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c&
^ c a 1°
S O U O i.O G I A
PARA
Fierre B ourdieu
«Pareceu-me ser necessário subm eter
a ciência a uma análise histc
sociológica (...), para perm itir aos que
fazem ciência com preender mell' ■ "■
m ecanism os sociais que orientam a prática
cient ífica, tornando-se assim "donos e
senhores", não só da "natureza" - velha
am bição cart esiana - mas t am bém , e não
menos d ifícil, do mundo social no qual se
produz o conhecim ento da natureza »
Figura insigne da
sociologia francesa
contemporânea,
FIERRE BOURDIEU
foi um dos mais
, importantes teóricos
da epistemología
das ciências humanas.
, \ \ 9 19
22
V
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1 . 0 M I S T É R I O D A S A Ú D E , d e H a n s -G e o r g G a d a m e r
2. A S R E L A Ç Õ E S I N T E R N A C I O N A I S D E S D E 1 9 4 5 , d e M a u r ic e V a is s e
3. A C T O S D E S I G N I F I C A D O , d e J e r o m e B ru n e r
4. C O N C E IT O S S O C IO L Ó G IC O S F U N D A M E N T A IS , d e M a x W eber
5. A S R E L A Ç Õ E S I N T E R N A C I O N A I S D E 1 9 1 8 A 1 9 3 9 , d e F ie r r e M il z a
6. T E M P O S C A T I V O S : A S C R I A N Ç A S T V , d e L ilia n e L u rç a t
7. H E R A N Ç A E F U T U R O D A E U R O P A , d e H a n s -G e o r g G a d a m e r
8. I N T R O D U Ç Ã O À P S I C O L O G I A S O C I A L M O D E R N A , d e G io v a n n i G o c c i, L a u ra O c c h in i
9 . 0 P R O C E S S O D A E D U C A Ç Ã O , d e J e r o m e B ru n e r
1 0 . Q U E S T Õ E S D E R E T Ó R I C A : L I N G U A G E M , R A Z Ã O E S E D U Ç Ã O , d e M ic h e l M e y e r
1 1 . 0 P A R O X I S T A I N D I F E R E N T E , d e J e a n B a u d r illa r d
1 2 . 0 M É D IC O N A E R A D A T É C N I C A , d e K a rl J a sp e r s
13. A E V O L U Ç Ã O P S I C O L Ó G I C A D A C R I A N Ç A , d e H e n r i W a ilo n
14. R E V O L U Ç Ã O I N D U S T R I A L E C R E S C I M E N T O E C O N Ó M I C O N O S É C . X I X , d e C h a n ta l B e a u c h a m p
15. A S R E L A Ç Õ E S I N T E R N A C I O N A I S D E 1 8 71 A 1 9 1 4 , d e P ie r r e M ilz a
1 6. I N T R O D U Ç Ã O À S O C I O L O G I A , d e N o r b e r t E lia s
17. 0 N A S C I M E N T O D O T E M P O , d e Ily a P r ig o g in e
18 . A F I L O S O F I A D A E D U C A Ç Ã O , d e O liv ie r R e b o u l
19. A S R E L A Ç Õ E S I N T E R N A C I O N A I S D E 1 8 0 0 A 1 8 7 1 , d e B e n o it P e llis tr a n d i
20. P S I C A N Á L I S E E R E L I G IÃ O , E r ic h F r o m m
21. A I N T E R P R E T A Ç Ã O D A S A F A S I A S , d e F r eu d
22. P A R A U M A S O C I O L O G I A D A C I Ê N C I A , P ie r re B o u r d ie u
PARA U M A
SOCIOLOGIA
D A CIÊNCIA
Título original:
Science de la Science et rejlexivité
Cours au Collége de France 2000-2001
ISBN : 972-44-1206-7
w w w .e d ic o c s 7 0 .p t
Esta obra está protegida pela lei. Não pode ser reproduzida
no todo ou em parte, qualquer que seja o modo utilizado,
incluindo fotocópia e xerocopia, sem prévia autorização do Editor.
Qualquer transgressão à Lei dos Direitos do Autor será passível de
procedim ento judicial.
