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Fedro - FÁBULAS
Fedro - FÁBULAS
CLÁSSICOS INQUÉRITO
Fiel à sua longa tradição de servir a cultura, a Editorial
Inquérito pretende, com esta colecção, divulgar obras-primas
que são monumentos imperecíveis a marcar a história cultural
da Humanidade.
Obrigatórias para especialistas e estudiosos, estas obras, de
que muitos leitores ouviram falar e que não deixariam de
conhecer directamente se a elas tivessem fácil acesso, ficarão
assim ao alcance de todos e não apenas de alguns.
Obras publicadas nesta colecção (o * indica edições bilíngues):
- ÉdipoRei, Sófocles
- As Suplicantes, Ésquilo
- Medeia, Eurípides
- Antígona, Sófocles
- As Bacantes, Eurípides
- As Vespas, Aristófanes
- Os Persas, Ésquilo
- Prometeu Agrilhoado, Ésquilo
- Novelas Exemplares, Cervantes
- As Aves, Aristófanes
- Arte Poética, Horácio*
- As Nuvens, Aristófanes*
- Uma História Verídica, Luciano*
- Anfitrião, António José da Silva, «O Judeu»
- Em Defesa do Poeta Árquias, Cícero
- Hermotimo ou as Escolas Filosóficas, Luciano*
- UAllegro* HPenseroso, John Milton*
- A História Trágica da Vida e Morte do Doutor Fausto,
Christopher
Marlowe*
- íon, Platão*
- Fábulas, Fedro
- O Rapto de Prosérpina, Clautliano*
NOTA DO EDITOR
A presente edição respeita o texto das anteriores, embora se
tenha procedido à sua actualização ortográfica.
Ao eminente beirão
Dr. Carlos Castanheiro dos Santos com a admiração e a
estima
do tradutor
ÍNDICE
Prefácio .... 15
LIVRO PRIMEIRO
Prólogo 23
O lobo e o cordeiro 23
As rãs pediram um rei 24
O gralho orgulhoso e o pavão 25
Um cão levando carne por um rio 26
A vaca, a cabrinha, a ovelha e o leão 26
As rãs para o sol 27
A raposa para uma máscara de tragédia 27
O lobo e o grou 28
Um pardal conselheiro duma lebre 28
O lobo e a raposa, sendo juiz um macaco 29
O burro e o leão à caça 30
O veado junto da fonte 30
A raposa e o corvo 31
De sapateiro a médico 32
O burro a um velho pastor 33
A ovelha, o veado e o lobo 33
A ovelha, o cão e o lobo 34
A mulher parturiente 34
A cadela de parto 35
Os cães famintos 35
O leão velho, o javali, o touro e o burro 36
A doninha e o homem 36
O cão fiel 37
00
A rã rebentada e o boi 37
Os cães e o crocodilo 38
A raposa e a cegonha 38
O cão, o tesouro e o abutre 39
A raposa e a águia 40
O burro escarnecedor do javali 40
As rãs temendo os combates dos touros 41
O milhafre e as pombas 42
LIVRO SEGUNDO
O autor 45
O bezerro, o leão e o ladrão 46
A velha, a rapariga e o homem 46
Esopo para um certo homem, acerca do êxito dos
maus 47
A águia, a gata e o javali 47
César para um atriário 48
A águia e a gralha 50
Os dois machos e os ladrões 50
O veado junto dos bois 51
O autor sobre a estátua de Esopo 52
LIVRO TERCEIRO
Fedro a Eutico 57
A velha para a ânfora 59
A pantera e os pastores 59
Esopo e o camponês 60
O cortador e o macaco 61
Esopo e o petulante 62
Amosca e a mula 62
O lobo para o cão 63
A irmãeoirmão 64
Sócrates para os amigos 65
Um acontecimento no império de Augusto 65
Um coxo para um homem ruim 67
O frango para a pérola 68
As abelhas e os zangãos, sendo juiz a vespa
69
Acerca do jogo e da severidade 69
O cão e o cordeiro 70
A cigarra e a coruja 71
LIVRO QUARTO
O poeta a Particulão 79
O burro e os galos (sacerdotes de Cibele) 80
A doninha e os ratos 80
O cavalo e o javali 82
LIVRO QUINTO
Prólogo - O poeta 101
O rei Demétrio e o poeta Menandro
101
Os viandantes e o ladrão 102
O calvo e a mosca
O homem e o burro
O chocarreiro e o camponês
Um calvo e um certo homem igualmente falto de cabelo
Príncipe, tocador de flauta
O tempo
O touro e o novilho
O cão, o porco e o caçador
APÊNDICE
O macaco e a raposa
O autor
Prometeu e Dolo
O autor
O autor
Esopo e o escritor
Pompeu Magno eo seu soldado
O pai de famílias e Esopo
Esopo e o vencedor gímnico
O burro a uma lira
Um galo levado em liteira pelos gatos
Uma porca parturiente e um lobo
Esopo e o escravo fugitivo
O cavalo de quadriga vendido para uma atafona
O urso faminto
O viandante e o corvo
O pastor e a cabrinha
A serpente e o lagarto
A gralha e a ovelha
O servo e o senhor
A lebre e o boieiro
A borboleta e a vespa
A cotovia e a raposa
O autor - Epílogo
NOVAS FÁBULAS
O rato e a rã 131
O rato da cidade e o rato do campo 131
Um burro que fazia festas ao dono 132
O leão e o rato 133
O milhafre doente 134
As aves e a andorinha 134
As lebres e as rãs 135
O lobo e o cabrito 135
O escravo desertor e o leão 136
Os animais, as aves e o morcego 138
O gavião e o rouxinol 138
As ovelhas e os lobos 139
O camponês e as árvores 140
Os membros e o estômago 140
Dois homens e os macacos 141
A espada e o viandante 142
Uma raposa metamorfoseada em homem 142
O burro e o boi 142
O mosquito e o touro 143
O cavalo e o burro 143
Bibliografia 145
**
PREFÁCIO
O favor do público, que esgotou a edição anterior, contribuiu
para me animar a trazer à publicidade esta nova edição da
Tradução das Fábulas de Fedro.
Já não procurarei demonstrar, como fiz nas edições da Eneida
e dos Comentários da Guerra Gaulesa, o proveito que das
minhas traduções têm tirado os seus compradores. As
sucessivas edições dos meus humildes trabalhos, impressos em
Portugal e no Brasil, são um testemunho inconfundível do seu
préstimo e convencem-me de que já estou dispensado de me
justificar no futuro das razões por que as tenho escrito.
Seria infantilidade pretender agradar a todos com os meus
trabalhos ou com os actos da minha vida. O próprio Fedro, há
vinte séculos, encontrava detractores da sua obra, onde se lê a
cada passo: Calumniari siquis autem voluerit (1 - Prólogo);
Hunc obtrectare si volet malignitas (IV - a Particulão1), etc. O
mun-
1
Particulão e Eutico, aos quais Fedro se dirige, deviam ter
sido figuras apagadas, pessoas de humilde condição, como era
Fedro. Os dicionários apenas os citam como nomes de
homens, não os tomem talvez como nomes de animais, uma
vez que tudo está personificado nas Fábulas.
