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SEMINÁRIO:

O Cortiço
15/08/2022 – Aula de
Literatura

INSTITUTO FEDERAL DO SUDESTE DE MINAS GERAIS

Campus Juiz de Fora

BERNARDO CAMPOS RIBEIRO DE MOURA, DIEGO MIRANDO OUCHI,


HELOISA CAMPOS DELGADO, JÚLIA WYNE DE PAULA ALMEIDA, MARIA
LUIZA MACHADO MATIAS, VIVIAN LAURA DA SILVA

SEMINÁRIO DE LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA: ANÁLISE LITERÁRIA


DA “OBRA O CORTIÇO”

JUIZ DE FORA

2022
SEMINÁRIO:
O Cortiço
15/08/2022 – Aula de
Literatura

BERNARDO CAMPOS RIBEIRO DE MOURA, DIEGO MIRANDO OUCHI,


HELOISA CAMPOS DELGADO, JÚLIA WYNE DE PAULA ALMEIDA, MARIA
LUIZA MACHADO MATIAS, VIVIAN LAURA DA SILVA

SEMINÁRIO DE LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA: ANÁLISE LITERÁRIA


DA “OBRA O CORTIÇO”

Resenha apresentada como requisito parcial para


obtenção de aprovação na disciplina Língua
Portuguesa e Literatura, no Curso Técnico de Meio
Ambiente, no Instituto Federal do Sudeste de Minas
Gerais, Campus Juiz de Fora.

Profa. Denise

JUIZ DE FORA

2022
SEMINÁRIO:
O Cortiço
15/08/2022 – Aula de
Literatura

SEMINÁRIO: O CORTIÇO

1. INTRODUÇÃO

2. Sobre o autor: Aluísio Azevedo


Aluísio Azevedo nasceu na cidade de São Luís, Maranhão, em 14 de abril de 1857. Ainda
novo, o autor fazia caricaturas e poesias, como colaborador, para jornais e revistas no Rio de
Janeiro. Seu primeiro livro foi publicado foi "Uma Lágrima de Mulher", um ano após o
falecimento de seu pai. Mas sua primeira obra naturalista foi lançada apenas dois anos depois
em 1881.

Aluísio Azevedo, autor da obra "O Cortiço", é considerado um dos principais


representantes e fundador do naturalismo brasileiro. Aluísio também atribuiu conceitos
deterministas à seus romances, o que resultou na influência dos espaços geográficos onde se
passam as obras nas características dos personagens.

É perceptível que o autor retrata a realidade brasileira usando críticas às desigualdades.


Esse fato é facilmente observado na obra, pois existe uma clara divisão de classes, na qual um
grupo é privilegiado em relação a outro, além de exibir a violência vivenciada pela classe não
privilegiada.

Algumas características marcantes que se fazem presentes nas obras do autor são o
preconceito de raça, assuntos voltados para vícios sociais e adultério, uso de expressões
regionalizadas, desvalorização do comportamento moral e falta de ética, situações de miséria e
uma narrativa detalhada. Contudo, em "O Cortiço", Azevedo ainda trata a homossexualidade
como algo patógeno, utiliza como ferramenta, a zoomorfização dos personagens e o instinto
dos personagens do cortiço supera a razão, como é evidenciado na relação entre Jerônimo e
Rita Baiana.
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Além de escritor, Aluísio foi diplomata, de forma que morou em países como a Espanha,
Japão, Argentina, Inglaterra e Itália, deixando a literatura de lado por momento. Ele também
auxiliou em peças teatrais do dramaturgo Arthur de Azevedo, seu irmão mais velho.

Seu sucesso se deu a partir do livro "O Mulato" lançado em 1881. Tal romance abordava
o tema do preconceito racial de uma maneira que evidenciava a crítica social de forma explícita,
inaugurando portanto, o naturalismo brasileiro.

