesmo não

podendo estar presente estar feliz por eles estarem felizes, é

possível então compreender a fala de CS LEWIS ao dizer que existe

um tipo de amor que é mais forte que todas as coisas que te

esvazia de si a ponto de desejar puramente a felicidade dos seus,

mesmo que não estando nela, entender que em alguns momentos isso

será tudo que importa.

É difícil chegar a compreender a magnitude da amizade, ela é

muito mais profunda do que superficial e nos dá forças além do que

esperamos quando estamos em caquinhos espalhados pelo chão. A

verdade mais difícil de compreender por todos é que os amigos uma


vez que chegam em sua vida nunca vão embora, eles não são aqueles

que passam por nós e de repente não estão conosco, a

característica que faz um amigo ser incrível é que ele fique.

Dizer essas coisas parece ser sim impossível porque na vida real

as pessoas vão embora, partem, nos deixam, mas o que é de fácil

compreensão é que eles estão conosco. Não demora muito a perceber

quando alguém simplesmente sempre esteve ali, mesmo quando todos

tinham partido tinha alguém que sempre esteve ali mas por sempre

estar se tornou monótono e normal, mas então fica claro que você

só não foi um dos que foi embora porque tinha alguém ali que fazia

você se sentir ainda em casa.

Ninguém passa pelas nossas vidas sem deixar algo, sem levar

algo, somos todas as pessoas que já passaram por nós, todos os

nossos amigos que guardamos com tanto carinho, a falta e a saudade

doem e só existem porque nossos corações estão preenchidos com as

memórias mais divertidas e maravilhosas, de ter compartilhado a

vida com pessoas únicas, e é nesse ponto de retrospectiva que

enxergamos nossos irmãos de coração que zelam por nós como

família,e incrivelmente mesmo longe eles conseguem ainda assim

estar perto. Como disse um famoso filósofo e conhecedor da vida:

"Quão sortudo eu sou por ter pessoas que fazem o dizer adeus

ser tão difícil”.

-Ursinho Pooh.

É isso que dá valor à sobrevivência, é o que faz valer a pena

estar vivo, por isso é um tema tão importante, porque não fomos

feitos para estar sós. Mesmo quando é isso que parece, que não tem

ninguém, basta que enxerguemos qualquer coisa fora do nosso


umbigo. A oração de Jesus em João 17 nos dá o embasamento bíblico,

Ele não queria que estivéssemos sós, queria que fossemos um só.

As pessoas que passaram por nós permanecem vivas em cada

pedacinho de quem somos e isso é imensidão de um coração

pertencente a Cristo, mesmo nos nossos piores momentos e quanto

mais frustrados e desvaneiados, mesmo se quiséssemos não

estaríamos sozinhos, existe alguém que nos faz abrir um sorriso

que nem nós mesmos esperávamos de nós, e somos surpreendidos pela

companhia de alguém singular em nossas vidas.

A verdade é que temos lutado a mesma guerra, e nos conhecendo

como seres imperfeitos que precisam um do outro muitas vezes para

simplesmente desabar, ou para aceitar e amar as nossas singelas

imperfeições e sequelas, às vezes pra mostrar nossas cicatrizes de

guerra e ouvir “irado!”, ao invés de uma demonstração de pena. No

caminho desconhecido, se conhecer como imperfeito em obras é

aceitar a necessidade do outro, sem exigir a perfeição e alguma

espécie de mapa. Pessoas imperfeitas em busca de uma perfeição

inatingível é lastimável, provoca pena e te transforma em alguma

espécie de forma de vida robotizada. E não me refiro ao fato de

aceitar erros que devemos corrigir e simplesmente viver com eles,

mas aceitar que somos humanos grande parte das vezes e sentimos o

que sentimos. Quanto ao fato de buscar a perfeição, buscamos a

Cristo em unidade e em sua misericórdia, não trabalhamos para

sermos aceitos por ele, trabalhamos porque ele já nos aceitou e

mudamos porque a sua vida em nós e seu amor nos constrange, por

isso somos tangíveis, e amamos o que é imperfeito porque ele nos

amou e nesse amor está a perfeição, e em amar está a nossa alegria

e contentamento.
Capítulo 9
Marcos Antigos.
“Não mude de lugar os antigos marcos que limitam as propriedades e
que foram colocados por seus antepassados”.
Provérbios 22.28

