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Criscyanne Andrade de Oliveira
Dorli João Carlos Marques
Ellen de Moraes e Silva
Romulo Garcia Barros Silva
Organizadores
DOSSIÊ
HISTÓRIA DAS PRISÕES
NO AMAZONAS
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Criscyanne Andrade de Oliveira
Dorli João Carlos Marques
Ellen de Moraes e Silva
Romulo Garcia Barros Silva
Organizadores
DOSSIÊ
HISTÓRIA DAS PRISÕES
NO AMAZONAS
AUTORES
Ana Paula Serizawa Silva Podedworny Guilherme da Silva Monteiro
Arthur Sant’Anna Ferreira Macedo Jahvier Alejandro Lemus Castaneda
Carlos Lélio Lauria Ferreira Jucinara Figueiredo Pinheiro
Christianne Corrêa Bento da Silva José Divanilson Cavalcanti Junior
Criscyanne Andrade de Oliveira Luiz Claudio Pires Costa
Denis Caetano Gomes Cavalcante Márcio de Souza Corrêa
Diêgo Luiz Castro Silva Maxwell Marques Mesquita
Dorli João CArlos Marques Paula Mirana de Sousa Ramos
Edson Rosas Neto Pâmella Oliveira Silva
Ellen de Moraes e Silva Renan Oliveira de Carvalho
Ernandes Herculano Sarava Romulo Garcia Barros Silva
Fernanda de Souza Marcellino Sylvia Laureana Arruda da Silva Cabral Chaves
Tereza de Sousa Ramos
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© by Alexa Cultural
Direção
Gladys Corcione Amaro Langermans / Nathasha Amaro Langermans
Editor
Karel Langermans
Capa
Klanger
Foto da contracapa
Romulo Garcia
Revisão Técnica
Dorli João Carlos Marques e Ellen de Moraes e Silva
Revisão da língua
Criscyanne Andrade de Oliveira, Dorli João Carlos Marques, Ellen de Moraes e Silva e Romulo
Garcia Barros Silva
Projeto Gráfico e Editoração Eletrônica
Alexa Cultural
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Dedicatória
Agradecimentos
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COMITÊ CIENTÍFICO ALEXA CULTURAL
Presidente
Yvone Dias Avelino (PUC/SP)
Vice-presidente
Pedro Paulo Abreu Funari (UNICAMP)
Membros
Adailton da Silva (UFAM – Benjamin Constant/AM)
Alfredo González-Ruibal (Universidade Complutense de Madrid - Espanha)
Aldair Oliveira de Andrade (UFAM - Manaus/AM)
Ana Paula Nunes Chaves (UDESC – Florianópolis/SC)
Arlete Assumpção Monteiro (PUC/SP - São Paulo/SP)
Barbara M. Arisi (UNILA – Foz do Iguaçu/PR)
Benedicto Anselmo Domingos Vitoriano (Anhanguera – Osasco/SP)
Carmen Sylvia de Alvarenga Junqueira (PUC/SP – São Paulo/SP)
Claudio Carlan (UNIFAL – Alfenas/MG)
Denia Roman Solano (Universidade da Costa Rica - Costa Rica)
Débora Cristina Goulart (UNIFESP – Guarulhos/SP)
Diana Sandra Tamburini (UNR – Rosário/Santa Fé – Argentina)
Edgard de Assis Carvalho (PUC/SP – São Paulo/SP)
Estevão Rafael Fernandes (UNIR – Porto Velho/RO)
Evandro Luiz Guedin (UFAM – Itaquatiara/AM)
Fábia Barbosa Ribeiro (UNILAB – São Francisco do Conde/BA)
Fabiano de Souza Gontijo (UFPA – Belém/PA)
Gilson Rambelli (UFS – São Cristóvão/SE)
Graziele Acçolini (UFGD – Dourados/MS)
Iraíldes Caldas Torres (UFAM – Manaus/AM)
José Geraldo Costa Grillo (UNIFESP – Guarulhos/SP)
Juan Álvaro Echeverri Restrepo (UNAL – Letícia/Amazonas – Colômbia)
Júlio Cesar Machado de Paula (UFF – Niterói/RJ)
Karel Henricus Langermans (USP/EcA - São paulo/SP)
Kelly Ludkiewicz Alves (UFBA – Salvador/BA)
Leandro Colling (UFBA – Salvador/BA)
Lilian Marta Grisólio (UFG – Catalão/GO)
Lucia Helena Vitalli Rangel (PUC/SP – São Paulo/SP)
Luciane Soares da Silva (UENF – Campos de Goitacazes/RJ)
Mabel M. Fernández (UNLPam – Santa Rosa/La Pampa – Argentina)
Marilene Corrêa da Silva Freitas (UFAM – Manaus/AM)
María Teresa Boschín (UNLu – Luján/Buenos Aires – Argentina)
Marlon Borges Pestana (FURG – Universidade Federal do Rio Grande/RS)
Michel Justamand (UNIFESP - Guarulhos/SP)
Miguel Angelo Silva de Melo - (UPE - Recife/PE)
Odenei de Souza Ribeiro (UFAM – Manaus/AM)
Patricia Sposito Mechi (UNILA – Foz do Iguaçu/PR)
Paulo Alves Junior (FMU – São Paulo/SP)
Raquel dos Santos Funari (UNICAMP – Campinas/SP)
Renata Senna Garrafoni (UFPR – Curitiba/PR)
Renilda Aparecida Costa (UFAM – Manaus/AM)
Roberta Ferreira Coelho de Andrade (UFAM - Manaus/AM)
Sebastião Rocha de Sousa (UEA – Tabatinga/AM)
Thereza Cristina Cardoso Menezes (UFRRJ – Rio de Janeiro/RJ)
Vanderlei Elias Neri (UNICSUL – São Paulo/SP)
Vera Lúcia Vieira (PUC – São Paulo/SP)
Wanderson Fabio Melo (UFF – Rio das Ostras/RJ)
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“Conhecem-se todos os inconvenientes da prisão, e sabe-se que é
perigosa, quando não inútil. E, entretanto, não “vemos” o que pôr
em seu lugar. Ela é a detestável solução, de que não se pode abrir
mão.”
Michel Focault
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Para uma melhor compreensão do conteúdo desta obra, faz-se necessário
apresentar um breve contexto no qual ela se insere: os desafios atuais da segu-
rança pública no Brasil e no Amazonas; as dificuldades enfrentadas pelo Estado
em garantir aos presos o pleno acesso aos direitos e garantias previstos no Pre-
âmbulo, no Art. 5º e no Art. 144 da Constituição Federal, bem como os dilemas
da ressocialização, um dos objetivos centrais da Lei de Execução Penal - LEP,
Lei 7.210/84. Quando se busca compreender a realidade do sistema prisional do
Amazonas, tendo presente esse contexto, emerge uma série de questionamentos
em função provocados pelas contradições entre o que prevê a legislação e o que o
poder público efetivamente entrega; entre o que o conjunto da sociedade almeja
– e que deveria fazer – e como ela de fato se posiciona e comporta em relação à
justiça criminal como um todo e o sistema prisional, em particular.
No preâmbulo da Constituição de 1988, o legislador constituinte originá-
rio, ao evidenciar o vetor interpretativo necessário a uma adequada compreensão
do significado das prescrições normativas, explicita a segurança como um dos
pilares da sociedade: “[...] para instituir um Estado Democrático, destinado a as-
segurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança
[grifamos], o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores
supremos de uma sociedade[...]”. No Art. 5º da nossa Carta Política, o legislador
dá contornos cristalinos à Segurança como um direito básico de todo brasileiro:
“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo
aos brasileiros e estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida,
à liberdade, à igualdade, à segurança [grifamos] e à propriedade. No Art. 144, o
mesmo legislador não deixa margem a dúvidas sobre dever do Estado e a respon-
sabilidade de toda a sociedade para com a Segurança.
A LEP, Lei 7.210/84 estabelece como um dos seus principais objetivos
propiciar a reintegração social do apenado. Ela se aplica a todos os(as) presos(as)
condenados e parcialmente aos(às) provisórios(as) e internados(as). Cumpre res-
saltar que tais sujeitos mantêm todos os seus direitos, excetuando-se, por óbvio,
aqueles não suspensos pela autoridade judiciária presentes na sentença. Some-se
a isso o fato da Carta Política de 1988 assegurar em seu Art. 5º, inciso XLVII, que
não haverá pena de prisão perpétua no Brasil e nem pena de morte, salvo em caso
de guerra declarada. Portanto, a ressocialização é inerente ao processo de cumpri-
mento da pena. Não há coerência quando o Estado e a sociedade negligenciam a
razão de ser e o sentido da referida Lei.
Não é difícil de se inferir que a ideia de ressocialização esteja na base do
marco legal brasileiro no que tange ao sistema prisional. O conjunto de assistên-
cias previstas para o(a) preso(a) – material, educacional, saúde, social, jurídica
e religiosa – precisam ser compreendidas levando-se em consideração a escolha
feita pela ressocialização. A lógica do suplício e do sofrimento que prevaleceu no
mundo ocidental nos séculos XVII e XVIII, sob a égide do absolutismo monár-
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quico, no qual punia o crime como se esse fosse um ataque pessoal ao próprio so-
berano, adotando-se o suplício como meio de provocar danos no corpo do(a) con-
denado(a), uma clara estratégia para prevenir ataques ao poder soberano. A partir
do século XVIII – advento da modernidade - a lógica do suplício e do sofrimento
foi substituída pela disciplina e pela educação e preparação para o trabalho, uma
vez que o retorno ao convívio social era certo.
Enfatize-se que essa mudança na concepção de pena não se deu por uma
guinada humanística, conforme assevera Foucalut. Foi receio do povo. Este, já
acostumado com o sangue dos suplícios, começa a apropriar-se das mesmas prá-
ticas violentas de punição utilizadas pelo soberano para se vingarem do monarca
e seu governo excludente. As execuções públicas que incitam a violência, tor-
nam a violência do Estado algo natural. Entretanto, o povo, que aprende rápido,
entendeu que só se pode vingar a tirania e o brutal processo de exclusão a que
está submetido, com sangue. A classe burguesa em ascensão, com medo de poder
político recém-conquistado, percebe que precisa substituir esse tipo de pena, com
foco nos suplícios e sofrimento dos corpos, pela disciplina “docilizadora” a alma,
através da educação, do trabalho e da vigilância intensiva, inspirada no panóptico
proposto pelo filósofo utilitarista Jeremy Bentham.
A LEP se insere nessa perspectiva foucaultiana de poder disciplinador,
acrescida do ideal ressocializador. Todavia, quando se lança um olhar mais atento
aos dados e fatos da realidade das prisões no Brasil e no Amazonas e o que prevê
a legislação constitucional e infraconstitucional relativa ao tema, constata-se um
distanciamento significativo entre o que se tem e o que se deveria ter. Esse dis-
tanciamento entre o real e o ideal é perceptível a toda a sociedade. Dos discursos
de Ministros do Supremo Tribunal Federal, classificando a realidade da prisões
como “estado de coisas inconstitucionais”, passando pelas episódios de rebeliões
e extermínios como as dos presídios do Carandiru em São Paulo, de Pedrinhas
na grande São Luís – MA e os da Cadeia Pública Desembargador Raimundo
Vidal Pessoa, Puraquequara e Anísio Jobim, em Manaus, só para citar alguns, não
deixam margem a dúvidas sobre o tamanho do desafio que o poder público e a
sociedade têm em mãos.
O primeiro passo para o enfrentamento desse desafio é conhecer os reais
contornos e dimensões do problema das prisões. Nessa trajetória, chamar o con-
junto da sociedade a participar dos projetos e das ações visando a construção de
soluções é condição sine qua non para o êxito na empreitada. Enfatize-se que a
própria Constituição determina que segurança pública e tudo que a envolve é de-
ver do estado e responsabilidade de toda a sociedade. Donde se conclui que essa
questão não é “caso de polícia”, apenas. É assunto de toda a sociedade.
Esta obra é resultado do esforço de um conjunto de profissionais do sistema
de segurança do Estado do Amazonas, de pesquisadores da área de Segurança
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Pública, Cidadania e Direitos Humanos e profissionais, de especialistas, mestres e
doutores que se debruçaram sobre a realidade do sistema prisional do Amazonas
para apresentar a realidade das principais unidades prisionais do Estado no intuito
de contribuir nesse esforço de fazer cumprir, ao menos, o que está previsto na
legislação. Uma boa leitura!
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APRESENTAÇÃO
Ellen de Moraes
Pesquisadora
Coordenadora do GIEV - UEA
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INTRODUÇÃO
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psicólogos, assistentes sociais, pedagogos, cientistas sociais, policiais militares,
civis, delegados, advogados, promotores, defensores e juízes.
Ademais, muitos dos pesquisadores realizaram visitas aos estabelecimen-
tos prisionais e suas estruturas físicas e obtiveram imagens atuais dos locais, per-
mitindo assim a você, leitor, não só a ler a descrição constante desse exemplar,
mas a embarcar junto nessa viagem ao submundo das prisões amazônicas, bastan-
do acessar o qr code ao final deste exemplar.
Assim, convidamos você leitor a embarcar conosco nessa!
Boa leitura!
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SUMÁRIO
PREFÁCIO
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APRESENTAÇÃO
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INTRODUÇÃO
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PARTE I
CAPITAL
CAPÍTULO I
AS PRIMEIRAS CASAS DE CORREÇÃO
Luiz Claudio Pires Costa e Jucinara Figueiredo Pinheiro
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CAPÍTULO II
PRIMEIRAS PRISÕES FEMININAS NO AMAZONAS
Ellen de Moraes e Silva; Criscyanne Andrade de Oliveira e
Pâmella Oliveira Silva
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CAPÍTULO III
DA CASA DE DETENÇÃO DE MANÁUS À CADEIA PÚBLICA
DESEMBARGADOR RAIMUNDO VIDAL PESSOA:
UM SÉCULO ENTRE MEMÓRIAS E TRAJETÓRIA
Dorli João Carlos Marques; Tereza de Sousa Ramos e
Paula Mirana de Sousa Ramos
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CAPÍTULO IV
CENTRAL DE RECEBIMENTO E TRIAGEM - CRT
Maxwell Marques Mesquita; Márcio de Souza Corrêa e
Guilherme da Silva Monteiro
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- 19 -
CAPÍTULO V
CENTRO DE DETENÇÃO PROVISÓRIA MASCULINO I – CDPMI
Fernanda de Souza Marcellino e Diêgo Luiz Castro Silva
- 59 -
CAPÍTULO VI
CENTRO DE DETENÇÃO PROVISÓRIA MASCULINO DE MANAUS II –
CDPM II
Christianne Corrêa Bento da Silva e Denis Caetano Gomes Cavalcante
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CAPÍTULO VII
A REALIDADE HISTÓRICA DO MAIOR PRESÍDIO DO AMAZONA:
COMPLEXO PENITENCIÁRIO ANÍSIO JOBIM - COMPAJ
(UNIDADE MASCULINA)
José Divanilson Cavalcanti Junior
- 85 -
CAPÍTULO VIII
ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DO REGIME SEMIABERTO
MASCULINO DA CIDADE DE MANAUS
Arthur Sant’Anna Ferreira Macedo; Diêgo Luiz Castro Silva e
Dorli João CArlos Marques
- 113 -
CAPÍTULO IX
ALA FEMININA - COMPLEXO PENITENCIÁRIO
ANÍSIO JOBIM (COMPAJ)
Ellen de Moraes e Silva, Criscyanne Andrade de Oliveira e
Pâmella Oliveira Silva
- 125 -
CAPÍTULO X
INSTITUTO PENAL ANTÔNIO TRINDADE – IPAT
Romulo Garcia Barros Silva e Renan Oliveira de Carvalho
- 129 -
CAPÍTULO XI
UNIDADE PRISIONAL DO PURAQUEQUARA – UPPAna Paula Serizawa
Silva Podedworny e Carlos Lélio Lauria Ferreira
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- 20 -
CAPÍTULO XII
CASA DO ALBERGADO
Criscyanne Andrade de Oliveira; Ellen de Moraes e Silva e
Pâmella Oliveira Silva
- 157 -
PARTE II
UNIDADES PRISIONAIS DISTRIBUIDAS NOS
MUNICIPIOS DO AMAZONAS
CAPÍTULO XIII
UNIDADE PRISIONAL DO MUNICÍPIO DE COARI /AM
Pamella Oliveira Silva; Criscyanne Andrade de Oliveira e
Ellen de Moraes e Silva
- 169 -
CAPÍTULO XIV
UNIDADE PRISIONAL DE HUMAITÁ JOÃO LUCENA LEITE – UPH
Maxwell Marques Mesquita; Márcio de Souza Corrêa e
Guilherme da Silva Monteiro
- 177 -
CAPÍTULO XV
UNIDADE PRISIONAL DE PARINTINS
Pamella Oliveira Silva; Criscyanne Andrade de Olieira e
Ellen de Moraes e Silva
- 185 -
CAPÍTULO XVI
HISTÓRIA DO CÁRCERE NO MUNICÍPIO DE MAUÉS/AMAZONAS
Sylvia Laureana Arruda Cabral Chaves e Jahvier Alejandro Lemus Castaneda
- 191 -
CAPÍTULO XVII
UNIDADE PRISIONAL DE TABATINGA
Edson Rosas Neto e Mônica Nazaré Picanço Dias
- 203 -
CAPÍTULO XVIII
UNIDADE PRISIONAL DE TEFÉ
Ernandes Herculano Sarava e Alder Camon da Silva Moraes
- 215 -
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CAPÍTULO XVIV
UIDADE PRISIONAL DE ITACOATIARA
Criscyanne Andrade de Oliveira; Ellen de Moraes e Silva e
Pâmella Oliveira Silva
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ANEXO
LEI Nº 2711 de 28/12/2001 -
DISPÕE SOBRE O ESTATUTO PENITENCIÁRIO DO ESTADO DO
AMAZONAS.