3. O Naturalismo como tendência literária


O Naturalismo constitui-se como um movimento literário que, surgindo na Europa,
alcança o Brasil ao final do século XIX. A literatura naturalista surge, também muito associada
ao realismo, como uma tendência literária que buscar analisar e denunciar as problemáticas
sociais, porém, diferentemente do realismo, o naturalismo apresenta o homem como objeto
principal de estudos científicos, sendo, portanto, um romance experimental. Tal literatura
contextualizou-se em grande parte pela influência das leis científicas e, especialmente pelas
teorias da evolução e da seleção natural de Darwin.

Como toda atividade humana e como o foram as outras estéticas literárias, o naturalismo
foi resultado de sua época. Elas são uma expressão dos movimentos de transformação do
mundo, saindo de um contexto exacerbadamente espiritualizada para um mais materialista e
científico, portanto, podemos dizer que o Naturalismo surgiu das mudanças sociais decorridas
da Revolução Industrial e das Descobertas Científicas.

 A Animalização do ser humano (Zoomorfismo)

Uma característica marcante da literatura naturalista é a descrição do ser humano de forma


animalesca, em que os indivíduos, sob condições sub-humanas de vida e de trabalho, tendem a
ser dominadas por seus instintos animais, se tornando agressivas, luxuriosas, impulsivas, e
outras características que se definem típicas de comportamento animal.

 Determinismo
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O Determinismo foi uma teoria filosófica muito adotada pelos autores naturalistas. Esta
teoria, aplicada no conceito naturalista, define que todo evento é determinado casualmente pela
cadeia de causa-consequência, sendo, portanto, a ação e a vida dos indivíduos determinada pelo
meio e já previamente determinada pelo universo, e não pelo livre arbítrio do homem.

A linguagem Naturalista tem como principais características:

 Linguagem coloquial;
 Observação da realidade;
 Retrato objetivo da sociedade;
 Evolucionismo, Cientificismo e Positivismo;
 Forte descrição de ambientes e personagens;
 Problemas humanos e sociais: patologias psíquicas e físicas;

No Brasil costuma-se colocar como marco inicial do naturalismo O Mulato, de Aluísio


Azevedo, de 1881, entretanto, foi O Cortiço que se consolidou como a melhor obra
naturalista brasileira. Falaremos em seguida sobre a obra O Cortiço.

“Só em O Cortiço Aluísio atinou de fato com a fórmula que se


ajustava ao seu talento: desistindo de montar um enredo em função
de pessoas, ateve-se à sequenciação de descrições muito precisas
onde cenas coletivas de tipos psicologicamente primários fazem no
conjunto do cortiço a personagem mais convincente do nosso
romance naturalista (BOSI, 2006, p. 190).”

4. O Cortiço como literatura Naturalista: Enredo e Narrativa

A obra O Cortiço apresenta narrador heterodiegético, em terceira pessoa e com narrador


onisciente (que tem conhecimento de tudo). A linguagem da obra é objetiva, não
abandonando em qualquer momento o aspecto racional da realidade do enredo, descrevendo os
cenários que constituem o texto de forma a criar uma imagem precisa da realidade. O cortiço
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é narrado com linguagem coloquial, construindo um retrato objetivo da realidade e com fortes
descrições dos ambientes e das personagens, sendo, portanto, uma linguagem típica da
tendência naturalista. Podemos perceber esta linguagem no seguinte trecho de O Cortiço:

"Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas
a sua infinidade de portas e janelas alinhadas. [...] No confuso rumor que se
formava, destacavam-se risos, sons de vozes que altercavam, sem se saber
onde, grasnar de marrecos, cantar de galos, cacarejar de galinhas. [...] Daí a
pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente; uma aglomeração
tumultuosa de machos e fêmeas. Uns, após outros, lavavam a cara,
incomodamente, debaixo do fio de água que escorria da altura de uns cinco
palmos. O chão inundava-se. As mulheres precisavam já prender as saias entre
as coxas para não as molhar; via-se-lhes a tostada nudez dos braços e do
pescoço, que elas despiam, suspendendo o cabelo todo para o alto do casco;
os homens, esses não se preocupavam em não molhar o pelo, ao contrário
metiam a cabeça bem debaixo da água e esfregavam com força as ventas e as
barbas, fossando e fungando contra as palmas da mão.”