Ao longo da vida podemos dizer que traçamos uma linha do

tempo, que se formou conforme caminhamos e que teceu nossos

passos. Na nossa linha do tempo, não histórica mas mental,

emocional e espiritual temos marcos que fazem de nós quem somos. é

um privilégio se você realmente souber cada ponto de sua linha do

tempo. Nela está cada ponto que você viveu, desde momentos

felizes, a primeira vez que fez algo de que realmente gostou a

ponto de nos dias atuais se tornar um hobbie, nessa linha do tempo

também está contida o primeiro trauma que hoje lhe gera problemas

de relacionamento ou talvez alguma insegurança problemática.

Chamo cada um desses pontos de “marcos antigos”, eles moldam

nossa história, nosso “eu”, nossa personalidade, vocações e

sonhos. Por mais ruins que algumas partes de nossas vidas tenham

sido elas são uma parte de quem somos na atualidade. A todo

momento que você mexe com a sua linha do tempo, alguma coisa no

seu futuro e no seu presente muda, o mínimo de contato com um

multiverso te faz capaz de elaborar bem essa ideia.

Acontece que a vida não é o mar de rosas e todos os contos de

fadas que lemos, gostaria que fosse com todo o meu coração, mas

temos contado e vivido nossas próprias histórias e tudo,

exatamente tudo e inclusive as coisas que preferimos apagar da

nossa existência querendo ou não fazem parte de nós.

Em provérbios 22.28 os marcos antigos são citados porque são

importantes, se não fossem sequer existiriam. Os marcos antigos de

nossos antepassados contam a história de uma nação e é importante


para um povo saber de onde veio, porque geralmente assim é que se

sabe para onde vai. Os marcos de Israel mostravam em sua história

quem Deus é. E o Senhor sabe exatamente de onde ele precisava nos

tirar e onde eles nos colocou. Mesmo que em algumas partes não

agradáveis os nossos marcos são lembranças, e com o tempo

aprendemos de verdade a ver a nossa história como os livros

narrados por um autor onisciente.

São os marcos que fazem que fazem de nós quem nós somos, e

todas as vezes que retornamos aos marcos ou passamos por eles

somos surpreendidos por como aquilo nos atinge de uma maneira

diferente e avassaladora. Toda a vez que de alguma maneira a vida

nos leva de volta ao passado, em memória ou em meros lampejos de

realidade quando algumas coisas parecem que estão se repetindo.

Existe uma diferença gritante entre se arrepender das coisas que

você fez e se arrepender das coisas que você passou. Porque cada

pequeno ato e mínimo acontecimento formaram toda a realidade e

todo o chão que pisamos agora.

Existe uma frase que só será proferida quando você entender

realmente e com todas as forças entender o quanto a caminhada é

importante. “Faria tudo de novo” sem arrependimentos, e é

estritamente TUDO de novo, Algumas derivações dizem “erraria tudo

de novo” talvez não seja a melhor expressão mas quando levamos em

consideração que um mero fato mudado em nossa vida pode mudar o

nosso presente, uma vírgula, uma frase dita ou não dits, saber que

talvez quem está com você agora talvez não estivesse se você não

tivesse cometido algum erro, isso te faz dizer: “faria tudo de

novo”.
A incerteza do que poderia ser a nossa vida se alguma coisa

fosse diferente do roteiro atual, qualquer ruptura na nossa linha

do tempo nos levaria para uma linha do tempo alternativa e

diferente do que vivemos agora, e mesmo que por alguns momentos

pareça que qualquer outra realidade seja melhor que a atual, a

incerteza do que poderia ser é bem mais apavorante do que o agora.

