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Direitos Autorais
Epígrafo
Prólogo
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Dois
Três
Quatro
Cinco
Seis
Sete
Oito
Nove
Dez
Onze
Doze
Treze
Quatorze
Quinze
Dezesseis
Dezessete
Dezoito
Dezenove
Vinte
Vinte e Um
Vinte e Dois
Vinte e Três
Vinte e Quatro
Vinte e Cinco
Vinte e Seis
Vinte e Sete
Vinte e Oito
Vinte e Nove
Trinta
Trinta e Um
Trinta e Dois
Trinta e Três
Sobre o Ebook
Sobre as Autoras
A Alta República - Trilha do Engano é uma obra de ficção. Nomes, lugares, e outros incidentes são
produtos da imaginação do autor ou são usadas na ficção. Qualquer semelhança a eventos atuais,
locais, ou pessoas, vivo ou morto, é mera coincidência. Direitos Autorais © 2022 da Lucasfilm Ltd.
® TM onde indicada. Todos os direitos reservados. Publicado nos Estados Unidos pela Del Rey, uma
impressão da Random House, um divisão da Penguin Random House LLC, Nova York. DEL REY e
a HOUSE colophon são marcas registradas da Penguin Random House
LLC. randomhousebooks.com/starwars.com/Facebook.com/starwarsbooks
Assentindo, Kevmo se inclinou pra frente para dar uma boa olhada nas
luzes do assentamento, subindo ao redor do cume. Não tinha tido a chance
de ver nada neste planeta ainda... além de dezessete mil tubarões-de-grama
e um monte de poeira vermelha.
— Então, qual é a melhor coisa para comer por aqui? — ele perguntou a
Azlin.
Uma hora depois, Kevmo estava quente, limpo e abrigado em uma
cabine em uma taberna enfumaçada com luzes bruxuleantes, comendo um
ensopado vermelho brilhante com pequenas sementes cozidas que
estalavam enquanto as mastigava. Azlin comeu o mesmo, e Zallah
finalmente se juntou a eles, tendo tomado o seu lugar a frente do transporte
de Kevmo. Ela era Soikan, e o seu cabelo era branco curto estava penteado
pra trás depois do banho. Zallah era alta e elegante e parecia ter sido
esculpida em gelo... desde a sua testa alta e feições magras até a sua pele
prateada, com olhos lilás e comportamento impecavelmente frio.
Mas enquanto se sentava, atirou a Kevmo um leve sorriso, que ele
tomou como total aprovação e sorriu de volta pra ela.
No início, Kevmo não tinha entendido por que ela o queria como o seu
Padawan. Ele era sociável e incapaz de ficar parado, corria rápido, flertava
acidentalmente com quase todas as formas de vida que encontrava e era
excessivamente tátil. Zallah não gostava de ser tocada. Kevmo sabia como
se manter reservado e só tinha melhorado em acalmar a sua própria
natureza, mas era muito para a maioria das pessoas.
Claro, Zallah era perfeitamente adequada para guiá-lo enquanto
aprendia a se envolver com a Força... e as pessoas... com precisão delicada
em vez de apenas entusiasmo esmagador. E ela sabia disso. Disse a ele uma
vez, quando estava lutando para controlar a sua tendência de se jogar
diretamente na Força, que ela precisava dele também. Disse que Kevmo a
lembrava que às vezes se render completamente à Força era a coisa certa a
fazer.
Kevmo realmente não se importaria se fosse o seu Padawan pra sempre.
Zallah se sentou e fez sinal ao garçom pedindo uma porção do guisado.
Azlin deslizou pra ela uma caneca de chá azedo local, e ela agradeceu,
tomou um gole e disse:
— Depois da refeição precisamos ir, Kevmo.
— Já?
— Somos necessários em Hynestia. Alguém roubou um artefato da
rainha de lá... já se passaram cinco dias, enquanto a mensagem circulava. —
Zallah fez uma pausa, o seu desagrado com as comunicações decrépitas da
fronteira óbvia. — Os Hynestianos estão exigindo o envolvimento dos Jedi,
e estamos mais próximos do que Oliviah e Vildar.
Kevmo engoliu um bocado de guisado e perguntou.
— Por que eles nos querem? — Ele não sabia muito sobre Hynestia,
exceto que eles eram muito estabelecidos em o seu planeta natal e em o seu
sistema circundante, então mais em contato com os Jedi e a República do
que muitos planetas na Orla Exterior com menos acesso a créditos e
tecnologia. — Eles só querem estranhos?
— O item roubado aparentemente é algum tipo de artefato da Força.
— Ah! — Kevmo quase derrubou a sua caneca.
Zallah tomou um gole de seu próprio chá e ergueu uma sobrancelha pra
ele. Ele se acomodou e olhou para Azlin, que fazia o possível para não
sorrir com o entusiasmo de Kevmo.
— Azlin. — disse Kevmo, inclinando-se para o Jedi um pouco mais
velho. — Você deveria vir conosco.
— Preciso terminar alguns relatórios e reparos aqui, e voltar para Jedha
para checar com o Entreposto. — disse Azlin calmamente.
Embora Kevmo não pudesse imaginar perder a chance de perseguir
ladrões em favor de relatórios, o que certamente poderia ser feito durante o
transporte, ele supôs que todo mundo era diferente... até os Jedi.
— Que pena. — disse ele. — Eu queria saber mais sobre o que você
tem feito aqui nos últimos dois anos.
Azlin deu de ombros.
— O mesmo que você, eu acho.
Kevmo olhou através da luz avermelhada para o humano, tentando
decidir se ele estava o provocando de alguma forma... mas não, Azlin
parecia sério. Então Kevmo assentiu e disse:
— Sim. O mesmo que eu. — Então ele ergueu a caneca em uma
saudação.
Marda Ro fechou os olhos antes de mergulhar três dedos longos e
cinzentos no pote de azul de concha brikal. Tocou os dedos na testa e puxou
o azul em um aceno suave.
O pigmento tinha um leve cheiro de giz que eles usavam para dar peso
às conchas de brikal esmagadas, e um pouco adocicado do agente ligante.
Marda inspirou e sorriu para o seu reflexo no espelho levemente
embaçado. Havia crescido recentemente em sua maioridade e foi
reconhecida como uma membro de pleno direito da Trilha da Mão Aberta.
Poderia finalmente usar o símbolo da Força viva em três partes: liberdade,
harmonia e clareza. As linhas azuis ondulantes a encheram com uma
sensação de retidão.
Levantou-se, completa e pronta para o dia seguinte. A sua cela pessoal
era pequena, usada só pra dormir no tapete no chão e guardar os seus
pertences esparsos: duas túnicas e roupas íntimas sem tingimento, com uma
capa grossa de lã, bastões de cabelo, o pote de azul, uma lixa de pó de
cristal para as suas unhas afiadas e dentes e uma tigela rasa de água na qual
flutuavam três folhas roxas vivas.
Marda tocou uma folha para fazê-las girar e abriu a porta com um toque
de relance no painel. As suas sandálias a esperavam na soleira, e saiu para o
amanhecer avermelhado. Era fim de primavera deste lado de Dalna, e o céu
brilhava violeta quando o primeiro sol nasceu por trás do trio de vulcões
cobertos de neve. A cela de Marda era uma das várias aglomeradas como
favos de mel na extremidade sul da comuna da Trilha da Mão Aberta. De
sua porta, o prado descia em direção ao rio e a luz do sol brilhava contra as
folhas vermelho-púrpura das árvores salgueiros. Grilos e sapos cantavam, e
as flores de lompop estavam começando a se abrir ao longo da estrada em
direção ao complexo principal, fazendo o seu homônimo estalar quando
Marda passou. Como tinha tempo, Marda deu a volta mais longa até o
jardim central da comunidade, apreciando a beleza fácil de seu mundo.
Enquanto ia, Marda pegou algumas pétalas,folhas e uma pena de
marcrow rosa bonita, levando apenas o que já havia caído.
Tendo vindo para a Trilha enquanto crianças, Marda e a sua prima
cresceram procurando alimentos e bens, cultivando com o seu próprio
trabalho e aceitando presentes dados livremente de seus vizinhos na cidade
vizinha de Ferdan. Esse modo de vida incutiu em Marda o hábito de
colecionar qualquer coisa que parecesse útil ou simplesmente adorável.
Gostava de encontrar valor no que os outros descartavam e beleza no lixo
do mundo natural. Tudo serviu a um propósito, mesmo que esse propósito
fosse colocar um sorriso no rosto do Velho Waiden com o presente de uma
pena.
Marda tinha um pequeno buquê quando chegou ao jardim onde vários
outros membros da Trilha já haviam se reunido para compartilhar o café da
manhã. Espalhou as pétalas na longa ponta da mesa e enfiou a pena no
cabelo preto e crespo do Velho Waiden. O Ancião humano deu a Marda
uma tigela de mingau em troca, junto com um sorriso suave. Marda se
empoleirou no banco e escutou enquanto os seus colegas madrugadores
discutiam sobre os acólitos que haviam saído para forragear antes do
amanhecer, enquanto os mais novos dedicantes se instalaram e o progresso
da construção do grande empreendimento da Mãe: uma nave para percorrer
a Trilha por toda parte da galáxia. A Olhar Elétrico estava quase pronta, e
Marda escondeu a sua ansiedade no último mingau. Ansiava por entrar na
nave e ir com a Mãe e os seus acólitos mais próximos, os Filhos, até as
estrelas. A prima de Marda, Yana, foi uma das crianças sortudas. Arrancada
do resto dos membros antes mesmo de usar o seu próprio ícone azul da
Força livre, Yana serviu a Mãe nos últimos três anos. Ao mesmo tempo, a
Mãe havia escolhido Marda para supervisionar os Pequeninos, os
verdadeiros filhos dos membros da Trilha, que precisavam aprender o
básico das filosofias e técnicas agrícolas da Trilha... sem falar da leitura e
da escrita. Agora que Marda já era maior de idade, queria se juntar à... para
não falar de leitura e escrita. Agora que Marda já era maior de idade, queria
se juntar às crianças e a sua prima também. Levar as suas habilidades de
ensino e a sua compreensão pura da Trilha da Mão Aberta para fazer
proselitismo através da Orla Exterior. Agir em nome da Força.
Esse era o chamado de Marda. Sabia disso. Podia sentir isso.
— Vai ser bom ver Ferize e os seus parceiros novamente. — disse Efrik,
um dos humanos adultos do círculo externo de acólitos. — Ninguém é tão
bom em encontrar sarroot quanto Er Dal.
— Acredito que a eclosão será hoje. — Falou Marda .
Efrik sorriu, e a antecipação percorreu toda a mesa.
Ferize e os seus parceiros ficaram isolados em sua cela de nidificação
por quase seis semanas.
— Isso é maravilhoso. — disse Efrik. — Que dia auspicioso para isso...
O dia de descanso de Ferdan é hoje, e o Arauto e o Conselho dos Anciãos
sugeriram que convidássemos aqueles recém-chegados da nave de
refugiados de Eiram que desembarcaram há dois dias aqui para se abrigar.
— Será uma boa maneira de dar as boas-vindas aos novos irmãos. —
acrescentou Jezra'lin... era uma criança Mon Calamari, e os seus olhos
bulbosos piscaram enquanto falavam.
— Precisamos das pessoas depois deste inverno. — Mykge disse
amargamente. A pele pálida dele grudava nos ossos, e Marda baixou o olhar
para não deixá-lo ver a sua desaprovação por sua atitude. Tinha sido um
inverno muito difícil para a Trilha, graças a uma terrível raia de frio e a um
verão muito úmido antes. Eles estavam com muita fome e muito frio por
meses. Mas esse era o modo de vida em harmonia com a Força. Essa era a
liberdade da Mão Aberta. E a Mãe proveu para eles o melhor do que eles se
proveram antes dela chegar.
— Os refugiados não terão muito o que trazer. — Efrik disse a Mykge.
Marda respirou fundo. Precisava estar disposta a defender a Trilha até
mesmo dos seus próprios membros se quisesse ser escolhida para trabalhar
ao lado da Mãe.
— O que eles têm será suficiente, se for oferecido gratuitamente.
O silêncio seguiu as suas palavras. Efrik fez uma careta, mas assentiu, e
Jezra'lin se inclinou para Marda. E disse:
— Posso ir com você verificar a eclosão?
— Por favor. — disse Marda, e terminou o seu mingau.
Outra pessoa começou a colher trepadeiras esféricas dos galhos das
árvores do rio para enfileirar ao redor do jardim para torná-lo mais festivo
em homenagem à eclosão e acolher aos novos refugiados.
Enquanto todos consideravam as melhores decorações e se ainda
tivessem mel suficiente para fazer doces de corda, Marda lavou a sua tigela
e a devolveu com os outros, beijou o Velho Waiden, que se importava com
o pote comunal, e acenou para Jezra'lin segui-lo se ainda desejou.
Juntos, caminharam mais fundo no complexo, sob os seis pinheiros
d'água arqueados, em direção à entrada do complexo subterrâneo que
abrigava os depósitos da Trilha, com as celas de inverno comunitárias e as
celas de nidificação. Jezra'lin conversou o tempo todo sobre nada, o que
Marda achou cativante. Mon Calamari era como um passarinho feliz,
pulando vários passos para cada um de Marda, com os seus movimentos
espasmódicos, mas cheios de vida.
O complexo subterrâneo foi construído em cavernas naturais no sopé da
antiga cadeia de montanhas. De cima, a Trilha da Mão Aberta parecia ser
um grupo de treze ou mais pequenas construções mais cinco aglomerados
de celas pessoais, construídas com tijolos do granito local rosa escuro
vívido. Mas dois dos edifícios escondiam sumidouros naturais que haviam
sido modificados em entradas seguras para as cavernas.
Os primeiros colonos que fundaram a Trilha mais de um século antes
descobriram as cavernas como um presente da Força... lares quentes e
prontos pra eles. Eles construíram as paredes dos sumidouros ao longo do
tempo, cavaram Pequeninos canais na rocha para obter luz e ar e instalaram
um sistema muito modesto de canos de encanamento, tornando tudo
bastante habitável.
Marda digitou o seu código de acesso, então ela e Jezra'lin desceram. O
ar estava quente e úmido no subsolo, e as luzes piscavam à medida que
avançavam.
O zumbido da cela de nidificação os alcançou quase imediatamente, e
Marda sorriu para Jezra'lin... o zumbido era como ela sabia que a eclosão
seria em breve. Na porta da cela, Marda arranhou delicadamente com as
unhas afiadas. Ouviu uma voz lá dentro e acenou para Jezra'lin abrir a porta.
Deslizou para o lado, e entraram rapidamente antes de fechá-la, para
preservar o calor úmido que a Kessarine preferia para eclosão.
Jezra'lin pegou a mão de Marda enquanto os seus olhos se acostumavam
com o suave brilho rosa-prateado. A cela de nidificação era da mesma pedra
rosa escuro que o resto das cavernas, mas a cúpula era raiada com estrias de
opala do sol que brilhavam e brilhavam entre camadas de rocha. Na
superfície diretamente acima deles, pequenas poças de opala estavam
voltadas para o céu e, à medida que o sol nascia, as veias atraíam luz para
dentro da câmara de nidificação.
O cascalho fino sussurrou sob as suas sandálias enquanto os dois se
aproximavam.
Cinco ovos perfeitamente esféricos encostados no centro da caverna,
brilhando como pérolas amarelas opacas. Ferize se agachou ao seu lado,
com uma mão em uma e a sua cauda aberta para pegar os ovos... e os seus
dois parceiros, ambos menores que Ferize, mas com várias caudas cada.
Um roncava baixinho, a cabeça enterrada entre dois ovos; o outro acenou
com dedos palmados para Marda. Manteve as mãos abertas, palmas pra
fora, e acenou com a cabeça em saudação. Então cutucou Jezra'lin para
fazer o mesmo. Juntos foram ajoelhar-se ao lado de Ferize.
— Será hoje? — Marda perguntou baixinho.
— Será dentro de uma hora. — disse a mãe Kessarine.
Marda estendeu a mão e encostou três dedos no ovo mais próximo,
tomando cuidado com as suas unhas afiadas que pareciam garras. A casca
do ovo estava quente e muito dura. Quando eles foram colocados, eles eram
mais macios, quase gelatinosos. Marda traçou três linhas onduladas contra o
ovo e murmurou:
— A Força estará livre.
As bochechas de Ferize mergulharam no sorriso de sua espécie, então
Marda ofereceu o mesmo aos quatro ovos restantes enquanto Jezra'lin quase
vibrava de excitação. Quando Marda deixou a mão no último ovo, ele
balançou sob sua palma.
Ambos os parceiros de Ferize se sentaram em atenção. Eles se
aproximaram, falando rapidamente em sua própria língua, então aquele que
havia acenado para Marda disse:
— Tempo.
As três Kessarine começaram a cantarolar junto com o ronronar
ambiente de seus ovos, mas mudaram o tom aqui e ali. Marda apertou as
mãos e disse a Jezra'lin:
— Apresse-se e vá contar aos Anciões.
Mon Calamari saltou e saiu correndo.
Na turva luz rosa prata, Marda observou o primeiro ovo se partir.
Os pais cantarolavam e arrulhavam de forma encorajadora, e antes do
primeiro bebê nascer, outro ovo começou a quebrar também. Marda juntou
cacos de conchas e os enfiou em um canto na parede da caverna para mais
tarde. O seu corpo inteiro vibrava com a emoção do nascimento, como se
pudesse sentir a própria Força ficando mais forte com a nova vida.
O suor escorria por sua espinha enquanto pegava um dos bebês,
segurando o seu corpinho enrolado com as duas mãos enquanto Ferize
limpava os fluidos nodosos e se virava para o próximo ovo, deixando
Marda com o bebê. Pesava tão pouco, respirando rápido com um pequeno
gemido angustiado.
Marda beijou a sua testa pegajosa e riu, tonta. Os seus minúsculos
dentes de ovo se projetavam como presas, e sabia que eles cairiam em
breve... se perguntou se deveria estar pronta para pegá-los. Eles tinham uso?
Marda sorriu grande o suficiente para mostrar os seus próprios dentes
afiados, embora os olhos do bebê mal estivessem abertos,semicerrados e
com crostas de fluidos de eclosão. Oh, deveria lavá-lo.
Nesse momento, Ferize lhe entregou outro bebê, e Marda embalou os
dois enquanto os pais se concentravam nos ovos restantes. Marda se sentou
com as pernas cruzadas ao lado da pia e jogou um pouco de água fria na
bacia. Acomodou os bebês nas dobras dos joelhos e os lavou
cuidadosamente.
Quando todos os cinco ovos eclodiram, os olhos do primeiro bebê
estavam arregalados, e ele mordeu a ponta da trança preta e lustrosa de
Marda. Um dente de ovo havia caído, mas o do segundo bebê estava
intacto.
— Marda. — veio a voz familiar e risonha de sua prima Yana. A garota
mais velha se agachou ao lado dela, completamente vestida com a sua
túnica infantil verde e dourada, completa com botas e blaster amarrados
debaixo do braço. Marda franziu a testa para a arma.
Então percebeu que a cela de nidificação estava cheia de membros da
Trilha. Pelo menos trinta, amontoados contra as paredes estriadas de opala,
sorrindo e cuidando da família recém-expandida. Ferize e os seus parceiros
se apoiaram nos ombros um do outro, com os seus rabos emaranhados
confortavelmente juntos.
— Ah, todo mundo está aqui. — disse Marda. Entregou um dos bebês
para Yana, que fez uma careta, mas aceitou. Marda ficou de pé com o outro
bebê no braço e deu um tapinha na testa nua e cinzenta de sua prima.
— Onde está o seu ícone?
— Eu estava com pressa. — disse Yana, estalando os dentes afiados de
brincadeira para o bebê que segurava longe do corpo com as duas mãos.
— Assim. — Marda mostrou a ela, mas então Yana riu e deu o bebê
para Jezra'lin, que estava pulando na ponta dos pés ao lado dela.
— Não preciso segurá-los. Há tantos dispostos e ansiosos.
Mas vamos, prima, vamos limpar você também.
Relutante, Marda levou o bebê dos seus braços para Ferize. A Kessarine
puxou a trança de Marda afetuosamente, e Marda deixou a sua prima
arrastá-la para longe da cela de nidificação para a luz do dia.
Marda suspirou satisfeita quando Yana a puxou pelo complexo e saiu
para os campos.
— Onde vamos? — disse Marda, e Yana bufou e apontou o queixo em
direção ao rio.
Então elas correram. Yana era mais velha e mais forte, com botas mais
resistentes, mas Marda era rápida... perdeu de qualquer maneira, e Yana
esperou na margem, então chocou Marda a levantando do chão e jogando-a
direto na água.
Gritando, Marda se deixou cair, completamente vestida, e afundou no
fundo lamacento do rio. Espreguiçou-se, deleitando-se com as sensações da
corrente enquanto se arrastava em o seu corpo e puxava o seu cabelo livre
de sua trança. O rio a cercava, e mesmo quando ela subia ofegante, ele
grudava na pele e no cabelo, e Marda se deliciava com isso. Era a vida, era
a Força, era a liberdade da Trilha. Eles tinham cinco novas vidas entre suas
fileiras, e mais refugiados se juntariam a eles; ela sabia disso.
Uma vez limpa, Marda torceu o cabelo e a túnica, depois os colocou de
volta antes de sair para se juntar a Yana na margem. A sua prima se
encostou a uma árvore, brincando distraidamente com os rolos de casca que
caíam do tronco.
— Preparar-me? — ela perguntou.
— Preciso reaplicar o meu azul. — respondeu Marda. — Tem alguns na
minha cela.
Caminharam em silêncio, companheiras do lado de Marda, expectantes
do lado de Yana. Mas nenhuma das duas falou até que Marda vestiu uma
túnica limpa e ofereceu a Yana o pote de azul para aplicar. Fizeram-na uma
pela outra, murmurando:
— A Força estará livre.
Marda não conseguia se lembrar de um tempo antes de viver com a
Trilha da Mão Aberta, mas suspeitava que Yana sim. Elas eram as únicas
duas Evereni ali, ou em qualquer lugar que conheciam: com ossos longos e
pele cinzenta brilhante, dentes e unhas afiadas e olhos negros sólidos que
refletiam apenas azul escuro. Um homem em Ferdan as chamou de
“assassinos de planetas” uma vez, e Yana rosnou pra ele, mas Marda não se
importou.
Evereni também fazia parte da Força. Eles eram muito jovens na época,
antes de Yana encontrar o seu lugar entre os Filhos, antes de Marda
compreender verdadeiramente a liberdade da Trilha.
Com as ondas de azul combinando em suas testas, era ainda mais óbvio
que elas estavam relacionadas, embora o trabalho e a posição de Yana a
tivesse aumentado, enquanto Marda permanecia ágil e ossuda por falta de
alimentos ricos. Mas convinha a ambas, dando-lhes um perigo agudo que
Yana aproveitava ao máximo e Marda mitigava com olhos baixos e modos
gentis até parecer mais delicada.
Elas voltaram para o jardim principal do complexo para ajudar nas
festividades. O silêncio amigável delas permaneceu até que uma nave
cargueiro partiu da cidade vizinha de Ferdan e disparou pelo céu.
O ronco do motor assustou um bando de marcrows que se espalharam
como os arco-íris de um prisma contra o céu azul profundo.
Yana parou para ver o cargueiro desaparecer na atmosfera e disse:
— Vamos embora de novo esta noite.
Marda conteve um suspiro.
— Eu quero ir.
— Você não pode. — Yana disse com desdém. Ela começou a andar
novamente. — Não é o seu tipo de trabalho.
— Posso fazer o que você puder, Yana. — insistiu Marda. A nuca dela
esquentou de excitação, apesar de seu cabelo ainda molhado cair
pesadamente. — Posso alcançar novas pessoas. Eu posso recrutar! Espalhar
a palavra. É tudo que eu quero. Eu sou boa nisso.
— Orgulhosa. — provocou Yana.
— Verdadeira. — rebateu Marda. — É importante ter confiança quando
representamos a Trilha.
Yana tocou o seu pulso.
— É só uma Criança.
— Estou pronta. Eu posso servir a Mãe... Eu sei que posso. Ela está
muito em harmonia com a Força, com a Trilha, Yana. Posso aprender a
fazer parte de uma nave, parte dos Filhos.
Yana olhou de soslaio pra ela, com algo em sua expressão que Marda
não entendeu. Era muito suspeito.
— Você sabe o que mais fazemos.
Marda sentiu as bochechas esquentarem.
— Liberar artefatos da Força daqueles que abusariam deles.
— Libertar. — Yana bufou com diversão. — Roubando.
— É necessário equilibrar a Força, servir à Força. — Marda ergueu o
queixo teimosamente. — A Mãe tem visões, dádivas da Força, para que
você saiba onde é necessário, como adquirir os artefatos.
— Eu sei como funciona, prima.
Marda suavizou a voz.
— Eu aprendo rápido. Você poderia me ensinar.
Yana parou. Estudou Marda. Às vezes Yana fazia algo com a sua
expressão e os seus olhos para que nem mesmo Marda pudesse lê-la. Marda
sabia que Yana acreditava na Trilha e servia a Mãe diligentemente, e até
gostava das missões fora do mundo. Mas às vezes se preocupava que o que
Yana queria para o futuro fosse um caminho divergente do seu.
Finalmente, Yana disse:
— Você pode pedir, mas ela vai dizer não.
Marda estalou os dentes afiados com determinação.
O pátio central do jardim ressoava com conversas e sinos tilintantes,
trepadeiras esféricas em todos os tons de verde e azul balançando nas
cordas do pátio. Haviam flâmulas e buquês de galhos sempre azuis, e
fumaça branca de incenso enrolada nos quatro cantos. Marda viu Ferize e os
seus parceiros acolchoados em cobertores e segurando os seus novos bebês
para que todos cumprimentassem. Na mesa comprida havia tigelas de cidra
e pequenas torres de doces de mel, algumas garrafas de vinho gnostra berry
provavelmente da cidade, e frutas cristalizadas e caixas de doces certamente
da cidade. A maioria das pessoas usava as túnicas simples da Trilha, mas
havia outros, recém-chegados e visitantes. Dois Pequeninos droides perto
da estrada para a cidade projetavam música concorrente, e Marda quase riu
enquanto lutavam com percussão.
Mas então viu a Mãe.
Ah, ela era tão bonita e brilhante, em sua túnica azul com forro prateado
e um elaborado xale de cabelo. Ela sorriu enquanto conversava com um
punhado de pessoas da cidade. Eles se inclinaram em direção a ela, tão
afetados quanto todos quando a Mãe chamou a sua atenção.
Embora Marda tivesse a intenção de tomar um gole de cidra e
cumprimentar primeiro os convidados de honra, sentiu a mesma compulsão
e caminhou diretamente até a Mãe. A sua cabeça latejava. Este era o
momento. Tinha sido uma manhã gloriosa, uma manhã com nova esperança
e expansão da Força viva. Auspicioso, dissera Efrik, e, ah, sim, era. Marda
pensou que talvez ela também estivesse brilhando, com harmonia e vida.
Quando alcançou a Mãe, a Mãe se virou e a avistou. Os seus quentes
olhos castanhos se arregalaram de prazer e, antes que pudesse falar, Marda
caiu de joelhos.
— Mãe. — disse ela, com as mãos abertas ao lado do corpo. Inclinou o
queixo pra cima. — Mãe, deixe-me ir com vocês. Deixe-me ficar com
vocês, manter minhas mãos abertas com vocês e espalhar nossa mensagem,
não, a nossa verdadeira compreensão da Trilha com as pessoas da Orla
Exterior. Estou pronta.
A Mãe a estudou enquanto aqueles reunidos perto ficaram quietos em
um silêncio de antecipação. Apenas a música estrondosa dos droides
interrompeu a brisa suave e a conversa da família encontrada de Marda.
Quando a Mãe estendeu a mão pra ela, Marda sorriu. A Mãe tocou a
têmpora de Marda, bem na borda de suas linhas azuis. Ela acariciou a sua
bochecha, como um gesto de amor, e Marda se inclinou para ela.
Mas então a Mãe, com aquele sorriso beatífico, disse:
— Não.
Yana Ro se encostou a uma das mesas de comida, um banquete para a
Trilha, mas uma ninharia em comparação com a abundância que os Filhos
desfrutavam regularmente fora do mundo, e colheu uma pilha de frutas.
Não estava com fome; era apenas algo para fazer além de ver a sua prima se
envergonhar mais uma vez.
Mas, apesar do aborrecimento que sentiu ao saber que Marda não
seguiria o seu conselho, Yana não foi capaz de manter o olhar longe de sua
prima quando se aproximou da Mãe e caiu de joelhos.
— Sua gloriosa tola. — sussurrou Yana, sabendo o momento exato em
que a Mãe rejeitou o pedido de Marda mais uma vez. Os seus ombros
caíram, apesar da mão da Mãe em sua têmpora. Marda queria tanto ser uma
dos Filhos, mas apesar de sua fé obviamente profunda na Força e na Mãe,
ela era muito séria para ser uma ladra. Mesmo um justo.
— Oh não. Marda está defendendo o seu caso novamente? — veio uma
voz familiar.
Yana olhou por cima do ombro para ver Kor Plouth, filha do Arauto e
namorada de longa data de Yana, se aproximando. A Nautolana passou os
braços ao redor da cintura de Yana, mechas da cabeça cutucando a orelha de
Yana enquanto ela enganchava o queixo sobre o ombro de Yana. Kor
inclinou a cabeça e franziu a testa, seus grandes olhos escuros sem pupilas
se estreitando.
— Você está chateada.
— Frustrada. — Yana esclareceu. Às vezes, a sensibilidade das tranças
da cabeça de Kor e a sua capacidade de detectar as pequenas mudanças de
feromônio que as emoções causavam no corpo de Yana eram irritantes. Mas
Kor tentou apenas porque ela se importava, então Yana estendeu a mão e
acariciou uma mecha amorosamente. — Marda nunca vai acabar sendo uma
de nós. E me dói que ela continue perseguindo isso.
— Você não pode culpá-la por ter objetivos. Especialmente os altos. —
disse Kor, enrolando a mão no pescoço de Yana em uma carícia. Yana se
derreteu nele assim que Kor se afastou. — Venha. Cincey está preparando a
instrução. Você não vai querer se atrasar.
Yana assentiu e deu um último olhar para Marda, ainda ajoelhada na
grama, mas cercada por alguns dos Anciões, que a confortavam com
tapinhas e palavras suaves, antes de seguir os passos largos de Kor pela
planície.
A maioria das moradias da Trilha ficava na rede de cavernas
subterrâneas, um alojamento econômico que os Anciões diziam que a Força
havia fornecido naturalmente. Mas também havia um punhado de anexos
em ruínas, casas atarracadas para as famílias maiores e para aqueles que
eram frágeis demais para fazer a caminhada pelo subsolo. Atrás de tudo isso
estava o domínio de Cincey, um prédio que parecia pouco mais que um
casebre. Mas, na realidade, era o centro nevrálgico da Trilha, um lugar onde
as comunicações eram enviadas e recebidas.
Enviar mensagens para entes queridos fora da Trilha não era proibido,
mas definitivamente era desencorajado. O contato com pessoas de fora do
grupo poderia facilmente manchar a Trilha. Cincey, uma humana de não
mais de vinte anos de pele escura e uma risada aguda, gerenciava as
comunicações, censurando as mensagens enviadas quando necessário em
nome dos Anciões. Mas um trabalho muito mais importante era a
informação que eles coletavam. Esses dados facilitaram o caminho para os
Filhos cumprirem o seu verdadeiro propósito fora do mundo.
Cincey girou a sua cadeira flutuante quando Yana e Kor entraram, com
um sorriso no rosto.
— Finalmente! Eu estava prestes a enviar o Treze para encontrá-las.
Um Mikkiano de pele rosada estava empoleirado em uma mesa
próxima, com os tentáculos de sua cabeça balançando enquanto ouvia a
conversa. Ele girou uma faca de arremesso entre os dedos e riu.
— Não acredito que vocês duas foram para aquele banquete de
recrutamento.
— Não foi só para recrutamento. Kessarine eclodiu. Há também uma
nova vida para celebrar. — disse Kor, com o seu olhar sombrio desafiando o
Treze a dizer alguma coisa. De todos os Filhos, Kor era a mais dedicada à
sua crença nos ensinamentos da Trilha. A sua família devia tudo a Trilha, e
desde que a mãe de Kor, Opari, adoeceu, eles se tornaram ainda mais
devotos. O que realmente dizia alguma coisa, já que o pai de Kor era o
Arauto e passava a maior parte de seu tempo a serviço da Mãe e do
Conselho dos Anciões.
Treze achava tudo um pouco bobo e muitas vezes dizia que a sua
família havia se juntado à Trilha para evitar as suas dívidas mais do que
qualquer outra coisa. Cincey se juntou sob a influência da Mãe, porque era
melhor do que roubar nos níveis mais baixos de Coruscant. Yana não se
lembrava de uma vida antes da Trilha. Ela e Marda foram trazidas para
Dalna ainda crianças depois de um terrível ataque que matou os seus avós e
o pai de Yana. A Trilha era tudo o que Yana conhecia, mas quando ouviu
Marda ou Kor falarem sobre como a Força deveria ser livre, o fervor
entrelaçando as suas palavras, foi duramente pressionada para se sentir
qualquer coisa, menos entediada. A Força era só mais uma parte da galáxia,
nada tão especial até onde sabia. Exceto em como as pessoas fanáticas
podem chegar a isso. Mas a Trilha estava em casa... por enquanto. Tanto
quanto um Evereni poderia ter.
Embora Yana não se importasse com a Trilha, amava o trabalho dos
Filhos. E era difícil não querer impressionar a Mãe.
Desde que a Mãe havia chegado vários anos antes, com as suas visões
da Força e paixão pela liberação, a Trilha parecia mais segura. Maior.
E até o Treze observava a Mãe com admiração.
— Então, o que estamos procurando desta vez? — Yana perguntou.
Cincey apertou alguns botões, e um holo brilhou para a vida: um estilete
estreito com uma lâmina preta.
— É uma adaga da Força, e a mensagem dizia explicitamente que não
devemos desembainhá-la. Aparentemente, há rumores de que é maligna ou
algo assim, e pretendia cortar alguém da Força viva com um único corte.
— Isso é impossível. — disse Kor, afastando-se do holo com horror.
— A Força faz parte de nós. Faz parte de tudo.
— Melhor prevenir do que remediar. — murmurou Yana, empoleirando-
se em um banquinho alto enquanto Kor se sentava ao lado de Treze na mesa
solitária da sala. Treze murmurou algo para Kor, e o seu olhar deslizou para
Yana, mas Yana ignorou. Provavelmente era só mais uma ração bantha de
Treze sobre nunca confiar em um Evereni. Yana conhecia a reputação que a
sua espécie tinha em toda a galáxia, e ela conversou com Kor sobre isso
mais de uma vez. Kor entendeu, e nada que Treze dissesse seria capaz de
distorcer seus sentimentos. Yana achou isso um pouco ingênuo, mas
também cativante. Quase o suficiente para se apaixonar.
Ser Evereni era aprender que confiança era fraqueza, e era uma das
lições que Yana levara a sério. Ela se lembrou das histórias de como a
família deles foi massacrada na calada da noite, e esteve na galáxia o
suficiente para saber que a vida era morder ou ser mordida. Era uma das
razões pelas quais queria que Marda permanecesse em Dalna: que uma
delas fosse melhor do que o resto de seus parentes. Marda confiava e se
importava com os outros; nunca tinha aprendido a trancar o seu coração
mole.
Sair pela galáxia a quebraria. Nem todos eram tão gentis quanto a
Trilha. Nem todo lugar tinha a Mãe.
— Yana, você acha que pode hackear? — disse Kor, tirando Yana de
seus pensamentos.
Yana piscou e olhou para a holoprojeção no meio da mesa. O estilete
tinha sido substituído, e olhou para a maquete do sistema de segurança.
— Acho que vamos descobrir. — disse ela, sem se dar ao trabalho de
admitir que tinha perdido o que Cincey havia dito antes. O humano tinha
um temperamento difícil, e Yana não estava com disposição para uma de
suas birras habituais.
Ainda assim, o olhar de lado que Cincey deu a ela deixou claro que eles
sabiam que ela não estava prestando atenção.
— Certo, então só para repassar isso mais uma vez: a adaga está sendo
guardada em um armário da República em Porto Haileap, entre uma
coleção de várias outras armas, que podem ou não ser artefatos da Força. A
mensagem que recebemos de nosso contato dizia que a adaga do mal
obscurecia a visão dela dos outros. As docas e a estação em si são bem
novas, mas ainda não tiveram tempo de implementar nenhum protocolo de
segurança. Todos vocês se prepararam com a música e a dança de sempre.
'Junte-se a Trilha, proteja a Força, blá blá blá.' Treze acionará este alarme de
incêndio aqui no corredor principal para distrair os oficiais enquanto Yana
corta o sistema de segurança para abrir a área segura. Kor pegará as
mercadorias e, uma vez que elas estejam seguras, você se juntará ao resto
dos Filhos na tentativa de reunir novos membros para a Trilha. Alguma
pergunta? — Cincey disse, olhando direto para Yana.
— Como vamos chegar lá? — Kor disse.
Cincey assentiu.
— Treze terminou de consertar a matriz com defeito na Harmonia esta
manhã, e Yana, você tem o novo registro pronto?
Yana assentiu.
— Comecei assim que voltamos da última vez. O Arauto está
preocupado com a atenção indesejada após o objeto que libertamos de
Hynestia.
O Arauto era o líder original da Trilha, guiando-os sob o conselho dos
Anciões, embora agora todos ouvissem primeiro a palavra da Mãe. Ela era
uma profeta, afinal. O pai de Kor era um homem sério e solene, com tranças
violentamente cortadas por causa de um incidente em sua juventude. Como
tantos membros da Trilha, ele veio para Dalna ainda muito jovem, em busca
de um lugar onde fosse aceito e apreciado apesar de sua deficiência. Ele
havia resistido ao trabalho dos Filhos inicialmente, mas a compreensão
clara da Mãe sobre a Força e a paixão óbvia por coletar artefatos da Força
para mantê-los seguros o conquistaram. Em vez de simplesmente viver em
harmonia com a Força, eles agiram para criar um melhor equilíbrio na
galáxia.
— Era um ato glorioso. — disse Treze com um sorriso melancólico,
com os seus tentáculos na cabeça rosa acenando lentamente, hipnotizando
pela forma como ondulavam. — Entrando e saindo antes que eles
percebessem. Por que todos eles não podem ser tão perfeitos?
— Porque algumas pessoas esquecem que nem tudo é uma audição para
um holo show. — disse Kor, levantando-se. — Vamos indo. Quanto mais
cedo pudermos chegar lá e voltar, melhor. Não quero perder o Dia do Nome
dos filhotes. Já é ruim o suficiente termos perdido a eclosão.
— A Força perdoará a transgressão. Especialmente quando terminarmos
de financiar a construção da Olhar Elétrico e pudermos espalhar a
mensagem da Trilha por toda a galáxia. — disse Cincey. — Você sai
amanhã, mas vai ser uma reviravolta rápida. É melhor você não perder o
nomeação. O Arauto não é tão indulgente quanto a Força.
Yana, Kor e Treze deixaram Cincey e começaram a caminhar em
direção a Ferdan, a cidade próxima onde atracaram a nave da Trilha.
Haviam quartos lá onde eles passariam a noite, fora da vista da Trilha, para
se prepararem melhor para o próximo trabalho. Yana sabia que era porque o
Arauto queria ofuscar ao máximo as suas idas e vindas. Mas também era
uma chance pra eles se soltarem antes de um grande trabalho. Uma vez na
cidade, tirariam as suas vestes e se divertiriam, com as suas
responsabilidades esquecidas por um momento glorioso antes que o
trabalho começasse.
Kor passou o braço pelo de Yana, e Yana sorriu pra os olhos estreitos de
Treze.
— O que vocês dois estavam cochichando? — Yana disse quando o
Mikkiano pisou na frente, claramente irritado com a demonstração de afeto
de Kor.
— Oh, nada. Só a sua estática habitual.
Yana assentiu enquanto Kor mudava de assunto para uma discussão
sobre os filhotes de Kessarine. Mas secretamente estava se perguntando em
que ponto Treze sobreviveria a sua utilidade.
Porque assim que isso acontecesse, Yana lhe mostraria o quão traiçoeiro
um Evereni poderia ser.
Quando o esquife irrompeu a atmosfera de Dalnan, Kevmo Zink não
conseguiu ficar parado. O seu calcanhar esquerdo dançando levemente
contra o deque de metal era a única saída para a sua energia. O resto dele se
concentrou em guiar os controles enquanto pilotava em direção ao farol de
ancoragem em Ferdan.
Kevmo ainda não conseguia ver a cidade, mas passou pelos picos de
três vulcões em direção à floresta roxa e verde a seus pés. Queria parar e
virar a nave para um passeio ao redor da borda norte deste supercontinente
enquanto os sóis vermelhos brilhavam. Os esquifes realizavam acrobacias
excelentes, e o céu estava perfeito. Mas eles estavam em uma caçada, e
Kevmo sabia por experiência própria que o seu argumento de que as
acrobacias realmente o ajudavam com o seu foco e o seu relacionamento
com a Força não funcionaria com a sua mestra. E... provavelmente era o
melhor.
— Kevmo. — disse a Jedi Soikana em sua voz mais fria.
Parou de mexer a perna e sorriu se desculpando sem olhar pra ela.
Respirando fundo, Kevmo acalmou os seus pensamentos e acalmou os
traços de sua constante preocupação. Verificou os rumos do esquife e
apertou o botão de comunicação, indicando a sua aproximação ao farol. Na
Orla Exterior, os portos menores geralmente não eram supervisionados, e
Ferdan não era exceção, com apenas um droide gerenciando o farol. Não
fazia absolutamente nenhum sentido que o Bastão Hynestiano das Estações
tivesse sido contrabandeado até Dalna. No entanto, lá estavam eles.
A rainha Hynestiana ficou furiosa por ter o seu bastão roubado e exigiu
a ajuda dos Jedi, mas os culpados não deixaram nada pra trás. Eles entraram
e saíram com uma facilidade surpreendente, dada a segurança do palácio. O
roubo ocorreu durante uma época em que muitos grupos diferentes de
pessoas visitaram a capital, mais do que o habitual graças a um festival
local. Kevmo e Zallah passaram horas vasculhando as evidências da
imigração em busca de possíveis pistas, e a melhor delas era que um grupo
missionário de Dalna havia se registrado nas autoridades portuárias durante
dois dias. E havia um boato de que havia um comprador especialmente
interessado em artefatos relacionados à Força em Dalna.
O planeta não era uma prioridade para os Jedi porque ninguém havia se
ferido e até então não haviam roubos óbvios envolvidos... até onde eles
sabiam. Todos tinham direito à Força, desde que quaisquer artefatos fossem
adquiridos legalmente e com segurança.
Esta parte de Dalna, vista de cima, parecia um paraíso agrícola fértil
para Kevmo. Vulcões cobertos de neve rodeavam o vale do rio.
Árvores roxas e verde avermelhadas altas e espalhadas pela beira do rio,
derramando-se em uma campina ondulante que brilhava com grandes
depósitos de opala como piscinas de arco-íris. A cidade de Ferdan não
parecia grande coisa, mas Kevmo apostou que eles tinham frutas e produtos
de panificação realmente deliciosos lá.
O droide que administrava o farol a bombordo os reconheceu, e Kevmo
guiou o esquife em sua descida final.
Foi uma aterrissagem simples e, no momento em que o trem de pouso
fez contato, Zallah soltou o cinto de segurança e saiu da cabine.
Kevmo colocou o esquife em seus procedimentos de desligamento e se
juntou a ela para pegar as suas coisas. Eles ficariam em Ferdan, porque
embora Kevmo e Zallah não estivessem atualmente designados para uma
equipe de Desbravadores da República, parte de sua missão continuava
sendo fazer esse trabalho: apresentar-se aos locais para aprender o máximo
possível sobre as suas necessidades e opiniões, explorar locais em potencial
para futuros postos avançados do templo e procurar por crianças sensíveis à
Força.