(Reproduzida no Diário Oficial. nº 29.852, de 26.03.02).
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ABREVIATURAS E SIGLAS
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ÍNDICE REMISSIVO
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SOBRE OS ORGANIZADORES
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SOBRE OS AUTORES
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PARTE I - CAPITAL
(FOTO)
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CAPÍTULO I
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A metodologia empregada para efeito de estrutura foi uma abordagem
exploratória, representada pela pesquisa em livros e outras publicações, funda-
mental para o conhecimento necessário à obtenção das informações contidas no
presente trabalho.
2. Casa de Correção
Até o século XV a restrição da liberdade de locomoção não era conside-
rada uma forma de penalização, mas uma medida para custodiar os acusados. A
conceituação da restrição da liberdade de locomoção, vulgarmente chamada de
“prisão”, teve o início do seu uso na idade média, pelos mosteiros católicos, com o
objetivo de imputar aos membros do clero, punição pelo não cumprimento correto
de suas obrigações, sendo eles recolhidos em quartos chamados de “celas” para
meditação e assim conseguirem seu arrependimento. Somente em 1550 é que foi
construída em Londres a House of Correction, considerada a primeira prisão a
utilizar esse tipo de recolhimento em celas para os criminosos.
2.1 Histórico
A visão que possuímos das prisões é uma construção com grandes muros,
dentro dos quais a dura realidade da exclusão social se esconde. Normalmente
construídas em locais desertos ou distantes dos grandes centros, mas nem sempre
foi assim.
2.1.1 Na antiguidade
O que hoje chamamos de prisão, inicialmente era utilizada para colocar
os condenados ou réus para que aguardasse seu julgamento ou a execução de
sua pena. Esses cativeiros existiam desde 1.700 aC., criados pelos egípcios, mas
também utilizados na Grécia, Babilônia e Pérsia, para custodiar seus escravos ou
torturar daqueles que cometiam faltas ou delitos.
Nessa época o aprisionamento não era considerado uma sanção, até por
que não existia nenhuma lei que regulasse tais atitudes, mas uma garantia de ma-
nutenção da pessoa dominada fisicamente para que pudesse cumprir a punição
que lhe fosse imposta, por isso não existiam presídios ou cadeias, sendo utilizados
para esse propósito os calabouços, aposentos em ruínas, masmorras, torres, caste-
los, etc., qualquer lugar que pudesse ser utilizado como cativeiro.
Eram considerados crimes ou delitos que deviam ser punidos: o endivida-
mento, o não pagamento dos impostos, a desobediência, ser estrangeiro ou prisio-
neiro de guerra.
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sendo logo após, em 1575 aprovada a primeira lei a mencionar essas Casas de
Correção. Em 1697 foi inaugurada a primeira “Casa de Trabalho” ou “Workhou-
se”, na Inglaterra, espalhando-se por toda a Europa.
Segundo PRACIANO (2007, p. 31) cronologicamente foram criadas:
3.1 A primeira
Foi através da outorga da Constituição de 1824 que ocorreu a determinação
da existência das instituições prisionais do império, que seriam: “seguras, limpas
e bem arejadas, havendo diversas casas para a separação dos réus, conforme as
circunstâncias e natureza dos seus crimes” (Constituição do Império do Brasil de
1824, art. 179 parágrafo 21), adotando o regime prisional recomendado no século
XIX pela comunidade médica, que divulgava a reclusão como estratégia de recu-
peração dos apenados, devendo os mesmos serem empregados em trabalhos úteis,
a fim de que fosse impedida a disseminação do crime, bem como o planejamento
de novos ilícitos, mas para evitar o incentivo da reincidência também deveriam
ser melhoradas a insalubridade e a aglomeração nas instituições prisionais. (MA-
CHADO et all. 1978, p. 318-9).
Mas foi em 1830 com a sanção do Código Criminal do Império do Brasil,
que substituiu o livro V das Ordenações Filipinas, até então vigente, ficou evi-
denciada a necessidade de criação das Casas de Correção e Trabalho, pois para a
maior parte dos crimes cometidos, se iniciou a aplicação das penas privativas de
liberdade, combinada com a obrigação do trabalho, devendo a ocupação diária
com o trabalho ser executada dentro do recinto prisional, entretanto, não havia
orientação de como o mesmo deveria ser organizado.
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Em 1834 através do Ato Adicional, tanto a construção das Casas de Cor-
reção, como a organização do seu regime disciplinar foram transferidas para as
Assembleias Legislativas das Províncias, ficando na sede da Corte subordinada
diretamente à Secretaria de Estado dos Negócios da Justiça.
Segundo CARVALHO (1996, pag. 230), um projeto de Casa de Correção e
Trabalho da Corte foi proposto pela Sociedade Defensora da Independência e Li-
berdade Nacionais, nascido num período de revoltas pela abdicação de D. Pedro
I, tanto pela tropa quanto pelo povo. Alegara a Sociedade ser um projeto eminen-
temente moral para a conversão dos homens, podendo atuar também na repressão
e no controle social da população urbana.
Fig. 1 - Projeto de Casa de Correção e Trabalho da Corte foi proposto pela Socieda-
de Defensora da Independência e Liberdade Nacionais
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Fig. 2 – Arquivo Nacional IJ7-78 (1828-1912).
Planta da Casa de Correção da Corte, 1834
Em 1849 ainda não havia sido concluído o primeiro raio com duzentas
celas e as oficinas, sendo estimado pelo Ministério que seriam necessários, pelo
menos, mais dois anos para o término das obras. Totalmente construída, ela de-
veria ter quatro raios, cada um com duzentas celas para isolamento noturno, mas
pela necessidade e por acreditar que as dimensões eram “exageradas”, já começou
a ser utilizada no mesmo ano, mesmo estando ainda em construção. Somente em
1852 as duzentas celas foram concluídas, mas somente em 1856 a Casa de De-
tenção funcionou para detenções curtas por pequenos crimes ou por aqueles que
estavam sendo processados.
A Casa de Correção do Rio de Janeiro adotou o modelo alburniano, que
apesar de ser considerado um modelo menos rigoroso, adotava o silêncio absoluto
como regra, proibindo os detentos de conversar entre si e restringindo o contato
verbal com os guardas ao necessário, desde que autorizado e em voz baixa, fazen-
do com que os detentos criassem formas alternativas de diálogo entre eles, através
de gestos com as mãos ou batidas nos canos ou paredes das celas.
Os presos trabalhavam em suas celas ou em pequenos grupos nas oficinas,
pois o trabalho era considerado um dos pilares desse sistema, dando ênfase à
ressocialização do preso, pelo isolamento, pelo trabalho ou ensino de princípios
cristãos, sendo castigos físicos a última opção.
Em 1874 foram apontadas dificuldades na aplicação e funcionamento do
modelo alburniano, como a dificuldade do cumprimento do silêncio no trabalho
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conjunto, bem como a não execução correta do projeto, o que acabava por impos-
sibilitar a visibilidade dos detentos.
A Casa de Correção da Corte passou a se chamar Penitenciária Lemos
Brito na década de 70, entretanto em 2006, após 156 anos de utilização, foram
encerradas as atividades e ocorreu a desativação do Complexo Penitenciário da
Frei Caneca, composto por mais dois presídios e um Hospital, todos no centro da
cidade do Rio de Janeiro.
4. No Amazonas
Em Manaus, chamada na época de “Lugar da Barra” o recolhimento dos
detentos era efetuado no Forte de São José do Rio Negro, mas em 1791 com o
início das atividades de construção do Palácio dos Governadores, também se ini-
ciaram as construções de um hospital, um quartel e a primeira cadeia. Conforme
ensina FERREIRA e VALOIS (2006, pág. 00):
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Referências
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CAPÍTULO II
Francisca da Silva era uma prostituta que havia sido denunciada por Manoel
de Oliveira Marinho, que afirmava que ela possuía “o hábito de exibir-se na
porta em trajes menores”, deixando a cargo das autoridades policiais as pro-
vidências necessárias. (LIRA 2014).
Imagem 02: Vista aérea da Cadeia Pública de Manaus Desembargador Raimundo Vidal
Pessoa. Acima, o então Patronato Santa Teresinha. Além disso, à direita, a ponte metálica
Benjamin Constant, na avenida Sete de Setembro
Com capacidade para receber 120 (cento e vinte) pessoas, por muitos anos
a Cadeia Pública Raimundo Vidal Pessoa foi o único estabelecimento penal do
Estado do Amazonas. Localizada na Av. 7 de setembro no centro de Manaus, este
estabelecimento penal tinha como finalidade abrigar homens e mulheres que co-
metiam crimes contra o Estado, que poderiam caracterizar desde o não pagamento
de impostos à assassinatos.
As características históricas e arquitetônicas denunciam que a Cadeia Pú-
blica foi projetada para ser uma fortaleza maciça em estilo medieval, com uma
área inicial de 15.000. Logo na fachada, os revestimentos são de bossagem (par-
te mais saliente da pedra bruta), sendo composta por dois pavimentos, vê-se no
térreo, um portão de arco pleno (romano), ladeado por uma abertura redonda. O
prédio é guarnecido por cinco penas torres que o dominam e seu frontão com
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decoração de ameias reforça ainda mais os traços de fortaleza medieval (Thérése
Aubreton, 2010).
Somente em 29.11.1988, 120 anos após o primeira menção de mulher presa
no Amazonas, fora formulada a Lei 1.873 que instituía a separação das prisões
femininas em um anexo da mesma Cadeia Pública Raimundo Vidal Pessoa, fun-
cionavam ali o Regime Fechado, Regime Semiaberto e Regime Aberto, impossi-
bilitando qualquer esforço na tentativa de classificação e recuperação das presas.
As mulheres ali encarceradas estavam entregues ao abandono por parte do
poder público, tendo que dividir o pouco espaço que tinham com a Casa do Al-
bergado que funcionava no mesmo local e posteriormente com o Hospital de Cus-
todia e Tratamento Psiquiátrico contando apenas com o empenho diário de seus
diretores e colaboradores para uma tentativa de organização. Entende-se desse
modo que a criação de um espaço só para mulheres tinham como finalidade garan-
tir a paz e a tranquilidade desejada nas prisões masculinas, do que propriamente a
dar mais dignidade às acomodações carcerárias.
Referências
ANGOTTI, Bruna. Entre as leis da ciência, do estado e de Deus: o surgimento dos
presídios femininos no Brasil. San Miguel de Tucumán: Universidad Nacional de
Tucumán. Instituto de Investigaciones Históricas Leoni Pinto. Ano: 2018.
BARATTA, Alessandro. Criminologia crítica e crítica do direito penal: introdução
à sociologia do direito penal. Tradução de Juarez Cirino dos Santos. 6. ed. Rio de
Janeiro: Revan, Ano: 2011.
CURCIO. Fernanda Santos. FACEIRA. Lobelia Da Silva. As Memórias Das Pri-
sões Para Mulheres: Um Retrato Da Realidade Carcerária Feminina Do Estado
Do Rio De Janeiro. Ano:2018
FERREIRA. Bruno. In: Blog Barros em Mídia. A história não pode ser esquecida!
Ano: 2019 Disponível em: https://barrosoemdia.com.br/bruno-ferreira/a-historia-
-nao-pode-ser-esquecida/ acesso em:26 de FEV 2021.
FERREIRA. Carlos Lélio Lauria. VALOIS. Luís Carlos. Sistema penitenciário do
Amazonas. Curitiba, Editora Juruá, Ano: 2006. 333 p.
LIRA. Bárbara Rebeka Gomes de. A DIFÍCIL VIDA FÁCIL: O mundo da prosti-
tuição e suas representações na cidade de Manaus (1890-1925). Dissertação apre-
sentada à Universidade Federal Do Amazonas Instituto De Ciências Humanas
E Letras Programa De Pós-Graduação Mestrado Em História. Ano: 2014. Dis-
ponível em: https://tede.ufam.edu.br/bitstream/tede/3989/2/Disserta%C3%A7%-
C3%A3o%20-%20B%C3%A1rbara%20Rebeka%20Gomes%20de%20Lira.pdf
acesso em: 09 de FEV 2021.
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LOMBROSO, Cesare; FERRERO, Guglielmo. The female offender. New York:
D. Appleton and Company, Ano: 1895.
THÉRÉSE AUBRETON In: Blog JMARTINS. ROCHA. Penitenciária de Ma-
naus. Ano:2010. Disponível: http://jmartinsrocha.blogspot.com/2010/11/peniten-
ciaria-de-manaus.html acesso em:10 de FEV 2021. .
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CAPÍTULO III
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A superlotação, a precária infraestrutura de apoio, a impossibilidade de
atendimento das exigências presentes nos avanços da legislação, entre outros fa-
tores, culminaram na desativação definitiva da histórica unidade prisional, em 12
de maio de 2017.
O resgate do contexto histórico da construção e inauguração da unidade
prisional, combinado aos momentos marcantes da sua trajetória centenária, assim
como a série de crises que levaram à sua desativação definitiva e seus efeitos
para a segurança pública do Amazonas, demonstra que o estudo é relevante não
apenas para a academia, na medida em que compõe um dossiê que visa colocar à
disposição do público um conjunto de dados sobre as unidades prisionais do Ama-
zonas, mas também para o conjunto da sociedade amazonense que tem apontado a
segurança pública e tudo o mais que a ela se relaciona, como um dos aspectos de
maior preocupação nos dias atuais.
Nesse contexto, se impõe a seguinte inquietação: Quais fatores foram de-
terminantes para que uma unidade prisional, considerada uma das mais modernas
e adequadas do país, quando da sua inauguração, acabou por se tornar uma das
piores, ao ponto do poder público e a sociedade exigir sua desativação definitiva?
Tal questão proporciona também o exercício de compreensão das direções assu-
midas pela intervenção política nessa área. Deste modo, recorreu-se a diferentes
fontes de dados bibliográficos e documentais nos acervos da Biblioteca Pública
Municipal, Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas, Secretaria de Estado da
Administração Penitenciária, além de publicações sobre o tema.
O objetivo do estudo é apresentar o contexto histórico e social no qual
a Cadeia Pública Raimundo Vidal Pessoa foi inaugurada, os principais eventos
ocorridos nas suas dependências ao longo da sua trajetória e os fatores que culmi-
naram na sua desativação definitiva.