Os marcos antigos, as experiências pela qual passamos, o que

enfrentamos fazem parte de nós moldam quem somos, nós não fomos

ontem em determinada situação o que somos agora, porque parte de

nós foi moldada ontem. Talvez nesse sentido seja difícil

compreender a totalidade. Somos imperfeitos também porque somos

incompletos, não de alma mas em questão da obra de Deus, ele

continua moldando nosso ser e nosso caráter à medida que

caminhamos em sua direção, então em 2010 quando passamos pelo que

passamos ainda não éramos o que somos agora, não porque

passaram-se anos, ou porque a nossa idade mudou, mas o marco de

2010 deixou uma marca em nós que muda o que somos agora.

Tuas marcas estão em mim

como o artista marca a obra

tuas pegadas estão no decorrer de toda a minha caminhada

me fizeste esperar

agora sou completa e tua

me formaste com teu sopro

que me levou e eu voltei para vocÊ

Sou uma ramificação de quem tu és

sou uma parte tua

Tú és o motivo absoluto
estás em cada verso de poesia

em cada novo tom de tinta

És a beleza que eu vejo na vida

Tú és as flores que eu vejo crescer em terra seca

És o mistério em que ponho a minha esperança

Eu só vejo você.

Como um artista e uma obra em andamento o processo não pode

ser julgado em nenhum detrimento, sinceramente é uma das coisas

que mais irrita um artista, porque a perfeição da obra só será

completa quando ela for completa em si mesma. Talvez a primeira

pincelada de uma tela não seja a melhor,O artista raramente sabe

qual será o resultado da sua obra, ele não pode visualizar o fim,

mesmo que tenha uma ideia do que ele tem em mente, podem acontecer

erros pelo percurso, o que talvez leve o artista a transformar a

obra que de início era realismo para uma arte mais alternativa.

Tinta a óleo, acrílica, massa, carvão, são os materiais, a

ordem deles, como são usados, a ordem que são usados que determina

exatamente aquilo que é a obra, é a linha do tempo de uma obra de

arte. A questão é que talvez por um pequeno período a obra não

seja tudo que foi pensado, mas ela não está completa. E a verdade

é que você não pode excluir etapas porque elas não são perfeitas.

Sem o rascunho o desenho não tem forma. Esse esqueleto é

necessário, é parte do processo, o rascunho é o desenho, é a arte,

parte dela, e então até aquele ponto é toda a arte. O problema é

que estando no ponto da linha do tempo em que estamos temos uma

obra com mais conteúdo, então se do presente voltarmos ao passado

e compararmos a obra do passado com a obra de agora, a obra do


passado será ridícula quando colocada diante da nova. Mas se você

apagar qualquer traço da obra do passado não terá nada do que é a

obra agora.

Esses são os marcos antigos, a linha do tempo de uma obra não

difere da linha do tempo do ser humano, temos rascunhos de nossas

obras que não podem ser apagados. E a narrativa acontece como se

realmente pudéssemos de alguma maneira voltar no tempo e apagar

qualquer coisa do que somos, mesmo se não nos for agradável não

podemos mudar absolutamente nada. Mas o sentido real é compreender

que são partes de nós, não como cenas de um filme que deveriam ser

deletadas. Não são apenas partes como são A obra . É uma obra, uma

vida, e não pode nem deve ser mudado ou ignorado. “NÃO MUDEM OS

MARCOS ANTIGOS DE LUGAR”, pode ser levado em consideração como

artefatos históricos, artefatos de museu, que não podem ser

tocados para não mudar a autenticidade do objeto.

São nossos marcos, deixados pelo tempo, criados através de nossas

vidas, construindo aos poucos quem somos.


Capítulo 10
Naufrágio
Mar aberto, sem proteção, sem a segurança do cais. Sem nenhuma

segurança. Antes de uma viagem longa, todas as coisas foram

avaliadas, checklist de bagagem, livros que poderiam ser

discorridos, planos e especulações.

