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COLÉGIO DOM HENRIQUE

ENSINO MÉDIO

BARBARA HOHNE

CINEMATOGRAFIA:
E SEU AFETO NAS SENSAÇÕES DO JOVEM ESPECTADOR

OSASCO
2023
BARBARA HOHNE

Cinematografia:
E seu afeto nas sensações do jovem espectador.

Trabalho de Conclusão de
Curso apresentado ao Colégio
Dom Henrique, como parte da
conclusão do ensino médio
padrão.

Orientadora: Helena Maria Machado Crus

OSASCO
2023
EPÍGRAFE

“As sensações são os detalhes que


constroem a história da nossa vida.”
(Oscar Wilde)
AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a todas as pessoas, amigos e familiares


que me prestaram ajuda e tiveram paciência em me ouvir desenvolver
este trabalho de um assunto pelo qual contenho muita paixão.
A minha orientadora, Prof. Helena, por todos os elogios e
encorajamentos na conclusão deste. A todos os outros professores pelo
qual também busquei auxílio, e que com todo carinho, mesmo não sendo
meus orientadores, me ajudaram a ter um melhor projeto.
E por último, como uma menção extra, agradeço a todos os
diretores, artistas, diretores de fotografia, cineastas, entre outros, que
fizeram as obras pelas quais me fizeram nutrir um diferente amor pela
cinematografia. E aos meus pais, irmã e irmão também, principalmente
meu pai e irmã, que desde de pequena plantaram no meu coração a
ânsia por consumir este conteúdo ao assistirem filmes comigo.
RESUMO

O presente trabalho tem o objetivo de identificar e analisar como a


cinematografia e o grupo de elementos que ela carrega consigo, como as
cores e ângulos, podem expressar ou representar um conceito e
sentimento, e como isso pode afetar na interpretação e sensações do
espectador, com foco no público juvenil. Como resultado foi possível ter
respostas que batiam de acordo com os artigos e pesquisas estudadas no
desenvolvimento. Também verificou-se as diferentes interpretações e
sensações que os jovens podem ter com apenas uma cena, sem
necessidade do contexto, cada um tendo sua peculiaridade, com base em
sua personalidade e vivência.

Palavras-chave: cinematografia, teoria das cores, jovens, sensações,


cinema, formação de personalidade, influenciador na vida.
ABSTRACT

The present work aims to identify and analyze how


cinematography and the group of elements it carries with it, such as colors
and angles, can express or represent a concept and feeling, and how this
can affect the viewer's interpretation and sensations, focusing on young
audiences. As a result, it was possible to have answers that matched the
articles and research studied during development. It also verified the
different interpretations and sensations that young people can have with
just one scene, without the need for context, each one having their own
peculiarity, based on their personality and experience.

Key-words: cinematography, color theory, young people, sensations,


cinema, personality formation, influencer in life.
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO............................................................................................................. 8
1. O SURGIMENTO DO CINEMA................................................................................9
1.1. A APARIÇÃO DAS CORES NO CINEMA..................................................................10
2. O ENVOLVIMENTO DAS CENAS COM A PSICOLOGIA DAS CORES.............. 12
2.1. AZUL.......................................................................................................................... 12
2.2. VERMELHO............................................................................................................... 13
2.3. AMARELO..................................................................................................................14
2.4. ROSA......................................................................................................................... 15
2.5. ROXO.........................................................................................................................16
2.6. VERDE.......................................................................................................................17
2.7. LARANJA................................................................................................................... 18
2.8. PRETO E BRANCO + CINZA.................................................................................... 19
2.9. MARROM...................................................................................................................20
2.10. UMA MISTURA........................................................................................................ 21
3. OS PLANOS E ÂNGULOS COM FOCO EM SEUS PROPÓSITOS..................... 23
3.1. PLANOS:....................................................................................................................23
3.1.1. PLANO GERAL.................................................................................................23
3.1.2. PLANO MÉDIO................................................................................................. 23
3.1.3. PLANO AMERICANO....................................................................................... 24
3.1.4. PRIMEIRO PLANO E PLANO DE DETALHE/CLOSE-UP............................... 24
3.2. ÂNGULOS:.................................................................................................................25
3.2.1. CONTRA-PLONGÉE........................................................................................ 25
3.2.2. PLONGÉE.........................................................................................................26
4. O JOVEM ESPECTADOR E SEU RELACIONAMENTO COM O CINEMA.......... 27
5. METODOLOGIA.................................................................................................... 29
6. ANÁLISE DE DADOS............................................................................................31
6.1. CONSUMO DE FILMES E O QUANTO INFLUENCIAM NA VIDA............................ 31
6.2. PRIMEIRA CENA.......................................................................................................31
6.3. SEGUNDA CENA...................................................................................................... 33
6.4. TERCEIRA CENA...................................................................................................... 35
6.5. QUARTA CENA......................................................................................................... 37
6.6. QUINTA CENA...........................................................................................................39
6.7. SEXTA CENA.............................................................................................................41
6.8. SÉTIMA CENA...........................................................................................................43
6.9. OITAVA CENA............................................................................................................45
6.10. NONA CENA............................................................................................................47
6.11. DÉCIMA CENA........................................................................................................ 49
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................... 52
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................53
8