2 A inauguração
Na tarde de céu limpo e ar leve, devido à chuva torrencial da madrugada
anterior, a cidade de Manaus, presenciava mais uma atividade pública de grande
importância para sua posição e seu desenvolvimento como uma das capitais bra-
sileiras que mais crescia sob o brilho e o apogeu da borracha. Era inaugurado no
dia 19 de março de 1907, sob a administração do governador Antônio Constantino
Nery (1859-1926) a Casa de Detenção de Manáus13.
O evento que estava previsto para acontecer durante a manhã fora transfe-
rido, devido à chuva, pelo próprio governador que, às 14:00 horas e 45 minutos,
saiu do Palácio e dirigiu-se à Estação dos Bondes, localizado na Praça da Repúbli-
ca, atual praça Dom Pedro II, em direção ao cerimonial daquele dia.
13 Inaugurada como Casa de Detenção de Manáus, a cadeia pública do Estado recebe o nome de Cadeia
Pública Desembargador Raimundo Vidal Pessoa somente no ano de 1985, no Governo de Gilberto Mestri-
nho de Medeiros Raposo.
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Naquele local, o Governador Constantino Nery pegou um carro especial,
vistosamente pintado nas cores nacionais -verde e amarelo, que foi colocado à sua
disposição, pelos arrendatários da Viação e Luz, e se dirigiu até a Praça Visconde
do Rio Branco14, local da cerimônia de inauguração. Após isso, o chefe do Estado
do Amazonas seguiu, junto às pessoas que estavam em sua companhia, para a
visitação do prédio inaugurado.
Inaugurar uma instituição como a Casa de Detenção de Manáus revelou,
naquele momento, os efeitos do desenvolvimento, pois, junto com o apogeu e o
progresso da borracha vieram os dilemas da vida moderna. Desse modo, tornava-
-se urgente a construção de um presídio de grande monta para a época.
Em 21 de novembro de 1904, a pedra fundamental da Casa de Detenção
de Manáus foi assentada pelo Governador, na Rua Municipal, atualmente Rua
Sete de Setembro. Sua construção foi confiada aos senhores Rossi & Irmãos e
concluída pelo senhor comendador Ló Ferreira. O prédio começou a ser constru-
ído naquele mesmo ano, pelo arquiteto Emygdio José Ló Ferreira e pelo mestre
de obras J. Estelita Jorge, e entregue para inauguração três anos depois, em 1907.
No coração dos processos de disciplina e sujeição, o prédio foi arquitetado
originalmente sob o formato de um Hexágono irregular, tendo sua estrutura des-
crita com riqueza de detalhes pelo jornal AMAZONAS, de 20 de março de 1907,
um dos principais jornais da época de sua inauguração, que trouxe a descrição do
presídio na matéria intitulada “O dia de Ontem”:
- 43 -
Um desses salões é reservado para mulheres, razão por que foi interceptada a
sua comunicação com a outra parte.
Pelo projeto primitivo, tinha-se estabelecido quatro casas para os guardas,
sendo isso modificado, suprimindo-se uma dellas e dispondo-se a restante, em
posição tal de maneira que o guarda, nella colocado, fiscaliza a parte posterior
dos raios.
No ângulo extremo do hexágono, da parte oriental e num dos vértices, abriu-se
um pequeno portão que serve para a sentinella, ahi postada, observar todo o
movimento no igarapé que banha o muro de cerca da parte posterior do edi-
fício, o qual tem 5 metros de altura e 60 centimetros de espessura, acima do
alicerce.
Todas as cellas são abobadadas e assim os corredores. No corpo central, nota-se
o vestíbole, que é uma bella entrada, pelos systemas de abobadas convergentes
e que, pela primeira vez, é aqui empregadas.
Há ahi nichos para quatro estátuas, de 1 metro e 50 centímetros de altura, cada
uma, representando o Trabalho, o Crime, a Virtude e a Regeneração.
Contiguo ao vestíbulo, á direita de quem entra ficam o alojamento do porteiro
e um outro, onde está a escada de ferro, de hélice, que dá acesso ao andar su-
perior do corpo central – lugar da secretaria do administrador.
A esquerda, estão o corpo da guarda dos praças, a sala de armas e o compar-
timento destinado a dormida do official. No extremo direito de quem entra no
edifício, fica a casa destinada á moradia do administrador e de sua família,
tendo bons e confortáveis compartimentos, e no extremo está à casa destinada
a administração, também com muito boas acomodações para a família e onde
funciona 3º delegacia policial.
Communicando essas duas casas há uma área que vae ser ajardinada. Toda
a frente do edifício é guarnecida de um gradil, assente em pilares construídos
de tijollo.
Ao fim da galeria central de ligação está o gabinete médico.
A frente do prédio fica para a rua Municipal e a parte occidental do muro
de cerca no alinhamento da rua Duque de Caxias. Junto ao Portão do lado
esquerdo de quem penetra no estabelecimento foi collocada uma placa com
estes dizeres:
Casa de Detenção de Manáus. Iniciada e concluída na administração de s. exc,
o Sr. Dr.Constantino Nery 1904 -1906. [grifo nosso]
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uma mesa colocada no átrio do presídio e então o Sr. Estellita Jorge, como reno-
mado mestre de obras na cidade de Manaus, fez um breve discurso de entrega da
obra, diante das pessoas presentes na cerimônia. Em sua fala destacou a importân-
cia do serviço que aquele estabelecimento iria prestar à sociedade amazonense, tal
como se pode ver no trecho,
- 45 -
Quanto à deliberação dos cargos para o funcionamento da instituição pri-
sional como um organismo vivo, o decreto N. 683 – de 23 de novembro de 1904,
assinado por Constantino Nery, que instituiu a construções da cadeia pública, atri-
buiu em seu Regulamento de 1904, no Art. 4, que todo serviço interno da prisão
ficaria a cargo de um Administrador, que receberia diretamente do Chefe de Se-
gurança do Estado às ordens referentes à prisão. Além deste funcionário, havia
outros ajudantes de administrador encarregados de auxiliar nos serviços da prisão.
Ainda neste Regulamento, dentre as funções atribuídas ao administrador
caberia a ele também “Tratar com brandura e humanidade os presos” e “[...] cui-
dar do asseio e boa ordem das prisões e sala do expediente, bem como da escri-
turação dos livros e guarda dos papéis que estiverem sob sua responsabilidade”
Art. 12. [grifo nosso]
Após a cerimônia de inauguração, a Casa de Detenção de Manaus ficou
aberta para a visitação do público até as 20h horas daquele dia, resultando em uma
vasta cobertura nos jornais da época, os quais faziam narrativas com riquezas de
detalhes sobre o mais novo prédio construído na capital.
Naquele dia, o trecho da Rua Municipal, entre a Ponte Benjamim Constant
e a Rua Duque de Caxias foi enfeitada de bandeiras. O presídio estava externa-
mente embandeirado, tendo como destaque três grandes bandeiras nacionais.
Por ocasião da inauguração tocou no interior do estabelecimento a banda
de música do 1º batalhão do Regimento do Estado, sendo servido champagne aos
visitantes.
Imagem 01: Vista aérea da Cadeia Pública Desembargador Raimundo Vidal Pessoa
Fonte: https://idd.org.br/iconografia/cadeia-publica-de-manaus-desembargador-raimundo-vi-
dal-pessoa/#primary
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3 Eventos marcantes que antecederam a desativação
A cadeia pública Desembargador Raimundo Vidal Pessoa – CPDRVP,
como um estabelecimento prisional secular, foi palco de diversos acontecimentos
marcantes, muitos dos quais chocantes e causadores de indignação à sociedade,
tais como: espancamentos, fornecimento de bebidas alcoólicas e aparelhos celu-
lares, rebeliões e massacres. Na impossibilidade de descrever todos os eventos,
optou-se por apresentar aqueles que, nos últimos anos, foram determinantes para
sua desativação definitiva, ocorrida no dia 12 de maio de 2017.
Dados da SEJUSC (2004) demonstram que entre os anos de 2000 e 2004,
foram instauradas 70 [setenta] sindicâncias para apurar denúncias de irregulari-
dades. No ano de 2001, foram trinta, evidenciando problemas tanto no tocante
à falta de pessoal para as atividades internas, quanto à precariedade da estrutura
física, insalubridade das instalações, superlotação das celas, falhas nos sistemas
de vigilância e controle nas áreas internas e externas, entre outros.
Fonte:https://www.metropoles.com/materias-especiais/chacinas-nos-presidios-conheca-as-
-123-historias-dos-detentos-mortos
- 47 -
interna dos detentos; e) serviços médicos e jurídicos insuficientes, entre outras ina-
dequações.
Em 11 de novembro de 2010 ocorreu mais uma rebelião na unidade pri-
sional, com o agravante de ter havido seis servidores (as) reféns, incêndio nas
instalações e três detentos mortos. Ficou claro que a centenária instituição não pos-
sui mais as condições mínimas para abrigar apenados. Condições extremamente
precárias, em flagrante violação aos direitos fundamentais dos internos, dos seus
familiares e dos servidores da unidade prisional.
Em 2013, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), após realização de mutirão
carcerário no Amazonas, recomendou a desativação da Cadeia Pública Desembar-
gador Raimundo Vidal Pessoa, e conseqüentemente do Hospital de Custódia e Tra-
tamento Psiquiátrico (HCTP), uma vez que funcionava na mesma estrutura física.
Dentre os problemas identificados nas inspeções realizadas, destacam-se: a)
impropriedade das instalações para fins de uso como unidade prisional; b) núme-
ro de agentes penitenciários e policiais militares insuficientes na parte interna da
unidade, nas guaritas internas e no entorno da unidade prisional; c) superlotação
da unidade - a título de ilustração da situação, em uma vistoria realizada em maio
de 2009, em uma estrutura adequada para atendimento de até 104 [centro e quatro]
internos, constatou-se que a unidade estava com 698 [seiscentos e noventa e oito]
internos, mesmo tendo sido transferidos 775 [setecentos e setenta e cinco] apena-
dos poucos dias antes.
Diante desse conjunto de evidências de incompatibilidades com o patrimô-
nio moral representado pelos princípios éticos que regem a atividade pública, o
que estabelece a Lei de Execuções Penais – Lei 7.210/84 e a jurisprudência dos
Tribunais Superiores, além do marco doutrinário cristalino, como o que leciona
Mirabete (2000), o Ministério Público do Amazonas – MP-AM, através da Ação
Civil Pública N. 0257588-44.2010.8.04.000, propõe a desativação definitiva da
Cadeia Pública Desembargador Raimundo Vidal Pessoa – CPDRVP.
A unidade foi provisoriamente desativada em outubro de 2016, mas pre-
cisou ser reativada como medida emergencial para abrigar detentos que estavam
sendo ameaçados depois dos episódios dos massacres que ocorreram no sistema
prisional no dia 1º de janeiro de 2017. Após a reativação, a unidade continuou
a funcionar por mais quatro meses, enquanto as obras de ampliação do Centro
de Detenção Provisória Masculino 2 (CDPM 2) não estavam prontas. Depois de
transferidos os últimos 162 [cento e sessenta e dois] presos para a ampliação da
CDPM 2, a unidade foi definitivamente desativada em 12 de maio de 2017. Encer-
rava-se, assim, uma história de 111 anos de história daquela que fora inaugurada
como um modelo de unidade prisional e que, por não ter recebido a devida atenção
do poder público, teve que ser fechada por não apresentar as mínimas condições
de funcionamento.
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Considerações finais
Inaugurada com o luxo e a grandeza da chamada Belle Epoque amazonen-
se e inspirada em uma concepção, de mundo e de justiça criminal, que procurava
limitar o poder arbitrário do Estado por meio de uma nova concepção de punição,
na qual o objetivo final era a reintegração do criminoso recuperado à sociedade, a
CPDRVP, ao longo dos seus 111 anos, acabou por representar, na prática, o que as
instituições penais do Brasil, com raras exceções, de fato o são: instituições que
visam tão somente isolar e punir os apenados, em flagrante desrespeito à legisla-
ção e aos acordos, tratados e convenções de direitos humanos os quais o Brasil é
signatário.
No início do século XX, a adequação do espaço urbano de Manaus ao
projeto de modernidade contribuiu para que a sociedade desfrutasse da criação de
grandes obras e de um complexo arquitetônico alinhado ao projeto de moderniza-
ção conservadora, promovida pela economia da borracha Amazônica. No entanto,
ao refletir sobre um século de existência da Cadeia Pública Raimundo Vidal Pes-
soa, percebe-se que principalmente as tomadas de posição e de direção no campo
político não conseguiram dar continuidade no processo natural de necessária ade-
quação aos novos tempos, impostos sobre as instituições prisionais.
A esta cadeia pública, que fora criada sob o discurso de adequação aos mais
avançados modelos da sociedade disciplinar, promovidos mais pela arquitetura
de controle, do que pelos elementos necessários para um verdadeiro sentido de
comunidade humana, restou somente um contínuo processo de degradação até a
plena desativação de um imponente espaço criado nos áureos anos da economia
gomífera. Por meio desse estudo, procurou-se elucidar a questão norteadora que
se fundamenta nas contradições a respeito de uma instituição, que um dia foi con-
siderada uma das mais modernas e adequada no país, mas que se tornou uma das
piores por não acompanhar as necessidades impostas pelos dias atuais.
A quantidade e a gravidade de denúncias das organizações da sociedade
civil, dos órgãos de fiscalização e controle, além das diversas matérias dos meios
de comunicação locais, nacionais e internacionais, revelavam as gravíssimas vio-
lações dos direitos dos apenados na CPDRVP, e não deixam margem a dúvidas
quanto à necessidade de fechar a unidade prisional.
Enquanto o complexo arquitetônico da cadeia Raimundo Vidal Pessoa
aguarda um novo destino, sua história de mais de um século, no exercício de
organização social em terras amazônicas, urge pela necessidade de se estabelecer
um debate nacional sobre a efetividade do sistema prisional local e nacional, no-
tadamente no que se refere à qualidade e à legalidade dos serviços prestados pelas
instituições prisionais.
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Referências
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CAPÍTULO IV
Histórico / origem
No ano de 2013, o Conselho Nacional de Justiça realizou um mutirão car-
cerário no estado do Amazonas e concluiu que a Cadeia Pública Desembargador
Raimundo Vidal Pessoa (CPDRVP), localizada na Avenida Sete de Setembro, na
área central de Manaus, precisaria ser desativada, o que ocorreu no dia 31 de ou-
tubro de 2016 (SEAP, 2021).
15 Doutorando em Gestão da Informação (UFPR); Mestre em Segurança Pública, Ci-
dadania e Direitos Humanos (UEA). Capitão da Polícia Militar do Amazonas. E-mail:
maxwell_mesquita@hotmail.com.
16 Especialista em Docência do Ensino Superior (La Salle). Sargento da Polícia Mili-
tar do Amazonas. E-mail: ftmscorrea@gmail.com.
17 Especialista em Segurança Pública (UEA). Cabo da Polícia Militar do Amazonas.
E-mail: gsmguilherme@hotmail.com.
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Ainda segundo SEAP (2021), após a desativação da CPDRVP, a Central
de Recebimento e Triagem (CRT) tornou-se a primeira porta de entrada dos pre-
sos no sistema prisional do estado do Amazonas, sendo implantada no dia 25 de
outubro de 2016, sendo localizada no Centro de Detenção Provisória Masculino
(CDPM), quilômetro 8 da BR-174 (Manaus – Boa Vista). Possui como Diretor o
senhor Robert Washigton Barreto e Diretor – Adjunto Higson Oliveira Lima. A
entrada da CRT pode ser vista na figura 01 abaixo.
Objetivo do CRT
Ainda no ano de 2016, a SEAP (2016) informou que “os procedimentos
adotados pela CRT, buscam organizar o banco de dados dos internos do sistema e
trazer mais celeridade em casos de pesquisa de fichas específicas”. Assim, a uni-
dade prisional funciona como porta de entrada no sistema prisional de Manaus.