Ao sair de casa toda a sua bagagem é levada para dentro do

navio, a fim de que de alguma maneira o navio se assemelhe o

mínimo com seu lar. Temos essa mania de carregar conosco tudo que

fizemos e conquistamos quando devemos levar apenas o que somos. De

alguma maneira criamos laços com o que criamos. No mesmo sentido

de nossos marcos antigos, temos certo afeto com o que passa por

nós. Fazemos bagagens imensas de memórias, de momentos, de

pessoas, cargos e funções, rotinas e tudo o que se relaciona a

isso.

De alguma maneira o instinto simples é se estabelecer, se

fixar na realidade seria a palavra certa. Para se fixar,

estabelecemos e imobilizamos parte de quem somos em determinado

lugar, assim como a estabilidade traz conforto, em certo sentido

procuramos pelo nosso bem estar. Quando não estamos prontos pra

isso acabamos por tentar carregar tudo conosco, passamos a querer

viver em dois lugares. E na verdade não vivemos em lugar nenhum ao

mesmo tempo.

O Senhor nos tira de certas situações muitas vezes para que

entendamos o que ele quer para nós, seremos necessários em

lugares que não são nossa casa, fazemos do corações de outras

pessoas nossa casa, e às vezes mesmo relutantes em milhares de

sentidos para não ir, para não deixar nossa casa, acabamos indo

mesmo assim. A essa altura do campeonato compreendemos que o nosso

querer não importa, mas sim aquilo que Deus quer.


Entramos então no navio, mesmo sendo tudo o que não queremos,

mesmo a estabilidade que nós criamos nos deixando tremendamente

aflitos por tê-la deixado para trás. Mas colocamos tudo no navio

porque queremos estar seguros seja da maneira que for e se isso

for carregar pesos, estaremos bem com isso.

Houve um momento na história da bíblia em que um povo cresceu

e se estabeleceu, a ordem do Senhor era que se espalhassem pela

terra, que partisse dali. Mas ao invés disso tentaram de sua

maneira, criaram um escape, uma Babel, uma confusão. De repente a

companhia e a comunhão que eles prezavam é interrompida por uma

barreira, e eles já não tem o motivo pela qual lutavam

insistentemente.

Da mesma maneira de alguma forma prezamos por aquilo que

amamos de tal forma que acreditamos que possuir o amor que amamos

nos fará ser amado, que aquilo que conquistamos nos fará alguma

coisa, ledo engano, enorme mentira, a verdade porém se torna

dolorida quando compreendemos que as vezes amar é deixar ir, e que

cultivar é deixar crescer sozinho. Se plantamos uma vinha não a

levaremos conosco, como se de alguma forma estivesse segura pelo

fato de estar em nossas mãos. Acontece que confundimos proteção

com controle. Cremos que se estivermos com a nossa vinha nada lhe

acontecerá, mas se acontecer estamos diante dela para o que quer

que ela precise. Pais e filhos passam por isso constantemente. Um

filho não pode ir para longe porque seu pai não poderá ampara-lo,

mas ele estará sujeito aos mesmos perigos onde quer que esteja.

Desejamos o controle em nossas próprias vidas e quando Deus

exige de nós mudança levamos nossa mudança. Colocamos tudo no

nosso navio, embarcamos. Mas quando estamos em mar aberto e em


meio a tempestades não poderemos salvar nada além daquilo que está

em nosso coração. De repente tudo que levamos foi perdido, porque

o lugar seguro não é conosco.

“Acredito que qualquer homem que chegue ao céu descobrirá que

aquilo que abandonou não foi perdido” Lewis não se referia a esse

assunto quando disse essas coisas, mas é um norte para compreender

que os nossos não são nossos.

No livro ‘o pequeno príncipe' conhecemos um personagem que

contava estrelas, que as possuía. Eram SUAS estrelas, porque as

estrelas eram lindas, brilhavam e valiam para ele.

Ah, estrelas?

- Isso mesmo. Estrelas.

- E que fazes tu de quinhentos milhões de estrelas?

- Quinhentos e um milhões, seiscentos e vinte e duas mil,

setecentos e trinta e uma. Eu sou um sujeito sério. Gosto de

exatidão.