7
0
0
***
Fedro, escravo liberto de Augusto, expõe a Eutico, no início do
livro III, os motivos por que foram inventadas as fábulas: A
escravidão exposta, porque não ousava dizer o que queria,
levou os seus sentimentos para as fábulas e iludiu a denúncia
com gracejos. Por isso Fedro seguiu pelo caminho de Esopo,
forjou mais histórias do que ele, e escolheu algumas para as
aplicar à sua desgraça pessoal...
O assunto das fábulas está sempre palpitante de actualidade
através das gerações e das suas camadas sociais. Há-de haver
sempre lobos a implicar com os cordeiros, rãs a pedirem novos
governos, gralhos que querem parecer pavões, e cães... Estas
fábulas, ao mesmo tempo que distraem o espírito, encerram
lições de grande proveito.
Às fábulas recorreram o P.e Manuel Bernardes, quando citou a
narração do homem médico do leão (Nov. Fáb. IX), Bocage,
Filinto Elísio, a Marquesa de Alorna, Curvo Semedo, e muitos
dos nossos melhores escritores. As fábulas são tão antigas
como o próprio género humano. Lembro-me de ter ouvido, há
25 anos, ao meu professor de Francês, Rev.mo Cónego José
Lourenço Tavares, que os pretos, povo sem cultura e sem
escrita, conheciam pela tradição oral muitas fábulas de Fedro.
O mesmo ilustre professor escreveu também na sua Gramática
de Kikongo algumas fábulas das que ouviu aos indígenas do
Congo.
Na Bibliografia, sendo todos os exemplares da minha
biblioteca particular, cito diversas traduções em prosa e em
verso, e até adaptações que do assunto das fábulas se têm
feito.
1
Em Agosto e Setembro de 1940 e 31 de Março de 1943, a
contrastar com a portaria de louvor publicada no Diário do
Governo de 6 de Junho de 1942.
16
3
7
1
Antigo missionário do Congo, douto filólogo, autor duma
Gramática da Língua do Congo, mandada publicar pelo
Governo Geral de Angola, na Imprensa Nacional-Luanda em
1915. O meu antigo e querido professor disse-me ultimamente
que fora reeditada há pouco tempo esta sua Gramática, sem o
seu conhecimento e sem a sua autorização.
Clássicos Inquérito 2
Nesta edição, juntei muitas fábulas novas, que traduzi
directamente da edição da Biblioteca Teubneriana, organizada
pelo professor Luciano Mueller, contendo as novas fábulas que
o italiano Nicolau Perotti no século XV deixara na sua
compilação, encontrada em Nápoles em 1808. Quis substituir
com palavras honestas o assunto de todas as fábulas, mas
desisti de traduzir algumas mais escabrosas e indigestas para
os estômagos fracos dos adolescentes, lembrado daquela
máxima de Juvenal: máxima reverenda puero debetur. Segui
tanto quanto foi possível o texto latino com a tradução literal
portuguesa, para confronto e estudo do mesmo texto latino,
pelo que nem sempre pude escrever português muito correcto.
Resta-me também agora terminar como Fedro
:
Hoc illis dictum est, qui stultitia nauseant Et, ut putentur
sapere, caelum vituperant.
**
Fábulas Esópicas
de Fedro, escravo forro de Augusto
18
Lisboa, Novembro de 1943.
NICOLAU FIRMINO
00
**
LIVRO PRIMEIRO
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O lobo e o cordeiro
É fácil oprimir o inocente.
5
11
Um lobo e um cordeiro, forçados pela sede, tinham vindo ao
mesmo regato. O lobo estava mais acima e o cordeiro muito
mais abaixo. Então o ladrão, excitado pela goela insaciável,
levantou a causa da contenda. Diz: - Porque fizeste turva a
água a mim que estou bebendo? O lanígero cordeiro, cheio de
medo, diz em resposta: - Peço-te que me digas como posso
fazer aquilo de que te queixas, ó lobo? A água decorre de ti
para os meus tragos. Aquele, venci-
23
6
12
**
As rãs pediram um rei
Do mal o menos.
Quando Atenas prosperava sob leis justas, uma liberdade
insolente agitou a cidade e à anarquia relaxou a antiga
disciplina. Então, conspirados uns contra os outros os
componentes das facções, o tirano Pisístrato ocupou a
cidadela. Como os atenienses chorassem a sua triste
escravidão, não porque ele fosse cruel, mas porque todo o
fardo é pesado para os desacostumados, e tivessem começado
a queixar-se, Esopo referiu então uma tal fabulazinha:
«As rãs, divagando pelas livres lagoas, pediram a Júpiter com
grande gritaria um rei que reprimisse pela força os costumes
dissolutos. O pai dos deuses riu-se e deu-lhes um pequeno
barrote que, atirado às águas, aterrou a raça medrosa com o
súbito movimento e com o barulho. Como este barrote jazesse
por muito tempo mergulhado no limo, uma rã por acaso
levanta tacitamente a cabeça fora da lagoa, e, examinado o rei,
chama todas as rãs. Aquelas, deposto o temor, aproximam-se
dele nadando ao desafio, e a turba insolente salta para cima do
barrote. Como tivessem humilhado este barrote com toda a
espécie de insultos, enviaram a Júpiter rãs que pedissem outro
rei, porque era inútil o que lhes tinha sido dado. Então enviou-
lhes uma cobra da água, que começou a comê-las uma a uma
com dente cruel. As rãs impotentes em vão fogem à morte. O
medo embarga-lhes a voz. Por isso, secretamente dão recados
a Mercúrio para Júpiter, a fim de que socorra as aflitas. Então o
deus, em resposta, diz: - Porque não quisestes suportar o bom
rei, aguentai o mau.»
Vós também, ó cidadãos, diz Esopo, suportai este mal, para
que não venha um mal maior.
24
**
O gralho orgulhoso e o pavão
**
Um cão levando carne pelo rio
Quem tudo quer, tudo perde.
Perde com razão o bem próprio aquele que cobiça o alheio.
Enquanto um cão, nadando, levava um pedaço de carne por
um rio, viu a sua imagem no espelho das aguas e, cuidando
que outra presa era levada por outro cão, quis tirar-lha: porém
a avidez foi lograda, e não só soltou a comida que tinha na
boca, mas muito menos ainda pôde alcançar a que desejava.
**
A vaca, a cabrinha, a ovelha e o leão
Não acompanhes com quem pode mais do que tu.
A aliança com o poderoso nunca é segura. Esta fabulazinha
atesta a minha asserção.
Uma vaca, uma cabrinha e uma ovelha sofredora de injúria
foram companheiras de um leão nos bosques. Como estes
tivessem apanhado um veado de grande corpulência, feitos os
quinhões, o leão falou
assim: - Eu tomo a primeira parte, porque sou chamado leão;
dar-me-eis a segunda, porque sou corajoso; então a terceira
seguir-me-á, porque tenho mais força; será maltratado, se
alguém tocar na quarta
parte.
Deste modo a desonestidade sozinha levou toda a presa.
**
A raposa para uma máscara de tragédia
As honras não honram os néscios.
Uma raposa vira por acaso uma máscara de tragédia e disse:
- Oh quão grande beleza, mas não tem cérebro!
27
Isto foi dito para aqueles aos quais a fortuna concedeu honra
e glória, mas tirou o senso comum.
**
O lobo e o grou
É perigoso fazer bem aos maus.
**
Um pardal conselheiro de uma lebre
Não insultes os infelizes.
