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Direção Editorial
Lucas Fontella Margoni
Comitê Científico
Intensidades da imagem: experiência estética no cinema – análises críticas a partir de Walter Salles [recurso eletrônico] /
Cyntia Gomes Calhado -- Porto Alegre, RS: Editora Fi, 2021.
117 p.
ISBN - 978-65-5917-369-3
DOI - 10.22350/9786559173693
1. Intensidades da imagem. 2. Experiência estética. 3. Cinema contemporâneo. 4. Walter Salles. 5. Narrativa como
acontecimento.; I. Título.
CDD: 778
Índices para catálogo sistemático:
1. Cinema 778
Ao mestre Walter Salles, por ter me ensinado
com imagens a potência política dos afetos.
Agradecimentos
Apresentação 13
Rogério Luiz Silva de Oliveira
Introdução 17
Parte 1 29
Narrativa audiovisual como acontecimento em suas relações com a experiência
estética da imagem
1. Da dramaturgia ficcional à dramaturgia plástica ...................................................................... 29
2. Atos narrativos de presentificação ................................................................................................. 34
2.1 Figural .................................................................................................................................................. 39
3. Ativação da sensibilidade háptica na experiência estética ................................................... 40
Parte 2 45
Análises críticas a partir de Walter Salles
4. Central do Brasil e a narrativa como acontecimento................................................................ 45
4.1 Análise da cena da romaria de Central do Brasil.................................................................. 46
5. Abril Despedaçado e as plasticidades espaciais da imagem cinematográfica ............... 54
5.1 Figural em Abril Despedaçado .................................................................................................... 55
5.2 Experiência de formas e cores em espaço bidimensional .............................................. 56
5.3 Círculo como motivo plástico condutor ................................................................................ 59
5.4 Experiência da intensidade do movimento ......................................................................... 60
6. Linha de Passe e os procedimentos fotográficos no cinema ................................................. 69
Parte 3 78
Intensidades da imagem no cinema contemporâneo
7. Vídeo como acontecimento na narrativa de Walter Salles ................................................... 78
8. Extremidades da imagem no cinema ............................................................................................ 91
Referências 109
Apresentação
Vivemos porque podemos ver, ouvir, sentir, saborear o mundo que nos cir-
cunda. E somente graças ao sensível chegamos a pensar: sem as imagens que
nossos sentidos são capazes de captar, nossos conceitos, tal qual já se escreveu,
não passariam de regras vazias, operações conduzidas sobre o nada. (COCCIA,
2010, p. 9)
1
Professor de Direção de Fotografia do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Estadual do Sudoeste da
Bahia (Uesb), autor do livro Fotografia e Memória: a criação de passados (Edições Uesb, 2014) e mestre e doutor com
estudos dedicados à imagem fotográfica.
14 | Intensidades da imagem
por certo, a grande contribuição deste livro para o campo de estudos sobre
a imagem cinematográfica, já que o faz filtrando pela direção de fotografia.
Distanciando-se da busca de uma mera beleza, a tese desenvolvida
evidencia a relevância da direção de fotografia na construção narrativa ao
entender a imagem como ponto de encontro. Em sua postura teórico-me-
todológica, a autora evoca a pertinente ideia de dramaturgia plástica,
apresentada com a mediação de Jacques Rancière. Com isso, abre caminho
produtivo para a reflexão sobre espaço na/da imagem. Somam-se ao com-
plexo elaborado conceitos como disforme e figural, recorrentes ao longo
da história da filosofia. Aqui, recebem direcionamento visando o modo
como os elementos imagéticos são organizados no quadro cinematográ-
fico, a fim de se estender em reverberações sensórias disparadas pelas
técnicas de escritura do filme. São dois conceitos que auxiliam na busca
por respostas para uma questão estratégica: o que mais estaria nessas ima-
gens para além das formas realistas/representacionais?