- E que fazes tu dessas estrelas?

- Que faço delas?

- Sim.

- Nada. Eu as possuo.

- Tu possuis as estrelas?

- Sim.
- Mas eu já vi um rei que ...

- Os reis não possuem. Eles "reinam" sobre. É muito diferente

- E de que te serve possuir as estrelas?

- Serve-me para ser rico

- E para que te serve ser rico?

- Para comprar outras estrelas, se alguém achar.

O homem de negócios possuía o que fazia ‘os ociosos

sonharem’(as estrelas) por alguma razão, apenas para possuir mais

delas. As estrelas são itens preciosos e fazem os ociosos

sonharem, olhar para as estrelas em céu aberto longe da

civilização nos leva a milhares de mundos sem sairmos do lugar.

Quando levamos tudo para o navio estamos colecionando estrelas,

estrelas que precisam estar no alto dos céus, porque, se elas não

estão nos céus porque são estrelas?

Não deixamos nada para trás, apenas deixamos no lugar certo.

podemos ver as estrelas de qualquer lugar, isso que as faz serem

especiais, em algum momento no lugar que estejamos, quando nossos

dias ficarem escuros são as estrelas que aparecem no céu. E são as

coisas verdadeiramente importantes, confundimos muitas coisas com

estrelas, confundimos muitas coisas com coisas essenciais. Por

isso às vezes levamos pesos que não deveríamos levar, colocamos no

navio coisas que não precisamos levar.

Em crises de teimosia tudo está na carga do navio e

simplesmente saímos a mar aberto. Naufrágio. Apenas naufrágio. E


todas as coisas que antes você tinha cuidado com toda proteção

para que não fossem perdidas se perderam para sempre. E todas as

coisas pertencem ao lugar que pertencem. E então completamente

quebrado você se encontra na beira de alguma praia, sem nada além

de você mesmo, pensando que teria sido melhor se você tivesse

deixado tudo aquilo, ou que você mesmo não tivesse vindo.

O Senhor causou o naufrágio.

Se fosse uma peça de teatro nosso naufrágio é o momento que o

Senhor nos tira de cena para que ensaiemos as próximas cenas. Esse

exemplo é apenas para ressaltar o “tirar de cena” o Senhor nos

tirando da nossa realidade por um tempo. A nossa realidade engloba

muito de quem nós somos, uma vez que foi o Senhor que fez de nós

tudo o que nós somos, não podemos nos apegar completamente a

aquilo que que ele mesmo fez de nós. Às pessoas que ele mesmo

colocou em nossas vidas.

Deixar para trás rasga a alma de uma extremidade a outra, pensar que sim

iremos voltar e que o naufrágio não será para sempre, não morreremos no

naufrágio, o que levamos sim. O senhor vai destruir tudo o que não

abandonarmos. Confiamos que estará seguro em suas mãos, porque se não

estivermos confiando que nosso tesouro estará seguro nas mãos de Deus, nosso

tesouro na verdade nos faz questionar a confiança que temos em Deus. De

qualquer maneira, no coração, o sentimento é de abandono completo, mesmo

tendo plena confiança de que o Senhor tem o melhor em qual seja a situação

que vivamos.

Torno a repetir “isso rasga a alma de uma extremidade a outra”, ouso ainda

como alguém que sentiu isso ao extremo por teimosia:“Acredito que qualquer
homem que chegue ao céu descobrirá que aquilo que abandonou não foi

perdido”

Confiança plena e total de que está nas mãos do Senhor, não apenas que ele

guarde o seu tesouro, mas que ele faça aquilo que ele bem entender, pois

independente de qual seja sua resposta e seu instinto á nosso futuro, Ele

saberá o que fazer, confiar no incerto daquilo que Ele fará. Quando chegarmos

a esse ponto sabemos que nunca confiamos de verdade, não é apenas um “guarde

para que no tempo certo ele traga de volta”, em alguns casos talvez sim, mas

só voltará se estiver nos planos do Senhor, e tivermos realmente abandonado,

para que ele destrua, estraçalhe ou deixe viver. Assim reconheceremos

verdadeiramente que tudo aquilo que abandonamos não foi perdido.

