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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DA

BAHIA
CAMPUS SALVADOR

BEATRIZ PITON
BEATRIZ ANDRADE
JUDITE FORREST
KEVYN GABRIEL
MARIZE RIBEIRO

ATIVIDADE AVALIATIVA DE PORTUGUÊS:


ANÁLISE DO LIVRO “O Cortiço”, DE ALUÍSIO AZEVEDO

Salvador-BA
2021
BEATRIZ PITON, BEATRIZ ANDRADE, JUDITE FORREST,
KEVYN GABRIEL E MARIZE RIBEIRO
ATIVIDADE AVALIATIVA DE PORTUGUÊS:
ANÁLISE DO LIVRO “O Cortiço”, DE ALUÍSIO AZEVEDO

Análise solicitada pelo professor de


Português, José Gomes
do Departamento Acadêmico de
Línguas Vernáculas do Instituto
Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia da Bahia.

Salvador-BA
2021

Sumário
1. INTRODUÇÃO 3

2. PLANO DE EXPRESSÃO 5

3. PLANO DE CONTEÚDO 9

3.1. ESTRUTURA NARRATIVA: PERCURSO GERATIVO 10

3.2. ESTRUTURA DISCURSIVA: DEPREENSÃO DOS


TEMAS/SENTIDOS 14

3.3. ESTRUTURA PROFUNDA DO TEXTO 18

4. CONCLUSÃO 24

5. REFERÊNCIAS 25

1. INTRODUÇÃO

Com os objetivos de conhecer mais a literatura brasileira, aprofundar


na compreensão da linguagem, desenvolver conhecimento literário e
aprimorar a interpretação textual, fomos designados a analisar a obra
naturalista de Aluísio Azevedo “O Cortiço”. Lançado em 1890, “O Cortiço”
narra a ascensão de João Romão, um português dono do cortiço, da taverna
e da pedreira, rumo a riqueza, utilizando meios ilegais como exploração de
mão de obra e roubo. Essa obra chamou rapidamente a atenção da crítica e
repercutiu positivamente pelo país na época tornando- se “peça-chave para o
melhor entendimento do Brasil do século XIX”, caracterizando-se pela
personificação e por tratar de assuntos delicados com dureza e naturalismo.

Faltam os objetivos, metodologia do trabalho

Este trabalho abordara questões relacionadas a linguagem, estilo


literário, aprofundando na obra por meio do percurso gerativo de sentido,
abordando temáticas como o espaço, tempo e período, suas contradições e
ideologias. Utilizando como base o roteiro de leitura para textos narrativos
apresentado pelo professor José Gomes e suas críticas ao trabalho anterior.
A metodologia adotada pela equipe consistiu na divisão dos tópicos para cada
componente, após a leitura/análise individual foram avaliadas todas as
opiniões e discutidas, sendo revisadas pelos membros depois da feitura
individual do tópico. Por conta da pandemia, foram utilizadas as redes sociais
WhatsApp e Google Meet como meios de comunicação para conclusão
dessas etapas.

A equipe teve menos dificuldades com a produção do trabalho


devido ao aprendizado proveniente do anterior. Contudo, pontos como o
vocábulo e a identificação dos percursos gerativos de sentido na estrutura
narrativa, foram pontos que tornaram a feitura do trabalho mais complexa.

O material complementar ajudou a equipe a compreender e adquirir


conhecimentos sobre o movimento literário e o estilo pessoal do autor, além
de situar a situação do Brasil na época. A obra é de suma importância,
marcou o século XIX e mesmo produzida a mais de 130 anos, ainda reflete
muitos aspectos da sociedade brasileira.

2. PLANO DE EXPRESSÃO
“O Cortiço” tem como gênero textual romance. Possui muitas
características do gênero, …………………………………………………………..

…………………………………………………………………………………….

características do naturalismo, provando com o texto

a animalização dos personagens e, consequentemente, a ação baseada


em instintos naturais, tais como os instintos sexuais e os de sobrevivência. A
obra apresenta duas linhas de conduta: uma que trata das questões sociais e
outra que trata das questões individuais e sentimentais. Sendo João Romão o
principal representante da primeira, pois consegue dinheiro passando por cima
de tudo e de todos. E Jerônimo da segunda, pois se envolve com Rita Baiana
por atração sexual. Com um narrador onisciente, que conta toda a história em
volta do cortiço. Devemos ressaltar que o próprio cortiço é tratado como
personagem na obra, de maneira personificada, ele apresenta as pessoas que
frequentavam o cortiço. Além, dos personagens bem feitos no livro, como
Romão, jerônimo e o próprio cortiço. (Alves, 1980, p. 10)

(https://descomplica.com.br/artigo/resumao-o-cortico-de-aluisio-azevedo/4qn/)

