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Blog do Enem Literatura – Literatura Brasileira: Modernismo 3ª Fase.

Questão 01 - (ENEM/2013) Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e
nasceu a vida. Mas antes da pré-história havia a pré-história da pré-história e havia o nunca e havia o sim. Sempre
houve. Não sei o quê, mas sei que o universo jamais começou.
[...]
Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a escrever. Como começar pelo início, se as
coisas acontecem antes de acontecer? Se antes da pré-préhistória já havia os monstros apocalípticos? Se esta
história não existe, passará a existir. Pensar é um ato. Sentir é um fato. Os dois juntos – sou eu que escrevo o
que estou escrevendo. [...] Felicidade? Nunca vi palavra mais doida, inventada pelas nordestinas que andam por
aí aos montes.

Como eu irei dizer agora, esta história será o resultado de uma visão gradual – há dois anos e meio venho aos
poucos descobrindo os porquês. É visão da iminência de. De quê? Quem sabe se mais tarde saberei. Como que
estou escrevendo na hora mesma em que sou lido. Só não inicio pelo fim que justificaria o começo – como a
morte parece dizer sobre a vida – porque preciso registrar os fatos antecedentes.
LISPECTOR, C. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998 (fragmento).

A elaboração de uma voz narrativa peculiar acompanha a trajetória literária de Clarice Lispector, culminada com
a obra A hora da estrela, de 1977, ano da morte da escritora. Nesse fragmento, nota-se essa peculiaridade
porque o narrador

a) observa os acontecimentos que narra sob uma ótica distante, sendo indiferente aos fatos e às personagens.
b) relata a história sem ter tido a preocupação de investigar os motivos que levaram aos eventos que a
compõem.
c) revela-se um sujeito que reflete sobre questões existenciais e sobre a construção do discurso.
d) admite a dificuldade de escrever uma história em razão da complexidade para escolher as palavras exatas.
e) propõe-se a discutir questões de natureza filosófica e metafísica, incomuns na narrativa de ficção,

Questão 02 - (ENEM/2011) Quem é pobre, pouco se apega, é um giro-o-giro no vago dos gerais, que nem os
pássaros de rios e lagoas. O senhor vê: Zé-Zim, o melhor meeiro meu aqui, risonho e habilidoso. Pergunto: - Zé-Zim,
por que é que você não cria galinhas-d'angola, como todo o mundo faz? - Quero criar nada não… - me deu resposta:
- Eu gosto muito de mudar… […] Belo um dia, ele tora. Ninguém discrepa. Eu, tantas, mesmo digo. Eu dou proteção.
[…] Essa não faltou também à minha mãe, quando eu era menino, no sertãozinho de minha terra. [...] Gente melhor
do lugar eram todos dessa família Guedes, Jidião Guedes; quando saíram de lá, nos trouxeram junto, minha mãe e
eu. Ficamos existindo em território baixio da Sirga, da outra banda, ali onde o de-Janeiro vai no São Francisco, o
senhor sabe.
ROSA, J. G. Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: José Olympio (fragmento).

Na passagem citada, Riobaldo expõe uma situação decorrente de uma desigualdade social típica das áreas
rurais brasileiras marcadas pela concentração de terras e pela relação de dependência entre agregados e
fazendeiros. No texto, destaca-se essa relação porque o personagem-narrador

a) relata a seu interlocutor a história de Zé-Zim, demonstrando sua pouca disposição em ajudar seus
agregados, uma vez que superou essa condição graças à sua força de trabalho.
b) descreve o processo de transformação de um meeiro - espécie de agregado - em proprietário de terra.
c) denuncia a falta de compromisso e a desocupação dos moradores, que pouco se envolvem no trabalho da
terra.
d) mostra como a condição material da vida do sertanejo é dificultada pela sua dupla condição de homem livre
e, ao mesmo tempo, dependente.
e) mantém o distanciamento narrativo condizente com sua posição social, de proprietário de terras.

Questão 03 - (ENEM/2011) TEXTO I

O meu nome é Severino,


não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria;
como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias,
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mas isso ainda diz pouco:


há muitos na freguesia,
por causa de um coronel
que se chamou Zacarias
e que foi o mais antigo
senhor desta sesmaria.
Como então dizer quem fala
ora a Vossas Senhorias?
MELO NETO, J. C. Obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1994 (fragmento).

TEXTO II

João Cabral, que já emprestara sua voz ao rio, transfere-a, aqui, ao retirante Severino, que, como o
Capibaribe, também segue no caminho do Recife. A autoapresentação do personagem, na fala inicial do texto,
nos mostra um Severino que, quanto mais se define, menos se individualiza, pois seus traços biográficos são
sempre partilhados por outros homens.
SECCHIN, A. C. João Cabral: a poesia do menos.
Rio de Janeiro: Topbooks, 1999 (fragmento).

Com base no trecho de Morte e Vida Severina (Texto I) e na análise crítica (Texto II), observa-se que a relação
entre o texto poético e o contexto social a que ele faz referência aponta para um problema social expresso
literariamente pela pergunta "Como então dizer quem fala / ora a Vossas Senhorias?". A resposta à pergunta
expressa no poema é dada por meio da

a) descrição minuciosa dos traços biográficos do personagem-narrador.


b) construção da figura do retirante nordestino como um homem resignado com a sua situação.
c) representação, na figura do personagem-narrador, de outros Severinos que compartilham sua condição.
d) apresentação do personagem-narrador como uma projeção do próprio poeta, em sua crise existencial.
e) descrição de Severino, que, apesar de humilde, orgulha-se de ser descendente do coronel Zacarias.

Questão 04 - (ENEM/2014) O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.
ROSA, J. G. Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.

No romance Grande sertão: veredas, o protagonista Riobaldo narra sua trajetória de jagunço. A leitura do trecho
permite identificar que o desabafo de Riobaldo se aproxima de um(a)

a) diário, por trazer lembranças pessoais.


b) fábula, por apresentar uma lição de moral.
c) notícia, por informar sobre um acontecimento.
d) aforismo, por expor uma máxima em poucas palavras.
e) crônica, por tratar de fatos do cotidiano.