A maioria dos planetas que eles visitavam tinham as suas próprias
populações nativos sensitivas, mas nada como isso jamais evoluiu em
Dalna, e o planeta havia se estabelecido de uma maneira notavelmente
casual.
Provavelmente graças ao cinturão instável de supervulcões que
basicamente rodeava todo o planeta. Ainda assim, eles estavam quietos há
mais de um século, e Ferdan era o coração de um dos vários centros
agrários, bem como um aparente Entreposto de contrabandistas do mercado
aberto. Bem no meio de uma enorme caldeira subterrânea.
Em seu beliche, Kevmo enfiou a capa na bolsa e amarrou as suas
pesadas tranças pretas na nuca, tomando cuidado para soltar a minúscula
trança de Padawan para cair sobre o ombro. Então a puxou, em um lembrete
de seu velho hábito quando a colocou pela primeira vez, porque a presença
daquela trança específica o confortava, lembrava aonde pertencia... assim
como as brilhantes tatuagens douradas do clã listradas em suas bochechas
azuis.
Então Kevmo sorriu pra si mesmo, animado, e correu para se juntar a
Zallah, que o esperava com as mãos entrelaçadas calmamente atrás das
costas.
Ela não o olhou, mas quando deu um passo ao lado dela, vibrando com
antecipação, houve uma pequena impressão no canto de seus lábios azul
gelo. Aprendeu a ler isso como uma micro expressão de diversão.
Ela inclinou a cabeça em indagação, e assentiu: estava pronto. Estendeu
a mão e apertou a alavanca para abrir o esquife.
Chamado da faixa de terra rosada onde Kevmo tinha estabelecido o
esquife um porto acabou por ser extremamente generoso. Kevmo riu
levemente com o barulho da lama quando a rampa de embarque se
estendeu. Mas o ar cheirava bem... como chuva e flores atrás do exaustor.
Concentrou-se o mais rápido possível e seguiu Zallah pela rampa.
A cidade se estendia em prédios curtos de um e dois andares de pedra
rosa e madeira pálida retorcida que claramente tinha sido arrancada de um
rio. Como muitos assentamentos de fronteira, era uma combinação de
construção local e habitações pré-moldadas. Para Kevmo, parecia cheio de
potencial. As pessoas lá não tinham muito, mas usavam de todas as
vantagens que tinham.
Eles pararam no escritório do porto e Kevmo preencheu o registro
necessário para estacionar o esquife, então pagou a taxa e um pouco mais.
Não pôde evitar. Haviam apenas duas outras naves no porto, um cargueiro e
um cruzador de passeio decadente, obviamente reaproveitado.
Ferdan precisava dos créditos.
Enquanto se dirigiam para a cidade, Kevmo absorveu tudo o que pôde
enquanto Zallah vagava ao seu lado. As ruas estavam cheias de pessoas de
toda a galáxia. Kevmo reconheceu muitas espécies... Mon Calamari,
humano, Chagrian, uma família de Grans, e até mesmo um Wookiee muito
longe de casa... mas haviam várias pessoas totalmente estranhas a ele.
Todos tinham o olhar cansado de refugiados e fazendeiros rústicos, e
prestavam pouca atenção a Kevmo e Zallah, apesar de seus mantos Jedi e
dos sabres de luz pendurados em seus cintos. Zallah atraiu olhares por sua
elegância e comportamento frio, mas Kevmo passou despercebido.
Lá eles eram tão ameaçadores quanto qualquer rosto novo. Kev gostava
do fato de que quanto mais perto de Coruscant, mais opiniões todos tinham
sobre os Jedi, e essas opiniões, boas ou ruins, ficavam no meio do trabalho
deles.
Em uma ampla encruzilhada, Zallah parou. O olhar dela o direcionou
para a taverna do outro lado da rua e para o holograma tremeluzente
projetado do beiral do primeiro andar declarando quartos para alugar.
Kevmo assentiu.
— Vou pegar os quartos e buscar informações no bar. — disse a sua
mestra. — Você vai ao mercado atrás de suprimentos e faz o que faz de
melhor.
Kevmo assentiu e lhe entregou a sua mochila. Ela quis dizer fazer
amizade com todos que encontrasse. Ao pôr do sol, teria o início de uma
rede de fofocas em Ferdan.
Zallah o estudou por um momento, depois disse:
— Lembre-se da diferença entre confiar em seus sentimentos e
expressá-los com entusiasmo.
Uma risada borbulhou de seu peito, mas conseguiu sufocá-la e apenas
sorriu em resposta. A pele azul-esbranquiçada ao redor dos olhos de Zallah
se contraiu em sua versão de revirar os olhos.
Com uma pequena reverência alegre, Kevmo deu meia-volta e partiu na
direção oposta da taverna, em direção ao movimentado mercado.
O sol da tarde brilhava no metal escuro das barracas alinhadas na rua do
mercado enquanto os vendedores gritavam em vários idiomas,
principalmente em suas formas mais básicas. Kevmo passou por frutas
vermelho rubi e vegetais folhosos alaranjados, nozes cristalizadas, galinhas-
do-mato já depenadas e penduradas pelas pernas.
Conversou com uma velha Rodiana que cuidava de uma barraca com
escudos solares pessoais, fascinando-a para que descrevesse um mapa dos
bairros da cidade. Uma família de humanos todos cobertos de sardas e
vendendo purificadores de água e potes elaborados de vegetais em conserva
na população local, incluindo o mais novo campo de refugiados de Eiram e
E'ronoh, e os cultistas próximos chamados de Trilha da Mão Aberta.
Esses foram os que estiveram em Hynestia Prime, mas Kevmo tentou
esconder o seu profundo interesse no alvo. O mercado fervilhava de pessoas
de toda a galáxia, esbarrando nele, gritando, rindo, pechinchando e Kevmo
aspirou tudo isso.
Queria parar no meio do mercado, cercado por todo aquele caos e vida,
e simplesmente se abaixar para meditar. A Força vibrava ao seu redor:
Kevmo tinha quase certeza de que poderia vibrar com ela se fechasse os
olhos e se soltasse. A Força era tão brilhante, assim como os sóis brilhando
no céu, e era barulhenta com luz e vida.
Kevmo teve que parar na sombra de uma barraca de suco, apenas para
lembrar de se concentrar. Era um ser vivo, uma parte da Força viva, mas era
ele mesmo. Eram esses limites que precisava manter, o que o separava dos
outros, do chão, do céu e das estrelas. Precisava bloquear a gloriosa paixão
da vida ao seu redor, e precisava comprar um jantar pra ele e pra Zallah.
Conectando-se a Força, acolheu o fluxo quente dela, deixando-se sentir
como ela pulsava em o seu coração, e então, assim que o inundou,
cuidadosamente e propositalmente estreitou as suas conexões. A Força
diminuiu, estrelas distantes em vez do sol ardente, e Kevmo sorriu.
Enxugou o suor da testa, jogou as tranças pra trás sobre o ombro e abriu
os olhos.
A primeira coisa que viu foi uma linda garota em túnicas simples sem
tingimento, cercada por crianças e flores. O seu cabelo preto era liso e
torcido em um nó em o seu pescoço cinza escuro, adornado com pequenas
flores brancas e amarelas. Três ondas azuis marcavam a sua testa,
lembrando-o de suas tatuagens de família. Ela sorriu docemente enquanto
virava uma das crianças, orientando-a a oferecer um pequeno buquê dessas
mesmas flores a um transeunte. Enquanto Kevmo olhava, a garota de
repente o olhou: os seus olhos eram pretos sólidos, tão negros quanto o
espaço, e por um momento poderia jurar que viu estrelas brilharem neles.
Kevmo nem tentou se impedir de seguir em sua direção.
Ela estava com um grupo de crianças... um Rodiano, um Mikkiano, dois
adoráveis Klatooinianos, três humanos, um Gran e um pequeno Mon
Calamari literalmente pulando no lugar. Eles ocupavam uma das mesas
enferrujadas naquela ponta do mercado disponível para qualquer um,
vendendo... não, dando... flores. Rosas brancas do rio flutuavam em tigelas
cheias de água, buquês de flores do prado desgrenhados, laranjas murchas e
penas aleatórias estavam espalhados pela mesa.
Eles tinham uma pequena faixa com as palavras de Aurebesh pintadas
em azul vívido: A Trilha da Mão Aberta. Liberdade, Harmonia, Clareza.
Oh. Iria direto para eles.
Kevmo parou ao alcance do braço da mesa e sorriu para a garota.
— Oi.
Os seus cílios tremularam quando ela desviou o olhar.
— Olá. — O olhar dela se voltou pro dele, como se ela não pudesse
fazer nada além de olhar pra ele.
Uma introdução ficou presa na língua de Kevmo enquanto a estudava,
sentindo-se ainda mais quente do que antes. Os seus lábios se separaram,
mas nenhuma de suas habituais conversas fáceis saiu. Queria...
De repente, a garota correu para agarrar o pulso da criança Rodiana que,
por sua vez, estava pegando o sabre de luz de Kevmo.
— Hallisara. — disse a garota em um pouco de pânico enquanto puxava
a mão da Rodiana.
Kevmo inclinou o corpo pra trás, soltando uma risada leve.
— Hallisara, não é? — Ele se agachou. — Não é um brinquedo, mas
aqui. — Soltando o sabre de luz, ele o segurou cuidadosamente com as duas
mãos. — Você pode tocar ali ao longo da empunhadura, delicadamente.
As antenas turquesa da pequena Rodiana se contraíram e ela estendeu a
mão para colocar um dedo esguio exatamente onde Kevmo havia indicado.
Os seus grandes olhos negros se arregalaram ainda mais e ela disse:
— Oh. — com muita reverência. Kevmo achava que os Rodianos viam
um espectro de luz diferente dos Pantoranos, mas não tinha certeza disso.
Pra ele, o seu sabre de luz era lindo, banhado a ouro vermelho e uma liga
que refletia o sol como espelhos, mas talvez a criança visse algo totalmente
diferente.
— O que é isso? — perguntou a garota encarregada de todas as
crianças.
— Um sabre de luz. — Kevmo olhou para ela. — Uma arma.
A sua linda boca desfez o sorriso. Os seus profundos olhos negros eram
incríveis, mesmo quando ela estava preocupada. Kevmo ainda podia ver a
luz neles, e a extensão de sombra cinza mais escura de volta para as suas
orelhas levemente curvadas. Não tinha ideia do que o seu povo era. Ela era
inteiramente nova para ele. E não queria acreditar que ela era uma ladra.
Levantou-se, segurando o olhar dela enquanto recolocava o sabre de luz no
cinto.
— Meu nome é Kevmo Zink. — disse ele. — Acabei de pousar em
Dalna.
A garota piscou e alisou as mãos em sua túnica simples.
— Eu sou Marda Ro, da Trilha da Mão Aberta. Estes são os nossos
Pequeninos mais velhos. — Ela indicou as nove crianças ao seu redor. Um
dos humanos se escondeu atrás do braço de Marda, a Mikkiana torceu duas
de suas gavinhas amarelas vívidas, os dois irmãos Klatooinianos esticaram
as suas mandíbulas inferiores para mostrar os seus grandes dentes
desgastados, e o resto sorriu pra ele.
— Gosto das suas tatuagens! — gritou o saltitante Mon Calamari,
piscando os seus olhos bulbosos um de cada vez.
Kevmo riu.
— Obrigado, jovenzinho. Eles eram da minha família biológica. — Ele
já tinha as tatuagens quando foi levado ao Templo e, embora honrasse os
versos da poesia Pantorana, os Jedi eram a sua família. Desviou o olhar para
as ondas azuis na testa de Marda.
Ela estendeu a mão como se fosse tocar, mas não o fez completamente.
— Estas são para a Força.
Kevmo se assustou.
— A Força! A Trilha da Mão Aberta é sobre a Força? — Isso explicaria
por que eles estavam envolvidos no roubo de artefatos relacionados à Força.
Se eles estivessem.
Marda assentiu lentamente, tímida ou hesitante diante do entusiasmo
dele.
Lembrando-se do conselho da sua mestra, Kevmo se controlou um
pouco.
— Conheço a Força. — disse ele gentilmente.
Só então a menor das crianças humanas gritou quando um suave caça
mel azul brilhante saltou em o seu ombro, onde deve ter ficado preso sob
seu emaranhado de cabelos ruivos. O caça mel abriu as membranas das asas
e deslizou pelo ar para pousar na cúpula da cabeça do Mon Calamari. A
criança riu enquanto o rosto do garoto humano abandonado se contorcia de
tristeza, e o Mon Calamari disse:
— Deve ser a minha vez, Simi!
O klatooiniano mais velho vociferou:
— Um presente dado livremente, Simi!
Acalmando as crianças provocantes, Marda gentilmente puxou os
cachos emaranhados de Simi para acalmar o choro do humano. Ela lançou a
Kevmo um olhar de desculpas.
Queria roçar os dedos ao longo do alto osso malar dela.
Kevmo desviou o olhar abruptamente, um pouco chocado consigo
mesmo. Não deveria estar pensando tais coisas.
Se recompôs lembrando de como precisava ser cuidadoso com os seus
apegos e de como era suscetível à fantasia e ao entusiasmo. Precisaria
gastar um tempo extra meditando esta noite e talvez se cansar
completamente treinando a sua postura com o sabre de luz. Ainda assim,
embora tudo isso estivesse em primeiro lugar em sua mente, Kevmo
arriscou olhar pra trás.
Marda esperou pacientemente, sem vergonha de ser pega olhando pra
ele enquanto ele se recompunha. A atração de seu olhar permaneceu forte
como um raio ardente. Kevmo conseguiu dar um sorriso torto.
Se virando, Marda pegou uma das rosas do rio de um balde.
Gotejou contra a mesa de metal enquanto ela o oferecia ao Simi.
— Você vai dar o presente para nosso novo amigo?
Kevmo esperou pacientemente que o garoto humano rastejasse por
debaixo da mesa e saísse para a rua ao lado dele, com a rosa aninhada nas
palmas das mãos em concha. Kevmo se agachou novamente.
— Um presente dado livremente. — Simi disse quase muito baixo para
ser ouvido no mercado caótico.
Kevmo estendeu a mão com a Força para levantar a rosa das mãos de
Simi e flutuou-a no breve espaço entre eles até que pudesse pegá-la na
ponta de seu dedo indicador.
Esperando risadas ou talvez até mesmo alguns aplausos encantados,
Kevmo franziu a testa com o súbito silêncio dramático. se virou para ver
todas as crianças boquiabertas, e a bela Marda olhando pra ele com horror
abjeto.
— Pare! — ela gritou, e Kevmo ficou tão assustado que a rosa do rio
saiu de seu dedo e caiu no chão.
O dia de Marda se iluminou consideravelmente quando viu pela
primeira vez o sorriso do Pantorano. Estava se sentindo melancólica depois
que a Mãe rejeitou o seu pedido para se juntar aos Filhos no dia anterior.
Apesar dos novos filhotes no ninho de Ferize, do dia lindo e do
agradável emaranhado de crianças sob a sua responsabilidade, não
conseguiu desenrolar o fio de decepção enrolado em sua garganta.
Decepção e algo pior: uma culpa corrosiva de que nunca seria
suficiente, por mais que trabalhasse, por mais que acreditasse, porque ela
era Evereni. Nem sabia por que o seu povo era desconfiado. Ninguém diria
a ela. Como se devesse aceitar isso, como a gravidade e o nascer do sol. Os
Evereni não eram dignos de representar a Trilha pela galáxia. Exceto por
Yana que era permitida, então tinha que ter algo errado com a própria
Marda.
A Mãe, colocando a mão na bochecha de Marda, a encarregou
novamente de cuidar dos Pequeninos.
— Você é a única em quem posso confiar com as faíscas da crença em
seus jovens corações. Você nutre a compreensão deles sobre a nossa Trilha,
Marda Ro, aqui em nossa casa. Esta casa que compartilhamos deve
permanecer verdadeira, e você é a sua zeladora. Você vai aceitar isso por
mim?
Marda assentiu e baixou os olhos contra as lágrimas que ardiam.
A Mãe era um verdadeiro avatar da Força, existindo em perfeita
harmonia, clareza e liberdade com ela. Como ela desejasse, Marda deveria
fazer.
— Aceito. — sussurrou ela, e falava sério... só que a galáxia era tão
grande, tão grande. Sabia que poderia expandir para caber nela.
Tinha que haver algo de errado com ela se não podia se contentar com
esse propósito lhe dado espontaneamente. Marda tentou esconder a sua
incerteza sob sorrisos suaves e mãos mais suaves enquanto conduzia os
Pequeninos para procurar beleza ao longo do rio e nas campinas ondulantes.
Presentes de Dalna em suas mãos, reunidos e preparados para se
tornarem presentes de suas mãos para os andarilhos de Ferdan.
Eles se assentaram na mesa disponível no mercado, do Grandfer
Aurin... um velho Umbarano que vendia partes usadas de droides... muitas
vezes guardadas pra eles. Não queriam se juntar a Trilha, mas gostavam da
maneira como Marda pregava sobre viver com e para a Força. Eff, o mais
novo dos irmãos Klatooinianos, amava o Grandfer Aurin e sentou no colo
dele na primeira hora de presentear. As outras crianças brincavam,
amarravam buquês e acenavam alegremente para os transeuntes, apenas
ocasionalmente discutindo enquanto Marda dava as boas-vindas a todos à
mesa, oferecendo a sua fé em troca. Jerid, um garoto humano de pele
morena, o mais velho das crianças com Marda, provocou Utalir, que tinha
apenas nove anos, que as suas gavinhas amarelas do sol eram mais bonitas
do que as flores e ele se perguntou o que ganharia da Trilha se Utalir a
oferecesse como um presente dado livremente.
Marda achou necessário separá-los, persuadindo a irmã mais nova de
Jerid, Vemian, a se soltar do quadril de Marda, onde gostava de se esconder
e imitar tudo o que Marda fazia. Enquanto isso, Tromak se escondia
debaixo da mesa rolando pedrinhas na praça, Jezra'lin não parava de pular, e
Hallisara, Simi e Ferali não paravam de competir pelo afeto do caça mel
que se apegou a Simi algumas semanas antes, aproveitando a disposição do
garoto em dividir o seu mingau. O caça mel era um bom presságio, embora,
era do mesmo azul brilhante de sua pintura de concha brikal, ao comer as
larvas dos artrópodes.
As travessuras dos Pequeninos distraíram Marda do pior de sua
melancolia, mas ainda assim se agarrou a ela naquele mercado
movimentado, pois se sentia a única pessoa em todo o planeta que não tinha
permissão para sair.
Então, o garoto Pantorano. Ele chamou a sua atenção de repente e
infalivelmente: alto e atraente em mantos de camadas simples feitas em
cores não muito diferentes das dela, com tranças pretas elaboradas, pele
azul quente, um sorriso que mostrava dentes sem corte e belas marcas
douradas em o seu rosto.
Quando ele encontrou o seu olhar, ele veio direto até ela, como se já a
conhecesse.
O estômago de Marda revirou.
Ele parou na mesa dela, sorrindo para as crianças, mas sem tirar os
olhos amarelos brilhantes dela por muito tempo. A sua pele era quase do
mesmo azul da concha brikal, o dourado vívido. Queria tocar as marcas,
descobrir se estavam manchadas ou se eram permanentes, ou talvez apenas
floresciam naturalmente na pele dele. Como Pequeninos rastros de
sementes de sol.
Então ele falou, e respondeu, e ele era de outro mundo.
É claro; todos eram. Mas ele tinha acabado de chegar, vindo das
estrelas, e algo dentro de Marda apertou o desejo. O garoto Pantorano...
Kevmo... era bom com os Pequeninos. Gostou deles. E ele conhecia a
Força. Foi assim que ele disse. Eu conheço a Força.
Sem fôlego, Marda pensou que era por isso que a Mãe a havia negado
repetidas vezes: este momento, este garoto. Para Marda estar lá naquele dia.
Sentiu a certeza borbulhando como se fosse rir.
Então.
Então ele abusou da Força.
— Pare! — gritou Marda, estendendo a mão. Agarrou Vemian, ainda
segurando o seu quadril, e virou o rosto da garota humana como se isso
pudesse proteger a todos eles do que Kevmo havia feito.
— Marda. — disse ele quando a rosa do rio subiu e caiu no chão
poeirento, o presente dado livremente caiu aos pés deles.
Tremendo, Marda ergueu a mandíbula e tentou ser feroz.
— Você não conhece a Força.
Ele observou a boca dela, de olhos arregalados, então lambeu o lábio
inferior.
Marda sabia o que tinha acontecido: ele tinha visto os seus dentes
afiados; ele sabia que era Evereni e iria embora.
Era o melhor mesmo. Kevmo Zink usou a Força como um jogo!
As consequências de desequilibrar a Força como ele havia feito
poderiam levar à morte de seres vivos! E ele fez isso para provocar uma
criança. Marda engoliu a sua dor e deixou a indignação crescer. Percorreu a
Trilha da Mão Aberta. Explicaria isso.
— A Força não é uma ferramenta. É só ela mesma. Vida. Luz. Tudo o
que nos conecta. Não é uma ferramenta.
Kevmo se inclinou para mais perto, com a expressão dele séria.
— Pode ser. Nós usamos a Força se pudermos, a usamos para melhorar
a galáxia, para todos.
— Como você pode saber que está melhorando a galáxia quando não
pode prever os efeitos de tocar a Força? — Marda lutou para parecer calma,
principalmente por causa das crianças, que prestavam atenção ávida, olhos
arregalados, antenas sintonizadas.
— O meu treinamento é bastante completo. — disse Kevmo. — Claro
que conheço os efeitos de usá-la. — De repente todas as flores se ergueram
da mesa para pairar delicadamente no ar entre elas. — É preciso,
especialmente nesta escala. Ninguém está em perigo. — Ele disse baixinho,
com a voz suave.
Mas Marda olhou para as pétalas rosa e amarelas trêmulas diante dela.
— Por favor. — ela sussurrou.
— Isso é um presente. — continuou ele, girando lentamente as flores
em uma espiral suave, uma galáxia de arco-íris. — Você acredita em
presentes dados espontaneamente.
Foi o que você disse?
— Uhum! — guinchou Jezra’lin, depois tapou a boca larga com as
mãos.
Marda apertou a mão em punho. Mais pessoas estavam olhando pra
eles, incluindo o Grandfer Aurin.
Kevmo disse:
— Poder usar a Força assim é um dom. Ela flui através de mim, é parte
de mim, e usá-la é como usar as minhas mãos, os meus ouvidos ou a minha
voz.
Não pôde deixar de olhar para a boca dele enquanto ele falava, e se
concentrou lá quando disse novamente:
— Por favor, pare.
As flores caíram. Marda fechou os olhos aliviada por um momento.
— Você pode saber o que faz aqui, mas como pode prever as
consequências na Força? Usá-la aqui, para nada além de provocação? Para
me impressionar?
O garoto fez uma careta.
Marda insistiu.
— Este incidente aqui altera a Força, a transforma em ondulações, a
puxa, a direciona, e essas mudanças mudam outras coisas, lá fora na
galáxia. Quem pode dizer que os seus truques aqui não desencadearam
ondulações que resultarão em algo perigoso onde você não pode vê-lo?
— Não é assim que a Força funciona. — insistiu ele.
— É sim. — Marda quase mostrou os dentes. — Não é para ser
controlada.
— Os Jedi não...
Marda ofegou.
— Você é um Jedi?
Kevmo fez uma pausa, os lábios entreabertos, e muito lentamente
assentiu.
— Você controla a Força! Você procura dobrá-lo à sua vontade! Eu
conheço os Jedi. — Que estúpido que parecia que o seu coração estava
quebrando. Haviam Jedi em Jedha, e tinha ouvido tantas histórias daquele
grande mundo, as diferentes maneiras de sacerdotes e andarilhos e bruxas
que se reuniam lá no templo. Os Jedi vieram dos Mundos Centrais, com os
seus próprios caminhos que eram opostos aos da Trilha.
— Isso não é verdade. — Kevmo inclinou-se urgentemente para Marda,
colocando as mãos sobre a mesa. — Não impomos nossa vontade à Força!
Mas...
— Você a usa. A Força deve ser livre, Kevmo Zink. Cabe a nós
vivermos em harmonia com ela. Ser parte dela. Não a usando. — Marda
estalou os dentes levemente, pra não ranger, pra não chorar. Deveria saber
que ele era um Jedi no momento em que nomeou a sua arma de sabre de
luz. Mas sempre evitara pensar neles e sabia tão pouco.
Kevmo olhou pra ela com algo parecido com desejo, e ela fez uma
pausa. Esse abismo entre eles era grande, embora apenas momentos antes se
sentisse tão bem e satisfeita em conhecê-lo.
Finalmente, o Jedi disse:
— A Força é quente e brilhante. É vida. E a usando... — Ele olhou para
o estandarte da Trilha, pintado à mão por Marda, Er Dal e o Velho Waiden
anos antes. Kevmo virou as mãos para que a pele azul mais clara de suas
palmas ficasse voltada para o sol. — Usá-la parece certo. Bom. Como se
aquecer à luz das estrelas.
O estômago de Marda se revirou, porque ele soava como ela quando
implorou para ir com as crianças ao espaço. Balançou a cabeça.
— Distribuam as flores, pessoal. — disse ela, estendendo a mão para o
pequeno Simi. — Ferali e Utalir, dobrem a bandeira, por favor. Vamos sair
daqui.
Os Pequeninos rapidamente pegaram flores e correram pela rua para
entregá-las aos vendedores e artistas de rua que conheciam, uma bênção
final antes de partirem. Marda sabia que estava fugindo. Pegou a bandeja de
fichas, créditos e moedas que eles receberam e colocou em uma pequena
bolsa antes de entregá-la a Tromak para guardar. Não olhou para Kevmo
novamente.
Até que se virou para sair e ele disse:
— Marda Ro. — Ela fez uma pausa e deliberadamente olhou pra ele por
cima do ombro. — Verei você de novo? — ele perguntou, com o olhar
atento, as mãos se movendo, flexionando, como se não conseguissem
encontrar uma maneira de descansar.
Cada parte de Marda queria prometer, só mais uma vez, deixá-lo com
um último presente dado gratuitamente: a esperança. Mas foi melhor assim.
Ela disse:
— Não. — e conduziu os Pequeninos à sua frente, sem olhar para trás.
Teve que morder a ponta da língua para controlá-la. O gosto forte de seu
sangue a colocou firmemente de volta em o seu corpo.
Foi só até que eles estivessem fora do mercado, os Pequeninos em uma
corrente enquanto caminhavam, de mãos dadas, para Jezra'lin gritar:
— O meu irmão mais velho era Sensível à Força! Me perguntava se eles
poderiam fazer isso com as flores. Eu esperava que eu pudesse.
— Eu não. — disse Jerid. — É mais fácil seguir a Trilha se você não
pode nem mesmo ser tentado a tocar a Força. Foi o que minha mãe disse.
Hallisara disse:
— Aquela arma era incrível! Era bonita também. Eu me pergunto o que
aquilo faz.
— O que é um Jedi? — Utalir perguntou baixinho, puxando a manga de
Marda com dedos amarelos brilhantes.
Marda fez uma pausa. Jerid aproveitou dizendo:
— Guerreiros! Eu ouvi que eles lutam contra monstros.
— Monstros! — gritou Simi, assustando o caça mel, que mais uma vez
se escondera nos cabelos emaranhados vermelhos do garoto.
Isso estava ficando fora de controle. Marda disse:
— Já chega. — Ela olhou para a corrente de crianças e assentiu com
força. — Venha por aqui, e eu lhe mostrarei algo importante.
Eles pularam e aplaudiram um pouco enquanto voltavam para a fila.
Marda os conduziu para fora de Ferdan em direção ao complexo, mas
desviou para o sul até a pedreira e o terreno de construção, onde muitas
partes da nave Olhar Elétrico... as partes exclusivas da Trilha da Mão
Aberta, não droides, hiperespaço ou escudos... estavam sendo construídos.
Membros da Trilha estavam usando os grandes fornos para aquecer vários
metais destinados aos moldes gigantes na borda do terreno. Vapor e fumaça
subiam pelo céu azul, e o som de ting ting dos martelos eram como sinos.
Droides andavam aqui e ali, puxando o reluzente granito rosa da pedreira,
outros quebrando-o. Havia pilhas de ardósia preta fina para ser cortada em
cacos para o vasto piso de mosaico do salão do templo na Olhar Elétrico.
Logo tudo seria levado para a nave e colocado no lugar, e Marda teria
permissão para visitar e pintar as paredes com ondas de azul de concha
brikal.
Era difícil ver a forma da nave nessas pilhas de pedra e pessoas suadas,
enquanto a própria nave pairava em órbita. Às vezes o sol brilhava muito e
reluzia no casco, e do lado do planeta parecia uma estrela, como qualquer
outra nave. Mas não era como qualquer outra nave.
— Filhos. — disse Marda, conduzindo-os até um quarteto de
contrafortes de liga metálica encostado na elevação de uma colina. — Vocês
sabem o que estamos fazendo?
— A Olhar Elétrico. — respondeu Jezra'lin, pulando na ponta dos pés.
— Esse é o nome dela. Mas você sabe o que é? — Marda se abaixou
para se sentar com as pernas cruzadas e acenou para os Pequeninos se
agruparem em volta dela.
— Uma nave.
— Um templo!
— Um santuário!
As respostas se misturaram em um caos entusiástico, e Marda sorriu. A
atenção deles a fortaleceu, ajudando-a a acalmar o tremor em suas mãos
deixado por aquele encontro com Kevmo Zink.
— Isso mesmo. — disse ela. — Todas essas coisas. A Mãe teve uma
visão desta grande nave, um belo e vasto lugar grande o suficiente para
todos os membros da Trilha, e muitos mais. Nós podemos aumentar a nossa
família entre as estrelas, pode nos levar a qualquer lugar que quisermos,
onde quer que a Força precise de nós para compartilhar a nossa clareza com
outros seres.
— Clareza. — disse Vemian bem baixinho, olhando para Marda com
olhos de água-marinha cheios de admiração. Marda pensou de repente que
ela mesma estava assim quando falava com a Mãe, como se a Mãe não
pudesse errar e cada palavra de seus lábios fosse uma palavra da própria
Força.
Perceber que Vemian via Marda daquele jeito a fez se sentir maior, mais
forte, mas um pouco assustada também.
— Clareza. — disse Marda. — E liberdade e harmonia com a Força.
Essa é a Trilha da Mão Aberta. A Força está em toda parte, em tudo,
ardendo através das partículas do universo, e não cabe a nós tocá-la. Não
estamos acima das outras criaturas ou coisas. Não estamos acima da Força.
Nós somos ela, se tivermos sorte.
Ferali, o irmão Klatooiniano mais velho, franziu a testa, com os seus
grandes bulbos de testa protegendo os seus olhos.
— É por isso que aquele Jedi não deveria ter movido as flores.
Marda assentiu solenemente.
— Ele tirou da Força. Roubou. Abusou. Mesmo isso por si só já é
errado, entende? Nós não tomamos. Nós apenas estendemos nossas mãos
abertas.
Os Pequeninos lentamente viraram as mãos, com as palmas voltadas
para o céu.
— Quando você estiver aberto, os presentes dados livremente virão até
você, enquanto você estiver vivo. Enquanto a Força fluir através de você.
Simi colocou a sua mãozinha branca na mão cinza de Marda. Ela
apertou.
O caça mel saiu de seu pescoço e pousou no joelho de Hallisara.
A Rodiana sorriu.
— Obrigada. — disse ela. — Pelo presente de sua amizade.
— Eu também serei seu amigo. — disse Eff, o irmãozinho de Ferali,
seduzindo o lindo caça mel azul.
— Eu também. — disse Tromak, os três olhos piscando rapidamente.
Marda sorriu suavemente. Ela os guiou pelo resto de suas doutrinas
enquanto os membros da Trilha trabalhavam ruidosamente, o futuro
santuário da Olhar Elétrico os cercando em um ninho confortável. No
entanto, Marda não pôde deixar de pensar no garoto Jedi estendendo as
mãos abertas pra ela, e como desejava abrir as mãos pra ele em troca.
— Ei, é uma bela nave.
Kor gesticulou para o esquife a alguns metros de distância, e Yana
assentiu.
Eles estavam saindo mais tarde do que o programado, Treze tendo que
se desvencilhar de um humano muito adorável antes que pudessem partir, e
a paciência de Yana estava curta por causa do atraso. Mas mesmo em o seu
mau humor, teve que concordar com Kor. Era a única outra nave no pátio de
ancoragem além da Harmonia e, na verdade, todas as naves pareciam
bonitas em comparação com o transporte da Trilha surrada com as suas
marcas azuis desleixadas. A Trilha não era tão pobre quanto costumava ser,
mas eles ainda tentavam manter as aparências.
— Devemos conseguir algo assim quando comprarmos a nossa. — disse
Kor, abaixando a voz e se aninhando mais perto para que Treze não ouvisse.
Yana acariciou um dos tentáculos da cabeça de Kor e assentiu.
— Primeiro tenho que aprender a voar. — disse ela, e Kor riu.
— Se o Treze pode fazer isso, você definitivamente pode.
Yana embarcou na Harmonia com Treze e Kor a reboque. Todos eles
usavam as vestes da Trilha, mas por baixo estavam as suas roupas de
trabalho, Treze usando as suas facas e Yana o seu conjunto de hackeamento.
Eles teriam que trabalhar rapidamente assim que chegassem ao Porto
Haileap. O novo Entreposto Jedi tinha um problema e não haveria tempo
para alterá-lo da forma adequada.
O cheiro da nave atingiu Yana assim que o seu pé saiu da rampa de
embarque e entrou no interior: incenso de lompop. Eles o queimavam
constantemente, então era uma coisa predominante que qualquer
testemunha lembraria sobre a nave da Trilha.
Enquanto eles se amontoavam na cabine apertada, Kor segurou a
bochecha de Yana carinhosamente antes que ela voltasse os seus grandes
olhos líquidos para Cincey.
— Quanto tempo levará para chegar ao Porto Haileap?
— A Mãe me deu uma rota não mapeada, portanto, apenas algumas
horas. — disseram, empolgados. — Segurem-se e relaxem. Voltaremos a
tempo para a nomeação.
— A Mãe está tendo visões de trilhas do hiperespaço agora? — Treze
zombou, com os tentáculos curtos da cabeça do Mikkian ondulando.
— Ela pode tê-los trocado. — disse Kor, afastando o sarcasmo de Treze.
— Eu estava com a minha mãe nas cavernas e vi a Mãe cumprimentando
um humano que parecia um daqueles prospetores.
Yana não disse nada, mas concordou com Treze que, no entanto, a Mãe
ter adquirido as trilhas era suspeito. O que mais ela estava negociando, ou
comprando, sem contar a ninguém? Mas, novamente, Yana nunca parava de
se preocupar, porque se o fizesse, coisas ruins aconteciam.
se sentou em uma das cadeiras dispostas perto da cabine para que
pudesse ver Cincey pilotar a nave.
— Você verificou os Jedi no Entreposto? — Yana perguntou a Cincey
assim que deram o salto para o hiperespaço. Não era supersticiosa, mas
nunca gostou de falar sobre os detalhes do trabalho até que eles estivessem
a caminho, e em algum momento Kor e Treze começaram a seguir o seu
exemplo.
— Sim, parece que eles saíram em alguma missão, embora ninguém
tenha certeza do que possa ser, então você está livre. Você estará lidando
apenas com as forças de segurança usuais, o que deve ser fácil para você.
— Disse Cincey. O elogio aqueceu Yana, mesmo que não demonstrasse.
Yana deixou a sua mente vagar enquanto o azul do hiperespaço
rodopiava do lado de fora dos visores encardidos, e quando eles saíram
algumas horas depois com um solavanco, ela foi a primeira a se levantar.
Kor também se levantou e começou a se mover através de seus Cantos, a
série de exercícios que usava para manter o seu corpo flexível. Kor era
anormalmente acrobática, um dom da Força, e em mais de uma ocasião o
seu dom salvou os pescoços de todos eles.
O propósito de Treze era um pouco menos elegante, e também começou
a se preparar, fazendo malabarismos com as suas facas de arremesso e
observando se estavam afiadas.
Yana torcia um pouco para que ele escorregasse e cortasse algo
importante, mas ele nunca o fez. Os olhares acalorados que ele continuava
lançando a Kor enquanto ela se espreguiçava e se movia fizeram Yana
desejar ter os poderes da Força dos Jedi. Adoraria ser capaz de arrancar
uma faca de arremesso no ar e arremessá-la em direção aos olhos de Treze.
Eles pousaram pouco depois de deixar o hiperespaço, e a empolgação
de Yana por estar fora da nave cresceu exponencialmente à medida que
passavam voando por altas árvores de cascas retorcidas. Marblewood,
pensou Yana, e ajustou as suas vestes. Quando Cincey abriu a porta e
estendeu a rampa de embarque, Kor pegou uma tigela de tinta de concha
brikal e cuidadosamente desenhou as linhas onduladas na testa de Yana
antes de fazer as suas próprias linhas e entregar a tigela para um Treze
ligeiramente ofendido. Yana sorriu para o garoto, mostrando os dentes.
Faria bem a ele saber o seu lugar.
— Vocês não têm mais do que duas horas se quiserem voltar a tempo
para a nomeação. — disse Cincey. — Então sejam rápido.
Os Filhos assentiram antes de se virarem para a rampa de embarque e
desembarcarem.
Porto Haileap não cheirava como Dalna, mas o cheiro forte das árvores
de mármore e o cheiro fecundo da floresta próxima eram uma mudança
bem-vinda do pesado incenso da Harmonia. Era meio-dia, mas havia pouco
tráfego em direção ao eixo principal. Yana recolocou as suas vestes
enquanto observava os seus arredores.
As árvores se elevavam sobre eles, mas havia uma variedade de
pequenas flores aninhadas dentro e entre as raízes. Kor imediatamente foi
buscá-las, escolhendo grandes amontoados que eles usariam como seus
"presentes dados livremente" uma parte essencial dos métodos de
recrutamento da Trilha. Dê flores ou pedras brilhantes interessantes e fazer
com que transeuntes aleatórios ouçam o evangelho de uma Força
verdadeiramente livre. Yana achou que era bobagem... quem queria um
punhado de flores?... mas tinha que admitir que também era incrivelmente
eficaz. Atraía as pessoas, bem o suficiente para que os Filhos as usassem
como uma distração para essas missões.
Assim que Kor pegou um bom buquê de flores, eles começaram a seguir
para o terminal principal em Porto Haileap. As vitrines não eram muito
visíveis; o Entreposto era pouco mais do que um lugar para pousar as naves
e dar uma curta caminhada. Porto Haileap ostentava uma única hospedaria,
uma única taverna nas docas com um novo e reluzente droide servidor e um
escritório do governo que supervisionava o local.
— Por que eles trariam algo valioso pra cá? — Treze perguntou, e Yana
deu de ombros.
— Boa pergunta. — disse ela. — Talvez a informação estivesse errada?
— Cincey nunca esteve errada antes. Além disso, a Mãe sabia que não
valia a viagem e a aconselhou a não ir. A Força flui através dela. Ela teria
visto alguma coisa. — Kor insistiu, e Yana riu.
— Talvez a Força tenha pensado que era irrelevante nos mandar para
um lugar com um total de cinco pessoas. — O seu esquema não ia
funcionar, porque não havia como atrair uma multidão.
Treze fez uma careta e pegou as flores de Kor.
— Ainda podemos fazer isso. Siga o meu comando.
Yana e Kor trocaram olhares antes de darem de ombros e seguirem
Treze até o escritório do chefe da doca, o único prédio de aparência oficial
em todo o porto. Irritou Yana que Treze estivesse tentando liderar a sua
equipe, mas também queria ver o que o Mikkiano tinha na manga. Os seus
tentáculos curtos na cabeça se amarravam e desamarravam como
costumavam fazer quando ele estava planejando algo particularmente
desagradável. O que o garoto tinha em mente?
A porta do escritório do chefe da doca se abriu com um assobio
silencioso, e o macho humano na mesa olhou pra cima quando eles
entraram, uma carranca contorcendo as suas feições pálidas.
— Posso ajudar?
— Não. — disse Treze, com o seu passo tão leve que basicamente
flutuou para dentro do escritório. A sua voz era como a mais suave pele de
jaran, e ele sorriu gentilmente.
— Mas podemos ajudá-lo, meu amigo.
O chefe da doca se levantou, com as mãos nos quadris. Ele era um
homem corpulento com cabelos castanhos que haviam sido reduzidos até a
pele nua no topo de sua cabeça.
Ele olhou para Kor e Treze em aborrecimento, mas quando o seu olhar
deslizou sobre Yana, ele mal pôde reprimir o seu vacilo.
— Olha, eu não tenho tempo pra essa bobagem. Do que vocês
precisam?
— Estávamos pensando se poderíamos montar um posto de doação em
sua via principal. — disse Treze, passando o braço pelo do capitão e
conduzindo-o pela porta. — Posso te mostrar o lugar que estamos
pensando? Sabemos que precisamos obter a sua permissão primeiro.
A menos que haja outra pessoa com quem devamos falar?
— Sou o único que trabalha aqui. — disse o homem, e Yana sentiu pena
do pobre pastor bantha. Especialmente quando a expressão de Treze se
iluminou.
— Bem, deixe-me mostrar no que estávamos pensando.
A porta se abriu e fechou, e Yana e Kor permaneceram onde estavam. O
escritório do chefe das docas ficava em um canto afastado. Um erro, com
certeza.
— Vamos acabar com isso antes que Treze volte a se vangloriar. —
disse Yana.
Não tinha vontade de ouvir o Mikkiano se gabar sobre a facilidade com
que os humanos morriam.
Yana puxou o pequeno equipamento que gostava de usar para hackear
as fechaduras, uma placa recuperada de uma das novas linhas de
astromecânicos depois de um trabalho particularmente desagradável em
Klynan. Havia só uma porta interna no escritório, e a abriu rapidamente.
Quando a fechadura foi liberada, Treze voltou, limpando o sangue vermelho
de suas mãos na bainha de seu manto.
— Você o matou? — Kor sibilou, com os seus olhos se estreitando em
agitação quando Treze sujou as suas vestes.
O Mikkiano deu de ombros.
— Esse sangue foi derramado pela Trilha. Acho que a Mãe não vai se
importar.
— Isso é assassinato, Treze. — Kor disse sombriamente. — Não é para
isso que estamos aqui. Isso não é viver em harmonia com a Força.
Yana tentou ignorá-los e ignorar a sua própria antipatia por Treze ao
tomar medidas tão drásticas. Não foi o assassinato em si que a incomodou,
mas que Treze era um coringa.
— Vocês dois podem parar com isso? Estou me concentrando.
Kor colocou uma mão sólida em o seu ombro, e Treze se inclinou
casualmente contra a parede.
— Como vai o hack?
— Pronto. — disse Yana, afastando-se da porta para que Treze pudesse
abrir o caminho, jogando as facas na mão. Kor o seguiu, e Yana ficou na
retaguarda, fechando a porta atrás deles para que não houvesse surpresas
indesejadas. Atrás da porta havia uma pequena antessala e, além dela, uma
área de depósito maior que parecia conter gaiolas de cargas confiscadas. As
caixas estavam marcadas com números em vez de descrições do que cada
uma continha, e Kor suspirou. — Não tão direto quanto eu esperava. —
disse ela, apertando os olhos para ler os rótulos. As prateleiras eram altas,
pelo menos dez metros, e não havia uma escada ou droide de carga à vista.
— Deve haver um arquivo mestre aqui com as datas e o conteúdo
confiscado. — Yana disse enquanto tirava as vestes e depois usava o
material para limpar a pintura do rosto. Treze fez o mesmo. Kor pareceu
magoado por um momento antes de seguir sua liderança, então empilharam
as vestes em um pacote que eles pegariam ao sair.
Yana foi até o único terminal de dados da sala e o inicializou. Estava
prestes a conectar o seu equipamento hacker à máquina quando Treze
surgiu com uma bugiganga estranha.
— O chefe das docas tinha isso no pescoço. Você acha que desbloqueia
o terminal?