No Brasil, o Naturalismo surgiu no final do século XIX com Aluísio de


Azevedo, com a obra O cortiço. Os livros naturalistas tinham como
preocupação narrar e analisar a realidade do país. Lembrando que aquela foi
uma época de agitações sociais e políticas, como a abolição da escravatura em
1888 e a proclamação da república em 1888. O romance analisado, lançado
em 1890, representa e foi produzido em uma época de agitação social, em que
se discutiam pesadamente, no Brasil, temas como a abolição da escravidão, a
igualdade ou a diferença entre os perfis étnicos-raciais. Foi a época das teorias
do determinismo, que tiveram em Silvio Romero e Nina Rodrigues fortes vozes
de consonância. Os cortiços foram se tornando cada vez mais comuns,
acelerados pelo crescente fluxo de imigrantes, pelo aumento de números pela
alforrias, pelos negros foragidos, que eram abrigados nessas habitações, além
de servirem de moradia para aqueles de baixa renda ou nenhuma.

O país experimentava um intenso movimento político, econômico e


social marcado pela Lei de Ventre Livre (1871), pela questão Religiosa (1874),
pela libertação dos sexagenários (1891), entre outros fatos que promoveram
importantes alterações na vida nacional brasileira, incluindo a literatura. Atingiu
o naturalismo que, conforme veríssimo (1963, pag. 258), foi “um levante contra
o romantismo”, tentando apagar o subjetivismo romântico pela utilização das
ideias cientificistas difundidas na época. Outros autores também apresentam
seus conceitos acerca do romantismo. Embalado pela onda (pseudo) científica,
Aluísio escreve ‘ O Cortiço” sob as bases do determinismo (o meio, o lugar, e o
momentos influenciam o ser humano) e do darwinismo, com a teoria do
evolucionismo. Sob aspectos naturalistas, isto é, sob olhar científico, a
narração se desenvolve em meio à insalubridade do cortiço, propício à
promiscuidade, característica do naturalismo. Ao contrário do que se
desenvolvia no romantismo, Aluísio descreve o coletivo, explicando a
animalização, que é o uso excessivo do zoomorfísmo caracterizando o ser
humano como animal, movido pelo instinto e o desejo sexual, onde inaugura
uma classe nunca antes apresentada: o proletariado, evidenciando a
desigualdade social vivenciais pelo Brasil, juntamente com a ambição do
capitalismo selvagem. (https://repositorio.ucs.br/xmlui/handle/11338/5245
questão feita com ajuda do professor José Gomes e o link disponibilizado)

capitalismo selvagem, expansão urbana do Rio, trabalho dos imigrantes

O livro ‘O Cortiço’ tem como estilo estético-literário naturalista, é


composto de 23 capítulos, que relatam a vida em uma habitação coletiva de
pessoas pobres (cortiço) na cidade do Rio de Janeiro. Tendo como cenário
uma habitação coletiva, o romance difunde as teses naturalistas, que explicam
o comportamento dos personagens com base na influência do meio, da raça e
do momento histórico. O romance tornou-se peça-chave para o melhor
entendimento do Brasil do século XIX. Evidentemente, como obra literária, ele
não pode ser entendido como um documento histórico da época. Mas não há
como ignorar que a ideologia e as relações sociais representadas de modo
fictício em “O Cortiço” estavam muito presentes no país. É o caso do cortiço,
que se projeta na obra mais do que os próprios personagens que ali vivem.
(https://www.google.com/amp/s/guiadoestudante.abril.com.br/estudo/o-cortico-
analise-da-obra-de-aluisio-de-azevedo/amp/)
Em um trecho do romance o narrador compara o cortiço a um organismo
vivo que cresce e se desenvolve, aumentando as forças daninhas e
determinando o caráter moral de quem habita seu interior. Como apresentado
na página 28 do livro:

Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava,


abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas
alinhadas. Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma
assentada, sete horas de chumbo. (AZEVEDO, 1890, pag.
28)

Há vários trechos na obra em que podemos observar características


naturalistas, onde indivíduo traz dentro de si instintos hereditários, que
explodem repentinamente em manifestações de luxúria, tara, indignidade e
crimes. Por mais que caso um desenvolva sua racionalidade, seu domínio
sobre si próprio, ajustando-se à convivência social, nunca será suficientemente
forte para domar as forças subterrâneas que vêm à tona, arrastando-o a um
universo de anormalidades e vícios.

