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Criscyanne Andrade de Oliveira
Dorli João Carlos Marques
Ellen de Moraes e Silva
Romulo Garcia Barros Silva
Organizadores

DOSSIÊ
HISTÓRIA DAS PRISÕES
NO AMAZONAS

Este livro foi incentivado com recursos da


Mestrado em Segurança Pública, Cidadania e
Direitos Humanos da UEA

Embu das Artes - SP


2022

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Criscyanne Andrade de Oliveira
Dorli João Carlos Marques
Ellen de Moraes e Silva
Romulo Garcia Barros Silva
Organizadores

DOSSIÊ
HISTÓRIA DAS PRISÕES
NO AMAZONAS

AUTORES
Ana Paula Serizawa Silva Podedworny Guilherme da Silva Monteiro
Arthur Sant’Anna Ferreira Macedo Jahvier Alejandro Lemus Castaneda
Carlos Lélio Lauria Ferreira Jucinara Figueiredo Pinheiro
Christianne Corrêa Bento da Silva José Divanilson Cavalcanti Junior
Criscyanne Andrade de Oliveira Luiz Claudio Pires Costa
Denis Caetano Gomes Cavalcante Márcio de Souza Corrêa
Diêgo Luiz Castro Silva Maxwell Marques Mesquita
Dorli João CArlos Marques Paula Mirana de Sousa Ramos
Edson Rosas Neto Pâmella Oliveira Silva
Ellen de Moraes e Silva Renan Oliveira de Carvalho
Ernandes Herculano Sarava Romulo Garcia Barros Silva
Fernanda de Souza Marcellino Sylvia Laureana Arruda da Silva Cabral Chaves
Tereza de Sousa Ramos

Embu das Artes - SP


2022

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© by Alexa Cultural

Direção
Gladys Corcione Amaro Langermans / Nathasha Amaro Langermans
Editor
Karel Langermans
Capa
Klanger
Foto da contracapa
Romulo Garcia
Revisão Técnica
Dorli João Carlos Marques e Ellen de Moraes e Silva
Revisão da língua
Criscyanne Andrade de Oliveira, Dorli João Carlos Marques, Ellen de Moraes e Silva e Romulo
Garcia Barros Silva
Projeto Gráfico e Editoração Eletrônica
Alexa Cultural

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


K076 - OLIVEIRA, C. A. M357 - MARQUES, D. J. C.
M828 - MORAES E SILVA, E. B277 - BARROS SILVA, R. G.

Dossiê: História das Prisões no Amazonas. Criscyanne Andrade de


Oliveira, Dorli João Carlos Marques, Ellen de Moraes e Silva e Ro-
mulo Garcia Barros Silva (orgs.), Alexa Cultural: Embu das Artes/
SP, 2022.
16x23cm - 288 páginas
ISBN - 978-85-5467-220-1

1. Segurança Pública - 2. Cidadania - 3. Direitos Humanos - 4.


Sistema Prisional - 5. Amazonas - I. Índice - II Bibliografia

‘ CDD - 341-413 / 301

Índices para catálogo sistemático:


1 - Segurança Pública
2 - Sistema Prisional
3 - Amazonas
Todos os direitos reservados e amparados pela Lei 5.988/73 e Lei 9.610
É proibida a repodução parcial ou total desta obra sem a anuência dos organizadores
e/ou editora.

Alexa Cultural Ltda


Rua Henrique Franchini, 256
Embú das Artes/SP - CEP: 06844-140
alexa@alexacultural.com.br
alexacultural@terra.com.br
www.alexacultural.com.br
www.alexaloja.com

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Dedicatória

Esta obra é em homenagem e memória às vítimas da pande-


mia pelo Corona Vírus (SARS-CoV-2 / COVID – 19)

Agradecimentos

Ao Delegado Emerson de Almeida Negreiros


(In memorian)
À UEA
Ao Mestrado Profissional em Segurança Pública, Cidadania
e Direitos Humanos
Ao Consórico Humanitas
Ao GIEV

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COMITÊ CIENTÍFICO ALEXA CULTURAL
Presidente
Yvone Dias Avelino (PUC/SP)
Vice-presidente
Pedro Paulo Abreu Funari (UNICAMP)
Membros
Adailton da Silva (UFAM – Benjamin Constant/AM)
Alfredo González-Ruibal (Universidade Complutense de Madrid - Espanha)
Aldair Oliveira de Andrade (UFAM - Manaus/AM)
Ana Paula Nunes Chaves (UDESC – Florianópolis/SC)
Arlete Assumpção Monteiro (PUC/SP - São Paulo/SP)
Barbara M. Arisi (UNILA – Foz do Iguaçu/PR)
Benedicto Anselmo Domingos Vitoriano (Anhanguera – Osasco/SP)
Carmen Sylvia de Alvarenga Junqueira (PUC/SP – São Paulo/SP)
Claudio Carlan (UNIFAL – Alfenas/MG)
Denia Roman Solano (Universidade da Costa Rica - Costa Rica)
Débora Cristina Goulart (UNIFESP – Guarulhos/SP)
Diana Sandra Tamburini (UNR – Rosário/Santa Fé – Argentina)
Edgard de Assis Carvalho (PUC/SP – São Paulo/SP)
Estevão Rafael Fernandes (UNIR – Porto Velho/RO)
Evandro Luiz Guedin (UFAM – Itaquatiara/AM)
Fábia Barbosa Ribeiro (UNILAB – São Francisco do Conde/BA)
Fabiano de Souza Gontijo (UFPA – Belém/PA)
Gilson Rambelli (UFS – São Cristóvão/SE)
Graziele Acçolini (UFGD – Dourados/MS)
Iraíldes Caldas Torres (UFAM – Manaus/AM)
José Geraldo Costa Grillo (UNIFESP – Guarulhos/SP)
Juan Álvaro Echeverri Restrepo (UNAL – Letícia/Amazonas – Colômbia)
Júlio Cesar Machado de Paula (UFF – Niterói/RJ)
Karel Henricus Langermans (USP/EcA - São paulo/SP)
Kelly Ludkiewicz Alves (UFBA – Salvador/BA)
Leandro Colling (UFBA – Salvador/BA)
Lilian Marta Grisólio (UFG – Catalão/GO)
Lucia Helena Vitalli Rangel (PUC/SP – São Paulo/SP)
Luciane Soares da Silva (UENF – Campos de Goitacazes/RJ)
Mabel M. Fernández (UNLPam – Santa Rosa/La Pampa – Argentina)
Marilene Corrêa da Silva Freitas (UFAM – Manaus/AM)
María Teresa Boschín (UNLu – Luján/Buenos Aires – Argentina)
Marlon Borges Pestana (FURG – Universidade Federal do Rio Grande/RS)
Michel Justamand (UNIFESP - Guarulhos/SP)
Miguel Angelo Silva de Melo - (UPE - Recife/PE)
Odenei de Souza Ribeiro (UFAM – Manaus/AM)
Patricia Sposito Mechi (UNILA – Foz do Iguaçu/PR)
Paulo Alves Junior (FMU – São Paulo/SP)
Raquel dos Santos Funari (UNICAMP – Campinas/SP)
Renata Senna Garrafoni (UFPR – Curitiba/PR)
Renilda Aparecida Costa (UFAM – Manaus/AM)
Roberta Ferreira Coelho de Andrade (UFAM - Manaus/AM)
Sebastião Rocha de Sousa (UEA – Tabatinga/AM)
Thereza Cristina Cardoso Menezes (UFRRJ – Rio de Janeiro/RJ)
Vanderlei Elias Neri (UNICSUL – São Paulo/SP)
Vera Lúcia Vieira (PUC – São Paulo/SP)
Wanderson Fabio Melo (UFF – Rio das Ostras/RJ)

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“Conhecem-se todos os inconvenientes da prisão, e sabe-se que é
perigosa, quando não inútil. E, entretanto, não “vemos” o que pôr
em seu lugar. Ela é a detestável solução, de que não se pode abrir
mão.”
Michel Focault

“Podem os gritos de um infeliz entre tormentos retirar do seio do


passado que não volta mais uma ação já cometida?”26. Em outras
palavras ele indaga: é possível castigar uma pessoa cruelmente
partindo da premissa de que sua atitude irá ser apagada ou restau-
rada? A vida que o infeliz condenado ceifou irá retornar com o so-
frimento dantesco aplicado nele? A resposta é e sempre será: não!
O apenado deve reconhecer seu erro, se arrepender, se reeducar,
se ressocializar e depois retornar novamente ao seio dos comunas.
Essa deve ser a pedagogia da punição. Educação!
Michel Focault
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PREFÁCIO

A experiência e a necessidade juntaram-se na feitura desta obra. Das expe-


riências do grupo de intelectuais, profissionais efetivamente inseridos no universo
da segurança pública, cidadania e direitos humanos, emerge uma sequência de
estudos fundamentais para a compreensão da realidade do sistema prisional no
Amazonas. A necessidade se evidencia, entre outros, pela pouca quantidade de
produções científicas sobre o tema no contexto regional e local, pelo precário ou
nenhum conhecimento expresso nas abordagens das diferentes mídias e nas falas
de agentes públicos dos Poderes Constituídos sobre a questão e pelas dificuldades
de adequação das unidades prisionais ao que estabelece a legislação.
Essas experiências dos(as) autores(as), fruto de vivências como advoga-
dos(as), assistentes sociais, cientistas sociais, delegados(as) de polícia, educado-
res(as), filósofos(as), magistrados(as), promotores de justiça, psicólogos(as) etc.,
quando agregadas, proporcionaram uma diversidade de olhares rica e plural sobre
a temática, potencializando sua compreensão. Ressalte-se que os lugares de falas
desses(as) autores(as) estão legitimadas tanto pelas experiências como intelec-
tuais profissionais que lidam cotidianamente com a questão, quanto pelo fato de
serem membros da sociedade e, como tal, detentores do poder de fala. Nesse
sentido, conforme leciona Foucault, o exercício do poder de fala é um direito
existencial.
Enfatize-se o entendimento de que o conceito do lugar de fala será tanto
mais inclusivo na medida em que pudermos superar a visão essencialista que pos-
tula serem legítimas somente as falas de membros de grupos específicos sobre eles
próprios. Mesmo não fazendo parte de um grupo específico, enquanto membros
da sociedade é possível e necessário pensarmos criticamente a realidade. Todos
temos o direito à voz, na medida em que estamos localizados socialmente. Exerci-
tar esse entendimento ampliado do aludido conceito é adotar uma postura cidadã,
preconizada pelo Estado Democrático de Direito e também ética, no sentido de
que não apenas o “eu”, mas também o “outro” pode [e deve] ter o poder de fala.
Entende-se como necessária e oportuna esta obra, tanto pelo reduzido nú-
mero de estudos com esse fulcro, quanto pela superficialidade com que a questão
do sistema prisional - notadamente no âmbito e local - é abordada. Ressalte-se
que essa superficialidade no trato da questão não decorre da baixa qualidade dos
estudos científicos publicados e sim pela duvidosa abordagem feita por órgãos da
imprensa, mídias sociais e discursos de agentes públicos que adotam discursos
enviesados, permeados de ideologia, centrados em juízos de valor, enfim, doxa
[opinião], o que é indesejável, ao invés de basearem seus discursos em dados,
fatos, teorias consolidadas, analisados de maneira sistemática e rigorosa. Assim é
a episteme [conhecimento].

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Para uma melhor compreensão do conteúdo desta obra, faz-se necessário
apresentar um breve contexto no qual ela se insere: os desafios atuais da segu-
rança pública no Brasil e no Amazonas; as dificuldades enfrentadas pelo Estado
em garantir aos presos o pleno acesso aos direitos e garantias previstos no Pre-
âmbulo, no Art. 5º e no Art. 144 da Constituição Federal, bem como os dilemas
da ressocialização, um dos objetivos centrais da Lei de Execução Penal - LEP,
Lei 7.210/84. Quando se busca compreender a realidade do sistema prisional do
Amazonas, tendo presente esse contexto, emerge uma série de questionamentos
em função provocados pelas contradições entre o que prevê a legislação e o que o
poder público efetivamente entrega; entre o que o conjunto da sociedade almeja
– e que deveria fazer – e como ela de fato se posiciona e comporta em relação à
justiça criminal como um todo e o sistema prisional, em particular.
No preâmbulo da Constituição de 1988, o legislador constituinte originá-
rio, ao evidenciar o vetor interpretativo necessário a uma adequada compreensão
do significado das prescrições normativas, explicita a segurança como um dos
pilares da sociedade: “[...] para instituir um Estado Democrático, destinado a as-
segurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança
[grifamos], o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores
supremos de uma sociedade[...]”. No Art. 5º da nossa Carta Política, o legislador
dá contornos cristalinos à Segurança como um direito básico de todo brasileiro:
“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo
aos brasileiros e estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida,
à liberdade, à igualdade, à segurança [grifamos] e à propriedade. No Art. 144, o
mesmo legislador não deixa margem a dúvidas sobre dever do Estado e a respon-
sabilidade de toda a sociedade para com a Segurança.
A LEP, Lei 7.210/84 estabelece como um dos seus principais objetivos
propiciar a reintegração social do apenado. Ela se aplica a todos os(as) presos(as)
condenados e parcialmente aos(às) provisórios(as) e internados(as). Cumpre res-
saltar que tais sujeitos mantêm todos os seus direitos, excetuando-se, por óbvio,
aqueles não suspensos pela autoridade judiciária presentes na sentença. Some-se
a isso o fato da Carta Política de 1988 assegurar em seu Art. 5º, inciso XLVII, que
não haverá pena de prisão perpétua no Brasil e nem pena de morte, salvo em caso
de guerra declarada. Portanto, a ressocialização é inerente ao processo de cumpri-
mento da pena. Não há coerência quando o Estado e a sociedade negligenciam a
razão de ser e o sentido da referida Lei.
Não é difícil de se inferir que a ideia de ressocialização esteja na base do
marco legal brasileiro no que tange ao sistema prisional. O conjunto de assistên-
cias previstas para o(a) preso(a) – material, educacional, saúde, social, jurídica
e religiosa – precisam ser compreendidas levando-se em consideração a escolha
feita pela ressocialização. A lógica do suplício e do sofrimento que prevaleceu no
mundo ocidental nos séculos XVII e XVIII, sob a égide do absolutismo monár-
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quico, no qual punia o crime como se esse fosse um ataque pessoal ao próprio so-
berano, adotando-se o suplício como meio de provocar danos no corpo do(a) con-
denado(a), uma clara estratégia para prevenir ataques ao poder soberano. A partir
do século XVIII – advento da modernidade - a lógica do suplício e do sofrimento
foi substituída pela disciplina e pela educação e preparação para o trabalho, uma
vez que o retorno ao convívio social era certo.
Enfatize-se que essa mudança na concepção de pena não se deu por uma
guinada humanística, conforme assevera Foucalut. Foi receio do povo. Este, já
acostumado com o sangue dos suplícios, começa a apropriar-se das mesmas prá-
ticas violentas de punição utilizadas pelo soberano para se vingarem do monarca
e seu governo excludente. As execuções públicas que incitam a violência, tor-
nam a violência do Estado algo natural. Entretanto, o povo, que aprende rápido,
entendeu que só se pode vingar a tirania e o brutal processo de exclusão a que
está submetido, com sangue. A classe burguesa em ascensão, com medo de poder
político recém-conquistado, percebe que precisa substituir esse tipo de pena, com
foco nos suplícios e sofrimento dos corpos, pela disciplina “docilizadora” a alma,
através da educação, do trabalho e da vigilância intensiva, inspirada no panóptico
proposto pelo filósofo utilitarista Jeremy Bentham.
A LEP se insere nessa perspectiva foucaultiana de poder disciplinador,
acrescida do ideal ressocializador. Todavia, quando se lança um olhar mais atento
aos dados e fatos da realidade das prisões no Brasil e no Amazonas e o que prevê
a legislação constitucional e infraconstitucional relativa ao tema, constata-se um
distanciamento significativo entre o que se tem e o que se deveria ter. Esse dis-
tanciamento entre o real e o ideal é perceptível a toda a sociedade. Dos discursos
de Ministros do Supremo Tribunal Federal, classificando a realidade da prisões
como “estado de coisas inconstitucionais”, passando pelas episódios de rebeliões
e extermínios como as dos presídios do Carandiru em São Paulo, de Pedrinhas
na grande São Luís – MA e os da Cadeia Pública Desembargador Raimundo
Vidal Pessoa, Puraquequara e Anísio Jobim, em Manaus, só para citar alguns, não
deixam margem a dúvidas sobre o tamanho do desafio que o poder público e a
sociedade têm em mãos.
O primeiro passo para o enfrentamento desse desafio é conhecer os reais
contornos e dimensões do problema das prisões. Nessa trajetória, chamar o con-
junto da sociedade a participar dos projetos e das ações visando a construção de
soluções é condição sine qua non para o êxito na empreitada. Enfatize-se que a
própria Constituição determina que segurança pública e tudo que a envolve é de-
ver do estado e responsabilidade de toda a sociedade. Donde se conclui que essa
questão não é “caso de polícia”, apenas. É assunto de toda a sociedade.
Esta obra é resultado do esforço de um conjunto de profissionais do sistema
de segurança do Estado do Amazonas, de pesquisadores da área de Segurança

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Pública, Cidadania e Direitos Humanos e profissionais, de especialistas, mestres e
doutores que se debruçaram sobre a realidade do sistema prisional do Amazonas
para apresentar a realidade das principais unidades prisionais do Estado no intuito
de contribuir nesse esforço de fazer cumprir, ao menos, o que está previsto na
legislação. Uma boa leitura!

Criscyanne Andrade de Oliveira


Dorli João Carlos Marques
Ellen de Moraes e Silva
Romulo Garcia Barros Silva
Organizadores

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APRESENTAÇÃO

O Grupo Interdisciplinar de Estudo da Violência – GIEV, está vinculado ao


Mestrado Profissional em Segurança Pública, Cidadania e Direitos Humanos da
Universidade do Estado do Amazonas – UEA e é composto por autoridades Jurí-
dicas, Expert em Segurança Pública, estudiosos dos Direitos Humanos e defenso-
res da Cidadania, com saberes multidisciplinares que uniram seus conhecimentos
para produzir esta estimada obra.
Nela o leitor encontrará uma substantiva base de antecedentes sobre a HIS-
TÓRIA DAS PRISÕES NO AMAZONAS, possibilitando o autor uma viajem ao
passado, para perceber os fatores que compuseram a construção do Sistema Pri-
sional que atualmente conhecemos.
A riqueza da obra se destaca pelo trabalho minucioso dos autores em bus-
car informações tanto nos estabelecimentos penais da capital – Manaus – quanto
dos municípios que compõem o nosso imenso Amazonas, pois sabe-se que há
inúmeras dificuldades tanto de localização, quanto de acesso terrestre, fluvial e
aéreo que acabam por dificultar pesquisas nos interiores do estado, culminando
ao abandono desses lugares.
O Dossiê: A HISTÓRIA DAS PRISÕES NO AMAZONAS é um valioso meio
de estudo acadêmico que se tornará indispensável aos pesquisadores do gênero,
assim como uma fonte de riqueza para quem deseja conhecer sobre a construção
histórica do Amazonas.

Ellen de Moraes
Pesquisadora
Coordenadora do GIEV - UEA

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INTRODUÇÃO

O sistema penitenciário brasileiro foi declarado um estado de coisas in-


constitucional pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF), no julgamento
da Medida Cautelar na Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental 347/
DF, em 9 de setembro de 2015 (BRASIL, 2015). Reconheceu-se, portanto, a exis-
tência de um quadro de violação generalizada e sistêmica de direitos fundamen-
tais, causado pela inércia ou incapacidade reiterada e persistente das autoridades
públicas em modificar essa conjuntura.
A responsabilidade por essa situação foi atribuída aos Poderes Legislativo,
Executivo e Judiciário, tanto da União como dos Estados-Membros, diante da
ausência de medidas legislativas, administrativas e orçamentárias eficazes para
solução dessa complexa situação.
A questão é ainda mais dramática diante da falta de informações acerca do
sistema prisional e estudos sobre a realidade das prisões. No caso específico do
Amazonas, diante da sua complexidade logística, existe ainda o desconhecimento
quase que generalizado no tocante às informações do interior do Estado.
Nesse ponto, é importante reconhecer a colaboração da Secretaria de Ad-
ministração Penitenciária, tanto no pronto atendimento aos pedidos de informa-
ções, bem como ao permitir amplo acesso dos pesquisadores às unidades prisio-
nais do Estado.
O livro é fruto de uma pesquisa eminentemente descritiva e bibliográfica
elaborado por integrantes do Grupo Interdisciplinar de Estudos da Violência da
Universidade do Estado do Amazonas (GIEV-UEA), tendo como objetivo cola-
borar para preencher essa lacuna existente no Estado do Amazonas, servindo de
fonte de pesquisa para futuros estudantes e pesquisadores acerca da temática, ob-
viamente, sem ter a pretensão de esgotar o tema.
A obra traz ainda a história das prisões do Amazonas, suas unidades prisio-
nais, fatos relevantes ocorridos em cada uma delas, incluindo motins e rebeliões,
o modelo de cogestão, informações atualizadas sobre as prisões, suas estruturas
físicas e dos seus internos, tais como o perfil, custo por preso, número de aten-
dimentos psicossociais, jurídicos e de saúde durante os últimos anos, bem como
imagens históricas e atuais dos estabelecimentos.
A pesquisa permite não apenas descrever a estrutura física dos presídios
amazonenses, mas também a distância que ainda precisa ser percorrida para que
sejam cumpridas as promessas esculpidas na Lei de Execuções Penais. Assim,
o livro tem também como pretensão poder contribuir com melhorias no sistema
prisional do Estado do Amazonas.
O ineditismo do trabalho decorre da visão multidisciplinar da abordagem
diante da formação diversificada dos seus autores, que englobam administradores,

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psicólogos, assistentes sociais, pedagogos, cientistas sociais, policiais militares,
civis, delegados, advogados, promotores, defensores e juízes.
Ademais, muitos dos pesquisadores realizaram visitas aos estabelecimen-
tos prisionais e suas estruturas físicas e obtiveram imagens atuais dos locais, per-
mitindo assim a você, leitor, não só a ler a descrição constante desse exemplar,
mas a embarcar junto nessa viagem ao submundo das prisões amazônicas, bastan-
do acessar o qr code ao final deste exemplar.
Assim, convidamos você leitor a embarcar conosco nessa!
Boa leitura!

Criscyanne Andrade de Oliveira


Dorli João Carlos Marques
Ellen de Moraes e Silva
Romulo Garcia De Barros Silva
Organizadores

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SUMÁRIO

PREFÁCIO
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APRESENTAÇÃO
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INTRODUÇÃO
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PARTE I
CAPITAL

CAPÍTULO I
AS PRIMEIRAS CASAS DE CORREÇÃO
Luiz Claudio Pires Costa e Jucinara Figueiredo Pinheiro
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CAPÍTULO II
PRIMEIRAS PRISÕES FEMININAS NO AMAZONAS
Ellen de Moraes e Silva; Criscyanne Andrade de Oliveira e
Pâmella Oliveira Silva
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CAPÍTULO III
DA CASA DE DETENÇÃO DE MANÁUS À CADEIA PÚBLICA
DESEMBARGADOR RAIMUNDO VIDAL PESSOA:
UM SÉCULO ENTRE MEMÓRIAS E TRAJETÓRIA
Dorli João Carlos Marques; Tereza de Sousa Ramos e
Paula Mirana de Sousa Ramos
- 41 -

CAPÍTULO IV
CENTRAL DE RECEBIMENTO E TRIAGEM - CRT
Maxwell Marques Mesquita; Márcio de Souza Corrêa e
Guilherme da Silva Monteiro
- 51 -

- 19 -
CAPÍTULO V
CENTRO DE DETENÇÃO PROVISÓRIA MASCULINO I – CDPMI
Fernanda de Souza Marcellino e Diêgo Luiz Castro Silva
- 59 -

CAPÍTULO VI
CENTRO DE DETENÇÃO PROVISÓRIA MASCULINO DE MANAUS II –
CDPM II
Christianne Corrêa Bento da Silva e Denis Caetano Gomes Cavalcante
- 71 -

CAPÍTULO VII
A REALIDADE HISTÓRICA DO MAIOR PRESÍDIO DO AMAZONA:
COMPLEXO PENITENCIÁRIO ANÍSIO JOBIM - COMPAJ
(UNIDADE MASCULINA)
José Divanilson Cavalcanti Junior
- 85 -

CAPÍTULO VIII
ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DO REGIME SEMIABERTO
MASCULINO DA CIDADE DE MANAUS
Arthur Sant’Anna Ferreira Macedo; Diêgo Luiz Castro Silva e
Dorli João CArlos Marques
- 113 -

CAPÍTULO IX
ALA FEMININA - COMPLEXO PENITENCIÁRIO
ANÍSIO JOBIM (COMPAJ)
Ellen de Moraes e Silva, Criscyanne Andrade de Oliveira e
Pâmella Oliveira Silva
- 125 -

CAPÍTULO X
INSTITUTO PENAL ANTÔNIO TRINDADE – IPAT
Romulo Garcia Barros Silva e Renan Oliveira de Carvalho
- 129 -

CAPÍTULO XI
UNIDADE PRISIONAL DO PURAQUEQUARA – UPPAna Paula Serizawa
Silva Podedworny e Carlos Lélio Lauria Ferreira
- 143 -

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CAPÍTULO XII
CASA DO ALBERGADO
Criscyanne Andrade de Oliveira; Ellen de Moraes e Silva e
Pâmella Oliveira Silva
- 157 -

PARTE II
UNIDADES PRISIONAIS DISTRIBUIDAS NOS
MUNICIPIOS DO AMAZONAS

CAPÍTULO XIII
UNIDADE PRISIONAL DO MUNICÍPIO DE COARI /AM
Pamella Oliveira Silva; Criscyanne Andrade de Oliveira e
Ellen de Moraes e Silva
- 169 -

CAPÍTULO XIV
UNIDADE PRISIONAL DE HUMAITÁ JOÃO LUCENA LEITE – UPH
Maxwell Marques Mesquita; Márcio de Souza Corrêa e
Guilherme da Silva Monteiro
- 177 -

CAPÍTULO XV
UNIDADE PRISIONAL DE PARINTINS
Pamella Oliveira Silva; Criscyanne Andrade de Olieira e
Ellen de Moraes e Silva
- 185 -

CAPÍTULO XVI
HISTÓRIA DO CÁRCERE NO MUNICÍPIO DE MAUÉS/AMAZONAS
Sylvia Laureana Arruda Cabral Chaves e Jahvier Alejandro Lemus Castaneda
- 191 -

CAPÍTULO XVII
UNIDADE PRISIONAL DE TABATINGA
Edson Rosas Neto e Mônica Nazaré Picanço Dias
- 203 -

CAPÍTULO XVIII
UNIDADE PRISIONAL DE TEFÉ
Ernandes Herculano Sarava e Alder Camon da Silva Moraes
- 215 -

- 21 -
CAPÍTULO XVIV
UIDADE PRISIONAL DE ITACOATIARA
Criscyanne Andrade de Oliveira; Ellen de Moraes e Silva e
Pâmella Oliveira Silva
- 229 -

ANEXO
LEI Nº 2711 de 28/12/2001 -
DISPÕE SOBRE O ESTATUTO PENITENCIÁRIO DO ESTADO DO
AMAZONAS.
(Reproduzida no Diário Oficial. nº 29.852, de 26.03.02).
- 245 -

ABREVIATURAS E SIGLAS
- 273 -

ÍNDICE REMISSIVO
- 275 -

SOBRE OS ORGANIZADORES
- 279 -

SOBRE OS AUTORES
- 281 -

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PARTE I - CAPITAL

(FOTO)

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CAPÍTULO I

AS PRIMEIRAS CASAS DE CORREÇÃO


THE FIRST CORRECTION HOUSES
Luiz Claudio Pires Costa1
Jucinara Figueiredo Pinheiro2

Apesar de estudarmos a história do mundo e do Brasil, alguns aspectos


mais específicos não são explicitados e precisamos de uma pesquisa mais direta
para que possamos conhecer a evolução de determinado assunto, desde o seu
surgimento.
O presente texto visa apresentar o histórico das casas de correção de Ma-
naus, quando foi a criação da primeira, qual foi e suas diversas utilizações, para
que seja produzido o conhecimento capaz de suprir as necessidades de conteúdo
para pesquisa.
Assim é com a Casas de Correção, para conhecimento de seu surgimento,
necessitamos de uma pesquisa pela história, especificamente do surgimento da
lei e do julgamento dos indivíduos da sociedade, as penas possíveis e o processo
do julgamento, para somente assim entendermos a necessidade da construção de
tais locais.
Logo no início não havia necessidade desses lugares, pois as penas eram
restritas à castigos físicos ou à morte, mas com o capitalismo e a evolução dos
estudos e das ciências, os médicos, através da publicação de teses acadêmicas e
pareceres, aventaram a possibilidade de correção da conduta dos indivíduos se os
mesmos fossem empregados em trabalhos úteis, o que impedia a disseminação do
crime e evitaria o planejamento de atos ilícitos futuros.
Assim surgiram as penas privativas de liberdade, sendo então iniciadas as
construções de locais destinados a essa finalidade, inicialmente chamados de Ca-
sas de Correção e que tem evoluído, mas ainda necessitam de muitas adequações
para que possam atender ao seu objetivo principal que seria a ressocialização do
detento.
Com o objetivo de levantamento dos dados necessários foi utilizado o mé-
todo da pesquisa bibliográfica e documental, visando a fundamentação teórica do
trabalho, através das fontes secundárias para coleta de dados, entre os quais: os
dados disponibilizados pelos órgãos (ou organismos) estatais; e os obtidos por
meio da revisão bibliográfica e doutrinária.
1 Advogado, Especialista em Direito Público e em Direito Eleitoral e Mestre em Direito Ambiental.
2 Psicóloga, Especialista em Psicologia Jurídica e Hospitalar e Mestra em Sociedade e Cultura da Ama-
zônia.

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A metodologia empregada para efeito de estrutura foi uma abordagem
exploratória, representada pela pesquisa em livros e outras publicações, funda-
mental para o conhecimento necessário à obtenção das informações contidas no
presente trabalho.

2. Casa de Correção
Até o século XV a restrição da liberdade de locomoção não era conside-
rada uma forma de penalização, mas uma medida para custodiar os acusados. A
conceituação da restrição da liberdade de locomoção, vulgarmente chamada de
“prisão”, teve o início do seu uso na idade média, pelos mosteiros católicos, com o
objetivo de imputar aos membros do clero, punição pelo não cumprimento correto
de suas obrigações, sendo eles recolhidos em quartos chamados de “celas” para
meditação e assim conseguirem seu arrependimento. Somente em 1550 é que foi
construída em Londres a House of Correction, considerada a primeira prisão a
utilizar esse tipo de recolhimento em celas para os criminosos.

2.1 Histórico
A visão que possuímos das prisões é uma construção com grandes muros,
dentro dos quais a dura realidade da exclusão social se esconde. Normalmente
construídas em locais desertos ou distantes dos grandes centros, mas nem sempre
foi assim.

2.1.1 Na antiguidade
O que hoje chamamos de prisão, inicialmente era utilizada para colocar
os condenados ou réus para que aguardasse seu julgamento ou a execução de
sua pena. Esses cativeiros existiam desde 1.700 aC., criados pelos egípcios, mas
também utilizados na Grécia, Babilônia e Pérsia, para custodiar seus escravos ou
torturar daqueles que cometiam faltas ou delitos.
Nessa época o aprisionamento não era considerado uma sanção, até por
que não existia nenhuma lei que regulasse tais atitudes, mas uma garantia de ma-
nutenção da pessoa dominada fisicamente para que pudesse cumprir a punição
que lhe fosse imposta, por isso não existiam presídios ou cadeias, sendo utilizados
para esse propósito os calabouços, aposentos em ruínas, masmorras, torres, caste-
los, etc., qualquer lugar que pudesse ser utilizado como cativeiro.
Eram considerados crimes ou delitos que deviam ser punidos: o endivida-
mento, o não pagamento dos impostos, a desobediência, ser estrangeiro ou prisio-
neiro de guerra.

2.1.2 Na idade média


Como na antiguidade, também não existia a privação da liberdade como
pena, entretanto, a prisão do indivíduo para sua custódia enquanto aguardava o
julgamento ou a execução de sua sentença continuava.
- 26 -
Foi nessa época, com a igreja católica, que surgiu a primeira pena priva-
tiva de liberdade, uma pena eclesiástica, para que purgasse de seus monges os
“pecados” por eles cometidos, recolhia-os e os isolava em quartos individuais
chamados de “celas”, para que pudessem assim refletir sobre seus atos, fazendo
assim o primeiro uso da prisão.
Nessa época se consideravam delitos: a blasfêmia, inadimplência, heresia,
traição, vadiagem e a desobediência.

2.1.3 Na idade moderna


Entre os séculos XVI e XVII uma grande pobreza atinge a Europa, mesmo
com isso, ainda não foi implantada a pena privativa de liberdade, sendo tal fato
justificado por MISCIASI (1999, p. 3):

Para que pudesse surgir a ideia da possibilidade de expiar o delito com um


quantum de liberdade, abstratamente predeterminado, era necessário que todas
as formas de riqueza fossem reduzidas a forma mais simples e abstrata do traba-
lho humano medido pelo tempo; portanto, num sistema socioeconômico como
o feudal, a pena-retribuição não estava em condições de encontrar na privação
do tempo um equivalente do delito.

Esse estado de pobreza se disseminou por diversos países e teve grande


ingerência no aumento da criminalidade, causando também distúrbios religiosos,
guerras, expedições militares, devastação de países, tendo como uma de suas con-
sequências a crise do feudalismo e da economia agrícola.
Com o surgimento do capitalismo, aliado a pobreza já existente é que teve
início o movimento que revolucionou a punição, criando as penas restritivas de
liberdade, iniciando também a construção e criação de prisões organizadas para
essa finalidade, ou seja, para o cumprimento dessas penas.
Também continuaram a ser consideradas penas ou formas de punição, a
privação dos bens, perda de status, todos equivalentes ao dano produzido pelo
delito, também passou a ser considerado como pena o isolamento noturno, a inco-
municabilidade do detento, o desterro, que era a expulsão do indivíduo da pátria,
acoites ou castigos físicos e a execução, que pelo aumento da incidência de cri-
mes, deixou de ser utilizada como punição.
Diante da crise sócio econômica e o aumento dos considerados delitos, ve-
rificou-se a necessidade de ajustar a política criminal, foi quando o clero solicitou
auxilio do monarca de Londres, que destinou o Castelo de Bridwell para recolhi-
mento, principalmente dos vadios ociosos e os praticantes de pequenos delitos,
para que fossem disciplinados.
Com o aumento da delinquência, outros locais com a mesma destinação
foram criados, sendo denominados “Houses of Corrections” (casas de correção),

- 27 -
sendo logo após, em 1575 aprovada a primeira lei a mencionar essas Casas de
Correção. Em 1697 foi inaugurada a primeira “Casa de Trabalho” ou “Workhou-
se”, na Inglaterra, espalhando-se por toda a Europa.
Segundo PRACIANO (2007, p. 31) cronologicamente foram criadas:

“Em Amsterdã, em 1596 fundou-se uma casa de correção para homens; em


1597 para mulheres e em 1600 para jovens. Em 1667, em Florença, foi fundado
o Hospício de San Felipe Neri para correção de crianças e jovens “desregrados”.
Na França, em 1656 houve a primeira instituição para vagabundos e mendigos.
Em Roma foi fundada a Casa de Correção de São Miguel, em 1703, para disci-
plinar por meio do trabalho, isolamento e disciplina, os jovens delinquentes.”

A finalidade da prisão não teve tratamento diferente no Brasil, destinan-


do-se inicialmente ao recolhimento de criminosos e escravos que aguardavam a
execução de suas penas.

3. As Casas de Correção no Brasil


As Casas de Correção eram os locais destinados a confinamento daqueles
que tenham cometido delitos e estejam esperando seu julgamento, como também
para o cumprimento das penas imputadas aos mesmos, podendo ela ser com ou
sem trabalho.

3.1 A primeira
Foi através da outorga da Constituição de 1824 que ocorreu a determinação
da existência das instituições prisionais do império, que seriam: “seguras, limpas
e bem arejadas, havendo diversas casas para a separação dos réus, conforme as
circunstâncias e natureza dos seus crimes” (Constituição do Império do Brasil de
1824, art. 179 parágrafo 21), adotando o regime prisional recomendado no século
XIX pela comunidade médica, que divulgava a reclusão como estratégia de recu-
peração dos apenados, devendo os mesmos serem empregados em trabalhos úteis,
a fim de que fosse impedida a disseminação do crime, bem como o planejamento
de novos ilícitos, mas para evitar o incentivo da reincidência também deveriam
ser melhoradas a insalubridade e a aglomeração nas instituições prisionais. (MA-
CHADO et all. 1978, p. 318-9).
Mas foi em 1830 com a sanção do Código Criminal do Império do Brasil,
que substituiu o livro V das Ordenações Filipinas, até então vigente, ficou evi-
denciada a necessidade de criação das Casas de Correção e Trabalho, pois para a
maior parte dos crimes cometidos, se iniciou a aplicação das penas privativas de
liberdade, combinada com a obrigação do trabalho, devendo a ocupação diária
com o trabalho ser executada dentro do recinto prisional, entretanto, não havia
orientação de como o mesmo deveria ser organizado.

- 28 -
Em 1834 através do Ato Adicional, tanto a construção das Casas de Cor-
reção, como a organização do seu regime disciplinar foram transferidas para as
Assembleias Legislativas das Províncias, ficando na sede da Corte subordinada
diretamente à Secretaria de Estado dos Negócios da Justiça.
Segundo CARVALHO (1996, pag. 230), um projeto de Casa de Correção e
Trabalho da Corte foi proposto pela Sociedade Defensora da Independência e Li-
berdade Nacionais, nascido num período de revoltas pela abdicação de D. Pedro
I, tanto pela tropa quanto pelo povo. Alegara a Sociedade ser um projeto eminen-
temente moral para a conversão dos homens, podendo atuar também na repressão
e no controle social da população urbana.

Fig. 1 - Projeto de Casa de Correção e Trabalho da Corte foi proposto pela Socieda-
de Defensora da Independência e Liberdade Nacionais

MORAES (1923, pag. 12) registra: “a planta para a Casa de Correção do


Rio de Janeiro reproduziu o modelo prisional publicado em 1826 por uma Comis-
são da Sociedade Inglesa para o Melhoramento das Prisões”. Era um modelo de
arquitetura panóptica, sendo a construção circular para permitir a visibilidade e,
consequentemente, a vigilância total, sendo referência na arquitetura penitenciá-
ria do século XIX, conforme ensina PERROT (2000, pág. 130).

- 29 -
Fig. 2 – Arquivo Nacional IJ7-78 (1828-1912).
Planta da Casa de Correção da Corte, 1834

Em 1849 ainda não havia sido concluído o primeiro raio com duzentas
celas e as oficinas, sendo estimado pelo Ministério que seriam necessários, pelo
menos, mais dois anos para o término das obras. Totalmente construída, ela de-
veria ter quatro raios, cada um com duzentas celas para isolamento noturno, mas
pela necessidade e por acreditar que as dimensões eram “exageradas”, já começou
a ser utilizada no mesmo ano, mesmo estando ainda em construção. Somente em
1852 as duzentas celas foram concluídas, mas somente em 1856 a Casa de De-
tenção funcionou para detenções curtas por pequenos crimes ou por aqueles que
estavam sendo processados.
A Casa de Correção do Rio de Janeiro adotou o modelo alburniano, que
apesar de ser considerado um modelo menos rigoroso, adotava o silêncio absoluto
como regra, proibindo os detentos de conversar entre si e restringindo o contato
verbal com os guardas ao necessário, desde que autorizado e em voz baixa, fazen-
do com que os detentos criassem formas alternativas de diálogo entre eles, através
de gestos com as mãos ou batidas nos canos ou paredes das celas.
Os presos trabalhavam em suas celas ou em pequenos grupos nas oficinas,
pois o trabalho era considerado um dos pilares desse sistema, dando ênfase à
ressocialização do preso, pelo isolamento, pelo trabalho ou ensino de princípios
cristãos, sendo castigos físicos a última opção.
Em 1874 foram apontadas dificuldades na aplicação e funcionamento do
modelo alburniano, como a dificuldade do cumprimento do silêncio no trabalho

- 30 -
conjunto, bem como a não execução correta do projeto, o que acabava por impos-
sibilitar a visibilidade dos detentos.
A Casa de Correção da Corte passou a se chamar Penitenciária Lemos
Brito na década de 70, entretanto em 2006, após 156 anos de utilização, foram
encerradas as atividades e ocorreu a desativação do Complexo Penitenciário da
Frei Caneca, composto por mais dois presídios e um Hospital, todos no centro da
cidade do Rio de Janeiro.

4. No Amazonas
Em Manaus, chamada na época de “Lugar da Barra” o recolhimento dos
detentos era efetuado no Forte de São José do Rio Negro, mas em 1791 com o
início das atividades de construção do Palácio dos Governadores, também se ini-
ciaram as construções de um hospital, um quartel e a primeira cadeia. Conforme
ensina FERREIRA e VALOIS (2006, pág. 00):

“A orientação para a construção da cadeia era parte do projeto administrativo de


colonização, estabelecido pelo regimento do diretório, datado de 03 de maio de
1557, o qual foi aprovado pelo Alvará de 17 de agosto de 1758, quando se es-
tabeleceram normas para a política indigenista pombalina, retirando-se o poder
temporal dos jesuítas sobre as missões.”

Nessa época as prisões ocorriam principalmente por vadiagem, embria-


guez, mendicância e a deserção de índios e soldados.
A construção desse presídio foi completada, entretanto o mesmo foi des-
truído em um incêndio em 1821 (REIS, 1999), por esse motivo foram os presos
da capital colocados em imóveis alugados pelo governo, se mantendo com baixas
condições de higiene e segurança.
Somente entre os séculos XIX e XX é que a situação desses detentos teve a
atenção do Estado, pois os imigrantes pobres e as prostitutas foram considerados
denegritórios a imagem das famílias, confrontando a moral da burguesia local.
A construção de um local para encarceramento dos detentos foi tomada
como um caráter humanitário nos discursos oficiais dos representantes do Estado
na época, que diziam visar assegurar o bem estar de todas as famílias de bem da
localidade.
A formação de uma sociedade capitalista e industrial, também trouxe uma
necessidade de modificar as formas de justiça, sendo por isso defendido o fim dos
suplícios como punição. Esse novo pensamento sobre o sistema punitivo passou a
priorizar mais a correção das condutas do que a punição pública.
Mas foi somente com a República que foi possível o início da construção da
Casa de Detenção de Manaus, ocorrido entre 1904 e 1906, mas sendo inaugurada
oficialmente em 19 de março de 1907, localizada na Avenida Sete de Setembro.
- 31 -
A Casa de Detenção de Manaus possuía o estilo arquitetônico proposto
por países europeus como a Inglaterra, não tendo sido considerado a diferença
climática entre os mesmos, pois as celas eram de tamanho limitado e fechadas,
contribuindo para a proliferação de doenças entre os presos, que quase sempre
não resistiam e morriam antes de serem encaminhados à Santa Casa.
Apesar de inserido no Código Penal de 1940 o regime de progressão de
pena, só passa a ser efetivado em 1982 quando foi criada a Colônia Agrícola Ani-
zio Jobim, que ficou responsável por abrigar os detentos do regime semi-aberto da
capital. Em 1999 foi inaugurado um complexo penitenciário composto de outras
unidades prisionais. Também foram criados outros locais de encarceramento de
presos na capital, como a Unidade Prisional do Puraquequara (UPP), inovadora
por inserir a tecnologia no funcionamento de suas atividades e uma melhor orga-
nização física das instalações.
A importância da historicidade das casas de correção do Amazonas é de-
monstrada pela falta de conteúdo científico que apresente sua criação e evolução.
Inicialmente, as pessoas que se encontrassem aguardando julgamento ou
já houvessem sido julgadas e aguardassem a execução de suas penas, eram des-
tinadas a lugares insalubres e sem higiene pela falta de um lugar adequado para
destinação dos mesmos. Depois começaram a ser recolhidos nos calabouços dos
quartéis, para somente a partir do século XVIII ser construído um espaço espe-
cialmente destinado à alocação desses detentos.
As Casas de Correção foram criadas para atendimento de uma necessida-
de da sociedade da época e, tendo em vista sua utilização, ganharam uma maior
utilidade no capitalismo industrial, para acondicionar a população desprovida de
recursos que perambulava ou mendigava pela cidade.
Assim foi no Rio de Janeiro, onde foi construída a primeira Casa de Cor-
reção do Brasil, seguido pelas demais Províncias do Império do Brasil como o
Amazonas, que com o início da prosperidade na época da borracha, omitia as
desigualdades sociais e grupos marginalizados, ou seja, aqueles que “perturbavam
a ordem pública” a fim de resguardar as famílias ricas da época.
Também a evolução trouxe necessidade de implementação de mudanças na
aplicação da justiça, sendo dada prioridade à correção das condutas delituosas e a
vigilância durante a pena ao invés da punição pública, sendo criado o conceito de
progressão de regime, que foi incluído no Código Penal de 1940, por isso, neces-
sária a adequação das Casas de Correção existentes à nova realidade, bem como
a criação de novos espaços que pudessem acondicionar o número crescente de
pessoas que executavam práticas ilegais, fazendo com que chegássemos a nossa
atual situação.

- 32 -
Referências

CARVALHO, José Murilo de. Teatro de sombras: a política imperial. Rio de


Janeiro: Editora UFRJ, Relume-Dumará, 1996
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. 5ed. Petrópolis:
Vozes, 1987.
FERREIRA, Carlos Litio. VALOIS, Luiz Carlos. Sistema penitenciário do
Amazonas. Curitiba: Juruá. 2006.
MACHADO, Roberto et al. Danação da norma: a medicina social e constitui-
ção da psiquiatria no Brasil. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1978.,
MISCIACI, Elizabeth. A primeira prisão e como surgiram os presídios. 1999.
Disponível em: http://www.eunanet.net/enn/revistaeunanet/sistema-prisional/?4/
inicio-das-prisoes.
MORAES, Evaristo de. Prisões e instituições penitenciárias no Brasil. Rio de
Janeiro: Livraria Editora Conselheiro Cândido de Oliveira, 1923.
PERROT, Michelle. Os excluídos da História: operários, mulheres e prisionei-
ros. 3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.
PIMENTEL, Manoel Pedro. O crime e a pena na atualidade. São Paulo, Revista
dos Tribunais, 1983.
PRACIANO, Elizabeba Rebouças Tomé. O direito de punir na constituição de
1988 e os reflexos na execução da pena privativa de liberdade. Dissertação de
Mestrado. UFAM. 2007.
PRADO, Alice Silva do. Educação nas prisões: desafios e possibilidades do en-
sino praticado nas Unidades Prisionais de Manaus. Dissertação de Mestrado.
UFAM. 2015.
REIS, Arthur Cezar Ferreira. Manáos e Outras Vilas. 2. ed. Manaus: Ed. Gover-
no do Estado/Edua, 1999.
SOLAZZI, José Luís. A ordem do castigo no Brasil. São Paulo: Imaginário:
Editora da Universidade Federal do Amazonas, 2007.

- 33 -
- 34 -
CAPÍTULO II

PRIMEIRAS PRISÕES FEMININAS NO AMAZONAS


FIRST FEMALE PRISON IN AMAZON

Ellen de Moraes e Silva3


Criscyanne Andrade de Oliveira4
Pâmella Oliveira Silva 5

“A criminalidade se configura como uma realidade social construída pelos


processos de criminalização e vitimização, tendo sua origem na hostilidade
gerada pelo domínio exercido por alguns indivíduos sobre outros”
(BARATTA, 2011).
“A mulher primitiva raramente era assassina, mas ela sempre foi uma
prostituta, e tal ela permaneceu até épocas semicivilizadas”
(LOMBROSO; FERRERO, 1895).

A história das prisões femininas no Amazonas não se distância, ampla-


mente, das histórias de prisões de mulheres pelo mundo. O perfil destas ditas
criminosas se manteve por longas décadas. Foram encarceradas mulheres pobres,
criminosas, prostitutas, bêbadas, mas também meninas acusadas de mau compor-
tamento para com seus pais (CURCIO & FACEIRA 2018).
Era comum o confinamento juntamente aos homens, frequentemente divi-
dindo a mesma cela. Narrativas de abandono, abusos sexuais, problemas com a
guarda – com prevalência masculina– ( ANGOTTI 2018, p.17), doenças infeccio-
sas ou não, ausência de políticas públicas e de atenção básica, são frequentes tanto
na história das prisões femininas, quanto nos dias atuais.
No Estado do Amazonas, este cenário não se difere, e parafraseando Edmund
Burke “Um povo que não conhece a sua história está condenado a repeti-la”, pois
os seres humanos, ditos racionais, são assim: possuem a velha e péssima mania de
esquecer a dor, as cicatrizes, a história, a própria história. Um povo que não tem
memória não tem vida, não tem destino, não tem vitória.” (FERREIRA, 2019).
3 Doutoranda em Saúde Pública (FIOCRUZ/RJ), Mestre em Segurança Pública,
Cidadania e Direitos Humanos (UEA), Especialista em Gestão de Saúde (FSDB),
Assistente Social, Perita Judiciaria Social (Justiça Federal), Professora Substituta da
Universidade Federal do Amazonas (UFAM).
4 Advogada, Bacharel em Direito – UFAM; Especialista em Direito Civil e Processo
Civil – CIESA; Mestre em Segurança Pública Cidadania e Direitos Humanos – UEA;
Doutoranda em Saúde Pública (FIOCRUZ/RJ).
5 MBA Gestão de Pessoas, (CESA), MBA Gerenciamento de projetos, (CESA), Peda-
goga, Assistente Social, Perita Judiciaria Social (Justiça Federal).
- 35 -
Por esta razão, objetivamos neste capítulo, a narrar a história das prisões
femininas no Amazonas, que marcaram o cenário criminal desta região, sempre
levando em consideração, os seus aspectos culturais, geográficos e sociais.
Estado do Amazonas registrou oficialmente as primeiras prisões de mulhe-
res por volta dos anos de 1866, através do relatório apresentado por Dr. Jacintho
Pereira Do Rego a Assembleia Legislativa Provincial (Ferreira & Valois, 2009.
p.339).
Porém, no período de 1864 a 1865 em que Adolfo de Barros Cavalcante
de Albuquerque Lacerda era presidente da província do Amazonas, fora realizado
uma visita a cadeia pública improvisada na antiga fábrica de fiar e tecer algodão,
retrata o que presenciou: “em quatro quartos acanhados, faltos de ar e de luz,
aglomeram-se imundos, macilentos, doentios, 40 presos de condições e classes
diversas. Sem ar, sem espaço, asseio, sem quase poderem mover-se em tão abafa-
do e úmido recinto6” sugerindo uma separação entre celas femininas e masculinas,
o que nos faz pensar que já em 1864 havia mulheres presas no estado e que estas
se encontravam nas mesmas celas que os homens, sem existir a preocupação com
sua integridade física e mental.
Por meio de uma visão geral das cadeias do Amazonas, o então presidente
da província toma a iniciativa de propor melhorias as condições das prisões e da
pessoa presa, estabelecendo a separação das celas femininas, sala de interrogató-
rio e arquivos entre outros como descreve Ferreira & Valois (2006, p.62-63):

Foi Adolfo de Barros quem teve a iniciativa de proceder a algum melhoramento


na cadeia e fez da parte em que funcionava a câmara, uma prisão para as mulhe-
res, uma prisão reservada e uma sala para interrogatório e arquivo, destinando
um espaço para o corpo de guarda, o guarda, o qual, na época, não existia. Da
outra parte, fez da cela que servia de prisão para as mulheres, moradia para o
carcereiro, anexando – lhe um quarto contíguo para habitação dos remadores
do escaler da polícia.

Após a primeira menção de mulheres presas no Estado do Amazonas, fei-


ta por Adolfo de Barros Cavalcante de Albuquerque Lacerda, um relatório apre-
sentado pelo Dr. Jacinto Pereira Rego à Assembleia Legislativa Provincial, em
24/06/1866 apresentou as estatísticas deste mesmo ano com a notificação de que a
capital do Estado possuía 1 (uma) mulher presa condenada, porém não especifica
o crime cometido.
Já no ano de 1869 três anos após a notificação da primeira mulher presa
no Estado, o número de mulheres presas obteve um aumento significante, pois de

6 Relatório apresentado à Assembléia Legislativa da província do Amazonas na sessão


ordinária de 1º de outubro de 1864, pelo Dr. Adolfo de Barros Cavalcanti de Albu-
querque Lacerda, presidente da mesma província.
- 36 -
1 (uma) prisão passou-se a registrar 14 (quatorze) somente na capital, contando
também com registros de mais 3 (três) prisões femininas em Canumã7 os crimes
eram diversos, como Desobediência, Brigas, Embriaguez, infração de postura,
entre outros. (FERREIRA&VALOIS 2009, p.263).
Acredita-se que este aumento no número de prisões femininas no estado,
se deu paralelamente ao aumento da prostituição do início do século XX, período
áureo da borracha, contexto de transformações urbanísticas, arquitetônicas, de
hábitos e costumes.
Essa hipótese é fortalecida, quando consultamos O Código de Posturas do
Município de Manaós8 e os livros da Chefatura de Polícia de Manaós9. O Código
de Postura, trás em seu capítulo XII, no artigo 148 do mencionado Código, a
restrição seguia de forma específica às prostitutas: “Não é permittido ás mulheres
de vida facil conversarem ás janellas com os transeuntes, sob pena de multa de
50$000”.
E no seu artigo 133 do capítulo XII a proibição se dirigia a mulheres em
geral: de aparecer nas janelas, ruas ou demais lugares públicos em trajes indecentes
ou em completa nudez. Essas proibições eram levadas a sério, tanto que, há inú-
meros registro de ocorrência, lavrados pela Chefatura de polícia, de homens que
denunciavam mulheres como criminosas por estarem em “trajes menores”, como
afirma Lira (2014):

Francisca da Silva era uma prostituta que havia sido denunciada por Manoel
de Oliveira Marinho, que afirmava que ela possuía “o hábito de exibir-se na
porta em trajes menores”, deixando a cargo das autoridades policiais as pro-
vidências necessárias. (LIRA 2014).

Ainda segundo Lira (2014), “a relação estatística referente aos anos de


1895-1910 apresenta a embriaguez como responsável pela maioria das prisões
feitas no período. O Código de Posturas do Município (1896) proibia o estado de
embriaguez e a venda de bebidas alcoólicas”.
Mesmo com registro de prisões de mulheres a partir do ano de 1866 as
prisões femininas no Estado do Amazonas só passaram a existir em 1906 com a
inauguração da primeira Casa de Detenção do Estado. Projetada em 1904 pelos
arquitetos Emydio José Ló Ferreira e pelo Diretor Geral de Obras Públicas Dr.
J. Estelita Jorge, e instituída pela Lei nº 524 de 18 de outubro de 1906, a Cadeia
7 Canumã é um distrito ligado ao Município de Borba, localizado nas fronteiras com
o Município de Maués, Manicoré e Beruri.
8 Código de Posturas do Município de Manáos. Lei nº 639 de 13 de setembro de 1910.
Capítulo XII – Conveniencia e moral públicas. Disponível: Arquivo Público do Esta-
do do Amazonas.
9 6 Chefatura de Polícia do Estado do Amazonas. Disponível: Arquivo Público do
Estado do Amazonas
- 37 -
Pública Desembargador Raimundo Vidal Pessoa foi construída com o intuito de
reformular a ideia de cárcere e substituir os casebres improvisados.

Imagem 02: Vista aérea da Cadeia Pública de Manaus Desembargador Raimundo Vidal
Pessoa. Acima, o então Patronato Santa Teresinha. Além disso, à direita, a ponte metálica
Benjamin Constant, na avenida Sete de Setembro

Fonte: Instituto Durango Duarte

Com capacidade para receber 120 (cento e vinte) pessoas, por muitos anos
a Cadeia Pública Raimundo Vidal Pessoa foi o único estabelecimento penal do
Estado do Amazonas. Localizada na Av. 7 de setembro no centro de Manaus, este
estabelecimento penal tinha como finalidade abrigar homens e mulheres que co-
metiam crimes contra o Estado, que poderiam caracterizar desde o não pagamento
de impostos à assassinatos.
As características históricas e arquitetônicas denunciam que a Cadeia Pú-
blica foi projetada para ser uma fortaleza maciça em estilo medieval, com uma
área inicial de 15.000. Logo na fachada, os revestimentos são de bossagem (par-
te mais saliente da pedra bruta), sendo composta por dois pavimentos, vê-se no
térreo, um portão de arco pleno (romano), ladeado por uma abertura redonda. O
prédio é guarnecido por cinco penas torres que o dominam e seu frontão com

- 38 -
decoração de ameias reforça ainda mais os traços de fortaleza medieval (Thérése
Aubreton, 2010).
Somente em 29.11.1988, 120 anos após o primeira menção de mulher presa
no Amazonas, fora formulada a Lei 1.873 que instituía a separação das prisões
femininas em um anexo da mesma Cadeia Pública Raimundo Vidal Pessoa, fun-
cionavam ali o Regime Fechado, Regime Semiaberto e Regime Aberto, impossi-
bilitando qualquer esforço na tentativa de classificação e recuperação das presas.
As mulheres ali encarceradas estavam entregues ao abandono por parte do
poder público, tendo que dividir o pouco espaço que tinham com a Casa do Al-
bergado que funcionava no mesmo local e posteriormente com o Hospital de Cus-
todia e Tratamento Psiquiátrico contando apenas com o empenho diário de seus
diretores e colaboradores para uma tentativa de organização. Entende-se desse
modo que a criação de um espaço só para mulheres tinham como finalidade garan-
tir a paz e a tranquilidade desejada nas prisões masculinas, do que propriamente a
dar mais dignidade às acomodações carcerárias.

Referências
ANGOTTI, Bruna. Entre as leis da ciência, do estado e de Deus: o surgimento dos
presídios femininos no Brasil. San Miguel de Tucumán: Universidad Nacional de
Tucumán. Instituto de Investigaciones Históricas Leoni Pinto. Ano: 2018.
BARATTA, Alessandro. Criminologia crítica e crítica do direito penal: introdução
à sociologia do direito penal. Tradução de Juarez Cirino dos Santos. 6. ed. Rio de
Janeiro: Revan, Ano: 2011.
CURCIO. Fernanda Santos. FACEIRA. Lobelia Da Silva. As Memórias Das Pri-
sões Para Mulheres: Um Retrato Da Realidade Carcerária Feminina Do Estado
Do Rio De Janeiro. Ano:2018
FERREIRA. Bruno. In: Blog Barros em Mídia. A história não pode ser esquecida!
Ano: 2019 Disponível em: https://barrosoemdia.com.br/bruno-ferreira/a-historia-
-nao-pode-ser-esquecida/ acesso em:26 de FEV 2021.
FERREIRA. Carlos Lélio Lauria. VALOIS. Luís Carlos. Sistema penitenciário do
Amazonas. Curitiba, Editora Juruá, Ano: 2006. 333 p.
LIRA. Bárbara Rebeka Gomes de. A DIFÍCIL VIDA FÁCIL: O mundo da prosti-
tuição e suas representações na cidade de Manaus (1890-1925). Dissertação apre-
sentada à Universidade Federal Do Amazonas Instituto De Ciências Humanas
E Letras Programa De Pós-Graduação Mestrado Em História. Ano: 2014. Dis-
ponível em: https://tede.ufam.edu.br/bitstream/tede/3989/2/Disserta%C3%A7%-
C3%A3o%20-%20B%C3%A1rbara%20Rebeka%20Gomes%20de%20Lira.pdf
acesso em: 09 de FEV 2021.
- 39 -
LOMBROSO, Cesare; FERRERO, Guglielmo. The female offender. New York:
D. Appleton and Company, Ano: 1895.
THÉRÉSE AUBRETON In: Blog JMARTINS. ROCHA. Penitenciária de Ma-
naus. Ano:2010. Disponível: http://jmartinsrocha.blogspot.com/2010/11/peniten-
ciaria-de-manaus.html acesso em:10 de FEV 2021. .

- 40 -
CAPÍTULO III

DA CASA DE DETENÇÃO DE MANÁUS À CADEIA


PÚBLICA DESEMBARGADOR
RAIMUNDO VIDAL PESSOA:
um século entre memórias e trajetórias

Dorli João Carlos Marques10


Tereza de Sousa Ramos11*
Paula Mirana de Sousa Ramos12*

Os registros das iniciativas do poder público para dotar Manaus e o Ama-


zonas de um espaço moderno e adequado para acomodar os apenados remontam o
ano de 1883. Através da Lei 631, a Província chegou a realizar a concorrência pú-
blica e aprovar uma planta da construção, mas o empreendimento não foi adiante.
Em 1894, na gestão de Eduardo Ribeiro, houve nova tentativa e aprovou-se uma
nova planta da obra com um orçamento, porém, mais uma vez a obra não foi con-
cretizada. Somente na gestão do Governador Constantino Nery, em 1906, que a
ideia saiu do papel e começou a ganhar forma. A Cadeia Pública Desembargador
Raimundo Vidal Pessoa foi então inaugurada em 19 de março de 1907.
Erguida em estilo colonial, mesclando características dórico-lombardas,
com muros pesados em alvenaria que remetem a uma fortaleza medieval, a inau-
guração do presídio deu-se com imensa pompa. O bom momento da economia
local, proporcionado pela alta arrecadação de tributos advindos da exploração
da borracha, reverberou na edificação do prédio que nas palavras do Governador
Constantino Nery, era “modelo de modernidade” para uma unidade prisional. En-
tretanto, transcorrido um século, as poucas melhorias realizadas na instituição não
foram suficientes para atender as muitas demandas, oriundas dos novos dilemas
sociais, e às necessidades que o tempo revelava.

10 Professor Permanente dos Programas de Pós-Graduação em Segurança Pública, Cidadania e Direitos


Humanos e de Direito Ambiental da Universidade do Estado do Amazonas - UEA. Pesquisador Líder do
Grupo Interdisciplinar de Estudos da Violência. E-mail: dmarques@uea.edu.br.
11 Cientista Social (UFAM), Mestre em Sociologia (UFAM) e Doutora em Sociedade e Cultura na Ama-
zônia, na área de concentração em Processos Socioculturais na Amazônia (UFAM). Professora na Univer-
sidade Federal do Amazonas e pesquisadora no Laboratório de Ciências Sociais e Interdisciplinaridade na
Amazônia. E-mail: tsr22t@yahoo.com.br.
12 Cientista Social (UFAM), Mestre em Sociologia (UFAM) e Doutora em Sociedade e Cultura na Ama-
zônia, na área de concentração em Processos Socioculturais na Amazônia (UFAM). Professora na Univer-
sidade Federal do Amazonas e pesquisadora no Laboratório de Geopolítica na Amazônia Legal. E-mail:
pmsr20@yahoo.com.br.

- 41 -
A superlotação, a precária infraestrutura de apoio, a impossibilidade de
atendimento das exigências presentes nos avanços da legislação, entre outros fa-
tores, culminaram na desativação definitiva da histórica unidade prisional, em 12
de maio de 2017.
O resgate do contexto histórico da construção e inauguração da unidade
prisional, combinado aos momentos marcantes da sua trajetória centenária, assim
como a série de crises que levaram à sua desativação definitiva e seus efeitos
para a segurança pública do Amazonas, demonstra que o estudo é relevante não
apenas para a academia, na medida em que compõe um dossiê que visa colocar à
disposição do público um conjunto de dados sobre as unidades prisionais do Ama-
zonas, mas também para o conjunto da sociedade amazonense que tem apontado a
segurança pública e tudo o mais que a ela se relaciona, como um dos aspectos de
maior preocupação nos dias atuais.
Nesse contexto, se impõe a seguinte inquietação: Quais fatores foram de-
terminantes para que uma unidade prisional, considerada uma das mais modernas
e adequadas do país, quando da sua inauguração, acabou por se tornar uma das
piores, ao ponto do poder público e a sociedade exigir sua desativação definitiva?
Tal questão proporciona também o exercício de compreensão das direções assu-
midas pela intervenção política nessa área. Deste modo, recorreu-se a diferentes
fontes de dados bibliográficos e documentais nos acervos da Biblioteca Pública
Municipal, Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas, Secretaria de Estado da
Administração Penitenciária, além de publicações sobre o tema.
O objetivo do estudo é apresentar o contexto histórico e social no qual
a Cadeia Pública Raimundo Vidal Pessoa foi inaugurada, os principais eventos
ocorridos nas suas dependências ao longo da sua trajetória e os fatores que culmi-
naram na sua desativação definitiva.

2 A inauguração
Na tarde de céu limpo e ar leve, devido à chuva torrencial da madrugada
anterior, a cidade de Manaus, presenciava mais uma atividade pública de grande
importância para sua posição e seu desenvolvimento como uma das capitais bra-
sileiras que mais crescia sob o brilho e o apogeu da borracha. Era inaugurado no
dia 19 de março de 1907, sob a administração do governador Antônio Constantino
Nery (1859-1926) a Casa de Detenção de Manáus13.
O evento que estava previsto para acontecer durante a manhã fora transfe-
rido, devido à chuva, pelo próprio governador que, às 14:00 horas e 45 minutos,
saiu do Palácio e dirigiu-se à Estação dos Bondes, localizado na Praça da Repúbli-
ca, atual praça Dom Pedro II, em direção ao cerimonial daquele dia.

13 Inaugurada como Casa de Detenção de Manáus, a cadeia pública do Estado recebe o nome de Cadeia
Pública Desembargador Raimundo Vidal Pessoa somente no ano de 1985, no Governo de Gilberto Mestri-
nho de Medeiros Raposo.

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Naquele local, o Governador Constantino Nery pegou um carro especial,
vistosamente pintado nas cores nacionais -verde e amarelo, que foi colocado à sua
disposição, pelos arrendatários da Viação e Luz, e se dirigiu até a Praça Visconde
do Rio Branco14, local da cerimônia de inauguração. Após isso, o chefe do Estado
do Amazonas seguiu, junto às pessoas que estavam em sua companhia, para a
visitação do prédio inaugurado.
Inaugurar uma instituição como a Casa de Detenção de Manáus revelou,
naquele momento, os efeitos do desenvolvimento, pois, junto com o apogeu e o
progresso da borracha vieram os dilemas da vida moderna. Desse modo, tornava-
-se urgente a construção de um presídio de grande monta para a época.
Em 21 de novembro de 1904, a pedra fundamental da Casa de Detenção
de Manáus foi assentada pelo Governador, na Rua Municipal, atualmente Rua
Sete de Setembro. Sua construção foi confiada aos senhores Rossi & Irmãos e
concluída pelo senhor comendador Ló Ferreira. O prédio começou a ser constru-
ído naquele mesmo ano, pelo arquiteto Emygdio José Ló Ferreira e pelo mestre
de obras J. Estelita Jorge, e entregue para inauguração três anos depois, em 1907.
No coração dos processos de disciplina e sujeição, o prédio foi arquitetado
originalmente sob o formato de um Hexágono irregular, tendo sua estrutura des-
crita com riqueza de detalhes pelo jornal AMAZONAS, de 20 de março de 1907,
um dos principais jornais da época de sua inauguração, que trouxe a descrição do
presídio na matéria intitulada “O dia de Ontem”:

[...] a construção tem os seguintes compartimentos:corpo central, composto


de dois andares; casas de administração e do administrador. Segue-se a isto
a área central, calçada a parallelipipedo de asphalto. E de forma rectangular,
ficando jardins, nos vértices do rectangulo.
Depois tem o pavilhão central, onde estão todas as dependências que vão ser
occupadas pela administração secundária do estabelecimento. Essas depen-
dências são rouparia, arrecadação de gêneros, dispensa, cozinha, enfermaria,
banheiros, celas reservadas, quartos para guardas, porteiro interno, dormitó-
rio para os empregados, refeitório para os mesmos e water closed.
A galeria central de ligação vae terminar no átrio, que tem a forma hexagonal,
de sorte que a sentinella collocada no centro do hexagono de ligação dos raios,
fiscaliza perfeitamente todos elles, que são em número de 4.
Ainda mais os eixos dos corredores formados pelos raios, convergem todos
ao centro do hexágono do átrio. Em três das faces do hexágono referido ficam
portões de ferro que dão accesso a três pequenas áreas cimentadas, situadas
entre dois raios consecutivos.
Somente o raio da direita está dividido em cellas em número de 26, -13 de cada
lado; os demais tiveram a seguinte divisão: metade em cellas, como o anterior
e a outra metade consta de salões, sem divisões, para os presos de comporta-
mento exemplar.
14 A Praça Visconde do Rio Branco, localizava-se onde atualmente está o Instituto Federal do Amazonas-
IFAM, local onde também sediou a antiga Escola Técnica de Manaus.