Ainda segundo a SEDECTI (2016):
- 52 -
de uma revista completa, onde seus pertences são recolhidos, catalogados e
armazenados com a devida identificação. Todos esses procedimentos são fun-
damentais para que, em caso de uma possível fuga, os dados essenciais sejam
fornecidos ao Sistema de Segurança Pública, para fins de busca e recaptura.
- 53 -
é o encaminhamento para as unidades provisórias da capital: Centro de Deten-
ção Provisória de Manaus (CDPM), Instituto Penal Antônio Trindade (IPAT) ou a
Unidade Prisional do Puraquequara (UPP) (SEAP, 2016).
Cita-se ainda que, devido ao pouco tempo que o interno permanece na
central, a referica unidade não atende quesitos de assistência social, trabalho vo-
luntário, visitas, programas de formação continuada ou algum tipo de recolocação
profissional, sendo basicamente uma unidade de entrada no sistema.
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Condições físicas do local
O espaço físico do local possui dez celas para alojar os internos que dão
entrada no sistema penitenciário. As celas ficam ao lado do espaço onde são rea-
lizados os procedimentos de triagem e cadastro dos novos presos, como nota-se
na figura 04 abaixo.
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nosas de origem no mundo dos crimes como Família do Norte (FDN), Comando
Vermelho (CV) ou Primeiro Comando da Capital (PCC).
Neste ponto, alguns presos que não possuem ligação com organizações
criminosas seriam induzidos a aderirem a alguma organização para se protegerem
de outros internos tidos como de maior periculosidade.
A pesquisa proposta foi focada na busca bibliográfica e documental de
dados que pudessem centralizar dados históricos e estruturais da Central de Re-
cebimento e Triagem – CRT. Esta unidade prisional do Estado do Amazonas é
de grande importância, pois tem a função precípua de classificar e distribuir os
internos nos diversos estabelecimentos prisionais na capital amazonense. Até este
ponto, pouco foi pesquisado sobre esta unidade, e acredita-se que este trabalho
pode proporcionar um norte para que outros pesquisadores possam se interessar
pela temática e expandir o conteúdo apresentado.
Neste liame, o objetivo principal da pesquisa foi expandir o conhecimen-
to acadêmico sobre o CRT, mais especificamente sobre seu contexto histórico e
estrutural, onde, após levantamento, foi possível atingir esta meta primordial. No
decorrer da pesquisa, foram identificadas algumas dificuldades de acesso ao local
do objeto da pesquisa, principalmente pelas restrições impostas pelos decretos
estaduais que visavam prevenir as infecções na pandemia, porém, acredita-se que
o âmago da pesquisa foi atingido com a pesquisa bibliográfica e documental.
Neste sentido, para avanço nesta área, sugere-se uma pesquisa qualitativa
com visitas ao CRT e, possivelmente, entrevista com o público do local, sejam
servidores ou internos. Outra possibilidade observada é a a pesquisa qualitativa
e quantitativa com internos que já passaram pelo CRT, a fim de coletar as suas
impressões sobre o ambiente prisional da unidade.
Referências
CAMPINAS, F. Triagem da Seap divide presos por facção nos presídios de Ma-
naus, diz juiz. Amazonas Atual, 27 maio 2019. Disponível em: https://amazo-
nasatual.com.br/triagem-da-seap-divide-presos-por-faccao-nos-presidios-de-ma-
naus-diz-juiz/. Acesso em: 30 de maio de 2021.
- 56 -
SEAP. Seap continua a imunização contra H1N1 no sistema prisional. 2020.
Disponível em: <http://www.seap.am.gov.br/seap-continua-a-imunizacao-contra-
-h1n1-no-sistema-prisional/>. Acesso em: 21 de maio de 2021.
SEAP. Secretaria de Administração Penitenciária. Internos que dão entrada no
sistema prisional passam por cadastro completo na nova Central de Rece-
bimento e Triagem da Seap. 2016. Disponível em: <http://www.amazonas.am.
gov.br/2016/11/internos-que-dao-entrada-no-sistema-prisional-passam-por-ca-
dastro-completo-na-nova-central-de-recebimento-e-triagem-da-seap/>. Acesso
em: 15 de maio de 2021.
SEAP. Secretaria de Administração Penitenciária. Unidade Prisional João Luce-
na Leite/ Humaitá. 2021. Disponível em: <http://www.seap.am.gov.br/central-
-de-recebimento-e-triagem-crt/>. Acesso em: 15 de maio de 2021.
SEDECTI. Relatório de Ação Governamental. 2016. Disponível em: <http://
www.sedecti.am.gov.br/wp-content/uploads/2019/07/rag_2016.pdf>. Acesso em:
18 de maio de 2021.
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CAPÍTULO V
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Como em outros presídios da capital do Amazonas, o CDPM I funciona
na modalidade de parceria público-privada, uma espécie de contrato administra-
tivo instituído pela Lei nº 11.079/04. Di Pietro (2021, p. 320) afirma que se trata
de contrato cujo objeto é “(o) a execução do serviço público, precedida ou não
de obra pública, remunerada mediante tarifa paga pelo usuário e contraprestação
pecuniária do parceiro público, ou (b) a prestação de serviço de que a Adminis-
tração Pública seja a usuária direta ou indireta”. Ademais, segundo informações
obtidas por meio da SEAP, os investimentos para a construção da cadeia pública
superaram a marca de R$ 21 milhões, com uma construção que ocupa um terreno
de 9.706,70m². Com tantas ocorrências de rebeliões e fugas nos presídios de Ma-
naus, será que a administração privada é eficaz na administração de uma unidade
prisional?
Para os que escrevem e pesquisam sobre segurança pública e direitos hu-
manos, é importante fazer uma análise crítica acerca do que se conhece sobre as
prisões em geral. Após o processo de redemocratização promovido pela Consti-
tuição Federal de 1988, em um momento de ruptura com a ditadura militar, foram
tuteladas diversas garantias fundamentais para que houvesse proteção maior de
pessoas vulneráveis. Sendo assim, para além da questão financeira, as pessoas
privadas de liberdade enfrentam os desafios provenientes da superlotação, da au-
sência de políticas públicas e de inúmeras violações aos seus direitos humanos
(MEDEIROS, 2017). Por este motivo, torna-se necessário adotar um olhar mais
atento às questões pertinentes ao cárcere.
Para além dos dados fornecidos pela SEAP, utilizaram-se os relatórios de
inspeção prisional produzidos pelo CNMP (2019) e pela Comissão de Direitos
Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados – CDHM (2019), após eclodir em
Manaus a segunda rebelião nos presídios. Também foram analisados dados cole-
tados pela DPE (2021), por conta da atuação do Núcleo de Atendimento Prisional.
Na doutrina de Sarlet (2011) e Marmelstein (2014), é possível aferir a importância
da Constituição Federal de 1988 e de seus princípios na questão prisional.
Desta forma, o presente texto tem como objetivo geral compilar as prin-
cipais informações disponíveis a respeito do CDPM I. Para isso, o trabalho está
dividido em três partes: na primeira, apresentam-se as informações estruturais da
unidade prisional obtidas por meio da Secretaria de Administração Penitenciária
do Amazonas – SEAP, fazendo um contraponto ao que foi documentado pela De-
fensoria Pública do Estado do Amazonas – DPE (2021), Conselho Nacional do
Ministério Público – CNMP (2019) e Comissão de Direitos Humanos e Minorias
da Câmara dos Deputados – CDHM (2019). Na segunda, abordam-se todas as
questões pertinentes à saúde dos detentos no CDPM I, principalmente no momen-
to de pandemia da COVID-19 no Brasil. Na terceira, pretende-se verificar se a
presença da DPE representa, para os assistidos, o primeiro passo para a promoção
do acesso à justiça.
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2 Estrutura da unidade prisional
Verificou-se que o CDPM I conta com celas individuais e coletivas, além
de estar dividido em quatro pavilhões. A cadeia pública também possui espaço
para a recepção dos visitantes, refeitório destinado ao corpo técnico, enfermaria,
quadra de esportes, cozinha, lavanderia, escola, além das salas destinadas aos
trabalhos administrativos e salas de atendimento jurídico pela Defensoria Públi-
ca. Contudo, as pessoas ali recolhidas provisoriamente não contam com Unidade
Básica de Saúde que, segundo a New Life Gestão Prisional, está em processo de
construção.
Segundo o Conselho Nacional do Ministério Público, o estado do Ama-
zonas vivencia um estado de coisas inconstitucional em virtude dos seguintes
fatores: superlotação das unidades prisionais, ausência do Estado no controle das
dependências dos estabelecimentos penais, baixo número de presos participando
de projetos de ressocialização por meio do trabalho ou estudo, além do elevado
número de ocorrências relacionadas à disciplina e integridade física dos presos
(CNMP, 2019).
Nesse sentido, verifica-se que o número de reeducandos abrangidos por
projetos de remição é ínfimo em relação ao total de pessoas custodiadas no CDPM
I. Isso porque apenas 126 internos são integrantes do projeto “Trabalhando a Li-
berdade”, no ano de 2021, embora o número de presos provisórios nesta unidade
prisional, segundo informações fornecidas pela gerência administrativa, seja de
1061 pessoas. Além disso, embora destinada aos presos provisórios, a unidade
conta apenas com cinco salas de aula.
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Na ocasião da inauguração, em 2011, havia previsão de 568 vagas no
CDPM. Segundo relatório de inspeção produzido pela Defensoria Pública do Es-
tado do Amazonas em 2019, a capacidade de ocupação da unidade foi extrapola-
da, uma vez que a lotação era de 930 custodiados no mês de setembro. Em uma
cela com capacidade para abrigar 6 pessoas, havia 17 pessoas dividindo o espaço.
Por sua vez, a gerência administrativa afirma que a unidade prisional conta, em
2021, com 1.200 vagas e que a maior lotação histórica na unidade foi a 1.320
internos no ano de 2019.
A Defensoria Pública do Estado do Amazonas monitora, desde de julho
de 2019, quinzenalmente, a lotação das unidades prisionais, sendo que o CDPM
I teve sua ocupação mínima em 15 de março de 2021 (917 presos de 4769 do
sistema prisional de Manaus, excluindo os regimes semiaberto, aberto e prisão
domiciliar), máxima em 14 de julho de 2020 (1.212 presos de 4.731). Até 1º de
julho de 2021, contava com 1024 presos de 4.661.
Também é possível perceber que não existem alas que separem presos pro-
visórios dos condenados, em nítida violação ao que preconiza a Lei de Execução
Penal, no art. 84: “o preso provisório ficará separado do condenado por senten-
ça transitada em julgado” (BRASIL, 1984). Segundo a SEAP, aproximadamen-
te 15% dos tutelados no CDPM I são presos condenados. Contudo, a Secretaria
não explica as razões pelas quais estas pessoas não foram ainda transferidas para
unidades destinadas a presos condenados no Amazonas, tais como o Complexo
Penitenciário Anísio Jobim – COMPAJ e Instituto Penal Antônio Trindade – IPAT.
Ressalta que, no sistema prisional de Manaus, 54,79% dos presos são provisórios,
ao passo que somente 45,21% têm condenações à prisão definitiva, em regime
fechado.
Sendo assim, um dos maiores desafios estruturais enfrentados pelo CDPM
I é a superlotação, pois as políticas públicas até então instituídas não são capazes
de romper os desafios da infinidade de processos penais em curso, os quais nem
sempre terão sentença condenatória. Na prática, existe em curso um projeto de
encarceramento em massa (SALLA, 2001 apud PERES, 2012). Peres (2012), in-
clusive, aponta que os presídios brasileiros não são capazes de promover aumento
no número de vagas do sistema carcerário na mesma velocidade em que pessoas
são processadas e recolhidas preventivamente.
Por fim, destaca-se que as queixas provenientes da detenção não partem
apenas dos internos, como também de suas famílias. Existem relatos acerca de
revista vexatória, ausência de banheiros e bebedouros que possam ser utilizados
pelas visitas, enormes filas e agressões verbais por parte dos agentes de resso-
cialização (CDHM, 2019). Desta forma, há necessidade urgente de estabelecer
diálogos entre a Secretaria de Administração Penitenciária com os familiares das
pessoas privadas de liberdade, uma vez que a própria Constituição Federal já es-
tabelece princípios como intranscendência das sanções (BRASIL, 1988).
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3 Saúde das pessoas privadas de liberdade
Um dos direitos fundamentais garantidos pela Constituição Federal de
1988 é o direito à saúde, cujo dever de prover é do Estado (BRASIL, 1988).
Desta forma, esta parte do trabalho será dedicada especificamente a explorar as
condições de saúde a que estão submetidas as pessoas custodiadas no CDPM I e,
principalmente, durante o alastramento da COVID-19.
Santos (2020, p. 294) afirma que a pandemia causada pelo novo coronaví-
rus acabou por expor ainda mais os problemas enfrentados no sistema carcerário
brasileiro, em virtude do encarceramento em massa e das condições insalubres às
quais estão submetidas as pessoas privadas de liberdade. Este vírus evidenciou o
que há de pior no sistema prisional brasileiro, sobretudo no Amazonas: “os pre-
sídios não possuem instalações adequadas à vida humana” (CAMPOS, 2016, p.
266). Como então dirimir os danos causados pelo contágio em massa?
No Centro de Detenção Provisória Masculino I, a gestão afirma que a uni-
dade conta com dois consultórios médicos, sendo o corpo técnico composto por
dois médicos — clínico geral e psiquiatra — e sete enfermeiros. Tais profissio-
nais estão divididos em plantões. Em resposta aos questionamentos da Defensoria
Pública do Estado do Amazonas, durante a visita feita em 2019, o psiquiatra da
unidade informou que trabalha em jornada de 34 horas semanais e que, durante
os fins de semana, somente os técnicos de enfermagem permanecem na unidade.
Ainda, com a falta de especialista da medicina para os atendimentos in-
ternos à pessoa privada de liberdade, a Direção da Unidade Prisional informa,
quando das requisições da Defensoria Pública, que a pessoa foi registrada no SIS-
REG à espera de marcação para fins de escolta externa para o tratamento médico
específico pelo o SUS. Não há informações da Direção da Unidade Prisional ou
da SEAP quanto ao número de escoltas com essa finalidade.
A Defensoria Pública afirma ainda que os profissionais de saúde do esta-
belecimento se queixaram quanto à frequência em que o Estado fornece medica-
mentos psicotrópicos para tratamento dos internos na unidade. Por esta razão, há
períodos em que o CDPM I não é capaz de fornecer recursos terapêuticos neces-
sários para os internos. Isto corrobora com a informação fornecida pela empresa
New Life quanto à afirmação de que, desde que iniciou sua gestão — agosto de
2020 —, houve um óbito por suicídio. Por sua vez, destaca o Conselho Nacional
do Ministério Público:
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Em 2019, o corpo técnico do CDPM I contava com três psicólogos, que
trabalhavam de 8h às 15h nas segundas, quartas e sextas. Os atendimentos são
realizados mediante demanda dos próprios internos. Na prática, significa que nem
todos os internos serão atendidos toda semana, e deverão respeitar uma fila ou
ordem de preferência, muitas vezes estabelecidas pela influência que cada interno
exerce dentro da unidade para com seus pares. Ademais, como dito anteriormente,
não há sequer Unidade Básica de Saúde de fácil acesso aos presos provisórios
deste estabelecimento prisional — ou de qualquer outro na capital do Amazonas.
Dados obtidos pela DPE apontam também para a escassez no atendimento
odontológico. Há apenas dois dentistas disponíveis no CDPM I, fazendo atendi-
mentos de segunda à sexta. Contudo, em 2019, apenas duzentos presos — dos
quase mil custodiados naquela ocasião — estavam em atendimento agendado ou
realizado com tais profissionais. Tais assistências também são viabilizadas entre
os próprios internos, por meio de “catatau”, como são chamados os bilhetes pas-
sados de uma cela a outra ou mesmo para os agentes de ressocialização.