INTRODUÇÃO

A imagem fotográfica não se baseia em retratar a realidade, mas a sua


similaridade, estando ela mudada ou inventada. Uma linguagem estética como a
fotográfica, musical e poética, utiliza recursos para haver comunicação, ativar
sentimentos e reflexões. Como diz Vilém Flusser, filósofo checo-brasileiro, “as
imagens são superfícies que pretendem representar algo” [1].

Imagens são mediações entre homem e mundo. O homem “existe”, isto é, o


mundo não lhe é acessível imediatamente. Imagens têm o propósito de
representar o mundo. Mas, ao fazê-lo, entrepõe-se entre mundo e homem.
Seu propósito é serem mapas do mundo, mas passam a ser biombos. O
homem, ao invés de se servir das imagens em função do mundo, passa a
viver em função de imagens. (FLUSSER, 1985, p. 7)

Na fotografia cinematográfica pode-se notar que cada frame tem seu signo,
que pode ser um objeto, uma cor, até mesmo um ângulo, com significados que
expressam ou representam um conceito, sendo usado em variadas situações, e por
isso, sempre tendo uma intenção. Estes podendo gerar ao espectador
interpretações de forma consciente e inconscientemente, isto dependerá do
conhecimento do indivíduo sobre o assunto exibido e a cultura que ele habita [1].
9

1. O SURGIMENTO DO CINEMA

Foram muitos os pesquisadores que fizeram parte da busca pelas imagens


em movimento antes do ano de 1895, conhecido como “pré-história” do cinema,
porém, começou a tomar forma o que conhecemos hoje como cinema mais
definitivamente em 1833, ano em que surgiu o Fenacistoscópio, das pesquisas do
físico Joseph Plateau e do matemático Simon Stampfer. O instrumento contém
várias figuras de um mesmo objeto em diferentes posições ilustradas em um disco,
com outro disco ao meio ou a frente com pequenos recortes, para se colocar os
olhos, de forma que ao girá-lo, essas imagens passam a formar um movimento ao
serem colocadas de frente para um espelho por exemplo [5].

.
Representação ilustrada do Fenacistoscópio.

Já em 1872, o fotógrafo Eadweard Muybridge foi contratado pelo então


governador da Califórnia, para provar que um cavalo conseguia tirar as quatro patas
do chão ao realizar um galope. A ideia foi comprovar este fato a partir de uma rápida
sucessão de fotos. Muybridge então percebeu que, ao exibir as duas dúzias de
imagens de forma sequencial e rapidamente, daria uma ilusão satisfatória de
movimento. Muybridge então, se baseando nos trabalhos da criação de fotografia de
Étienne-Jules Marey, se tornou o pai do cinema [5].
10

Experimento de Muybridge.

Porém, o ano de 1895, pela maioria dos pesquisadores, é considerado o ano


zero da história do cinema, sendo marcado pelo histórico evento dos irmãos
Lumière, patenteadores do cinematógrafo, uma máquina de filmar, que produz
pequenos filmes de cenas cotidianas, fundando o cinema, assim como também
outras projeções pioneiras [5].

Cinematógrafo.

Com isto o cinema evoluiu cada vez mais, com diferentes tipos de câmeras
e projetores, agora também com os aparelhos eletrônicos e os streamings [5].

1.1. A APARIÇÃO DAS CORES NO CINEMA

A primeira introdução das cores no cinema foi através das pinturas a mão,
com os métodos de tintura e toner, mas estes não perduraram muito pela pouca
qualidade técnica e alto custo que proporcionava. A primeira tentativa de sucesso foi
introduzida pela Technicolor, empresa de grande sucesso até os dias de hoje, porém
11

os padrões de qualidade ainda não tinham sido alcançados. Em 1932 a Technicolor


fez o lançamento do seu processo subtrativo de três cores, essa tecnologia usa uma
câmera na qual a luz era dividida por lentes em três cores complementares, sendo
um sucesso em termos de qualidade, sendo apenas superada em 1950, pela
Eastman Color, que lançou a sua versão baseada no mesmo método, porém mais
barata e de mais resolução [6].