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Um desses salões é reservado para mulheres, razão por que foi interceptada a
sua comunicação com a outra parte.
Pelo projeto primitivo, tinha-se estabelecido quatro casas para os guardas,
sendo isso modificado, suprimindo-se uma dellas e dispondo-se a restante, em
posição tal de maneira que o guarda, nella colocado, fiscaliza a parte posterior
dos raios.
No ângulo extremo do hexágono, da parte oriental e num dos vértices, abriu-se
um pequeno portão que serve para a sentinella, ahi postada, observar todo o
movimento no igarapé que banha o muro de cerca da parte posterior do edi-
fício, o qual tem 5 metros de altura e 60 centimetros de espessura, acima do
alicerce.
Todas as cellas são abobadadas e assim os corredores. No corpo central, nota-se
o vestíbole, que é uma bella entrada, pelos systemas de abobadas convergentes
e que, pela primeira vez, é aqui empregadas.
Há ahi nichos para quatro estátuas, de 1 metro e 50 centímetros de altura, cada
uma, representando o Trabalho, o Crime, a Virtude e a Regeneração.
Contiguo ao vestíbulo, á direita de quem entra ficam o alojamento do porteiro
e um outro, onde está a escada de ferro, de hélice, que dá acesso ao andar su-
perior do corpo central – lugar da secretaria do administrador.
A esquerda, estão o corpo da guarda dos praças, a sala de armas e o compar-
timento destinado a dormida do official. No extremo direito de quem entra no
edifício, fica a casa destinada á moradia do administrador e de sua família,
tendo bons e confortáveis compartimentos, e no extremo está à casa destinada
a administração, também com muito boas acomodações para a família e onde
funciona 3º delegacia policial.
Communicando essas duas casas há uma área que vae ser ajardinada. Toda
a frente do edifício é guarnecida de um gradil, assente em pilares construídos
de tijollo.
Ao fim da galeria central de ligação está o gabinete médico.
A frente do prédio fica para a rua Municipal e a parte occidental do muro
de cerca no alinhamento da rua Duque de Caxias. Junto ao Portão do lado
esquerdo de quem penetra no estabelecimento foi collocada uma placa com
estes dizeres:
Casa de Detenção de Manáus. Iniciada e concluída na administração de s. exc,
o Sr. Dr.Constantino Nery 1904 -1906. [grifo nosso]

A construção da Casa de Detenção de Manáus manifesta a reação de um


caminhar histórico promovido pelo processo de racionalização da vida, e, pelo
desenvolvimento baseado na produção econômica capitalista que vê nos espaços
arquitetônicos um meio de reprodução e disseminação do projeto de modernida-
de. Essa realidade se assenta no fato de que a Amazônia não esteve dissociada dos
processos de modernização, oriundos das dinâmicas de reprodução do capital a
nível global. Desse modo, que os muros e as vigas alocadas nas modernas cons-
truções da capital amazonense traziam consigo o poder de educação e disciplina-
ção por meio dos espaços de confinamento (RAMOS, 2020).
Ainda sobre o percurso da inauguração, após a visitação de todos cômodos
do estabelecimento o exm. Sr. Governador do Estado sentou-se na cabeceira de

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uma mesa colocada no átrio do presídio e então o Sr. Estellita Jorge, como reno-
mado mestre de obras na cidade de Manaus, fez um breve discurso de entrega da
obra, diante das pessoas presentes na cerimônia. Em sua fala destacou a importân-
cia do serviço que aquele estabelecimento iria prestar à sociedade amazonense, tal
como se pode ver no trecho,

[...] ellas haviam sido na antiguidade romana, em contraposição ao que hoje


são, pois que, perdendo o caracter passado de institutos de martyrio, eram ac-
tualmente escolas moralisadoras, de onde os reclusos, cumprida a pena, saem
vigorosos de corpo e moralmente ensinados a bem viver em sociedade. (AMA-
ZONAS, 20 de março de 1907).[grifo nosso]

Estellita Jorge concluiu o ato entregando o estabelecimento prisional ao


Governador do Estado, que em seguida proferiu o seguinte e aplaudido discurso:

Meus senhores: -De há muito era sentimento unânime da população desta


capital a necessidade de um edifício destinado à reclusão de criminosos que
eram de antes encerrados num pardieiro desprovido das condições hygienicas
reclamadas pelas mais rudimentares normas de humanidade para os infelizes
que, cahindo no delito, expiam no cárcere a grandeza de seus crimes.
Além dos sentimentos de compaixão pelo destino desses desventurados, foi a
obrigação que tem os Poderes Públicos de velar pelos Direitos dos cidadãos o
movel, o intuito principal da fundação do estabelecimento que hoje se inaugura
e que, possuindo todas as condições de salubridade requeridas pela vida em
commum, evitará a morte que muitos desgraçados iam encontrar em prisões
infectas, entregues ao desaceio e á ociosidade enervadora de sentimentos bons
que se estiolariam de vez, com a vida que fugia, si o trabalho, o mais poderoso
regenerador do homem, não viesse auxiliar o levantamento moral do encarce-
rado, a quem a solidão da cellula suggere o desejo de liberdade.
Para isso, institui officinas, onde o trabalho intelligentemente dirigido e exem-
plos de dedicação e zelo mostrem a única via que deve trilhar o homem, a fim
de desviar os tropeços que o derrubam no lodaçal do vicio e o atiram do vicio
ao crime e do crime ao cárcere.
Aqui procurar-se-á dar ao recluso a consciência nítida dos seus deveres sociais
e a norma da existência que deverá seguir e ainda poderá praticar, quando,
com o espírito fortalecido pelos constantes ensinamentos, for dado à liberdade.
Assim, a Casa de Detenção do Estado do Amazonas é essencialmente a escola
do trabalho.
Está, pois, desde este momento inaugurada. (AMAZONAS, 20 de março de
1907).[grifo nosso]

No discurso promovido pelo construtor do presídio, reforçado na fala do


Governador Constantino Nery é possível ver, também, que tanto a construção do
criminoso quanto o que se fazia do corpo prisioneiro – vivo ou morto, se dava a
partir da ordem hierárquica do discurso de poder, pois o discurso não se delimita
somente ao uso da linguagem, mas define as possibilidades das verdades de um
certo momento histórico e social, isto porque todo saber e toda verdade possível
abrange relações de poder (RAMOS, 2020).

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Quanto à deliberação dos cargos para o funcionamento da instituição pri-
sional como um organismo vivo, o decreto N. 683 – de 23 de novembro de 1904,
assinado por Constantino Nery, que instituiu a construções da cadeia pública, atri-
buiu em seu Regulamento de 1904, no Art. 4, que todo serviço interno da prisão
ficaria a cargo de um Administrador, que receberia diretamente do Chefe de Se-
gurança do Estado às ordens referentes à prisão. Além deste funcionário, havia
outros ajudantes de administrador encarregados de auxiliar nos serviços da prisão.
Ainda neste Regulamento, dentre as funções atribuídas ao administrador
caberia a ele também “Tratar com brandura e humanidade os presos” e “[...] cui-
dar do asseio e boa ordem das prisões e sala do expediente, bem como da escri-
turação dos livros e guarda dos papéis que estiverem sob sua responsabilidade”
Art. 12. [grifo nosso]
Após a cerimônia de inauguração, a Casa de Detenção de Manaus ficou
aberta para a visitação do público até as 20h horas daquele dia, resultando em uma
vasta cobertura nos jornais da época, os quais faziam narrativas com riquezas de
detalhes sobre o mais novo prédio construído na capital.
Naquele dia, o trecho da Rua Municipal, entre a Ponte Benjamim Constant
e a Rua Duque de Caxias foi enfeitada de bandeiras. O presídio estava externa-
mente embandeirado, tendo como destaque três grandes bandeiras nacionais.
Por ocasião da inauguração tocou no interior do estabelecimento a banda
de música do 1º batalhão do Regimento do Estado, sendo servido champagne aos
visitantes.
Imagem 01: Vista aérea da Cadeia Pública Desembargador Raimundo Vidal Pessoa

Fonte: https://idd.org.br/iconografia/cadeia-publica-de-manaus-desembargador-raimundo-vi-
dal-pessoa/#primary

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3 Eventos marcantes que antecederam a desativação
A cadeia pública Desembargador Raimundo Vidal Pessoa – CPDRVP,
como um estabelecimento prisional secular, foi palco de diversos acontecimentos
marcantes, muitos dos quais chocantes e causadores de indignação à sociedade,
tais como: espancamentos, fornecimento de bebidas alcoólicas e aparelhos celu-
lares, rebeliões e massacres. Na impossibilidade de descrever todos os eventos,
optou-se por apresentar aqueles que, nos últimos anos, foram determinantes para
sua desativação definitiva, ocorrida no dia 12 de maio de 2017.
Dados da SEJUSC (2004) demonstram que entre os anos de 2000 e 2004,
foram instauradas 70 [setenta] sindicâncias para apurar denúncias de irregulari-
dades. No ano de 2001, foram trinta, evidenciando problemas tanto no tocante
à falta de pessoal para as atividades internas, quanto à precariedade da estrutura
física, insalubridade das instalações, superlotação das celas, falhas nos sistemas
de vigilância e controle nas áreas internas e externas, entre outros.

Imagem 02: Precariedade das instalações das celas da CPDRVP

Fonte:https://www.metropoles.com/materias-especiais/chacinas-nos-presidios-conheca-as-
-123-historias-dos-detentos-mortos

O Relatório de Inspeção realizado pelo MP-AM (2009) corrobora os pro-


blemas apontados nos dados da SEJUSC de cinco anos antes, destacando: a)
instalações elétricas precárias; b) terminal de computador contendo todos os re-
gistros de unidade fora dos padrões de segurança e inadequadamente instalado;
c) goteiras, infiltrações e sujeira generalizada; d) descontrole na movimentação

- 47 -
interna dos detentos; e) serviços médicos e jurídicos insuficientes, entre outras ina-
dequações.
Em 11 de novembro de 2010 ocorreu mais uma rebelião na unidade pri-
sional, com o agravante de ter havido seis servidores (as) reféns, incêndio nas
instalações e três detentos mortos. Ficou claro que a centenária instituição não pos-
sui mais as condições mínimas para abrigar apenados. Condições extremamente
precárias, em flagrante violação aos direitos fundamentais dos internos, dos seus
familiares e dos servidores da unidade prisional.
Em 2013, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), após realização de mutirão
carcerário no Amazonas, recomendou a desativação da Cadeia Pública Desembar-
gador Raimundo Vidal Pessoa, e conseqüentemente do Hospital de Custódia e Tra-
tamento Psiquiátrico (HCTP), uma vez que funcionava na mesma estrutura física.
Dentre os problemas identificados nas inspeções realizadas, destacam-se: a)
impropriedade das instalações para fins de uso como unidade prisional; b) núme-
ro de agentes penitenciários e policiais militares insuficientes na parte interna da
unidade, nas guaritas internas e no entorno da unidade prisional; c) superlotação
da unidade - a título de ilustração da situação, em uma vistoria realizada em maio
de 2009, em uma estrutura adequada para atendimento de até 104 [centro e quatro]
internos, constatou-se que a unidade estava com 698 [seiscentos e noventa e oito]
internos, mesmo tendo sido transferidos 775 [setecentos e setenta e cinco] apena-
dos poucos dias antes.
Diante desse conjunto de evidências de incompatibilidades com o patrimô-
nio moral representado pelos princípios éticos que regem a atividade pública, o
que estabelece a Lei de Execuções Penais – Lei 7.210/84 e a jurisprudência dos
Tribunais Superiores, além do marco doutrinário cristalino, como o que leciona
Mirabete (2000), o Ministério Público do Amazonas – MP-AM, através da Ação
Civil Pública N. 0257588-44.2010.8.04.000, propõe a desativação definitiva da
Cadeia Pública Desembargador Raimundo Vidal Pessoa – CPDRVP.
A unidade foi provisoriamente desativada em outubro de 2016, mas pre-
cisou ser reativada como medida emergencial para abrigar detentos que estavam
sendo ameaçados depois dos episódios dos massacres que ocorreram no sistema
prisional no dia 1º de janeiro de 2017. Após a reativação, a unidade continuou
a funcionar por mais quatro meses, enquanto as obras de ampliação do Centro
de Detenção Provisória Masculino 2 (CDPM 2) não estavam prontas. Depois de
transferidos os últimos 162 [cento e sessenta e dois] presos para a ampliação da
CDPM 2, a unidade foi definitivamente desativada em 12 de maio de 2017. Encer-
rava-se, assim, uma história de 111 anos de história daquela que fora inaugurada
como um modelo de unidade prisional e que, por não ter recebido a devida atenção
do poder público, teve que ser fechada por não apresentar as mínimas condições
de funcionamento.

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Considerações finais
Inaugurada com o luxo e a grandeza da chamada Belle Epoque amazonen-
se e inspirada em uma concepção, de mundo e de justiça criminal, que procurava
limitar o poder arbitrário do Estado por meio de uma nova concepção de punição,
na qual o objetivo final era a reintegração do criminoso recuperado à sociedade, a
CPDRVP, ao longo dos seus 111 anos, acabou por representar, na prática, o que as
instituições penais do Brasil, com raras exceções, de fato o são: instituições que
visam tão somente isolar e punir os apenados, em flagrante desrespeito à legisla-
ção e aos acordos, tratados e convenções de direitos humanos os quais o Brasil é
signatário.
No início do século XX, a adequação do espaço urbano de Manaus ao
projeto de modernidade contribuiu para que a sociedade desfrutasse da criação de
grandes obras e de um complexo arquitetônico alinhado ao projeto de moderniza-
ção conservadora, promovida pela economia da borracha Amazônica. No entanto,
ao refletir sobre um século de existência da Cadeia Pública Raimundo Vidal Pes-
soa, percebe-se que principalmente as tomadas de posição e de direção no campo
político não conseguiram dar continuidade no processo natural de necessária ade-
quação aos novos tempos, impostos sobre as instituições prisionais.
A esta cadeia pública, que fora criada sob o discurso de adequação aos mais
avançados modelos da sociedade disciplinar, promovidos mais pela arquitetura
de controle, do que pelos elementos necessários para um verdadeiro sentido de
comunidade humana, restou somente um contínuo processo de degradação até a
plena desativação de um imponente espaço criado nos áureos anos da economia
gomífera. Por meio desse estudo, procurou-se elucidar a questão norteadora que
se fundamenta nas contradições a respeito de uma instituição, que um dia foi con-
siderada uma das mais modernas e adequada no país, mas que se tornou uma das
piores por não acompanhar as necessidades impostas pelos dias atuais.
A quantidade e a gravidade de denúncias das organizações da sociedade
civil, dos órgãos de fiscalização e controle, além das diversas matérias dos meios
de comunicação locais, nacionais e internacionais, revelavam as gravíssimas vio-
lações dos direitos dos apenados na CPDRVP, e não deixam margem a dúvidas
quanto à necessidade de fechar a unidade prisional.
Enquanto o complexo arquitetônico da cadeia Raimundo Vidal Pessoa
aguarda um novo destino, sua história de mais de um século, no exercício de
organização social em terras amazônicas, urge pela necessidade de se estabelecer
um debate nacional sobre a efetividade do sistema prisional local e nacional, no-
tadamente no que se refere à qualidade e à legalidade dos serviços prestados pelas
instituições prisionais.

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Referências

AMAZONAS: Órgão do Partido Republicano Federal, ANNO XLIII – N. 68. 20


de março de 1907.
MIRABETE, Júlio Fabrini. Execução Penal. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2000.
RAMOS, S. Tereza. Notas sobre o corpo do presidiário no Amazonas: da pri-
são na Ditadura Militar aos presídios contemporâneos da cidade de Manaus. In.
Corpo, Sociedade & Extensões. Manaus. EDUA. 202

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CAPÍTULO IV

CENTRAL DE RECEBIMENTO E TRIAGEM -CRT


RECEIVING AND SCREENING CENTER
Maxwell Marques Mesquita15
Márcio de Souza Corrêa16
Guilherme da Silva Monteiro17

Tendo como norte a carência de estudos prisionais no Estado do Amazo-


nas, a presente pesquisa foi elaborada visando suprir a ausência de artigos sobre
a Central de Recebimento e Triagem -CRT do sistema prisional do Amazonas.
Assim, foi notado que não havia relatos publicados no âmbito acadêmico que tra-
tassem especificamente desta unidade e, para suprir esta necessidade, o presente
estudo foi elaborado. Portanto, coube o questionamento norteador que foi: “qual
o histórico de criação do CRT e sua estrutura atual”?
O relato demonstra relevância acadêmica por se tratar de um estudo que
visa preencher esta lacuna observada. Já no âmbito social, a sociedade passará po-
derá ter à disposição um conhecimento a mais de como esta organização funciona
e sua estruturação desde a sua criação. Neste entendimento, para a consecução
do objetivo proposto, foi utilizada a pesquisa bibliográfica e, principalmente, a
documental para o desenvolvimento do referencial teórico abaixo.
O trabalho foi estruturado em tópicos para facilitar o entendimento e dar
uma noção mais detalhada do CRT, a saber: a) Histórico / Origem, b) Objetivo
do CRT, c) Procedimentos adotados, d) Estrutura médica / Unidades básicas de
saúde, e) Condições físicas do local, f) Cenário inicial / Cenário atual, g) Fatos
relevantes ocorridos (fugas, rebeliões) e, por fim, h) Considerações finais.

Histórico / origem
No ano de 2013, o Conselho Nacional de Justiça realizou um mutirão car-
cerário no estado do Amazonas e concluiu que a Cadeia Pública Desembargador
Raimundo Vidal Pessoa (CPDRVP), localizada na Avenida Sete de Setembro, na
área central de Manaus, precisaria ser desativada, o que ocorreu no dia 31 de ou-
tubro de 2016 (SEAP, 2021).
15 Doutorando em Gestão da Informação (UFPR); Mestre em Segurança Pública, Ci-
dadania e Direitos Humanos (UEA). Capitão da Polícia Militar do Amazonas. E-mail:
maxwell_mesquita@hotmail.com.
16 Especialista em Docência do Ensino Superior (La Salle). Sargento da Polícia Mili-
tar do Amazonas. E-mail: ftmscorrea@gmail.com.
17 Especialista em Segurança Pública (UEA). Cabo da Polícia Militar do Amazonas.
E-mail: gsmguilherme@hotmail.com.
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Ainda segundo SEAP (2021), após a desativação da CPDRVP, a Central
de Recebimento e Triagem (CRT) tornou-se a primeira porta de entrada dos pre-
sos no sistema prisional do estado do Amazonas, sendo implantada no dia 25 de
outubro de 2016, sendo localizada no Centro de Detenção Provisória Masculino
(CDPM), quilômetro 8 da BR-174 (Manaus – Boa Vista). Possui como Diretor o
senhor Robert Washigton Barreto e Diretor – Adjunto Higson Oliveira Lima. A
entrada da CRT pode ser vista na figura 01 abaixo.

Figura 01: Entrada da Central de Recebimento e Triagem

Fonte: SEAP (2016)

Desde sua inauguração, apenas duas empresas de cogestão na atuaram na


unidade, a saber: Umannizare Gestão Prisional Privada, entre outubro de 2016
e julho de 2020, e New Life Gestão Prisional LTDA, entre agosto de 2020 até o
presente momento (junho de 2021).

Objetivo do CRT
Ainda no ano de 2016, a SEAP (2016) informou que “os procedimentos
adotados pela CRT, buscam organizar o banco de dados dos internos do sistema e
trazer mais celeridade em casos de pesquisa de fichas específicas”. Assim, a uni-
dade prisional funciona como porta de entrada no sistema prisional de Manaus.
Ainda segundo a SEDECTI (2016):

A Central de Recebimento e Triagem foi criada com o escopo de realizar o


procedimento completo de cadastramento do custodiado que adentra o sistema
prisional, com inclusão, além de dados pessoais completos e fotografias, infor-
mações sobre cicatrizes, tatuagens e marcas de nascença, coleta das digitais,
preenchimento da ficha socioeconômica e demais informações relevantes, além

- 52 -
de uma revista completa, onde seus pertences são recolhidos, catalogados e
armazenados com a devida identificação. Todos esses procedimentos são fun-
damentais para que, em caso de uma possível fuga, os dados essenciais sejam
fornecidos ao Sistema de Segurança Pública, para fins de busca e recaptura.

O objetivo da CRT é de estabelecer um banco de dados com a ficha de cada


interno do sistema penitenciário. Esses processos ajudariam as Policiais Civis,
Militares e demais órgãos do Sistema de Segurança Pública do Estado do Ama-
zonas quando fossem necessários, tais como em pesquisas futuras ou em caso de
fugas ou recapturas de internos.
Os procedimentos adotados na Central de Recebimento e Triagem são os
seguintes: triagem, cadastro dos internos que chegam no sistema penitenciário
com registro de fotos, identificação do nome completo, presença de tatuagens,
cicatrizes ou marcas de nascença, registro completo de digital das mãos, dia de
entrada no sistema e artigo pelo qual foi preso, confirme figura 02 abaixo.

Foto 02: Cadastro de interno

Fonte: SEAP (2016)

Também é realizado um questionário socioeconômico das informações dos


internos, constando: nome completo dos pais, zona em que residia, zona em que
cometeu o crime, faixa etária, escolaridade, estado civil, se possuía trabalho fixo
em liberdade e demais informações que sejam relevantes (SEAP, 2016).
Em média, os internos passam dois dias na central para que todos estes pro-
cedimentos sejam registrados no banco de dados. Logo após, os detentos passam
por uma revista completa e seus pertences são recolhidos, catalogados e armaze-
nados com a devida identificação. O último procedimento a ser realizado no CRT

- 53 -
é o encaminhamento para as unidades provisórias da capital: Centro de Deten-
ção Provisória de Manaus (CDPM), Instituto Penal Antônio Trindade (IPAT) ou a
Unidade Prisional do Puraquequara (UPP) (SEAP, 2016).
Cita-se ainda que, devido ao pouco tempo que o interno permanece na
central, a referica unidade não atende quesitos de assistência social, trabalho vo-
luntário, visitas, programas de formação continuada ou algum tipo de recolocação
profissional, sendo basicamente uma unidade de entrada no sistema.

Estrutura Médica / Unidades Básicas de Saúde


Suas principais instalações que atendem ao quesito de saúde dizem respei-
to a um quadrante de higienização, que funciona para limpeza dos internos assim
que chegam na unidade. Após isso, são encaminhados para a triagem de saúde,
onde são atendidos e verificado se possuem alguma necessidade específica ou
doenças preexistentes, bem como a necessidade de alguma medicação específica.
Por fim, há a possibilidade de atendimento psicológico para ajudar a amenizar os
efeitos da prisão na mente do detido.
No ano de 2020, mesmo sem a vacina contra a COVID-19, os internos des-
ta unidade prisional passaram a ser vacinados contra o vírus H1N1, como forma
de amenizar possíveis transtornos com a pandemia que estava em fase inicial,
como pode ser visto na figura 03 abaixo (SEAP, 2020).

Figura 03: Interno sendo vacinado contra H1N1

Fonte: SEAP (2020)

- 54 -
Condições físicas do local
O espaço físico do local possui dez celas para alojar os internos que dão
entrada no sistema penitenciário. As celas ficam ao lado do espaço onde são rea-
lizados os procedimentos de triagem e cadastro dos novos presos, como nota-se
na figura 04 abaixo.

FIGURA 04: Estrutura das celas do CRT

FIGURA 04: Estrutura das celas do CRT

Fonte: SEAP (2016)

Cenário inicial / cenário atual


Na inauguração, o CRT possuía 01 sala para direção, 01 sala para relatoria
e 02 celas com uma cama cada. Na atualidade, a unidade prisional, após ade-
quações, o CRT teve adicionada a seguinte estrutura, além da anterior: 01 sala
do setor de estatística, 01 sala de triagem médica, 02 salas de vídeo audiência e
atendimento do psicólogo, cela de recebimento, 02 quadrantes para revista e hi-
gienização dos internos que dão entrada, recebimento, 10 celas com 02 camas em
cada. Destaca-se que as celas atualmente possuem o sistema “bate tranca”, que
favorece a segurança por proporcionar maior agilidade e redução de contato entre
agentes e internos.

Fatos relevantes ocorridos (fugas, rebeliões)


Cabe destacar uma notícia localizada em mídias locais de Manaus, Cam-
pinas (2019) que trata da central, mais especificamente do cadastro dos internos.
Um juiz destaca que os presos seriam divididos de acordo com suas facções crimi-

- 55 -
nosas de origem no mundo dos crimes como Família do Norte (FDN), Comando
Vermelho (CV) ou Primeiro Comando da Capital (PCC).

“Tem um setor que se chama Central de Recebimento e Triagem. Lá eles ve-


rificam várias situações e uma delas é se os presos pertencem a facções. Se
ele pertence a organização criminosa ligada a FDN, vão ter o cuidado de não
colocá-lo em uma ala ou pavilhão com integrantes de facção rival. Tem gente
que não pertence a nenhuma facção. Mas depois de pouco tempo esse pessoal
acaba sendo cooptado para alguma facção”.

Neste ponto, alguns presos que não possuem ligação com organizações
criminosas seriam induzidos a aderirem a alguma organização para se protegerem
de outros internos tidos como de maior periculosidade.
A pesquisa proposta foi focada na busca bibliográfica e documental de
dados que pudessem centralizar dados históricos e estruturais da Central de Re-
cebimento e Triagem – CRT. Esta unidade prisional do Estado do Amazonas é
de grande importância, pois tem a função precípua de classificar e distribuir os
internos nos diversos estabelecimentos prisionais na capital amazonense. Até este
ponto, pouco foi pesquisado sobre esta unidade, e acredita-se que este trabalho
pode proporcionar um norte para que outros pesquisadores possam se interessar
pela temática e expandir o conteúdo apresentado.
Neste liame, o objetivo principal da pesquisa foi expandir o conhecimen-
to acadêmico sobre o CRT, mais especificamente sobre seu contexto histórico e
estrutural, onde, após levantamento, foi possível atingir esta meta primordial. No
decorrer da pesquisa, foram identificadas algumas dificuldades de acesso ao local
do objeto da pesquisa, principalmente pelas restrições impostas pelos decretos
estaduais que visavam prevenir as infecções na pandemia, porém, acredita-se que
o âmago da pesquisa foi atingido com a pesquisa bibliográfica e documental.
Neste sentido, para avanço nesta área, sugere-se uma pesquisa qualitativa
com visitas ao CRT e, possivelmente, entrevista com o público do local, sejam
servidores ou internos. Outra possibilidade observada é a a pesquisa qualitativa
e quantitativa com internos que já passaram pelo CRT, a fim de coletar as suas
impressões sobre o ambiente prisional da unidade.

Referências

CAMPINAS, F. Triagem da Seap divide presos por facção nos presídios de Ma-
naus, diz juiz. Amazonas Atual, 27 maio 2019. Disponível em: https://amazo-
nasatual.com.br/triagem-da-seap-divide-presos-por-faccao-nos-presidios-de-ma-
naus-diz-juiz/. Acesso em: 30 de maio de 2021.

- 56 -
SEAP. Seap continua a imunização contra H1N1 no sistema prisional. 2020.
Disponível em: <http://www.seap.am.gov.br/seap-continua-a-imunizacao-contra-
-h1n1-no-sistema-prisional/>. Acesso em: 21 de maio de 2021.
SEAP. Secretaria de Administração Penitenciária. Internos que dão entrada no
sistema prisional passam por cadastro completo na nova Central de Rece-
bimento e Triagem da Seap. 2016. Disponível em: <http://www.amazonas.am.
gov.br/2016/11/internos-que-dao-entrada-no-sistema-prisional-passam-por-ca-
dastro-completo-na-nova-central-de-recebimento-e-triagem-da-seap/>. Acesso
em: 15 de maio de 2021.
SEAP. Secretaria de Administração Penitenciária. Unidade Prisional João Luce-
na Leite/ Humaitá. 2021. Disponível em: <http://www.seap.am.gov.br/central-
-de-recebimento-e-triagem-crt/>. Acesso em: 15 de maio de 2021.
SEDECTI. Relatório de Ação Governamental. 2016. Disponível em: <http://
www.sedecti.am.gov.br/wp-content/uploads/2019/07/rag_2016.pdf>. Acesso em:
18 de maio de 2021.

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CAPÍTULO V

CENTRO DE DETENÇÃO PROVISÓRIA


MASCULINO I
PROVISIONAL MALE DETENTION CENTER I

Fernanda de Souza Marcellino18


Diêgo Luiz Castro Silva19

O Centro de Detenção Provisória Masculino – CDPM I, inaugurado em 15


de abril de 2011, é uma unidade prisional situada na Rodovia BR 174, Km 8 s/nº,
na cidade de Manaus. Até a data de fechamento deste texto, a unidade estava geri-
da por meio de sistema de cogestão entre a Secretaria do Estado de Administração
Penitenciária – SEAP e a empresa privada New Life Gestão Prisional. Outras
empresas privadas atuaram na administração no CDPM I, tais como o Instituto
Nacional de Administração Prisional – INAP, Umanizzare e Embrasil.

Figura 1: fachada da unidade prisional.

Fonte: SEAP/AM (2021).


18 Pós-graduanda em Direito Público (UEA) e Execução Penal (CEI). Assessora Jurídica no 14º Ofício da
Procuradoria da República no Amazonas (MPF). Pesquisadora do GIEV/UEA. Bacharel em Direito (UEA).
Contato: fernanda.marcellino.juridico@gmail.com
19 Mestrando em Segurança Pública, Cidadania e Direitos Humanos pela Universidade do Estado do
Amazonas. Defensor Público na Defensoria Pública do Estado do Amazonas. Pós- graduado em Direito
Processual Civil pela Faculdade Damásio. Pós-graduado em Prestação Jurisdicional e Direitos Humanos
pela Escola Superior da Magistratura no Tocantins.Bacharel em Direito pela Fundação UNIRG. Contato:
diegocastro.dpeam@gmail.com.

- 59 -
Como em outros presídios da capital do Amazonas, o CDPM I funciona
na modalidade de parceria público-privada, uma espécie de contrato administra-
tivo instituído pela Lei nº 11.079/04. Di Pietro (2021, p. 320) afirma que se trata
de contrato cujo objeto é “(o) a execução do serviço público, precedida ou não
de obra pública, remunerada mediante tarifa paga pelo usuário e contraprestação
pecuniária do parceiro público, ou (b) a prestação de serviço de que a Adminis-
tração Pública seja a usuária direta ou indireta”. Ademais, segundo informações
obtidas por meio da SEAP, os investimentos para a construção da cadeia pública
superaram a marca de R$ 21 milhões, com uma construção que ocupa um terreno
de 9.706,70m². Com tantas ocorrências de rebeliões e fugas nos presídios de Ma-
naus, será que a administração privada é eficaz na administração de uma unidade
prisional?
Para os que escrevem e pesquisam sobre segurança pública e direitos hu-
manos, é importante fazer uma análise crítica acerca do que se conhece sobre as
prisões em geral. Após o processo de redemocratização promovido pela Consti-
tuição Federal de 1988, em um momento de ruptura com a ditadura militar, foram
tuteladas diversas garantias fundamentais para que houvesse proteção maior de
pessoas vulneráveis. Sendo assim, para além da questão financeira, as pessoas
privadas de liberdade enfrentam os desafios provenientes da superlotação, da au-
sência de políticas públicas e de inúmeras violações aos seus direitos humanos
(MEDEIROS, 2017). Por este motivo, torna-se necessário adotar um olhar mais
atento às questões pertinentes ao cárcere.
Para além dos dados fornecidos pela SEAP, utilizaram-se os relatórios de
inspeção prisional produzidos pelo CNMP (2019) e pela Comissão de Direitos
Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados – CDHM (2019), após eclodir em
Manaus a segunda rebelião nos presídios. Também foram analisados dados cole-
tados pela DPE (2021), por conta da atuação do Núcleo de Atendimento Prisional.
Na doutrina de Sarlet (2011) e Marmelstein (2014), é possível aferir a importância
da Constituição Federal de 1988 e de seus princípios na questão prisional.
Desta forma, o presente texto tem como objetivo geral compilar as prin-
cipais informações disponíveis a respeito do CDPM I. Para isso, o trabalho está
dividido em três partes: na primeira, apresentam-se as informações estruturais da
unidade prisional obtidas por meio da Secretaria de Administração Penitenciária
do Amazonas – SEAP, fazendo um contraponto ao que foi documentado pela De-
fensoria Pública do Estado do Amazonas – DPE (2021), Conselho Nacional do
Ministério Público – CNMP (2019) e Comissão de Direitos Humanos e Minorias
da Câmara dos Deputados – CDHM (2019). Na segunda, abordam-se todas as
questões pertinentes à saúde dos detentos no CDPM I, principalmente no momen-
to de pandemia da COVID-19 no Brasil. Na terceira, pretende-se verificar se a
presença da DPE representa, para os assistidos, o primeiro passo para a promoção
do acesso à justiça.
- 60 -
2 Estrutura da unidade prisional
Verificou-se que o CDPM I conta com celas individuais e coletivas, além
de estar dividido em quatro pavilhões. A cadeia pública também possui espaço
para a recepção dos visitantes, refeitório destinado ao corpo técnico, enfermaria,
quadra de esportes, cozinha, lavanderia, escola, além das salas destinadas aos
trabalhos administrativos e salas de atendimento jurídico pela Defensoria Públi-
ca. Contudo, as pessoas ali recolhidas provisoriamente não contam com Unidade
Básica de Saúde que, segundo a New Life Gestão Prisional, está em processo de
construção.
Segundo o Conselho Nacional do Ministério Público, o estado do Ama-
zonas vivencia um estado de coisas inconstitucional em virtude dos seguintes
fatores: superlotação das unidades prisionais, ausência do Estado no controle das
dependências dos estabelecimentos penais, baixo número de presos participando
de projetos de ressocialização por meio do trabalho ou estudo, além do elevado
número de ocorrências relacionadas à disciplina e integridade física dos presos
(CNMP, 2019).
Nesse sentido, verifica-se que o número de reeducandos abrangidos por
projetos de remição é ínfimo em relação ao total de pessoas custodiadas no CDPM
I. Isso porque apenas 126 internos são integrantes do projeto “Trabalhando a Li-
berdade”, no ano de 2021, embora o número de presos provisórios nesta unidade
prisional, segundo informações fornecidas pela gerência administrativa, seja de
1061 pessoas. Além disso, embora destinada aos presos provisórios, a unidade
conta apenas com cinco salas de aula.

Figura 2: Reeducandos do projeto de remição.

Fonte: SEAP/AM (2021).

- 61 -
Na ocasião da inauguração, em 2011, havia previsão de 568 vagas no
CDPM. Segundo relatório de inspeção produzido pela Defensoria Pública do Es-
tado do Amazonas em 2019, a capacidade de ocupação da unidade foi extrapola-
da, uma vez que a lotação era de 930 custodiados no mês de setembro. Em uma
cela com capacidade para abrigar 6 pessoas, havia 17 pessoas dividindo o espaço.
Por sua vez, a gerência administrativa afirma que a unidade prisional conta, em
2021, com 1.200 vagas e que a maior lotação histórica na unidade foi a 1.320
internos no ano de 2019.
A Defensoria Pública do Estado do Amazonas monitora, desde de julho
de 2019, quinzenalmente, a lotação das unidades prisionais, sendo que o CDPM
I teve sua ocupação mínima em 15 de março de 2021 (917 presos de 4769 do
sistema prisional de Manaus, excluindo os regimes semiaberto, aberto e prisão
domiciliar), máxima em 14 de julho de 2020 (1.212 presos de 4.731). Até 1º de
julho de 2021, contava com 1024 presos de 4.661.
Também é possível perceber que não existem alas que separem presos pro-
visórios dos condenados, em nítida violação ao que preconiza a Lei de Execução
Penal, no art. 84: “o preso provisório ficará separado do condenado por senten-
ça transitada em julgado” (BRASIL, 1984). Segundo a SEAP, aproximadamen-
te 15% dos tutelados no CDPM I são presos condenados. Contudo, a Secretaria
não explica as razões pelas quais estas pessoas não foram ainda transferidas para
unidades destinadas a presos condenados no Amazonas, tais como o Complexo
Penitenciário Anísio Jobim – COMPAJ e Instituto Penal Antônio Trindade – IPAT.
Ressalta que, no sistema prisional de Manaus, 54,79% dos presos são provisórios,
ao passo que somente 45,21% têm condenações à prisão definitiva, em regime
fechado.
Sendo assim, um dos maiores desafios estruturais enfrentados pelo CDPM
I é a superlotação, pois as políticas públicas até então instituídas não são capazes
de romper os desafios da infinidade de processos penais em curso, os quais nem
sempre terão sentença condenatória. Na prática, existe em curso um projeto de
encarceramento em massa (SALLA, 2001 apud PERES, 2012). Peres (2012), in-
clusive, aponta que os presídios brasileiros não são capazes de promover aumento
no número de vagas do sistema carcerário na mesma velocidade em que pessoas
são processadas e recolhidas preventivamente.
Por fim, destaca-se que as queixas provenientes da detenção não partem
apenas dos internos, como também de suas famílias. Existem relatos acerca de
revista vexatória, ausência de banheiros e bebedouros que possam ser utilizados
pelas visitas, enormes filas e agressões verbais por parte dos agentes de resso-
cialização (CDHM, 2019). Desta forma, há necessidade urgente de estabelecer
diálogos entre a Secretaria de Administração Penitenciária com os familiares das
pessoas privadas de liberdade, uma vez que a própria Constituição Federal já es-
tabelece princípios como intranscendência das sanções (BRASIL, 1988).

- 62 -
3 Saúde das pessoas privadas de liberdade
Um dos direitos fundamentais garantidos pela Constituição Federal de
1988 é o direito à saúde, cujo dever de prover é do Estado (BRASIL, 1988).
Desta forma, esta parte do trabalho será dedicada especificamente a explorar as
condições de saúde a que estão submetidas as pessoas custodiadas no CDPM I e,
principalmente, durante o alastramento da COVID-19.
Santos (2020, p. 294) afirma que a pandemia causada pelo novo coronaví-
rus acabou por expor ainda mais os problemas enfrentados no sistema carcerário
brasileiro, em virtude do encarceramento em massa e das condições insalubres às
quais estão submetidas as pessoas privadas de liberdade. Este vírus evidenciou o
que há de pior no sistema prisional brasileiro, sobretudo no Amazonas: “os pre-
sídios não possuem instalações adequadas à vida humana” (CAMPOS, 2016, p.
266). Como então dirimir os danos causados pelo contágio em massa?
No Centro de Detenção Provisória Masculino I, a gestão afirma que a uni-
dade conta com dois consultórios médicos, sendo o corpo técnico composto por
dois médicos — clínico geral e psiquiatra — e sete enfermeiros. Tais profissio-
nais estão divididos em plantões. Em resposta aos questionamentos da Defensoria
Pública do Estado do Amazonas, durante a visita feita em 2019, o psiquiatra da
unidade informou que trabalha em jornada de 34 horas semanais e que, durante
os fins de semana, somente os técnicos de enfermagem permanecem na unidade.
Ainda, com a falta de especialista da medicina para os atendimentos in-
ternos à pessoa privada de liberdade, a Direção da Unidade Prisional informa,
quando das requisições da Defensoria Pública, que a pessoa foi registrada no SIS-
REG à espera de marcação para fins de escolta externa para o tratamento médico
específico pelo o SUS. Não há informações da Direção da Unidade Prisional ou
da SEAP quanto ao número de escoltas com essa finalidade.
A Defensoria Pública afirma ainda que os profissionais de saúde do esta-
belecimento se queixaram quanto à frequência em que o Estado fornece medica-
mentos psicotrópicos para tratamento dos internos na unidade. Por esta razão, há
períodos em que o CDPM I não é capaz de fornecer recursos terapêuticos neces-
sários para os internos. Isto corrobora com a informação fornecida pela empresa
New Life quanto à afirmação de que, desde que iniciou sua gestão — agosto de
2020 —, houve um óbito por suicídio. Por sua vez, destaca o Conselho Nacional
do Ministério Público:

Segundo informações do Ministério Público do Estado do Amazonas, o Estado


não aderiu à Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das Pessoas Privadas
de Liberdade no Sistema Prisional (PNAISP), “tanto que foram ajuizadas, pela
57ª Promotoria de Justiça dos Direitos Humanos e Cidadania – 57ª PRODIHC,
ACPs, referentes aos serviços de lotação e segurança das unidades prisionais,
bem como aos serviços de assistências médica, odontológica, alimentar, jurídi-
ca, psicológica, material e social das pessoas privadas de liberdade no sistema
prisional.” (CNMP, 2019, p. 32)

- 63 -
Em 2019, o corpo técnico do CDPM I contava com três psicólogos, que
trabalhavam de 8h às 15h nas segundas, quartas e sextas. Os atendimentos são
realizados mediante demanda dos próprios internos. Na prática, significa que nem
todos os internos serão atendidos toda semana, e deverão respeitar uma fila ou
ordem de preferência, muitas vezes estabelecidas pela influência que cada interno
exerce dentro da unidade para com seus pares. Ademais, como dito anteriormente,
não há sequer Unidade Básica de Saúde de fácil acesso aos presos provisórios
deste estabelecimento prisional — ou de qualquer outro na capital do Amazonas.
Dados obtidos pela DPE apontam também para a escassez no atendimento
odontológico. Há apenas dois dentistas disponíveis no CDPM I, fazendo atendi-
mentos de segunda à sexta. Contudo, em 2019, apenas duzentos presos — dos
quase mil custodiados naquela ocasião — estavam em atendimento agendado ou
realizado com tais profissionais. Tais assistências também são viabilizadas entre
os próprios internos, por meio de “catatau”, como são chamados os bilhetes pas-
sados de uma cela a outra ou mesmo para os agentes de ressocialização.
A atual administração do CDPM I, promovida pela empresa New Life Ges-
tão Prisional, não possui dados anteriores à coordenação anterior. Sendo assim,
divulgaram dados referentes apenas ao período compreendido entre agosto de
2020 e junho de 2021. Afirma a gestora que a unidade também oferece campa-
nhas de combate à tuberculose, doenças renais, cardíacas, dentre outras. Ademais,
não há informação quanto a campanhas de prevenção ao câncer, ou combate a
doenças psicossociais, tais como depressão, ansiedade, dentre outras. Na inspe-
ção realizada em 2019, a Defensoria Pública do Estado do Amazonas destacou a
ausência de bolsa de colostomia na unidade, embora houvesse, na ocasião, um
interno ostomizado.
Segundo a empresa privada, houve 5.500 atendimentos médicos neste es-
paço temporal. Se desprezados os sábados, domingos e feriados, existem 231 dias
disponíveis para atendimento médico entre agosto de 2020 e junho de 2021. A
jornada de trabalho não foi informada, pois a administração limitou-se apenas a
dizer que as equipes de saúde estão divididas em plantões. Desta forma, pode-se
afirmar que, em média, houve 24 atendimentos médicos diários durante o perío-
do analisado. Se há apenas dois médicos revezando os períodos de atendimento,
seria humanamente impossível atender todos os detentos com base nos números
divulgados.
Infelizmente, este dado não pode ser confrontado por outros meios, já que
a DPE afirma que a Administração Carcerária apresentou diversos obstáculos à
entrevista das pessoas custodiadas no CDPM, bem como registro de imagens.
Todavia, as reclamações das pessoas privadas de liberdade quanto à ausência de
atendimento médico é uma constante durante os atendimentos jurídicos da De-
fensoria Pública e, às vezes, na própria audiência de instrução e julgamento, o

- 64 -
que acarreta na emissão de diversos ofícios à Direção da Unidade Prisional sobre
as omissões da gestora e pedidos de prisão domiciliar para fins de tratamento de
saúde, especialmente nos casos de recorrente demora da gestora.

3.1 CDPM I durante a pandemia de COVID-19


Santos (2020) enfatiza que há imprecisão sobre dados compilados pelo
DEPEN a respeito do alastramento da COVID-19 nos presídios, eis que não estão
sendo correlacionados os números de morte causada por Síndrome Respiratória
Aguda Grave – SRAG. Outra questão informada pela pesquisadora é que os dados
colhidos pelo Ministério da Justiça são imprecisos a respeito das pessoas privadas
de liberdade que efetivamente foram testadas para o novo coronavírus, já que não
trazem sequer subdivisão entre as unidades federativas (SANTOS, 2020, p. 299).
Esta ambiguidade também pode ser aferida pelo fato de que, se por um
lado a SEAP afirma que o CDPM não registrou infectados pela COVID-19, por
outro deixa claro que não há testes disponíveis para a detecção do vírus no estabe-
lecimento prisional. A falta de testagem, neste caso, é um dos fatores fundamen-
tais para o apagamento de dados relacionados à infecção pelo novo coronavírus
no sistema carcerário amazonense. Além disso, parece haver um desencontro de
informações, pois a própria SEAP afirma em seu site oficial que um detento da
unidade prisional testou positivo para a doença no começo da pandemia no Brasil
(TEIXEIRA, 2020).
A Defensoria Pública do Estado do Amazonas, quando do retorno das ati-
vidades no 2º semestre de 2020, ante a ausência de informações sobre a testagem
pela SEAP, realizou a pesquisa de sintomáticos para COVID-19 (sintomas mais
típicos), para fins de tentar apurar o índice de contaminação dentro das unidades
prisionais.
Em 10 dias de atendimento (julho e agosto de 2020), foram 132 pessoas
privadas de liberdade atendidas. Destas, 13 relataram sintomas típicos de Co-
vid-19, ao passo que 59 sequer passaram por atendimento médico nos últimos
14 dias, para avaliação antes de ter o contato com pessoas externas (atendimento
jurídico), a fim de cumprirem o Plano de Contenção da SEAP/FVS emitido via a
Nota Técnica Conjunta n.º 24/FVS.AM-SUSAM-SEAP-SSP.AM de 25 de junho
de 2020 (FVS, 2020).

4 Acesso à justiça
Com redação dada pela Emenda Constitucional nº 80/2014, a Defensoria
Pública é protegida constitucionalmente e definida como instituição responsável
pela promoção de direitos individuais e coletivos às pessoas necessitadas (BRA-
SIL. 1988). Sendo assim, é o órgão escolhido pelo Constituinte para adoção do
modelo de acesso à justiça desenhado, model state, para fins da garantia funda-
- 65 -
mental de assistência jurídica integral e gratuita prestada pelo Estado a quem se
encontra em estado de vulnerabilidade.
No âmbito da execução penal, a Defensoria Pública, ao lado do Juízo da
Execução e do Ministério Público, compõe as funções essenciais para a função ju-
risdicional de execução da pena aplicada. Logo, cabe a ela velar pela execução da
pena e da medida de segurança, atuando, no processo executivo e nos incidentes
necessários, para a defesa dos vulneráveis (BRASIL, 1984).
No estado do Amazonas, a instituição de proteção do vulneráveis cum-
pre esse munus, na forma do art. 16 e parágrafo 5º do art. 83 da LEP (BRASIL,
1984), contando com espaço apropriado para os atendimentos jurídicos diários.
Mais especificamente no CDPM I, a Defensoria Pública já realizou cerca de 5.638
atendimentos, sendo 1.310 no segundo semestre de 2019, 2.479 em 2020 e 1.849
apenas no primeiro semestre de 2021.
É preciso ressaltar que em 2020 os atendimentos foram suspensos em
13 de março de 2020, retornando em 13 de julho de 2020 com apenas 1/3 da
capacidade. Posteriormente, na iminência do aumento de casos pela COVID-19,
o atendimento presencial precisou ser suspenso novamente em 11 de dezembro
de 2020. Todavia, retornou no dia 25 de fevereiro de 2021, na forma de videocon-
ferência com a pessoa privada de liberdade. Portanto, no período de 18 meses, a
DPE afirma atender em média mais de cinco vezes ao ano cada um dos internos,
com média de um atendimento jurídico a cada três meses e meio.
Apesar dos desafios estruturais que a Defensoria Pública enfrenta para se
consolidar nas unidades prisionais, o órgão tem sido extremamente importante
na busca pelo acesso à justiça de maneira ampla e eficiente. Diante das ideias
defendidas por Cappelletti e Garth (1988), segundo os quais a segunda geração
de direitos fundamentais promoveu atuação positiva do poder estatal, verifica-se
que o aumento do orçamento destinado à DPE, contratação de estagiários de pós-
-graduação, bem como a designação de mais defensores públicos promoveu uma
ampliação drástica no atendimento ofertado às pessoas privadas de liberdade no
CDPM I. Contudo, como ensina Economides (1999), há ainda a necessidade de
fortalecimento do conhecimento jurídico também dos profissionais ligados à as-
sistência judiciária, de maneira ética e política. A intensificação dos atendimentos,
presenciais ou virtuais, deve vir acompanhada de uma nova mentalidade acerca
dos presos provisórios, pessoas hipervulneráveis que já sofrem com estigmas per-
petrados pela mídia e pelo próprio sistema de justiça (CALLEGARI; ENGEL-
MANN; WERMUTH, 2016).
O Centro de Detenção Provisória Masculino I (CDPM I) é uma unidade
prisional destinada a pessoas privadas de liberdade que não foram condenadas,
mas que estão cumprindo prisão temporária ou preventiva. Contudo, a própria
SEAP e a empresa gestora afirmam que o estabelecimento abriga pessoas já con-

- 66 -
denadas ao regime fechado, situação que vai de encontro ao estabelecido pela Lei
de Execução Penal, que veda expressamente a reunião de presos provisórios e
condenados no mesmo ambiente. Além disso, não há separação entre os custodia-
dos de acordo com o tipo de crime cometido, contrariando novamente preceitos
fundamentais.
É nítido ainda que, se não fosse a constante intervenção da Defensoria
Pública do Estado do Amazonas, bem como de visitas prisionais promovidas pelo
Conselho Nacional do Ministério Público e pela Comissão de Direitos Humanos
e Minorias da Câmara dos Deputados, muitos dos dados divulgados oficialmente
seriam mascarados. No que diz respeito à saúde dos reeducandos, é notório que
a unidade não é capaz de prover o atendimento mínimo necessário, eis que mui-
tos dos internos utilizam o recurso de entrega de “bilhetes” para escolherem os
que serão efetivamente atendidos pela equipe. Além disso, o estado do Amazonas
frequentemente não fornece os medicamentos necessários para o tratamento de
doenças psicossociais, tais como depressão e ansiedade, o que pode ser uma das
causas de um suicídio relatado pela empresa New Life em 2020, quando iniciou
sua gestão.
Ademais, a gestão privada mostra-se ineficaz na tarefa de promover um
ambiente seguro não apenas para os detentos, como também para os agentes de
ressocialização e demais trabalhadores, e até mesmo para os familiares. A estrutu-
ra física da unidade prisional carece de melhorias no que tange à disponibilidade
de banheiros e bebedouros para as visitas, aumento no número de celas para evitar
a superlotação da cadeia, bem como para promover aumento nos atendimentos
médicos e psicológicos.
Por meio deste artigo, buscou-se promover a análise crítica acerca da estru-
tura do CDPM I. Para isso, foram utilizados tanto dados fornecidos pelo Núcleo
de Atendimento Prisional da DPE até o primeiro semestre de 2021, como também
os relatórios formulados pelo CNMP e CDHM em 2019. A unidade prisional em
investigação mostrou-se extremamente fragilizada em termos de garantias aos
direitos fundamentais das pessoas privadas de liberdade. A superlotação é um
problema recorrente, além do tratamento indigno dado também às famílias dos
detentos.
Além disso, durante a pandemia de COVID-19, evidenciou-se que a Se-
cretaria de Administração Penitenciária – SEAP afirma que não houve infecta-
dos pelo novo coronavírus, ao mesmo passo que admite também que os detentos
sequer foram testados. Não fosse pelos atendimentos jurídicos fornecidos pela
Defensoria Pública do Estado do Amazonas, não haveria mapeamento necessário
para detectar as fragilidades do estabelecimento prisional, que verificou lotação
acima da capacidade no ano de 2019, além de condições insalubres às quais foram
submetidos os assistidos.

- 67 -
Por fim, graças à constitucionalização da Defensoria Pública como ins-
tituição responsável por promover acesso à justiça e trabalhar na proteção de
direitos humanos (BRASIL, 1988), houve a possibilidade de detectar um trabalho
institucional sólido dentro do CDPM I. O Núcleo de Atendimento Prisional da
DPE deu o primeiro passo na ampliação dos direitos fundamentais das pesso-
as privadas de liberdade. Contudo, para que haja melhorias no sistema prisional
como um todo, é de suma importância que se adote não apenas o fortalecimento
organizacional, como também a mudança de paradigma dos profissionais ligados
diretamente ao atendimento dos detentos, conforme leciona Economides (1999).

Referências

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sil. Brasília, DF: 5 out. 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/cci-
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- 68 -
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br/sistema-prisional-completa-um-mes-de-visitas-sem-registro-de-covid-19/.
Acesso em: 11 nov. 2021.

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Anexos
Fotografias complementares do Centro de Detenção Provisória Masculino
I (CDPMI)

Imagem 1: CDPMI

Fonte: SEAP/AM (2021)

Imagem 2: Sala educacional do CDPMI

Fonte: SEAP/AM (2021)

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CAPÍTULO VII

CENTRO DE DETENÇÃO PROVISÓRIA


MASCULINO DE MANAUS – CDPM II
MANAUS MALE PROVISIONAL DETENTION CENTER

Christianne Corrêa Bento da Silva20


Denis Caetano Gomes Cavalcante21

O Amazonas conta atualmente com 14 unidades prisionais em funciona-


mento, dentre elas, o Centro de Detenção Provisória Masculino de Manaus II –
CDPM II, objeto deste estudo. No ano de 2013 o déficit carcerário no Amazonas
impunha a urgente expansão do número de vagas até então existentes. Em meio a
um período de fugas no sistema prisional da capital, iniciam-se as tratativas para
a construção do CDPM II.
Diante da ausência de publicações que abordem a história do CDPM II,
a presente pesquisa pretende atender a seguinte questão: Como minimizar a au-
sência de material histórico sobre o Centro de Detenção Provisória Masculino de
Manaus II – CDPM II?
Inaugurado em setembro de 2017, a unidade foi construída atendendo às
novas diretrizes arquitetônicas prisional as quais permitiam melhor ambiente para
o desenvolvimento de atividades ressocializadoras como projetos educacionais e
profissionalizantes visando capacitar os reeducandos, sem esquecer dos espaços
destinados à saúde.
Com uma narrativa clara, a pesquisa visa contribuir com a comunidade
acadêmico-científica reunindo dados coletados junto à Secretaria de Estado de
Administração Penitenciária, portais da transparência e em meios digitais de co-
municação. Assim, realizada pesquisa documental e bibliográfica, será apresenta-
do um resgate da historicidade desde a construção do CDPM II, abordando a ori-
gem, a inauguração, estrutura física, movimentos de subversão e óbitos, cogestão,
tecnologia, equipamentos e veículos, número de vagas, assistências e atividades
de ressocialização.
O objetivo do presente trabalho é contribuir com o dossiê das unidades
prisionais do estado do Amazonas através de um resgate histórico do Centro de
20 Promotora de Justiça do Ministério Público do Estado do Amazonas, Membro do Conselho Penitenciá-
rio Estadual, mestranda em Segurança Pública, Cidadania e Direitos Humanos da Universidade do Estado
do Amazonas.
21Servidor do Estado do Amazonas, atuando na Secretaria de Estado de Administração Penitenciária. Ba-
charel em Administração, Pós-Graduado em Auditoria, Controladoria e Finanças. Mestrando em Segurança
Pública, Cidadania e Direitos Humanos da Universidade do Estado do Amazonas.

- 71 -
Detenção Provisória Masculino de Manaus II, apresentando fatos desde as tratati-
vas para sua construção, descrevendo a estrutura física, os principais movimentos
de subversão e óbitos que ocorreram, discorrendo de maneira objetiva sobre o
sistema de gestão adotado, bem como apresentar o CDPM II em seu contexto atu-
al, apontando os serviços carcerários que estão sendo desenvolvidos em prol das
pessoas privadas de liberdade recolhidas naquele ambiente penitenciário.

1. Origem
O Centro de Detenção Provisória Masculino de Manaus II – CDPM II, foi
construído em um cenário caracterizado pela superlotação das unidades prisio-
nais existentes no Amazonas no ano de 2013. Até então, Manaus contava com as
unidades Complexo Penitenciário Anísio Jobim Regimes Fechado e Semiaber-
to, Instituto Penal Antônio Trindade, Centro de Detenção Provisória de Manaus
I, Centro de Detenção Provisória Feminino, Penitenciária Feminina de Manaus,
Unidade Prisional do Puraquequara e a centenária Cadeia Pública Raimundo Vi-
dal Pessoa, totalizando 3.385 vagas para um universo de 7.455 pessoas encarcera-
das na capital, conforme o Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias
-INFOPEN referente ao primeiro semestre de 2014 (BRASIL, 2014).
Nesse período, conforme questionário preenchido pela Unidade Prisio-
nal, os presídios localizados no quilômetro 8 da rodovia BR 174 eram facilmente
acessados por quem tivesse interesse em aproximar-se de suas muralhas. Muito
embora situadas a uma distância de até 2 km da estrada, não havia controle na
entrada do ramal22 de acesso às unidades para identificar veículos ou pessoas que,
inclusive, podiam caminhar a pé até os portões das unidades prisionais
O comércio informal era instalado desde o início da pista que unia a ro-
dovia até as instituições carcerárias. Desde a venda de alimentos e bebidas até o
transporte clandestino de pessoas acontecia, principalmente nos dias de visitação
aos reclusos. Isso em muito se justificava porque nesse período era permitido que
os familiares levassem comidas, bebidas, roupas e variados utensílios pessoais
para seus parentes presos.
Toda essa movimentação e a permissividade da entrada de materiais nas
unidades prisionais fragilizava a fiscalização do sistema prisional, inclusive du-
rante o procedimento de entrada de visitantes e controle do trabalho de agentes
carcerários. Somado a esses fatores, as unidades prisionais não contavam com
aparato tecnológico condizente com a necessidade e, assim, uma variedade de
ilícitos e outros objetos que não se coadunam com o ambiente carcerário estavam
facilmente acessíveis aos reclusos, tais como drogas, telefones celulares e bebidas
alcoólicas.
Não obstante a construção de uma unidade prisional seja precedida de trâ-
mite burocrático envolvendo desde visitas técnicas, elaboração de projeto básico,

22 Estrada secundária com acesso por uma via principal.


- 72 -
processo licitatório, homologações, recursos até que finalmente ocorra o início da
construção, a edificação do CDPM II foi impulsionada por convulsões que esta-
vam ocorrendo nas unidades prisionais da capital.
Como exemplo, em março de 2013 o Complexo Penitenciário Anísio Jo-
bim – COMPAJ, enfrentou a fuga de 42 detentos (Acrítica, 2013), que se eva-
diram por um túnel escavado nos fundos do presídio. Em julho do mesmo ano,
novo episódio voltou a evidenciar a fragilidade do sistema, desta feita no Instituto
Penal Antônio Trindade – IPAT - onde, durante uma rebelião em que onze agentes
(STRAH, 2013) penitenciários foram feitos reféns, houve a destruição parcial das
instalações.
O Conselho Nacional de Justiça - CNJ realizou, no período de 17/9/2013
à 18/10/2013, visitas ao sistema prisional do Amazonas e emitiu relatório do III
Mutirão Carcerário (BRASIL, 2013) expondo o momento enfrentado pelo siste-
ma prisional naquele período. Abaixo descreve-se um pequeno trecho que resume
o que foi observado:

A superlotação é a realidade da maioria das unidades prisionais inspecionadas,


com grande número de presos amontoados em celas de tamanho incompatível
com a quantidade de ocupantes.
Nem todas as unidades possuem estrutura física e técnica de atendimento mé-
dico-odontontológico, social, jurídico e psicológico para os presos, tendo sido
constatado caso em que a única médica contratada não comparece regularmente
para cumprir suas obrigações.
Nem todas as unidades oferecem vagas para estudo e trabalho internos e,
quando oferecem, é em número bastante reduzido, que não beneficia toda a
população carcerária, deixando os presos na ociosidade, sem chance de obter
capacitação profissional necessária para enfrentar o mercado de trabalho após a
obtenção da liberdade, prejudicando a sua reinserção social.
Não há adoção de medida eficaz que possa ao menos frear o acesso de aparelhos
de comunicação e de drogas no interior das carceragens. Ademais, a dependên-
cia química não tem sido tratada, contribuindo para a elevação do índice de
reincidência. A concentração das vagas na Capital só tem distanciado o preso
do seu núcleo familiar, sendo considerado fator relevante para que o sistema
prisional fomente a criminalidade fora dos presídios.

Desta forma, dado o cenário caótico do Sistema Prisional do Amazonas, em


setembro de 2013 o Estado do Amazonas firmou contrato de repasse com o Go-
verno Federal, através do Ministério da Justiça/MJ, no valor de R$ 21.987.103,26.
Foram disponibilizados R$ 12.709.386,00 pelo Governo Federal e, em contrapar-
tida, o estado do Amazonas destinou R$ 9.277.717,26, para a construção de uma
nova Unidade Prisional com capacidade para 571 vagas.
Importante destacar que o déficit carcerário na época de sua inauguração,
no ano de 2017, era de 136%, havendo o total de 9.172 privados de liberdade no

- 73 -
estado do Amazonas, segundo dados do Relatório de População Carcerária da
Capital e do Interior do Estado do Amazonas emitido dia 28 de setembro de 2017
(AMAZONAS, 2017) pela Secretaria de Estado de Administração Penitenciária.

2. Inauguração
Diante da guerra entre facções criminosas dentro das unidades prisionais e
as ameaças prementes por novas rebeliões, o estado resolveu, de maneira emer-
gencial e em decorrência do massacre ocorrido em 1º de janeiro de 2017, voltar a
ocupar a então desativada Cadeia Pública Raimundo Vidal Pessoa como medida
para salvaguardar a vida dos internos ameaçados em diferentes unidades prisio-
nais e também evitar a concretização de novas rebeliões.
A Cadeia Pública Raimundo Vidal Pessoa já estava desativada desde ou-
tubro de 2016 por recomendação do CNJ, estando sem condições estruturais de
abrigar os 284 internos que para lá foram emergencialmente transferidos. Toda a
falta de estrutura para o recebimento desses indivíduos advindos de outras unida-
des prisionais resultou em novos episódios de tumultos que ocasionaram novas
mortes e mais detentos feridos.
Desta forma, dado o cenário conturbado e a necessidade de desocupação da
Cadeia Pública Raimundo Vidal Pessoa, os internos foram transferidos em maio
de 2017 para o então não-finalizado Centro de Detenção Provisória Masculino de
Manaus II (CDPM II).
É necessário destacar que, muito embora a unidade prisional fosse projetada
para abrigar presos provisórios, devido à superlotação carcerária o CDPM II
passou a abrigar, desde sua ocupação inicial, tanto presos provisórios quanto sen-
tenciados. Assim, em 28 de setembro de 2017 a unidade prisional foi inaugurada.

3. Estrutura Física da Unidade


Em junho de 2014, após transcorrido o processo licitatório, iniciou-se a
construção do CDPM II seguindo as Diretrizes da Arquitetura Prisional publica-
das através da Resolução nº 09 de 18 de novembro de 2011 (BRASIL, 2011), do
Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, que impunha um espaço
com 9.903,79 m² de área construída.
O projeto tinha por escopo favorecer o atendimento das políticas educa-
cionais e de saúde prisional, área de atendimento técnico, apresentando celas com
acessibilidade nos pavilhões, ala para tratamento de dependência química e es-
trutura adequada para a instalação de unidades básicas de saúde. As 571 vagas
estavam distribuídas em celas coletivas ou individuais com área de banho de sol,
sendo a primeira unidade prisional do estado a atender esse requisito.
Transcorridos três anos do início da construção, a unidade prisional foi
ocupada por determinação da então gestão prisional. Essa ocupação evidenciou
- 74 -
a necessidade de complementação da obra, haja vista terem sido identificadas
diversas fragilidades, tais como ausência de concertinas nas áreas de banho de sol
e de muralha, necessidade de reforços nas grades das celas e ausências de conten-
ções de segurança, necessidades essas identificadas antes mesmo da ocupação da
unidade prisional.
Assim, a Administração Penitenciária realizou um processo emergencial
de obras complementares para promover o reforço necessário na segurança do
centro de detenção, cujo valor global era de R$ 1.796.550,59, conforme contratos
divulgados no Portal da Transparência do Estado do Amazonas, no site da SE-
FAZ/AM (AMAZONAS, 2021a).
Destarte, a construção da unidade prisional foi iniciada em 2014 e con-
cluída em setembro de 2017, com o valor total de R$ 23.061.348,91 (vinte e
três milhões, sessenta e um mil, trezentos e quarenta e oito reais e noventa e um
centavos).
Conforme o projeto arquitetônico original, a estrutura do CDPM II destina-
va-se ao abrigamento dos presos e era composta por 10 pavilhões com o total de
161 celas, dentre essas quatro com acessibilidade, além quatro quadras para ati-
vidades físicas e banho de sol. Alguns desses espaços tem destinação específica,
como o pavilhão anexo destinado à unidade básica de saúde, contendo três celas
de observação; o pavilhão escolar contendo sete salas de aula, uma biblioteca e
uma sala dos professores; a ala destinada aos dependentes químicos; e um setor
com 17 parlatórios.
Outros ambientes também foram previstos, como uma sala de monitora-
mento e controle, um espaço destinado ao serviço de lavanderia, uma área desti-
nada ao recebimento de visita íntima que, posteriormente, foi destinada à prisão
especial na forma do artigo 295 do Código de Processo Penal. Há que se conside-
rar que em 2020 foi necessário desativar oito parlatórios para transformá-los em
salas de videoaudiência, conforme dados obtidos em formulário respondido pela
Unidade (AMAZONAS, 2021c).
A área administrativa originalmente compreendia doze salas, refeitório, al-
moxarifado, sala de monitoramento e alojamento de agentes. Atualmente, o aloja-
mento de agentes foi convertido em sala de estado maior por ser uma prerrogativa
dos profissionais de advocacia, conforme prevê o inciso V do artigo 7º da Lei n.º
8.906/1994.
Essa área administrativa se constitui em um ambiente não contínuo ao pa-
vilhão dos presos, separado pela muralha e por um pátio onde atualmente está
instalado o canil da unidade prisional, que tem estrutura para abrigar 10 cães.
Destaca-se que no projeto arquitetônico original não existia área destinada à
cocção de alimentos e, por esse motivo, a alimentação destinada aos internos e aos
servidores era preparada em ambiente externo e trazida para a unidade prisional.

- 75 -
Foto 1: Imagem do Centro de Detenção Provisória Masculino de Manaus II

Fonte: SEAP/AM.

4. Movimentos de Subversão e Óbitos


Na madrugada do dia 18 de setembro de 2017 foi lançado um artefato
explosivo contra o muro do CDPM II (AMAZONAS, 2021c). Os suspeitos che-
garam próximo ao prédio da unidade prisional através da área de mata que circun-
dava a unidade e o artefato danificando o muro como parte de uma tentativa de
fuga. Durante a tentativa de explosão que objetivava dar fuga aos presos, alguns
internos conseguiram sair de suas celas quebrando as grades, mas foram impedi-
dos de sair da unidade, pois a Polícia Militar chegou a tempo de conter a confusão
gerada.
No dia 12 de maio de 2018 houve fuga de 35 internos que cavaram um
túnel a partir do pavilhão 5 do CDMP II. Desses, 18 respondiam pelo crime de
roubo, 10 pelo crime de tráfico de drogas, 6 por homicídio e 1 por falsificação
ideológica (AMAZONAS, 2021c).
Em 10 de fevereiro de 2019, agentes da SEAP/AM vinculados ao setor de
inteligência penitenciária frustraram nova tentativa de fuga por meio de túnel ca-
vado em uma das celas do CDPM II. O túnel foi descoberto ainda em fase inicial
de construção, durante o procedimento de revista matinal na unidade prisional. O
local foi imediatamente isolado e policiais foram chamados para realizar a recon-
tagem dos presos (AMAZONAS, 2021c).
+Registra-se a ocorrência de 6 mortes na unidade prisional desde a sua
primeira ocupação. Dessas, 03 ocorreram no ano de 2019 e tiveram como causas:
septicemia, pneumonia e falência renal. Em 2020, foram registradas mais duas

- 76 -
mortes que tiveram como causa parada cardiorrespiratória e perfuração pulmonar,
respectivamente. Até junho de 2021 foi registrado um óbito que teve como causa
asfixia mecânica (AMAZONAS, 2021c).

5. Cogestão
No início das atividades da Unidade, em maio de 2017, o CDMP II estava
sob gestão plena do estado e suas atividades eram executadas por um número
reduzido de agentes penitenciários. Cabe destacar que até o ano de 2015 a gestão
prisional era subordinada, no âmbito do Poder Executivo, à Secretaria Estadual
de Direitos Humanos, Justiça e Cidadania. Foi a Lei n.º 4.163, de 09 de março de
2015 (AMAZONAS, 2015) que instituiu a Secretaria de Estado de Administração
Penitenciária do Amazonas. Assim, com a criação de pasta específica para tratar
dos assuntos pertinentes à administração prisional, servidores que ingressaram
em concurso ocorrido na década de 80 foram remanejados e passaram a compor
o quadro de agentes penitenciários em virtude de simples decreto governamental.
Devido à falta de servidores para atender às necessidades administrativas e
da carceragem do novo presídio, somados à impossibilidade de concurso público
naquele momento e à carência de aparelhamento de segurança do próprio estado,
decidiu-se pela celebração de contrato de cogestão da unidade, sendo a Empresa
Embrasil Serviços LTDA a primeira instituição privada a prestar os serviços pri-
sionais no CDPM II através de contrato emergencial, com início de suas ativida-
des em agosto de 2018.
Não obstante oficialização do contrato de cogestão, os cargos de chefia
da unidade, a dizer, Diretor da Unidade, Diretor Adjunto, Gerente de Estatística,
Gerente de Segurança Interna e Gerente de Segurança Externa, permaneceram
sob responsabilidade de servidores do Estado vinculados à Secretaria de Estado
de Administração Penitenciária.
Após o encerramento do contrato emergencial a referida empresa conti-
nuou a prestar serviços em carácter indenizatório até a conclusão do processo
licitatório em julho de 2020. A partir de agosto do referido ano a unidade prisional
passou a ser gerida pelo Consórcio Gestão Prisional do Amazonas – CGPAM,
constituído pelas empresas Embrasil Segurança LTDA e Embrasil Serviços LTDA
(hoje New Life Gestão Prisional), com prazo contratual de 60 meses.
Apesar dos custos da cogestão no Brasil, o modelo de terceirização tem
sido um buscado por diversos estados na tentativa de cumprir satisfatoriamente as
assistências estabelecidas pela Lei de Execuções Penais e demais normas nacio-
nais e internacionais de proteção aos direitos humanos.
A terceirização, no entanto, não exclui a necessidade de realização de con-
curso público para o aparelhamento da administração penitenciária estadual, de
modo a garantir que a gestão do sistema prisional seja efetivamente exercida pelo

- 77 -
estado, mediante a contratação de alguns serviços terceirizados.
Ao analisar o Contrato de Cogestão disponibilizado pela Administração
Penitenciária observa-se os seguintes valores de operacionalização do CDMP II:

Quadro 1: Demonstrativo de custos contratuais.


QUANTIDADE
EMPRESA CUSTO DO PRESO
DE PRESOS ESTIMADOS
VARIÁVEL R$ 2.680,42
CGPAM 1200
FIXO R$ 2.902,91
Fonte: SEAP/AM.

6. Tecnologia, Equipamentos
O CDPM II, em sua inauguração, contava com raio-x e câmeras internas
e externas como equipamentos destinados à segurança. Atualmente, além de au-
mentar a quantidade desses equipamentos instalados, verificou-se o investimento
em outras modalidades de dispositivos que visam dar segurança no ambiente pri-
sional conforme análise do Projeto Básico do Contrato de Cogestão.
Em dezembro de 2017, a unidade passou a utilizar body scanners adqui-
ridos pelo Departamento Penitenciário Nacional para reforçar a segurança du-
rante a entrada de pessoas, sejam elas servidores públicos, da cogestão, pessoas
privadas de liberdade ou visitantes em geral. Além disso, há também o uso de
banquetas, portais e raquetes, todos equipamentos de raio-x que buscam detectar,
no corpo do indivíduo, a introdução de objetos ilícitos
Atualmente a Unidade conta dispõe de drones, câmeras com infraverme-
lho, câmeras de 360º, além de outras 90 câmeras que monitoram as áreas de cir-
culação dos pavilhões, áreas de gramado, além do perímetro externo de toda a
Unidade. Além disso, há equipamentos de inspeção de veículos e câmeras endos-
cópicas que auxiliam nas revistas em celas (AMAZONAS, 2021c).
A Unidade implantou através do novo contrato de cogestão o sensor sís-
mico, que aciona a central em quaisquer tentativas de perfuração ao chão ou às
paredes da cela, que ajudou sobremaneira a conter a tentativa de fuga em fevereiro
de 2019.

7. Número De Vagas
Durante a pesquisa, a SEAP/AM (AMAZONAS, 2021c) informou que a
Unidade Prisional possui 571 vagas e atualmente conta com população carcerária
de 886 internos na data de 16/06/2021, sendo 324 sentenciados e 562 provisórios.
Ratifica-se que em 2019 a unidade prisional registrou a maior ocupação de sua
história, alcançando a marca de 1.286 apenados em suas instalações.