A atual administração do CDPM I, promovida pela empresa New Life Ges-
tão Prisional, não possui dados anteriores à coordenação anterior. Sendo assim,
divulgaram dados referentes apenas ao período compreendido entre agosto de
2020 e junho de 2021. Afirma a gestora que a unidade também oferece campa-
nhas de combate à tuberculose, doenças renais, cardíacas, dentre outras. Ademais,
não há informação quanto a campanhas de prevenção ao câncer, ou combate a
doenças psicossociais, tais como depressão, ansiedade, dentre outras. Na inspe-
ção realizada em 2019, a Defensoria Pública do Estado do Amazonas destacou a
ausência de bolsa de colostomia na unidade, embora houvesse, na ocasião, um
interno ostomizado.
Segundo a empresa privada, houve 5.500 atendimentos médicos neste es-
paço temporal. Se desprezados os sábados, domingos e feriados, existem 231 dias
disponíveis para atendimento médico entre agosto de 2020 e junho de 2021. A
jornada de trabalho não foi informada, pois a administração limitou-se apenas a
dizer que as equipes de saúde estão divididas em plantões. Desta forma, pode-se
afirmar que, em média, houve 24 atendimentos médicos diários durante o perío-
do analisado. Se há apenas dois médicos revezando os períodos de atendimento,
seria humanamente impossível atender todos os detentos com base nos números
divulgados.
Infelizmente, este dado não pode ser confrontado por outros meios, já que
a DPE afirma que a Administração Carcerária apresentou diversos obstáculos à
entrevista das pessoas custodiadas no CDPM, bem como registro de imagens.
Todavia, as reclamações das pessoas privadas de liberdade quanto à ausência de
atendimento médico é uma constante durante os atendimentos jurídicos da De-
fensoria Pública e, às vezes, na própria audiência de instrução e julgamento, o
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que acarreta na emissão de diversos ofícios à Direção da Unidade Prisional sobre
as omissões da gestora e pedidos de prisão domiciliar para fins de tratamento de
saúde, especialmente nos casos de recorrente demora da gestora.
4 Acesso à justiça
Com redação dada pela Emenda Constitucional nº 80/2014, a Defensoria
Pública é protegida constitucionalmente e definida como instituição responsável
pela promoção de direitos individuais e coletivos às pessoas necessitadas (BRA-
SIL. 1988). Sendo assim, é o órgão escolhido pelo Constituinte para adoção do
modelo de acesso à justiça desenhado, model state, para fins da garantia funda-
- 65 -
mental de assistência jurídica integral e gratuita prestada pelo Estado a quem se
encontra em estado de vulnerabilidade.
No âmbito da execução penal, a Defensoria Pública, ao lado do Juízo da
Execução e do Ministério Público, compõe as funções essenciais para a função ju-
risdicional de execução da pena aplicada. Logo, cabe a ela velar pela execução da
pena e da medida de segurança, atuando, no processo executivo e nos incidentes
necessários, para a defesa dos vulneráveis (BRASIL, 1984).
No estado do Amazonas, a instituição de proteção do vulneráveis cum-
pre esse munus, na forma do art. 16 e parágrafo 5º do art. 83 da LEP (BRASIL,
1984), contando com espaço apropriado para os atendimentos jurídicos diários.
Mais especificamente no CDPM I, a Defensoria Pública já realizou cerca de 5.638
atendimentos, sendo 1.310 no segundo semestre de 2019, 2.479 em 2020 e 1.849
apenas no primeiro semestre de 2021.
É preciso ressaltar que em 2020 os atendimentos foram suspensos em
13 de março de 2020, retornando em 13 de julho de 2020 com apenas 1/3 da
capacidade. Posteriormente, na iminência do aumento de casos pela COVID-19,
o atendimento presencial precisou ser suspenso novamente em 11 de dezembro
de 2020. Todavia, retornou no dia 25 de fevereiro de 2021, na forma de videocon-
ferência com a pessoa privada de liberdade. Portanto, no período de 18 meses, a
DPE afirma atender em média mais de cinco vezes ao ano cada um dos internos,
com média de um atendimento jurídico a cada três meses e meio.
Apesar dos desafios estruturais que a Defensoria Pública enfrenta para se
consolidar nas unidades prisionais, o órgão tem sido extremamente importante
na busca pelo acesso à justiça de maneira ampla e eficiente. Diante das ideias
defendidas por Cappelletti e Garth (1988), segundo os quais a segunda geração
de direitos fundamentais promoveu atuação positiva do poder estatal, verifica-se
que o aumento do orçamento destinado à DPE, contratação de estagiários de pós-
-graduação, bem como a designação de mais defensores públicos promoveu uma
ampliação drástica no atendimento ofertado às pessoas privadas de liberdade no
CDPM I. Contudo, como ensina Economides (1999), há ainda a necessidade de
fortalecimento do conhecimento jurídico também dos profissionais ligados à as-
sistência judiciária, de maneira ética e política. A intensificação dos atendimentos,
presenciais ou virtuais, deve vir acompanhada de uma nova mentalidade acerca
dos presos provisórios, pessoas hipervulneráveis que já sofrem com estigmas per-
petrados pela mídia e pelo próprio sistema de justiça (CALLEGARI; ENGEL-
MANN; WERMUTH, 2016).
O Centro de Detenção Provisória Masculino I (CDPM I) é uma unidade
prisional destinada a pessoas privadas de liberdade que não foram condenadas,
mas que estão cumprindo prisão temporária ou preventiva. Contudo, a própria
SEAP e a empresa gestora afirmam que o estabelecimento abriga pessoas já con-
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denadas ao regime fechado, situação que vai de encontro ao estabelecido pela Lei
de Execução Penal, que veda expressamente a reunião de presos provisórios e
condenados no mesmo ambiente. Além disso, não há separação entre os custodia-
dos de acordo com o tipo de crime cometido, contrariando novamente preceitos
fundamentais.
É nítido ainda que, se não fosse a constante intervenção da Defensoria
Pública do Estado do Amazonas, bem como de visitas prisionais promovidas pelo
Conselho Nacional do Ministério Público e pela Comissão de Direitos Humanos
e Minorias da Câmara dos Deputados, muitos dos dados divulgados oficialmente
seriam mascarados. No que diz respeito à saúde dos reeducandos, é notório que
a unidade não é capaz de prover o atendimento mínimo necessário, eis que mui-
tos dos internos utilizam o recurso de entrega de “bilhetes” para escolherem os
que serão efetivamente atendidos pela equipe. Além disso, o estado do Amazonas
frequentemente não fornece os medicamentos necessários para o tratamento de
doenças psicossociais, tais como depressão e ansiedade, o que pode ser uma das
causas de um suicídio relatado pela empresa New Life em 2020, quando iniciou
sua gestão.
Ademais, a gestão privada mostra-se ineficaz na tarefa de promover um
ambiente seguro não apenas para os detentos, como também para os agentes de
ressocialização e demais trabalhadores, e até mesmo para os familiares. A estrutu-
ra física da unidade prisional carece de melhorias no que tange à disponibilidade
de banheiros e bebedouros para as visitas, aumento no número de celas para evitar
a superlotação da cadeia, bem como para promover aumento nos atendimentos
médicos e psicológicos.
Por meio deste artigo, buscou-se promover a análise crítica acerca da estru-
tura do CDPM I. Para isso, foram utilizados tanto dados fornecidos pelo Núcleo
de Atendimento Prisional da DPE até o primeiro semestre de 2021, como também
os relatórios formulados pelo CNMP e CDHM em 2019. A unidade prisional em
investigação mostrou-se extremamente fragilizada em termos de garantias aos
direitos fundamentais das pessoas privadas de liberdade. A superlotação é um
problema recorrente, além do tratamento indigno dado também às famílias dos
detentos.
Além disso, durante a pandemia de COVID-19, evidenciou-se que a Se-
cretaria de Administração Penitenciária – SEAP afirma que não houve infecta-
dos pelo novo coronavírus, ao mesmo passo que admite também que os detentos
sequer foram testados. Não fosse pelos atendimentos jurídicos fornecidos pela
Defensoria Pública do Estado do Amazonas, não haveria mapeamento necessário
para detectar as fragilidades do estabelecimento prisional, que verificou lotação
acima da capacidade no ano de 2019, além de condições insalubres às quais foram
submetidos os assistidos.
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Por fim, graças à constitucionalização da Defensoria Pública como ins-
tituição responsável por promover acesso à justiça e trabalhar na proteção de
direitos humanos (BRASIL, 1988), houve a possibilidade de detectar um trabalho
institucional sólido dentro do CDPM I. O Núcleo de Atendimento Prisional da
DPE deu o primeiro passo na ampliação dos direitos fundamentais das pesso-
as privadas de liberdade. Contudo, para que haja melhorias no sistema prisional
como um todo, é de suma importância que se adote não apenas o fortalecimento
organizacional, como também a mudança de paradigma dos profissionais ligados
diretamente ao atendimento dos detentos, conforme leciona Economides (1999).
Referências
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Anexos
Fotografias complementares do Centro de Detenção Provisória Masculino
I (CDPMI)
Imagem 1: CDPMI
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CAPÍTULO VII
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Detenção Provisória Masculino de Manaus II, apresentando fatos desde as tratati-
vas para sua construção, descrevendo a estrutura física, os principais movimentos
de subversão e óbitos que ocorreram, discorrendo de maneira objetiva sobre o
sistema de gestão adotado, bem como apresentar o CDPM II em seu contexto atu-
al, apontando os serviços carcerários que estão sendo desenvolvidos em prol das
pessoas privadas de liberdade recolhidas naquele ambiente penitenciário.
1. Origem
O Centro de Detenção Provisória Masculino de Manaus II – CDPM II, foi
construído em um cenário caracterizado pela superlotação das unidades prisio-
nais existentes no Amazonas no ano de 2013. Até então, Manaus contava com as
unidades Complexo Penitenciário Anísio Jobim Regimes Fechado e Semiaber-
to, Instituto Penal Antônio Trindade, Centro de Detenção Provisória de Manaus
I, Centro de Detenção Provisória Feminino, Penitenciária Feminina de Manaus,
Unidade Prisional do Puraquequara e a centenária Cadeia Pública Raimundo Vi-
dal Pessoa, totalizando 3.385 vagas para um universo de 7.455 pessoas encarcera-
das na capital, conforme o Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias
-INFOPEN referente ao primeiro semestre de 2014 (BRASIL, 2014).
Nesse período, conforme questionário preenchido pela Unidade Prisio-
nal, os presídios localizados no quilômetro 8 da rodovia BR 174 eram facilmente
acessados por quem tivesse interesse em aproximar-se de suas muralhas. Muito
embora situadas a uma distância de até 2 km da estrada, não havia controle na
entrada do ramal22 de acesso às unidades para identificar veículos ou pessoas que,
inclusive, podiam caminhar a pé até os portões das unidades prisionais
O comércio informal era instalado desde o início da pista que unia a ro-
dovia até as instituições carcerárias. Desde a venda de alimentos e bebidas até o
transporte clandestino de pessoas acontecia, principalmente nos dias de visitação
aos reclusos. Isso em muito se justificava porque nesse período era permitido que
os familiares levassem comidas, bebidas, roupas e variados utensílios pessoais
para seus parentes presos.
Toda essa movimentação e a permissividade da entrada de materiais nas
unidades prisionais fragilizava a fiscalização do sistema prisional, inclusive du-
rante o procedimento de entrada de visitantes e controle do trabalho de agentes
carcerários. Somado a esses fatores, as unidades prisionais não contavam com
aparato tecnológico condizente com a necessidade e, assim, uma variedade de
ilícitos e outros objetos que não se coadunam com o ambiente carcerário estavam
facilmente acessíveis aos reclusos, tais como drogas, telefones celulares e bebidas
alcoólicas.
Não obstante a construção de uma unidade prisional seja precedida de trâ-
mite burocrático envolvendo desde visitas técnicas, elaboração de projeto básico,
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estado do Amazonas, segundo dados do Relatório de População Carcerária da
Capital e do Interior do Estado do Amazonas emitido dia 28 de setembro de 2017
(AMAZONAS, 2017) pela Secretaria de Estado de Administração Penitenciária.
2. Inauguração
Diante da guerra entre facções criminosas dentro das unidades prisionais e
as ameaças prementes por novas rebeliões, o estado resolveu, de maneira emer-
gencial e em decorrência do massacre ocorrido em 1º de janeiro de 2017, voltar a
ocupar a então desativada Cadeia Pública Raimundo Vidal Pessoa como medida
para salvaguardar a vida dos internos ameaçados em diferentes unidades prisio-
nais e também evitar a concretização de novas rebeliões.
A Cadeia Pública Raimundo Vidal Pessoa já estava desativada desde ou-
tubro de 2016 por recomendação do CNJ, estando sem condições estruturais de
abrigar os 284 internos que para lá foram emergencialmente transferidos. Toda a
falta de estrutura para o recebimento desses indivíduos advindos de outras unida-
des prisionais resultou em novos episódios de tumultos que ocasionaram novas
mortes e mais detentos feridos.
Desta forma, dado o cenário conturbado e a necessidade de desocupação da
Cadeia Pública Raimundo Vidal Pessoa, os internos foram transferidos em maio
de 2017 para o então não-finalizado Centro de Detenção Provisória Masculino de
Manaus II (CDPM II).
É necessário destacar que, muito embora a unidade prisional fosse projetada
para abrigar presos provisórios, devido à superlotação carcerária o CDPM II
passou a abrigar, desde sua ocupação inicial, tanto presos provisórios quanto sen-
tenciados. Assim, em 28 de setembro de 2017 a unidade prisional foi inaugurada.
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Foto 1: Imagem do Centro de Detenção Provisória Masculino de Manaus II
Fonte: SEAP/AM.
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mortes que tiveram como causa parada cardiorrespiratória e perfuração pulmonar,
respectivamente. Até junho de 2021 foi registrado um óbito que teve como causa
asfixia mecânica (AMAZONAS, 2021c).
5. Cogestão
No início das atividades da Unidade, em maio de 2017, o CDMP II estava
sob gestão plena do estado e suas atividades eram executadas por um número
reduzido de agentes penitenciários. Cabe destacar que até o ano de 2015 a gestão
prisional era subordinada, no âmbito do Poder Executivo, à Secretaria Estadual
de Direitos Humanos, Justiça e Cidadania. Foi a Lei n.º 4.163, de 09 de março de
2015 (AMAZONAS, 2015) que instituiu a Secretaria de Estado de Administração
Penitenciária do Amazonas. Assim, com a criação de pasta específica para tratar
dos assuntos pertinentes à administração prisional, servidores que ingressaram
em concurso ocorrido na década de 80 foram remanejados e passaram a compor
o quadro de agentes penitenciários em virtude de simples decreto governamental.
Devido à falta de servidores para atender às necessidades administrativas e
da carceragem do novo presídio, somados à impossibilidade de concurso público
naquele momento e à carência de aparelhamento de segurança do próprio estado,
decidiu-se pela celebração de contrato de cogestão da unidade, sendo a Empresa
Embrasil Serviços LTDA a primeira instituição privada a prestar os serviços pri-
sionais no CDPM II através de contrato emergencial, com início de suas ativida-
des em agosto de 2018.
Não obstante oficialização do contrato de cogestão, os cargos de chefia
da unidade, a dizer, Diretor da Unidade, Diretor Adjunto, Gerente de Estatística,
Gerente de Segurança Interna e Gerente de Segurança Externa, permaneceram
sob responsabilidade de servidores do Estado vinculados à Secretaria de Estado
de Administração Penitenciária.
Após o encerramento do contrato emergencial a referida empresa conti-
nuou a prestar serviços em carácter indenizatório até a conclusão do processo
licitatório em julho de 2020. A partir de agosto do referido ano a unidade prisional
passou a ser gerida pelo Consórcio Gestão Prisional do Amazonas – CGPAM,
constituído pelas empresas Embrasil Segurança LTDA e Embrasil Serviços LTDA
(hoje New Life Gestão Prisional), com prazo contratual de 60 meses.
Apesar dos custos da cogestão no Brasil, o modelo de terceirização tem
sido um buscado por diversos estados na tentativa de cumprir satisfatoriamente as
assistências estabelecidas pela Lei de Execuções Penais e demais normas nacio-
nais e internacionais de proteção aos direitos humanos.