Em o Cortiço encontramos a seguinte passagem, que nos pode dar uma


ideia da força do instinto:

Amarra-o a princípio por afinidade de temperamento, pela


irresistível conexão do instinto luxurioso e canalha que
predominava em ambos, depois continuou a estar com ele por
hábito, por uma espécie de vício que amaldiçoamos sem poder
largá-lo; mas desde que Jerônimo propendeu para ela,
fascinando-a com a sua tranquila seriedade de animal bom e
forte, o sangue da mestiça reclamou os seus direitos de
apuração e Rita preferiu no europeu o macho de raça superior
“. (AZEVEDO, 1890, pag. 170)

‘O Cortiço’ pertence ao estilo estético-literário naturalista, que tem como


características o forte determinismo, patologia social e o narrador onisciente. O
narrador aparece em terceira pessoa, portanto, é onisciente, isto é, aquele que
penetra na mente e nos pensamentos de todos os personagens, sabendo de
tudo que se passa. (https://repositorio.ucs.br/xmlui/handle/11338/5245)
Esse narrador é tão poderoso que julga e tenta comprovar as influências
do meio, da raça e do momento histórico sobre as ações das personagens,
isso sendo visível na briga de Firmo e Jerônimo:

E viu o Firmo e o Jerônimo atassalharem-se, como dois


cães que disputam uma cadela da rua; e viu o Miranda, lá
defronte, subalterno ao lado da esposa infiel, que se divertia a
fazê-lo dançar a seus pés seguro pelos chifres; e viu o
Domingos, que fora da venda, furtando horas ao sono, depois
de um trabalho de burro, e perdendo o seu emprego e as
economias ajuntadas com sacrifício, só para ter um instante de
luxúria entre as pernas de uma desgraçadinha irresponsável e
tola (AZEVEDO, 1890, pag. 78)

Aluísio Azevedo também colocou a patologia social dentro de “O


Cortiço”. A obra apresenta toda a sorte de patologias sociais, um mundo
doentio de traições sórdidas, violências sexuais, relacionamento lésbico e
homossexual. Não se concentra em um único personagem central, mas vários
personagens. São vários grupos como a chegada do Jerônimo e sua esposa
Piedade - Portugueses; a Rita Baiana e o Firmino, pobres moradores do cortiço
entre outros.

De acordo com a concepção naturalista, o homem é apenas um


animal cujo destino é determinado pelo meio ambiente e pela hereditariedade.
Outros aspectos, como a educação e o nível cultural, também são tidos como
responsáveis pela formação do caráter do homem:

[...]. Não era a inteligência nem a razão o que lhe


apontava o perigo, mas o instinto, o faro sutil e desconfiado de
toda fêmea pelas outras, quando sente seu ninho exposto [...]
(AZEVEDO, 1890, pag. 78)

Também presente no livro tem o determinismo que é a teoria filosófica


que afirma que as escolhas e ações humanas acontecem por relações de
causalidade, e não em virtude do livre-arbítrio. Os seres não possuem
vontades, são apenas fantoches nas mãos do destino:
 — É esta! disse aos soldados que, com um gesto,
intimaram a desgraçada a segui-los. — Prendam-na! É escrava
minha! A negra, imóvel, cercada de escamas e tripas de peixe,
com uma das mãos espalmada no chão e com a outra
segurando a faca de cozinha, olhou aterrada para eles, sem
pestanejar. Os policiais, vendo que ela se não despachava,
desembainharam os sabres. Bertoleza então, erguendo-se com
ímpeto de anta bravia, recuou de um salto e, antes que alguém
conseguisse alcançá-la, já de um só golpe certeiro e fundo
rasgara o ventre de lado a lado. E depois embarcou para a
frente, rugindo e esfocinhando moribunda numa lameira de
sangue [...] (AZEVEDO,1890, pag. 130)