O Mágico de Oz (1939) - Victor Fleming, um dos principais e primordiais trabalhos da Technicolor.


12

2. O ENVOLVIMENTO DAS CENAS COM A PSICOLOGIA DAS


CORES

As cores no cinema se unem com o uso da luz possuindo um papel


expressivo e gerando metáforas para gerar sentimentos, trazer realismo, clima e
atmosfera, passando mensagens críticas e psicológicas. Muitas vezes esse
envolvimento das cores em cenas passam despercebidos, mas elas continuam
sendo essenciais no momento de explicar fatos que não são explicitos pelos atores
em suas ações e falas. Ainda existem muitos diretores que optam pelo não uso
dessa tecnologia de cores, achando outros modos mais eficientes para construção
de sua história, como o preto e branco ou sépia [2] mas até mesmo essas cores
consideradas neutras e básicas transmitem algo [3].
Como diz Roger Deakins, um diretor de fotografia britânico conhecido pelos
trabalhos cinematográficos com os Irmãos Coen, “É fácil fazer uma paleta que seja
esteticamente agradável, mas difícil fazer com que ela preste um serviço à história.”
Apenas uma cor pode conter vários significados distintos, a sua impressão é
causada pelo seu contexto, pela junção de definições em que a vemos, podendo ela
ser agradável ou angustiante por exemplo [3]. Observe a seguir exemplos de
algumas cores:

2.1. AZUL

A cor mais fria, por conta disso, é muito associada com a tristeza, frio e
melancolia, mas também pode trazer consigo a harmonia, inteligência, tranquilidade,
o infinito, fidelidade, ou até mesmo a maldade de forma que te engana a pensar que
a situação ou pessoa é agradável [2] [3].
13

Cidade de Deus (2002) – Fernando Meirelles

O Show de Truman (1998) – Peter Weir

2.2. VERMELHO

A cor mais quente, por isso quase sempre ligada a intensidade, o amor,
perigo, ódio, calor, sensualidade, guerra. Podendo notar o dilema da cor que vai do
amor ao ódio [2] [3].
14

Beleza Americana (1999) – Sam Mendes

Cães Selvagens (2016) - Paul Schrader

2.3. AMARELO

A cor mais associada com a felicidade, mas consigo traz uma ambiguidade,
pois enquanto pode representar o otimismo,a luz e verão, também pode apresentar
a hipocrisia e o ciúmes, vingança [2] [3].
15

Trapaça (2013) - David O. Russell

Peixe Grande (2003) - Tim Burton

2.4. ROSA

Ela é muito mais do que apenas um vermelho mais claro. Ela é o romance,
charme, feminilidade, mas também muitas vezes associada com o masculino, o
sentimentalismo, infância, criatividade, e o sonho [2] [3].
16

O Grande Hotel Budapeste (2014) - Wes Anderson

Barbie (2023) - Greta Gerwig

2.5. ROXO

A cor vista como a menos natural, expressa o poder, a religião e o


espiritualismo, a sexualidade, a fantasia e a magia, a violência, extravagância. É
uma cor mista com sentimentos ambivalentes [2] [3].
17

Blade Runner 2049 (2017) - Denis Villeneuve

Thelma (2017) - Joachim Trier

2.6. VERDE

Uma cor que tem um bonito e um feio. Traz a natureza, esperança, vida,
saúde, veneno, juventude e imaturidade, burguesia, e a doença física e mental [2]
[3].
18

Inside Llewyn Davis - Balada de um Homem Comum (2013) - Ethan Coen e Joel Coen

O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001) - Jean-Pierre Jeunet

2.7. LARANJA

Uma cor bastante subestimada. Transmite recreação, criatividade, prazer,


sol, às vezes perigo, transformação, sociabilidade, ela é exótica. É como se fosse
uma intensificação do amarelo com o vermelho [2] [3].
19

Adoráveis Mulheres (2019) - Greta Gerwig

Babilônia (2022) - Damien Chazelle

2.8. PRETO E BRANCO + CINZA

Enquanto o preto é uma cor forte, que apresenta dor, elegância e maldade, o
branco é uma cor fraca, que apresenta paz, pureza e bondade. Já o cinza
representa a falta de emoção, a teoria e a inferioridade [2] [3].
20

Interestelar (2014) - Christopher Nolan

A Chegada (2016) - Denis Villeneuve

2.9. MARROM

O mal-amado e antiquado, o aconchego, o sujo. Apresenta a terra,


melancolia, pobreza, preguiça, amor secreto, e continua com o seu dilema. É a cor
mais odiada, mas continua sendo uma das mais confortáveis [2] [3].
21

O Iluminado (1980) - Stanley Kubrick

Old Boy - Velho Amigo (2003) - Chan-wook Park

2.10. UMA MISTURA

O que ocorre com muita frequência também é a mistura de cores.


