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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO


CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
DISCIPLINA: ANÁLISE DA INFORMAÇÃO
DOCENTE: PROF.ª DR.ª VERA DODEBEI

GUIDA E A IMAGEM DE PROUST: DE ENCONTRO AO TEMPO PERDIDO

Graduandos (as)
Daniel Ramalho S. Pereira
Fabiana Guimil Soares
Rosemere Gomes de Andrade
Laura Soares Maffei

Rio de Janeiro
Dezembro 2019
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RESUMO

O curta-metragem de animação brasileiro Guida, objeto de estudo deste trabalho, é


analisado sob a perspectiva da relação entre informação e memória. Guida, uma mulher
que trabalha como arquivista nos últimos trinta anos no Fórum em sua cidade, mudou
sua rotina quando se deparou com um anúncio de jornal para aulas de modelo ao vivo
em um centro cultural. Através da sensibilidade criativa do personagem, o filme propõe
uma reflexão sobre a retomada da inspiração artística, a arte como agente
transformador e o conceito de beleza.

PALAVRAS-CHAVE: Memória, modelo vivo, animação, velhice, Guida, Rosana Urbes

ABSTRACT

The Braz/]ilian animated short film Guida, object of study of this work, is analyzed from
the perspective of the relation between information and memory. Guida, a woman that
works as an archivist for the last thirty years at the Forum in her town, has changed her
routine when she comes across a newspaper ad for live model classes in a cultural
center. Through the creative sensitivity of the character, the film proposes a reflection on
the resumption of artistic inspiration, art as a transformative agent and the concept of
beauty.

KEYWORDS: Memory, living model, animation, old age, Guida, Rosana Urbes
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 5
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÒRICA ................................................................................. 6
3. METODOLOGIA ........................................................................................................ 7
3.1. Cena I.................................................................................................................. 8
3.2. Cena II................................................................................................................. 9
3.3. Cenas III e IV .................................................................................................... 10
3.4. Cena V .............................................................................................................. 12
3.5. Cenas de VI a XII .............................................................................................. 13
4. RESULTADOS ........................................................................................................ 15
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 16
6. REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 18
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INDÍCE DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1: Fusão de frames consecutivos do curta Guida ............................................................ 6
Figura 2: Dança no banho .......................................................................................................... 8
Figura 3: Dança no atelier ........................................................................................................... 9
Figura 4: Marcas de envelhecimento no corpo.......................................................................... 10
Figura 5: Flacidez do envelhecimento ...................................................................................... 11
Figura 6: Guida se imagina posando ........................................................................................ 12
Figura 7: Guida se reconhece nas interpretações dos artistas .................................................. 13
Figura 8: Desenho da criança ................................................................................................... 13
Figura 9: Artista pinta uma egípcia............................................................................................ 14
Figura 10: Artista pinta uma musicista ...................................................................................... 14
Figura 11: Artista pinta uma boxeadora .................................................................................... 15
Figura 12: Artista jovem pinta Guida jovem............................................................................... 15
Figura 13: Porta retrato da infância ........................................................................................... 16
Figura 15: Troféu guardado na estante ..................................................................................... 16
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1. INTRODUÇÃO

Neste artigo em que tomamos por objeto teórico, o curta metragem brasileiro de
animação ‘Guida’ dirigido por Rosana Urbes será analisada a documentação fílmica e
os parâmetros de representação e possíveis interpretações como informação. Ao
examinar a conexão entre imagem e roteiro percebe-se que o filme em desenho de
animação, embora sem texto possui uma narrativa consistente passível de variadas
interpretações.
Partindo da premissa da recuperação da informação fílmica trataremos as situações de
diferentes naturezas e que permeiam variados momentos da história ressaltando as
proposta de percepção/interpretação de cada uma dessa informações isoladamente e
em conjunto (desenho, animação, trilha sonora). Segundo Cordeiro (1996):

“O conteúdo de alguns documentos relacionados ao filme é, às vezes, de difícil


entendimento, pois envolve informações técnicas e de natureza diversa, que
exigem do analista um conhecimento prévio sobre o processo de produção de
filmes. Cabe dizer que o produto final 3⁄4 o filme 3⁄4 é de conhecimento e
apreensão do público, mas sua elaboração é de ordem técnica.”

