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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

RELATÓRIO DE ATIVIDADES
BOLSA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA

1.DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO

Pesquisa: Das ações com a câmera à instalação narrativa


Coordenação e orientação: Profa. Dra. Elaine Athayde Alves Tedesco
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DA ALUNA
Nome: Caroline Cidade Moura Sant’Anna
Cartão UFRGS: 301791
Curso: Artes Visuais – Licenciatura

2.RESUMO da pesquisa do orientador


A pesquisa Imagem movente: das ações com a câmera à instalação narrativa situa-se tendo
a elaboração da produção artística como eixo central, propõe desenvolver e refletir sobre a
realização de obras audiovisuais no campo das artes que envolvam fotografias e
videoperformances, assim como explorar projeções e as situações de apresentação em
instalações em diferentes contextos expositivos, movimentando fusões entre as imagens e
as superfícies dos objetos e lugares (a aparição da imagem e a fantasmagoria do objeto).

2.1 OBJETIVOS
2.1.2 Objetivo específico do projeto
Explorar a transição e transporte e compartilhamento das imagens de um suporte a outro,
de um dispositivo eletrônico a outro como referência conceitual e estética, podendo
influenciar nas sequencias entre os procedimentos de captação, edição e pós-produção das
imagens.
Contribuir com a documentação de produções audiovisuais realizadas por artistas em Porto
Alegre.

2.1.3 Objetivo específico para o bolsista nessa etapa


Desenvolvimento de proposições autorais em processos híbridos, explorando o uso de
tecidos, projeções, palavras, entre outros.
Investigar soluções tecnológicas e produzir objetos poéticos em interfaces
virtuais de compartilhamento.
Potencializar o uso de documentos de trabalhos de artistas/performers como dispositivos
disparadores para a criação que possam trabalhadas em diferentes contextos e expositivos.

3.METODOLOGIA
Pesquisa com consulta em arquivos, entrevistas. Coleta de dados, observação, leituras e
análise qualitativa e produção artística.
Como método específico para esta etapa da pesquisa o bolsista explorará os documentos
(fotografias, vídeos, relatos e textos) de diferentes artistas/performers como referenciais
para suas propostas artísticas.
4. RELATÓRIO

Responder sinteticamente e de forma direta e clara, como foram trabalhados


os objetivos:
1) Desenvolvimento de proposições autorais em processos híbridos, explorando o uso de
tecidos, projeções, palavras, entre outros.

2) Investigar soluções tecnológicas e produzir objetos poéticos em interfaces


virtuais de compartilhamento.

3) Potencializar o uso de documentos de trabalhos de artistas/performers como dispositivos


disparadores para a criação que possam trabalhadas em diferentes contextos e expositivos.

Quais as artistas que estudaste e que usaste como referência para teus
trabalhos? E quais os trabalhos ou séries delas especificamente?
Poderias descrever?
Quais as leituras que podem contribuir para a pesquisa que foram feitas nesse
ano?
Quais os conceitos que compreendeste?
Inserir as referências bibliográficas no final do texto.