Todas essas palavras acerca de confiança e de como devemos entregar tudo de

nós são lindas e edificantes, mas na prática, isso rasga a alma de uma

extremidade a outra. Por certos momentos talvez nem sequer te reconheçam e o

seu olhar dirá às pessoas mais próximas que você sofreu um naufrágio, mas

traz paz e o Senhor trará o fim perfeito e necessário.

Há ainda uma ramificação na ideia de naufrágio

“Senhor, lhe dei tudo de mim, cada parte e pedaço, tu me deixaste em cacos

e agora também arrebentou o navio que tu mesmo me embarcaste, afinal o que

tu esperas meu Deus? Quando me leva a algum lugar, destrói o barco e me

desolas mais uma vez, FOI EM TI SENHOR QUE EU CONFIEI QUANDO EMBARQUEI e tu

conhecias meu medo de navegar em águas que eu não conheço, meu medo se

concretizou... Porque a minha surpresa?”

(vou deixar que os leitores pensem que a oração é de autoria completamente

fictícia)

Crer agora que em todo seu esforço e que em toda sua entrega, não há nada que

possa ser recuperado. O Senhor está sempre construindo e colocando as coisas


em seu lugar, mas agora, sentimentos como culpa, medo, desolação e desespero

podem fazer em seu coração uma tempestade e um tsunami, muito bem cobertos

por um sorriso e um humor duvidoso. Houve um naufrágio, fato, houveram

perdas, fato. Eis uma realidade nova, você está sozinho em uma ilha deserta

que o mar o lançou, não há nada ali, além do necessário para sobreviver,

SOBREVIVÊNCIA, é um ciclo incrível magnifico, terrivel, perfeito mas

desastroso e sem fim, bem vindo a bordo.


Capítulo 11
A guerra terminou.
“Todavia, mesmo que venham a sofrer porque praticam a justiça, vocês
serão felizes. Não temam aquilo que eles temem, não fiquem
amedrontados”.

1Pe 3.4

“Vocês serão felizes…” Imutáveis promessas, linhas invisíveis

de esperança e confiança completa diante de naufrágios, quedas,

guerras e traições. Nos são irrevogáveis, como direitos de filhos,

por segundos e frações de segundos, nada está fora de nossa

jurisdição. Porque de repente nos reconhecemos como moradores

daquela cidade esquecida do grande rei, cidade da qual haviam sido

levados cativos, a qual passamos nosso tempo lutando para trazer a

memória e trazer à tona nossa identidade, para reinarmos com Ele

mais uma vez.

Sem fardas, sem escudos, sem armas, sem barreiras e sem

perdas. Sem navios nem tempestades, pois nada estará afastado de

nós para que precisemos ir longe. Sem medo, restrições e luto.

Todas as coisas na harmonia em que foram criadas ocupando seu

lugar perfeito acima da terra. Agora não mais um reflexo do que

poderia ser, mas o real, sem vestígios de ociosidade. Passamos a

enxergar o país do grande rei através de uma nova lupa, quanto

mais nos lembramos de casa, mais perto estamos da verdadeira

realidade, e colocamos na nossa visão um véu, ou uma espécie de

“transposição” como Lewis descreveu. Mas talvez como uma cidade em

holograma sobre a nossa cidade visível.

"Todos esses viveram pela fé, e morreram sem receber o que

tinha sido prometido; viram-no de longe e de longe o saudaram,


reconhecendo que eram peregrinos na terra. Os que assim falam

mostram que estão buscando uma pátria.” (Hebreus 11. 13,14)

Nada conforta mais um coração perdido do que saber onde está

perdido. É como se a nossa confusão estivesse ligada ao saber,

antes mesmo de conhecer a Cristo levamos um anelo já deixado em

nosso coração pelo criador, como a marca do Artista, como uma

vontade involuntária de saber seu sentido, propósito, origem e

principalmente, Destino. “Estes mostram que estão buscando uma

pátria”. Ainda no mesmo capítulo o escritor aos hebreus diz que se

os homens da fé houvessem pensado em voltar para sua terra teriam

tido a oportunidade de voltar, mas não era nessas coisas que seus

corações estavam, mantinham em seus corações um desejo maior.