Questão 05 - (ENEM/2011) O RETIRANTE ENCONTRA DOIS HOMENS CARREGANDO UM DEFUNTO NUMA


REDE, AOS GRITOS DE: “Ó IRMÃOS DAS ALMAS! IRMÃOS DAS ALMAS! NÃO FUI EU QUE MATEI NÃO”
— A quem estais carregando,
Irmãos das almas,
Embrulhado nessa rede?
Dizei que eu saiba.
— A um defunto de nada,
Irmão das almas,
Que há muitas horas viaja
À sua morada.
— E sabeis quem era ele,
Irmãos das almas,
Sabeis como ele se chama
Ou se chamava?
— Severino Lavrador,
Irmão das almas,
Severino Lavrador,
Mas já não lavra.

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MELO NETO, J. C. Morte e vida Severina e outros poemas para vozes.


Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1994 (fragmento).

O personagem teatral pode ser construído tanto por meio de uma tradição oral quanto escrita. A interlocução
entre oralidade regional e tradição religiosa, que serve de inspiração para autores brasileiros, parte do teatro
português. Dessa forma, a partir do texto lido, identificam-se personagens que

a) se comportam como caricaturas religiosas do teatro regional.


b) apresentam diferentes características físicas e psicológicas.
c) incorporam elementos da tradição local em um contexto teatral.
d) estão construídos por meio de ações limitadas a um momento histórico.
e) fazem parte de uma cultura local que restringe a dimensão estética.

Questão 06 - (ENEM/2009) A tentação é comer direto da fonte. A tentação é comer direto na lei. E o castigo é não
querer mais parar de comer, e comer-se a si próprio que sou matéria igualmente comível.
LISPECTOR, Clarice. A paixão segundo G.H.
Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1995.

O romance A Paixão Segundo G. H. é a tentativa de dar forma ao inenarrável, esbarrando a todo momento
no limite intransponível das palavras. Tal paradoxo, vale dizer, é o que funda toda literatura clariciana.
ROSENBAUM, Y. No território das pulsões.
In: Clarice Lispector. Cadernos de Literatura
Brasileira. Instituto Moreira Salles. Edição
Especial, cadernos 17 e 18, dez. 2004, p. 266.

A repetição de palavras é um dos traços constantes na obra de Clarice Lispector e remete à impossibilidade de
descrever a experiência vivida. A repetição de “comer”, no trecho citado, sugere

a) união de significados contrários realizados para reforçar o sentido da palavra.


b) realce de significado obtido pela gradação de diferentes expressões articuladas em sequência.
c) ausência de significação em consequência do acréscimo de novas expressões relacionadas em cadeia.
d) equívoco no emprego do verbo em consequência do acúmulo de significados relacionados em sequência.
e) uniformidade de sentido expressa pela impossibilidade de transformação do significado denotativo do verbo.

Questão 07 - (ENEM/2011) Morte e vida Severina

Somos muitos Severinos


iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas,
e iguais também porque o sangue
que usamos tem pouca tinta.
E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte Severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta
de emboscada antes dos vinte,
de fome um pouco por dia.
MELO NETO, J. C. Obra completa. Rio Janeiro: Nova Aguilar, 1994 (fragmento).

Nesse fragmento, parte de um auto de Natal, o poeta retrata uma situação marcada pela

a) presença da morte, que universaliza os sofrimentos dos nordestinos.


b) figura do homem agreste, que encara ternamente sua condição de pobreza.
c) descrição sentimentalista de Severino, que divaga sobre questões existenciais.
d) miséria, à qual muitos nordestinos estão expostos, simbolizada na figura de Severino.
e) opressão socioeconômica a que todo ser humano se encontra submetido.

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Questão 08 - (ENEM/2014) Pecados, vagância de pecados. Mas, a gente estava com Deus? Jagunço podia?
Jagunço – criatura paga para crimes, impondo o sofrer no quieto arruado dos outros, matando e roupilhando. Que
podia? Esmo disso, disso, queri, por pura toleima; que sensata resposta podia me assentar o Jõe, broreiro peludo do
Riachão do Jequitinhonha? Que podia? A gente, nós, assim jagunços, se estava em permissão de fé para esperar de
Deus perdão de proteção? Perguntei, quente.
— “Uai? Nós vive... — foi o respondido que ele me deu.
ROSA, G. Grande sertão: veredas.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001 (fragmento).

Guimarães Rosa destaca-se pela inovação da linguagem com marcas dos falares populares e regionais.
Constrói seu vocabulário a partir de arcaísmos e da intervenção nos campos sintático-semânticos. Em Grande
sertão: veredas, seu livro mais marcante, faz o enredo girar em torno de Riobaldo, que tece a história de sua
vida e sua interlocução com o mundo-sertão.

No fragmento em referência, o narrador faz uso da linguagem para revelar

a) inquietação por desconhecer se os jagunços podem ou não ser protegidos por Deus.
b) uma insatisfação profunda com relação à sua condição de jagunço e homem pecador.
c) confiança na resposta de seu amigo Jõe, que parecia ser homem estudado e entendido.
d) muitas dúvidas sobre a vida após a morte, a vida espiritual e sobre a fé que pode ter o jagunço.
e) arrependimento pelos pecados cometidos na vida errante de jagunço e medo da perdição eterna.

Questão 09 - (ENEM/2015) Famigerado

Com arranco, [o sertanejo] calou-se. Como arrependido de ter começado assim, de evidente. Contra que aí
estava com o fígado em más margens; pensava, pensava. Cabismeditado. Do que, se resolveu. Levantou as
feições. Se é que se riu: aquela crueldade de dentes. Encarar, não me encarava, só se fito `meia esguelha.
Latejava-lhe um orgulho indeciso. Redigiu seu monologar.
O que frouxo falava: de outras, diversas pessoas e coisas, da Serra, do São Ão, travados assuntos,
insequentes, como dificultação. A conversa era para teias de aranha. Eu tinha de entender-lhe as mínimas
entonações, seguir seus propósitos e silêncios. Assim no fechar-se com o jogo, sonso, no me iludir, ele
enigmava. E, pá:
– Vosmecê agora me faça a boa obra de querer me ensinar o que é mesmo que é: fasmisgerado... faz-me-
gerado... falmisgeraldo... familhas-gerado...?
ROSA, J. G. Primeiras estórias.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988.