Analisando, ainda, o aspecto da linguagem n’o Cortiço, temos a presença de algumas


figuras de linguagem, como a personificação ou prosopopeia – aferimento de características
humanas à seres inanimados – e a hipérbole – exagero deliberado na linguagem –, ambas
presente no trecho acima. A primeira está contida em diversos momentos da obra, quando o
cortiço, principal espaço dos acontecimentos ao longo de todo o enredo, é descrito como um
organismo vivo - um ser humano. A hipérbole é perceptível, como exemplo, no trecho
“infinidade de portas e janelas”.

Alguns autores consideram como personagem protagonista da história o próprio cortiço,


que é espaço detentor das classes sociais mais inferiores que, em conjunto com todas as
estalagens e seus adendos, formam um organismo vivo de forma personificada.

A narrativa se passa no Brasil do século XIX, quando se instalava no país o caminho para
a Industrialização e urbanização. O foco principal do romance é um cortiço, instalado no Rio
de Janeiro no bairro do Botafogo, do qual João Romão é dono e criador.
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A história inicia-se com a presença de João Romão, um português que veio ao Brasil e
anseia enriquecer nesta terra. Juntamente a Bertoleza, uma mulher escrava que se tornou
amante de João Romão, ele passa a transformar os entornos de sua estalagem em um típico
cortiço. Surge, então, a figura de Miranda, um vizinho, já mais bem estabelecido socialmente,
que se opunha ao João Romão e criou uma rivalidade com este por conta de suas terras e da
construção do cortiço.

Já construído, o cortiço de São Romão torna-se habitação de diversas outras pessoas, que
representam um proletariado trabalhador e pobre. Os personagens secundários, em geral, não
se demonstram tão ambiciosos como João Romão era, com sua busca por capital e títulos
sociais; os demais indivíduos do cortiço se contentavam com suas vidas pacatas e de
características animalescas.

Dentre os personagens, são destacadas Jerônimo e Piedade, um casal de portugueses que


vieram ao Brasil; Rita Baiana, uma mulher mulata que representa o estereótipo da mulher
brasileira, sensual, alegre, mulher independente e desgarrada; além de outras figuras relevantes
como: Firmo, amante de Rita Baiana; Botelho, senhor idoso que mora com Miranda; Pombinha,
jovem noiva, com casamento marcado e de menstruação atrasada, que sofre uma transformação
de vida por sua madrinha; Léonie, prostituta rica que também é madrinha de Pombinha; Paula,
a “bruxa” do cortiço, que trata doenças e dramas do cotidiano com seus rituais, dentre muitos
outros personagens.

Jerônimo e Piedade se mudam para o cortiço, onde o homem consegue um trabalho em


uma pedreira de João Romão. Desde sua apresentação, Jerônimo é descrito pelo narrador como
um homem trabalhador, esforçado, tradicional português e dotado de um enorme saudosismo
por sua pátria, além de ser uma pessoa extremamente capacitada para trabalhar em uma
pedreira, se destacando enormemente dentre os demais funcionários de João Romão. Porém, ao
longo de sua morada no cortiço, o português admira-se com a figura de Rita Baiana e suas
danças sensuais durante as festas do cortiço, e começa a se apaixonar pela mulata. Assim,
Jerônimo deixa de lado as tradições portuguesas, perde interesse por sua mulher Piedade, e
passa a “abrasileirar-se”, assim como descrito no trecho:
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“Uma transformação, lenta e profunda, operava-se nele, dia a dia, hora a hora,
reviscerando-lhe o corpo e alando-lhe os sentidos, num trabalho misterioso e
surdo de crisálida. A sua energia afrouxava lentamente: fazia-se contemplativo e
amoroso. A vida americana e a natureza do Brasil patenteavam-lhe agora
aspectos imprevistos e sedutores que o comoviam; esquecia-se dos seus primitivos
sonhos de ambição; para idealizar felicidades novas, picantes e violentas;
tornava-se liberal, imprevidente e franco, mais amigo de gastar que de guardar;
adquiria desejos, tomava gosto aos prazeres, e volvia-se preguiçoso resignando-
se, vencido, às imposições do sol e do calor, muralha de fogo com que o espírito
eternamente revoltado do último tamoio entrincheirou a pátria contra os
conquistadores aventureiros. E assim, pouco a pouco, se foram reformando todos
os seus hábitos singelos de aldeão português: e Jerônimo abrasileirou-se.”