Yana pegou o pequeno objeto metálico e o inseriu na frente do terminal
de dados. Encaixou perfeitamente, destravando o sistema. Linhas de opções
apareceram, cada uma delas contendo um item e uma data.
— Isso é estranho. — disse Kor, com os seus olhos pretos líquidos
cheios de preocupação. — Por que a República guardaria uma carga tão
preciosa aqui sem nem um guarda?
— Talvez eles confiem na Força para se defender. — disse Treze com
um sorriso malicioso, voltando a fazer malabarismos com as facas.
— É mais provável que eles não façam ideia do que seja. De qualquer
forma, acho que encontrei. — Yana disse enquanto percorria os registros.
— Caixa cinco-oito-quatro-três. Está marcado como 'arma rara' e o local de
origem é 'ruínas de Moraband'. Onde fica isso?
— Não sei, não me importo. — disse Treze enquanto caminhava até as
prateleiras. — Kor, acho que é isso, está lá em cima. Você pode alcançá-lo?
Kor não disse nada, apenas olhou para as prateleiras antes de correr e
pular em direção à parede oposta. Ela ricocheteou na parede, saltando em
direção às prateleiras. Atingiu a plataforma alguns metros abaixo de seu
objetivo e correu para o lado, um feito que tanto Yana quanto Treze teriam
achado impossível. Era um movimento impressionante, e quando Kor se
levantou na prateleira para se empoleirar ao lado de um contêiner de carga,
o estômago de Yana deu um salto. Se Kor caísse daquela altura, ficaria
gravemente ferida. Yana odiava pensar nessas coisas, mas era em momentos
como esse que achava difícil trabalhar com a namorada em trabalhos tão
perigosos. Nada de ruim havia acontecido, mas Yana era Evereni. Mesmo
dentro da segurança da Trilha da Mão Aberta, ouvira tantas histórias das
coisas horríveis que poderiam acontecer quando as coisas finalmente
estivessem indo bem. Era difícil esquecer isso, especialmente quando estava
vendo a garota que amava escalar uma torre de prateleiras.
— Consegui. — disse Kor, segurando uma caixa muito menor do que
Yana esperava. O recipiente era feito de plastóide cinza escuro e havia um
curioso mecanismo de travamento na frente.
— Por que há um dissipador de energia na caixa? — Yana perguntou,
reconhecendo a marca ao lado do mecanismo de travamento. Esse
dispositivo geralmente era reservado para itens que emitiam um baixo nível
de energia, como baterias e outros componentes elétricos. Não é um artefato
da Força.
— Não faço ideia, mas não é pesado. Yana, você pode pegá-lo? — Kor
perguntou.
— Entendi. — disse Treze, guardando rapidamente as facas. Ao olhar
questionador de Kor, Yana deu um breve aceno de cabeça. Deixando o
garoto se sentir útil.
Kor deixou cair a caixa, e Treze a agarrou enquanto Kor saltava pra
baixo, pendurada na prateleira de cima por um momento antes de arquear o
seu corpo e virar pra trás para aterrissar em um agachamento suave. Uma
vez que estava de volta em segurança ao nível do solo, Yana excluiu
qualquer coisa relacionada à sua pesquisa, desconectou-se do terminal de
trabalho e desligou tudo. Manteve a chave digital, no entanto. Era
propriedade da República, mas isso só significava que poderia ser útil.
Quem saberia que tipo de códigos de bloqueio poderia extrair do
dispositivo?
Eles pegaram as suas vestes e foram do escritório do chefe das docas de
volta a Harmonia. Yana estava uma confusão de nervos ansiosos o tempo
todo, mas não houveram problemas. Ninguém prestou muita atenção neles,
e se eles pareciam estranhos com o seu pequeno contêiner de carga e o
braço cheiro de mantos, ninguém comentou.
Uma vez que eles estavam de volta a Harmonia, Cincey não perdeu
tempo para colocá-los em órbita. Ninguém falou até chegarem ao
hiperespaço e, assim que o fizeram, Cincey deixou a cabine para se juntar a
eles na área de estar.
— Então? — perguntou.
Treze havia deixado a caixa no meio do chão, e todos deram de ombros.
— É isso. — disse ele.
Cincey suspirou audivelmente.
— Você abriu?
— Não. — disse Yana. — Então como você sabe que é o que estamos
procurando?
— Foi a única coisa registrada como sendo de ruínas, e uma arma.
Disse Yana.
— Você quer que eu abra?
— Não. — disse Cincey. — Devemos conceder a honra à Mãe.
Kor se sentou no colo de Yana, ajeitando a sua cabeça com tentáculos
no ombro da Evereni.
— Há algo estranho nessa caixa. Eu só... — a voz de Kor sumiu, mas
Yana podia sentir a tensão em o seu corpo. — Eu não gosto dessa coisa. O
que quer que seja.
Yana estava acostumada com isso. Kor tinha um pouco de sensibilidade
à Força e, se não fosse membro da Trilha, poderia ter se tornado uma Jedi.
Mas o seu pai não estava disposto a mandá-la para longe da Trilha para
Ferdan quando ela era mais jovem, como geralmente era feito quando se
descobria que as crianças da Trilha tinham alguma sensibilidade à Força. Os
artefatos que eles liberavam muitas vezes davam a Kor uma sensação de
desconforto, mas a expressão em o seu rosto era de dor. Isso era novo.
— Você está bem? — Yana perguntou, e Kor respondeu envolvendo os
seus braços ao redor de Yana e enterrando o seu rosto no vão onde seu
pescoço encontrava o seu ombro.
— Mal posso esperar para viajar pela galáxia com você. — disse Kor,
com as suas palavras abafadas pelo fato de seus lábios estarem pressionados
contra a garganta de Yana.
— Eu também. — Yana disse, envolvendo os braços em torno de Kor.
Elas ficaram assim por muito tempo, e Yana disse a si mesma que a
sensação de desconforto em o seu meio era apenas o medo existencial
habitual dos Evereni e não tinha nada a ver com a caixa próxima.
Kevmo encontrou a sua mestra Zallah com facilidade, pois ela ainda
estava conversando com o proprietário da hospedaria quando entrou. A sua
pele branco azulada contrastava fortemente com a pele fúcsia da mulher
Theelin com quem ela falava, e ela se virou quando Kevmo entrou, com
sacos de provisões em cada mão.
— Jara, este é o meu aprendiz, Kevmo Zink. Ele estará na sala ao lado.
A mulher Theelin tinha mechas prateadas no cabelo e, enquanto se
movia, Kevmo teve a impressão da idade. Ele sorriu amplamente.
— Muito bem, Lady Jara.
— Hum. Um encantador. — disse a velha, com a sua carranca se
aprofundando com a saudação entusiástica de Kevmo. — Dirijo um
estabelecimento respeitável. — acrescentou ela, e Kevmo ficou um pouco
mais ereto.
— Claro. — disse Kevmo, olhando para a Mestra Zallah em busca de
ajuda. Geralmente era capaz de fazer aliados facilmente, mas essa velha não
parecia se importar muito com ele. Ela temia os Jedi também?
— Devemos descansar. — disse Mestra Zallah, poupando Kevmo de
descobrir o que mais deveria dizer. — Obrigado, Lady Jara, por toda sua
ajuda. Vou me encontrar com os anciãos da cidade amanhã.
Ela fez uma reverência para a velha, e Kevmo sentiu vontade de se dar
um tapa na testa. Por que não tinha pensado nisso?
O rosto de Jara se abriu em um sorriso encantador.
— Sem problemas. Não se preocupe. E se você quiser que eu a
acompanhe, ficarei feliz. Agora, a refeição da noite será servida
prontamente ao pôr do sol, então não se atrasem. Ninguém gosta de
convidados atrasados.
— Claro. — disse Zallah antes de se virar para o elevador no fundo da
sala. Kevmo tentou fazer uma reverência à velha enquanto passava, mas sua
carranca voltou, mais profunda do que antes. Então ele abaixou a cabeça e
correu atrás de sua mestre.
Zallah não disse nada até que ela lhes indicou os seus quartos.
— Consegui para nós num grupo adjacente. — disse ela, e a porta se
abriu.
Kevmo entrou em uma pequena sala de estar e colocou os seus pacotes
sobre a mesa.
— O seu quarto fica à direita, contudo me foi assegurado que todos os
quartos eram praticamente iguais.
O lugar era decorado de forma simples, mas limpo, sem um traço de
vermes ou mesmo poeira. Era uma raridade ter acomodações tão agradáveis
na fronteira, e o ânimo de Kevmo melhorou um pouco.
Talvez Dalna não fosse só todas as garotas de olhos escuros que
pensavam que Jedi abusavam da Força.
Zallah franziu a testa para Kevmo.
— Aconteceu alguma coisa no mercado?
— Ah. — disse Kevmo, percebendo que deixara suas emoções tomarem
conta dele. — Sim. Tentei fazer amigos como você disse, mas deu
terrivelmente errado.
Zallah suspirou.
— Conte-me.
Kevmo rapidamente relatou os detalhes de sua interação com a Trilha
da Mão Aberta: as suas ideias sobre a Força, como Marda acreditava que
usar a Força em Dalna significava que ela estava de alguma forma sendo
danificada em outra parte da galáxia.
— Isso não é verdade, certo? — Kevmo perguntou, de repente
duvidando de si mesmo. — A Ordem saberia se a Força pudesse ser, não
sei, ferida por uso excessivo?
Zallah lançou a Kevmo um olhar frio até mesmo pra ela.
— Claro que não é assim que funciona. Os Jedi serviram e se
comunicaram com a Força por milênios. Se fosse esse o caso, haveriam
orientações para amenizar os danos.
Kevmo assentiu. Sabia disso, mas Marda estava tão convencida que
começou a duvidar das coisas que sabia há anos.
— Acho que feri os sentimentos dela. — disse ele, a vergonha o
invadindo de novo com a lembrança. — Essa garota e o seu povo são um
bando de fanáticos. — disse Zallah, indo até os sacos que Kevmo havia
trazido e começando a desempacotá-los. — Lady Jara me contou que o
culto deles mora fora da cidade em o seu próprio complexo.
— Sério? As suas ideias pareciam muito boas. Era apenas a parte de não
usar a Força que era estranha. — disse Kevmo, pensando em Marda e os
seus olhos de céu noturno.
— Imagino que as ideias dos Sith também pareçam boas no abstrato, —
Zallah disse, com o seu tom suave. — Jara estava bastante convencida de
que havia algo errado sobre a Trilha da Mão Aberta, embora nada tão
específico a ponto de suspeitar que eles roubassem itens da Força.
Kevmo desabou em uma cadeira próxima.
— Mas me sinto mal por assustá-los. Era um truque tão simples, e eu
pensei que as crianças iriam gostar.
— Usando a Força para brincar com as crianças, Kev? — Zallah soltou
um suspiro suave, um suspiro dramático dela. — Ser um Jedi não é só
diversão e jogos.
— Parecia razoável, na hora, conhecê-los. — disse ele, defendendo-se
apesar de como tinha acontecido.
— Você não pode argumentar com fanáticos. — disse Zallah. — Eles
seguem algum tipo de líder de culto, supostamente um profeta, Lady Jara
disse. Devemos ser cautelosos com qualquer um que afirme tal coisa...
especialmente porque eles estão possivelmente envolvidos no roubo de
Hynestia. — Ela terminou de desfazer os sacos. — Não havia frutas durga
no mercado? Jara disse que Dalna tem uma variedade particularmente
deliciosa que cresce aqui. Menores e facilmente apreciadas.
— Ah, eu não as vi. Acho que posso voltar ao mercado amanhã e ver se
há alguma.
— De qualquer forma. — disse Zallah, voltando toda a atenção para
Kevmo, — há algo a se ganhar aprendendo como a Trilha pensa. É bom
você conversar com quem vê a Força de uma forma diferente. Como um
Jedi, você descobrirá que há muitos que têm ideias sobre nós que são
contrárias à nossa verdade e vice-versa. Esta pode ser uma experiência de
aprendizado valiosa, se você permitir.
— Espere, então devo procurar Marda e pedir desculpas? — Kevmo
perguntou.
Não estava feliz com a forma como as coisas ficaram, mas também não
queria ultrapassar o limite.
Zallah deu a Kevmo um sorriso frio antes de pegar um pequeno pão da
pilha e um pequeno pote de queijo doce.
— Acho que a Força lhe dará a resposta caso você medite sobre ela.
Kevmo gemeu. Gostava da meditação; simplesmente achava difícil ficar
parado por longos períodos de tempo. Mas Zallah estava certa. A Força
sempre tinha as respostas; era apenas uma questão de saber se a resposta
seria ou não algo que Kevmo entendia.
— Certifique-se de se lavar para o jantar. Tenho a sensação de que Lady
Jara não tolera má higiene. E como ela parece estar bem informada sobre os
acontecimentos daqui, gostaria de mantê-la como aliada. — disse Zallah. —
Ah, e ela mencionou que alguém da República também está hospedado
aqui. Um investigador de algum tipo. Precisamos andar com calma até
sabermos quem são e por que estão em Dalna. — Com isso, ela levou o seu
lanche para os seus aposentos.
Kevmo suspirou e pegou uma das maçãs sol da pilha de produtos,
levitando-a sobre a mão antes de pegá-la e dar uma mordida. Por mais que
usar a Força lhe trouxesse alegria, agora também trazia a memória do horror
de Marda.
Quem teria pensado que poderia ser tão difícil fazer amizade com outra
pessoa que conhecia a Força?
No momento em que os dois sóis começaram a baixar além do
horizonte, eles começaram a cerimônia de nomeação. Uma peculiaridade da
atmosfera de Dalna fez com que os últimos raios brilhassem em rosa escuro
e se espalhassem em filamentos de fogo por toda a parte do céu. Os
depósitos de opala do sol espalhados por todo o vale do rio reagiram,
brilhando nas mesmas cores vibrantes. Os terrenos rituais da Trilha da Mão
Aberta foram escolhidos pela predominância da opala do sol, e os membros
da Trilha de gerações passadas coletaram a opala e a colocaram em linhas
da Força ondulantes a oeste dos terrenos, onde era melhor capturado o pôr
do sol.
Marda e a sua comunidade estavam prontas quando as ondas se
iluminaram. A Trilha encarava o pôr do sol, de mãos abertas, e recebia o
dom da beleza.
— O espírito de Dalna se junta a nós. — disse a Mãe em sua voz
adorável enquanto ela levantava as mãos abertas para o céu.
— Com o espírito de Dalna, vivemos com a Força. — disseram os
adeptos juntos. — em clareza, harmonia e liberdade.
A Mãe disse:
— Clareza, harmonia e liberdade.
Eles respiraram três respirações lentamente, simultaneamente, como
uma comunidade. Então o segundo sol se pôs totalmente e o rosa brilhante
desapareceu do céu.
Demorou mais para as duras poças de opala do sol desaparecerem,
como se estivessem agarradas à luz.
A Mãe se virou. Sorriu para todos. Era brilhante ter ela ali, pensou
Marda, bebendo em todos os momentos possíveis. A Mãe passou tanto
tempo na Olhar Elétrico ultimamente, apesar da nave não ser muito mais do
que um esqueleto estéril. Do espaço comungou com a Força em sua grande
câmara vazia, sem as distrações da gravidade, da luz do sol ou do frio.
Quando recebeu uma visão, poderia conectá-la facilmente com o planeta.
Mas naquela noite, estava lá para presidir a nomeação dos cinco filhos
de Ferize.
A Mãe assentiu e os seis Anciãos da Trilha acenderam as tochas. Eles
usava mantos cinzas imaculados, soltos e esvoaçantes, com bordas azuis
profundas. O fogo laranja iluminou a espessa tinta azul que cobria as
metades superiores dos rostos dos Anciãos: eles estavam tão perto da Força
que meras ondas dificilmente funcionariam.
O resto da Trilha esperava em círculos concêntricos, desde os Anciãos
do lado de fora até os Pequeninos do lado de dentro. Marda ficou com os
Pequeninos, embora estivesse pintada em suas ondas azul brikal e usasse a
sua túnica e manto cinza escuro porque era totalmente iniciada.
Ferize e os seus parceiros, Er Dal e Fel Ix, apresentaram os seus cinco
bebês compartilhados entre eles. Eles se aproximaram no sentido do sol ao
redor dos círculos de adeptos, todos os três no branco e verde solto dos
novos pais.
Nesse momento, Marda se virou para uma comoção perto da entrada do
terreno cerimonial: eram Yana e Kor, parando rapidamente e silenciando
uma à outra. Elas conseguiram. Marda sorriu para a prima e acenou. Yana
acenou de volta antes de se inclinar para a sua namorada.
Marda pensou em Kevmo Zink, em como queria tocar nas tatuagens
dele, e se afastou abruptamente da prima. Esperava que o que quer que os
Filhos trouxessem com eles estaria seguro e que os Jedi permaneceriam
longe. Mas precisava contar a alguém que havia falado com um Jedi, lá em
Dalna.
A cerimônia de nomeação era simples: Ferize, Er Dal e Fel Ix
colocaram cada criança nas mãos da Mãe e disseram a ela os seus nomes, e
a Mãe colocou um pequeno caracol azul no rosto da criança ao declarar o
nome da Trilha. Os nomes eram o segundo dos presentes dados livremente
por seus pais. O primeiro é a própria vida, é claro.
Marda ouviu, repetiu os nomes com a congregação, teve que sussurrar
repreensões silenciosas para Jerid e Simi apenas duas vezes e se deleitou na
companhia de sua família. Algum dia, Marda estaria entre as estrelas
espalhando a palavra da Trilha ou lá com os Pequeninos, e todas as cinco
novos Kessarine seriam os seus alunos. A família deles cresceu. A
harmonia com a Força aumentou.
No final, Marda se sentiu aquecida novamente, em paz com a sua
posição.
A Mãe completou o ritual cantando uma canção comum da história da
Trilha. Ela cantou sem acompanhamento e a sua voz se elevou em um
volume suave. Marda fechou os olhos e ouviu a letra que descrevia a
chegada de Sachar Rold a Dalna, onde ele fundou a Trilha da Mão Aberta
em um planeta intocado pela guerra ou pela dor, afastado de seu antigo
sacerdócio por uma visão de uma vívida luz azul. Foi uma história
reconfortante para Marda, porque sabia duas coisas sobre o seu povo, os
Evereni: eles eram insultados por toda a galáxia por razões desconhecidas e
não tinham mais um lar próprio. Sachar Rold veio de uma ordem conhecida
como Guardiões dos Whills, mas os deixou quando a sua crença entrou em
conflito com os seus costumes. Ele foi banido deles e buscou refúgio com a
Força. Essas coisas o levaram a Dalna, onde Marda e a sua prima também
foram parar.
Assim como a Mãe, veio dos Mundos Centrais tantos anos antes que
Marda mal se lembrava disso. A Mãe chegou como refugiada, como o resto
da Trilha, aceitou o presente de suas boas-vindas e lentamente aprendeu os
seus costumes. Até que ela teve uma visão, assim como Sachar Rold, de
uma luz azul. Mas a Mãe viu a luz na forma de um mensageiro, um ser
criado de Força pura que ensinou a Mãe como compartilhar a vida e ouvir e
ser uma com a Força, tanto que o pequeno jardim da Mãe floresceu durante
a noite. A sua harmonia com a Força era tão pura que transpirava dela para
qualquer pessoa abençoada o suficiente para estar em sua presença. Por
causa dessa e de outras visões, ela era capaz de liderar e guiar a Trilha,
apesar de não se qualificar como Anciã. Todos ouviam quando ela falava,
desde o mais novo Pequeno até o Ancião mais seco e enrugado.
A canção que a Mãe cantou terminou com um trinado esperançoso, e
todos os presentes disseram, alto e bom som:
— A Força será livre!
Em seguida, aplausos e risos se espalharam, e a Mãe ajudou Ferize e os
seus parceiros a levar os recém-nascidos de volta ao jardim central para
uma refeição simples à noite. Marda reuniu seus Pequeninos, e eles a
seguiram, chegando antes da maior parte da congregação para servir o
Velho Waiden nas panelas comunitárias.
A luz do fogo e as trepadeiras verde azuladas brilhantes davam ao
jardim um ar misterioso e pacífico quando as estrelas irrompiam no céu, e
Marda sorria ao servir comida para a sua grande família. Levou uma
bandeja com tigelas para o ninho onde a família de Ferize havia se instalado
com a Mãe, Vemian e Utalir ajudando nas bebidas. Eles inclinaram as suas
cabeças educadamente antes de dar à Mãe e aos novos pais a água doce e a
sopa. Então Ferize pediu a Marda que ficasse com eles.
Encantada, o fez, mandando os Pequeninos de volta até o Velho Waiden.
Enrolou as pernas embaixo dela e calmamente tomou um gole de sua
tigela de sopa, ansiosa para ouvir a conversa entre a Mãe e Ferize. Eles
discutiram as necessidades dos bebês de Ferize e como a Trilha poderia
ajudar. A Mãe falou em solicitar alguns suplementos especiais de proteína
de seu generoso patrocinador Regnar Pulip, e Ferize sorriu, dizendo:
— Todas as dádivas que a Força fornecer, nós aceitaremos.
Em uma pausa na conversa, Marda se inclinou para Fel Ix e os dois
bebês se enroscaram em suas pernas dobradas. Os seus olhos estavam
arregalados e eles moviam os babados ao longo de suas bochechas em
Pequeninos movimentos espasmódicos, como se estivessem aprendendo os
modos adequados. Marda disse:
— É incomum que uma ninhada inteira seja só de garotos?
Fel Ix balançou a cabeça. Ele tocou um dedo escamoso na testa de um
de seus filhos.
— Dois desses cinco provavelmente amadurecerão em portadores de
ovos... garotas. Essa é a porcentagem comum.
— Ah! — Marda sorriu e pousou a sopa. — Eu não percebi.
— A Linguagem Básica Galáctica é confusa para Kessarine, mas não
pensamos em nós mesmos como garotas ou garotos.
— Você consegue dizer qual dos dois é mais provável?
Fel Ix disse que não, e Ferize se inclinou em direção a Marda para dizer:
— É determinado por uma combinação da vontade da Força e a vontade
da criança.
— Isso é maravilhoso. — Marda murmurou. Ela se perguntou o que os
Jedi pensariam disso. Eles considerariam como o uso da Força poderia
mudar o futuro de um bebê como este? Como alguém poderia agir
conscientemente de uma forma que pode tirar dos outros? Isso fez o
estômago de Marda doer, e ela ficou feliz por ter servido sua sopa.
— Marda — disse a Mãe.
Ela olhou para cima, abrindo os lábios de surpresa ao ouvir o seu nome
na língua da Mãe.
— Você está bem? — A Mãe a encarou com olhos castanhos
penetrantes, toda a sua atitude imóvel e séria.
— Sim, Mãe. — Marda ficou de joelhos e colocou as mãos abertas
sobre eles. — Tenho pensado em suas palavras e em meu lugar aqui com os
Pequeninos. É uma tarefa séria que você me deu, confiando-me o futuro da
nossa Trilha. Eu só me preocupo com a galáxia maior e as influências que
ela traz.
— Influências externas, humm. — A Mãe sorriu. — Talvez a sua prima
possa aconselhá-la sobre essas coisas, agora que voltou com os Filhos.
Marda olhou para Yana, que estava rindo com Kor, ambas sentadas com
um grupo de adeptos de todas as idades. O humano Jerid de onze anos
olhou para Yana com uma paixão óbvia, e a Rodiana Hallisara se encostou
na perna de Kor, com os seus dedinhos batendo na bota da Nautolana. Eles
pareciam estar se comportando bem. O pai de Kor, o Arauto, se sentou com
eles, com a sua cabeça nua sem os típicos tentáculos Nautolananos. Eles
foram cortados quando ele era jovem e ficou com cicatrizes irritadas. Mas
em suas tintas azuis e vestes cinza de Ancião, exalava uma aura severa e
serena. Não parecia gostar de Marda, talvez por algum motivo relacionado
ao povo dela ou talvez apenas porque a sua filha era íntima de Yana, mas
Marda esperava que um dia eles pudessem trabalhar juntos pela harmonia.
O Arauto falava pelos Anciões e era o amigo de confiança da Mãe, o
próximo membro na Trilha a entender melhor a vontade da Força.
Perguntou-se onde estaria a sua esposa, Opari, a mãe de Kor ficava doente
com frequência, embora ultimamente, com a ajuda das visões da Mãe e os
créditos de presente de amigos como Regnar Pulip, Opari estivesse se
sentindo melhor.
Repassando as palavras da Mãe em seus pensamentos, Marda abriu a
boca para confessar sobre Kevmo, o Jedi. Mas ali, naquele momento de paz
com Kessarine, não quis tocar em nenhum assunto tenso.
— Vou falar com Yana. — disse Marda, levantando-se e fazendo uma
reverência em despedida da Mãe e de Kessarine. — A Força será livre.
— A Força será livre, — eles responderam.
Então a Mãe disse:
— E, Marda, por favor, diga a Yana que a encontrarei em meu
confessionário em breve, para ouvir o que os Filhos alcançaram em sua
travessia hoje.
Marda se curvou novamente, com as duas mãos abertas com as palmas
pra cima como se fosse pegar as estrelas.
Caminhou pelo jardim lotado, com os olhos baixos, mas sorrindo para
aqueles que mantinham as mãos abertas para ela. Marda roçou os dedos nas
palmas delas. Quando estava a meio caminho de sua prima, Yana olhou pra
cima e sorriu para ela, exibindo dentes pontiagudos e afiados.
Yana se livrou de seu agrupamento com um beijo no canto da boca de
Kor, para a óbvia decepção de Jerid.
— Ele gosta de você. — Marda disse baixinho quando Yana chegou, e
elas juntaram as palmas das mãos.
Yana olhou pra trás e piscou para o Pequeno, mas depois bateu com o
ombro no de Marda.
— Não faz o meu tipo.
— Muito peludo? — Marda brincou suavemente.
A sua prima riu e arrastou-a para as sombras.
— Aqui. — disse ela, oferecendo um pequeno frasco.
— Isso é de outro mundo? — Marda perguntou enquanto desenroscava
a tampa e cheirava. Floral, um pouco acentuado. Ela tomou um gole.
— Sim! Mas não tem muito efeito sobre mim, então provavelmente não
terá em você também.
Yana balançou a cabeça em um escárnio de dor.
Marda devolveu o frasco, saboreando o formigamento do vinho em sua
língua. Juntas, elas se encostaram em um dos prédios e observaram a luz
bruxuleante projetada sobre a sua comunidade. Marda ergueu os olhos junto
com as faíscas até que se fundissem com as estrelas. Não percebeu que
havia suspirado até que Yana disse:
— Você realmente quer ir lá pra cima, hein?
— Sim.
— Eu não acho que você gostaria de ser uma dos Filhos, Marda. —
disse Yana, algo baixo em o seu tom que fez Marda desviar o olhar do céu e
olhar para os grandes olhos negros de sua prima. Yana pegou uma de suas
mãos.
— Não é uma aventura. É perigoso.
— Eu também sou Evereni. — insistiu Marda.
Yana bufou. — Eu não esqueci.
— Eu posso fazer isso.
— As pessoas vão desapontá-la.
— O que os Filhos fazem, o que você faz, é importante. — Marda
apertou os dedos de Yana. — Libertando a Força. Divulgando a Trilha. As
pessoas lá fora não apenas entendem mal a Trilha e a Força. Eles abusam
ativamente disso.
— É o que eu quero dizer. As pessoas não farão o que você quer,
mesmo que você saia por aí. Enfrentamos muitas pessoas más. E pessoas
totalmente legais que querem apenas ficar sozinhas.
— Mas eles estão trazendo os seus mal-entendidos pra cá também. Os
seus modos. — Marda franziu a testa. O formigamento do vinho
desapareceu de sua língua, e o correu contra os seus dentes afiados. — E
eles podem ser convincentes e... e charmosos.
— Charmoso? Quem é charmoso?
Marda desviou o olhar, para a reunião. A Mãe permaneceu perto do
ninho Kessarine, cercada por outros: Anciãos com rostos meio azuis e
alguns outros dedicantes e crianças. A Mãe brilhava sob a luz do fogo e
atenção enquanto falava, suas mãos movendo-se lenta e graciosamente
enquanto invocava detalhes de qualquer história que contasse.
— Yana, a Mãe quer encontrar você em o seu confessionário para ouvir
sobre o seu sucesso de hoje.
— Sim, tudo bem, mas Marda. — Yana pegou o seu queixo e virou o
rosto pra trás. — Quem é charmoso?
Feliz por não haver nenhum sintoma externo para expressar a agitação
em o seu estômago, Marda disse:
— Eu conheci um Jedi hoje.
— Um o quê? Em Dalna? — A coluna de Yana se endireitou. A sua
mão caiu.
— Em Ferdan. Levei os Pequeninos para dar flores e ele estava, ele
estava lá, e eu não sabia que ele era um Jedi a princípio. — Marda cerrou os
punhos. — Eu acabei de...
— Gostar dele. — Yana murmurou. — Você nunca gostou de ninguém
antes.
— Gosto de você! Eu gosto de todos no...
— Aham, sim, claro.
Marda bufou um pouco.
— Ele é um Jedi. Ele usou a Força bem na minha frente. Foi horrível
e... — Ela se interrompeu.
— E?
A lembrança das flores coloridas girando no ar, a emoção no rosto dos
Pequeninos e o sorriso de Kevmo Zink se misturaram, e Marda disse:
— Lindo.
Yana sorriu.
— Mas isso não importa, não, isso torna tudo pior. — insistiu Marda.
— Como?
— Porque era lindo... Isso o tornava tentador. Eu odeio que ele tenha
usado a Força de uma forma tão simples, para... Ele estava flertando
comigo. Que maneira simples de abusar da Força, de tirar a sua liberdade.
— O coração de Marda disparou. Ela piscou várias vezes para atenuar a
surpreendente secura em seus olhos.
— Escute, Marda. — Yana deu a volta para encará-la. — Você sabe o
que eles estão fazendo aqui?
Marda balançou a cabeça. Estava feliz por Yana estar levando isso a
sério, não apenas provocando-a sobre paixões.
— Os Jedi não vão a lugar nenhum sem um motivo. Deve haver um.
Yana franziu a testa. Abriu a boca pra falar, mas parou, olhando por
cima do ombro de Marda para onde Kor estava sentada.
— Pode ser algum tipo de patrulha de rotina, como aqueles grupos de
Desbravadores. Mas se não... bem, precisamos saber.
— Por que? Não devemos ter nada a ver com eles. Precisamos ficar
longe deles, especialmente se estiverem aqui para algumas de suas...
aquisições. Eles não concordarão conosco que é melhor coletar artefatos da
Força para protegê-los.
Yana fez uma careta.
— Pegamos algo bastante importante recentemente. Mas não sei como
eles puderam nos rastrear até aqui. Não deixamos vestígios e somos apenas
uma religião inocente da Força.
— Precisamos manter distância. Mas a Mãe saberá se eles são um
perigo.
— Eu vou contar a ela.
— A Força provavelmente contou, — disse Marda, de repente aliviada.
Claro que a Mãe já sabia, por causa de sua conexão com a Força. A Mãe já
sabia sobre Kevmo Zink. A Força a teria avisado. Se não dissesse nada,
talvez não houvesse nada com que se preocupar.
Mas Yana balançou a cabeça.
— Pelo que sei, os Jedi vão aonde acham que a Força os quer.
O estômago revirado de Marda pareceu congelar.
— Você acha que a Força os trouxe aqui. Até nós?
— A vontade da Força não influencia tudo?
Lentamente, Marda assentiu.
— Eu pensei, quando o vi pela primeira vez... — Marda fez uma careta,
mas se obrigou a dizer para a sua prima. — Eu pensei que o estava
conhecendo por um motivo. Que era a vontade da Força e por que a Mãe
não me deixava entrar para os Filhos. Para que eu estivesse aqui para
conhecê-lo. Foi uma tolice, — ela sussurrou. — Pensar que a Força...
— Não seja tola. — Yana disse ferozmente.
O silêncio caiu entre elas, difundido pela tagarelice e riso dos membros
da Trilha no jardim noturno. Marda pensou no sorriso de Kevmo, em como
ele veio diretamente a ela como se já se conhecessem. Queria que Yana
estivesse certa.
Yana disse:
— Ele também gostou de você, não é? Ele estava flertando, você disse?
Você deveria convidá-lo a vir aqui.
Marda ergueu o olhar.
— O que?
— Mostre aos Jedi a Trilha da Mão Aberta.
A dura seriedade na expressão de sua prima convenceu Marda a respirar
fundo e pensar. Mostrar a Trilha aos Jedi, apresentá-los à comunidade e o
seu modo de vida. Sim. Convencer um Jedi seria um feito incrível. Imagine
as ramificações para a Trilha, e quem mais eles poderiam trazer para o seu
rebanho! A excitação começou a substituir a ansiedade como Marda a
imaginava.
Yana entendeu e assentiu encorajadoramente.
— Eu vou pegar Kor e me encontrar com a Mãe. Mas você deve
convidá-los. Eles? Eles provavelmente querem saber mais sobre a Trilha
mesmo, então é melhor que sejamos os primeiros a alcançá-los. Que melhor
maneira de convencê-los de que somos inofensivos? Que não pegamos nada
nem machucamos ninguém? Eles nunca encontrarão a coleção da Mãe.
Mara sorriu.
— Eu vou.
— Excelente! E Marda... — Yana pegou a sua mão novamente. — Tudo
bem gostar dele. Mas não para confiar nele. Tome cuidado.
— Eu sei que você vai contar à Mãe sobre eles? E o meu convite?
— Sim, e ao Arauto também.
Marda assentiu e a sua prima saiu.
Por um momento, Marda ficou enraizada no chão. Estava escuro, tarde
da noite, mas se sentia aquecida e pronta. Se esperasse, poderia não ir.
Marda correu em direção aos portões da comunidade antes que pudesse
mudar de ideia. Era bom estar ansiosa; isso facilitaria o caminho para esta
oferta que poderia fazer aos Jedi.
A noite estava clara e a estrada para a cidade escura, exceto pela luz das
estrelas e o rico brilho cremoso da lua nascente. Marda não perdeu tempo
procurando folhas e penas caídas, mas se moveu com determinação em
direção ao brilho de Ferdan. Se trouxesse um Jedi para a Trilha, a Mãe teria
que reconhecer as suas contribuições como uma mensageira adequada,
como alguém mais adequada para sair pela galáxia para uma travessia
própria. Mesmo que ela não tivesse permissão para ajudar nas liberações,
talvez ganhasse um lugar na Olhar Elétrico quando finalmente estivesse
pronta. E embora Marda não quisesse insistir nisso, sabia que a ideia de
Kevmo Zink se juntar especificamente a Trilha a atraía. Não porque ele era
um Jedi que precisava mudar o seu relacionamento com a Força para o bem
da galáxia, mas porque imaginou o quão fantástico ele seria na Trilha,
usando melhor aquele sorriso.
E queria vê-lo novamente.
Ao chegar à periferia da cidade, Marda prendeu mechas de cabelo pra
trás das orelhas e alisou o manto cinza, era um pouco mais bonito do que o
que usara na cidade antes, em homenagem à cerimônia de batismo, mas não
era bonito. Não importava. Só a vontade da Força e a sua harmonia com ela
importava.
A cidade ainda estava iluminada e acordada, apesar da noite. Metade do
mercado permaneceu aberto para as pessoas que não conseguiram chegar
até a noite, os estandes mais animados e de alguma forma ainda mais
acolhedores com luzes pastel, alguns tocando música metálica. Havia
apenas dois lugares em Ferdan com quartos para alugar, e Marda foi
primeiro para o mais próximo do espaçoporto. Ela teve que passar apenas
pelo mercado e pela praça principal, clara como o dia. A pensão era
administrada por uma velha Theelin que a Trilha tendia a evitar e vice-
versa. Marda alcançou o prédio de dois andares, com as janelas brilhando
em um azul suave, e tocou o painel para alertar os moradores.
Por um momento, nenhuma resposta veio e Marda resistiu em acionar o
alerta novamente.
De repente, a porta se abriu com apenas num rangido, e Jara, a mulher
de Theelin, olhou para Marda. O seu cabelo com mechas prateadas estava
puxado pra trás dos chifres nas laterais de seu rosto, e o cheiro de molho
rico emanava de seu interior quente. Jara colocou os punhos nos quadris.
— O que a Trilha quer comigo?
Marda abriu as mãos com as palmas pra cima e fez uma reverência.
— Gostaria de falar com Kevmo Zink dos Jedi.
Jara bufou.
— Eu sabia. Ele está no jantar. A velha disse isso como se Marda
estivesse interrompendo um evento diplomático vital.
Baixou os olhos e disse suavemente:
— Só vai demorar um momento, por favor.
— Certo. Entre.
Marda seguiu a Theelin através de uma sala de estar e até a soleira de
uma sala de jantar com uma mesa comprida e bancos polidos. Um
candelabro flutuante balançava e girava com uma luz alegre e brilhante.
— Marda! — Kevmo disse, levantando-se do banco rápido o suficiente
para bater as coxas na mesa, sacudindo tudo.
A mulher alta ao lado dele parecia ser feita de gelo, mas usava túnicas
semelhantes e lançou-lhe um olhar rápido antes de voltar o seu olhar calmo
para Marda. Havia dois outros convidados na sala: um humano de ombros
largos com pele pálida e óculos de proteção presos no cabelo e um humano
indefinido de pele morena que Marda não conseguiu dizer mais nada em o
seu rápido olhar.
Antes que alguém pudesse continuar falando, Marda ergueu as palmas
das mãos novamente e manteve o olhar fixo na mesa. Estavam comendo
uma gelatina de peixe em barra que brilhava com um molho branco ralo.
Disse:
— Estou aqui pela Trilha da Mão Aberta para convidar o Jedi Kevmo
Zink para visitar a nossa comunidade enquanto ele estiver aqui em Dalna.
O silêncio se prolongou por um momento, e Marda quis olhar para
cima, mas não teve coragem de arriscar.
— Marda. — disse Kevmo timidamente antes de ser interrompido por
uma nova voz.
— Nós aceitamos.
Marda ergueu os olhos. A gelada Jedi Soikana sorriu pra ela. Não era
nada parecido com o sorriso de Kevmo, mas calmante e pacífica, e Marda
não se sentia mais intimidada pela Jedi mais velha.
— Bom. — ela suspirou, e então fugiu sem olhar para Kevmo.
Yana trabalhou para manter o alarme vibrando em o seu corpo longe
de seu rosto. Jedi. Em Dalna. Yana era Evereni. Não acreditava em
coincidências.
Os Jedi eram um problema.
Yana sorriu e fez meias reverências aos outros membros da Trilha por
onde passou enquanto ia encontrar Kor. Treze nem fingiu se importar com o
nome; em vez disso, fugiu com o seu frasco de vinho do fruto gnostra e um
dos novos iniciados de Eiram, uma garota humana de pele clara que parecia
achar tudo o que Treze fazia digno de riso. Bom. Yana preferia que
estivesse ocupado. A sua atenção em relação a Kor havia se tornado óbvia
demais, e isso era uma coisa ruim. Ele era bom em um trabalho e
engenhoso. Não queria ter que matar o Mikkiano por tentar pegar o que era
dela.
Mas iria.
Kor viu a aproximação de Yana e rindo se separou das crianças mais
novas, desejando-lhes boa noite enquanto enlaçava seu braço no de Yana.
Sorriu para aqueles por quem passavam, mas os seus dedos cravaram no
pulso de Yana, numa tentativa de acalmá-la.
— O que há de errado? — Kor perguntou, com a voz baixa.
— Marda me disse que há Jedi em Dalna. — disse Yana.
— Isso não é bom. — disse Kor.
— Não. — Yana concordou. — Precisamos contar à Mãe sobre os Jedi,
agora.
— Ela foi com a minha mãe e o meu pai para o seu confessionário. Há
um novo remédio pra Mãe.
— Bom. — Foi a vez de Yana acalmar Kor, e pegou a sua mão e deu
um aperto suave. — Podemos contá-las juntos. Somos uma equipe, certo?
Todos eles precisam se acostumar com isso.
— Eu sei. — Kor disse, com as suas palavras rápidas. — Quero que os
meus pais gostem de você. Pra gostar de nós. Terão de fazê-lo, se confiarem
em nós pra partirmos juntas algum dia.
— Você ainda quer? — Yana tentou não deixar a saudade entrar em sua
voz. Kor os fez parar. No escuro, a Nautolana apareceu um pouco, mas era
uma força reconfortante. Yana não gostava de se sentir confortável com
ninguém, exceto Kor. Kor se inclinou e a beijou suavemente. — Vou sentir
falta deste lugar. Odiei perder o nascimento, e poderíamos ter perdido a
cerimônia de batismo se as coisas não tivessem corrido tão bem hoje. A
Força deve ser livre e eu também quero ser livre. Iremos aonde quisermos e
ainda faremos parte da Trilha. Atravessar a galáxia com a Força.
Yana não disse mais nada enquanto continuavam andando, mas as
palavras de Kor haviam perturbado algo profundo em o seu interior.
Quando elas deixassem Dalna, como haviam falado sobre fazer por meses,
elas iriam embora pra sempre. Pelo menos era assim que Yana via. Não
haverá mais Trilha. Não haverá mais Força. Como Kor aceitaria isso?
Yana não tocou no assunto, pois haviam chegado à morada da Mãe.
Tinha sido uma vez uma pequena casa de campo, sua casa quando veio pela
primeira vez para a Trilha, construída por um Weequay que havia morrido
de uma doença debilitante algum tempo antes. Mas depois de sua visão, um
túnel havia sido construído da casa para o sistema de cavernas que ficava
sob as terras da Trilha, e agora a pequena cabana não passava de uma
entrada glorificada.
Dois dos lacaios do Arauto, um humano de constituição vigorosa
chamado Qwerb e um Wookiee igualmente vigoroso chamado Jukkyuk,
estavam parados na porta. Eles fizeram meias reverências para Yana e Kor
antes de abrir a porta da cabana e o que antes era a sala de estar principal, a
escada para o confessionário da Mãe no outro extremo da sala.
Yana e Kor desceram em silêncio, o ar esquentando à medida que
desciam.
Vozes ecoavam até eles lá de baixo, ininteligíveis quando ricocheteavam
no estreito corredor de pedra. Quando chegaram ao corredor, as vozes eram
identificáveis, mas as palavras ainda eram distorcidas. Yana tocou Kor no
braço e, ao ver a sobrancelha erguida da Nautolana, Yana apontou para um
pequeno recanto perto da entrada da sala de audição, um que elas
conheciam bem.
Elas descobriram o recanto quando fugiam para ficar sozinhas. A
privacidade não era tão facilmente encontrada na Trilha da Mão Aberta,
pois tudo era feito comunitariamente. Yana pressionou Kor na alcova,
estendeu as duas mãos para a mandíbula da Nautolana e a beijou com força.
Era tão bom provar e tocar assim. Deixou uma mão deslizar pra cima e
enrolou os dedos ao redor da base de uma das gavinhas da cabeça de Kor.
Kor estremeceu.
Houve o som inconfundível de um pigarro por perto, e Yana se
assustou. O Arauto olhou pra ela e Kor, com uma expressão confusa em o
seu rosto.
— E eu aqui pensando que vocês eram adultas. — ele disse, em voz
baixa. — não crianças que aproveitaram todas as oportunidades para fugir.
Yana deu ao Nautolanano mais velho um sorriso cheio de dentes
enquanto Kor abaixava a cabeça com a recriminação. O Arauto apenas
enfiou as mãos nas dobras de seu manto, e Kor e Yana o seguiram enquanto
ele caminhava o resto do caminho até o confessionário da Mãe.
O quarto era uma das melhores cavernas. Seco e quente, cheirava a terra
e lompop seco, flores silvestres perfumadas da superfície do planeta. As
estalactites e estalagmites estavam profundamente enraizadas em depósitos
naturais de opala do sol e assim retinham e refletiam a luz em um brilho
azul. Tapetes grossos e almofadas macias em tons de cinza e azul faziam
com que o espaço parecesse relaxante e acolhedor. A Mãe se sentou em um
dos travesseiros com a mãe de Kor, Opari, reclinada com a cabeça no joelho
da Mãe. A Mãe acariciava com a mão a pele verde clara da testa de Opari,
com os cabelos da mulher Nautolana presos sobre um ombro. Ela parecia
estar dormindo e o seu rosto estava relaxado. O seu peito subia e descia
suavemente.