Enredo de “O Cortiço” passa pela história de João Romão, que busca a


qualquer custo enriquecer e ascender socialmente. Ele é dono de uma venda,
de uma pedreira e do cortiço no qual vivem os personagens que conhecemos
durante a leitura. As casinhas simples do cortiço são em sua maioria alugadas
pelos trabalhadores da pedreira, os quais por sua vez fazem suas compras na
venda. Detentor desse monopólio, João Romão consegue enriquecer
rapidamente. Com esse objetivo do enriquecimento, que se torna uma
obsessão, o personagem também economiza tudo o que recebe e explora
pessoas sem escrúpulos. Um exemplo disso é a história de sua amante
Bertoleza, uma escrava fugida para quem João Romão falsifica um documento
de alforria. Em vez de com isso conquistar a liberdade, porém, Bertoleza passa
a ser explorada pelo próprio João Romão. O outro espaço no qual o livro se
passa é o rico sobrado de Miranda, um comerciante de muito prestígio social,
tal sobrado se localiza ao lado do cortiço, o que explicita a gritante
desigualdade social do Rio de Janeiro em período de urbanização. Conforme
João Romão enriquece, Miranda considera oferecer a mão de sua filha Zulmira
em casamento. Isso faria com que ele cumprisse seu objetivo de atingir um
patamar superior na hierarquia social, para além da ascensão econômica.
Bertoleza, porém, não aceita que João Romão a descarte e se case com a
outra mulher. Para se livrar dela, Romão denúncia Bertoleza como escrava
fugida e seu verdadeiro dono aparece para colocá-la novamente no cativeiro.
Desesperada, ela se mata.
Vários episódios de diferentes moradores do cortiço são contados de
forma intercalada com esse enredo que envolve a busca de João Romão pela
ascensão social e econômica. Para esses moradores, a luta pela sobrevivência
é muito mais difícil. A partir das histórias desses personagens o autor defende
sua tese naturalistas, segundo a qual o meio em que a pessoa está inserida
molda seus comportamentos. Um exemplo disso é a vida de Jerônimo, um
operário português que trabalha na pedreira quando chega ao cortiço,
Jerônimo é uma pessoa honesta, trabalhadora, disciplinada e moralmente
admirável. É casado com uma moça também portuguesa de nome Piedade e
com ela têm uma filhinha. Ao se expor ao ambiente de degradação do cortiço,
porém, ele se transforma: apaixona-se pela mulata Rita baiana, descrita como
sensual. Por ela, Jerônimo deixa a família e chega até mesmo a cometer um
assassinato. Outro caso de degradação através do meio é a história de
Pombinha. No início da narrativa ela é uma moça culta e inocente que aguarda
a primeira menstruação para que possa se casar. Seduzida pela prostituta
Léonie, ela foge para viver com a amante e também se torna prostituta.

O próprio cortiço, personagem principal do livro, também evolui


juntamente com a evolução social de seu dono João Romão. Durante a
história, ele passa por reformas e sua aparência e estrutura se tornam mais
agradáveis. Aqueles que nele passam a morar, consequentemente, são mais
ordeiros e de um nível social superior. Assim, os personagens pobres e
degradados que conhecemos se mudam para outro cortiço de estrutura inferior.
Com isso, afinal, Aluísio Azevedo tenta provar que a lei do mais forte é a que
predomina naquela estrutura social.
(https://querobolsa.com.br/enem/literatura/o-cortico)
3. PLANO DE CONTEÚDO

A analise a seguir, feita com base na leitura do livro "O Cortiço", trará a
estrutura narrativa da obra, abordando o percurso gerativo do sentido, onde
identificaremos sujeitos manipuladores, manipulados e julgadores; A estrutura
discursiva, na qual falaremos de aspectos essenciais da obra, da narração e
das principais figuras e temas presentes no romance, relacionando-os com a
suas representações atuais e o quão “moderno” a obra ainda pode ser
considerada. Por fim, analisaremos a estrutura profunda do texto, partindo de
uma interpretação abstrata do livro, na qual será julgada como se comporta o
conteúdo narrado e apontaremos nossas experiências de leitura e críticas
à história. 

3.1. ESTRUTURA NARRATIVA: PERCURSO GERATIVO

Essa história é composta por três percursos gerativos de sentido. Contendo


três sujeitos manipuladores ao decorrer da narrativa. A princípio sendo o João
Romão o sujeito manipulador do primeiro percurso, o determinismo do meio no
segundo e o Botelho como sujeito manipulador no último percurso.

O primeiro percurso gerativo tem o marco principal na falsa carta de alforria


da Bertoleza, o artifício utilizado por João Romão para tentar a Bertoleza.
Como fica evidente no trecho a seguir:

— Agora, disse ele à crioula, as coisas vão correr melhor


para você. Você vai ficar forra; eu entro com o que falta. Nesse
dia ele saiu muito à rua, e uma semana depois apareceu com
uma folha de papel toda escrita, que leu em voz alta à
companheira. — Você agora não tem mais senhor! declarou em
seguida à leitura, que ela ouviu entre lágrimas agradecidas.
Agora está livre. Doravante o que você fizer é só seu e mais de
seus filhos, se os tiver. Acabou-se o cativeiro de pagar os vinte
mil-réis à peste do cego! (AZEVEDO, 1890, pag. 4)

E esta quando se vê livre passa a trabalhar de forma não remunerada para o


mercador. Planejando enriquecer de forma desonesta João Romão constrói o
cortiço com matérias que ele furta com a ajuda da Bertoleza. Como podemos
ver no trecho a seguir:

Junto com a amiga, furtavam à pedreira do fundo, da


mesma forma que subtraiam o material das casas em obra que
havia por ali perto. (AZEVEDO, 1890, pag. 6)

Já a manipulação que os moradores sofrem ocorre por meio da tentação que


lhe é feita para que comprem na mercearia, visto que a lavadeiras que moram
no cortiço tem acesso aos tanques mas precisam comprar o sabão e aqueles
que não aceitavam os termos do João Romão eram postos para fora. Como
podemos notar no trecho a seguir:

As casinhas eram alugadas por mês e as tinas por dia;


tudo pago adiantado. O preço de cada tina, metendo a água,
quinhentos réis; sabão à parte. As moradoras do cortiço tinham
preferência e não pagavam nada para lavar. (AZEVEDO, 1890,
pag. 20)

João Romão desejava fazer esta manipulação pois através dela que iria
conseguir enriquecer para alcançar os seus objetivos, ele sabia devia fazer pois
só por meio dela o mercador enriqueceria. João Romão tinha meios de enganar
a eles pois a Bertoleza não sabia ler, portanto não seria capaz de descobrir a
farsa sozinha, e como dono da mercearia, do Cortiço e da Pedreira ele era
capaz de controlar toda a situação. O objetivo foi atingido, uma vez que João
Romão conseguiu enriquecer.

No segundo percurso podemos notar a transformação que o Jerônimo sofre


por meio do determinismo do meio. A manipulação que o Jerônimo sofre ocorre
através de uma tentação que ele cai por estar fascinado pela Rita Baiana.
Como podemos notar no trecho a seguir:

E Jerônimo via e escutava, sentindo ir-se-lhe toda a alma


pelos olhos enamorados. Naquela mulata estava o grande
mistério, a síntese das impressões que ele recebeu chegando
aqui: ela era a luz ardente do meio-dia; ela era o calor vermelho
das sestas da fazenda; era o aroma quente dos trevos e das
baunilhas, que o atordoara nas matas brasileiras; era a
palmeira virginal e esquiva que se não torce a nenhuma outra
planta; era o veneno e era o açúcar gostoso; era o sapoti mais
doce que o mel e era a castanha do caju, que abre feridas com
o seu azeite de fogo; ela era a cobra verde e traiçoeira, a
lagarta viscosa, a muriçoca doida, que esvoaçava havia muito
tempo em torno do corpo dele, assanhando-lhe os desejos,
acordando-lhe as fibras embambecidas pela saudade da terra,
picando-lhe as artérias, para lhe cuspir dentro do sangue uma
centelha daquele amor setentrional, uma nota daquela música
feita de gemidos de prazer, uma larva daquela nuvem de
cantáridas que zumbiam em torno da Rita Baiana e
espalhavam-se pelo ar numa fosforescência afrodisíaca.
(AZEVEDO, 1890, pag. 105)

Podemos notar a mudança do Jerônimo uma vez que ele passa de um


trabalhador esforçado e marido atencioso a um bêbado, que chega até mesmo
a ser violento com a esposa por conta de uma briga em que se mete com Firmo
por causa da Rita Isso fica evidenciado no trecho a seguir:

Piedade erguera-se para arredar o seu homem dali. O


cavouqueiro afastou-a com um empurrão, sem tirar a vista de
cima do mulato. (AZEVEDO, 1890, pag. 177)
O sujeito julgador no segundo percurso é a Piedade. Ela vê seu marido se
transformar passando a flertar com a Rita até mesmo na frente da mesma e
também nota a Baiana assumindo os cuidados do seu marido quando ele fica
doente, o que a incomoda, embora ela não fale nada. Como pode ser visto no
trecho a seguir:

A portuguesa não dizia nada, sorria contrafeita, no íntimo,


ressentida contra aquela invasão de uma estranha nos
cuidados pelo seu homem. Não era a inteligência nem a razão
o que lhe apontava o perigo, mas o instinto, o faro sutil e
desconfiado de toda a fêmea pelas outras, quando sente o seu
ninho exposto. (AZEVEDO, 1890, pag. 112)

Jerônimo queria conquistar a Rita e para conquistá-la ele sabia que deveria
se adaptar aos gostos dela. Apesar de não parecer ético largar a esposa e a
filha o cavouqueiro decidiu ceder aos seus desejos, ele sabia como conquistara
Rita visto que que ele passa bebê Parati, tomar café e cantar músicas
brasileiras.

A transformação do Jerônimo ocorreu o visto que o final do livro ele não se


importa nem mais com a filha e só se importa em agradar a Rita, ele até
mesmo para de pagar a escola da filha, mesmo tendo prometido continuar a
pagar independe do fim do casamento.

Último percurso gerativo tem como marco principal a ascensão social do


João Romão, o sujeito manipulador neste percurso é o Botelho e o sujeito
manipulado é o João Romão que sofre manipulação através de uma tentação
que que é feita pelo Botelho, que se oferece para fazer a mediação para o
casamento da Zulmira e do João Romão. Como fica evidente no trecho a
seguir:

— Aquela pequena é que lhe estava a calhar, seu João!...