Pierre Bourdieu
PARA U M A
SOCIOLOGIA
D A CIÊN CIA
P r ó lo g o
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P a r a u ma S o c i o l o g i a d a C iê n c ia
8
In t r o d u ç ã o
9
In tr o d u ç ã o
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P a r a u ma S o c i o l o g i a d a C iê n c ia
12
In t r o d u ç ã o
13
P a r a u ma S o c i o l o g i a d a C iê n c ia
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1
A S in o p s e d a D is c u s s ã o
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P a r a u ma S o c i o l o g i a d a C iê n c ia
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A Si n o p s e d a D i s c u s s ã o
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P a r a u ma S o c i o l o g i a d a C iê n c ia
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A Si n o p s e d a D i s c u s s ã o
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P a r a u ma S o c i o l o g i a d a C iê n c ia
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A Si n o p s e d a D i s c u s s ã o
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1. U m a V is ã o E n c a n ta d a
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A Si n o p s e d a D i s c u s s ã o
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A Si n o p s e da D is c u s s ã o
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(*) Sigla inglesa para white anglo-saxon prótestant - que designa pessoas
brancas anglo-saxónicas e protestantes (N. R.),
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A Si n o p s e d a D i s c u s s ã o
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2 . A C iê n c ia N o r m a l e a s R e v o lu ç õ e s C ie n tífic a s
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3 .0 P r o g r a m a T e ó r ic o “ F o r t e ”
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logia das ciências seja em princípio subm etida ao tratam ento que
aplica às outras ciências. Em num erosos casos de estudos fundados
nestes princípios, a causalidade foi interpretada de form a bastante
lata para incluir a ideia de com preensão (evitando assim a antiga
dicotom ía “explicação versus com preensão”). Enquanto o princípio
de im parcialidade é evidente no plano metodológico e não provocou
verdadeiros debates, os filósofos discutiram bastante o sentido
exacto e a validade do princípio de simetria. Por fim, o princípio de
reflexividade não desem penha, de facto, qualquer papel nos casos
de estudo e só foi verdadeiram ente levado a sério por W oolgar e
Ashm ore, que foram assim levados a estudar m ais a sociologia das
ciências e as suas práticas de escrita do que as próprias ciências».
Subscrevo inteiramente esta exposição e os comentários que contém,
acrescentando apenas que, na m inha opinião, não se pode falar de
reflexividade a propósito de análises da sociologia das ciências
(dos outros) que têm m ais que ver com a polém ica do que com a
«polém ica da razão científica» na m edida em que, com o sugeria
Bachelard, esta se orienta desde logo contra o próprio investigador.
Q uanto a Barry B arnes (1974), que explicita o m odelo teórico
subjacente à análise de K uhn, evita, tal com o este últim o, colocar
a questão da autonom ia da ciência, ainda que se refira principal
m ente (se não exclusivam ente) aos factores internos na sua investi
gação das causas sociais das crenças-preferências dos cientistas.
Os interesses sociais suscitam tácticas de persuasão, estratégias
oportunistas e tendências culturalmente transmitidas que influenciam
o conteúdo e o desenvolvimento do conhecimento científico. Longe
de serem determ inadas de form a inequívoca pela «natureza das
coisas» ou por «puras possibilidades lógicas», com o pretendia
M annheim , as acções dos cientistas e a em ergência e consolidação
de paradigm as científicos são influenciados por factores sociais
intra e extrateóricos. Barnes e B loor (1982) baseiam -se na sub-
determinação da teoria pelos fa cto s (as teorias nunca são com
pletam ente determ inadas pelos factos que invocam e várias teorias
podem sem pre reivindicar a sua relação com os m esm os factos);
insistem tam bém no facto (que é um a banalidade para a tradição
epistem ológica continental) de a observação ser orientada pela
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A Si n o p s e da D is c u s s ã o
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4 . U m S e g r e d o d e P o lic h in e lo B e m G u a r d a d o
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haja dúvida de que é verdade que, com o diz Karin Knorr, o labora
tório é um lugar onde as acções são realizadas com o intuito de
«fazer funcionar as coisas» («A form ulação vernacular “making
things w ork” sugere um a contingência dos resultados a propósito
da produção: “fazer funcionar” implica um a selecção dos “efeitos”
que podem ser reunidos num conjunto de contingências racionais
ignorando as tentativas que contradizem os efeitos.»), não se pode,
contudo, aceitar a idéia que ela exprim e na frase que acabei de
citar e em que se desvia da ideia, que é o tem a do m eu prim eiro
artigo, do carácter inseparavelmente científico e social das estra
tégias dos investigadores, para a afirm ação de um a construção
sim bólica e política fundada em «técnicas de persuasão» e «es
tratagemas» orientados para a form ação de alianças. As «estra
tégias» sim ultaneam ente científicas e sociais do hábito científico
são pensadas e tratadas com o estratagemas conscientes, para
não dizer cínicos, orientados para o sucesso do investigador.