Embora Opari não fosse a mãe de Yana, era bom vê-la indo bem.
Poderia ficar fora da água salgada de seu tanque de terapia apenas por
curtos períodos de tempo. E mesmo quando estava fora do tanque,
raramente estava lá, com a sua mente danificada pela doença devastadora
que a atingiu repentinamente alguns anos antes. Assistir Opari ficar doente
foi o motivo pelo qual Kor originalmente falou em ir embora. Ela pensou
que era possível que houvesse uma cura para a doença de sua mãe, uma que
a Trilha não havia buscado porque achava que a Força iria intervir. Em
Dalna, tudo o que estava disponível para Opari eram chás e meditação. Até
que, no ano anterior, a Mãe teve uma visão da Força sobre um tratamento
específico, que ela convenceu o seu melhor benfeitor, Ragnar Pulip, a pagar.
Disse que a Força queria que Opari se curasse.
O lado desconfiado de Yana preocupava a Mãe, talvez até a própria
Força, apenas procurava garantir o apoio do Arauto. Mas
independentemente disso, Opari estava muito melhor, então talvez no final
isso não importasse muito.
— Mãe. — o Arauto entoou com uma reverência. A Mãe sorriu
lindamente. Foi quando Yana percebeu que a outra mão da Mãe, que não
estava na testa de Opari, repousava sobre uma estranha joia redonda de
algum tipo. Redondo, brilhando em um roxo estranho.
Kor observou a joia com o fantasma de uma carranca. Mas obviamente
desviou o olhar e se ajoelhou ao lado de sua mãe.
— Mãe. — ela disse, e pegou a mão de Opari.
— Obrigado por seu trabalho, Yana Ro e Kor. — disse a Mãe.
— A adaga que você liberou está guardada com segurança com os
outros artefatos.
— Você abriu? — Yana perguntou.
— Brevemente. E então recarregamos o dissipador de energia para
mantê-lo o mais contido possível.
Yana assentiu.
— Ótimo, porque tenho más notícias.
Todos os olhos se voltaram para ela. Os olhos escuros da Mãe se
arregalaram, mas sua expressão permaneceu aberta. Ela acariciou a grande
joia redonda casualmente.
— Diga, minha criança.
Yana limpou a garganta.
— Existem Jedi em Dalna.
Kor assentiu e o Arauto cruzou os braços, a notícia desgastando a sua
compostura.
— Quantos?
— Um jovem e a sua professora, pelo que Marda me disse.
A Mãe fechou os olhos.
— Eu vi uma nave chegar, um dia após a eclosão dos ovos Kessarine.
Mas foi uma das muitas visões, e até que a Força me revele a sua vontade,
há pouco para compartilhar.
— O outro esquife no estaleiro deve ser deles. O legal. — disse Kor. —
Então eles chegaram a Dalna antes de garantirmos o artefato de Porto
Haileap.
— Eles podem não estar aqui por nós. — a Mãe disse, com o seu olhar
vagando para o orbe violeta brilhante ao lado de seu joelho. — Mas
devemos manter a nossa atenção neles.
O Arauto disse:
— A Força mostrará a você o que precisamos saber.
Yana disse:
— Marda disse que o garoto estava fazendo truques no mercado.
— Ah. — a Mãe disse. — Então a Força ficará desequilibrada.
De seu lugar nos travesseiros, Opari se virou lentamente. Ela respirou
fundo, sem nenhum ruído audível em seus pulmões.
Kor sorriu e apertou a mão de sua mãe.
— Devemos enviar alguém a Ferdan para acompanhar os Jedi. — disse
o Arauto. As suas mãos se fecharam em punhos e uma expressão feroz
torceu o seu rosto. Mas ele se agachou atrás de sua esposa e a ajudou a se
sentar.
A Mãe soltou Opari e colocou o estranho orbe em o seu colo. Parecia
pesado, e a Mãe o colocou com muito cuidado.
— Eu disse a Marda para convidá-los aqui. — disse Yana, percebendo
que os olhos de Kor também foram atraídos para o orbe.
O Arauto sibilou surpreso.
— Por que você faria uma coisa tão tola a ponto de convidá-los para
nossa a casa?
— Porque qual a melhor maneira de descobrir o seu verdadeiro
propósito aqui e mostrar a eles que não temos nada a esconder? — Yana
disse. — Se pudermos mostrar a eles que nada mais somos do que
seguidores pacíficos da Força, eles nos deixarão em paz.
— Yana está certa. — a Mãe disse, finalmente desviando o olhar do
orbe.
— Quando mostramos a eles que somos guardiões pacíficos da Força,
eles vão voltar para o que quer que os tenha trazido para Dalna em primeiro
lugar. Nós não temos nada a esconder.
O Arauto fez um breve aceno de concordância e Opari disse:
— Werth. — A expressão do Arauto se suavizou e Yana decidiu que era
um bom momento para se despedir. Ela fez uma meia reverência e se virou
para ir, Kor meio passo atrás.
— Você sentiu isso? — Kor murmurou, com a sua mão segurando o
braço de Yana uma vez que estavam na passagem fora do confessionário.
— Sentiu o quê? — Yana perguntou. Toda a postura de Kor estava
tensa. — Você está bem?
— Não, a joia, aquela que a Mãe tem. — disse Kor com um
estremecimento. Ela estendeu a mão pra trás e juntou as tranças da cabeça,
como se tivesse medo de que elas tocassem em algo ou alguém. — Tem
algo errado nela, Yana. Parece... errado.
Yana e Kor nunca falaram abertamente sobre a capacidade de Kor de
sentir as coisas. Como sua habilidade acrobática inata, era apenas uma coisa
que Yana havia aceitado como verdade. Kor sempre foi aquele que podia
sentir onde um artefato poderia estar escondido, como com o Bastão das
Estações de Hynestia. Havia todo um tesouro cheio de artefatos, mas era
Kor quem sabia o que eles queriam, aquele conectado à Força mais
fortemente.
Yana nunca havia considerado que talvez a sua namorada estivesse mais
ligada à Força do que deixava transparecer, mas agora, com a preocupação
estampada em o seu rosto largo, Yana sabia que tinha que ser verdade.
— É diferente da caixa da adaga? Você também não gostou dela.
— Sim. É... não consigo explicar... — A voz de Kor sumiu, e ela
agarrou o braço de Yana, puxando-a em direção à saída. Não disse nada,
mas os seus frequentes olhares por cima do ombro deixavam claro que o
que quer que ela fosse dizer, ela não queria que a Mãe ou o Arauto
ouvissem.
Foi só depois que saíram da caverna e deixaram pra trás os lacaios do
Arauto que finalmente falou.
— Há algo naquela joia que é... faminta. Yana, eu não gosto disso. Não
pertence aqui. Não quero a Mãe perto daquilo.
Yana não disse nada, mas acenou com a cabeça para Kor antes de
estender a mão para acariciar o ponto sensível na parte de trás do pescoço
da Nautolana, onde as tranças de sua cabeça encontravam a sua cabeça.
— Tenho certeza que vai ficar tudo bem. — Kor se inclinou para o
toque com um som baixo de alívio. — Por que você não fica comigo esta
noite, só até você se acomodar?
— Tudo bem. — disse ela. — Obrigada.
Yana não disse nada enquanto eles voltavam para os seus quartos de
dormir. Também não gostou da joia.
Mas a Mãe, a profetisa da Força, estava claramente apaixonada por
aquilo. Yana se perguntou o quão ruim as coisas estavam prestes a ficar.
Sunshine tomou um gole de água de grãos fermentados e fingiu estar
bêbado. Não foi uma atuação difícil. Era um dos dois humanos na taverna,
então havia apenas uma pessoa para ver através da mentira. Ainda assim,
quando Sunshine desempenhava o seu papel, se entregava a ele totalmente,
então ele se movia lentamente enquanto jogava descuidadamente um par de
dados de dez lados no tapete de jogo rykestra diante dele.
— Que blassssst. — Sunshine disse enquanto os créditos no mapa de
apostas eram varridos pelo crupiê junto com os dados.
— Azar! — disse um Talpini atarracado, com a boca excessivamente
grande virada para baixo, apesar da alegria em sua voz. Ele subiu em uma
caixa vazia para ver a área de jogo e teve que acenar para que alguém
passasse os dados para ele, com os seus braços muito curtos para alcançar o
outro lado da mesa. Ele coçou a barba branca em o seu rosto coriáceo antes
de agarrar os dados e deixá-los rolar em sua mão. — É quase impossível
rolar um nascer do sol na casa do irmão.
— Não é tão rrruuuim assssssim. — disse Sunshine, fingindo enrolar as
suas palavras. — Poderia ter ssssiiiido o nascer da luuuua. Onde está aquele
droide garçom?
— Acho que já chega, meu amigo. — disse o único outro humano na
sala, um homem vestindo o uniforme de um administrador da República,
com um emblema único no ombro, um hexágono cortado ao meio por uma
linha em zigue-zague. Desbravador, pensou Sunshine, estudando a insígnia.
Estava esperando pelo homem, um funcionário do governo de baixo escalão
conhecido como Alonso San Tekka. Havia histórias de que os San Tekkas
eram os melhores Desbravadores que a República tinha, mas não era por
isso que Sunshine estava esperando. O homem também fazia parte de uma
equipe que, segundo rumores, havia planejado uma rota muito lucrativa
para um planeta à beira do Espaço Selvagem, um lugar que a rede de
sussurros em Hon-Tallos dizia ser um paraíso absoluto.
Havia gente que pagaria bem por um mapa do paraíso. Sunshine
conhecia a maioria deles. E devia dinheiro ao restante. Mas mais do que
isso, queria ter certeza de que a rota não era para o seu paraíso, aquele que
mesmo planejou.
— Estou bem. — disse Sunshine, fechando um olho para olhar para o
homem, ainda brincando de estar embriagado. — Obrect, é você?
— Que tal eu comprar um refrigerante e colocá-lo na cama, velhote. —
disse o San Tekka. Sunshine não tinha muitos negócios com os San Tekkas,
mas o homem definitivamente tinha a aparência de família: pele bronzeada,
cabelo escuro e uma carranca que dizia que ele não gostava de perder tempo
com inconveniências. Os San Tekkas eram um bando de pobres, com a
mesma probabilidade de serem funcionários do governo do que contratados
independentes, mas Sunshine ainda os preferia de longe a seus rivais, os
Grafs. Aqueles fllim flamsters eram tão propensos a deslizar uma lâmina
entre suas costelas quanto a lhe vender uma rota navegável.
— Gosto de refrigerante efervescente. — disse Sunshine, apoiando-se
pesadamente em Alonso, forçando o homem menor a se firmar.
— Bom. Vamos tirar você daqui. — disse Alonso, escoltando Sunshine
para fora da taverna. Eles subiram uma escada esculpida para o ar fresco da
noite. A capital de Hon-Tallos era pouco mais que lojas e tabernas nas
docas, mas uma cidade de tendas havia surgido nos arredores da cidade.
Refugiados de Eiram e E'ronoh e a guerra entre os dois planetas estavam
inundando todos os mundos daquele lado da Orla Exterior, Hon-Tallos mais
do que qualquer outro. Cada espaço aberto foi ocupado por suas habitações
improvisadas, e trabalhadores humanitários da República distribuíram
pacotes de rações aos transitantes. Ninguém notou quando o oficial da
República e o seu pupilo embriagado deixaram a entrada enfumaçada da
taverna.
Assim que se aproximaram, Alonso pressionou um cartão de dados na
palma da mão de Sunshine.
— Esperto.
— Negação plausível. — disse Sunshine. — Você está preocupado com
as pessoas rastreando o vazamento até você, mas ninguém jamais
suspeitaria que um bêbado seja um corretor de informações.
Um grupo de pessoas de aparência grosseira se aproximou deles,
implorando em uma mistura de idiomas. Alonso habilmente os conduziu
para longe do grupo, por um beco lateral e de volta às docas. Os mendigos
haviam se tornado uma visão comum e, pela expressão no rosto de Alonso,
ele não tinha intenção de se separar de um único crédito, muito menos
entreter suas histórias de aflição.
— Pensei que você fosse um prospector. — disse Alonso depois que o
beco os cuspiu nas docas bem ao lado de um velho iate de passeio, o
mesmo que Sunshine havia levado para Hon-Tallos. O Scupper tinha um
nome humilde e, como o Sunshine, era facilmente subestimado. Ninguém
esperava que um homem pálido, rotundo e desalinhado usando um macacão
barato fosse algo mais do que um mecânico humilde. E ninguém esperava
que a antiga nave fosse tão bem equipada quanto era.
— Eu uso vários chapéus. — disse Sunshine, tropeçando enquanto
subia a bordo da nave. — E quanto ao resto da descoberta?
— As joias? — Alonso soltou Sunshine e cruzou os braços. — Elas
foram todas perdidas no transporte.
— Eu estava com medo de que você dissesse isso. — Sunshine
suspirou, puxando o blaster de onde estava enfiado na parte inferior de suas
costas. Alonso levantou as mãos em sinal de rendição ao ver a arma.
— Espere, podemos discutir isso. — ele começou, mas era tarde
demais. Sunshine puxou o gatilho, atirando em Alonso bem no meio do
peito. O blaster deixou uma marca de queimadura profunda no material da
camisa do San Tekka quando ele caiu no chão.
— Deezee, preciso de uma limpeza.
O droide saiu da cozinha enquanto Sunshine abria o terminal de dados
enfiado em uma parede, escondido atrás de uma obra de arte de mau gosto
de uma mulher Twi'lek seminua pendurada em uma speederbike. Sunshine
verificou o cartão de dados, com o coração batendo forte enquanto
examinava a rota que havia memorizado. O caminho através do Véu era
complicado, e essas coordenadas não eram. Esta era uma rota direta para
um mundo da Orla Exterior, não as curvas e reviravoltas que Sunshine
esperava.
O seu caminho ainda era único. Sorriu e guardou o cartão de dados em
um de seus cofres. Ainda haviam créditos a serem feitos com essas
informações. Talvez até dos Grafs, amaldiçoem seus corações traiçoeiros.
DZ-23 arrastou o corpo de Alonso para o compartimento de carga.
Sunshine abriria as portas de carregamento assim que saíssem do espaço
aéreo de Hon-Tallos, deixando o corpo de Alonso para as estrelas. Isso não
era algo pelo qual os San Tekkas eram conhecidos? O clã deles amava as
estrelas mais do que tudo, e Sunshine não era um monstro. Até concordou
com a necessidade de sigilo de Alonso, fingindo estar bêbado e perdendo
créditos na mesa rykestra para que o homem não fosse suspeito de vender
rotas não documentadas do hiperespaço. Na verdade, Sunshine era
positivamente filantropo. Deu ao homem uma morte fácil, sem quaisquer
suspeitas ou medos. Havia maneiras muito piores de morrer.
Depois que o DZ-23 limpou o corpo, Sunshine foi para a cabine e ligou
os motores antes de enviar uma mensagem rápida para a Mãe.
— Cuidei do meu negócio. Estou indo conversar com um velho amigo
sobre a sua prima perdido em Jedha. Vejo você em breve.
Sunshine fechou o canal e respirou fundo. Elecia ficaria tão animada
quando descobrisse onde em Jedha a Bastão do Amanhecer estava sendo
mantida. Sunshine levou um momento para imaginar entregando a ela o
bastão, a maneira como o seu rosto se iluminaria quando contasse como
havia conseguido o artefato. Talvez então ela visse o quão importante
poderia ser pra ela.
Ela só tinha que dar uma chance a ele.
Kevmo acordou em um salto. Cedo demais para qualquer coisa além
de meditar. Então se sentou no escuro de seu quarto, com as pernas
cruzadas e abraçando um travesseiro fino. Abaixou as barreiras que
continham a sua percepção da Força. Isso era incomum e ele sabia: a
maioria dos Jedi alcançavam a Força, mas Kevmo tinha de fazer o oposto e
se fechar quando não precisava dela imediatamente.
A Força flutuava através dele, brilhante e poderosa, e Kevmo focava em
regular o fluxo. A sua conexão com a Força era forte, porém errática.
Propensa a explosões e adaptações se não fosse cuidadoso.
Respirando profunda e lentamente, praticava notar os seus sentimentos
e alongá-los em finas correntes para uni-las com a Força. Os arrepios que o
haviam acordado, os desembainhou em antecipação, que gradualmente se
assentou em prontidão. O calor da Força se moveu com a sua pulsação,
usou a respiração para acalmar ambos até que todo o seu corpo estivesse se
sentindo em chamas e formigando um pouco. Kevmo mergulhou fundo, a
sua própria noção de si se alongou em busca de suas emoções até que mal
se lembrava de seu nome, mantendo apenas a consciência suficiente para
reagir quando a porta de seu quarto deslizou se abrindo com um assovio.
Abriu os olhos devagar, não sentindo perigo.
Mestra Zallah ficou lá com apenas uma camada de vestes, sabre de luz
solto nas mãos. Não precisou dizer nada, Kevmo sorriu, ficando de pé em
um pulo. Ela levantou uma das sobrancelhas, ele respirou para manter o
equilíbrio que tinha alcançado. O seu sorriso esmaeceu, e foi pegar a sua
túnica, botas e o sabre de luz.
O formigamento quente da Força continuava, seguiu a sua mestra até o
jardim nos fundos da casa de sua anfitriã senhorita Jara. O céu da manhã
iluminava fileiras de vegetais que cresciam em pequenas caixas e potes de
flores posicionados ao acaso pela sombra. Um pequeno droide com seis
pernas delgadas vagava por entre as fileiras, jorrando água nas folhas.
Havia um pequeno gramado, espaço suficiente para que treinassem se
fossem cuidadosos. Kevmo se alongou ao lado de Zallah, permitindo que a
sua consciência se esticasse até a grama verde azulada e até o céu brilhante.
Seria um lindo dia e eles visitaram a Trilha da Mão Aberta. Veria Marda de
novo, talvez não a assustasse e, quem sabe, até persuadiria um sorriso
naqueles lindos lábios.
O silvo do sabre de luz da Mestra Zallah foi o único aviso de Kevmo:
caiu para o lado, rolou, e se pôs de volta em pé com o seu sabre de luz
erguido. Uma brilhante linha amarela foi invocada na sua visão, um raio de
luz do Sol. O seu pulso acelerou, mas riu enquanto bloqueava o ataque de
Zallah. O sabre de luz azul dela faiscou contra o dele, e ela levantou os
olhos, o encarando com um olhar frio. Estava apenas esperando que se
distraísse para atacar. Kevmo se encolheu com tristeza e se recompôs a
tempo para o próximo movimento de Zallah.
Eles batalharam com movimentos próximos pelo pequeno jardim e
Kevmo não podia se concentrar em mais nada. Zallah era tão rápida e
controlada, que mal conseguia acompanhar, era muito melhor em
movimentos poderosos, se apoiando apenas em entusiasmo e noção de
espaço. Treinar era uma das únicas coisas que acalmavam Kevmo até que
fosse menos como um sol e mais como uma chama pura e singular. Se o seu
corpo não precisasse de coisas como descanso e combustível, poderia
batalhar assim pra sempre.
Zallah forçou ele, usou a força para tirar o seu equilíbrio, golpes
rasteiros, Pequenos truques que pareciam baixos pra ela, mas aprenderia
que ela considerava ferramentas tão importantes quanto os próprios sabres.
Finalmente, ela pediu tempo. Os sóis estavam a pino sobre os muros do
jardim. Desativou o seu sabre de luz. Kevmo imediatamente seguiu o seu
exemplo e se curvou. Ofegava, suado e derrotado.
— Vá se limpar, se fizer isso devagar o suficiente, talvez possamos sair
depois. — ela disse com uma expressão fria, mas com a voz suave o
suficiente para ser irônica.
Kevmo correu para se aprontar.
Não o fizera devagar o suficiente. Mesmo após comer um farto café da
manhã de ovos mexidos cor de rosa locais sobre um mingau de grãos
escuros enquanto gentilmente batia em um muro de flerte com a senhorita
Jara. Kevmo ainda tinha que acalmar os seus calcanhares, que se
apressavam para a porta da frente, até que já fosse tarde o suficiente pela
manhã para que fosse apropriado responder ao convite. Mestra Zallah
enrugou a pele ao redor de seus olhos lavanda gelados com outro revirar de
olhos quando o encontrou brincando com um droide carteiro. Este havia
passado com uma entrega para a senhorita Jara. Kevmo o persuadiu em um
jogo de memória, que adorava jogar com droides porque quase nenhum
deles tinha qualquer senso de humor.
Com a expressão de Mestra Zallah, Kevmo deixou o droide ir com um
agradecimento e disse.
— É um bom treino. — Antes de entrar para entregar o pacote de dados
que o droide de correio trouxe para a senhorita Jara.
Então eles saíram, atravessando a cidade em direção ao terreno que
pertencia a Trilha da Mão Aberta.
— Me diga porque está animado. — Mestra Zallah disse depois de
muitos minutos de uma companhia silenciosa.
— Estou com um bom pressentimento. — ele disse imediatamente,
— Não sobre a Trilha da Mão Aberta.
Kevmo fez uma careta, mas só porque sabia que seria facilmente
descoberto.
— Sobre Marda.
Zallah murmurou cética.
Ferdan estava ocupada novamente naquele dia, mas os Jedi passaram
pelo mercado sem parar e saíram da cidade pelo sul. A estrada pavimentada
se tornava de terra conforme eles seguiam por ela em direção ao vale do rio.
O sol brilhava nas árvores tingidas de roxo e havia um zumbido engraçado
que Kevmo acreditava ser de algum tipo de grilo. Ele imaginava se estaria
em Dalna por tempo o suficiente para aprender os nomes dos animais.
— Kev.
Deu uma olhada para Mestra Zallah, que andava graciosamente, com as
mão cruzadas às costas.
— Mestra?
— Por que estamos aqui?
— Pelo Bastão das Estações Hynestiano.
— E porque nós estamos aqui?
A ênfase dela ajudou Kevmo a perceber que ele estava falando dos Jedi
no geral, o que ele fazia na Orla Exterior.
— Explorar e fazer conexões. Nos apresentando para as pessoas para
que possam saber o que somos, o que defendemos, que eles podem nos
chamar por ajuda.
Zallah voltou a murmurar, desta vez com uma aprovação moderada.
Continuou falando.
— É bom conhecermos outro grupo de usuários, bem, não usuários da
Força, mas pessoas que respeitam a força, que se organizam ao redor dela.
Sejam eles ladrões ou não.
— Isso soa como uma razão para considerar toda a comunidade. Para
tentar entender o seu propósito e unidade. Descobrir como eles trabalham
como um todo. — Zallah ponderou.
— Não focando em um indivíduo. — Kevmo disse, entendo o que ela
queria que entendesse.
Meste Zallah tocou brevemente seu ombro. Não se inclinou tanto
quanto desejava.
— As suas emoções são fortes, assim como a sua conexão com a Força.
— Zallah disse. — É bom usar os seus sentimentos para permitir que eles te
guiem através e junto com a Força. Mas não podem deixar os seus
sentimentos usarem você.
— Eu sei. — ele disse. Sabia. Pensou que estava melhorando.
— Hoje, Kev, mantenha os seus sentidos atentos. Use os seus
sentimentos e os seus dons, conforme achar necessário, mas não devemos
usar ativamente a Força a não ser que precisemos. Eles podem ter pessoas
sensíveis a ela. — ela disse. — Senhorita Jara parece achar que eles têm.
Contudo, não é só possível, mas provável que alguém na Trilha da Mão
Aberta que saiba onde o Bastão das Estações está. Eu gostaria de saber não
só onde ele está, mas por que está aqui, se estiver.
— Certo. Se eles roubaram, porque roubaram? E são eles que estão por
trás dos rumores sobre um comprador de artefatos relacionados à Força
aqui?
— Eles pegaram mais alguma coisa? O que estão planejando? — Zallah
adicionou.
Kevmo assentiu. Foi bom ter meditado aquela manhã e já estava se
sentindo balanceado consigo e com a Força. Isso tornaria mais fácil ser
discreto. A não ser que algo o perturbasse.
Claro, no momento que ele viu Marda esperando por eles do lado de
fora da fronteira do complexo da Trilha, Kevmo percebeu que seria mais
difícil do que o normal para permanecer em equilíbrio. Ela ficou parada,
uma esbelta coluna cinza e azul contra um rosa vibrante, roxo, verde dos
campos Dalnanos que se desenrolavam à frente dos portões do complexo.
Mesmo que a metade do cabelo preto estivesse afastado do rosto dela,
as pontas voavam com a briza, tingidos do mesmo azul que ondulava nas
três linhas em sua testa. Kevmo pensou que ela estava linda e quis correr os
dedos pelos lustrosos fios de seus cabelos, ou segurar a sua mão.
Ele estava encrencado.
Engolindo a explosão de emoção, respirou cuidadosamente pelo nariz,
se lembrando que era um Jedi, estava ali para conhecer a todos na Trilha e
recuperar um artefato da Força roubado. Ele poderia se importar sem se
apegar. Deveria ser simples.
— Marda. — ele disse, incapaz de evitar o calor em sua voz. Ele parou
quando a Mestra Zallah parou e se curvaram juntos.
Marda retornou o gesto e virou as palmas das mãos para cima.
— A Força será livre. — ela murmurou. Então com os seus olhos
negros fixados em Zallah ela disse. — Bem vindos a Trilha da Mão Aberta.
— Obrigada, Marda Ro. — Mestra Zallah disse. — Ficamos felizes e
honrados por ser recebidos por outros filhos da força.
Marda pareceu relaxar um pouco com as palavras de Zallah e
finalmente olhou para Kevmo. Não sorriu, mas Kevmo sim. E disse.
— Essa é a Cavaleira Jedi Zallah Macri, a minha mestra.
— Sua... ah, você ainda é um aprendiz? — Marda piscou.
Kevmo bufou um pouco, e mesmo que Zallah houvesse tremido, sabia
que ela havia adorado.
— Sou. — ele disse. — Não me importaria se eu sempre fosse trabalhar
com a Mestra Zallah. — ele acrescentou com ousadia.
Por um momento, os lábios de Marda se separaram, mas ela não disse
nada até se virar abruptamente para gesticular em direção ao portão aberto.
— Por favor, por aqui. Vou mostrar o complexo e apresentá-los para
alguns de nossos anciões.
Mestra Zallah gesticulou para que Kevmo passasse a sua frente pelo
portão, o que o colocava perto de Marda. Deu pulo a frente para andar ao
lado dela. Marda o fitou de canto de olho, por mais tempo do que o
esperado, e Kevmo sorriu.
— Estivemos aqui, a Trilha esteve aqui, por mais de cem anos. — ela
disse aos dois. — Começamos com uma punica pessoa, crescemos para
uma família, e eventualmente uma comunidade. Somos auto sustentáveis,
mesmo que alguma vezes troquemos com Ferdan, e aceitamos presentes.
— Presentes dados livremente. — Kevmo disse.
— Isso. — Marda os conduziu pelo perímetro. As fronteiras do
complexo eram marcadas por eventuais postes de metal postos em
pequenos pedregulhos rosados. Nada que manteria ninguém fora, só
delineando o seu território. Kevmo achou difícil acreditar que eles poderiam
fazer algum mal ou que fossem responsáveis por roubar itens de valor como
o Bastão das Estações de pessoas poderosas e não ter nenhuma segurança.
Mas talvez fosse isso que eles quisessem que estranhos pensassem.
Enquanto Marda levava eles pelos campos verdejantes e o que pareciam
ser híbridos de frutinhas bink, ela explicava que cultivavam pouco, apenas o
que não podiam coletar e dependiam de suas próprias mãos e da vontade da
Força. Era verdade: enquanto várias pessoas em trajes cinzas cuidavam das
fileiras de vegetação, não havia nenhum droide de irrigação à vista, ou
qualquer tecnologia mais sofisticada do que uma mangueira.
— Por que não usar ferramentas melhores, como droide ou talvez
fertilizantes? — Kevmo perguntou.
Marda sorriu um pouco.
— Nós temos alguns fertilizantes, naturais e coletados dos nossos
musgos ghoat. Mas os droides e tais tecnologias interferem com a nossa
harmonia com a Força.
— Como?
— Qualquer tecnologia desconectada da vida é desconectada da Força.
Quando necessário, claro, não a rejeitamos, as naves para transporte,
purificadores, máquinas que podem fazer coisas que não podemos, mas
quando não é necessário, para cultivar por exemplo, não há razão para usá-
la.
— Mesmo que isso faça a sua vida melhor.
— Melhor ou mais fácil? — Marda o desfiou.
Kevmo piscou.
— Mais fácil, suponho. — ele disse, e olhou de volta para Mestra
Zallah, que assentiu para indicar que não se incomodava com a concessão
dele.
O sorriso de Marda aumentou.
Ela continuou falando enquanto iam em direção ao rio e a colmeia de
celas que abrigavam os membros da Trilha. Eram pequenas, mas isso não
surpreendeu Kevmo. Ela explicou como foram construídas, como eram
compartilhadas, bem como os vários níveis de associação que as pessoas
desfrutavam na comunidade, desde os Pequeninos até o Conselho Ancião e
o seu líder, o Arauto. Ela explicou que haviam mais câmaras subterrâneas,
mas não os convidou para ver os níveis subterrâneos. Eram para os
membros da Trilha, especialmente os recém-nascidos e os mais velhos, que
se beneficiavam da regulação da temperatura. Quando Marda mencionou
que a Mãe falou das cavernas abaixo do solo como presentes da Força e de
Dalna para a Trilha, Mestra Zallah falou pela primeira vez.
— A Mãe? — Zallah inquiriu friamente.
A expressão de Marda mudou para algo ligeiramente reverente.
— A Mãe veio até nós há alguns anos, como uma simples refugiada, até
que foi revelado que a sua relação com a Força é tão harmoniosa, tão clara,
ela tem visões de sua vontade, e o seu jardim... — Marda fez uma pausa
para respirar como se ela mal pudesse acreditar. — O seu jardim floresceu
durante uma noite, cheio de frutas e flores o suficiente para alimentar todos
na Trilha com uma refeição.
— Uma profeta. — disse Zallah.
— Sim. A sua visão revitalizou a Trilha nos últimos anos, e a direção...
— Marda fez uma pausa novamente, desta vez parecendo se controlar como
se não tivesse certeza se deveria continuar.
Kevmo e Mestra Zallah esperaram, e Kev estendeu a mão para tocar
delicadamente os nós dos dedos nas costas da mão dela. Apenas para
incentivá-la.
Marda olhou para a mão dele, depois para ele.
— Estamos mais ativos do que costumávamos ser, com a orientação da
Mãe.
— Como assim?
— Alcance. — Marda continuou andando. — A Mãe envia os seus
Filhos a mundos diferentes, do outro lado da Orla, para compartilhar a
Trilha da Mão Aberta e convidar as pessoas a se juntarem a nós. Eles
tiveram sucesso em nos trazer benfeitores. Vou te mostrar.
Marda os conduziu para longe do aglomerado de prédios até os
arredores do complexo. Enquanto caminhavam, Kevmo cuidadosamente
abriu os seus sentidos. Esteve sintonizado com a Força durante todo o
passeio, mas reprimido quando estava mais perto de outros, como os
fazendeiros e alguns membros da Trilha que passaram perto das celas de
habitação. Manteve em mente a advertência de Zallah de que a Trilha
poderia ter membros sensíveis à Força. O que parecia que essa mãe tinha
que ser. Kevmo não sentiu nada de estranho... esta era apenas uma grande
fazenda, e Marda era absolutamente sincera até onde Kevmo podia dizer.
Sincera e apaixonada por sua casa. Isso deixou Kevmo ainda mais ansioso
para continuar conversando com ela, e ele desejava compartilhar a sua
própria paixão pela Força, mesmo sabendo que ela discordava
veementemente de seus métodos. Ele queria saber por quê. Exatamente o
que a fez... a Trilha... acreditar que manipular a Força faria mal?
Chegaram ao que parecia ser uma pequena pedreira, com potes de pó de
plastóide e moldes para algo grande, como um templo.
Marda se virou pra eles com um sorriso orgulhoso.
— Isso fará parte da Olhar Elétrico, a grande nave da Mãe que será o
lar da Trilha entre as estrelas quando estiver concluída. O que deve ser em
breve.
Nada disso parecia muito com partes de uma nave para Kevmo, mas
sorriu.
— Parece que será única.
— Um santuário para a Força, movendo-se pelo espaço. — disse
Marda.
— Um santuário. — disse Zallah, movendo-se em direção a um dos
pilares arqueados. — Para a Força. Você quer dizer para usuários da Força?
Artefatos?
Kevmo lançou um olhar para a sua mestra. Ela estava estudando Marda,
que disse:
— Para a Trilha. Temos alguns artefatos, suponho que podem ser assim
chamados. Nos níveis subterrâneos, onde não podem fazer mal. E haverá
um cofre na nave. Itens com uma forte conexão com a Força são tentadores
para as pessoas usarem, e perturbam a harmonia e clareza da Força... sem
falar na liberdade. E a Força deve ser livre.
— Esta nave foi ideia da Mãe? — Mestra Zallah perguntou.
— É a vontade da Força. Mas a Mãe nos explicou, e todos os Anciões
acharam maravilhosa. E os benfeitores foram generosos. Os Filhos poderão
expandir o seu alcance até lá.
— Você vai se juntar a eles? — Kevmo perguntou, esperando distrair
Marda das perguntas incisivas de Zallah.
Os seus lábios se separaram, e podia apenas ver as pontas afiadas de
seus dentes.
Ela olhou pra baixo e disse timidamente:
— Eu gostaria, mas não tenho certeza.
— O meu trabalho é em Dalna, com os Pequeninos. Kevmo a estudou,
incapaz de desviar o olhar. — Eles pareciam adorar você, ontem. — Foi um
risco, lembrá-la do dia anterior e da separação muito abrupta. Mas manteve
a voz suave, sentindo-se bastante caloroso com a coisa toda, e ficou perto.
Mas Mestra Zallah disse:
— Gostaria muito de conhecer a sua Mãe.
Marda se afastou de Kevmo.
— A Mãe está em comunhão com a Força em sua caverna particular
hoje. Mas esperando por nós no jardim comunal com ponche de Povo estão
o Arauto e vários de nossos Anciões com quem vocês estão convidados a
conversar.
— Muito bem. — disse Zallah. — Por favor, mostre o caminho.
Marda evitou olhar com muita frequência para Kevmo Zink enquanto
mostrava a ele e a sua mestra a Trilha. A atenção dele permaneceu
concentrada nela, e ela se sentiu ao mesmo tempo animada e constrangida
com isso.
Depois de trazê-los para o jardim comunal, onde o Arauto esperava com
o Velho Waiden e Aris Ade, uma mulher humana de costas eretas, mas
antiga, com pele bronzeada e cabelos brancos como a neve, a Cavaleira Jedi
curvou-se para os Anciões de rosto azul e sugeriu que talvez que os jovens
poderiam continuar a caminhada e deixar os adultos se sentarem à sombra.
Marda não achava que a Jedi Zallah Macri precisava de um lugar na
sombra... Não podia ser muito mais velha que a Mãe e era uma guerreira...
mas Kevmo sorriu com entusiasmo, e a Anciã Aris os conduziu embora.
— O que mais você gostaria de ver? — ela perguntou.
Kevmo cantarolou pensativo, então sorriu pra ela.
— Qual é o seu lugar favorito?
Imediatamente pensou na cela ninho. Ele gostaria dos bebês Kessarine,
mas não podia levá-lo até lá. O seu segundo lugar favorito, no entanto... lá
poderia levá-lo.
— Por aqui. — disse ela, e o conduziu em direção ao rio.
O sol a aqueceu enquanto caminhavam, e uma ou duas vezes as costas
de sua mão roçaram a dele. A primeira vez que uma flor de lompop estalou
quando eles passaram, Kevmo se assustou, depois riu e se inclinou para
inspecionar a pequena pétala rosa.
Percebeu a sua óbvia curiosidade e explicou que o barulho tinha a ver
com a umidade do ar. Ele sorriu pra ela, com os olhos amarelos brilhantes.
Marda queria tocar as tatuagens em sua bochecha.
— Venha. — disse ela, sem muita certeza, e continuou pelo caminho
estreito. Não deve se permitir relaxar perto de alguém tão propenso a abusar
da Força.
Kevmo correu atrás dela. Tentou não se sentir mal. Depois de um
momento, ele disse:
— Há quanto tempo você está aqui?
Considerou dissuadi-lo respondendo sobre a Trilha em si e Sachar Rold,
mas ela já havia dito isso a ele e, além disso, não havia outra razão além de
seu nervosismo para ser má.
— Desde muito pequena. Não me lembro de nada antes de Dalna e a
Trilha. Minha prima Yana lembra, pouco, e ela diz que algo terrível
aconteceu com a nossa família. Mas não fomos abandonados aqui. Era a
vontade da Força.
— Lamento que tenha sido horrível, no entanto. — disse Kevmo. —
Mesmo que você não se lembre.
— É típico dos Evereni. — disse ela, só para tirar isso do caminho
também.
— Evereni. — Ele disse devagar. Sem qualquer tipo de inflexão. —
Esse é o seu povo?
Marda assentiu, os olhos erguidos além dos salgueiros vermelho
púrpura à beira do rio, em direção ao trio de vulcões ao longe.
— Há tantas pessoas aqui na Orla Exterior. — disse Kevmo. — Não sei
nada sobre muitas delas. Mas eu quero.
— Você não ouviu falar dos Evereni?
Ele encolheu os ombros. Várias tranças pretas deslizaram ao redor de
seu ombro para cair em suas costas.
— Eu gostaria de ter ouvido falar, se vocês são todos tão bonitos.
Marda engasgou com o flerte descarado, e Kevmo estremeceu um
pouco, rindo de si mesmo.
— Desculpe. — disse ele.
Timidamente, Marda sorriu de volta. Mas não o suficiente para exibir os
seus dentes. Precisava se lembrar que ele era perigoso, não importava o
quanto ele flertasse e o quanto gostasse dele, ou o quão fácil ele fosse estar
por perto. Ele era Jedi e feriu a Força. Marda sentiu o seu sorriso
desaparecer. Kevmo também, e ele disse:
— Perdi a minha família biológica antes que pudesse formar fortes
lembranças deles também. Foi um acidente, e eu fiquei sozinho por um
tempo; Eu só me lembro de estar frio, e a luz estava oscilando como que
através da água. Mas então a vontade da Força me levou até os Jedi.
Marda sabia o que ele estava fazendo. Fazendo a mesma história deles...
ele foi salvo pelos Jedi, ela pela Trilha. Mesmo que pudesse ver através
disso, não se importava. Era reconfortante. Depois de um momento de
silêncio em que se observaram e Marda se perguntou se estariam pensando
exatamente a mesma coisa, se virou.
Perto do rio, saiu do caminho para o trigo azul na altura do joelho, com
as suas sementes peludas sussurrando contra as suas vestes. Kevmo veio
atrás dela, e algumas das sementes grudaram na barra marrom e dourada de
suas vestes.
Conduziu-o ao redor de um afloramento de pedras de granito até a
árvore do nascer do sol. O seu esbelto tronco branco se arqueava pra cima e
os seus galhos choviam em círculo, compridos e luxuosos com minúsculas
flores escarlates. O chão ao redor estava coberto de pétalas vermelhas,
sopradas em padrões rodopiantes pela brisa.
— Uau. — disse Kevmo. — Tantas flores.
— Todas caem ao meio-dia e rebrotam à noite. Ao amanhecer, todo um
novo conjunto de flores florescerá nos galhos. Todos os dias, durante a
primavera e o verão. — Marda entrou na faixa vermelha. Ela se curvou e
pegou algumas flores, algumas inteiras, outras apenas pétalas. Elas
flutuaram de suas mãos, caindo entre seus dedos. — A árvore dá tanto de si,
todos os dias. Grande parte de sua energia é gasta em nada mais. Se as
flores não são coletadas ou comidas, elas apodrecem rapidamente. Esse é o
cheiro doce. As flores são feitas para serem tomadas, usadas, comidas...
apreciadas.
— Este é o seu lugar favorito. — murmurou Kevmo, agachando-se ao
lado dela. — Entendo. Você é igualmente generosa, sabia?
Marda riu baixinho.
— Não sou.
— Você dá e dá... eu já vi. Presentes dados livremente.
— É a Trilha.
— Acho que é você. — respondeu ele. Os galhos vermelhos
balançavam ao redor dele, e a luz do sol manchado lançava uma luz
vermelha brilhante entre eles. Marda não pôde evitar: estendeu a mão e
encostou dois dedos nas linhas de ouro tatuadas na bochecha direita dele. A
sua pele estava quente.
Kevmo se acalmou. Os seus olhos brilhantes cravaram nela, e Marda se
sentiu muito exposta. Entregou-se quando o tocou.
Cuidadosamente, puxou a mão para trás. Kevmo estendeu a mão pra
ela, no entanto, e a pegou.
— Posso sentir a Força aqui. — disse ele.— É forte. Este planeta é forte
nela. Talvez por causa da Trilha, talvez seja natural. Eu... eu me pergunto se
você acha que a Força se entrega a mim, e talvez queira que eu a use.
Marda não tirou a sua mão da dele, mas baixou o olhar para as pétalas
caídas.
— Eu... não consigo imaginar. Mesmo se você usá-la pelas melhores
razões, ainda terá consequências. Salve alguém aqui, e quem sabe que mal
ocorre em outro lugar.
Os seus dedos apertaram os dela.
— A Força não é um jogo de soma zero.
— É muito mais do que isso.
— Sim, é. — sussurrou Marda.
— Fico feliz que possamos concordar em algo. — disse Kevmo, a
provocação voltou à sua voz.
Mas Marda sentiu-se triste e frustrada.
— Se você pudesse se afastar de sua necessidade de manipular a Força,
se você pudesse se afastar da idéia egoísta de que ela quer ser usada, então
você poderia realmente entender o quanto a Força pode ser.
Kevmo a soltou e ficou de pé, como se precisasse se mover para falar.
— A Força não é só algo que existe. Não deve ser ignorada. O sol é
quente, certo, a luz do sol? Parece que está em toda parte, no ar, e provê
vida... aqui em Dalna, o planeta precisa de seus sóis. Toda a vida precisa.
Não só para aproveitar o calor, mas para usá-lo, para transformar a energia e
torná-la vida. As plantas usam a luz do sol, mas a luz do sol não é
prejudicada.
— As flores não alcançam e tiram energia da luz do sol e, portanto,
privam outras flores desse sol. — disse Marda, sabendo que a metáfora
estava saindo do controle, mas não tinha sido boa em primeiro lugar. se
levantou e o encarou.
Kevmo fez uma careta e puxou a pequena trança logo abaixo da orelha.
— Você não pode privar alguém da Força, não assim. Eu usá-la não a
tira de outro lugar. A única maneira de ser cortado da Força é fazer isso
consigo mesmo.
— Certamente existem vazios da Força. Se há lugares como Dalna que
são vívidos na Força, devem haver lugares sem ela. Se a Força pode ser
imbuída em algo, o oposto deve ser verdadeiro.
Embora ele quisesse discordar, muito claramente, Marda viu que ele não
podia. Estava feliz por ele não mentir pra ela, mesmo que isso pudesse
ajudar o seu argumento. Estendeu a mão novamente, suavizando a sua
expressão.
Kevmo deixou que ela pegasse sua mão de volta. Ele disse:
— Eu acho que a Força está ativa. Não é estática, mas nos afeta e a toda
a vida no universo, sejamos sensíveis a ela ou não. Dá, certo que dá, de
inúmeras maneiras.
— Sim.
— E a Trilha encoraja viver em harmonia com a Força. — O polegar
dele escorregou contra os nós dos dedos dela, e Marda lutou contra um
arrepio.
Eles estavam tão perto.
— Sim.
— Como você vive em harmonia com algo, se você não se relaciona
com ele? A harmonia não é um equilíbrio? Dar e receber?
— Não pegando. Apenas dando. — disse ela imediatamente. — Dar e
dar: você me dá um sorriso, eu o retribuo. Não tomamos nada um do outro,
mas estamos em harmonia.