Diante disto, a análise ora proposta se manterá na descrição das possíveis


interpretações atribuídas as cenas elencadas e suas representações dentro e fora do
enredo fílmico. Sendo assim, objetiva se mensurar o quanto a memória e a carga
histórica e cotidiana de cada personagem e de cada um de nós pode influenciar na
representatividade proposta nas cenas do curta. Já que de fato há diferentes
possibilidades de interpretações que se estendem a todas as representações da
informação em nossa vida nos mais variados contextos, formas e aplicabilidades.
Portanto, ao destacar cenas isoladas do curta em questão será possível traçar
hipóteses para cada interpretação de Guida atribuída por cada um dos pintores que a
desenhavam e consecutivamente o que as interpretações realizadas pela protagonista
ao longo da trama promoveram de despertar individual de sua memória e a auxiliaram a
ressignificar sua vida em sua terceira idade.
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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÒRICA

“As rugas e dobras do rosto”, diz Benjamin (1985, p.46), “são inscrições deixadas pelas
grandes paixões, pelos vícios, pelas instituições que nos falaram, sem que nada
percebêssemos, porque nós, os proprietários não estávamos em casa.” Nesse texto
intitulado “A imagem de Proust’, Benjamin se debruça sobre o método criativo do autor
de “Em busca do tempo perdido” para refletir sobre a dialética da passagem do tempo.
Para o autor, toda interpretação da obra de Proust deve ter como ponto de partida o
mundo onírico, o ‘campo dos sonhos’, pois o procedimento proustiano não é da
reflexão, e sim dos fluxos de consciência, capazes de “deixar no instante o mundo
inteiro envelhecer, em torno de uma vida humana inteira” (ibid, p.46). Encontramos
semelhanças com o que ocorre com a personagem Guida que, tomada por uma
extrema emoção quando posa nua como modelo vivo, liber(t) a sua memóire
involontaire, “força rejuvenescedora capaz de enfrentar o implacável envelhecimento”
(ibid, p.45) e, passa exteriorizar corporalmente essa epifania, dançando - remontando,
rememorando, inscrevendo o passado no presente - como a criança bailarina de
sapatilhas e tuiu que foi um dia cujo retrato pendurado na sua casa, retorna à narrativa,
se materializando em fadeaway com um plano bem fechado no seu rosto.

Figura 1: Fusão de frames consecutivos do curta Guida

Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=c5xB5b3dQK8

Dentro desse quadro que podemos considerar como estratégia narrativa adotada pela
diretora, as imagens do presente e do passado se chocam, provocando no espectador
um choque pelo contraste dessas heterogeneidades, ao chocar imagem faz um arco
na flecha do tempo “que perpassa veloz”, que, sob certos aspectos, se imobiliza. Com
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efeito, podemos inferir que uma nova personagem nasce nesse momento. Fisicamente,
a mulher de ombros arqueados se metamorfoseia em outra, muito mais lânguida e
ereta, capaz de executar com extrema desenvoltura diversos movimentos de dança.

Na obra de Proust - ‘pedra de Roseta’ dos estudos da memória - o fluxo do tempo se


apresenta sob a “forma mais real, e por isso mais entrecruzada que se manifesta com
clareza na reminiscência (internamente) e no envelhecimento (externamente)”
(BENJAMIN, 1985, p. 45). Esse entrecruzamento apontado por Benjamin pode ser lido
como um eixo transversal que indica a importância da nostalgia para a memória, e
aponta para o fenômeno da capacidade das alegorias oníricas em interpenetrar o
presente dos indivíduos, o trabalho das imagens do passado, e, assim, a forma como
memória se faz capaz de dialogar dialeticamente com o devir através do trabalho da
imaginação e, no outro sentido, com o passado, porvir. Benjamin afirma que Proust não
escreveu sobre o que viveu mas sobre o tecido da sua rememoração, que define como
“trabalho de Penélope”, da disputa inexorável entre a reminiscência e o esquecimento.
Bergson (2006)