**
O lobo e a raposa, sendo juiz um macaco
No mentiroso ninguém acredita, ainda quando diz a
verdade.
Todo aquele que se tornou conhecido uma vez por uma
vergonhosa fraude, perde o crédito, ainda que diga a verdade.
Esta abreviada fábula de Esopo atesta isto.
Um lobo acusava uma raposa pelo crime de furto; aquela
negava que estivesse envolvida na culpa. Então o macaco
sentou-se como juiz entre eles. Como um e outro tivessem
defendido a sua causa, diz-se que o macaco proferira a
sentença:
- Tu, lobo, não pareces ter perdido o que reclamas; creio, ó
raposa, teres tu furtado o que negas astutamente.
28 29
**
O burro e o leão à caça
O cobarde e fanfarrão é digno de riso.
30
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A raposa e o corvo
31
**
O burro a um velho pastor
O pobre muda de amo, mas não de condição.
**
De sapateiro a médico
**
A ovelha, o veado e o lobo
Guarda-te do fiador infiel.
32 33
**
A ovelha, o cão e o lobo
O caluniador por fim vem a receber a paga.
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A cadela de parto
Fecha a tua casa aos maus.
**
A mulher parturiente
Os males sempre chegam muito cedo.
**
Os cães famintos
Muitas vezes a ignorância ocasiona a ruína.
34 35
**
O leão velho, o javali, o touro e o burro
O infeliz até para os mais cobardes serve de escárnio.
**
A doninha e o homem
A quem morre por gosto não se lhe reza pela alma.
Ele respondeu:
36
**
O cão fiel
Os benefícios dos maus devem ser suspeitos.
**
A rã rebentada e o boi
Não tentes lutar com os grandes.
37
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A raposa e a cegonha
Amor com amor se paga.
Diz-se que uma raposa convidou primeiro uma
cegonha para uma ceia, e lhe pusera num prato chato
um caldo líquido que a cegonha, faminta, de nenhum
modo pôde saborear. Como esta tivesse convidado a
raposa, colocou-lhe diante uma garrafa cheia de
comida migada. Ela própria satisfaz-se, metendo o bico
nesta garrafa, e atormenta com fome a convidada.
Como a raposa lambesse em vão o gargalo da garrafa,
ouvimos dizer que a ave de arribação falou assim:
- Cada um deve sofrer com igual ânimo os seus
exemplos.
**
Os cães e o crocodilo
Não há rede para o gavião e o abutre.
Os que dão maus conselhos aos homens cautelosos não só
perdem o trabalho, mas também são escarnecidos
vergonhosamente.
Contou-se que os cães bebem a correr no rio Nilo, para que
não sejam apanhados pelos crocodilos. Como, pois, um cão
tivesse começado a beber, correndo, um crocodilo falou assim:
38
**
O cão, o tesouro e o abutre
O avarento é o algoz de si mesmo.
Esta narrativa pode aplicar-se aos avarentos e àqueles que,
tendo nascido humildes, procuram ser chamados ricos.
Um cão, desenterrando uma ossada humana, encontrou um
tesouro, e, porque violara os Manes, foi--lhe inspirada a cobiça
das riquezas, para que pagasse o castigo à santa religião. Por
isso, enquanto guarda o ouro, esquecido da comida, foi
dizimado pela fome. Conta-se que um abutre, poisando sobre
ele, dis-sera:
39
**
A raposa e a águia
O grande não despreze o pequeno.
Os homens, embora elevados, devem temer os humildes,
porque o caminho da vingança está aberto para um engenho
hábil.
Uma águia roubou uma vez os cachorros duma raposa e pô-
los no ninho aos seus filhos, para que os tomassem como
alimento. A mãe, tendo seguido esta, começa a pedir-lhe que
não trouxesse a si, infeliz, tamanho luto. Aquela desprezou a
petição, como que segura no próprio lugar. A raposa tirou
então dum altar uma tocha acesa e envolveu de chamas toda a
árvore, misturando a dor da inimiga à perda do sangue. A
águia, para que arrancasse os seus ao perigo da morte,
restituiu suplicante os filhos incólumes à raposa.
**
O burro escarnecedor do javali
Uma palavra de zombaria custa muitas vezes caro.
- Eu te saúdo, ó irmão.
Interrogada por outra, porque dizia isto, visto que aqueles bois
combatiam acerca da primazia da manada e passavam a vida
longe delas, disse:
40 41
**
O milhafre e as pombas
Vê em quem confias.
**
LIVRO SEGUNDO
42
45
**
O bezerro, o leão e o ladrão
A virtude sempre encontra recompensa.
46
**
A águia, a gata e o javali
Um homem enganador é fonte de males.
Uma águia fizera o ninho no alto dum carvalho. Uma gata
dera à luz no meio do mesmo carvalho, tendo encontrado ali
uma cavidade. Uma fêmea do javali, habitante dos bosques,
tinha posto a cria junto do tronco. Então a gata destruiu assim
pela fraude e Pela sua malícia celerada este convívio casual.
Trepa
47
**
César para um atriário
Nada de excessos.
-----------------
1 Alusão a uma cerimónia praticada no acto de libertar os
escravos.
48 49
**
A águia e a gralha
Se ao poder se junta a malícia, quem poderá escapar-lhe?
Ninguém está suficientemente defendido contra os poderosos;
se, porém, um conselheiro maléfico se veio juntar, ruiu tudo
aquilo que a força e a maldade atacam.
Uma águia levantou uma tartaruga para o alto. Como esta
tartaruga tivesse escondido o corpo na sua casa córnea, nem,
escondida, pudesse ser lesada de modo nenhum, uma gralha
veio pelo ar, e, voando perto, diz:
**
Os dois machos e os ladrões
OS ricos têm mais que temer.
50
abarrotados de muita cevada. Aquele, rico com a carga, está
sobranceiro com a cabeça levantada, e sacode com o pescoço
um guizo sonoro. O companheiro segue-o com passo tranquilo
e sossegado. De súbito os ladrões vêm duma emboscadae, no
meio do assalto, fe-rem com um ferro o macho, roubam as
moedas e desprezam a vil cevada; como, pois, o macho,
roubado, chorasse as suas desgraças, o outro diz: - Na
verdade, folgo que eu tivesse sido desprezado, porque nada
perdi e não fui maltratado com ferida.
Com este argumento está segura a pobreza dos homens; as
grandes riquezas estão expostas ao perigo.
**
O veado junto dos bois
A quem dói o coração é ao dono do furão.
Um veado, enxotado dos esconderijos dos bosques, para que
evitasse a morte iminente dos caçadores, dirigiu-se cego de
pavor para uma quinta próxima, e escondeu-se num estábulo
oportuno. Aqui um boi disse ao escondido.
51
**
O autor sobre a estátua de Esopo
A inveja segue e persegue a virtude.
Os atenienses erigiram uma estátua ao génio de Esopo, e
colocaram este escravo sobre um pedestal, para que os
homens soubessem que o caminho da honra está aberto para
todos, e a glória não é dada ao nascimento, mas sim à virtude.
Porque outro anterior tinha impedido que eu fosse o primeiro
homenageado, procurei, o que me restou, que ele não
estivesse só: nem isto foi inveja, mas emulação. Porém, se o
Lácio for favorável ao meu trabalho, terá mais autores que
oponha à Grécia. Mas, se a inveja quiser criticar o trabalho, não
roubará, todavia, a consciência do valor merecido.