A partir de então, o foco do enredo em O Cortiço é a relação que se desdobra entre os


amantes Jerônimo e Rita Baiana e os conflitos que surgem com Firmo, além da abordagem
sobre a ascensão social de João Romão e sua relação com Bertoleza e com o vizinho
Miranda. Porém, em meio a isso, diversos outros acontecimentos do cotidiano dos moradores
do cortiço vão sendo abordados. Dentre os principais acontecimentos, se destacam:

 O adultério de Leocádia, mulher de Bruno, que se vendeu por um coelho e para virar
ama de leite, sendo, então, expulsa de casa pelo marido;
 O despertar sexual de Pombinha e sua nova percepção de mundo, após ter tido uma
experiência sexual com Leónie e a chegada de sua menstruação; por fim, a garota, que
era tão promissora, torna-se uma prostituta;
 A gravidez de Florinda por um caixeiro de João Romão e o surto de Marcia, sua mãe,
com a notícia; o que leva à fuga de Florinda do cortiço
 O surgimento de um cortiço vizinho e rival, chamado Cabeça de Gato, que logo torna-
se a morada de Firmo e os cabeças- de-gato e os carapicus (moradores do cortiço São
Romão) eventualmente acabam em um conflito físico em duas ocasiões diferentes.

Em suma, o livro desenvolve o romance de Jerônimo e Rita Baiana, tendo o português


entrado em uma luta física com o ex-amante de Rita, O Firmo, na qual Jerônimo acabou com
um ferimento de navalha e foi parar no hospital. Quando o homem volta ao cortiço, decide, por
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fim, abandonar mulher e filha para viver com a brasileira em uma estalagem fora do cortiço.
Jerônimo arquiteta um plano de como matar firmo, para se vingar, e conta com a ajuda de outros
dois moradores.

Jerônimo mata, efetivamente, Firmo, em seguida jogando seu corpo na praia. A morte do
homem gera uma revolta dos cabeças de gato, que chegam armados no São Romão para se
vingarem. O conflito termina quando o cortiço de Romão começa a pegar fogo, logo descobre-
se que o incêndio foi causado pela Bruxa, que há tempos possuía este sonho psicopata de botar
fogo no cortiço.

João Romão aproveita a situação caótica para reconstruir e evoluir o cortiço, a fim de
acumular mais capital. Desta forma, Romão, que havia roubado dinheiro de um falecido do
cortiço no fogaréu, aumenta exacerbadamente o número de estalagens, reforma e padroniza
todas as casas, elitiza a sua própria estalagem e venda de forma que ela se sobressaísse em
relação com a de Miranda, que havia adquirido o título de Barão.

A história de O Cortiço conclui-se quando João Romão firma um noivado com Zulmira,
filha do Miranda, noivado este que surgiu como consequência de sua elitização social e do
auxílio de Botelho. Porém, a existência de Bertoleza torna-se um empecilho que dificulta a
oficialização do casamento. Assim sendo, a fim de se livrar da mulher, João Romão contata o
antigo Senhor escravista de Bertoleza e manda levá-la como escrava fugitiva. Quando Bertoleza
vê seu antigo senhor diante de si, a mulher se mata com a faca de escamar peixe que usava
diariamente, deixando de ser o atual obstáculo na vida capitalista de João Romão. A grande
ironia presente no desfecho da obra é que, exatamente no final do último capítulo, após a morte
de Bertoleza, João Romão recebe o título de sócio benemérito do movimento abolicionista.