— Você se sairia bem discutindo no Templo Jedi. — disse ele mal-
humorado. Isso foi fofo.
Marda hesitou.
— Acho que não. Não gosto de discutir.
— Você é muito boa nisso para alguém que não gosta.
— Talvez eu não me importe... quando é com você. — ela terminou sem
fôlego, impressionada com a sua ousadia.
Os dedos de Kevmo se apertaram ao redor dos dela. Desta vez, quando
ele sorriu, foi lento e gentil. Marda não hesitou em retribuí-lo. Estava
conseguindo chegar até; sabia disso.
— Devo levá-lo de volta. — disse ela baixinho, embora não quisesse
quebrar a bolha vermelha brilhante que eles criaram sob a árvore do nascer
do sol.
— Você deve estar pronta para o almoço. — Eu poderia comer. —
concordou ele, com a alegria inundando a sua expressão.
Juntos, eles vagaram de volta pela estrada para o complexo.
Ao se aproximarem dos primeiros prédios, Kevmo disse:
— Você mencionou antes que você... que a Trilha... tem artefatos da
Força. Você sabe se os Filhos os procuram, em suas viagens para fora do
mundo?
Marda franziu a testa para tentar disfarçar a sua surpresa com a pergunta
direta.
Não queria mentir; esse era o seu próprio tipo de tomada.
Cuidadosamente, ela disse:
— Por que o fariam? Só podemos aceitar um artefato que for dado
livremente... e se tal coisa deve estar conosco, se a Força o quiser, então
encontraria o seu caminho aqui. — Marda sabia que os Filhos estavam
levando os artefatos, e nunca se sentiu confortável com a ideia, mas era a
vontade da Força. A Mãe tinha visto isso.
Eles não estavam tirando da Força em si, afinal. Apenas de pessoas que
iriam usá-la.
— Encontrar a seu caminho... — Kevmo fez uma careta que Marda não
conseguiu ler. — E se vocês adquirissem um, nunca o dariam a mais
ninguém.
— Não se fosse parte da Força. Gostaríamos de mantê-lo seguro,
impedi-lo de ser usado... e causar danos. — Marda parou. Hora de partir
para a ofensiva. Ela puxou a sua mão da dele. — Esse é o verdadeiro
motivo de você estar aqui? Você acha que temos algo, e você quer.
Kevmo fez uma careta.
— É parte do motivo... não o único motivo real, Marda. — Ele disse o
nome dela um pouco desesperado. Ela queria mostrar os dentes para ele,
desembainhar as unhas afiadas. — Estamos procurando algo que foi
roubado de...
— Roubado! — Marda gritou. Ela recuou. — Não roubamos nada. Nós
não tomamos, Kevmo. — Ela se virou, com o estômago doendo.
— Eu sei. — Ele estendeu as mãos, quase parodiando o gesto de palma
aberta da Trilha.
Marda curvou os lábios ligeiramente pra trás e sentiu o ar frio em seus
dentes.
— Marda. Espere. Eu sinto muito. Estou aqui porque queria aprender
sobre a Trilha, prometo. E queria ver você. O resto é... o meu trabalho. Eu
sirvo a Força, através dos Jedi. Você entende isso, não é? Engolindo a sua
onda de raiva... e culpa... Marda olhou para o seu rosto suplicante. Ela
assentiu uma vez. Claro que ela se permitiu acreditar que conquistá-lo
poderia ser tão fácil quanto uma caminhada e uma discussão.
— Se vocês não têm o artefato que estamos procurando...
— Não temos. — disse ela com a mandíbula tão tensa que os seus
dentes doíam.
Kevmo assentiu.
— Então vamos continuar procurando. Nós... não ficaremos em Dalna
por muito tempo.
A dor súbita com o pensamento a fez pegar a mão dele novamente.
Eles entrelaçaram os dedos. O pulso de Marda disparou. Na palma da
mão, onde tocou a dele, quase sentiu o calor, um peso real, como a luz do
sol sobre a qual ele estava falando. Não queria soltá-lo.
Sempre. Esse sentimento era tão avassalador, não poderia ser outra
coisa senão a Força, com certeza.
No entanto, não havia nada que pudesse dizer, então Marda o puxou
junto a si. Ele também permaneceu estranhamente quieto.
Na horta comunal, os Anciões e a Cavaleira Jedi permaneceram na
sombra do celeiro de armazenamento, bebendo ponche de povo. Marda
serviu a si mesma e a Kevmo um pouco, e Kevmo contou a sua mestra
sobre a árvore do nascer do sol enquanto os Anciões balançavam a cabeça
em aprovação. Então o Arauto se levantou, precisando estar em outro lugar,
e os Jedi se despediram.
Marda e a Anciã Aris Ade os levaram para fora.
— Obrigado pela hospitalidade. — disse Zallah Macri, curvando-se
sutilmente para Aris. — Somos gratos por termos aprendido mais sobre a
Trilha da Mão Aberta.
— E também estamos felizes em conhecer os nossos amigos da Força,
— Aris Ade disse em sua voz estridente, mas forte.
Suavemente, Kevmo disse:
— Marda. — Ele se curvou. Ela abriu as mãos, com as palmas para
cima, e devolveu a reverência, sem desviar o olhar. Os seus lábios se
separaram, mas ela não sabia o que dizer.
Relutante, Kevmo se afastou com a sua mestra. Trocaram um olhar, mas
não falaram até que estivessem longe demais para que Marda pudesse ouvir.
Em vez de se mexer, Aris Ade disse:
— Você está indo bem, Marda-chi. — acrescentando um diminutivo de
seu mundo natal. — Crescendo forte e capaz.
— Eu gostaria de ser tão confiante quanto a Mãe com os outros um dia,
— Disse Marda. Ela precisava se livrar dessa culpa. Não devia nada a
Kevmo. E à Mãe, a Trilha, a todos eles. O que os Filhos fazem era certo; era
praticamente sagrado. A Força deve ser livre.
Aris murmurou, e o desagrado em o seu tom fez Marda olhar
bruscamente. Aris disse:
— Você deveria se esforçar mais.
— Mais? — Marda franziu o cenho. — A mãe...
A Anciã colocou o braço em volta dos ombros de Marda.
— Você é boa, Marda Ro. Tenha isso em mente.
Parecia que a Anciã havia sugerido que a Mãe não era boa.
O que a Cavaleira Jedi poderia ter dito para semear tais dúvidas?
A barriga de Marda parecia arder em chamas. Olhou para Ferdan pela
longa estrada, furiosa por querer que eles voltassem, por ainda sentir o
fantasma do toque de Kevmo em sua pele.
— Os Jedi. — ela começou calorosamente.
— São interessantes, não são? — A Anciã Aris devaneou,
despreocupada com a jornada emocional de Marda.
— Eu... sim. — disse Marda. As suas unhas coçavam para arranhar algo
grosso.
Segurou o desejo, respirando fundo.
— Nos tornamos melhores lidando com eles. A nossa crença fica mais
forte quando ouvimos e desafiamos outros crentes.
Marda assentiu. Yana e a Mãe encorajaram isso. Afinal, ela sempre teria
que guardar os segredos da Trilha, fosse lá ou na galáxia com os Filhos.
— Eles não me fazem sentir harmoniosa. — confessou. Mesmo que
Aris Ade tivesse dúvidas, ela continuava sendo uma Anciã da Trilha.
Aris riu e apertou Marda.
— Uma música pode ser irregular e ainda ter harmonia. Às vezes, a
clareza é nítida.
— Uma canção?
— Gosto de pensar na Força assim... livre, clara e harmoniosa como
uma música. E há muitas, muitas maneiras de fazer uma harmonia, e
nenhuma inerentemente melhor do que outras... exceto pelas circunstâncias.
Nuvens se acumularam no noroeste, e Marda olhou para a escuridão
delas, sentindo-se fria e mais relaxada ao fazê-lo. A chuva durante a noite
ajudaria as framboesas e a alface a crescer. Disse:
— Vivemos em harmonia com a Força vivendo como vivemos. — Não
era um argumento, mas uma pergunta.
— Sim. — disse Aris Ade com firmeza, mas esteja aberta ao que a
harmonia pode significar, Marda-chi. O seu relacionamento com a Força
pode ser um dueto.
Um sorriso por um sorriso, pensou Marda. Uma nota por uma nota.
Lentamente, ela assentiu e sussurrou:
— Dado livremente.
— A Força dá visão à Mãe. — disse a Anciã suavemente. Antes que
Marda pudesse responder, ela continuou: — O que a Mãe dá à Força?
A boca de Marda se abriu.
Aris Ade a encarou e segurou as suas bochechas entre as palmas das
mãos. A pele da humana mais velha estava seca, áspera.
— O que você dá à Força, Marda Ro?
Marda não conseguia falar. Mal conseguia respirar. Não sabia. Ensinou
aos Pequeninos sobre presentes dados livremente, mas não sabia o que dava
à própria Força. O chão poderia cair sob os seus pés, e não seria capaz de se
mover sob o peso inebriante da compreensão. Conseguiu dizer:
— Não sei.
E a Anciã sorriu.
— Descubra por si mesmo, então você poderá ficar ao lado da Mãe. Ou
talvez até a frente dela.
Yana acordou cedo e caminhou sob as nuvens de tempestade para uma
audiência com a Mãe antes mesmo do desjejum. Após a visita dos Jedi no
dia anterior, Treze assassinando o mestre das docas e os pressentimento de
Kor sobre aquela estranha joia orbe, Yana percebeu que finalmente era hora
de começar a planejar seriamente a sua fuga.
Não tinha dúvidas de que dias ruins estavam por vir. Não eram só as
suas inclinações naturais de Evereni.
Yana tinha visto os Jedi chegarem e saírem de seu esconderijo favorito
no alto de uma árvore torinda, com a casca preta e as folhas verde azuladas
com babados a escondendo bem. Era o seu lugar favorito para fugir, e fazia
tanto tempo desde que cravou as unhas na casca macia e se puxou para uma
curva de um galho bem acima de tudo. Quando era pequena costumava se
esconder na árvore para evitar tarefas. Agora visitava a árvore sempre que
precisava de um tempo sozinha para pensar, algo que poderia ser difícil de
encontrar na Trilha da Mão Aberta.
Mas também era uma maneira de acompanhar os Jedi durante a sua
visita. A árvore era alta o suficiente para que Yana pudesse ver todos os
cantos das terras da Trilha, então sabia que Marda havia levado o garoto
Jedi para a árvore do nascer do sol, um fato com o qual não sabia muito
bem como lidar. Yana sempre achou que a sua prima era esperta demais
para dar o seu coração a um Jedi, mas parecia que era uma falsa esperança.
De qualquer forma, Yana não pôde deixar de pensar que talvez um coração
partido fosse bom para Marda. Ela era tão mole, um alvo fácil para os
muitos perigos que existiam em toda a galáxia. Era uma Evereni; ela
precisaria aprender a ser forte. Antes tarde do que nunca.
Mas depois que os Jedi partiram, o mais jovem olhando por cima do
ombro muitas vezes, Yana percebeu que o fim da Trilha poderia chegar a
qualquer momento. A mãe tinha vários, artefatos “recuperados” dentro das
antecâmaras de sua sala de audição, e tudo o que um Jedi precisava era
chegar perto o suficiente para poder senti-los. Pelo menos, foi o que Yana
supôs. Não entendia como a Força realmente funcionava e não se
importava. Havia um poder na galáxia que todos respeitavam: créditos. E
reivindicaria a sua parte e sairia de Dalna enquanto isso ainda era uma
opção. E levaria Kor com ela.
Um tamborilar ecoou ao redor dela, e o céu se rompeu, jogando água
em Yana enquanto andava. Mas não havia nada a ser feito quanto a isso.
Nesta época do ano, as chuvas provavelmente durariam dias, se não
semanas. Este dilúvio foi mais pesado do que os que havia visto antes, mas
só levou um momento para firmar a sua determinação antes de acelerar os
seus passos, concentrada em sua tarefa.
Yana poderia ter esperado a sua audiência com a Mãe, mas queria uma
chance de falar com a mulher sem mais ninguém presente.
Kor estaria na meditação matinal na mais profunda das cavernas,
suando e se espreguiçando em uma ante-sala aquecida por uma fonte
termal. Os Anciões juravam que tais tarefas ajudavam a limpar o corpo de
impurezas e a se conectar mais profundamente com a Força, mas Yana não
gostava do calor ou da transpiração, e a sua conexão com a Força era boa,
então era o momento mais oportuno para procurar a mãe.
As chuvas eram tão turbulentas, o vento açoitava as árvores e jogava
gotas para os lados, que os ajudantes do Arauto estavam dentro da antessala
da morada subterrânea da Mãe. Quando Yana entrou encharcada, eles a
apontaram para uma pequena sala lateral com trajes adicionais. Yana
rapidamente trocou as suas vestes molhadas por secas. Uma coisa legal
sobre a Trilha é que nunca era um problema encontrar algo para vestir. Todo
mundo usava quase a mesma coisa.
Yana ajeitou o cabelo antes de se trocar, deixando cair as suas vestes
encharcadas em uma pilha com outras. Perguntou-se quem mais tinha vindo
ver a Mãe àquela hora tão cedo. Eram as vestes usuais da Trilha, então não
foi um Ancião. Por um momento Yana se preocupou que talvez Kor tivesse
tido o mesmo pensamento que ela: declarar que o seu próximo trabalho
seria o último que fariam e anunciar uma data em que deixariam a Trilha.
Kor e Yana haviam falado sobre partir nos últimos cinco anos, já que
quinze anos era a idade para escolher a Trilha. Yana sabia desde então que
queria se livrar de Dalna e estar entre as estrelas, mas levou mais tempo
para convencer Kor.
Yana estava quase na câmara de audição da Mãe quando ouviu vozes,
ambas familiares. Yana apressou os passos e ficou chocada ao encontrar
Marda conversando com a Mãe.
— Yana! — disse a Mãe com um sorriso gentil. Voltou a sentar-se entre
uma pilha de travesseiros, com uma galinha da lua em o seu ninho, e a
estranha jóia aparentemente pesada estava embalada em o seu colo. Por um
momento a coisa pareceu cintilar com uma luz violeta serena, mas quando
Yana piscou, o orbe parecia inalterado. — Estou feliz que você tenha
conseguido vir, apesar do dilúvio. Marda estava me contando sobre a visita
do Jedi ontem. Parece que a sua bondade pode ter mudado a mente do mais
jovem.
Marda estava sentada em frente à Mãe em uma pilha semelhante de
travesseiros, embora não fossem tão bonitos quanto os da Mãe. As suas
bochechas cinzentas estavam mais escuras do que o normal, e abaixou a
cabeça com o elogio da Mãe.
— Não o convenci, mãe, mas abri seus os olhos. Ele parece aberto a
aprender mais sobre nossos ensinamentos e parece entender o quanto
concordamos sobre a importância da Força.
— Você realmente acha que vai mudar a opinião de um Jedi sobre a
Força? — Yana perguntou, toda a situação a deixava irritada. Por que a Mãe
estava encorajando isso? Ela realmente achava que Marda poderia
convencer um Jedi de que a Trilha tinha uma opinião melhor sobre as
coisas? Marda pode ser tão ingênua, mas certamente a Mãe não era. Ser
uma profeta da Força a deixara iludida?
— Acho que se alguém pode, é a sua prima. — disse a Mãe com outro
sorriso gentil para Marda. — E não se trata só de convencer o Jedi, mas
também de Marda aprender sobre os muitos caminhos da Força, mesmo que
a nossa Trilha seja a correta. Além disso, esta é uma excelente prática para
Marda, já que ela quer se juntar aos Filhos. Você não acha, Yana?
A expressão de constrangimento de Marda se tornou esperança com as
palavras da Mãe, e ela voltou toda a força desse anseio para Yana.
— Talvez você possa me dar algumas dicas. — disse ela. — Já que você
e Kor saem para espalhar a mensagem da Trilha com tanta frequência.
A boca de Yana ficou subitamente seca e ela deu de ombros. Se fosse
embora e Marda ficasse, Marda poderia melhorar o seu proselitismo. Yana
se sentou em outra pilha de travesseiros para ganhar tempo antes de se virar
para a prima.
— Persistência é o que importa. — disse ela finalmente. Um sorriso
apareceu no canto de sua boca porque ela mesma parecia uma profetisa.
Mas era a verdade. Era preciso persistência para ser um dos Filhos, para ter
a sua taxa de sucesso de cem por cento na libertação de artefatos da Força.
E fazendo muitos créditos por fora.
— Persistência... — Marda assentiu. — Talvez eu deva visitar os Jedi
em seus alojamentos imediatamente.
— Está chovendo. — disse Yana.
— Fazer a viagem na chuva ilustrará a dedicação de Marda. — disse a
Mãe. — É uma ótima ideia. Eu acredito que possa até haver algumas
samambaias sussurrantes recentemente desabrochadas que você poderia
levar com você. Elas são ótimas para ajudar a focar na meditação.
— Um presente dado livremente. — murmurou Marda com um leve
aceno de cabeça e um meio sorriso. — Sim, farei isso. Obrigado, Mãe.
Yana.
Yana não disse nada quando Marda se despediu, mas assim que os
passos de sua prima ecoaram, ela se virou para a Mãe.
— Por que você faria isso com ela?
— Fazer o que? — a Mãe perguntou, acariciando preguiçosamente a
joia em o seu colo.
— Diria a ela para procurar os Jedi? Sugeriria que ela pudesse um dia se
tornar uma das Filhas? —Yana bufou. — Você sabe que ela não tem aptidão
para o que fazemos.
— Assim que a Olhar Elétrico estiver pronta, todos nós iremos para as
estrelas. — disse a Mãe, com a voz aveludada. — Então eu não menti pra
ela a esse respeito. E eu estava dizendo a verdade. Ninguém ama a Trilha e
os seus muitos dons mais do que Marda. Se alguém pode fazer aquele
Padawan mudar de ideia, é ela.
Yana franziu a testa.
— Padawan?
— Aprendiz de Jedi. — disse a Mãe com um suspiro. — Chega de Jedi.
Você não veio aqui para me avisar sobre eles de novo, veio?
Como você pode ver, o assunto está bem resolvido.
Yana não tinha certeza se concordava, mas não teve a chance de
responder antes que fossem interrompidos.
— Ah, você já fez o seu desjejum? — disse a Mãe, mudando de assunto
quando um dos Anciãos entrou com uma bandeja de chá de grama e
pãezinhos recém-assados.
— Estou bem. — disse Yana, mesmo com o estômago roncando. Ela se
viu resistindo a receber gentilezas extras da Mãe. Não sabia dizer
exatamente por que... não era como se a Mãe agisse de forma suspeita, além
de tamanha confiança na Força. Definitivamente tornou a Trilha mais forte
e significativa. Marda ficaria bem quando Yana partisse. A Mãe cuidaria
dela. Ela cuidou de todos eles.
A Mãe serviu chá para as duas enquanto mantinha uma conversa
animada sobre o progresso da construção da Olhar Elétrico. Yana teve que
admitir que a nave parecia incrível. O tom e a emoção óbvia da Mãe
levaram Yana a pensar, brevemente, que talvez fosse suficiente ficar e
esperar para viajar pela galáxia na Olhar Elétrico. Mas não... Yana tomou
um grande gole de chá. Isso nunca poderia ser um lar para ela. Disse:
— Mãe, com certeza você sabe que não vim vê-la para bater papo.
A Mãe ergueu as sobrancelhas para Yana.
— É claro. Eu estava apenas lhe dando tempo para criar coragem.
Yana ignorou o tom de provocação da Mãe e rangeu os dentes antes de
respirar fundo e dizer.
— Eu lhe disse antes que só ajudaria a Trilha até que estivesse pronta
para partir.
— E você acredita que chegou a hora.
— Sim. — sibilou Yana. — Os Jedi devem saber que estamos pegando
artefatos relacionados à Força.
— Ah, os Jedi de novo.
— Eles estão aqui por nós, mãe. Por que mais estariam em Dalna?
E quantos hacker Evereni haviam na galáxia? Yana era esperta o
suficiente para saber que entre ela, Treze e Kor, ela era a mais provável de
ser lembrada. Ninguém nunca esquecia os Evereni, uma vez que os viram.
Se os Jedi estivessem farejando artefatos da Força, Dalna não era mais
segura pra ela.
— Zallah Macri, o Jedi que veio nos visitar, disse que os Jedi estão
pensando em construir um Entreposto em Dalna. — disse a Mãe, tomando
um gole delicado de seu chá. — Você acha que é mentira?
— Sim. — disse Yana. — Na melhor das hipóteses uma meia verdade.
A presença deles aqui é coincidência demais. Especialmente porque
existem planetas muito maiores sem um Entreposto. Dalna parece que
deveria ser a última da lista.
— Talvez. — A Mãe colocou a xícara de chá de lado antes de levantar a
orbe do colo e colocá-la em um travesseiro próximo, um maior e mais
ornamentado do que qualquer outra coisa na sala de audição. Era
desconcertante a forma como ela adorava a coisa, como se fosse o seu
animal de estimação favorito e não apenas uma joia ostensiva
— Mas, Yana, a Força proverá. Ela vai nos proteger. Se os Jedi se
tornarem uma ameaça, eu saberei.
Havia uma luz nos olhos da Mãe, um fervor de confiança com o qual
Yana não podia discutir. Inclinou-se para mais perto, querendo acreditar
nisso também. Mas no final do dia, nunca o faria. Quase desejou ter a fé de
Marda. Yana inclinou a cabeça, reconhecendo as palavras da Mãe.
— Yana. — disse a Mãe. Ela estendeu a mão e tocou as pontas dos
dedos na bochecha de Yana. — Vou considerar o seu aviso. Agradeço a sua
preocupação com a sua família. — A maneira como ela disse incluía toda a
Trilha na palavra família. — Eu gostaria que você reconsiderasse ir embora.
E falasse novamente com Kor. Não é um bom momento pra ela deixar
Opari, a pobrezinha.
— A Força será livre. — Yana disse: — E eu também.
A Mãe a contemplou por um longo momento. A sua pele morena
brilhava lindamente no brilho da estranha orbe que ela não conseguia parar
de acariciar. Também lhe dava um brilho, como se também fosse uma coisa
estranha e incomum.
Talvez fosse por isso que ela adorava aquilo. Ela e o orbe eram almas
gêmeas.
Yana contraiu a mandíbula e manteve a sua determinação.
— Deixe-me ir.
— Mais um trabalho. — disse a Mãe levemente. O início de uma
negociação. — Em breve. Mas primeiro você deve ir para a meditação da
manhã antes que ela termine. Reconecte-se à Força e ouça a sua vontade.
Yana abriu a boca e a fechou antes de inclinar a cabeça e aceitar que
havia sido dispensada. Ela engoliu o seu pico de emoções... raiva, confusão,
indignação... e foi embora. Mas uma vez fora da câmara de audição, fez
uma pausa. Lá, ao longe, havia um barulho curioso.
Tendo esquecido sua raiva, seguiu o som, sem ter certeza do que era a
princípio. Algum tipo de canção? Talvez uma conversa em voz baixa? Ao
passar das áreas das cavernas que haviam sido ocupadas pela Mãe para
rotas menos percorridas, os seus olhos lentamente se ajustaram à escuridão.
Havia pouca luz para um humano como a Mãe ver, mas Yana conseguia
distinguir a rocha e o cristal e os bolsões de opala solar, enterrados no
escuro e, portanto, imemoráveis, que ladeavam a passagem. Mas ali no chão
havia algo completamente inesperado.
Água, subindo lentamente de algum nível mais profundo das cavernas.
As terras da Trilha estavam inundando.
Kevmo limpou o tabuleiro dejarik e suspirou. Lá fora, as chuvas
castigavam a paisagem incessantemente, e o dilúvio obrigou ele e a Zallah a
interromper a investigação por enquanto. Os funcionários públicos em
Ferdan, que estavam tão ansiosos para se encontrar com os Jedi e discutir a
possibilidade de um Entreposto, cancelaram por causa da chuva.
Aparentemente, era um fenômeno planetário que ocorria apenas uma
vez a cada poucos meses: três dias de chuva implacável seguidos por uma
estação de floração, quando tudo amadureceria de repente e precisava ser
colhido rapidamente. Kevmo achou fascinante que um planeta pudesse
manter um ritmo tão caprichoso e imprevisível, mas Zallah conseguiu
acabar com o seu fascínio.
— Existe uma maneira de prever as chuvas. As pessoas deste planeta
ainda não têm os dados. Um dia, eles saberão ao minuto quando as chuvas
cairão e pararão, e então se tornarão agricultores muito lucrativos. Nada na
galáxia é deixado ao acaso, Padawan. — ela disse enquanto tomava seu chá
matinal. — A Força equilibra e guia tudo.
Kevmo não tinha tanta certeza, mas em vez de discutir, apenas abaixou
a cabeça.
Kevmo não achava que tudo na galáxia fosse tão previsível.
Os Jedi não estavam sempre falando sobre os mistérios da Força?
Ainda haviam surpresas, delícias entregues pela Força para os vivos
desfrutarem, e Kevmo não gostava quando Zallah falava como se tivesse
visto tudo. Simplesmente não era verdade. A Força proporcionava infinitas
diversões, algumas esperadas, mas a maioria não, bastando prestar atenção.
Presentes dados livremente, ele pensou, e então riu silenciosamente de
si mesmo.
Estava realmente começando a considerar que os ensinamentos da
Trilha poderiam ter mérito?
Absolutamente não. Era um Jedi e conhecia a Força. Mas havia algo de
bom em dar de si mesmo sem a expectativa de algo em troca. Era, em sua
essência, a marca registrada dos Jedi.
— Outra rodada? — Kevmo perguntou, e Zallah assentiu. Lady Jara se
retirou para a sua cama, o frio úmido fazendo os seus velhos ossos doerem.
Os Jedi eram bastante autossuficientes e, como eram os únicos que restaram
na pensão, fazia sentido que a mulher tivesse um dia para si mesma. Zallah
achou que um dia de contemplação silenciosa na área comum era uma boa
ideia, pelo menos até descobrirem qual seria o próximo passo.
Houve uma batida na porta da pensão, e Kevmo se levantou da mesa
onde estava sentado e foi atender. Ele ficou encantado e surpreso ao
encontrar Marda esperando na soleira, as vestes encharcadas, a água
escorrendo em riachos de seu cabelo escuro e sobre a pele azul acinzentada.
A Força realmente gostava de surpreender e encantar.
— Marda! — disse Kevmo, afastando-se da porta para deixar a garota
entrar.
Ela abaixou a cabeça quando entrou.
— Sinto muito. Não pensei que as chuvas continuariam tão fortes. —
ela engasgou ao entrar.
— Algum problema? — Kevmo perguntou, já que ele podia facilmente
sentir o desconforto de Marda.
Ela balançou a cabeça.
— Não, eu estava falando com a Mãe esta manhã, e ela insistiu para que
eu continuasse aprendendo com você. E eu trouxe isso pra você. — disse
Marda, estendendo um punhado de samambaias vermelhas e azuis bem
enroladas. — À medida que secam, sussurram, e pode ser útil na meditação.
— Kevmo, arrume roupas secas para a garota. — disse Zallah franzindo
o cenho.
— Ah, claro, certo. — disse ele, pegando as samambaias que Marda
segurava e correndo para encontrar algumas toalhas. Voltou com uma pilha
de toalhas e um roupão.
— Obrigada. — disse Marda, aceitando as toalhas, mas recusando o
roupão. — Não gostaria de pingar em seus móveis, mas a água é um
presente. Mesmo que haja muita no momento.
Kevmo sorriu, mas suavizou a expressão quando Zallah lhe deu um
olhar de soslaio.
— O que você queria discutir? — ele disse. — Os Jedi estão sempre
felizes em conversar sobre as muitas interpretações da Força.
Marda olhou para as mãos e riu.
— Agora que estou aqui, percebo como deve parecer bobo sair correndo
na chuva para uma conversa dessas. — disse ela, balançando a cabeça. —
Eu deveria ter esperado até que as chuvas parassem.
— Às vezes as nossas paixões podem levar a melhor sobre nós. — disse
Zallah, com o seu tom suave, embora as suas palavras tivessem uma leve
censura.
— Mas a Força também pode nos direcionar através de nossas paixões.
— disse Kevmo, sentindo a necessidade de defender Marda. O olhar
lavanda de Zallah pousou nele, a Soikan esperando que Kevmo terminasse
seu pensamento antes que ela respondesse, e Kevmo se apressou para
terminar a declaração de uma forma que não soasse contraditória, mas
complementar às crenças Jedi que Zallah referenciava. — Ao compreender
as nossas emoções mais fortes e a maneira como elas nos impulsionam,
podemos analisar os nossos movimentos e descobrir o melhor curso de ação
em vez de nos comportarmos impulsivamente. Portanto, não se trata de
evitar emoções, mas de entender de onde elas vêm e abordar o problema
subjacente antes de agir.
Zallah assentiu em aprovação, mas quando Kevmo olhou para Marda, a
mágoa gravada em suas feições o fez parar.
— Marda?
— Sim, posso ver como ser impulsiva pode ser considerado uma coisa
ruim. Mas às vezes há oportunidades que evaporam se não as aproveitarmos
quando pudermos.
Kevmo abriu a boca para argumentar, para dizer que não a via como
impulsiva, embora andar na cidade na chuva fosse impulsivo, mas outra
batida na porta o interrompeu antes que pudesse falar.
Zallah olhou para Kevmo, e ele abriu a porta. Havia uma humana de
pele pálida muito encharcada do outro lado da porta, com o seu guarda-
chuva lutando para manter a água longe dela.
— Você é um Jedi? — disse ela, direta como muitos dos colonos eram.
Não havia nada de notável nas botas, calças e sobretudo que ela usava, mas
havia algo na postura de sua coluna que fez Kevmo pensar que aquela
mulher loira estava acostumada com pessoas que a escutavam.
— Sim, sou o Padawan Kevmo Zink. Entre e você pode falar com a
minha mestra, a Cavaleira Jedi Zallah Macri. — disse ele, afastando-se da
porta mais uma vez para deixar alguém entrar. Mas a mulher humana estava
preparada, ao contrário de Marda. Quando fechou o guarda-chuva, colocou
a mão no quadril e olhou para Zallah.
— A sua nave terá de ser movida. — disse ela.
— E quem é você? — Zallah perguntou, com a voz suave.
— Jinx Pickwick. Eu sou uma autoridade neste lugar. Você pode me
chamar de xerife ou oficial de segurança ou o que for, mas fui eleita para
manter todos aqui na bacia a salvo. Os pátios de ancoragem estão na parte
mais baixa da bacia e, em cerca de quinze minutos, a sua nave estará
submersa.
Marda ficou de pé, com o rosto contorcido de preocupação.
— A bacia está inundando?
Jinx deu um aceno curto.
— Parece que esta tempestade é maior do que o normal, já se
estendendo até a junção de Maawat.
Alguma coisa aconteceu rio acima na base do vulcão Ashrow, e nesse
ritmo Ferdan vai ficar a um metro debaixo d'água. Estamos tentando
redirecionar as chuvas, mas o chão já está tão encharcado que é
praticamente uma causa perdida.
— Talvez possamos ajudar. — disse Zallah, levantando-se.
— Eu não diria não, Jedi. — Jinx disse com um sorriso. — Neste
momento estamos tentando usar alguns movedores de terra para escorar as
margens do rio.
— Tenho que ir. — disse Marda, correndo em direção à porta, tão
claramente perturbada que a sua preocupação atingiu Kevmo como uma
onda.
— Espere, não é seguro. — disse ele.
— Se a bacia estiver inundando, as cavernas do complexo certamente
estarão recebendo água. Os Pequeninos e os Anciões ficam lá embaixo,
assim como os novos pais. Eles vão precisar de ajuda para evacuar.
— Kevmo. — Zallah disse: — vá com Marda e ajude a Trilha a garantir
que os seus membros cheguem em segurança. Vou ajudar aqui na cidade.
— Mas e a nave? — Kevmo perguntou. Não haveria tempo para ligar e
mover a nave e também correr de volta para o complexo da Trilha. Kevmo
já havia passado por uma enchente e sabia com que rapidez as águas
podiam subir.
— Pessoas acima das coisas, sempre. — disse Zallah.
Ela passou por Kevmo e Marda e seguiu Jinx na chuva enquanto
Kevmo endireitou os ombros e se virou para Marda.
— Devemos correr.
Marda assentiu, ainda sem encontrar o seu olhar, mas Kevmo não estava
preocupado. Este não era o momento para tais coisas. Eles tinham pessoas
para salvar.
E então eles estavam na chuva, correndo em direção ao complexo da
Trilha. Kevmo só esperava que a Força não chamasse ninguém para casa
antes que pudesse salvá-los.
A chuva batia no rosto de Marda, fria e forte, e se jogou para dentro
dela, limpando o azul de concha brikal dos olhos enquanto a chuva o
derretia na testa. Concentrou-se na velocidade, embora a lama fizesse as
suas botas escorregarem. Kevmo segurou o seu cotovelo e não a soltou. Isso
foi bom; não podia deixar de ser grata por sua ajuda, mesmo que ele
estivesse certo: era impulsiva. Não deveria ter corrido para Ferdan e
abandonado a sua família nessa chuva. E se alguém se afogasse e pudesse
salvá-los se estivesse lá? Não deveria ter saído!
Mas a mão de Kevmo em o seu cotovelo a firmou. Inclinou-se pra ele, e
juntos eles se irromperam na chuva. Eles correram no meio da estrada onde
a água era mais baixa, salpicando lama marrom rosada. Não demorou muito
para que Marda estivesse mais molhada do que nunca, mesmo no banho.
Mal conseguia recuperar o fôlego. Eles viveram nas cavernas por mais de
cem anos, e a bacia nunca inundou assim! Ou eles deveriam ter aprendido
pelo menos a estarem prontos para não manter bebês lá embaixo!
Por que a Força não revelou isso à Mãe para que pudesse prepará-los? A
Força queria que eles morressem? Será que tudo o que Marda acreditava
estava errado? Será que isso estava vivendo em harmonia com a Força? A
Força era vida, e deveria querer os seus crentes vivos. Poucos dias antes,
nem estaria questionando isso, mas de alguma forma as suas discussões
com os Jedi estavam chegando até ela. Ou talvez fosse apenas o pânico em
formação.
No ano anterior, houve um deslizamento de rochas no sopé do vulcão
Ashrow, e o chão tremeu com vapor e gases fétidos. Isso poderia ter
mudado algo sobre o próprio rio ou a forma como a água fluía pela bacia?
Isso aconteceria todo verão agora? Teriam que abandonar as cavernas?
Deixar Dalna inteiramente? Marda sabia que a Olhar Elétrico deveria ser o
seu santuário nas estrelas, mas Dalna continuaria sendo a sua casa. E se não
pudesse mais ser assim? O que eles fariam? Eles perderiam esta casa, assim
como o seu povo havia perdido o seu mundo natal? Talvez tenha sido culpa
de Marda, o destino Evereni dela arruinando o futuro da Trilha porque fazia
parte dele!
— Marda! — Kevmo praticamente teve que gritar por sua atenção. A
sua respiração estava quente em sua orelha quando ele a puxou para uma
parada. Ela olhou para ele, piscando freneticamente contra a chuva. — Pare
de entrar em pânico. Estamos quase lá. O seu povo recebeu algum aviso!
Marda tentou inspirar fundo, mas tremeu.
Kevmo soltou o cotovelo dela, e quase gritou, mas ele segurou a sua
mão com a dele e apertou os seus dedos com calor. Ele se inclinou.
— Estou com você. — disse ele, olhando diretamente nos olhos dela.
Mesmo através do vento cinzento, ela podia ver as manchas de ouro ao
redor de suas pupilas.
Como a promessa da luz do sol. Estaria tudo bem.
Apertando os dentes, Marda assentiu.
— Vamos lá! — ela gritou de volta.
Então se virou, e eles correram novamente.
No momento em que eles passaram pelo portão, podia ver figuras se
movendo em todas as áreas do complexo, sobrecarregadas por bens e
posses, indo em direção ao celeiro de armazenamento ao lado do jardim
comunitário.
Marda espiou Efrik, o humano de meia-idade do círculo externo de
acólitos. O seu cabelo escuro estava grudado na cabeça mesmo sob um
capuz encharcado de água.
— Efrik! — gritou ela, arrastando Kevmo em sua direção.
O humano se virou, protegendo os olhos. Azul manchava seu nariz, e na
outra mão ele segurava um enorme pacote de sementes por baixo de suas
vestes.
— Marda! Que bom! Estamos nos reunindo no celeiro.
— Os Pequeninos estão todos aí?
— Eu vi um grupo deles. Você deveria vir contar... você os conhece
melhor! — Efrik mal olhou para o Jedi antes de pegar o caminho em
direção ao celeiro de armazenamento.
Marda e Kevmo seguiram de perto. Assim que chegaram, Efrik puxou a
pesada porta de correr de madeira e o vento bateu nele. O seu corpo bateu
na porta, deixando-a ainda mais aberta. O vento e a chuva atingiram o
celeiro, e gritos de angústia encheram os ouvidos de Marda quando entrou.
Kevmo a soltou para ajudar Efrik a fechar a porta novamente.
Examinando a comunidade amontoada, Marda procurou os seus
pequeninos.
Viu dezenas de rostos familiares, todos encharcados, pessoas se
movendo para criar paredes de suprimentos e secar uns aos outros com
toalhas surradas. Aris Ade e o Arauto estavam organizando um punhado de
adultos para se aventurar de volta para colocar sacos de areia ao redor das
portas e certificar-se de que todas as portas e janelas estavam seguras.
Alguém chamou o seu nome e a incluiu na contagem.
Os Pequeninos estavam amontoados com Velho Waiden e Mabel Wiss
no canto de trás. Marda correu em meio ao caos até eles e os contou
mentalmente. Vemian ficou de pé, os olhos arregalados quando viu Marda.
Ao lado dela os irmãos Klatooinianos, Ferali e Eff, se abraçavam, e Simi
estava chorando no colo de Hallisara. Viu Utalir e Jerid cuidando de três
crianças que ainda não estavam na turma de Marda. Jezra'lin piscou os seus
enormes olhos Mon Calamari para Marda, vibrando parados.
Marda congelou.
Olhou para os seus Pequeninos, então se virou e olhou por todo o
celeiro. Ali... contra a parede, Fel Ix estava aconchegado com dois de seus
bebês. Mas Marda não podia ver Ferize, Er Dal ou os outros três recém-
nascidos.
— Fiquem aqui. — Marda ordenou a Jezra'lin e os outros, então seguiu
rapidamente para Fel Ix. O Kessarine olhou para ela, seu rosto escuro
desenhado, com as suas bochechas franzidas firmemente enroladas com a
tensão. — Fel Ix. — ela disse:
— Onde estão os seus parceiros e os outros?
— Eles estavam atrás de mim. — ele murmurou, mal movendo a boca
enquanto balançava os seus bebês em ambos os braços. Os seus olhos
pareciam mais arregalados do que o normal, as pupilas dilatadas quase até
as bordas, e o estômago de Marda revirou.
— Eles estavam atrás de você nas cavernas?
Fel Ix assentiu com firmeza.
— Eles me empurraram pra fora e estavam juntando o resto. Eu... mal
podia ver. Mas eles estavam bem atrás de mim. Somos bons nadadores.
Marda girou, quase batendo em Kevmo.
— Vamos. — disse ela, tentando não soar com medo enquanto estava
cercada por todas essas pessoas, especialmente Fel Ix. Kevmo assentiu,
permitindo que ela o conduzisse de volta à porta.
— Onde estamos indo?
— Tenho que encontrar Ferize e o resto da família dela. Eles vivem nas
cavernas.
Kevmo assentiu.
Efrik tentou impedi-los, mas Marda disse:
— É a vontade da Força. — com tanta firmeza que ele empurrou a
porta.
Eles mergulharam de volta na chuva violenta.
Mesmo em só alguns minutos, Marda havia esquecido como a chuva era
fria e forte, colando as vestes ao corpo. Conhecia este complexo como sua
própria mão e sabia como levar Kevmo até a entrada das cavernas. Duas
pessoas passaram correndo por eles e Marda apontou para o celeiro. Eles a
tocaram ao passar, e Marda fez o possível para parecer confiante. Então eles
alcançaram a porta subterrânea. Kevmo se posicionou como um quebra-
vento enquanto Marda digitava o seu código de acesso e a porta se abriu.
O rugido da água os saudou, junto com uma luz cinzenta zumbindo e
bruxuleante. Marda respirou fundo e a sua mão encontrou a de Kevmo
assim que ele a alcançou. Os seus olhos se encontraram e Marda disse:
— Ajudaremos quem encontrarmos, mas estou procurando dois
Kessarine e os seus três recém-nascidos. Vamos para a câmara de
nidificação, por aqui.
Apertando a sua mão, Marda o puxou para a escuridão oscilante.
O suficiente das luzes que perfuravam nos corredores da caverna
funcionou para que eles não precisassem de nenhum holofote pessoal
enquanto desciam.
Primeiro foi uma ladeira, depois uma escada. Marda cortou à esquerda
na primeira encruzilhada, colocando a mão no granito áspero logo abaixo
das marcas de guia.
— Essas marcas de guia indicam para onde você está indo. — disse ela
rapidamente. — Laranja é saída, para o primeiro sol. Rosa é a rota opala. É
para meditação, então você normalmente não precisaria disso, mas a câmara
de nidificação faz parte da rota da opala. — Marda puxou Kevmo enquanto
falava. — Azul são os aposentos da Mãe, para a Força. É uma rede de
canais aqui embaixo, então há muitas rotas possíveis a serem percorridas, e
as marcas de guia lhe dirão o caminho mais rápido de um ponto a outro.
Eles passaram por uma sala de meditação e, quando desceram para o
próximo nível, pisaram em centímetros de água.
A pele de Marda se arrepiou de medo. A câmara de nidificação era mais
baixa que isso.
Soltou Kevmo para avançar.
— Me siga!
— Estou seguindo. — disse ele, mas fez uma pausa, olhando para um
corredor estreito como se pudesse ver algo que não estava ali. — O que são
as marcas de guia pretas?
— Trilhas secretas, mas não sei como abri-las, ainda não. Isso é para
acólitos mais avançados e pessoas que trabalham diretamente com a Mãe.
— disse Marda rapidamente, indiferente. Sabia que estava revelando
segredos, mas tudo o que importava era chegar a Ferize. Além disso, podia
confiar em Kevmo. Ele estava lá, ajudando-a. Ninguém mais estava ao seu
lado.
Eles irromperam na câmara de nidificação ao som de assobios e
suspiros na língua Kessarine, e água na altura da coxa. A água jorrou e
Marda caiu. Ela inalou água, lutando para ficar de pé enquanto tossia.
— Ferize! — ela tentou gritar, mas o som saiu esfarrapado.
— Marda!
O seu nome em duas vozes: Kevmo e Ferize.
— Estou aqui. — gritou ela, conseguindo ficar de pé apesar da pressão
da água. Parecia ter subido mesmo ali no momento. Chegaria rapidamente
até a cintura.
Nenhum brilho de opala do sol iluminava a câmara de nidificação.
Havia apenas o lampejo do corredor e sombras.
— Não consigo ver nada! — Marda gritou. — Onde você está?
— Perto das bacias de água! — Ferize gritou de volta. — Preciso de
ajuda, Marda! Er Dal está preso atrás de uma pedra que caiu, e ele está com
Fe Isle e Fe Remine e Fe Tale. Eu não consigo chegar até eles!
Marda se moveu em direção ao som da voz em pânico de Ferize,
tentando manter a calma. A água a empurrou, e lutou para continuar...
embora não pudesse ver, sabia o caminho até a bacia. Ela mesma lavou o
fluido de parto desses bebês apenas alguns dias antes.
De repente, Marda ouviu um zumbido e uma vívida luz dourada
envolveu a câmara de nidificação. Engasgou e olhou pra linha de luz
vibrante que Kevmo segurava em sua mão. Podia sentir uma pressão
brilhante. Preenchia a câmara, brilhando no granito e brilhando na opala do
sol. Isso fez as águas da enchente brilharem como se fosse um sol nascente.