Se o nosso zelo chega aos teus ouvidos, e o teu espírito
saboreia fábulas fictícias, com arte, a minha felicidade afasta
todo o queixume. Porém, se o meu douto trabalho vai ter com
aqueles que a natureza infausta trouxe à luz, nem podem
qualquer coisa senão censurar os melhores, suportarei com o
coração endurecido a desgraça fatal, até que a fortuna tenha
vergonha do seu crime.
52 53
**
LIVRO TERCEIRO
**
FEDRO A EUTICO
Se desejas ler os livros de Fedro, é necessário, Eutico, que
estejas livre de ocupações, para que o teu espírito livre sinta o
vigor da minha poesia. Dizes, porém, que o teu talento não é
de tanto valor para que num momento de uma hora pereça
para os teus deveres. Não é, pois, motivo para isto, que não
convém a ouvidos ocupados ser tocado pelas tuas mãos. Dirás,
talvez: virão algumas férias que me chamarão ao estudo com o
espírito livre. Porventura terás tu, pergunto eu, umas bagatelas
insignificantes, antes que empregues cuidados no governo da
tua casa, restituas aos amigos os tempos perdidos, dês
atenção a tua mulher, repouses o espírito, dês descanso ao
corpo, para que cumpras com mais vigor a tarefa costumada?
O fim e o género de vida deve ser mudado por ti, se pensas
transpor o limiar das musas. Eu, a quem a minha mãe deu à
luz no cimo do monte Piério, no qual a divina Mnemósine, nove
vezes fecunda, deu à luz, para Júpiter Tonante, o coro das
Artes, embora eu tenha nascido na própria escola de Febo, e
tenha arrancado do coração inteiramente o cuidado de possuir,
e me tenha dedicado a esta vida, convidado pela glória não
forçada, todavia, sou recebido desdenhosamente na
companhia dos poetas.
57
**
A velha para a ânfora
Do bom até o rasto deleita.
Uma velha viu estar no chão uma ânfora esvaziada, que
espalhava ainda ao longe um suave aroma de borra de vinho
de Falerno e do excelente barro. Depois que a sôfrega aspirou,
com todas as narinas, dis-se:
- Ó suave aroma! Que bem diria eu ter estado antes de ti, visto
que os restos são tais!
**
A pantera e os pastores
Ninguém se arrependa de fazer o bem.
Igual reconhecimento costuma ser dado pelos desprezados.
Uma pantera caiu uma vez imprudentemente numa cova. Uns
camponeses viram-na; uns amontoam paus, outros carregam-
na de pedras; alguns, pelo contrário, compadecidos da que ia
morrer certamente, ainda que ninguém a ferisse dentre eles,
atiraram-
59
-lhe um pedaço de pão, para que sustentasse o alento.
Sobreveio a noite; vão-se embora para casa, seguros, como
que havendo de encontrá-la morta no dia seguinte. Porém ela,
logo que refez as forças enfraquecidas, libertou-se da cova com
um salto veloz e apressa-se com o passo acelerado para o seu
covil. Decorridos poucos dias, atira-se pela frente, trucida o
gado, mata os próprios pastores e, devastando todas as coisas,
enfurece-se com irada impetuosidade. Então os que tinham
poupado a fera, temendo por si, não recusam o dano do gado,
pedem somente pela sua vida. Mas ela diz:
**
Esopo e o camponês
A experiência vale mais do que o saber.
Diz-se vulgarmente que um homem de experiência é mais
esperto do que um adivinhador, mas não se diz a causa.
Começa agora pela primeira vez a conhecer qual seja a causa
com esta fabulazinha.
As ovelhas deram à luz cordeiros de cabeça disforme a um
certo camponês que tinha rebanhos. Aterrado com o prodígio,
acorre, entristecido, aos adivinhos para os consultar. Este
adivinho responde que aquele prodígio ameaçava a vida do
dono dos cordeiros, e que o perigo deve ser afastado com uma
vítima imolada. Aqueloutro, porém, afirma que outro mal é
descoberto, e que significava que os seus próprios filhos lhe
nasceriam defeituosos, mas que isto podia ser expiado com
uma vítima maior. Para que direi mais coisas? Discordam com
opiniões variadas e agravam o cuidado do homem com uma
preocupação maior. Estando ali então Esopo, velho de nariz
bem assoado1, ao qual a natureza nunca pôde enganar, disse:
**
O cortador e o macaco
As aparências iludem.
60
Julgo que isto foi dito mais por gracejo do que por verdade,
visto que por um lado tenho encontrado muitas vezes homens
formosos que são péssimos, e por outro lado tenho conhecido
muitos de semblante feio que são óptimos.
1
i. e.: de engenho agudo.
2
i. e.: uxores.
61
**
Esopo e o petulante
Quem com ferro mata com ferro morre.
Por esta fábula pode certamente ser escarnecido aquele que
sem valor faz vãs ameaças.
O bom êxito arrasta muitos à desgraça.
Um certo petulante atirara uma pedra a Esopo. Ele disse:
- Tanto melhor!
**
A mosca e a mula
As gabarolices são dignas de riso.
Aquela respondeu:
**
O lobo para o cão
O pobre livre é mais feliz do que o rico escravo.
Direi abreviadamente quão doce é a liberdade.
Um lobo, abatido pela magreza, encontrou-se casualmente
com um cão bem alimentado. Depois, logo que pararam,
saudando-se um ao outro, disse o lobo:
- Não é nada.
- Dize, peço-te, todavia.
63
Diz o cão:
- Não há inteiramente.
- Goza tu, ó cão, as coisas que louvas. Não quero reinar, desde
que não seja livre para mim.
**
A irmã e o irmão
É muito belo tudo o que é muito bom.
- Quero que vós useis do espelho todos os dias. Tu, filho, para
que não corrompas a beleza com os vícios da maldade. Tu,
filha, para que venças esta face feia com os bons costumes.
64
**
Sócrates para os amigos
Onde acharás um amigo fiel?
O nome de amigo é vulgar, mas a lealdade é rara.
Como tivesse construído para si uma pequena casa Sócrates
(cuja morte eu não evito, se alcançar a fama dele, e resigno-
me à emulação, contanto que seja absolvido depois de morto),
não sei quem do povo, como costuma suceder, disse a
Sócrates:
Diz Sócrates:
**
Um acontecimento no império de Augusto
Não acredites de leve, e menos no que murmura.
É igualmente perigoso acreditar e não acreditar. Citarei
abreviadamente um exemplo de uma e outra coisa.
Hipólito, filho de Teseu, morreu, porque se deu crédito à sua
madrasta acusadora; Tróia ruiu, porque se não deu crédito à
profetisa Cassandra. Portanto, a verdade deve ser investigada
convenientemente, antes que um mau juízo julgue
levianamente. Mas não exaltes a antiguidade fabulosa; narrar-
te-ei o que sucedeu no meu tempo.
Um certo marido, como amasse a esposa e preparasse já a
toga viril para o filho, com 17 anos, foi chamado à parte por
um liberto seu, que esperava ser o
65
66
**
Um coxo para um homem ruim
Cada um é como Deus o fez.
----------------
1 Cfr. Fernão Lopes - Crónica de D. João I - Prólogo:
«Grande licença deu a afeiçom a muitos... Esta mundanal
afeiçom
fez a alguns estoriadores desviar da direita estrada...»