Normalmente cores opostas para causar contraste, ou coloridas. Uma cor junta com
a outra pode mostrar o quão profunda uma sensação ou sentimento pode ser [2] [3].
22

Trainspotting - Sem Limites (1996) - Danny Boyle

Midsommar - O Mal Não Espera a Noite (2019) - Ari Aster


23

3. OS PLANOS E ÂNGULOS COM FOCO EM SEUS PROPÓSITOS

Planos e ângulos na maior parte do tempo contribuem para melhor


entendimento da história e sua sensação, do personagem, tem uma percepção
psicológica determinada, não só um papel contado. “O tamanho do plano (e
consequentemente seu nome e seu lugar na nomenclatura técnica) é determinado
pela distância entre a câmera e o objeto e pela duração focal da cena utilizada”
(MARTIN, 1990) [1]. Acompanhe a seguir alguns exemplos de planos e ângulos:

3.1. PLANOS:

3.1.1. PLANO GERAL

Ele enquadra quase todo o cenário, mostrando-se onde está o personagem,


caracterizando o ambiente. É ambíguo na hora de expressar algo, podendo mostrar
tanto a solidão em uma grande paisagem ou a sua liberdade nela [1].

Mad Max: Estrada da Fúria (2015) - George Miller

3.1.2. PLANO MÉDIO

Ele enquadra o personagem normalmente da cintura para cima, abrangendo


as características importantes da cena, estabelecendo relações entre o intérprete e
o ambiente. Esse enquadramento mistura a expressão narrativa dramática do
personagem com a ação a ser feita [1].
24

Rastros de Ódio (1956) - John Ford (I)

3.1.3. PLANO AMERICANO

Enquadrado normalmente da altura dos joelhos para cima, esse plano é


usado para demonstrar a ação de um ou vários personagens, tendo uma visão
ampla [1].

Os Suspeitos (1995) - Bryan Singer

3.1.4. PRIMEIRO PLANO E PLANO DE DETALHE/CLOSE-UP

A câmera é enquadrada de forma íntima, lendo as fisionomias mais


profundas. São em ambos desses planos que se apresenta maior poder de
significação psicológica e dramática de alguma cena, por conta do enquadramento,
podendo transmitir com fugacidade os sentimentos do personagem ao público [1].
25

Onde os Fracos Não Têm Vez (2007) - Ethan Coen e Joel Coen

Kill Bill - Volume 1 (2003) - Quentin Tarantino

3.2. ÂNGULOS:

3.2.1. CONTRA-PLONGÉE

É um ângulo que vem de baixo, normalmente usado para expressar a


superioridade, pois faz o indivíduo crescer o tornando magnífico, o exaltando,
destacando-o contra o céu [1].

Bastardos Inglórios (2009) - Quentin Tarantino


26

3.2.2. PLONGÉE

É um ângulo que vem de cima, de uma forma que diminui o sujeito, o


rebaixando ao nível do chão, dando a impressão de determinismo insuperável,
fazendo o personagem se tornar um objeto preso, tendo uma escárnio de fatalidade
[1].

Harry Potter e a Ordem da Fênix (2007) - David Yates


27

4. O JOVEM ESPECTADOR E SEU RELACIONAMENTO COM O


CINEMA

O cinema é mais do que um meio de comunicação, ele é um dos grandes


influenciadores nas vida das pessoas, principalmente de jovens, pois nele
apresenta-se valores, olhares e representações transformadores da realidade e dos
sonhos. Ele tem a capacidade de expressar, com grande favor da cinematografia, a
complexidade emocional, fazendo com que os espectadores, neste trabalho com
foco nos que estão passando pela juventude, se identifiquem ao relacionar as cenas
com suas vivências [4].
O homem do século XX jamais seria o que é se não tivesse entrado em
contato com a imagem em movimento, independentemente da avaliação
estética, política ou ideológica que se faça do que isso significa e muito da
percepção que temos da história da humanidade talvez esteja
irremediavelmente marcada pelo contato que temos/tivemos com as
imagens cinematográficas (DUARTE, 2002, p. 18).