M as, para term inar, é necessário voltar a m encionar agora um
ram o da sócio-filosofia da ciência que se desenvolveu sobretudo
em França, m as que conheceu algum sucesso nos campus das
universidades anglo-saxónicas. Refiro-m e aos trabalhos de Latour
e W oolgar e, em particular, a Laboratory Life, que dá um a im agem
am pliada de todos os defeitos da nova sociologia da ciência (Latour
e Woolgar, 1979). Esta corrente é profundam ente m arcada pelos
condicionalism o históricos, de forma que receio ter grande dificul
dade em distinguir, com o fiz para as correntes precedentes, o
m om ento da análise das teses consideradas e o m om ento da análise
das co ndições sociais da sua produção. [Por exem plo, num a
passagem que pretende ser favorável do livro de Latour e Woolgar,
Laboratory Life, pode ler-se: «O laboratório m anipula inscrições
(por referência a D errida), enunciados (por referência aF oucault);
construções que constituem as realidades que elas evocam . Estas
construções im põem -se pela negociação de pequenos grupos de
investigadores envolvidos. A verificação (assay) é autoverificação;
ela cria a sua própria verdade; é autoverificante porque não há
nada para a verificar. Laboratory Life descreve o processo de
verificação com o um processo de negociação».]
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A Si n o p s e d a D i s c u s s ã o
que Latour, num artigo intitulado «W here are the missing Masses?»
(1993), invoca para encontrar ñas coisas os condicionantes que
faltam (as «m assas ausentes», referência científica chique) na
análise com um da ordem política e social. Em bora sejam objectos
m ecânicos, as portas e os objectos técnicos agem com o im posições
constantes sobre o nosso com portamento e os efeitos da intervenção
desses «sujeitos» são indiscem íveis dos que exercem um controlo
m oral ou norm ativo: um a porta perm ite-nos passar apenas num
certo ponto da parede e a um a determ inada velocidade; um polícia
robotizado regula o trânsito com o um polícia real, o com putador do
m eu escritório obriga-m e a escrever instruções especialm ente para
ele num a form a sintáctica determ inada. As «m issing masses»
(análogas às que explicam o ritm o de expansão do universo! -
nem m ais nem m enos...) encontram -se nas coisas técnicas que
nos rodeiam . D elegam o-lhes o estatuto de agentes e, ao m esm o
tempo, poder. Tratando-se de com preender esses objectos técnicos
e o seu poder, será que é necessário fazer a ciência técnica do seu
funcionam ento? (Não há dúvida de que é m ais fácil para uma
porta ou um a pipeta do que para um ciclotrão...) Se esse não é o
caso, que m étodo se deverá utilizar para descobrir o facto da
«delegação» e o que é delegado a esses fam osos «sujeitos»? Basta
recorrer ao m étodo, caro aos econom istas, das «hipóteses contra-
factuais» e, tratando-se de com preender a utilidade das portas
autom áticas, im aginar com o seria se não existissem . Faz-se um a
contabilidade por partidas dobradas: de um lado, o que se deveria
fazer se não houvesse porta autom ática; do outro, o esforço ligeiro
para puxar ou em purrar que perm ite cum prir as m esm as tarefas.