A linguagem peculiar é um dos aspectos que conferem a Guimarães Rosa um lugar de destaque na literatura
brasileira. No fragmento lido, a tensão entre a personagem e o narrador se estabelece porque

a) o narrador se cala, pensa e monologa, tentando assim evitar a perigosa pergunta de seu interlocutor.
b) o sertanejo emprega um discurso cifrado, com enigmas, como se vê em “a conversa era para teias de
aranha”.
c) entre os dois homens cria-se uma comunicação impossível, decorrente de suas diferenças socioculturais.
d) a fala do sertanejo é interrompida pelo gesto de impaciência do narrador, decidido a mudar o assunto da
conversa.
e) a palavra desconhecida adquire o poder de gerar conflito e separar as personagens em planos
incomunicáveis.

Questão 10 - (UNICAMP SP/2016)

“(...) E, páginas adiante, o padre se portou ainda mais excelentemente, porque era mesmo uma brava criatura.
Tanto assim, que, na despedida, insistiu:
- Reze e trabalhe, fazendo de conta que esta vida é um dia de capina com sol quente, que às vezes custa muito
a passar, mas sempre passa. E você ainda pode ter muito pedaço bom de alegria... Cada um tem a sua hora e a
sua vez: você há de ter a sua.”
(João Guimarães Rosa, A hora e a vez de Augusto Matraga, em Sagarana.
Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2001, p. 380.)

“(...) Então, Augusto Matraga fechou um pouco os olhos, com sorriso intenso nos lábios lambuzados de sangue,
e de seu rosto subia um sério contentamento.
Daí, mais, olhou, procurando João Lomba, e disse, agora sussurrando, sumido:
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- Põe a bênção na minha filha..., seja lá onde for que ela esteja... E, Dionóra... Fala com a Dionóra que está tudo
em ordem!
Depois morreu.”
(Idem, p. 413.)

“A hora e a vez” de Nhô Augusto relacionam-se aos encontros que ele tem com outro personagem, Joãozinho
Bem-Bem, em dois momentos da narrativa. Em cada um desses momentos, Nhô Augusto precisa realizar uma
escolha. Indique quais são essas escolhas que importam para o processo de transformação do personagem
protagonista.

Questão 11 - (PUC RS/2016) Leia o trecho abaixo, de Lygia Fagundes Telles, retirado da obra Passaporte para a
China.

“Rio de Janeiro, 24 de setembro de 1960.


Diz o horóscopo que os do signo de Áries não devem de modo algum se arriscar no dia de hoje.
Sou do signo de Áries e daqui a pouco, em plena noite, devo embarcar num avião a jato para a China. Escalas?
Dacar, Paris, Praga, Omsk, Irkutsck e finalmente Pequim. Quer dizer, atravessarei quatro continentes: América,
África, Europa e Ásia. É continente demais, hein! Melhor tomar antes um chope duplo ali no bar do Lucas,
defronte ao mar de Copacabana, ficar ouvindo a voz espumejante das ondas e esquecer que passarei horas e
horas “naquela coisa” que às vezes a gente ouve cortar o céu tão rapidamente e com um silvo tão desesperado
que quando se olha para as nuvens não se vê mais nada. Nada.”

Com base no texto selecionado e na obra de Lygia Fagundes Teles, analise as seguintes afirmativas:

I. A narradora enfrenta a ideia de voar com expectativa, pois, além do país asiático, conhecerá outras cinco
cidades.
II. O texto expressa os sentimentos de uma viajante momentos antes da partida, enfrentando o pânico de
cruzar o planeta para conhecer um país distante.
III. O emprego reiterado de aliterações no último parágrafo sugere a ideia da velocidade que provoca temor na
viajante supersticiosa.

A(s) afirmativa(s) correta(s) é/são:

a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) I e III, apenas.
d) II e III, apenas.
e) I, II e III.

Questão 12 - (UCS RS/2016) O trecho a seguir pertence ao conto “A terceira margem do rio”, de Guimarães Rosa.

“Sou homem de tristes palavras. De que era que eu tinha tanta, tanta culpa? Se o meu pai, sempre fazendo
ausência: e o rio-rio-rio, o rio – pondo perpétuo”.
(ROSA, 1994, p. 412).

A partir do excerto lido, assinale a alternativa que apresenta a melhor aproximação do conto com a obra Um
terno de pássaros ao Sul, de Carpinejar.

a) O tom confessional com que o sujeito busca ressignificar a própria vida, a partir da compreensão da figura
paterna ausente, mediada pela memória.
b) A revolta do filho em relação à figura paterna, tendo em vista a sua ausência intencional na infância do
sujeito poético.
c) A figura da mãe, assumindo papéis tradicionalmente atribuídos ao pai.
d) A desagregação familiar como resultado do egoísmo paterno, que culmina na perda dos referenciais
identitários da prole.
e) A identificação do sujeito poético ao seu pai, o que se evidencia na escolha da mesma profissão.

Questão 13 - (UFSC/2016) Acerca da peça O santo e a porca, de Ariano Suassuna, é CORRETO afirmar que:

01. o personagem Pinhão, representado como um tipo comum do interior do Nordeste brasileiro, mostra-se
moldado pela sabedoria popular ao resumir situações por meio de ditados.
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02. a personagem Caroba é caracterizada como uma figura feminina tipicamente submissa ao jugo masculino,
o que bem representa os efeitos de uma cultura machista.
04. o bordão pronunciado por Euricão Engole-Cobra – “Ai a crise, ai a carestia!” – reforça a característica
cômica desse personagem avarento.
08. a comédia de Ariano Suassuna pretende denunciar o caráter dos sovinas como algo ridículo e, por meio do
riso, educar moralmente o público.
16. Santo Antônio é evocado como protetor dos pobres, como aquele que ajuda a encontrar os objetos
perdidos, mas, sobretudo, como interventor direto das uniões matrimoniais, ao final da peça.
32. o personagem Euricão Engole-Cobra acaba solitário e pobre ao final da peça porque essa seria a justiça
poética do destino contra a presença dos imigrantes árabes na Região Nordeste.

Questão 14 - (ITA SP/2016) O poema abaixo é de José Paulo Paes:

Bucólica

O camponês sem terra


Detém a charrua
E pensa em colheitas
Que nunca serão suas.
(Em: Um por todos – poesia reunida. São Paulo: Brasiliense, 1986.)