3. METODOLOGIA

Metodologicamente, experimentamos a representação de alguns trechos selecionados


na narrativa fílmica, no intuito de proceder uma tentativa de “esgotamento” dessas
cenas da narrativa. Entendendo que enquanto o objeto, o filme se configura enquanto
“um ‘mundo possível’ que foi ou será construído e, a partir dele, seremos remetidos às
novas narratividades” (DODEBEI, RIBEIRO, ORRICO, 2017). Ao pensarmos na relação
entre a informação contida nos sinais de envelhecimento no corpo da personagem e a
sua memória, avistamos uma “possibilidade transformadora” que a emoção e a
reminiscência “podem produzir na memória para uma construção imaginária rica e
libertadora” (ibid). Em suma, expondo-se aos olhares e representações - quiçá,
transfigurando-se em corpo que, posando, torna-se semióforo (Pomian,1984), e assim,
é passível de múltiplas representações, a personagem Guida atinge a liberdade.
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A fim de alcançar os objetivo propostos a metodologia a ser utilizada será a análise


qualitativa, considerando como postura de um analista o processo de estar “ativo,
conscientemente ativo, ativo de maneira racional, estruturada.” como nos propõe
Vanoye e Goliot (1994). Os autores descrevem o analista como alguém que “olha,
ouve, observa, examina tecnicamente o filme, espreita, procura indícios.“ Ao submeter o
curta à instrumentos de análise, formular hipóteses inicia-se um processo de
distanciamento que proporcionará a introjeção no campo da reflexão, da produção
intelectual, que é ao que este trabalho se propõe.

3.1. Cena I
Figura 2: Dança no banho

Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=c5xB5b3dQK8

A personagem Guida dança enquanto toma banho, mostrando com tamanha delicadeza
o quanto a personagem é jovial, pulsante e leve. O que em outros quadros revela que
sua vida social não condiz com seu mundo interior. Na sua intimidade Guida está
conectada fortemente às artes, ela tem imaginação, criatividade e preza pelo belo.
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3.2. Cena II
Figura 3: Dança no atelier

Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=c5xB5b3dQK8

Guida se despe constrangida, mas logo é tomada pela lembrança de seu porta-retrato
que tem uma foto da personagem menina vestida de bailarina em pose que sugere um
passo de dança. Ela se liberta da timidez embalada por uma música interior dando
início a uma dança, que serve de inspiração aos desenhistas, que visivelmente são
tocados pelo lirismo ímpar transmitido por Guida.

As duas cenas são acompanhadas por um fundo musical, o qual narra como é o mundo
interior da personagem, quem ela é realmente. A análise teórica e metodológica pode
ser interpretada como a música e movimento da memória artística e corporal da
bailarina que Guida foi na juventude. Desde o início do filme há na imaginação da
personagem esses dois elementos música e dança (movimento) que busca o
esgotamento dos detalhes, todos cotidianos. “... é possível que qualquer arte de
representação (cinema é arte de representação) gera produções simbólicas...”
(Vanoyoe; Galiot-Lété, 2002, p.61)
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3.3. Cenas III e IV

Duas das passagens importantes dentro do curta-metragem Guida e que apresenta


todo o desenrolar da estória, é onde a personagem percebe suas marcas de
envelhecimento ao tocar seu corpo e em algumas cenas mais à frente, idealizar-se de
maneira ao qual a arte a torna jovial novamente. Quando Guida imagina-se como
modelo vivo em uma turma cheia de desenhistas. É possível falar da velhice como
fratura estética e possibilidade de escapatória. Na perspectiva das fraturas, estas
podem ser compreendidas como “pequenos sustos” (Mendonça, 2016).

Figura 4: Marcas de envelhecimento no corpo

Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=c5xB5b3dQK8

"Ah, o tempo é o mágico de todas as traições … E os próprios olhos, de cada


um de nós, padecem viciação de origem, defeitos com que cresceram e a que
se afizeram, mais e mais… Os olhos, por enquanto, são a porta do engano;
duvide deles, dos seus, não de mim" (Rosa, G. 2001)
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Figura 5: Flacidez do envelhecimento

Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=c5xB5b3dQK8

Benjamin (1983, p.46) diz que “As rugas e dobras do rosto”, “são inscrições deixadas
pelas grandes paixões, pelos vícios, pelas instituições que nos falaram, sem que nada
percebêssemos, porque nós, os proprietários não estávamos em casa.”