Portanto, transform a-se um grande esforço num mais pequeno e
é à operação assim realizada pelo analista que Latour propõe
cham ar deslocam ento, translação ou delegação: «delegám os nos
gonzos o trabalho de reversibilidade que resolve o dilema do buraco
na parede». E, finalm ente, chegam os a um a lei geral: «sem pre que
quiser saber o que um agente faz, im agine sim plesm ente aquilo
que outros agentes hum anos e não hum anos deveríam fazer se
esse agente não existisse». A im aginação (científica) está no poder.
Fez-se desaparecer a diferença trivial entre os agentes hum anos
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U m M u n d o à P a r te
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1 .0 « O fíc io » d o C ie n tis ta
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nas descrições das suas práticas a teoria que lhes perm itiría ter e
dar um verdadeiro conhecim ento dessas práticas.
A analogia que alguns analistas fazem entre a prática artística
e a prática científica não deixa de ter fundam ento, mas tem alguns
lim ites. O cam po científico é, tal com o outros cam pos, o lugar de
lógicas práticas, m as com a diferença de o habitus científico ser
um a teoria realizada, incorporada. U m a prática científica possui
todas as características reconhecidas às actividades m ais tipica
m ente práticas, com o as actividades desportivas ou artísticas. M as
tal não im pede que seja tam bém , sem dúvida, a form a suprem a da
inteligência teórica: para parodiar a linguagem de H egel quando
fala da m oral, é «um a consciência teórica realizada», ou seja, in
corporada, no estado prático. A actividade num laboratório é m uito
sem elhante à actividade num atelier de pintura, que dá lugar à
aprendizagem de toda um a série de esquem as e técnicas. M as a
especificidade do «ofício» do cientista decorre do facto de essa
aprendizagem ser a aquisição de estruturas teóricas extrem am ente
com plexas que podem , além disso, ser colocadas em fórm ulas,
especialm ente m atem áticas, e que se podem adquirir de m aneira
acelerada graças à form alização. A dificuldade da iniciação num a
qualquer prática científica (física quântica ou sociologia) advém
do facto de ser necessário fazer um duplo esforço para dom inar o
saber teoricam ente, m as de tal form a que esse saber passe real
m ente p ara as práticas, na form a de habilidade, «golpe de vista»,
etc., e não fique no estado de m etadiscurso a propósito das práticas.
A «arte» do cientista está, com efeito, separada da «arte» do artista
p o r duas grandes diferenças: por um lado, a im portância do saber
form alizado que é dom inado no estado prático, graças principal
m ente à form alização, e, po r outro, o papel dos instrum entos que,
com o dizia Bachelard, são saber form alizado feito coisa. Por outras
palavras, um m atem ático de vinte anos pode ter vinte séculos de
m atem ática no seu espírito, em parte porque a formalização perm ite
adquirir na forma de automatismos lógicos, que se tom aram automa
tism os práticos, produtos acumulados de invenções não automáticas.
Em relação aos instm m entos é a m esm a coisa: para m anipular,
utilizam os instrum entos que são concepções científicas conden
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2 . A u to n o m ia e R e q u is ito s d e A d m is s ã o
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m entos que lhes perm item funcionar com o com unidades e que
têm com o função oficial professar a salvaguarda dos valores ideais
da profissão de cientista. São as instituições científicas, as institui
ções de defesa «corporativas», de cooperação cujo funcionamento,
com posição social, estrutura organizacional (direcção, etc.) devem
ser com preendidas em função da lógica de cam po; há tam bém
todas as formas organizacionais que estruturam de modo duradouro
e perm anente a prática dos agentes e das suas interacções, com o
o CNRS ou o laboratório, e é necessário obter os m eios de estudar
essas instituições, sabendo bem que não contêm o princípio da sua
própria com preensão e que, para as entender, é preciso com pre
ender a posição dos seus participantes no cam po. U m a associação
disciplinar (Sociedade Francesa de Biologia) poderá contribuir para
fazer funcionar, no seio do cam po disciplinar, algo com o um a co
m unidade que gere parte dos interesses com uns apoiando-se nos
interesses e cultura com uns, para funcionar. M as, para com pre
ender com o funciona, seria necessário tom ar em consideração as
posições ocupadas no cam po por aqueles que fazem parte dela e
que a dirigem . Poderiam os assim observar que alguns encontram
na pertença a essas instituições e na defesa dos interesses com uns
recursos que não lhes são fornecidos pelas leis de funcionam ento
do cam po científico; tudo isto em ligação com a existência de dois
princípios de dom ínio no cam po científico, tem poral e intelectual:
os poderes tem porais estão norm alm ente do lado da lógica com uni
tária, ou seja, da gestão dos assuntos com uns, do consenso mínimo,
dos interesses com uns mínimos, coloquios internacionais, relações
com o estrangeiro ou, em caso de conflito grave, a defesa dos
interesses colectivos.
