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AVALIAÇÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA – QUARTO BIMESTRE

Nome do aluno: Thayná Vitória Souza Leite


Turma: 3° Mecânica_____________ data: 26/01/2023 Valor: 2,5 Nota: _______

Questão 1: (Valor: 0,6)

Partindo da leitura de um pequeno comentário crítico sobre a obra de Clarice Lispector, transcrito a
seguir, teça considerações sobre o conto “O búfalo” que expressem o que está sendo afirmado no
referido trecho.

Principal nome de uma tendência intimista na literatura brasileira, Clarice propôs uma viagem ao
consciente individual: a experiência interior passa para o primeiro plano da criação literária, deixando
em segundo plano o meio externo, o homem e sua condição social. Para Clarice, o ponto de partida
foram as experiências pessoais, o universo feminino - apesar de jamais ter aceitado o rótulo de
escritora feminista - e seu ambiente familiar. Experimentou inovações como o fluxo de consciência,
indefinindo as fronteiras entre a voz do narrador e das personagens, denotando uma estrutura sintática
caótica, porém verossímil, ao representar com espontaneidade o pensamento, por vezes descontínuo
e desarticulado, de suas personagens.
Disponível em: <https://mundoeducacao.uol.com.br/literatura/a-prosa-intimista-clarice-lispector-1.htm>. Acesso em: 23
nov. 2021.

Em “o búfalo” as criticas do comentário destacado ficam bem a mostra, já que o mesmo fala de uma
mulher que não recebeu amor, sendo rejeitada até mesmo por seu amante. Com isso, ela vai buscar esse
sentimento de outro modo, através dos animais do zoológico público.

Questão 2: (Valor: 0,7)

Leia o poema abaixo e o fragmento retirado do conto “O búfalo”, de Carlos Drummond de Andrade
e Clarice Lispector, respectivamente, para responder à questão que os segue:

TEXTO I:

Um boi vê os homens

Carlos Drummond de Andrade


Tão delicados (mais que um arbusto) e correm
e correm de um para outro lado, sempre esquecidos
de alguma coisa. Certamente, falta-lhes
não sei que atributo essencial, posto se apresentem nobres
e graves, por vezes. Ah, espantosamente graves,
até sinistros. Coitados, dir-se-ia não escutam
nem o canto do ar nem os segredos do feno,
como também parecem não enxergar o que é visível
e comum a cada um de nós, no espaço. E ficam tristes
e no rasto da tristeza chegam à crueldade.
Toda a expressão deles mora nos olhos — e perde-se
a um simples baixar de cílios, a uma sombra.
Nada nos pelos, nos extremos de inconcebível fragilidade,
e como neles há pouca montanha,
e que secura e que reentrâncias e que
impossibilidade de se organizarem em formas calmas,
permanentes e necessárias. Têm, talvez,
certa graça melancólica (um minuto) e com isto se fazem
perdoar a agitação incômoda e o translúcido
vazio interior que os torna tão pobres e carecidos
de emitir sons absurdos e agônicos: desejo, amor, ciúme
(que sabemos nós?), sons que se despedaçam e tombam no campo
como pedras aflitas e queimam a erva e a água,
e difícil, depois disto, é ruminarmos nossa verdade.

TEXTO II:

Ele se aproximava, a poeira erguia-se. A mulher esperou de braços pendidos ao longo do


casado. Devagar ele se aproximava. Ela não recuou um só passo. Até que ele chegou às grades e ali
parou. Lá estavam o búfalo e a mulher, frente a frente. Ela não olhou a cara, nem a boca, nem os
cornos. Olhou os olhos.
E os olhos do búfalo, os olhos olharam seus olhos. E uma palidez tão funda foi trocada que a
mulher se entorpeceu dormente. De pé, em sono profundo. Olhos pequenos e vermelhos a olhavam.
Os olhos do búfalo. A mulher tonteou surpreendida, lentamente meneava a cabeça. O búfalo calmo.
Lentamente a mutuamente a mulher meneava a cabeça, espantada com o ódio com que o búfalo,
tranquilo de ódio, a olhava. Quase inocentada, meneando uma cabeça incrédula, a boca entreaberta.
Inocente, curiosa, entrando cada vez mais fundo dentro daqueles olhos que sem pressa a fitavam,
ingênua, num suspiro de sono, sem querer nem poder fugir, presa ao mútuo assassinato. Presa como
se sua mão se tivesse grudado para sempre ao punhal que ela mesma cravara. Presa, enquanto
escorregava enfeitiçada ao longo das grades. Em tão lenta vertigem que antes do corpo baquear macio
a mulher viu o céu inteiro e um búfalo.