A velhice mostrada pela personagem é apresentada por uma ressignificação do


conceito a partir dessa escapatória mencionada por Mendonça (2016), onde a criadora
Rosana Urbes, demonstra o envelhecer como arte, tendo seu aspecto poético e
metafórico. Guida interpreta o seu ser e viver a partir das expressões e movimentos
corporais durante a cena da ilustração abaixo.. O termo envelhecimento vem da
biologia, onde se caracteriza o processo cronológico de desgaste da energia vital de um
indivíduo, mas observa-se que Guida torna a sua velhice como um novo patamar de
experiências e conhecimento de si, devido a sua simplicidade e vontade de viver;
mesmo essa vontade sendo a partir de seus sonhos e ilusões de uma vida ao qual já
estabilizada. Segundo Beauvoir (1990), "é uma surpresa, um assombro, perceber- se
velho. O espelho mostra o que os outros percebem, mas a pessoa reluta em aceitar a
mudança em si própria. Dessa forma, velho é sempre o outro..."
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3.4. Cena V
Figura 6: Guida se imagina posando

Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=c5xB5b3dQK8

Com a personagem Guida, tal qual acontece com os vinhos de boas safras, ocorre um
aprimoramento com o passar do tempo. A quinta imagem, supostamente, é uma
continuação da imaginação de Guida em fazer-se acreditar que poderia submeter-se a
novos olhares, novas interpretações de si, de como a trajetória dessa tivesse sido se
não dedicado a sua vida ao fórum, onde trabalha como arquivista há 30 anos. Ou até
mesmo, como essa seria se fosse alguém de grande importância para o
desenvolvimento da arte, como Frida Kahlo.
Portanto, Para Barros (2010) “estar no mundo e ser identificado como parte dele faz
parte da percepção de si mesmo e do outro como ser independente e autônomo e,
nesta percepção de si e do outro, está implicada a ideia de um corpo circunscrito, que
define os espaços de privacidade e intimidade. As ideias de dignidade na velhice, e não
só nesta fase da vida, estão associadas a este corpo circunscrito que na velhice é
ameaçado pelas diversas intervenções, muitas associadas à própria adequação ao
modelo do envelhecimento da terceira idade.”
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3.5. Cenas de VI a XII


Figura 7: Guida se reconhece nas interpretações dos artistas

Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=c5xB5b3dQK8

Nas cenas abaixo, a personagem é interpretada pelos diferentes pintores, nas formas
mais variadas possíveis provavelmente motivadas pelo arcabouço de vida de cada um,
somados as suas experiências pessoais e as memórias que individualmente tem a
partir de suas respectivas vivências. “A informação, esse elemento transformador das
estruturas, junto à memória, que tem o poder de reter e liberar lembranças” (DODEBEI,
RIBEIRO, ORRICO, 2017, p.11). Aparente a informação trazida pelo corpo exposto pela
modelo vivo, suscitou em cada um dos pintores lembranças e associações peculiares a
cada um deles.
Figura 8: Desenho da criança

Fonte: https://www.youtube.com
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Figura 9: Artista pinta uma egípcia

Fonte: https://www.youtube.com

Figura 10: Artista pinta uma musicista

Fonte: https://www.youtube.com

Figura 11: Artista pinta Gueixa

Fonte: https://www.youtube.com
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Figura 11: Artista pinta uma boxeadora

Fonte: https://www.youtube.com

Figura 122: Artista jovem pinta Guida jovem

Fonte: https://www.youtube.com

4. RESULTADOS

O porta retrato com a foto de Guida dançando ainda na infância é um suporte


frequentemente visto pela personagem que o mantinha na mesa como uma fonte de
recordação do passado. Além dele o curta revela vários outros quadros sempre com o
tema dança. Aparentemente, na estante, vemos uma figura que parece de um trofeu
em forma de um corpo abaixado, fazendo referência a isto pelo menos. Em verdade,
são suportes da memória de Guida que apesar de estar envolvida há trinta anos numa
rotina burocrática, corroboram para o despertar que a mesma sentiu ao ler o anúncio de
modelo vivo num jornal. Em seu artigo Ensaios sobre memória e informação, Dodebei
(2016) cita Frederic Kaplan que a partir de experiência domiciliar chegou a conglusão
que os objetos são relevantes quando “possuem duas dimensões: a estrutura física,
incorporável, cuja forma convida à metamorfose; e a história que carregam em sua
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relação com as pessoas.” Dentro deste contexto, é possível perceber que a


historicidade do objeto no caso de Guida constitui um fomento para sua lembrança,
sounho e reflexão, como descreve Dodebei.