- 78 -
Dentre as especificações quanto aos privados de liberdade, a SEAP/AM
informou que no CDPM II os internos são separados por tipologia de crime e
por identificação e vinculação à facções criminosas. Ainda, pontuou que mantém
pavilhão específico para internos autodeclarados LGBTQIA+.
Na data em que as informações foram prestadas, havia 17 estrangeiros,
sendo 8 colombianos, 4 peruanos, 3 venezuelanos, 1 espanhol e 1 africano, sendo
relatado que não havia indígenas autodeclarados. Conforme noticiado, os respec-
tivos consulados estavam oficialmente informados e, desde o ano de 2020, o Con-
sulado da Colômbia têm proporcionado cursos de capacitação em parceria com a
SEAP/AM para os apenados daquela nacionalidade.

8. Assistencial
Conforme consta no contrato de cogestão, a unidade atualmente oferece as
assistências previstas na Lei de Execução Penal. O atendimento à saúde ocorre
nos moldes da Política Nacional de Atenção à Saúde das Pessoas Privadas de
Liberdade (BRASIL, 2014) e conta com os seguintes profissionais: 01 médico
clínico, 01 médico psiquiatra, 06 enfermeiros, 03 técnicos em enfermagem, 01
farmacêutico, 01 odontólogo, 01 auxiliar de consultório dentário, 01 terapeuta
ocupacional, 03 profissionais de serviço social, 03 estagiários e 02 psicólogos.
Esses serviços de saúde representaram, aproximadamente, 32.374 atendimentos
no ano de 2020. Destaca-se que parte das medicações são disponibilizadas contra-
tualmente pela cogestora, havendo também repasse municipal e estadual.
Na assistência educacional, há o apoio de 1 pedagogo para atender a uni-
dade, visto que o ensino regular, fundamental e médio, é oferecido pelo estado. O
ensino superior é disponibilizado mediante a aprovação em vagas para curso EAD
em instituições privadas de ensino.
Durante a pandemia causada pelo novo coronavírus, a SEAP/AM infor-
mou que foram adotadas medidas sanitárias de contenção do vírus e realizados
procedimentos de triagem em todos os apenados que adentravam à unidade e que
passavam por processo de quarentena. A unidade não registrou óbitos nem infec-
tados por Covid-19.
Toda a assistência material obrigatória prevista pela LEP é oferecida pela
unidade prisional, que atende inclusive à Resolução 3, de 5 de outubro de 2017,
do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária-CNPCP (CNPCP,
2017) - quanto ao número de refeições ofertadas diariamente. Os presos recebem
colchão, kit de higiene pessoal e limpeza, fardamento e sandálias, conforme pra-
zos e quantidades estabelecidas em contrato.
No que tange à assistência social, além de atuar no procedimento acolhida
do interno, de cadastro de visitantes, contato com familiares, realiza também le-
vantamento de presos que necessitam de emissão de documentos civis, a partir do
que a SEAP/AM realiza mutirões em parceria dos órgãos emissores.

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As visitas sociais ocorrem mediante cadastramento prévio no sistema im-
plantado em 2019, o Visita Legal23. Em virtude da pandemia causada pelo novo
coronavírus, atualmente os visitantes, previamente cadastrados, realizam agen-
damento e podem adentrar à unidade prisional quinzenalmente, de segunda à
sexta-feira, divididos por pavilhão, nos turnos matutino e vespertino, conforme
disponibilidade. Foi também informado que as visitas de crianças estão suspensas
temporariamente.
É necessário ratificar que todos os visitantes precisam seguir os protocolos
internos estabelecidos pela SEAP/AM na Portaria Interna nº 12 de 2021 (AMA-
ZONAS, 2021b) e todos recebem, quando do seu ingresso na unidade, um kit
contendo preservativos, absorventes, máscara cirúrgica e lanche.
A assistência religiosa ocorre mediante solicitação das instituições e dos
próprios internos e, para tanto, é necessário que as entidades realizem cadastro,
junto à SEAP/AM, solicitando autorização para ingressar no presídio. Há também
a formalização de Termos de Cooperação Técnica - TCT que visam a doação de
bibliografia religiosa aos internos, tais como a Sociedade Bíblica do Brasil – SBB,
para a doação de bíblias.
A assistência jurídica no CDPM II, desde a sua inauguração, é realizada
pela Defensoria Pública do Estado do Amazonas e por advogados particulares.

9. Ressocialização
O CDPM II foi a unidade piloto na implantação do Programa Trabalhando
a Liberdade, instituído pela SEAP/AM em 2019, com a finalidade de constituir o
grupo de trabalhadores do sistema prisional. O programa envolve a capacitação e
a disposição dos reeducandos em vagas de trabalho para oportunizar a labortera-
pia e a ressocialização através de atividades que promovem a profissionalização.
Dados disponibilizados pelo CDPM II, em junho de 2021, informam que
foram realizados 19 cursos de capacitação profissional que, juntos, somam 304
apenados capacitados para o trabalho nos últimos dois anos. Desde a implantação
do programa foram abertas 241 vagas de trabalho em serviços como lavande-
ria, corte de cabelo, refrigeração, horticultura, suinocultura, avicultura, limpeza
e conservação, marcenaria, fabricação de blocos de concreto, além de diversos
serviços de manutenção predial.
A unidade também foi pioneira na realização de serviços externos para
manutenção predial em órgãos públicos e, atualmente, conta com equipe de
aproximadamente 70 reeducandos especializados na realização desses serviços.
Dentre os reeducandos envolvidos nas atividades de remição pelo trabalho, atu-
almente, 63 estão sendo remunerados conforme previsto na LEP e no Estatuto
Penitenciário do Amazonas.

23 https://visitalegal.am.gov.br/web/#/login
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A unidade prisional em 2021 implementou o Projeto De Volta Para Casa
para custeio de kits profissionais aos reeducandos que concluam cursos profis-
sionalizantes na unidade. Quando de sua progressão de regime ou alvará de sol-
tura, caso tenha concluído curso profissionalizante, o indivíduo receberá um kit
referente ao curso que realizou para que possa iniciar sua atuação profissional.
O projeto visa o incentivo ao trabalho e empreendedorismo como alternativa à
diminuição da reincidência criminal e consequente ressocialização.
No Centro de Detenção Provisória Masculino II também é desenvolvido o
Programa Conhecimento que liberta, favorecendo a remição pelo estudo/leitura.
O programa envolve o Projeto Remição Pela Leitura, executado em todo âmbito
do Sistema Prisional do Amazonas, o Projeto Mundo Melhor, que oferta cursos
de capacitação profissional na modalidade EaD e também envolve parcerias para
a oferta de cursos de ensino superior com instituições privadas, como a Estácio e
Kroton. Atualmente, no CDMP II, há 5 internos realizando cursos de ensino su-
perior, 84 internos já concluíram cursos de capacitação na modalidade EaD e 200
internos estão participando do Projeto de Remição pela Leitura.
Com uma narrativa sobre o panorama do sistema prisional no período an-
terior, concomitante a obra e após os primeiros meses de inauguração do CDPM
II e apresentando como os serviços carcerários atualmente são prestados nessa
unidade, o objetivo do trabalho foi alcançado pois reuniu dados que vão contri-
buir para novas pesquisas. Ao mesmo tempo, respondeu ao problema formulado
ao demonstrar como a unidade prisional foi estruturada para minimizar o déficit
carcerário no ano de 2013 no Amazonas. Por se tratar de uma unidade prisional
com 4 anos de existência, não há trabalhos similares narrando a historicidade
e, tão pouco, discorrendo sobre as condições materiais de encarceramento desse
centro de detenção.
O projeto do CDPM II originou-se da necessidade de ampliação do nú-
mero de vagas no sistema carcerário do amazonense que, em 2013, mantinha um
cenário de 7.455 pessoas encarceradas na capital para 3.385 vagas, conforme o
Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias -INFOPEN referente ao
primeiro semestre de 2014.
A construção teve início em junho de 2014 e o custo total da obra foi de
R$ 23.061.348,91 (vinte e três milhões, sessenta e um mil, trezentos e quarenta e
oito reais e noventa e um centavos). Em 9.903,79 m² de área construída, dispôs-se
de 571 vagas prisionais. A unidade prisional, ocupada em janeiro de 2017, foi ofi-
cialmente inaugurada em 28 de setembro daquele ano. As ondas de rebelião que
aconteciam em Manaus impulsionaram a transferência de presos para a unidade
em caráter de urgência e desde então houve registro de tentativas de subversão,
como lançamento de artefato para provocar a explosão da muralha, tentativa de
fuga, além de ter enfrentado a fuga de 35 internos mediante a escavação de túnel.
No mesmo período foram registradas 9 mortes.

- 81 -
No início das atividades o CDPM II estava sob gestão plena do estado mas
devido à falta de servidores, houve a contratação emergencial de empresa privada
para prestar os serviços prisionais a partir de agosto de 2018 até julho de 2020.
Em agosto de 2020, findo o processo licitatório, o Consórcio Gestão Prisional do
Amazonas assumiu as atividades.
Vários tipos de equipamentos de segurança guarnecem o CDPM II, como
aparelhos de raio-x, body scanner, sensor sísmico, câmeras endoscópicas para
revista nas estruturas de celas, drones, câmeras de 360º, câmeras com infraver-
melho, além de monitoração por vídeo nas áreas internas de circulação e áreas
externas.
Conforme dado apresentado pela Direção, os internos são separados segun-
do critérios como a incidência penal praticada e vinculação a facções criminosas,
sendo mantido um pavilhão específico para presos autodeclarados LGBTQIA+.
As assistências aos presos do CDPM II são prestadas, em sua maior parte,
pela empresa cogestora dos serviços prisionais. As demandas da saúde, por exem-
plo, representaram aproximadamente 32.374 atendimentos no ano de 2020. Des-
tacam-se as medidas sanitárias para a contenção ao novo coronavírus, de modo
que não houve registro de infectados e, tão pouco, de óbitos na unidade prisional.
A assistência material abrange itens pessoais, material de higiene e limpe-
za, além do fornecimento de 5 refeições por dia. A assistência social compreende,
dentre outras, ações para emissão de documentação básica e acompanhamento ao
cadastro dos visitantes.
Tanto a assistência religiosa quanto a jurídica ocorrem através da atuação
de entidades específicas. Aquelas, mediante cadastramento para a realização de
cultos; esta, por meio da Defensoria Pública do estado ou ainda por advogados
constituídos pelos presos.
Com a finalidade de capacitar o indivíduo e remir a pena, O CDPM II
desenvolveu o projeto piloto do Programa Trabalhando a Liberdade, no ano de
2019. Dados da SEAP indicam que, até junho de 2021, foram realizados 19 cur-
sos de capacitação profissional nas áreas de voltados a serviços como lavande-
ria, corte de cabelo, refrigeração, horticultura, suinocultura, avicultura, limpeza e
conservação, marcenaria, fabricação de blocos de concreto, além de serviços de
manutenção predial inclusive com trabalho externo em órgãos públicos. Ao todo
304 apenados participaram desses cursos.
Ainda com o escopo de remissão, além da leitura de livros existe o pro-
grama Conhecimento que Liberta com cursos na modalidade EAD inclusive em
parceria com instituições particulares de ensino superior.
Conforme já destacado o estudo limitou a apresentar a unidade e o contexto
prisional quando de sua construção. A pesquisa não se voltou a analisar as condi-
ções subjetivas do encarceramento, como a repercussão do número excedente de
presos e a taxa de oferta de vagas de trabalho/estudo frente ao número de internos.

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Verificou-se uma unidade prisional bem estruturada, muito embora haja
um excedente na população carcerária que impacta na prestação das assistências
e, por esse motivo, medidas devem ser adotadas pelos órgãos competentes, como
Tribunal de Justiça e Ministério Público, para que haja celeridade nos julgamen-
tos dos presos provisórios. Noutra frente, deve-se buscar a ampliação de vagas
nos projetos de estudo e, principalmente, de trabalho pois, além da possibilidade
de serem remunerados com a atividade laborativa, há o aprimoramento da mão de
obra e uma melhor perspectiva de retorno ao mercado de trabalho com o alcance
da tão sonhada liberdade.

Referências

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do Amazonas. Manaus: Assembleia Legislativa, [2001]. Disponível em https://
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gral.pdf . Acesso em 26 jun. 2021.
AMAZONAS. Lei n.º 4.163, de 09 de março de 2015. Manaus: Assembleia Le-
gislativa, [2015]. Disponível em https://sapl.al.am.leg.br/norma/8617. Acesso em
25 jun. 2021.
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do Estado do Amazonas, de 28 de setembro de 2017. Secretaria de Estado de
Administração Penitenciária: Manaus, 2017.
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Fazenda do Amazonas, 2021. (2021a). Disponível em: http://sistemas.sefaz.am.
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de 2021. Secretaria de Estado de Administração Penitenciária: Manaus, 2021
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BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. III Mutirão Carcerário do Amazonas.
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básicas para arquitetura prisional. Brasília: CNPCP, 2011. Disponível em: ht-
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- 83 -
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Processo Penal. Brasília: Presidência da República 1941. Disponível em http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689.htm. Acesso em 24 out. 2020.
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nitenciário. Brasília: Ministério da Justiça, 2014. Disponível em https://www.
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in.gov.br/materia/-asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/ 19358678/do-
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Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade
no Sistema Prisional (PNAISP) no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).
Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2014b. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.
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STRAH, Bruno. Fuga em massa durante rebelião do Ipat nesta terça-feira (9).
A crítica.com, Manaus,10 Set. 2013. Disponível em https://www.acritica.com/
channels/manaus/news/fuga-em-massa-durante-rebeliao-do-ipat-nesta-terca-fei-
ra-9. Acesso em 25 jun. 2021.

- 84 -
CAPÍTULO VII

A REALIDADE HISTÓRICA DO MAIOR PRESÍDIO


DO AMAZONAS: COMPLEXO PENITENCIÁRIO
ANÍSIO JOBIM - COMPAJ (UNIDADE MASCULINA)
THE HISTORICAL REALITY OF THE LARGEST
PRISION IN THE STATE OF AMAZON: ANÍSIO JOBIM
PENITENTIARY COMPLEX – COMPAJ (MALE UNIT)

José Divanilson Cavalcanti Junior24

Todos sabem, como advertia Osório Duque Estrada (Historia do Brasil), que
o rio Amazonas, “corrente transversal, com a disposição longitudinal dos
seus afluentes, ao mesmo tempo que é caminho internacional, está fadado a ser
o supremo regulador dos destinos do país››.
Anísio Jobim (1957)

O estudo procura resgatar a historicidade da principal prisão do Amazonas,


o Complexo Penitenciário Anísio Jobim – Compaj. Assim, objetivando identifi-
car aspectos relevantes desde a época da criação do estabelecimento até a atual
conformação, buscam-se conhecimentos científicos que possam fomentar o surgi-
mento de políticas mais efetivas para o enfrentamento dos problemas correlatos à
criminalidade intra e extramuros.
A então Unidade Penitenciária Agro-Industrial Anísio Jobim foi instituída
pela Lei n.º 1.523, de 07 de maio de 1982, cujo nome homenageava o historiador e
jurista Manoel Anísio Jobim. Hodiernamente, é o presídio responsável pelo cum-
primento das penas do regime fechado, abrigando os custodiados condenados,
bem como integrantes das maiores organizações criminosas amazonenses.
O Compaj foi palco de diversas rebeliões e tentativas de fuga, e em ja-
neiro de 2017 serviu de cenário para o segundo maior massacre da história do
sistema prisional do país, à época. A selvageria do conflito provocou repercussão
internacional, exacerbando as reiteradas críticas ao sistema de justiça criminal.

24 Mestre em Segurança Pública, Cidadania e Direitos Humanos (UEA). Especialista em Direito Penal e
Processual Penal pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Tutor da Rede EaD (SEGEN/MJSP).
Professor do Curso de Formação Técnico Profissional da Polícia Civil do Estado do Amazonas/Instituto
Integrado de Ensino de Segurança Pública (IESP/SSP/AM). Professor da Escola Superior da Advocacia do
Amazonas (ESA/OAB/AM). Professor do Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais, Especialização em Ges-
tão Pública Aplicada à Segurança (CAO/PMAM/UEA). Pesquisador do Grupo Interdisciplinar de Estudos
da Violência (GIEV/UEA) e do Núcleo de Pesquisa em Políticas Públicas e Planejamento Governamental
(NUPEP/UEA). Profissional da Segurança Pública desde 2001.

- 85 -
A abordagem quali-quantitativa foi necessária para a compreensão da rea-
lidade pesquisada, permitindo analisar descritivamente os momentos vivenciados
pela unidade prisional.
Além da pesquisa bibliográfica e documental dos autores correlatos ao
tema, informações foram colhidas dos relatórios obtidos da Secretaria de Estado
de Administração Penitenciária – SEAP, da Defensoria Pública, ambas do Ama-
zonas, e do Departamento Penitenciário Nacional – DEPEN, assim como de pe-
riódicos jornalísticos, além de dados dos relatórios publicados pelo Mecanismo
Nacional de Prevenção e Combate à Tortura – MNPCT.
Visando garantir o alcance dos objetivos, o artigo foi delineado em cinco
subcapítulos que abordarão os seguintes aspectos: a ineficiência do sistema de
justiça criminal, o histórico da unidade correcional e fatos relevantes, inspeção do
MNPCT antes da rebelião de janeiro de 2017, a realidade atual, e a criminalidade
intra e extramuros – retrato da influência das facções amazonenses.

1 Ineficiência do Sistema de Justiça Criminal


É plausível a ineficiência histórica do sistema de justiça criminal brasileiro.
Nesse caminho, a obra de Willian A Wesley (1970) – Violence and the Police: A
Sociological Study of Law, Custom, and Morality (Violência e Polícia: Um Estudo
Sociológico de Direito, Costumes e Moralidade) – foi pioneira ao abordar essa
complexidade da política criminal e carcerária, ao observar separadamente os en-
tes envolvidos na engrenagem da justiça criminal.
O estudo extrapolou as perspectivas dos pesquisadores e do público ava-
liado, sendo possível observar e tabular as atividades diuturnas desempenhadas
pelos policiais, promotores, juízes e agentes penitenciários.
A pesquisa desenvolvida por Herman Goldstein (2017), difundida na obra
Policing a Free Society (Policiando uma Sociedade Livre), revelou dados já co-
nhecidos empiricamente pelas observações de Wesley (1970) e dos seus entre-
vistados, as instituições não dialogavam. O isolamento existente entre os órgãos
torna ineficaz o sistema de persecução penal. Conforme demonstrou o trabalho,
a justiça continua sendo relativizada, e tampouco ausculta os interesses da socie-
dade.
A constatação do diagnóstico da justiça criminal americana, ambientado
na década de 70, rememorados na obra de Goldstein (2017), continua atual e
desconcertante: a falta de conexão entre os entes responsáveis pela imposição da
lei. O paradoxo da aplicação “eficaz” dos preceitos da justiça criminal permane-
ce reverberando negativamente nos sombrios corredores dos presídios do Brasil,
assim como nos de Manaus.
A análise histórica dos momentos vivenciados pelo Compaj, possibilitada
pelo estudo em comento, nos revelou – embora aparentemente amenizada pela
mudança de paradigma da administração penitenciária atual, principalmente de-

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pois dos fatídicos eventos da rebelião de 2017 – a mesma diuturna rotina fou-
caultiana de aplicação da pena, explicitada na obra Vigiar e Punir: Nascimento da
Prisão (Foucault, 2004), por vezes erroneamente compreendida, ainda em voga
na maioria dos presídios brasileiros, conjugando métodos de dominação da mente
pela doutrinação do corpo.
A aparente “paz do lago” ainda é auscultada nos corredores do Compaj.
A expressão cunhada nos cárceres amazonenses, frequentemente utilizada para
demonstrar a aparente contradição entre o que é visto na “superfície” das peni-
tenciárias, aparentemente pacata, como uma bucólica paisagem rural, e o que é
percebido nas profundezas do lago.
Nesse sentido, analisar os corredores sombrios da prisão objetivando per-
ceber a parte oculta do iceberg – naquilo que não está aparente, mas que continua
presente – ainda causa inquietude e desconforto. O fluxo ininterrupto de disputas
por poder das facções criminosas, entremeado por violência e corrupção, constan-
temente influenciado pelos ditames extramuros, continua paradoxal.

2 Historicidade da unidade prisional


O Compaj está localizado na rodovia BR-174, no km 8, município de Ma-
naus, capital do estado do Amazonas. Segundo registros da SEAP25, a construção
da unidade foi iniciada na administração do governador Henoch da Silva Reis
(1975-1979), sendo inaugurada no governo de José Lindoso (1979-1982), que
teve como secretário titular de estado do Interior e Justiça Afonso Luiz Costa
Lins, em 8 de maio de 1982.
Era denominado, inicialmente, Unidade Penitenciária Agro26 – Industrial
Anísio Jobim, criada pela Lei n.º 1.523, de 07 de maio de 1982, em razão de ter
sido projetada para ser um estabelecimento agrícola, e fora concebido para pre-
encher uma lacuna estadual, que buscava uma conformidade com as legislações
penais do nosso país, a possibilidade de recolhimento de apenados em estabele-
cimentos agrícolas, no intuito de promover uma progressão benéfica do regime
inicial.
A unidade penitenciária, inicialmente concebida para ser um “estabeleci-
mento de segurança média, de regime semiaberto”, conforme previa a Portaria
076/82-GAB27, da Secretária de Estado do Interior e Justiça, cujo titular era Afon-
so Luiz Costa Lins, e o governador Paulo Pinto Nery28, disciplinando o Regimen-
25 http://www.seap.am.gov.br/complexo-penitenciario-anisio-jobim-compaj/
26 Regimento Interno da Unidade Penintenciária Agro-Industrial “Anísio Jobim”, disciplinado pela Por-
taria 071/82-GAB, Secretaria de Estado do Interior e Justiça do Amazonas, publicada no Diário Oficial do
Estado do Amazonas, em 26 de novembro de 1982.
27 file:///C:/Users/ADMIN/Downloads/diario_am_1982-11-26_completo.pdf
28 Em setembro de 1978 foi eleito pela Assembléia Legislativa do Amazonas vice-governador do estado,
na chapa encabeçada por José Lindoso. Com o afastamento deste último para concorrer ao Senado no pleito
previsto para novembro de 1982, assumiu o governo em maio desse ano. Em março de 1983 transmitiu o
cargo ao governador eleito Gilberto Mestrinho. Fonte: http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbe-
te-biografico/paulo-pinto-neri.

- 87 -
to Interno do estabelecimento prisional, publicado no Diário Oficial do Estado do
Amazonas, nº 25.142, de 26 de novembro de 1982.
A então colônia agrícola, mais tarde denominada de Complexo Penitenci-
ário Anísio Jobim, recebeu o nome do ilustre historiador, acadêmico, magistrado,
chefe de polícia, parlamentar federal e governador interino do Amazonas, Manoel
Anísio Jobim29, nascido em Anadia, no estado de Alagoas, em 1877, e falecido
no Rio de Janeiro, no ano de 1971. Autor da obra O Amazonas: sua história, per-
tencente ao acervo da Biblioteca Pedagógica Brasileira, coleção Brasiliana, um
“ensaio antropogeográfico e político”. (JOBIM, 1957).
Inicialmente, a Colônia Agrícola Anísio Jobim funcionava como terceira
fase do cumprimento da pena de reclusão, pelo fato de o estabelecimento penal
ter surgido na vigência da outrora parte geral do Código Penal brasileiro, de 1940.
O cumprimento da pena funcionava do seguinte modo: a primeira fase era de iso-
lamento total; a segunda consistia na realização de trabalho voluntário durante o
dia; e a terceira previa o cumprimento do restante da pena em colônias agrícolas,
conforme preceituava o art. 30, do respectivo código.
Após o advento da Lei n.º 7.209, de 11 de julho de 1984, disciplinando
a nova parte geral do Código Penal brasileiro, prevendo três regimes de cum-
primento da pena privativa de liberdade (fechado, semiaberto e aberto), coube
à então colônia agrícola a incumbência, por suas características de outrora, da
segunda fase da execução penal, o regime semiaberto.
Os presos provisórios e condenados coabitavam a antiga cadeia pública
do estado, a Penitenciaria Desembargador Raimundo Vidal Pessoa, sem qualquer
critério de classificação ou de individualização da pena. A unidade funcionava na
avenida 7 de Setembro, Centro, em Manaus, outrora denominada Unidade Prisio-
nal Central – UPRICENTRO, legalmente definida30 para ser o estabelecimento de
“segurança máxima” do estado, comportando o regime fechado.
Entretanto, na época da publicação da nova lei de execução penal, já com
a veemente progressão geométrica da população carcerária do Amazonas, não po-
deria persistir a existência de um local exclusivo para o cumprimento da pena em
regime semiaberto, em contrapartida com o preocupante fato de compartilhamen-
to de presos, cumprindo regimes diversos, ocupando o mesmo estabelecimento.
Nesse diapasão, iniciou-se o processo para adaptação da colônia agrícola
em complexo penitenciário para o regime fechado – fato que somente efetivou-se
em setembro de 1999, cerca de 15 (quinze) anos depois da publicação da reforma
da execução penal, quando retornaram as obras no local para, dentro da área da
colônia agrícola, construir um edifício com as características de estabelecimento
adequados para o regime pretendido, nascendo assim o Compaj.

29 http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/jobim-manuel-anisio.
30 Portaria 076/82-GAB, do secretário de estado do Interior e Justiça, aprova o Regimento Interno, Lei nº
524, de 18 de outubro de 1906.

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Em 1º de junho de 2014, a empresa de administração de presídios Umani-
zzare assumiu a cogestão do Compaj, a qual tinha como objetivo o emprego de
diversas práticas e ações já desenvolvidas por ela em outras unidades prisionais, e
que poderiam humanizar o cumprimento da pena pelo custodiado.
O contrato com a referida empresa durou até maio de 2019, cerca de 30
meses após a impactante rebelião de 2017, quando o Governo do Amazonas anun-
ciou que já estava iniciando o processo de cotação de preço para contratação de
outra empresa para administrar o COMPAJ31. O anúncio aconteceu logo após as
19 mortes que ocorreram no presídio, entre 26 e 27 de maio de 2019. (referência).

2.1 Fatos históricos relevantes


A história do presídio amazonense coaduna-se com a realidade de conflitos
carcerários brasileiros. O Compaj foi palco das maiores rebeliões que ocorreram
no Amazonas e no Brasil, entre as quais podemos citar os seguintes massacres:
em 25 de maio de 2002, uma rebelião vitimou 12 (doze) presos e 1 (um) agente
penitenciário; em 1º de janeiro de 2017, foram mortos 56 (cinquenta seis) presos,
a maioria decapitados. Esse foi o segundo maior incidente prisional, até a época
do massacre; derradeiramente, entre os dias 26 e 27 de maio de 2019, durante um
novo conflito entre os presos, ocorreram 15 (quinze) mortes; totalizando, desde de
2002, cerca de 90 (noventa) óbitos.
Além das rebeliões e tentativas de fuga, conflitos territoriais entre facções
atuantes no estado reverberaram nos demais cárceres amazonenses, demonstran-
do a simbiose intra e extramuros, que permeia esse cenário como Comando Ver-
melho do Amazonas – CVAM; Família do Norte – FDN, atualmente Cartel do
Norte – CDN32; Primeiro Comando da Capital – PCC, organização criminosa de
São Paulo, conhecida em todo o Brasil depois dos ataques aos policiais no ano de
2006, situação que paralisou a maior metrópole brasileira.
No primeiro dia do ano de 2017, o Compaj foi palco do maior massacre do
sistema prisional da história do Amazonas, com 56 (cinquenta e seis) mortos. A
selvageria da rebelião provocou repercussão internacional. A razão do motim, que
começou na tarde daquele domingo, no final da visitação familiar, foi a disputa
entre 2 (duas) facções rivais, Família do Norte – FDN, apoiada pelo Comando
Vermelho – CV, e Primeiro Comando da Capital – PCC, que lutavam pelo domí-
nio territorial, bem como pelas rotas de drogas que atravessam o Amazonas e os
estados adjacentes, abastecendo os mercados nacional e internacional.
O levante na unidade que começou naquela tarde de domingo só foi contro-
lado na manhã do dia seguinte, segunda-feira, após mais de 17 (dezessete) horas

31 http://www.amazonas.am.gov.br/2019/05/governador-wilson-lima-anuncia-fim-do-contrato-com-uma-
nizzare-e-nova-licitacao-para-cogestao-de-presidios/
32 https://brasil.elpais.com/brasil/2021-04-28/linha-de-frente-na-guerra-entre-faccoes-no-amazonas-
-bairro-da-compensa-em-manaus-vive-dias-sangrentos.html - https://d.emtempo.com.br/policia-amazo-
nas/307409/cdn-e-cv-deixam-rastros-de-sangue-na-disputa-do-trafico-no-coroado;

- 89 -
de negociações, que duraram toda a madrugada, e contaram com a presença de
membros da Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Amazonas – OAB-AM,
de juízes do Tribunal de Justiça do Amazonas –TJ-AM , da Secretaria de Segu-
rança Pública do Amazonas – SSP-AM, além de grupos táticos da Polícia Militar
e Polícia Civil do Amazonas, e de policiais da Secretaria Executiva Adjunta de
Operações da SEAOP-AM, SSP-AM.
A SSP informou, durante o conflito, que no “massacre do Amazonas” a
maioria dos mortos pertencia ao PCC. Atualmente, é considerada a terceira rebe-
lião mais letal da história do sistema prisional brasileiro, ficando atrás do motim
ocorrido no Centro de Recuperação Regional de Altamira33, no Pará, em 27 julho
de 2019, vitimando 58 (cinquenta e oito) detentos e, do episódio do Carandiru34,
ocorrido em São Paulo, em 2 de outubro de 1992, no qual 111 (cento e onze) pre-
sos foram mortos.
Em 03 de janeiro de 2017, o Instituto Médico Legal – IML estadual afir-
mou que cerca de 30 (trinta) presos haviam sido decapitados35. O Departamento
de Polícia Técnico-científica asseverou que a maior dificuldade do trabalho se-
riam as identificações dos detentos que foram carbonizados, informando, tam-
bém, a necessidade de exames de DNA para a liberação dos corpos.

Imagem 1: Portão de acesso principal do Compaj.

Fonte: AMAZONAS (2021)

33http://www.global.org.br/blog/altamira-maior-massacre-desde-o-carandiru-expoe-barbarie-estrutural-
-do-sistema-prisional-brasileiro/
34 https://www.conjur.com.br/2021-ago-11/stj-mantem-condenacao-pms-massacre-carandiru
35 https://www.nsctotal.com.br/noticias/massacre-em-penitenciaria-de-manaus-teve-30-decapitados-fo-
ram-identificadas-39-das-60

- 90 -
Imagem 2: Momento em que um parente de preso toma conhecimento da sua morte durante a
rebelião de 2017.

Fonte: https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2017/01/10/palco-de-
-massacre-presidio-de-manaus-ja-teve-rebeliao-com-13-mortos-em-2002.htm

Imagem 3: Presos acenando uma bandeira da FDN e do CV durante o massacre de 2017.

Fonte: arquivos pessoais dos autores.

- 91 -
Imagem 4: Presos são contidos e identificados no interior do pavilhão D, na manhã do dia 2
de janeiro de 2017, por policiais da Secretaria Executiva Adjunta de Operações da SSP– SE-
AOP/SSP-AM.

Fonte: arquivos pessoais dos autores.

Imagem 6: O massacre no Compaj reportado pela mídia.

Fonte: Arquivos pessoais dos autores com junção de capas jornalisticas


- 92 -
De acordo com a Polícia Civil do Amazonas36, o inquérito “comprovou
que o massacre foi causado pela rivalidade entre as facções criminosas Família do
Norte – FDN e Primeiro Comando da Capital – PCC”, em uma disputa pelo con-
trole dos presídios da capital amazonense. Segundo afirmam os policiais respon-
sáveis pelas investigações, a circunstância da transferência dos líderes da FDN
para presídios federais, nos anos anteriores, teria estimulado o massacre.
As investigações do massacre ocorrido no Compaj encerraram-se em se-
tembro de 2017, identificando alguns dos responsáveis pela ação criminosa. O
inquérito requisitou uma série de exames de necropsia e análise de DNA dos
mortos, além de colher depoimentos de cerca de 350 (trezentas e cinquenta) tes-
temunhas. O trabalho investigativo apontou também que agentes penitenciários e
familiares dos presos facilitaram a entrada de armas no presídio.
Fato conexo à rebelião de 2017, ocorrido cerca de dois anos depois, nos
dias 26 e 27 de maio de 2019, ocorreu outro massacre no sistema carcerário do
Amazonas, resultando na morte de 55 (cinquenta e cinco) detentos37, em quatro
unidades prisionais da capital, a maioria ligada à FDN. O novo episódio de vio-
lência foi creditado também ao comando do PCC38, mesmo que indiretamente,
como retaliação às mortes anteriores, embora publicamente acobertado pelo su-
posto “racha dentro da FDN”.

Imagem 7: Unidades prisionais e quantidade de mortos no massacre de 2019.

Fonte: imagens Google Earth e informações. (BRASIL, 2020).

Nesse período, 19 (dezenove) detentos que cumpriam pena no Complexo


Penal Anísio Jobim – COMPAJ foram encontrados mortos dentro das celas dos
pavilhões 03 e 07. O conflito novamente explicitou a problemática do acirramento
das disputas territoriais amazonenses, motivada pela busca do domínio das rotas
36https://www.bbc.com/portuguese/brasil-41118908.
37 https://amazonasatual.com.br/dos-55-mortos-nos-presidios-maioria-estava-presa-
-por-roubo-e-trafico-de-drogas/;
38https://www.portalmarcossantos.com.br/2019/04/30/armas-e-centenas-de-muni-
coes-sao-apreendidas-em-pavilhao-com-presos-de-faccao/;
- 93 -
do narcotráfico na região amazônica (Rota do Solimões39 e do Japurá40).
As mortes foram decorrentes de uma disputa interna entre membros da fac-
ção criminosa amazonense Família do Norte – FDN, responsável pelo massacre
histórico de 2017, provocada pela aproximação de alguns líderes com o Comando
Vermelho – CV e que, assim como o Primeiro Comado da Capital – PCC, busca o
domínio incontestável das rotas dos rios Solimões e Japurá, principal corredor de
drogas na tríplice fronteira da Amazônia.
Em razão desses fatos, a Secretaria de Estado de Administração Peniten-
ciária abriu, em junho de 2020, 2 (dois) processos sancionatórios para investigar
possível descumprimento de contrato41 pela empresa Umanizzare Gestão Prisio-
nal e Serviços Ltda., contratada pelo estado para prestação de serviços de ope-
racionalização e administração do Compaj. O valor do contrato para os anos de
2014-2015 foi de R$ 139 milhões/ano. A empresa ficou por mais de 5 (cinco) anos
na administração do presídio.
No processo apuratório, a SEAP informou “que nas portarias publicadas
no Diário Oficial do Estado esta é a segunda etapa da investigação. A primeira foi
uma sindicância42 aberta em 2019 e que emitiu 2 (dois) pareceres que apontam
possível responsabilidade da Umanizzare em mortes e na entrada de objetos proi-
bidos no presídio”. (AMAZONAS ATUAL, 2020).

3 Inspeção do MNPCT antes da rebelião de 01/01/2017


O Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura – MNPCT43, no
ano de 2015, era um órgão do Comitê Nacional de Prevenção e Combate à Tortura
– CNPCT, criado pela Lei nº 12.847, de 2013, regulado pelo Decreto nº. 8.154, de
dezembro de 2013, amparado nas legislações internacionais, devidamente ratifi-
cadas pelo Brasil, que tratam de violações aos direitos humanos. Tal deliberação
consensual determina que o nosso país combata veementemente qualquer tipo de
violação de seus preceitos, por força do status de norma constitucional, artigo 5º.,
parágrafo 1º., da Constituição Federal – CF.
Em uma ação “premonitória”, ocorrida cerca de 1 (ano) antes do fatídico
primeiro dia do ano de 2017 no Compaj, data da maior rebelião do Amazonas e
atualmente a terceira do Brasil, o MNPCT realizou, entre os dias 7 e 11 de dezem-
bro de 2015, inspeções em algumas unidades prisionais da capital do Amazonas e
no Complexo Penitenciário Anísio Jobim. (BRASIL, 2016, p.2).
39 https://www.bbc.com/portuguese/brasil-51699219;
40 https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2018/02/26/cv-e-familia-do-norte-exploram-no-
va-rota-de-trafico-de-maconha-na-amazonia.htm
41 http://www.seap.am.gov.br/wp-content/uploads/2016/06/CT-Nº-018-2014.pdf;
42 https://amazonasatual.com.br/seap-abre-2-processo-contra-a-umanizzare-pelas-mortes-de-19-presos-
-em-maio-de-2019/
43https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/conteudo/arquivo/2016/06/cf63b40b37ea1db-
c619b2a03e2e76121.pdf

- 94 -
3.1. A distante localização do COMPAJ
Inicialmente, os peritos do órgão fiscalizador constataram que as unidades
visitadas estavam “a cerca de 30 km do centro” da cidade de Manaus, fato que na
intepretação deles dificultaria o acesso das famílias dos presos, obstaculizando “a
manutenção dos laços afetivos”, orientação externada na Lei de Execuções Penais
– LEP , nº 7.210, de 11 de julho de 1984.

3.2. O jovem perfil do preso


O relatório constatou também, uma população carcerária extremamente
jovem, um fato já apontado pelo professor Claudio Beato Filho44 ao asseverar
que “um dos grupos mais numeráveis à violência nos grandes centros, seja como
agressor, seja como vítima, são os jovens”. (BEATO, 2012, p.78).
O pesquisador destaca uma característica similar nos perfis da vítima e do
criminoso: ser jovem, entre 15 e 29 anos, sendo assim “vítimas e algozes” de si
mesmo (Beato Filho, 2012, p. 78).
A faixa etária coincide com a estatística demonstrada pelo DEPEN, desta-
cando que “do universo total de presos no Brasil, 55% têm entre 18 e 29 anos”,
divulgada na edição publicada em dezembro de 2017, no Levantamento Nacional
de Informações Penitenciárias (Infopen) – com dados consolidados referentes a
todo o ano de 2015 e o primeiro semestre de 2016. (DEPEN, 2017).
Nesse sentido, é o estudo desenvolvido por Beato:

Assim, o retrato que emerge das tendências recentes é bastante consistente em


relação ao perfil da violência nos grandes centros urbanos. São pessoas do sexo
masculino (93%), em sua maioria negros (74%), e cada vez mais jovens, viven-
do nas periferias das grandes cidades, membros de gangues matando uns aos
outros. Num dia são agentes e no outro terminam tornando-se vítimas. (BEA-
TO, 2012, p.84).

A mesma circunstância foi constada pelos técnicos do órgão federal, duran-


te a realização da inspeção nos presídios amazonenses, identificando um possível
perfil dos presos, ao afirmarem que os dados catalogados “não se encontram
distantes da realidade de outras regiões e estados do Brasil”, destacando o fato de
os detentos das unidades “serem, sobretudo, pessoas jovens, do sexo masculino,
negros, pardos ou com traços indígenas, com baixa escolaridade, baixa renda e
moradores de espaços populares”. (BRASIL, 2016, p.4).).

3.3. A constante superlotação


O trabalho desenvolvido pelos técnicos do MNPCT identificou, ainda, a
superlotação dos presídios, em sua maioria com capacidade mais que dobrada. A

44 Coordenador do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública, da Universidade Federal de


Minas Gerias – CRISP-UFMG.

- 95 -
unidade havia sido projetada para 454 vagas, e esse número já foi alcançado no
ano da sua inauguração, em 1982.
Em janeiro de 2016, o complexo atingiu sua maior lotação registrada, qual
seja, a de 1.268 presos. Em maio de 2020 esse quantitativo era de 1.060 presos,
mais que o dobro do número inicial previsto – circunstância comumente presente
na realidade prisional brasileira. (BRASIL, 2020).

3.4 Administração – modelo de cogestão


Desde sua inauguração, o Complexo Penitenciário Anísio Jobim foi admi-
nistrado pelo governo estadual. A partir do ano de 1988, passou a adotar o modelo
de cogestão, uma modalidade de parceria público-privada. O estado assumiu a
direção central e os cargos de gerência, enquanto a empresa terceirizada ficou res-
ponsável pelos serviços auxiliares – médicos, psicólogos, dentistas, entre outros
profissionais inerentes ao regular cumprimento da pena, além dos agentes carce-
rários, denominados agentes de “ressocialização”.
No ano de 2003, a empresa Administração Prisional – INAP iniciou o
processo de cogestão no Compaj, sendo sucedida pela Companhia Nacional de
Administração Presidiária – Conap, até o ano de 2004. (FERREIRA; VALOIS,
2012).
Posteriormente, em substituição à Conap, a administradora de unidades
carcerárias Auxílio Agenciamento de Recursos Humanos e Serviços, até 31 de
maio de 2014; sendo sucedida pela Umanizzare Gestão Prisional Privada (de
01/06/2014 a 09/07/2019); e Reviver Administração Prisional Privada Eireli (10
de julho de 2019-até hoje), atualmente regida pelo contrato nº 001/2021-SEAP.
Ainda em relação ao tema de modelo de gestão, a fiscalização realizada no
Compaj, em 2016, alertou sobre o processo de terceirização dos presídios amazo-
nenses. Nesse sentido é o posicionamento do relatório:

O corpo de profissionais, composto por psicólogos, dentistas, médicos, profes-


sores, enfermeiros, assistentes sociais e advogados é contratado pela empresa.
Apenas a direção, a direção adjunta, o responsável pela estatística e os gerentes
de segurança interna e externa são servidores públicos. (BRASIL, 2016, p.5-6).

O modelo de cogestão terceirizada mereceu considerações da entidade fe-


deral, posicionando-se de forma contrária à prática corriqueira do sistema pe-
nitenciário estadual, argumentando que “haveria transferência do exercício de
polícia a terceiros” (BRASIL, 2016, p.15). Citando vários precedentes legais, a
inspeção sugeriu a reforma do sistema, inclusive mencionado a Recomendação
nº 02/2015, elaborada pelo Comitê Nacional de Prevenção e Combate à Tortura –
CNPCT, que é taxativa:
- 96 -
[...] aos Governos Estaduais e Federal a não privatização dos serviços relacio-
nados à custódia de pessoas presas, especialmente no que tange às atividades de
administração prisional, disciplina, segurança, transporte, assistência jurídica,
médica, psicológica e social.

Outro fato relevante apontado pela inspeção foi a alta rotatividade laboral
dos funcionários terceirizados e a falta de atendimento médico adequado, bem
como o acompanhamento psicossocial e jurídico insuficiente. Ressaltando-se,
também, a falta de servidores concursados para o desempenho das funções peni-
tenciárias.
No Amazonas, desde a promulgação da Constituição Federal – CF de 1988,
nunca houve concurso45 para agente penitenciário, agora denominados policiais
penais46, por força da Emenda Constitucional 104. No Pará, o governo do estado
já realizou concursos para suprir as vagas de agentes penitenciários. Essa medida
tem sido positiva no combate à criminalidade, onde se percebe um enfrentamento
mais efetivo às facções do estado. Um novo concurso47 público encontra-se em
andamento objetivando a nomeação de 1.945 novos policiais penais estaduais.

4 Realidade atual
Hodiernamente, o Compaj é destinado ao cumprimento do regime fecha-
do, abrigando apenas os presos sentenciados. Sua capacidade inicial era para 454
presos, quantidade atingida na inauguração. Segundo relatório48 de 28 de maio de
2021, a Secretaria de Estado de Administração Prisional asseverou que o presídio
abrigava 1.060 internos. Na data da última visita do MNPCT, 22 de outubro de
2019, abrigava 976.
Fato relevante apontado nos relatórios do MNPCT (2016 e 2020) refere-se
à “terceirização das funções de agente penitenciário”. Verificou-se que os agentes
terceirizados não concursados são classificados contratualmente como “agentes
de ressocialização e não de segurança prisional,” (BRASIL, 2020, p.68).
Nesse sentido, continuam apresentando “baixas remunerações, simplifica-
ção das atribuições práticas dos agentes penitenciários”; a atividade dos agentes
“dentro dos pavilhões das unidades prisionais, em boa parte se resume a abrir as
celas no início da manhã e fechá-las ao final da tarde”. (BRASIL, 2016, p.19-
20). Atualmente, segundo a SEAP, o Grupamento de Intervenção Prisional – GIP
acessa diuturnamente o interior da unidade para apoiar os agentes terceirizados no
deslocamento dos presos.
45 https://folhadirigida.com.br/concursos/noticias/secretaria-de-estado-de-administracao-penitenciaria-2/
com-apoio-de-moro-amazonas-pede-concurso-para-agente-penitenciario;
46 https://www.camara.leg.br/noticias/621785-promulgada-emenda-constitucional-que-cria-policia-penal-
-para-atuar-no-sistema-prisional/;
47 https://folhadirigida.com.br/concursos/noticias/seap-pa/concurso-seap-pa-2021-edital.
48 Memorando n.º 167/2021-GAB/COMPAJ/RF, em resposta ao Memorando Circular n.º 0057/2021/CO-
SIPE/SEAP, de 28.05.2021.

- 97 -
Em relação aos “monitores de ressocialização” ou agentes de segurança,
a administração informou que existem no período noturno “52 monitores de res-
socialização, 01 supervisor e 02 supervisores adjuntos. Enquanto que no período
noturno são 33 monitores de ressocialização e 01 supervisor”. (AMAZONAS,
2021).
A unidade possui seis pavilhões com 110 celas coletivas, comportando “em
média, entre 9 e 11 detentos” por cela, segundo o Relatório de Inspeção em Esta-
belecimento Prisional, elaborado pela Defensoria Pública do Estado do Amazo-
nas, em 10 de março de 2020. Um dos prédios destina-se às atividades adminis-
trativas da unidade prisional, local onde se encontram o setor de estatística, bem
como a sala da direção. Outro edifício compreende o acesso aos pavilhões, entre
os quais um é voltado às atividades escolares.

Imagem 8: Vista área do Compaj, em 2017.

Fonte: https://amazonasatual.com.br/seap-abre-2-processo-contra-a-umanizzare-pelas-mortes-
-de-19-presos-em-maio-de-2019/

Em 2016, o MNPCT constatou na entrada da unidade a existência de locais


voltados para presos que estavam em condição de seguro49. “Duas ficavam no
corredor de passagem para os cinco pavilhões centrais do Compaj, ao passo que
as outras ficavam no pátio externo da unidade, com acesso a qualquer pessoa que
circulasse pela área ou entrasse na prisão”. (BRASIL, 2016, p.13)
49 São aqueles que, entre outras situações: cometeram crimes sexuais; pertencem a facções rivais; não têm
qualquer envolvimento com facções criminosas ou são ex-membros de alguma facção. Por tais caracterís-
ticas, caso fiquem em contato com a “massa carcerária”, as pessoas no “seguro” podem ser alvos de fortes
represálias, inclusive de morte.

- 98 -
Todos os pavilhões destinados ao convívio diário dos presos obedecem a um
mesmo padrão físico. Logo na entrada há um amplo pátio coberto, cheio de
mesas e bancos em cimento. No pátio externo há um campo de futebol, onde
os presos fazem esportes e outras atividades de lazer. Nas duas laterais desses
pátios ficam dispersas as diferentes celas. Todos locais pareciam relativamente
asseados, com paredes pintadas. Contudo, algumas celas eram bastante escuras
e sem muita aeração. Ao redor da unidade há́ um grande pátio, todo cercado por
um muro bastante alto, com arames farpados. Adicionalmente, estão os espaços
destinados ao descanso dos agentes penitenciários. (BRASIL, 2016, p.13).

Ainda relacionado à atual estrutura do Compaj, a SEAP informou a exis-


tência de uma Unidade Básica de Saúde – UBS em funcionamento no presídio,
UBS COMPAJ – RF, que realizou cerca de 15.915 atendimentos nos últimos 5
anos, possuindo a seguinte estrutura: 5 consultórios, 3 médicos e 6 enfermeiros.
Durante a pandemia ocasionada pela covid-19, a administração da unidade
adotou as medidas de prevenção elencadas no Memorando Circular nº 0061/2021/
COSIPFJSEAP. Nesse sentido, os novos presos ficavam em celas de isolamento
durante 15 dias. Em seguida, era realizada avaliação médica e a triagem para se-
rem alocados nos pavilhões designados.
Notadamente, quando algum interno apresentava sintoma da doença, ele
era isolado na cela da enfermaria para receber a avaliação médica e atendimentos
necessários. Dados oficiais da SEAP indicam que 176 presos foram diagnostica-
dos com o vírus, mas não ocorreu nenhum óbito, embora, até a data mencionada
no documento (AMAZONAS, 2021), nenhum interno do Compaj havia recebido
a vacina contra a covid-19.
Ainda nesse contexto, a administração relata a existência de presos com
deficiências físicas (má formação congênita e hipertrofia muscular), entretanto
afirma existir acessibilidade para eles. O memorando informa, ainda, a presença
de apenas um idoso (61 anos) na unidade, ressaltando que sempre que adentram
presos pertencentes à faixa etária mencionada “são inseridos em acompanhamen-
tos específicos para sua fase de vida”. (AMAZONAS, 2021).
No tocante à estrutura física para acompanhamento psicossocial, a SEAP
esclarece que “houve grande avanço neste quesito, visto que, cada área técni-
ca possui espaços adequados conforme as normativas de suas categorias, o que
proporciona melhor qualidade de atendimento”, asseverando ter proporcionado
“141.148 atendimentos” psicossociais nos últimos 5 anos.
Em relação à estrutura dos parlatórios50 na época de inauguração do pre-
sídio e atualmente, a secretaria penitenciária informou que “a estrutura do parla-
tório era de apenas uma cabine, hoje são 04 cabines”, além de “02 cabines para
videoconferência” (AMAZONAS, 2021). Frisa-se, por oportuno, que o presídio
não possui acomodações para visita íntima.
50 Local para visita social e legal do preso, conforme previsão na LEP, artigo 41,
incisos IX e X.
- 99 -
Na data do informe, 28 de maio de 2021, o Compaj possuía “apenas um
indígena da etnia Kokama em prisão domiciliar, e quando se faz necessário man-
temos contato com o órgão responsável pelos registros indígenas”, possuindo,
também, só um preso estrangeiro, “01 peruano”, destacando-se que “o consulado
foi acionado para a verificação de documentação estrangeira”. (AMAZONAS,
2021).
Respondendo ao questionamento relativo ao local apropriado para os inter-
nos declarados do grupo “LGBTQI+”, a unidade declarou que “possui tal grupo
social, sendo composto por 03 homossexuais e 01 transexual. Uma vez autodecla-
rado, ele é conduzido para avaliação laboral, para que seja alocado em pavilhão
de remição pelo trabalho”. (AMAZONAS, 2021).
De par com isso, o memorando aponta, em resposta ao questionamento do
número de internos em projetos de remição51 por ano, que existiam 156 presos na
remição pelo trabalho; 151 em projetos de leitura; 34 cursando ensino superior
por videoconferência.
Quanto ao bem-estar dos presos do Compaj, conforme informou a SEAP,
eles recebiam, e ainda recebem, 5 refeições diárias; uniformes e calçados, bem
como camas e colchões.
Os presos também recebem assistência religiosa oferecida pelo serviço so-
cial da unidade. São realizados cultos ecumênicos na área de vivência dos pavi-
lhões ou no auditório, dependendo da característica do evento, afirmou a direção
do presídio.
No que tange às visitas dos familiares, a SEAP informou o seguinte:

Ocorrem por meio de agendamento virtual, o que contempla um melhor contro-


le de indivíduos a adentrarem em nossa unidade. Em outros tempos o acesso se
dava por lista de cadastro de visitante. Hoje com a ferramenta de agendamento
virtual há um rigoroso controle das visitas a serem aprovadas, uma vez detecta-
da que tal visita não está apta a adentrar, seu agendamento pode ser cancelado
via aplicativo, permitindo um melhor controle de segurança. É necessário que
a pretensa visita esteja em conformidade com os protocolos que norteiam o
acesso as unidades, tais como: comprovação de vínculo com o interno, certi-
dões criminais negativas, etc. As visitas ocorrem em dois turnos, matutino e
vespertino, das 8 às 11h e de13 às 14 h, em ciclos alternados em um período
de 15 dias. No momento estão suspensas as visitas destinadas as crianças, em
razão da COVID-19, mas normalmente são realizadas na última visita de cada
mês. Nesta unidade, atendendo os protocolos de enfrentamento ao coronavirus.
são destinadas 100 vagas para manhã, e 100 vagas no período da tarde. (AMA-
ZONAS, 2021).

51A remição é um instituto jurídico que visa a redução do tempo de cumprimento de


pena de um apenado, quer seja pelo trabalho, pelo estudo ou ambos, que são realiza-
dos pelo interno dentro do sistema prisional, também previsto na LEP.
- 100 -
5 Criminalidade intra e extramuros – facções amazonenses
Uma constatação, empiricamente conhecida pela sociedade amazonense,
que despertou preocupação do órgão fiscalizador, foi a predominância de facções
criminosas dentro dos estabelecimentos prisionais. O MNPCT alertou, em 2016,
que o Compaj, em sua grande parte, era dominado por integrantes da FDN, aliada,
na época, ao CV; e outra parte minoritária era ocupada pelos presos “estaduais”
(sem facção definida) e membros do PCC.
Segundo interpretação do relatório, in verbis:

As unidades prisionais masculinas são marcadas pela atuação das facções cri-
minosas, a FDN e o PCC. A FDN domina grande parte dos cárceres estaduais.
Já os membros do PCC ficam dispersos nos “seguros” das unidades (....) ou
seja, os cárceres amazonenses estão divididos por facções, o que gera um con-
texto de fortes disputas e tensionamentos entre grupos no sistema penitenciário
estadual. (BRASIL, 2016, p.17).

Ainda nesse sentido, o apequenamento estatal apontado pelo relatório já


era temerário em 2016. O documento publicamente advertiu a sociedade e as
autoridades brasileiras sobre os possíveis desdobramentos da postura inerte do
poder público, conforme assevera o texto abaixo:

Em todo esse contexto, a ação da administração penitenciaria é limitada e omis-


sa diante da ação das facções criminosas, de modo que o estado não exerce sua
função primária de monopólio legítimo da força, em realizar efetivamente a sua
tarefa de supervisão de execução penal. (BRASIL, 2016, p.20).

Nesse diapasão, o MNPCT constatou, na época da inspeção, que os presos


“basicamente se autogovernam, criam regras extralegais ou ilegais que afetam
drasticamente a segurança jurídica”, concluindo que “por estar ausente, o Estado
dificilmente conseguirá averiguar tais fatos devidamente”. (BRASIL, 2016, p.21).
Nos cárceres amazonenses não era cumprida a regra estabelecida no artigo
84 da LEP, consubstanciada em tratados internacionais, visando à separação dos
presos, obedecendo a critérios de grau de periculosidade, antecedência e tipo de
crime cometido.

5.1 Família do Norte – FDN


O grupo criminoso FDN é oriundo da aliança entre dois dos maiores tra-
ficantes de Manaus nos idos de 2006, e desde então impôs forte poderio nas ruas
da cidade e dentro do sistema prisional. Assim, com o passar dos anos, se tornou
a principal facção criminosa da região Norte.

- 101 -
A união dos líderes José Roberto Fernandes Barbosa (Zé Roberto da Com-
pensa) e Gelson Lima Carnaúba (Mano G) objetivava o controle total das rotas
de drogas nortistas, assim como a imposição da nova facção perante as demais
organizações criminosas do país que começavam a se destacar nos estados ama-
zônicos.
O comando identificado na Operação “La Muralha”52, Polícia Federal53,
deflagrada em novembro de 2015, o relatório final54 da investigação de conheci-
mento público55, datado de 19 de janeiro de 2015, é esclarecedor:

Nas regras e pilares de hierarquia e disciplina existentes em seu estatuto, a FA-


MÍLIA DO NORTE – FDN rapidamente se estruturou e se sustenta, sendo que
a regra número um é que nada é feito ou definido sem a ordem ou aprovação
de seus fundadores e principais lideranças, quais sejam, GELSON LIMA CAR-
NAÚBA, vulgo “G” e JOSÉ ROBERTO FERNANDES BARBOSA, antigo
traficante do bairro COMPENSA, conhecido pelas alcunhas de “Z”, “MESSI”
e/ou “PERTUBA”, que integrariam o “COMANDO”, possuindo a palavra final
sobre todos os assuntos da organização. (ESTADÃO, 2017, pg. 19)

Dentro dos muros dos presídios federais, os líderes da FDN uniram-se aos
do CV. Essa união é explicitada no relatório da operação da PF: “A aliança entre
as facções FDN e CV teria sido fechada no Presídio Federal de Campo Grande,
pelas lideranças Gelson Carnaúba, representando a FDN, e Caçula56, representan-
do o CV”. (ESTADÃO, 2017, pg. 30-31).
No entanto, nos meses derradeiros de 2016, uma grande cisão interna acon-
teceu na FDN, fato que ocasionou, no início de 2017, ordens de execuções dos
desafetos em toda a cidade de Manaus. Fato corroborado no inquérito policial da
Operação “La Muralha”:

Diversas mensagens interceptadas deixam claro que a FDN possui uma forte
relação ou aliança com o COMANDO VERMELHO – CV, facção criminosa
do Estado do Rio de Janeiro, e uma espécie de rixa com os membros da facção
PRIMEIRO COMANDO DA CAPITAL – PCC, existindo, inclusive, planos
para o assassinato de todos os membros desta organização criminosa paulista
que se encontram presos em Manaus (pelo menos 03 das principais lideranças
52 https://veja.abril.com.br/brasil/grampos-da-policia-federal-mostraram-plano-da-fdn-para-atacar-pcc/;
53http://www.adpf.org.br/adpf/admin/painelcontrole/materia/materia_portal.wsp?tmp.edt.materia_codi-
go=8605&tit=Operacao-da-Policia-Federal-mostrou-plano-da-FDN-para-atacar-PCC#.Ym8Opy_5RQI;
54 Relatório Final da Operação “La Muralha”, Polícia Federal, Superintendência Regional no Amazonas,
Delegacia de Repressão a Entorpecentes – DRE, IPL nº: 222/2014- SR/DPF/AM, Processo n º: 5276-
25.2015.4.01.3200 2a VF/AM, pg.19, janeiro de 2015.
55 https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/wp-content/uploads/sites/41/2017/01/Relatório-fi-
nal-IPL-222-de-2014-DRE-OPERAÇÃO-LA-MURALLA.pdf.
56 https://agorarn.com.br/brasil/investigadores-apontam-necessidade-de-bloquear-comunicacao-entre-li-
derancas-da-fdn/.

- 102 -
do PCC foram brutalmente assassinados nos últimos meses pela FDN dentro do
sistema, conforme se verá mais adiante). (ESTADÃO, 2017, pg. 30-31)

A segunda separação dentro da FDN ocorreu em maio de 201957, gera-


da por rachas entre as lideranças. Dita cisão concretizou-se na execução de 55
(cinquenta e cinco) detentos correlacionados a outra liderança, comandada por
João Pinto Carioca, o João Branco, em diversas unidades prisionais da capital,
inclusive no Compaj.
Aquele fato mundialmente noticiado não gerou outra facção, mas sim a
migração de então aliados da FDN para o CV, além da captura do alto escalão da
Família do Norte que estava em liberdade. Hodiernamente, os líderes estão presos
em presídios federais.

5.2 – Comando Vermelho - CV x Primeiro Comado da Capital - PCC


O Brasil é um dos maiores mercados distribuidores e consumidores de co-
caína, com um consumo que supera o dos Estados Unidos, sendo quatro vezes
maior que a média mundial. É o que dizem os dados publicados pelo Escritório
de Drogas e Crimes da Organização das Nações Unidas (UNODC, na sigla em
inglês).
A ONU afirma que houve uma contração nos mercados dos Estados Unidos
e da Europa e revela que, na última década, o Brasil passou a ser o maior centro
de distribuição da droga no mundo, citado em 56 países como local de trânsito da
cocaína.
O Brasil foi mencionado 1.700 vezes como local de trânsito da droga
entre 2005 e 2014. Em número de citações, é superado apenas pela Argentina,
mencionada em 2.100 casos. Nesse sentido, a UNODC afirmou que “Por causa de
sua posição geográfica, o Brasil tem um papel estratégico no tráfico de cocaína.
A droga entra no país por avião, por terra (carros, caminhões e ônibus) ou por rio
(barcos que cruzam o Amazonas) antes de ser enviada para o exterior”. (UNODC,
2021).
O consumo da cocaína na América do Sul preocupa as autoridades. A pre-
valência da droga na região passou de 0,7% da população em 2010 – com 1,8
milhões de usuários – para 1,2% em 2012, com 3,3 milhões de pessoas. As taxas
sul-americanas são três vezes maiores que a média mundial e parte do aumento
teria ocorrido por causa dos mercados do Chile e da Costa Rica.
Ainda segundo a ONU, o aumento do uso de cocaína na região é liderado
pelo crescimento do consumo da droga no Brasil, o maior mercado da América
do Sul. “Apesar de não haver uma pesquisa recente no Brasil, estima-se que a

57 https://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/entenda-o-que-a-disputa-nacional-entre-faccoes-tem-a-ver-
-com-a-barbarie-no-presidio-do-amazonas.ghtml

- 103 -
prevalência do uso da cocaína seja de 1,75% da população adulta do país”, alertou
a organização. (UNODC, 2021).
Somando todas as drogas ilícitas, a ONU estima que existam 246 milhões
de usuários no mundo (cerca de 5% da população entre 15 e 64 anos), dos quais
27 milhões de pessoas seriam dependentes. Os números das apreensões são des-
tacados no relatório:

Entre os 15 países que relataram as maiores quantidades de cocaína apreendidas


em 2019, 10 estavam localizados nas Américas, 4 na Europa Ocidental e Cen-
tral e 1 na Ásia. A maior parte da cocaína apreendida em todo o mundo continua
sendo apreendida nas Américas, que respondeu por 83% da quantidade global
intercetada em 2019, sendo a maioria apreendida na América do Sul. A quanti-
dade total de cocaína apreendida na América do Sul aumentou 5% entre 2018 e
2019, para 755 toneladas, um recorde, com a maioria dos países da sub-região,
incluindo Bolívia (Estado Plurinacional de), Brasil, Colômbia e Peru, relatórios
aumentam. (UNODC, 2021, p. 17). (grifo nosso).

No cenário amazônico58, região que faz fronteira com os maiores produto-


res de cocaína do mundo, Colômbia, Peru e Bolívia, o Comando Vermelho59 vem
dominando o tráfico de drogas nos principais estados do Norte. Esse domínio,
porém, não é hegemônico, visto que o PCC aos poucos tem ganhado espaço nessa
disputa.
Os dados colhidos em apreensões na Europa confirmam a hegemonia des-
ses países e a participação do Brasil na distribuição da droga:
Testes forenses de amostras de cocaína de apreensões de carregamentos
contrabandeados para a Europa Ocidental e Central confirmaram que a cocaína
traficada para a Europa tem origem principalmente na Colômbia (68 %) e, em
menor grau, no Peru (19%) e no Estado Plurinacional da Bolívia (4 %). Embora a
maioria da cocaína traficada para a Europa continue sendo originária e partindo da
Colômbia, o Brasil é cada vez mais relatado como um país de trânsito de onde os
carregamentos de cocaína partem para a Europa. (UNODC, 2021, p. 29).
A United Nations Office on Drugs and Crime – UNODC, Escritório de
Drogas e Crimes da Organização das Nações Unidas (ONU), publicou em junho
de 2021, o World Drug Report 2021.

58 https://amazoniareal.com.br/o-crime-organizado-na-amazonia/;
59 https://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/609989-manaus-e-mais-tres-cidades-do-amazonas-sao-ataca-
das-pelo-comando-vermelho;

- 104 -
Mapa 1 – Principais países identificados como locais de origem e trânsito de remessas de
cocaína, conforme descrito pelas apreensões relatadas, 2015–201960

Fonte: UNODC (2021)

Procurando expandir a distribuição de cocaína a partir do continente africa-


no, uma liderança do PCC, Gilberto Aparecido dos Santos, o Fuminho61, foi preso
em Moçambique, numa ação em conjunto da Polícia Federal, apoiada pela Drug
Enforcement Administration – DEA e a polícia local, em abril de 2020.
Corroborando essa situação, em 2019, “já havia sido identificada a movi-
mentação de Fuminho pela África. Para policiais civis de São Paulo, o traficante,
que estava baseado na Bolívia, costumava viajar constantemente ao Brasil por
negócios”. (ADORNO e COSTA, 2020).
A prisão do traficante pela PF foi estratégica para o combate à criminali-
dade transfronteiriça, notadamente na África, conforme afirma o texto da repor-
tagem:
Investigadores dizem que, recentemente, Fuminho negociava drogas e armas
em diversos países africanos, estabelecendo uma rede de parceiros, principal-
mente com nigerianos. Essa parceria com nigerianos é antiga. Alguns sócios do
país africano estariam escalados, por exemplo, para tentar resgatar Marcola da
prisão, em 2018, 2019 e 2020. Além disso, o traficante mantinha empresas de
fachada, para lavagem de dinheiro. (ADORNO e COSTA, 2020).(grifo nosso)
60 Os países em verde (Colômbia, Peru e Bolívia) são mencionados como origem/embarque da droga. Os
países destacados em várias tonalidades de vermelho, são mencionados como trânsito das remessas de co-
caína. Um tom mais escuro indica uma maior quantidade de cocaína apreendida com o país como origem/
trânsito da remessa, de acordo com as informações sobre rotas de tráfico fornecidas pelos Estados-Mem-
bros no questionário do relatório anual da UNODC, apreensões individuais de drogas e outros documentos
oficiais, ao longo do período 2015-2019.
61 https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2020/04/14/preso-em-mocambique-fuminho-pla-
nejava-controlar-trafico-na-africa.htm

- 105 -
Nesse contexto, destaca-se o fato do Brasil ter sido “o país mais frequen-
temente relatado pelos países africanos como país de origem, partida ou trânsito
de remessas de cocaína, respondendo por 47% de todas essas notificações”, con-
forme afirmação do Escritório de Drogas e Crimes da Organização das Nações
Unidas:

A quantidade total de cocaína apreendida na África aumentou de 1,2 toneladas


em 2015 para 12,9 toneladas em 2019, um aumento de dez vezes em cinco
anos. No entanto, essa quantidade foi equivalente a 0,9% da quantidade glo-
bal de cocaína apreendida em 2019, o que, em combinação com a prevalên-
cia comparativamente modesta do uso de cocaína na região,62 sugere que o
continente pode não ser um grande mercado de destino da cocaína. Como não
houve relatos de qualquer reforço significativo da capacidade de aplicação da
lei nos últimos cinco anos, é provável que o aumento na quantidade de cocaína
apreendida reflita o crescimento real dos fluxos de tráfico de cocaína de e para
África, principalmente para e via África Ocidental e Central e Norte de África,
que representaram, respetivamente, 54 e 39 por cento da quantidade total de
cocaína apreendida em África no período 2015-2019. Isto sublinha claramente
o domínio destas duas sub-regiões no tráfico de cocaína que afeta África. As
apreensões de cocaína em trânsito para, dentro e fora da África destacam o
papel contínuo do continente no mercado global de cocaína. O principal país de
saída dos embarques para a África parece ser o Brasil possivelmente devido à
sua infraestrutura comercial e ligações linguísticas com alguns países africanos.
No período de 2015 a 2019, o Brasil foi o país mais frequentemente relatado
pelos países africanos como país de origem, partida ou trânsito de remessas
de cocaína, respondendo por 47% de todas essas notificações (excluindo pa-
íses africanos de partida e trânsito). Em contraste, a Colômbia respondeu por 16
por cento, o Peru por 7 por cento, o México por 4 por cento e a República Bo-
livariana da Venezuela por 4 por cento. (UNODC, 2021, p. 29). (grifos nossos)

- 106 -
Mapa 2 – Principais países identificados como origem62 e destino de remessas de cocaína,
conforme descrito pelas apreensões relatadas, 2015–2019

Fonte: UNODC (2021)

Para evitar esse domínio63, o Primeiro Comando da Capital64 estaria em


busca de novas alianças com facções locais, inclusive com a FDN.

Dois fatores desencadearam a guerra entre PCC e CV (...). O primeiro


deles foi a morte, durante uma emboscada, do traficante Jorge Rafaat
Toumani65, em junho de 2016 na cidade de Pedro Juan Caballero, fron-
teira com o Mato Grosso do Sul. Ele era considerado pelos Estados
Unidos como um dos barões do tráfico internacional de drogas e armas
na fronteira e informes obtidos pela polícia apontariam atuação do PCC
no ataque. O segundo fator foi um rompimento bilateral das facções
após apoio do CV a grupos rivais do PCC em vários estados. (STO-
CHERO, 2017).

No ano de 2020, houve uma diminuição do efetivo da FDN com a migração


de suas mais importantes lideranças para o CV66, fato que alterou sobremaneira
o cenário criminal no Estado. O CV/AM solidificou-se, expandiu seus domínios
62 Os países em verde (Colômbia, Peru e Bolívia), são mencionados como origem/embarque da droga.
Os países destacados em várias tonalidades de vermelho, são mencionados como destino das remessas de
cocaína. Um tom mais escuro indica uma maior quantidade de cocaína sendo apreendida com o país como
fonte/destino da remessa, de acordo com as informações sobre rotas de tráfico fornecidas pelo Membro
Estados no questionário do relatório anual, apreensões individuais de drogas e outros documentos oficiais.
A fonte pode não refletir o país em que a substância foi produzida. Os principais países mencionados como
origem ou destino foram identificados com base no número de vezes que foram identificados por outros
Estados-Membros como partida ou destino das apreensões e no montante médio anual que essas apreensões
representam durante o período 2015-2019.
63 https://brasil.elpais.com/brasil/2016/10/25/politica/1477406310_192891.html;
64 https://www.acritica.com/manaus/de-aliadas-a-rivais-saiba-o-que-causou-a-guerra-entre-a-fdn-e-co-
mando-vermelho-1.56303;
65 https://www.bbc.com/portuguese/internacional-36556336;
66 https://veja.abril.com.br/brasil/terror-em-expansao-o-comando-vermelho-avanca-no-norte-do-brasil/;

- 107 -
nos bairros e presídios de Manaus, bem como no município da Tabatinga/AM, na
tríplice fronteira Brasil-Peru-Colômbia.
O CV/AM também detém o controle da maioria das unidades prisionais
do Amazonas, possuindo as principais lideranças dentro do sistema correcional.
Apesar desse fato, o domínio do CV no Amazonas, que começou em fevereiro
de 2020, está ameaçado pela aliança entre as demais facções, inclusive a outrora
improvável união entre a FDN, atualmente Cartel do Norte – CDN, o PCC, e uma
nova fação denominada Revolucionários do Amazonas – RDA 67.
Nessa seara, a FDN aproximou-se do Primeiro Comando da Capital no
Amazonas. Essa aproximação foi articulada pelos líderes de ambas as facções,
com apoio da “sintonia dos gravatas” (núcleo de apoio jurídico da facção cri-
minosa), buscando também uma aliança com a facção fluminense do Terceiro
Comando Puro – TCP, atual aliada do PCC, no Rio de Janeiro, e inimiga do CV.
Derradeiramente, o relatório foi em fático asseverando que as “unidades
prisionais devem ser administradas pelo pessoal técnico penitenciário e não pelos
presos”, conforme recomendação do SPT68 para o Brasil (2012) e, que seja “ga-
rantida a imediata separação dos presos com base em critérios objetivos estabele-
cidos em normas nacionais e internacionais”. (BRASIL, 2016, p.38-39).
Atualmente, a justiça criminal vivencia uma crise sem precedentes, ori-
ginada pela ineficácia das políticas públicas de combate à criminalidade, que in-
cham o sistema prisional, como também geram descrença na ressocialização dos
apenados. É um sistema que se retroalimenta do crime em todas as suas esferas,
enquanto os figurantes do sistema não dialogam.
O poder intimidatório das fações, envolto na espiral tentativa de domina-
ção territorial, continua sendo usado para transformar um simples autor de “furto
no mercadinho” em mais um traficante do bairro, após ser catapultado para dentro
do presídio, entrelaçado pela disforme “massa carcerária”, exposto a uma lideran-
ça fictícia, apoiado pela “nova família”.
Fato recorrente dentro da grande “agência de trabalho do crime”, bene-
ficiada pelo crescente aumento da população carcerária, as facções criminosas
produzem todo tipo de “mão de obra” delituosa.
O relatório do MNPCT (2016), difundido cerca de um ano antes do fatídico
primeiro dia de 2017, data histórica e emblemática, marcando o hoje considerado
terceiro maior massacre do país, forjado nas paredes do Compaj, foi peremptório
ao tentar equalizar as problemáticas enfrentadas pelo maior presídio do Amazo-
nas. Incapaz de evitar a tragédia, mas cirúrgico ao apontar as possíveis sequelas

67 https://emtempo.com.br/27686/policia/membro-do-cv-responsavel-por-mortes-do-
-rda-e-pcc-e-preso-em-manaus/.
68 David Émile Durkheim - Sociólogo, psicólogo social e filósofo francês.