LISPECTOR, Clarice. O búfalo. In: Laços de família. Rio de Janeiro: Rocco, 2009, p. 135.

Nos dois textos apresentados, podemos apontar uma linha aproximativa no que tange ao tratamento
dos animais. Explore a representação do animal no Texto I e no Texto II, discutindo elementos em
comum entre a visão do eu lírico e a do narrador que modificariam o olhar estigmatizante do homem
sobre o animal.

Em ambos os textos, os sentimentos dos animais são transmitidos através dos olhos, como pode ser
observado nos seguintes trechos “Toda a expressão deles mora nos olhos — e perde-se
a um simples baixar de cílios, a uma sombra.” e “E os olhos do búfalo, os olhos olharam seus olhos.
E uma palidez tão funda foi trocada que a mulher se entorpeceu dormente. De pé, em sono
profundo. Olhos pequenos e vermelhos a olhavam. Os olhos do búfalo. A mulher tonteou
surpreendida, lentamente meneava a cabeça. O búfalo calmo.”, com isso concluímos que em I o eu
lírico entende que os olhos dos animais transmitem simplicidade e fragilidade, enquanto em II os
olhares do búfalo transmitiam um ódio estranhamente tranquilo.

Questão 3: (Valor: 0,6)

Leia o trecho abaixo, que traz comentários que se aplicariam não somente à obra de Clarice Lispector,
como à produção literária pós-modernista. Análise e discuta como as informações apresentadas
podem ser aplicadas ao conto “O búfalo”, de Clarice Lispector. Traga exemplos do referido conto
para fortalecer sua resposta.

1) Clarice Lispector não se preocupa em contar uma estória. Sua preocupação maior é com as
impressões, como ela própria observa: “os meus livros não se preocupam com os fatos em si, porque
para mim o importante é a repercussão dos fatos no indivíduo”.

2) “Rompe-se assim a narrativa referencial ligada a fatos e acontecimentos. Em lugar dela, emerge
uma narrativa interiorizada, centrada num momento de vivência interior da personagem (ou
narrador)” — observam Youssef-Abdalla, em “Literatura Comentada”. O seu estilo, pois, — que
lembra Machado de Assis — é arrastado, anda devagar, porque a sua preocupação é desvendar a
verdade subjacente em cada um, mascarada pela casca da rotina.
Disponível em: <https://vestibular1.com.br/resumos/resumos-de-livros/lacos-de-familia-de-clarice-
-ii/>. Acesso em: 27 de jan. 2021.
Em 1 os fatos presentes no conto podem ser repercutidos pois ele retrata principalmente o ódio
contido em sua personagem “Onde aprender a odiar para não morrer de amor?”, que mais tarde se
transforma em um certo afeto pelos animais do zoológico “Mas onde, onde encontrar o animal
que lhe ensinasse a ter o seu próprio ódio? O ódio que lhe pertencia por direito, mas que em dor
ela não alcançava? Onde aprender a odiar para não morrer de amor?”.
Em 2 a vivência interior da personagem pode ser percebida em seu encontro com o búfalo, já que
a parte dela que só sabia amar, morre, “Em tão lenta vertigem que antes do corpo baquear macio
a mulher viu o céu inteiro e um búfalo” dando lugar a uma mulher consumida pelo ódio do
homem que a rejeitou.

Questão 4: (Valor: 0,6)


No conto “O búfalo”, a epifania, tão característica da obra de Clarice Lispector, tem uma presença
marcante. Explique e demonstre como e quando esse processo acontece na referida obra da autora.
O momento de epifania da personagem se dá no momento de encontro entre a mulher e o búfalo,
animal que ela acreditava ser consumido pelo ódio e que acaba arrancando-lhe um “Eu te amo” , seguido
de um “Eu te odeio” que implorava por amor.

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