Ao concentrar atenção na potencialidade e singularidade do plano,
elemento fundamental da narrativa cinematográfica, o livro oferta possi-
bilidade de investigar a ontologia da imagem cinematográfica. Dessa
busca, participam recursos como a memória, articulada no texto em duas
diferentes perspectivas: a primeira resulta do cabedal mnemônico aces-
sado para a leitura da imagem; a segunda advém das trocas culturais
promovidas entre pessoas criadoras de imagens com um passado estético.
Por essas razões também, e impulsionado pela materialidade da imagem,
o estudo que temos em mãos corresponde ao anseio de melhor entender a
imagem por meio das estratégias particulares da direção de fotografia.
Em franco desenvolvimento, o campo de estudos dedicado à cinema-
tografia ganha uma contribuição importante com esta publicação. Ao
entender a imagem cinematográfica enquanto acontecimento narrativo,
dá ênfase aos planos e sequências dos filmes dirigidos por Walter Salles.
16 | Intensidades da imagem
cinema, buscando uma visão que desconstrói as linhas clássicas dos estu-
dos de audiovisual no Brasil. O contato com o livro Extremidades do vídeo
(2008a), de Christine Mello, abriu caminho para a inserção de teorias ori-
undas do mundo da comunicação e da arte que se distanciavam de
formatações clássicas do cinema, o que foi central para o encaminhamento
da pesquisa.
Esta investigação também tem influência do pensamento de Philippe
Dubois, que, em passagem pelo Brasil em 2016, ministrou os cursos As
Plasticidades Espaciais da Imagem Cinematográfica: Transparência (Back-
projection), Sobreimpressão e Splitscreen na ECA-USP e Cinema e
Fotografia no Centro de Pesquisa e Formação (CPF) do Sesc São Paulo, aos
quais tive a oportunidade de assistir.
Walter Salles
2
Jia Zhangke, um Homem de Fenyang (2014), Na Estrada (2012), Linha de Passe (2008), Água Negra (2005), Diários
de Motocicleta (2004), Abril Despedaçado (2002), O Primeiro Dia (1998, codireção Daniela Thomas), Central do
Brasil (1998), Terra Estrangeira (1995, codireção Daniela Thomas) e A Grande Arte (1991).
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[…] colocá-lo para além de uma simples regressão a uma fase em que o pe-
queno ser humano encontrava-se completamente incapaz de sobreviver por
seus próprios meios, de encontrá-lo além das figuras aterrorizantes do supe-
rego, para conferir-lhe um estatuto de dimensão da vida psíquica que indica
os limites e as condições de possibilidade do próprio processo de simbolização.
(PEREIRA, 2008, p. 127)
3
Período de restabelecimento da produção cinematográfica nacional impulsionado pela criação da Lei Rouanet (1991)
e Lei do Audiovisual (1993). Apesar da definição exata da data padecer de certa arbitrariedade, autores como Lúcia
Nagib (2002) e Luiz Oricchio (2003) consideram que a Retomada foi de 1995 a 2002 e 2005, respectivamente.
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4
Interessante observar como esses fenômenos se manifestam nos filmes catástrofe. A esse respeito, conferir a tese
de doutorado L’imminence de la catastrophe au cinéma: films de barrage, films sismiques [A iminência da catástrofe
no cinema: filmes de barragem e filmes sísmicos], de Lúcia Monteiro.
5
Do original: “we are dispossessed of ourselves by virtue of some kind of contact with another”.
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6
Do original: “emphasize individual encounters, singularities, tending to leave aside narrative forms more directly
concerned with the exposure of the social-historical forces that condition human action”.
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7
Termo que surge nos artigos “The Cinema of Attractions: Early Film, Its Spectator and the Avant-Garde”, de Tom
Gunning, publicado em Wide Angle, e “Le cinema des primiers temps: un defi à l’histoire du cinema?”, de André
Gaudreault e Tom Gunning, publicado no periódico japonês Gendai Shiso – Revue de la pensée d’aujourd’hui, ambos
em 1986.