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4.1 Introdução

Quando criança, em um dado momento, descobrimos a existência da foto 3x4. A


primeira fotografia 3x4 que vi foi uma do meu pai. Estranhei aquele papel pequeno,
com um rosto grande em suas proporções, o rosto do meu pai e só. Por quais
motivos alguém gostaria de uma foto tão literal, sem um possível elemento
surpreendente a não ser um rosto, o meu próprio rosto quando fiz minha primeira
carteira de identidade. Tempos depois percebi que era isso, pela fotografia
minúscula ocorria a identificação de alguém. Posso falar com convicção que essa
sou eu, mas provavelmente irão olhar para minha foto para confirmar que não estou
mentindo quem sou. Hoje tenho fotografias 3x4 de várias pessoas amadas em
minha vida, por motivos além da identificação.
Essa permuta de signos da fotografia que ocorrem conforme crescemos muito me
interessa quando olho fotos antigas e penso “sou eu! sou eu?”. O mesmo serve para
desenhos antigos, aqueles infantis. “Eu fiz isso! Eu fiz isso?”. Coincidentemente,
neste trabalho, trago um pouco dos dois. Trago também a experiência espontânea
de me permitir dar ênfase naquilo que somos acostumados a não dar ênfase. A
piranha de cabelo me prende desde pequena, além de prender meus cabelos. Me
intriga a forma, a semelhança estranha que existe com meus dentes, a ideia de
morder ou prender.
Jorge Larrosa fala incansavelmente sobre a criança ser o outro. Somos todos o
outro por alguns anos da vida, até sermos insignificantemente alguém. Tenho a
sensação que cheguei aqui pois o meu outro pegou minha mão e disse que sim, era
esse mesmo o caminho. Era essa a mistura de elementos que me suscitavam um
retorno, um diálogo intrigante comigo e com o outro, um eu antigo. O hibridismo
unido a fotografia se tornou um meio de comunicação possível, numa língua
desconhecida em constante descobrimento. Em minha pequena realidade
extraordinária a fotografia se desdobra em elementos, intervenções e manipulações
que contrariam e ultrapassam o limite retangular em pixels de uma foto.

Nesse sentido, é possível observar uma produção fotográfica contaminada e


impura, aqual pode ser pensada num campo expandido de instauração, que se
encontra na fronteira entre diferenciadas linguagens artísticas, sendo a fotografia
concebida de maneira impura. Isso permite que muitos suportes e materiais sejam
usados, presumindo uma pluralidade na produção fotográfica vinculada à arte
contemporânea. Detal modo, a fotografia contaminada pode ser entendida como
um objeto híbrido, situado entre variadas modalidades artísticas consagradas,
discutindo seus limites e sentidos. (PEREZ, 2008)

A objetividade com que quero apresentar as fotografias que prosseguem pinica


como etiqueta de roupa. Posso escrever aqui, para você, espectador, que é isso, é
exatamente apenas isto que está vendo, mas talvez eu esteja mentindo para você e
para mim mesma. Poderia ser o fim dessas imagens nelas mesmas ao mesmo
tempo que estão em território nebuloso, distante, além mundo? Poderia eu, aqui
nessas palavras, te lembrar que Flusser estava correto, o conceito da imagem é
ambíguo e fiquei encurralada com a minha imaginação dentro da imaginação que
existe na câmera fotográfica. Fui programada como o aparelho, apertei botões. De
todas as dúvidas, apresento uma ponta de iceberg de um estudo das coisas que sei
e das que gostaria de saber. Descobriremos juntos.

4.2 O fluxo do processo criativo, um pouco antes do começo

Muito me interessa o fluxo do processo criativo, e falar do meu trabalho é também


falar desse trajeto intenso, confuso e configurado a partir de estímulos sensoriais
que me atravessam. Antes de começar o que seja, permito sentir as necessidades
do corpo e os buracos mentais que são cavados ao longo da minha existência
individual e coletiva. Capturo atenta os fragmentos de possibilidades que causam
um certo estranhamento e sem perceber os coleciono dentro de mim. Para essa
coleção de possibilidades, Cecília Almeida Salles aponta: “De uma maneira bem
geral, poder-se-ia dizer que o movimento criativo é a convivência de mundos
possíveis. O artista vai levantando hipóteses e testando-as permanentemente.
Como consequência, há, em muitos momentos, diferentes possibilidades de obra
habitando o mesmo teto.” (SALLES, 1998). E esse estranhamento nada mais é que
a sensação abstrata e eufórica de perceber o que ainda não se sabe direito. As
formas curiosas que ficam nos olhos mesmo quando já saem de vista, as texturas
muitas vezes intocáveis. Me aproprio das palavras da poeta Matilde Campilho: “Eu
acho que essa é a função da arte, a de fraquejar os joelhos um pouquinho quando é
preciso.” (CAMPILHO, ano?)
Em momentos anteriores meu trabalho percorre a linguagem da videoperformance e
é desde então que passo da captura dos fragmentos das possibilidades para o
registro deles. Aspectos da montagem e junção de camadas visuais já perpetuavam
em meus vídeos, como se estivesse a estimular um diálogo comigo mesma ainda
desconhecido. Pelo vídeo dupliquei minha imagem, assim como quadrupliquei e
também a reconfigurei. Isolation (2020) enfatiza a sobreposição de realidades entre
meu corpo no colchão e minha imagem nesse mesmo ambiente, mas dentro de uma
televisão. Interajo com os vídeos reproduzidos no aparelho, observando e imitando
os mesmos movimentos. Sem ruído algum deixo esse efeito infinitamente espelhado
acontecer em quatro divisões na tela, que aparecem e desaparecem
aleatoriamente. Essa divisão da tela propõe a multiplicação de perspectivas, criando
um acontecimento desprovido de linearidade e ordem cronológica. Dessa forma não
importa o início, meio e fim, e sim a experiência em sua totalidade, onde quatro
vídeos dialogam sobre um mesmo contexto.