2
Nos textos costuma vir eunuchus, em vez
de claudus.
67
**
O frango para uma pérola
Muitas vezes despreza-se o melhor.
**
As abelhas e os zangãos, sendo juiz a
vespa
A obra descobre o seu autor.
**
Acerca do jogo e da severidade
Descansa, para melhor trabalhares.
Um frango.
**
O cão e o cordeiro
Quem dá a educação é mais pai do que quem dá o
nascimento.
Um cão disse a um cordeiro que andava balando entre as
cabrinhAs:
70
**
A cigarra e a coruja
O melhor e o mais seguro é tratar bem a todos.
**
As árvores na protecção dos deuses
A árvore deve ser estimada pelo fruto e não pelas folhas.
Os deuses escolheram um dia as árvores que queriam que
estivessem sob a sua protecção. O carvalho agradou a Júpiter,
mas a murta agradou a Vénus; o loureiro, a Febo; o pinheiro, a
Cibele, e o elevado choupo, a Hércules. Minerva, admirando-se,
perguntou-lhes porque escolhiam árvores estéreis. Júpiter disse
como causa: Para que não pareçamos vender a honra pelo
fruto. Mas, por Hércules, alguém dirá o que quiser -disse
Minerva- a oliveira é-nos mais agradável por causa do fruto.
Então o pai dos deuses e criador dos homens assim disse: Ó
filha, com razão tu és chamada sábia por todos. Se não é útil
aquilo que fazemos, é vãa glória.
**
O pavão para Juno acerca da sua voz
Contente com o teu, não cobices o alheio.
- Mas excede-
72
-lo na beleza, excede-lo na grandeza; o esplendor da
esmeralda brilha no teu pescoço, e desdobras uma cauda
esmaltada de penas pintadas.
O pavão diz:
**
Esopo responde a um palrador
Homens que parecem e não o são.
Responde Esopo:
--------------
1
Diógenes é que saiu de casa com uma candeia acesa à
procura de um amigo verdadeiro.
73
**
O poeta a Eutico
Quem dá depressa dá duas vezes.
74
75
**
LIVRO QUARTO
O POETA A PARTICULÃO
Como eu tivesse resolvido pôr termo à obra com esta tenção,
para que houvesse bastante matéria para os outros, condenei
no coração silencioso o meu desígnio. Porquanto, se alguém
existe também desejoso de tal glória, de que modo deixará de
apurar o que terei omitido, para que ele deseje entregar isso
mesmo à fama, quando uma concepção de ideias e um estilo
próprio existe para cada qual?
Portanto, não foi o capricho mas uma razão sólida que me
deu a causa de escrever. E assim, ó Particulão, visto que te
deleitas com as fábulas (a que chamo Esópias, e não de Esopo,
porque ele deixou poucas e eu escrevo muitas, servindo-me do
género antigo, mas de coisas novas), quando houver vagar,
lerás o quarto livrinho.
79
**
O burro e os galos (sacerdotes de Cibele)
Infelicíssimo é o que, sendo desgraçado em vida, ainda o é
mais depois de morto.
O que nasceu infeliz não só passa uma vida triste, mas até
depois da morte o persegue a dura miséria do destino.
Os galos, sacerdotes de Cibele, costumavam levar para os
peditórios um burro que trazia as cargas. Como este tivesse
sido morto com o trabalho e com as cargas, tirada a pele,
fizeram para si tambores. Interrogados depois por um certo
homem sobre o que tinham feito ao seu jumento Delicio,
falaram deste modo:
**
A doninha e os ratos
Velhaco não engana velhaco.
**
Acerca da raposa e da uva
O soberbo finge que despreza o que não pode conseguir.
-------------
Clássicos (nº. 20 - 6
81
**
O cavalo e o javali
Quem deseja vingar-se busca o seu dano.
**
Esopo intérprete dum testamento
Os homens não se medem aos palmos.
82
83
**
Combate dos ratos e das doninhas
Os raios caem nos altos montes.
Como os ratos, cuja história se pinta até nas tabernas,
vencidos pelo exército das doninhas fugissem e corressem
precipitadamente em volta dos seus buracos apertados,
recolhidos dificultosamente, evitaram, todavia, a morte. Os
chefes daqueles, que tinham ligado penachos às cabeças, a fim
de que tivessem no combate um sinal visível, que os soldados
seguissem, ficaram presos nas portas e foram apanhados pelos
inimigos. O vencedor enterrou-os no infernal abismo do
insaciável ventre, imolados pelos seus dentes ávidos.
Qualquer que seja o povo que um incidente funesto oprime,
a grandeza dos chefes corre perigo: o povo miúdo esconde-se
em abrigo fácil.
**
Fedro a um certo detractor
O néscio pensa que só ele acerta.
-------------
1 Alusão à expedição dos Argonautas.
85
**
A víbora a um oficial de ferreiro
Quem diz o que quer ouve o que não espera.
**
A raposa e o bode
Os malvados perdem os outros, para não perecerem eles
próprios.
86
**
O ladrão e a lanterna
A Deus nunca se esconde um malfeitor, porque Deus vê
tudo.
87
88
**
O leão reinando
A sinceridade sempre é louvável.
**
O piloto e os marinheiros
Na prosperidade teme, na adversidade espera.
90
97 98
**
Epílogo - O poeta a Particulão
Nunca falta que escrever.
98
facto narrado se divulgou, todos souberam que a presença das
divindades Castor e Polux dera ao poeta a vida em lugar da
recompensa.
**
Epílogo - O poeta a Particulão
Nunca falta que escrever.
**
LIVRO QUINTO
PRÓLOGO - O POETA
Se algumas vezes inseri o nome de Esopo, ao qual já há muito
restituí o que lhe devi, sabei que é por causa da autoridade;
como no nosso século fazem alguns artistas que encontram um
preço maior para as suas obras, se em novo mármore
inscreveram o nome de Praxíteles, na prata desgastada um
Miron, na madeira um Zêuxis. Pois a mordaz inveja favorece
mais a antiguidade fingida do que os méritos presentes. Mas
sou levado a uma fábula dum tal exemplo.
**
O rei Demétrio e o poeta Menandro
Como muitas vezes se engana o juízo dos homens.
Demétrio, que foi chamado Falério, ocupou Atenas com poder
usurpado. Como é costume do povo, corre-se por um lado e
pelo outro, e à porfia, gritando: Viva com felicidade! Os
próprios magnates beijam aquela mão pela qual são oprimidos,
gemendo tacitamente a triste alternativa da sorte. Ainda mais,
os preguiçosos e os que só procuram o descanso, para
101
**
Os viandantes e o ladrão
O forte de palavra é ligeiro de pés.
Como dois soldados tivessem ido ao encontro de um ladrão,
um fugiu, o outro, porém, parou e defendeu--se com a sua
forte mão direita. Depois de derrubado o ladrão, o
companheiro tímido acorre e desembainha a espada; em
seguida, deitado o capote para as costas, diz:
102
**
O calvo e a mosca
O que peca por vício não merece perdão.
Respondeu o calvo:
**
O homem e o burro
Feliz o que escarmenta em cabeça alheia.
103
**
O chocarreiro e o camponês
As preocupações pervertem o juízo.
104
-------------
' Quando há poucos anos na América do Norte houve um
«concurso de imitadores do cómico Charlot», o próprio
Charlot, disfarçado, entrou no mesmo concurso dos seus
imitadores. O júri então classificou o autêntico imitado em 5.º
lugar.