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[…] a arte nova das formas visuais em movimento opõe-se à arte da represen-
tação, ou seja, à arte fundada na reprodução passiva de um dado preexistente.
Ele é performance sem mediação, sem modelo copiado nem texto interpretado,
sem oposição de uma parte passiva e de uma parte ativa. (RANCIÈRE, 2011b,
p. 228 apud RAMOS, 2014, p. 8)
Quando Pina, em Roma, cidade aberta (Roma, cittá aperta), escapa de uma fileira
de soldados, que a deveriam ter detido, para se precipitar atrás do caminhão que
leva seu noivo, numa corrida que começa à maneira do movimento burlesco,
para terminar em queda mortal, esse movimento excede, ao mesmo tempo, o
visível da situação narrativa e a expressão do amor. Assim como a queda no vazio
que encerra a corrida errante de Edmund, em Alemanha, ano zero (Germania
anno zero), excede qualquer (não) reação à ruína material e moral da Alemanha
de 1945. Esse movimento faz coincidir uma dramaturgia ficcional e uma drama-
turgia plástica. (RANCIÈRE, 2013, p. 18)
[…] quando extraíam das cenas religiosas de Rubens, das cenas burguesas de
Rembrandt, ou das naturezas-mortas de Chardin, a mesma dramaturgia, em
que o gesto da pintura e a aventura da matéria pictórica eram postos no pri-
meiro plano, relegando para o plano de fundo o conteúdo figurativo dos
quadros. (RANCIÈRE, 2013, p. 13)
8
Cf. Rancière, A Fábula cinematográfica (2013, p. 11): “[…] os críticos e os cinéfilos que compõem uma obra de formas
plásticas puras sobre o corpo de uma ficção comercial”.
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9
Semiologia é a ciência geral dos signos da linha linguística desenvolvida por Ferdinand de Saussure (1857-1913). Já
a semiótica seria a linha filosófica teorizada por Charles Sanders Peirce (1839-1914) e Charles W. Morris (1901-1979).
Ambas têm como objeto os sistemas de signos e os de comunicação vigentes na sociedade.
36 | Intensidades da imagem
Não há meio de fundar o tempo da imagem, que não se confunde com o pre-
sente abstrato do que é “representado” na imagem (objetos, ações, formas de
realidade e suas relações sensório-motoras), se introduzirmos nela uma fis-
sura, por meio da qual a narração se desdobra e se torna contemporânea da
ação que descreve. A imagem deve se duplicar ou se abrir em um movimento
infinito que a faça sair da consciência daquele que a percebe ou que age. Essa
operação supõe uma conduta particular de memória, de narração, que se pode
denominar, de acordo com Pierre Janet, de “presentificação”. (PARENTE,
2013, p. 268)
2.1 Figural
10
Disponível em: http://classiques.uqac.ca/classiques/Faure_Elie/fonction_cinema/cinemaplastique/Faure_
cineplastique.pdf. Acesso em: 18 ago. 2021.
11
LYOTARD, Jean-François. Discours, figures. Paris: Klincksieck, 1971.
12
DUBOIS, Philippe (dir.). L’Analyse figurale de films. De Boeck-Université, col. Arts & cinéma, 2002.
40 | Intensidades da imagem
relacional, ela não deixa de ser tensionada pela indiferença e pela intensidade.
(GUIMARÃES; LEAL, 2007, p. 6, grifos nossos)
Isso se dá, pois “a ação de qualquer dos sentidos inclui atitudes e pre-
disposições que se devem ao organismo inteiro” (DEWEY, 2010, p. 240).
Essa afirmação é particularmente interessante no que tange aos estudos
de cinema e audiovisual, face à centralidade e isolamento em que a visão é
colocada nas análises fílmicas.