Enxergar a promessa é o ponto principal, enxergar a cidade

sob seus olhos, não como se ela fosse chegar ou se fossemos

levados a ela, mas a cidade pertencente em nós, os resquícios da

pátria em nós, os aromas e sentidos contidos em nós a medida que

trazemos a memória. Talvez possa parecer confuso porque estou

tratando do conto do Grande Rei agora como se fosse uma história

real, mas ela é apenas uma personificação (o que não significa que

eu não creia nisso). As memórias uma vez internalizadas, são

trazidas ao nosso campo de visão espiritual, agora aos olhos da fé

somos compatriotas com Cristo.

Mas não tão simples como esperar pela pátria, já vivemos pela

pátria de maneira completa, e o nosso viver internalizado no país

do grande rei traz o país dEle a nós. Não estou formulando uma
doutrina em que o Senhor não volte e montamos nosso paraíso

improvisado na terra, estou afirmando que como cidadãos da pátria

aproximamos nossa cultura de nós mesmos. E à medida que isso se

concretiza nossa alegria se completa aos poucos, mesmo que só seja

integra no seu âmago ao nos reencontrarmos com Ele, temos uma

firme esperança, uma fé que se torna palpável ainda que invisível.

A obra de nossas mãos como resposta a nossa fé se torna

infalível, pois nossa fé também transforma nossas obras em

genuínas e verdadeiras, como forma de alcançar a sua Glória.

Nossas obras agora perpetuam o espaço tempo, como parte de um

plano eterno de salvação, que atravessam a realidade invisível e o

véu transposto da pátria que nos espera. A fé sem obras é morta e

vice versa porque antes de tudo nossas obras são a reconstrução da

cidade celestial, e a fé é a nossa visão restaurada da realidade,

se nossos atos não estiverem perpetuados a uma visão de reino, as

nossas obras não são pertencentes a cidade.

Mas visto que crescemos dentro de uma luta de realidade

alternadas, elas lutam entre si, tal como a dor nos torna humanos

e nos chama a sobrevivência temos a nossa realidade como um

projetor 3D falhado que pisca constantemente e prejudica a nossa

visão. Já a nossa pátria brilha em nossas obras pelo lampejar do

peso de glória no nosso trabalho. O cenário é fictício mas a

projeção falha sempre que cedemos a sobrevivência, que tentamos

apagar o projetor transposto sobre a cidade. Mas torna-se uma luz

que não pode se apagar e se torna palpável ao vislumbre do peso de

glória que as nossas obras trazem.


O peso de Glória é o fim da largada, a chegada a perfeição, a

glória que chega ao completar da corrida, agora é inteiro e

cidadãos das terras do grande rei, e cumprindo a sua missão recebe

a aprovação do criador “Muito bom servo bom e fiel”, não como uma

frase simples e desconexa, mas esse é o aval do criador, de que

agora vocÊ está selado e que o trabalho de suas mãos foi aceito,

de que o criador agradou-se da criação.

Completamos a anseio e o propósito das nossas almas, e com a

nossa alegria completa, porque não nos esforçamos mais para ver o

invisível pelos olhos da fé, com o véu transposto sobre a cidade,

agora vemos claramente, agora sem interrupções, a plenitude da

vida na mais perfeita condição de filho. Agora voltamos da guerra,

agora estamos em casa, vemos com clareza. Nossas lágrimas foram

enxugadas, nossas feridas curadas, os despojos estão espalhados, o

navio arrebentado pelos inúmeros naufrágios, sinais de afogamentos

por submersão, corpos espalhados, o silêncio é estrondoso porém

não há mais dor…

A Guerra terminou.

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