O texto apresenta

a) uma oposição campo/cidade, de filiação árcade-romântica.


b) um bucolismo típico da tradição árcade, indicado pelo título.
c) uma representação tipicamente romântica do homem do campo.
d) um contraste entre o arcadismo do título e o realismo social dos versos.
e) uma total ruptura com a representação realista do homem do campo.

Texto comum às questões: 15, 16


1
EURICÃO - Caroba! Olhe a caranguejeira!
2
CAROBA - Ai! Esta casa está cheia de bichos, Seu Euricão!
3 4
PINHÃO - Sabe por que é isso, Seu Euricão? São essas velharias que o senhor guarda aqui. Só essa porca já
tem mais de duzentos anos.
5 6
CAROBA - Por que o senhor não joga isso fora? Outro dia eu e Dona Margarida quisemos fazer uma surpresa
7
ao senhor. A gente ia jogar fora essa porca velha e comprar uma nova para lhe dar.
8 9
EURICÃO - (Arriando numa cadeira.) Ai, ai! Miseráveis, miseráveis, assassinas, bandidas! Logo minha
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porquinha que herdei de meu avô! Toque nela e quem vai embora é você, está ouvindo, assassina? Sou louco
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por essa porca! Ai Santo Antônio, querem me roubar, me assassinar, e ainda por cima comprar uma porca
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nova que deve custar uma fortuna! Ladrões, ladrões! Ai a crise, ai a carestia! Santo Antônio, Santo Antônio!
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CAROBA - Está certo, Seu Euricão, está certo! Diabo duma agonia danada! Deixe a porca de lado, ninguém
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toca mais nela! Que é que vale uma porca? O negócio agora é evitar a facada que o tal do Eudoro vem lhe
dar.
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EURICÃO – A facada?
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CAROBA – E então? O senhor vai ver se não é! Pinhão me contou como ele faz. Chega cheio de
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delicadezas. A essa hora, já se informou de sua devoção por Santo Antônio. Ele chega e faz que é devoto do
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mesmo santo. Elogia o senhor, elogia sua filha, pergunta como vão os negócios, todo amável, e vai amolando
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a faca. (À medida que fala, vai evocando a cena imaginária com gestos significativos e cortantes.)
SUASSUNA, Ariano. O santo e a porca. 30ª. ed. Rio de
Janeiro: José Olympio, 2015. pp. 50 e 51.

Questão 15 - (UDESC SC/2016) Analise as proposições em relação à obra O santo e a porca, Ariano Suassuna, e
ao texto.

I. Em “Caroba! Olhe a caranguejeira” (Ref. 1) o termo destacado é, na morfossintaxe, substantivo e vocativo.


II. Nos períodos “Olhe a caranguejeira” (Ref. 1) e “Deixe a porca de lado, ninguém toca mais nela” (Refs. 14 e
15) tem-se a função apelativa da linguagem.
III. A locução verbal “vai amolando” (Ref. 21), constituída por um verbo auxiliar e uma forma nominal, no texto,
expressa ação progressiva.
IV. Infere-se da leitura da obra, na fala das personagens, alguns temas implícitos, tais como: desejar melhorar
de vida, a solidão e o vazio existencial.
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V. Na oração “Que é que vale uma porca” (Ref. 15), a expressão destacada pode ser retirada, por ser uma
partícula expletiva e, ainda assim, mantém-se o sentido e a coerência textual.

Assinale a alternativa correta.

a) Somente as afirmativas II, III, IV e V são verdadeiras.


b) Somente as afirmativas III e IV são verdadeiras.
c) Somente as afirmativas I, II e IV são verdadeiras.
d) Somente as afirmativas III, IV e V são verdadeiras.
e) Todas as afirmativas são verdadeiras.

Questão 16 - (UDESC SC/2016) Assinale a alternativa correta em relação à obra O santo e a porca, Ariano
Suassuna, e ao texto.

a) Da leitura de “Sou louco por essa porca” (Ref. 10), infere-se que Euricão gostava da porca unicamente
porque ele prezava as relíquias da família, as quais cultivava com esmero.
b) Em “Pinhão me contou como ele faz” (Ref. 18) a palavra destacada indica circunstância de tempo.
c) Em relação à oração “Por que o senhor não joga isso fora?” (Ref. 5), passando-se a expressão destacada
para o final da oração tem-se O senhor não joga isso fora por quê?
d) Da leitura da obra, infere-se que Margarida, filha de Euricão, também amava Eudoro.
e) No período “Toque nela e quem vai embora é você” (Refs. 9 e 10), flexionando-se o verbo destacado na
segunda pessoa do singular tem-se Tocai nela e quem vai embora sois vós.

Questão 17 - (UNICAMP SP/2016) No conto “Amor”, de Clarice Lispector, a percepção da personagem Ana, em
relação ao seu mundo, é alterada de forma significativa pelo seguinte acontecimento:

a) os ovos quebrados no embrulho do jornal, que simbolizam a mudança psicológica da protagonista no relato
ficcional.
b) o cego parado no ponto do bonde, que modifica a visão da protagonista em relação aos vínculos familiares.
c) o estouro do fogão da cozinha, que significa, no percurso narrativo, a ruptura psíquica da protagonista com
a opressão da vida matrimonial.
d) a aparição súbita do gato no Jardim Botânico, que deflagra uma reviravolta afetiva de Ana com o seu
amante.

Questão 18 - (UNIFESP SP/2016) Leia o excerto da crônica “Mineirinho” de Clarice Lispector (1925-1977), publicada
na revista Senhor em 1962.