A m aioria dos analistas ignora a autonom ia relativa do cam po e
coloca o problem a do constrangim ento exercida sobre o cam po
(pela religião ou pelo Estado), das regras im postas pela força.
Barnes tenta «exorcizar» a ideia de autonom ia da ciência: rejeita a
ideia segundo a qual a ciência se distingue das outras form as de
cultura com o pura e « undistorted », ou seja, autónom a; pretende
fundar um a sociologia que se aplique tanto às crenças verdadeiras
com o às falsas enquanto produtos de forças sociais (Barnes, 1974),
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um dos m ais im portantes, que foi evocado por K uhn num dos
seus textos reunidos em La Tensión essentielle (K uhn, 1977),
«M athem atical versus experim ental tradition», é am atem atização.
E Yves G in g ras, num artig o in titu lad o « M ath ém atisatio n et
exclusión, socioanalyse de la form ation des cités savants» (Gingras,
2002), m ostra que a m atem atização está na origem de vários
fenóm enos convergentes que tendem a reforçar a autonom ia do
m undo científico e, em particular, da física (não é certo que este
fenóm eno exerça sem pre e em toda a parte os m esm os efeitos,
em particular nas ciências sociais).
A m atem atização produz, em prim eiro lugar, um efeito de
exclusão do cam po da troca de idéias (Yves Gingras lem bra as
resistências ao efeito de exclusão provocado pela m atem atização
da física - por exem plo, o abade N ollet «reivindica o direito de
propor a sua opinião»): com Newton (ao qual acrescentaria Leibniz),
a m atem atização da física tende progressivam ente, a p artir de
m eados do século X VIII, a instaurar um profundo fosso entre os
profissionais e os am adores, a separar os insiders e os outsiders ;
o dom ínio das matemáticas (adquirido na altura da formação) tom a-
-se condição de adm issão e reduz o núm ero não só dos leitores
mas tam bém dos produtores potenciais (o que, como verem os, tem
enorm es consequências). «As fronteiras do espaço são lentam ente
redefinidas de tal m odo que os leitores potenciais estão cada vez
m ais lim itados aos contribuidores potenciais dotados da m esm a
form ação. P or outras palavras, a m atem atização contribui para a
form ação de um cam po científico autónom o» (Gingras, 2001).
É assim que Faraday sofre o efeito de exclusão das m atem áticas
de M axw ell. O fosso im plica o fecham ento sobre si, que produz a
censura. C ada um dos investigadores inseridos no cam po está
sujeito ao controlo de todos os outros e, em particular, dos seus
concorrentes m ais com petentes, tendo, por consequência, um con
trolo m uito m ais forte do que as m eras virtudes individuais ou todas
as deontologias.
A segunda consequência da m atem atização é a transform ação
da ideia de explicação. É através do cálculo que o físico explica o
m undo, que engendra as explicações que depois tem de confrontar
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4 . U m C o n flito R e g u la d o
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têm com o efeito sin cro n izar cam pos d otados de h istó rias e
tem poralidades diferentes.
A té aqui, fiz com o se o sujeito da luta científica fosse exclusiva
m ente um indivíduo, um cientista individual. D e facto, pode ser
tam bém um a disciplina ou um laboratório. D etenham o-nos por um
m o m en to n a disciplina. D e um a form a geral, p o dem os falar
indiferentem ente, a propósito de níveis m uito diferentes da divisão
do trabalho científico, de disciplina, de subcam po ou de especiali
dade (por exem plo, falam os de disciplina para designar a quím ica
no seu todo, ou a quím ica orgânica, a quím ica física, a quím ica
física orgânica, a quím ica quântica, etc.). D aryl E. C hubin faz
um a distinção (Nye, 1993: 2) entre a disciplina (física), o sub
cam po (a física das altas energias ou de partículas), a especialidade
(interacções fracas) e a subespecialidade (estudos experim entais
vs estudos teóricos).