A terceirização, no entanto, não exclui a necessidade de realização de con-
curso público para o aparelhamento da administração penitenciária estadual, de
modo a garantir que a gestão do sistema prisional seja efetivamente exercida pelo
- 77 -
estado, mediante a contratação de alguns serviços terceirizados.
Ao analisar o Contrato de Cogestão disponibilizado pela Administração
Penitenciária observa-se os seguintes valores de operacionalização do CDMP II:
6. Tecnologia, Equipamentos
O CDPM II, em sua inauguração, contava com raio-x e câmeras internas
e externas como equipamentos destinados à segurança. Atualmente, além de au-
mentar a quantidade desses equipamentos instalados, verificou-se o investimento
em outras modalidades de dispositivos que visam dar segurança no ambiente pri-
sional conforme análise do Projeto Básico do Contrato de Cogestão.
Em dezembro de 2017, a unidade passou a utilizar body scanners adqui-
ridos pelo Departamento Penitenciário Nacional para reforçar a segurança du-
rante a entrada de pessoas, sejam elas servidores públicos, da cogestão, pessoas
privadas de liberdade ou visitantes em geral. Além disso, há também o uso de
banquetas, portais e raquetes, todos equipamentos de raio-x que buscam detectar,
no corpo do indivíduo, a introdução de objetos ilícitos
Atualmente a Unidade conta dispõe de drones, câmeras com infraverme-
lho, câmeras de 360º, além de outras 90 câmeras que monitoram as áreas de cir-
culação dos pavilhões, áreas de gramado, além do perímetro externo de toda a
Unidade. Além disso, há equipamentos de inspeção de veículos e câmeras endos-
cópicas que auxiliam nas revistas em celas (AMAZONAS, 2021c).
A Unidade implantou através do novo contrato de cogestão o sensor sís-
mico, que aciona a central em quaisquer tentativas de perfuração ao chão ou às
paredes da cela, que ajudou sobremaneira a conter a tentativa de fuga em fevereiro
de 2019.
7. Número De Vagas
Durante a pesquisa, a SEAP/AM (AMAZONAS, 2021c) informou que a
Unidade Prisional possui 571 vagas e atualmente conta com população carcerária
de 886 internos na data de 16/06/2021, sendo 324 sentenciados e 562 provisórios.
Ratifica-se que em 2019 a unidade prisional registrou a maior ocupação de sua
história, alcançando a marca de 1.286 apenados em suas instalações.
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Dentre as especificações quanto aos privados de liberdade, a SEAP/AM
informou que no CDPM II os internos são separados por tipologia de crime e
por identificação e vinculação à facções criminosas. Ainda, pontuou que mantém
pavilhão específico para internos autodeclarados LGBTQIA+.
Na data em que as informações foram prestadas, havia 17 estrangeiros,
sendo 8 colombianos, 4 peruanos, 3 venezuelanos, 1 espanhol e 1 africano, sendo
relatado que não havia indígenas autodeclarados. Conforme noticiado, os respec-
tivos consulados estavam oficialmente informados e, desde o ano de 2020, o Con-
sulado da Colômbia têm proporcionado cursos de capacitação em parceria com a
SEAP/AM para os apenados daquela nacionalidade.
8. Assistencial
Conforme consta no contrato de cogestão, a unidade atualmente oferece as
assistências previstas na Lei de Execução Penal. O atendimento à saúde ocorre
nos moldes da Política Nacional de Atenção à Saúde das Pessoas Privadas de
Liberdade (BRASIL, 2014) e conta com os seguintes profissionais: 01 médico
clínico, 01 médico psiquiatra, 06 enfermeiros, 03 técnicos em enfermagem, 01
farmacêutico, 01 odontólogo, 01 auxiliar de consultório dentário, 01 terapeuta
ocupacional, 03 profissionais de serviço social, 03 estagiários e 02 psicólogos.
Esses serviços de saúde representaram, aproximadamente, 32.374 atendimentos
no ano de 2020. Destaca-se que parte das medicações são disponibilizadas contra-
tualmente pela cogestora, havendo também repasse municipal e estadual.
Na assistência educacional, há o apoio de 1 pedagogo para atender a uni-
dade, visto que o ensino regular, fundamental e médio, é oferecido pelo estado. O
ensino superior é disponibilizado mediante a aprovação em vagas para curso EAD
em instituições privadas de ensino.
Durante a pandemia causada pelo novo coronavírus, a SEAP/AM infor-
mou que foram adotadas medidas sanitárias de contenção do vírus e realizados
procedimentos de triagem em todos os apenados que adentravam à unidade e que
passavam por processo de quarentena. A unidade não registrou óbitos nem infec-
tados por Covid-19.
Toda a assistência material obrigatória prevista pela LEP é oferecida pela
unidade prisional, que atende inclusive à Resolução 3, de 5 de outubro de 2017,
do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária-CNPCP (CNPCP,
2017) - quanto ao número de refeições ofertadas diariamente. Os presos recebem
colchão, kit de higiene pessoal e limpeza, fardamento e sandálias, conforme pra-
zos e quantidades estabelecidas em contrato.
No que tange à assistência social, além de atuar no procedimento acolhida
do interno, de cadastro de visitantes, contato com familiares, realiza também le-
vantamento de presos que necessitam de emissão de documentos civis, a partir do
que a SEAP/AM realiza mutirões em parceria dos órgãos emissores.
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As visitas sociais ocorrem mediante cadastramento prévio no sistema im-
plantado em 2019, o Visita Legal23. Em virtude da pandemia causada pelo novo
coronavírus, atualmente os visitantes, previamente cadastrados, realizam agen-
damento e podem adentrar à unidade prisional quinzenalmente, de segunda à
sexta-feira, divididos por pavilhão, nos turnos matutino e vespertino, conforme
disponibilidade. Foi também informado que as visitas de crianças estão suspensas
temporariamente.
É necessário ratificar que todos os visitantes precisam seguir os protocolos
internos estabelecidos pela SEAP/AM na Portaria Interna nº 12 de 2021 (AMA-
ZONAS, 2021b) e todos recebem, quando do seu ingresso na unidade, um kit
contendo preservativos, absorventes, máscara cirúrgica e lanche.
A assistência religiosa ocorre mediante solicitação das instituições e dos
próprios internos e, para tanto, é necessário que as entidades realizem cadastro,
junto à SEAP/AM, solicitando autorização para ingressar no presídio. Há também
a formalização de Termos de Cooperação Técnica - TCT que visam a doação de
bibliografia religiosa aos internos, tais como a Sociedade Bíblica do Brasil – SBB,
para a doação de bíblias.
A assistência jurídica no CDPM II, desde a sua inauguração, é realizada
pela Defensoria Pública do Estado do Amazonas e por advogados particulares.
9. Ressocialização
O CDPM II foi a unidade piloto na implantação do Programa Trabalhando
a Liberdade, instituído pela SEAP/AM em 2019, com a finalidade de constituir o
grupo de trabalhadores do sistema prisional. O programa envolve a capacitação e
a disposição dos reeducandos em vagas de trabalho para oportunizar a labortera-
pia e a ressocialização através de atividades que promovem a profissionalização.
Dados disponibilizados pelo CDPM II, em junho de 2021, informam que
foram realizados 19 cursos de capacitação profissional que, juntos, somam 304
apenados capacitados para o trabalho nos últimos dois anos. Desde a implantação
do programa foram abertas 241 vagas de trabalho em serviços como lavande-
ria, corte de cabelo, refrigeração, horticultura, suinocultura, avicultura, limpeza
e conservação, marcenaria, fabricação de blocos de concreto, além de diversos
serviços de manutenção predial.
A unidade também foi pioneira na realização de serviços externos para
manutenção predial em órgãos públicos e, atualmente, conta com equipe de
aproximadamente 70 reeducandos especializados na realização desses serviços.
Dentre os reeducandos envolvidos nas atividades de remição pelo trabalho, atu-
almente, 63 estão sendo remunerados conforme previsto na LEP e no Estatuto
Penitenciário do Amazonas.
23 https://visitalegal.am.gov.br/web/#/login
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A unidade prisional em 2021 implementou o Projeto De Volta Para Casa
para custeio de kits profissionais aos reeducandos que concluam cursos profis-
sionalizantes na unidade. Quando de sua progressão de regime ou alvará de sol-
tura, caso tenha concluído curso profissionalizante, o indivíduo receberá um kit
referente ao curso que realizou para que possa iniciar sua atuação profissional.
O projeto visa o incentivo ao trabalho e empreendedorismo como alternativa à
diminuição da reincidência criminal e consequente ressocialização.
No Centro de Detenção Provisória Masculino II também é desenvolvido o
Programa Conhecimento que liberta, favorecendo a remição pelo estudo/leitura.
O programa envolve o Projeto Remição Pela Leitura, executado em todo âmbito
do Sistema Prisional do Amazonas, o Projeto Mundo Melhor, que oferta cursos
de capacitação profissional na modalidade EaD e também envolve parcerias para
a oferta de cursos de ensino superior com instituições privadas, como a Estácio e
Kroton. Atualmente, no CDMP II, há 5 internos realizando cursos de ensino su-
perior, 84 internos já concluíram cursos de capacitação na modalidade EaD e 200
internos estão participando do Projeto de Remição pela Leitura.
Com uma narrativa sobre o panorama do sistema prisional no período an-
terior, concomitante a obra e após os primeiros meses de inauguração do CDPM
II e apresentando como os serviços carcerários atualmente são prestados nessa
unidade, o objetivo do trabalho foi alcançado pois reuniu dados que vão contri-
buir para novas pesquisas. Ao mesmo tempo, respondeu ao problema formulado
ao demonstrar como a unidade prisional foi estruturada para minimizar o déficit
carcerário no ano de 2013 no Amazonas. Por se tratar de uma unidade prisional
com 4 anos de existência, não há trabalhos similares narrando a historicidade
e, tão pouco, discorrendo sobre as condições materiais de encarceramento desse
centro de detenção.
O projeto do CDPM II originou-se da necessidade de ampliação do nú-
mero de vagas no sistema carcerário do amazonense que, em 2013, mantinha um
cenário de 7.455 pessoas encarceradas na capital para 3.385 vagas, conforme o
Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias -INFOPEN referente ao
primeiro semestre de 2014.
A construção teve início em junho de 2014 e o custo total da obra foi de
R$ 23.061.348,91 (vinte e três milhões, sessenta e um mil, trezentos e quarenta e
oito reais e noventa e um centavos). Em 9.903,79 m² de área construída, dispôs-se
de 571 vagas prisionais. A unidade prisional, ocupada em janeiro de 2017, foi ofi-
cialmente inaugurada em 28 de setembro daquele ano. As ondas de rebelião que
aconteciam em Manaus impulsionaram a transferência de presos para a unidade
em caráter de urgência e desde então houve registro de tentativas de subversão,
como lançamento de artefato para provocar a explosão da muralha, tentativa de
fuga, além de ter enfrentado a fuga de 35 internos mediante a escavação de túnel.
No mesmo período foram registradas 9 mortes.
- 81 -
No início das atividades o CDPM II estava sob gestão plena do estado mas
devido à falta de servidores, houve a contratação emergencial de empresa privada
para prestar os serviços prisionais a partir de agosto de 2018 até julho de 2020.
Em agosto de 2020, findo o processo licitatório, o Consórcio Gestão Prisional do
Amazonas assumiu as atividades.
Vários tipos de equipamentos de segurança guarnecem o CDPM II, como
aparelhos de raio-x, body scanner, sensor sísmico, câmeras endoscópicas para
revista nas estruturas de celas, drones, câmeras de 360º, câmeras com infraver-
melho, além de monitoração por vídeo nas áreas internas de circulação e áreas
externas.
Conforme dado apresentado pela Direção, os internos são separados segun-
do critérios como a incidência penal praticada e vinculação a facções criminosas,
sendo mantido um pavilhão específico para presos autodeclarados LGBTQIA+.
As assistências aos presos do CDPM II são prestadas, em sua maior parte,
pela empresa cogestora dos serviços prisionais. As demandas da saúde, por exem-
plo, representaram aproximadamente 32.374 atendimentos no ano de 2020. Des-
tacam-se as medidas sanitárias para a contenção ao novo coronavírus, de modo
que não houve registro de infectados e, tão pouco, de óbitos na unidade prisional.
A assistência material abrange itens pessoais, material de higiene e limpe-
za, além do fornecimento de 5 refeições por dia. A assistência social compreende,
dentre outras, ações para emissão de documentação básica e acompanhamento ao
cadastro dos visitantes.
Tanto a assistência religiosa quanto a jurídica ocorrem através da atuação
de entidades específicas. Aquelas, mediante cadastramento para a realização de
cultos; esta, por meio da Defensoria Pública do estado ou ainda por advogados
constituídos pelos presos.
Com a finalidade de capacitar o indivíduo e remir a pena, O CDPM II
desenvolveu o projeto piloto do Programa Trabalhando a Liberdade, no ano de
2019. Dados da SEAP indicam que, até junho de 2021, foram realizados 19 cur-
sos de capacitação profissional nas áreas de voltados a serviços como lavande-
ria, corte de cabelo, refrigeração, horticultura, suinocultura, avicultura, limpeza e
conservação, marcenaria, fabricação de blocos de concreto, além de serviços de
manutenção predial inclusive com trabalho externo em órgãos públicos. Ao todo
304 apenados participaram desses cursos.
Ainda com o escopo de remissão, além da leitura de livros existe o pro-
grama Conhecimento que Liberta com cursos na modalidade EAD inclusive em
parceria com instituições particulares de ensino superior.
Conforme já destacado o estudo limitou a apresentar a unidade e o contexto
prisional quando de sua construção. A pesquisa não se voltou a analisar as condi-
ções subjetivas do encarceramento, como a repercussão do número excedente de
presos e a taxa de oferta de vagas de trabalho/estudo frente ao número de internos.
- 82 -
Verificou-se uma unidade prisional bem estruturada, muito embora haja
um excedente na população carcerária que impacta na prestação das assistências
e, por esse motivo, medidas devem ser adotadas pelos órgãos competentes, como
Tribunal de Justiça e Ministério Público, para que haja celeridade nos julgamen-
tos dos presos provisórios. Noutra frente, deve-se buscar a ampliação de vagas
nos projetos de estudo e, principalmente, de trabalho pois, além da possibilidade
de serem remunerados com a atividade laborativa, há o aprimoramento da mão de
obra e uma melhor perspectiva de retorno ao mercado de trabalho com o alcance
da tão sonhada liberdade.
Referências
- 84 -
CAPÍTULO VII
Todos sabem, como advertia Osório Duque Estrada (Historia do Brasil), que
o rio Amazonas, “corrente transversal, com a disposição longitudinal dos
seus afluentes, ao mesmo tempo que é caminho internacional, está fadado a ser
o supremo regulador dos destinos do país››.
Anísio Jobim (1957)
24 Mestre em Segurança Pública, Cidadania e Direitos Humanos (UEA). Especialista em Direito Penal e
Processual Penal pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Tutor da Rede EaD (SEGEN/MJSP).
Professor do Curso de Formação Técnico Profissional da Polícia Civil do Estado do Amazonas/Instituto
Integrado de Ensino de Segurança Pública (IESP/SSP/AM). Professor da Escola Superior da Advocacia do
Amazonas (ESA/OAB/AM). Professor do Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais, Especialização em Ges-
tão Pública Aplicada à Segurança (CAO/PMAM/UEA). Pesquisador do Grupo Interdisciplinar de Estudos
da Violência (GIEV/UEA) e do Núcleo de Pesquisa em Políticas Públicas e Planejamento Governamental
(NUPEP/UEA). Profissional da Segurança Pública desde 2001.
- 85 -
A abordagem quali-quantitativa foi necessária para a compreensão da rea-
lidade pesquisada, permitindo analisar descritivamente os momentos vivenciados
pela unidade prisional.