Figura 1. Isolation (2020)


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Fica claro meu interesse pela montagem quando produzo Fingertips (2020), que
consiste em uma costura de vídeos onde minhas mãos percorrem meu corpo
gerando um caminho. Esse caminho possui uma lógica de ligação e meus braços se
unem formando um novo corpo móvel. Essa mobilidade porém é interrompida pois
ao final de cada vídeo este congela, então aos poucos que os dedos percorrem o
corpo e dão a sensação de caminhos percorridos, eles se acumulam estáticos,
aglomerados num plano de fundo preto. Lembro-me de pensar, enquanto trabalhava
na pós produção, que esse caminho feito com meu corpo poderia ser infinito, mas
concluía que em certo momento o vídeo precisaria acabar.

Figura 2. Fingertips (2020)

4.3 Processos híbridos

O aspecto inesgotável da fotografia me chama atenção. Essa infinitude que se dá


por meio da visão, por gatilhos da memória; a fotografia estará lá naquele mesmo
momento, para sempre. A hibridação vem como alteração e manipulação dessas
realidades congeladas, e traduz em meu trabalho as diversas dimensões que a
imagem consegue alcançar. Começo a detalhar o processo inicial, o digital. O clique
final com o celular e as fotografias registradas em miniaturas dentro da galeria. O
que capturo, de imediato, não é o que realmente gostaria de ver. A pós produção
sempre se fez presente em meus trabalhos como uma forma de lapidar o que
retrato e esse entusiasmo só é possível pela maleabilidade - agora digital e física -
que venho a explorar na série Fiasco, trabalhada nessa etapa da pesquisa.

Nessa série de fotografias, depois da pós produção digital, as imagens são


impressas em tinta falha de impressora. Analisando as imagens em papel ofício A4
vejo quais possuem o encaixe com o erro de cores e as manchas produzidas não
intencionalmente. Passo a incorporar esses pequenos desvios de qualidade técnica
e percebo que simpatizo com a forma mais próxima do comum que uma imagem
pode chegar, numa folha fina que acaba servindo para anotar recados ao falar no
telefone. Esse primeiro desgaste da imagem amplia as fronteiras da
experimentação: por onde posso ir com essas intervenções? O que faz o desvio ser
uma ruptura que dá continuidade a existência eterna da fotografia? Me aproprio da
reflexão de Sandra Rey sobre os processos híbridos na arte contemporânea:

A hibridação, tal como a entendo nos procedimentos da arte


contemporânea, refere-se às proposições que evocam a capacidade de
convocar códigos heterogêneos e de operar transversalidades entre
diversos registros. Hibridar, no contexto da pesquisa, significa
problematizar a maneira de tirar partido das especificidades de um
medium ou dos materiais, investiga as possibilidades de registrar ou
introduzir desvios na vocação original do aparato técnico ou tecnológico
nas práticas da arte contemporânea. O que está em foco são as
invenções e os cruzamentos de procedimentos, as apropriações e
combinações diversas, os deslocamentos, desvios e operações
inesperadas introduzidas no aparato técnico/tecnológico, realizadas por
artistas contemporâneos, que podem assumir configurações com
conotações poéticas, lúdicas, sociológicas, filosóficas, conceituais,
ecológicas ou políticas, na forma de proposições artísticas. (...)
É um fazer que inventa o modus operandi e define a regra da obra
enquanto a concebe, projeta ou realiza no próprio ato de cada
operação. (...) Inclui alteridades e novas formas de subjetividade para
propor um sistema de relações com inúmeros desdobramentos no nível
da percepção. Isto porque esta tendência estética constitui-se a partir
de um afrouxamento de vínculos com o objeto para enfatizar as
relações. (REY, 2005)