— Como? Que pequena? — Ora morda aqui! Pensa que já não
dei pelo namoro?... Maganão! O vendeiro quis negar, mas o
outro atalhou: — É um bom partido, é! Excelente menina... Tem
um gênio de pomba... Uma educação de princesa: até o
francês sabe! Toca piano como você tem ouvido... Canta o seu
bocado... Aprendeu desenho... Muito boa mão de agulha!... E...
(AZEVEDO, 1890, pag. 221)

Para João Romão o casamento representa o ápice da ascensão social, ele


planeja passar de um dono de cortiço a um capitalista importante, porém João
Romão já empenha um papel importante na sociedade. Como podemos ver no
trecho a seguir:

João Romão fizera-se o fornecedor de todas as


tabernas e armarinhos de Botafogo; o pequeno comércio
sortia-se lá para vender a retalho. A sua casa tinha agora
um pessoal complicado de primeiros, segundos e
terceiros caixeiros, além do guarda-livros, do comprador,
do despachante e do caixa; do seu escritório saíam
correspondências em várias línguas e, por dentro das
grades de madeira polida, onde havia um bufete sempre
servido com presunto, queijo e cerveja, faziam-se largos
contratos comerciais, transações em que se arriscavam
fortunas; e propunham-se negociações de empresas e
privilégios obtidos do governo; e realizavam-se vendas e
compras de papéis; e concluíam-se empréstimos de juros
fortes sobre hipotecas de grande valor. (AZEVEDO, 1890,
pag. 338)

O sujeito julgador nesse percurso é Estela, mãe da Zulmira, que não vê o


casamento com bons olhos por causa da relação que João Romão tem com
Bertoleza. Como podemos perceber no trecho a seguir:

— É! Dizem que ela é coisa sua.... Lá em casa rosnou!...


O Miranda defende-o, afirma que não.... Ah! Aquilo é uma
grande alma! Mas Dona Estela, você sabe o que são as
mulheres!... Torce o nariz e... Em uma palavra: receio que esta
história nos traga qualquer embaraço!... (AZEVEDO, 1890, pag.
331)

Almejando ascender socialmente parece ser aceito na aristocracia carioca


João Romão fica noivo da Zulmira. João podia se casar com a Zulmira, visto
que ele não era casado com a Bertoleza, mas para isso ele deveria se livrar
dela, pois a mãe de Zulmira não estava aceitando o casamento por causa da
relação do João Romão com a Bertoleza. Para se livrar da Bertoleza João
Romão e Betolho decidem entrega-la ao filho da dona da mesma, uma vez que
ela não é livre, pois a carta de alforria era falsa, como resultado disso a
Bertoleza comete suicídio.

3.2. ESTRUTURA DISCURSIVA: DEPREENSÃO DOS TEMAS/SENTIDOS

O livro narrado em terceira pessoa, com narrador onisciente, que tenta


constantemente demonstrar sua imparcialidade, mostrando a si como uma
figura confiável. Redigida em linguagem coloquial de forma objetiva, sem
aprofundamento psicológico “desnecessário”, se atendo a descrição de
pensamentos envolvidos diretamente nas ações e motivações dos
personagens:

Desde que a febre de possuir se apoderou dele


totalmente, todos os seus atos, todos, fosse o mais simples,
visavam um interesse pecuniário. Só tinha uma preocupação:
aumentar os bens. Das suas hortas recolhia para si e para a
companheira os piores legumes, aqueles que, por maus,
ninguém compraria; as suas galinhas produziam muito e ele
não comia um ovo, do que no entanto gostava imenso; vendia-
os todos e contentava-se com os restos da comida dos
trabalhadores. Aquilo já não era ambição, era uma moléstia
nervosa, uma loucura, um desespero de acumular; de reduzir
tudo a moeda. (AZEVEDO,1890, pag. 9)

Leitura fluida e linha cronológica linear, podendo ser dividida em dois atos,
quando o cortiço ainda era um cortiço, e quando se tornou a vila de João
Romão.
Mesmo de forma objetiva, os personagens são bem desenvolvidos, descritos
e aprofundados pelas suas ações, sempre reforçando a ideia principal do livro:
O homem é resultado do seu meio. Isso dá a toda obra o peso da realidade, a
forma bruta e ríspida com que os personagens agem revela uma selvageria
quase animalesca, muito comum do naturalismo. Um exemplo disso seria o
próprio personagem principal João Romão, que remete a imagem fiel do
capitalismo exploratório:

Um dia, porém, o seu homem, depois de correr meia légua,


puxando uma carga superior às suas forças, caiu morto na rua, ao
lado da carroça, estrompado como uma besta. João Romão mostrou
grande interesse por esta desgraça, fez-se até participante direto dos
sofrimentos da vizinha, e com tamanho empenho a lamentou, que a
boa mulher o escolheu para confidente das suas desventuras. Abriu
se com ele, contou-lhe a sua vida de amofinações e dificuldades. “Seu
senhor comia-lhe a pele do corpo! Não era brinquedo para uma
pobre mulher ter de escarrar pr’ali, todos os meses, vinte mil-réis em
dinheiro!” E segredou-lhe então o que tinha juntado para a sua
liberdade e acabou pedindo ao vendeiro que lhe guardasse as
economias, porque já de certa vez fora roubada por gatunos que lhe
entraram na quitanda pelos fundos. (AZEVEDO,1890, pag. 2)

