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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
J43
Jean Michel, Padre
Tratado das Tentações / Pe. Jean Michel, SJ [obra póstuma] – 1ª ed. – São Caetano do
Sul, SP: Santa Cruz – Editora e Livraria, 2021.
64 p.
ISBN 978-65-87994-18-5
1. Igreja Católica. 2. Vida espiritual
I. Título
CDD: 235
Title Page
Copyright
1. As tentações não são sinal de distância de Deus
2. As tentações não são sinal de um coração mau
3. É preciso recorrer a Deus nas tentações
4. Como saber se se consentiu na tentação
5. Sobre as tentações curtas e passageiras
6. Sobre as tentações duradouras e importunas
7. Sobre as tentações que perturbam as virtudes
8. Não se deve discutir com a tentação
9. Sobre as tentações frequentes
10. As vantagens das tentações
11. Maior vigilância e dependência de Deus
12. Efeitos das tentações nas almas negligentes
13. Combater a tentação não é perda de tempo
1. As tentações não são sinal de distância de Deus
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2. As tentações não são sinal de um coração mau
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3. É preciso recorrer a Deus nas tentações
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4. Como saber se se consentiu na tentação
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5. Sobre as tentações curtas e passageiras
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6. Sobre as tentações duradouras e importunas
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8. Não se deve discutir com a tentação
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9. Sobre as tentações frequentes
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10. As vantagens das tentações
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11. Maior vigilância e dependência de Deus
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12. Efeitos das tentações nas almas negligentes
As tentações, que parecem dever perder as almas negligentes,
muitas vezes têm sido um meio de que Deus se tem servido para
retirá-las do estado de displicência em que elas viviam, e para lhes
fazer praticar a virtude com um fervor porfiado. Há almas que levam
uma vida esmorecida nas vias da piedade. Na verdade, não há
desordem assinalada na conduta delas; mas também elas não dão
atenção à sua perfeição. Se não cometem dessas faltas graves que
as afastariam de Deus, fazem pouco bem, pelo pouco cuidado que
têm de praticar a mortificação dos sentidos e das paixões mesmo
honestas e, em certo sentido, inocentes, ou que lhes parecem tais; e
de agirem habitualmente num espírito de fé. A sua vida, todo natural
na maioria das suas ações, bem pouco mérito tem perante Deus.
Elas são como uma nau que, em tempo de calmaria, quase não faz
caminho.
Por misericórdia, Deus perturba essa calmaria por
tempestades. A tentação desperta a piedade adormecida nessa
alma, que Deus ilumina nesse momento e que atrai a si por sua
graça. Ela se vê de repente à borda de um precipício que lhe faz
horror. Vê-se a braços com inimigos que empregam alternativamente
a doçura e o terror para seduzi-la ou intimidá-la. A Religião age então
no coração dela com mais força. Assustada com o perigo, ela recorre
ao seu Deus, em quem põe toda a sua confiança, para sair vitoriosa
do combate. Se os assaltos se renovam, para evitar perder-se ela
pensa seriamente em se fortificar contra os ataques reiterados dos
seus inimigos, por todos os meios que a Fé lhe fornece.
Desta maneira, aplicada à oração, que deve alcançar-lhe as
graças de força de que ela precisa para resistir; unida a Deus, a
quem o perigo em que ela se acha a reconduz sem cessar; vigilante
sobre si mesma, para não cair nas ciladas que lhe são armadas, ela
não age mais senão por motivos de piedade, coloca-se num
exercício contínuo de virtude. Tudo o que deseja, tudo o que faz,
quer que seja uma homenagem que o seu coração preste a Deus.
Quanto mais premida se sentir pelas paixões que a atacarem, tanto
mais se firmará na determinação de nunca se afastar dessa trilha, a
única que pode pô-la a coberto dos ataques dos seus inimigos.
Assim, de uma vida negligente ela passa logo a uma vida de fervor,
em que todos os seus momentos são consagrados a Deus.
Essa mudança deve ocorrer se essa alma, até então tíbia e
displicente, for fiel à sua graça. Porquanto, assim atacada pela
tentação, vendo a sua salvação em perigo, querendo evitar a
desgraça irreparável da sua perdição, por pouco que raciocinar
segundo os princípios da Fé ela compreenderá desde logo que
haveria presunção, e uma presunção bem culpada, se esperasse de
Deus a vitória sem empregar, para alcançá-la, nenhum dos meios a
que Deus a ligou. Uma alma que, a pretexto da misericórdia de
Deus, pretendesse ter os socorros para resistir às paixões que a
atacam embora levasse uma vida dissipada e omitisse ou cumprisse
com negligência os exercícios de piedade; embora se aproximasse
dos sacramentos ou raramente ou com pouca preparação, e não
quisesse incomodar-se para evitar as faltas leves; essa alma tentaria
a Deus: tornar-se-ia indigna do seu socorro; mereceria que Deus
permitisse que ela experimentasse toda a sua fraqueza, que se
tornasse escrava de todas as suas paixões.
Com tais disposições, poder-se-ia dizer com verdade que
essa alma tíbia e covarde não quereria sinceramente resistir:
porquanto querer o fim sem empregar os meios é realmente não o
querer. Deus lhe diria com justiça, como dizia ao seu povo: A vossa
perdição vem de vós, ó Israel (Os 13, 9). Não falo, pois, de uma alma
desse caráter: falo daquela que, apesar da sua negligência, teme
bastante o pecado, ama bastante o Senhor, para estar na disposição
sincera de não o ofender mortalmente e, conseguintemente, de
empregar os meios que Deus lhe deu para obter a sua proteção. A
tentação é utilíssima a essa alma para tirá-la da sua indolência e
para lhe fazer renascer o seu fervor.
Os Padres, na vida espiritual, convêm que Deus permite às
vezes que uma alma que está na tibieza caia em alguma falta grave,
para tirá-la do seu torpor pelo horror que ela sente dessa falta.
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13. Combater a tentação não é perda de tempo
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