105
**
Um calvo e um certo homem igualmente falto de
cabelo
Nem tudo fica bem a todos.
**
Príncipe, tocador de flauta
A vaidade néscia é escarnecida por todos.
106
107
**
O tempo
O tempo voa e não volta.
**
O touro e o novilho
Quem ensina um mais instruído julgue que isto é dito para si.
108 109
**
APÊNDICE
**
O MACACO E A RAPOSA
O avarento não dá de bom grado até aquilo que lhe sobra.
**
O autor
Não se deve pedir mais do que é justo.
113
**
Prometeu e Dolo
(Acerca da verdade e da mentira) Não há segredo que
tarde ou cedo não seja descoberto.
O autor
Deve dar-se valor ao sentido e não às palavras.
Outrora Prometeu, oleiro da nova geração, fizera também a
verdade com subtil cuidado, para que pudesse administrar a
justiça entre os homens. Chamado subitamente por Mercúrio,
mensageiro do grande Júpiter, encomenda a fabricação ao
falaz Dolo, que havia pouco recebera para aprendizagem. Este,
cheio de cuidado, enquanto teve tempo, fez com hábil mão um
simulacro com igual semblante, com a mesma estatura da
Verdade, e semelhante em todos os membros. Quando estava
quase toda admiravelmente erguida, faltou-lhe o barro para
fazer os pés. O mestre voltou; Dolo, perturbado com este
medo, sentou-se apressadamente no seu lugar. Prometeu,
admirando uma tão grande semelhança, quis que se visse a
glória da própria arte. Por isso, lançou igualmente na fornalha
as duas estátuas. Cozidas estas e tendo-lhe infundido a vida, a
sagrada Verdade começou a andar com modesto passo, mas a
imagem incompleta ficou como que pegada no próprio lugar.
Então a falsa imagem e a obra do furtivo trabalho foram
chamadas
114
Ixião, o qual se diz que anda preso a uma roda, ensina que a
volúvel fortuna se muda.
Sísifo, arrastando com grande trabalho pelos altos montes
acima uma pedra, que se precipita do cume, com suor sempre
baldado, mostra que as misérias do homem são sem fim.
115
**
O autor
Acerca do oráculo de Apolo.
Aquele Esopo, aborrecido com a péssima obra, disse:
**
Esopo e o escritor
Acerca dum mau escritor que se vangloriava.
116
**
Pompeu Magno e o seu soldado
Quão difícil é conhecer o homem.
Um soldado de Pompeu Magno, de grande corpulência,
falando com voz doce e caminhando com indolência, adquirira
a reputação incontestável de efeminado.
Este, tendo de noite armado uma cilada às bestas de carga
do general, roubou-lhe os machos, juntamente com o fato,
ouro e grande soma de dinheiro. A notícia divulga por diversas
partes este facto. O soldado é acusado e levado à tenda do
general. Então Pompeu Magno disse:
117
- Dás licença?
**
O pai de famílias e Esopo
Como se deve domar a juventude fogosa.
**
Esopo e o vencedor gímnico
Como se contém algumas vezes a vaidade.
Como o sábio frígio Esopo tivesse visto casualmente um
vencedor do certame gímnico vangloriando-se, perguntou-lhe
se o adversário dele tinha mais força. Aquele respondeu:
**
O burro a uma lira
Dá Deus as nozes a quem não tem dentes.
Um burro viu uma lira que jazia num prado. Aproximou-se e
experimentou as cordas com a unha. Tocadas as cordas,
soaram. Linda coisa, mas, por Hércules, correu mal para mim -
disse o burro - porque sou desconhecedor da arte. Se alguém
mais hábil a tivesse encontrado, teria deleitado os ouvidos com
os cantos divinos.
Deste modo os talentos muitas vezes perdem-se por
infelicidade.
**
Uma porca parturiente e um lobo
Deves fazer a experiência dum homem, antes que te confies à
sua fidelidade.
**
Um galo levado em liteira pelos gatos
Devemos evitar as carícias traiçoeiras.
120
**
Esopo e o escravo fugitivo
A um mal não se deve juntar outro mal.
121
**
O urso faminto
A fome aguça o instinto aos animais.
Se alguma vez no bosque faltam alimentos ao urso, corre
para um litoral fragoso, e, agarrando-se a um penedo, deixa
cair a pouco e pouco as pernas cabeludas na água. Logo que
os caranguejos se prenderam entre os pêlos destas pernas,
saindo para terra, sacode a presa do mar, e o astucioso goza
do manjar colhido por um lado e pelo outro.
Por isso, a fome estimula o engenho até aos ignorantes.
**
O viandante e o corvo
Os homens são muitas vezes enganados com palavras.
- Ora mal hajas por isto, ave péssima, que assim detiveste os
passos de quem se apressava.
122 123
**
O pastor e a cabrinha
Não há nada por tal forma oculto que não seja
descoberto.
**
A serpente e o lagarto
Onde faltam as forças deve usar-se da astúcia.
**
O servo e o senhor
Quem nos ofende é quem lança as infâmias ao rosto.
**
A gralha e a ovelha
Muitos maltratam os fracos e submetem-se aos fortes.
Uma gralha odiosa pousara sobre uma ovelha. Como a
ovelha tivesse esta sobre o dorso, contra a vontade e por
muito tempo, diz:
124
**
A lebre e o boieiro
Vêem-se caras, não se vêem corações.
Como uma lebre fugisse dum caçador com pé ligeiro, e, vista
por um boieiro, se escondesse num silvado, disse:
125
**
A borboleta e a vespa
Deve encarar-se a sorte presente e não a passada.
**
A cotovia e a raposa
Não se deve dar crédito aos loucos.
**
O autor - Epílogo
Acerca daqueles que lêem o livrinho.
A maldade e a probidade dos homens louvam igualmente o
que a minha Musa compõe, o quer que isto seja; porém esta
probidade louva com sinceridade; aquela maldade irrita-se em
silêncio.
126
(·) Terraneola, derivada de terraneus.
127
**
NOVAS FÁBULAS
Clássicos Inq. 20 - 9
**
O RATO E A RÃ
Um rato, para que pudesse mais facilmente atravessar um rio,
pediu auxílio a uma rã. Esta atou o rato ao seu próprio pé.
Depois, maquinando uma traição,, submergiu-se subitamente
no meio das águas, para que tirasse a vida ao companheiro.
Enquanto este luta bastante fortemente em sentido contrário,
um milhafre que voava sobre eles agarrou com as unhas ávidas
o rato avistado, e ao mesmo tempo levou consigo este rato e a
rã.
O que maquina a outrem a sua ruína deve acautelar
semelhantes perigos aos seus merecimentos.
**
O rato da cidade e o rato do campo
Um tal testemunho de velho autor aconselha a viver antes
seguro na pobreza do que, sendo rico, ser atormentado com
todas as coisas.