Não é apenas o aparelho visual, mas o organismo inteiro, que interage com o
meio em todos os seus atos […]. O olho, o ouvido ou seja lá o [sentido] que for
é apenas o canal pelo qual a resposta total ocorre. Uma cor vista é sempre
qualificada por reações implícitas de muitos órgãos, tanto os do sistema sim-
pático quanto os do tato. É um funil para toda a energia investida, e não sua
fonte. As cores são suntuosas e ricas simplesmente porque nelas está profun-
damente implicada uma ressonância orgânica total. (DEWEY, 2010, p. 240,
grifos do autor)
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Figura 1: Frame do filme Central do Brasil (1998) com um dos personagens observando um monóculo com foto.
de culto e, dessa forma, ela ocupa o lugar de uma prática ritualística nas
sociedades secularizadas.
Após essa breve contextualização, passo para a análise desse trecho
do longa, com o objetivo de identificar nele atos narrativos de presentifi-
cação. A cena se inicia no registro da representação: Dora corre atrás de
Josué, que se perdeu na multidão de romeiros, e acaba entrando na Casa
dos Milagres. A luz e a imagem são o leitmotiv (motivo condutor) dessa
cena, como podemos ver nos frames abaixo.
Figura 2: Frame do filme Central do Brasil (1998). No início da cena, nota-se a ênfase nos pontos de luz das velas
dos romeiros e o templo ao fundo.
A fotografia, ícone por excelência, segundo Peirce, graças a seu elo físico com
a natureza, é presença constante nos filmes de Wim Wenders, pelas quais os
personagens pretendem, sem jamais conseguir, obter a prova do real. (NAGIB,
2006, p. 74)
uma sala escura em que a luz projetada revela imagens que sensibilizam a
retina (e a visão de mundo, em última análise) do espectador. É
interessante apontar que o cineasta articula conscientemente a relação luz-
-cinema-cena da romaria e, inclusive, a traz a público em entrevista após
a premiação do filme no Festival Internacional de Cinema de Berlim, em
1998. Em suas palavras: “Que mais filmes brasileiros surjam, e que eles
sejam, como na romaria de Central, abençoados pela luz que mais
alumeia” (BENTES; MATTOS; AVELLAR, 1998, p. 40).
Voltando à análise da cena, temos um plano subjetivo da personagem
que está prestes a desmaiar: é uma imagem desfocada simulando o efeito
de uma visão turva. Em seguida, seu rosto é tocado por diversas fotos 3x4,
cujo formato remete à película cinematográfica.
Figura 7: Frame do filme Central do Brasil (1998). Plano subjetivo de Dora mais aproximado e desfocado.
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Figura 9: Frame do filme Central do Brasil (1998). Contraplano do rosto de Dora sendo tocado pelas fotos 3x4.
Figura 10: Frame do filme Central do Brasil (1998). Plano de fogos de artifício.
Destaque para a luz desenvolvendo trajetória circular e pontos de luz ao fundo.
52 | Intensidades da imagem
Figura 11: Frame do filme Central do Brasil (1998). Plano de fogos de artifício na romaria.
Figura 12: Frame do filme Central do Brasil (1998). Plano de fogos de artifício. Destaque para a plasticidade da luz.
Figura 13: Frame do filme Central do Brasil (1998). Plano de Dora desmaiada.
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ser lido como aquele que instaura a narrativa como acontecimento na cena,
de acordo com a concepção de Parente.
Esse plano, visto como um ato de presentificação, introduz uma fis-
sura na representação das ações até então colocadas, promovendo um
desdobramento nas imagens. A dobra instaurada pelo acontecimento nar-
rativo abre uma multiplicidade de relações possíveis entre os espectadores
e essa imagem fílmica. Uma perspectiva de leitura que apresentamos para
essa cena é a metalinguística. Desse ponto de vista, o sentido que se produz
é o do cinema como um dispositivo capaz de sensibilizar os espectadores
e transformar seus modos de ver o mundo a partir de um pensamento
dessa arte como revelação.