- 108 -
de um sistema que se “autogoverna”, onde os mecanismos de poder, como lembra
Foucault, ainda são primitivos e sanguinários, mesmo a humanidade vivenciando
o terceiro milênio.
O jovem pardo e/ou indígena, entre 15 e 29 anos, carente, morador dos
bairros da periferia da cidade, muitas vezes réu primário, é facilmente lançado
dentro dos grupos criminosos que comandam os cárceres, intimidados por grupos
criminosos organizados em estruturas hierárquicas empresariais. O “polo indus-
trial” carcerário amazonense gerado pelo sistema de justiça criminal continua em
plena operação no Compaj.
Derradeiramente, entendemos que os levantamentos apresentados por esse
estudo e os aspectos abordados possam contribuir para o desenvolvimento de tra-
balhos posteriores, visto que não possui a pretensão de esgotar a problemática de
origem multicausal.

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- 111 -
- 112 -
CAPÍTULO VIII

ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DO REGIME


SEMIABERTO MASCULINO DA CIDADE DE
MANAUS
STRUCTURE AND FUNCTIONING OF THE MALE SEMI-
OPEN REGIME IN THE CITY OF MANAUS

Arthur Sant’Anna Ferreira Macedo69


Diêgo Luiz Castro Silva70
Dorli João CArlos Marques71

Este texto compõe o estudo intitulado “Dossiê das Unidades Prisionais do


Estado do Amazonas” que tem por objetivo apresentar a origem histórica, a traje-
tória e a situação atual das principais unidades prisionais do Estado do Amazonas.
O presente estudo tratará acerca da unidade do semiaberto masculino, tra-
zendo à lume o modo de cumprimento da pena no aludido regime desde a sua
inauguração até os tempos atuais. Nesse sentido, o texto pretende saber quais
foram as etapas históricas de funcionamento do regime semiaberto até chegar na
forma atual, explorando o seu funcionamento e investigando se é satisfatório ou
se precisa de melhorias e, sendo o caso, quais seriam elas?
A importância do resgate histórico e da abordagem atual sobre o funciona-
mento da unidade do regime semiaberto é de grande valia para estudantes, pes-
quisadores e profissionais que atuam na área do direito, pois o texto contará com
informações úteis e relevantes que servirão de base tanto para outras pesquisas,
quanto para atuação na área profissional, além de guardar utilidade à gestão ad-
ministrativa, haja vista a análise crítica do sistema semiaberto na atualidade ma-
nauara, sob a perspectiva também de operadores do Direito em trato direto com o
público alvo da unidade prisional.
69 Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Amazonas, Pós-Graduado em
Direito Civil e Processual Civil pelo CIESA, Defensor Público, Membro do Conselho
Penitenciário do Estado do Amazonas, Mestrando em Segurança Pública, Cidadania e
Direitos Humanos da Universidade do Estado do Amazonas.
70 Mestrando em Segurança Pública, Cidadania e Direitos Humanos (UEA); Pós-
-graduação Lato Sensu em Prestação Jurisdicional e Direitos Humanos pela Escola
Superior da Magistratura Tocantinense (ESMAT), e em Direito Processual Civil pela
Faculdade Damásio. Defensor Público do Estado do Amazonas. Titular do Núcleo de
Atendimento Prisional. e-mail: dlcs.msp21@uea.edu.br.
71 Professor dos Programas de Pós-Graduação em Direito Ambiental e Segurança
Pública, Cidadania e Direitos Humanos da Universidade do Estado do Amazonas –
UEA. Pesquisador Líder do Grupo Interdisciplinar de Estudos da Violência.
- 113 -
A Unidade do Semiaberto de Manaus teve início em 1982,foi inaugurada a
Colônia Agrícola, local destinado ao cumprimento de pena em regime semiaberto.
Mais tarde, no ano de 1999, sob a gestão do Governador Amazonino Mendes, a
Colônia Agrícola passou a integrar o Complexo Penitenciário Anísio Jobim, loca-
lizado na Rodovia BR 174, Km 8 s/nº, na cidade de Manaus.
Todavia, cabe destacar que somente após a alteração promovida pela Lei
n.º 7.209/84, 11 de julho de 1982, no Código Penal, que a Colônia Agrícola pas-
sou a ser utilizada para o cumprimento da pena em regime semiaberto.
Após o fatídico massacre de 2017, a unidade do regime semiaberto foi
desativada, passando os apenados do referido regime a serem monitorados por
tornozeleira eletrônica pelo Centro de Operações e Controle, consoante a decisão
exarada, no dia 9 de fevereiro de 2018, nos autos n.º 0203049-84.2017.8.04.0001,
da Vara de Execuções Penais da Comarca de Manaus do Tribunal de Justiça do
Estado do Amazonas.
A unidade do regime semiaberto é gerida pela própria Secretária de Admi-
nistração Penitenciária - SEAP - e atualmente está situada na Avenida Codajás,
Cachoeirinha, nº 400, Manaus/AM. Todavia o monitoramento eletrônico é ter-
ceirizado para a empresa SYNERGY, por meio de contrato administrativo, sob
coordenação do Centro de Operações e Controles - COC/SEAP.
O Centro de Operações e Controles - COC/SEAP -, é como se fosse um
presídio virtual. O COC cuida de todas as pessoas em monitoramento, prisão do-
miciliar e cautelar e semiaberto. Ao passo que o regime semiaberto, por mais que
funcione somente virtualmente, tem Direção própria (atualmente o Diretor é o
Matheus Rocha, civil) e funções próprias, estatísticas e políticas de reinserção.
Ambos setores funcionam na mesma localidade e estão vinculados à SEAP.
O objetivo deste capítulo é apresentar a gênese, as transformações que a
unidade sofreu ao longo do tempo e apresentar sua situação atual, tecendo, tam-
bém, algumas críticas e sugestões.
A base de dados da pesquisa foram as informações disponibilizadas pela
SEAP, documentos históricos, jornais de época, acervo da Defensoria Pública,
sob produção ou guarda dos coautores, bem como realizada a entrevista com o
Coordenador do COC/SEAP, 1º Tenente Tales Renan S. Silva.
As tipologias adotadas no delineamento da pesquisa foram as seguintes:
quanto aos objetivos, a pesquisa foi descritiva; quanto aos procedimentos, foi
bibliográfica e documental e quanto ao à abordagem do problema, a pesquisa foi
quali-quantitativa.
Por fim, o artigo se dividirá em três capítulos que abordarão, respectiva-
mente, a estrutura da unidade do regime semiaberto masculino, as causas que cul-
minaram com a interdição do local físico destinado ao cumprimento da pena no
regime semiaberto e sobre o atual modo de funcionamento do regime semiaberto.
As críticas e sugestões foram resguardadas nas considerações finais.

- 114 -
Estrutura Da Unidade Prisional
O antigo local onde estava situado o regime semiaberto foi construído em
uma área de 37.800 m², possuindo dois pavilhões e um galpão para alocação dos
apenados. A unidade tinha capacidade para abrigar 138 apenados72, não obstante,
consoante informações prestadas pela SEAP, em 18 de agosto de 2016, havia 572
pessoas custodiadas na unidade.

Fotografia 01 – Imagem da unidade quando da sua implantação73:

Fonte: Autos/TJAM n.º 0203049-84.2017.8.04.0001.

A unidade do semiaberto possuía uma sala que funcionava como enfer-


maria, um campo de futebol e uma quadra de esportes74. Não havia médicos na
unidade. Se necessário, o apenado era encaminhado para as unidades de saúde
extramuros.
Segundo o Conselho Nacional do Ministério Público, em 2019 o estado
do Amazonas vivenciava um estado de coisas inconstitucional em virtude dos
seguintes fatores: superlotação das unidades prisionais, ausência do Estado no
controle das dependências dos estabelecimentos penais, baixo número de pessoas
privadas de liberdade participando de projetos de ressocialização por meio do tra-
balho ou estudo, além do elevado número de ocorrências relacionadas à disciplina
e integridade física delas (CNMP, 2019).
72 O sujeito será considerado “apenado”, ou seja, alguém que cumpre uma pena, ou também “reeducando”,
sendo a última expressão muito utilizada quando se quer dar um caráter de ressocialização à pena criminal
(TALON, 2018).
73 Fotografia 01 - Divisórias das celas da unidade semiaberto, no Qr Code. Fonte: Autos/TJAM n.º
0203049-84.2017.8.04.0001.
74 Fotografia 02 - quadro de esportes da unidade semiaberto, no Qr Code. Fonte: Autos/TJAM n.º 0203049-
84.2017.8.04.0001.

- 115 -
Fotografia 03: Foto da pia de cozinha75:

Fonte: Autos/TJAM n.º 0203049-84.2017.8.04.0001.

Nesse sentido, ainda verificou que o número de apenados abrangidos por


projetos de remição era ínfimo em relação ao total de pessoas custodiadas no se-
miaberto. Isso porque apenas 132 internos dos 567 existentes, à época, realizavam
algum tipo de trabalho, seja dentro ou fora da unidade prisional.
Após o massacre ocorrido no COMPAJ-Fechado no primeiro dia de janei-
ro do ano de 2017 (ALESSI, 2017), houve a desativação da unidade do regime
semiaberto, através de decisão nos autos de nº 0203049-84.2017.8.04.0001, pas-
sando os apenados do referido regime a cumprirem pena mediante a utilização
de tornozeleira eletrônica, sob a fiscalização do Centro de Operações e Controle
- COC, localizado na Avenida Codajás, Cachoeirinha, nº 400, Manaus/AM.
Cabe salientar que até o dia 15 de julho de 2021, consoante informações
disponibilizadas pela SEAP, havia 3.596 (três mil, quinhentos e noventa e seis)
apenados cumprindo pena em regime semiaberto com a utilização de tornozeleira
eletrônica.

Causas Da Interdição Da Unidade Prisional Do Regime Semiaberto


O massacre ocorrido no COMPAJ-Fechado foi o estopim para a desativa-
ção da unidade do regime semiaberto, tendo em vista que, segundo informações
expedidas pelo Governo do Estado do Amazonas, a população carcerária locali-
zada no regime semiaberto do COMPAJ deu apoio à rebelião iniciada no COM-
PAJ/Fechado abrindo passagem através da muralha que dividia os dois regimes,
adentrando ao regime fechado com armas, granadas e outros objetos utilizados
75 Fotografia 03: Fotos das celas e das instalações de energia no Qr Code.

- 116 -
pelos rebelados, concomitantemente, internos utilizaram a passagem aberta para
a fuga (CNJ, 2019).
Com a finalidade de reforçar a segurança no sistema prisional, realizando
procedimentos de varredura na unidade prisional do regime semiaberto, a Se-
cretaria de Administração Penitenciária - SEAP ingressou com pedido de provi-
dências na Vara de Execução Penal da Comarca de Manaus/AM, autuado sob o
número 0203049-84.2017.8.04.0001, requerendo a transferência dos apenados do
regime semiaberto para o cumprimento da pena mediante prisão domiciliar com o
uso de tornozeleira eletrônica.
Em ato posterior, a Defensoria Pública do Brasil, formada pelas Defenso-
rias Públicas dos Estado, do Distrito Federal e dos territórios e a Defensoria Públi-
ca da União, requereu o ingresso nos autos de pedido de providências, postulando
a interdição total da unidade do regime semiaberto. Para consubstanciar o pedido
de interdição da unidade, a Defensoria Pública juntou aos autos relatório de ins-
peção realizado no COMPAJ/Semiaberto, no dia 13 de fevereiro de 2017, tendo
sido constatado diversos problemas que impediam o funcionamento permanente
da referida unidade.
Foi apontado pela Defensoria Pública que o local de cumprimento de pena
do regime semiaberto não tinha nenhuma característica de unidade de regime se-
miaberto descrita na Lei de Execuções Penais. Relatou-se sobre a capacidade da
unidade suportar apenas 138 (cento e trinta e oito) vagas, possuindo uma estrutura
dotada de dois pavilhões sem condições mínimas de funcionamento e um galpão
dividido por madeira compensada sem característica de cela76. Abordou-se sobre
ausência de condição de habitabilidade do local, bem como a falta de segurança,
referindo-se, ainda, à inexistência de controle de entrada e saída das pessoas pri-
vadas de liberdade no regime semiaberto.
Em decisão, datada de 9 de fevereiro de 2018, o juízo da Vara de Execução
Penal reconheceu a ausência de condições de funcionamento do local onde era
cumprido o regime semiaberto e decidiu por interditá-lo definitivamente, funda-
mentando suas razões na dificuldade de acesso do apenado devido à localização
da unidade, distante das demais regiões da cidade de Manaus, bem como na pro-
ximidade com o local de cumprimento de pena no regime fechado. Além desses
fatores, o juízo levou em consideração a precariedade estrutural da unidade, a
condição de superlotação que se apresentava e, com isso, a impossibilidade de
fiscalização e controle sobre a população carcerária.

Atual Modo De Funcionamento Do Regime Semiaberto


Hodiernamente, o regime semiaberto está funcionando com a utilização
de tornozeleira eletrônica. O indivíduo que tiver que cumprir pena em regime

76 Fotografia 04 - Instalações sanitárias e de cozinha no Qr Code. Fonte: Autos/TJAM n.º 0203049-


84.2017.8.04.0001.

- 117 -
semiaberto necessariamente deverá fazer uso do referido dispositivo tecnológico
até que consiga a progressão de pena para o regime aberto ou lhe seja concedido
o direito de ir para livramento condicional.

Imagem 01 – Modelo de tornozeleira eletrônica usada atualmente:

Fonte: Disponível: <https://www.synergye.com.br/tornozeleira.php>.


Acesso em: 04 ago. 2021.

Caso o condenado no regime semiaberto queira dar início voluntariamente


ao cumprimento da pena, se o apenado estiver em liberdade provisória ou prisão
domiciliar com tornozeleira, para seguir para o regime semiaberto sem interrup-
ção, é realizada somente uma alteração no sistema quando da apresentação no
COC/SEAP com a guia de recolhimento.
Em relação à pessoa que estava em liberdade provisória sem a tornozeleira,
será necessário se apresentar na POLINTER (21ª DIP do São Jorge) ou qualquer
Delegacia, às 8h, para submissão à audiência de custódia. O juízo da custódia,
julgando a regularidade do início do cumprimento da pena, encaminha o apenado
ao CRT, a fim de procederem ao cadastro da tornozeleira e somente após isso, o
indivíduo é apresentado no COC/SEAP para ativação do dispositivo. Nesse caso,
para a apresentação do apenado é imprescindível que haja o mandado de prisão, a
guia de recolhimento e a ficha do réu expedidas pelo juízo da condenação.
Para a instalação da tornozeleira eletrônica que ocorre no Centro de Opera-
ções e Controle - COC/SEAP, há 4 servidores e 9 estagiários para o atendimento.
Este órgão é gerido pela própria Secretaria de Administração Penitenciária e co-
ordenado por um servidor público.
No que tange à disponibilização, à instalação e à fiscalização do equipa-
mento eletrônico, tais procedimentos são realizados por empresa terceirizada con-

- 118 -
tratada, denominada SINERGYE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO LTDA77,
possuindo a incumbência de monitorar e fiscalizar cada apenado durante 24 horas
por dia, por meio do sistema CHRONOS.
Cabe salientar que o contrato de terceirização contempla todo o estado do
Amazonas e cada tornozeleira eletrônica ativada custa mensalmente o valor de
R$ 283,00 (duzentos e oitenta três reais)78. À princípio o contrato contempla a
quantidade de 8.000 tornozeleiras.
Quando da pesquisa, existiam 5.370 tornozeleiras ativas, computando-se
nesse número as pessoas em cumprimento de pena no regime semiaberto (3.596
ativas.), em cumprimento de medida cautelar diversa da prisão (CPP, art. 319, IX)
ou em prisão domiciliar.
A instalação da tornozeleira eletrônica pelo apenado é realizada na sede
do COC, situado no prédio localizado na Avenida Codajás, número 400, bairro
Cachoeirinha. Após a instalação do dispositivo, o apenado recebe um Termo de
Anuência do Monitoramento Eletrônico. A partir do momento que o indivíduo dá
entrada no COC/SEAP, há a orientação, através de vídeos informativos, sobre a
utilização do equipamento, recebendo, inclusive, uma cartilha impressa com as
regras de conservação e manutenção da tornozeleira.
Depois de instalado o equipamento eletrônico no apenado, a empresa SI-
NERGYE recebe as informações necessárias para proceder ao monitoramento. O
referido monitoramento é feito a partir da sede da empresa, situado no estado de
São Paulo, contando com 25 funcionários para a realização desse serviço.
Todavia, a SINERGYE possui 9 funcionários presentes na cidade de Ma-
naus responsáveis por instalar a tornozeleira eletrônica e as manutenções físicas
necessárias, quando é entregue para o usuário um termo de acompanhamento de
todos os serviços realizados, o qual integra o relatório fornecido ao Judiciário,
caso necessário.
Atualmente, a tecnologia utilizada na tornozeleira eletrônica é a 2G e a
3G. A distinção entre elas é o tempo de ativação e a cobertura de rede; para a
primeira, em torno de 15 a 30 minutos; para a segunda, em torno de 2 minutos e
tem cobertura mais ampla. A tecnologia utilizada é semelhante à utilizada em um
celular, somada às posições de GPS. A tornozeleira utiliza a rede de qualquer das
operadoras de telefonia. Todavia, as redes da Vivo e da Claro atendem melhor a
cidade de Manaus e a região metropolitana.

77 O prazo de vigência deste contrato é de 12 meses (de 01.02.2021 a 01.02.02.2022), podendo ser pror-
rogado na forma da legislação vigente. (SECRETARIA DE ADMINISTRAÇÃO PENITENCIÁRIA DO
AMAZONAS).
78 O valor global estimado do contrato é de R$ 27.168.000,00 (vinte e sete milhões, cento e sessenta e oito
mil reais) e o valor mensal estimado é de R$ 2.264.000,00 (dois milhões duzentos e sessenta e quatro mil
reais), perfazendo um total de 8.000 (oito mil) tornozeleiras contratadas. (SECRETARIA DE ADMINIS-
TRAÇÃO PENITENCIÁRIA DO AMAZONAS).

- 119 -
Hoje, 92% das tornozeleiras já possuem tecnologia 3G, mas a intenção é de
que até o mês de outubro de 2021, a SEAP consiga alcançar o patamar de 100%
das tornozeleiras com tecnologia 3G, uma vez que a manutenção deste equipa-
mento é menor, quando comparada com a tecnologia 2G, bem como apresenta
mais estabilidade no sinal.
Faz-se mister mencionar que o regime semiaberto no interior do Amazonas
também é controlado pelo COC/SEAP, via monitoramento eletrônico. Para tanto,
faz-necessária a análise de viabilidade de sinal da rede telefônica da localidade,
para a implementação na região interiorana.
Em caso de problema na tornozeleira eletrônica, seja de qual tipo for, o
apenado deve agendar atendimento, sempre pelo número 0800.042.0099 de con-
tato da empresa SINERGYE, que funciona 24 horas por dia. Não obstante isso,
o COC/SEAP tem um canal de atendimento, por aplicativo de conversação (92)
99393-9330, que funciona de segunda-feira a sexta-feira, de 9h às 15 horas, com
o objetivo de orientar e auxiliar nesse agendamento.
Ainda, segundo informações do Coordenador do COC, a SEAP criará um
setor de recepção para atendimento presencial, possibilitando ao apenado realizar
o agendamento da manutenção da tornozeleira in loco com a empresa SINER-
GYE.
Isso porque, atualmente, ainda se tem chamados pendente para instalação
e/ou manutenção de tornozeleira eletrônica, que demandam uma força tarefa para
zerar a fila. As pendências antigas (desde 2015) dependem de uma atualização da
necessidade pelo COC, a partir da análise dos processos que impuseram a utiliza-
ção do equipamento, para se saber da atual necessidade.
Ressalta que para o ingresso no regime semiaberto, há uma fila de 970 pes-
soas apenadas aguardando a instalação e ativação da tornozeleira; para a liberdade
provisória ou domiciliar com monitoramento eletrônico, há fila de 613 pessoas
aguardando a instalação do equipamento; para a manutenção, há fila já agendada
até outubro de 2021.
Quanto ao procedimento para retirada da tornozeleira, há necessidade da
comunicação oficial da ordem, via malote digital, oficial de justiça ou e-mail ins-
titucional do COC. Entretanto, o COC sempre faz a verificação se não há outra
decisão em outro processo que mantenha o monitoramento eletrônico, para fins de
retirada, num prazo médio de 3 dias.
Por fim, é interessante colacionar que antes da pandemia do Coronavírus,
o COC atendia de 100 a 120 pessoas por dia. Após, em razão das medidas restriti-
vas impostas pelo governo do Estado do Amazonas e o COC ter passado 3 meses
sem atender (março de 2020 até a primeira semana de julho de 2020), houve a
limitação de atendimento para 40 pessoas por dia, ampliando-se esse quantitativo
mês a mês, conforme estudo epidemiológico pelo órgão responsável, até voltar-

- 120 -
-se à média antiga. Ainda, os protocolos da pandemia impuseram mudanças na
higienização do equipamento, o qual é feito em laboratório próprio da contratada,
sediado em Manaus.
A pesquisa desenvolvida é original na medida em que se debruçou a fun-
do no resgate da história do regime semiaberto masculino da cidade de Manaus,
abarcando, ainda, o atual modo de cumprimento de pena do referido regime, tra-
zendo para o leitor informações acerca da tornozeleira eletrônica, bem como dos
órgãos e empresas responsáveis pelo atual andamento do regime.
O regime semiaberto em Manaus era praticamente inexistente e sem con-
trole de quem nele entrava ou dele saía. A pessoa era liberada da cela no início da
manhã e deveria retornar no final da tarde, independentemente de estar vinculada
ao trabalho interno ou externo.
A Defensoria Pública, por meio do núcleo criminal, recebia diversas recla-
mações de que a chamada dos internos não era feita corretamente. Após 17h da
tarde, os servidores da SEAP ou terceirizada, encerravam a entrada na unidade,
lançando faltas e inadmitindo qualquer justificativa de atraso. A ausência na cha-
mada poderia ser considerada como falta grave no cumprimento da pena, ocasio-
nando a regressão de regime de cumprimento da pena do apenado para o fechado.
Além do mais, havia a possibilidade do apenado sair da unidade prisional
do regime semiaberto, se envolver em outro delito e retornar para a unidade, den-
tro do horário admitido, para fins de continuidade do cumprimento da pena.
Ainda, esse trânsito, sem o devido controle, de pessoas no ramal, contri-
buía para a ocorrência de práticas ilegais dentro do próprio sistema prisional de
regime fechado, tais como o transporte de objetos não permitidos, especialmente
celular e afins.
Embora tenha sido difícil a pesquisa sobre a história do regime semiaberto,
o texto conseguiu alcançar o objetivo de apresentar a origem, as transformações e
a situação atual da unidade, inclusive a crítica com a proposta de melhorias.
A decisão de substituir o regime semiaberto foi acertada, a uma para con-
ferir maior dignidade à pessoa, já que não havia estrutura física de celas para
receber os apenados na colónia agrícola; a duas, para permitir um maior controle,
o que é efetivado pelo monitoramento eletrônico, seja para a pessoa trabalhar, es-
tudar e se deslocar após autorização, seja para a fiscalização de restrição da liber-
dade em ambiente residencial indicado, semelhante à prisão domiciliar; a três em
economia de acordo com o princípio da eficiência da administração pública (CF,
art. 37), posto que o custo do monitoramento é de R$ 281,00 (duzentos e oitenta e
um reais) mensais em descompasso com o custo do interno na cela, média de R$
3.500,00 (três mil e quinhentos reais) mensais.
Todavia, o sistema de monitoramento eletrônico carece de melhorias, em
especial no procedimento de inserção da pessoa no programa. Atualmente, para a
- 121 -
pessoa que estava em liberdade provisória sem a tornozeleira, será necessário se
apresentar na POLINTER (21ª DIP do São Jorge) ou qualquer Delegacia, às 8h,
para submissão à audiência de custódia.
Este procedimento é moroso e acarreta custos desnecessários para a SSP e
para a SEAP, com o transporte da pessoa da Delegacia para a audiência de custó-
dia (Fórum Henoch Reis); depois para o CRT (ramal do complexo penitenciário,
situado no ramal do km 8 da BR-174) e após para o COC. Estes locais ficam dis-
tantes 30,2 quilômetros ou 50 a 100 minutos.
Tais idas e vindas poderiam ser substituídas somente pela apresentação do
apenado no Fórum Henoch Reis, especificamente ao juízo da condenação, que
imediatamente poderia conduzi-lo até a secretaria da custódia (local que tem até
mesmo celas disponíveis, caso necessário), para a realização da custódia. Atesta-
da a legalidade do mandado, a pessoa seria imediatamente encaminhada ao COC/
SEAP para o cadastro e ativação da tornozeleira. Assim, agindo, haveria econo-
mia de combustível e de hora de trabalho dos servidores dedicados ao transporte/
escolta, que poderiam ser aproveitados em outras atividades.
A proposta ainda vai além, quando a condenação do apenado pelos juízos
criminais fosse no regime semiaberto, antes da expedição de mandado de prisão
poder-se-ia conceder um prazo razoável para que o indivíduo comparecesse ao
juízo da condenação para o devido encaminhamento à audiência de custódia para
iniciar o cumprimento da pena. Caso não houvesse o comparecimento no prazo
determinado, seria tão logo expedido mandado de prisão, sendo então conside-
rado foragido. Tal medida reduziria custos com o envio de policiais para o cum-
primento de um mandado de prisão, já que alguns apenados possuem o interesse
de se apresentar espontaneamente, tendo em vista que não terão sua liberdade
completamente suprimida com o uso da tornozeleira eletrônica.

Referências
ALESSI, Gil. Massacre em presídio de Manaus deixa 56 detentos mortos. EL
PAÍS, 02. Jan. 2017. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2017/01/02/
politica/1483358892_477027.html. Acesso em: 15 jul. 2021.
AMAZONAS. Vara de Execuções Penais de Manaus/AM. Processo n. 0203049-
84.2017.8.04.0001. Pedido de Providências. Disponível em: https://consultasaj.
tjam.jus.br/ Acesso em: 14 jul. 2021.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Bra-
sil. Brasília, DF: 5 out. 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/cci-
vil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 30 jun. 2021.
BRASIL. Lei n. 7.210, de 11 de julho de 1984. Lei de Execução Penal. Diário

- 122 -
Oficial da União, Brasília, DF: 13 de julho de 1984. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L7210.htm. Acesso em: 30 jun. 2021.
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/
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CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO. Relatório de Visitas
Prisionais: Amazonas, 2019. Disponível em: https://cnmp.mp.br/portal/images/
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dia/publicacao/NOTA_T%C3%89CNICA_N%C2%BA_24.FVS-AM.SUSAM.
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TALON, Evinis. A nomenclatura no processo penal: indiciado, réu, apenado, ree-
ducando etc. Canal Ciências Criminais, 2018. Disponível em: https://canalcien-
ciascriminais.jusbrasil.com.br/artigos/659160029/a-nomenclatura-no-processo-
-penal-indiciado-reu-apenado-reeducando-etc. Acesso em: 04 ago. 2021.

- 123 -
- 124 -
CAPÍTULO IX

ALA FEMININA - COMPLEXO PENITENCIÁRIO


ANÍSIO JOBIM (COMPAJ)
ANÍSIO JOBIM PENITENTIARY COMPLEX (COMPAJ)

Ellen de Moraes e Silva79


Criscyanne Andrade de Oliveira80
Pâmella Oliveira Silva 81

A mulher apresenta maior adaptabilidade e obedece mais à lei que os homens.


No entanto, ela é potencialmente amoral, quer dizer, enganosa, fria, calculista,
sedutora e malévola.
Lombroso & Ferrero (1895)

A análise da criminalidade feminina sempre se limitou ao que se pode chamar


de “delitos de gênero”, além da ideia de que a conduta criminosa estivesse
estritamente relacionada com os delitos dos companheiros ou maridos, ou
seja, há poucos estudos, referências e políticas criminais direcionadas às
mulheres.
Buglione (1998)

Criada pela Lei n° 1.523, de 07 de maio de 1982; A Colônia Agrícola,


e mais tarde Complexo Penitenciário Anísio Jobim – COMPAJ para homens e
mulheres, recebeu como homenagem o nome de Manoel Anísio Jobim, juiz e de-
sembargador do Amazonas. O COMPAJ é localizado na Rodovia BR 174 – Km 8
s/nº Zona Rural de Manaus, foi inaugurado em 1999 e, desde meados de 2014, é
administrado pela empresa Umanizzare, responsável pela gestão prisional privada
em um sistema de cogestão.
O surgimento desta unidade prisional se deu com a superlotação encontra-
da na Cadeia Pública e a falta de estrutura para receber o crescente número de mu-
lheres em situação de cárcere, que a cada dia se amontoavam em celas insalubres
e inabitáveis, inaugurou-se a Ala Feminina no Complexo Penitenciário Anísio
Jobim (COMPAJ) no ano 2001.
79 Doutoranda em Saúde Pública (FIOCRUZ/RJ), Mestre em Segurança Pública, Cidadania e Direitos Hu-
manos (UEA), Especialista em Gestão de Saúde (FSDB), Assistente Social, Perita Judiciaria Social (Justiça
Federal), Professora Substituta da Universidade Federal do Amazonas (UFAM).
80 Advogada, Bacharel em Direito – UFAM; Especialista em Direito Civil e Processo Civil – CIESA;
Mestre em Segurança Pública Cidadania e Direitos Humanos – UEA; Doutoranda em Saúde Pública (FIO-
CRUZ/RJ).
81MBA Gestão de Pessoas, (CESA), MBA Gerenciamento de projetos, (CESA), Pedagoga, Assistente
Social, Perita Judiciaria Social (Justiça Federal).

- 125 -
As presas sentenciadas foram transferidas para o COMPAJ, o que resolveu
por um momento a superlotação da Cadeia Feminina, a qual, passou a abrigar
somente o regime fechado de presas provisórias e o regime semiaberto, o que sig-
nificava uma grande conquista depois de mais de um século sem os olhares do Es-
tado para esta população, como descreve Ferreira & Valois (2006, p.130): “Esse
estabelecimento penal, comparado com os demais, é uma ilha de esperança na
possibilidade de efetivação das normas e princípios da Lei de Execução Penal”.

Imagem 01: Ala Feminina no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (COMPAJ) no ano 2001.

Fonte: Jornal A Crítica.

Mesmo que a Ala estivesse sido, previamente, pensada para receber o pú-
blico feminino, o COMPAJ, em sua inauguração, não era guarnecido por celas
adaptadas para comportar crianças, nem contava com creches, berçários, atendi-
mento psiquiátrico, ginecológico e nem pediátrico como estipula o Estatuto Peni-
tenciário do Amazonas em seu art. 9º:

Nos Estabelecimentos destinados às mulheres, os responsáveis pela segurança


interna serão, obrigatoriamente, funcionários do sexo feminino. §1º. Haverá
uma creche e pré-escola em cada estabelecimento feminino de regime fechado
ou semiaberto, com a finalidade de assistir aos menores até 5 (cinco) anos de
idade, cujas responsáveis estejam presas naquelas unidades. §2º. Integrarão o
corpo de funcionários das Instituições citadas no parágrafo anterior, um peda-
gogo e um pediatra. §3 º. Após 5 (cinco) anos de idade, o menor será encami-
nhado aos familiares, por intermédio do Juiz da Infância e da Juventude ou a
esta autoridade judiciária. (LEI 2.711, DE 28 DE DEZEMBRO DE 2001).

- 126 -
Em paralelo a Ala Feminina do COMPAJ, (que mesmo com suas limita-
ções, significava um avanço no tratamento das mulheres sentenciadas, em cárce-
re, no estado do Amazonas), se encontrava a Cadeia Pública que ainda abrigava
o público feminino. Segundo o Conselho Nacional de Justiça, através do Mutirão
Carcerário do ano de 2013, a falta de estrutura da Cadeia Pública dificulta o trata-
mento para com os presos em geral, em especificidades com o gênero feminino,
pois, devido à superlotação os apenados ficam fora de suas celas durante todo o
dia e só retornam à noite para dormir, tendo que dividir uma cela projetada para
2(duas) pessoas com 15(quinze), cooperando assim para a proliferação de doen-
ças como Tuberculose, dermatoides, herpes entre outras.
Mesmo que o objetivo teórico do encarceramento de pessoas, esteja direta-
mente ligado a uma condição de reabilitação, não havia naquele lugar, condições
físicas, humanas, de saúde ou saneamento básico que contribuísse para a tão al-
mejada ressocialização. Redes de comunicações locais notificavam o descaso que
se encontrava a Cadeia Pública:

“Hoje pela manhã entramos nesta porta, encontramos muitas mulheres em


condições tão degradantes, terrível! Esgoto aberto de maneira que nunca vi,
um fedor imenso em todos os ambientes, as mulheres presas com mordidas de
ratos e baratas, todas as celas inundadas pela chuva da madrugada, goteiras
e mofo nas paredes em todos os cantos, nem se pode encostar nas grades, pois
corre risco de levar choque elétrico, etc..82

No ano de 2013 o então ministro Joaquim Barbosa, acompanhou o Mutirão


Carcerário, gerenciado pelo Conselho Nacional de Justiça – CNJ, que ocorreu nos
meses de setembro e outubro daquele mesmo ano, e ao se deparar com as condi-
ções insalubres em que eram abrigadas as mulheres privadas de liberdade, sugere
a imediata interdição do local, pois para ele:

Sem dúvida, a quase secular Cadeia Pública é a unidade que apresenta cenário
mais grave e preocupante, tanto na ala masculina como na ala feminina, pois,
em ambas, há elevada concentração de internos e alto risco de proliferação
de doenças, por conta das deterioradas instalações do prédio. (MUTIRÃO
CARCERÁRIO - CNJ, 2013).

82 Fonte: Blog Post Ana Eufrázio. Ano: 2014 Disponível em: http://anaeufrazio.blogspot.com/2014/01/
condicoes-desumanas-cadeia-feminina-de-manaus.html

- 127 -
Imagem 02: Cadeia Pública Raimundo Vidal Pessoa – Ala Feminina

Fonte: Blog Post Ana Eufrázio

Em 2014, após a recomendação do Conselho Nacional de Justiça, Cadeia


Pública Feminina foi desativada definitivamente e a Ala reservada para as mulhe-
res no COMPAJ, transformou-se em Penitenciaria Feminina de Manaus – PFM.

Referências

BRASIL. LEI 2.711, DE 28 DE DEZEMBRO DE 2001. Consultada em 31 de


Julho de 2021.
CNJ. Conselho Nacional de Justiça. MULTIRÃO CARCERARIO. Ano:2013.
Disponível:
EUFRÁZIO. Ana. Blog Post Ana Eufrázio. Ano: 2014 Disponível em: http://
anaeufrazio.blogspot.com/2014/01/condicoes-desumanas-cadeia-feminina-de-
-manaus.html
FERREIRA. Carlos Lélio Laurita. VALOIS. Luís Carlos. Sistema penitenciário
do Amazonas. Imprensa: Curitiba, Juruá, 2006.Descrição Física: 333p. ISBN:
8536213523.

- 128 -
CAPÍTULO X

INSTITUTO PENAL ANTÔNIO TRINDADE – IPAT


ANTÔNIO TRINDADE CRIMINAL INSTITUTE - IPAT

Romulo Garcia Barros Silva83


Renan Oliveira de Carvalho84

O Instituto Penal Antônio Trindade (“IPAT”) é um presídio localizado no


km8, BR-174 (Rodovia que interliga Manaus a Boa Vista) com capacidade de
abrigar até 496 internos, no ramal do complexo de unidades prisionais.
As obras para sua construção começaram em 19 de novembro de 2004 e
a inauguração ocorreu em 26 de maio de 2006. O custo da construção foi de R$
12.000.000,00 (doze milhões de reais), com recursos oriundos tanto do Governo
Estado do Amazonas como do Governo Federal, por intermédio da Secretaria de
Justiça e Direitos Humanos (pasta responsável pelas unidades prisionais do Esta-
do à época dos fatos) e do Ministério da Justiça (VALOIS, 2010).
O nome escolhido para o estabelecimento é uma homenagem ao Dr. An-
tônio Alexandre Pereira Trindade, amazonense da cidade de Barreirinha, que foi
Promotor de Justiça da Comarca de Lábrea.
A sua ligação com o sistema prisional decorre do fato de ter sido Diretor da
Penitenciária Central do Estado no período compreendido entre 1965 e 1967, bem
como por ter integrado o Conselho Penitenciário Estadual.
O homenageado ainda contou com notável carreira acadêmica, sendo Pro-
fessor da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Amazonas entre os
anos de 1972 e 1988, tendo vindo a óbito em 07 de agosto de 2002.
A Unidade Prisional, inicialmente, foi criada para abrigar os presos pro-
visórios e para tentar amenizar o conhecido problema de superlotação carcerária
existente na Comarca de Manaus.
A primeira rebelião/motim ocorreu menos de um mês após a abertura de
suas portas, em 16 de junho de 2006, com os custodiados reivindicando melhorias
na alimentação, aumento do horário de banho de sol, pedido de visitas e televiso-
res para assistirem a Copa do Mundo (FERREIRA, 2010).
No ano de 2009 há apontamentos de nova rebelião naquela unidade prisio-
nal motivada pelo reiterado descumprimento do contrato firmado entre o governo
83 Juiz de Direito do Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas (TJAM). Pós-Gra-
duado pela Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro.
84 Major da Polícia Militar do Estado do Amazonas (PM/AM). Coordenador do Sis-
tema Penitenciário do Estado do Amazonas (COSIPE-AM)
- 129 -
do Estado do Amazonas e a empresa cogestora à época dos fatos (Auxílio) (LIF-
SITCH, 2017).
Em 19 de novembro de 2012, houve novo motim, sem ocorrência de mor-
tos ou feridos, tendo culminado apenas com danos estruturais ao prédio e transfe-
rência de internos para a Unidade Prisional do Puraquequara85.
No dia 9 de julho de 2013 ocorreu uma rebelião na unidade prisional com a
fuga de 176 (cento e setenta e seis) internos e grande depredação da estrutura físi-
ca do local86, já em 24 de agosto do mesmo ano, novamente, um novo motim que
resultou na morte de um interno e outros quatro ficaram feridos87 (MELO, 2012).
Prosseguindo na construção da linha do tempo dos fatos ocorridos no alu-
dido estabelecimento, temos que, em 15 de outubro de 2015, ocorreu a morte
de dois detentos que estariam tentando empreender fuga do IPAT e outros dois
ficaram feridos.
Na virada do ano de 2016 para 2017 eclodiu uma série de rebeliões nos
presídios do Brasil, inclusive no Estado do Amazonas, tendo ocorrido a fuga de 87
internos no IPAT, enquanto 56 internos foram mortos no Complexo Penitenciário
Anísio Jobim (COMPAJ-FECHADO) em uma guerra entre as facções Família do
Norte (“FDN”) e o Primeiro Comando da Capital (“PCC”).
Nos dias 28 e 29 de maio de 2019, um novo sinistro atingiu todo o siste-
ma prisional do Estado do Amazonas que culminou com a morte de 55 internos,
sendo 25 delas ocorridas no Instituto Penal Antônio Trindade, nessa oportunidade
por conta de uma desavença entre as duas principais lideranças da facção Família
do Norte.
O Ministério da Justiça enviou 120 integrantes da Força Tática de Interven-
ção Penitenciária (“FTIP”) ao Estado do Amazonas para auxiliar na manutenção
da ordem e disciplina no sistema penitenciário.
O trabalho da aludida força ficou concentrado no Instituto Penal Antônio
Trindade (“IPAT”) perdurando no período de 28 de maio até 26 de agosto de 2019,
tendo sido gerado relatório indicando uma série de melhorias necessárias ao local.
Finalmente, em 13 de julho de 2020, por intermédio do ofício circular
001/2020-GAB/SEAP da Secretaria de Administração Penitenciária, a unidade
prisional passou a ser classificada como Penitenciária e a abrigar somente presos
condenados.

85 http://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2012/11/policia-contem-rebeliao-e-de-
tentos-deverao-ficar-sem-visitas-em-manaus.html
86 http://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2013/07/sejus-altera-contagem-e-eleva-
-numero-de-foragidos-do-ipat-no-amazonas.html
87 https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2013/08/25/termina-rebe-
liao-que-deixou-um-morto-e-quatro-feridos-em-manaus.htm
- 130 -
A Estrutura Física
Historicamente, a estrutura física do Instituto Penal Antônio Trindade
(“IPAT”) sempre foi classificada como péssima pelos órgãos de fiscalização e
controle do sistema penitenciário.
Ademais, os constantes eventos de motins e rebeliões contribuíram para
a completa destruição do sistema hidrossanitário da unidade prisional, fato esse
que tornou a situação da estrutura física do IPAT ainda pior, sendo constatada a
presença de água e esgoto correndo ao céu aberto no local.
Diante desse cenário, o Ministério Público ajuizou, no ano de 2013, ação
civil pública contra o Estado do Amazonas e a empresa Auxílio Agenciamento
de Recursos Humanos, cogestora da época, objetivando obter obrigação de fazer
consubstanciada na correção das diversas irregularidades constatadas em inqué-
rito civil, quais sejam: melhorias nas instalações sanitárias e de resíduos sólidos
e biológicos, cozinha, depósito de alimentos, corredor de acesso aos pavilhões,
pavilhões, celas, ambulatório médico, lavanderia que foi autuado no Tribunal de
Justiça do Amazonas sob o número 0628807-39.2013.8.04.0001.
Em perícia realizada os autos do processo em referência pelo engenheiro
Newton Carlos, em 28 de agosto de 2019, ainda foram identificadas as seguintes
não conformidades: ausência de tampa nos ralos dos corredores e da celas, as-
sentos sanitários nas celas e banheiros para portadores de necessidades especiais,
melhoria nos ralos das celas, infiltrações no teto das passarelas, recuperar a pin-
tura das celas e das suas portas, ausência de autoclave no ambulatório, ausência
de espaço adequado para isolamento de pacientes com doenças contagiosas ou
respiratórias e dotar sistema de exaustão no ambiente médico.
A ação permanece em curso em primeira instância até o presente momento
sem que tenha sido proferido provimento jurisdicional final pelo 1º Juiz da Exe-
cução Penal da Comarca de Manaus.
A péssima condição da estrutura física constou expressamente como um
dos pontos negativos do Relatório Final da Comissão Externa da Câmara dos De-
putados destinada a Acompanhamento e Verificação do Sistema Penitenciário em
Manaus ocorrida em maio de 2019, nos seguintes termos: “Na unidade prisional
Ipat, verificou-se alguns ambientes com esgoto a céu aberto, corroborando para
ausência de sanitização nas alas dos detentos, em especial a Ala C. Não há sanea-
mento básico nessa ala, dada sua condição de estrutura física precária.”
Esse é o cenário histórico da estrutura física da unidade e passamos a des-
crever a seguir o que foi identificado nas visitas realizadas ao local para elabora-
ção do presente capítulo.
Atualmente, o Instituto Penal Antônio Trindade (“IPAT”) é composto por
um prédio administrativo, portaria externa e interna, casa de gerador, canil, refei-
tório externo, 4 (quatro) pavilhões denominados de “A”, “B”, “C” e “D”, estrutura
- 131 -
médica, social, escolar, jurídico, laboratório de informática, salas para audiências
por videoconferência, parlatório, setor médico e de psicologia, conforme será me-
lhor detalhado a seguir.
O prédio da administração é composto pela sala do Diretor da Unidade,
Sala de Monitoramento de CFTV com 128 (cento e vinte oito) câmeras instaladas,
tanto de áreas internas da Unidade Prisional como também de áreas externas, sala
do diretor adjunto, setor de estatística, sala da gerência operacional, administra-
tiva e recursos humanos todas em perfeito estado de conservação e manutenção.
Na estrutura externa da unidade prisional foi construído, no ano de 2020,
um canil dispondo de 10 (dez) boxes para abrigarem os cães que são empregados
na segurança do presídio, estando o local em bom estado de conservação.
Já na portaria interna há local para identificação e procedimento de revista,
incluindo dois aparelhos de bodyscan, detector de metais do tipo portal e bastão,
duas máquina de raio X do tipo esteira e banquetas todos em pleno funcionamen-
to.
Passada a área da portaria interna, chega-se ao corredor principal da unida-
de prisional, estando logo ao seu lado direito a entrada de acesso a área psicosso-
cial, triagem e pavilhão D.
A unidade prisional conta no total com 134 celas, sendo 124 nos pavilhões
A, B e C, sendo metade no pavimento superior e a outra metade em pavimento
inferior, bem como 08 no pavilhão D em pavimento único e 02 na área de triagem
da Unidade que fica no acesso ao pavilhão D.
Importante mencionar que existem 2 (duas) celas para cumprimento de
sanção disciplinar no pavilhão A do lado direito da entrada, sendo estas individu-
ais, dispondo de apenas uma cama e banheiro.
As celas são em concreto, em forma de módulos, dispondo de 2,95m por
2,80m com quatro camas, chuveiro, “boi” e portas de ferro fechadas com visão
apenas pela portinhola, ventilação natural pelos fundos da cela e sem qualquer
ponto de energia elétrica, antes mesmo da edição da Resolução 16/2021 do Con-
selho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP)88.
Em sentido contrário, é necessário pontuar que a metragem da cela e sua
disposição não atende os parâmetros mínimos estabelecidos pelo Conselho Na-
cional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP)89, eis que sua metragem é
inferior a mínima prevista naquele ato normativo.
Os aludidos pavilhões dispõem cada um de uma área de vivência para visi-
tas e uma quadra de esporte, que até o ano de 2019 era apenas cercada por alam-
88 https://www.gov.br/depen/pt-br/composicao/cnpcp/resolucoes/resolucoes-2021/re-
solucao_n__16__de_10_de_junho_de_2021.pdf/view
89 Diretrizes Básicas para arquitetura penal - https://www.conjur.com.br/dl/resolucao-
-cnpcp-construcao-prisoes.pdf
- 132 -
brado. A partir de dezembro de 2019, foram reinauguradas e passaram a contar
com paredes de concreto ao seu redor e telas em sua parte superior, a fim de con-
ferir maior segurança e evitar arremessos de objetos proibidos, bem como fuga e
motim de internos.
A estrutura de cada pavilhão conta ainda com 3 salas de aula e uma oficina
de trabalho, estando em funcionamento neste momento, no pavilhão A uma fá-
brica de roupas que produz os uniformes dos internos, no pavilhão B existe uma
oficina para produção de utensílios de limpeza, tais como, sabonetes, detergentes
etc. e no pavilhão C uma serigrafia para finalização dos uniformes.
No que tange a estrutura de oferta de trabalho na unidade prisional, existe
ainda, no corredor central, uma fábrica de chinelos. Relevante anotar que os uni-
formes, utensílios de limpeza e chinelos produzidos são utilizados para consumo
dos próprios internos do Instituto Penal Antônio Trindade (“IPAT”) e da Unidade
Prisional do Puraquequara (“UPP”).
No corredor principal há ainda espaço destinado para atendimento médico
dos internos contendo a seguinte estrutura física: um consultório médico, uma
sala de enfermagem, de vacina, esterilização, expurgo, uma farmácia e duas celas
leito, com maca e estrutura para manutenção de internos sob observação da equi-
pe médica dentro da unidade prisional.
Antes de chegar aos pavilhões há ainda sala para o Grupo de Intervenção
Penitenciária, 06 (seis) salas para realização de audiências por vídeo conferência
e 03 (três) salas para parlatório presencial com advogados.
A sala de atendimento de psicologia conta com seis estações de atendi-
mento equipados com computador e telefone, já o setor social conta com quatro
estações de atendimento devidamente equipadas para atendimento, inclusive com
tablet.

Equipamentos de Segurança Empregados e Agentes de Ressociali-


zação
Historicamente, o IPAT, conforme visto acima, passou por diversas rebe-
liões/motins devido a falha procedimentais, tais como a manutenção das celas
abertas durante todo o dia, e a sua precária estrutura física de segurança, como
quadras esportivas sem obstáculo para sua transposição.
Contudo, após a rebelião de 2017, passou-se a mudar os procedimentos
impedindo que os presos fiquem com celas abertas e com livre circulação, bem
como a realização de melhorias estruturais.
Nesse ponto, destaca-se a criação da salão de monitoramento por CFTV
com 128 (cento e vinte oito) câmeras instaladas, tanto para parte interna como
externa do local, a utilização de bodyscan, raio X e detector de metais no procedi-

- 133 -
mento de ingresso no estabelecimento, o emprego de cães para guarda e proteção
e auxílio nas revistas, a instalação de cerca elétrica em todo o perímetro externo,
instalação de rede de proteção na parte superior das quadras esportivas, utilização
de rádio comunicadores, câmeras corporais nos agentes de ressocialização duran-
te procedimentos de revista, drone para monitoramento da área interna e externa,
câmera de vídeo borescope que permite a visualização de ralos e áreas de difícil
acesso e a formação uma célula do Grupo de Intervenção Penitenciária (GIP) com
07 (sete) integrantes por turno no local.
Por outro lado, até o presente momento, não foi realizado concurso público
para a contratação de agentes de polícia penal no Estado do Amazonas, sendo toda
a mão-de-obra empregada terceirizada, com exceção do Diretor, o seu adjunto,
gerentes de segurança interna (GSI) e externa (GSE) e o responsável pelo setor
de estatística.
A empresa terceirizada disponibiliza 47 (quarenta e sete) agentes de resso-
cialização por período diurno e 21 (vinte um) durante o período noturno, isto sig-
nifica dizer que existe uma média de quase 15 (quinze) presos por agente durante
o dia e 33 (trinta e três) a noite.
O número de agentes penitenciários está proporcionalmente muito aquém
do previsto na Resolução 09/2009 do Conselho Nacional de Política Criminal e
Penitenciária (CNPCP) que estabelece a proporção média de 5 (cinco) presos por
homem.
Essa questão não passou despercebida pelo Relatório de Visita elaborado
pelo Conselho Nacional do Ministério Público que assim tratou da matéria: “Tal
número insuficiente, no Estado do Amazonas, guarda mais uma peculiaridade:
com a privatização do sistema prisional, a realização da segurança interna das
unidades penais se dá por “agentes de socialização” ou “agentes de disciplina”,
correspondendo a funcionários das empresas terceirizadas.”
O fato corrobora a necessidade de urgência na realização de concurso pú-
blico para provimento dos cargos de agentes de polícia penal no Estado do Ama-
zonas, já que o último certame da pasta ocorreu no longínquo ano de 1986.
Assim, embora seja inegável as melhorias realizadas tanto na estrutura fí-
sica como na adoção de novos equipamentos de segurança, a terceirização dos
agentes de ressocialização e o seu emprego em número insuficiente continua sen-
do um ponto sensível.

O perfil da população carcerária do IPAT


Atualmente, o Instituto Penal Antônio Trindade (“IPAT”) abriga somente
presos que ostentam contra si sentenças penais transitadas em julgado, não haven-
do dentro de sua população presos provisórios.
A população total, em junho de 2021, é de 695 internos. A faixa etária dos
internos está dividida da seguinte forma:
- 134 -
Quadro 1: Perfil dos reeducantos do IPAT
FAIXA ETÁRIA QUANTIDADE PERCENTUAL
18 A 24 ANOS 116 16,7%
25 A 29 ANOS 223 32,1%
30 A 34 ANOS 152 21,9%
35 A 45 ANOS 170 24,5%
46 A 60 ANOS 32 4,6%
ACIMA DE 60 ANOS 2 0,02%
Fonte: SEAP/AM(2021) sintetizado pelos autores
O quadro acima que demonstra a divisão da faixa etária dos internos deixa
claro que quase metade da população prisional desta unidade conta com menos de
30 anos de idade, isto é, um público extremamente jovem e em idade produtiva.
É relevante observar que os dados disponibilizados pelo DEPEN para
a média nacional trazem aproximadamente 41% dos presos com idade abaixo
de 30 anos. Assim, os dados do IPAT causam preocupação, em especial por
tratar-se de público formado, único e exclusivamente, por presos já condenados,
enquanto que a média nacional é formada por presos provisórios e condenados.
No que tange ao nível de escolaridade da população carcerária do Instituto Penal
Antônio Trindade temos os seguintes dados:
Quadro 2: Escolaridade reeducantos do IPAT
ESCOLARIDADE QUANTIDADE PERCENTUAL
ANALFABETO 5 0,71%
ENSINO FUNDAMENTAL INCOM- 388 55,8%
PLETO
ENSINO FUNDAMENTAL COM- 37 5,32%
PLETO
ENSINO MÉDIO INCOMPLETO 110 15,82%
ENSINO MÉDIO COMPLETO 99 14,24%
ENSINO SUPERIOR INCOMPLETO 10 1,43%
ENSINO SUPERIOR COMPLETO 2 0,28%
NÃO INFORMADO 40 5,75%
Fonte: SEAP/AM(2021) sintetizado pelos autores
O quadro do nível de escolaridade demonstra que mais da metade da popu-
lação carcerária desta unidade prisional possui ensino fundamental incompleto, o
que denota o baixo nível de escolaridade e dificulta a reinserção social dos internos.
Já em relação aos crimes, observa-se que, assim como no cenário nacional,
a maioria dos privados de liberdade desta unidade prisional decorrem principal-
mente de violação aos tipos penais patrimoniais e da lei de drogas. Vejamos:

- 135 -
Quadro 3: Tipificação dos crimes cometidos pelos reeducantos do IPAT
CRIMES QUANTIDADE PERCENTUAL
CONTRA O PATRIMÔNIO 305 43,9%
LEI DE DROGAS 254 36,5%
CONTRA PESSOA 114 16,5%
LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA 22 3,1%
Fonte: SEAP/AM(2021) sintetizado pelos autores

O IPAT, atualmente, é o presídio de segurança máxima do Amazonas, abri-


gando em seu Pavilhão “D”, as principais lideranças do crime organizado no Es-
tado e os egressos do sistema penitenciário federal.

Assistências aos Presos


A Lei de Execução Penal90 estabelece que é dever do Estado realizar a as-
sistência material, a saúde, jurídica, educacional, social e religiosa, com o intuito
de prevenir o crime e orientar o retorno do egresso ao convívio em sociedade.
Nesse sentido, passamos a analisar em quais condições estão sendo oferta-
das as referidas assistências aos custodiados no Instituto Penal Antônio Trindade
(“IPAT”).

Assistência Médica
O artigo 14 da Lei de Execução Penal incumbe ao Estado a obrigação de
prover assistência à saúde dos presos, em caráter preventivo e curativo, compre-
endendo atendimento médico, farmacêutico e odontológico, sendo que na ausên-
cia de aparelhamento deve ser providenciado o atendimento extramuro, mediante
autorização de saída concedida pelo diretor do estabelecimento penal.
A estrutura física do IPAT para fornecimento de assistência médica é for-
mada por um consultório médico, uma sala de enfermagem, de vacina, esteriliza-
ção, expurgo, uma farmácia e duas celas leito, com maca e estrutura para manu-
tenção de internos sob observação da equipe médica dentro da unidade prisional.

90 Art. 10. A assistência ao preso e ao internado é dever do Estado, objetivando prevenir o crime e orientar
o retorno à convivência em sociedade.
Parágrafo único. A assistência estende-se ao egresso.
Art. 11. A assistência será:
I - material;
II - à saúde;
III -jurídica;
IV - educacional;
V - social;
VI - religiosa.

- 136 -
A área médica do estabelecimento penal não é ainda credenciada como
Unidade Básica de Saúde, estando em processo de implantação perante os órgãos
competentes.
A equipe médica da unidade prisional é formada por 01 (um) auxiliar de
consultório dentário, 01 (um) odontólogo, 04 (quatro) enfermeiros, 01 (um) mé-
dico clínico geral, 01 (um) médico psiquiatra e 02 (dois) técnicos de enfermagem.
Os atendimentos médicos realizados pela equipe médica são basicamente
de cunho preventivo e curativo de baixa complexidade, de modo que, caso seja
necessário, procedimentos de maior complexidade e com especialistas são agen-
dados através do sistema de regulação dos entes públicos (SISREG) e realizados
mediante autorização de saída, existindo uma ambulância para escoltas médicas.
Além disso, foram realizadas e estão em curso campanhas junto aos inter-
nos para conscientização acerca da importância dos cuidados com a saúde física
e mental, tais como Dia Mundial da Câncer, Importância da Higiene Bucal, do
Controle da Asma, da Hipertensão Arterial e da Automedicação. As campanhas
envolvem também consultas, vacinação e fornecimento de vitaminas para fortale-
cimento do sistema imunológico.
Atualmente, a Secretaria de Administração Penitenciária (“SEAP”) infor-
ma que dentre todos os internos do estabelecimento foram identificados 57 (cin-
quenta e sete) internos com patologias identificadas, sendo a maioria com doenças
de pele (prurido, pápulas e eritenmatosas). O número de atendimentos médicos
e odontológicos realizados no estabelecimento prisional pode ser identificado no
gráfico abaixo:
Gráfico 01: Atendimento à saúde dos reeducandos do IPAT

Fonte: SEAP/AM(2021) sintetizado pelos autores

O gráfico acima demonstra que o número de atendimento médicos e odon-


tológicos seguem em uma linha crescente, mesmo com o número de internos do
estabelecimento penal seguindo em linha decrescente.
Especificamente, em relação a COVID-19, foram realizados testes rápi-
dos em 73 (setenta e três) reeducandos, sendo que 9 testaram positivo IGM e 19
IGMC, todos assintomáticos e sem nenhuma morte.
- 137 -
O processo de aplicação da vacina está em curso respeitando o calendário
divulgado pelos governos estadual e municipal, estando, atualmente, mais da me-
tade da população carceraria vacinada com a primeira dose do imunizante.

Assistência Jurídica
O artigo 15 da Lei de Execução Penal assevera que deverá ser ofertada
assistência jurídica gratuita aos presos sem recursos financeiros para constituir
advogado, devendo tal mister ser exercido pela Defensoria Pública.
Embora o dispositivo legal atribuindo a Defensoria Pública o dever de
prestar assistência jurídica integral e gratuita aos presos necessitados tenha sido
expressamente incluído na LEP em 2010, anoto que, no Estado do Amazonas, tal
encargo foi assumido pela instituição apenas em julho de 2019 com a criação do
Núcleo de Atendimento Prisional (NAP-DPE-AM).
A Defensoria Pública dispõe de sala privativa pata atendimento no presídio
com 07 estações de atendimento e a equipe é formada por 07 residentes jurídicos
e 1 (um) Defensor Público que coordena as atividades no IPAT e no Centro de
Detenção Provisória Masculino II.
Antes disso, os contratos básicos de coogestão estabeleciam que os aten-
dimentos jurídicos eram obrigação das empresas contratadas, isto é, os presos
hipossuficientes eram atendidos pelos advogados empregados da coogestora do
estabelecimento penal.
A assistência jurídica integral e gratuita prevista na Lei de Execução Penal,
segundo apurado pelo Ministério Público, apresentava uma série irregularidades,
tais como falta de triagem da assessoria jurídica, agendamento irregular de aten-
dimentos e informações incompletas ao preso.
Diante disso, foi ajuizada Ação Civil Pública, no ano de 2017, em face do
Estado do Amazonas e da empresa UMANIZZARE nas unidades prisionais do
COMPAJ, IPAT, UPP, CDPM, CDPF e PFM, autuado no Poder Judiciário sob o nº
0614534-16.2017.8.04.0001, para tratar da regularização da assistência jurídica
fornecida.
O processo foi encerrado, em 28 de novembro de 2018, com a homologa-
ção do acordo firmado entre as partes para regularização deste cenário. Entretan-
to, conforme visto acima, apenas em julho de 2019, houve a criação do Núcleo
de Atendimento Prisional da Defensoria Pública e a assunção do atendimento. O
número de atendimentos jurídicos no IPAT podem ser observados pelo gráfico a
seguir:

- 138 -
Gráfico 2: Número de atendimentos jurídicos em comparação da população carcerária

Fonte: SEAP/AM(2021) sintetizado pelos autores

O gráfico demonstra que com a efetiva aplicação da Lei de Execução Pe-


nal através da assistência jurídica gratuita e integral fornecida pela Defensoria
Pública do Estado do Amazonas houve incremento considerável nos números de
atendimentos jurídicos, em especial observada a redução na população carcerária.

Assistência Material e Religiosa


Anteriormente, os internos do sistema prisional do Amazonas dependiam
das vestimentas, itens de higiene e limpeza, utensílios e alimentos que eram entre-
gues pelos seus próprios familiares para que sobrevivessem no cárcere.
A partir do ano de 2017, começaram a ser implementadas diversas alte-
rações nesse contexto e, atualmente, todos estão trajados com roupas íntimas,
uniformes e chinelos fornecidos pelo Estado, que, diga-se de passagem, são fabri-
cados dentro da própria unidade pela mão-de-obra carcerária.
E ainda, ao ingressar recebem colchão, toalha e roupa de cama novos, bem
como kit de higiene contendo papel higiênico, sabonete, shampoo, creme dental,
escova de dente, aparelho de barbear com reposição semanal e mensal.
A alimentação é fornecida e dividida em 5 (cinco) refeições diárias por
interno, sendo café, almoço, lanche, jantar e cena.
A assistência religiosa é fornecida por líderes de diversas religiões no espa-
ço de vivência dos pavilhões. Entretanto, atualmente, as atividades de cunho reli-
gioso estão suspensas, de acordo com o protocolo de enfrentamento e prevenção
a COVID-19 formulado pelo setor de saúde da SEAP.

Assistência Educacional, Social e Trabalho


Os ditames da Lei de Execução Penal preconizam que a assistência social
tem por finalidade amparar o preso e prepará-lo para o retorno ao convívio social,
enquanto a educacional a instrução escolar e a formação profissional do preso.

- 139 -
A estrutura da equipe do setor psicossocial é formada por 03 (assistentes
sociais), 05 (três) estagiários de serviço social e 02 (dois) psicólogos, dispondo de
uma sala de atendimento para psicologia e outra para atendimento social, confor-
me já detalhado acima no presente trabalho.
No que tange a assistência educacional, há estrutura física de 09 salas de
aula e funcionamento da Escola Estadual Giovanni Figliuoulo, biblioteca e la-
boratório de informática para aulas por vídeo conferência, inclusive graduação a
distância.
Ademais, funcionam no aludido estabelecimento projetos educativos que,
em abril de 2021, contavam com 125 (cento, vinte e cinco) internos ativos, tais
como Bambu (preparatório para ENEM e ENCCEJA), Mãos Livre (Oficina de
Artesanato), Harmonizar (Curso de Música) e Alfabetizar (reforço diário para al-
fabetização).
Outrossim, mensalmente, é realizado ainda o projeto de remição pela lei-
tura, em que um exemplar de livro é disponibilizado ao detento para que seja
realizada uma resenha, atividade esta que, atualmente, conta com a participação
de 400 (quatrocentos) internos.
Em relação a formação profissional dos custodiados para o seu retorno ao
convívio social são ministrados cursos profissionalizantes, em parceria entre a
SEAP e o CETAM, tendo sido realizado nos anos de 2020 e 2021, os seguintes:
barbeiro, serigrafia, corte e costura, higiene e limpeza, instalação e manutenção
de ar condicionado, alvenaria, eletricista, pintura predial, bombeiro hidráulico e
serralheiro.
Para participação nos cursos profissionalizantes e posterior ingresso no
programa Trabalhando a Liberdade, os pretendentes passam por rigoroso proces-
so seletivo junto aos setores social, jurídico, psicológico e de segurança, bem
como é providenciada toda a sua documentação necessária, caso não haja.
Interessante observar que, após a finalização do curso profissionalizante, a
Administração Penitenciária tem utilizado da mão-de-obra capacitada no Projeto
Trabalhando a Liberdade, tanto em obras e oficinas dentro do sistema prisional,
mas também extramuros.
No caso do IPAT, é possível indicar que os internos que realizaram o curso
profissionalizante de corte e costura e higiene e limpeza estão trabalhando nessas
oficinas que funcionam dentro da própria unidade prisional.
Na mesma direção, aqueles que participaram do curso de alvenaria, pintu-
ra, bombeiro hidráulico e serralheiro trabalham na manutenção do estabelecimen-
to, tendo sido a própria mão-de-obra carcerária que realizou a reforma geral pelo
qual passou a penitenciária no ano de 2020, tais como, a construção dos canis,
adaptação das quadras esportivas, instalação de gaiolas de proteção e automatiza-
ção dos portões de acesso e etc.

- 140 -
É importante observar que todas essas atividades podem ser exercidas
profissionalmente e de maneira autônoma pelos custodiados após a sua progressão
para o regime semiaberto, fato associado ao recebimento do pecúlio, que pode co-
laborar para uma efetiva ressocialização.
Essa iniciativa além de proporcionar a profissionalização e trabalho dos
presos, possibilita a economia de recursos públicos, pois não há gasto de dinheiro
com a mão-de-obra nessa manutenção, mas apenas dos equipamentos e utensílios
necessários.
Relevante anotar que foi aprovada, em 28 de novembro de 2019, a Lei Es-
tadual 5.036/2018 regulamentando a remuneração da mão-de-obra carcerária no
Estado do Amazonas, estabelecendo a seguinte destinação dos valores: I – 25%
(vinte e cinco por cento), referente à assistência à família, a ser depositado em
conta corrente de um dependente, por ele indicado; II – 25% (vinte e cinco por
cento), referente a pequenas despesas do preso, a ser depositado em conta corrente
em nome do apenado ou de um dependente por ele indicado; III – 25% (vinte e
cinco por cento), referente ao pecúlio, que deverá ser depositado em conta pou-
pança em nome do apenado, a ser liberado quando posto em liberdade; IV – 25%
(vinte e cinco por cento), referente ao ressarcimento do Estado pelas despesas
realizadas com a manutenção do preso, a ser depositado no Fundo Penitenciário
do Estado do Amazonas - FUPEAM.
Neste momento, existem 147 (cento e quarenta e sete) reeducandos parti-
cipando do projeto de remição “Trabalhando a Liberdade”, o que significa 22%
(vinte e dois por cento) de toda a população carcerária daquele local.
Outro dado relevante acerca dos projetos de remição no IPAT é que no pe-
ríodo compreendido entre outubro de 2020 e março de 2021, somados os cursos
profissionalizantes, leitura e trabalho, houve participação total de 642 internos,
isto significa 98% (noventa e oito por cento) do total.
A partir dessa premissa e dos dados obtidos e expostos no presente tra-
balho, passa-se no presente capítulo a tecer algumas sugestões de melhoria para
aprimoramento do sistema prisional amazonense, são elas:
(i) realização de manutenção constante das celas, pavilhão e área de vivên-
cia utilizando a mão de obra carcerária;
(ii) adequação das não conformidades identificadas no laudo pericial da
ação civil pública 0628807-39.2013.8.04.0001;
(iii) maior oferta de vagas escolares para conclusão do ensino fundamental,
eis que a maioria dos internos está nessa fase escolar;
(iv) aumento do número de vagas no projeto “Trabalhando a Liberdade”
na unidade;
(v) adequação do número de agentes de ressocialização;
(vi) realização de concurso público para agentes de polícia penal;

- 141 -
(vii) alocação dos presos observando a divisão por tipo penal, conforme
determina a Lei de Execuções Penais;
(vii) adequação e habilitação do setor médico como Unidade Básica de
Saúde (UBS).

Finalmente, é forçoso reconhecer os avanços ocorridos neste estabeleci-


mento, tais como, o conserto do sistema hidrossanitário, o elevado número de
internos participando dos projetos de remição, a oferta de cursos técnicos profis-
sionalizantes e o emprego da mão-de-obra em produtos e serviços destinados ao
próprio sistema prisional, aquisição de equipamentos de segurança, aumento do
número de atendimentos das assistências aos presos, mesmo diante da redução do
número de reeducandos, qualificação dos procedimentos de segurança, evitando
que motins quase diários voltem a ocorrer.

Referências
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Câmara dos Deputados destinada a Acompanhamento e Verificação do Sis-
tema Penitenciário em Manaus-AM – CEXPENI – 2019. In https://www.
camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1761121&filena-
me=REL+1/2019+CEXPENI. Acesso em: 30 jun. 2021.
BRASIL. Conselho Nacional do Ministério Público. Relatório de Visitas Pri-
sionais - Amazonas.In:https://www.cnmp.mp.br/portal/images/Comissoes/CSP/
RELAT%C3%93RIOS_DE_VISITAS/Relat%C3%B3rio_de_Visitas_Prisio-
nais_-_Amazonas_-_Final_-_PUBLICAR.pdf. Acesso em: 30 jun. 2021.
BRASIL. Departamento Penitenciário Nacional. Levantamento Nacional de In-
formações Penitenciárias – INFOPEN – Janeiro a Junho de 2020. In https://
app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiMjU3Y2RjNjctODQzMi00YTE4LWEwM-
DAtZDIzNWQ5YmIzMzk1IiwidCI6ImViMDkwNDIwLTQ0NGMtNDNm-
Ny05MWYyLTRiOGRhNmJmZThlMSJ9. Acesso em: 30 jun. 2021.
BRASIL. Lei de Execução Penal. Lei 7.210/84, de 1984. In http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/leis/l7210.htm. Acesso em: 30 jun. 2021.
CAVALCANTE NETO, Alberto Barros. Relatório Final da Comissão Externa
da Câmara dos Deputados destinada a Acompanhamento e Verificação do
Sistema Penitenciário em Manaus-AM – CEXPENI – 2019. In https://www.
camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1761121&filena-
me=REL+1/2019+CEXPENI. Acesso em: 30 jun. 2021.
GOMES FILHO, Dermeval Farias. Relatório de Visitas Prisionais – Amazonas
– 2019. In:https://www.cnmp.mp.br/portal/images/Comissoes/CSP/RELAT%-
C3%93RIOS_DE_VISITAS/Relat%C3%B3rio_de_Visitas_Prisionais_-_Ama-
zonas_-_Final_-_PUBLICAR.pdf. Acesso em: 30 jun. 2021.