Marda sentiu-se melhor e sorriu pela primeira vez desde que a enchente
começou.
Virando-se para as bacias, viu Ferize curvada sobre um monte de
granito no canto ainda escuro. Os seus dedos quase alcançavam o bebê
erguido.
Marda correu pelas águas subindo e escalou as rochas caídas. Ferize
segurou o seu pulso, e eles se firmaram, estavam cheios de pânico, com os
seus olhos arregalados.
Marda cravou as unhas da mão livre na pedra para se proteger.
— O que aconteceu? — Ela segurou o pulso de Ferize, com as duas
ancorados juntas, para que Ferize pudesse alcançar o bebê com mais força.
Ferize pegou o braço do bebê e gritou o nome do parceiro. Er Dal soltou o
bebê, e Ferize o puxou de volta contra o peito soluçando.
Na luz dourada, Marda olhou pra trás para ver a dor no rosto de Er Dal e
a tensão enquanto segurava os dois últimos bebês sobre a água.
— Er Dal? — ela chamou.
— Estou entalado. Preso. — disse ele. Os seus braços tremiam com o
esforço de manter os bebês sobre a água. Estava mais alta atrás das rochas,
até o peito. Os bebês se aconchegavam em o seu rosto, murmurando em
suas bochechas. Um deles lamentou; o outro estava muito silenciado, mas
definitivamente inquieto.
— Nós vamos te pegar. — Marda prometeu.
Atrás dela, Kevmo disse a Ferize:
— Vá com a criança. Marda e eu vamos resgatar seu companheiro e os
bebês, eu juro.
— Vá, Ferize. — disse Marda. — Deixe vocês dois em segurança. Nós
vamos conseguir.
Ferize fez uma careta, mas a criança em suas mãos choramingou. Ela
olhou além de Marda para Er Dal, então disse algo em Kessarine. Er Dal
assentiu uma vez. Então Ferize se virou e começou a caminhar pelas águas.
Marda e Kevmo examinaram seu problema imediato.
— O que te prendeu? — ela perguntou a Er Dal.
O Kessarine, ainda tremendo, disse:
— O meu quadril e o meu pé ficaram presos na brecha na parede da
câmara. A água nos empurrou e as rochas aqui, e a pressão da água é
demais. Estou preso, mas vocês podem vir aqui, vocês dois, e levar os
bebês. Está tudo bem.
— Não. — disse Marda. — Vamos te libertar também. — Ela mordeu o
lábio. — Posso nadar e tentar me libertar...
— Deixa comigo, Marda. — disse Kevmo. Ele se aproximou. — Eu
posso mover todas as pedras, mas você tem que estar pronta para pegar os
bebês, está bem?
Marda franziu o cenho.
— Você pode...
Kevmo assentiu.
— A Força.
A sua respiração ficou presa. Não conseguiu começar enquanto o
olhava, com medo e esperança e algo torcia em sua garganta.
— Esteja pronta. — disse ele. — Eu devo conseguir manter o sabre de
luz ligado, mas se não, vai escurecer.
— Depressa. — ofegou Er Dal.
Marda assentiu, mas Kevmo já havia se movido; não fazia ideia se ele
tinha visto a sua permissão.
Ele fechou os olhos e estendeu a mão livre para o ar. Kevmo colocou a
mão em forma de concha e lentamente virou a palma para cima... dons
dados gratuitamente... e franziu a testa. Então...
As rochas se moveram. Água espirrou.
Er Dal grunhiu. Ele mostrou os dentes.
— Bem... agora. — Kevmo disse com um grunhido, e as rochas se
espalharam, repentinamente desaparecendo sob as água tumultuosas da
enchente.
Er Dal gritou, com um dos bebês caindo. Er Dal agarrou-se a ele, e
Marda mergulhou pra frente para agarrá-lo.
Ela caiu metade na água, cuspindo. Ela tocou um bebê e o aconchegou
em o seu braço enquanto pegava o outro, mas encontrou apenas água
corrente e o braço de Er Dal. Ela o agarrou.
— Vamos! — ela gritou sobre a água barulhenta. A luz dourada de
repente desapareceu.
Eles estavam sozinhos na escuridão.
A água bateu neles.
Marda caiu, deixou-se afundar, mas segurou o bebê com as duas mãos,
desesperada para mantê-lo no ar. Engasgou, mas colocou os pés de volta, e
quando ela se levantou novamente, ela pressionou o bebê no rosto,
enxugando os olhos no antebraço. A luz dourada estava de volta, mas
Kevmo se jogou no canto porque Er Dal estava gritando de mãos vazias... o
último bebê se foi.
— Vamos. — disse Marda, arranhando-o. — Aqui, pegue esse bebê.
Vamos. Nós vamos pegar o último. Você está ferido. Você não pode nos
ajudar, e eles precisam de você!
A sua voz era áspera, ela estava quase cega com a água, e a água da
enchente atingiu seus seios, arrastando as suas vestes, tornando-as muito
pesadas.
— Fe Isle! — Er Dal gritou.
Marda cravou as unhas, perfurando a sua pele grossa.
— Er Dal, pegue Fe Remine e vá, agora!
O Kessarine estremeceu, mas pegou o bebê, colocando-o contra o seu
pescoço. Ele hesitou.
Eles ficaram mergulhados na escuridão novamente, ambos congelando.
Então o sabre de luz sibilou à vida, e o vapor o cercou da água
vaporizada. Marda enxugou a água dos olhos e viu que Kevmo tinha a Fe
Isle em o seu braço! Exalou duramente em alívio, estendendo os dois
braços.
Então outro estrondo foi o seu único aviso antes que mais água entrasse
pela saída dos fundos. Os olhos de Kevmo se arregalaram e ele abaixou o
sabre de luz, jogando a mão em direção à água.
A escuridão caiu, mas a água nunca os atingiu.
— Marda... Marda. — disse Kevmo com a voz tensa. — Eu tenho... a
água retida. Mas eu não consigo... Você tem que vir aqui e pegar o bebê, no
escuro. Apenas... ouça, estou bem aqui.
— Estou indo. — disse ela, olhando para a escuridão onde ele estivera.
Sabia que a água devia estar presa contra uma parede de pedra mantida
no lugar pela Força, apenas esperando para matar todos eles. Mas não podia
ver; só podia imaginar.
— Estou aqui. — disse Kevmo. — Eu não vou a lugar nenhum. — Ele
riu.
— Obviamente. Eu só tenho que continuar falando para que você possa
me encontrar e este bebê adorável. Está respirando. Parece estar ofegante,
mas acho que está tudo bem, apenas encharcado. O seu nome é Fe Isle?
Que bonito.
Marda caminhou em direção à voz dele, deixando-se envolver como a
luz do sol. Quente e promissor ao contrário desta água fria e exigente.
Fechou os olhos. Era menos desorientador, e precisava se concentrar, não
cair, não imaginar a parede de água da enchente apenas esperando tão
ansiosa para que a sua concentração caísse para que pudesse levá-los.
Encontrou pedras com as botas e se aproximou, mas naquele momento
Kevmo disse:
— Que blast, tem muita... Marda! Eu tenho que soltar. Estou mandando
o bebê para você. Apenas estenda os braços!
Fez isso sem pensar, mesmo quando o pânico a sufocou. A água rugiu e
sentiu uma lufada de ar antes que o bebê estivesse em suas mãos, e então o
sabre de luz dourado ganhou vida novamente e ela pôde ver. Kevmo olhou
com urgência.
— Vai... vai! Eu não consigo segurar. — A onda de água se curvou
sobre eles, presa no lugar pela Força, pelo controle de Kevmo. O seu corpo
tremia e Marda não queria deixá-lo.
— Vai! Use a minha luz! — gritou ele, e ela girou, pegando-a, a dádiva
da luz, para atravessar a água em direção à entrada, onde Er Dal esperava
vários degraus acima. O Kessarine assistiu ansiosamente com um braço
para ela.
Marda chegou lá e colocou o bebê em o seu braço assim que as águas
subiram, e se virou a tempo de ver Kevmo perder a onda e desaparecer sob
ela.
O sabre de luz assobiou e desapareceu, e Marda gritou o seu nome.
Mergulhou na água em direção a ele, empurrando com toda sua força.
Era pequena, mas forte. Determinada. Os Evereni nunca desistiam até
ter o que era deles. E Kevmo Zink era dela.
Rasgando com os dedos, chutando com as pernas, foi através da câmara
inundada para onde ele estava. Então, puxou o ar e mal conseguiu encontrá-
lo, inspirando em uma enorme respiração. Então Marda caiu de volta na
água furiosa.
Lá... ele se agarrou às rochas, pressionadas pela água contra eles.
Marda subiu e respirou novamente na escuridão. Agarrou o braço dele,
virando-se, e puxou-o sobre os ombros. Marda o arrastou pra cima, ficando
na ponta dos pés para manter a sua cabeça acima da água. O seu peso
pressionou em suas costas, mas continuou, lutando pra ir pra frente. A única
coisa que pensava era afogamento, o empurrar e puxar da água, e o peso
quente de Kevmo contra as suas costas e ombros, puxando o seu cabelo.
Finalmente, alcançou a saída, e mais mãos se estenderam pra eles.
Luzes pálidas de mão brilharam em seus olhos, e viu duas... não, três
pessoas ali, esperando nas escadas. Eles pegaram Kevmo primeiro, depois a
ajudaram a se levantar, envolvendo-a nos braços e empurrando os dois ao
longo dos degraus. Luzes dançavam em sua visão, e os seus dentes batiam.
Provou o seu próprio sangue.
— Será que... todos Kessarine escaparam? — ela perguntou através de
seus calafrios. Era Ferize e Mykge a puxando. Ferize disse:
— Sim, estamos seguros graças a você. Pegamos vocês dois. Vamos.
Marda estendeu a mão e pegou a mão de Kevmo. Estava fria, mas ele a
apertou de volta, mesmo enquanto segurava o Wookiee Jukkyuk, que o
carregava facilmente, curvado apenas para passar pelos estreitos corredores
subterrâneos.
Com a mão de Kevmo segurando a dela e as garantias de Ferize, Marda
não se permitiu pensar em nada além de colocar um pé na frente do outro
até que estivessem do lado de fora, sob a chuva forte, e de volta à segurança
do celeiro de armazenamento. Ouviu o barulho de sua grande família,
deleitou-se com a luz e o calor enquanto era despida e embrulhada em
roupões quase secos, recebeu chá quente para aquecê-la por dentro e foi
levada para um ninho com alguns de seus Pequeninos e Kevmo. Ele parecia
atordoado, também, olhos arregalados, mas aconchegado contra a parede
com um monte de crianças. Marda desabou ao lado dele e imediatamente
colocou a cabeça em o seu ombro.
— Marda. — ele sussurrou em o seu cabelo. Ele ainda estava molhado.
Assim como o dele, as tranças grossas enroladas em uma toalha de secagem
rápida e puxadas por cima do outro ombro.
— Obrigada. — ela sussurrou de volta.
— Eu... sinto muito.
Marda empurrou pra trás e olhou para ele.
— Pelo que? Você os salvou.
— Com a Força.
A sua boca se abriu. Lembrou-se do poder. Ele usou a Força para mover
pedras, para conter a força do dilúvio. Se não tivesse, pelo menos um bebê e
provavelmente Er Dal teriam se afogado.
Marda queria dizer a ele que estava feliz. Não podia, no entanto. A sua
família estava viva, mas quais poderiam ser as consequências? Mesmo que
Marda não pudesse se arrepender das escolhas dele... ou das suas próprias...
como poderia tolerá-las sem abrir mão de toda crença de uma vida? Mas a
sua família estava viva. Só porque ele usou a Força. Tomado-a, recusado a
sua liberdade.
Sob o seu olhar chocado, Kevmo baixou os olhos. Marda estendeu a
mão e tocou o seu queixo. Levantou até que ele a olhou.
Quando ele finalmente encontrou o seu olhar, Marda assentiu uma vez,
lentamente. Um reconhecimento acima de tudo. Sim, sabia o que ele tinha
feito.
Sim, ela não o culpava. Sim, sim, sim.
Então Marda se inclinou pra trás e colocou a cabeça em o seu ombro.
— A vontade da Força. — murmurou ela.
Kevmo se mexeu até poder envolver o seu braço ao redor dela e puxá-la
para mais perto.
— Então você está pronta?
Yana ergueu os olhos de onde estava sentada em um pedaço de grama,
programando uma nova sequência de luzes para as cavernas, já que a
maioria delas havia sido levada pela enchente. Levou quase três dias para a
água baixar. Três dias com todos empilhados uns sobre os outros no celeiro
de armazenamento, bebês chorando, Pequeninos discutindo e os Anciões
fazendo criticas de tudo o que não gostavam. Foi demais. Yana estava
disposta a fazer qualquer coisa para recuperar um pouco da normalidade, e
isso significava consertar as cavernas para que fossem mais uma vez
habitáveis.
Não podia mover pedregulhos como os Jedi, mas podia programar as
luzes. Então era isso que estava fazendo quando Kor se aproximou, com a
sua pintura facial recém-aplicada e as suas tranças amarradas pra trás com
uma faixa grossa de pano azul.
Yana piscou e tirou os óculos que usava.
— Pronta pra quê?
— A festa de agradecimento! Você disse que se sentaria comigo e a
minha família.
Yana baixou os óculos sobre os olhos mais uma vez e voltou ao
trabalho.
— Não posso. Essas luzes devem ser instaladas antes que todos possam
retornar aos seus aposentos na caverna. E me recuso a passar outra noite
ouvindo o ronco do Velho Waiden. Quero a minha cela de dormir de volta.
— Mas ninguém mais vai trabalhar, Yana. — Kor disse, franzindo a
testa. Yana tentou evitar os olhos escuros de sua namorada, mas mesmo
assim, podia sentir a angústia de Kor.
— Kor, eu não quero ir. — Yana disse finalmente, arrancando os óculos.
— É bobagem comemorar, o quê, não se afogar?
Kor franziu a testa, e Yana se arrependeu das palavras assim que saíram.
Kor disse tristemente:
— Você prometeu.
— Kor. — começou Yana, tentando encontrar uma maneira de se livrar
da promessa que fizera involuntariamente de comparecer ao banquete com
a família de Kor.
Mas não conseguia encontrar nenhuma maneira de contornar isso.
Engoliu um suspiro exausto.
— Deixe-me me limpar e trocar de roupa. — disse ela finalmente.
— Não mais que meia hora. — disse Kor, com a sua expressão firme.
— Estou falando sério, Yana.
Yana assentiu em resignação antes de dar um beijo na bochecha de Kor.
Não tinha certeza por que isso importava tanto. Talvez Kor estivesse
respondendo a um pouco de fofoca sobre as ausências contínuas de Yana?
Yana não se importava com o que o resto da Trilha pensava dela, mas ela
definitivamente se importava em fazer Kor feliz. Ela precisava que Kor
fosse com ela depois da próxima viagem de libertação. Então Yana pegou o
tapete de trabalho e as ferramentas e os levou de volta para a cabana de
trabalho de Cincey, Kor observando com os braços cruzados.
— Não mais que meia hora! — Kor repetiu. — O meu pai está nos
guardando um espaço.
Yana acenou para a exigência de Kor e foi até a cabana de Cincey, onde
as luzes seriam armazenadas até que estivessem prontas para serem
instaladas.
Depois de uma batida rápida e um grito, Yana abriu a porta para
encontrar Cincey e Treze rindo de alguma coisa, o Mikkiano empoleirado
na beirada de uma mesa de trabalho, olhando por cima do ombro de Cincey.
— O que está acontecendo? — Yana perguntou, colocando o tapete de
trabalho e as luzes na outra mesa para mais tarde.
— Ah, estávamos vendo fotos do complexo da família Graf em Thelj.
Você já viu algo tão ridículo? — disse Cincey, puxando a imagem para que
fosse exibida na holotela maior para Yana ver.
A propriedade era enorme, com um conjunto de portões ornamentados e
aquecedores colocados a cada poucos intervalos. Embora Thelj fosse uma
bagunça gelada a maior parte do ano, o complexo em si era exuberante e
florido, um jardim no meio de um monte de neve.
— Como eles o mantêm aquecido o suficiente para cultivar trepadeiras?
— Yana perguntou espantada.
— Com créditos suficientes você pode fazer qualquer coisa. — Treze
riu, lançando um olhar malicioso para Yana. — Diga, onde está Kor? Ela
deveria ver isso também.
— Por que? — Yana perguntou, afastando a imagem dos jardins
exuberantes e da arquitetura deslumbrante. — Ela não se importa com
pessoas ricas.
— Porque este é o lugar que a Força mostrou à Mãe durante a enchente.
— disse Cincey, apontando para a imagem do complexo. — Ela estava
meditando profundamente e viu esse pedaço de gelo e um artefato
conhecido como Lágrimas Jedi, um colar feito com uma pedra rara que
reage à Força. Essa é a nossa próxima libertação.
Yana fez uma pausa.
— Ela quer que a gente invada o complexo dos Grafs? Ela está louca?
Treze riu, quase caindo de seu poleiro.
— Yana, invadimos o Tesouro Real de Hynestian. Isso vai ser como
uma caminhada até Ferdan.
— Em uma enchente com ventos fortes, talvez. — disse Yana. Ela
balançou a cabeça. — Esta missão é grande demais pra nós.
— A Força revelou a ela. — disse Cincey em voz baixa, como se
quisessem acreditar, mas não conseguiam.
Treze deu de ombros e saltou da mesa de trabalho.
— Se a Mãe acha que estamos prontos para esse tipo de trabalho, é
porque estamos. Eu tenho que sair daqui. Vou encontrar a minha namorada
na cidade. Diga a Kor que eu disse oi. — ele disse enquanto saía da cabana
de comunicações.
Cincey virou a cadeira flutuante para Yana.
— Você está bem?
— Não. — disse Yana franzindo a testa. — Cincey, você já tentou ver
quais dados existem sobre a Mãe?
Os olhos de Cincey se arregalaram um pouco antes de se estreitarem.
— Parece uma pergunta estranha.
— Talvez. — disse Yana, sentindo que havia ultrapassado. — Mas não
sabemos de onde ela veio. Ela parecia... distraída ultimamente. — Era
verdade, embora Yana pensasse que era apenas aquela joia esquisita. Que...
onde ela conseguiu isso?
Cincey observou Yana com uma expressão dura, mas se deteve em uma
que era um pouco mais pensativa.
— Não acho que esse instinto esteja errado. — Cincey disse finalmente,
com a voz baixa. — Mas não, não olhei muito de perto. Sinceramente, acho
que não vou gostar do que encontrar.
— Sim, eu sei o que você quer dizer. — disse Yana. Não forçou mais.
Sabia quando deixar as coisas em paz. Mas agora que tinha largado a ideia
na mente de Cincey, valia a pena esperar que a sua especialista em
tecnologia conduzisse alguma investigação. Pode haver algo vital ali,
alguma informação que ajudaria Yana a colocar todas as peças do quebra-
cabeça de suas suspeitas em algo claro e conciso.
Yana se despediu, lavou-se rapidamente e vestiu o seu conjunto extra de
roupão, espalhando às pressas tinta de brikal na testa enquanto corria pela
porta. No momento em que ia para a planície gramada onde a Trilha
realizava todas as suas celebrações, alguns dos Pequeninos estavam
cantando uma canção de agradecimento que eles inventaram, com as suas
vozes altas e desafinadas. Marda ficou com o Velho Waiden e os observou
com algo como orgulho estampado em o seu rosto, e Yana ficou feliz em
ver que o Jedi de sua prima não estava presente. Estava começando a se
arrepender de ter incentivado Marda a ir atrás do garoto. Acontece que o
Jedi a deixou mais nervosa do que esperava. Eles viam demais, mesmo que
escondessem por trás de sorrisos gentis e expressões plácidas.
Yana encontrou Kor e a sua família facilmente. O Arauto estava
próximo, um grupo de Anciões amontoados ao redor dele enquanto ele
assentiu gravemente. Eles provavelmente estavam reclamando por não
poderem voltar para os seus quartos ainda. Yana não era a única aborrecida
com os atuais arranjos de dormir, e achava que era bobagem ter um dia de
festa quando eles ainda não tinham terminado os reparos básicos que
precisavam ser feitos.
Mas engoliu o seu aborrecimento e colocou um sorriso brilhante em o
seu rosto quando Kor se levantou para puxá-la para o cobertor de sua
família.
— Sente-se, Yana. — disse Kor, conduzindo Yana até a Nautolana mais
velha enrolada em um cobertor úmido. Opari sorriu cansadamente. Mas era
a expressão mais relaxada que Yana tinha visto nela, talvez desde sempre, e
quando se curvou para Opari, se perguntou se era por isso que Kor estava
hesitante em sair.
— Yana, obrigado por todo o seu trabalho duro. — Opari disse, com a
sua voz rouca pelo desuso.
— É claro. Eu faço isso pela Trilha. Espero que você esteja bem.
— Melhor do que estive em muito tempo, obrigado. Os tratamentos da
Mãe têm melhorado muito como me sinto. — disse Opari. — Estou feliz
por poder vir e me juntar a todos no dia da festa.
Kor abraçou a Nautolana mais velha antes de puxar Yana para se sentar
do outro lado dela.
— Os Anciões vão nos mostrar uma das primeiras danças da colheita.
— disse Kor, com a sua expressão exultante. — Não queremos perder.
Yana não disse nada quando vários dos membros mais velhos da Trilha
subiram ao palco, que na verdade era apenas uma área que alguém havia
delineado com buquês de flores de lompop que cresciam selvagens nos
prados naquela época do ano. Quando os Anciões estavam na terceira
iteração de uma dança de arrastar-pisar-virar, Yana já estava farta.
— Kor. — começou Yana, mas foi interrompida pela aproximação do
Arauto.
— Yana. — disse ele, a antipatia em sua voz inconfundível. — Achei
que você estivesse terminando as luzes das cavernas.
— Ela estava. — disse Kor, interrompendo. — Eu a convenci a vir
participar das festividades.
— O Arauto está certo. — disse Yana, pressentindo uma possível saída.
— Eu deveria voltar para as luzes. Se eu terminar hoje, todos podem voltar
para as suas casas amanhã, depois de instalados.
Os lábios de Kor se contraíram, mas o Arauto deu um aceno de
concordância. Yana apertou a mão de Kor antes que ela ficasse de pé.
— Encontrarei você depois de completar a minha tarefa. — disse ela.
Kor não disse nada, apenas cruzou os braços.
— Vou com você. — disse o Arauto. — Tenho que voltar aos meus
deveres também.
— Werth. Você deve? — Opari perguntou. A sua expressão desapontada
era páreo para Kor.
— Sim minha querida. Mas voltarei em breve. — Ele se abaixou e
colocou a sua bochecha ao lado dela do jeito dos Nautolananos antes de se
endireitar e gesticular para Yana andar.
— Tenho a sensação de que os seus deveres têm algo a ver comigo. —
Yana disse assim que eles estavam fora do alcance de Kor e Opari.
— Acho que o tempo de timidez entre nós já passou, Yana. Você não
concorda? — disse o Arauto. — A Mãe me disse que você planeja ir
embora. Eu não vou permitir.
— Estou feliz por você ter decidido falar com franqueza, mas os seus
sentimentos são irrelevantes nisso. Vou embora assim que liberarmos um
artefato final e eu receber a minha parte.
— Não há 'parte', como você disse com tanta eloquência. A única coisa
derivada da liberação dos tesouros da Força é libertar a Força da
manipulação futura.
Yana bufou.
— Qual é, Werth. Você e eu sabemos que isso não é verdade. Nós não
pegamos apenas os artefatos. Levamos o suficiente para a Mãe vender. Pra
quem ou por que, eu não me importo. Está tornando a Trilha mais forte pra
minha prima. Mas estou reservando passagem no próximo cargueiro saindo
de Dalna.
— E a Kor? Você vai arrancá-la de sua família? — disse o Arauto.
Yana não olhou pra trás para onde ela sabia que Kor ainda estava
sentada com a sua mãe. Um nó se formou em sua garganta, mas o engoliu,
junto com o turbilhão de perda e mágoa tentando tomar conta.
— Se ela quiser ir comigo, a escolha é dela. — disse ela o mais
friamente que pôde.
— Ela é necessária aqui. Ela é fiel a Trilha. A sua mãe precisa dela.
Doeu concordar com ele, então Yana fez uma careta sarcástica em o seu
rosto.
— Arauto, se você tem tanta certeza de que não há 'parte', então me
pergunto como a Mãe conseguiu o custo do tratamento para a condição de
Opari.
O Arauto pigarreou.
— A Força fornece.
Yana parou e se virou para o Arauto.
— Pense de mim o que quiser, mas será a escolha de Kor.
— É por isso que você deve ficar aqui. — disse o Arauto. — Posso não
gostar de você, mas você trata bem minha filha e a faz feliz. Além disso, o
seu lugar é aqui. Marda percebeu isso. Por que você não?
Yana riu baixinho.
— Não sou a minha prima.
— Eu vejo isso. Ela aparentemente tem todo o senso. Dalna é o melhor
lugar pra você. A sua espécie não é bem-vinda na galáxia. Você esquece
que eu conheci os mais velhos. Dei-lhes as boas-vindas quando chegaram a
Trilha porque não tinham pra onde ir. Em todos os lugares que eles se
estabeleceram, eles foram insultados e caçados por causa de antigos
ressentimentos. Você acha que vai ter uma chance melhor lá fora?
Yana deu de ombros.
— O caminho do Evereni nunca é suave, mas isso não significa que não
haja lugares que nos recebam. O meu povo é sobrevivente. E quando
morremos é porque o nosso tempo acabou. Não lamentamos os nossos
mortos. Estamos felizes que o sofrimento deles tenha terminado. — Yana
sufocou um bocejo. A única razão pela qual estava tendo essa conversa era
porque o Arauto era o pai de Kor. Caso contrário, teria dado meia-volta e
deixado que ele falando sozinho.
— Se você tentasse viver em harmonia com a Força, talvez não achasse
a galáxia tão cruel.
— Ah, Werth. — Yana disse com uma risada oca, ignorando a sensação
de que as paredes estavam se fechando ao seu redor. — Não me importo
nem um pouco com a Força.
Sem dizer uma palavra, Yana se virou para a cabana de Cincey e o
refúgio de seu trabalho.
Programar luzes era muito mais fácil do que navegar pelas correntes
emocionais da Trilha.
Sunshine correu pelas cavernas em direção à sala de escuta da Mãe,
com o medo pesando fortemente em o seu corpo. Esperava retornar a Dalna
com o Bastão das Eras, um tributo à Mãe e a sua missão altruísta de libertar
a Força. Em vez disso, estava voltando com boatos e conjecturas, e nenhum
dos dois iria inspirar muita comemoração.
Os guardas na entrada acenaram pra ele meio distraídos, acostumados
com as suas idas e vindas até então. Sunshine deixou o momento aquecê-lo.
Elecia confiava nele. Não estava acostumado com isso.
Era uma curta viagem descendo as escadas e entrando nas cavernas, o
som distante de água pingando ecoando no espaço. O chão ainda tinha
vestígios da inundação que passou pelas cavernas, mas a marca d'água não
era mais alta que os joelhos de Sunshine. Essa parte das cavernas não tinha
sido devastada como o resto do complexo. Provavelmente era por isso que
Elecia ainda queria se encontrar lá.
Quando Sunshine entrou na grande caverna que era a sala de escuta da
Mãe, o chão estava seco enquanto o resto do complexo estava muito úmido,
um calor o inundou. Nunca pensou em qualquer lugar da galáxia como o
seu lar. Era um vagabundo desde que tinha idade suficiente para fugir do
pai bêbado e da mãe sorridente de volta a Eriadu. Mas este espaço, onde
Elecia estava, parecia uma casa. Como um lugar onde pudesse criar raízes e
ser o tipo de pessoa que sempre quis ser: fiel, honesto, confiável. E não é
que quisesse algo romântico com a Mãe. Não, ela era boa demais pra ele;
sabia disso. Mas estar à disposição dela?
O que poderia ser melhor que isso?
Elecia estava sentada de pernas cruzadas em suas almofadas de
meditação, com os olhos fechados, a joia que ele lhe dera embalada em o
seu colo. Esperou na entrada, com a respiração presa enquanto a observava
meditar. Havia tanta paz em o seu rosto que era difícil não a invejar. A joia
parecia brilhar na penumbra da caverna, quase como se estivesse
respondendo a Elecia e a sua conexão com a Força.
Como deve ser a sensação de estar tão perto da Força? Sunshine não
acreditava muito na Força até que teve a infelicidade de conhecer os Jedi.
Mas a conexão de Elecia era totalmente diferente. Afinal, a Força devia ser
livre, e ela era a única que podia fazer isso. Teve sorte de conhecê-la.
Sunshine tropeçou um pouco em seus pensamentos e franziu a testa. De
onde isso veio? Não se importava com a Força de uma forma ou de outra.
Uma onda de aborrecimento surgiu nele.
Os olhos da Mãe se abriram, e ela deu a Sunshine um sorriso caloroso.
— Você voltou. Bem-vindo.
A sensação irritante evaporou, e Sunshine devolveu o sorriso.
— Voltei, mas temo que não seja com o artefato.
A Mãe franziu a testa, e para Sunshine foi como uma estrela em
supernova. O desespero o inundou.
— Mas tenho informações sobre o Bastão do Alvorada.
— Não é aquele localizado em Jedha? Quais informações você poderia
fornecer?
— É, mas o artefato ficava em um museu aberto a peregrinos. Parece
que foi trancado depois que a Bastão das Estações foi tirada da família real
Hynestiana. Eu tenho o novo local.
— Ah, isso é excelente. — A Mãe sorriu para Sunshine, e ele sentiu
aquela mesma sensação de flutuação e queda que sempre parecia atingi-lo
quando ele estava com Elecia por muito tempo. — Como a liberamos?
— Ainda estou coletando informações sobre isso. Queria te dizer o que
encontrei antes de continuar a escavar.
— Era apenas meia verdade. A realidade era que ele não gostava de
ficar muito tempo longe da Mãe.
Sempre que estava, começava a se sentir mal, uma emoção doentia e
triste que parecia estranhamente culpa. Por que estar longe dela o fazia se
sentir culpado, não sabia dizer, mas enquanto pudesse estar em sua
companhia, seria melhor.
— Bem, pessoalmente, estou feliz por você estar aqui. — Ela colocou a
joia em um travesseiro próximo antes de se levantar e caminhar até
Sunshine. Embalou o seu rosto em suas mãos e virou outro daqueles
sorrisos reconfortantes pra ele. — Tenho um favor a lhe pedir.
— Eu... claro. Qualquer coisa que você precise.
— Os meus Filhos estão fazendo outra peregrinação, desta vez para
Thelj. Você os levaria pra mim?
Sunshine recuou.
— A Evereni vai? — Sunshine ficava nervoso toda vez que via a garota,
embora nunca tivesse interagido diretamente com ela. Tinha ouvido as
histórias de seu povo, sussurros sobre as espécies de pele cinzenta que a
maioria considerava pouco mais que conjecturas. Mas Sunshine uma vez
tinha visto uma mulher Evereni rasgar um homem Pantorano quando ela
pensou que tinha sido menosprezada, e a crueldade do ataque permaneceu
consigo ao longo dos anos.
— Sim, mas não se preocupe. Não será um problema. Você acha que
poderia fazer isso, Sunshine? Você acha que poderia me ajudar?
Sunshine se viu impotente para resistir. Assentiu, e quando Elecia o
puxou para um abraço afetuoso, a sua respiração ficou presa.
— Você tem sido uma ajuda tremenda. O que eu faria sem você?
Sunshine não sabia, e mais que tudo, esperava que ela nunca tivesse que
descobrir.
Kevmo estava exausto. Haviam passado três dias desde o dilúvio, e as
águas haviam recuado o suficiente para o Caminho emergir de seu celeiro
apenas no dia anterior. Em vez de retornar a Ferdan imediatamente, Kevmo
havia verificado com Zallah assim que os comunicadores estivessem
funcionando novamente e pedido para permanecer com A Trilha para ajudar
na limpeza inicial, eles precisavam de todos os pares de braços fortes que
pudessem obter, mesmo que ele não usasse a Força. Sentiu que era o melhor
uso de seu tempo e energia. Mas agora eles estavam se preparando para
uma grande refeição comunitária de agradecimento, em parte por alívio e
em parte, Kevmo suspeitava, para consumir toda a comida que poderia
estragar por causa da tecnologia quebrada. Marda gentilmente ofereceu para
ficar e comer a sua parte, mas disse que precisava voltar para a Mestra
Zallah.
Isso era verdade, mas também sentia que precisava se afastar um pouco
da Trilha e de quão intensamente Marda o afetava. Além disso, precisava
contar a Zallah das cavernas, e de como havia se sentido lá embaixo. Havia
sentido algo que claramente se parecia com o lado sombrio da força. Não
tinha muitas experiências verdadeiras nesse sentido, mas era inegável. A
Trilha definitivamente podia estar escondendo todo o tipo de coisas naquele
labirinto, não apenas o Bastão das Estações, mas muitos outros artefatos
piores.
E Kevmo sabia como navegar lá embaixo. Graças a confiança de
Marda. Fez uma careta ao chutar uma poça de lama na beira da estrada que
levava a Ferdan.
Havia sido bom, por uns dois dias, depois que todos estavam em
segurança. Kevmo havia colocado uma pilha de crianças para dormir, com
Marda ao seu lado, e acordara para ajudar a cuidar delas, contando todas as
suas melhores histórias sobre a galáxia. Evitara histórias que envolvessem o
uso da Força, mas falara sobre a sua infância no templo Jedi e contou
histórias de Hosnian Prime, memórias que tinha de quando era tão jovem
quanto a pequena Simi, de grandes encontros de seu clã em que eles se
amontoavam ainda mais próximos do que todos aqueles presos no celeiro!
As crianças ficaram curiosas e queriam saber mais sobre as suas marcas
douradas que não eram lavadas pela água da tempestade como às azuis que
tinham, então explicou o que sabia sobre as tatuagens e o que sabia do
processo de fazer a tinta dourada. Escreveu o nome dos personagens no
chão para mostrar como as figuras eram um espelho dos significados e
provocou-os perguntando como seriam as suas tatuagens.
Mas Marda ficara mais apaixonada pelas suas histórias sobre Jedha.
Ela se recostava, com o negro de seus olhos brilhando com estrelas, e
entre suspiros pedia por mais. Ela queria saber se havia falado com outros
dos Guardiões do Whills, onde o fundador da Trilha da Mão Aberta havia
começado o seu treinamento com a Força. Kevmo tentou descrever da
melhor forma possível o que lembrava do grande templo em Jedha e
explicou que alguns estudiosos Jedi acreditavam que ele havia se originado
como um templo Jedi, mas desde então havia acolhido diferentes seguidores
da força. E agora a lua fria e deserta era o local de repouso da Convocação e
incluía os Guardiões, os Jedi, os Magos de Tund e a Igreja da Força. Marda
havia ficado impressionada e se perguntava se haveria espaço para um
membro da Trilha no conselho. Se conversas sobre o papel da Força na
Galáxia estavam acontecendo entre filósofos da Força, certamente elas
precisavam incluir a voz daqueles cuja preocupação primária era a
liberdade da Força em si. Kevmo fora incapaz de discordar e disse que ela
seria uma ótima membro do conselho, uma debatedora impetuosa, como já
havia notado.
— Eu não tenho certeza de que algum dia poderei deixar Dalna, Marda
havia murmurado.
Mas Kevmo viu a ideia ser plantada e sorriu. Marda sorriu de volta.
Então a distraiu e aos Pequeninos narrando novamente, de forma dramática,
como distraíra os tubarões-de-grama e salvara o acampamento em Tiikae.
Isso havia acontecido no dia anterior e Kevmo sabia que havia uma
chance de que não voltaria a vê-la. Dependendo dos efeitos da inundação na
nave deles e o que Mestra Zallah acharia das notícias sobre o sistema da
caverna, eles talvez tivessem que infiltrar a Trilha e resgatar do Bastão das
Estações, e confiscar quaisquer artefatos do lado sombrio da força, naquela
mesma noite. E então eles estariam fora desse mundo e Kevmo poderia ir
para qualquer lugar. Possivelmente nunca mais voltando nesse sistema
novamente.
O pensamento foi mais dolorido do que deveria ser. Simplesmente
gostava muito de Marda. O jeito que ela era gentil e o desafiava, de uma
forma tão graciosa e atenciosa, e então se virava e fazia algo que parecia
impulsivo, como se estivesse seguindo a vontade da Força. Quando estava
com ela, Kevmo se indagava se Marda e a Trilha realmente tinham uma
compreensão especial sobre viver em harmonia e clareza com a força. O
principio central de presentes distribuídos livremente fazia sentido para
Kevmo. Se alinhava com a sua missão como Jedi.
Mas esses eram apenas pensamentos indolentes, um desafio as suas
crenças na forma de uma pessoa muito bonita. Ele continuaria a trabalhar os
seus sentimentos até que os entendesse bem para que pudesse deixa-los para
lá. Talvez conversasse com Mestra Zallah sobre o assunto, se sentisse que
ela estava com um humor caridoso e não fosse provocá-lo. Usar os seus
sentimentos, processá-los como parte da forma que a Força falava com ele,
era uma habilidade importante que precisava trabalhar antes que pudesse se
tornar um Cavaleiro.
Ainda assim. Iria sentir saudades de Marda Ro. Se nunca mais
retornasse a Dalna, ao menos mandaria a ela uma mensagem de despedida e
a encorajaria a continuar pensando em Jedha.
Ferdan fervilhava ativamente, agora que os moradores e os mercadores
trabalhavam para avaliar e consertar os danos da grande enchente. Tinha
sido uma espécie de inundação de duzentos anos e nem os residentes mais
antigos lembravam de algo assim. Kevmo entreouviu uma história sobre
enviar uma equipe para os vulcões para inspecionar os danos e tentar
descobrir o que havia deslocado o rio, causando a catástrofe. Também ouviu
que seis pessoas haviam se afogado. A maioria havia ficado presa rio acima
sem ter tido nenhum aviso sobre a chegada das águas.
Na casa de embarque, Lady Jara comandava três trabalhadores
corpulentos, um Gamorreano e dois Gigoranos, enquanto eles tentavam
erguer um veículo comercial surrado que estava atolado na lama. Kevmo
imediatamente se concentrou e se conectou a Força. Foi delicioso
facilmente escorregar pelo calor dela enquanto ele chacoalhava levemente o
veículo, separando-o da lama com um som abafado, apenas o suficiente
para que os trabalhadores pudessem segurá-lo.
— Ah, — disse Lady Jara amargamente, — já era hora de você
aparecer.
Kevmo se curvou a ela, cumprimentando-a surpreso.
— A Mestra Zallah não o tem ajudado?
— Ela está no porto com Jinx consertando a rede de comunicações para
que possamos nos comunicar com o a Galáxia novamente.
Dividido entre correr imediatamente para o lado de Zallah e permanecer
para oferecer mais ajuda a Cara, Kevmo hesitou.
Lady Jara revirou os olhos. Ela apertou os lábios mas Kevmo achou que
era um sorriso.
— Pode ir. Vá se reportar a sua mestra. Essa bagunça vai continuar
aqui.
— Obrigado! — disse ele logo antes de sair correndo.
Ainda parou duas vezes para ajudar a levantar coisas pesadas e uma vez
para usar o seu sabre de luz para rapidamente cortar alguns fios
perdidamente emaranhados onde as águas da inundação haviam golpeado o
lado de um droide de irrigação que parecia ter sido arrastado por centenas
de metros para dentro da cidade.
Quando Kevmo se virou em direção às docas, sorrindo e curvando-se
para as pessoas que ajudava no caminho, insistindo que não eram
necessários agradecimentos, percebeu tentáculos cor-de-rosa familiares.
Parou, foi andando para a esquerda e espiou por um beco. Estava escuro
devido aos sóis se pondo, mas Kevmo não tinha dúvidas: era o garoto
Mikkiano da Trilha da Mão Aberta. Aquele que passara dias no celeiro
brincando com uma faca até que vários anciões lhe disseram para não fazê-
lo e então desapareceu assim que a chuva parara, mesmo com tudo ainda
inundado. Kevmo não tinha ficado impressionado, especialmente quando
percebeu que Marda também não gostava do Mikkiano.
Treze, esse era o nome dele. Kevmo ignorou o desconforto que sentia ao
espiar, preferia métodos mais diretos, e se esgueirou pelo beco enquanto o
Mikkiano abria uma porta ao som estridente das dobradiças e desaparecia
para dentro dela.
Era um beco entre uma casa geminada e uma série de prédios para
alugar que eram pouco mais do que galpões, e Treze havia adentrado a casa
geminada. Várias janelas estava abertas (na verdade, quebradas) e tudo
cheirava a lama com uma nota do cheiro do lixo das pilhas de comida
estragada que se acumulavam nos cantos do beco (uma parte delas trazidas
pela água, outra, apenas jogada dos andares superiores.
— Rilly, venha cá, — Kevmo ouviu Treze dizer, respondido por um
murmúrio ansioso. Em seguida seguiu-se o som distinto de beijos intensos e
Kevmo se sentiu regurgitar um pouco, pronto para retornar de onde viera.
Isso era apenas um encontro amoroso, o Mikkiano ansioso para encontrar a
sua amante depois da inundação. Nada nefasto, mesmo que quem quer que
fosse a amante tivesse um gosto terrível.
Kevmo se virou silenciosamente, mas então ouviu um arfar e Rilly
disse:
— Calma, meu amor, nós temos toda a noite.
— Não, temos que voltar, — disse Treze. A voz dele estava abafada
mas Kevmo definitivamente entendeu a próxima frase: — Eu tenho um
trabalho logo cedo.
— Mas o porto está destruído pelo que ouvi, disse Rilly, as naves não
podem nem ao menos dar partida e não há comunicação.
O porto! Kevmo lembrou de Marda lhe falando sobre os Filhos
deixando Dalna para pregar, mas de forma alguma esse Mikkiano era um
defendedor leal da Trilha.
— A Mãe tem os seus meios, disse Treze, Vamos. Temos que ir.
Kevmo ouviu passos se afastando da janela
— Se você parar de me aborrecer com isso, eu vou lhe trazer alguma
coisa bonita.
— Aaaaaah, o que?
— Alguma quinquilharia ou algum troço brilhante. Dessa vez vamos a
um lugar que com certeza estará cheio dessas coisas e...
As vozes ficaram abafadas demais para Kevmo continuar ouvindo.
Ficou algum tempo naquele beco escuro e fedorento pensando. Os
Filhos e a Mãe eram os únicos que haviam deixado Dalna, então isso tinha
que ser sobre eles, mas eles não estavam indo exatamente pregar a palavra
se Treze sabia do que estava falando.
Não haviam provas concretas, mas haviam muitas evidências
circunstanciais que faziam com que ele e a Mestra Zallah estivessem certos
de que a Trilha estava por trás do sumiço do Bastão das Estações. Se esse
era o caso, tinha que estar naquelas cavernas em algum lugar ou então
naquela nave que estavam construindo, a Olhar Elétrico. Kevmo suspirou.
Não queria estar certo sobre isso. Mesmo tendo confiança absoluta de que
Marda não estava envolvida, ela ficaria devastada quando descobrisse.
Tanto pela traição da Mãe, quanto por Kevmo ter sido aquele que lhe fará
enxergar.
Com os ombros caídos, Kevmo voltou ao seu caminho, saindo do beco
e se dirigindo ao trecho final da rua enlameada que levava ao porto.
As mesmas três naves estavam paradas no campo plano, mas haviam
detritos em todos os lugares e os corredores da nave cargueira estavam
cobertas do que pareciam ser vinhas velhas. Plantas similares se
enroscavam perto do esquife Jedi. Um dos trens de pouso estava torto,
fazendo com que todo o esquife estivesse perigosamente inclinado. Parecia
que alguns dos sensores da frente haviam sido arrancados também. Isso
exigira algum tempo para ser consertado. E talvez algumas partes que eles
não tinham. Eles podiam chegar em algum lugar sem alguns sensores, mas
não sem um trem de pouso.