A disciplina é um cam po relativam ente estável e delim itado,
portanto relativamente fácil de identificar: tem um nome reconhecido
escolar e socialm ente (ou seja, que está presente nom eadam ente
nas classificações das bibliotecas, com o a sociologia por oposição
à «m ediologia», por exem plo); está inscrita em instituições, labora
tórios, departam entos universitários, revistas, instâncias nacionais
e internacionais (congressos), processos de certificação de com pe
tências, sistem as de retribuição, prêm ios.
A disciplina é definida pela posse de um capital colectivo de
m étodos e conceitos especializados cujo dom ínio co nstitui o
requisito de adm issão tácito ou im plícito no cam po. Produz um
«transcendental histórico», o hábito disciplinar com o sistem a de
esquem as de percepção e apreciação (a disciplina incorporada
age com o censura). E caracterizada por um conjunto de condições
sócio-transcendentais, constitutivas de um estilo, [Abro aqui um
paréntesis sobre a noção de estilo: os produtos de um m esm o
habitus são m arcados por um a unidade de estilo (estilo de vida,
m aneira, assinatura de um artista). N a tradição da sociologia da
ciência, o tem a do estilo está presente em M annheim , em L udw ig
Fleck (1980) que fala de «estilos de pensam ento», ou seja, de um a
«tradi-ção de pressupostos partilhados» em grande parte invisíveis
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e n u n c a p o s to s em q u e s tã o , e ta m b é m d e « c o le c tiv o de
pensamento», comunidade de pessoas que partilham idéias: as idéias
com patíveis com os pressupostos fundam entais do colectivo são
integrados, os outros são rejeitados. H á assim toda um a série de
usos m uito sem elhantes que valem tanto para u m a disciplina no
seu todo, com o para um grupo, um a colectividade intelectual que
partilha um saber e pressupostos sobre a metodologia, a observação,
as hipóteses adm issíveis e os problem as im portantes - Ian Hacking
(1 9 9 2 ) fa la ta m b ém de « s is te m a s fe c h a d o s de p rá tic a d a
investigação» ( closed systems o f research practice ).] Esta noção
de «estilo» é im por-tante, ao m enos, p ara designar, apontar, um a
propriedade das diferentes ciências ou disciplinas que foi esmagada,
esquecida, em toda a reflexão sobre a ciência, pelo facto de a
física e, m ais precisam ente, a física quântica ter sido constituída
com o modelo exclusivo da cientifícidade, em nome de um privilégio
social convertido em privilégio epistemológico pelos epistemólogos
e filósofos, pouco capazes de pensar os efeitos de im posição social
que se exercem sobre o seu pensam ento.
A s fronteiras da disciplina são protegidas po r condições de
acesso m ais ou m enos codificadas e restritivas; m ais ou m enos
definidas, as fronteiras são p or vezes contestadas por disciplinas
afins. Pode haver intersecções entre as disciplinas, algumas inúteis,
outras úteis, que oferecem a possibilidade de extrair idéias e infor
m ações de m aior ou m enor núm ero e diversidade de fontes. (A ino
vação nas ciências engendra-se norm alm ente nas intersecções).
A noção de cam po científico é im portante porque relem bra,
por um lado, que há um m ínim o de unidade da ciência e, por outro,
que as diferentes disciplinas ocupam um a posição no espaço
(hierarquizado) das disciplinas e que aquilo que nele sucede
depende em parte desta posição. Vou deter-m e, em prim eiro lugar,
na questão da unidade: o cam po científico pode ser descrito com o
um conjunto de cam pos locais (disciplinas) que têm interesses (por
exem plo, o interesse de racionalidade, contra o irracionalism o, a
anticiência, etc.) e princípios m ínim os comuns. Entre os princípios
unificadores da ciência, penso que se deve destacar aquilo a que
Terry Shinn (2000) cham a «instrumentos base» (ultracentrifugador,
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5. H is to r ia e V e r d a d e
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não são nem ju ízo s sintéticos a priori, nem factos experim entais.