- 142 -
CAPÍTULO XI

UNIDADE PRISIONAL DO PURAQUEQUARA – UPP


Antecedentes históricos. Evolução. Momento atual
PURAQUEQUARA PRISON UNIT – UPP
Historical Background. Evolution. Current moment

Ana Paula Serizawa Silva Podedworny91


Carlos Lélio Lauria Ferreira92

Nesta introdução, convém esclarecer que se pretende mostrar neste artigo


o contexto histórico em que a Unidade Prisional do Puraquequara foi construída,
sendo considerado pelos profissionais de engenharia do Amazonas como o proje-
to mais bem-sucedido na região. Há muita verdade nessa informação, mas não é
tudo. A UPP é também a mais peculiar dentre todas as cinco unidades que com-
põem os estabelecimentos penitenciários da capital destinados a abrigar presos
provisórios e julgados definitivamente em regime fechado. Isso porque é o único
presídio que não se localiza na BR 174, ao norte de Manaus, e sim no extremo
leste da cidade, no bairro que dá origem ao nome do estabelecimento.93
Justifica-se a escolha do tema por entender-se que se trata de questão des-
considerada pela grande maioria dos autores de História do Amazonas e, de certa
forma, pouco explorada no meio acadêmico.
Com o recrudescimento da crise no sistema penitenciário amazonense
no final do ano 2000, tornou-se indispensável a modernização da administração

91 Juíza Federal Titular da 4ª Vara da Seção Judiciária do Amazonas. É graduada em


Direito pela Universidade de São Paulo. É especialista em Direito Processual Civil
pela Universidade Federal do Amazonas. Atualmente é mestranda no Programa de
Pós-Graduação em Segurança Pública, Cidadania e Direitos Humanos da Universida-
de do Estado do Amazonas.
92 Procurador de Justiça do Ministério Público do Estado do Amazonas. Doutor em
Direito Constitucional pela Universidade de Fortaleza. Pós-Graduado em Teologia
Contemporânea pela Faculdade Claretiano. Coordenador Executivo do Comitê Per-
manente da América Latina para Revisão e Atualização das Regras Mínimas das Na-
ções Unidas para Tratamento dos Presos criado pela Fundação Internacional Penal
e Penitenciária. Membro da Associação dos Escritores do Amazonas – ASSEAM.
Administrador de Empresas formado pela Universidade do Amazonas. Professor da
Escola da Magistratura do Estado do Amazonas. Pós-Graduado em Direito Público
pela Fundação Getúlio Vargas e em Direito Penal
e Processual Penal pela Universidade Cândido Mendes.
93 O bairro do Puraquequara está situado na Zona Leste de Manaus, e existe há apro-
ximadamente 100 anos, tendo surgido na primeira metade do século XX, fundado por
23 famílias ribeirinhas que se instalaram às margens do rio Amazonas.
- 143 -
prisional do Amazonas, sobretudo a criação de vagas diante do número acentuado
de prisões, fruto da implantação da rígida política de segurança da época. Diante
desse quadro e da urgência em encontrar alternativas para abrigar os novos presos
e, especialmente, os presos que se encontravam em delegacias de polícia,94 exigia-
-se a construção de um novo presídio na capital.
Esse isolamento geográfico é peça fundamental para entender o seu fun-
cionamento atual e as percepções que se tem sobre o local. Andando sobre as
muralhas que circundam o presídio é possível visualizar externamente o Lago do
Puraquequara, pássaros, muitas árvores compondo a área verde e várias constru-
ções de casas, formando uma paisagem muito aprazível. Internamente, o presídio
é composto de 107 celas divididas em 11 galerias. A lotação ideal é de 614 custo-
diados, mas atualmente a Unidade Prisional do Puraquequara abriga por volta de
830 pessoas. Esse número razoavelmente pequeno de superlotação, em compara-
ção com as demais unidades da capital, dá-se em razão da última rebelião ocorrida
em 2020, durante a pandemia, em que várias celas foram destruídas e atualmente
passam por reforma, o que resultou na transferência de vários internos para outras
unidades.
Considerando importante e conveniente elaborar a necessária contextuali-
zação do tema aqui examinado, faz-se a seguir a apresentação da Unidade Prisio-
nal do Puraquequara desde sua inauguração até a conformação atual. As informa-
ções apresentadas foram obtidas em pesquisa bibliográfica e documental e visitas
à unidade. A pesquisa bibliográfica abrangeu livros e informações em sítios da in-
ternet. Os documentos foram fornecidos pela Secretaria de Estado de Administra-
ção Penitenciária – SEAP e pela Direção da Unidade Prisional do Puraquequara.

1. Antecedentes históricos
Como resultado de convênio entre o estado do Amazonas e a União, a
Unidade Prisional do Puraquequara,95 localizada na Estrada do Puraquequara, km
8, Ramal Bela Vista, entrou em atividade em 11.11.2002, servindo inicialmente

94 A permanência de presos provisórios nas dependências das Delegacias de Polícia,


tanto na capital como nas cidades do interior do estado, era um fato constatado na
época da construção da Unidade Prisional do Puraquequara, mas que ainda pode ser
verificado na maioria dos sistemas prisional e de segurança pública de quase todos
os estados brasileiros. No caso de Manaus foi uma medida tomada por ocasião de
sangrentas rebeliões na época referida, por uma comissão composta por membros da
Ordem dos Advogados do Brasil, do Ministério Público do Estado, do Tribunal de
Justiça, da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal de Manaus, da As-
sembleia Legislativa, e ainda da Secretaria de Estado de Segurança Pública, portanto,
uma decisão conjunta e não irresponsável, tendo o problema sido amenizado somente
após a construção do IPAT e do CDPM I e II.
95 A palavra puraquequara tem origem no termo indígena que define um rio afluente
da margem esquerda do rio Amazonas, nas proximidades de Manaus. Em outros di-
cionários, em tupi-guarani, puraquequara significa, literalmente, a casa, o refúgio, a
toca do poraquê.
- 144 -
como cadeia pública masculina e feminina, sendo importante registrar que, até
então, a única Cadeia Pública de Manaus, a “Raimundo Vidal Pessoa”, continuava
superlotada.96
Para que se possa manter fiel às circunstâncias que envolveram a situação,
é necessário resgatar um fato histórico e curioso relacionado ao nome escolhido
para o estabelecimento penal: “unidade prisional”. Ele foi resultado da burocracia
estatal, que precisava ser equacionada para que o verdadeiro objetivo do estado,
que é servir a sociedade, fosse alcançado. Dessa forma, sem verbas no orçamento
para a construção de cadeias, mas, sim, de penitenciárias, a União, por meio do
Departamento Penitenciário Nacional, firmou convênio com o estado do Amazo-
nas, que, vale destacar, não tinha urgência na construção de penitenciárias, mas,
sim, de uma cadeia pública. Então, para que o convênio fosse concretizado, o
estado não poderia dar o nome de “Cadeia Pública do Puraquequara”97 àquele
estabelecimento penal, batizando-o, então, de “Unidade Prisional do Puraque-
quara”, que ficou servindo e ainda serve como cadeia pública destinada a presos
provisórios.98
Não se pode perder de perspectiva, neste ponto, a necessidade de registrar
que a Unidade Prisional do Puraquequara surgiu de decisão política do Governo
do Estado do Amazonas, premido pelas circunstâncias insustentáveis em oferecer
respostas à sociedade pelas fugas constantes de presos das delegacias de polícia.
O projeto arquitetônico foi baseado em projeto similar de presídios da cidade de
Curitiba, no Paraná, e adaptado pela equipe técnica da Secretaria de Infraestrutura
do Estado do Amazonas à realidade prisional de Manaus.
O estilo arquitetônico da Unidade Prisional do Puraquequara segue o mes-
mo padrão do Complexo Penitenciário “Anísio Jobim”: o estilo paralelo, com a
diferença de que o edifício do Puraquequara é mais fiel ao modelo original, onde
os pavilhões são construídos a partir de um corredor comum, em um formato de
espinha,99 por isso um estilo que recebeu também o nome de “espinha de peixe”
(AGUILERA, 1998, p. 92). A Unidade Prisional do Puraquequara tem o formato
parecido com o primeiro estabelecimento prisional construído em estilo paralelo
pelo arquiteto François Henri Poussin, na França: a prisão de Fresnes.
96 Na data da inauguração da Unidade Prisional do Puraquequara, a Cadeia Pública
“Desembargador Raimundo Vidal Pessoa” abrigava 677 presos, os quais foram sendo
transferidos gradativamente para o novo presídio.
97 Outra explicação difundida na literatura manauara é que o nome puraquequara
vem de um peixe chamado poraquê, também chamado de enguia de água doce, e
que, para se alimentar, o peixe dá pequenos choques elétricos nas árvores, e come os
frutos que caem.
98 O fato narrado revela a ausência de políticas públicas para o sistema penitenciário
brasileiro, em que os entraves burocráticos alimentam o déficit de vagas.
99 No COMPAJ os pavilhões que comportam as celas saem do corredor principal,
como em formato de “pente”, isto é, apenas para um lado. Não deixa de ser estilo
paralelo, mas o desenho da Unidade Prisional do Puraquequara é diferente por possuir
galerias saindo para os dois lados.
- 145 -
Nesse estabelecimento penal os pavilhões levam o nome de galerias, onde
há 10 celas com capacidade para seis presos cada. São 11 galerias que saem de
um corredor principal em dois andares, mas a galeria número 5 é reservada para
a triagem de presos, e as celas da galeria número 8 são utilizadas como local para
cumprimento de sanção disciplinar.
A galeria número 1 está reservada para os presos que respondem pela prá-
tica do crime de furto (art. 155 do Código Penal); na galeria número 2, os presos
processados pela prática dos delitos dos arts. 213, 214, 171 e 180 do Código
Penal; nas galerias números 3 e 4, os presos envolvidos com o tráfico ilícito de
entorpecentes; nas galerias números 6 e 7 estão os presos que respondem a pro-
cesso por homicídio e outros crimes contra a vida; nas galerias números 9 e 10,
os presos pela prática de crime contra o patrimônio, e, na galeria número 11, os
presos pela prática de outros delitos (FERREIRA; VALOIS, 2006, p. 121).
As galerias e o próprio corredor principal são guarnecidos de portas gra-
deadas que, em princípio, deveriam funcionar por meio de controle mecânico,
mas as rebeliões ocorridas logo no início das atividades do estabelecimento penal
levaram à danificação dos mecanismos elétricos, permanecendo apenas a porta de
entrada com os controles originais, enquanto as demais ficaram sendo operadas
de forma manual.
Atualmente a unidade conta com sala de monitoramento de câmeras, dro-
nes, máquina de raio X, body scan, detector de metais, cerca elétrica, sensor sís-
mico e sensor infravermelho. Esses equipamentos têm contribuído para diminuir
a entrada de ilícitos na unidade, como armas, entorpecentes e celulares.
Com o intuito de contribuir para o desenvolvimento de novas pesquisas,
convém reconhecer o trabalho dos diretores que estiveram à frente da Unidade
Prisional do Puraquequara, desde que foi criada:

Cel. PM Fernando Antônio Andrade de Oliveira


David Ferreira do Nascimento
Antônio Alfredo Rego da Matta
David Ferreira do Nascimento
Mário Cauper Monteiro (Interventor)
Carliomar Barros Brandão
Marcelo Gonzaga Carvalho
Andrelino Daniel Alves de Nazareth
Williams Gomes Monteiro
Carlos Augusto Reis Vitor
Ilson Vieira Ruiz

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Saulo Ricardo Amaral Santos da Silva
Leandro Souza de Lima
Chandler Pacheco da Silva
Thiago Orderdenge
Jean Carlo Silva de Oliveira
Robert Washington Barreto
Felipe da Silva Abreu

2. Rebeliões
Com pouco mais de dois meses de atividade, no dia 20.02.2003, a Unida-
de Prisional do Puraquequara já sofria a sua primeira rebelião. Em razão desse
fato, consubstanciado na ameaça que as rebeliões representavam às mulheres
recolhidas ilegalmente em uma ala daquele estabelecimento, com risco real de os
presos invadirem as alas femininas, a Unidade Prisional do Puraquequara deixou
de servir também como cadeia pública feminina. Assim, as presas provisórias
foram transferidas de volta ao Complexo Penitenciário “Anísio Jobim” (FERREI-
RA; VALOIS, 2006, p. 120).
Ainda segundo Ferreira e Valois (2012), no ano de 2003 a Unidade Pri-
sional do Puraquequara experimentou outras quatro rebeliões, que deixaram um
saldo de 13 mortos e as dependências internas destruídas. Em 2004 houve mais
uma rebelião que resultou na morte de sete pessoas, uma das quais era agente de
ressocialização.
Em outros momentos a Unidade Prisional do Puraquequara voltou a ser
palco de três rebeliões com mortos. Em janeiro de 2017, em desdobramento do
episódio conhecido como Massacre do COMPAJ, quatro detentos foram mor-
tos por detentos de organização criminosa rival (G1 AM, 2017). Além disso, em
2019, em nova rebelião motivada por briga entre facções criminosas, seis detentos
foram mortos asfixiados ou por estoques improvisados dentro das celas, por seus
próprios pares (PORTAL A CRÍTICA, 2019). Por fim, em maio de 2020, em plena
pandemia, houve nova rebelião em que os internos fizeram sete agentes de resso-
cialização como reféns, após uma tentativa de fuga frustrada. O motim deixou um
saldo de 17 pessoas feridas e galerias de celas inteiras destruídas (G1 AM, 2020a).
Infelizmente, como foi possível relatar, a história da Unidade Prisional do
Puraquequara é marcada por rebeliões desde sua inauguração, várias delas com
vítimas fatais.100 A localização e o isolamento são fatores que talvez contribuam
100 A experiência na execução da pena, principalmente nos procedimentos de apura-
ção de eventos criminosos no interior dos presídios, tem demonstrado que a maioria
das rebeliões são feitas como represália a fugas frustradas pela administração prisio-
nal, funcionando como instrumento de negociação dos presos rebelados para evitar a
imposição de penalidades para a infração disciplinar ou até crimes cometidos.
- 147 -
de forma decisiva para esses acontecimentos.101 A mudança do perfil de presos
destinados a esta unidade, além do aprimoramento dos equipamentos de segu-
rança, é medida da administração penitenciária no intuito de mudar esse destino.

3. Funcionamento da Unidade: perfil dos custodiados


O perfil da pessoa custodiada na Unidade Prisional do Puraquequara é de
homem, jovem, preso preventivamente, em sua primeira prisão, portanto, não
reincidente, sem liderança entre os presos, majoritariamente pertencente à orga-
nização criminosa “Comando Vermelho”. A maioria é usuário de drogas, e há
grande rotatividade dos internos. Esse perfil selecionado pela administração pe-
nitenciária para a unidade é importante para minimizar a possibilidade de fugas,
resgates e rebeliões, uma vez que, em razão de estar distante das demais unidades
e da sede da SEAP, no extremo da cidade a leste, o acesso das autoridades inte-
grantes do sistema de segurança em caso de sinistro ficaria prejudicado.
Ao dar entrada na Unidade Prisional do Puraquequara todo custodiado fica
em isolamento pelo período de 14 dias, em celas específicas da triagem, perío-
do no qual passa por triagem dos profissionais do corpo técnico, recebe enxoval
com colchão, lençol, toalha e travesseiro, kit de uniforme com camisetas, shorts,
calças, cuecas, calçado e kit de higiene e limpeza, contendo escova e pasta de
dente, sabonete, xampu, desodorante e papel higiênico. A cada 15 dias também
é fornecido barbeador. O isolamento inicial é importante, especialmente após a
pandemia, porque permite detectar sintomas de COVID-19, caso em que a pessoa
recebe tratamento e fica afastada dos demais presos, evitando a contaminação em
massa. Nas celas não há vagas para todos os presos, porém, cada um recebe o seu
colchão, e os excedentes dormem no chão.
A unidade abriga presos provisórios de 18 a 70 anos, com escolaridade que
varia do analfabetismo ao ensino superior, porém, não há celas especiais em uso.
Os detentos com nível superior costumam ficar separados no pavilhão da remição.
Ao tempo da pesquisa havia dois presos indígenas; seis presos estrangeiros, das
nacionalidades venezuelana, peruana e colombiana; e quatro presos com deficiên-
cia física. Não há internos do grupo LGBTQI+, pois todos os internos que se de-
claram com esse perfil são transferidos para outras unidades que possuem celas e
galerias específicas, em atendimento à Resolução CNJ nº 348/2020 (CONSELHO
NACIONAL DE JUSTIÇA, 2020). Os crimes mais comuns entre os encarcera-
dos são o tráfico de entorpecentes, os crimes contra o patrimônio (furto, roubo e
latrocínio) e o homicídio. 

101 Também não se pode perder de vista que, muitas vezes, as rebeliões são provo-
cadas para o reconhecimento de lideranças nefastas de criminosos sobre os demais
presos com o intuito de eliminar desafetos, impor novos líderes pela violência, mas,
na maioria dos casos, objetivam a saída da direção do estabelecimento, que adota
medidas rígidas para o cumprimento da lei e dos regulamentos.
- 148 -
Apesar de a grande maioria dos internos ser composta por presos provi-
sórios, havia, na época da pesquisa, 51 presos sentenciados em cumprimento de
pena em regime fechado. Há 72 internos trabalhando, inseridos em projetos de
remição pelo trabalho, dos quais 48 são remunerados. Importante destacar que
todos os sentenciados trabalham. Todos esses internos residem em pavilhão sepa-
rado dos demais presos e gozam de maior autonomia dentro da unidade. São raros
os episódios de fugas, apesar de que no ano de 2021 tenha havido a fuga de duas
pessoas trabalhando em serviço externo. A UPP conta com uma fábrica de blocos
de tijolos e, além dela, as atividades de remição englobam barbearia, lavanderia
e costura, cozinha, serviços gerais, manutenção, construção e reforma, e também
revitalização externa e horta.
Além dos 72 presos em remição pelo trabalho, há 10 presos em remição
pelo estudo e aproximadamente 250 internos em remição pela leitura. Importante
destacar que a remição pelo estudo alcança apenas presos em alfabetização, pois,
em razão do perfil do preso desta unidade, há grande rotatividade dos internos,
o que prejudica a permanência nas atividades escolares. Já a remição pela leitura
alcança presos da massa carcerária que se encontram nos pavilhões comuns.
Já tivemos a oportunidade de abordar a impropriedade do uso do termo
ressocialização, ocasião em que ressaltamos que não são apenas presos que deve-
riam ser “ressocializados”, afinal, a ressocialização não é uma função exclusiva
do direito penal, mas de qualquer ramo do Direito, e até da moral (FERREIRA,
2021, p. 195).
Não há presos cumprindo prisão civil nem medida de segurança na Uni-
dade Prisional do Puraquequara. Não há presos em celas de proteção, em medida
disciplinar, tampouco em cumprimento de regime disciplinar diferenciado. Em
caso de infração disciplinar mais grave, o interno é removido para outra unidade
prisional.
O banho de sol é feito nas quadras poliesportivas. Os locais também ficam
abertos em dias de visita dos familiares e amigos, além das celas e espaços de vi-
vência social. Antes da pandemia a visita ocorria nos fins de semana. Durante os
períodos mais críticos da pandemia, as visitas presenciais foram suspensas, mas
a SEAP desenvolveu a “televisita”. Atualmente as visitas ocorrem nas quartas e
sextas-feiras, de manhã e de tarde, e são agendadas por aplicativo, numa média de
60 a 80 visitas por dia. As visitas ocorrem para cada pavilhão a cada 15 dias, logo,
cada interno da Unidade Prisional do Puraquequara recebe visita duas vezes por
mês. Os presos têm direito a visita íntima, que ocorre nos dias de visitas. Não há
locais destinados à visita íntima, sendo assim, ocorre nas celas.
Em conversas informais com alguns internos, a facilidade de acesso dos
visitantes à unidade foi citada como ponto positivo do local em relação aos outros
estabelecimentos prisionais de Manaus, pois há pelo menos duas linhas de ônibus

- 149 -
que param praticamente na porta de entrada da Unidade Prisional do Puraque-
quara. Outra vantagem mencionada foi a possibilidade de acompanhar os jogos
do fim de semana de acordo com o estampido dos fogos de artifício das casas
vizinhas ao presídio, em caso de gol.

4. Os vários tipos de assistências


Todos os custodiados recebem assistência médica, psicossocial e jurídica.
No que diz respeito à assistência médica, a Unidade Prisional do Puraque-
quara conta com um ambulatório, onde atuam dois clínicos gerais, um psiquiatra,
seis enfermeiros, três técnicos de enfermagem, um farmacêutico, um dentista,
um auxiliar de dentista e um fisioterapeuta. São realizados, em média, 30 atendi-
mentos médicos por dia dentro da própria unidade. Casos de maior complexidade
são atendidos pela rede hospitalar pública e privada mediante deslocamento do
interno com escolta.
Ao ingressar na unidade, o interno faz teste para AIDS e outras infecções
sexualmente transmissíveis, como sífilis e hepatite. A doença mais comum entre
os internos é a escabiose (sarna), mas entre idosos são comuns os quadros de
hipertensão e diabetes. Todas essas doenças mencionadas são tratadas na própria
Unidade Prisional do Puraquequara, com fornecimento dos medicamentos neces-
sários pelo Sistema Único de Saúde, mas também é permitido à família o forneci-
mento de remédios, desde que apresentada prescrição médica. Os medicamentos
mais utilizados dentro da unidade são psicotrópicos, para combate a ansiedade,
insônia e abstinência. Ao tempo da pesquisa estava sendo construída uma Unida-
de Básica de Saúde na unidade prisional, com mão de obra dos próprios presos.
Especificamente quanto à COVID-19, as informações coletadas mostram
que foram adotadas medidas de prevenção como uso de máscaras, uso de álcool
em gel, verificação de temperatura, aumento de horas no banho de sol, para um
total de três horas por dia. Foram distribuídos polivitamínicos e vacinas contra a
gripe H1N1 (FERREIRA, 2020; NASCIMENTO, 2020). Não houve testagem em
massa dos presos, tendo o teste sido realizado por apenas 86 internos, dos quais
seis foram positivos. Não obstante, a unidade não registrou nenhum óbito por
COVID-19. Todo o pessoal administrativo já foi vacinado na Unidade Prisional
do Puraquequara, mas a vacinação dos internos segue o cronograma do resto da
população. Dessa forma, já foram vacinados os internos dos grupos de risco, e a
imunização segue por faixas etárias.
O atendimento psicossocial é feito na unidade por duas psicólogas e quatro
assistentes sociais, além de duas estagiárias em psicologia e quatro estagiárias
do serviço social. Entre agosto de 2020 e maio de 2021 foram realizados mais de
1.580 atendimentos psicológicos e mais de 2.600 atendimentos sociais.

- 150 -
Quanto ao atendimento jurídico, a unidade conta com três cabines para par-
latório com os advogados, sendo realizados em média 15 atendimentos por dia,
de segunda a sexta, tanto em atendimento presencial quanto por videochamadas.
A assistência religiosa ficou suspensa durante a pandemia, quando foram
realizadas somente celebrações entre os internos, especialmente de cultos evan-
gélicos. Atualmente, em datas comemorativas religiosas são celebrados cultos e
missas. É permitida a distribuição de bíblias, e durante a pandemia a própria Ad-
ministração Penitenciária forneceu exemplares.

5. A gestão da UPP
A administração da Unidade Prisional do Puraquequara segue o formato
de Parceria Público-Privada, com terceirização parcial dos serviços, o que signi-
fica dizer que os efetivos da direção da unidade são pertencentes aos quadros da
SEAP, enquanto os demais agentes são terceirizados por empresa cogestora. A
administração é feita pelo Diretor, pelo Diretor Adjunto, pelo Gerente de Estatísti-
ca, pelo Gerente de Segurança Interna e pelo Gerente de Segurança Externa. Pela
empresa cogestora são fornecidos os 229 agentes de ressocialização, divididos
por turnos e equipes.
A cogestão na UPP começou em 2003, pouco tempo depois da inaugura-
ção, tendo sido operacionalizada pelo Instituto Nacional de Administração Pri-
sional Ltda. até 16 de abril de 2004. A partir de então assumiu a empresa Compa-
nhia Nacional de Administração Penitenciária – CONAP (FERREIRA; VALOIS,
2012). A empresa UMANIZZARE atuou na unidade de julho de 2013 a julho de
2020. Atualmente a empresa cogestora é a RH Multi Serviços Administrativos,
desde 1º de agosto de 2020.
O contrato atualmente vigente, Termo de Contrato nº 008/2020-SEAP, tem
prazo de duração de 60 meses, e engloba a gestão tanto da UPP quanto do Ins-
tituto Penal Antônio Trindade – IPAT (SECRETARIA DE ESTADO DE ADMI-
NISTRAÇÃO PENITENCIÁRIA, 2021). O valor mensal é de R$ 11.390.028,56
(onze milhões, trezentos e noventa mil, vinte e oito reais e cinquenta e seis cen-
tavos). Apesar de haver atualmente cerca de 830 pessoas custodiadas, a licitação
da Unidade Prisional do Puraquequara levou em consideração a quantidade de
1.100 internos.
A empresa cogestora fica encarregada de fornecer a mão de obra para o
funcionamento prisional, não apenas de agentes de ressocialização, mas também
de médicos, psicólogos, estagiários, assistentes sociais, estagiários, pedagogo e
até de condutores de cães.
A empresa cogestora é obrigada, pelo contrato, a fornecer a alimentação
dos internos, composta de cinco refeições diárias, ou seja, café da manhã, almo-
ço, lanche, jantar e ceia. A alimentação deve ser balanceada, em condições de

- 151 -
higiene, quantidade e qualidade adequadas. Também deve fornecer material de
cama, banho, utensílios para alimentação e vestimenta, composta por bermudas,
camisas, cuecas e sandália, recebidos quando da entrada na unidade e trocados a
cada seis meses.
Particularmente significativa é, a propósito do tema aqui abordado, a
questão relacionada ao custo do preso. Pela análise do Termo de Contrato nº
008/2020-SEAP, firmado entre o estado do Amazonas, por intermédio da Secre-
taria de Estado de Administração Penitenciária, e a empresa RH MULTI Serviços
Administrativos LTDA, e de acordo com informações fornecidas pela SEAP, o
custo mensal do preso naquela unidade prisional é de R$ 2.173,94.
Em artigo sobre o tema, FERREIRA (2018) defende que o custo do encar-
ceramento só se justifica com a resposta a questões fundamentais para o Direito:
realiza-se a justiça com a privação da liberdade de pessoas? Restabelece-se o
equilíbrio entre os membros da sociedade com a prisão do criminoso? O preço
pago para manter o autor do crime afastado da sociedade tem caráter compensa-
tório quanto à reparação do dano por ele causado? Sob a ótica da Análise Econô-
mica do Direito, se o encarceramento não tem retorno para a sociedade, torna-se
custoso, o que se afigura como “desperdício”.
A oportunidade de contar a história da Unidade Prisional do Puraquequara
e torná-la conhecida do público é, para os autores, motivo de satisfação em poder
contribuir para a produção do conhecimento na academia.
Como profissionais da área do Direito e estudiosos da execução penal, en-
tende-se que o resgate da história da Unidade Prisional do Puraquequara é uma
oportunidade de oferecer aos militantes na área da execução da pena, informações
importantes acerca do funcionamento de um dos maiores presídios do estado do
Amazonas. Sua história confunde-se com a história do próprio sistema penitenci-
ário do Amazonas.
A pesquisa que ora se apresenta, sem a pretensão de esgotar o assunto, é
suficiente para evidenciar algumas questões que permeiam as discussões sobre
o sistema prisional amazonense, especialmente a busca de explicações sobre a
quantidade de rebeliões pelas quais passou a Unidade Prisional do Puraquequara
desde a sua inauguração. Nesse particular, é forçoso destacar que na UPP, inva-
riavelmente, estiveram recolhidas as lideranças nocivas que integravam organiza-
ções criminosas, o que sempre trouxe um problema maior para ser administrado
pela direção. A própria terceirização daquela unidade prisional foi diferente de
outros estados, considerando que as empresas assumiram o presídio já em funcio-
namento e com vícios e defeitos de arquitetura e de pessoal, fatores determinantes
na fragilização da segurança.
O artigo procura trazer contribuição original para as discussões sobre as
pesquisas futuras sobre o sistema penitenciário do Amazonas, em especial, sobre

- 152 -
a Unidade Prisional do Puraquequara. Nesse particular, questiona-se se a UPP
realmente cumpriu os objetivos para os quais foi construída. O que precisaria me-
lhorar? Como isso pode ser feito? Apresenta-se, então, as seguintes conclusões:
A gestão compartilhada da Unidade Prisional do Puraquequara ainda não
se compatibiliza com a sua estrutura física, apesar dos esforços da SEAP/AM.
As responsabilidades do estado e da empresa terceirizada poderiam estar
definidas de forma mais adequada o que permitiria apuração mais eficaz pelos
órgãos de fiscalização, e não somente nos momentos de crise do sistema.
Como complemento do item 1, o regime disciplinar adotado na Unidade
Prisional do Puraquequara poderia ser aperfeiçoado, tornando-se mais compatível
com a estrutura física e com o pessoal penitenciário.
O custo do preso apurado na Unidade Prisional do Puraquequara poderia
ser revisto, ficando compatível com unidades prisionais de outros estados. Nesse
particular, seria importante o estado adotar providências no sentido de realização
de concurso público para contratação de agentes penitenciários.
A fiscalização da Unidade Prisional do Puraquequara pelos principais ór-
gãos da Execução Penal (Ministério Público, Conselho Penitenciário) precisa ser
feita com maior regularidade.
O desenvolvimento das atividades educacionais, laborais e religiosas na
Unidade Prisional do Puraquequara têm sido insuficientes para que seja alcançada
a principal finalidade da pena privativa de liberdade: a reintegração social.
Verificou-se que, reiteradamente, a Unidade Prisional do Puraquequara
abriga presos de outros regimes prisionais, sendo reflexo do déficit de vagas his-
tórico em todo o Brasil.
Diante do exposto, procede arrematar com a impressão de que o funcio-
namento da Unidade Prisional do Puraquequara avançou em muitos aspectos ao
longo dos anos, mas ainda precisa se adequar ao previsto em diversos diplomas
legais (Estatuto Penitenciário do Estado do Amazonas; Lei de Execução Penal;
Resoluções do CNPCP; Plano Diretor e de Melhorias, Regras Mínimas para Tra-
tamento do Preso no Brasil e outros diplomas internacionais).

Referências

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cho y Realidad. Madrid: EDISOFER. 1998. 190 p.
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- 153 -
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2019. Estabelece procedimentos ao tratamento das pessoas indígenas acusadas, rés,
condenadas ou privadas de liberdade, e dá diretrizes para assegurar os direitos des-
sa população no âmbito criminal do Poder Judiciário. Brasília, DF, 2019. Disponí-
vel em: https://atos.cnj.jus.br/files/resolucao_287_25062019_08072019182402.
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CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Resolução nº 348, de 13 de outubro
de 2020.  Estabelece diretrizes e procedimentos a serem observados pelo Poder
Judiciário, no âmbito criminal, com relação ao tratamento da população lésbica,
gay, bissexual, transexual, travesti ou intersexo que seja custodiada, acusada, ré,
condenada, privada de liberdade, em cumprimento de alternativas penais ou mo-
nitorada eletronicamente. Brasília, DF, 2020. Disponível em: https://atos.cnj.jus.
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FERREIRA, Carlos Lélio Lauria; VALOIS, Luís Carlos. Sistema Penitenciário
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-amazonas-nesta-segunda-feira. Acesso em: 28 jun. 2021.
PORTAL G1 AM. Governo autoriza televisitas de detentos a familiares no AM;

- 154 -
visitas estão suspensas por conta do coronavírus. Manaus, 25 de março de 2020
[2020a]. Disponível em: https://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2020/03/25/
governo-autoriza-televisitas-de-detentos-a-familiares-no-am-visitas-estao-sus-
pensas-por-conta-do-coronavirus.ghtml. Acesso em: 27 jun. 2021.
PORTAL G1 AM. Quatro presos são mortos em presídio na Zona Rural de
Manaus: este é mais um episódio na escalada de violência no sistema prisional
do AM. Rebelião no domingo (1º), no COMPAJ, resultou em 56 mortes. Manaus,
02 de janeiro de 2017, atualizado em 03 de janeiro de 2017. Disponível em: http://
g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2017/01/quatro-presos-sao-mortos-em-pre-
sidio-na-zona-rural-de-manaus.html. Acesso em: 28 jun. 2021.
PORTAL G1 AM. Rebelião com reféns em presídio de Manaus terminou com
17 feridos, diz governo. Manaus, 02 de maio de 2020 [2020b]. Disponível em:
https://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2020/05/02/rebeliao-com-refens-em-
-presidio-de manaus-terminou-com-17-feridos-diz-governo.ghtml. Acesso em:
28 jan. 2021.
SECRETARIA DE ADMINISTRAÇÃO PENITENCIÁRIA. Unidade Prisional
do Puraquequara. Memorando nº 125/2021-GAB/UPP. Manaus, 02 de junho de
2021. SEAP: 2021. Assunto: Dossiê história das prisões no Amazonas.

- 155 -
- 156 -
CAPÍTULO XII

CASA DO ALBERGADO
HOSTEL’S HOUSE

Criscyanne Andrade de Oliveira102


Ellen de Moraes e Silva 103
Pamella Oliveira Silva104

A Casa do Albergado foi criada pela Lei n.º 1694, de 15 de julho de 1985,
é um estabelecimento de segurança mínima, baseado na autodisciplina e senso de
responsabilidade do condenado e destina-se ao cumprimento de penas em regime
aberto e da pena de limitação de fim de semana, sendo diretamente subordinada
à Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (SEAP). É um estabeleci-
mento prisional para abrigar presos com baixo ou nenhum grau de periculosida-
de, que cumprem pena por crimes de baixo potencial ofensivo, cometidos sem
violência.

A Casa do Albergado
Existem, na SEAP, a Casa do Albergado de Manaus e o Departamento de
Reintegração Social que têm por atribuições o acompanhamento de albergados e
egressos do sistema prisional. Casa do Albergado Masculino e Casa do Alberga-
do Feminino, estabelecimentos destinados ao cumprimento de penas em regime
aberto e da pena de limitação de fim de semana, subordinados à Secretaria de
Estado de Administração Penitenciária (SEAP).
Atualmente, o Estado do Amazonas possui 74 estabelecimentos de priva-
ção de liberdade, entre unidades prisionais e delegacias do interior, totalizando
5.074 vagas. Destas há 10 unidades prisionais na capital e 8 unidades prisionais
no interior sob a administração da Secretaria de Administração Penitenciária, to-
talizando 4.356 vagas, 755 destinadas à Casa do Albergado.
Como requisitos, a casa do Albergado, cujo estabelecimento necessita se
localizar em um centro urbano, separado de outros prédios e, principalmente, não

102 Doutoranda em Saúde Pública – Sociedade, Violência e Saúde (ENSP/FIOCRU-


Z-RJ), Mestre em Segurança Pública, Cidadania e Direitos Humanos (UEA), Espe-
cialista em Direito Civil e Processo Civil – (CIESA); Advogada Humanista, Direito
– UFAM.
103 Doutoranda em Saúde Pública (FIOCRUZ/RJ), Mestre em Segurança Pública,
Cidadania e Direitos Humanos (UEA), Especialista em Gestão de Saúde (FSDB),
Assistente Social, Perita Judiciaria Social (Justiça Federal), Professora Substituta da
Universidade Federal do Amazonas (UFAM).
104 MBA Gestão de Pessoas, (CESA), MBA Gerenciamento de projetos, (CESA),
Pedagoga, Assistente Social, Perita Judiciaria Social (Justiça Federal).
- 157 -
pode conter obstáculos físicos à fuga (art. 94, LEP). Não bastasse, é necessário
que cada região tenha ao menos uma Casa do Albergado, que deverá conter apo-
sentos para os presos, além de local adequado para se ministrar cursos e palestras
(art. 95, LEP).
Vale frisar que, fora do estabelecimento e sem vigilância, o condenado
deverá trabalhar, frequentar curso ou exercer qualquer outra atividade autorizada,
com a obrigatoriedade de se recolher à Casa do Albergado no período noturno e
nos dias de folga (art. 36, Parágrafo 1º, CP). Porém, nos exatos termos do arti-
go 114, Parágrafo único, LEP, maiores de 70 anos de idade; pessoas portadoras de
moléstia grave; aqueles que possuam filhos menores ou portadores de deficiência
e gestantes poderão ser dispensados do trabalho.
No mais, o ingresso do condenado no regime aberto pressupõe a aceitação
de seu programa e das condições impostas pelo magistrado, sendo que somente
pode ingressar nessa modalidade de regime o condenado que estiver trabalhando
(ou comprovar a possibilidade de fazê-lo imediatamente) e apresentar, em razão
de seus antecedentes ou do resultado dos exames a que foi submetido, fundados
indícios de que irá se ajustar ao novo regime, de acordo com os dois paradigmas
do regime aberto: autodisciplina e senso de responsabilidade.
Ou seja, o regime aberto depende da obediência de condições, que se divi-
dem em duas: legais (ou gerais) e judiciais (especiais). A primeira é um rol apon-
tado pelo artigo 115, LEP. A segunda pode ser estabelecida discricionariamente
pelo juiz, atendendo-se, evidentemente, às condições legais (art. 116, LEP).
Assim, a ideia que prevalece é a de que todas essas regras do regime aber-
to trazidas pela LEP não podem, em sua maioria, ser aplicadas na prática. Isso
porque são raríssimas as Casas do Albergado em território nacional e, mesmo
onde se pode encontrá-las, verifica-se precária situação de alojamento.

Funcionamento

FUNCIONAMENTO

Imagem: SEJUS

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De acordo com Relatório de Inspeção da VEP – 2021 /2022, realizado pelo
Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas e Secretaria de Segurança Pública –
AM, a Autoridade Administrativa do Estabelecimento por meio de Gestão Pública
é de Jean Carlo Silva de Oliveira.
A Casa do Albergado permanece ativa e funcionando da maneira que pas-
samos a descrever:
Quanto à Informatização é possível dizer que há 8 computadores; há acesso
à internet; há alimentação do INFOPEN e SIAP pela unidade.
Os profissionais estão ligados a SEAP, sendo dois cargos comissionados
(Direção e Serviço Social) e quarenta e nove funcionários efetivos (dez desen-
volvem atividades administrativas e trinta e nove como agentes penitenciários).
No que concerne ao Estabelecimento destinado para presos: do sexo mas-
culino, para sentenciados em pena privativa de liberdade em Regime Aberto e
pena Restritiva de Direito de Limitação de Fim de Semana, mas desde janei-
ro/2014 passou o cumprimento da pena em regime aberto na forma de Prisão
Domiciliar com assinatura semanal, bem como as restritivas foram encaminhadas
ao Cartório da Vara de Execução e Medidas Alternativas – VEMEPA. A Partir de
outubro de 2019, passamos a contar com as sentenciadas em Regime Aberto e em
junho de 2020, com os sentenciados e sentenciadas em Livramento Condicional.
Acerca do Quantitativos Capacidade hoje é 00 e a Lotação atual: 0% de
apenados recolhidos na Unidade CAM, totalizando 2.346, apenados nesta Casa
do Albergado do sexo masculino, sendo 1.609 em Regime Aberto, 663 em Li-
vramento Condicional, assinando na CAM, 73 em Penas Restritivas de Direito,
assinando quinzenalmente na CAM e 265 do sexo feminino, que se apresentam
na Unidade para frequência de assinatura mensal e/ou semanal de acordo com
decisão judicial, sendo 166 em Regime Aberto e 13 cumprindo pena restritiva de
direitos e 86 em Livramento Condicional; Total Geral de = 2.611.
Sobre a capacidade para presos em celas de proteção, Capacidade para
presos em cumprimento de RDD, Quantidade de vagas oferecidas para trabalho
interno, Quantidade de vagas oferecidas para trabalho externo, Quantidade de
vagas oferecidas para estudo na unidade, o relatório apontou que não se aplica.
A respeito da Quantidade de presos/internos na data da inspeção, qual seja
01 à 30/04/2022, os números são o que seguem: 2.346 no total, sendo 1.609 em
Regime Aberto, 663 internos em Livramento Condicional e 73 internos em Res-
tritivas de Direito, além de 265 apenadas, sendo 166 em Regime Aberto e 13
cumprindo penas restritivas de direitos e 86 em Livramento Condicional.
A Situação dos presos no estabelecimento é: (a) em medida disciplinar:
zero.
Em relação a Estrutura complementar: Área destinada para visita fami-
liar? Área de banho de sol? Biblioteca? Espaço para prática esportiva? Gabinetes

- 159 -
odontológicos? Local apropriado para visita íntima? Oficinas de trabalho? Sala de
entrevista com advogado? O relatório informou não se aplicar tais informações à
realidade local.
Quanto ao Local apropriado para assistência religiosa, verifica-se que há
espaço reservado fica na área do auditório. Sobre as Salas de aula existe um espa-
ço reservado fica na área do auditório em caso de realização de cursos.
Importante frisar que também se verificou que não há Aparelho para blo-
queio de celular, nem Detector de metais na unidade.
No que se refere aos Direitos, o estabelecimento penal não possui unidade
materno-infantil. No mais, o relatório informa: O preso primário fica separado
do reincidente? Não se aplica; É assegurado o direito de visita? Não se aplica; É
assegurado o direito de visita íntima? Não se aplica.
Em relação a prestação de assistência, não há assistência material nem de
saúde. Há assistência Jurídica por meio da Defensoria Pública e Núcleo de Aten-
dimento Jurídico Voluntário – NAV do Fórum Ministro Henoch Reis.
À respeito das questões Educacionais, há que se falar que existem Cursos
Profissionalizantes por meio do Departamento de Reintegração Social da SEAP.
A assistência Social ocorre da seguinte forma: 2 (duas) assistentes sociais
realizam triagem social; Orientação acerca dos direitos e deveres dos apenados;
visitas domiciliares; parecer social em casos solicitados pelo Juízo da Execução
Penal; Relatórios; Termos de Comparecimento; Acompanhamento mensal dos
faltosos; encaminhamentos e acompanhamentos as redes socioassistenciais.
Não há qualquer orientação Religiosa.
No relatório foi possível verificar a Avaliação do Juiz Responsável e Re-
gistros de Ocorrências do estabelecimento, que por nota informou que não existia
ocorrências no mês de referência de 2022 (armas de fogo; aparelhos de comuni-
cação; mortes naturais, acidentais por homicídios, suicídios, fugas ou rebeliões).
Informou ainda que as Condições do estabelecimento penal estavam Regulares.
É de suma importância que as Considerações do Diretor do estabelecimento,
que apontou como sendo imprescindível a disponibilização de 01 Advogado, seja
urgentemente atendida. Além disso, para fins de segurança do estabelecimento, há
necessidade de instalação de um detector de metal. Ainda é necessário dizer que
no presente momento não ocorre lotação carcerária, assim como não há oficinas
de trabalho. Não há remição pela leitura, o que seria necessário.
É necessário que se tome providências para o melhor funcionamento do
estabelecimento, além de melhorias para seus servidores, principalmente no que
tange à implementação de programas para: (a) trabalho; (b) estudo; e (c) leitura;
Ainda é necessária a provocação da Defensoria Pública para garantia da
assistência jurídica aos detentos de outras Comarcas.

- 160 -
O Estatuto Penitenciário do Estado do Amazonas e a Casa do Al-
bergado
A Lei nº 2711 de 28/12/2001, que dispõe sobre o Estatuto Penitenciário
do Estado do Amazonas, Reproduzida no D.Of. nº 29.852, de 26.03.02, trata
acerca da Casa do Albergado em seu Capítulo III, da forma que trazemos a seguir
e é de extrema importância seu adequado entemdimento.
A Casa do Albergado destina-se ao cumprimento de pena privativa de li-
berdade em regime aberto e de pena de limitação de fim de semana, assim como
ao alojamento do egresso, na forma do inciso II, do artigo 25 da Lei de Execução
Penal.
O prédio deverá situar-se em centro urbano, separado dos demais estabe-
lecimentos, e caracterizar-se-á pela ausência de obstáculos físicos contra a fuga.
Em cada região haverá, pelo menos, uma Casa do Albergado, a qual deverá
conter, além dos aposentos destinados à acomodação dos que cumprem pena, lo-
cal adequado para cursos e palestras.
Parágrafo único - O Estabelecimento terá instalações para os serviços de
fiscalização e orientação dos condenados.
Ao ingressar na Casa do Albergado, para cumprimento de pena privativa
de liberdade em regime aberto, o apenado, além das informações referentes ao
sistema disciplinar, deve ser advertido formalmente das seguintes condições
gerais e obrigatórias:
(i) permanecer recolhido nos horários de repouso e nos ias de folga;
(ii) sair para o trabalho e retornar, nos horários fixados;
(iii) não se ausentar da cidade onde reside, sem autorização judicial;
(iv) comparecer a juízo, para informar e justificar as suas atividades,
quando for determinado.
§ 1.º - Os horários de permanência na Casa do Albergado serão estabeleci-
dos mediante norma regulamentar do estabelecimento penal.
§ 2.º - Em casos especiais, poderá ser estabelecido horários diferentes para
recolhimento, desde que a situação específica do albergado necessite, após ava-
liação do setor de assistência social.
§ 3.º - Na hipótese do parágrafo anterior, o juiz da execução deve ser
informado, no prazo de quarenta e oito horas, com o encaminhamento dos
documentos e pareceres referentes à situação do albergado.
A Casa do Albergado atuará como Patronato, na forma do Capítulo VII, do
Título III, da Lei de Execução Penal, e para tanto a Direção deverá:
(i) promover a assistência ao condenado, objetivando a reeducação
social e reintegração à comunidade por meio de formação profis-

- 161 -
sional, colocação empregatícia, habitação, transporte, saúde, edu-
cação, atendimento jurídico, psicológico, material e religioso, na forma
do capítulo II da Lei de Execução Penal;
(ii) fiscalizar e orientar os condenados à pena restritiva de direitos, assim
como colaborar com a fiscaliza ção do cumprimento das condições da sus-
pensão condicional da execução da pena e do livramento condicio-
nal, quando houver expressa delegação;
(iii) propiciar a conscientização da família do egresso, visando ao seu rein-
gresso no meio social;
(iv) acompanhar e avaliar o desenvolvimento do processo de res-
socialização do condenado e do egresso, mediante verificação siste-
mática da sua conduta em nova condição de vida e objetivando a redução
da reincidência criminal;
(v) conscientizar a comunidade a fim de que facilite as condições necessá-
rias à adequada reintegração social do egresso;
(vi) tomar as providências para que o egresso continue tratamento
psiquiátrico ou psicológico, quando necessário.

A Secretaria de Estado de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania, para as


atividades de assistência e orientação aos condenados e aos egressos, assim
como para as de fiscalização das penas restritivas de direito, das condições da
suspensão condicional da execução da pena e do livramento condicional, poderá
celebrar convênios e ajustes com entidades e instituições públicas ou privadas,
nos termos da legislação pertinente.
Acerca da Da Saída Temporária, tem-se que os condenados que cumprem
pena em regime aberto poderão obter autorização para deixar de se apresentar no
estabelecimento, nos seguintes casos:
(i) visita à família;
(ii) trabalho ou estudo que exija a permanência do apenado na respectiva
atividade durante o período noturno ou nos sábados e domingos;
(iii) participação em atividades que concorram para o retorno ao convívio
social.

A autorização de que trata o artigo anterior será concedida por ato


motivado do juiz da execução, de ofício, a requerimento do Ministério Público,
da autoridade administrativa ou do condenado, e dependerá da satisfação dos
seguintes requisitos:
(i) comportamento adequado;

- 162 -
(ii) assiduidade no cumprimento da pena;
(iii) compatibilidade do benefício com os objetivos da pena.

A autorização será concedida por prazo não superior a 7 (sete) dias, poden-
do ser renovada por mais cinco vezes durante o ano.
Parágrafo único - Nos casos do inciso II do artigo 24, o tempo de saída será
o necessário para o cumprimento das atividades.
O benefício será automaticamente revogado quando o condenado for puni-
do com falta grave ou média, desatender as condições impostas na autorização
ou revelar baixo aproveitamento no curso em caso de autorização de saída para
estudo.
Durante a pesquisa foi possível verificar que o Conselho Nacional de
Justiça, através dados obtidos via inspeções judiciais do Tribunal de Justiça do
Amazonas, identificou que metade das unidades prisionais do Estado estão em
condições ruins ou péssimas. Sendo a maioria, unidades do interior do Estado.
Das 8 unidades prisionais do interior, 7 apresentam situação classificada como
péssima, a única exceção é a Unidade Prisional de Itacoatiara que foi classificada
como boa. Na capital, 7 em situação regular (Casa do Albergado do Amazonas,
Centro de Detenção Provisória Feminina, Centro de Recebimento e Triagem, En-
fermaria Psiquiátrica de Manaus, Instituto Penal Antônio Trindade, Penitenciária
Feminina de Manaus, Unidade Prisional de Puraquequara), 1 em situação ruim
(Centro de Detenção Provisória de Manaus I), 1 em situação péssima (Complexo
Penitenciário Anísio Jobim – regime fechado) e 1 em situação boa (centro de de-
tenção provisória de manaus) 9 esses dados constam no relatório emergencial para
conselho nacional de direitos humanos: pandemia covid-19 e violações de direitos
humanos no estado do Amazonas.
A Casa do Albergado no Amazonas está localizada na Rua Gabriel Salga-
do, S/N, Prédio Cônego Gonçalves de Azevedo – Centro de Manaus, conforme
supracitado.
Sabe-se que não existem patronatos no Estado do Amazonas, entretanto a
Gerência de Reintegração Social e Capacitação – GRSC, da Secretaria Executiva
Adjunta de Justiça e Direitos Humanos, pode ser considerada com o órgão equi-
valente, a qual conta com o auxílio da Casa de Albergado.
Em geral, o atendimento aos egressos fica disponibilizado na GRSC, a qual
fica localizada no centro da cidade de Manaus. Atualmente, cerca de 150 egressos
integram os programas assistenciais da GRSC.
A GRSC atende os egressos através dos Projetos de Liberação de Créditos Fi-
nanceiros a Egressos do Sistema Penitenciário, de Capacitação Profissional (parcerias
com o SESC, SENAT, SESI, IFAM, SINE, entre outros), Cadastro no Sis-
tema Nacional de Emprego - SINE. O Projeto de Liberação de Créditos Finan-
- 163 -
ceiros a Egressos do Sistema Penitenciário foi elaborado em 2006 e consiste na
habilitação de egressos e de familiares e cônjuges dos apenados do regime aberto,
semi-aberto e fechado em linhas de concessão de crédito, através da Agência de
Fomento do Estado do Amazonas - AFEAM. A partir da habilitação, abriu-se con-
tratos de empréstimo, variando de R$ 5.000,00 a R$ 15.000,00, a custos subsidia-
dos, para fomentar a abertura de pequenos negócios pelos familiares dos presos e
egressos, objetivando viabilizar forma de trabalho e reduzir a reincidência.
Consoante vimos acima, o Quantitativos Capacidade hoje é 00 e a Lotação
atual: 0% de apenados recolhidos na Unidade CAM, totalizando 2.346, apenados
nesta Casa do Albergado do sexo masculino, sendo 1.609 em Regime Aberto, 663
em Livramento Condicional, assinando na CAM, 73 em Penas Restritivas de Di-
reito, assinando quinzenalmente na CAM e 265 do sexo feminino, que se apresen-
tam na Unidade para frequência de assinatura mensal e/ou semanal de acordo com
decisão judicial, sendo 166 em Regime Aberto e 13 cumprindo pena restritiva de
direitos e 86 em Livramento Condicional; Total Geral de = 2.611.
Os beneficiários com penas restritivas de direito na modalidade de limitação
de fim de semana, são acompanhados pela Casa do Albergado de Manaus e, os usu-
ários iniciais, perfaziam um total de 108 pessoas. Semanalmente, uma equipe psi-
cossocial, composta por 2 psicólogos, 3 assistentes sociais e 4 estagiárias, realiza
atividades programadas aos beneficiários, nas dependências da Casa do Albergado
de Manaus.
O Programa de Capacitação Profissional e Apoio Assistencial a Internos,
Egressos e Familiares do Sistema Penal de Manaus, operacionalizado pela GRSC
da SEJUS, em conjunto com as unidades penais, criado desde abril de 2005, visa
qualificar a população carcerária, egressos e familiares para o mercado de trabalho,
firmando parcerias com instituições governamentais e não-governamentais. O re-
ferido programa oferece cursos profissionalizantes, projetos de inclusão social atra-
vés da poesia, da arte e da música, fomento à cultura, inclusão de egressos e alber-
gados na rede pública de ensino, se adequado à realidade e otimizado pela Gestão
Pública, poderá continuar contribuindo para os que puderem fazer jus ao direito.
A pena restritiva de direitos na modalidade de limitação de fim de semana é
monitorada e executada pela Casa do Albergado de Manaus e a fiscalização e moni-
toramento da pena de prestação de serviço à comunidade, bem como a fiscalização
do cumprimento das condições da suspensão e do livramento condicional cabem
à Vara Especializada de Medidas e Penas Alternativas – VEMEPA, da comarca de
Manaus. Quanto aos egressos, estes são assistidos, quando necessário, pela GRSC.
No interior não existem Casa do Albergado e Centrais de Medidas e Penas
Alternativas. Cabe ao Juiz Titular a aplicação e a fiscalização das penas e medidas
alternativas.

- 164 -
Segundo o Plano Diretor do Sistema Penitenciário não há projeto de estí-
mulo à implantação de Patronatos privados.
No total, existem 74 unidades de Casas do Albergado no Brasil, sendo ape-
nas quatro para mulheres e 70 para homens.
 Conforme se observa até aqui, é o terceiro tipo de estabelecimento prisional
previsto na LEP. Elas se destinam aos condenados que cumprem regime aberto. 
Esta casa fica localizado em centros urbanos, mas ao mesmo tempo separa-
da de outros estabelecimentos e prédios, além de não poder ter obstáculos físicos
à fuga, como em presídios, ou seja, o condenado não é trancafiado atrás de grades,
tendo em vista que o regime aberto é fundado no princípio da responsabilidade
e da autodisciplina do condenado. A casa do albergado também deve ter espaços
para aulas e palestras, segundo o art. 94 da LEP. 
O art. 95 da LEP diz que cada região deverá ter pelo menos uma casa de
albergado, com acomodações para os condenados além de instalações para o pes-
soal do serviço de fiscalização e orientação. A pessoa que está cumprindo pena
nessas casas deve sair durante o dia para trabalhar, assistir cursos e voltar de noite
para o estabelecimento (art. 36 §1° do CP).
Os presos que ficam acomodados em casas de albergado devem ser indiví-
duos com bom comportamento e que ofereçam pouco ou nenhum risco à socie-
dade. O condenado precisa, acima de tudo, ter grande senso de responsabilidade.
Porém é importante ressaltar que apenas 23 unidades prisionais brasileiras
são voltadas para o regime aberto, 2% do total. Muitos estados sequer possuem
casas do albergado. O estado com o maior número desses estabelecimentos é
Rondônia, com cinco. Certamente, ainda estamos distantes de cumprir a regra
de uma dessas dependências por região, conforme prevê a lei. Sendo assim, cabe
verificar como proceder em caso de inexistência de vagas. Geralmente o que deve
ser feito é (i) o condenado deve aguardar, no regime semi-aberto, fechado ou em
cadeia pública, a vaga em casa de albergado (ii) o condenado poderá cumprir o
regime albergue em prisão domiciliar.
Recentemente presos do regime aberto do AM passam a ser assistidos por
programa que facilita oportunidades de emprego. De acordo com o secretário da
SEAP, projeto Trabalhando a Liberdade começou em 2019, com a capacitação e a
busca por trabalho para reeducandos do regime fechado.

- 165 -
Referências

AMAZONAS. Relatório de Inspeção da VEP – 2021 / 2022. Tribunal de Justiça


do Estado do Amazonas – TJAM.. Secretaria de Segurança Pública – SSP/AM.
Acesso em: 06 mai 2022.
BRASIL. Lei de Execuções Penais. Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984. Disponí-
vel em: << http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7210.htm#:~:text=LEI%20
N%C2%BA%207.210%2C%20DE%2011%20DE%20JULHO%20DE%20
1984.&text=Institui%20a%20Lei%20de%20Execu%C3%A7%C3%A3o%20Pe
nal.&text=Art.,do%20condenado%20e%20do%20internado.> Acesso em: 06
mar 2022.
SEAP. SECRETÁRIA DE ADMINISTRAÇÃO PENITENCIÁRIA. Estatuto Pe-
nitenciário do Estado do Amazonas. Lei nº 2711 de 28/12/2001. Reproduzida no
D.Of. nº 29.852, de 26.03.02. Disponível em: << https://sapl.al.am.leg.br/media/
sapl/public/normajuridica/2001/7166/7166_texto_integral.pdf>> Acesso em: 09
fev 2022.

- 166 -
PARTE II
MUNICÍPIOS DO INTERIOR
DO ESTADO DO AMAZONAS

- 167 -
- 168 -
CAPÍTULO XIII

UNIDADE PRISIONAL DO MUNICÍPIO DE COARI /AM


PRISON UNIT OF THE MUNICIPALITY OF COARI/AM

Pamella Oliveira Silva105


Criscyanne Andrade de Oliveira 106
Ellen de Moraes e Silva107

O presente artigo tem como objetivo discorrer sobre um breve histórico


da unidade prisional, e suas mudanças com o passar do tempo, a partir dos seus
aspectos físicos e humanos e o processo de ressocialização para as pessoas em
situação de prisão tendo como objeto de pesquisa a Unidade Prisional de /AM.
A estrutura física da unidade prisional e a sua capacidade de lotação. No
sistema prisional é um dos grandes problemas para um trabalho que possa ser
efetivo na busca da ressocialização do detento, pois esse exorbitante excesso junto
com a falta de estrutura física e de contingente impossibilita as chances de qual-
quer tipo de ressocialização e atendimento à população carcerária. Paralelo a isso
podemos destacar a alimentação que é precária, a assistência médica insuficiente,
higiene pessoal e sanitária e dentre outros elementos necessários para a vida dos
apenados, são insuficientes. Sendo assim, a prisão que, no entanto, surgiu como
forma de se evitar a criminalidade, não consegue a efetiva ressocialização do pre-
so. Destacando-se a Lei de Execução Penal n° 7.210/19843, que garante ao preso
e ao internado a devida assistência e outras garantias legais.
Diante disso, com este estudo constitui em fases metodológicas, faz-se o
uso do método dialético para fornecer uma interpretação dinâmica e totalizante da
realidade, com o cunho explicativo–descritivo. Delineando-se inicialmente atra-
vés de pesquisa bibliográfica, ao passo que será composta a pesquisa documental.

Histórico da Unidade Prisional de Coari


Um breve levantamento histórico da unidade prisional do município de
Coari, a cidade onde está situada essa unidade é um município do interior do
105 MBA Gestão de Pessoas, (CESA), MBA Gerenciamento de projetos, (CESA), Pedagoga, Assistente
Social, Perita Judiciaria Social (Justiça Federal).
106 Doutoranda em Saúde Pública – Sociedade, Violência e Saúde (ENSP/FIOCRUZ-RJ), Mestre em
Segurança Pública, Cidadania e Direitos Humanos (UEA), Especialista em Direito Civil e Processo Civil –
(CIESA); Advogada Humanista, Direito – UFAM.
107 Doutoranda em Saúde Pública (FIOCRUZ/RJ), Mestre em Segurança Pública, Cidadania e Direitos
Humanos (UEA), Especialista em Gestão de Saúde (FSDB), Assistente Social, Perita Judiciaria Social
(Justiça Federal), Professora Substituta (UFAM).

- 169 -
estado do Amazonas, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatís-
tica (IBGE), a população estimada do município era de 85.910 em 2020, sendo
o quinto município mais populoso do estado.

Imagem 01: Faixada da unidade prisional. Fonte: conselho nacional de justiça (CNJ)

Inicialmente a unidade prisional era uma delegacia, onde seu efetivo agre-
gava polícia civil e polícia militar, local este onde pessoas em medida restritiva
de liberdade ficavam detidas. Sua construção foi em de 8 de novembro de 1966
e depois de mais de três décadas no ano de 2000 que o local foi transformado em
penitenciária.
O presídio fica contíguo à escola existente nos fundos do complexo pri-
sional, expondo alunos a riscos e facilitação de entrada de drogas e armas, as
celas estão situadas no porão de um antigo prédio residencial transformado em
estabelecimento prisional; as instalações são precárias, não tem espaço físico para
trabalho interno.
A Unidade Prisional de Coari conta com um total de 221 internos, sendo 30
no regime fechado, 56 no regime semiaberto e 8 no regime aberto, levantamento
segundo ao Departamento Penitenciário Nacional. No entanto, a informação mais
alarmante refere-se ao número encontrado de presos provisórios: são 127 detentos
encarcerados sem que tenha havido uma sentença condenatória transitada em jul-
gamento, correspondendo a mais da metade da população prisional desta unidade,
a separação de internos por seus crimes cometidos é feito da seguinte forma: so-
mente internos com artigos e crimes graves como estupros e crimes mais torpes.
A população feminina na Unidade Prisional de Coari, conta com 16 deten-
tas, dentro desse quantitativo existem duas estrangeiras, de nacionalidade colom-
bianas, porém não existe comunicação com consulado colombiano.
No que se refere ao concerne ao índice de superlotação, os números de
vagas projetadas da unidade prisional na inauguração foram cinquenta vagas no
total, sendo 46 vagas para o gênero masculinos e 04 vagas femininas, a superlota-
ção é uma realidade em nosso pais. No ano de 2021 a lotação da unidade prisional
de Coari chegou a uma marca histórica, em torno de 227 internos. (SEAP, 2021).

- 170 -
Instalações
O prédio da administração conta com uma boa estrutura, uma sala da ad-
ministração, sala do parlatório, que antes do mês de setembro de 2020, não existia
na unidade, que também é usada para audiências, guarda externa, sala da escola
e sala do diretor.
Existem três pavilhões para os internos: pavilhão 1, com 6 celas; pavilhão
2, com 4 celas; e pavilhão 3, com 3 celas. A unidade ainda possui um campo de
areia para recreação dos internos, porém a parte destinada aos presos está precá-
ria. Celas sem iluminação adequada, com fiação exposta e paredes mofadas, sem
as mínimas condições de higiene.

Imagem 02: Cela da unidade prisional. Fonte: conselho nacional de justiça (CNJ)

Fórum do município de Coari-AM


O Fórum de Coari tem uma boa estrutura, mas o número de servidores nas
varas é insuficiente, são apenas três por vara. Apesar desta condição inadequada
de trabalho, as juízas da Comarca encontraram tempo para buscar parcerias para
instalação de sala de aula na unidade prisional.

Educação
Na unidade existem internos de 18 anos até 64 anos. Internos analfabetos e
que pararam os estudos no ensino fundamental até o superior, existe uma sala de
aula estruturada por iniciativa das juízas da comarca e da parceria com o referido
Município, porém não existem cursos profissionalizantes, mais uma sala seria
disponibilizada as atividades, mas devido ao COVID-19, forma suspensas tanto a
inauguração, quantos as aulas.

- 171 -
Imagem 03: Sala de aula da unidade prisional. Fonte: conselho nacional de justiça (CNJ)

Saúde dentro da unidade prisional de Coari.


Não existe unidade básica de saúde na unidade prisional, porém os internos
são levados ao atendimento externo na Unidade Básica de Saúde Municipal Dr.
Guerra em que realiza acompanhamento de internos quinzenalmente. Os números
de atendimentos médicos nos últimos 5 anos, já foram feitos em torno de dois mil
atendimentos.
A Unidade Prisional de Coari – UPC fazem campanhas de saúde e já foram
feitas campanhas de testes rápidos de doenças sexualmente transmissíveis. Foram
feitas ações de saúde de testes de COVID-19, entre outras.
Em relação a COVID-19, foram adotadas medidas de prevenção como hi-
gienização dos servidores ao adentrar na unidade, juntamente com as exigências
de máscaras; distribuição de kits de higiene, contendo água sanitária e sabão em
pó aos internos; distribuição de máscaras aos internos; adaptação de pia para hi-
gienização com água corrente e sabão líquido, além de álcool em gel no principal
acesso à unidade.
O isolamento daqueles que entram na unidade nesse momento de pande-
mia, eles ficam em uma cela com tamanho 4x4, em que o interno é isolado até
completar 15 dias, que em seguida é levado ao pavilhão correspondente. Aos que
apresentam sintomas de COVID-19, é feito em outra cela, e os detentos infectados
por COVID-19 foram cerca de 41 internos nos últimos anos. E 165 internos fize-
ram o teste, e até o momento não houve óbitos. Em relação as vacinas na unidade
até o momento, nenhum preso foi vacinado.

- 172 -
Visitas de familiares
As visitas são feitas no pátio de recreação, em relação as visitas intimas
nas celas, antes a visita era nas celas. Hoje somente uma pessoa é permitida para
visitar um interno, Deve-se respeitar a distância recomendada para prevenção do
COVID19, deve-se respeitar a distância mínima, juntamente com o uso de másca-
ras que é obrigatório e a entrada agendada de um visitante por preso e as visitas de
cada pavilhão em dias diferentes, os horário e dia das visitas são cada 15 dias é,
de segunda a quarta cada pavilhão de internos masculinos e na quinta é o pavilhão
feminino, sempre das 10h até as 13h, com 3 horas de visita.
As visitas das crianças devido às medidas restritivas do COVID-19, não
está sendo realizada, somente por via videoconferência, a quantidade de visitas
por unidade é de um visitante por interno, sendo que geralmente entram cerca de
120 visitantes por cada semana de visitas.
Vale ressaltar que as visitas nos últimos cinco anos, já foram apreendidas
uma estimativa de 150 gramas de entorpecentes na entrada da visita e jamais foi
apreendida armas pelos últimos cinco anos.

Segurança
Atualmente os equipamentos de segurança disponíveis são: câmeras de se-
gurança no total de 15 unidades que se dividem em toda a extensão da unidade;
guarita de vigilância inoperante;
A unidade possui somente um agente penitenciário, um diretor, um diretor
adjunto e uma assessora, não existem agentes penitenciários no turno da noite e
fins de semana. Nunca houve rebeliões na unidade prisional e nem motins, quanto
ao registro de fuga a unidade já apresentou algumas recentemente e a unidade não
possui sistema de cogestão.

Atividades De Ressocialização
De acordo com a Lei de Execução Penal (LEP) brasileira, Lei no 7.210,
de 11 de julho de 1984, enfrenta obstáculos na aplicação de muitos de seus
dispositivos. Em seu Art. 1o, a lei apresenta o objetivo de “efetivar as disposições
da sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica in-
tegração social do condenado e do internado” (Brasil, 1984). A legislação tenta,
de um lado, garantir a dignidade e a humanidade da execução da pena, tornando
expressa a extensão de direitos constitucionais aos presos e internos, e, de outro,
assegurar as condições para a sua reintegração social.
Dentro da unidade prisional de Coari, não a um trabalho especifico do que
se refere a ressocialização, mas em 2020, a Secretaria de Estado de Administra-
- 173 -
ção Penitenciária (Seap) expandiu o programa de ressocialização “Trabalhando a
Liberdade” e aumentou em 803% o número de apenados trabalhando de forma re-
munerada. No último ano, a pasta viabilizou a contratação da mão de obra de 325
detentos contra 36, em 2019. Se o número de apenados assalariados aumentou,
o quantitativo daqueles que trabalham só pela remição de pena seguiu o mesmo
caminho. O programa de ressocialização alcançou o interior e, hoje, já são 121 re-
educando inseridos em projetos de trabalho nas unidades prisionais de Itacoatiara,
Coari, Maués, Parintins, Tabatinga, Tefé e Humaitá.
Tendo em vista o exposto, considera-se que a unidade prisional de Coari,
devido a sua superlotação, fator este de violação aos direitos humanos e forte
incentivadora da reincidência, encontra, dentre outras, sua justificativa na moro-
sidade processual.
O objetivo de discorrer sobre a historicidade da unidade prisional do re-
ferido município e suas mudanças ao decorrer do tempo, foi possível ver que a
quantidade de presos provisórios aguardando julgamento é alarmante acarretando
um fator decisivo na questão da superlotação carcerária dentro do município.
Portanto, em meio à grave questão social da criminalidade, a reincidência
penal permanece como um problema crucial. Existe um grande desafio do sistema
prisional amazonense, que se baseia a curto prazo na necessidade de criação de
novos postos de reclusão, e, a médio e longo prazo, na implantação de medidas de
ressocialização efetivas. 

Referências
CNJ. Conselho Nacional de Justiça. Relatório Analítico referente aos meses de ju-
lho a dezembro de 2019. Disponível em http://depen.gov.br/DEPEN/depen/sisde-
pen/infopen/relatorios-analiticos/AM/am, 2019. Acesso em 28 de junho de 2020.
CNJ. II Mutirão Carcerário do Amazonas. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/
wp-content/uploads/2011/02/amazonas.pdf .Acesso em: 15 jun de 2021
DEPEN. Departamento Penitenciário Nacional.Relatório Analítico referente aos
meses de julho a dezembro de 2017. Levantamento Nacional de Informações
Penitenciárias (Infopen). Ministério da Justiça e da Segurança Pública, Brasília,
2017. Disponível em: http://depen.gov.br/DEPEN/depen/sisdepen/infopen/rela-
torios-sinteticos/infopen-jun-2017-rev-12072019-0721.pdf. Acesso em: 10 jun
2021.
DEPEN. Departamento Penitenciário Nacional. Relatório Analítico referente aos
meses de julho a dezembro de 2020. Levantamento Nacional de Informações
Penitenciárias (Infopen). Disponível em: https://app.powerbi.com/view?r=eyJrI-
joiZWI2MmJmMzYtODA2MC00YmZiLWI4M2ItNDU2ZmIyZjFjZGQ0Iiwid-
- 174 -
CI6ImViMDkwNDIwLTQ0NGMtNDNmNy05MWYyLTRiOGRhNmJmZThl-
MSJ9, 2020. Acesso em: 22 jun 2021

- 175 -
- 176 -
CAPÍTULO XIV

UNIDADE PRISIONAL DE HUMAITÁ JOÃO


LUCENA LEITE – UPH
HUMAITÁ PRISON UNIT JOÃO LUCENA LEITE

Maxwell Marques Mesquita108


Márcio de Souza Corrêa109
Guilherme da Silva Monteiro110

A Unidade Prisional de Humaitá – UPH fica localizada no município de


Humaitá, Rua Padre José Maria Penna nº 1639 – São Pedro – Humaitá. Possui
como Diretor o Senhor Rodrigo Marins de Oliveira e Diretor – Adjunto Deivison
Gonçalves das Chagas.
Este trabalho aborda as características da UPH desde a sua fundação até
o ano de 2021, com dados sobre instalações físicas, rebeliões e fugas, estrutura
médica, unidades básicas de saúde, estudo, trabalho, ressocialização, assistência
religiosa, população carcerária, agentes penitenciários, covid-19, refeições, uni-
formes, apreensão de armas, drogas e materiais ilícitos.
A pesquisa foi bibliográfica em documental em sua totalidade visando
atender aos questionamentos iniciais acerca, principalmente do atual funciona-
mento da UPH, sendo que grande parte do previsto foi cumprido.