É, suponho que é em mim, como um dos representantes de nós, que devo procurar por que está doendo a
morte de um facínora1. E por que é que mais me adianta contar os treze tiros que mataram Mineirinho2 do que
os seus crimes. Perguntei a minha cozinheira o que pensava sobre o assunto. Vi no seu rosto a pequena
convulsão de um conflito, o mal-estar de não entender o que se sente, o de precisar trair sensações
contraditórias por não saber como harmonizá-las. Fatos irredutíveis, mas revolta irredutível também, a violenta
compaixão da revolta. Sentir-se dividido na própria perplexidade diante de não poder esquecer que Mineirinho
era perigoso e já matara demais; e no entanto nós o queríamos vivo. A cozinheira se fechou um pouco, vendo-
me talvez como a justiça que se vinga. Com alguma raiva de mim, que estava mexendo na sua alma, respondeu
fria: “O que eu sinto não serve para se dizer. Quem não sabe que Mineirinho era criminoso? Mas tenho certeza
de que ele se salvou e já entrou no céu”. Respondi-lhe que “mais do que muita gente que não matou”.
Por quê? No entanto a primeira lei, a que protege corpo e vida insubstituíveis, é a de que não matarás. Ela é
a minha maior garantia: assim não me matam, porque eu não quero morrer, e assim não me deixam matar,
porque ter matado será a escuridão para mim.
Esta é a lei. Mas há alguma coisa que, se me faz ouvir o primeiro e o segundo tiro com um alívio de
segurança, no terceiro me deixa alerta, no quarto desassossegada, o quinto e o sexto me cobrem de vergonha,
o sétimo e o oitavo eu ouço com o coração batendo de horror, no nono e no décimo minha boca está trêmula, no
décimo primeiro digo em espanto o nome de Deus, no décimo segundo chamo meu irmão. O décimo terceiro tiro
me assassina — porque eu sou o outro. Porque eu quero ser o outro.
Essa justiça que vela meu sono, eu a repudio, humilhada por precisar dela. Enquanto isso durmo e
falsamente me salvo. Nós, os sonsos essenciais. Para que minha casa funcione, exijo de mim como primeiro
dever que eu seja sonsa, que eu não exerça a minha revolta e o meu amor, guardados. Se eu não for sonsa,
minha casa estremece. Eu devo ter esquecido que embaixo da casa está o terreno, o chão onde nova casa
poderia ser erguida. Enquanto isso dormimos e falsamente nos salvamos. Até que treze tiros nos acordam, e
com horror digo tarde demais – vinte e oito anos depois que Mineirinho nasceu – que ao homem acuado, que a
esse não nos matem. Porque sei que ele é o meu erro. E de uma vida inteira, por Deus, o que se salva às vezes
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é apenas o erro, e eu sei que não nos salvaremos enquanto nosso erro não nos for precioso. Meu erro é o meu
espelho, onde vejo o que em silêncio eu fiz de um homem. Meu erro é o modo como vi a vida se abrir na sua
carne e me espantei, e vi a matéria de vida, placenta e sangue, a lama viva. Em Mineirinho se rebentou o meu
modo de viver.
(Clarice Lispector. Para não esquecer, 1999.)
1
facínora: diz-se de ou indivíduo que executa um crime com crueldade ou perversidade acentuada.
2
Mineirinho: apelido pelo qual era conhecido o criminoso carioca José Miranda Rosa. Acuado pela polícia,
acabou crivado de balas e seu corpo foi encontrado à margem da Estrada Grajaú-Jacarepaguá, no Rio de
Janeiro.

O tom predominante no texto é de

a) resignação.
b) ironia.
c) melancolia.
d) indignação.
e) luto.

Texto comum às questões: 19, 20

Sou homem de tristes palavras. De que era que eu tinha tanta, tanta culpa? Se o meu pai, sempre fazendo
ausência: e o rio-rio-rio — o rio — pondo perpétuo. Eu sofria já o começo da velhice — esta vida era só o
demoramento. Eu mesmo tinha achaques, ânsias, cá de baixo, cansaços, perrenguice de reumatismo. E ele?
Por quê? Devia de padecer demais. De tão idoso, não ia, mais dia menos dia, fraquejar do vigor, deixar que a
canoa emborcasse, ou que bubuiasse sem pulso, na levada do rio, para se despenhar horas abaixo, em
tororoma e no tombo da cachoeira, brava, com o fervimento e morte. Apertava o coração. Ele estava lá, sem a
minha tranquilidade. Sou o culpado do que nem sei, de dor em aberto, no meu foro. Soubesse — se as coisas
fossem outras. E fui tomando idéia.
(ROSA, João Guimarães. “A Terceira Margem do Rio”,
Primeiras estórias, Nova Fronteira, 2005)

Questão 19 - (ESPM SP/2015) Segundo o texto, o personagem:

a) divaga sobre as palavras tristes.


b) teme pela vida de seu pai, dadas as doenças.
c) crê que a verdadeira razão de tudo é a sua idade avançada.
d) talvez quisesse transmitir a própria tranquilidade ao pai.
e) desvia sua atenção para o rio, a fim de esquecer a ausência do pai.

Questão 20 - (ESPM SP/2015) No trecho acima, só NÃO pode ser constatado(a)(s):

a) narrador-personagem em primeira pessoa.


b) tom de oralidade com longas orações subordinadas.
c) linguagem elíptica.
d) neologismos.
e) repetição enfática das palavras.

Questão 21 - (FATEC SP/2015) O escritor, dramaturgo e poeta Ariano Suassuna morreu em 2014, aos 87 anos.
Membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), esse autor traduziu em suas obras a tradição popular do Nordeste.
Assinale a alternativa que apresenta um trecho da obra Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna.

a) “ SEVERINO

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Não pode ser, João. Eu matei o bispo, o padre, o sacristão, o padeiro e a mulher e eles morreram
esperando por você. Se eu não o matar, vêm-me perseguir de noite, porque será uma injustiça com eles.
(...)”
(http://tinyurl.com/lelivros Acesso em: 20.08.14. Adaptado)
b) “Chamava-se João Teodoro, só. O mais pacato e modesto dos homens. Honestíssimo e lealíssimo, com um
defeito apenas: não dar o mínimo valor a si próprio. Para João Teodoro, a coisa de menos importância no
mundo era João Teodoro. (...)”
(http://tinyurl.com/leitura-encantada Acesso em: 20.08.14. Adaptado)
c) “Havia muito que João Romão vivia exclusivamente para essa ideia; sonhava com ela todas as noites;
comparecia a todos os leilões de materiais de construção; arrematava madeiramentos já servidos;
comprava telha em segunda mão; fazia pechinchas de cal e tijolos; acumulados (...)”
(http://tinyurl.com/dominiopub-1 Acesso em: 20.08.14. Adaptado)
d) “Aplica esta prova a todos os órgãos e compreendes o meu princípio. Enquanto a inteligência e a felicidade
que dela se tira pela incansável acumulação de noções, só te peço que compares Renan e o Grillo...”
(http://tinyurl.com/dominiopub-2 Acesso em: 20.08.14. Adaptado)
e) “Nhá Tolentina estava ficando rica de vender no arraial pastéis de carne mexida com ossos de mão de
anjinho; dos vinténs enterrados juntamente com mechas de cabelo, em frente das casas; e do João
Mangolô velho de guerra, voluntário do mato nos tempos do Paraguai (...)”
(http://tinyurl.com/literaturapoeta-1 Acesso em: 20.08.14. Adaptado)

Questão 22 - (UEL PR/2015) Leia o fragmento a seguir.