131
Bolotas. O outro, tendo-se alimentado com estas coisas, com
grande aborrecimento, conseguiu por meio de súplicas que o
rato do campo, abandonadas as suas habitações, começasse a
viver consigo a vida da cidade. Vieram para a cidade e
entraram numa soberba casa, e introduziram-se num celeiro
cheio de todas as comidas boas. Enquanto eles ali usufruem os
restos admiráveis das comidas desconhecidas até então do
rato do campo, o dispenseiro apressado empurrou a porta. Os
ratos fogem aterrados com esta súbita aber-tura. Dentre estes
ratos o rato da cidade esconde-se nos seus abrigos; o outro,
procurando em vão as saídas na nova casa, atrapalhou-se,
acreditando que ele estava próximo da morte. Finalmente,
logo que o caseiro deixou o celeiro fechado, o rato da cidade
diz:
**
Um burro que fazia festas ao seu dono
Conta-se que um burro, logo que viu que um cão fazia festas
ao seu dono e era saciado liberalmente da mesa deste,
respondeu:
132
**
O leão e o rato
Os ratos do campo andavam brincando, enquanto um leão
dormia. Um da multidão destes ratos passou por acaso, de um
salto, sobre o leão deitado. O leão, acordado, apanhou aquele
com rápido ímpeto. Aquele rato pede-lhe que lhe seja dado
perdão, porque foi contrariado que prevaricara com
imprudência. O leão, não julgando glorioso vingar-se do rato,
soltou-o sem punição. Poucos dias depois, enquanto o leão
vagueava de noite, caiu numa cova. Conheceu que ele estava
aprisionado, e começou a rugir com estrondosa voz. O rato
acorreu ao som enorme deste leão, e diz: Não há motivo para
que temas. Dar-te-ei agradecimentos iguais ao benefício que
de ti recebi. E ao mesmo tempo percorreu com os olhos os nós
da rede, e começou a cortar com os dentes os laços desta
133
**
O milhafre doente
Como um milhafre estivesse doente há muitos meses e
dificilmente visse que havia esperança de vida para si, pedia à
mãe que fosse visitar os lugares sagrados e fizesse votos pela
saúde do filho.
- Farei isso, disse ela, mas receio que não alcance o auxílio. Tu
que, quando tinhas saúde, devastaste todos os santuários dos
deuses e profanaste todos os altares, o que julgas que ainda
as minhas preces podem fazer?
**
As aves e a andorinha
134
**
As lebres e as rãs
Quem não pode suportar o mal próprio, olhando os alheios,
acostume-se a sofrer os seus infortúnios.
**
O lobo e o cabrito
Uma cabrinha, que ia pastar, aconselhou ao seu filho que não
abrisse a porta a ninguém, porque ela sabia que as feras iam à
volta dos estábulos dos reba-
135
Rebanhos. Em seguida dirigiu-se a um bosque. Pouco depois
veio o lobo e, imitando a voz das mãe do cabrito, disse:
**
O escravo desertor e o leão
A severidade dum rosto austero desaprova o facto de
constantemente brincarmos com fábulas fictícias, atribuindo a
voz ora ao irracional ora à árvore, e odeia a verdade, porque é
dita com riso. Mas vê diligentemente as causas das coisas. Em
toda a natureza conhecerás afeições iguais, o ódio e a amizade
e o prazer com tristeza. Porém, se a natureza tivesse dotado os
outros seres com a voz, assim como dotou os homens, ver-se-
ia com palavras prudentes que os irracionais combatiam com
os peitos de pessoas sábias. Para que não pareça que eu disse
estas coisas demasiado imprudentemente, confiaremos à
memória deste século um acontecimento admirável, e que
dificilmente os vindouros acreditarão.
* Androclo.
136
**
Os animais, as aves e o morcego
**
As ovelhas e os lobos
Como as ovelhas e os lobos tivessem lutado num combate,
aquelas venceram, auxiliadas com a protecção dos cães. Os
lobos, então, enviados embaixadores, pediram às ovelhas uma
aliança com esta lei: que os cães recebessem reféns da paz, e
eles próprios entregariam os seus cachoros. O pacto é feito
segundo a proposta. Pouco depois os lobos, violado o direito,
aparecem de todos os lados e matam as ovelhas privadas de
defensor.
Aquele que se despojou dos próprios defensores, esse mesmo
entregará a cabeça à espada dos inimigos.
**
O gavião e o rouxinol
Enquanto um gavião poisa casualmente no ninho dum
rouxinol, para que observasse os campos, encontrou os filhos
do rouxinol no ninho. A mãe pedia-lhe que lhe poupasse a sua
prole.
138 139
**
O camponês e as árvores
Os que dão auxílio aos seus inimigos deitam-se a perder.
**
Os membros e o estômago
Quando os partidos fazem discórdia na cidade, toda a
república se volve em perigo.
Os restantes membros do corpo tinham negado ao estômago
as costumadas ofertas de comida, porque ele somente entre
todos usufruia uma ociosidade despreocupada, e não lhe
forneciam alguma comida a ele que a pedia. Como
permanecessem no seu propósito, depois de alguns dias todos
os membros foram afrouxados por causa do estômago em
jejum. Por fim, quando quiseram de novo ingerir alimento, o
estômago não pôde recebê-lo, estando já obstruídas as vias do
aparelho digestivo.
**
Dois homens, um mentiroso e outro verdadeiro, e os
macacos
O mentiroso respondeu:
- Que tal te pareço ser eu, e que te parecem ser estes meus
companheiros? Respondeu:
140 141
**
A espada e o viandante
Um viandante encontrou uma espada estendida no meio do
caminho e perguntou-lhe:
- Quem te perdeu?
**
Uma raposa metamorfoseada em homem
Nenhuma fortuna encobre a torpeza natural.
Como Júpiter tivesse transformado uma raposa com o
semblante humano, logo que a leviana se sentou no trono das
leis, viu um escaravelho que saía dum canto e com o passo
acelerado saltou para a presa conhecida. Os deuses do céu
riram-se. O grande pai Júpiter corou e expulsou dos assentos a
raposa repudiada, prosseguindo com estas palavras:
**
O burro e o boi
Um burrinho e um boi puxavam um carro ligado ao mesmo
jugo. Enquanto o boi se esforça mais fortemente, partiu um
chifre. O burro impassível com a grave fatalidade do
companheiro não lhe presta nenhum auxílio. Logo que o boi foi
prostrado com a excessiva carga, o boieiro carregou sobre o
burro a carne do boi morto. O orelhudo desfalece acabrunhado
com mil chagas e expirou caído no meio do caminho. Então as
aves que vieram ter com a nova presa disseram: Se te tivesses
tornado afável para com o boi, que te suplicava auxílio, não
nos alimentarias com a tua morte prematura.
142 143
**
O cavalo e o burro
Um burro pedia a um cavalo uma pequena porção de cevada.
Respondeu:
**
BIBLIOGRAFIA
Phaedri Augusti Liberti Fabularum Libri
quinque. Nouvelle edition... suivie des imitations de La
Fontaine par M. A. Caron. Paris. Librairie Classique Eugène
Belin. Com a tradução das no-tas em português nas edições de
1937 e de 1942, das «Fábulas de Fedro» anotadas (sic) por
Francisco Júlio Martins Sequeira, pro-fessor do Liceu Camões.
Livro aprovado por despacho ministerial de 9 de Julho de
1937, mediante parecer da 3.a secção da Junta Nacional de
Educação.
Phèdre. Fables Choisies annotées par Fernand
Flutre. Col. René Vaubourdolle. Lib. Hachette. Paris.
Phoedri Fabularum Aesopiarum Libri
quinque. Emendavit annotavit supplevit Lucianus Mueller.