Além do campo da hermenêutica, a narrativa como acontecimento
intensifica a experiência cinematográfica, pois o tempo da imagem e o do
espectador se identificam. O tempo é, assim, percebido como vivido, e cria-
se uma relação entre a luz projetada ‒ o princípio do dispositivo cinema-
tográfico ‒ e o espectador.
Figura 15: Frame do filme Abril Despedaçado (2001) com imagem de um retrato pintado.
Figura 17: Frame do filme Abril Despedaçado (2001). Contracampo do plano anterior.
13
No cinema e em outros produtos audiovisuais, diz-se que algo é diegético quando ocorre dentro da ação narrativa
ficcional do próprio filme.
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Figura 18: Frame do filme Abril Despedaçado (2001). Travelling da esquerda para a direita.
Figura 20: Frame do filme Abril Despedaçado (2001). Plano geral de Clara na corda indiana (P1).
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Figura 21: Frame do filme Abril Despedaçado (2001). Variação aproximada (P2).
questão, diria que esse plano abre mão da figuração e das formas para
fazer ver a força e a intensidade do movimento.
Para Deleuze, a tarefa da arte, seja ela qual for, é captar forças, tornar
visíveis as forças invisíveis, ou, na formulação do pintor Paul Klee, “não
apresentar o visível, mas tornar visível” (DELEUZE, 2007, p. 62). Por isso,
Deleuze diz que nenhuma arte é figurativa, mesmo utilizando figuras. No
esforço de captar forças, os artistas se deparam com outro problema, o da
decomposição e da recomposição dos efeitos da profundidade, das cores e
do movimento. Ele chama a atenção para o fato do movimento ser “um
efeito que remete ao mesmo tempo a uma força única que o produz e a
uma multiplicidade de elementos decomponíveis e recomponíveis sob essa
força” (DELEUZE, 2007, p. 63). É por isso que a apresentação do movi-
mento envolve procedimentos de deformação na figura, no corpo. Sobre o
procedimento de deformação, ele afirma que:
Quando uma força se exerce […] ela não dá origem a uma forma abstrata, […]
ao contrário, ela faz dessa uma zona de indiscernibilidade comum a várias for-
mas, irredutíveis a qualquer uma delas, e as linhas de força que ela faz passar
escapam de toda forma por sua própria nitidez, por sua precisão deformante.
(DELEUZE, 2007, p. 64-65)
14
Esse sentido é enfatizado pela fala de Clara “Roda mais, Tonho. Mais. Mais. Roda mais”, seguida de uma longa
risada, enquanto se escuta a respiração ofegante de Tonho.
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Figura 27: Frame do filme Abril Despedaçado (2001). Em P6, a câmera em plongée se movimenta junto com a
atriz, criando uma relação entre a força que impulsiona o movimento e as imagens captadas.
Figura 28: Frame do filme Abril Despedaçado (2001). Efeito de montagem em fusão P6-P7.
Por fim, temos um plano (P7), que é uma versão de P3 com o céu azul-
-escuro, representando o sol poente, para indicar a passagem do tempo.
Figura 29: Frame do filme Abril Despedaçado (2001). O céu azul-escuro em P7 indica a passagem do tempo.
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Procurar a realidade sem ter outro guia senão a natureza na impressão ime-
diata, sem delimitar os contornos, sem enquadrar a cor pelo desenho, sem
compor a perspectiva ou o quadro. É esse mundo primordial que se quer pin-
tar […]. A hierarquia clássica dos componentes da pintura – desenho, depois
cor – é invertida. (PEIXOTO, 2004, p. 147)
Figura 30: Frame do filme Linha de Passe (2008). Foto 3x4 para reconhecimento da identidade.
15
Este personagem é interpretado por Vinícius de Oliveira, ator que protagonizou Central do Brasil.
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Figura 31: Frame do filme Linha de Passe (2008). A sequência inicia desfocada, com a forma de duas personagens
dançando. Nota-se o contraste entre luz e sombra.