Além da pesquisa bibliográfica e documental dos autores correlatos ao
tema, informações foram colhidas dos relatórios obtidos da Secretaria de Estado
de Administração Penitenciária – SEAP, da Defensoria Pública, ambas do Ama-
zonas, e do Departamento Penitenciário Nacional – DEPEN, assim como de pe-
riódicos jornalísticos, além de dados dos relatórios publicados pelo Mecanismo
Nacional de Prevenção e Combate à Tortura – MNPCT.
Visando garantir o alcance dos objetivos, o artigo foi delineado em cinco
subcapítulos que abordarão os seguintes aspectos: a ineficiência do sistema de
justiça criminal, o histórico da unidade correcional e fatos relevantes, inspeção do
MNPCT antes da rebelião de janeiro de 2017, a realidade atual, e a criminalidade
intra e extramuros – retrato da influência das facções amazonenses.
- 86 -
pois dos fatídicos eventos da rebelião de 2017 – a mesma diuturna rotina fou-
caultiana de aplicação da pena, explicitada na obra Vigiar e Punir: Nascimento da
Prisão (Foucault, 2004), por vezes erroneamente compreendida, ainda em voga
na maioria dos presídios brasileiros, conjugando métodos de dominação da mente
pela doutrinação do corpo.
A aparente “paz do lago” ainda é auscultada nos corredores do Compaj.
A expressão cunhada nos cárceres amazonenses, frequentemente utilizada para
demonstrar a aparente contradição entre o que é visto na “superfície” das peni-
tenciárias, aparentemente pacata, como uma bucólica paisagem rural, e o que é
percebido nas profundezas do lago.
Nesse sentido, analisar os corredores sombrios da prisão objetivando per-
ceber a parte oculta do iceberg – naquilo que não está aparente, mas que continua
presente – ainda causa inquietude e desconforto. O fluxo ininterrupto de disputas
por poder das facções criminosas, entremeado por violência e corrupção, constan-
temente influenciado pelos ditames extramuros, continua paradoxal.
- 87 -
to Interno do estabelecimento prisional, publicado no Diário Oficial do Estado do
Amazonas, nº 25.142, de 26 de novembro de 1982.
A então colônia agrícola, mais tarde denominada de Complexo Penitenci-
ário Anísio Jobim, recebeu o nome do ilustre historiador, acadêmico, magistrado,
chefe de polícia, parlamentar federal e governador interino do Amazonas, Manoel
Anísio Jobim29, nascido em Anadia, no estado de Alagoas, em 1877, e falecido
no Rio de Janeiro, no ano de 1971. Autor da obra O Amazonas: sua história, per-
tencente ao acervo da Biblioteca Pedagógica Brasileira, coleção Brasiliana, um
“ensaio antropogeográfico e político”. (JOBIM, 1957).
Inicialmente, a Colônia Agrícola Anísio Jobim funcionava como terceira
fase do cumprimento da pena de reclusão, pelo fato de o estabelecimento penal
ter surgido na vigência da outrora parte geral do Código Penal brasileiro, de 1940.
O cumprimento da pena funcionava do seguinte modo: a primeira fase era de iso-
lamento total; a segunda consistia na realização de trabalho voluntário durante o
dia; e a terceira previa o cumprimento do restante da pena em colônias agrícolas,
conforme preceituava o art. 30, do respectivo código.
Após o advento da Lei n.º 7.209, de 11 de julho de 1984, disciplinando
a nova parte geral do Código Penal brasileiro, prevendo três regimes de cum-
primento da pena privativa de liberdade (fechado, semiaberto e aberto), coube
à então colônia agrícola a incumbência, por suas características de outrora, da
segunda fase da execução penal, o regime semiaberto.
Os presos provisórios e condenados coabitavam a antiga cadeia pública
do estado, a Penitenciaria Desembargador Raimundo Vidal Pessoa, sem qualquer
critério de classificação ou de individualização da pena. A unidade funcionava na
avenida 7 de Setembro, Centro, em Manaus, outrora denominada Unidade Prisio-
nal Central – UPRICENTRO, legalmente definida30 para ser o estabelecimento de
“segurança máxima” do estado, comportando o regime fechado.
Entretanto, na época da publicação da nova lei de execução penal, já com
a veemente progressão geométrica da população carcerária do Amazonas, não po-
deria persistir a existência de um local exclusivo para o cumprimento da pena em
regime semiaberto, em contrapartida com o preocupante fato de compartilhamen-
to de presos, cumprindo regimes diversos, ocupando o mesmo estabelecimento.
Nesse diapasão, iniciou-se o processo para adaptação da colônia agrícola
em complexo penitenciário para o regime fechado – fato que somente efetivou-se
em setembro de 1999, cerca de 15 (quinze) anos depois da publicação da reforma
da execução penal, quando retornaram as obras no local para, dentro da área da
colônia agrícola, construir um edifício com as características de estabelecimento
adequados para o regime pretendido, nascendo assim o Compaj.
29 http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/jobim-manuel-anisio.
30 Portaria 076/82-GAB, do secretário de estado do Interior e Justiça, aprova o Regimento Interno, Lei nº
524, de 18 de outubro de 1906.
- 88 -
Em 1º de junho de 2014, a empresa de administração de presídios Umani-
zzare assumiu a cogestão do Compaj, a qual tinha como objetivo o emprego de
diversas práticas e ações já desenvolvidas por ela em outras unidades prisionais, e
que poderiam humanizar o cumprimento da pena pelo custodiado.
O contrato com a referida empresa durou até maio de 2019, cerca de 30
meses após a impactante rebelião de 2017, quando o Governo do Amazonas anun-
ciou que já estava iniciando o processo de cotação de preço para contratação de
outra empresa para administrar o COMPAJ31. O anúncio aconteceu logo após as
19 mortes que ocorreram no presídio, entre 26 e 27 de maio de 2019. (referência).
31 http://www.amazonas.am.gov.br/2019/05/governador-wilson-lima-anuncia-fim-do-contrato-com-uma-
nizzare-e-nova-licitacao-para-cogestao-de-presidios/
32 https://brasil.elpais.com/brasil/2021-04-28/linha-de-frente-na-guerra-entre-faccoes-no-amazonas-
-bairro-da-compensa-em-manaus-vive-dias-sangrentos.html - https://d.emtempo.com.br/policia-amazo-
nas/307409/cdn-e-cv-deixam-rastros-de-sangue-na-disputa-do-trafico-no-coroado;
- 89 -
de negociações, que duraram toda a madrugada, e contaram com a presença de
membros da Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Amazonas – OAB-AM,
de juízes do Tribunal de Justiça do Amazonas –TJ-AM , da Secretaria de Segu-
rança Pública do Amazonas – SSP-AM, além de grupos táticos da Polícia Militar
e Polícia Civil do Amazonas, e de policiais da Secretaria Executiva Adjunta de
Operações da SEAOP-AM, SSP-AM.
A SSP informou, durante o conflito, que no “massacre do Amazonas” a
maioria dos mortos pertencia ao PCC. Atualmente, é considerada a terceira rebe-
lião mais letal da história do sistema prisional brasileiro, ficando atrás do motim
ocorrido no Centro de Recuperação Regional de Altamira33, no Pará, em 27 julho
de 2019, vitimando 58 (cinquenta e oito) detentos e, do episódio do Carandiru34,
ocorrido em São Paulo, em 2 de outubro de 1992, no qual 111 (cento e onze) pre-
sos foram mortos.
Em 03 de janeiro de 2017, o Instituto Médico Legal – IML estadual afir-
mou que cerca de 30 (trinta) presos haviam sido decapitados35. O Departamento
de Polícia Técnico-científica asseverou que a maior dificuldade do trabalho se-
riam as identificações dos detentos que foram carbonizados, informando, tam-
bém, a necessidade de exames de DNA para a liberação dos corpos.
33http://www.global.org.br/blog/altamira-maior-massacre-desde-o-carandiru-expoe-barbarie-estrutural-
-do-sistema-prisional-brasileiro/
34 https://www.conjur.com.br/2021-ago-11/stj-mantem-condenacao-pms-massacre-carandiru
35 https://www.nsctotal.com.br/noticias/massacre-em-penitenciaria-de-manaus-teve-30-decapitados-fo-
ram-identificadas-39-das-60
- 90 -
Imagem 2: Momento em que um parente de preso toma conhecimento da sua morte durante a
rebelião de 2017.
Fonte: https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2017/01/10/palco-de-
-massacre-presidio-de-manaus-ja-teve-rebeliao-com-13-mortos-em-2002.htm
- 91 -
Imagem 4: Presos são contidos e identificados no interior do pavilhão D, na manhã do dia 2
de janeiro de 2017, por policiais da Secretaria Executiva Adjunta de Operações da SSP– SE-
AOP/SSP-AM.
- 94 -
3.1. A distante localização do COMPAJ
Inicialmente, os peritos do órgão fiscalizador constataram que as unidades
visitadas estavam “a cerca de 30 km do centro” da cidade de Manaus, fato que na
intepretação deles dificultaria o acesso das famílias dos presos, obstaculizando “a
manutenção dos laços afetivos”, orientação externada na Lei de Execuções Penais
– LEP , nº 7.210, de 11 de julho de 1984.
- 95 -
unidade havia sido projetada para 454 vagas, e esse número já foi alcançado no
ano da sua inauguração, em 1982.
Em janeiro de 2016, o complexo atingiu sua maior lotação registrada, qual
seja, a de 1.268 presos. Em maio de 2020 esse quantitativo era de 1.060 presos,
mais que o dobro do número inicial previsto – circunstância comumente presente
na realidade prisional brasileira. (BRASIL, 2020).
Outro fato relevante apontado pela inspeção foi a alta rotatividade laboral
dos funcionários terceirizados e a falta de atendimento médico adequado, bem
como o acompanhamento psicossocial e jurídico insuficiente. Ressaltando-se,
também, a falta de servidores concursados para o desempenho das funções peni-
tenciárias.
No Amazonas, desde a promulgação da Constituição Federal – CF de 1988,
nunca houve concurso45 para agente penitenciário, agora denominados policiais
penais46, por força da Emenda Constitucional 104. No Pará, o governo do estado
já realizou concursos para suprir as vagas de agentes penitenciários. Essa medida
tem sido positiva no combate à criminalidade, onde se percebe um enfrentamento
mais efetivo às facções do estado. Um novo concurso47 público encontra-se em
andamento objetivando a nomeação de 1.945 novos policiais penais estaduais.
4 Realidade atual
Hodiernamente, o Compaj é destinado ao cumprimento do regime fecha-
do, abrigando apenas os presos sentenciados. Sua capacidade inicial era para 454
presos, quantidade atingida na inauguração. Segundo relatório48 de 28 de maio de
2021, a Secretaria de Estado de Administração Prisional asseverou que o presídio
abrigava 1.060 internos. Na data da última visita do MNPCT, 22 de outubro de
2019, abrigava 976.
Fato relevante apontado nos relatórios do MNPCT (2016 e 2020) refere-se
à “terceirização das funções de agente penitenciário”. Verificou-se que os agentes
terceirizados não concursados são classificados contratualmente como “agentes
de ressocialização e não de segurança prisional,” (BRASIL, 2020, p.68).
Nesse sentido, continuam apresentando “baixas remunerações, simplifica-
ção das atribuições práticas dos agentes penitenciários”; a atividade dos agentes
“dentro dos pavilhões das unidades prisionais, em boa parte se resume a abrir as
celas no início da manhã e fechá-las ao final da tarde”. (BRASIL, 2016, p.19-
20). Atualmente, segundo a SEAP, o Grupamento de Intervenção Prisional – GIP
acessa diuturnamente o interior da unidade para apoiar os agentes terceirizados no
deslocamento dos presos.
45 https://folhadirigida.com.br/concursos/noticias/secretaria-de-estado-de-administracao-penitenciaria-2/
com-apoio-de-moro-amazonas-pede-concurso-para-agente-penitenciario;
46 https://www.camara.leg.br/noticias/621785-promulgada-emenda-constitucional-que-cria-policia-penal-
-para-atuar-no-sistema-prisional/;
47 https://folhadirigida.com.br/concursos/noticias/seap-pa/concurso-seap-pa-2021-edital.
48 Memorando n.º 167/2021-GAB/COMPAJ/RF, em resposta ao Memorando Circular n.º 0057/2021/CO-
SIPE/SEAP, de 28.05.2021.
- 97 -
Em relação aos “monitores de ressocialização” ou agentes de segurança,
a administração informou que existem no período noturno “52 monitores de res-
socialização, 01 supervisor e 02 supervisores adjuntos. Enquanto que no período
noturno são 33 monitores de ressocialização e 01 supervisor”. (AMAZONAS,
2021).
A unidade possui seis pavilhões com 110 celas coletivas, comportando “em
média, entre 9 e 11 detentos” por cela, segundo o Relatório de Inspeção em Esta-
belecimento Prisional, elaborado pela Defensoria Pública do Estado do Amazo-
nas, em 10 de março de 2020. Um dos prédios destina-se às atividades adminis-
trativas da unidade prisional, local onde se encontram o setor de estatística, bem
como a sala da direção. Outro edifício compreende o acesso aos pavilhões, entre
os quais um é voltado às atividades escolares.
Fonte: https://amazonasatual.com.br/seap-abre-2-processo-contra-a-umanizzare-pelas-mortes-
-de-19-presos-em-maio-de-2019/
- 98 -
Todos os pavilhões destinados ao convívio diário dos presos obedecem a um
mesmo padrão físico. Logo na entrada há um amplo pátio coberto, cheio de
mesas e bancos em cimento. No pátio externo há um campo de futebol, onde
os presos fazem esportes e outras atividades de lazer. Nas duas laterais desses
pátios ficam dispersas as diferentes celas. Todos locais pareciam relativamente
asseados, com paredes pintadas. Contudo, algumas celas eram bastante escuras
e sem muita aeração. Ao redor da unidade há́ um grande pátio, todo cercado por
um muro bastante alto, com arames farpados. Adicionalmente, estão os espaços
destinados ao descanso dos agentes penitenciários. (BRASIL, 2016, p.13).
As unidades prisionais masculinas são marcadas pela atuação das facções cri-
minosas, a FDN e o PCC. A FDN domina grande parte dos cárceres estaduais.
Já os membros do PCC ficam dispersos nos “seguros” das unidades (....) ou
seja, os cárceres amazonenses estão divididos por facções, o que gera um con-
texto de fortes disputas e tensionamentos entre grupos no sistema penitenciário
estadual. (BRASIL, 2016, p.17).
- 101 -
A união dos líderes José Roberto Fernandes Barbosa (Zé Roberto da Com-
pensa) e Gelson Lima Carnaúba (Mano G) objetivava o controle total das rotas
de drogas nortistas, assim como a imposição da nova facção perante as demais
organizações criminosas do país que começavam a se destacar nos estados ama-
zônicos.
O comando identificado na Operação “La Muralha”52, Polícia Federal53,
deflagrada em novembro de 2015, o relatório final54 da investigação de conheci-
mento público55, datado de 19 de janeiro de 2015, é esclarecedor:
Dentro dos muros dos presídios federais, os líderes da FDN uniram-se aos
do CV. Essa união é explicitada no relatório da operação da PF: “A aliança entre
as facções FDN e CV teria sido fechada no Presídio Federal de Campo Grande,
pelas lideranças Gelson Carnaúba, representando a FDN, e Caçula56, representan-
do o CV”. (ESTADÃO, 2017, pg. 30-31).
No entanto, nos meses derradeiros de 2016, uma grande cisão interna acon-
teceu na FDN, fato que ocasionou, no início de 2017, ordens de execuções dos
desafetos em toda a cidade de Manaus. Fato corroborado no inquérito policial da
Operação “La Muralha”:
Diversas mensagens interceptadas deixam claro que a FDN possui uma forte
relação ou aliança com o COMANDO VERMELHO – CV, facção criminosa
do Estado do Rio de Janeiro, e uma espécie de rixa com os membros da facção
PRIMEIRO COMANDO DA CAPITAL – PCC, existindo, inclusive, planos
para o assassinato de todos os membros desta organização criminosa paulista
que se encontram presos em Manaus (pelo menos 03 das principais lideranças
52 https://veja.abril.com.br/brasil/grampos-da-policia-federal-mostraram-plano-da-fdn-para-atacar-pcc/;
53http://www.adpf.org.br/adpf/admin/painelcontrole/materia/materia_portal.wsp?tmp.edt.materia_codi-
go=8605&tit=Operacao-da-Policia-Federal-mostrou-plano-da-FDN-para-atacar-PCC#.Ym8Opy_5RQI;
54 Relatório Final da Operação “La Muralha”, Polícia Federal, Superintendência Regional no Amazonas,
Delegacia de Repressão a Entorpecentes – DRE, IPL nº: 222/2014- SR/DPF/AM, Processo n º: 5276-
25.2015.4.01.3200 2a VF/AM, pg.19, janeiro de 2015.