Do outro lado, o escritório de retransmissão e comunicações estava
faltando uma boa parte de sua parede. Kevmo ficou boquiaberto por um
momento. As entranhas do prédio estavam meio vazadas, com cadeiras e
telas de dados e uma quantidade surpreendente de parafusos e painéis
enferrujados, mas parecia que boa parte da tecnologia estava intacta.
Aproximou-se e encontrou o xerife humano loiro esmagando o chão com as
botas. Virou a cabeça rapidamente quando o ouviu, com uma carranca no
rosto. Usava um fone de ouvido velho e cobriu o microfone com a mão.
— A Sua Zallah Macri está na nave, — ela gritou pra ele, acenando
com a outra mão.
Do outro lado da via, o escritório de comunicação e retransmissão
estava sem uma boa porção de sua parede. Kevmo ficou olhando
boquiaberto por um momento. As entranhas do prédio estavam meio
espalhadas, cadeiras, telas de dados e uma quantidade surpreendente de
parafusos e painéis enferrujados, mas parecia que muito da estrutura
tecnológica estava intacta. Ele se aproximou e encontrou a xerife humana
loira esmagando o chão com as suas botas. Virou a cabeça com uma careta
assim que o ouviu, cobrindo com a mão o alto-falante do fone de ouvido
antigo que usava.
— A sua Zallah Macri está na nave, gritou para ele, acenando com a
outra mão.
Kevmo devolveu a saudação e correu até o esquife.
A rampa estava estendida e as portas escancaradas. Kevmo andou
cuidadosamente em direção a cabine torta. Entrou, limpando a umidade
invisível de sua cara. Havia fumaça no ar e ele se perguntou se alguma
coisa tinha pegado fogo.
— Mestra Zallah? — chamou ele.
— Aqui atrás, Kev! — gritou ela, soando como se houvesse algo em sua
boca.
Encontrou-a na cabine de comando, deitada de costas, cercada por fios
enquanto enfiava o braço até o ombro para dentro do painel de controle
diretamente sob o manche. Os seus olhos estavam arregalados e realmente
havia um cortador a laser alojado entre seus dentes.
— Ei, você precisa de ajuda? — perguntou Kevmo enquanto se
agachava, Alguma coisa pegou fogo?
Zallah grunhiu e então se arrastou pra fora de onde estava, debaixo do
console. Ela cuspiu o cortador a laser na mão
— Só algumas faíscas quando eu desacoplei o manche. A água estava
na altura dos meus joelho quando consegui forçar as portas a se abrirem.
Deve ter entrado quando o trem de pouso quebrou, pela antepara. Quando
secar, eu espero que muitas coisas voltem ao normal, mas precisamos de um
novo compressor aqui embaixo e não há nenhum no planeta. Mandei uma
mensagem a Porto Haileap, e também Batuu já que eu já estava mandando
por lá, só por segurança, mas acho que estamos presos por aqui por pelo
menos mais uma semana.
Kevmo tentou muito fortemente ignorar a pequena explosão de
felicidade ao saber que poderia ver Marda novamente, afinal de contas.
— Está tudo bem com você, tirando isso?
Zallah secou suor de sua testa prateada e sentou. Ela o olhou friamente
por um momento, observando o seu estado deplorável, todo sujo de lama e
perguntou:
— Você está?
— Hummmm, — ele grunhiu através de um sorriso reconfortante, —
Não perdemos ninguém lá no complexo da Trilha, mas foi por pouco.
— E?
— Eu usei a Força na frente de vários dos membros da Trilha para
salvar uma pessoa e... ele respirou fundo, eu acho que tudo correu bem. Nós
fortificamos o celeiro de armazenamento e nos amontoamos por lá até
ontem, mas havia muito a ser feito então eu achei que deveria ficar e ajudar.
Você recebeu a minha mensagem? Eu achei que a ouvi responder mas o
comunicador não estava funcionando muito bem.
— Os faróis locais estavam fora do ar, então eles estavam funcionando
em uma frequência própria, mas sim. Jinx conseguiu conectá-lo com um
retransmissor em órbita, então ao menos temos isso.
Kevmo assentiu.
— Foi assim que você mandou a mensagem a Porto Haileap.
— Sim. E o que tem o mantido tão ocupado?
Com um pequeno sorriso e na esperança de que ela tivesse percebido
apenas por que o conhecia tão bem e podia sentir as pequenas perturbações
na Força ao seu redor, Kevmo disse:
— Eu acho que sei aonde a Trilha pode estar escondido o Bastão...
naquelas cavernas. Nós achamos que poderiam ser um bom lugar, mas
agora que eu as conheci, é extremamente provável que, caso eles estejam
por trás do roubo, esteja lá.
— E?
— Marda me ensinou como navegar pelos túneis.
— Bom, disse Zallah sem nenhuma entonação.
E então ela esperou.
Sob seu olhar lilás frio, Kevmo se recompôs melhor.
— Eu senti alguma coisa dentro dos túneis. Eu estava usando a Força,
mas era uma emergência, então eu não tive tempo para investigar. Mas eu
senti algo que eu acho que pode ser um artefato diferente também
relacionado à Força.
O olhar de Zallah se aguçou.
— Como você sabe que era diferente?
— Era o lado sombrio.
A mandíbula de sua Mestra se cerrou como se ela estivesse tentando
não deixar escapar um palavrão
— E...
— Mais? — Ela perguntou entre os dentes
— Eu também entreouvi um dos Filhos discutindo um novo trabalho,
amanhã, e é fora do planeta. Eu não sei como eles conseguem sair do
planeta enquanto tudo está desastrosamente assim ...
— Contrabandistas sempre encontram os seus meios.
Kevmo assentiu.
— Você conheceu a Mãe deles?
— Não! — Kevmo encolheu os ombros frustrado, É estranho... Não
estava por lá em nenhum momento. Marda disse que ela provavelmente
estava escondida em o seu chalé, em harmonia com a Força durante o caos
da tempestade. Mas... enquanto todo o seu povo estava no celeiro, com
medo? O Arauto e os outros Anciões estavam lá. Eu até mesmo conheci a
prima de Marda. E acho que ela não gosta de mim.
— Ela precisa gostar de você? — Zallah permitiu que um toque de
humor aparecesse no seu tom.
Kevmo riu tristemente de si mesmo
— Talvez a Mãe estava na Olhar Elétrico. Eles podem estar escondendo
muita coisa naquela nave também.
O rosto de Zallah caiu em uma carranca pensativa.
— Eu vou tentar achar o manifesto daquela nave e de onde o dinheiro
está vindo enquanto ajudo Jinx a consertar o escritório da estação. E se os
Filhos forem amanhã, nós devemos conseguir vê-los, mesmo que não
decolem desse porto. Como estaremos presos aqui por alguns dias,
podemos ser pacientes.
— Mesmo se eles tiraram o Bastão do planeta?
— Talvez eles já tenham tirado. Mas se nós os perdermos de vista,
vamos encontrá-lo novamente.
Era fácil se ancorar na confiança dela. Kevmo sentiu o seu sorrido se
solidificando.
E então Mestra Zallah disse:
— Me conte mais sobre Marda, Kev. Eu sei que você tem mais a falar.
Ele estremeceu, mas assentiu.
— Eu contei a ela sobre Jedha e acho que ela ficou intrigada. Ela acha
que a Trilha deveria ter uma representação na Convocação.
— E você a encorajou?
— Sim... Não deveria ter encorajado?
Mestra Zallah balançou a cabeça lentamente.
— O que é importa é a sua motivação para encorajá-la. Você sabe qual
era?
— É complicada, mas verdadeira. Eu não tenho certeza do que fazer
com o que sinto sobre ela, Mestra Zallah.
A Jedi Soikana mal esperou que terminasse. Kevmo afundou em seus
quadris e se deixou abrir para a Força. O calor foi se infiltrando,
iluminando-o como sempre fazia. Respirou profundamente. Alcançou os
seus sentimentos.
— Eu acho... Eu acho que não estou em conflito. — disse ele. — Eu sei
o que devo estar fazendo, quero ouvir a Força e cumprir a minha obrigação
como Jedi. Eu simplesmente também... gosto muito dela. Essas duas coisas
não precisam estar em conflito, precisam?
— Você tem permissão para gostar das pessoas e das coisas, Aprendiz.
Kevmo assentiu entusiasmado.
— Eu sinto que é importante que eu a conheça. Talvez por essa situação
com o Bastão das Estações ou talvez por outra coisa ainda maior que talvez
nos envolvamos com a Trilha. Ou talvez é sobre Jedha. — Ela se iluminou,
de verdade, quando estávamos falando sobre isso. Eu quero... Eu quero que
ela encontre o seu espaço na Força. — Kevmo assentiu novamente, mais
para si mesmo, mas percebeu o olhar de sua mestra.
Zallah sustentou a troca de olhares com o seu olhar penetrante e Kevmo
continuou a falar:
— Muito do que ela diz, do que ela acredita, faz sentido pra mim. Os
dons dados livremente, o desejo de viver em harmonia com Força... Ah.
— Ah, realmente. — disse Zallah.
— Eu estou em busca do meu espaço na Força. Do meu espaço aqui nas
fronteiras, com os Jedi.
O lábio de Mestra Zallah se curvou em um dos lados, num pequeno
sorrido orgulhoso. E então ela fez com que o seu rosto voltasse a ser frio e
sem expressão novamente.
— É bom que Marda Ro e este lugar estão lhe ajudando a entender
melhor a si mesmo. Esse é o único jeito de um dia aprender a respirar com a
Força, a viver com ela como um só. Mas Kevmo, lembre-se que você já
conhece a Força. Você sabe o que ela é e o que ela é para você.
Ela estendeu o braço e colocou o punho fechado contra o peitoral dele.
— É aquele sol dentro de você, e é a Força que o ilumina. A força a
ilumina também. Se a associação de vocês permite que ambos cresçam e se
iluminem mais, ótimo, ela é positiva. Mas não confunda o brilho da Força
que vocês partilham com algo mais poderoso do que a Força.
— Não há nada mais poderoso que a Força. — disse ele, sentindo a
verdade nessa declaração enquanto as palavras de Mestra Zallah lhe davam
firmeza.
Zallah bufou e disse:
— Tudo bem, me ajude com essa bagunça para que possamos completar
nossa missão, temos que conseguir sair dessa rocha.
Noite havia caído, e Marda respirou fundo, soltando o ar lentamente
em alívio. Finalmente estava limpa, um pouco fria de um rápido banho à
beira do rio, mas ansiosa para voltar para a sua própria cela pela primeira
vez em dias. Os Pequeninos estavam aconchegados e dormindo, todos eles,
até mesmo o Jerid mais turbulento e o Utalir medroso. Eles a haviam
esgotado nos últimos dias, especialmente antes de serem liberados do
celeiro.
Kevmo tinha sido uma bênção ao lado dela. Alegre, forte, bom com as
crianças e tão pronto para ajudar quem precisa. Ele salvou a vida do bebê
Kessarine. E o de Er Dal também. Com a Força.
Naquele momento, Marda não se importou nem um pouco. Havia
jogado fora suas crenças diante do perigo. Mas a Força poderia realmente
desejar que os seres vivos morressem de maneira tão violenta e tão jovem?
É claro que absolveu Kevmo da culpa que ele havia expressado. O
pecado tinha sido dela. E ainda assim não podia se arrepender.
Talvez fosse o egoísmo Evereni nela.
Teria tempo para explorar as suas dúvidas, através do árduo trabalho de
colocar a Trilha de volta em ordem. Sem Kevmo, que havia retornado para
a sua mestra, e...
Marda pensou que poderia não o ver novamente. Pelo menos não em
Dalna.
Estrelas brilhavam no céu, e a menor lua surgiu em sua glória rosa
hesitante. Marda caminhou lentamente pela grama de volta à estrada, com
as suas botas finas grudadas na lama. Quando os sóis finalmente secarem
esta planície, a grama esmagada pela enchente pode acabar virando tijolos
de barro. Era bom que a Trilha não usasse essa área para agricultura.
Os seus campos foram destruídos, é claro. Marda não tinha visto
pessoalmente, mas ouviu o relatório de Efrik naquela tarde antes do
banquete comunitário. Iriam passar fome, só que, graças à mensagem da
Mãe, uma generosa doação havia sido feita por um de seus benfeitores, e
ela daria conta da Trilha até o fim do verão e do inverno. Esse anúncio
transformou a sua refeição improvisada para consumir os alimentos
perecíveis em um verdadeiro banquete de agradecimento.
Marda fez uma pausa sob as estrelas e fechou os olhos, estendeu as
mãos com as palmas pra cima e murmurou agradecimentos à Força por
enviar a Mãe a eles tantos anos antes.
— Marda Ro.
Ofegando de surpresa, Marda abriu os olhos para ver o Arauto parado
na beira da estrada estreita que levava de volta às celas. A luz da lua
lançava reflexos rosados nos tocos esverdeados arruinados de seus
tentáculos, e os seus olhos eram tão grandes e negros quanto o céu.
Curvou-se sobre as mãos abertas.
— Arauto.
— Junte-se a mim. — disse ele.
Marda caminhou o mais leve possível pela grama molhada e esmagada
até chegar à estrada.
— Está tudo bem...
O Arauto inclinou a cabeça pra ela e franziu a testa.
O sangue de Marda gelou.
— Arauto. — ela sussurrou. Era a sua esposa?
Ela parecia tão animada no banquete. Ou a Mãe, que não compareceu.
Talvez ela não estivesse meditando com segurança como prometido, mas
ferida ou sofrendo uma terrível visão da Força.
Ele colocou uma grande mão em o seu ombro. O seu calor derreteu
através de suas vestes.
— Nada está imediatamente errado. Todo o nosso povo está seguro.
Mas não posso realmente dizer que está tudo bem.
Como ele sabia? Marda se perguntou. O que ela tinha feito para revelar
as suas dúvidas? Marda estalou os dentes nervosamente e se colocou ao
lado do Arauto enquanto ele caminhava. A mão dele permaneceu em o seu
ombro, então talvez houvesse espaço para a sua absolvição.
— Arauto. — ela murmurou.
— Marda. — ele respondeu com infinita gentileza.
Isso lhe deu coragem.
— Como nos apegamos a Trilha, mesmo quando é difícil? Diante de
algo como esta inundação que quase nos destruiu...
— A Força não está interessada em maneiras fáceis ou difíceis. — disse
ele.
— A sua vontade se volta para a vida, para a harmonia, clareza e
liberdade. Mas a galáxia não. A Trilha da Mão Aberta existe para criar
espaço para a Força ser livre. Livre de nossos desejos, livre dos desejos e da
vontade dos outros. Vivemos ao lado da Força.
— Em harmonia. — disse ela. — Aris Ade disse que devemos retribuir
à Força. Essa verdadeira harmonia é ativa. Devemos ser participantes, não
apenas recipientes passivos de seus dons, ou quaisquer dons.
— Isso é verdade. Eu dou a você, você dá a mim. Não levamos.
Nós libertamos, pensou Marda. Abrir espaço para a Força ser livre, eles
chamavam, mas outros, incluindo os Jedi, considerariam isso um crime.
— Os Jedi... — Marda começou. Não tinha certeza de como fazer a sua
pergunta.
— Tiram. Sei o que aquele jovem fez por nós, mas não foi a Trilha.
Estou feliz que ele se foi.
— Mas, Arauto, foi um presente. Para nós. Pra mim e para Kessarine.
— Kevmo tirou da Força, eu sei, mas foi para nos dar. Ele salvou as
suas vidas. Como posso condenar isso? — Lágrimas engrossaram a sua voz.
— Você já considerou que o presente dele para você pode ter custado
caro a outra pessoa? — o Arauto perguntou friamente. — Esse é o caminho
da Força. Pegue aqui e prive a galáxia em outro lugar. Uma falsa vontade
imposta aqui, um vácuo ali. Não sabemos o que as ondulações farão, mas
sabemos que elas existem.
Marda sabia disso. Sabia. Isso fez seu peito doer, e agarrou o colarinho,
deixando as suas unhas prenderem o seu roupão.
— A Força permite que os Jedi a usem. Eles são sensíveis e podem
alcançá-lo. Isso não é algo que a Força deve querer...
— Marda. — o Arauto repreendeu. — É um desafio resistir ao uso da
Força se for capaz, mas um desafio digno. Um necessário. Você poderia
tirar comida daqueles menores que você, mais fracos que você, mas não o
faz. Você poderia colher frutas de uma árvore. Está bem ali, esperando,
facilmente tomado. Mas você não toma. A árvore quer ser despojada de
seus frutos...
Marda baixou o olhar.
— Os bebês, Er Dal, eles vivem, mas quem morrerá em o seu lugar?
Alguém que conhecemos, talvez. Talvez alguém distante nos Mundos
Centrais e nunca saberemos. Esse é o custo de abusar da Força, mesmo que
o ganho seja vidas. Eles podem ter sido salvos de outra maneira. Todos nós
podemos ser exterminados por uma inundação semelhante um dia. A Força
deve ser livre.
— A Força será livre. — Marda murmurou.
Por um tempo, eles caminharam em silêncio, cada um contemplando e
apreciando a beleza da noite. Ao deixarem a pastagem ao longo da planície
de inundação do rio, eles entraram na floresta esparsa e nos prados floridos
perto do complexo. Mara parou. Algo brilhou contra o chão.
O Arauto fez uma pausa com ela. Através do mato baixo, os restos de
flores lompop, Marda espiou pequenas bolhas de azul frio e violeta.
Enquanto observavam, as luzes subiam pelas hastes retorcidas como se
rastejassem. Ao redor deles, centenas de pequenas luzes rastejavam da lama
e penduravam-se nas pontas das flores arruinadas.
De repente, uma saltou para o céu. Outra seguiu e então um redemoinho
deles. Elas flutuaram ao redor, flutuando com a brisa delicada.
Elas eram como pirilampos, mas a sua luz era constante. Mais como
estrelas caídas no planeta, lutando para se libertar da gravidade e voltar ao
céu. Marda mal conseguia respirar de alegria e admiração.
O Arauto estendeu a mão e pegou um com as duas mãos em concha.
Marda se inclinou para mais perto e o Arauto baixou as mãos, abrindo-
as com cuidado para que pudessem espiar a caverna de suas palmas. Um
pequeno inseto balançava entre os seus dedos, com seu corpo inteiro
brilhando em roxo.
— Parece uma larva de flutterbug, mas nunca vi uma fazer isso quando
abria as asas.
— Flutterbugs nascem na lama...
O Arauto jogou gentilmente o inseto brilhante pra cima e ele se afastou.
— Suspeito que seja uma variante que hiberna profundamente no solo e
só emerge quando o solo é amolecido por uma grande inundação.
— Oh. — Marda suspirou. A enchente que tanto destruiu, matou
pessoas na cidade, quase matou alguns da Trilha, foi a única razão pela qual
esses pequenos insetos estelares acordaram e voaram.
— Dalna pode ter preferido sacrificar parte de seu povo pelo bem
dessas criaturas. — refletiu o Arauto. — Quem sabe que papel maior eles
desempenham no ecossistema, na saúde do mundo inteiro.
— Entendo. — disse Marda.
— Você...
— A Força deve ser livre. — Marda juntou as mãos, abrindo-as para o
céu, depois fechou os dedos em punhos. — Isso vale a pena defender e
lutar. Eu quero fazer isso.
— É importante fazer um lar, manter espaço, tão importante quanto
lutar. — disse o Arauto. — Devemos ter os dois.
Foi o que Marda ouviu repetidas vezes. Não falou. Mas estava pensando
em Jedha, na Convocação e na falta de representação da Trilha da Mão
Aberta. A voz do Jedi era certamente alta e tão forte, e Marda duvidava que
alguém os desafiasse abertamente, não como faria. Não como tinha.
Kevmo ficaria satisfeito. Ambos poderiam estar trabalhando em direção
à harmonia com a Força e talvez até algum dia encontrar maneiras de os
Jedi e a Trilha chegarem a algum entendimento.
O coração de Marda parecia brilhar, assim como os insetos. A Mãe se
recusou permitir que se tornasse uma dos Filhos, disse que o seu lugar era
com a Trilha, criando um lar, cuidando dos Pequeninos, mas certamente
essa ideia teria mérito. Todos concordaram que a fé de Marda era pura. E
até mesmo as suas dúvidas, sabia agora, a levaram a uma maior clareza. Era
assim que podia retribuir à Força, entregar-se livremente.
Um sorriso começou a se espalhar em sua boca. Mal podia esperar para
contar a Kevmo, se pudesse vê-lo novamente. Talvez o surpreenda um dia,
encontrá-lo em Jedha. Mas poderia contar a Yana e Ferize, Er Dal e Fel Ix.
O Arauto disse:
— Há algo que desejo discutir com você, Marda Ro.
— Oh. — ela disse novamente, pega de surpresa. Ela pensou...
Marda abriu as palmas das mãos novamente e fez uma reverência.
— O que você sabe sobre os planos de sua prima...
— Yana...
— Sim.
A confusão dominou a empolgação de Marda.
— Ela não tem planos. Só servir os Filhos e... Marda fez uma pausa.
Isso pode ter a ver com Kor, não com a Trilha. Ela baixou os olhos
educadamente. — Ela cuida de sua filha, Arauto. Tenho certeza de que os
seus planos são bem intencionados.
O Arauto murmurou uma nota descontente.
— Yana Ro pretende ir embora.
Por um momento, Marda ficou boquiaberta. A expressão do Arauto era
fria, mesmo sob o luar rosa leitoso. Os seus olhos negros não continham
nada que ela pudesse ler. Marda piscou e piscou novamente. Então ela
disse:
— Yana é uma dos Filhos. Ela sai o tempo todo.
— Sair permanentemente. — o Arauto disse mais incisivamente.
— Não não. — Marda balançou a cabeça.
— Ela está. Não só de Dalna, mas da própria Trilha. E ela está tentando
levar a minha filha com ela.
— Isso é impossível.
O Arauto pôs a mão no ombro de Marda novamente. Com força.
— Yana e a Mãe têm um acordo. Depois desta... missão... amanhã, Yana
pretende declarar as suas obrigações cumpridas e ela mesma livre da Trilha,
e ela partirá.
— Obrigações? — Marda afastou-se do toque do Arauto. — Não
devemos nada à Mãe ! Ela também não nos deve. Nós, os nossos
compromissos são presentes dados livremente. Se Yana quisesse ir, ela
poderia. Não há necessidade de fazer barganhas. Você está errado.
— Não estou.
O peso de suas palavras e a sua certeza enraizaram Marda na estrada.
Parecia que a sua pele estava lentamente se desprendendo de seu corpo,
pingando como toda aquela chuva.
O céu estrelado brilhava. A lua emprestou luz rosa para Dalna. E os
bichinhos voaram para longe, afastando-se de Marda, deixando-a sozinha
no escuro.
— Ela não me deixaria. — Marda sussurrou.
— Considere o contrário. — disse o Arauto.
Marda engoliu em seco e assim o fez. Yana era a sua única família. Elas
precisavam uma da outra. Yana sempre disse que a galáxia odiava os
Evereni e elas devem ficar juntas. O que teria feito ela mudar de ideia? Não,
não Kor, não o amor. Marda sentia muito por Kevmo, podia imaginar...
estar com ele. Ao seu lado, viajando e compartilhando a Força, não que isso
fosse possível, mas... nem mesmo os seus sentimentos por ele a fariam
deixar Yana. Yana era tão intrinsecamente parte dela quanto o própria
Trilha. Família.
— Você pode convencê-la a ficar. — o Arauto disse mais suavemente.
— Para você. para a sua família. Para a Força. Todos nós precisamos uns
dos outros, e precisaremos ainda mais nos dias que virão.
— Por, por quê? — Marda conseguiu. — O que está por vir...
O Arauto balançou a cabeça.
— A Mãe está se preparando, mas pra quê, ela não dirá. Ela está, há
meses. A Olhar Elétrico faz parte disso, o nosso santuário, a nossa maneira
de divulgar a nossa missão. Talvez seja só isso, a nova expansão da Trilha
de volta às estrelas. Mas não podemos perder nenhum dos Filhos.
Lentamente, Marda assentiu. Respirou com cuidado, atraindo o seu
horror para mais perto de si. E percebeu que também estava com raiva.
Com a ideia, Yana pode ir embora, principalmente sem avisar Marda.
Profundamente furiosa! Era uma lasca fria de gelo e, quando se permitiu
senti-la, a clareza veio. Talvez essa fosse a certeza aliviante de seu povo.
— Vou lembrá-la. — disse Marda. O seu olhar se aguçou e o virou para
as estrelas. Isso sabia: a Trilha era a única vontade verdadeira da Força, E
ela estava destinada a andar. De mãos abertas, em harmonia com uma Força
livre. Talvez essa clareza ardente, essa compreensão de onde o futuro a
levaria fosse o significado do nome Olhar Elétrico.
Disse ao Arauto:
— Estamos deixando Dalna, na Olhar Elétrico, e trilhando a Trilha
conosco. Mas faremos isso juntos.
Yana prendeu a luz final e suspirou enquanto ligava. Finalmente. A
substituição e programação das luzes das cavernas foi concluída, e não foi
cedo demais. Tinha lugares para estar.
Ou apenas um, na verdade.
Yana guardou as suas ferramentas e deu um sorriso pálido aos Anciãos
que passavam com os seus escassos pertences nas mãos. Todos estavam de
volta onde deveriam estar, e Yana até conseguiu instalar alguns sensores de
umidade mais atrás nas cavernas, além das luzes. Da próxima vez que as
cavernas fossem inundadas, todos teriam um amplo aviso.
Yana considerou isso um presente de despedida para as pessoas que
cuidaram dela durante a maior parte de sua vida.
Depois de fazer as malas, Yana voltou para o ar fresco. Não tomou o
caminho que passava pela sala de escuta da Mãe. Desde a enchente, a Mãe
havia retransmitido todas as mensagens pelo Arauto, e Yana teve a
impressão de que se tentasse falar diretamente com a Mãe, seria rejeitada.
Mas se era porque Yana havia perdido o favor ou porque a Mãe estava
ocupada com os seus próprios assuntos, Yana não tinha certeza. A Trilha
não gostava de desertores, e logo correriam notícias de que estava
planejando partir, e todos tentariam convencê-la a ficar. Yana o tinha visto
em ação apenas uma vez, quando a irmã mais velha de Treze fugiu da
Trilha para uma vida em qualquer lugar, menos em Dalna. A Mikkiana
havia se sentado no meio do campo de coleta por dias com cada Ancião,
pai, Pequeno e iniciado tentou levá-la a ver a razão.
No final, ela ainda saiu. A Trilha não era a galáxia, e haviam maravilhas
muito além das montanhas majestosas, lompop selvagem e a árvore do
nascer do sol para contemplar. Dalna não poderia ser o suficiente para
todos, e não era pra ela.
E não era por Yana também. Gostaria de poder fazer Marda entender,
mas nada parecia menos provável. Queria amarrar Marda e levá-la para um
lugar mais seguro. Queria que Marda ficasse, fosse feliz, se tornasse o tipo
de Anciã da Trilha que qualquer um poderia respeitar. Ou não. Queria que
Marda fosse verdadeiramente feliz e não a felicidade falsa e oca de desejo e
escassez que a Trilha vendia. Queria que elas tivessem partido anos antes.
Queria ter acabado em algum outro mundo de nada. Queria ver Marda feroz
e pronta para lutar pelas coisas que amava, em vez de tão mansa e
subserviente.
Queria sair imediatamente.
Mas não era só Marda que fez Yana querer mais do que apenas uma
fuga. Queria que Kor fosse com ela. Queria Kor ao seu lado para se
maravilhar com as maravilhas da galáxia. Queria que Kor a amasse o
suficiente para ir.
Mas apenas um dos desejos de Yana provavelmente se tornaria
realidade. Estava indo embora.
Yana não tinha intenção de deixar a Mãe ou o Arauto empurrá-la para
um longo adeus. Em vez disso, faria o que os Evereni havia feito por
séculos: simplesmente desaparecer sem deixar vestígios, desaparecendo no
barulho da galáxia. Só precisava dos créditos que a Mãe lhe devia para
escapar. Não pediria a Kor ou Marda para acompanhá-la. Kor sabia que
estava indo embora, e se ela quisesse vir, ela diria.
Yana não sabia o que faria sem a presença constante de Kor.
Mas também a amava o suficiente para não pedir que ela fosse embora.
Ou talvez só estivesse com medo de qual seria a resposta.
E Marda? Bem, Yana simplesmente não suportou ver a tristeza nos
olhos de sua prima quando ela decidiu ficar com a Trilha.
Estava escuro lá fora quando Yana saiu pela entrada principal das
cavernas. Piscou, esperando que a sua visão se ajustasse. Será que ela
realmente perdeu tanto tempo? O trabalho nas cavernas a havia consumido,
e a sua barriga doía por falta de comida. Precisava encontrar algo para
comer.
Yana deixou as ferramentas na cabana de Cincey, a humana não estava
em lugar algum para ser encontrada, provavelmente em negócios próprios,
e foi até a cozinha para ver se conseguia arranjar um pedaço de queijo ou
algo assim antes de dormir. No dia seguinte, ela viajaria para Thelj com
Kor, Treze e Cincey. Só de pensar nisso Yana estalou os dentes de agitação.
Eles conseguiram todas as informações que Cincey conseguiu extrair da
holonet sobre o complexo Graf em Thelj, e não eram muitas. Algumas fotos
e vídeos de compromissos sociais, um documentário sobre quanto custou
aos Grafs para construir no lugar um jardim exuberante no meio de um
oceano congelado devastado por baleias do gelo que às vezes tentavam
romper a superfície muito perto do complexo, e um anúncio de casamento
de um Pamalonia Graf com um herdeiro de Coruscant. Fora isso, não havia
muito.
Ia ser um mal cenário.
— Yana!
A Evereni se virou, sufocando um bocejo. A sua prima caminhou em
sua direção, com o rosto contorcido com uma expressão desconhecida:
raiva.
— Você está indo? — disse Marda, quase gritando. Yana piscou
surpresa.
— O que? Não até amanhã. — disse Yana. — Eu pensei que eu disse
isso a você...
— Não com os Filhos. — disse Marda, com a sua voz quase num
rosnado com a força de sua raiva. — O Arauto me disse que você está
deixando a Trilha!
Yana praguejou em todas as línguas que conhecia e depois acrescentou
mais algumas maldições que ouviu uma ou duas vezes em tavernas nas
docas.
— Vamos falar sobre isso em outro lugar. — ela murmurou, e então
agarrou a ponta da manga de Marda e a arrastou pela estrada em direção ao
seu quarto.
O quarto de Yana era mais próximo do que o de Marda e, uma vez lá
dentro, Yana fechou a porta e encostou-se nela enquanto Marda começava a
andar. Yana levou um momento para organizar os seus pensamentos, mas
infelizmente Marda interpretou isso como um sinal para começar a
argumentar antes que Yana pudesse dizer qualquer coisa.
— Yana. Você não pode sair. Eu estava falando com o Arauto, e você
simplesmente não pode. Não há outro lugar pra nós. Até o Arauto disse
isso.
Yana sorriu e tirou as vestes, deixando pra trás a calça preta justa e a
camisa de manga comprida que sempre usava por baixo.
— É uma grande galáxia. E ouso dizer que o Arauto viu apenas uma
pequena parte dela.
— Não seja assim. — disse Marda, com um tremor em sua voz.
Yana suspirou e desabou na cama, batendo no espaço ao lado dela para
que Marda se juntasse a ela. Quando eram Pequeninas, este era o dormitório
compartilhado. A guardiã dos Pequeninos na época, uma velha Twi'lek
chamada Hialeah, recusou-se a deixá-los dormir com os outros Pequeninos,
temendo que, como Evereni, eles atacassem as crianças mais fracas. Não
importava que Hialeah os conhecesse a maior parte de suas vidas; o seu
édito permaneceu até que tivessem idade suficiente para reivindicar os seus
próprios aposentos como iniciados.
Yana se perguntou se Marda se lembrava daquela época em suas vidas
da mesma forma que ela, ou se as memórias de sua prima a suavizaram em
algo mais suportável.
Marda observou Yana por um longo momento antes de subir na cama
com ela. Elas se deitaram na cama da mesma forma que faziam quando
crianças: costas contra a parede, pés balançando pro lado. Yana envolveu a
prima com os braços e ficou sentada por um momento em silêncio, o único
som na sala era a respiração deles: a de Yana uniforme e firme, a de Marda
descontrolada com o seu temperamento debilitado.
— Você não se lembra quando viemos aqui. — disse Yana. Não era uma
pergunta. Eles já haviam tido essa conversa antes, e ela sabia que as coisas
de que Marda se lembrava eram dispersas e sem sentido. Não se lembrava
de sua última noite em Genetia e de como os habitantes da cidade tinham
vindo buscá-los, acreditando que eles eram a razão pela qual as colheitas
haviam falhado. Marda não se lembrava de quão ferozmente o seu pai lutou
para que eles pudessem escapar, e como as suas mães mataram uma família
de Theelins para que eles pudessem tomar a nave deles. Não se lembrava
dos dias de fome ou frio quando os sistemas de suporte de vida começaram
a falhar. Definitivamente não se lembrava de quando a nave deles foi
rebocado por uma traineira Hutt para Nar Shaddaa, e de como as lesmas
tentaram forçá-los à escravidão antes que a Trilha interviesse e pagasse pela
libertação deles. Tudo o que Marda conhecia era a segurança da Trilha, a
segurança e a sensação de pertencimento, por mais condicional que fosse,
que a Trilha oferecia.
— Mas eu lembro. — Yana continuou. — E eu sei que isso, como tudo
mais, é mentira. Temporário e arbitrário, um presente dado pela Força que
pode ser facilmente arrebatado. Um dia, a Trilha desaparecerá. A Mãe será
pó. O Arauto será cinzas. Mas ainda seremos Evereni, Marda. E ainda
estaremos em busca de um lar.
— Dalna é a nossa casa. — começou Marda, mas Yana pegou a mão
dela e a apertou.
— Dalna é a sua casa. — Yana disse, com a sua voz suave, gentil como
deveria ser para atravessar a parede de mágoa e raiva ao redor do coração
de Marda.
— Você ama isso aqui. Mas esta não é a minha casa. Somos Evereni, e
até que o nosso coração reivindique uma nova terra, não temos lar. Você
reivindicou Dalna, e ela reivindicou você. Mas a minha casa está perdida
para o fluxo e refluxo da Força. Eu pertenço lá fora, entre as estrelas, livre
para encontrar a minha própria direção. Para encontrar um lugar para estar.
Você encontrou o seu, querida prima. E agora devo encontrar o meu.
— E quanto a Kor ? — Marda perguntou. A sua raiva se esvaiu, assim
como Yana sabia que aconteceria. Marda nunca conseguia ficar com raiva
por muito tempo.
— Não vou pedir que ela venha comigo. — disse Yana. — Da mesma
forma que não vou perguntar a você. Eu amo vocês duas mais do que a
respiração em meus pulmões, mas sei que você e Kor pertencem a este
lugar. Ela tem mãe e pai, mesmo que ele seja filho de um jacaré de gelo.
— Yana! — disse Marda, escandalizada. — Você não pode falar sobre o
Arauto dessa maneira.
— Bem, ele é. — disse Yana, sentindo-se menos como a prima de
Marda e mais como um de seus Pequeninos.
Marda suspirou e apoiou a cabeça no ombro de Yana.
— Não sei o que farei sem você. Como você pode deixar a Trilha e tudo
o que temos aqui...
Yana engoliu em seco. Esta era uma conversa mais difícil de se ter. Os
Evereni estavam sempre saindo. Era algo que as suas mães lhes ensinaram
desde muito jovens, a arte de dizer ou evitar um adeus. As suas próprias
mães não as deixaram na Trilha? Mas para falar sobre crença e fé, bem...
essas eram coisas nas quais os Evereni eram menos habilidosos.
— Você deve ter cuidado com os ensinamentos da Trilha. Apenas pense
um pouco sobre eles. — Yana finalmente disse.
Marda levantou a cabeça para olhar para Yana.
— O que você quer dizer...
— Quero dizer... você não acha estranho que, quando os campos
apodrecem, de repente temos um benfeitor que vai nos sustentar pelo resto
do verão e do inverno...
Marda piscou.
— Bem, a Força...
— A Força não se importa conosco, Marda! — Yana disse, incapaz de
segurar a língua. — Pense na galáxia, no tamanho dela. Pense em todas as
pessoas lá fora, todos os diferentes tipos de animais e planetas e tudo mais.
Você realmente acha que a Força cuida de um punhado de párias em um
pequeno planeta à beira do nada?
— Como você pode falar assim quando você é um dos Filhos...
Marda perguntou, com a sua voz baixinha.
Yana ficou de pé. O cansaço pesava sobre ela, e a expressão no rosto de
Marda fazia com que Yana se sentisse como se tivesse acabado de comer o
animal de estimação favorito de sua prima.
— Talvez um dia você também consiga sair de Dalna, Marda. E não
será uma coisa triste. Será o que você deveria fazer.
Marda apertou a mandíbula teimosamente, um pouco daquele fogo
ardendo novamente em seus olhos.
Yana suspirou. Isso não estava chegando a lugar nenhum, mas tudo
bem. Marda cresceria. Descobriria. Yana abafou um bocejo.
— Tenho que sair de manhã cedo e tive um longo dia. Você deveria ir.
Marda assentiu e ficou de pé. Ela ficou muito tempo ao lado de Yana,
observando-a.
— Você não vai me deixar. A nós, disse Marda. — Não para sempre. E
estarei esperando de mãos abertas quando você perceber o seu erro. A Força
aceita você como você é, e eu também.
Yana assentiu e conseguiu não vacilar quando Marda a envolveu em um
abraço muito apertado. E então a sua prima se despediu.
Passou-se um longo momento antes que Yana se deitasse em o seu
colchão, esquecendo o apetite. Só conseguia pensar em sua prima, vivendo
um lindo sonho de pertencimento e aceitação, de uma profunda conexão
com a Força e as pessoas ao seu redor. Yana desejou que ela pudesse cair na
fantasia tão facilmente. Quão delicioso seria apenas flutuar cada dia em
uma bolha de calor e ilusão?
Mais do que isso, ela se preocupava com o que aconteceria quando a
sua prima finalmente decidisse acordar.
Kevmo pensou que o seu tempo extra em Dalna era um presente, mas
isso foi antes dele perceber quanto trabalho havia a fazer depois de uma
enchente.
Todos em Ferdan tinham uma tarefa que poderia se beneficiar da
assistência dos Jedi, e Kevmo se viu correndo da operação de limpeza para
a operação de construção e preparação para a exportação do vinho de amora
gnostra sem interrupção. No final do longo dia, olhava para Zallah,
imaginando se isso fazia parte do que significava ser um Jedi, e ela apenas
sorria.
— Não temos para onde ir e nem como chegar lá até que o esquife seja
consertado. Portanto, é nosso trabalho espalhar a luz enquanto estamos
aqui. Caridade. — ela murmurou quando eles estavam sozinhos, mas isso
não fez o dia de Kevmo menos tenso. Isso apenas reforçou que em algum
momento eles haviam perdido o foco em sua missão. O Bastão das Estações
estava nas mãos da Trilha da Mão Aberta, e era o seu trabalho como Jedi da
Ordem recuperá-lo. Kevmo não podia deixar de sentir que deveria passar
mais tempo com a Trilha, tentando descobrir a localização do Bastão, ou
pelo menos descobrir se a Trilha vendeu o artefato.
Elevar um galinheiro de samambaia para que pudesse ser reconstruído
não ajudou necessariamente nesse objetivo.
Mas Zallah estava calma e pediu a Kevmo que fosse paciente.
— A Trilha vai parar se os pressionarmos de forma muito agressiva. É
melhor esperar o nosso tempo e esperar que eles cometam um erro. E eles
vão, Padawan. Todos nós cometemos erros. Os erros da Trilha serão a nossa
oportunidade.
Depois do jantar, frustrado e sem vontade de levantar a questão com o
seu mestre mais uma vez, Kevmo pediu licença para caminhar pelas ruas de
Ferdan. Kevmo não tinha um destino real; em vez disso, ele deixou a Força
puxá-lo pelas ruas. Apesar da hora tardia, ainda estava claro e o mercado
estava em baixa, enquanto os vendedores empacotavam as suas escassas
ofertas e voltavam para casa. As coisas estavam começando a voltar ao
normal depois da enchente, mas o mercado era um indicador claro de que
ainda não estavam lá. Ainda não.
— Kevmo? O que você ainda está fazendo aqui?
O Padawan se virou para ver Marda andando atordoada, com a sua tinta
azul manchada e a sua expressão abatida. Kevmo imediatamente foi até ela,
preocupado.
— O nosso esquife está danificado e estamos esperando as peças. Ei.
Está tudo bem? — ele perguntou, e antes que ela pudesse dizer qualquer
coisa, Marda largou a cesta e começou a chorar, seu desespero um vórtice
sugador de emoção que Kevmo teve que lutar para manter o seu senso de
identidade. Nunca sentiu nada, mas a mais leve das emoções de Marda.
— O que a aborreceu tanto? São os Pequeninos? Eles estão bem?
— Sim, sim, eles estão bem. — Marda engasgou quando Kevmo pegou
as suas compras e a guiou para um canto mais isolado do mercado. Na
sombra, ele colocou a mão sob o cotovelo dela, oferecendo apoio. Marda
lutou para se recompor, abraçando a barriga. Kevmo percebeu que queria
fazer mais do que segurar o seu cotovelo. Ele queria abraçá-la, provocá-la
até que ela sorrisse novamente. Mas ele não fez nenhuma dessas coisas,
simplesmente esperou que a tempestade de emoções dela diminuísse.
Ela disse:
— É Yana. A minha prima. Acabei de saber que ela está planejando
deixar a Trilha, e não sei o que fazer. Eu pensei... — Sua voz falhou. —
Não sei o que pensar. Que permaneceríamos até sermos anciãs, suponho.
— As pessoas deixam a Trilha com frequência? — Kevmo perguntou,
tentando manter a excitação fora de sua voz. Isso não parecia uma tragédia
muito grande pra ele, e a Força estava dando a ele uma chance de descobrir
mais sobre a Trilha sem forçar. Isso tinha que ser o tipo de coisa que Zallah
queria dizer. Kevmo se sentiu um pouco culpado por bisbilhotar, mas Marda
parecia querer falar, então ficou mais do que feliz em ouvir.
— Não, não com frequência. — ela disse, balançando a cabeça com
tanta força que as mechas escuras e sedosas de seu cabelo se soltaram de
sua trança. Antes que pudesse se conter, Kevmo estendeu a mão para
colocar um atrás da orelha dela. Marda respirou fundo e olhou pra ele. —
Por que eles iriam...
Marda parecia prestes a entrar em apuros novamente, então Kevmo
pegou a mão dela e a apertou. O contato pareceu mais íntimo do que ele
pretendia, e Marda fez uma pausa quando os seus olhos encontraram os
dele.
— Kevmo. — ela murmurou, e uau, ele gostou de como soou.
Ela deixou os lábios abertos quando terminou o nome dele. As pontas
de seus dentes afiados brilharam.
— Por que não te ofereço um sorvete aromatizado? — Kevmo disse um
pouco rouco. Ele gesticulou para a barraca próxima, quebrando o intenso
contato visual. — E então podemos sentar e conversar sobre isso, certo?
Marda assentiu, sem dizer uma palavra, e Kevmo se perguntou se havia
cometido um erro. Ultrapassado. Gostava de Marda. Não gostaria que ela
tivesse problemas por algo que o culto da Força havia feito. Tinha um bom
coração e realmente acreditava que a Força poderia ser ferida, ou que usar a
Força significava que pessoas em algum outro lugar da galáxia se
machucavam. Kevmo não acreditava nisso, mas também não achava que
Marda fosse uma má pessoa. Mesmo as pessoas boas ficavam confusas às
vezes, e estava disposto a apostar que a Mãe era a pessoa que os Jedi
estavam procurando. Parecia estranho que não a encontrasse uma única vez
em todas as suas visitas a Trilha.
Pegando cuidadosamente a cesta de Marda, a levou para a barraca de
sobremesas.