Entende-se que o ser humano é tocado pela arte cinematográfica e sua


capacidade de transformar a sua realidade, de uma forma melhorada ou modificada,
ou o contexto que se encontra. Pessoas facilmente baseiam seu passado e futuro
em filmes e personagens, ou até os enxergam em cenas, refletindo em sua própria
história de vida. E com cada vez mais acessibilidade aos filmes, mais esta indústria
se desenvolve e se populariza [4].
Nesta pesquisa também é relevante que, nas últimas décadas, o cinema é
uma arte que se tornou útil no processo de formação de psicólogos, tendo em vista a
sua abrangente extensão e capacidade de apresentar enfoques teóricos e cenários,
o que possibilitou a percepção de sua influência no cotidiano. A linguagem fílmica se
tornou muito importante, influenciando politicamente e eticamente, fez com que
filmes nos dias de hoje sejam um grande instrumento didático-pedagógico que
encanta os jovens para o estudo apresentado. Cinema é política, psicologia, cultura,
e arte [4].
28

Filme Viúva Negra passando em um cinema.


29

5. METODOLOGIA

Para confirmar e compreender os estudos anteriores, e ter uma visão mais


afunilada da relação do público jovem com o cinema e seus sentimentos ao assistir
a uma cena, foi preciso o uso de um formulário, que obteve doze participantes, um
público jovem da faixa etária dos 14 aos 22 anos, tendo sua maioria no período dos
17 anos.

Gráfico contabilizando as idades dos participantes do formulário.

A princípio as perguntas foram as seguintes:

Após estas perguntas iniciais, o formulário conta com 10 cenas de dez filmes
diferentes, que apresentam cores predominantes, ângulos e planos diferentes uns
aos outros, todos comentados anteriormente aqui neste trabalho. As perguntas feitas
em relação às cenas foram as mesmas, com mudanças apenas se a cena contava
com mais de uma cor predominante. Qualquer resposta dada seria aceita, deixando
em aberto para cada um poder ter sua individualidade na hora de responder, não
30

restringindo em apenas algumas sensações e interpretações. Segue abaixo as


perguntas referentes:

Apenas variando a primeira pergunta na oitava e décima cena para a seguinte:

Apresentarei os resultados e análises baseadas nas respostas a seguir,


tendo em mente todo o conteúdo do desenvolvimento aqui presente nos tópicos 2,3
e 4.
31

6. ANÁLISE DE DADOS

6.1. CONSUMO DE FILMES E O QUANTO INFLUENCIAM NA VIDA.

Como dito anteriormente no tópico 4 deste trabalho, os jovens tendem a ter


suas vidas bastante influenciadas pelo cinema, identificando-se com mensagens
passadas e em personagens e seus ideiais. Nas respostas do formulário mesmo a
maior parte tendo um consumo mediano de filmes, a maioria das pessoas marcaram
que tem suas personalidades, ideais e ações muito influenciadas pelos mesmos,
podendo confirmar os estudos de Jaqueline Fiuza, de que a influência do cinema
para os jovens é predominante.

Gráfico referente ao consumo de filmes dos participantes.

Gráfico referente a influência dos filmes nos participantes.

6.2. PRIMEIRA CENA

Em primeiro, foi apresentado uma cena do filme Noiva Cadáver, que contava
como cor predominante o azul, e como ângulos e planos os plongée, contra-plongée
e plano geral.
32

As respostas sobre a sensação em relação a cor predominante bateram


conforme os estudos da cor azul no tópico 2.1., podendo confirmar os dados da
pesquisa da Teoria das Cores. A seguir a contabilização das sensações
respondidas:

Calmaria - 4
Melancolia - 4
Tristeza -3
Morbidez - 1
Aconchego - 1
Magia - 1
Pertencimento - 1
Mistério - 1
Frio - 1
Pureza - 1
Suavidade - 1

As respostas sobre os ângulos e planos contou com variações, porém em


suma, bate de acordo com o estudado no tópico 3, de que o Plano Geral pode
passar a solidão ou liberdade da paisagem, o Ângulo Plongée tornando os
personagens menores e distanciados, e o Contra-Plongée engrandecendo a lua, a
tornando magnífica. A seguir as respostas:
33

Na terceira pergunta, as respostas sobre a ação da atuação do personagem


com os elementos da cena chegam em um acordo que complementa a cena e
colabora para o entendimento dela. Já na quarta pergunta sobre algum elemento
adicional, foi citado a presença importante da lua e a trilha sonora.

6.3. SEGUNDA CENA

Em segundo, foi apresentado uma cena do filme Beleza Americana, que


contava como cor predominante o vermelho, e como planos o geral e o primeiro
plano.
34

As respostas sobre a sensação em relação à cor predominante bateram


conforme os estudos da cor vermelha no tópico 2.2., podendo confirmar os dados da
pesquisa da Teoria das Cores. A seguir a contabilização das sensações
respondidas:

Romance - 5
Sexualidade/Sexy - 2
Apaixonante - 2
Amor - 2
Sensualidade - 2
Conforto - 1
Desejo - 1
Fetichismo - 1
Calor - 1
Suavidade - 1

As respostas sobre os ângulos e planos contou com variações, porém em


suma, bate de acordo com o estudado no tópico 3, de que o Plano Geral da foco no
ambiente, e de que o Primeiro Plano pode transmitir os sentimentos do personagem
ao público. A seguir as respostas:
35

Na terceira pergunta, as respostas sobre a ação da atuação do personagem


com os elementos da cena chegam em um acordo que ajuda a sintonizar a cena e
colabora para o entendimento dela. Já na quarta pergunta sobre algum elemento
adicional, foi citado os sentidos de um sonho e as pétalas.