Um homem egocêntrico e oportunista, visando ao seu próprio


enriquecimento e ascensão social é uma figura muito presente na sociedade
vigente. Ele se aproveita da exposição e fragilidade de Bertoleza para controlar
suas posses, usufruindo de seu trabalho árduo:
Daí em diante, João Romão tornou-se o caixa, o procurador e o
conselheiro da crioula. No fim de pouco tempo era ele quem tomava
conta de tudo que ela produzia e era também quem punha e
dispunha dos seus pecúlios, e quem se encarregava de remeter ao
senhor os vinte mil-réis mensais. Abriu-lhe logo uma conta corrente,
e a quitandeira, quando precisava de dinheiro para qualquer coisa,
dava um pulo até à venda e recebia-o das mãos do vendeiro, de “Seu
João”, como ela dizia. (AZEVEDO,1890, pag. 2)
João Romão comprou então, com as economias da amiga,
alguns palmos de terreno ao lado esquerdo da venda, e levantou
uma casinha de duas portas, dividida ao meio paralelamente à rua,
sendo a parte da frente destinada à quitanda e a do fundo para um
dormitório que se arranjou com os cacarecos de Bertoleza.
(AZEVEDO,1890, pag. 3)

Bertoleza por outro lado é o retrato da mão de obra explorada. Dando


suas economias e ajudando João Ramão a sustentar seus negócios, foi
descartada pelo mesmo após surgir uma oportunidade melhor:
— Você está muito enganado, seu João, se cuida que se casa e
me atira a toa! exclamou ela. Sou negra, sim, mas tenho
sentimentos! Quem me comeu a carne tem de roer-me os ossos!
Então há de uma criatura ver entrar ano e sair ano, a puxar pelo
corpo todo o santo dia que Deus manda ao mundo, desde pela
manhãzinha até pelas tantas da noite, para ao depois ser jogada no
meio da rua, como galinha podre?! Não! Não há de ser assim, seu
João! (AZEVEDO,1890, pag. 153)

Burguesia estava ligada à Corte Imperial


Burguesia do capitalismo selvagem

3.3. ESTRUTURA PROFUNDA DO TEXTO 

Na obra Aluísiana, dentro do fervoroso cenário, em meio a agitação da


taverna e o vai e vem de novidades, em seu enredo há temas, e
consequentemente contradições. Iniciando pela contradição sonho x realidade,
estando agrupada com mentira x verdade, onde logo no início da obra é
apresentado João Romão, na situação de manipular o destino da Bertoleza.
O sonho e a mentira estão ligados ao que João fez à Bertoleza, por puro
interesse em ganhos que a mesma poderia lhe produzir futuramente.
[...] João Romão mostrou grande interesse por esta
desgraça, fez-se até participante direto dos sofrimentos da
vizinha, e com tamanho empenho a lamentou, que a boa
mulher o escolheu para confidente das suas desventuras.
Abriu-se com ele, contou-lhe a sua vida de amofinações e
dificuldades. [...] E segredou-lhe então o que já tinha junto para
a sua liberdade e acabou pedindo ao vendeiro que lhe
guardasse as economias, [...] Daí em diante, João Romão
tornou-se o caixa, o procurador e o conselheiro da crioula. No
fim de pouco tempo era ele quem tomava conta de tudo que
ela produzia, e era também quem punha e dispunha dos seus
pecúlios, e quem se encarregava de remeter ao senhor os vinte
mil-réis mensais. (AZEVEDO, 1890, p. 01)

Bertoleza por si só, ingênua se apega a uma única "vantagem", a qual lhe
cega a realidade e a verdade, resultando em sua vida condenada serviçal de
João.
Ele propôs-lhe morarem juntos, e ela concordou de
braços abertos, feliz em meter-se de novo com um português,
porque, como toda a cafuza, Bertoleza não queria sujeitar-se a
negros e procurava instintivamente o homem numa raça
superior à sua. (AZEVEDO, 1890, p. 02)