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Figura 32: Frame do filme Linha de Passe (2008). Um pequeno movimento de câmera enquadra uma tela na pa-
rede, cujo tema é uma ilusão anamórfica. Aqui temos a cenografia antecipando o acontecimento de imagem que
virá a seguir.
16
Arlindo Machado (1993) explica que o termo anamorfose surge no século XVII para designar uma técnica, já
praticada no século anterior, de perverter os cânones da perspectiva geométrica do Renascimento. Com o passar do
tempo, o termo passa a fazer referência a qualquer distorção do modelo realista, segundo o entendimento
renascentista, de representação figurativa. De uma técnica, passou a uma poética de abstração, um mecanismo de
produção de ilusão de ótica e uma filosofia de falsificação da realidade.
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Figura 34: Frame do filme Linha de Passe (2008). Outro quadro que apresenta anamorfose.
Figura 36: Frame do filme Linha de Passe (2008). Variação do quadro acima.
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Figura 37: Frame do filme Linha de Passe (2008). Elaboração plástica da desigualdade social trabalhada no roteiro.
A forma do personagem Dario é marcada pelo contraste entre luz e sombra.
Figura 39: Frame do filme Linha de Passe (2008). Cena de Dario na cozinha, na qual a superexposição à luz é marcante.
Figura 40: Frame do filme Linha de Passe (2008). Versão distorcida do quadro acima.
Figura 41: Frame do filme Linha de Passe (2008). Plano subjetivo de Dario, que mostra os casais dançando. À di-
reita do quadro, observa-se a intensificação do reflexo da luz na mesa de vidro.
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Figura 43: Frame do filme Linha de Passe (2008). Contraste entre luz e sombra na imagem do casal dançando.
Figura 45: Frame do filme Linha de Passe (2008). Detalhe do efeito de ampliação do reflexo da luz em um copo.
17
Conceitos de Ismail Xavier (2005), transparência se refere à operação cinematográfica em que o dispositivo é
ocultado em favor de um ganho maior de ilusionismo; já a situação de opacidade seria quando o dispositivo é revelado,
gerando maior distanciamento e crítica.
80 | Intensidades da imagem
[…] quando não há mais nada para ver por trás dela [da imagem], quando não
há mais muita coisa para ver nela ou dentro dela, mas quando a sempre ima-
gem desliza sobre uma imagem preexistente, pressuposta quando “o fundo da
imagem é sempre já uma imagem”, indefinidamente, e que é isto que é preciso
ver. […] a tela não é mais uma porta-janela (por trás da qual…), nem um qua-
dro-plano (no qual…), mas uma mesa de informação sobre a qual as imagens
deslizam como “dados”. (DELEUZE, 2013b, p. 101-102, grifos do autor)
Essas ocorrências são lidas aqui como pontas extremas dos longas-
-metragens analisados, por sua capacidade de ressignificar a experiência
com a imagem no cinema na contemporaneidade.
Já o procedimento da contaminação, de acordo com Mello (2017, p.
137), diz respeito a estratégias criativas que se associam a outros campos
artísticos, afetando as linguagens em diálogo. Diversos procedimentos au-
diovisuais utilizados no cinema contemporâneo podem ser considerados
apropriações de estratégias videográficas. Philippe Dubois (2011, p. 181-
182) cita como exemplo o retorno da câmera lenta e da imagem congelada;
a revalorização da sobreimpressão; o gosto pela imagem dividida, multi-
plicada, incrustada; as deformações ópticas ou cromáticas; e a insistente
referência visual às outras artes e à própria história do cinema.
