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EXERCÍCIOS: CLARICE LISPECTOR

Texto para responder à questão nº 1.


“(…) Estou me enganando, preciso voltar. Não sinto loucura no desejo de morder estrelas, mas ainda
existe a terra. É porque a primeira verdade está na terra e no corpo. Se o brilho da estrela dói em mim, se é
possível essa comunicação distante, é que alguma coisa quase semelhante a uma estrela tremula dentro de mim.
Eis-me de volta ao corpo. Voltar ao meu corpo. Quando me surpreendo ao fundo do espelho assusto-me. Mal
posso acreditar que tenho limites, que sou recortada e definida. Sinto-me espalhada no ar, pensando dentro das
criaturas, vivendo nas coisas além de mim mesma. Quando me surpreendo ao espelho não me assusto porque
me ache feia ou bonita. É que me descubro de outra qualidade. Depois de não me ver há muito quase esqueço
que sou humana, esqueço meu passado e sou com a mesma libertação de fim e de consciência quanto uma coisa
apenas viva. (…)”
O texto foi escrito por Clarice Lispector, autora da 3a fase do Modernismo Brasileiro, no livro “Perto do
Coração Selvagem”. Percebe-se, no fragmento, características da autora que permeiam o conjunto de sua obra.
1) Marque a alternativa em que todos os itens se destacam em toda a obra de C. Lispector.
a) Prosa intimista; busca da essência das coisas; os fatos em si importam menos do que a repercussão dos fatos
no indivíduo.
b) Prosa poética; busca da essência das coisas; os fatos em si importam mais do que a repercussão dos fatos no
indivíduo.
c) Prosa intimista; busca da essência das coisas; forte pessimismo.
d) Prosa poética; engajamento religioso; intimismo.
e) Prosa intimista; regionalismo; os fatos em si importam menos do que a repercussão dos fatos no indivíduo.

Textos para a questão nº 2.


Fragmento 1
"As palavras me antecedem e ultrapassam, elas me tentam e me modificam, e se não tomo cuidado será tar-
de demais: as coisas serão ditas sem eu as ter dito. Ou, pelo menos, não era apenas isso. Meu enleio vem de
que um tapete é feito de tantos fios que não posso me resignar a seguir um fio só; meu enredamento vem de que
uma história é feita de muitas histórias." (de "Os desastres de Sofia")
Fragmento 2
"(...) Na verdade era uma vida de sonho. Às vezes, quando falavam de alguém excêntrico, diziam com a be-
nevolência que uma classe tem por outra: "Ah, esse leva uma vida de poeta". Pode-se talvez dizer, aproveitando
as poucas palavras que se conheceram do casal, pode-se dizer que ambos levavam, menos a extravagância,uma
vida de mau poeta: vida de sonho. Não, não era verdade. Não era uma vida de sonho, pois este jamais os orien-
tara. Mas de irrealidade. (de "Os obedientes")
Com base nos fragmentos acima transcritos, extraídos de contos do livro “Felicidade clandestina”, de
Clarice Lispector, considere as seguintes afirmativas:
I. Narrar ou deixar de narrar, avaliar de diferentes maneiras um mesmo fato narrado são hesitações frequentes
dos narradores de Clarice Lispector. Como nos fragmentos acima, também em outros contos prioriza-se a abor-
dagem da vida interior, própria ou alheia, revelando sutis alternâncias de percepção da realidade.
II. O aspecto metalinguístico do 1º fragmento não está presente em todos os contos, mas é fundamental para al-
gumas narrativas, dentre as quais "Os desastres de Sofia", que trata da complexa relação entre uma menina e o
professor que a ajudou a perceber a força da palavra escrita.
III. Como em "Os obedientes", também nas outras narrativas de “Felicidade clandestina" homens e mulheres
passam por idênticas angústias. Na ficção de Lispector, as diferenças entre a percepção masculina e a feminina
não são tematizadas, pois o ser humano está sempre condenado a viver num mundo incompreensível.
IV. O desfecho surpreendente de “Os obedientes”, com o suicídio da esposa, reforça a visão crítica dos narrado-
res da autora sobre a rotina da vida doméstica, nunca observada como uma "vida de sonho".
V. Na ficção de Clarice, apenas as personagens adultas têm consciência de seus processos interiores. As crian-
ças e adolescentes sofrem o impacto de novas descobertas, mas sua inocência os afasta de qualquer comporta-
mento perverso e os protege dos riscos de viver mais intensamente.
2) Estão corretas apenas: _____________

No romance A hora da estrela (1977), de Clarice Lispector, o narrador faz muitas observações acerca de
Macabéa, tais como:
I. Há os que têm. E há os que não têm. É muito simples: a moça não tinha. Não tinha o quê? É apenas isso
mesmo: não tinha.
II. Ela não pensava em Deus. Deus não pensava nela.
III. Vejo a nordestina se olhando no espelho e – um ruflar de tambor – no espelho aparece o meu rosto
cansado e barbudo. Tanto nós nos intertrocamos.
IV. [...] ela era um acaso. [...] Pensando bem: quem não é um acaso na vida?
3) Tais frases nos permitem dizer que Macabéa provoca no narrador:
a) um forte sentimento de piedade, provocado pela condição miserável em que ela vive.
b) um desejo imenso de acolhê-la em sua casa, ou de ajudá-la de alguma forma.
c) uma revolta diante do drama dos migrantes nordestinos no Sudeste, simbolizado por Macabéa.
d) sentimentos que ele mesmo não sabe definir, mas que têm a ver com a condição humana.
e) uma necessidade de escrever para tentar entendê-la, pois ele se identifica com ela.

Texto para responder à questão nº 4.


“Eis que de repente vejo que não sei nada. O gume de minha faca está ficando cego? Parece-me que o mais
provável é que não entendo porque o que vejo agora é difícil; estou entrando sorrateiramente em contato com
uma realidade nova para mim e que ainda não tem pensamentos correspondentes e muito menos ainda alguma
palavra que a signifique. É mais uma sensação atrás do pensamento.”

4) Neste trecho de Clarice Lispector, expõe-se uma convicção muitas vezes determinante para seu modo
de produção ficcional:
a) a narrativa deve registrar fielmente as ações sobre as quais o narrador se debruça.
b) às ideias mais claras e cortantes devem corresponder as palavras mais simples.
c) o ato de narrar persegue a revelação de coisas essenciais que desafiam a expressão.
d) toda história tem que determinar por si mesma o movimento natural das palavras.
e) só se pode encontrar uma nova realidade quando se está liberto das puras sensações.

Minha alma tem o peso da luz

Minha alma tem o peso da luz. 


Tem o peso da música. 
Tem o peso da palavra nunca dita, 
prestes quem sabe a ser dita. 
Tem o peso de uma lembrança. 
Tem o peso de uma saudade. 
Tem o peso de um olhar. 
Pesa como pesa uma ausência. 
E a lágrima que não se chorou. 
Tem o imaterial peso da solidão no meio de outros. Clarice Lispector

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