Outra contradição muito importante, e talvez a mais importante, é a marca


da ordem x desordem, ligada diretamente ao contexto histórico em que a obra
foi escrita.
No plano da ordem temos um Brasil que estava crescendo entre 1850 e
1860 ocorreu o um surto industrial no Brasil, foram inauguradas
aproximadamente 70 fábricas que produziam chapéus, sabão, tecidos de
algodão etc, artigos que até então vinham do exterior. Na obra é citado em
alguns momentos os homens que viviam no cortiço e trabalhavam em
indústrias, ocasionando por consequência a sua estada no mesmo. Indo um
pouco além devemos considerar, como diz a professora Marisa Lajolo, em seu
site criado em 2001, para o curso de Letras da Universidade Estadual de
Campinas:
"O Rio de Janeiro, por exemplo, era uma cidade heterogênea, com mansões
e palacetes ao lado de bairros miseráveis. Na rua do Ouvidor podiam-se
encontrar as últimas novidades de Paris, mas a febre amarela e a varíola
periodicamente dizimavam a população pobre. Uma aristocracia culta e
exigente povoava os salões e os espetáculos de ópera, enquanto o
desemprego empurrava milhares de pessoas para uma vida incerta de
pequenos trabalhos avulsos, quando não para o baixo meretrício e a
malandragem. Nos palacetes de Laranjeiras falava-se francês nas noites de
gala, enquanto não longe dali, nos cortiços, a fome e a miséria faziam estragos
na população."

O livro nos remete apenas a um ponto de vista, o dos moradores de um


cortiço, deixando de lado o que acontecia fora de suas enormes paredes
velhas. Partindo disso, alinhando o contexto histórico, mesmo com o que o
autor não se preocupou em inserir na obra, podemos visualizar a desordem
atemporal de nossa sociedade, e suas implicâncias para com a desigualdade
social. Pode se dizer que, a desordem está entrelaçada à ordem, até mesmo
da bandeira de nossa nação.
O desejo x razão é uma contradição presente em toda a história e afetando
inúmeros, talvez todos, personagens em algum momento. O primeiro exemplo
é a tara, o desejo, o que vai além do sujo, quando o autor apresenta a
personagem Florinda, ele revela o desejo sujo de João Romão, e futuramente o
de outros homens, para com a mesma, o que ultrapassa toda e qualquer
razão, pois ela tinha apenas 15 anos.
Depois seguiam-se a Marciana e mais a sua filha
Florinda. A primeira, mulata antiga, muito seria e asseada em
exagero [...] A filha tinha quinze anos, a pele de um moreno
quente, beiços sensuais, bonitos dentes, olhos luxuriosos de
macaca. Toda ela estava a pedir homem, mas sustentava
ainda a sua virgindade e não cedia, nem à mão de Deus Padre,
aos rogos de João Romão, que a desejava apanhar a troco de
pequenas concessões na medida e no peso das compras que
Florinda fazia diariamente à venda. (AZEVEDO, 1890, p. 16)

Outro exemplo dentro dessa contradição, é a atração intensa de Jerônimo


em Rita Baiana, sendo o mesmo que era casado, de uma hora para outra
passa a ter a imagem de Rita como um copo d'água no deserto, ignorando o
fato de ser casado, ignorando sua casa, costumes e principalmente sua
mulher. Fugindo de toda e qualquer razão durante o resto da história.
Ele voltou para a rapariga o seu olhar de animal
prostrado e, por única resposta, passou-lhe o braço esquerdo
na cintura e procurou com a mão direita segurar a dela. Queria
com isto traduzir o seu reconhecimento, e a mulata assim o
entendeu, tanto que consentiu: mal, porém, a sua carne lhe
tocou na carne, um desejo ardente apossou-se dele; uma
vontade desinsofrida de senhorear-se no mesmo instante
daquela mulher e possuí-la inteira, devorá-la num só hausto de
luxúria, trincá-la como um caju. (AZEVEDO, 1890, p. 42)

"O Cortiço" pode ser considerado um pequeno relicário onde se contém uma
parte de nossa história, com o foco na classe que foi "empurrada" a viver em
cubículos e conviver com todo e qualquer tipo de vida. A obra tem o caráter
atemporal como verdade visto que é possível notar, na sociedade atual, que a
mesma população citada, ainda é indiretamente obrigada a viver nas condições
de cortiços. Essa questão da desigualdade social é um marco de nossa nação
infelizmente. Personagens da trama ainda vivem, existindo por entre as vielas,
os becos e as zonas pobres do Rio de Janeiro, foi modificado suas vestes,
seus calçados (ou a falta deles), suas gírias, mas não a necessidade de uma
vida melhor. É também possível identificar relacionamentos como o de Miranda
e Estela, o que sustenta o casamento é o medo da perda dos bens e status
perante a sociedade, mesmo dentro de traições, falta de amor e respeito. A
questão do desejo, sexualidade é, e será sempre a mesma, mas vale ressaltar
que a forma como se é expressado vem se moldando diferente por entre os
tempos. Entre outros fatos, o livro se mostra como uma verdade tanto na época
que foi publicado, como atualmente.
Cadê a validação: verdade, mentira, segredo ou falsidade. E a atualidade?

4. CONCLUSÃO

5. REFERÊNCIAS

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