6.4. TERCEIRA CENA

Em terceiro, foi apresentado uma cena do filme Moonrise Kingdom, que


contava como cor predominante o amarelo, e como planos o geral e o médio.
36

As respostas sobre a sensação em relação à cor predominante bateram


conforme a ambiguidade nos estudos da cor amarela no tópico 2.3., mal havendo
respostas repetidas, podendo confirmar os dados da pesquisa da Teoria das Cores.
A seguir a contabilização das sensações respondidas:

Desespero/Nervosismo - 2
Mórbida - 1
Alegria - 1
Conflito - 1
Calor - 1
Nostalgia - 1
Estranheza - 1
Vivacidade - 1
Despertar - 1
Desconforto - 1
Atenção - 1

As respostas sobre os ângulos e planos contou com variações e confusão,


porém em suma, bate de acordo com o estudado no tópico 3, de que o Plano Geral
da foco no ambiente e na chegada de novos personagens, e de que o Plano Médio
faz seu trabalho de estabelecer uma relação do intérprete com o ambiente. A seguir
as respostas:
37

Na terceira pergunta, as respostas sobre a ação da atuação do personagem


com os elementos da cena chegam em um acordo que ajuda a juntar as visões de
todos os personagens na cena e colabora para o entendimento dela com a
linguagem corporal. Já na quarta pergunta sobre algum elemento adicional, foi
citado a barraca extremamente amarela e o pegar dos óculos.

6.5. QUARTA CENA

Em quarto, foi apresentado uma cena do filme Barbie, que contava como cor
predominante o rosa, e conta com a presença de todos os planos citados no
trabalho, com exceção do close-up.
38

As respostas sobre a sensação em relação à cor predominante bateram


conforme os estudos da cor rosa no tópico 2.4., podendo confirmar os dados da
pesquisa da Teoria das Cores. A seguir a contabilização das sensações
respondidas:

Alegria/Felicidade - 5
Infância/Infantilidade - 3
Conforto - 3
Feminilidade - 3
Artificial - 2
Suavidade - 1
Doçura - 1
Energia - 1
Fantasia - 1

As respostas sobre os ângulos e planos batem de acordo com o estudado


no tópico 3, a mudança constante de planos consegue dar foco para todos os
personagens, como eles interagem com o ambiente e todas as características. A
seguir as respostas:
39

Na terceira pergunta, as respostas sobre a ação da atuação do personagem


com os elementos da cena chegam em um acordo que ajuda na interação de todos
os personagens na cena e colabora para o entendimento do contexto. Já na quarta
pergunta sobre algum elemento adicional, foi citado as cores serem bem vibrantes e
a repetição da fala “Hi”.

6.6. QUINTA CENA

Em quinto, foi apresentado uma cena do filme Blade Runner 2049, que
contava como cor predominante o roxo, e com os ângulos e planos o plongée,
contra-plongée e o plano geral e close-up.
40

As respostas sobre a sensação em relação à cor predominante bateram de


acordo com a ambivalência conforme os estudos da cor roxa no tópico 2.5., podendo
confirmar os dados da pesquisa da Teoria das Cores. A seguir a contabilização das
sensações respondidas:

Tristeza - 3
Solidão - 2
Desconforto - 1
Sedução - 1
Abandono/Desamparo - 1
Festa - 1
Prisão - 1
Frieza - 1
Aura - 1
Medo - 1
Distância - 1

As respostas sobre os ângulos e planos se acertaram muito entre si, bate de


acordo com o estudado no tópico 3, de que o ângulo Plongée mantém o
personagem rebaixado e preso, o Contra-Plongée que vem de baixo o deixa
superior, o Plano Geral consegue mostrar a ambientação e o Close-Up traz uma
intimidade ao drama. A seguir as respostas:
41

Na terceira pergunta, as respostas sobre a ação da atuação do personagem


com os elementos da cena chegam em um acordo que ajuda a passar os
sentimentos da cena e a ambientação. Já na quarta pergunta sobre algum elemento
adicional, foi citado a grandeza e dominação do holograma da mulher e o curativo no
nariz do protagonista.