ZÉ Foi então que comadre Miúda me lembrou: por que eu não ia no candomblé de Maria de Iansã?
PADRE Candomblé?
ZÉ Sim, é um candomblé que tem duas léguas adiante da minha roça. (Com a consciência de quem cometeu
uma falha, mas não muito grave) Eu sei que seu vigário vai ralhar comigo. Eu também nunca fui muito de
frequentar terreiro de candomblé. Mas o pobre Nicolau estava morrendo. Não custava tentar. Se não fizesse
bem, mal não fazia. E eu fui. Contei pra Mãe de Santo o meu caso. Ela disse que era mesmo com Iansã, dona
dos raios e das trovoadas. Iansã tinha ferido Nicolau... pra ela eu devia fazer uma obrigação, quer dizer: uma
promessa. Mas tinha que ser uma promessa bem grande, porque Iansã, que tinha ferido Nicolau com um raio,
não ia voltar atrás por qualquer bobagem. E eu me lembrei então que Iansã é Santa Bárbara e prometi que se
Nicolau ficasse bom eu carregava uma cruz de madeira de minha roça até a igreja dela, no dia de sua festa,
uma cruz tão pesada como a de Cristo.
(GOMES, D. O Pagador de Promessas.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2010. p.49-50.)

a) Na obra O Pagador de Promessas, de Dias Gomes, podem ser localizadas marcas que constituem
sincretismo, sob uma perspectiva, e conflito, sob outra perspectiva. Explique, com base no fragmento, como
esses elementos se relacionam com as concepções defendidas por Zé e pelo Padre.
b) Os diálogos da peça revelam uma riqueza cultural brasileira em termos linguísticos. Com base no fragmento
apresentado e nos trechos a seguir, caracterize as personagens Zé e Padre em relação à linguagem
utilizada por eles. Exemplifique.

PADRE (Padre parece meditar profundamente sobre a questão) Mesmo assim, não lhe parece um tanto
exagerada a promessa? E um tanto pretensiosa também?
[...]
ZÉ Só estancou quando eu fui no curral, peguei um bocado de bosta de vaca e taquei em cima do
ferimento.
(GOMES, D. O Pagador de Promessas.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2010. p.44-45.)

Questão 23 - (UEL PR/2015) Sobre as personagens de O Pagador de Promessas, assinale a alternativa correta.

a) Galego e Bonitão são artistas populares nordestinos.


b) Minha Tia e os capoeiristas são católicos praticantes do candomblé.
c) O repórter e o fotógrafo são policiais disfarçados que manipulam Zé-do-Burro.
d) O padre e a beata ilustram a intolerância religiosa.
e) Rosa e Marli representam o movimento de liberação feminina dos anos 1990.

Questão 24 - (UEL PR/2015) Sobre o motivo da jornada da personagem Zé-do-Burro até Salvador, no livro O
Pagador de Promessas, de Dias Gomes, assinale a alternativa correta.

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a) Pagamento de promessa pela conquista de suas terras.


b) Pagamento de promessa pela recuperação de Rosa.
c) Pagamento de promessa pelo restabelecimento do burro.
d) Pretexto para fazer campanha a favor da reforma agrária.
e) Pretexto para protestar contra a ditadura.

Questão 25 - (UEM PR/2015) Assinale o que for correto em relação aos contos de Laços de família, de Clarice
Lispector:

01. Os contos têm em comum, além dos sentimentos de ódio e desesperança que desfazem relações
familiares, provocando conflitos interiores nas personagens, uma voz narradora em primeira pessoa, o que
comprova o caráter autobiográfico da obra, a aproximação dos fatos relatados à vida pessoal da escritora.
02) O conto “Uma galinha”, embora seja indicado a leitores adultos, traz elementos que o caracterizam
como conto de fadas: inicia-se com a expressão própria dessa modalidade narrativa – “Era uma galinha de
domingo”.–; é marcado pela presença do maravilhoso, pois ao botar um ovo, a galinha é poupada de ser
morta; e apresenta um final feliz – “A galinha tornara-se a rainha da casa. Todos, menos ela, o sabiam”.
04. Em “Amor”, a personagem Ana, mulher tranquila e realizada em seu cotidiano familiar, depara-se com um
cego mascando chicletes em uma parada de ônibus. Trata-se do momento máximo de tensão narrativa, o
clímax, uma vez que essa visão provoca a ruptura entre a personagem e a sua realidade estável (“Ela
apaziguara tão bem a vida, cuidara tanto para que esta não explodisse. [...]. E um cego, mascando goma,
despedaçava tudo isso?” [p. 27]). Esse momento, ainda que seja o clímax da narrativa, não é o seu
desfecho, pois, ao retornar à casa, Ana reencontra a estabilidade nos braços do marido.
08. O conto “O búfalo” narra uma situação de amor e ódio. No zoológico, a personagem busca uma
identificação com os animais, que não se realiza: diante do leão, sente-se impotente, uma vez que ele
demonstra felicidade; a girafa, o hipopótamo, o elefante e as outras espécies visitadas também não
demonstram insatisfação com suas existências. Frente ao búfalo, porém, a identificação torna-se possível e
o instinto de morte apodera-se dela: “Presa como se sua mão se tivesse grudado para sempre ao punhal
que ela mesma cravara. Presa, enquanto escorregava enfeitiçada ao longo das grades. Em tão lenta
vertigem que antes do corpo humano baquear macio a mulher viu o céu inteiro e um búfalo” (p.135).
16. As personagens de Clarice Lispector, na obra em foco, mostram-se em constante processo de autoanálise
e reconstrução do próprio “eu”, aspecto que impossibilita o reconhecimento do ambiente históricosocial
brasileiro na estrutura das narrativas. A concentração das preocupações da autora nas emoções interiores
das personagens impede o afloramento, nos contos, de questões como o papel da mulher, o racismo, o
preconceito, a violência social, entre outras. Trata-se, portanto, de uma literatura alienada e alienante.