Lipsiae. In Aedibus B. G.
Teubneri, 1877.
Phaedri Liberti Augusti Fabularum libri
quinque cum notis Gallicis. Lugduni, apud Tournachon - Molin
Bibliopolam 1805.
Phaedri Augusti Liberti Fabulae Aesopiae. Sem
rosto. Por C. H. Weise. Lipsiae, 1842(7).
Phaedri Augusti Liberti Fabulae Aesopiae,
par M. L'Abbé E. Debrie. Paris, 1928.
The Fables of Phaedrus by Rev. G. H. Nall. London, 1929.
Phaedri Augusti Liberti Fabulae Aesopiae
ad Lusitanae Ju-ventutis commodum. Editio sexta. Olisipone,
1819.
Phaedri Augusti Liberti Fabulae Aesopiae ad
Lusitanae Ju-ventutis commodum. Olisipone. Ex f ypographia
Nationali, 1842.
Phaedri Fabulae in usum scholarum. Olisipone.
Ex. Typo-graphia Nationali, 1897.
144
Inq. 20 - 10
145
Phaedri Fabularum Libri quinque. 11." edição publicada com
várias notas em português por J. S. Roquette. Aillaudá C.",
Paris, Lisboa.
Fábulas de Phedro com notas e um vocabulário por João M.
Moreira. Porto, 1893.
Phaedrus para uso das escolas, anotado por Augusto Epifâ-
nio da Silva Dias. 4.a edição, melhorada. Lisboa, 1894.
Fábulas de Fedro. Texto latino anotado por Augusto Epifâ-nio
da Silva Dias. Edição actualizada por Nicolau Firmino. Lis-boa
1942.
Fábulas de Fedro. Texto Latino anotado por Eduardo Anto-
nino Pestana e António J. Sá e Oliveira. Lisboa, 1943.
Fábulas de Fedro. Edição organizada por José Pereira Tava-
res. Lisboa, 1941.
Fábulas de Fedro, anotadas por F. A. Xavier Rodrigues. Lis-
boa.
Nouveau recueil de Fables d'Ésope par E. Ragon. Paris, 1911.
Fábulas de Esopo, reduzidas a rima, por Miguel do Couto
Guerreiro. Lisboa, 1788.
Fábulas de Esopo, traduzidas por Manuel Mendes da Vidi-
gueira. Lisboa, 1791. Idem, nova edição. 1835.
Tradução Justalinear das Fábulas de Fedro, por Campos e
Sousa, Lisboa, 1935.
Fables de Phèdre, affranchi d'Auguste, traduites en français. A
Marseille, 1789.
Les Auteurs Latins par deux traductions françaises... par une
société de professeurs et de latinistes. Phèdre. Fables. Paris,
Libr. Hachette, 1882.
Fables de Phèdre traduites en français par M. D. Marie. Pa-ris
Lib. Hachette. 1846.
Fables de Phèdre. Sem rosto. De 1'imprimerie de Knapen, au
bas du Pont S. Michel, Paris, 1757.
Fables de Phèdre. Traduction nouvelle avec des notes par M.
L'Abbé Paul. A Lyon, 1816.
Fables Choisies mises en vers par Monsieur de La Fontaine. A
Amsterdam, 1700.
Tradução livre das melhores fábulas de La Fontaine, por Bel-
chior Manuel Curvo Semmedo Torres de Sequeira, entre os
Área des Belmiro Transtagano. Lisboa, 1843.
146
Fábulas de Phedro traduzidas literalmente pot P. F. Frazão
Tavira, 1892.
Fábulas de Phedro, escravo forro de Augusto César, traduzi-
das por F. Celestino de Azevedo Bartholo. Coimbra, 1872.
Logares Selectos de escritores latinos com a tradução interli-
near para uso das escolas; por M. Simões Dias Cardoso. Coim-
bra, 1857. (De págs. 143 a 243).
Tradução literal das Fábulas de Phedro, com o texto acen-
tuado à margem por um professor particular da língua.
Segunda edição. Porto, 1872.
Fábulas Selectas parafraseadas do texto latino em singela ri-
ma portuguesa... por dois alunos da Escola Académica. Lisboa,
1886.
Fábulas de Phedro vertidas para português por A. B. Santos
Martins. Lisboa, 1887.
Fábulas de Phedro. Tradução em verso de A. I. de Mesquita
Neves. Rio de Janeiro, 1884.
Tradução de todas as Fábulas de Phedro do original latino
para português, por João Felix Pereira. Lisboa 1871.
Tradução das Fábulas de Phedro, por P. João Ravizza, da
Arcádia Romana. Nictheroy. 1932.
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L
DADOS BIOGRÁFICOS
DANIEL JOSÉ RODRIGUES - «Diplomado com o Curso
Superior do
Comércio pelo Instituto Industrial e Comercial do Porto.
Natural de Varge,
anexa da freguesia de Aveleda, concelho de Bragança, nasceu
a 1 da Maio
de 1877; filho de Martinho José Rodrigues, natural de Varge, e
de D. Erme-
linda Carlota, natural de Gimonde. Em 1898 (?) foi nomeado
professor
interino do Liceu de Bragança, de onde, em 1900, transitou
para o do
Porto. Em 1901 fez concurso para as cadeiras liceais, terceiro
grupo (inglês
e alemão), e, ficando aprovado, foi despachado para o Liceu
Nacional de
Bragança por decreto de 17 de Abril de 1901. Em Janeiro de
1903 foi
nomeado sócio do Instituto de Coimbra. ,
Traduziu do inglês o VIGÁRIO DE WAKEFIELD, de Olivier
G0ldsm>itk Lisboa, Guimarães e Companhia, 1904, 8.° de VIII-
231 págs, O prólogo, que vem à frente da obra e ocupa VIM
págs., é obra do tradutor.
: ROMANZAS (Complemento ao ROMANCEIRO). Separata do
INSTI-
TUTO,-Coimbra, Imprensa da Universidade, 1907. 4.r de 19.
págs. rÉ uma
colecção de sete romanzas coligidas na região bragançana,
acompanhadas
de comentários, |-.--. | | -
A notável folciorista D. Carolina Michaêlis de Vasconcelos, em
os seus
ESTUDOS SOBRE O ROMANCEIRO PENINSULAR, 1907-1909,
págs. 7 6 9,
e outros, refere-se elogiosamente às ROMANZAS, «que a meu
ver (dela)
se compõem de decalcos bastante fiéis, embora abreviados, de
textos
asturianos, talvez de introdução recente». r
O ENSINO DA GRAMÁTICA NAS LÍNGUAS VIVAS (separata de
O INSTITUTO); vol. LVI. Coimbra, 1909. 8.° de 14 págs.. [I
O RIO D'ONORENSE (Dialecto trasmontano). Separata do
INSTITUTO,
volume LV, Coimbra 1909. 8.° de 22 págs.. -
Tem em preparação LENOiAS ALEMÃS E LENDAS
PORTUGUESAS, e
tem colaborado n'0 NORDESTE, DISTRITO DE BRAGANÇA,
ILUSTRAÇÃO
TRASMONTANA e INSTITUTO DE COIMBRA.
A propósito deste nosso ilustre conterrâneo, diz o grande
sábio José Leite de Vasconcelos, que ele é «autor de alguns
trabalhos etnográficos acerca da província, e a quem, se não
esmorecer, está reservada proveitosa