Figura 13: Porta retrato da infância

Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=c5xB5b3dQK8

Figura 14: Troféu guardado na estante

Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=c5xB5b3dQK8

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Fica como desfecho a relevância das ligações que unem passado e presente e suas
influências porque não dizer, no futuro. As possibilidades que os contextos nos
oferecem de ressignificação de valores, de sentidos, de oportunidades na vida.
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Sobretudo, quando o tema repensa a questão do envelhecimento e nos oferece (à cada


um de nós) também uma nova chance de releituras e interpretações da vida do
personagem e de nossa vida pessoal.
“O aspecto cultural das trocas e da trajetória dos objetos os localiza em um tipo de
circuito cujos valores não se prendem somente ao econômico e sim a um simbólico que
é ‘dado’ por grupos ou indivíduos. Os objetos ao serem ‘biografados’ merecem ser
vistos ora como um presente, ora como uma mercadoria, que, dependendo do seu
status de circulação e biografia, são eles e não os humanos, por vezes, que definem a
sua ‘funcionalidade’ ou ‘utilidade’. O que nós chamados “regimes de valor”, conforme
designa o autor, são as coisas que ‘nos dizem’ em que fase elas se encontram.”
(DODEBEI, RIBEIRO, ORRICO, 2017, p.10)
“A informação”, conforme nos apontam as professoras abaixo citadas é “elemento
transformador das estruturas, junto à memória, que tem o poder de reter e liberar
lembranças” (Dodebei, Ribeiro, Orrico, 2017, p.11). Partindo desse pressuposto teórico,
identificamos na narrativa fílmica dirigida por Rosana Urbes, a possibilidade de
enxergar um diálogo e uma fricção que ocorre entre o envelhecimento da personagem,
que tem no seu corpo uma fonte de informação extrínseca - e a sua memória
involuntária, que se manifesta com imagens, “informes, não visuais, indefinidos e
densos, anunciam-se um todo como o peso da rede anuncia a presa ao pescador”
(BENJAMIN, 1985, p. 49). Esse confronto é um dos eixos tranversais da narrativa, na
qual a personagem, seja por meio de seus sonhos ou do trabalho de sua imaginação
está sempre em busca de um contato com o passado que, algumas vezes, se manifesta
nas suas lembranças e se fazem visíveis ao espectadores nos retratos e imagens que
entrecortam a narrativa, até o clímax do filme, quando a memória transforma-se em
“odor, sentido de peso, para quem lança sua rede no oceano do temps perdu” (ibid). E,
assim, Guida, se lança e se encontra com seu tempo perdido.
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6. REFERÊNCIAS

BARROS, Myriam Morais Lins. Trajetória dos estudos de velhice no Brasil. Rio de
Janeiro: Artmed, 2010.

BEAUVOIR, Simone de. A velhice. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. 1990

BENJAMIN, Walter. A imagem de Proust. In: ______. Magia e técnica, arte e política.
Trad. Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1985. (Obras escolhidas; v. 1), p.
37-49

CORDEIRO, Rosa Inês de Novais. Informação cinematográfica e textual: da geração à


interpretação e representação de imagem e texto. Brasília, Ciência da Informação v.
25, n. 3, 1996. (Comunicações).

DODEBEI, V. Ensaios sobre memória e informação. Rio de Janeiro, Edição Especial,


v.9, n 15, p. 227-244. Disponível em:
http://www.seer.unirio.br/index.php/morpheus/article/view/5475. Acesso em 20/11/2019.

DODEBEI, V. L.; RIBEIRO, L. B.; ORRICO, E. G. D. Por trás do céu: uma abordagem
ecológica sobre informação e memória. Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da
Informação, n. XVIII ENANCIB, 2017. Disponível em:
<http://hdl.handle.net/20.500.11959/brapci/105283>. Acesso em: 09 nov. 2019.

GUIDA. Um curta de Rosana Urbes. São Paulo: Cinema Sensível, 2014. 1 vídeo (11
min.). Disponível em: http://portacurtas.org.br/filme/?name=guida. Acesso em: 9 nov.
2019.

MENDONÇA, M. C. Comunicação, consumo e a subjetividade das mulheres-mães no


climatério e menopausa. In: COMUNICON 2016, p.13-15, São Paulo. 2016

ROSA, João Guimarães (2001). Primeiras histórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.

http://www.ufrgs.br/deds/copy_of_imagens/Manual%20Artigo%20Cientifico.pdf Acesso
em: 10 nov.2019.

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