Questão 26 - (UEL PR/2015) Sobre o intertexto bíblico presente em O Pagador de Promessas, considere as frases a
seguir.

I. “Mas eu conheço seus adeptos! Mesmo quando se disfarçam sob a pele do cordeiro!”
II. “Por que então repete a Divina Paixão? Para salvar a humanidade?”
III. “Uma epopeia. Uma nova Ilíada, onde Troia é a Lua e o cavalo de Troia é o cavalo de São Jorge!”
IV. “É até bom demais. Nunca fez mal a ninguém, nem mesmo a um passarinho.”

Assinale a alternativa que apresenta, corretamente, frases com intertexto bíblico.

a) Somente as frases I e II.


b) Somente as frases I e IV.
c) Somente as frases III e IV.
d) Somente as frases I, II e III.
e) Somente as frases II, III e IV.

Questão 27 - (UEMG/2015) Com base na leitura da obra “Você Verá” e em seus conhecimentos de mundo, julgue os
comentários sobre os fragmentos abaixo. Em seguida, responda à questão proposta.

I- “Sentiu ele falta de Zoiuda? Imagine, imagine um homem sentir falta de uma lagartixa (...) Claro que não
sentiu. Mas sentiu – tinha de admitir – que aquele apartamento ficara um pouco mais vazio e aqueles fins
de noite um pouco mais tristes.” (VILELA, 2013, p.11) O trecho retrata o imenso vazio e a solidão presentes
na vida do homem moderno, capazes de fazê-lo sentir-se acompanhado quando da presença de um outro
ser vivo qualquer em seu ambiente de vivência.
II- “_ Aí? Bem: o cara se reelegeu; ele conseguiu. Mas fez a praça? Fez? O que você acha? _ Eu acho que ele
não fez (...) _ Não fez nada. Ele alegou que a prefeitura não tinha verba. E aí não fez. Enrolou os quatro
anos e não fez. Aí o sucessor dele, que era seu inimigo político, também não quis fazer: ele ia fazer uma
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praça que seu inimigo inaugurara? (...)” (VILELA, 2013, p.17) Esse trecho exemplifica um modo de fazer
política no Brasil em tempos passados e, em algumas circunstâncias e lugares, também em tempos atuais;
política pautada no protecionismo e no partidarismo, sem considerar as reais necessidades das pessoas
envolvidas nas questões.
III- “Aquele dia, no final da tarde, quando meus primos, avisados pelo empregado do que acontecera,
chegaram à fazenda, encontraram o pai sentado no alpendre da casa, pitando tranquilamente seu
cigarrinho de palha, como se nada, absolutamente nada tivesse acontecido. Está certo, você pode dizer que
esse sujeito matou bichos: ele matou a mulher e os dois filhos, e, ainda por cima, suicidou-se. Mas,
pensando bem, eu não vejo muita diferença. Você vê?” (VILELA, 2013, p.18) Pela leitura do trecho, infere-
se que as pessoas já não mais consideram como diferentes crimes cometidos contra seres humanos e
crimes cometidos contra animais. Ambos são horrendos e dignos de punição severa. IV- “Ele casara com
um par de peitos. Isso: um par de peitos. Depois vira que, por trás dos peitos, não havia nada. Ou melhor,
havia, havia sim: havia o nada.” (VILELA, 2013, p. 29) Há, no trecho, um preconceito explícito contra as
mulheres que apresentam seios avantajados, pois depreende-se da fala do locutor que elas, normalmente,
são mulheres vazias e preocupadas somente com sua aparência física, negligenciando a sua
intelectualidade.

Sobre os comentários feitos, estão CORRETOS os dos ítens

a) I, II, III e IV.


b) II e III, apenas.
c) I, II e III, apenas.
d) I e II, apenas.

Questão 28 - (UEPA/2015) Assinale o título do conto de A Legião Estrangeira capaz de sintetizar a noção de que os
agregados familiares, de classe economicamente menos favorecida, tornam-se um estorvo ao cotidiano do grupo
socialmente melhor situado que os absorveu e são por eles desumanamente descartados.

a) A repartição dos pães


b) A solução
c) Os obedientes
d) Os desastres de Sofia
e) Viagem a Petrópolis

Questão 29 - (UERN/2015) Assinale a alternativa que apresenta importante obra da literatura contemporânea e se
caracteriza por uma abordagem temática que trata de conflitos familiares em uma mistura de experiência e memórias
pessoais com o contexto sociocultural da Amazônia e do Oriente.

a) “O cobrador” de Rubem Fonseca.


b) “Dois irmãos” de Milton Hatoum.
c) “Rosa de Pedra” de Zila Mamede.
d) “Esaú e Jacó” de Machado de Assis.

Questão 30 - (UFRR/2015) Leia o fragmento do livro de A hora da estrela de Clarice Lispector

Escrevo neste instante com algum prévio pudor por vos estar invadindo com tal narrativa tão exterior e explícita.
[...]
Como é que sei tudo o que vai seguir e que ainda o desconheço, já que nunca o vivi? É que numa rua do Rio de
Janeiro peguei no ar de relance o sentimento de perdição no rosto de uma moça nordestina. Sem falar que eu
em menino me criei no Nordeste. Também sei das coisas por estar vivendo. Quem vive sabe, mesmo sem saber
que sabe. Assim é que os senhores sabem mais do que imaginam e estão fingindo de sonsos. [...]
A história – determino com falso livre-arbítrio – vai ter uns sete personagens e eu sou um dos mais importantes
deles, é claro. Eu, Rodrigo S. M. Relato antigo, este, pois não quero ser modernoso e inventar modismos à guisa
da originalidade. Assim é que experimentarei contra meus hábitos uma história com começo, meio e “gran
finale”, seguido de silêncio e chuva caindo.[...] O que escrevo é mais do que invenção, é minha obrigação contar
sobre essa moça entre milhares delas. E dever meu, nem que seja de pouca arte, o de revelar-lhe a vida.
Porque há o direito ao grito.
Grito puro e sem pedir esmola. Sei que há moças que vendem o corpo, única posse real, em troca de um bom
jantar em vez de um sanduíche de mortadela. Mas a pessoa de quem falarei mal tem corpo para vender,
ninguém a quer, ela é virgem e inócua, não faz falta a ninguém. Aliás – descubro eu agora – também eu não
faço a menor falta, e até o que eu escrevo, um outro escreveria. Um outro escritor, sim, mas teria que ser
homem porque escritora mulher pode lacrimejar piegas.
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Sobre o texto é incorreto afirmar que:

a) A hora da estrela é uma narrativa que foge ao estilo intimista da autora, como pode ser comprovado na
seguinte passagem: “Assim é que experimentarei contra meus hábitos uma história com começo, meio e
“gran finale”, seguido de silêncio e chuva caindo”.
b) Rodrigo S.M é o narrador-observador e apresenta-se ao leitor sem definir seu objetivo literário, apenas
questiona a própria maneira de narrar os fatos, os motivos que o levam a contar a história de uma jovem
que pela condição social e econômica também não consegue estabelecer relações amorosas.
c) A autora vestida na pessoa de Rodrigo S.M., um narrador-personagem, não permite qualquer
sentimentalismo ou apelos ao sublime. Isso se verifica na passagem: “Aliás – descubro eu agora – também
eu não faço a menor falta, e até o que eu escrevo, um outro escreveria. Um outro escritor, sim, mas teria
que ser homem porque escritora mulher pode lacrimejar piegas.”
d) A personagem – a moça – pertence a uma camada social muito diferente da do narrador;
e) A autora denuncia a existência de uma vida anônima e massacrada e, por meio dela, a desigualdade social
e as condições sub-humanas de sobrevivência.

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GABARITO:

1) Gab: C
2) Gab: D
3) Gab: C
4) Gab: D
5) Gab: C
6) Gab: B
7) Gab: D
8) Gab: A
9) Gab: E
10) Gab:
Na primeira vez em que encontra o grupo de Joãozinho Bem-Bem o personagem Nhô Augusto consegue o
respeito do bando e principalmente a admiração de seu líder, o personagem Joãozinho Bem-Bem, que era
temido na região por sua violência. Nhô Augusto é convidado a integrar o bando de Joãozinho Bem-Bem, mas
não aceita; e tem a oportunidade de pedir-lhe que realizasse, por ele, a vingança contra o Major Consilva, mas
não faz. No segundo momento em que encontra o bando, Nhô Augusto presencia a violência praticada pelo
grupo, e, apesar de contar com a simpatia e o respeito de seu líder, Joãozinho Bem-Bem, não se furta a luta
contra ele em nome da justiça e da defesa do povo oprimido pelo bando. De um personagem que havia se
tornado pacato, praticamente da reza e apegado ao trabalho, vemos ressurgir nele as forças do homem violento.
11) Gab: D
12) Gab: A
13) Gab: 13
14) Gab: D
15) Gab: E
16) Gab: C
17) Gab: B
18) Gab: D
19) Gab: D
20) Gab: B
21) Gab: A
22) Gab:
a) Em torno da igreja, que porta adentro representa o espaço sagrado destinado à religião católica, a
expectativa em relação à procissão de Santa Bárbara aglomera um grande grupo de pessoas: as baianas
dos terreiros de candomblé, os capoeiristas, os vendedores ambulantes, enfim, todos aqueles que, aos
olhos do Padre Olavo, não são dignos de adentrarem no local sagrado, revelando o sincretismo existente
no local. A escadaria, espaço reservado entre a igreja e a cidade, é a passagem tanto de cafetões,
prostitutas, baianas quanto das carolas que vêm para a missa. É na escadaria que há o encontro (choque)
das diferentes manifestações culturais, pois a igreja é um espaço fechado, reservado aos católicos, onde
ocorre o conflito entre os diferentes. De profana, a escadaria passa a ser sacralizada, ali se permite que
adeptos ao candomblé, devotos de Iansã, e católicos devotos de Santa Bárbara pratiquem sua
religiosidade. Ao som do berimbau, capoeiristas jogam capoeira. Oferendas como o Cururu de Minha Tia
são colocadas devotamente em agradecimento para a Santa. Todos esses elementos revelam, por um lado,
o sincretismo e, por outro, o conflito. A personagem de Zé-do-Burro, por crer em Deus, mas aceitar ajuda de
Iansã, demonstra que o sincretismo existente permite que se relacione com as duas crenças fundindo-as, o
que demonstra caráter conflituoso, tendo em vista todo o sacrifício que faz ao carregar a cruz, assim como
fez Jesus; mas, ao aceitar que esse sacrifício é sugestão da Mãe de Santo que indica Iansã (Santa Bárbara
religiosamente) como merecedora do sacrifício, entra em conflito com sua própria religiosidade e,
consequentemente, em conflito com a Igreja Católica. Quanto ao Padre, o conflito é mais aparente devido a
sua recusa ao culto do candomblé que pode ganhar contornos pagãos, não aceitos pela Igreja Católica
tradicional. O que ocorre na escadaria, sincretismo, não é permitido dentro da igreja, considerado lugar
sagrado.
b) Zé apresenta uma linguagem popular, coloquial, informal. Sua fala é reproduzida na escrita. Homem da
roça, sem estudo, de classe social sem prestígio, Zé é o homem da variante sem prestígio social, e usa
variantes linguísticas do tipo: “bocado de bosta”; “taquei”; “vai ralhar comigo”, linguagem que representa sua
condição social. Já o Padre apresenta uma linguagem formal, cerimoniosa, padrão. Homem da igreja, com
formação acadêmica, utiliza variantes de prestígio como “não lhe parece”; “exagerada promessa”;
“pretensiosa”, com uso de língua padrão, culta, dentro das normas sintáticas, por exemplo, adequação na
concordância nominal e uso de pronome oblíquo.
23) Gab: D
24) Gab: C
25) Gab: 12
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26) Gab: A
27) Gab: D
28) Gab:E
29) Gab: B
30) Gab: B

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