6.7. SEXTA CENA

Em sexto, foi apresentado uma cena do filme Coringa, que contava como
cor predominante o verde, e com os planos médio, americano, primeiro plano e
close-up, passando pelo personagem em uma cena contínua.
42

As respostas sobre a sensação em relação à cor predominante bateram de


acordo com o bonito e o feio nos estudos da cor verde no tópico 2.6., podendo
confirmar os dados da pesquisa da Teoria das Cores. A seguir a contabilização das
sensações respondidas:

Agitação Interna/Aflição/Agonia - 3
Calma - 2
Manicômio - 1
Conflito - 1
Doença - 1
Tóxica - 1
Amarga - 1
Engraçado - 1
Medo - 1
Estranhamento - 1
Tensão - 1
Tristeza - 1
Desgosto - 1
Equilíbrio - 1

As respostas sobre os ângulos e planos se acertaram muito entre si, bate de


acordo com o estudado no tópico 3, de que esse plano sequência (plano que não há
cortes e acompanha a movimentação), que atribui a maioria dos planos, consegue
passar o descobrimento do que o personagem faz e sente. A seguir as respostas:
43

Na terceira pergunta, as respostas sobre a ação da atuação do personagem


com os elementos da cena chegam em um acordo que consegue passar a
percepção do personagem e o sentimento psicótico. Já na quarta pergunta sobre
algum elemento adicional, foi citado a trilha sonora e o design do personagem, com
as roupas e a maquiagem.

6.8. SÉTIMA CENA

Em sétimo, foi apresentado uma cena do filme Adoráveis Mulheres, que


contava como cor predominante o laranja, e com os planos médio e americano, e o
primeiro plano.
44

As respostas sobre a sensação em relação à cor predominante bateram de


acordo com o dito nos estudos da cor laranja no tópico 2.7., podendo confirmar os
dados da pesquisa da Teoria das Cores. A seguir a contabilização das sensações
respondidas:

Conforto/Aconchego/Acolhimento - 5
Calor - 2
Alegria/Felicidade - 2
Romântica - 1
Antigo - 1
Aflição - 1
Paz - 1
Novo começo - 1
Aproximação - 1

As respostas sobre os ângulos e planos se acertaram muito entre si, bate de


acordo com o estudado no tópico 3, de que o Plano Médio estabelece uma relação
dos personagens com o ambiente, o Plano Americano consegue mostrar com
clareza as ações, e o Primeiro Plano transmite com fugacidade os sentimentos dos
personagens. A seguir as respostas:
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Na terceira pergunta, as respostas sobre a ação da atuação do personagem


com os elementos da cena chegam em um acordo que consegue se juntar com a
ambientação e a relação entre os personagens. Já na quarta pergunta sobre algum
elemento adicional, foi citado a lareira com o fogo atrás e o design antigo dos
personagens, com as roupas e cabelos.

6.9. OITAVA CENA

Em oitavo, foi apresentado uma cena do filme A Chegada, que contava


como cores predominantes o preto, branco e o cinza, e como planos o geral e o
primeiro plano.
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As respostas sobre a sensação em relação à cor predominante bateram de


acordo com o falado das cores preto e branco + cinza no tópico 2.8., cada uma com
sua características, e trabalhando super bem em conjunto para trazer o dilema,
podendo confirmar os dados da pesquisa da Teoria das Cores. A seguir a
contabilização das sensações respondidas:

Suspense/Mistério/Tensão - 3
Medo - 2
Desconfortável - 1
Curiosidade - 1
Limbo - 1
Solidão - 1
Frieza - 1
Perigo - 1
Impessoalidade - 1
Estranheza - 1
Novidade má - 1
Ansiedade - 1

As respostas sobre os ângulos e planos se acertaram muito entre si, bate de


acordo com o estudado no tópico 3, de que o Plano Geral evidencia a descoberta e
a criatura, e o Primeiro Plano tem grande poder de dramatizar as reações. A seguir
as respostas:
47

Na terceira pergunta, as respostas sobre a ação da atuação do personagem


com os elementos da cena chegam em um acordo de que conseguiu evidenciar o
suspense. Já na quarta pergunta sobre algum elemento adicional, foi citado a
fumaça preta soltada pela criatura e a própria criatura.