5. A evidência do Naturalismo em O Cortiço

Quando analisamos de forma mais concreta os aspectos naturalistas desta obra, há alguns
pontos muito importantes de serem destacados.
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Primeiramente, é perceptível que em diversos momentos da obra o narrador onisciente


descreve as personagens como se descrevendo um animal, ou seja, a animalização humana
naturalista, e o contrário é feito com o cortiço, sendo ele muitas vezes humanizado e tratado
como a personagem central em si. Ademais, o enredo da obra apresenta diversos momentos de
violência, do homem primitivo e brutal, que apenas sabe resolver seus conflitos como um
animal seguindo seus instintos violentos. Outra característica animalesca nas ações das
personagens seria o instinto sexual animal que fala acima da razão. A seguir alguns trechos:

Animalização do homem em O Cortiço:

“(...) Não era a inteligência nem a razão o que lhe apontava o perigo, mas o
instinto, o faro sutil e desconfiado de toda fêmea pelas outras, quando sente
seu ninho exposto (...)”.

“Sempre em mangas de camisa, sem domingo nem dia santo trabalhando e


mais a amiga como uma junta de bois[...]”

“O Miranda não pôde resistir, atirou-se contra ela, que, num pequeno
sobressalto, mais de surpresa que de revolta. [...]”

“Ele voltou para a rapariga o seu olhar de animal prostrado.”

“Amara-o a princípio por afinidade de temperamento, pela irresistível


conexão do instinto luxurioso e canalha que predominava em ambos, depois
continuou a estar com ele por hábito, por uma espécie de vício que
amaldiçoamos sem poder largá-lo; mas desde que Jerônimo propendeu para
ela, fascinando-a com a sua tranquila seriedade de animal bom e forte, o
sangue da mestiça reclamou os seus direitos de apuração, e Rita preferiu no
europeu o macho de raça superior.”

“a fragilidade desses animais fortes, de músculos valentes, de patas


esmagadoras.”

Personificação do Cortiço:

“Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava”

“[...]e o cortiço palpitou inteiro na trêfega alegria do domingo[...]”


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O segundo ponto principal é a presença determinista na obra, em que o ambiente social


no qual o indivíduo se estabelece, assim como a sua carga genética, são os fatores
determinantes da forma de vida e do caráter desse indivíduo. No livro, os personagens de
Azevedo foram postos em meio às patologias sociais, tais como a miséria, violência, a pobreza,
a prostituição, a imoralidade, e demais; além das patologias biológicas, como os desvios
sexuais e psíquicos de alguns personagens. Desta forma, todos os moradores do cortiço estavam
sujeitos à uma situação miserável, de acordo com à ideologia determinista.

O principal exemplo do determinismo na obra é Jerônimo, o português que, quando


chegado ao cortiço, era considerado o exemplo de homem e marido bom e trabalhador, mas
acaba sendo transformado pelo meio em que vive. Sua vivência no cortiço, o contato com
culturas e comportamentos diferentes dos que o homem conhecia, fez com que Jerônimo
transformasse-se por completo, cedendo aos encantos sensuais de Rita Baiana e, por fim,
adquirindo comportamentos de brasileiro. Como exemplo, analise os seguintes trechos:

“O português abrasileirou-se para sempre; fez-se


preguiçoso, amigo das extravagâncias e dos abusos,
luxurioso e ciumento; fora-se-lhe de vez o espírito da
economia e da ordem; perdeu a esperança de enriquecer, e
deu-se todo, todo inteiro, à felicidade de possuir a mulata e
ser possuído só por ela, só ela, e mais ninguém”

“O tal seu Jerônimo, dantes tão apurado, era agora o


primeiro a dar o mau exemplo! Perdia noites no samba! Não
largava os rastros da Rita Baiana e parecia embeiçado por
ela! Não tinha jeito!”

