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1997 - Fuga de Feras
1997 - Fuga de Feras
Referência:
PACHALY, J.R. Abordagem racional do problema da fuga de grandes carnívoros e primatas
em zoológicos e circos. Porto Alegre: A hora veterinária, v. 17, n. 98, 1997, p. 5-8.
RESUMO
Discute-se a abordagem veterinária do problema da fuga de grandes carnívoros e
primatas em zoológicos e circos. São propostos métodos farmacológicos para
rápida recaptura dos animais fugitivos e, na impossibilidade de recaptura, a maneira
mais indicada de neutralizar o potencial agressivo de tais animais, evitando
ferimentos ou mesmo a morte de pessoas.
ABSTRACT
This article discusses a veterinary approach to the escape of large captive carnivores
and primates. There are proposed pharmacological methods to immediate recapture
of such animals. In case of impossibility of recapturing fugitives a way of neutralizing
their potential aggressiveness is proposed, in order to avoid injuries to both staff and
visitors.
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São drogas cuja utilização fora de um centro cirúrgico bem equipado implica
em sérios riscos de vida para o paciente, podendo levar ao óbito por paralisia da
musculatura respiratória. Apresentam, porém, bom potencial de eficiência em
situações de recaptura urgente de feras fugitivas em ambientes de zoológico ou
circo, sendo capazes de imobilizar o animal num período de tempo muito curto,
geralmente menor que 60 segundos. Adicionalmente, o efeito de alguns desses
bloqueadores neuromusculares pode ser revertido farmacologicamente logo após a
recaptura do fugitivo.
Os agentes bloqueadores neuromusculares são drogas capazes de inibir a
transmissão de impulsos nervosos na junção neuromuscular somática. Agem
interferindo na eficiência da acetilcolina em ativar os receptores colinérgicos
nicotínicos pós-sinápticos das células musculares esqueléticas, resultando sua ação
em paralisia muscular esquelética e relaxamento muscular. Os bloqueadores
neuromusculares são classificados em agentes não despolarizantes (competitivos) e
agentes despolarizantes (ADAMS, 1992). Para efeito de recaptura de feras
fugitivas, recomendamos o emprego dos agentes não despolarizantes, também
denominados bloqueadores neuromusculares competitivos.
Os bloqueadores neuromusculares não despolarizantes paralisam a
musculatura esquelética interagindo com os receptores colinérgicos nicotínicos das
células da musculatura esquelética, tornando-os inacessíveis à função transmissora
da acetilcolina. O antagonismo dos efeitos dos bloqueadores neuromusculares não
despolarizantes é obtido pela administração de metilsulfato de neostigmina, inibidor
da colinesterase (ADAMS, 1992).
Indicamos o emprego do trietil-iodeto de galamina, bloqueador neuromuscular
não despolarizante cuja absorção, segundo ADAMS (1992), ocorre rapidamente e
propicia concentrações plasmáticas eficazes logo após uma injeção intramuscular.
Além da facilidade do emprego seguro da via intramuscular, viabilizando o uso de
dardos, a possibilidade de reversão farmacológica de seus efeitos faz do trietil-iodeto
de galamina a droga menos problemática de seu grupo, no que tange ao emprego
emergencial em animais selvagens. Este medicamento é comercializado no Brasil
na concentração de 20 mg/ml (Flaxedil®, Rhodia), e a dose indicada é de 0,4 mg/kg
(1 ml para 50 kg).
Uma vez que o animal esteja imobilizado pelo efeito da galamina, deve
imediatamente ser contido por meios físicos, para que em condições de completa
segurança, possa ser feita a reversão dos efeitos de bloqueio neuromuscular pelo
metilsulfato de neostigmina. Este medicamento é comercializado no Brasil na
concentração de 0,5 mg/ml (Prostigmine®, Roche), e a dose indicada é de 0,02
mg/kg (1 ml para 25 kg). Para reversão clínica da paralisia neuromuscular
provocada pela galamina, a neostigmina deve ser administrada lentamente pela via
intravenosa, sendo fundamental o cateterismo venoso imediatamente após a
imobilização. Como a droga é um inibidor da colinesterase, causa intensificação da
atividade da acetilcolina, tanto nos receptores muscarínicos quanto nicotínicos.
Assim, para prevenção dos efeitos muscarínicos da neostigmina, é essencial a
administração prévia de sulfato de atropina, preferencialmente quando da injeção de
galamina, no mesmo dardo, em doses de 0,05 a 0,1 mg/kg (HARTHORN, 1976;
ADAMS, 1992). É importante também frisar que a neostigmina não antagoniza os
efeitos colaterais da galamina, como a hipotensão, e pode de fato agravá-los. Tais
efeitos colaterais devem ser tratados com anti-histamínicos e drogas hipertensoras,
como a noradrenalina (HARTHOORN, 1976).
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A arma deve ser carregada com dois tipos de cartuchos, em uma seqüência
específica, de maneira que o primeiro tiro seja dado com um cartucho de chumbo
SG (nove esferas de 8,4 mm - alcance até 35 m), o segundo com um balote (projétil
singular de 24,8 g - alcance até 50 m), o terceiro com SG, e assim sucessivamente.
Como recomendação adicional, melhores resultados serão obtidos se a munição
citada seguir as especificações do tipo 12/76,2, série Magnum. Via de regra, o
primeiro tiro não necessita de grande precisão, pois atingirá o animal em vários
pontos do corpo, uma vez que as nove esferas do chumbo SG saem "espalhadas",
paralisando momentaneamente o animal. O segundo tiro deverá aproveitar a menor
movimentação do animal, permitindo maior precisão, e o impacto do balote contra
uma área vital. Caso os primeiros disparos não tenham sucesso, a seqüência deve
ser reiniciada, até pôr fim ao sofrimento do animal.
As armas e munições mencionadas são fabricadas no Brasil, podendo ser
adquiridas legalmente no comércio.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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