4.5 A série Fiasco

Iniciou a partir de uma proposta que envolveu trabalhar com processos híbridos, a
partir disso revisitei as linguagens protagonistas de minha imagética e vi o contorno
de uma possibilidade de aliança entre desenho, colagem, palavra e fotografia.

● FOCOS DE ESTUDO:
- fotografia com celular
- edição/montagem
- fotografia híbrida (desenho)
- scanner
- pós produção
- intervenções manuais
-
● QUESTIONAMENTOS/REFLEXÕES/DISPARADORES:
- termo corpo-câmera de Catherine Perret
- Nós, errantes de Oriana Duarte
- movimento fotografia digital>impressão>scanner>intervenção
manuseio do corpo impresso - Epidermic scapes de Vera Chaves .
- fio infinito da memória/as existências dentro da fotografia – Uso dos objetos
de infância - Álbum de Familia de Carla Borba
- mistura de texturas/sobreposição

4.6 Destruir

Gestos construtores que, para sua eficácia, são, paradoxalmente,


aliados a gestos destruidores: constrói-se à custa de destruições.
Cecília de Almeida Salles, 1998

Lápis, folha, scanner e câmera do celular foram as ferramentas que precisei para
dar início a série que intitulei carinhosamente de Fiasco, pois foi esse mesmo fiasco
o núcleo explosivo que gerou o resquício final. Por resquício quero dizer que o
processo foi sutilmente destrutivo, onde os materiais expressam sua precariedade e
fragilidade ao formatar uma superfície bidimensional que sustenta colagens, rasgos
e fogo. A tinta do cartucho da impressora que estava prestes a acabar foi elemento
crucial na impressão das fotografias. Enquanto o preto e branco se manifestou
pigmentado e contrastante, o colorido foi afetado por linhas desbotadas e falhas da
tinta, resultando em cores opacas.

O leve clima precário das condições de trabalho foi solo fertil para a pesquisa. Após
fotografar com o celular recortes do meu rosto e corpo, retirei as imagens do meio
digital para torná-las maleáveis em folhas finas. Quando transferi o meio digital para
a concretude de intervenções com tesoura e cola senti criar uma nova atmosfera
para a fotografia, dando vazão para uma expansão além da tela. Ali, com a imagem
em minhas mãos, me senti convidada a deixar o movimento externo influenciar em
sua estrutura. Amassei as folhas e depois desamassei, no desespero de deixá-las
novas; rasguei as imagens em diversas perspectivas e tentei remontá-las; fiz
diversas tentativas de queimar as folhas com isqueiro. Defini essa etapa como
destruir, pois percebi que o ponto de partida foi essa sensação de fim, um gesto de
criar invertido.

É válido dizer que a metodologia deste trabalho abrange o termo low-tech em sua
mais pura forma: possuo um celular nem tão velho nem tão novo e só. A luz rala
que vem da janela do apartamento térreo, a cama que funciona de mesa e um bloco
de folhas pautadas foram elementos externos que se dispuseram no que eu acharia
ser um reforço para “estancar” as precariedades e sujeiras, sem saber que eram
justamente essas pequenas goteiras na construção conceitual do trabalho que iriam
desencadear um ponto de partida.
Figuras 3,4,5 e 6, Série Fiasco (2021/2022)

REFERÊNCIAS (completar, com os títulos , cidades e editoras)

CAMPILHO, Matilde
PEREZ, Karine Gomes, 2008
SALLES, Cecília Almeida. 1998
REY, Sandra. 2005

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