Outro foco determinista em O Cortiço foi a transformação ocorrida com a personagem


Pombinha ao longo da história. A garota foi, por muito tempo, idealizada no cortiço como a
garotinha amável, delicada, que, por ainda não ser mulher, não deveria ser entregue ao noivo
ainda. O futuro de Pombinha era muito observado por todos, e os moradores confiavam á garota
todas as suas individualidades da vida, pois era ela quem escrevia e endereçava as cartas entre
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os habitantes. Porém, a percepção de vida que Pombinha tinha mudou drasticamente a partir do
momento em que a garota foi assediada por Léonie, a prostituta rica, que abusou sexualmente
dela.

A partir de então, Pombinha finalmente foi capaz de atingir a puberdade, mas a garota não
era mais a mesma. Sua experiência com a cocote e todas as informações dos casos dos
moradores, que havia acumulado pelo serviço das cartas, fez com que a garota agora percebesse
o poder que as mulheres exercem sobre os homens, além do dinheiro que era possível ganhar
com a prostituição. Nos trechos a seguir temos os momentos em que Pombinha muda sua
percepção de realidade, sendo, portanto, mais um indivíduo que foi, pouco apouco,
transformado pelo meio social em que vive.

“A sua intelectualidade, tal como seu corpo, desabrochara


inesperadamente, atingindo de súbito, em pleno
desenvolvimento, uma lucidez que a deliciava e surpreendia
[...] ela compreendeu e avaliou a fraqueza dos homens, a
fragilidade desses animais fortes, de músculos valentes, de
patas esmagadoras, mas que se deixavam encabrestar e
conduzir humildes pela soberana e delicada mão da fêmea.”

“Que estranho poder era esse, que a mulher exercia sobre


eles, a tal ponto, que os infelizes, carregados de desonra e de
ludíbrio, ainda vinham covardes e suplicantes mendigar-lhe o
perdão pelo mal que ela lhes fizera?... E surgiu-lhe então uma
ideia bem clara da sua própria força e do seu próprio valor.
Sorriu. E no seu sorriso já havia garras.”

“ Só a descobriu semanas depois; estava morando num hotel


com Léonie. A serpente vencia afinal: Pombinha foi, pelo seu
próprio pé, atraída, meter-se-lhe na boca.”

6. A Importância da obra
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O Cortiço de Aluísio Azevedo tem grande importância na história da literatura brasileira.


O romance, publicado em 1890, é considerado um marco na literatura naturalista, na qual o
principal objetivo é apontar sobre como o comportamento dos seres humanos está totalmente
relacionado com a época, ambiente e etnia. Devido ao tempo e espaço em que se passa a obra,
é notável a presença de vários preconceitos que naquela época eram considerados
completamente normais, como o racismo, o machismo, a homofobia e a xenofobia.
Aluísio não se preocupou em esconder comportamentos como o dos adúlteros, presente
a todo momento durante o enredo e quebrando a visão que se tinha de casamentos perfeitos e
idealizados nos outros romances, especialmente nos do Romantismo. O desejo sexual domina
completamente as personagens, caracterizando-as com uma vontade animalesca e
incontrolável.
A animalização do ser humano também é muito recorrente, como vimos no tópico
anterior, pois o autor mostra as pessoas com comportamentos característicos das bestas, fora de
si e totalmente dominadas por sentimentos irracionais.
Acontece um rompimento da ideia de finais felizes e a noção de casamentos idealizados,
que deveriam durar “para sempre” é totalmente desmistificada. No O Cortiço, percebemos que
existe o objetivo de mostrar às pessoas o pior lado do ser humano, totalmente sem idealização,
expondo a podridão da sociedade e suas desigualdades.
A obra pode ser considerada um objeto de estudo da época retratada, momento do
crescimento da cidade do Rio de Janeiro e dos problemas que esse crescimento desencadeou,
já que transmite as crenças e costumes do período e mostra, apesar de ser ficção, como a
sociedade era e ainda é hierárquica (exploração dos pobres pelos ricos) e preconceituosa.