Histórico / Origem
Não há nenhum registro a respeito da origem do prédio da Unidade Prisio-
nal João Lucena Leite, tendo em vista que foi adaptado para suprir uma necessida-
de emergencial do município. Sabe-se apenas que, antes de se tornar um presídio,
o local era a delegacia da cidade, não havendo informações sobre sua construção
ou inauguração.
108 Doutorando em Gestão da Informação (UFPR); Mestre em Segurança Pública, Ci-
dadania e Direitos Humanos (UEA). Capitão da Polícia Militar do Amazonas. E-mail:
maxwell_mesquita@hotmail.com.
Especialista em Docência do Ensino Superior (La Salle). Sargento da Polícia Militar
do Amazonas. E-mail: ftmscorrea@gmail.com.
Especialista em Segurança Pública (UEA). Cabo da Polícia Militar do Amazonas.
E-mail: gsmguilherme@hotmail.com.
109 Especialista em Docência do Ensino Superior (La Salle). Sargento da Polícia Militar do Amazonas.
E-mail: ftmscorrea@gmail.com
110 Especialista em Segurança Pública (UEA). Cabo da Polícia Militar do Amazonas. E-mail: gsmguilher-
me@hotmail.com.

- 177 -
Por ser um prédio improvisado para atender as demandas prisionais do
município, a Unidade dispões de ambientes que foram readequados sem projeto
arquitetônico tendo melhorias a cada ano, visando atender as demandas e oferecer
direitos humanos resguardados na Constituição Federal, como pode-se observar
na figura 01 abaixo.

Figura 01: Entrada e estacionamento da UPH

Fonte: SEAP (2021)

Hoje, o espaço conta com 02 (dois) pavilhões, sendo o A com 04 (quatro)


celas e o B com 06 (seis) celas. Além do prédio administrativo e cozinha. Uma das
celas básicas usadas pelos internos pode ser observada na figura 02.

Figura 02: Modelo de cela da UPH

Fonte: SEAP (2021)

- 178 -
Para o lazer, os detentos contam apenas com um campo de futebol impro-
visado feito de terra batida e traves de madeira. Neste, pode-se ver também as
paredes externas da UPH e moradias ao lado da localidade, conforme figuras 03
e 04 abaixo.

Figura 03: Campo de futebol improvisado

Fonte: SEAP (2021)

Figura 04: Campo de futebol improvisado

Fonte: SEAP (2021)

Rebeliões e Fugas
Foram feitos levantamentos em jornais e constatou-se que houve alguns
eventos de motins entre os presos. As mídias Repórter Cobra (2013), Ampost
(2017), Humaitá em Foco (2011), Barrancas (2019) e G1 (2011) narram os prin-
cipais fatos de destaque na unidade prisional.

- 179 -
No dia 11 de outubro de 2011 (G1, 2011), ocorreu um princípio de rebelião,
tendo os detentos LA e ARM (presos por estupro) sido torturado e morto respec-
tivamente. Além disso, deram início a um motim para reivindicar a superlotação
do presídio.
No dia 13 de março de 2013, segundo Cobra (2013), Cobra (2014), por vol-
ta das 18h, custodiados do pavilhão A iniciaram uma revolta coletiva realizando
atrito nas celas e fazendo 03 (três) detentos de reféns, ameaçando-os de morte. O
motivo da greve seria a retirada de aparelhos eletrônicos que ficavam no pavilhão
por não deixarem alguns detentos dormirem no período da noite. Por voltas das
20h, após os presos se negarem a atender as condições impostas pela diretoria, o
juiz autorizou a entrada dos policiais nas celas do pavilhão A. A unidade prisional,
com lotação máxima de 33 detentos, estava com ocupação de 67 custodiados com
condições precárias.
No dia 08 de maio de 2014, aconteceu uma tentativa de fuga da unidade
prisional. Tal ação foi possível por conta de os detentos ficarem livres nos cor-
redores dos pavilhões. WVL, WSB e RFLM serraram as duas grades do portão
principal do pavilhão B para fugir, aproveitando-se do momento em que os poli-
ciais militares faziam a guarda da sala de aula da UPH, onde ocorria uma reunião
de membros do conselho da comunidade (COBRA, 2014).
Em 25 de março de 2017, por volta das 03h da manhã, 08 (oito) presos
conseguiram escapar da UPH sendo apenas um recapturado. O grupo só foi visu-
alizado por policiais militares após conseguir sair do presídio, sendo que apenas
um deles foi recapturado após a fuga (AMPOST, 2017).

Estrutura Médica / Unidades Básicas De Saúde / Psicossocial


Segundo Humaitá (2021), o local não possui unidade básica de saúde,
porém, a cada 15 dias, um médico realiza atendimento aos custodiados e quando
se faz necessário, é realizado o deslocamento do interno até o hospital da cidade,
com escolta policial, para ser atendido. Nos últimos 3 anos foram realizados 495
atendimentos médicos sendo 121 em 2019, 254 em 2020 e 120 em 2021.
A UPH também não possui atendimento psicossocial. Contudo, quando o
detento necessita, é realizado o deslocamento com escolta para uma unidade de
saúde que possua esta especialidade. Na atual gestão, foram contabilizados 04
(quatro) atendimentos psicossociais.

Estudo / Trabalho / Ressocialização


No dia 29 de agosto de 2019, foi firmado um termo de cooperação entre o
Polo do Madeira da DPE-AM, Ministério Público, Juízo de Execução Penal, Di-
reção do Presídio e o Departamento de Letras da Universidade Federal do Ama-
zonas (UFAM), que visa a remissão de pena pela leitura de livros.

- 180 -
Segundo o termo, o preso terá 30 dias para ler uma obra e fazer uma rese-
nha, o que reduzirá quatro dias da sua pena e ao final de 12 obras efetivamente
lidas e avaliadas, há possibilidade de remir 48 dias, no prazo de 12 meses.
A Unidade também conta com a remissão por trabalho tendo 19 (dezenove)
detentos e a remissão por estudo tendo 04 (quatro) detentos. Estes últimos contam
com uma sala improvisada nos horários das aulas.

Assistência Religiosa
O presídio dispõe de 01 (uma) sala improvisada ao lado do pavilhão B para
a realização de cerimônias religiosas. Até o momento, foram declaradas apenas as
religiões católicas e evangélicas pelos custodiados.

População Carcerária Da Uph


Atualmente a Unidade Prisional possui 45 (quarenta e cinco) presos sen-
do 32 (trinta e dois) provisórios e 13 (treze) condenados, dentre estes, existem
02 (dois) indígenas que realizam contatos com a Fundação Nacional do Índio
(FUNAI) esporadicamente. Não há detentos estrangeiros e nenhum se declarou
pertencente ao grupo LGBTQIA+.
As visitas são realizadas todas as sextas-feiras das 09h até as 12h, sendo
que a entrada de crianças só é permitida com o responsável acompanhando. Em
média, são realizadas 17 visitas semanais entre elas também a visita íntima em
sala improvisada.
Em março de 2020, segundo Diversidade Amazônica (2020), com o avan-
ço da COVID 19, a direção da unidade prisional em parceria com o Fórum Doutor
Tocandira Balbi Carreira, conseguiu implantar o Projeto Vídeoparlatório para os
detentos e seus respectivos advogados realizarem o contato previsto em lei. Tal
Projeto pioneiro dentro do Sistema Prisional resultou em uma indicação ao Prê-
mio Innovare 2020, na categoria Justiça e Cidadania.

Agentes Penitenciários
A prisão não dispõe de agentes penitenciários concursados, tendo apenas
um efetivo policial militar que varia de 03(três) a 06 (seis) policiais por plantão.

Covid-19
Desde o surgimento da pandemia COVID-19 foram contabilizados 56 ca-
sos de infecção e nenhum óbito. Até o momento não houve vacinação da massa
carcerária, sendo aguardado o momento que será definido pelo governo do Estado
do Amazonas.

- 181 -
Os detentos que apresentaram casos do vírus foram isolados no pavilhão
A, receberam os devidos cuidados médicos além de respeitarem os protocolos
estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Refeições E Uniformes
Todos os dias são servidas 05 (cinco) refeições (café, almoço, lanche, janta
e ceia) não sendo estendidas às visitas dos apenados e, em 09 de abril de 2021,
todos os custodiados passaram a receber uniformes.

Apreensão de Armas, Drogas e Materiais Ilícitos


De acordo com Diversidade Amazônica (2020), no dia 04 de janeiro de
2020, após supostas ameaças à policias militares, foi realizada uma revista na
Unidade Prisional tendo a participação Secretaria de Estado de Administração
Penitenciária (SEAP) e Policiais do 4° BPM/ Humaitá, onde recolheram 20 carre-
gadores para celular,  17 celulares, 59.3g de entorpecente (maconha), 01 capa para
celular, 04 baterias, 07 fones de ouvido, 04 chips de celular, 14 chuchos (armas
brancas do tipo caseiras), 03 tesouras e R$5,00 (cinco reais em espécie).
Conforme Diversidade Amazônica (2020), em 09 de janeiro de 2020, após
escutar um barulho vindo do pavilhão A, os policiais militares de plantão conse-
guiram interceptar um pacote amarrado em uma corda que teria sido lançado para
cima do telhado do respectivo pavilhão.
No pacote estavam 14 celulares (09 da marca Samsung, 02 da marca Po-
sitivo, 01 de marca LG, 01 de marca Motorola e 01 de marca Alcatel), todos em
perfeito estado de uso, 04 chips da operadora Claro, 04 fones de ouvido, 10 carre-
gadores de celular e 01 cabo USB. Todo o material foi apreendido e encaminhado
para devidas providências.

REFERÊNCIAS

AMAZÔNICA, Diversidade. Internos da unidade prisional de Humaitá são


assistidos pelo projeto ‘Videoparlatório’. Disponível em: <https://diversidade-
amazonica.com.br/2020/06/12/internos-da-unidade-prisional-de-humaita-sao-as-
sistidos-pelo-projeto-videoparlatorio/>. 2016. Acesso em: 30 de maio de 2021.
AMAZÔNICA, Diversidade. Internos da unidade prisional de Humaitá são
assistidos pelo projeto ‘Videoparlatório’. Disponível em: <https://diversidade-
amazonica.com.br/2020/06/12/internos-da-unidade-prisional-de-humaita-sao-as-
sistidos-pelo-projeto-videoparlatorio/>. 2020. Acesso em: 20 de junho de 2021.
AMAZÔNICA, Diversidade. Unidade Prisional de Humaitá realiza visitas
virtuais de detentos com familiares Disponível em: <https://diversidadeama-
- 182 -
zonica.com.br/2020/06/05/unidade-prisional-de-humaita-realiza-visitas-virtuais-
-de-detentos-com-familiares/>. 2020. Acesso em: 20 de junho de 2021.
AMNEWS. Presos de Humaitá vão poder diminuir pena com leitura de li-
vros. Disponível em: <https://amnews.com.br/presos-de-humaita-vao-poder-di-
minuir-pena-com-leitura-de-livros/>. 2019. Acesso em: 30 de maio de 2021.
AMPOST. Presos fogem de presídio em Humaitá; apenas um foi recapturado.
2017. Disponível em: <https://ampost.com.br/policia/presos-fogem-de-presidio-
-em-humaita-apenas-um-foi-recpaturado/>. Acesso em: 28 de maio de 2021.
ATUALIZADO, Portal. Homem é preso após arremessar pacote com drogas
no presídio em Humaitá. Disponível em: <https://portalatualizado.com.br/poli-
cia/homem-e-preso-apos-arremessar-pacote-com-drogas-no-presidio-em-humai-
ta/>. 2020. Acesso em: 20 de junho de 2021.
BARRANCAS, Portal. Hoje foi feita revista no Presídio de Humaitá, acha-
ram drogas e muito mais. 2019. Disponível em: <https://portalbarrancas.com/
hoje-foi-feita-revista-no-presidio-de-humaita-acharam-drogas-e-muito-mais/>.
Acesso em: 30 de maio de 2021.
COBRA, Repórter. PM frustra tentativa de fuga do presídio de Humaitá-AM.
2014. Disponível em: <https://reportercobra.blogspot.com/2014/05/pm-frustra-
-tentativa-de-fuga-do.html>. Acesso em: 15 de maio de 2021.
COBRA, Repórter. Rebelião no Presídio de Humaitá . 2013. Disponível em:
<http://reportercobra.blogspot.com/2013/03/rebeliao-no-presidio-de-humaita.
html>. Acesso em: 15 de maio de 2021.
FOCO, Humaitá em. Detentos brigam e causam tumulto no bloco A do pre-
sidio de Humaitá-Am. 2011. Disponível em: <https://humaitaemfoco.blogspot.
com/2011/05/detentos-brigam-e-causam-tumulto-no.html>. Acesso em: 28 de
maio de 2021.
G1. Presos fazem motim em presídio no AM após tortura de colegas de cela.
Disponível em: <http://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2011/10/presos-fa-
zem-motim-em-presidio-no-am-apos-tortura-de-colegas-de-cela.html>. Acesso
em: 28 de maio de 2021.
HUMAITÁ, Unidade Prisional de. Memorando da UPH. 2021.
SEAP. Secretaria de Administração Penitenciária. Unidade Prisional João Luce-
na Leite/ Humaitá. 2021. Disponível em: <http://www.seap.am.gov.br/unidade-
-prisional-joao-lucena-leite-humaita/>. Acesso em: 15 de maio de 2021.
TIRADENTES, Rede. Presos de Humaitá são transferidos para Manaus. Dis-
ponível em: <https://www.redetiradentes.com.br/ronaldotiradentes/presos-de-hu-
maita-sao-transferidos-para-manaus/>. 2017. Acesso em: 20 de junho de 2021.

- 183 -
- 184 -
CAPÍTULO XV

UNIDADE PRISIONAL DO MUNICÍPIO DE


PARINTINS/AM
PRISON UNIT OF THE MUNICIPALITY OF PARINTINS/AM

Pâmella Oliveira Silva 111


Criscyanne Andrade de Oliveira 112
Ellen de Moraes e Silva 113

O presente dossiê tem como objetivo descrever sobre a historicidade e a


instituição prisão, e suas mudanças com o passar do tempo, e o processo de resso-
cialização para as pessoas em situação de prisão tendo como objeto de pesquisa a
Unidade Prisional de Parintins/AM.
No Brasil alguns direitos dentro das Unidades Prisionais, tem maior in-
cidência em sua violação, entre eles a falta de efetividade das políticas públicas
voltada para ressocialização. No município de Parintins/AM., essa realidade não
é diferente, o cárcere se configura em um retrocesso ao que preconiza a Lei de
Execução Penal-LEP. Sendo assim houve a problematização a questão da resso-
cialização das pessoas em situação de prisão, em que o Estado fez cumprir seu
dever de fazer com que nesses específicos lugares fossem construídos espaços
para preencher o tempo ocioso dos que já estão nessa situação, com o objetivo da
recuperação e o resgate ao seio da sua família e sociedade.
A lei nº 7.210 de 11 de julho de 1984 defende como objetivo da lei de
execução penal através do art. 1º: “a execução penal tem por objetivo efetivar
as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a
harmônica integração social do condenado e do internado”
A legislação tenta, de um lado, garantir a dignidade e a humanidade da exe-
cução da pena, tornando expressa a extensão de direitos constitucionais aos presos
e internos, e, de outro, assegurar as condições para a sua reintegração social. No
Art. 10 está disposto que “a assistência ao preso e ao internado como dever de o
Estado objetiva prevenir o crime e orientar o retorno à convivência em sociedade,

111 MBA Gestão de Pessoas, (CESA), MBA Gerenciamento de projetos, (CESA), Pedagoga, Assistente
Social, Perita Judiciaria Social (Justiça Federal).
112 Doutoranda em Saúde Pública – Sociedade, Violência e
Saúde (ENSP/FIOCRUZ-RJ), Mestre em Segurança Pública, Cidadania e Direitos Humanos (UEA), Espe
cialista em Direito Civil e Processo Civil – (CIESA); Advogada Humanista, Direito – UFAM.
113 Doutoranda em Saúde Pública (FIOCRUZ/RJ), Mestre em Segurança Pública, Cidadania e Direitos
Humanos (UEA), Especialista em Gestão de Saúde (FSDB), Assistente Social, Perita Judiciaria Social
(Justiça Federal), Professora Substituta (UFAM).

- 185 -
estendendo-se esta ao egresso” (Brasil, 1984). A LEP prevê, entre as atenções
básicas que devem ser prestadas aos presos: assistência psicológica, educacional,
jurídica, religiosa, social, material e à saúde.
E neste artigo estaremos apresentando como objetivo descrever sobre a
historicidade e a instituição prisão, e suas mudanças com o passar do tempo, e o
processo de ressocialização para as pessoas em situação de prisão no Município
de Parintins, destacando-se a Unidade Prisional do referido município.
Diante disso, este estudo é constituído em fases metodológicas, faz-se o
uso do método dialético para fornecer uma interpretação dinâmica e totalizante da
realidade, com o cunho explicativo–descritivo. Delineando-se inicialmente atra-
vés de pesquisa bibliográfica, ao passo que será composta a pesquisa documental.

Breve histórico sobre a Unidade Prisional de Parintins


Observando o processo histórico da Unidade Prisional identifica-se uma
ausência de planejamento na construção de um presídio para o Município. A Uni-
dade Prisional que hoje funciona é resultado de uma Delegacia de Polícia que
antes funcionava no prédio. Com pequenos ajustes, a partir do dia 1º de fevereiro
de 2001 foi inaugurada a Unidade, a fim de receber presos provisórios e senten-
ciados é um prédio inadequado, em seus municípios que compõem o interior do
Estado do Amazonas é constatado a ausência de construções que seguem à risca o
que prevê a legislação, com formato realmente de presídio, de Unidade Prisional.
O que temos são improvisações, adequação e aproveitamento de prédios que já
foram delegacias ou quarteis e aí é feito uma adaptação para servir de Unidade
Prisional. (Comandante Coronel, responsável pela Policia Militar).
A parte estrutural física da unidade prisional em relação aos presos, é di-
ferenciada com três regimes de pena: semiaberto; aberto e fechado. Atualmente
a presente unidade prisional encontrasse com o total de 149 presos, dividido 137
presos do sexo masculino, e 12 do sexo feminino no regime semiaberto encon-
tra-se 49. No regime aberto há 54 e o regime fechado 16, medidas de segurança
06, no regime provisório 24, em agosto de 2021, no período desta pesquisa, a
Unidade dispõe de 40 (quarenta) pessoas em situação de prisão, esse número se
refere apenas ao regime fechado que abrange os provisórios e sentenciados, vale
ressaltar que há um intervalo de número de reclusos em conformidade ao movi-
mento da criminalidade no Município.
O prédio foi projetado para receber 36 (trinta e seis) reclusos, desse nú-
mero, 32 (trinta e dois) homens e 04 (quatro) mulheres. Há uma superlotação na
Unidade que hoje é uma realidade não só neste município, mas em todo sistema
prisional, visto a instituição existe o número de pessoas superior ao que suporta.
Ao todo existem treze celas subdivididas em pavilhões, sendo 06 (seis) celas para
abrigar presos provisórios, um pavilhão composto 04 (quatro) celas para abrigar

- 186 -
presos sentenciados, uma cela de isolamento e duas celas denominada conjugada
um e dois.
O espaço designado às mulheres, pelo motivo de não se tratar de um pavi-
lhão e sim de uma cela anexada à parte externa do prédio administrativo, a qual
encontra-se 2 (duas) mulheres em situação de prisão em um espaço de 6m². De
acordo com a Resolução nº 003, de 23 de setembro de 2005, do CNPCP – Conse-
lho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, a estrutura física exigida pelas
normas brasileiras de organização penitenciária, prevê o limite máximo de seis
(6) presos por cela de dez metros quadrados (10m2). O quadro de profissionais é
composto por sete pessoas: 05 (cinco) agentes penitenciários, um administrativo
e o Diretor, todos concursados. Porém, apenas um agente penitenciário fica por
turno em escala de trabalho de 24hrs por 72hrs.
Só existe uma sala administrativa, com um espaço de aproximadamente
12m², onde trabalham os profissionais da Unidade (o diretor, o gerente adminis-
trativo, estagiários, entre outros). Estes dividem o pequeno espaço, o qual apre-
senta precárias condições de trabalho. A cozinha corresponde ao lugar destinado
ao preparo das refeições, não existe refeitório em nenhum cômodo da Unidade. A
alimentação é terceirizada e a empresa é contratada pela secretaria de estado de
administração penitenciária - SEAP.
Uma vez por semana é permitida entrada de alimentos fornecidos pelos fa-
miliares. Sete reclusos trabalham na cozinha, os mesmos dormem em um cômodo
que serve de anexo, no mesmo local que serve como dispensa. O local é pequeno,
aproximadamente 5m², o qual é destinado a guardar os alimentos. Os reclusos
dormem neste local em colchonetes no chão em pequenos espaços.
Na Unidade existe apenas uma sala de aula, na qual funciona o EJA- Ensi-
no de Jovens e Adultos, de 1º a 4º serie pela manhã de 8:00h às 11:00h e, à tarde o
fundamental de 14:00h às 17:00h., porém, a sala destinada à aula é pequena (esti-
mada em 12m²). Segundo a pesquisa documental, são abertas somente 22 (vinte e
duas) vagas por turma, todas as matrículas são preenchidas, não sendo suficiente
para o número de pessoas que a instituição dispõe, porém, a um índice de evasão
ao longo da formação, com uma média de 8 a 6 alunos por ano.
Quanto à criminalidade, na Unidade prisional de Parintins a maior parte
dos reclusos responde por tráfico de substância entorpecente, furto e roubo. Exis-
tem, também, alguns casos de estupro e homicídio. Caso o crime seja atuado no
município, o julgamento e respectivamente a pena serão cumpridas no próprio
município. A questão de transferência só é concedida por mau comportamento,
motim ou rebelião. Em situação contrária, Parintins recebe transferência de outros
municípios. Atualmente na Unidade existem reclusos de Nhamundá, Itacoatiara e
um fugitivo de Rio Grande do Norte.
Com relação às ações religiosas na Unidade, todos os sábados pela parte
da manhã são realizados os encontros religiosos, os quais são amparados por Lei,
- 187 -
local esse denominado pelos presos de “igrejinha”, um sábado é católico, onde
a Igreja da Paroquia de São José tem um movimento chamado Pastoral Carce-
rária responsável desses encontros, e no outro evangélico, destinado às igrejas
protestantes, adventista. Esses encontros são realizados na Unidade, existe um
local improvisado, para essas ações religiosas. As igrejas estão sempre presentes,
realizando ações filantrópicas como: doação de roupa, sapato, material higiênico,
entre outros. Mas devido a pandemia as atividades vem obedecendo um cronogra-
ma para evitar aglomeração.
As visitas presenciais foram suspensas devido a pandemia foi necessária
para prevenir a propagação da nova corona vírus na unidade prisional. Antes eram
aos domingos, atualmente devido esse momento atípico passaram a ser todas as
sexta-feira de 08:00 ás 11:00h, as mesmas estão sendo realizadas por meio de
vídeo chamadas, as visitas virtuais serão de cinco minutos, para permitir que mais
visitantes possam entrar em contato com seus familiares.

A Importância da Ressocialização
Com o Decreto nº 6.049, de 27 de fevereiro de 2007, corresponde ao Re-
gulamento Penitenciário Federal, no qual o Título V Art. 28 trata da assistência ao
egresso que deve ser providenciada pelos sistemas penitenciários estadual, ou dis-
trital, de preferência onde resida a família da pessoa em situação em prisão, me-
diante convênio estabelecido entre a União e os Estados ou o Distrital Federal, a fim
de facilitar o acompanhamento e a implantação de programas de apoio ao egresso.
A resolução da LEP supracitada vem reforçar a função atual dos presí-
dios, sendo essa a de punir, transformar e ressocializar as pessoas, oferecendo os
suportes estruturais e humanos necessários para que esses objetivos fossem alcan-
çados. Contrapondo-se ao objetivo desde a criação das prisões, o qual objetivava
apenas punir.
Dentro da unidade Prisional de Parintins desde de 2020, através da Secre-
taria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) funciona o programa de
ressocialização “Trabalhando a Liberdade” e aumentou em 803% o número de
apenados trabalhando de forma remunerada.
Oferece cursos de capacitação para os mesmos ter uma oportunidade no
mercado de trabalho, quando voltarem para a inclusão na sociedade novamente,
esse processo é difícil apesar do sistema prisional do município viabilizar con-
dições para o tal processo, no qual as pessoas em situação de prisão possam ser
assistidas e reinseridas na sociedade, pois o vagas oferecidas são poucas em um
quantitativo maior de pessoas encarceradas, Para o diretor adjunto da unidade,
Maycon Souza, o principal intuito é ressocializar os participantes, tirar a ociosida-
de no ambiente de confinamento e desenvolver a inteligência emocional e intelec-
tual. “Os internos ocupam a mente com a leitura e esse conhecimento aprendido

- 188 -
através da obra trabalhada poderá servir como reflexão para o dia a dia dos mes-
mos dentro e fora da unidade prisional”.
Através desta perspectiva, a educação, a oferta de curso profissionalizante
é uma alternativa para a ressocialização.
A pesquisa que se apresentou, possibilitou verificar que desde dos primór-
dios o estado acreditava as pessoas em situação de preso, tinha que ser excluído
da sociedade, como uma punição.
Com as mudanças ao passar do tempo, esse indivíduo volta a se inserir na
sociedade, uma vez que deixou o seu convívio para cumprir uma pena, e nessa
volta ele precisa fazer sua inserção, não só para a sociedade, para o mercado de
trabalho também.
 Portanto a Unidade Prisional de Parintins com esse processo de ressociali-
zação, faz-se necessário fomentar discussões a partir da realidade encontrada em
uma perspectiva de garantia de direitos. Apesar das fragilidades e precariedades
do sistema. É preciso existir um olhar para os indivíduos privados de liberdade,
buscando garantir mínimo de dignidade, para quando voltar a sociedade ter uma
oportunidade de mudança, mesmo com preconceitos que sofrerão, por terem co-
metido crime, mas já pago por estes, e essa ressocialização fomentada na unidade
será de suma importância, capacitando esses indivíduos de forma a promover
elevação a sua autoestima, com um desejo de mudança reais e sólidas em sua nova
oportunidade de vida.

Referências

BEZERRA, Raphael Lopes Costa. Breve Histórico do Sistema Penitenciário e a


Constituição Federal de 1988. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/35961/
breve-historico-do-sistema-penitenciario-e-a--constituicao-federal-de-1988.
Acesso em: 13 de jun 2021.
BRASIL. Lei de Execução Penal (1984). Lei n. 7.210, de 11 de julho de 1984,
que institui a Lei de Execução Penal, e legislação correlata. 2. ed. Brasília: Edi-
ções Câmara, 2009.
CANTO, Daniela Glória Canto. SILVA, Sandra Helena da Silva. A Unidade Pri-
sional de Parintins/am e a (não) efetividade da Lei de Execução Penal na perpecti-
va de ressocialização. CCCSS Contribuciones a las Ciencias Sociales. Disponí-
vel: https://www.eumed.net/rev/cccss/2016/02/lep.html. Acesso em: 13 jun 2020.
FOUCAULT, M. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Tradução de Raquel Ra-
malhete. 25.ed. Petrópolis, RJ: Vozes,1987.
FERREIRA, C.L.L; VALOIS, L.C. Sistema Penitenciário do Amazonas. Para-

- 189 -
ná, Curitiba: Juruá, 2010.
JESUS, F. F de. Políticas Públicas Penitenciárias e o Processo de Prisoniza-
ção: um estudo sobre mulheres em situação de prisão no Conjunto Penal de Feira
de Santana - BA. Trabalho de conclusão de curso (Graduação) – Universidade
Federal do Recôncavo da Bahia, 2012.
IPEA. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Atlas da Violencia v.2.7.
2020. Disponível em: https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/arquivos/artigos/
8181-td2095.pdf. Acesso em: 12 junho 2021.

- 190 -
CAPÍTULO XVI

HISTÓRIA DO CÁRCERE NO MUNICÍPIO DE


MAUÉS NO ESTADO DO AMAZONAS
HISTORY OF THE PRISON IN THE MUNICIPALITY OF
MAUÉS IN THE STATE OF AMAZONAS

Sylvia Laureana Arruda da Silva Cabral Chaves114


Jahvier Alejandro Lemus Castaneda115

O estudo da história carcerária do Município Maués, passa necessariamen-


te por acontecimentos que determinaram o destino do município. O último lo-
cal utilizado para privação da liberdade de pessoas é a Unidade Prisional, a qual
apresenta uma realidade distante das exigências da Lei de Execução Penal, por
isso este tipo de estudo se mostra relevante, já que é uma forma de atualizar e
documentar o contexto em que é vivida a situação carcerária nos municípios do
interior do estado do Amazonas.
Grande em riqueza cultural, artesanato indígena, danças populares e culi-
nária, a cidade de Maués possui atrativos que a caracterizam não apenas como a
terra do famoso guaraná. A cidade já se chamou Lúsea, depois Vila da Concei-
ção e, em 1892, o município recebeu o nome que conhecemos hoje. Maués tem
origem na tribo indígena pioneira no cultivo de guaraná na região (OLIVEIRA,
2019). A formação da população de Maués é ligada a duas etnias os SATERÉ
MAWÉ, famosos por cultivar uma planta valiosa para a agricultura e pra mitolo-
gia, o guaraná, e os MUNDURUCUS, famosos gladiadores da Amazônia. Possui
cerca de 62 mil habitantes, segundo o último levantamento do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE). Sua fundação ocorreu no dia 25 de junho de
1833, sua sede está localizada em uma área de terra-firme banhada pelo rio Maués
Açu com altitude de 18m acima do nível do mar (PREFEITURA MAUÉS, 2019).

114 Graduação em Direito pela Universidade Federal do Amazonas (1996); pós-graduada em Direito Penal e
Processual Penal também pela Universidade Federal do Amazonas (1999); Delegada de Polícia Civil por mais de
16 anos, tendo atuado como Delegada titular em diversas delegacias da capital e titular do 31° DIP no município
de Iranduba-AM, durante os anos de 2018 e 2019, e Delegada Titular do 36° DIP no município do Rio Preto da
Eva no ano de 2020; pós-graduada em Segurança Pública, Cidadania e Direitos Humanos pela Universidade Nil-
ton Lins (2006). Mestranda em Segurança Pública, Cidadania e Direitos Humanos pela Universidade do Estado
do Amazonas - UEA.; Professora convidada FAMETRO ENAD - 2022..
115 Possui graduação em Direito - Universidad Nor Oriental Gran Mariscal de Ayacucho (UGMA 2009)
Professor da Disciplina de Direitos Humanos na Universidade Boliva riana de Venezuela (UBV). Mestre
em Direito Trabalhista - Universidade Bicentenária de Aragua, Especialista em Do cência do Ensino Su-
perior (UNIP), Mestrando na Universi dade Estadual do Amazonas (UEA) no programa de Segu rança
Pública Cidadania e Direitos Humanos.

- 191 -
O tema a ser apresentado por meio do presente artigo é a historicidade da
Unidade Prisional do município Maués, no estado do Amazonas, para o qual os
pesquisadores problematizam a historicidade do sistema carcerário do município
e suas mudanças através do tempo, o que se demonstra importante para responder
à seguinte pergunta: quais foram os avanços substanciais na política carcerária do
estado nos últimos anos?
Os pesquisadores Sylvia Laureana e Jahvier Lemus, viajaram ao municí-
pio de Maués entre os dias 27 e 31 de maio do ano 2021, com a intenção de coletar
informações sobre a historicidade da Unidade Prisional que serve como centro de
reclusão dos presos que estão numa condição provisória ou já cumprindo pena, ou
seja, sentenciados. Durante a pesquisa in locu, havia duas perguntas recorrentes
realizadas aos mauesenses, a primeira, para onde vão as pessoas que são presas
pela polícia? Para a qual a resposta era fácil, para a Unidade Prisional. Porém, o
interessante vem com a segunda pergunta: antes da Unidade Prisional, para onde
eram enviadas as pessoas presas?
Para a maioria dos entrevistados era difícil responder, ainda sendo poli-
ciais com muito tempo de serviço no município, mesmo assim, deram uma boa
referência, Dona Nelcy. Dona Nelcy tem mais de 56 anos a serviço do município,
primeiro como escrivã do cartório local, e depois como escrivã da Polícia Civil,
e que ainda no momento desta pesquisa, estava prestando serviços de maneira
ativa dentro da Polícia Civil (48°DIP), cordialmente aceitou ser entrevistada pelos
pesquisadores.
A partir da conversação com Dona Nelcy foi mais fácil entender as difi-
culdades dos mauesenses em lembrar de um centro de reclusão mais antigo que
a Unidade Prisional atual, já que a referida unidade data dos anos 80 quando não
era prisão e sim uma delegacia de polícia. Desde o início da historicidade do mu-
nicípio existiram centros de reclusão já que Maués foi um local relevante para o
movimento Cabano do início do século XVIII.
Os pesquisadores utilizaram como metodologia a análise documental e
bibliográfica, complementando com entrevistas semiestruturadas, o que aportou
dados importantes à historicidade da unidade prisional. É uma prisão que não
cumpre com os requisitos mínimos exigidos pela lei de execução penal em função
da quantidade de detentos por metro quadrado e pela ausência da separação dos
presos de acordo com o delito praticado.
A base teórica deste estudo está fortemente influenciada pelos autores que
descreveram o processo histórico da Cabanagem, no qual existem relatos e fatos
determinantes na maneira em que as pessoas eram e são privadas de liberdade.
Os dados foram coletados através de um questionário estruturado, visita in locu e
conversas informais com colaboradores da área da segurança pública e moradores
idosos do município, foi também realizada uma pesquisa nos meios de comunica-

- 192 -
ção digital, tentando encontrar eventos e ocorrências que guardassem relação com
o sistema carcerário do município.
O trabalho foi dividido em sete títulos, sendo eles: Relato Histórico da
Gestão Prisional no Município de Maués/AM; Dos locais utilizados como pre-
sídio no Munícipio de Maués/AM; Da Atual Unidade Prisional de Maués; Dos
projetos de Ressocialização desenvolvidos no presidio; Da nova Unidade Prisio-
nal do município; Das particularidades da Unidade Prisional – Maués/AM e as
Considerações Finais.

Relato Histórico da Gestão Prisional no Município de Maués/AM


No caso da cidade de Maués, há um forte elo entre a história da Republica
Brasileira e o município que se dá através da Cabanagem, a Cabanagem (também
conhecida como Guerra dos Cabanos) foi uma revolta popular e social ocorrida
durante o Império do Brasil de 1835 a 1840, influenciada pela revolução Francesa,
na antiga Província do Grão-Pará (abrangia os atuais estados do Pará, Amazonas,
Amapá, Roraima e Rondônia) comandada por: Félix Clemente Malcher, Antônio
Vinagre, Francisco Pedro Vinagre, Eduardo Angelim e, Vicente Ferreira de Paula
(FERREIRA DA SILVA, 2009). Maués foi o último bastião dos cabanos que,
internados na selva, lutaram até 1840, até serem completamente exterminados.
Nações indígenas como os MURAS e os MAUÊ praticamente desapareceram
(CHIAVENATO, 2007).
Esse processo histórico gerou a criação da corporação da Polícia Mili-
tar, em 4 de abril de 1837, pelo então Presidente da Província do Pará, General
Soares d›Andrea[3], com a missão de combater a Cabanagem. O General Soares
d›Andrea, acompanhou o julgamento dos indivíduos implicados na Rebelião de
1817 e contribuiu para que as penas não chegassem a extremos irremediáveis e,
graças à sua generosa intervenção, alguns revoltosos não pagaram com a morte os
delitos de que eram acusados (TRINDADE, 2008). A isto se deveu que sobre ele
recaíssem certas suspeitas de cumplicidade com os sediciosos, logrando, porém,
justificar-se plenamente quando, em 1821, foi chamado ao Rio de Janeiro para
responder às acusações caluniosas que lhe eram feitas (GEPB, 2018).
Explica (FERREIRA e VALOIS, 2012) que a província do Amazonas es-
tava dividida em duas comarcas e três termos, providos de juízes letrados, e em
pleno exercício, exceto o termo de Maués sem posse do juiz municipal. As duas
promotorias existentes na época eram exercidas por leigos, em face da ausência
de bacharéis em direito.
De acordo com a (SEAP, 2021) desde meados do século XX o sistema pe-
nitenciário do estado do Amazonas era gerido de acordo com a Lei nº 108/1955,
pela Secretaria de Interior e Justiça SIJ: dez órgãos faziam parte da Procuradoria
Geral do Estado (PGE); Divisão de Administração (DASIJ); Polícia Militar do

- 193 -
Estado (PME); Penitenciária Central do Estado (PCE); Conselho Penitenciário
do Estado (CPE); Departamento Estadual de Segurança Pública (DESP); Di-
visão da Imprensa Oficial (DIO); Abrigo Rural Melo Matos (ARMM); Instituto
Maria Madalena (IMM); Divisão do Arquivo Público (DAP) (SEAP, 2021).
Posteriormente foi criada a Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Hu-
manos do Amazonas (SEJUS/AM), criada na década de 90 que possuía na sua
estrutura organizacional os Departamentos de Proteção, Orientação e Defesa do
Consumidor (Procon/AM), de Direitos Humanos (DEDH) e de Políticas sobre
Drogas (DEAD), além da Escola de Administração Penitenciária do Amazonas
(ESAP) e os Conselhos Penitenciário, de Defesa da Pessoa Humana, de Defesa do
Consumidor, de Entorpecentes e de Defesa dos Direitos da Mulher (SEAP, 2021).
Atualmente o órgão regente é a Secretaria de Administração Penitenciária
– SEAP que foi criada em 9 de março de 2015 no Governo de José Melo pela Lei
Complementar nº 152 que altera na forma que específica a Lei nº 1.172 de 14 de
novembro de 1986 e dá outras providências.
Em seu artigo 26, especifica que as atividades e competências relativas ao
sistema prisional que estavam na Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Hu-
manos (SEJUS) ficam transferidas para a Secretaria de Estado de Administração
Penitenciária (SEAP) (SEAP, 2021).

Dos locais utilizados como presidio no Munícipio de Maués/AM


Na história prisional do município podem ser identificados vários locais
com a função de cárcere, o primeiro local com registro histórico mais antigo seria
o descrito por Eliana Ramos Ferreira – NPI/UFPA, no artigo As Mulheres Na Ca-
banagem: Presença Feminina No Pará Insurreto, apresentado no simpósio XXII
da Associação Nacional de História realizado na cidade de João Pessoa no ano
2003. Durante o relato do artigo, a autora faze referência à corveta defensora.

Imagem 1. Corveta Canhoneira Rio Vouga 1882, similar à Corveta Defensora

Fonte: https://nenotavaiconta.wordpress.com/

- 194 -
Explica (RAMOS, 2003) que: Nos acervos do Associação dos Procura-
dores do Estado do Pará - APEPA, há um documento notificando a incursão das
tropas legais nas matas da localidade de Jaguarary, em julho de 1836, onde teria
sido encontrado um número significativo de cabanos. Desse confronto sangrento,
saíram alguns feridos e mortos. Dentre os feridos, achava-se uma mulher da fileira
dos cabanos, ou seja, notícia de uma cabana ferida. Se ela estava no front direto
de batalha, não há como saber, mas a constatação era de que se encontrava no
espaço de conflito.

O 1º Tenente Joaquim Manoel d’Oliveira e Figueiredo, comandante da Escuna


‘Bela Maria’, recebeu do presidente da Província Francisco José Soares de An-
dréa, em maio de 1836, a missão de fazer uma varredura no rio Carnapijó atrás
de cabanos e de ‘salvar’ as famílias que porventura estivessem ali refugiadas.
Dentre os presos capturados, de acordo com a relação apresentada pelo dito
Tenente, havia uma mulher (assim como o marido e o filho, integrantes das
fileiras cabanas), de nome Margarida de Jesus. Illmoe ExmoSenrºApartida que
avia mandado explorar as Cabiceiras d’Itapicurú, incontrouhum Coito de Ca-
banos na madrugata de Ontem, e desse incontro teve dois soldos firidos, e hum
delles graveme, e dos cabanos morrerão dois e huma Cabana firida. Segundo
a participação do Sagento Comme da Partida consta aver prali mais algum
Coito delles, eseconcentrado nas mattas” (Erros ortográficos do texto original)

O documento denota a ferocidade da perseguição aos cabanos pelas tropas


legais. Os considerados mais perigosos seguiam presos em ferros para Belém,
onde, geralmente, eram recolhidos na mais temível prisão para os cabanos: os
porões da Corveta Defensora. Outro local indicado pelos mauesenses é o já
reformado prédio mostrado na imagem 2, já que este foi sede de escritórios da
comarca em várias oportunidades. Na imagem 3, pode-se observar como era anti-
gamente, antes de ser sede do poder judiciário, sendo primeiro a casa de comercio
de José & Cia, não era utilizado como prisão propriamente dita, mas, era centro
de reclusão enquanto os detentos esperavam ser ouvidos pelo juiz.

Imagem 2. Prédio pertencente a Prefeitura de Maués

Fonte: Acervo dos autores

- 195 -
Imagem 3. Antiga casa de comercio José e Cia e sede do poder judiciário

Fonte: Acervo pessoal da família Faraco.

Diagonal à sede do poder judiciário, na mesma avenida Pereira Barreto,


ficava a sede da antiga Cadeia Pública. Acreditam os pesquisadores que seja esta,
a primeira cadeia do município em terra firme onde atualmente está construído o
prédio da Agência do Banco do Brasil. Para (FERREIRA e VALOIS, 2012):

Depois da cadeia da capital a que tinha melhor aspecto era a de Maués. Era
coberta de telha e dividida em quatro departamentos separados, além do que
possui espaço reservado para o corpo da guarda, ladrilhada em todos os com-
partimentos. Na análise do presidente da província, em 1868, estava limpa e
arejada. Fazia parte do patrimônio do município e, naquele ano, recebeu 15
presos.

Da atual Unidade Prisional de Maués-AM


A unidade prisional de Maués fica na Rua São João, nº 519 do Bairro
Ramalho Júnior, localizado na zona norte da cidade, o qual teve início com a
família Coelho que praticava a pesca e a agricultura nesse local. Recebeu o nome
“Ramalho Júnior” em homenagem ao ex-governador do Amazonas Coronel José
Cardoso Ramalho Júnior. Foi denominado por vários anos de “Bairro da Aldeia”,
por ter a maioria de suas casas cobertas de palha, cuja visão panorâmica vista do
centro da cidade, dava a legítima impressão de uma aldeia indígena (PREFEITU-
RA MAUÉS, 2010).
Segundo informações da Dona Nelcy, a delegacia da Polícia Civil era onde
é hoje a Unidade Prisional, confirma a (SEAP, 2021) que esta unidade foi adapta-
da, pois (antes funcionava como Delegacia), sendo inaugurada como presidio no
dia 03 de março de 1997. Destruída depois de uma rebelião dos detentos durante
o mês de novembro do ano 2012 (na época tinha 186) detentos, onde deveria
comportar cerca de 30. Não houve reféns durante o protesto (NEOPENSADOR,
2012). Depois dos danos sofridos durante a rebelião, foram feitos reparos sem
mudanças estruturais. Com a criação das Delegacias Interativas de Polícia, a 48°

- 196 -
Delegacia Interativa de Polícia do munícipio Maués se instalou na Rua Batista
Michilis do lado da polícia militar, desta maneira substituindo seu local anterior
(Atual Unidade Prisional), utilizado desde o ano 1982 quando as delegacias do
interior passaram a ser administradas pela Delegacia Geral da Polícia Civil.

Dos projetos de Ressocialização desenvolvidos no presidio


Existe desde o ano 2019 o projeto de remição de pena por meio da leitura
na unidade prisional do município, este projeto conta com a parceria da Secre-
taria de Administração Penitenciária, Ministério Público, Defensoria Pública e
Secretaria Municipal de Educação. O projeto é uma estratégia de ressocialização
complementar ao estudo e ao trabalho, tanto é que um dos detentos, aprovado no
vestibular da Universidade do Estado do Amazonas, poderá frequentar as aulas
a partir do mês de agosto, inicialmente, amparado por uma autorização de saída
temporária e, já no mês subsequente, pela progressão de regime. “O reeducando
beneficiado leu 61 livros e produziu 61 resenhas (FOLHA DE MAUÉS , 2019).
Na unidade prisional de Maués, atualmente, os detentos participam do Pro-
jeto Horta Comunitária desenvolvido no terreno ao lado da prisão, o projeto
foi criado com o objetivo de oportunizar aos detentos a atividade ocupacional
ajudando na ressocialização deles, e que segundo o diretor, vem apresentando
bons resultados. “Os detentos cultivam couve, pepino, alface, tomate, coentro e
outras hortaliças, as quais são comercializadas na comunidade do município, cujo
recurso arrecadado é voltado para ajudar a própria Unidade.
O Projeto conta com o apoio e orientação do técnico agrícola da Secretaria
de Produção do Município de Maués, que levou alguns dos detentos para partici-
parem de cursos de Cultivo de Hortaliças. O projeto também conta com o apoio
e incentivo dos familiares dos detentos, que já pretendem após o cumprimento
da pena trabalhar no cultivo de Hortaliças para garantir renda para suas famílias
(FOLHA DE MAUÉS, 2020).

Da nova Unidade Prisional do município de Maués/AM


Através do decreto municipal n° 1.739, de 31 de março de 2010, o prefeito
de Maués da época, (ODIVALDO MIGUEL DE OLIVEIRA PAIVA), doou um
lote de terra para a construção da Unidade Prisional do município. No uso das
atribuições que lhe confere o art.71, XII, combinado com o art.92, I, “d”, Lei
Orgânica do Município de Maués – AM desapropriou o lote de terras situado à
Estrada do Guaranatuba, km 2.8, porção norte da sede do município, nesta cida-
de, destinado a construção, instalação e funcionamento de Unidade Prisional do
Município de Maués /AM, composto de terreno sem benfeitorias, com uma área
total de 125.550,00m², e perímetro de 1.545 metros, com os seguintes limites e
confrontações: ao Norte: 630,00 metros com terras de Maria da Cruz; ao Sul:

- 197 -
450,00 metros com terras de Emílio Fábio Soares Gomes; a Leste: 200,00 metros
com Estrada do Guaranatuba e a Oeste: 265,00 metros com terras de Terceiros (do
município-AM 2010).
Posteriormente, com a lei municipal nº 182, de 05 de abril de 2010, ficou
autorizado ao Chefe do Poder Executivo Municipal doar, por motivo de interesse
público relevante, um imóvel para o Governo do Estado do Amazonas, através da
Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos – SEJUS, destinado à cons-
trução, instalação e funcionamento de Unidade Prisional do Município de Maués
(DO DOS MUNICIPIOS/AM, 2010). Lamentavelmente de acordo com (Rocha,
2019)
[...] está abandonado, às ruínas e tomado pelo matagal. Enquanto isso, a po-
pulação interiorana cobra a retomada das obras na unidade prisional. Mas a
ansiedade vai além, pois os moradores demonstram severa preocupação com as
fugas de detentos, e superlotação do presídio em funcionamento. [...]
[...]a obra está paralisada, e disse que isso ocorreu “após a desistência da em-
presa que executou 74,36% dos serviços no local”. Atualmente, destacou a Se-
cretaria de Estado de Administração Penitenciária no comunicado, “o processo
está em fase de reprogramação da obra. E a nova unidade terá capacidade para
125 vagas”.

Das particularidades da Unidade Prisional – Maués/AM


Das dimensões: terreno 40x30mt Pavilhão 1= 81m2; Pavilhão 2=25m2 e
Pavilhão 3= 84m2 e o prédio administrativo que abriga a ala feminina e sala de
aleitamento: 90m2.
O pavilhão um comporta quatro celas, o pavilhão dois denominado casinha
com uma cela e o pavilhão três que comporta seis celas.
Foi condicionada uma cela para os detentos com sintomas de COVID19,
onde é feita uma quarentena de 15 dias para os réus com sintomas.
A maior situação de superlotação: no ano 2012 chegou a abrigar 198 deten-
tos sendo que a capacidade máxima é 45.
Das fugas: Todos os anos fogem detentos da unidade prisional já que não
possui a infraestrutura necessária para evitar a saída dos detentos.
O nível de violência é muito alto envolvendo mortes, feridos e tráfico de
drogas como pode ser evidenciado por (Pina, 2019).
Atualmente a unidade conta com moderno equipamento de detenção de
metais na entrada da prisão, porém, não está sendo usado.
Atualmente estão detidos 37 pessoas do sexo masculino (11 com condena-
ção definida) e 1 pessoa do sexo feminino (presa provisória).
O atendimento médico é realizado na UBS do município. A cela de cas-
tigo foi convertida em igreja. Os detentos têm máscaras e álcool disponível. No

- 198 -
momento da visita nenhum dos detentos tinha sido vacinado contra o COVID-19.
Não há separação dos detentos por tipo penal, ou prática do delito. Não há estran-
geiros. Há uniformes oferecidos pela SEAP.

Imagem 5. Unidade Prisional – Maués/AM (Exterior)

Fonte: Acervo dos autores

Os locais destinados à privação da liberdade nos municípios do interior são


de grande importância para o sistema de justiça descentralizado, que tem como
obrigação a distribuição de uma jurisdição integral no estado como um todo, sem
esquecer as comarcas do interior. Este tipo de trabalho deixa em evidência as
condições do aprisionamento em locais distantes da capital. Os objetivos foram
alcançados já que foi possível cronologicamente entender como o encarceramen-
to das pessoas é realizado no município de Maués, seu avanço através do tempo
e como essa história está atrelada à própria história da cidade. O estudo tem limi-
tações, por ser a pesquisa uma área sensível da segurança pública, como é o caso
do encarceramento, por esse motivo é necessário cumprir exigências burocráticas.
Outra limitação é a quase completa inexistência de documentação dedicada à his-
toricidade do sistema prisional do município.
Como recomendações, os pesquisadores pontuam que deve existir separa-
ção dos detentos em função do delito cometido. Existe uma máquina de detecção
de metais na entrada da unidade prisional que deve ser colocada em funciona-
mento para evitar o ingresso de armas e celulares. Mesmo tendo ocorrido fatos de
violência dentro da unidade prisional, essa não é a regra, já que os presos sabem
que quando causam transtornos, o traslado para o sistema prisional na cidade
de Manaus é iminente, por esse motivo se esforçam por mostrar boa conduta e
assim evitar serem transferidos para longe dos seus familiares. As condições de
higiene devem ser melhoradas. O espaço disponível para a realização de ativi-
dades de reinserção não é suficiente, e a localização do presidio é dentro de uma
comunidade, fazendo com que os moradores fiquem muito expostos a situações
de violência.
Deve ser aumentada a frequência com que as revistas são realizadas no
local, devendo ser feitas com mais regularidade em função dos colaboradores
que prestam serviço dentro da unidade (contrato ou concurso). A comunidade do

- 199 -
município de Maués precisa que seja concluída a obra da nova unidade prisional.
Mais projetos para a remissão da pena devem ser realizados. A quantidade de fu-
gas por ano se deve a problemas estruturais e à quantidade de funcionários contra-
tados para garantir a segurança da unidade. No momento da visita não foi possível
observar diversidade em função da existência de minorias autodeclaradas como
índios e LGBTQIA+. O perfil criminal do preso mauesenses está fortemente re-
lacionado com as condições de pobreza e violência intrafamiliar e principalmente
ao tráfico de drogas.

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- 202 -
CAPÍTULO XVII

UNIDADE PRISIONAL DE TABATINGA


TABATINGA PRISON UNIT

Edson Rosas Neto116


Mônica Nazaré Picanço Dias117

O presente trabalho discorrerá sobre a unidade prisional de Tabatinga e


suas condições atuais, mormente quanto à estrutura e ao cumprimento dos deveres
constitucionais e legais do Estado em relação aos encarcerados. Antes, porém,
mostra-se relevante tecer breves comentários sobre a história do Município de
Tabatinga.
Distante cerca de 1.105km (mil cento e cinco quilômetros) de Manaus,
capital do Estado do Amazonas, Tabatinga é uma cidade transfronteiriça, sendo o
limite do Brasil com a Colômbia e o Peru, com significativa população indígena e
estrangeira. Embora a língua portuguesa seja o idioma oficial do país, nos expres-
sos termos do artigo 13, caput, da Constituição da República de 1988, na chamada
“capital do Alto Solimões” diversas línguas são utilizadas, como a espanhola e a
ticuna, entre outros idiomas de origem indígena.
A própria palavra Tabatinga tem origem no tupi, podendo ser traduzida
como “barro branco”, em razão do material encontrado nos leitos dos rios da
região. Não obstante seja esta a versão mais aceita, há ainda a tradução do termo
para o tupi guarani, significando “casa pequena”.
No início do Século XVIII, Fernando da Costa Ataíde Teives, então res-
ponsável pelo destacamento militar do Vale do Javari, região de fronteira com o
Peru, decidiu pela transferência daquele posto de guarda para a fronteira entre os
Reinos de Portugal e Espanha, de acordo com o Tratado vigente à época. Surge,
assim, o povoado de São Francisco Xavier de Tabatinga, no dia 15 de julho de
1766, tendo por finalidade resguardar os domínios da Coroa Portuguesa.

116 Juiz de Direito titular da 1ª Vara da Comarca de Tabatinga/AM do Egrégio Tri-


bunal de Justiça do Amazonas. Juiz Eleitoral titular da 36ª Zona Eleitoral do Egrégio
Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas. Mestrando em Constitucionalismo e Di-
reitos na Amazônia pela Universidade Federal do Amazonas. Especialista em Direito
Penal e Processual Penal pelo Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas.
Graduado em Direito pela Universidade Federal do Amazonas.
117 Advogada. Doutora em Ciência Jurídica pela UNIVALI/SC. Mestre em Direito
Ambiental pela Universidade do Estado do Amazonas. Especialista em Direito Penal
e Processual Penal pela Universidade Federal do Amazonas. Graduada em Direito
pela Universidade Federal do Amazonas.
- 203 -
Durante mais de um século, aquele povoado integrava o território do Mu-
nicípio de São Paulo de Olivença. Todavia, em vista da maior proximidade com
Benjamin Constant, São Francisco Xavier de Tabatinga passou a ser um subdis-
trito desse ente federativo a partir de 1898. Destaque-se o ponto estratégico do
local, na fronteira com a Colômbia e o Peru, de modo que o seu desenvolvimento
socioeconômico era interessante à defesa do território nacional.
Nesse cenário, Tabatinga emancipou-se em 1981, vindo a surgir como Mu-
nicípio autônomo somente no início de 1983. Segundo dados de 2020 do IBGE,
o referido ente federativo pertencente à região do Alto Solimões possui uma po-
pulação de 67.182 (sessenta e sete mil cento e oitenta e dois) habitantes. Não
obstante, frise-se que Tabatinga e Letícia (Colômbia) são consideradas “cidades-
-gêmeas”, vez que cortadas por uma linha de fronteira seca, apresentando grande
potencial de integração econômica, social e cultural, de modo que a somatória da
população de ambas resulta em cerca de 100.000 (cem mil) habitantes.
Tabatinga, embora rica culturalmente e possuindo uma população hospi-
taleira, qualidade peculiar do povo amazonense, sofre com as mazelas comumen-
te encontradas em região de fronteira, quais sejam, a atuação violenta de organi-
zações criminosas e o tráfico transnacional de drogas, além de outras infrações
penais que impactam sobremaneira no cotidiano da população ali residente. Sobre
a atuação nociva do crime organizado, importante destacar as lições de Raimundo
Pereira Pontes Filho (2017, p. 80):

Atuando num sistema de conexões transcontinentais, os agentes do crime or-


ganizado e seus “parceiros” cooptados, seja no setor privado seja no público,
empreendem significativas transações de tráfico de drogas, tráfico de armas,
tráfico de pessoas, extorsões, jogos de azar, fraudes variadas (comerciais, fis-
cais, de cartões, eletrônicas etc.), assalto a bancos, sequestros, exploração se-
xual (escravismo sexual, pedofilia, prostituição), assassinatos por encomenda,
dentre outras.

De fato, as organizações criminosas exploram a população da região
de diversas maneiras, valendo-se de sua força de trabalho como “mulas” para o
transporte de drogas. Frise-se, em acréscimo, que tal exploração não se restringe
à prática da traficância de drogas, mas abarca outras infrações penais, como o
tráfico de armas, com vistas à obtenção de renda aos grupos criminosos.
Em razão da grande incidência da prática de infrações penais na região,
a criação de um estabelecimento prisional em Tabatinga se mostrava imprescin-
dível, abarcando a população carcerária decorrente de prisões decretadas pelas
Justiças Federal e Estadual, auxiliando ainda os Municípios vizinhos, os quais não
possuem estrutura penitenciária.

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Estabelecimento prisional de Tabatinga
A unidade prisional de Tabatinga foi inaugurada no dia 21 de janeiro de
2005, com capacidade para 108 (cento e oito) internos, sendo 90 (noventa) vagas
para presos do sexo masculino e 18 (dezoito) para detentas do sexo feminino. O
prédio está localizado na Rua Manoel Tananta, s/n, Bairro Santa Rosa, no Muni-
cípio de Tabatinga, ao lado do Centro Integrado de Segurança do 8º Batalhão da
Polícia Militar do Estado do Amazonas.
A gestão do presídio é pública, havendo quatro computadores na unida-
de, sem serviço adequado de internet, o que inviabiliza a realização de audiências
por videoconferência no local. O estabelecimento é destinado a presos provisórios
e definitivos, havendo alas masculinas e uma feminina. Não há espaço para o
cumprimento de pena nos regimes semiaberto e aberto.
Em acréscimo, não há aparelho bloqueador de celular e nem oficinas de
trabalho. Há, todavia, assistência religiosa, local para visitação íntima, espaço
para práticas esportivas e banhos de sol, bem como para visita familiar.
Quanto à sua arquitetura, o referido estabelecimento penitenciário é dividi-
do em quatro raios, com 18 (dezoito) celas no total, as quais devem abrigar, cada,
no máximo 06 (seis) detentos. Enquanto o Raio I possui três celas, os demais
possuem cinco, totalizando, portanto, 108 (cento e oito) vagas. Destaque-se que
as detentas do sexo feminino ficam em ala separada do prédio, inacessível aos
internos do sexo masculino, em obediência ao disposto no artigo 5º, XLVIII, da
Carta Constitucional de 1988.
De acordo com informações da Secretaria de Estado de Administração
Penitenciária, os raios ficam assim organizados: a) Raio I: destinado aos internos
em remissão. Há ainda a ala feminina, em setor mais afastado, como dito anterior-
mente; b) Raio II: destinado aos presos provisórios envolvidos supostamente nos
crimes previstos na Lei nº 11.343/2006 (infrações penais de maior incidência no
Município); c) Raio III: abriga os detentos presos pela suposta prática de crimes
contra o patrimônio e de homicídio; d) Raio IV: abarca os apenados em regime
fechado de cumprimento de pena.
Na área intramuros da unidade, há ainda uma sala de aula, um parlatório,
três celas para visita íntima ou para abrigar internos individualmente, em decor-
rência de doença ou risco à integridade física, uma sala para artesanato, uma cozi-
nha, uma barbearia, uma padaria e uma quadra poliesportiva. Destaque-se, ainda,
o setor administrativo do estabelecimento, dividido em: a) uma sala da Polícia
Militar; b) uma sala de triagem; c) uma sala do diretor; d) uma sala administrativa;
e) uma sala dos agentes penitenciários; f) uma biblioteca; g) uma sala destinada
ao armazenamento dos bens pertencentes aos internos; h) uma sala para a ma-
nutenção de gêneros alimentícios; i) uma farmácia; j) uma sala odontológica; k)
um depósito; l) uma sala para atendimento médico; m) uma enfermaria. Vejamos

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algumas imagens do estabelecimento prisional, a fim de ilustrar alguns dos
supracitados setores:

Figura 1: Entrada dos raios

(Fonte: arquivo da UPTBT)

Figura 2: Celas da unidade prisional de Tabatinga

Fonte: arquivo da UPTBT)

A unidade prisional de Tabatinga possui oito servidores estaduais e dois


municipais em seu quadro de pessoal, cujos cargos vinculados à Secretaria de
Estado de Administração Penitenciária são os seguintes: um Diretor, um Diretor
Adjunto e seis Assessores AD-III. Já o efetivo da guarda é composto por dois po-
liciais militares lotados no 8º Batalhão da Polícia Militar do Amazonas.
Há ainda um corpo técnico especializado de servidores que contribuem
significativamente para a atividade diária no estabelecimento composto por um
- 206 -
Odontólogo, um Enfermeiro, um Técnico de Enfermagem, uma Psicóloga, um
Psiquiatra, um Assistente Social, um Fisioterapeuta, um Farmacêutico e um Téc-
nico em Saúde Bucal. Os atendimentos aos detentos por esse corpo técnico são
realizados três vezes por semana (Segunda-Feira, Quarta-Feira e Sexta-Feira),
com exceção do Psiquiatra, o qual atende apenas a cada três meses.
Em caso de urgência médica, uma vez que não há uma unidade básica de
saúde no estabelecimento, o detento é imediatamente encaminhado à Unidade de
Pronto-Atendimento de Tabatinga – UPA – e, nos casos mais graves, ao Hospital
de Guarnição de Tabatinga – HGuT. Importante ressaltar que não foram relatadas
mortes no ano de 2021.

Figura: Setores de atendimento à saúde do detento

Fonte: arquivo da UPTBT

Não obstante os números apresentados e a inexistência de informações


sobre fugas em 2021, verifica-se que a unidade de Tabatinga carece de servido-
res, uma vez que sua população atualmente é de 149 (cento e quarenta e nove)
internos, sendo 143 (cento e quarenta e três) do sexo masculino e 06 (seis) do
sexo feminino, dentre os quais 34 (trinta e quatro) cumprindo pena e 115 (cento
e quinze) presos cautelarmente. Desse total, de acordo com dados apresentados
pelo Diretor da unidade prisional, 34 (trinta e quatro) são indígenas e 39 (trinta e
nove) são estrangeiros.
Nessa quadra, a atuação de apenas 08 (oito) servidores da Secretaria de Ad-
ministração Penitenciária, auxiliados por 02 (dois) servidores cedidos do Município
de Tabatinga, bem como dois policiais militares para a segurança do local não se
mostra suficiente em comparação à superlotação carcerária do estabelecimento.

- 207 -
Não obstante, importante destacar a atuação recente do Estado do Ama-
zonas no reordenamento da unidade prisional de Tabatinga, com a mudança na
sua administração, o que contribuiu significativamente para a segurança do local
e a observância dos direitos dos internos.
Ademais, a designação de um Juiz de Direito titular da vara de execução
penal, em janeiro de 2019, pelo Egrégio Tribunal de Justiça do Amazonas, permi-
tiu a realização de correições no estabelecimento prisional, de maneira que, com
o imprescindível apoio do Ministério Público, da Defensoria Pública e da Ordem
dos Advogados do Brasil, a atividade do presídio tem tomado novos rumos, com
vistas ao respeito aos direitos e garantias fundamentais dos presos.
Em acréscimo, há ainda a atuação da Pastoral Carcerária, que auxilia sig-
nificativamente os órgãos da execução penal, trazendo informações relevantes
sobre o respeito aos direitos dos internos na unidade e a atuação do Poder Público.

Período de pandemia de COVID-19


A partir de março de 2020, diversas medidas foram adotadas com a fina-
lidade de impedir a propagação do novo coronavírus – COVID-19 – na unidade
prisional. Assim, nos autos da Ação Civil Pública nº 0000245-47.2020.8.04.7301,
ajuizada pela Defensoria Pública, tendo tramitado perante a 1ª Vara da Comarca
de Tabatinga, foram determinadas judicialmente algumas medidas pertinentes à
realização de um plano emergencial pelo Estado do Amazonas, a saber:

a) o isolamento pelo prazo de 14 (quatorze) dias de detidos por novos flagrantes


ou por quaisquer novas determinações judiciais, seja por meio da construção
provisória e imediata de um novo espaço na Unidade Prisional de Tabatinga/
AM, seja pelo empreendimento de esforços conjuntos entre a Secretaria de Ad-
ministração Penitenciária, a Polícia Militar, a Polícia Civil, o Corpo de Bom-
beiros Militar e outras instituições estaduais ou, ainda, mediante contratações,
convênios ou requisições com órgãos federais ou municipais e entes privados;
b) igualmente, o isolamento dos casos sintomáticos, dos comunicantes assinto-
máticos e de casos confirmados, respeitando-se a recomendação da Organiza-
ção Mundial da Saúde (OMS) de não isolar todos na mesma cela, sob pena de
amplificação da transmissão na unidade prisional;
c) a rápida identificação de casos suspeitos, atendimento médico e respectivo
monitoramento, com visitas diárias de profissionais de saúde e aferição da tem-
peratura, avaliação do surgimento de sintomas e encaminhamento para hospital;
d) o preenchimento de formulário de identificação de fatores e grupos de risco
para a COVID-19 em toda a população carcerária;
e) a destinação de testes rápidos para COVID-19 em número suficiente para
aplicação e reiteração periódica a todos(as) os(as) internos(as) e colaborado-
res(as) da Unidades Prisional de Tabatinga/AM, com os recursos humanos su-
ficientes à sua aplicação;

- 208 -
f) o estabelecimento de protocolo que garanta a coleta de material biológico
para realização de teste diagnóstico para COVID-19 nos casos suspeitos e nos
óbitos ocorridos no sistema prisional, bem com o fluxo de coleta e processa-
mento de tais amostras;
g) a apresentação de protocolo, resolução ou outro ato quanto ao fluxo de enca-
minhamento dos casos suspeitos (leves ou graves) e confirmados para o aten-
dimento em saúde;
h) a disponibilização recorrente de itens e serviços de higiene e de equipamen-
tos de proteção individual em quantidade suficiente para todos(as) os(as) inter-
nos(as) e colaboradores(as) da Unidades Prisional de Tabatinga/AM;
i) a capacitação de todos os colaboradores da Unidade Prisional de Tabatinga/
AM para imediata adoção de todas as medidas de prevenção ao contágio da
COVID-19 sugeridas pelas autoridades sanitárias.

Ficaram suspensas, ainda, as transferências de presos de outras unidades


prisionais da Federação para o estabelecimento prisional de Tabatinga até que o
Estado do Amazonas garantisse a separação segura dos presos que ingressassem
no referido estabelecimento dos demais detentos que ali já se encontravam, com
o mínimo de 14 (catorze) dias de “quarentena”.
Segundo dados fornecidos pelo Diretor da unidade prisional de Tabatinga,
foram 46 (quarenta e seis) casos confirmados de contaminação por COVID-19
dentro da unidade até o momento, com o registro de 01 (um) óbito. Ademais,
foram realizados 272 (duzentos e setenta e dois) testes, tendo a população carce-
rária e os servidores da SEAP/AM recebido, entre os dias 14 de abril de 2021 e 08
de junho de 2021, a 1ª dose da vacina, totalizando 195 (cento e noventa e cinco)
aplicações, estando programada a 2ª dose para o próximo mês.
Em arremate, importante destacar que houve um reordenamento dentro das
celas, a fim de abrir novos locais dentro da unidade para se cumprir o período de
“quarentena” dos presos com COVID-19 e daqueles que ingressam no sistema
prisional do Município, a fim de se evitar um número maior de casos no referido
estabelecimento.
Diante dos dados apontados anteriormente, conclui-se que, não obstante
o aprimoramento do sistema carcerário de Tabatinga a partir de 2020, com a mu-
dança em sua administração, a atuação do Ministério Público e da OAB/AM, bem
como a chegada de um Juiz de Direito titular da vara de execução penal e de 05
(cinco) Defensores Públicos, há ainda muita coisa a ser modificada.
Faz-se mister a criação de oficinas de trabalho, permitindo-se a todos os
apenados a possibilidade de trabalho dentro da unidade prisional, bem como de
acesso à sala de aula e a mais livros, a fim garantir a possibilidade de remição da
pena pelo trabalho, pelo estudo ou pela leitura. Ademais, importante a reforma
da estrutura da unidade e a lotação de mais agentes penitenciários em Tabatinga,

- 209 -
além da criação de uma Unidade Básica de Saúde, garantindo-se o pronto atendi-
mento hospitalar.
Acrescente-se a necessidade de criação de espaço para o cumprimento do
regime semiaberto de liberdade, visto que a Comarca não possui colônia agrícola,
industrial ou similar, e de casas de albergado para abrigar os reeducandos em re-
gime aberto.
Em conclusão, não se pode olvidar o reconhecido esforço da atual dire-
toria da unidade prisional de Tabatinga, responsável por significativa mudança
na unidade, mormente quanto à atuação do crime organizado no estabelecimento
prisional, em respeito ao Estado Democrático de Direito. Cabe agora ao Poder
Executivo estadual promover as já mencionadas melhorias na unidade, a fim de
se garantir integralmente os direitos dos presos.

Fotografias complementares da unidade prisional de Tabatinga

Figura 3: Quadra de futebol da unidade prisional de Tabatinga

Fonte: arquivo da UPTBT.

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Figura 4: Parlatório

Fonte: arquivo da UPTBT

Figura 5: Telhado da unidade prisional

Fonte: arquivo da UPTBT

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Figura 6: Dispositivos de segurança

Fonte: arquivo da UPTBT

Referências

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Bra-


sil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui-
caocompilado.htm>. Acesso em: 26 de junho de 2021.
BRASIL. Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984. Institui a Lei de Execução Penal.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7210.htm>. Acesso
em: 26 de junho de 2021.
Conheça Tabatinga, no Amazonas: história e cultura da cidade é contatada por
pesquisadores da UEA. Portal Amazônia, Manaus, 07 de junho de 2021. Dis-
ponível em: <https://portalamazonia.com/noticias/cidades/conheca-tabatinga-no-
-amazonas-historia-e-cultura-da-cidade-e-contatada-por-pesquisadoras-da-uea>.
Acesso em: 26 de junho de 2021.
LETÍCIA (COLÔMBIA). In: Wikipédia: a enciclopédia livre. Disponível em:
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Leticia_(Col%C3%B4mbia)>. Acesso em: 26 de
junho de 2021.

- 212 -
Município de Tabatinga comemora 250 anos de fundação. Repórter Solimões,
Tabatinga, 15 de julho de 2016. Disponível em: <https://radios.ebc.com.br/repor-
ter-solimoes/edicao/2016-07/am-municipio-de-tabatinga-comemora-250-anos-
-de-fundacao>. Acesso em: 26 de junho de 2021.
PONTES FILHO, Raimundo Pereira. Logospirataria na Amazônia. 1. ed. Lis-
boa: Chiado Editora, 2017.
TABATINGA (AMAZONAS). In: Wikipédia: a enciclopédia livre. Disponível
em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Tabatinga_(Amazonas)>. Acesso em: 26 de
junho de 2021.
UNIDADE PRISIONAL DE TABATINGA (Estado do Amazonas). Relatório do
Diretor da Unidade Prisional de Tabatinga: 2021. Tabatinga, 2021.

