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O ROMANCE
PORTUGUÊS
CONTEMpOR aNEO
e (passe a.
pressão) habilmente engendrado para prod
uzir as situações da
história, que quase sem ser história deixa, no enta
nto, essa
perturbação obscura que todos nós
buscamos em qualquer :
romance. Vergílio Ferreira reinventou
três personagens prin-
-cipais, das quais duas se sobrepõem numa
única, a fim de quê
possa conv alidar-se a “situação filosófica”. do romance.
elas: Adalberto São
e Aida/Alda, irmãs hipotêticamente gême
divididas no texto por um traço que desapare as,
ce aos olhos de
Adalberto, que nãoé capaz de “distinguir entr
e uma e outra.
Esta ambi giiidade das duas mulheres proporciona
todo .o es-
quema “operatório” da obra, esquema que conduz a6 amiquiila
mento das relações hiimânas, perd ilariamenté desgastadas na
violência e no excesso da pessoa que” Adal
berto é. O Autor
necessitou, de desdobrarà heroina em' duas pers
onálidades, a
fim de pôr à prova a incapacidade: do heró
i no reduzir a-si
próprio a pessoa que mora em “outrem, porq
ue amaúdo Aida,
casa-se com Alda, que afina] nã éoAlda mas sim Aida, sem que
Adalberto. se aperceba da substituição. Isto é, um tirat
riivés do
qual se pretendia revelar. um. eu; era o:falso
tu, e; todavia, en:
trou temporáriamente rio esquema -vital do eu, Esta “fraude
prova, à evidência, a. impossibilidade. de “osmos
e” das apari
t
5 — Em carta particular ao autor dêste livro, escrevia há tempos Vergílio
Ferreira o seguinte: “Eis porque as suas observações sóbre o “estilo” me
parecem particularmente pertinentes. Tal “estilo”, com efeito, tem acima
de tudo uma função operatória e não apenas de “suporte” e muito menos
de “enfeite”. Assim sempre se me afigurou superficial, a propósito dos
escritores “estilistas” — ou ao menos de alguns déles — a afirmação de
que escrevem bem. Porque quem apenas escreve bem —. escreve mal...”
FernaNDO MEDONÇA
OOPS
134
í
6 —“Eu não amava Alda, mas Aida, pórque Aida é que em minha mulher.
era O seu corpo que eu conhecia, era com ela que eu falava, era dela o
seu olhar, Podia, mesmo o seu nome não ser Aida, mas Alda. Alda aliás
estava morta, e era pois como se não tivesse nascido. Mas tinha vivido,
tinha sido, um modo único de ser a habitara, a fôra. E era êsse ser que
eu atingia na minha ilusão. Assim era irredutível como um. “eu” em
cada “nós”, Op. cit., págs. 292-293.
O Romance PorTUGUÊS CONTEMPORÂNEO 135
TEMPOS
III Im IV V VI VII
A B Cc
r»
ansiosa de madrugada, inte
“(..) na noite recente e m ave s
pertar das que dormia
minável e ansiosa do des -
mais densas € retorcidas árvo
- encolhidas nos ramos das agrestes
a de fôlhas duras,
res daquela amaldiçoada sec .
assustadas à sua passagem
de azinho e sôbro, um pouco movediças, sob res -
lar de pedras
déle pelo caminho irregu mpa-
ntes, que sempre o aco
saltadas, ternas aves, ama a se tor na:
na quando mais cru
nhavam com a natura ple de
mentada e os companheiros
va a lampa solidão experi ntejo,
olhos tão diferentes ale
alentejo, dum visto com e lon gín qua
a e à morte calma
mais se afastavam da rot de frá-
duma vida sempre igual
já esperavam no vazio torturava-o
momentâneos e dêles
geis valentias 'e gozos es-
essem suspeitar, na noite
a condição sem que O pud . quem sabe uma
stas que lhe preparava
fíngica de are l ime-
osc ada atr ás de qua lquer curva imperceptíve
emb João, seja
orados : olha o Daniel
morial de abismos ign passeian-
faz pra estas bandas,
bem apracido : “atão que de pilhar
poi s: a gen te cá vai à porca da vida, temos
do, a noute pas-
cassaltaram Oo mónte
aí uns filhas da mãe
sada. qo)
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E
à
a
O Romance PortucuÊs CONTEMPORÂNEO 145
— Ah, Mestre!
15 — A minha aprendizagem
"de escritor, in “Diário de Lisboa”, 4/6/64
16 — Op. cit., pág. 255
7 — A minha aprendizagem de escritor,
O Romance PortucuÊs CONTEMPORÂNEO
x
O Romance PorTUGUÊS CONTEMPORÂNEO 159
6 — A LINGUAGEM DA ESFINGE