6.10. NONA CENA

Em nono, foi apresentado uma cena do filme O Que Ficou Para Trás, que
contava como cor predominante o marrom, e como planos o médio e o primeiro
plano.
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As respostas sobre a sensação em relação à cor predominante bateram de


acordo com o dilema nos estudos da cor marrom no tópico 2.9., podendo confirmar
os dados da pesquisa da Teoria das Cores. A seguir a contabilização das sensações
respondidas:

Medo - 5
Tensão - 2
Curiosidade - 2
Suspense/Mistério - 2
Desespero - 1
Preocupação - 1
Imprevisível - 1
Perigo - 1
Nervoso - 1

As respostas sobre os ângulos e planos se acertaram muito entre si,


concorda com o estudado no tópico 3, de que o Plano Médio traz as características
importantes, e o Primeiro Plano entra na psique do personagem. A seguir as
respostas:
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Na terceira pergunta, as respostas sobre a ação da atuação do personagem


com os elementos da cena chegam em um acordo de que as ações do personagem
condizem com a ambientação e o suspense, e que prepara para o inesperado. Já na
quarta pergunta sobre algum elemento adicional, foi citado a trilha sonora, o
jumpscare, e as trocas de cenas em cada barulho.

6.11. DÉCIMA CENA

Em último, foi apresentado uma cena do filme Amor Sublime Amor, que
contava com uma mistura de cores, principalmente o rosa, azul, roxo e laranja, e
como planos o geral, médio e um pouco do americano.
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As respostas sobre a sensação em relação a mistura de cores concordou


com o contraste e a profundidade de sentimentos nos estudos das misturas no
tópico 2.10., podendo confirmar os dados da pesquisa da Teoria das Cores. A seguir
a contabilização das sensações respondidas:

Confuso/A Mistura de Sentimentos - 2


Alegria - 2
Festa - 2
Amor - 2
Conforto - 1
Paixão - 1
Clichê - 1
Proeza - 1
Claridade - 1
Indecisão - 1
Leveza - 1
Diversão - 1
Nada mais importar - 1

As respostas sobre os ângulos e planos se acertaram muito entre si,


concordando com o estudado no tópico 3, de que os Planos Médio, Geral e
Americano conseguiram mostrar a interação dos personagens com o ambiente,
enquanto mostrava a imersão de ambos entre si, e seus sentimentos debatendo. A
seguir as respostas:
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Na terceira pergunta, as respostas sobre a ação da atuação do personagem


com os elementos da cena chegam em um acordo de que ajudou no romantismo da
cena, e a focar nos personagens em meio a tantas distrações.Já na quarta pergunta
sobre algum elemento adicional, foi citado a música tocada pela banda ao fundo, e
também ao fato dela abafar aos personagens se conectarem atrás da arquibancada,
as luzes muitas vezes estourarem e tirarem o foco dos personagens e as pessoas
dançando no começo.
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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A cinematografia além de ser considerada a sétima arte do mundo, tem um


poder influenciador, político e cultural. O mundo contemporâneo não seria o que é
sem a imagem em movimento, e o cinema passou e passa por evoluções
constantes, se tornando cada vez mais poderoso dando espaço para a psicologia
das cores e dos planos e ângulos. Este tipo de teoria cabe em todo tipo de arte, em
fotos, quadros, arquiteturas, entre outros, porém é evidente seu domínio na
linguagem fílmica cinematográfica.
Foi possível notar a capacidade das cenas causarem impacto no público,
mesmo em algumas situações causando divergência, no fim das análises, a maioria
das experiências confirma os estudos anteriores.
O consumo deste tipo de produto se tornou comum, e percebe-se o quanto a
juventude baseia-se em seus personagens e filmes favoritos, se enxergando em
cenas e ideais apresentados, inclusive se tornando uma importante ferramenta na
psicologia.
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8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

GAFFURI, Carolina Vanelli; GOMES ZANETTI, Rogério. A Linguagem Fotográfica


no Cinema. 2016. [1]

STAMATO, Ana Beatriz Taube; STAFFA, Gabriela; VON ZEIDLER, Júlia Piccolo. A
influência das cores na construção audiovisual. In: XVIII CONGRESSO DE
CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO NA REGIÃO SUDESTE. 2013. [2]

HELLER, Eva. A psicologia das cores: como as cores afetam a emoção e a


razão. Editora Olhares, 2022. [3]

FIUZA, Jaqueline et al. A influência do cinema para os jovens. REVISTA


INTERDISCIPLINAR DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO-RevInt, v. 3, n. 1,
2016. [4]

SABADIN, Celso. A história do cinema para quem tem pressa. BOD GmbH DE,
2018. [5]

BRAGA, Maria Helena; DA COSTA, Vaz. A cor no cinema: signos da linguagem.


Revista Cronos, v. 1, n. 2, p. 129-138, 2000. [6]

DUARTE, Rosalia. Cinema & Educação. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2002.

FLUSSER, Vilém. Filosofia da Caixa Preta – Ensaios para uma futura filosofia
da fotografia. Editora Hucitec. São Paulo, 1985.

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