- 213 -
- 214 -
CAPÍTULO XVIII

HISTÓRIA, MEMÓRIA E ESQUECIMENTO:


UMA REFLEXÃO AO SISTEMA CARCERÁRIO
TEFEENSE
HISTORY, MEMORY AND FORGETTING:
A REFLECTION TO THE TEFEENSE PRISON SYSTEM
Ernandes Herculano Sarava118
Alder Camon da Silva Moraes119

Não obstante daquilo que de fato se buscar enxergar neste artigo, qual
seja, um “retrato” do atual sistema carcerário e da segurança pública no Muni-
cípio de Tefé, o mais importante é, neste primeiro momento, descortinarmos os
olhos céticos da eficiência estatal e abrirmos as veias atróficas que obscuram e
amiúdam a segurança pública nos interiores do estado do Amazonas.
Se antes tínhamos a concepção de que as cidades interioranas eram es-
pécie de refúgio, calmaria e descanso, tais adjetivos não mais se coadunam na
contemporaneidade. Crescentes são os índices de violência nos municípios do
Amazonas, não apenas aqueles ligados à região metropolitana da capital, qual
seja, Manaus (o epicentro da criminalidade no estado), mas também todos os de-
mais municípios que conectam o Amazonas as diversas regiões do Brasil e país da
américa latina.
A “migração” do crime organizado para o interior do estado vai além da
desorganização e do descaso estatal, é estratégia de ocupação de território e poder
por parte de facções e organizações criminosas. E com isso, tudo aquilo que era
espantoso na capital (roubo, furto, homicídio, latrocínio e etc.), torna-se com fre-
quência, um retrato da insegurança e do crescimento da criminalidade nas grandes
e pequenas cidades interioranas do Amazonas.
Dada a urgência de identificarmos tais pressupostos, este trabalho faz um
recorte histórico do município de Tefé, localizado a 523 quilômetros de Manaus,
capital do estado do Amazonas, no que tange ao surgimento da prisão, incidência
criminal e a atual situação carcerária vivenciada por agentes carcerários e deten-
tos na Unidade Prisional Tefeense - UPT.
118 Mestre em Segurança Pública, Cidadania e Direitos Humanos (UEA). Advogado.
Professor Universitário. Pesquisador Científico do Projeto Nova Cartografia Social
da Amazônia (PNCSA) e do Grupo Interdisciplinar de Estudos da Violência (GIEV/
UEA) – Tefé – Amazonas – Brasil. E-mail. ehs.advogado@gmail.com
119 Graduado em Marketing pela Universidade Católica de São Paulo. Comunicador
e Artista Urbano. E-mail: calmonmoraes@gmail.com
- 215 -
Tefé é considerado o maior centro urbano no Amazonas a montante de
Manaus (IBGE, 2013; Menezes, 2009). Para Queiroz (2016), sua posição perifé-
rica, longe do centro econômico e político do país, lhe confere exercer um papel
relevante para a circulação e a produção do consumo neste subespaço amazônico,
por esses e outros componentes, é regionalmente conhecido como “cidade polo do
médio Solimões”.
No entanto, seu porte de “cidade grande” traz consigo além de responsa-
bilidades por parte de seus governantes, uma série de interesses de organizações
criminosas, inclusive para narcotraficantes, garimpeiros, grileiros – ao passo que
descentraliza oportunidades para a proliferação de crimes tipicamente urbanos,
por sua centralidade, acessibilidade e por possuir vários fluxos de rota de fuga
para outros municípios e países latino-americanos.
Apesar da cidade possuir um dos maiores centros de integração de segu-
rança pública da região norte do país, qual seja, a concentração das três Forças
Armadas (Marinha, Exército e Aeronáutica), o Município possui base fixa da Po-
lícia Federal, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis – IBAMA e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodi-
versidade – ICBIO, a cidade ainda conta com a 5° Delegacia Regional de Polícia
Civil e com o 3° Batalhão da Policia Militar. Contudo, Tefé não foge da realidade
por vezes precária encontrada nos demais municípios Amazonenses, o que fragi-
liza toda uma estrutura de segurança pública da região.
Assim, busca-se saber: Qual é a atual situação estrutural e administrativa
da Cadeia Pública no Município de Tefé? As políticas de proteção à dignidade da
pessoa humana do encarcerado estão sendo obedecidas? Há o cumprimento da
Lei de Execuções Penais de forma rigorosa ou existe uma flexibilização?
Para responder tais problemáticas, o ensaio liga-se à vertente metodo-
lógica jurídico-sociológica que, para Witker (1985), se propõe a compreender o
fenômeno jurídico no ambiente social mais amplo, analisa o direito como variável
dependente da sociedade e trabalha com as noções de eficácia e de efetividade das
relações direito e sociedade. Bem como, preocupa-se com a facticidade do Direito
e as relações contraditórias que estabelece com o próprio Direito e com os demais
campos: sociocultural, político e antropológico.
No tocante ao tipo de investigação, foi escolhido, na classificação Gustin
(2010) o jurídico-projetivo ou prospectivo, que segundo o autor, parte de premis-
sas e condições vigentes para detectar tendências futuras de determinado institu-
to jurídico ou de determinado campo normativo específico, tal qual é o sistema
prisional. Atrelado a isso, analisa tendências sociais e jurídicas contemporâneas,
correlacionando dados para a montagem de cenários (sociais e jurídicos) e estatís-
ticas, e correlacioná-las às vertentes de direitos em estudo.
O método de abordagem será predominantemente dialético que, para
Marques (2009), se fundamenta na dialética proposta por Hegel, no qual acredita

- 216 -
que o objeto de estudo está relacionado com as transformações culturais, sociais e
políticas. O Resultado deste método é uma síntese dessa relação, uma construção
ao pensar crítico daquilo que se estuda, que para o autor, poderá ser chamada de
objeto.
Quanto ao campo de pesquisa, este se deu na Unidade Prisional de Tefé,
feito a partir de análise empírica e de acervos fotográficos disponibilizados pelo
Sistema de Segurança Pública do Amazonas, com o intuito de contribuir e apri-
morar a pesquisa em desenvolvimento.

Sistema Prisional Tefeense


Desde os tempos mais remotos, a ideia da pena como instrumento do cas-
tigo sempre esteve atrelada ao flagelo do corpo, à privação da liberdade e aos de-
mais instrumentos de disciplina e estrutura de controle. (Foucault, 2013). E nessa
perspectiva de corpos controlados e vigiados, a invenção do sistema prisional vem
não apenas como instrumento de domínio, mas também, como mecanismo de
vigilância permanente como àquele “Panóptico” idealizado por Jeremy Bentham
(2008).
Essa vigilância excessiva e discriminatória tende a repetir os mesmos me-
canismos de violência social implementadas entre os séculos XVIII e XX, onde a
banalização da pena se dava sobretudo nas divisões de classes sociais e econômi-
cas, bem como aos fenótipos de cor, raça e nacionalidade. Apesar de hoje demons-
trarmos um pequeno avanço quanto a tais pressupostos, ainda continuamos com
números exorbitantes de presos no Brasil, uma média de 764,8 (setecentos e ses-
senta e quatro, oitocentos mil) presos, sendo 682,1 (seiscentos e oitenta e dois, um
mil) presos provisórios e nos regimes semiabertos e fechado, 58,5 (cinquenta e
oito, cinco mil) presos no regime aberto, 5 (cinco mil) presos em delegacias e 1,2
(um, dois mil) presos em medida de segurança ou internação. (SISDEPEN, 2020).
Neste contexto, e de acordo com os dados levantados via SISDEPEN
(2020), o Amazonas é o estado com o maior número de presos acima da capaci-
dade no país, uma média de 196,2%, se comparado com os demais estados fede-
rados. São cerca de 10.692 presos para apenas 3.610 vagas, o que corrobora para
um dos estados com maior número de apenados do país.
A penalização, o encarceramento em massa, a desigualdade social e o pre-
conceito, servem então como instrumentos de técnicas a invisibilidade dos pobres
e dos “problemas” sociais que o Estado, enquanto alavanca burocrática da von-
tade coletiva, não pode ou não se preocupa mais em tratar de forma profunda.
Assim, a prisão segundo Wacquant, (2011), serve de lata de lixo judiciária, em
que são lançados os desejos humanos da sociedade do mercado, da indiferença,
do preconceito e do medo.
Contudo, essa percepção torna-se mais evidentes quando se olha o sistema
prisional interiorano nas pequenas cidades do Amazonas, e neste caso, a Unidade
Prisional de Tefé é um exemplo claro do descaso e da crueldade estatal direcio-
- 217 -
nada aos apenados e todos aqueles que contribuem direta ou indiretamente com
serviços profissionais naquele presidio.
A partir dos dados coletados e disponibilizados pela Secretaria de Adminis-
tração Penitenciária do Amazonas – SEAP, em parceria com o Poder Judiciário e
a Universidade do Estado Amazonas, trabalharemos a seguir com alguns números
relevantes que demonstram o caos da incompetência e ineficiência estatal quanto
aos direitos basilares que qualquer ser humano em cumprimento de pena deveria
ter, ao passo que, discorreremos também, quanto aos reflexos do sistema de segu-
rança pública e mecanismos de segurança cidadã no Município de Tefé.

Prisões: o passado e o presente ainda se conectam


A prisão como instrumento de aparelhagem para o “controle” social, teve
como objetivo para Foucalt (2013) tornar os indivíduos dóceis e úteis. Segundo o
autor, a instituição prisional marca “um momento importante na história da justiça
penal: seu acesso à “humanidade”. (Foucault, 2013, p. 217).
Contudo, essa “humanização” tem características de um tipo particular de
poder. É controlada (ou administrada) por um grupo elitizado, que cria a pena e ao
mesmo tempo estabelece instrumentos de controle, com o objetivo não apenas de
manter “a lei e a ordem120”, mas sobretudo, enclausurar todos aqueles diferentes e
contrários a norma estabelecida.
O preço pela liberdade é o fiel adestramento aos instrumentos normativos,
um “contrato social” selado ao pensar de Jean-Jacques Rousseau, e materializado
por Jeremy Bentham. Qualquer desvio de conduta aos preceitos legais, criaria
uma desconexão a ordem e ao bom convívio social, motivo pelo qual, os instru-
mentos de controle estabelecem e exercem total vigilância, privá-los da liberdade
seria então muito mais do que criar corpos dóceis e controlados, seria a forma do
Estado mostrar poder.

Como não seria a prisão a pena por excelência numa sociedade em que a liber-
dade é um bem que pertence a todos da mesma maneira e ao qual cada um está
ligado por um sentimento “universal e constante”? Sua perda tem, portanto, o
mesmo preço para todos; melhor que multa, ela é o castigo “igualitário”. (Fou-
cault, 2013, p. 2018)

Não muito distante daquilo para o qual as prisões foram criadas, hoje en-
contramos os mesmos mecanismos ideológicos, operacionais e estruturas, algo
um pouco moderno com as inovações tecnológicas, contudo, nada que credite o

120 Teoria decorrente da Escola de Chicago e da Teoria Ecológica que se enquadra no


“Movimento de Lei e Ordem”, se caracteriza por uma maior atuação policial visando
à diminuição da criminalidade, seja de crimes de repercussão, ou de pequenas infra-
ções, todas combatidas com o mesmo rigor. Foi implementada nas décadas de 80 e
90, na cidade de Nova 0Iorque, pelo prefeito Rudolph Giuliani, seguindo os preceitos
de George Kelling e sua Teoria das Janelas Quebradas delineou a Teoria da “Zero
Tolerance” (Tolerância Zero).
- 218 -
fim delas. E nesses aspectos, as unidades prisionais interioranas são as que mais
se aproximam dos modelos bárbaros do século XVIII ao XX, não pelos mecanis-
mos operacionais da violência, mas aos aspectos arquitetônicos e o descaso que o
assunto paira aos órgãos competente.
Nestes aspectos, a Unidade Prisional de Tefé – UPT, é um destaque nega-
tivo neste cenário. Após disponibilização de dados e imagens da UPT pela Secre-
taria de Administração Prisional - SEAP, percebemos quão perigosa são aquelas
instalações, tantos para os apenados quanto para os próprios servidores que ali
desenvolvem suas atividades laborais.
Sem nenhum registro de inauguração legal confirmada como presídio, e
sem contrato algum de cogestão com a iniciativa privada, o prédio onde fica atual-
mente sediada a UPT, foi ao longo dos tempos sendo adaptado, até que em janeiro
do ano 2000, recebeu denominação de presídio. Entretanto, e pelas imagens121 a
seguir, o local onde abriga mais de 100 (cem) detentos entre homens e mulheres,
condenados definitivamente ou aguardando julgamento, é insalubre, perigoso e
não atende qualquer requisito mínimo de segurança, conforto e humanização.
Vejamos:

Imagem 01 – Frente/UPT Imagem 02 – Fundos/UPT

SEAP/2021122 SEAP/2021

121 Todas as imagens foram disponibilizadas pelo Secretaria de Administração Pe-


nitenciária – SEAP, do Governo do Estado do Amazonas, e estão sob o domínio e
responsabilidade da Universidade do Estado do Amazonas, por meio do Grupo Inter-
disciplinar de Estudos da Violência – GIEV.
122 “A Unidade Prisional de Tefé, localizada na Rua Marechal Deodoro, bairro Cen-
tro, é abrigada em dois prédios vizinhos, o primeiro é próprio do estado que comporta
seis celas, uma cozinha e uma quadra que é utilizada para o banho de sol. Prédio
com estrutura bastante precária, com infiltrações, rachaduras e um péssimo sistema
de esgoto. O prédio anexo, alugado, comporta a sala da Direção, uma sala de enfer-
maria, uma sala de aula, e mais duas celas, sendo uma feminina. Este, em melhores
condições estruturais, porém, apresenta também diversas infiltrações e rachaduras”.
Informações disponível pela SEAP/2021.
- 219 -
Imagem 03 – Quadra de Banho de Sol Imagem 04 – Acomodações Internas/UPT

Fomte: SEAP/2021 Fonte: SEAP/2021

Imagem 05 - Corredor de Acesso e Salas Prisionais

Fonte: SEAP/2021

Como demonstrados nas imagens, a estrutura predial da UPT é desu-


mana, não há elementos paliativos de dignidade alguma. Presos condenados e
aguardando julgamento transitam entre si normalmente, atrofiados em cubículos e
jogados em celas não arejadas e com infiltrações na rede de água e esgoto visível,
tornam-se vulneráveis às doenças e infecções provenientes do ambiente inóspito
que se encontra àquela Unidade Prisional.
Paralelo a isso, a administração predial convive no mesmo espaço que os
detentos, separados muitas vezes apenas pela razão dos próprios apenados em
contribuir com a administração, pois o setor administrativo sofre das mesmas
mazelas que os detentos no presidio municipal.

- 220 -
Imagem 06

Fonte: SEAP/2021

Imagem 07

Fonte: SEAP/2021

A realidade encontrada no presídio municipal de Tefé, destoa das instru-


ções normativas contidas na Lei de Execução Penal, o qual descreve que a assis-
tência ao preso e ao internado é dever do Estado, objetivando prevenir o crime e
orientar o retorno à convivência em sociedade daquele apenado, sendo que essa
assistência será material, à saúde, jurídica, educacional, social e religiosa.
Entretanto, é visível que pela ausência de estrutura mínima predial, todos
as diretrizes propostas na LEP e em outros instrumentos normativos, ficam apenas
no campo teórico, não por culpa da gestão do presídio, mas sim por uma ausência
constante de políticas públicas prisionais ao interior do estado do Amazonas, dei-
xando assim, apenados e servidores em condições desumanas e ambientes inóspi-
tos como é a Unidade Prisional de Tefé.
As condições precárias e sub-humanas encontradas na UPT, já foram obje-
tos de duas Ações Civis Públicas, uma pelo Ministério Público do Estado do Ama-
- 221 -
zonas – MPE, no ano de 2013(ACP n° 0003445-91.2013.8.04.7500), e a mais
recente pela Defensoria Pública do Estado do Amazonas – DPE, no ano de 2020,
em pleno colapso mundial da Pandemia (ACP n° 0000446-21.2020.8.04.7501).
Em ambas proposituras, o pedido de intervenção junto a UPT, com o ob-
jetivo de fechara a Unidade Prisional e transferência dos detentos e das detentas,
foram negadas pelo juízo da Comarca, entendo naquela ocasião que outros proto-
colos sanitários e de segurança pública deveriam ser tomados e adotados, dada a
ausência de outras alternativas paliativas.
Na Ação Civil Pública n° 0000446-21.2020.8.04.7501123, como objetivo de
evitar a proliferação do Coronavírus, bem como atender às prerrogativas de direi-
tos basilares dos encarcerados e daqueles que ali laboram, a Defensoria Pública,
requereu mediante a concessão da tutela de urgência, a tomada, pelo Estado do
Amazonas, no prazo de 48h (quarenta e oito horas), das seguintes providências
quanto à Unidade Prisional de Tefé (UPT):

O isolamento pelo prazo de 14 (quatorze) dias de detidos por novos flagrantes


ou por quaisquer novas determinações judiciais, seja por meio da construção
provisória e imediata de um novo espaço na Unidade Prisional de Tefé/AM,
seja pelo empreendimento de esforços conjuntos entre a Secretaria de Adminis-
tração Penitenciária, a Polícia Militar, a Polícia Civil, o Corpo de Bombeiros
Militar e outras instituições estaduais ou, ainda, mediante contratações, con-
vênios ou requisições com órgãos federais ou municipais e entes privados; (ii)
igualmente, o isolamento dos casos sintomáticos, dos comunicantes assintomá-
ticos e de casos confirmados, respeitando -se a recomendação da Organização
Mundial da Saúde (OMS) de não isolar todos na mesma cela sob pena de ampli-
ficação da transmissão na unidade prisional; (iii) a rápida identificação de casos
suspeitos, atendimento médico e respectivo monitoramento, com visitas diárias
de profissionais de saúde e aferição da temperatura, avaliação do surgimento
de sintomas e encaminhamento para hospital; (iv) a imediata identificação e
registro de custodiados que apresentem fatores e grupos de risco para a COVID
-19 em toda a população carcerária e às pessoas que ingressarem na Unidade
Prisional de Tefé/AM, com imediata comunicação à Defensoria Pública ; (v) a
disponibilização, em caráter emergencial, de material de limpeza (desinfetante,
água sanitária, sabão em pó, sabão em barra, álcool 70%, vassouras, rodos,
entre outros) e material de higiene pessoal (gel dental, sabonete, shampoo, es-
cova de dente, entre outros) com o fim de suprir as necessidades básicas da
Unidade Prisional do Município de Tefé/AM; (vi) o fornecimento de máscaras
de proteção, de tecido ou outro material hábil a diminuir a possibilidade de
propagação do novo Coronavírus, devendo haver a disponibilização mínima
de 3 (três) máscaras por custodiado da Unidade Prisional de Tefé/AM; (vii) o
fornecimento de Equipamentos de proteção individual (EPI’s) aos agentes de
segurança, servidores efetivos, comissionados e/ou temporários, que prestam

123 ACP PROJUDI - Processo: 0000446-21.2020.8.04.7501, disponibilizada no site do TJAM ou poden-


do ser acessada na https://radaramazonico.com.br/wp-content/uploads/2020/05/4e1cb8_9fb992d5820e-
49b791399a9842e633bb.pdf

- 222 -
serviços na Unidade Prisional de Tefé/AM e na Delegacia Interativa de Polícia
da comarca de Tefé/AM; (viii) a destinação de 100 testes rápidos para COVID
-19 para aplicação a todos(as) os(as) internos(as) e colaboradores(as) da Uni-
dades Prisional de Tefé/AM, com nova aplicação segundo indicação médica,
sem prejuízo de novos testes a serem requeridos conforme a necessidade da
Unidade. Ainda, caso não seja possível o envio dos insumos, requer seja dispo-
nibilizada, em caráter emergencial, verba para a aquisição dos referidos mate-
riais com o fim de garantir a adequada limpeza da Unidade Prisional de Tefé/
AM e a higienização pessoal dos presos sob custódia do Estado do Amazo-
nas. (Processo n. sob custódia do Estado do Amazonas. (Processo n. 0000446-
21.2020.8.04.7501 – TJAM/2021)

É notório que em plena Pandemia, o colapso na rede pública de saúde
e os inúmeros casos de contagio no Amazonas, a atenção primária aos cuidados
preventivos dos encarcerados da UPT ou do sistema prisional como um todo não
seria de todo as das mais urgentes prioridades, verdade esta que, dos 12 (doze)
presos condenados, e dos 88 (oitenta e oito) provisórios encarcerados na UPT, 67
(sessenta e sete) foram diagnosticados com Convid19, e apenas 73 (setenta e três)
detentos fizeram testes para Covid.
A saúde básica e primário dos internos é tão precária que a própria SEAP,
em seu relatório traz a observação quanto a ausência de Unidade Básica de Saúde
ou atendimento do próprio Estado aos encarcerados, ficando a encargo do municí-
pio o apoio e a disponibilização de profissionais para o atendimento médico ape-
nas de caráter preventivo, não tendo estrutura para urgência e emergência, dispo-
nibilizando o Município de 01 médico, 01 enfermeiro, 01 técnico de enfermagem,
01 dentista, 01 auxiliar de dentista, que atuam nos dias de terças e quintas-feiras.
Contudo, isso é reflexo de um descaso e a falta de políticas públicas vol-
tadas ao interior do estado do Amazonas. É perceptível o esquecimento, o abando-
no, bem como da indiferença que se tem as cidades interioranas do estado. E isto
acarreta um retrocesso quanto a qualquer implementação de políticas paliativas
ou preventivas de segurança pública, pois se não existe uma estrutura mínima do
próprio estado, como terão os municípios?
Neste contexto o município de Tefé se destaca como uma das maiores
rotas do narcotráfico da região, sendo alternativas para traficantes cooptarem jo-
vens e adultos ao universo do crime e descaracterizar as pacatas cidades em pe-
quenas fobopoles. Corrobora com isso, a falta de estrutura mínima no sistema de
segurança pública da cidade, quer seja com as unidades policiais, ou até mesmo
no próprio sistema prisional, este por sinal, em total desconexão com a Lei de
Execuções Penas n° 7.210/198124.
124 No presente caso, e da análise aos dados da SEAP referente à UPT, a probabilida-
de de violação do direito é clara, visto a quase totalidade dos direitos desrespeitados
contidos na lei 7.210/198. Dentre estes pode -se citar o tamanho das celas, a precária
alimentação, a falta de segurança e o descaso com a saúde dos segregados e dentre
- 223 -
Por fim, percebesse que os detentos que esperam julgamento ou aqueles
que estão cumprindo pena na UPT, não possuem outras alternativas que garantam
aos mesmos o mínimo de direito humanos possível. Suas masmorras pútridas e
sem o mínimo de condição de habitação, são as únicas alternativas que possuem
ao cumprimento da pena. O estado do Amazonas, mostra-se, por ora, negacio-
nista a qualquer política pública de segurança pública, ficando todos aqueles que
dependem direta ou indiretamente da UPT, reféns do descaso e da apatia política
naquela região.

Novos Desafios para a Segurança Pública Interiorana


A atual conjuntura do cenário político-criminal sugere em todo país que, no
contexto da segurança pública, o crime não se encontra mais sediado nas grandes
capitais e realizou um movimento em direção ao interior do país.
A busca por novos mercados pelo crime tem mudado o panorama cri-
minoso no país, especialmente na região amazônica, sobretudo nas áreas frontei-
riças. Os recentes ataques orquestrados por uma facção criminosa no Estado do
Amazonas dão a medida do processo de atuação regional desses grupos e demar-
cam sua presença em municípios centenas de quilômetros distantes da capital.
Esta nova conformação se apresenta como um especial desafio às forças
de segurança, obrigadas a atuar numa região de tamanho continental, com eviden-
tes dificuldades geopolíticas, com estruturas comprometidas em temos material e
de contingente. Além disso, é obrigada a atuar em contextos muito diversos, com
diferentes graus de desenvolvimento social e cultural.
Assim, um primeiro esforço de integração referente a uma política de se-
gurança abrangente encontra óbice na própria história do desenvolvimento local.
De acordo com Souza (2003) as tentativas de empreender na região um mode-
lo de desenvolvimento modernizante redundaram em meio milênio de “distintas
economias extrativistas que apenas enriqueceram brevemente uma parcela das
oligarquias locais, deixando para trás uma terra mais empobrecida”.
A história da Amazônia se caracteriza, portanto, pela constante busca por
uma resposta de desenvolvimento que é atravessada primeiro por uma sanha eu-
ropeia de exploração mercantil. Nos primeiros séculos vigorou na região uma
lógica exploratória a procura de riquezas e mão de obra barata para o seu projeto
de enriquecimento.
Estas primeiras páginas da colonização portuguesa são férteis para des-
crever o processo de sujeição do homem amazônico, bem como para subscrever
a resistência que ofereceram esses povos ao empreendimento colonizador portu-
guês, como esclarece Souza (2003):

outros. A unidade em questão parece ter sido construída com o fito de afronta ao “TÍ-
TULO IV” da Lei de Execuções Penais e as Regras de Mandela, diz o Juiz nos autos
Processo n. 0000446- 21.2020.8.04.7501 – TJAM/2021)
- 224 -
Os portugueses sabiamente afastaram a única força suficientemente poderosa,
capaz de pôr em xeque sua ideologia mercantil. E tendo expropriado do índio
certas técnicas para a vida na Amazônia, nos ofereceu como herança a vergo-
nha castradora que nos mantém sujeitos a uma sociedade de caricatura. (Souza,
2003, p. 46)

Nesse contexto as populações locais foram sujeitadas e exploradas, até


finalmente esboçarem uma reação armada nos anos da cabanagem, fato que coin-
cide com a falência do mercantilismo extrativista, segundo Souza (2003).
Os anos da indústria extrativista do látex, no século XIX não foram me-
nos cruéis na sua forma exploratória. A nossa literatura é pródiga em apresentar
o retrato do homem dos seringais como um espoliado, exposto a toda sorte de
opressão e desespero. Essa experiência, no entanto, representou mais uma opor-
tunidade de progresso para a região desperdiçada, cujo final deixou a região em
frangalhos, como descreve Souza (2003):

O Amazonas transitava entre a depressão solitária dos abandonados e as raras


manifestações da caridade nacional. O Amazonas virou o primo arruinado que
ficou demente. Como prolongamento da aventura brasileira, a província posta
de lado nunca assumiu o papel grotesco que representava. Os administradores
não se compatibilizavam com o trabalho de adaptar o Estado à economia de
mercado, insistindo na naufragada dependência estrangeira do extrativismo.
(Souza, 2003, p. 68)

As luzes de algum progresso só foram reacender-se com o advento da
Zona Franca de Manaus. Este fato transformou a paisagem não apenas da cidade
de Manaus, mas também do interior, uma vez que se assistiu nesse período uma
forte migração, trazendo a população do interior para a capital amazonense, como
leciona Castro (2009):

Considerando-se a dinâmica populacional do Estado do Amazonas nos últimos


30 anos, pode-se observar a tendência à concentração da população na cidade
de Manaus e a diminuição da população no interior. Em 1991, quase metade da
população de todo o Estado , 48,09%, residia em Manaus, o que não se altera
no censo de 2000, tampouco nas estimativas de 2005, em torno de 50,88%
(Castro, 2009, p.60)

A partir do fracasso dessas políticas desenvolvimentistas e no longo his-


tórico de sujeição do homem amazônico é possível refletir sobre o destino das
cidades interioranas do Amazonas no bojo dos estudos que se orientam pela urba-
nização e violência.

- 225 -
Nesse ponto, ao colocarmos em perspectiva o fato de que as cidades do
interior do Amazonas não sofreram um processo de expansão populacional, e sim,
ao contrário, assistiram o trânsito de seus cidadãos em direção à capital.
É fato que a realidade do interior amazonense não pode ser lida como
uma estrutura homogênea. Há diversidades sub-regionais muito marcantes em
múltiplos territórios como por exemplo a presença de povos indígenas, a explora-
ção de minério, de petróleo, bem como a forte presença da exploração agropecu-
ária em certas áreas.
Como então explicar o aumento da violência típica de cidades grandes?
Como entender o surto de violência ocorrido em Manaus e em cidades do interior
na primeira semana de junho de 2021?
É certo ainda que esta pergunta se autoresponde quando se está diante de
cidades fronteiriças com outros países, uma vez que a cultura do tráfico de entor-
pecentes é um comércio bem demarcado nestas regiões.
Nas demais, de um ponto de vista da Ecologia social, não se nota um
esgarçamento do tecido social a ponto de degenerar valores comunitários, um dos
fatores observados em comunidades onde há grandes densidades populacionais.
Nestas, a perda de vínculos resultou em segmentações sócioespaciais, origem de
uma série de conflitos. Este fato guardaria direta relação com os processos crimi-
nógenos, de acordo com Marinho (2004).
No entanto, o que se percebe em cidades médias e pequenas do interior
do Amazonas é a presença de facções criminosas, cuja ação expõe populações
inteiras a um novo tipo de sujeição. Contra esta realidade é notória a falta de uma
política de segurança eficaz de combate às drogas e a estas organizações crimino-
sas.
O número de apreensões de drogas em diversos municípios do interior do
Estado do Amazonas, bem como a crescente quantidade de inquéritos policiais e
ações penais tramitando na justiça criminal dão a dimensão do quanto este tipo de
comércio está disseminado na região.
Uma das causas comumente apontadas para este quadro é a falta de uma
política de segurança para as fronteiras brasileiras, em especial a da Amazônia.
Bem como a ausência de controle mais efetivo do espaço aéreo no Norte do País
e da fiscalização da entrada de armamentos através das fronteiras.
Tais elementos constituem especiais desafios para as forças de segurança
que atuam com baixo efetivo da Polícia Federal, como também pela ausência de
um policiamento específico de fronteira para Amazônia. Dessa forma, as facções
criminosas acabam logrando êxito na entrada de entorpecentes no Brasil dentre
outras atividades criminosas.
Some-se a isso a ausência de uma política nacional macro de segurança
para a Amazônia, planejada levando-se em conta as especificidades da região.
Exemplo disso é o Sistema Único de Segurança Pública (SUSP), que já comple-
- 226 -
tou três anos e ainda não foi implementado. Este sistema poderia representar o
atendimento de velhas demandas para a área de segurança pública, sobretudo para
região de fronteira.
O comércio de drogas e a luta das quadrilhas pela expansão de seus ter-
ritórios claramente alcançou o interior do Estado do Amazonas e contribui para
a desestruturação de unidades familiares e a ruptura da coesão social dessas co-
munidades. E infelizmente, o município de Tefé está no centro dessa expansão
territorial, do domínio das organizações criminosas e da apatia governamental,
que não apresenta nenhum plano de contenção ao crescimento e fortalecimento
dessas milícias.
O tamanho continental do Amazonas, atrelado ao distanciamento dos mu-
nicípios ao grande centro urbano do estado (Manaus), traz consigo um esqueci-
mento político e social aos povos interioranos. Quando o assunto se afunila as
questões de segurança pública e sistema prisional, percebe-se a complexidade e
dificuldade que os municípios possuem em manter ou organizarem um plano de
segurança pública municipal, dado às vezes pela ausência de conhecimento técni-
co ou pela dependência de programa as governamentais.
Refletir sobre as questões carcerárias, em especial no município de Tefé,
nos possibilita abrir precedentes para novos desafios que envolva política pú-
blica prisionais. O trabalho aqui apresentado, é um expoente importante para o
crescimento da discussão da matéria de estudos prisionais, pois o dossiê além de
apresentar os problemas mais comuns nas Unidades Prisionais dos interiores do
estado do Amazonas, proporciona um olhar mais holísticos aos problemas que a
memória e história não podem esquecer.
A Unidade Prisional de Tefé, objeto de estudo neste dossiê, demonstra
condições precárias e inóspitas a qualquer cumprimento de pena, ou para o de-
senvolvimento de trabalhos administrativos por parte dos colaboradores daquela
Unidade. Há uma série de problemas visíveis como infiltração de água nas celas
prisionais, ausência de sistema de esgoto, de ambulatório para urgência e emer-
gência, proliferação de doenças infectocontagiosas, segurança predial deficitária,
ausência de locais para estudos, cultos litúrgicos, visitas íntimas, assessoria jurí-
dica e outras, deixando evidencias claras que àquela Unidade Prisional precisa ser
interditada.
Outra questão importante levantada, foi a percepção de ausência de polí-
ticas públicas prisionais e de direitos humanos. Durante a pesquisa e após leitura
dos informativos disponibilizados pela SEAP, percebeu-se que os apenados vi-
vem em alas prisionais, que desnudam a própria ignorância cética por dias me-
lhores, também não existe o fiel cumprimento as políticas prisionais proposta pela
Lei de Execução de Penal e outros instrumentos normativos, merecendo uma re-
flexão mais detida e profunda aos mecanismos, políticas e ao próprio sistema de
segurança pública do estado.

- 227 -
Por fim, precisamos de um olhar mais sensível às questões de segurança
pública e sistema prisional no interior do estado, possibilitando que a Universida-
de do Estado do Amazonas – UEA, por meio do Grupo Interdisciplinar do Estudo
da Violência – GIEV, em coparceira com os órgãos de controle e fiscalização
como Poder Judiciário, Ministério Público, Defensoria Pública e OAB, possibi-
litem a criação de um fórum estadual para políticas carcerárias para o interior do
estado, possibilitando planos e estratégias por meio de trabalhos desenvolvidos,
trazendo sugestões e apresentando questões que norteiam segurança pública, sis-
tema prisional e também direitos humanos.

Referências

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lizada no dia 10/07/2021, site: https://www.gov.br/depen/pt-br/sisdepen/sisdepen
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FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento das prisões. Tradução de Ra-
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LIMA, Renato Sérgio de; LIAMA, Paula de; ADORNO, Sérgio (Orgs.). Segu-
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QUEIROZ, Kristian Oliveira de. Elementos Espaciais E Centralidade Perifé-
rica - O Caso De Tefé No Amazonas. ACTA Geográfica, Boa Vista, v.10, n.23,
mai./ago. de 2016. pp.92-110.
SOUZA, Márcio. A Expressão Amazonense- do colonialismo ao neocolonialis-
mo. Manaus: Valer, 2003.
WACQUANT, Loïc. As prisões da miséria. Tradução de André Talles. Rio de
Janeiro: Zahar, 2011.

- 228 -
CAPÍTULO XIX

UNIDADE PRISIONAL DE ITACOATIARA


ITACOATIARA PRISON UNIT

Criscyanne Andrade de Oliveira125


Ellen de Moraes e Silva 126
Pamella Oliveira Silva127

“Sol de fazer moça


andar de sombrinha,
mandar curumim
ir de guarda-chuva,
de fazer velhinha
suar no batom,
sol doido de bom!

Sol de fazer a chuva


Correr do chão para o céu.
 
Sol de fazer belas
estrelas no rio,
de espumas nas balsas
enormes nas águas,
sol sempre agitado
de barro amarelo
danado de belo!
 
Sol de tostar sementes
Na língua dos passarinhos.

125 Doutoranda em Saúde Pública – Sociedade, Violência e Saúde (ENSP/FIOCRU-


Z-RJ), Mestre em Segurança Pública, Cidadania e Direitos Humanos (UEA), Espe-
cialista em Direito Civil e Processo Civil – (CIESA); Advogada Humanista, Direito
– UFAM.
126 Doutoranda em Saúde Pública (FIOCRUZ/RJ), Mestre em Segurança Pública,
Cidadania e Direitos Humanos (UEA), Especialista em Gestão de Saúde (FSDB),
Assistente Social, Perita Judiciaria Social (Justiça Federal), Professora Substituta da
Universidade Federal do Amazonas (UFAM).
127 MBA Gestão de Pessoas, (CESA), MBA Gerenciamento de projetos, (CESA),
Pedagoga, Assistente Social, Perita Judiciaria Social (Justiça Federal).
- 229 -
Sol da liberdade
da vida sem metro
mas cheia de rimas,
sol do tacacá,
jambu com pimenta
na Avenida Parque,
sol bamba de craque!
 
Sol de fazer no rio
a própria água suar.
 
Sol das entrelinhas
da prosa de bar
na beira do rio,
sol sem metafísica
da livre poesia
cantada entre o povo,
sol forte de novo.
 
Sol que se faz trigo
em honra do amigo”

 Poema escrito a quatro mãos pelos poetas Max Carphentier e Elson Farias,
por ocasião do 30º FECANI – Festival da Canção de Itacoatiara, em Itacoatia-
ra - AM, 5/09/2014.

Esse artigo tem por objetivo verificar o funcionamento da Unidade Prisio-


nal Mista de Itacoatiara como um todo. Para isso, consideramos necessário ana-
lisar a estrutura da referida unidade, bem como o verdadeiro aspecto da realidade
com a qual os presos vivem neste local. A fim de melhor contextualizar, gostarí-
amos de envolver os leitores e pesquisadores, interessados pelo sistema prisional
no Amazonas, em uma viagem e, conhecendo um breve histórico do Município de
Itacoatiara possam, junto conosco, analisar os dados e relatórios fornecidos pela
Secretaria de Estado de Administração Penitenciária do Amazonas – SEAP/AM,
diálogos, entrevistas e seus resultados. Por fim, ressaltamos questões relevantes
que merecem atenção das autoridades para que haja o bom e pleno funcionamento
da unidade Prisional de Itacoatiara.

- 230 -
Breve histórico da cidade de Itacoatiara - AM

Imagem 01: Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário - Itacoatiara, AM - 1965

Fonte: Acervo dos municípios brasileiros - IBGE

Itacoatiara é um município localizado cerca de 270 km em linha reta da


Cidade de Manaus, capital do Estado do Amazonas. Na língua Tupi-Guarani, o
topônimo Itacoatiara, significa pedra pintada. Entretanto, segundo Antônio Can-
tanhede, em “Outras Histórias do Amazonas”, o topônimo tem a seguinte decom-
posição: Itá - pedra; Coati - o mamífero; Ára - o que nasce.
O local recebeu essa denominação em consequência da existência de
inscrições gravadas em algumas pedras no rio Urubu em frente à cidade. Teve
como primeiros habitantes os índios Muras, Juris, Abacaxis, Anicorés, Aponariás,
Cumaxiás, Barés, Jumas, Juquis, Pariguais e Terás. Vem do Tupi ou nheenga-
tu itá: pedra; e coatiara: pintado, gravado, escrito, esculpido.
A praça da imagem 01 possui 253 anos e é o primeiro logradouro público
da cidade. Ainda identificada como “Praça ou cargo da Matriz”. A igreja situa-se
na Rua Adamastor de Figueiredo, grande ponto turístico da cidade. Sua constru-
ção foi iniciada em 1946, sofrendo uma grande intervenção estrutural entre 2008
a 2011, pelo bispo Dom Carillo. A atual Catedral de Nossa Senhora do Rosário é o
ponto de referência histórico, cultural e geográfico de Itacoatiara. Nela estão abri-
gadas importantes relíquias da história religiosa itacoatiarense: a imagem original
de Nossa Senhora do Rosário, e outras imagens de santos, assim como o túmulo
do ex-bispo Dom Jorge Markell. Itacoatiara tem como padroeira do Município a
Nossa Senhora do Rosário.
- 231 -
Imagem 02: Vista aérea da cidade

Fonte: Banco de Dados da SEAP

A terceira cidade mais populosa do Estado, Itacoatiara é um município bra-


sileiro localizado na Região Metropolitana de Manaus, no estado do Amazonas.
Possui 104 046 habitantes, de acordo com estimativas do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) em 2021.128
Ainda de acordo com o IBGE, o município ocupa uma área de
8 891,906 km129, representando 0.5661 % do estado, 0.2308 % da Região Norte e
0.1047 % de todo o território brasileiro. Desse total 13,5 km² estão em perímetro
urbano. Possui uma temperatura média anual mínima de 25 °C e de 32 °C como
média máxima. Na vegetação do município predomina o bioma amazônico.
Itacoatiara possui o segundo maior PIB do Amazonas, com R$ 2,05 bi-
lhões, de acordo com dados do IBGE de 2016. O município é considerado um
dos  maiores pólos agropecuários do Brasil.130 Conta com um importante porto
fluvial, responsável por uma grande quantidade de transporte de cargas, sendo
o segundo maior porto fluvial escoador do país, pois chegam diariamente car-
gas vindas de cidades como Belém, Cuiabá, Manaus e Santarém. Seu  Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) é de 0,644, sendo considerando inferior à média
nacional, e comparado com o IDH do estado, que foi de 0,680. 131 Segundo estudo
de uma empresa de consultoria, a Urban Systems, Itacoatiara é uma das pequenas
cidades mais desenvolvidas do Brasil. 132
128 «Itacoatiara». cidades.ibge.gov.br. Acesso em: 15 de setembro de 2021
129 «Itacoatiara». cidades.ibge.gov.br. Acesso em: 15 de setembro de 2021
130 «Produto Interno Bruto dos Municípios – Itacoatiara - 2021». cidades.ibge.gov.br. Acesso em: 20 de
agosto de 2021
131 «100 maiores PIBs da agropecuária». Terra. Acesso em: 22 de setembro de 2021
132 Azevedo, Rita (23 de novembro de 2015). «As 50 cidades pequenas mais desenvolvidas do Brasil».

- 232 -
Fundada em 1683 por padres jesuítas, a cidade é conhecida como Velha
Serpa ou Cidade da Pedra Pintada, por possuir na entrada da área urbana uma
pedra pintada com um escrito indígena do tupi ou nheengatu itá: pedra; e coatia-
ra: (pintado, gravado, escrito, esculpido) que deu origem ao nome atual da cidade,
conforme se disse no início da nossa conversa. É sabido que o então Governador
Mendonça Furtado, em 1758, transferiu o povoado do Rio Madeira para a mar-
gem do Rio Amazonas onde está hoje a cidade. Nela há importantes monumen-
tos, museus, parques, balneários, teatros e eventos de grande repercussão, como
o  Festival da Canção de Itacoatiara, considerado o maior evento de música da
Região Norte do Brasil

Imagem 03 – Mapa do Amazonas. Itacoatiara em destaque.

Fonte: Google Maps

Exame. Acesso em: 18 de julho de 2021

- 233 -
Imagem 04 – Localização Geográfica do Município de Itacoatiara.

Fonte: Google Maps

Existem controvérsias quanto à origem da povoação, pois há os que admi-


tem ter o padre Antônio Vieira criado uma missão de Aroaquis, numa das ilhas
próximas de Itacoatiara – a de Aibi, em 1655. No ano de 1759 a aldeia de Itacoatia-
ra é elevada a vila, com a denominação de Serpa, nome de origem portuguesa. Foi
a terceira vila instalada no Amazonas, antecedida apenas por Borba e Barcelos.
Era, então, das mais importantes aglomerações da região. Suprimido o município
em 1833, dois anos depois era assolado pela Cabanagem, sedição que veio a ter-
minar em 1840. A restauração verificou-se em 1857. Mais tarde, em 1874, a vila
de Serpa recebeu foros de cidade passando a denominar-se Itacoatiara. Depois de
Manaus e Tefé foi a primeira localidade amazonense a ter categoria de cidade.
É muito importante destacar que o Transporte se dá pela região portuária
da cidade. A Rodovia AM-010, é a principal forma de acesso ao município
que também possui muita tradição no transporte hidroviário, tendo em vista a
abundância dos rios que cortam a localidade.
Itacoatiara, assim como os demais municípios amazonenses, não é cortada
por ferrovias em seu território. O transporte aéreo também é usado, embora em
menor escala. Este é representado pelo Aeroporto de Itacoatiara. A AM-010 liga
Itacoatiara á BR-174, que faz a ligação até Manaus e Boa Vista, e a AM-363 que
dá acesso à cidade de Itapiranga. Na cidade há um terminal rodoviário com ho-
rário direto para Manaus, Boa Vista, Presidente Figueiredo, Itapiranga, Rio Preto
da Eva e Caracaraí.

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Imagem 05: Região portuária da cidade.

Fonte: Gabriel David R Botelho

Imagem 06: Rodovia AM-010, a principal forma de acesso ao município.

Fonte: Gabriel David R Botelho

Imagem 07: Vista para o Rio Amazonas a partir da orla de Itacoatiara.

Fonte: Gabriel David R Botelho

- 235 -
Imagem 08: Orla de Itacoatiara

Fonte: Acervo Prefeitura Municipal da Cidade de Itacoatiara – AM

Os traços culturais, políticos e econômicos herdados dos portugueses, es-


panhóis e holandeses marcam o município de Itacoatiara. Cresceu assim, mas
voltando um pouco atrás na história, não se pode esquecer a importância dos
ameríndios no quesito contribuição étnica. Foram os ameríndios que iniciaram a
ocupação humana na Amazônia, e seus descendentes, os caboclos, desenvolve-
ram-se em contato íntimo com o meio ambiente, adaptando-se às peculiaridades
regionais e oportunidades oferecidas pela floresta.
Na sua formação histórica, a demografia de Itacoatiara é o resultado da mis-
cigenação das três etnias básicas que compõem a população brasileira: índios, eu-
ropeus e negros, formando, assim, os mestiços da região (caboclos). Mais tarde,
com a chegada dos imigrantes, especialmente japoneses, árabes, sírios e libane-
ses e judeus vindos em sua maioria do Marrocos, formou-se uma cultura singular,
que caracteriza a população da cidade, seus valores e modo de vida.
Segundo o censo de 2000 do IBGE, no relatório da população residen-
te, a população de Itacoatiara está composta por: pardos (58,37 % ou 41,367
habitantes),  brancos (32,21 % ou 22,504 habitantes), pretos (5,7 % ou 4 110
habitantes),  indígenas (3,09 % ou 2,228 habitantes) e amarelos (0,63% ou 430
habitantes). Há ainda, 50 pessoas que não declararam suas etnias, representando
0,10 % do total da população.
A cultura do município, assim como do Amazonas, foi largamente influen-
ciada pelos nativos da região e pelos diversos grupos de imigrantes e migrantes
que ali se estabeleceram, principalmente espanhóis. Itacoatiara tornou-se uma ci-
dade com ampla miscigenação cultural e diversificadas culturas. Os nordestinos
que migraram para a Amazônia no fim do Século XIX e início do Século XX,

- 236 -
atraídos pelo ciclo da borracha, também contribuíram para a formação cultural do
município. Tudo isso gerou na localidade e no estado uma cultura mestiça e com
grande contribuição e permanência da cultura indígena. A prefeitura promove cul-
tura por órgãos culturais. Todos os anos, no mês de setembro, acontece o Festival
da Canção de Itacoatiara - FECANI, com o objetivo de desenvolver e divulgar
novos talentos amazonenses da música. É o maior festival de música do Norte,
reunindo músicos de todo o Brasil.
Itacoatiara é um dos maiores destinos turísticos no Amazonas, recebendo
um elevado número de turistas que visitam as praias, lagos e igarapés das proxi-
midades, que contam com diversos hotéis de selva, a fim de experienciar a cultura,
culinária local e sentir o afago da selva nativa.

UNIDADE PRISIONAL DE ITACOATIARA


Localizada na rua Hilário Antunes, s/nº, Bairro Santo Antônio, a Unidade
Prisional de Itacoatiara, com capacidade para 172 internos, foi inaugurada em 30
de fevereiro de 2010, por meio da Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Hu-
manos – SEJUS. À época, o Secretário Carlos Lélio Lauria, o Secretário Executi-
vo Manuel Edmundo Mariano da Silva e o Secretário Executivo Adjunto, Coronel
Bernardo Encarnação, estiveram presentes na ocasião, que teve como principal
objetivo e preocupação atender aos direitos do preso.
Esta unidade era parte do projeto do governo de expandir e aprimorar o
sistema prisional, com dedicação especial à valorização do interno e seus direitos.
O presídio contou com médicos, enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos e
advogados. Presente na inauguração, o vice-prefeito do município, José Augusto
Queiroz, se comprometeu a ceder, uma vez por semana, médico, assistente social
e dentista do Programa Saúde da Família (PSF) para reforçar o trabalho na área de
saúde dentro da penitenciária. “Vamos verificar ainda a possibilidade, junto com
a Secretaria de Educação, de trazer para a unidade o Programa Educação para
Jovens e Adultos (EJA)”, vice-prefeito.
Quando da inauguração, o presídio contava com uma biblioteca, tendo re-
cebido a doação inicial de 230 livros por parte da prefeitura, que permanecia
buscando parcerias para promover a qualificação e capacitação dos internos neste
espaço.
A Unidade Prisional de Itacoatiara é considerada um presídio modelo, e é
a primeira dentro desses moldes construída no interior do Estado. A construção
veio de uma parceria entre a SEJUS e o Departamento Penitenciário Nacional
(DEPEN), e visa diminuir a lotação da primeira Unidade do município. Para a
execução da obra foram investidos R$ 5.201.357,12.
A estrutura tem ao todo 2.407,37metros quadrados e conta com 172 vagas.
São 31 celas em concreto, além de salas para atendimento médico, reuniões, de-

- 237 -
partamento jurídico e de assistência social, solários e área para visita. O presídio é
dividido em dois pavilhões, um para presos provisórios e outro para sentenciados.
As celas têm capacidade para abrigar até seis internos. Todo o presídio é monito-
rado por câmeras, tornando a segurança ainda mais eficaz.
No dia seguinte da inauguração, foram transferidos 69 presos para a nova
unidade. Na antiga penitenciária ficarão as mulheres e os presos do regime semia-
aberto. A população carcerária de Itacoatiara atualmente é de 125 homens e 14
mulheres.
A SEJUS leva adiante nesse momento a missão de se aperfeiçoar em suas
responsabilidades, construindo ou reformando unidades e buscando fazer da re-
clusão um espaço de qualificação e retorno à sociedade, com a atenção máxima
aos Direitos Humanos.
Seguindo como exemplo instituições em países onde até 80% dos detentos
podem ser reabilitados, observando as recomendações dos órgãos responsáveis
pela saúde pública nacional e internacional, a Secretaria de Estado de Adminis-
tração Penitenciária do Amazonas passou a adotar procedimentos operacionais e
ações de proteção à saúde, com o fito de preservar o bem-estar físico e mental dos
custodiados, visitantes, servidores e colaboradores das empresas de Cogestão do
sistema prisional do Estado do Amazonas.
Acreditando que para reabilitar, além de boas condições físicas, o detento
precisa de atividades que ofereçam um futuro de volta à sociedade, se investiu em
ações e projetos para o melhor bem-estar e otimização do atendimento aos deten-
tos, bem como às suas famílias.
A fim de obter resultados precisos para presente pesquisa, foi realizado um
levantamento de dados na referida unidade. Tais dados culminam nas seguintes
observações e resultados:
Embora tenha sido fundada no ano de 2010, não foi possível descobrir o
ano de início e fim da construção da mesma, a origem ou responsável pelo Projeto
Arquitetonico da Unidade, pois não constam nos registros essa informação. Em
2021, a Direção Geral da Unidade Prisional de Itacoatiara é de Antonio Enriques
Cordeiro.

Resultados, discussões e análises


Ao chegar na unidade, percebe-se como ela é. E gostaríamos que os lei-
tores pudessem ter a sensação de estar nos corredores da unidade. Para que seja
possível dimensionar sua estrutura física e funcional, optamos por descreve-la
pontualmente da seguinte maneira: Esta dividida em 02 Pavilhões (A e B): 20
celas com banheiro, 02 quadras de esportes, 02 área de vivência com 02 banheiros
grandes, 01 pátio de visitas. Na área de TRIAGEM há: 06 celas com banheiro,
01 quadra de esporte com banheiros, 01 biblioteca, 01 parlatório, 03 salas de
- 238 -
aulas, espaço do NAP com 01 sala de aula. ANEXO: 05 celas com banheiro.
CELAS DA ENFERMARIA: 03 celas com banheiro, 01 área de banho de sol.
CORPO TÉCNICO, 01 consultório odontológico, 01 enfermaria, 09 salas de
atendimento: jurídico, serviço social, psicóloga, almoxarifado / farmácia, super-
visão, pedagogia, ligação e videoconferência. 0Banheiros Masculino e Feminino.
ADMINISTRAÇÃO: 01 Monitoramento, 06 salas (Gabinete Direção, Gabinete
Diretor Adjunto, Gerência, TI, RH e Relatoria). PORTARIA: 01 sala da recepção
com banheiro, 01 guarda volume, 01 Descanso do operacional. CANIL: 06 baias.
A respeito de equipamentos de segurança disponíveis na inauguração não
consta registros sobre essa informação, mas em maio de 2021, a unidade possuia:
01 portal detector de meta, 01 scanner corporal, 02 máquinas de Raio – X para
alimentos e objetos, 02 Banquetas detector de meta, 04 bastões detector de metal,
46 câmeras para o monitoramento nas dependências internas e externas desta UPI.
Quanto a quantidade de óbitos de internos por ano e sua causa, há registros
de apenas 01 óbito no ano de 2016, com causa-mortis: homicídio.
Conforme se verificou, a Unidade Prisional passou a ser gerida em 01 de
junho de 2014, em regime de cogestão plena, pela Umanizzare. Em 2021, passou
a ser gerida juntamente com a Reviver – Administração Prisional Privada EIRE-
LI, com início registrado em 01 de fevereiro do corrente ano.
Importante ressaltar que há unidade básica de saúde na unidade, e que o
quantitativo da estrutura médica na época da inauguração havia 01 sala de enfer-
maria, 01 consultório médico e profissionais eram 04 técnicos de enfermagem, 01
enfermeiro e 01 médico. Atualmente possui 01 sala de enfermaria, profissionais
02 técnicos de enfermagem, 04 enfermeiros e 01 médico. Para melhor elucidar a
estrutura/demanda/capacidade, durante o levantamento de dados foi possível ve-
rificar que o número de atendimentos médicos nos últimos 05 anos, por ano, são
os que seguem: ano 2017 = 1668, ano 2018 = 1621, ano 2019 = 1447, ano 2020
= 1469, ano 2021 = 266 (até 30/04/2021).
Das doenças mais comuns dos internos são as viroses e coceiras. Não há
registros de deficientes físicos na unidade, mesmo assim deve-se registrar que há
acessibilidade para todo portador de necessidades especiais.
Seguindo esse contexto, é possível destacar também que há idosos nessa
unidade prisional, mas esses não possuem necessidade de acompanhamento di-
ferenciado.
A estrutura física e de pessoal do Psicossocial da Unidade quando inaugu-
rada era de 01 sala equipara para atendimento de psicologia, 01 sala equipada para
atendimento de serviço social e hoje ainda permanece da mesma forma.
Observemos agora o número de atendimento nos prontuários psicossociais
nos últimos 05 anos (por ano): Ano 2017 = Social 1384, Psicologia 1093; Ano
2018 = Social 1620, Psicologia 1299; Ano 2019 = Social 1716, Psicologia 1370;
- 239 -
Ano 2020 = Social 1843, Psicologia 2056; Ano 2021 = Social 444, Psicologia
372, até 30 de abril de 2021.
Quando da inauguração não havia estrutura dos parlatórios, hoje há 01 sala.
Assim como também não havia estrutura física para participação dos internos por
vídeo conferência de parlatórios/visitas e audiências. Hoje a Unidade Prisional
possui 01 sala equipada.
Normalmente, o número de atendimentos de advogados por dia é em média
de 02 atendimentos. Sobre isso, é importante destacar o número de atendimentos
jurídicos nos últimos 05 anos (por ano): Ano de 2017 = 995; Ano de 2018 = 1294;
Ano de 2019 = 1166; Ano de 2020 = 986;
Existem outras informações muito relevantes acerca desta unidade prisio-
nal, à exemplo, o número de vagas projetadas da unidade de inauguração até hoje,
era de uma capacidade para 172 vagas. A maior lotação histórica da Unidade foi
em 2016, com 206 internos.
Atualmente, há 115 internos, distribuídos em 70% de presos provisórios e
30% de presos sentenciados. Importante dizer que essa separação dos internos não
acontece por tipo penal. E que o perfil dos internos, com relação a idade é de 18 a
25 anos, cumprindo pena descrita no artigo 33 do código penal, qual seja Quanto
a pena de reclusão, a mesma é tratada no artigo 33 do Código Penal, o qual de-
fine que a esta pena será cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto. O
condenado não reincidente, cuja pena seja superior a quatro anos e não exceda
a oito, poderá, desde o princípio, cumpri-la em regime semi-aberto e seu grau de
escolaridade é o ensino fundamental.
Dentre os internos, há 02 indígenas com comunicação à FUNAI. Não há
registro de estrangeiros, nem grávidas, nem lactantes, nem crianças. Assim como
não há berçários, ou espaço para lactantes.
Muito importante destacar que foi possível identificar e trazer a conhe-
cimento que, quanto ao nº de internos pertencentes ao grupo LGBTQIA+ há 02
internos que são mantidos juntos com os demais internos, não há local separado
para custódia.
A Unidade Prisional conta com local para visita intima.
Não há registros do número de internos em projetos de remissão nos últi-
mos 05 anos, além do de 2021: Projeto Remição pela Leitura, no qual participam
40 internos. Projeto Trabalhando a liberdade, onde participam 23 internos. Deve-
-se destacar que novos projetos estão sendo discutidos e implantados e executa-
dos, como por exemplo, o projeto de ressocialização “Trabalhando a liberdade”,
que realiza a confecção de máscaras de proteção por custodiadas da Penitencia
Feminina de Manaus (PFM), se estendendo a confecção aos custodiados de de-
mais unidades prisionais. Dede o início de confecção das máscaras, pela Unidade
Prisional de Itacoatiara já foram produzidos 4.600 unidades.
- 240 -
Podemos também registrar que existem na Unidade 03 salas de aula. Exis-
tem salas de videoconferência, mas não existem disponibilidades de locais para
aula por videoconferência, mas há fortes indícios de que esse projeto também será
implementado.
Cabe também registrar que existe camas e colchões para todos os presos.
Os mesmos fazem 05 refeições por dia. Foi possível verificar que há distribuições
de uniforme para os internos.
Quanto a distribuição de absorventes para mulheres, até o fim dessa pes-
quisa não há registros.
Há espaço para cerimonias religiosas e assistência religiosa, são realizadas
nas alas das celas e há forte presença das religiões católica e evangélica.
Nessa unidade prisional há visita de familiares, é realizado no pátio de vi-
sitas. Para isso é necessário realizar um cadastro de visitantes. Quando ao horário
e dia de visitas, devido a pandemia, as visitas estão sendo realizadas de 15 em 15
dias, das 08:00h às 11:00h e de 13:00h às 16:00h. Neste período de COVID 19 as
visitas das crianças estão suspensas presencialmente, estão sendo realizadas ape-
nas por vídeo chamadas. Sendo permitido 01 visitante por interno. É fornecido um
lanche ao final da visita pela Unidade Prisional. Traremos neste artigo, em sessão
específica, como se deu o enfrentamento ao COVID 19 na Unidade Prisional de
Itacoatiara.
Dentro de um contexto geral, no que tange a quantidade de incidentes,
apreensão por armas e drogas, fugas, rebeliões, motins, registrados nos últimos
05 anos, não há registros.
Quando da inauguração da Unidade Prisional, havia 06 agentes por plan-
tão, em 2021 há 11servidores.

Imagem 08: Fachada da Unidade Prisional de Itacoatiara

Fonte: Banco de Dados da SEAP

- 241 -
Imagem 09: Unidade Prisional de Itacoatiara

Fonte: Banco de Dados da SEAP

O enfrentamento à pandemia pelo corona vírus – Covid 19 (SARS


– COV – 2) na Unidade Prisional de Itacoatiara
A unidade prisional segue o cronograma das atividades do calendário da
saúde, Campanha de Vacinação, Novembro Azul, Outubro Rosa, Julho Amarelo,
Setembro Amarelo. E com relação ao COVID, por ser um tema altamente delica-
do, consideramos prudente traze-lo em sessão específica.
No atual sistema penitenciário, existem 378 (trezentos e setenta e oito)
internos que são do grupo de risco por estarem com a saúde comprometida, sendo
a devida quantidade para cada unidade prisional, Itacoatiara – AM tem 02. A
Secretaria de Estado de Administração penitenciária informa que sete unidades
do interior do Estado já confirmaram casos de covid-19. Conforme conta do re-
latório, a unidade prisional de Itacoatiara, distante 177 quilômetros de Manaus,
registrou dezenove casos caso de COVID-19, estando todos fora do período de
transmissão. 133
Especificamente no que tange à UPI, em relação à COVID 19, consideran-
do a necessária adoção de medidas de prevenção, diante do aumento do número
de registros de infectados durante a pandemia de SARS – CoV 2, considerando a
vulnerabilidade da população carcerária, a Unidade Prisional de Itacoatiara, ado-
tou o seguinte protocolo:
Todo colaborador e/ou visitante para adentrar na Unidade Prisional de Ita-
coatiara – UPI, deve: utilizar máscara, realizar triagem na portaria externa, com
aferição de sinais vitais (temperatura), limpeza com hipociorito nos sapatos/botas
na entrada externa da Unidade. Lavagem de mãos na entrada externa da Unidade.
133 Relatório das ações de saúde e operacional desencadeadas pela Secretaria de Es-
tado de Administração Penitenciária do Amazonas no combate ao novo coronavírus
- mês de maio de 2021 - Secretaria de Administração Penitenciária do Estado do
Amazonas. Consultado em 9 de setembro de 2021.
- 242 -
Foi disponibilizado álcool em gel 70% em todos os setores da Unidade. Foram
instaladas pias em vários pontos da Unidade. Fica disponibilizado álcool em gel,
sabão e papel toalha nos banheiros e locais de lavagem das mãos. É realizada lim-
peza e desinfecção de bancadas e acessórios utilizados no ambiente de trabalho
(diariamente). Pulverização com hipocriorito nas áreas internas/externas da Uni-
dade (diário). Orientação diária para reeducandos e colaboradores sobre o novo
coronavírus (COVID – 19). Busca ativa de casos suspeitos (sintomáticos). Acom-
panhamento do interno que se enquadra no grupo de risco. Atendimento médico/
enfermagem com aferição de sinais vitais e temperatura aos internos (atendimento
de rotina). Disponibilização de máscara para todos os colaboradores e visitantes.
Disponibilização de informativos (cartazes) nas dependências da Unidade. Distri-
buição polivitamínico para todos os internos. Realização de testagem de todos os
internos que apresentem os sintomas. Foram também implantadas salas de video-
conferência para dar andamento aos procedimentos comuns da unidade, com isso
foi possível realizar audiência por videoconferência, também houve a realização
de parlatório virtual e realização de videochamada para familiares.
Vale ressaltar que ao adentrar a Unidade, o interno fica isolado em cela se-
parada por 15 dias. E o isolamento daqueles que apresentam sintomas de COVID
19 é feito nas celas de enfermaria, recebendo acompanhamento médico.
O objetivo principal destas medidas era fazer cm que os colaboradores e
presos, tomem todos os cuidados possíveis para evitar a contaminação e prolife-
ração dos vírus nesta UPI.
Cumpre destacar que houve 19 internos infectados por COVID 19, todos
recuperados. A quantidade de presos que fizeram teste de COVID 19 foi de 78.
Não houve óbitos por COVID 19 registrados nesta UPI. Em Maio de 2021, opor-
tunidade em que foi produzido este relatório, nenhum preso havia sido vacinado
para COVID 19.

Figura 10

Fonte: Banco de Dados da SEAP

- 243 -
Referências
AMAZONAS. Infográfico da economia - PIB AGROPECUÁRIO/ SEPROR. 100
maiores PIBs da agropecuária. <http://www.sepror.am.gov.br/> Acesso em: 22 de
setembro de 2021.
AMAZONAS. Relatório de Inspeção da VEP - TJ/AM, 2021. Relatório das ações
de saúde e operacional desencadeadas pela Secretaria de Estado de Administra-
ção Penitenciária do Amazonas no combate ao novo coronavírus. Secretaria de
Administração Penitenciária do Estado do Amazonas. Acesso em: 9 de setembro
de 2021.
AMAZONAS. Dados gerais do município de Itacoatiara - AM. Confederação Na-
cional dos Municípios (CMN). Acesso em: 21 de julho de 2021.
AZEVEDO, Rita. As 50 cidades pequenas mais desenvolvidas do Brasil Exame.
Acesso em: 18 de julho de 2021
EMBRAPA. Áreas Urbanas no Brasil em 2015. Acesso em: 17 de janeiro de 2022.
ITACOATIARA. IBGE - Cidades. <cidades.ibge.gov.br> Acesso em: 15 de se-
tembro de 2021
ITACOATIARA. IBGE - Produto Interno Bruto dos Municípios – Itacoatiara -
2021. <cidades.ibge.gov.br.>. Acesso em: 20 de agosto de 2021
SEAP. Secretária de Administração Penitenciária. Relatório das ações de saúde
e operacional desencadeadas pela Secretaria de Esta do de Administração Peni-
tenciária do Amazonas no combate ao novo coronavírus - mês de maio de 2021
- Secretaria de Administração Penitenciária do Estado do Amazonas. Acesso em:
9 de setembro de 2021.

- 244 -
ANEXO

PODER LEGISLATIVO
ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO AMAZONAS

LEI Nº 2711 de 28/12/2001


DISPÕE sobre o Estatuto Penitenciário do Estado do Amazonas.
(Reproduzida no D.Of. nº 29.852, de 26.03.02).

TÍTULO I
Do Sistema Penitenciário CAPÍTULO I
Dos Estabelecimentos Penais

2. A Coordenadoria do Sistema Penitenciário do Estado do Ama-


zonas, vinculada à Secretaria de Estado de Justiça, Direitos Humanos e
Cidadania, além de suas atribuições regulamentares, exerce as atribuições
de Departamento Penitenciário, na forma do artigo 74 da Lei Federal n.º 7.210, de
11 de julho de 1.984 – Lei de Execução Penal, supervisionando e coordenando os
estabelecimentos penais.
Parágrafo único - Os órgãos que compõem o Sistema Penitenciário no Es-
tado do Amazonas são:
I Penitenciárias;
II Colônias Agrícolas, Industriais ou Mistas;
III Hospitais de Custódia e Tratamento Psiquiátrico;
IV Centros de Observação Criminológica e de Triagem;
V Casas do Albergado;
VI Cadeias Públicas;
3. Em todos os estabelecimentos existentes observar-se-á, sempre, a se-
paração e distinção dos presos e internados por sexo, faixa etária, ante-
cedentes, tipo de crime e personalidade, para orientar a execução da pena e da
medida de segurança.
4. Quando do ingresso do preso ou do internado no estabelecimento, serão
guardados, em lugar seguro e mediante recibo, o dinheiro, os objetos de valor, as

- 245 -
roupas e outras peças de uso que lhe pertençam e que o regulamento não autorize
tê-los consigo.
§ 1.º - Todos os objetos serão inventariados e tomadas as medidas necessá-
rias para a sua conservação;
§ 2.º - Os objetos referidos neste artigo serão devolvidos ao preso ou
internado no momento de sua transferência ou liberação.
5. As normas de conduta e o sistema disciplinar vigente deverão ser
informados ao preso ou internado quando de seu ingresso no estabelecimento.
6. Parágrafo único. Se o preso ou internado for analfabeto, apresentar
incapacidade física ou psíquica ou não conhecer o vernáculo, a informação de
que trata este artigo deverá ser realizada por pessoa e meios idôneos.
7. Nas comarcas onde não existirem estabelecimentos penais, suas
finalidades serão, excepcionalmente, atribuídas às cadeias públicas locais,
observadas as normas deste Estatuto, no que forem aplicáveis, e às restrições
legais ou de decisões judiciais.
8. Ninguém será recolhido ou mantido em estabelecimento penal sem or-
dem escrita da autoridade judiciária competente ou em decorrência da lavra-
tura de regular auto de prisão em flagrante delito, procedendo-se ao registro e às
devidas comunicações.
9. Cada estabelecimento penal possuirá um Centro de Observação Crimi-
nológica e Triagem, separadamente ou no mesmo conjunto arquitetônico, onde
serão realizados a separação de presos, os exames gerais e o exame cri-
minológico.
10. As nomeações do coordenador do Sistema Penitenciário e dos Direto-
res dos Estabelecimentos Penais deverão obedecer aos critérios previstos no
artigo 75 da Lei de Execução Penal.
11. Nos Estabelecimentos destinados às mulheres, os responsáveis pela se-
gurança interna serão, obrigatoriamente, funcionários do sexo feminino.
§ 1.º - Haverá uma creche e pré-escola em cada estabelecimento feminino
de regime fechado ou semi-aberto, com a finalidade de assistir aos menores até 5
(cinco) anos de idade, cujas responsáveis estejam presas naquelas unidades.
§ 2.º - Integrarão o corpo de funcionários das Instituições citadas no
parágrafo anterior, um pedagogo e um pediatra.
§ 3.º - Após 5 (cinco) anos de idade, o menor será encaminhado aos
familiares, por intermédio do Juiz da Infância e da Juventude ou a esta autoridade
judiciária.

- 246 -
CAPÍTULO II
Dos Órgãos Auxiliares

10. São órgãos auxiliares da Coordenadoria do Sistema Penitenciário:


I - Comissão Técnica de Classificação;
II - Conselho de Reclassificação e Tratamento.
11. A Comissão Técnica de Classificação funcionará em cada estabeleci-
mento e será composta de acordo com o artigo 7.º da Lei de Execução Penal.
Parágrafo único - Nas Comarcas onde não houver Comissão Técnica de
Classificação caberá ao juiz competente designar comissão para atuar com
as mesmas atribuições, nomeando preferencialmente o diretor do esta-
belecimento local, um médico, um assistente social e um psicólogo.
12. O Conselho de Reclassificação e Tratamento compor-se-á do Coor-
denador do Sistema Penitenciário, dos Diretores dos Estabelecimentos, de
um Defensor Público e de um Secretário, sob a presidência do primeiro,
cabendo-lhe o seguinte:
I - propor as transferências que entender necessárias dos presos que
cumprem pena nos estabelecimentos deidêntico regime;
II - deliberar sobre os pedidos, devidamente instruídos, de revisão e reabi-
litação dos presos que praticaram faltas graves, encaminhados ao Conselho;
III - propor medidas para o aperfeiçoamento da po-
lítica penitenciária aplicada na Coordenadoria do Sistema Pe-
nitenciário.
13. Cabe às Comissões Técnicas de Classificação:
IV - elaborar um programa individualizador e acompanhar a execução das
penas privativas de liberdade e restritivas de direitos na forma da lei;
V - propor a progressão e regressão dos regimes, bem como as conversões;
VI classificar as condutas;
VII - estudar e sugerir medidas para aperfeiçoar a política penitenciária
aplicada aos presos e internados;
VIII - propor critérios e medidas para a separação de presos no estabeleci-
mento penal.

TÍTULO II
Do Regime Penitenciário CAPÍTULO I
Do Regime Fechado

- 247 -
14. A Penitenciária destina-se ao condenado ao cumprimento de pena de
reclusão, em regime fechado.
Parágrafo único - O condenado será alojado, salvo razões especiais, em
cela individual, que conterá dormitório, aparelho sanitário e lavatório.
15. No critério de classificação a ser adotado no regime fechado observar-
-se-á, sempre que possível, além das regras gerais de individualização, o aloja-
mento em separado dos presos nas seguintes situações:
IX - os condenados que estiverem respondendo a outro processo, ainda
sem decisão condenatória transitada em julgado, e estiverem sob qualquer espé-
cie de prisão cautelar;
X - os condenados submetidos à execução provisória da pena.