Kevmo pegou um sorvete de maçã amarela brilhante, enquanto Marda
pegou um sorvete de baga durga roxa escura. Eles foram até um banco e se
sentaram perto o suficiente para que os seus braços se tocassem. O sol
estava finalmente se pondo e o ar da noite esfriava rapidamente. Eles
comeram os seus doces em silêncio, e Kevmo estava começando a pensar
que talvez tivesse calculado mal, sido muito agressivo. Era um Jedi. Marda
poderia pensar que qualquer interesse que ele demonstrasse por ela era, na
melhor das hipóteses, um gesto fútil. O que... era. Tinha que ser. Iria
embora e ela ficaria lá, e era assim que as coisas aconteciam.
O pensamento não deveria deixá-lo tão infeliz.
— Obrigada. E sinto muito, — disse Marda finalmente, depois que
terminaram os sorvetes e devolveram as latas ao vendedor. — Normalmente
não sou tão emotiva.
— Eu sei. — disse Kevmo com um pequeno sorriso. — Você quer falar
sobre isso...
— Não sei, — disse Marda. — Sim eu quero. Mas não sei como me
sinto sobre isso. Quero dizer, estou triste, mas também estou... com raiva. E
eu não sei o que fazer com isso.
— Com raiva de sua prima por querer ir embora? — Kevmo perguntou,
e Marda balançou a cabeça.
— Não, estou com raiva dela porque ela tem tudo e não é o suficiente.
— disse Marda. — Ela tem uma casa, mas não quer vê-la. Ela é uma dos
Filhos, Kevmo! A Mãe a escolheu para uma tarefa muito especial e, no
entanto, ela simplesmente vai virar as costas pra ela? Pra nós?
— Os Filhos? — Kevmo perguntou. Marda já os havia mencionado
antes. — São eles que saem pela galáxia para espalhar a mensagem da
Trilha?
— Sim, mas eles fazem mais do que isso. Eles são os membros mais
confiáveis da Trilha. Eles comungam regularmente com a Mãe e o Arauto,
fazendo o árduo trabalho de ir pela galáxia. Como Yana pode compartilhar a
mensagem da Trilha se ela não faz parte dos Filhos?
— Talvez ela queira fazer isso de uma maneira diferente. — disse
Kevmo.
— Lembra quando eu te contei sobre a Convocação em Jedha? Eles
discutem coisas lá e falam sobre muitas coisas diferentes e depois levam
essas conversas de volta para os seus respectivos grupos, mas às vezes
também recrutam entre os peregrinos em Jedha. Existem muitas maneiras
diferentes de comungar com a Força. — disse Kevmo, fazendo uma pausa
quando a expressão de Marda se iluminou.
— É isso! Yana e eu... poderíamos ir juntas para Jedha. — ela disse,
levantando-se de um salto. — Yana já é uma dos Filhos, e talvez ela esteja
cansada de quão fútil é o trabalho deles. Eles foram para Hynestia e Hon-
Tallos, e não recebemos novos recrutas de nenhum dos dois lugares. Deve
ser muito difícil para Yana continuar tentando convencer as pessoas da
retidão da Trilha sem sucesso.
— Eu... eu não tenho certeza se é por isso que Yana está indo embora.
— Kevmo começou, cambaleando com a confirmação de que os Filhos
definitivamente tinham ido para Hynestia, mas Marda estava tão
apaixonada por sua ideia que não o ouviu.
— Você acha... quando você for embora... — disse Marda, virando os
seus lindos olhos para Kevmo. Com Marda irradiando paixão, sentiu como
se estivesse caindo na escuridão estrelada daqueles olhos, se afogando em
suas profundezas. Sabia que estava apenas sendo fantasioso, mas com
certeza podia sentir-se caindo na embriaguez da empolgação de Marda.
Especialmente quando Marda estendeu as mãos, virando-as com as palmas
pra cima no caminho da Trilha. — Kevmo, você acha que Yana e eu
poderíamos ir com vocês?
Kevmo piscou para ela, surpreso com a pergunta.
— Uh, bem, nós vamos voltar para Porto Haileap. Mas tenho certeza de
que a Mestra Zallah não vai se importar que você vá junto?
— Podemos chegar a Jedha de Porto Haileap?
— Ah, claro... — Kevmo disse, com a sua voz falhando quando
finalmente percebeu todo o escopo da ideia de Marda. Ele se levantou para
encará-la. — Espere, você está indo pra Jedha?
— Sim! A Trilha deveria ter assento na Convocação, certo? E Yana tem
experiência em contar às pessoas sobre a Força. Acho que talvez ela possa
me ensinar a fazer o que ela faz, e então posso assumir o lugar dela. Dessa
forma, ela não está abandonando a Força. Além disso, ela ainda pode deixar
Dalna quando quiser. Marda jogou os braços em volta de Kevmo, e ele
congelou, a princípio chocado com o contato físico.
— Kevmo. — Marda sussurrou perto de seu ouvido. — a Força quer
isso. Você não pode sentir isso? A enchente, o anúncio de Yana logo antes
de partir para Thelj amanhã, tudo isso, está certo. É exatamente como a
Força deseja. Presentes dados livremente.
Kevmo piscou quando Marda o soltou.
— Marda. — ele começou, mas parou. Marda estava olhando pra ele
intensamente, e um calor estranho começou a florescer no meio de Kevmo.
Então Marda o beijou. Apenas um leve roçar de sua boca na dele, e
Kevmo ficou vagamente surpreso que beijar era algo que os Evereni
faziam, considerando aqueles dentes afiados.
Então acabou, e ele estava cambaleando novamente e parou de respirar.
Encarou-a, e os olhos de Marda também eram enormes. Ela colocou as
mãos no rosto dele, com os polegares acariciando suavemente as tatuagens
de sua família.
— Marda, isso... Mas Kevmo não conseguiu terminar, porque Marda o
puxou pra frente, beijando-o ainda mais completamente.
Por um momento, Kevmo se perdeu, o gosto e o cheiro de Marda tudo.
Ela tinha gosto de frio, do gelo tão recentemente em sua língua, como frutas
escuras, e ela foi tão cuidadosa ao inclinar a cabeça para aprofundar o beijo.
Kevmo estava em chamas, com as mãos cheias de luz do sol e os
quadris de Marda, mas ele teve que ofegar para respirar e recuou.
Marda, sorrindo, deixe-o. As suas mãos caíram para os lados. Ela estava
olhando pra ele como se ele fosse sua coisa favorita. Sob aquele olhar
inebriante, era difícil recuperar o juízo. Ele nunca... tinha sido...
E queria que ela fizesse isso de novo.
Isso não poderia acontecer. Ele recuou.
— Eu, hum, eu deveria acompanhá-la de volta. Um dos moradores da
cidade disse que a enchente pode ter trazido os jacarés de gelo mais cedo e,
pelo que ouvi, eles são bem nojentos.
— Sim, você está certo. — disse ela. Ela entrelaçou os dedos nos dele e
deu-lhe um sorriso enquanto pegava sua cesta novamente. Kevmo retribuiu
o sorriso e eles voltaram para a Trilha em um silêncio que era, pelo menos
para Kevmo, extremamente preocupante. A mão dela na dele parecia a
única coisa real, e ele ficou grato pelo contato ou provavelmente teria
levado a mão para tocar a sua boca.
Marda cantarolava baixinho enquanto caminhavam. Kevmo também
ficou grato por isso. Sem conversa, poderia se concentrar em se acomodar.
Deu as boas-vindas à Força quente a cada passo, com o seu brilho tão claro
que obliterou as suas emoções ruborizadas.
No portão da fronteira, Marda disse:
— Os Filhos partiram novamente e não os esperamos por vários dias.
Mas quando eles voltarem, se você e a sua Mestra Zallah permitirem,
espero que Yana e eu possamos ir com você. Vou convencê-la e garantir as
permissões de que preciso.
Kevmo só pôde assentir, atordoado. E Marda riu alegremente. Assim
como sentiu o seu desespero antes, a sua nova esperança o golpeou. Então
não ficou surpreso quando ela pulou na ponta dos pés e o beijou novamente.
Então ela acenou e o deixou lá.
Assim que Kevmo voltou para Ferdan, foi direto para o seu quarto na
pensão. Só Zallah estava sentada esperando por ele, com uma expressão
confusa no rosto.
— Padawan. — ela disse, levitando o sabre de luz sobre a mão, uma
coisa que ela fazia quando tinha um assunto difícil de abordar. — Lady Jara
disse que viu você no mercado não muito tempo atrás.
O estômago de Kevmo gelou.
— Oh.
— Oh, de fato. — Mestra Zallah disse com um suspiro, pegando o seu
sabre de luz de onde ele pairava diante dela e prendendo-o de volta em o
seu cinto. — Sente-se. Vamos discutir os apegos.
Marda preparou com extremo cuidado a sua audiência com a Mãe.
Estava mais limpa do que nunca, com o seu cabelo trançado
elaboradamente sob o seu capuz cinza liso, e depois que ela mergulhou os
dedos na tinta azul de concha brikal, Marda fechou os olhos e desenhou as
três linhas da Força durante uma respiração lentamente liberada.
Estava preparada.
No dia seguinte, Yana e as crianças retornariam de sua missão atual.
Antes disso, Marda obteria permissão da Mãe para levar Yana e estabelecer
a Trilha em Jedha como parte da Convocação.
Os seus argumentos foram bem pensados e fortes. Marda passou cada
hora dos últimos três dias trabalhando com os Pequeninos e meditando
sobre esse futuro. Não tinha sensibilidade para a Força, mas se perguntasse
com as mãos abertas, a Força sempre daria uma resposta. Tinha que dar.
Esse plano reuniu todas as habilidades que Marda cultivou ao longo de sua
vida e de Yana também. Foi uma aventura em nome da Força; era deixar
Dalna sem sair de casa ou da Trilha. Marda e Yana continuariam juntas, do
jeito que sabia que as suas mães gostariam, mesmo que Yana não pudesse
admitir.
A certeza se instalou no peito de Marda, como um órgão novo e
brilhante que ganhou vida, porque ela descobriu quem deveria ser.
Enquanto caminhava para o chalé da Mãe, Marda cruzou as mãos sobre
o sentimento. Sentiu-se tão quente, e desde que beijou Kevmo. Talvez,
admitiu para si mesma mais uma vez, o calor da estrela dentro dela fosse
um presente dele. O aceitaria e o empregaria com toda a devoção que
pudesse reunir.
Então, se tudo corresse bem, ela poderia beijá-lo novamente.
Um sorriso contorceu os seus lábios. Ela mal acreditou que tinha feito
isso em primeiro lugar, o seu único beijo anterior não tinha sido tão doce e
terminou muito mal. Uma garota humana no mercado de Ferdan o havia
oferecido como um presente dado livremente em troca da flor que Marda
lhe dera. A garota beijou a sua bochecha, e Marda virou o rosto para beijar
o canto da boca da garota, mas então o pai da garota a arrastou, citando uma
mistura de mordacidades anti Trilha e anti Evereni que Marda levou
semanas para desvendar. Yana a consolou, mas disse:
— É para isso que servem os seus dentes. — com um pequeno rosnado.
Yana provavelmente não ficaria mais feliz com Marda beijando um Jedi.
Mas isso era uma pena, pensou Marda com um salto vertiginoso.
A cabana da mãe floresceu com cores, mesmo depois da enchente. Os
jardins estavam exuberantes como sempre, ainda que um pouco sujos.
Nunca perdeu tudo para doenças ou secas, graças à força de sua
conexão com a Força. As flores eram o melhor sinal da benção da Força
sobre a Mãe e, através dela, na Trilha da Mão Aberta. Enquanto
florescessem, Marda saberia que a sua fé era verdadeira.
Sorriu e abriu as mãos para o Wookiee Jukkyuk, que estava de guarda
de honra na entrada. Ele devolveu o gesto: as pontas dos dedos estavam
manchadas de azul em vez de ondas pintadas em o seu rosto, dada a
preponderância de pelos. Então o Wookiee abriu a porta para Marda, e
entrou. A cabana era apenas a entrada para as cavernas da Mãe, mas era um
monumento à casa que havia sido construída com amor. A enchente não a
havia danificado nem um pouco, Marda ficou aliviada ao ver. Dirigiu-se à
escada e desceu à sala de escuta da Mãe.
Era raro Marda visitá-la, mas sempre gostou de fazê-lo: a opala do sol
brilhava entre estalactites e estalagmites, e os azuis quentes e os espessos
tapetes e almofadas cinzas emprestavam-lhe uma suavidade e conforto que
Marda ansiava por saborear.
A Mãe estava sentada em um travesseiro exuberante, embalando a sua
grande joia roxa no colo. Ao lado dela estavam o Arauto e os Anciãos Aris
Ade e Delwin.
Todos os três tinham as metades superiores de seus rostos pintadas
inteiramente de azul, como era certo para os Anciões da Trilha. Marda ficou
surpresa por seu público incluir aqueles três, mas não ficou desanimada. Na
verdade, isso pode se tornar mais fácil. Aris Ade, em particular, encorajou
Marda a escolher como participar mais ativamente da Trilha.
Marda ajoelhou-se e curvou-se, com as mãos abertas no colo.
— Mãe, Arauto, Anciãos. — ela disse.
O Arauto disse:
— Marda. Você veio até nós com um pedido.
Marda desviou o olhar para a Mãe, que contemplou a enorme joia,
acariciando-a com as duas mãos, com o seu peso claro na forma como ela a
embalou. Ele emitia um brilho suave de lavanda, fazendo os dedos da Mãe
parecerem os galhos de uma árvore ao pôr do sol. e a sua superfície parecia
mudar, lembrando a Marda a maioria dos ovos Kessarine pouco antes de
chocarem.
Alguém pigarreou e Marda desviou o olhar da estranha joia.
— Eu... sim, Arauto. Tenho um pedido à Mãe e aos Anciãos da Trilha.
— Ela sorriu levemente para o Ancião Aris Ade, que o devolveu
amplamente.
Finalmente, a Mãe levantou a cabeça.
— Espero que não seja o mesmo pedido, Marda Ro. Não farei de você
um dos meus Filhos.
Marda manteve-se rígida enquanto o antigo desapontamento a percorria.
Então ela assentiu.
— Eu aceito isso, mãe. Este é um pedido diferente, que acredito que irá
beneficiar muito a Trilha.
— Vamos ouvir. — a Mãe disse, com as suas feições se suavizando em
encorajamento.
Amparada, Marda disse:
— A minha prima Yana está saindo da Trilha.
O Arauto franziu a testa.
— Não consegui convencê-la, por muitas razões. Sinto muito por essa
falha. Mas... Marda olhou para os mais velhos. — Eu quero ir também.
Os olhos do Ancião Aris Ade se arregalaram em choque. O Ancião
Delwin, um Weequay cujas expressões Marda sempre teve problemas para
ler, ficou de queixo caído, foi fácil o suficiente para lê-lo. O Arauto foi
quem falou.
— Marda Ro. — ele repreendeu sombriamente.
Mas a Mãe ergueu uma das mãos, embalando a pesada joia em o seu
colo com a outra.
— Vamos ouvir Marda falar, Werth. Ela não vai deixar a Trilha.
— Não, eu nunca faria isso. — disse Marda apaixonadamente. — Eu
quero levar Yana para Jedha e estabelecer a Trilha lá.
A expressão da Mãe aguçou-se de uma forma que Marda nunca tinha
visto. Mas ela não disse nada.
— Jedha! — disse Aris Ade.
Marda assentiu. Manteve a sua atenção na Mãe.
— Há um conselho de adeptos da Força em Jedha, e nenhuma voz da
Trilha. Conversas sobre a Força que afetam não apenas a Orla Exterior, mas
toda a galáxia acontece lá! — Marda conteve o seu entusiasmo,
determinada a apresentar o seu caso de maneira clara e diplomática. Não era
uma criança; isso não era um capricho.
— Jedha não seria nada além de uma distração da Trilha. — disse a
Mãe.
A surpresa fez Marda parar. Não esperava uma linha tão dura da Mãe.
Voltou a se ajoelhar para se recompor.
— Jedha. — disse o Arauto. — é uma boa ideia.
A Mãe lançou um olhar de relance pra ele, depois se virou para Marda,
com um sorriso caloroso.
— Seja paciente, Marda Ro. Em breve a Olhar Elétrico estará completo
e todos iremos para as estrelas. Pensei em deixá-la aqui como responsável
por esta casa em Dalna, mas se estiver determinada, pode se juntar a nós.
Então. Em breve.
Aris Ade virou uma de suas mãos enrugadas, com a palma pra cima.
— Marda, você acha que seria capaz de guiar a Trilha em Jedha, em
meio a grande distração e barulho...
— Sim. — ela respondeu imediatamente. Foi uma luta não deixar que
as suas mãos se fechassem em punhos. — Eu sei que posso. Tenho feito
isso todos os dias da minha vida. Eu me segurei com os Jedi.
— O jovem Jedi está muito aberto a você. — disse o Ancião Delwin, e
Marda mal conseguiu não abaixar os olhos de vergonha com o tom dele.
— O Jedi tem sido um desafio que enfrentei bem. — ela insistiu
suavemente.
— Os Padawans não são um desafio. — disse a Mãe. Voltou a sua
atenção para a joia, acariciando-a gentilmente. Parecia responder ao seu
afeto, brilhando mais forte.
— Mãe. — Marda disse timidamente. — O que é aquilo...
A Mãe sorriu.
— Um presente da Força.
Marda o olhou, procurando o que a Mãe viu. Era adorável, mas a falta
de sensibilidade de Marda à vontade direta da Força não a deixou apreciá-la
da mesma maneira. Na verdade, quanto mais ela o olhava, mais a pele ao
longo de sua coluna se arrepiava. Isso nunca poderia admitir. Estalou os
dentes juntos, então endireitou os ombros novamente.
— Não seria sensato me enviar, com a minha prima, para Jedha
primeiro, como uma... uma vanguarda? Para aprender o caminho do planeta
e do conselho? Yana é uma dos Filhos há anos e conhece as suas
necessidades, Mãe. E tenho experiência em dar a Trilha e passar
despercebida.
— Duas Evereni dificilmente passarão despercebidas em um lugar
como Jedha. — Ancião Delwin.
Esta Marda tinha uma resposta e disse ansiosamente:
— Duas Evereni trazendo apenas presentes dados livremente e a
pacífica Trilha da Mão Aberta podem ser exatamente o que as pessoas
precisam lá. Às vezes, a surpresa é a melhor porta aberta.
A Mãe sorriu com indulgência para Marda e sentiu que a vitória se
aproximava.
Mas o Arauto franziu a testa novamente.
— Isso não é o conjunto de habilidades de Yana.
— Ela é uma dos Filhos. — disse Marda, um pouco confusa. — É claro
que esse proselitismo está dentro de suas habilidades.
Aris Ade disse:
— As habilidades de Yana não são o que você está aqui para discutir.
— Sim. — disse Marda. — Estou aqui porque sou adequada pra isso.
Eu conheço a Trilha. Eu vivo isso, mãe. Não ouço a Força como você, nem
sou abençoada com visões, mas trabalho todos os dias para viver em
harmonia e clareza com ela. Jurei ver a Força livre. Eu... é o que eu quero
mais do que tudo. E parece certo. Para me entregar ainda mais à Força e a
Trilha. Estou pedindo esta oportunidade para ser, eu mesma, um presente
dado livremente à Orla Exterior. Por favor.
Tanto os Anciãos quanto o Arauto observaram Marda com o que pensou
ser aprovação. Não acrescentou ao seu argumento. Este era o cerne de tudo:
era uma discípula devotada da Trilha, ansiosa para espalhar a palavra e
singularmente adequada para representar a Trilha em Jedha. Eles
concordariam. Eles tinham que concordar.
— Eu não quero a Trilha em Jedha neste momento. — a Mãe disse com
finalidade.
Sem fôlego com a firme negação, Marda fez uma reverência.
— Mãe. Yana vai nos deixar. Para todo sempre. Este é o único caminho.
— Implorar é impróprio. — disse o Ancião Aris Ade, mas com muita
delicadeza.
Lágrimas ardiam na garganta de Marda. Assentiu, permanecendo em
sua posição curvada.
— Um dia você estará entre os nossos maiores. — disse a Mãe. — Mas
não hoje. Seja paciente.
— Em breve, Marda-chi. — disse Aris Ade.
Foi o suficiente para uma dispensa. Marda se levantou, tremendo, e
olhou para a Mãe. Os seus olhos se fecharam e segurou a joia contra o
corpo como se já estivesse em comunhão com a Força. Marda olhou para o
Arauto, que parecia descontente. Falhou com ele também, ao não encontrar
uma maneira de manter Yana em Dalna com eles.
Com uma reverência final, Marda fugiu.
Na superfície, sob o sol, enterrou as mãos na barriga até sentir as pontas
das unhas. Isso não parecia certo. Sabia que deveria ir.
Virando o rosto, olhou para os sóis gêmeos brilhantes. Os seus olhos
aguentavam melhor do que a maioria, mas ainda ardia quanto mais olhava.
Eu não quero a Trilha em Jedha neste momento, a Mãe havia dito.
As palavras ecoaram na cabeça de Marda.
Eu não quero
Eu não
Eu
Não era a Força.
Marda franziu a testa. Nunca tinha ouvido a Mãe expressar as suas
próprias necessidades dessa maneira. Sempre foram as necessidades da
Força, a vontade da Força.
Não, isso foi um deslize da língua. A Mãe era a vontade da Força no
que dizia respeito a Marda.
Respirando fundo, Marda desviou o olhar dos sóis. Contaria a Yana
sobre o seu plano e o que a Mãe e os Anciãos haviam dito.
Talvez bastasse manter Yana por algumas semanas, até que a Olhar
Elétrico estivesse completa.
Marda voltou ao coração da comuna para encontrar os seus Pequeninos.
Não havia sido derrotada, precisava apenas ser paciente. Agora que
sabia o que deveria fazer, agora que estava enraizado dentro dela, não
desistiria. Só daria um jeito de mostrar à Mãe, à sua prima, e à todos da
Trilha que essa era a vontade da Força.
Yana não queria romantizar o seu último trabalho com os Filhos, mas
descobriu que não podia evitar. Mesmo a presença de um prospector sujo
com dívidas desconhecidas com a Mãe não manchava muito o brilho da
nostalgia.
A Scupper, a nave de Sunshine Dobbs, era um iate de passeio em ruínas
que fedia a fumaça doce e a peixe velho. Ao embarcarem na nave, Treze
começou a reclamar sobre como os humanos fedorentos eram, ou pelo
menos a luz do sol, e Yana pensou: Esta é quase a última vez que vou ter
que suportar o choro constante de Treze. Quando Treze então começou a
criticar o plano de entrar no complexo sob uma tradição secular em Thelj
chamada de Rito da Hospitalidade, Yana nem ao menos ficou com raiva.
Era incrível como era libertador só saber que estava indo embora,
mesmo que os olhares feridos que Kor atirou em sua direção parecessem
tiros de blaster reais alojados em seu peito.
Yana tentou falar com Kor quando elas embarcaram na nave, mas a
Nautolana jogou as tranças da cabeça por cima do ombro e ignorou Yana,
optando por conversar com Treze, que ficou encantado com o rumo dos
acontecimentos. Yana não disse nada nem deixou transparecer a sua
frustração.
Em vez disso, apenas se amarrou em uma cadeira e começou a ler um
dos mais novos romances da holonet. Esta girava em torno de uma senadora
que se apaixonou por um Jedi, que estava dividido entre sua lealdade à
Ordem e o amor de sua vida. Yana achou um pouco exagerado, mas era
uma boa maneira de passar o tempo no hiperespaço, especialmente porque
Thelj estava a quatro setores de Dalna. A viagem teria dado vários saltos
nas rotas públicas do hiperespaço, mas Sunshine tinha os códigos de acesso
a uma rota privada do hiperespaço, então a viagem inteira levaria apenas
três dias no total: um dia e meio de ida e um dia e meio de volta. Ele era
definitivamente a fonte da Mãe para as suas rotas privadas anteriores. Yana
se perguntou, não pela primeira vez, como a Mãe fazia esses contatos se ela
era apenas uma profetisa trabalhando para manter o equilíbrio da Força.
Parecia uma prova óbvia de que a Mãe era tudo menos o que dizia.
Felizmente, isso não seria problema de Yana por muito mais tempo.
Apenas as pessoas que você está deixando pra trás, sussurrou uma voz
traidora em sua mente. Ela acabou com isso.
Com base nas informações de Sunshine, Cincey enviou uma pergunta à
secretária pessoal de Jacinda Graf, a proprietária do complexo em Thelj,
sobre a possibilidade dos Grafs venderem as Lágrimas Jedi. Era um artefato
que, segundo rumores, fazia parte do mesmo conjunto que o Bastão das
Estações, que eles roubaram de Hynestia, e na mensagem Cincey fingiu ser
um compradora interessada em possivelmente fazer uma oferta pelo artefato
em nome de a família real Hynestiana. A mensagem de retorno foi educada
e direta: Jacinda Graf e a sua comitiva estariam fora do planeta pelo menos
no próximo mês, mas ela ficaria feliz em discutir uma possível transferência
de propriedade algum tempo depois disso.
Era tudo o que Yana precisava para que o seu plano fizesse sentido.
Um complexo cheio de Grafs teria sido um problema. Os Grafs eram
conhecidos como uma família de prospecção de hiperespaço implacável,
uma das primeiras no início da corrida. Até mesmo os holo documentários
que Yana assistiu faziam questão de discutir a dedicação dos Grafs à
segurança, uma maneira simpática de dizer que eles eram conhecidos por
sua impiedade ao lidar com os seus inimigos.
Mas se não houvesse Grafs na residência, era lógico que a segurança
seria negligente. Os funcionários sempre ficavam menos atentos quando os
seus empregadores não estavam por perto, então Yana começou a pensar
que talvez esse plano realmente tivesse uma chance.
— Vocês devem se preparar. — gritou Sunshine da cabine quando eles
saíram do hiperespaço com um solavanco. — Em breve estaremos lá.
Yana pegou as suas vestes e as vestiu sobre uma camisa e calças pretas
justas. O seu conjunto de hackeamento estava pendurado em o seu quadril,
e observou enquanto Kor começava a fazer os seus exercícios de
aquecimento como de costume. Treze também estava observando e piscou
para Yana quando os seus olhares se encontraram.
— Não acredito que você vai deixar tudo isso pra trás. — disse ele antes
de sair para usar o banheiro na parte de trás da nave. Yana esperou até ouvir
o clique do mecanismo de trava antes de se virar para Kor.
— Vamos discutir isso ou você vai fingir que estou aqui falando
sozinha? — Yana perguntou.
Kor bufou.
— Foi você quem decidiu que eu não existo mais, e não o contrário.
— Kor. — Yana começou, mas então balançou a cabeça. — Você tem
razão. Eu deveria ter te contado primeiro. Antes falei com a Mãe. Mas
estamos conversando sobre deixar a Trilha e Dalna há anos.
— Exatamente. — disse Kor, virando-se para Yana, com os seus
alongamentos esquecidos. — Então, por que agora? Por que você de
repente acha que é uma boa hora para sair quando você nunca teve pressa
antes
— Kor. Há Jedi em Dalna. É só uma questão de tempo até que
encontrem os artefatos nas cavernas.
— Então? A Força nos protegerá. — disse Kor. — Ele quer ser livre e,
ao tirar esses artefatos das pessoas que os usam para explorar a Força,
estamos ajudando a manter o equilíbrio na Força.
Yana balançou a cabeça.
— Os Jedi usam a Força, e se a Força realmente se importasse com isso,
duvido que os Jedi ainda existissem. — Yana olhou para a cabine, onde
Sunshine os guiava sobre uma paisagem plana e fria que parecia um oceano
esmeralda congelado.
Yana baixou a voz.
— A Mãe levará a todos pra longe de Dalna assim que a Olhar Elétrico
estiver completa de qualquer maneira. — Assim que as palavras saíram de
sua boca, ela pôde sentir a exatidão delas. — Ir embora agora é a única
maneira de fazer isso livremente. — disse ela, mostrando os dentes em
aborrecimento.
Kor balançou a cabeça.
— Você está errada. Partir com a Mãe também é libertador. O trabalho
dela com a Força salvou a vida da minha própria mãe.
— O remédio que a Trilha finalmente comprou salvou a vida de sua
mãe. — Yana disse com um suspiro. — Kor, eu te amo. O meu coração se
parte com a ideia de deixar você para trás. Mas como posso pedir que você
vá embora quando ama a Trilha, quando a sua mãe está se recuperando...
— Você deveria ter perguntado. — disse Kor. Então a nave estava
pousando e não havia mais espaço para conversa quando Treze partiu do
banheiro, com as suas facas em seus suportes nas bandoleiras cruzando o
seu corpo.
— Tudo bem. — Sunshine chamou da cabine. — Deixarei-os a cerca de
um quilômetro do complexo, então você terá que caminhar um pouco no
frio.
Há algumas capas que consegui arranjar pra que vocês pareçam
peregrinos de verdade.
— Estas fedem. — disse Treze, abrindo o compartimento que Sunshine
havia indicado.
— Você acha que devotos religiosos têm tempo para parar e lavar a
roupa. — o humano disse em resposta. — Vocês tem quatro horas. Esta
nave estará funcionando, então sejam rápido. O combustível ainda é caro
graças à guerra entre E'ronoh e Eiram, e depois disso será arriscado se
conseguiremos ou não sair do planeta e chegar ao ponto de encontro.
Entenderam?
Os Filhos assentiram. Então Sunshine abriu a rampa de embarque.
Uma rajada de ar gelado os atacou, chicoteando as suas túnicas e capas,
e apesar do cheiro do material, Yana agradeceu pelas camadas. Raramente
sentia frio, mas Thelj era mais frio até mesmo do que Hynestia, e Yana
tinha dificuldade para caminhar na paisagem congelada.
Mais um trabalho, ela pensou, e pisou no gelo.
Os assentamentos em Thelj existiam apenas em zonas temperadas
criadas pelos colonos originais do planeta. Os dados que Yana leu sobre o
planeta afirmavam que havia sido estabelecido como uma colônia potencial
da República quase três séculos antes, mas logo depois disso o sol do
planeta escureceu, desmoronando em nada. O resultado era um planeta que
congelou rapidamente, matando quase todos os que não conseguiram
escapar. Alguns cientistas encontraram uma maneira de usar o núcleo
planetário para criar aberturas de ar aquecido que tornaram a vida possível,
e ao longe a cúpula brilhava na cidade solitária de Bhatiqu em Thelj. Mas
era o único marco em toda a paisagem. Gelo verde estendido diante deles
em todas as direções, o brilho suave das luzes sob uma cúpula era o único
sinal de que eles não eram as únicas criaturas vivas em todo o planeta.
— Nós estamos no lugar certo? — Kor perguntou. A sua voz parecia
estranhamente alta. Não havia nenhum som, agora que o vento havia
diminuído, apenas um silêncio pesado que parecia oprimir por todos os
lados.
A quietude era um alívio, porém, aliviando um pouco da mordida no ar.
— Aquele é o complexo Graf lá. — Yana disse, apontando para um
ponto menor iluminado no horizonte. Não havia cúpula, mas o complexo
Graf era o próximo passo na engenharia que permitiu a existência de
Bhatiqu, um sistema de geradores atmosféricos que usava a energia do
núcleo do planeta para criar uma zona temperada.
— Olhem. — disse Treze, apontando para o gelo sob as suas botas.
Bem abaixo, sombras escuras se moviam em padrões hipnotizantes,
circulando.
— É um oceano. — disse Yana, gesticulando para abranger a paisagem
que os cercava. — Ou talvez algum tipo de lago. Deve ser por isso que é tão
plano.
— Devemos nos mover. — disse Kor, olhando para as criaturas
circulando abaixo. — O gelo é espesso, mas não acho que queremos tentá-
los.
Todos começaram a andar, dando passos largos. Não correram, mas foi
por pouco, e quando o ponto de vigia do complexo Graf estava à vista, os
seus passos eram espasmódicos, com os seus ombros curvados contra o frio
que se infiltrava em seus ossos e corpos. Yana desejou que tivessem feito
mais para se preparar para o clima.
O ponto de vigia era monitorado por um droide capanga muito
brilhante.
Mesmo os Grafs não eram insensíveis o suficiente para fazer uma
pessoa real guardar a área fora de sua zona temperada. Mas isso parecia um
pouco exagerado.
— Digam o que querem. — o droide exigiu. Tinham muitos painéis que
com certeza continham blasters e coisas piores.
— Buscamos invocar o Rito da Hospitalidade. — disse Yana, cuidadosa
em suas frases. A pesquisa que fizera deixara claro que o Rito de
Hospitalidade deveria ser invocado, e mesmo assim dava direito ao hóspede
apenas de aquecer os ossos por uma hora, a menos que uma oferta adicional
fosse feita pelo anfitrião. Yana não achava que tal oferta seria feita, então
invocar a tradição antiquada de Thelj era mais sobre ganhar acesso do que
qualquer outra coisa.
O droide hesitou antes de responder.
— O Rito de Hospitalidade é reconhecido. Por favor, prossiga.
Yana assentiu, e eles continuaram seu caminho, o ar esquentando
rapidamente. Eles deram apenas alguns passos antes de seus ombros
relaxarem, a temperatura mudando de gelada para amena em questão de
passos. No momento em que conseguiram entrar nos jardins, Yana havia
tirado o manto emprestado e estava começando a desejar poder tirar
também as vestes da Trilha.
— Posso ajudar? — alguém vibrou de uma porta próxima. Uma mulher
humana de pele clara com um sorriso gentil e cabelos grisalhos, vestindo
um uniforme doméstico, estava por perto, o blaster em o seu quadril
inconfundível.
— Perdoe-nos, bom amigo. — Treze disse, o Mikkiano caindo em o seu
papel sem esforço. — Somos apenas humildes peregrinos em busca de um
momento para nos aquecer.
— Vocês tem uma hora. Não mais. — a mulher humana disse, com a
sua simpatia se esvaindo. — E vocês podem manter essa bobagem da Igreja
da Força para si mesmos.
— Não somos da Igreja da Força. — disse Kor com uma reverência, as
mãos estendidas, as palmas voltadas para o céu gelado acima. — Somos da
Trilha da Mão Aberta.
— Eu não me importo se vocês são Jedi. — a mulher disse. — Vocêm
pode ficar aqui no jardim esperando até que a hora tenha passado, e então
vocês devem seguir os seus caminhos.
— Isso não é problema e lamentamos o incômodo. — disse Yana, com a
cabeça baixa. — Eu não suponho que haja um banheiro que eu possa usar.
— Os lábios da mulher se torceram com aborrecimento, e então ela
suspirou pesadamente. — Me siga.
Yana seguiu a mulher, mas ao fazê-lo, um par de outras pessoas vestidas
de forma semelhante, um grande homem humano com tatuagens azuis
rodopiantes cobrindo o seu torso sem camisa e um homem Duros menor
com pele verde azulada e olhos vermelhos esbugalhados, saiu
ostensivamente para o jardim para supervisionar Treze e Kor. Um pico de
preocupação atravessou Yana, mas ela o reprimiu. Isso foi bom. Eles
poderiam fazer isso.
O banheiro estava em um longo corredor, e a mulher o indicou com um
aceno de mão. Yana curvou-se no caminho da Trilha, com as palmas pra
cima, e entrou. Não tinha muito tempo e teria que trabalhar rápido.
Uma vez dentro do banheiro, Yana tirou o seu kit hacker e o enfiou na
porta destinada a ajustar as luzes dentro do espaço.
Uma das coisas curiosas que havia lido sobre o complexo era como tudo
era controlado por um único sistema. Os controles ambientais, o sistema de
segurança e os comunicadores operados por meio de um núcleo central.
Isso significava que, teoricamente, as comunicações e a segurança poderiam
ser alcançadas por meio dos controles ambientais. Nem sempre funcionava
assim, especialmente quando um bom engenheiro era paranoico o suficiente
para garantir que houvesse uma barreira impressionante entre os sistemas,
mas as pessoas ricas eram engraçadas porque nem sempre pagavam pelo
melhor tipo de ajuda quando se tratava de coisas como as suas redes.
E Yana ficou satisfeita ao descobrir que os Grafs eram como muitas
outras pessoas ricas de quem os Filhos haviam roubado: mais preocupados
em economizar um crédito do que em verificar o trabalho de seus ajudantes
contratados. Não havia barreira digital entre os controles ambientais e os
demais, então acessava facilmente as funções de segurança.
Bem quando a gritaria começou.
Yana deixou o seu kit hacker onde estava e abriu a porta, apenas para
encontrar a humana de costas pra ela, em direção aos sons do jardim.
Claramente esperando os gritos. Yana não tinha certeza do que estava
acontecendo, mas uma coisa era certa, os sons de angústia vinham de Kor.
E se a sua namorada estava com problemas, não havia nada a fazer a não
ser tirar todos os obstáculos do caminho de sua segurança.
Yana se moveu rapidamente, como uma Evereni furtiva a favor dela. Foi
simples avançar e agarrar a cabeça da mulher humana, puxando-a com
força para a direita e quebrando o seu pescoço. A mulher caiu no chão
como um monte de roupa suja. Os humanos eram tão frágeis. Yana às vezes
achava incrível que eles sobrevivessem até a idade adulta.
E então estava caminhando pelo corredor, em direção ao jardim e os
sons da luta além.
Quando saiu para o jardim, as luzes crescentes cegando-a
temporariamente antes que a sua visão se ajustasse, Treze estava tentando
afastar o Duros com as suas facas de arremesso enquanto Kor saltava para
um telhado próximo. A humana tinha um blaster apontado pra ela, e as
mãos de Kor se renderam.
Yana não hesitou. Correu para o humano, que se virou pra ela no último
momento. Ele atirou, mas Yana já estava agachada, evitando o tiro.
Deslizou na direção do homem, mirando um chute em o seu joelho, que
dobrou para o lado errado com um rangido doentio.
— Gah! — ele gritou, atirando descontroladamente. Yana não parou.
Ela se jogou nas costas do homem, de alguma forma evitando os tiros do
blaster. Ela usou as unhas, cravando-as na pele macia do pescoço do
homem.
O sangue jorrou e o humano gorgolejou, mas Yana já estava
caminhando em direção ao guarda restante quando o corpo do humano
atingiu o chão com um baque surdo.
O homem Duros se virou para Yana, e Treze aproveitou a oportunidade
para esfaqueá-lo com a sua longa faca. Uma vez que o guarda estava no
chão, Kor saltou do telhado e ficou ao lado deles, segurando o seu lado.
— Você está bem? — Yana perguntou enquanto pegava o blaster que o
humano havia deixado cair, e Kor balançou a cabeça.
— Não. — ela disse, com a sua voz baixa. Ela levantou a mão para
revelar um longo corte em suas vestes, encharcado de sangue verde
brilhante. — Mas eu vou viver.
— O que aconteceu? — Yana perguntou.
— Não sei como, mas eles sabiam por que estávamos aqui. — disse
Treze.
— É como se alguém contasse a eles.
— Você desarmou o sistema de segurança? — Kor perguntou,
estremecendo enquanto ajustava seu peso.
A fúria cresceu sob a pele de Yana enquanto pressionava a mão na
ferida sangrenta de Kor. Alguém disse a eles.
— Sim, mas esqueça isso. — disse Treze. — Temos que sair daqui.
Devem haver mais de três guardas em um lugar tão grande.
— Precisamos encontrar o artefato. — disse Kor. Mas assim que as
palavras foram ditas ela estava caindo pra frente, Yana reagindo
rapidamente para pegá-la.
— Kor. — Treze disse, o alarme arregalando os seus olhos. — Você está
bem?
Kor não disse nada, e quando Yana passou o braço em volta da cintura
da namorada, a sua cabeça pendeu. Ela estava claramente inconsciente, e
um pequeno botão de pânico começou a se desenvolver no meio de Yana.
— Temos que voltar para a nave. — disse ela. Ela agarrou as capas que
eles jogaram fora e envolveu uma em volta de Kor enquanto colocava outra
em seus próprios ombros. Treze não se mexeu e Yana se virou para encará-
lo.
— Treze, este não é o momento. — ela começou antes de ver a faca
saindo de sua garganta. A sua resposta não foi nada além de um gorgolejo
molhado, e quando ele caiu no chão, Yana piscou estupidamente em estado
de choque. Era a faca de Treze que o homem Duros não tão morto havia
tirado de seu próprio peito para arremessar. Ele estava caído no chão
gravemente ferido, mas ainda uma ameaça.
Sem dizer uma palavra, Yana apontou o blaster para os Duros e puxou o
gatilho repetidamente até que o blaster chutou, precisando recarregar. Então
ela o deixou cair no chão.
— Treze? — Yana disse, mas o Mikkiano não disse nada, seus
tentáculos de cabeça frouxos e o sangue se acumulando ao seu redor e
encharcando a grama macia como resposta mais do que suficiente.
— Precisamos sair daqui. — disse Yana. Ela podia ouvir passos
distantes, mas com o sistema de segurança sob seu controle, nenhuma das
portas se abriria a menos que ela permitisse. Não conseguiu pegar o
artefato, não que tivesse tentado naquele momento, mas tinha que colocar
Kor em segurança antes que ela perdesse mais sangue.
Yana se virou para deixar o complexo Graf, com o peso de Kor
tornando a caminhada desajeitada quando virou as duas em direção ao
ponto de vigia. Elas deram apenas alguns passos para fora do complexo
antes que Kor acordasse, o ar frio era um tapa na cara que nem mesmo a
Nautolana ferida podia ignorar.
— Estou bem. — Kor disse sonolenta, mas Yana apenas continuou
andando. Havia quase um quilômetro entre o complexo e a Scupper.
Elas conseguiriam.
tradutoresdoswhills.wordpress.com
T essa Gratton é autora de romances e contos para adultos e jovens
que foram traduzidos para vinte e dois idiomas e indicados várias vezes
ao Prêmio Caso Contrário; com várias foram seleções do Junior Library
Guild. Os seus romances mais recentes são os contos de fadas sombrios
Strange Grace e Night Shine, e o queer Shakespeare recontando Lady
Hotspur. O seu próximo trabalho inclui a fantasia Jovem Adulto Chaos and
Flame. Reside na beira da pradaria do Kansas com a sua esposa.
Tessagratton.com
Quando Jyn Erso tinha cinco anos, sua mãe foi assassinada e o seu
pai foi tirado dela para servir ao Império. Mas, apesar da perda de
seus pais, ela não está completamente sozinha. — Saw Gerrera, um
homem disposto a ir a todos os extremos necessários para resistir à
tirania imperial, acolhe-a como sua e dá a ela não apenas um lar,
mas todas as habilidades e os recursos de que ela precisa para se
tornar uma rebelde.Jyn se dedica à causa e ao homem. Mas lutar ao
lado de Saw e o seu povo traz consigo o perigo e a questão de quão
longe Jyn está disposta a ir como um dos soldados de Saw. Quando
ela enfrenta uma traição impensável que destrói seu mundo, Jyn
terá que se recompor e descobrir no que ela realmente acredita... e
em quem ela pode realmente confiar.
Sylvestri Yarrow vive uma maré de azar sem fim. Ela tem feito o
possível para manter o negócio de carga da família em
funcionamento após a morte de sua mãe, mas entre o aumento das
dívidas e o aumento dos ataques dos Nihil a naves desavisados, Syl
corre o risco de perder tudo o que resta de sua mãe. Ela segue para
a capital galáctica de Coruscant em busca de ajuda, mas é desviada
quando é arrastada para uma disputa entre duas das famílias mais
poderosas da República por um pedaço do espaço na fronteira.
Emaranhada na política familiar é o último lugar que Syl quer estar,
mas a promessa de uma grande recompensa é o suficiente para
mantê-la interessada... Enquanto isso, o Cavaleiro Jedi Vernestra
Rwoh foi convocada para Coruscant, mas sem nenhuma ideia do
porquê ou por quem. Ela e o seu Padawan Imri Cantaros chegam à
capital junto com o Mestre Jedi Cohmac Vitus e o seu Padawan,
Reath Silas, e são convidados a ajudar na disputa de propriedade
na fronteira. Mas por que? O que há de tão importante em um
pedaço de espaço vazio? A resposta levará Vernestra a uma nova
compreensão de suas habilidades e levará Syl de volta ao
passado... e às verdades que finalmente surgirão das sombras.