7. CONCLUSÃO

8. Referências Bibliográficas
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BACK BARBOSA DA SILVA, Mônica. O naturalismo em O Cortiço de Aluísio Azevedo e


Maggie de Stephen Crane. Orientador: Doutor HERIBERTO ARNS. 1981. 192 folhas. Grau
de Mestrado – Pós Graduação em Letras, Ciências Humanas, Universidade Federal do Paraná,
Curitiba, 1981. Disponível em:
https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/24355/D%20-
%20SILVA%2c%20MONICA%20BACK%20BARBOSA%20DA.pdf?sequence=1&isAllow
ed=y. Acesso em: 19 de julho de 2022, às 20:41

BARBOSA DE LIMA, Irani. A Questão do Determinismo n’o Cortiço, de Aluísio Azevedo.


Orientador: Dra. Marilene Melo. 2012. 21 folhas. Graduação em Letras, Universidade Estadual
do Paraíba, Guarabira. Disponível em:
https://dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1502/1/PDF%20-
%20Irani%20Barbosa%20de%20Lima.pdf Acesso em: 19 de julho de 2022, às 21:20

ANTÔNIO FERREIRA DA SILVA, Felipe. Uma análise sobre a relevância do espaço como
personagem na obra “O Cortiço”, de Aluísio Azevedo. Periódico de Divulgação Científica
da FALS, 2010. Disponível em:
http://www.fals.com.br/revela/revela026/REVELA%20XVII/Artigo5_ed08.pdf Acesso em: 20
de julho de 2022, às 18:31.

ABAURRE, Maria Luiza; PONTARA, Marcela. Literatura: Tempos, Leitores e Leituras.


Parte II. 3 ed. São Paulo: Moderna, 2015.

“Significado do Livro O Cortiço – Resumo, análise e interpretação cultural”.


Disponível em: https://www.culturagenial.com/livro-o-cortico-aluisio-
azevedo/#:~:text=O%20Corti%C3%A7o%20%C3%A9%20uma%20obra%20de%20grande%
20import%C3%A2ncia,os%20instintos%20humanos%2C%20suas%20fraquezas%2C%20v%
C3%ADcios%20e%20defeitos. – Acesso em 23/07 às 08:35.
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“O Cortiço” – Análise da obra de Aluísio Azevedo. Guiadoestudante.abril, 2012. Disponível


em: https://guiadoestudante.abril.com.br/estudo/o-cortico-analise-da-obra-de-aluisio-de-
azevedo/. Acesso em: 21 de julho de 2022, às 12:23

CASTRO ALVES PEREZ, Luana. Naturalismo. Portugues.com.br, 2021. Disponível em:


https://www.portugues.com.br/literatura/naturalismo.html. Acesso em: 21 de julho de 2022, às
12: 40

GUIMARÃES, Leandro. Aluísio Azevedo. Portugues.com.br, 2021. Disponível em:


https://www.portugues.com.br/literatura/aluisio-azevedo.html Acesso em: 20 de julho de 2022,
às 22:43

SOUZA, Warley. Aluísio Azevedo. Preparaenem.com.br, 2021. Disponível em:


https://www.preparaenem.com/portugues/aluisio-azevedo.htm Acesso em: 20 de julho de
2022, às 23:08

BARBOSA DE SOUZA, Elaine. Aluísio Azevedo: bibliografia resumida. Suapesquisa.com,


2022. Disponível em: https://www.suapesquisa.com/biografias/aluisiodeazevedo/. Acesso em:
19 de julho de 2022, às 19:52

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