CAPÍTULO II
Do Regime Semi-Aberto

16. A Colônia Agrícola, Industrial ou Mista, destina-se ao condenado ao


cumprimento de pena privativa de liberdade em regime semi-aberto.
Parágrafo único - O condenado poderá ser alojado em compartimento cole-
tivo, observados os requisitos básicos de salubridade do ambiente, pela con-
corrência dos fatores de aeração, insolação e condicionamento térmico,
adequados à existência e à dignidade humanas.
17. Somente será autorizado o trabalho externo, sem vigilância direta, ao
preso em regime semi-aberto, quando as necessidades futuras do preso e as opor-
tunidades oferecidas pelo mercado de trabalho indicarem a conveniência do bene-
fício, e estiverem presentes os seguintes requisitos:
I – comportamento adequado;
II – cumprimento mínimo de um sexto da pena;
Parágrafo único - A autorização de que trata este artigo será concedida por ato
motivado do juiz da execução, ouvidos o Ministério Público e a administração
penitenciária.

CAPÍTULO III
Do Regime Aberto Seção I
Da Casa do Albergado

18. A Casa do Albergado destina-se ao cumprimento de pena privativa de


liberdade em regime aberto e de pena de limitação de fim de semana, assim como

- 248 -
ao alojamento do egresso, na forma do inciso II, do artigo 25 da Lei de Execução
Penal.
19. O prédio deverá situar-se em centro urbano, separado dos demais esta-
belecimentos, e caracterizar-se-á pela ausência de obstáculos físicos contra a fuga.
20. Em cada região haverá, pelo menos, uma Casa do Albergado, a qual
deverá conter, além dos aposentos destinados à acomodação dos que cumprem
pena, local adequado para cursos e palestras.
Parágrafo único - O Estabelecimento terá instalações para os serviços de
fiscalização e orientação dos condenados.
21. Ao ingressar na Casa do Albergado, para cumprimento de pena privati-
va de liberdade em regime aberto, o apenado, além das informações referentes ao
sistema disciplinar, deve ser advertido formalmente das seguintes condições
gerais e obrigatórias:
XI - permanecer recolhido nos horários de repouso e nos dias de folga;
XII sair para o trabalho e retornar, nos horários fixados;
XII não se ausentar da cidade onde reside, sem autorização judicial;
XIII comparecer a juízo, para informar e justificar as suas atividades,
quando for determinado.
§ 1.º - Os horários de permanência na Casa do Albergado serão estabeleci-
dos mediante norma regulamentar do estabelecimento penal.
§ 2.º - Em casos especiais, poderá ser estabelecido horários diferentes para
recolhimento, desde que a situação específica do albergado necessite, após ava-
liação do setor de assistência social.
§ 3.º - Na hipótese do parágrafo anterior, o juiz da execução deve ser infor-
mado, no prazo de quarenta e oito horas, com o encaminhamento dos documentos
e pareceres referentes à situação do albergado.
22. A Casa do Albergado atuará como Patronato, na forma do Capítulo VII,
do Título III, da Lei de Execução Penal, e para tanto a Direção deverá:
XV - promover a assistência ao condenado, objetivando a reeducação
social e reintegração à comunidade por meio de formação profissional,
colocação empregatícia, habitação, transporte, saúde, educação, aten-
dimento jurídico, psicológico, material e religioso, na forma do capítulo II da Lei
de Execução Penal;
XVI - fiscalizar e orientar os condenados à pena restritiva de direitos, assim
como colaborar com a fiscaliza ção do cumprimento das condições da suspensão
condicional da execução da pena e do livramento condicional, quando
houver expressa delegação;
XVII - propiciar a conscientização da família do egresso, visando ao seu
reingresso no meio social;

- 249 -
XVIII - acompanhar e avaliar o desenvolvimento do processo de
ressocialização do condenado e do egresso, mediante verificação sistemática
da sua conduta em nova condição de vida e objetivando a redução da reincidência
criminal;
XIX - conscientizar a comunidade a fim de que facilite as condições neces-
sárias à adequada reintegração social do egresso;
X - tomar as providências para que o egresso continue tratamento
psiquiátrico ou psicológico, quando necessário.
2) A Secretaria de Estado de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania, para
as atividades de assistência e orientação aos condenados e aos egressos, as-
sim como para as de fiscalização das penas restritivas de direito, das condições da
suspensão condicional da execução da pena e do livramento condicional, poderá
celebrar convênios e ajustes com entidades e instituições públicas ou privadas,
nos termos da legislação pertinente.

Seção II
Da Saída Temporária

24. Os condenados que cumprem pena em regime aberto poderão obter


autorização para deixar de se apresentar no estabelecimento, nos seguintes casos:
XXI - visita à família;
XXII - trabalho ou estudo que exija a permanência do apenado na respecti-
va atividade durante o período noturno ou nos sábados e domingos;
XXIII - participação em atividades que concorram para o retorno ao con-
vívio social.
25. A autorização de que trata o artigo anterior será concedida por ato mo-
tivado do juiz da execução, de ofício, a requerimento do Ministério Público, da
autoridade administrativa ou do condenado, e dependerá da satisfação dos seguin-
tes requisitos:
XXIV - comportamento adequado;
XXV - assiduidade no cumprimento da pena;
XXVI - compatibilidade do benefício com os objetivos da pena.
26. A autorização será concedida por prazo não superior a 7 (sete) dias,
podendo ser renovada por mais cinco vezes durante o ano.
Parágrafo único - Nos casos do inciso II do artigo 24, o tempo de saída será
o necessário para o cumprimento das atividades.
27. O benefício será automaticamente revogado quando o condenado for

- 250 -
punido com falta grave ou média, desatender as condições impostas na autori-
zação ou revelar baixo aproveitamento no curso em caso de autorização de saída
para estudo.

CAPÍTULO IV
Do Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico

28, O Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico destina-se ao


cumprimento das medidas de segurança e ao tratamento psiquiátrico, separa-
damente.Parágrafo único - O preso portador de doença mental não deverá permanecer
em estabelecimento prisional além do tempo necessário à sua transferência.
29. O Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico deve possuir
local separado destinado ao recolhimento dos presos ou internados portadores
de moléstia infecto-contagiosa.
Parágrafo único - Os presos ou internados que apresentarem quadro de
sorologia positiva para HIV, em estado adiantado, serão transferidos separa-
damente para uma unidade de saúde onde possam ser submetidos a tratamento
especializado, a critério médico.

CAPÍTULO V
Das Cadeias Públicas

30. Ressalvado o disposto no artigo 5.º desta Lei, as Cadeias Públicas des-
tinam-se ao recolhimento de presos provisórios.
31. O alojamento dos presos na Cadeia Pública obedecerá ao dispos-
to no parágrafo único do artigo 15 desta Lei.
32. Ao preso provisório será assegurado regime especial no qual se obser-
vará:
XXVII separação dos presos condenados; XXVIII cela individual, pre-
ferencialmente;
XXIX uso de sua própria roupa ou, quando for o caso, de uniforme diferen-
ciado daquele utilizado por preso condenado;
XXXoferecimento de oportunidade de trabalho;
XXXI visita e atendimento do seu médico ou dentista.
33. A separação dos presos na Cadeia Pública será feita no Centro de Ob-
servação Criminológica e Triagem do estabelecimento, pela Comissão Técnica
de Classificação, a qual observará, sempre que possível e no que for

- 251 -
cabível, os critérios do artigo 2.º e do Título III, desta Lei, e o alojamento em se-
parado dos presos nas seguintes situações:
XXXII presos em virtude de prisão de natureza civil;
XXXIII presos que possuírem sentença condenatória sem o trânsito em
julgado ou aguardando a expedição da competente guia de recolhimento.

TÍTULO III
Da Classificação

34. Os condenados serão classificados segundo o sexo, faixa etária,


antecedentes, personalidade, quantidade de pena, natureza da prisão e regime
de execução, para o tratamento específico que lhe corresponda e para orientar a
individualização e a execução da pena.
§ 1.º - O exame de classificação inicial será realizado pela Comissão
Técnica de Classificação, no Centro de Observação Criminológica e de Tria-
gem e compreenderá:
XXXIV exame médico;
XXXV exame psiquiátrico; XXXVI exame psicológico;
XXXVII verificação da situação sócio-familiar; XXXVIII investiga-
ção científico-pedagógica;
XXXIX pesquisa sociológica;
XL verificação da situação jurídico-penal.
§ 2.º - A classificação tem por finalidade:
I separar os presos que, em razão de sua conduta e antecedentes penais e
penitenciários, possam exercer influência nociva sobre os demais;
II dividir os presos em grupos para orientar sua reinserção social.
35. Completado o exame, que constará do prontuário individual, a
Comissão Técnica de Classificação encaminhará o preso ao estabelecimento indi-
cado, com o exame respectivo.
36. A conduta do apenado será avaliada pela Comissão Técnica de Classi-
ficação, tendo em vista o seu maior ou menor grau de adaptação às normas que
regulam sua permanência no estabelecimento penal.
§ 1.º - A conduta do preso será classificada de acordo com os seguintes
conceitos:
I excelente;
II bom; III regular;
IV insuficiente;
- 252 -
V péssimo.
§ 2.º - O apenado será avaliado pela Comissão Técnica de Classificação ao
completar 90 (noventa) dias no Sistema Penitenciário ou 60 (sessenta) dias
no estabelecimento, quando transferido, podendo ser reavaliado quando
necessário.
§ 3.º - A prática de falta disciplinar grave importa no imediato enquadra-
mento da pessoa condenada em comportamento péssimo e a prática de
falta disciplinar leve, sem reincidência, conduz o infrator ao conceito
regular.
§ 4.º - Em caso de cometimento de falta disciplinar, a conduta do apenado
só pode ser reavaliada quando obtida a reabilitação, na forma desta lei.
37. O apenado será considerado na categoria “iniciante” até completar o
tempo para ser avaliado pela Comissão Técnica de Classificação.

TÍTULO IV
Da Assistência

38. A Assistência ao preso e ao internado é dever do Estado, objetivando


prevenir o crime e orientando o retorno à convivência em sociedade e de-
verá ser prestada na forma do Capítulo II, do Título II, da Lei de Execução Penal,
observadas ainda as regras deste Estatuto.
39. A administração do estabelecimento fornecerá água potável,
alimentação e vestuário aos presos ou internados.§ 1.º - A alimentação será
preparada de acordo com as normas de higiene e de dieta, controlada por nutricionista,
devendo apresentar valor nutritivo suficiente para manutenção da saúde e do vigor
físico do preso.
§ 2.º - O uso de uniforme será facultativo durante o horário de visitas.
40. O preso que não se ocupar de tarefa ao ar livre deverá dispor de, pelo
menos, uma hora ao dia para realização de exercícios físicos ou banho de sol.
41. O médico, obrigatoriamente, examinará o assistido quando do ingresso
no estabelecimento e, posteriormente, se necessário, para:
III determinar a existência de enfermidade física ou mental, tomando para
isso, as medidas necessárias; IV assegurar o isolamento de assistidos suspeitos de
sofrerem doenças infecto-contagiosas;
IV determinar a capacidade física de cada assistido para o trabalho;
V assinalar as deficiências físicas e mentais que possam constituir um obs-
táculo para reinserção social.
§ 1.º - O estabelecimento destinado às mulheres disporá de dependência
- 253 -
dotada de material obstétrico para atender a grávida, a parturiente e a convales-
cente sem condições de ser transferida à unidade hospitalar para atendimento
apropriado em caso de emergência, bem como, berçário onde a assistida possa
amamentar seus filhos;
§ 2.º - O Médico informará ao diretor do estabelecimento se a saúde física
ou mental do assistido foi ou será afetada pelas condições do regime prisional.
§ 3.º - Quando o Estabelecimento Penal não estiver aparelhado para
prover a assistência médica necessária, esta será prestada em outro local,
mediante a autorização da direção do estabelecimento, a qual deverá tomar as
medidas necessárias contra a fuga.
42. A assistência laborterápica, que se estenderá ao egresso, compreende:
I- profissionalização do assistido;
II- promoção das atividades produtivas através de canteiros de trabalho,
utilizando-se da mão-de-obra do preso e do internado, quando possível;
III- promoção da implantação de canteiros de trabalho com resultado
econômico, mantendo o registro das horas trabalhadas, produtos obtidos e
serviços prestados;
IV- promoção das atividades de laborterapia ocupacional com ou sem re-
sultado econômico;
V- elaboração de relatórios mensais de aproveitamento do assistido,
apresentando informações à Comissão Técnica de Classificação e ao Conselho
Disciplinar, quando solicitado.
43. O ensino profissional será ministrado em nível de iniciação ou de aper-
feiçoamento técnico. A mulher condenada terá ensino profissional adequado à sua
condição.
§ 1. º - O ensino do primeiro grau será obrigatório, integrando-se no siste-
ma escolar do Estado.
§ 2.º - Será permitido participação em cursos por correspondência, rádio ou
televisão, sem prejuízo da disciplina e da segurança do estabelecimento.
§ 3.º - As atividades educacionais podem ser objeto de convênio com
entidades públicas ou particulares que instalem escolas ou ofereçam cursos
especializados.
§ 4.º - Os diplomas ou certificados serão expedidos sem registro da situação
penal do preso ou internado.
44. Em atendimento às condições locais, dotar-se-á cada estabelecimento
de uma biblioteca, para uso de todas as categorias de assistidos, provida de livros
instrutivos, recreativos e didáticos.
45. O tempo de estudo será considerado tempo de trabalho para os fins do

- 254 -
artigo 126 da Lei de Execução Penal,desde que com bom aproveitamento devida-
mente avaliado e igualmente comprovado o bom comportamento do preso.
§ 1.º - O tempo de estudo deve ser certificado, consignando-se o tempo
exato de atividades, pela direção do estabelecimento penal ou pela direção do
curso.
§ 2.º - Será computado como um dia de estudo a dedicação a essa atividade
durante seis horas, mesmo que em dias diferentes.
§ 3.º - Não se poderá computar mais de seis horas diárias de estudo para os
fins deste artigo.

TÍTULO VI
Do Trabalho

46. É dever do condenado trabalhar durante o dia, na medida de suas apti-


dões e capacidade. Ao preso provisório o trabalho não é obrigatório.
Parágrafo único - Observar-se-á, no que for aplicável, o Capítulo III do
Título II da Lei de Execução Penal.
47. Nenhum preso deverá desempenhar função ou tarefa disciplinar ou ad-
ministrativa no estabelecimento.
Parágrafo único - Este dispositivo não se aplica aos sistemas baseados na
auto-disciplina e nem deve ser obstáculo para a atribuição de tarefas, atividades
ou responsabilidades de ordem social, educativa ou desportiva.
48. O trabalho do preso ou internado será remunerado, não podendo ser in-
ferior a um salário mínimo, cumprida a jornada normal mínima de 6 (seis) horas,
com descanso aos domingos e feriados.
§ 1.º - Do produto da remuneração pelo trabalho deverão ser observados os
seguintes descontos:
VII vinte e cinco por cento, para atender à multa estipulada na sentença, na
forma do disposto no artigo 168 da Lei de Execução Penal, desde que determina-
do judicialmente;
VIII vinte e cinco por cento, para atender à indenização dos danos causados
pelo crime, desde que determinados judicialmente e não reparados por outros meios;
IX vinte e cinco por cento, para assistência a dependentes do preso ou
internado;
X dez por cento, para despesas pessoais do condenado ou internado;
XI dez por cento, para o ressarcimento ao Estado das despesas realizadas
com a manutenção do condenado.

- 255 -
§ 2.º - Ressalvadas outras aplicações legais, será depositada a parte res-
tante para constituição do pecúlio, em caderneta de poupança, que será entregue
ao condenado quando posto em liberdade.
§ 3.º - Não havendo danos a serem ressarcidos ou multa a ser paga, uma
metade da porcentagem correspondente será revertida para a constituição do pe-
cúlio e a outra para a assistência aos dependentes.
§ 4.º - Não havendo dependentes, a porcentagem correspondente será re-
vertida para a constituição do pecúlio.
49. O diretor do estabelecimento ou o responsável designado para tanto,
mandará abrir conta de poupança particular em nome do apenado ou interna-
do, para arrecadação do pecúlio, devendo as parcelas respectivas ser deposita-
das até dez dias após a data em que for pago o salário mensal.
§ 1.º - Mediante ofício do diretor do estabelecimento ao banco creditado,
o saldo da conta de pecúlio será liberado em favor do recolhido, ao término da
execução da pena ou medida de segurança e no caso de livramento con-
dicional ou extinção da punibilidade.
§ 2.º - Em caso de morte, o saldo será entregue aos herdeiros do falecido e,
na falta deles, posto a disposição do serviço de assistência social do estabelecimen-
to, para auxílio à família dos demais recolhidos.
50. O trabalho externo somente será autorizado quando o preso estiver em
execução de pena.
§ 1.º - Ao preso ou internado será garantido trabalho remunerado conforme
sua aptidão e condição pessoal, respeitada a determinação médica.
§ 2.º - Será proporcionado ao preso ou internado trabalho educativo e pro-
dutivo.
§ 3.º - Devem ser consideradas as necessidades futuras do preso ou interna-
do, bem como as oportunidades oferecidas pelo mercado de trabalho.
51. Serão tomadas medidas para indenizar os presos ou internados por aci-
dentes de trabalho e doen ças profissionais, em condições semelhantes às que a lei
dispõe para os trabalhadores livres.
Parágrafo único - A lei ou regulamento fixará a jornada de trabalho diária e
semanal para os presos e internados, observada a destinação de tempo para lazer,
descanso, educação e outras atividades que se exigem como parte do tratamento e
com vistas à reinserção social.
TÍTULO VII
Dos Direitos, dos Favores, das Recompensas e dos Deveres CAPITULO I
Disposições Gerais
52. Ao preso e ao internado serão assegurados todos os direitos não atingi-
dos pela sentença ou pela lei.

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Parágrafo único - Independente do disposto no Título III, aplicam-se as
disposições contidas nos artigos 40 a 43 e seu parágrafo único, da Lei de Execu-
ção Penal.
53. Em caso de falecimento, doenças, acidente grave ou de transferência
do preso ou do internado para outro estabelecimento, o diretor informará imedia-
tamente ao cônjuge, se for o caso, a parente próximo ou a pessoa previamente
indicada.
§ 1.º - o preso ou internado será informado, imediatamente, do falecimento
ou de doença grave de cônjuge, companheiro, ascendente, descendente ou ir-
mão, podendo ser permitida a visita a estes, sob custódia;
§ 2.º - o preso ou internado terá direito de comunicar, imediatamente, à
família sua prisão ou a transferência para outro estabelecimento.
54. O preso ou internado não será constrangido a participar ativa ou pas-
sivamente de ato de divulgação de informações aos meios de comunicação
social, especialmente no que tange à sua exposição compulsória, à
fotografia ou filmagem.
Parágrafo único - A autoridade responsável pela custódia do preso
ou internado, providenciará para que informações sobre a vida privada e a
intimidade do mesmo sejam mantidas em sigilo, especialmente aquelas que não
têm relação com sua prisão ou sua internação.
55. Em caso de deslocamento do preso ou do internado, por qualquer moti-
vo, deve se evitar sua exposição ao público, assim como resguardá-lo de insultos
e da curiosidade geral, não sendo obrigatório o uso de uniforme.
56. Em caso de perigo para a ordem ou a segurança do estabelecimen-
to, a autoridade competente poderá restringir a correspondência dos presos
ou dos internados, respeitados os seus direitos.
Parágrafo único - A restrição referida no “caput” deste artigo cessará, ime-
diatamente, quando restabelecida a normalidade.

CAPÍTULO II
Das Visitas

57. A visita ao preso do cônjuge, companheiro, familiares e amigos,


deverá observar a fixação de dias e horários próprios.
58. A administração deverá informar de forma clara e precisa ao visitante,
as normas que deverá observar, a relação de alimentos, roupas e outros objetos
que possa introduzir para o preso ou internado e a forma que tais objetos devam
ser apresentados para facilitar a revista sem que sejam danificados.

- 257 -
59. O visitante deverá respeitar as normas regulamentares vigentes
na instituição, as indicações dos funcionários e abster-se de tentar intro-
duzir qualquer objeto que não tenha sido permitido e expressamente
autorizado pelo diretor.
Parágrafo único - O visitante que não se comportar conforme as normas
vigentes ou sendo comprovada sua cooperação para ingresso no estabeleci-
mento de qualquer objeto não permitido, será suspenso, temporária ou definitiva-
mente, por resolução do Diretor, passível de revisão apenas pela Coor-
denação do Sistema Penitenciário ou pela autoridade judiciária competente.
60. O visitante e seus pertences, por motivo de segurança, serão revistados,
observado o respeito à dignidade da pessoa humana, por pessoas do mesmo sexo
do visitante.
Parágrafo único - A revista manual, na medida do possível, será substituída
por sensores eletrônicos.
61. Deverá ser estabelecido um regime específico de visitas para os meno-
res de dez anos, filhos de presas ou internadas, sem restrição quanto à frequência
e intimidade, com duração e horário que deverá ser ajustado conforme
a organização interna.

CAPÍTULO III
Da Visita Íntima

62. A visita íntima é direito que deve ser entendido como a recepção pelo
preso ou internado, de cônjuge ou outro parceiro, no estabelecimento prisional em
que estiver recolhido, em ambiente reservado, cuja privacidade e inviolabilidade
sejam asseguradas.
Parágrafo único - A visita íntima é também direito que deve ser assegurado
aos presos casados entre si ou em união estável.
63. A direção do estabelecimento deve assegurar ao preso ou internado
visita íntima de, pelo menos, uma vez por mês.
64. O preso ou internado, na ocasião do recolhimento, deve informar o
nome do cônjuge ou de outro parceiro para sua visita íntima.
§ 1.º - Para habilitar-se à visita íntima o cônjuge ou outro parceiro indicado
deve cadastrar-se.
§ 2.º - Incumbe à direção do estabelecimento o controle administrativo da
visita íntima, como cadastramento do visitante, a confecção do cronograma de
visita, e a preparação do local adequado para sua realização.
§ 3.º - O preso ou internado não pode fazer duas indicações concomitantes e

- 258 -
só pode nominar o cônjuge ou novo parceiro de sua visita íntima após o cancelamento
formal da indicação anterior.
65. A direção do estabelecimento deve informar ao preso, cônjuge ou ou-
tro parceiro da visita íntima sobre assuntos pertinentes á prevenção do uso
de drogas, de doenças sexualmente transmissíveis e, particularmente, a
AIDS.

CAPÍTULO III
Dos Favores

66. Em cada estabelecimento será instituído um sistema de recompen-


sas, conforme os diferentes grupos de presos ou de internados e os diferentes
métodos de tratamento, a fim de motivar a boa conduta, desenvolver os sentidos
de responsabilidade e promover o interesse e a cooperação.
67. Serão concedidos favores aos presos e internados de acordo com a ad-
ministração do estabelecimento, que constituem:
I uso de rádio e/ou televisão na cela ou alojamento;
II visitas especiais, fora do horário normal;
III práticas esportivas;
IV participação em atividades internas ou espetáculos recreativos; V cir-
culação pelo estabelecimento;
V recolhimento à cela ou alojamento depois do horário normal;
VII descanso por quinze dias, após doze meses contínuos de trabalho, com
dedicação e produtividade.
§ 1.º - A concessão de favores a que se refere este artigo será gradativa, em
relação com o índice de aproveitamento e o grau de adaptação social revelados
pelo sentenciado.
§ 2.º - Os favores serão concedidos pelo diretor do estabelecimento em
decisão fundamentada que deve ficar registrada no prontuário do preso ou
internado, exceto os mencionados nos incisos V e VI, cuja concessão
dependerá de iniciativa da autoridade administrativa e autorização da autoridade
judiciária.

CAPÍTULO IV
Dos Deveres

68. Constituem deveres do condenado e do preso provisório os previstos


nos incisos I a IX, do artigo 39 da Lei de Execução Penal
- 259 -
TÍTULO VIII
Da Disciplina CAPÍTULO I
Do Regime Disciplinar

69. Não haverá falta nem sanção disciplinar sem expressa e anterior previ-
são legal ou regulamentar.
70. Não haverá confinamento ou qualquer medida que contrarie o objetivo da
promoção da saúde física e mental, de ressocialização e da capacidade produtiva,
ou que atente à dignidade pessoal do preso ou do internado.
71. Nenhuma sanção disciplinar será imposta em razão de dúvida ou mera
suspeita.
72. São proibidos, como sanções disciplinares, os castigos corpo-
rais, clausura em cela escura, sanções coletivas, bem como toda punição cruel,
desumana, degradante e qualquer forma de tortura.
Parágrafo único - Não serão aplicadas aos presos ou internados, sanções
disciplinares na presença de seus filhos.
73. A falta que importar em responsabilidade penal será comunicada a au-
toridade competente, sem preju ízo da sanção disciplinar cabível.
74. O preso que concorrer para a prática de falta disciplinar incidirá nas
sanções a ela cominadas.

CAPÍTULO II
Dos Meios de Coerção

75. Nenhum preso será punido sem ser informado da infração que lhe está
sendo atribuída e sem que lhe seja assegurado o direito de defesa.
76. Os meios de coerção, tais como algemas e camisa-de-força, só poderão
ser utilizados nos seguintes casos:
XII como medida de precaução contra fuga ou durante o deslocamento
do preso ou do internado, devendo ser retirados quando do comparecimento em
audiência perante a autoridade judicial ou administrativa;
XIII por motivo de saúde, segundo recomendação médica;
XIV em circunstâncias excepcionais, quando for indispensável utilizá-los
em razão de perigo iminente para a vida do preso, do internado, de servidor
ou de terceiros.
77. É proibido o transporte do preso ou do internado em condições ou
situações que lhe imponham sofrimento físico ou risco de vida.

- 260 -
Parágrafo único - No deslocamento de mulher presa ou internada a escolta
será integrada, pelo menos, por uma policial ou servidora pública.

CAPÍTULO III
Das Faltas e das Sanções Disciplinares

78. As faltas classificam-se em leves, médias e graves.


Parágrafo único - Pune-se a tentativa com a sanção correspondente à falta
consumada.
79. São consideradas faltas leves:
XV atitude de acinte ou desconsideração perante funcionário ou visitas;
XVI emprego de linguagem desrespeitosa;
XVII apresentar-se de forma irreverente diante do Diretor, funcionários,
visitantes ou outras pessoas;
XVIII desatenção em sala de aula ou de trabalho;
XIX permutar, penhorar ou dar em garantia, objetos de sua propriedade
a outros presos, internado ou funcionário;
XX executar, sem autorização, o trabalho de outrem;descuidar da higiene
pessoal;
XXI descuidar da higiene e conservação do patrimônio do estabelecimento;
XXII dissimular ou alegar doença ou estado de precariedade física para
eximir-se de obrigações;
XXIV comprar ou vender, sem autorização, a outros presos, internados ou
funcionário;
XXV portar ou manter na cela ou alojamento, material de jogos não per-
mitidos;
XXVI produzir ruídos que perturbem o descanso e as atividades no esta-
belecimento;
XXVII procrastinar, discutir cumprimento de ordem, ou recusar o dever
de trabalho;
XXVIII responder por outrem a chamada ou revista, ou deixar de respon-
der às chamadas regulamentares;
XXIX transitar pelo estabelecimento, manter-se em locais não permitidos
ou ausentar-se, sem permissão, dos locais de presença obrigatória;
XXX proceder de forma grosseira ou discutir com outro preso;
XXXI sujar pisos ou paredes;

- 261 -
XXXII desobedecer aos horários regulamentares; XXXIII descumprir
às prescrições médicas;
XXXIV abordar autoridade ou pessoa estranha ao estabelecimento, sem
autorização;
XXXV lavar ou secar roupas em local não permitido;
XXXVI fazer refeições em local e horário não permitidos;
XXXVII utilizar-se de local impróprio para satisfação das necessidades
fisiológicas;
XXXVIIIconversar através de janela, guichê da cela, setor de trabalho ou
local não apropriado;
XXXIX descumprir as normas para visita social ou íntima.
80. São consideradas faltas médias:
XL deixar de acatar as determinações superiores;
XLI imputar falsamente fato ofensivo à administração, funcionário, preso
ou internado;
XLII dificultar averiguação, ocultando fato ou coisa relacionada com a fal-
ta de outrem; XLIII manter, na cela, objeto não permitido;
XLIV abandonar, sem permissão, o trabalho;
XLV praticar ato libidinoso, obsceno ou gesto indecoroso; XLVI
causar dano material ao estabelecimento ou coisa alheia; XLVII praticar jogo pre-
viamente não permitido;
XLVIII abster-se de alimentação como protesto ou rebeldia;
XLIX utilizar-se de outrem para transportar correspondência ou objeto,
sem o conhecimento da administração;
L provocar, mediante intriga, discórdia entre funcionários, presos ou
internados, para satisfazer interesse pessoal ou causar tumulto;
LI colocar outro preso ou internado à sua submissão ou à de grupo, em
proveito próprio ou alheio;
LII confeccionar, portar ou utilizar chave ou instrumento de segurança do
estabelecimento, salvo quando autorizado;
LIII utilizar material, ferramenta ou utensílio do estabelecimento em
proveito próprio ou alheio, sem autorização;
LIV veicular, por meio escrito ou oral, acusação infundada à administração
ou ao pessoal penitenciário;
LV desviar material de trabalho, de estudo, de recreação e outros, para local
indevido;
LVI recusar-se a deixar a cela quando determinado, mantendo-se em atitu-
de de rebeldia;

- 262 -
LVII deixar de freqüentar, sem justificativa, às aulas no grau em que esteja
matriculado;
LVIII maltratar animais;
LIX alterar ou fazer uso indevido de documentos ou cartões de
identificação fornecidos pela administração, para transitar no interior do estabe-
lecimento;
LX praticar ato definido como crime culposo;
LXI portar, ter em sua guarda, ou fazer uso de bebida com teor alcoólico,
ou apresentar-se embriagado.
81. São consideradas faltas graves:
LXII incitar ou participar de movimento para subverter a ordem ou a dis-
ciplina;
LXIII fugir/ evadir-se;
LXIV possuir, indevidamente, instrumento capaz de ofender a integridade
física de outrem;
LXV provocar acidente de trabalho;
LXVI descumprir, no regime aberto, as condições impostas; LXVII prati-
car fato definido como crime doloso;
LXVIII inobservar os deveres previstos nos incisos I e IV do Art. 39 da
Lei de Execução Penal.
82. Constituem sanções disciplinares:
I - Faltas Leves:
a) advertência;
b) suspensão de visita por até dez dias;
c) suspensão de favores e regalias por até dez dias;
d) isolamento na própria cela ou em local adequado de dois a cinco dias.
II - Faltas Médias:
a) repreensão;
b) suspensão de visitas de dez a vinte dias;
c) suspensão de favores e regalias de dez a vinte dias;
d) isolamento na própria cela ou em local adequado, de cinco a dez dias.
III - Faltas Graves:
a) suspensão de visitas de vinte a trinta dias;
b) suspensão de favores e regalias, de vinte a trinta dias;
c) isolamento na própria cela ou em local adequado de vinte a trinta dias.
§ 1.º - As sanções de advertência, repreensão e suspensão serão aplicadas
pelo diretor, ouvido o conselho disciplinar.

- 263 -
§ 2.º - A sanção de isolamento será aplicada por decisão do Conselho Dis-
ciplinar da unidade onde ocorreu a falta.

CAPÍTULO IV
Do Processo Disciplinar

83. Cometida a infração, o preso será conduzido ao setor de inspetoria do


órgão ou do estabelecimento para registro da ocorrência e, se necessário, imediato
isolamento provisório por prazo não superior a dez dias, contados do dia do cometi-
mento da falta.
Parágrafo único - A decisão que determinar o isolamento provisório será
fundamentada.
84. A ocorrência será comunicada imediatamente ao diretor que a encami-
nhará ao Conselho Disciplinar.
85. O Conselho Disciplinar, existente em cada estabelecimento, será com-
posto por um secretário, que é o relator, quatro técnicos e um defensor, sendo
presidido pelo diretor.
§ 1.º - Os técnicos serão, respectivamente, dos setores de psicologia, servi-
ço social, laborterapia e pedagogia.
§ 2.º - As decisões serão tomadas por maioria de votos.
§ 3.º - Somente terão direito a voto os técnicos e o diretor.
§ 4.º - O representante da divisão de segurança será ouvido obrigatoria-
mente.
§ 5.º - Nas comarcas onde não existir Conselho Disciplinar, suas atribuições
passarão à Comissão Técnica de Classificação, nomeada na forma do art. 11 e
parágrafo único, desta lei.
86. No caso de recolhimento provisório, encaminhar-se-á a comunicação
do fato ao juiz competente, no prazo de vinte e quatro horas.
87. O secretário do Conselho Disciplinar autuará a comunicação, efetuan-
do a juntada dos dados gerais do preso e, em dois dias úteis, realizará as diligên-
cias necessárias para a elucidação do fato, cabendo-lhe:
LXIX requisitar o prontuário individual;
LXX intimar o preso para constituir defensor, o qual poderá requerer dili-
gências no prazo de quarenta e oito horas;
LXXI ouvir, tomando o depoimento por termo, o ofendido, as teste-
munhas e o preso, nesta ordem, assegurada a participação de defensor constituído
ou dativo.

- 264 -
Parágrafo único - Havendo requerimento de diligências por parte da
defesa, estas se realizarão no prazo improrrogável de três dias úteis.
88. Instruído o processo com relatório circunstanciado do secretá-
rio, o Conselho Disciplinar intimará o defensor para apresentar defesa, no
prazo de dois dias úteis, e observará, na aplicação das sanções, o estatuído no Art.
54 da Lei de Execução Penal.
Parágrafo único - As decisões do Conselho Disciplinar, assim como
as que couberem ao diretor do estabelecimento, serão proferidas no prazo
de dois dias úteis, fundamentadamente.
89. Poderá o Conselho Disciplinar realizar uma única audiência de ins-
trução e julgamento que contará, obrigatoriamente, com a presença de defensor
constituído ou dativo que, ao final, poderá apresentar defesa oral que será
tomada a termo nos autos.
Parágrafo único - O preso deve ser intimado da data da audiência com an-
tecedência mínima de três dias úteis.
90. Na fixação da sanção, ter-se-á em conta o grau de adaptação à vida car-
cerária, os antecedentes do preso ou internado, o tempo de prisão, a causa deter-
minante da falta cometida, as circunstância atenuantes e agravantes e a relevância
do resultado produzido.
§1.º - São circunstâncias que atenuam a sanção:
LXXII ter o preso menos de 21 (vinte e um) anos ou mais de 60 (sessenta)
anos;
LXXIII a ausência de falta disciplinar anterior;
LXXIV ser de pouca relevância sua participação no cometimento da falta;
LXXV ter confessado, espontaneamente, a autoria da falta ignorada ou impu-
tada a outrem;
LXXVI ter agido sob coação;
LXXVII ter procurado, logo após o cometimento da falta, evitar ou mino-
rar os efeitos.
§ 2.º - São circunstâncias que agravam a sanção:
I a reincidência;
II ter sido o organizador ou promotor da falta ou ter dirigido a atividade de
outros participantes;
III ter coagido ou induzido outros presos à prática da falta disciplinar;
IV ter cometido a falta com abuso de confiança.
91. Após a decisão do Conselho Disciplinar, lavrar-se-á ata da reunião,
assinada por todos os membros, cuja cópia será remetida ao juiz da execução
e deverá, sob pena de nulidade, conter:

- 265 -
LXXVIII o relato sucinto do fato, com as circunstâncias de tempo e lugar;
LXXIX indicação dos partícipes, ofendidos e testemunhas, se houver;
LXXX relatório com as diligências efetuadas e menção a outros elementos
que serviram para comprovação da infração;
LXXXI decisão fundamentada;
LXXXII dia e hora que se lavrou a ata e assinaturas.
92. Em se tratando de falta leve ou média, a sanção imposta poderá ficar
suspensa até trinta dias, a juízo do presidente do Conselho Disciplinar, para ob-
servação da conduta do preso ou do internado que, sendo satisfatória, importará
no cancelamento da sanção.
93. A execução da sanção disciplinar será suspensa quando desaconselhada
pelo serviço de saúde do estabelecimento.
Parágrafo único - Cessada a causa que motivou a suspensão, a execução
será iniciada ou terá seu prosseguimento.
94. O isolamento preventivo do preso será computado na execução da san-
ção disciplinar.
95. O preso que praticar falta considerada grave pelo motivo de evasão ou
fuga, ao retornar ao Sistema Penitenciário deverá, de imediato, passar pelo
Conselho Disciplinar da unidade que estiver adentrando, para apreciação
de sua conduta.
96. O preso poderá solicitar a reconsideração da decisão, no prazo de cinco
dias, contado de sua intimação, quando:
LXXXIII não tiver sido unânime a decisão do Conselho Disciplinar;
LXXXIV a decisão não estiver de acordo com o relatório.
97. Poderá ser requerida a revisão do processo disciplinar quando:
LXXXV a decisão se fundamentar em testemunho ou documento com-
provadamente falso;
LXXXVI a sanção tiver sido aplicada em desacordo com as normas deste
Estatuto ou da Lei.
98. Os pedidos de revisão das sanções serão requeridos ao presidente
do Conselho Disciplinar do estabelecimento, que o submeterá à apreciação do
referido Conselho, em dois dias úteis, o qual decidirá fundamentadamente.
§ 1.º - Julgado procedente o pedido, serão canceladas as punições, comuni-
cando-se ao juiz da execução.
§ 2.º - Entendendo o Conselho que a decisão deva ser mantida, os autos
serão encaminhados ao Conselho de Reclassificação e Tratamento, em se tratando
de falta grave.

- 266 -
99. As faltas graves somente serão passíveis de reabilitação pelo Conselho
de Reclassificação e Tratamento.
§ 1.º - O pedido de reabilitação deverá ser requerido pelo preso ou por seu
procurador, e será encaminhado ao Conselho de Reclassificação e Tratamento
por intermédio da direção.
§ 2.º - O pedido será instruído com a cópia dos dados gerais e da ficha de
comportamento carcerário.
100. Os pedidos de reabilitação de falta grave serão submetidos à apre-
ciação do Conselho de Reclassificação e Tratamento, que decidirá no prazo de
quinze dias, desde que:
LXXXVII transcorrido o período mínimo de seis meses, após o término de
cumprimento da sanção, para os presos que cumpram pena em regime fechado;
LXXXVIII transcorrido o período mínimo de três meses, após o término
do cumprimento da sanção, para os presos que cumpram pena em regime semi-
-aberto, desde que não haja regressão de regime imposta pelo juiz da execução.
101. Os membros do Conselho de Reclassificação e Tratamento serão no-
meados anualmente pelo Secretário de Estado de Justiça, Direitos Hu-
manos e Cidadania, compreendendo no mínimo, quatro diretores dos
estabelecimentos e um defensor público.
Parágrafo único - A proposta de nomeação será efetuada pelo coorde-
nador do Sistema Penitenciário, que é o membro nato e seu presidente.
102. Caberá ao Conselho Disciplinar do estabelecimento, de ofício
ou a requerimento do interessado, a reabilitação das faltas leves e médias,
desde que transcorridos trinta dias após o término do cumprimento da sanção
disciplinar.
103. A não reabilitação, qualquer que seja a natureza da falta, decorridos
doze meses do cumprimento da última sanção imposta, ensejará ao preso ou in-
ternado o retorno à condição de primário, para os fins previstos neste
Estatuto.

TÍTULO XX
Das Medidas de Exceção

104. Ocorrendo rebelião em estabelecimento penal, nos termos do artigo


41, parágrafo único, da Lei de Execução Penal, as visitas aos presos ficarão
automaticamente suspensas, pelo prazo de 15 (quinze) dias, podendo ser prorro-
gado uma única vez, por igual período.
§ 1.º - Considera-se rebelião o ato de indisciplina iniciado pelos presos,

- 267 -
com danos materiais ao prédio ou com a manutenção de reféns.
§ 2.º - Ficará igualmente suspensa a entrada de gêneros alimentícios e hi-
giênicos.
105. Havendo danos aos equipamentos de cozinha, será fornecida refeição
fria ou lanche aos presos, até a reparação ou reposição dos utensílios dani-
ficados.
106. Na hipótese do estabelecimento penal apresentar movimentos que
possam conduzir à nova insurreição, o estabelecimento poderá ser ocupado por
integrantes da Polícia Militar, que assegurarão a ordem e a disciplina.
107. A Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania buscará
meios legais para ressarcimento dos prejuízos causados ao erário, mediante
desconto do pecúlio dos presos, nos moldes da alínea “d”, do §1º, do artigo 29 da
Lei de Execução Penal, e na proporção fixada nesta lei.
108. Sem prejuízo do procedimento disciplinar, os presos envolvidos em
rebelião poderão ser transferidos para outro estabelecimento penal, delegacia
de polícia ou batalhão da Polícia Militar, pelo tempo necessário para afastar o
risco de nova insurreição, a critério do juiz da execução penal.
Parágrafo único – O mesmo procedimento pode ser adotado para os presos
que corram riscos de vida.

TÍTULO XXI
Da Execução Penal CAPÍTULO I
Dos órgãos da Execução Penal

109. São órgãos da execução penal os relacionados no artigo 62, da Lei de


Execução Penal, com a competência, atribuições e garantias expressas naquela lei
e neste estatuto.

Seção I
Do Conselho Penitenciário

110. O Conselho Penitenciário, órgão consultivo e fiscalizador da exe-


cução da pena, é integrado por nove membros nomeados pelo governa-
dor do Estado, sendo quatro dentre professores das ciências penais e correlatas,
de instituições de ensino superior, um representante do Ministério da União, um
do Ministério Público do Estado, um representante da Ordem dos Advogados do
Brasil, da Defensoria Pública do Estado e um da comunidade.

- 268 -
§ 1.º - Os representantes da Ordem dos Advogados do Brasil e da Defen-
soria Pública serão indicados em lista tríplice pelas respectivas instituições e o da
comunidade, pelo Secretário de Estado de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania.
§ 2.º - O mandato dos membros do Conselho Penitenciário será de quatro
anos.
§ 3.º - Para consecução de suas finalidades, os membros do Conselho
Penitenciário terão ingresso irrestrito às dependências das carceragens dos
estabelecimentos penais e delegacias, podendo ter acesso reservado a
qualquer preso.
111. Ao Conselho Penitenciário, que deliberará por intermédio de seu Ple-
nário, incumbe:
LXXXIX emitir parecer sobre livramento condicional, indulto e comuta-
ção de pena;
XC inspecionar os estabelecimentos e os serviços penais, propondo à au-
toridade competente a adoção das medidas adequadas, na hipótese de eventuais
irregularidades;
XCI apresentar ao Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária,
no primeiro trimestre de cada ano, relatório circunstanciado dos trabalhos efe-
tuados no exercício anterior;
XCII supervisionar as atividades de assistência aos egressos;
XCIII realizar a cerimônia do livramento condicional;
XCIV propor ao juiz da execução a decretação da extinção da pena pri-
vativa de liberdade, a revogação do livramento condicional, bem como a
modificação ou observância das normas especificadas na sentença e das
demais condições de cumprimento da pena;
XCV suscitar o incidente de excesso ou desvio de execução;
XCVI propor ao juiz da execução a extinção da punibilidade nas hipóteses
previstas em lei; XCVII propor a concessão de indulto individual;
XCVIII propor outras medidas administrativas ou judiciais nos assuntos
pertinentes às suas atribuições;
XCIX colaborar com os órgãos encarregados da formulação da política
penitenciária e da execução das atividades inerentes ao sistema penitenciário;
C elaborar e reformar o seu regimento interno;
CI deliberar sobre matéria administrativa no âmbito de suas atribuições.
112. O governador do Estado poderá criar mais de um Conselho Peniten-
ciário.
Parágrafo único- No caso deste artigo, as atribuições dos Conselhos Penitenciá-
rios abrangerão os limites territoriais da respectiva comarca ou grupos de comarcas.
- 269 -
Seção II
Do Conselho da Comunidade

113. O Conselho da Comunidade, órgão da auxiliar do Poder Judiciário, na


forma dos artigos 80 e 81 da Lei de Execução Penal, terá ingresso irrestrito às de-
pendências das carceragens dos estabelecimentos penais e delegacias, podendo
ter acesso reservado a qualquer preso, a fim de cumprir sua finalidade de:
CII fiscalizar os estabelecimentos existentes na Comarca, visitando-os pelo
menos mensalmente;
CIII entrevistar presos;
CIV apresentar relatórios mensais ao juiz da execução e ao Conselho Pe-
nitenciário;
CV diligenciar a obtenção de recursos materiais e humanos para melhor as-
sistência ao preso ou internado, em harmonia com a direção do estabelecimento.
CVI controlar e fiscalizar a prestação de serviços à comunidade, identifi-
cando as carências e direcionando as atividades do condenado para supri-las.
114. O Conselho da Comunidade será composto pelo juiz da execução, na
forma prevista pela Lei de Execução Penal, e os conselheiros serão em número
variável, de acordo com as necessidades de cada Comarca, e escolhidos dentre
cidadãos de notória idoneidade.
§ 1.º - O exercício efetivo da função de conselheiro constituirá serviço
público relevante, estabelecerá presunção de idoneidade moral e assegurará
prisão especial, bem como preferência, em igualdade de condições, nas
concorrências públicas.
§ 2.º - O conselheiro exercente de cargo ou função pública poderá ausen-
tar-se do trabalho até oito horas por semana, sem prejuízo da respectiva remune-
ração, desde que aprovado o calendário de reuniões e cronograma de atividades
pelo juiz da execução, o que deverá ser comunicado formalmente à repartição
pública.
§ 3.º - Serão consideradas faltas justificadas as ausências do empregado de
até dois (02) dias por mês de trabalho, sem prejuízo da respectiva remuneração,
desde que aprovado o calendário de reuniões e cronograma de atividades do Con-
selho pelo juiz da execução, o que deverá ser comunicado formalmente ao em-
pregador.

CAPÍTULO II
Procedimentos na Execução Penal

- 270 -
115. Ninguém será recolhido, para cumprimento de pena privativa de liberda-
de, sem a guia expedida pela autoridade judiciária.
Parágrafo único - O Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas, por inter-
médio da Corregedoria Geral de Justiça, aprovará modelo de guia de recolhimen-
to que será de utilização obrigatória.
116. Após o trânsito em julgado da sentença que aplicar pena privativa de
liberdade, se o réu estiver ou vier a ser preso, o juiz ordenará a expedição da guia
de recolhimento para a execução.
117. O juiz da execução poderá deferir execução penal provisória, determi-
nando a expedição de guia de recolhimento, a requerimento do apenado que
houver recorrido para superior instância e estiver preso, desde que comprovado o
trânsito em julgado da sentença condenatória para o Ministério Público.
§ 1.º - O advogado do apenado deve possuir procuração com poderes espe-
cíficos para requerimento da execução penal provisória.
§ 2.º - O juízo sentenciante deve ser informado do deferimento da execução
penal provisória.
§ 3.º - Na execução penal de que trata este artigo, a guia de recolhimento
deve possuir a denominação de provisória e será expedida pelo escrivão, que a
rubricará em todas as folhas e a assinará com o juiz, sendo remetida a auto-
ridade administrativa incumbida da execução e conterá:
CVII nome do condenado;
CVIII a sua qualificação civil e o número do registro geral no órgão oficial
de identificação;
CIX o inteiro teor da denúncia e da sentença condenatória, bem como
certidão do trânsito em julgado para o Ministério Público;
CX informações sobre os antecedentes e o grau de instrução; CXI
a data da terminação da pena;
CXII outras peças do processo reputadas indispensáveis ao adequado
tratamento penitenciário.
118. Na execução penal provisória, sobrevindo o trânsito em julgado de-
finitivo da condenação, o juízo da execução procederá as retificações cabíveis.
Parágrafo único - Sobrevindo decisão absolutória, o juízo da execução ano-
tará o cancelamento nos livros próprios e na capa da autuação.

TÍTULO XXII
Disposições Finais

- 271 -
119. O abuso de poder exercido contra o preso ou internado será punido
administrativamente, sem preju ízo da apuração da responsabilidade penal.
120. Ocorrendo óbito, evasão ou fuga, a direção do estabelecimento
comunicará imediatamente à Coordenação do Sistema Penitenciário e ao juiz
da execução. No caso de óbito, acompanhará a comunicação, a certidão com-
probatória.
121. A cada trimestre do ano civil os diretores dos estabelecimentos, por
intermédio do coordenador do Sistema Penitenciário, encaminharão ao Secretário
de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania, relatório circunstanciado das ativida-
des e funcionamento do respectivo estabelecimento.
122. Todos os órgãos ou estabelecimentos que compõem o Sistema Peni-
tenciário do Estado do Amazonas elaborarão, no prazo de 120 (cento e vinte)
dias, regimentos próprios, atendidas as peculiaridades, adaptando-os às disposi-
ções contidas neste Estatuto, e os submeterão à aprovação do Secretário de
Estado de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania.
123. As disposições deste Estatuto serão de aplicação imediata, inclusive
aos procedimentos pendentes.

- 272 -
ABREVIATURAS E SIGLAS

BPM - Batalhão de Polícia Militar


CAM – Casa do Albergado
DPE - Defensoria Pública do Estado
FUNAI - Fundação Nacional do Índio
GRSC - Gerência de Reintegração Social e Capacitação
LGBTQIA+ - Lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, queer, intersexo, as-
sexual, outros grupos.
PM - Polícia Militar
SEAP - Secretaria de Administração Penitenciária
UEA - Universidade do Estado do Amazonas
UFAM - Universidade Federal do Amazonas
UFPR - Universidade Federal do Paraná
UPH - Unidade Prisional de Humaitá
CDPM - Centro de Detenção Provisória de Manaus
CPDRVP - Cadeia Pública Desembargador Raimundo Vidal Pessoa
CRT - Central de Recebimento e Triagem
CV - Comando Vermelho
FDN - Família do Norte
IPAT - Instituto Penal Antônio Trindade
PCC - Primeiro Comando da Capital
SEAP - Secretaria de Administração Penitenciária
SEDECTI - Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Ciên-
cia, Tecnologia e Inovação
UEA - Universidade do Estado do Amazonas
UFPR - Universidade Federal do Paraná
UPP - Unidade Prisional do Puraquequara
AM - Amazonas
CNJ - Conselho Nacional de Justiça
CDC - Centers of Disease Control and Prevention
COVID - (co)rona (vi)rus (d)isease
DEPEN - Departamento Penitenciário Nacional
DUDH - Declaração Universal dos Direitos Humanos
GIEV - Grupo interdisciplinar de estudos da violência

- 273 -
HIV - Vírus da imunodeficiência humana
INFOPEN - Informações Penitenciária
IST Infecção Sexualmente Transmissível
LEP - Lei de Execução Penal
MPL - Mulheres Privadas de Liberdade
OEA - Organização dos Estados Americanos
OMS - Organização Mundial da Saúde
ONU - Organização da Nações Unidas
PCN - Projeto começar de novo
PNAISP - Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Pessoa Privada
de Liberdade
PPL - Pessoas Privadas de Liberdades
SARS-CoV-2 - Coronavirus 2 da síndrome respiratória aguda grave
SDRA - Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo
SUS - Sistema Único de Saúde
SEAP - Secretária de Administração Penitenciária
UEA - Universidade do Estado do Amazonas
UTI - Unidade de Terapia Intensiva
COMPAJ - - Complexo Penitenciário Anísio Jobim
MNPCT - Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura
CNPCT - Comitê Nacional de Prevenção e Combate à Tortura
FDN - Família do Norte
CV - Comando Vermelho
PCC - Primeiro Comando da Capital – PCC;
SEAOP AM - Secretaria Executiva Adjunta de Operações
IML - Instituto Médico Legal
CF - Constituição Federal
LEP - Lei de Execuções Penais
INAP - Administração Prisional –
CONAP - Companhia Nacional de Administração Presidiária
UNODC - United Nations Office on Drugs and Crime
ONU - Organização das Nações Unidas
CDN - Cartel do Norte
TCP - Terceiro Comando Puro
VEMEPA - Vara Especializada de Medidas e Penas Alternativas

- 274 -
ÍNDICE REMISSIVO

A
Acesso à justiça 60, 65, 66, 68
Administração penitenciária 42, 59, 60, 62, 67, 71, 74, 75, 77, 78, 86, 94, 101,
114, 118, 130, 137, 140, 144, 148, 151, 152, 154, 157, 182, 187, 188, 193, 194,
196, 198, 205, 206, 207, 208, 218, 222, 230, 238, 242
Agentes penitenciários 48, 77, 86, 93, 97, 99, 134, 153, 159, 173, 177, 181, 187,
205, 209
Agentes públicos 11
Alimentação [servida aos internos] 75, 129, 139, 151, 152, 159, 169, 187
Apenados 28, 41, 48, 49, 79, 80, 82, 87, 108, 114, 115, 116, 117, 121, 122, 127,
159, 161, 164, 169, 174, 182, 188, 205, 209, 217, 218, 219, 220, 221, 227
Assistência educacional 79, 139, 140
Assistência jurídica 66, 80, 97, 138, 139, 160
Assistência material 79, 82, 136, 139, 160
Assistência religiosa 80, 82, 100, 139, 151, 160, 177, 181, 205, 241

C
Cabanagem 192, 193, 194, 225, 234
Cadeia Pública Desembargador Raimundo Vidal Pessoa 13, 41, 47, 48, 51
Calabouço 26, 32
Casas de correção 25, 27, 28, 29, 32,
Centro de Detenção Provisória Masculino I - CDPM I 59, 63, 66,
Centro de Detenção Provisória Masculino II – CDPM II 81, 138
Cidadania 11, 14, 15, 63, 77, 181,
Centro de Operações e Controle – Secretaria de Administração Penitenciária –
COC/SEAP 114, 116, 118
Código Criminal do Império do Brasil 28
Código Penal 32, 88, 114, 146, 240,
Cogestão [administração] 17, 52, 59, 71, 77, 78, 79, 89, 96, 125, 151, 173, 219
238, 239
Colônia Agrícola [Anísio Jobim] 88, 114, 121, 125, 210
Complexo Penitenciário Anísio Jobim – COMPAJ 62, 72, 73, 85, 88, 94, 96, 114,
125, 130, 163

- 275 -
Conselho Nacional de Justiça – CNJ 48, 51, 73, 127, 128, 163
Contrato Administrativo 60, 114
COVID-19 [Pandemia] 241, 242, 24
Criminalidade 27, 35, 73, 85, 86, 97, 101, 105, 108, 125, 169, 174, 186, 187, 215
Cumprimento de pena 114, 117, 119, 121, 149, 157, 161, 205, 218, 227, 248, 249,
272
Custo do preso 78, 152, 153

D
Déficit carcerário 71, 73, 81
Defensoria Pública 60, 61, 62, 63, 64, 65, 66, 67, 68, 80, 82, 86, 98, 114, 117, 121,
138, 139, 160, 196, 208, 222, 228, 270
Desterro 27
Direitos Humanos 11, 14, 15, 49, 60, 63, 67, 68, 71, 94, 110, 129, 163, 174, 178,
197, 227, 228, 238
Diretores [Unidades Prisionais] 39, 146, 246, 247, 268, 273

E
Estrangeiros [residentes no país e/ou cumprindo pena] 12, 79, 148, 181, 198, 207,
240
Estrutura física [Unidades Prisionais] 17, 47, 48, 67, 71, 72, 73, 74, 99, 121, 130,
131, 133, 134, 136, 140, 153, 169, 187, 238, 239, 240

F
Facções criminosas 74, 79, 82, 87, 93, 101, 108, 147, 226
Fuga [Sistema Prisional] 53, 55, 60, 71, 73, 76, 78, 82, 84, 85, 89, 117, 130, 145,
147, 148, 149, 158, 160, 161, 165, 173, 177, 179, 180, 198, 199, 207, 216, 241,
249, 255, 262, 267, 273

G
Gestão [Sistema Prisional] 41, 52, 59, 61, 63, 64, 67, 72, 75, 77, 78, 79, 82, 94,
96, 113, 114, 125, 151, 153, 164, 180, 192, 193, 205, 221

H
Historicidade 32, 71, 81, 85, 87, 185, 186, 191, 192, 199

I
Incomunicabilidade [preso] 27
- 276 -
Instituto Penal Antônio Trindade - IPAT 54, 62, 72, 73, 129, 130, 131, 133, 135,
136, 151, 163

L
Laborterapia 80, 255, 265
LGBTQIA+ 79, 82, 181, 199, 240

M
Massacre 47, 74, 85, 89, 90, 93, 94, 108, 110, 114, 116, 147
Mawé 191
Modelo Alburniano 30
Monitoramento eletrônico 114, 119, 120, 121
Mortes [detentos] 74, 76, 77, 82, 89, 93, 94, 198, 207
Mulheres nas Prisões 28, 35, 36, 37, 38, 39, 125, 126, 127, 128, 147, 165, 186,
187, 194, 219, 238, 241, 246, 255,
Mutirão carcerário 48, 51, 73, 127

O
Óbitos 71, 76, 79, 82, 89, 172, 209, 239, 243
Organização Criminosa - ORCRIM 56, 89, 102, 147, 148

P
Perfil [interno(a)] 35, 95, 134, 148, 199, 240
Política Criminal e Penitenciária 27, 74, 79, 84, 86, 132, 134, 187, 270
Presídio virtual 114
Presos provisórios 61, 62, 64, 66, 67, 74, 83, 88, 129, 134, 135, 143, 145, 148,
149, 170, 174, 186, 205, 217, 238, 240, 251
Prisões Femininas 35, 36, 37, 39
Progressão de regime 81, 197
Projeto arquitetônico [Unidades Prisionaais] 75, 145, 178, 238
Puraquequara [Unidade Prisional] 13, 32, 54, 72, 130, 133, 143, 144, 145, 146,
147, 148, 149, 150, 151, 152, 153, 163

R
Rebelião [Unidades Prisionais] 48, 60, 73, 81, 84, 86, 87, 89, 90, 93, 94, 116, 129,

- 277 -
130, 133, 144, 147, 180, 187, 193, 196, 269
Reeducando 61, 67, 71, 80, 81, 115, 137, 141, 142, 165, 174, 197, 210, 243
Regime disciplinar 29, 149, 153, 261
Regime semiaberto 39, 87, 88, 113, 114, 115, 116, 117, 118, 119, 120, 121, 122,
126, 141, 170, 186, 210
Remição de pena 174, 196, 200
Ressocialização 12, 25, 30, 61, 62, 64, 67, 71, 80, 81, 96, 97, 98, 115, 127, 133,
134, 141, 147, 149, 151, 162, 169, 173, 174, 177, 180, 185, 186, 188, 189, 192,
196, 197, 240, 250, 261

S
Saúde [assistência] 12, 17, 60, 63, 64, 65, 71, 74, 75, 79, 82, 84, 127, 136, 137,
150, 172, 177, 180, 186, 207, 210, 221, 223, 237, 238, 242, 249, 251, 254, 255,
261, 267
Sistema de justiça criminal 85, 86, 109
Sistema prisional do Amazonas 14, 51, 73, 81, 139
Subversão [movimentos] 71, 76, 81
Superlotação [unidades prisionais] 42, 47, 48, 60, 61, 62, 67, 72, 73, 74, 95, 115,
117, 125, 126, 127, 129, 144, 170, 174, 180, 186, 198, 207

T
Tecnologia [unidades prisionais] 32, 71, 78, 119, 120
Terceirização [gestão] 77, 96, 97, 119, 134, 151, 152
Tornozeleira eletrônica 114, 116, 117, 118, 119, 120, 121, 122
Túnel [escavado em presídio] 76, 82

V
Visitação [aos reclusos] 43, 44, 46, 72, 89, 205
Vulneráveis [pessoas] 60, 66, 220

- 278 -
SOBRE OS ORGANIZADORES

CRISCYANNE ANDRADE DE OLIVEIRA


Doutoranda em Saúde Pública - Sociedade, Violência e Saúde
- ENSP / FIOCRUZ – RJ. Membro do Centro Latino Ameri-
cano de Violência e Saúde - CLAVES. Mestre em Segurança
Pública, Cidadania e Direitos Humanos UEA. Especialista
em Direito Civil e Processo Civil (CIESA) e em Gestão Pú-
blica pelo (IFAM). Graduada em Direito (UFAM). Advogada
Humanista. Coordenadora e Pesquisadora do Grupo Interdis-
ciplinar de Estudos da Violência – GIEV/ESO/UEA.
E-mail: cris.oliveiraa@gmail.com.

DORLI JOÃO CARLOS MARQUES


Professor Permanente dos Programas de Pós-Graduação em
Segurança Pública, Cidadania e Direitos Humanos e de Di-
reito Ambiental da Universidade do Estado do Amazonas -
UEA. Pesquisador Líder do Grupo Interdisciplinar de Estu-
dos da Violência. E-mail: dmarques@uea.edu.br.

ELLEN DE MORAES E SILVA


Doutoranda em Saúde Pública (FIOCRUZ/RJ), Mestre em Se-
gurança Pública, Cidadania e Direitos Humanos (UEA), Es-
pecialista em Gestão de Saúde (FSDB), Especialista em Ges-
tão Pública (IFAM), Assistente Social, Perita Judiciaria Social
(Justiça Federal). e-mail: Ellen.moraesilva@gmail.com

ROMULO GARCIA BARROS SILVA


Graduado em Direito pela Universidade Cândido Mendes (UCAM
RJ), Pós Graduado em Direito Público e Privado pela Escola da
Magistratura do Rio de Janeiro (EMERJ), Mestrando em Seguran-
ça Pública, Cidadania e Direitos Humanos pela Universidade do
Estado do Amazonas (UEA). Atualmente ocupa o cargo de Juiz de
Direito do Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas (TJAM)

- 279 -
- 280 -
SOBRE OS AUTORES

ANA PAULA SERIZAWA SILVA PODEDWORNY


Juíza Federal Titular da 4ª Vara da Seção Judiciária do Amazo-
nas. bacharel em filosofia pela UFAM. Graduada em Direito pela
Universidade de São Paulo. Especialista em Direito Processual
Civil pela Universidade Federal do Amazonas. Mestranda no
Programa de Pós-Graduação em Segurança Pública, Cidadania
e Direitos Humanos da Universidade do Estado do Amazonas.

ARTHUR SANT’ANNA FERREIRA MACEDO


Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Ama-
zonas, Pós-Graduado em Direito Civil e Processual Ci-
vil pelo CIESA, Defensor Público, Membro do Conse-
lho Penitenciário do Estado do amazonas no período de
2008/2022, Mestrando em Segurança Pública, Cidadania e
Direitos Humanos da Universidade do Estado do Amazonas.

CARLOS LÉLIO LAURIA FERREIRA


Procurador de Justiça do Ministério Público do Estado do
Amazonas, Doutor em Direito Constitucional pela Universida-
de de Fortaleza, Pós-Graduado em Teologia Contemporânea,
Secretário de Justiça e Direitos Humanos do Amazonas (de
2003 a 2012), Coordenador Executivo do Comitê Permanen-
te da América Latina para Revisão e Atualização das Regras
Mínimas das Nações Unidas para Tratamento dos Presos
criado pela Fundação Internacional Penal e Penitenciária,
Membro da Associação dos Escritores do Amazonas, Administrador de Empresas.

CHRISTIANNE CORRÊA BENTO DA SILVA


Bacharel em Direito, Pós-Graduada em Direito Penal e Pro-
cesso Penal pela Universidade do Estado do Amazonas, Pro-
motora de Justiça. Membro do Conselho Penitenciário Es-
tadual no período de 2018/2021, mestranda em Segurança
Pública, Cidadania e Direitos Humanos da Universidade do
Estado do Amazonas.

- 281 -
DENIS CAETANO GOMES CAVALCANTE
Bacharel em Administração, Pós-Graduado em Auditoria,
Controladoria e Finanças, servidor do estado do Amazonas,
atuando na Secretaria de Estado de Administração Penitenci-
ária, mestrando em Segurança Pública, Cidadania e Direitos
Humanos da Universidade do Estado do Amazonas.

DIÊGO LUIZ CASTRO SILVA


Mestrando em Segurança Pública, Cidadania e Direitos Hu-
manos; Pós-graduação Lato Sensu em Prestação Jurisdicio-
nal e Direitos Humanos pela Escola Superior da Magistra-
tura Tocantinense (ESMAT), 2015, e Lato Sensu em Direito
Processual Civil pela Faculdade Damásio, 2016; Defensor
Público do Estado do Amazonas, desde outubro de 2014;
Titular do Núcleo de Atendimento Prisional, desde julho de
2019, com atuação dentro do CDPM II e IPAT; Ex-Defensor
Público do Estado do Acre;

JOSÉ DIVANILSON CAVALCANTI JUNIOR


Mestre em Segurança Pública, Cidadania e Direitos Hu-
manos (UEA), especialista em Direito Penal e Processual
Penal (UFAM), professor do Instituto Integrado de Ensino
de Segurança Pública-IESP/SSP-AM e da Escola Superior
da Advocacia do Amazonas-ESA/OAB-AM, profissional da
Segurança Pública desde 2001, pesquisador do Grupo Inter-
disciplinar de Estudos da Violência (GIEV/UEA-AM) e do
Núcleo de Pesquisa em Políticas Públicas e Planejamento
Governamental (NUPEP/UEA-AM).

EDSON ROSAS NETO


Juiz de Direito titular da 1ª Vara da Comarca de Tabatinga/
AM; Juiz Eleitoral titular da 36ª Zona Eleitoral; Mestrando
em Constitucionalismo e Direitos na Amazônia pela Univer-
sidade Federal do Amazonas. Especialista em Direito Penal
e Processual Penal pelo Centro Universitário de Ensino Su-
perior do Amazonas. Graduado em Direito pela Universida-
de Federal do Amazonas.

- 282 -
ERNANDES HERCULANO SARAVA
Mestre em Segurança Pública, Cidadania e Direitos Huma-
nos (UEA). Advogado. Professor Universitário. Pesquisador
Científico do Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia
(PNCSA) e do Grupo Interdisciplinar de Estudos da Violên-
cia (GIEV/UEA).

FERNANDA DE SOUZA MARCELLINO


Bacharel (2019) e pós-graduanda em Direito Público
(2020-2022); Residente jurídica com atuação no Núcleo
de Atendimento Prisional da Defensoria Pública do Esta-
do do Amazonas (2019-2021). Estagiária de pós-graduação
na Defensoria Regional de Direitos Humanos da Defenso-
ria Pública da União (2021). Como pesquisadora, integra
o Grupo Interdisciplinar de Estudos da Violência - GIEV/
UEA. Contato: fernanda.marcellino.juridico@gmail.com.

JAHVIER ALEJANDRO LEMUS CASTANEDA


Possui graduação em Direito - Universidad Nor Oriental
Gran Mariscal de Ayacucho (UGMA 2009) Professor da
Disciplina de Direitos Humanos na Universidade Boliva-
riana de Venezuela (UBV). Mestre em Direito Trabalhista
- Universidade Bicentenária de Aragua, Especialista em Do-
cência do Ensino Superior (UNIP), Mestrando na Universi-
dade Estadual do Amazonas (UEA) no programa de Segu-
rança Pública Cidadania e Direitos Humanos.

JUCINARA FIGUEIREDO PINHEIRO


Psicóloga, Docente, Mestranda do Programa de Pós Gra-
duação em Sociedade e Cultura na Amazônia-PPGS-
CA(UFAM-AM); Especialista em Psicologia Jurídica e em
Psicologia Hospitalar (UNINORTE-AM); Graduada em
Psicologia (UNINORTE-AM);

- 283 -
LUIZ CLAUDIO PIRES COSTA
Advogado. Professor. Mestre em Direito Ambiental pela Uni-
versidade do Estado do Amazonas, Especialista em Direito
Eleitoral pela UEA e em Direito Público pelo CIESA, Gradua-
do em Direito pela Universidade Federal do Pará.

MÁRCIO DE SOUZA CORRÊA


Especialista em Docência do Ensino Superior; Bacharel em
Fisioterapia. Atualmente ocupa a graduação de Sargento da
Polícia Militar do Amazonas.

MAXWELL MARQUES MESQUITA


Doutorando em Gestão da Informação; Mestre em Segurança
Pública, Cidadania e Direitos Humanos; Bacharel em Sistemas
de Informação e em Segurança Pública. Atualmente ocupa o
posto de Capitão da Polícia Militar do Amazonas.

MÔNICA NAZARÉ PICANÇO DIAS


Doutora em Ciência Jurídica UNIVALI/SC (2013). Mestre
em Direito Ambiental pela Universidade do Estado do Ama-
zonas (2008). Especialização em Direito Penal e Direito Pro-
cessual Penal (2001) e Graduação em Direito pela Universi-
dade Federal do Amazonas (1997). Professora Adjunta C-I
da Universidade Federal do Amazonas; Professora de Direito
Penal e Processo Penal da Faculdade Santa Teresa; Professo-
ra do Curso de graduação em Direito Penal e Pós-Graduação
em Direito Penal do CIESA /AM. Professora do Programa de Pós-Graduação
(Mestrado em Constitucionalismo e Direitos na Amazônia). Advogada.

- 284 -
PAMELLA OLIVEIRA SILVA
Assistente Social (Nilton Lins), Pedagoga (FAEL), Graduan-
da em Direito - ESBAM, Especialista em Educação de Jovens
e Adultos - UNIASSELVI, MBA Gestão de Pessoas (CESA),
MBA Gerenciamento de projetos (CESA), Saúde Pública
(UNIASSELVI), Perita Judiciaria Social (Justiça Federal

PAULA MIRANA DE SOUSA RAMOS


Cientista Social e Historiadora; Mestre em Sociologia e
Doutora em Sociedade e Cultura na Amazônia, na área de
concentração em Processos Socioculturais na Amazônia
- UFAM. Atualmente é professora na área de Sociologia e
Ciências Políticas, e pesquisadora sênior do Projeto Geopo-
lítica da Amazônia Legal – UFAM/UERJ.

RENAN OLIVEIRA DE CARVALHO


Major da Polícia Militar do Estado do Amazonas (PM/AM).
Coordenador do Sistema Penitenciário do Estado do Ama-
zonas (COSIPE-AM)

SYLVIA LAUREANA ARRUDA DA SILVA CABRAL


CHAVES
Possui graduação em Direito pela Universidade Federal
do Amazonas (1996); pós-graduada em Direito Penal e
Processual Penal também pela Universidade Federal do
Amazonas (1999); Delegada de Polícia Civil por mais de
16 anos, tendo atuado como Delegada titular em diversas
delegacias da capital e titular do 31° DIP no município de Iranduba-AM, durante
os anos de 2018 e 2019, e Delegada Titular do 36° DIP no município do Rio Preto
da Eva no ano de 2020; pós-graduada em Segurança Pública, Cidadania e Direitos
Humanos pela Universidade Nilton Lins (2006). Mestranda em Segurança Pú-
- 285 -
blica, Cidadania e Direitos Humanos pela Universidade do Estado do Amazonas
- UEA.; Professora convidada FAMETRO ENAD - 2022..

TEREZA DE SOUSA RAMOS


Cientista Social e Historiadora; Mestre em Sociologia e
Doutora em Sociedade e Cultura na Amazônia, na área
de concentração em Processos Socioculturais na Amazô-
nia - UFAM. Atualmente é professora e pesquisadora na
Universidade Federal do Amazonas – UFAM.

- 286 -
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