Por fim, a abordagem das extremidades identifica o procedimento do
compartilhamento (2017, p. 195) como aquele relacionado às transforma-
ções na produção, recepção e distribuição audiovisuais. Aqui, é importante
chamar a atenção para o fato de que o contexto de produção dos três lon-
gas que destaco neste livro – dois deles lançados nos anos 2000 e um deles
em 1998 – é marcado pelo advento do cinema digital. A substituição pro-
gressiva do uso da película como suporte técnico de gravação dos filmes
para o suporte digital trouxe uma série de mudanças à indústria cinema-
tográfica. Houve as transformações de ordem técnica, como o surgimento
de novas câmeras e a necessidade de adequação das salas de cinema, mas
também existiram reorganizações nos modos de produção, destacando os
procedimentos de registro e edição. O desenvolvimento de sensores nas
câmeras digitais no mesmo formato e tamanho de um filme com 35mm
proporcionou uma reorganização dos fluxos de trabalho, e as produções
puderam ser realizadas a custos muito menores do que aqueles praticados
com o suporte fotoquímico. Essa mudança tecnológica impulsionou, na ca-
deia cinematográfica, uma substituição do uso do suporte fotoquímico pelo
84 | Intensidades da imagem
digital. Isso não quer dizer que ainda hoje não se realizem filmes em pelí-
cula, mas estamos observando aqui uma transformação tecnológica da
indústria do cinema em geral.
Além da transformação do suporte de filmagem, outro fator teve um
enorme impacto nos modos de fruição e circulação de conteúdos audiovi-
suais nesse período. No Brasil, os anos 2000 foram marcados pela
disseminação da internet, por meio da popularização da banda larga. A
possibilidade de se fazer downloads de filmes, o surgimento de serviços de
streaming e o compartilhamento de vídeos pelas redes sociais são apenas
alguns dos inúmeros fenômenos audiovisuais que as redes digitais propi-
ciaram. Em suma, os anos 2000 foram um período de profunda
reorganização na produção, recepção e distribuição audiovisual.
Considerando que o escopo da pesquisa que deu origem a este livro é
a experiência cinematográfica, debruço-me, agora, sobre os impactos da
substituição, na cadeia do audiovisual, da película pelo digital nos modos
de fruição da imagem. Com as câmeras digitais, pela primeira vez a pro-
dução de uma imagem de altíssima qualidade, comparável àquela da
película, tornava-se acessível à população com certo poder aquisitivo. Esse
fato abalou o lugar de prestígio e distinção que a imagem cinematográfica
ocupava até então. Houve, entre muitos cineastas atuantes nesse período,
um resgate e afirmação da materialidade da imagem de caráter analógico,
que se manifestava de diversos modos, sendo a opção por filmar em pelí-
cula um deles.
A imagem numérica também trouxe um aumento considerável das
possibilidades de manipulação e construção da imagem em comparação
com a imagem fotoquímica. Por essa razão, a popularização dessa nova
imagem técnica abalou uma das bases que sustentavam a relação ilusio-
nista com a imagem associada à experiência cinematográfica: a vinculação
entre o suporte fotoquímico e a realidade filmada.
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18
Gostaria de agradecer à pesquisadora Lúcia Monteiro por esta sugestão de leitura.
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VHS ou Super 8mm sentimos nostalgia; são imagens que nos evocam um
tipo de afetividade típica dos encontros familiares, imagens da memória.
O documentarista João Moreira Salles vai se valer desse tipo de relação
que estabelecemos com as imagens de baixa definição na elaboração da nar-
rativa visual de Santiago (2007) e de No Intenso Agora (2017). Em Santiago,
o documentarista revisita sua história – e a do Brasil – por meio das lem-
branças do mordomo que trabalhou para sua família durante 30 anos. A
narrativa visual é composta por imagens em preto e branco, basicamente
entrevistas feitas com Santiago em sua casa e tomadas da casa da Gávea, Rio
de Janeiro, em que a família Salles viveu. O único trecho em que a família
Salles aparece no filme pode ser lido como um acontecimento narrativo, pois
ele apresenta uma interrupção no registro imagético até então visto ao inse-
rir um vídeo curtíssimo em Super 8mm, colorido e sem som.