São convenções; a nossa escolha, entre todas as convenções pos
síveis, é guiada p o r factos experim entais»; m as perm anece livre e
é lim itada apenas pela necessidade de evitar qualquer contradição»
(Poincaré, 1968, 2.a parte, cap. III). A geom etria euclidiana não é
a m ais verdadeira, m as a m ais cóm oda (Poincaré, 1 9 6 8 ,2.a parte,
cap. IV). Poincaré insiste tam bém no facto de essas convenções
não serem «arbitrárias», m as terem «um a origem experim ental».]
De facto, Poincaré introduz o lobo sociológico no redil m atem ático
e na visão sem pre um pouco pastoral que ele encoraja, com o
term o «convenção», cujas im plicações sociais ele não desenvolve,
m as coloca em causa a ideia de validade universal e convida a
questionar as condições sociais dessa validade convencional.
Poincaré está m uito próxim o do R u d o lf C am ap que, em 1934,
afirm ava que não há noção de validade universal independente
m ente das regras particulares e diversas dos cálculos form alm ente
especificáveis, igualm ente possíveis e legítim os. A s noções de
«racionalidade» ou de objectividade são «relativas» à escolha desta
ou daquela linguagem ou quadro linguístico. As regras linguísticas
particulares de um determ inado quadro linguístico definem o que é
correcto. A escolha entre diferentes quadros é apenas o efeito de
um a livre convenção governada por critérios pragm áticos e não
racionais. D aí o princípio de tolerância. N um artigo intitulado
«Em piricism , Sem antics and O ntology» (1950), Carnap faz um a
distinção entre as questões internas e as questões externas: as
prim eiras colocam -se nos lim ites de um quadro linguístico e po
dem os responder-lhes nos lim ites das regras lógicas desse quadro
linguístico já escolhido e aceite relativam ente às quais as noções
de objectividade, de racionalidade, de validade e de verdade têm
um sentido. A s questões externas dizem respeito à escolha entre
diferentes quadros linguísticos, escolha que obedece a critérios
puram ente pragm áticos de ajustam ento a um qualquer fim.
Esta distinção de Cam ap é bastante análoga à distinção de Kuhn
entre ciência norm al e ciência revolucionária: as actividades de
resolução de enigmas («puzzle-solving») da ciência normal apoiam-
-se no pano de fundo de um paradigm a geralm ente aceite que
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T o m a d a s c o m o O b je c to ?
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2 . E s b o ç o P a r a u m a A u to -A n á lis e
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habitus que im portei para este cam po: habitus que, devido ao
m eu trajecto social, não era m odal no cam po filosófico nem tão-
-pouco, sobretudo devido ao m eu trajecto escolar, no cam po socio
lógico, e que m e separava da m aioria dos m eus contem porâneos
filósofos ou sociólogos. A lém disso, ao regressar da A rgélia com
um a experiência com o etnólogo, que, nas condições difíceis de
um a guerra de libertação, tinha m arcado para m im um a ruptura
decisiva com a experiência escolar, fui levado a ter u m a visão
bastante altiva da sociologia e dos sociólogos, a visão do filósofo
que se alia à do etnólogo.
C om preende-se que, nestas condições, o espaço dos possíveis
que se m e oferecia não se podia reduzir ao que m e era proposto
pelas posições constituídas com o sociológicas, tanto em França
com o no estrangeiro, ou seja, nos Estados U nidos e, secundaria
m ente, na A lem anha e em Inglaterra. E claro que tudo m e levava
a recusar deixar-m e fechar na sociologia, ou m esm o na etnologia
e n a filosofia, e a pensar o m eu trabalho em relação à totalidade
do cam po das ciências sociais e da filosofia. [O facto de ser aqui,
sim ultaneam ente, sujeito e objecto da análise redobra um a d ifi
culdade, m uito com um , da análise sociológica: o perigo de as
interpretações propostas das práticas - aquilo a que por vezes se
cham a as «intenções objectivas» - serem com preendidas com o
intenções expressas do sujeito agente, estratégias intencionais,
projectos explícitos. Quando, por exem plo, relaciono (com o, em
bom m étodo, não se pode deixar de fazer) os m eus projectos
intelectuais, particularm ente vastos, desconhecedores das fronteiras
entre as especialidades, mas tam bém entre a sociologia e a filosofia,
com a m inha passagem da filosofia, disciplina prestigiada, em que
alguns dos m eus pares académ icos tinham ficado - o que decerto
é m uito im portante subjectivam ente - para a sociologia e com o
desperdício de capital simbólico que daí resultaria «objetivam ente»,
isso não significa, no entanto, que as m inhas escolhas de objecto
ou de m étodo m e tenham sido inspiradas, de m odo consciente ou
quase cínico, pela intenção de salvaguardar esse capital.]