Um uso muito inventivo das imagens de baixa definição é encontrado
em alguns filmes de horror contemporâneos. A Bruxa de Blair (Daniel
Myrick e Eduardo Sánchez, 1999) tornou-se um marco desse gênero gra-
ças à sua narrativa visual. O filme mescla imagens de vídeo, coloridas,
filmadas com câmera na mão, com imagens preto e branco em formato
16mm. Trata-se de um mockumentary, um falso documentário sobre três
jovens que vão para a floresta Black Hills nos Estados Unidos atrás da
lenda local da Bruxa de Blair e desaparecem. O filme é realizado com ima-
gens produzidas por esses jovens e encontradas após seu
desaparecimento, o que faz com que o filme também flerte com o subgê-
nero found footage (vídeos encontrados). Nesse caso, as imagens de baixa
definição filmadas no estilo de uma gravação amadora – tremidas e sem
seguir as regras da decupagem cinematográfica – são incorporadas para
trazer maior verossimilhança.
Busquei demonstrar alguns dos efeitos do vídeo na experiência
cinematográfica contemporânea. Os exemplos de contaminação do vídeo
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com o advento do digital, já que surge, entre o público médio, uma sus-
pensão do pacto de realidade com a imagem. A imaterialidade do suporte
digital e seus processos de codificação numérica de formação da imagem
colocam essa crença em xeque. A democratização das câmeras, no digital,
também contribui para uma popularização do ato de criar imagens e apro-
ximação do público dos procedimentos técnicos dessa área.
Esses aspectos mencionados dificultaram, do ponto de vista dos cine-
astas, a construção de uma relação de realismo com a imagem, fazendo
com que despontasse uma retomada nostálgica de momentos marcantes
dessa relação, como o Neorrealismo italiano, o Cinema Novo brasileiro,
entre outros. Os diretores utilizaram o procedimento de citação como um
dos modos de atualizar os afetos relacionados à memória daquelas ima-
gens. Central do Brasil tem um diálogo com o cinema de Wim Wenders
(NAGIB, 2006). Central do Brasil e Abril Despedaçado têm inúmeras refe-
rências a filmes do Cinema Novo. Já Linha de Passe é uma releitura de
Rocco e Seus Irmãos, de Luchino Visconti (1960). Os três filmes apresen-
tam referências a obras marcantes da história do cinema. Além disso,
diegeticamente os filmes de Walter Salles fazem referência a diversos tipos
de imagens, expondo o desenvolvimento de técnicas de registro e suportes
de períodos históricos e regiões variadas, tais como: retratos pintados, fo-
tografias, monóculos, citações a quadros da história da arte (por exemplo,
a Pietá invertida em Central do Brasil depois da cena da romaria) etc.
Por ocasião do lançamento de Central do Brasil, em entrevista do di-
retor (WS) para os críticos Carlos Alberto Mattos (CAM), José Carlos
Avellar (JCA) e Ivana Bentes (IB), esse uso das imagens é explicitado.
WS – Num primeiro momento uma memória visual que nós todos temos, a
herança cinemanovista. (BENTES; MATTOS; AVELLAR, 1998, p. 13)
Se, como diz o crítico de cinema francês Serge Daney a respeito das
imagens do cinema contemporâneo, “o fundo da imagem é sempre já uma
imagem. Uma imagem de cinema” (DANEY, 2007, p. 233), vejamos como
a colocação de José Carlos Avellar é elucidativa a respeito da apropriação
da história do cinema brasileiro realizada por Walter Salles.
Um filme nunca existe sozinho. Traz consigo a memória viva de toda uma
cinematografia. No caso de Central do Brasil, o desejo de dialogar com uma
tradição cinematográfica da qual todos nós devemos nos orgulhar é explícito,
assim como é implícita a vontade de comunicação com o jovem cinema brasi-
leiro […]. Os prêmios para o filme são, portanto, para o cinema brasileiro
como um todo […]. (BENTES; MATTOS; AVELLAR, 1998, p. 39)
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A Bruxa de Blair. Estados Unidos, 1999. Direção: Daniel Myrick e Eduardo Sánchez.
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