O facto de, inicialm ente, m e pensar com o etnólogo, que era
um a form a subjectivam ente m ais fácil de aceitar a desprom oção
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dos m eus colegas da escola prim ária, filhos de pequenos cam po
neses, artesãos ou com erciantes, com quem tinha quase tudo em
com um , excepto o sucesso que m e distinguia um pouco, estava
separado deles po r um a espécie de barreira invisível, que se expri
m ia p o r vezes em certos insultos rituais contra os lous em plegats ,
os em pregados m arginalizados, um pouco com o o m eu pai estava
separado (e dava m uitos sinais de sofrer isso, com o o facto de
votar sem pre m uito à esquerda) desses cam poneses (e do seu pai
e irm ão que ficaram n a quinta, que ele ia ajudar todos os anos
durante as férias), de quem , porém , estava m uito próxim o (princi
palm ente pelos serviços assíduos que, com infinita paciência, lhes
prestava) e que eram , pelo m enos alguns, m uito m ais abastados
do que ele. (Deveis pensar que a m inha linguagem é m uito confusa,
m as - esta é tam bém um a das diferenças indeléveis - nem todas
as «histórias» de vida são fáceis e agradáveis de contar, principal
m ente porque a origem social, sobretudo quando se trata de alguém
que, com o eu, m ostro u a im portância desta variável, tende a
desem penhar o papel de instrumento e objecto de lutas, de polémica,
e a ser utilizada nos sentidos m ais diferentes m as, quase sem pre,
para o pior...).
D ever-se-ia analisar tam bém a experiência, sem dúvida, pro
fundam ente «estruturante» do internato, através especialm ente da
descoberta de um a diferença social, desta vez invertida, com os
citadinos «burgueses» e do fosso entre o m undo do internato
(Flaubert escreveu algures que quem conheceu o internato, com
doze anos, sabe quase tudo da vida) - escola terrível de realism o
social, em que tudo está já presente, o oportunism o, o servilism o
interesseiro, a acusação, a traição, a denúncia, etc. - e o m undo
da escola, onde reinam valores com pletam ente opostos e profes
sores que, principalm ente as m ulheres, propõem um universo de
descobertas intelectuais e de relações hum anas que se podem
cham ar encantadas. Percebi recentem ente que o m eu investim ento
m uito profundo na instituição escolar se constituiu, sem dúvida,
nesta experiência dual e que a revolta profunda, que nunca m e
abandonou, contra a Escola tal com o se apresenta resulta certa
m ente da enorm e e inconsolável decepção produzida em m im pela
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P R Ó L O G O ............................................................................... 7
IN T R O D U Ç Ã O ...................................................................... 11
2. U M M U N D O À PARTE .................................................. 51
1. O «ofício» do c ie n tis ta ................................................. 58
2. A utonom ia e requisitos de a d m issã o .............................. 67
3 .0 capital científico, suas form as e distribuição............ 79
4. U m conflito re g u la d o ..................................................... 89
5. H istória e v e rd a d e .......................................................... 100
3. P O R Q U E D E V E M A S C IÊ N C IA S S O C IA IS S E R
T O M A D A S C O M O O B JE C T O ? ................................... 119
1. O bjectivar o sujeito da o b je c tiv a ç ã o ............................ 123
2. Esboço para um a a u to -a n á lise ....................................... 130
C O N C L U S Ã O ......................................................................... 157
B IB L IO G R A F IA ..................................................................... 159