55 https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/wp-content/uploads/sites/41/2017/01/Relatório-fi-
nal-IPL-222-de-2014-DRE-OPERAÇÃO-LA-MURALLA.pdf.
56 https://agorarn.com.br/brasil/investigadores-apontam-necessidade-de-bloquear-comunicacao-entre-li-
derancas-da-fdn/.
- 102 -
do PCC foram brutalmente assassinados nos últimos meses pela FDN dentro do
sistema, conforme se verá mais adiante). (ESTADÃO, 2017, pg. 30-31)
57 https://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/entenda-o-que-a-disputa-nacional-entre-faccoes-tem-a-ver-
-com-a-barbarie-no-presidio-do-amazonas.ghtml
- 103 -
prevalência do uso da cocaína seja de 1,75% da população adulta do país”, alertou
a organização. (UNODC, 2021).
Somando todas as drogas ilícitas, a ONU estima que existam 246 milhões
de usuários no mundo (cerca de 5% da população entre 15 e 64 anos), dos quais
27 milhões de pessoas seriam dependentes. Os números das apreensões são des-
tacados no relatório:
58 https://amazoniareal.com.br/o-crime-organizado-na-amazonia/;
59 https://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/609989-manaus-e-mais-tres-cidades-do-amazonas-sao-ataca-
das-pelo-comando-vermelho;
- 104 -
Mapa 1 – Principais países identificados como locais de origem e trânsito de remessas de
cocaína, conforme descrito pelas apreensões relatadas, 2015–201960
- 105 -
Nesse contexto, destaca-se o fato do Brasil ter sido “o país mais frequen-
temente relatado pelos países africanos como país de origem, partida ou trânsito
de remessas de cocaína, respondendo por 47% de todas essas notificações”, con-
forme afirmação do Escritório de Drogas e Crimes da Organização das Nações
Unidas:
- 106 -
Mapa 2 – Principais países identificados como origem62 e destino de remessas de cocaína,
conforme descrito pelas apreensões relatadas, 2015–2019
- 107 -
nos bairros e presídios de Manaus, bem como no município da Tabatinga/AM, na
tríplice fronteira Brasil-Peru-Colômbia.
O CV/AM também detém o controle da maioria das unidades prisionais
do Amazonas, possuindo as principais lideranças dentro do sistema correcional.
Apesar desse fato, o domínio do CV no Amazonas, que começou em fevereiro
de 2020, está ameaçado pela aliança entre as demais facções, inclusive a outrora
improvável união entre a FDN, atualmente Cartel do Norte – CDN, o PCC, e uma
nova fação denominada Revolucionários do Amazonas – RDA 67.
Nessa seara, a FDN aproximou-se do Primeiro Comando da Capital no
Amazonas. Essa aproximação foi articulada pelos líderes de ambas as facções,
com apoio da “sintonia dos gravatas” (núcleo de apoio jurídico da facção cri-
minosa), buscando também uma aliança com a facção fluminense do Terceiro
Comando Puro – TCP, atual aliada do PCC, no Rio de Janeiro, e inimiga do CV.
Derradeiramente, o relatório foi em fático asseverando que as “unidades
prisionais devem ser administradas pelo pessoal técnico penitenciário e não pelos
presos”, conforme recomendação do SPT68 para o Brasil (2012) e, que seja “ga-
rantida a imediata separação dos presos com base em critérios objetivos estabele-
cidos em normas nacionais e internacionais”. (BRASIL, 2016, p.38-39).
Atualmente, a justiça criminal vivencia uma crise sem precedentes, ori-
ginada pela ineficácia das políticas públicas de combate à criminalidade, que in-
cham o sistema prisional, como também geram descrença na ressocialização dos
apenados. É um sistema que se retroalimenta do crime em todas as suas esferas,
enquanto os figurantes do sistema não dialogam.
O poder intimidatório das fações, envolto na espiral tentativa de domina-
ção territorial, continua sendo usado para transformar um simples autor de “furto
no mercadinho” em mais um traficante do bairro, após ser catapultado para dentro
do presídio, entrelaçado pela disforme “massa carcerária”, exposto a uma lideran-
ça fictícia, apoiado pela “nova família”.
Fato recorrente dentro da grande “agência de trabalho do crime”, bene-
ficiada pelo crescente aumento da população carcerária, as facções criminosas
produzem todo tipo de “mão de obra” delituosa.
O relatório do MNPCT (2016), difundido cerca de um ano antes do fatídico
primeiro dia de 2017, data histórica e emblemática, marcando o hoje considerado
terceiro maior massacre do país, forjado nas paredes do Compaj, foi peremptório
ao tentar equalizar as problemáticas enfrentadas pelo maior presídio do Amazo-
nas. Incapaz de evitar a tragédia, mas cirúrgico ao apontar as possíveis sequelas
67 https://emtempo.com.br/27686/policia/membro-do-cv-responsavel-por-mortes-do-
-rda-e-pcc-e-preso-em-manaus/.
68 David Émile Durkheim - Sociólogo, psicólogo social e filósofo francês.
- 108 -
de um sistema que se “autogoverna”, onde os mecanismos de poder, como lembra
Foucault, ainda são primitivos e sanguinários, mesmo a humanidade vivenciando
o terceiro milênio.
O jovem pardo e/ou indígena, entre 15 e 29 anos, carente, morador dos
bairros da periferia da cidade, muitas vezes réu primário, é facilmente lançado
dentro dos grupos criminosos que comandam os cárceres, intimidados por grupos
criminosos organizados em estruturas hierárquicas empresariais. O “polo indus-
trial” carcerário amazonense gerado pelo sistema de justiça criminal continua em
plena operação no Compaj.
Derradeiramente, entendemos que os levantamentos apresentados por esse
estudo e os aspectos abordados possam contribuir para o desenvolvimento de tra-
balhos posteriores, visto que não possui a pretensão de esgotar a problemática de
origem multicausal.
Referências
- 109 -
do Sistema Nacional de Prevenção e Combate à Tortura-SNPCT, pertencente à
Secretaria Especial de Direitos Humanos. Relatório de visita a unidades pri-
sionais de Manaus-AM. Brasília, 2016. Disponível em: https://mnpctbrasil.files.
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- 111 -
- 112 -
CAPÍTULO VIII
- 114 -
Estrutura Da Unidade Prisional
O antigo local onde estava situado o regime semiaberto foi construído em
uma área de 37.800 m², possuindo dois pavilhões e um galpão para alocação dos
apenados. A unidade tinha capacidade para abrigar 138 apenados72, não obstante,
consoante informações prestadas pela SEAP, em 18 de agosto de 2016, havia 572
pessoas custodiadas na unidade.
- 115 -
Fotografia 03: Foto da pia de cozinha75:
- 116 -
pelos rebelados, concomitantemente, internos utilizaram a passagem aberta para
a fuga (CNJ, 2019).
Com a finalidade de reforçar a segurança no sistema prisional, realizando
procedimentos de varredura na unidade prisional do regime semiaberto, a Se-
cretaria de Administração Penitenciária - SEAP ingressou com pedido de provi-
dências na Vara de Execução Penal da Comarca de Manaus/AM, autuado sob o
número 0203049-84.2017.8.04.0001, requerendo a transferência dos apenados do
regime semiaberto para o cumprimento da pena mediante prisão domiciliar com o
uso de tornozeleira eletrônica.
Em ato posterior, a Defensoria Pública do Brasil, formada pelas Defenso-
rias Públicas dos Estado, do Distrito Federal e dos territórios e a Defensoria Públi-
ca da União, requereu o ingresso nos autos de pedido de providências, postulando
a interdição total da unidade do regime semiaberto. Para consubstanciar o pedido
de interdição da unidade, a Defensoria Pública juntou aos autos relatório de ins-
peção realizado no COMPAJ/Semiaberto, no dia 13 de fevereiro de 2017, tendo
sido constatado diversos problemas que impediam o funcionamento permanente
da referida unidade.
Foi apontado pela Defensoria Pública que o local de cumprimento de pena
do regime semiaberto não tinha nenhuma característica de unidade de regime se-
miaberto descrita na Lei de Execuções Penais. Relatou-se sobre a capacidade da
unidade suportar apenas 138 (cento e trinta e oito) vagas, possuindo uma estrutura
dotada de dois pavilhões sem condições mínimas de funcionamento e um galpão
dividido por madeira compensada sem característica de cela76. Abordou-se sobre
ausência de condição de habitabilidade do local, bem como a falta de segurança,
referindo-se, ainda, à inexistência de controle de entrada e saída das pessoas pri-
vadas de liberdade no regime semiaberto.
Em decisão, datada de 9 de fevereiro de 2018, o juízo da Vara de Execução
Penal reconheceu a ausência de condições de funcionamento do local onde era
cumprido o regime semiaberto e decidiu por interditá-lo definitivamente, funda-
mentando suas razões na dificuldade de acesso do apenado devido à localização
da unidade, distante das demais regiões da cidade de Manaus, bem como na pro-
ximidade com o local de cumprimento de pena no regime fechado. Além desses
fatores, o juízo levou em consideração a precariedade estrutural da unidade, a
condição de superlotação que se apresentava e, com isso, a impossibilidade de
fiscalização e controle sobre a população carcerária.
- 117 -
semiaberto necessariamente deverá fazer uso do referido dispositivo tecnológico
até que consiga a progressão de pena para o regime aberto ou lhe seja concedido
o direito de ir para livramento condicional.
- 118 -
tratada, denominada SINERGYE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO LTDA77,
possuindo a incumbência de monitorar e fiscalizar cada apenado durante 24 horas
por dia, por meio do sistema CHRONOS.
Cabe salientar que o contrato de terceirização contempla todo o estado do
Amazonas e cada tornozeleira eletrônica ativada custa mensalmente o valor de
R$ 283,00 (duzentos e oitenta três reais)78. À princípio o contrato contempla a
quantidade de 8.000 tornozeleiras.
Quando da pesquisa, existiam 5.370 tornozeleiras ativas, computando-se
nesse número as pessoas em cumprimento de pena no regime semiaberto (3.596
ativas.), em cumprimento de medida cautelar diversa da prisão (CPP, art. 319, IX)
ou em prisão domiciliar.
A instalação da tornozeleira eletrônica pelo apenado é realizada na sede
do COC, situado no prédio localizado na Avenida Codajás, número 400, bairro
Cachoeirinha. Após a instalação do dispositivo, o apenado recebe um Termo de
Anuência do Monitoramento Eletrônico. A partir do momento que o indivíduo dá
entrada no COC/SEAP, há a orientação, através de vídeos informativos, sobre a
utilização do equipamento, recebendo, inclusive, uma cartilha impressa com as
regras de conservação e manutenção da tornozeleira.
Depois de instalado o equipamento eletrônico no apenado, a empresa SI-
NERGYE recebe as informações necessárias para proceder ao monitoramento. O
referido monitoramento é feito a partir da sede da empresa, situado no estado de
São Paulo, contando com 25 funcionários para a realização desse serviço.
Todavia, a SINERGYE possui 9 funcionários presentes na cidade de Ma-
naus responsáveis por instalar a tornozeleira eletrônica e as manutenções físicas
necessárias, quando é entregue para o usuário um termo de acompanhamento de
todos os serviços realizados, o qual integra o relatório fornecido ao Judiciário,
caso necessário.
Atualmente, a tecnologia utilizada na tornozeleira eletrônica é a 2G e a
3G. A distinção entre elas é o tempo de ativação e a cobertura de rede; para a
primeira, em torno de 15 a 30 minutos; para a segunda, em torno de 2 minutos e
tem cobertura mais ampla. A tecnologia utilizada é semelhante à utilizada em um
celular, somada às posições de GPS. A tornozeleira utiliza a rede de qualquer das
operadoras de telefonia. Todavia, as redes da Vivo e da Claro atendem melhor a
cidade de Manaus e a região metropolitana.
77 O prazo de vigência deste contrato é de 12 meses (de 01.02.2021 a 01.02.02.2022), podendo ser pror-
rogado na forma da legislação vigente. (SECRETARIA DE ADMINISTRAÇÃO PENITENCIÁRIA DO
AMAZONAS).
78 O valor global estimado do contrato é de R$ 27.168.000,00 (vinte e sete milhões, cento e sessenta e oito
mil reais) e o valor mensal estimado é de R$ 2.264.000,00 (dois milhões duzentos e sessenta e quatro mil
reais), perfazendo um total de 8.000 (oito mil) tornozeleiras contratadas. (SECRETARIA DE ADMINIS-
TRAÇÃO PENITENCIÁRIA DO AMAZONAS).
- 119 -
Hoje, 92% das tornozeleiras já possuem tecnologia 3G, mas a intenção é de
que até o mês de outubro de 2021, a SEAP consiga alcançar o patamar de 100%
das tornozeleiras com tecnologia 3G, uma vez que a manutenção deste equipa-
mento é menor, quando comparada com a tecnologia 2G, bem como apresenta
mais estabilidade no sinal.
Faz-se mister mencionar que o regime semiaberto no interior do Amazonas
também é controlado pelo COC/SEAP, via monitoramento eletrônico. Para tanto,
faz-necessária a análise de viabilidade de sinal da rede telefônica da localidade,
para a implementação na região interiorana.
Em caso de problema na tornozeleira eletrônica, seja de qual tipo for, o
apenado deve agendar atendimento, sempre pelo número 0800.042.0099 de con-
tato da empresa SINERGYE, que funciona 24 horas por dia. Não obstante isso,
o COC/SEAP tem um canal de atendimento, por aplicativo de conversação (92)
99393-9330, que funciona de segunda-feira a sexta-feira, de 9h às 15 horas, com
o objetivo de orientar e auxiliar nesse agendamento.
Ainda, segundo informações do Coordenador do COC, a SEAP criará um
setor de recepção para atendimento presencial, possibilitando ao apenado realizar
o agendamento da manutenção da tornozeleira in loco com a empresa SINER-
GYE.
Isso porque, atualmente, ainda se tem chamados pendente para instalação
e/ou manutenção de tornozeleira eletrônica, que demandam uma força tarefa para
zerar a fila. As pendências antigas (desde 2015) dependem de uma atualização da
necessidade pelo COC, a partir da análise dos processos que impuseram a utiliza-
ção do equipamento, para se saber da atual necessidade.
Ressalta que para o ingresso no regime semiaberto, há uma fila de 970 pes-
soas apenadas aguardando a instalação e ativação da tornozeleira; para a liberdade
provisória ou domiciliar com monitoramento eletrônico, há fila de 613 pessoas
aguardando a instalação do equipamento; para a manutenção, há fila já agendada
até outubro de 2021.
Quanto ao procedimento para retirada da tornozeleira, há necessidade da
comunicação oficial da ordem, via malote digital, oficial de justiça ou e-mail ins-
titucional do COC. Entretanto, o COC sempre faz a verificação se não há outra
decisão em outro processo que mantenha o monitoramento eletrônico, para fins de
retirada, num prazo médio de 3 dias.
Por fim, é interessante colacionar que antes da pandemia do Coronavírus,
o COC atendia de 100 a 120 pessoas por dia. Após, em razão das medidas restriti-
vas impostas pelo governo do Estado do Amazonas e o COC ter passado 3 meses
sem atender (março de 2020 até a primeira semana de julho de 2020), houve a
limitação de atendimento para 40 pessoas por dia, ampliando-se esse quantitativo
mês a mês, conforme estudo epidemiológico pelo órgão responsável, até voltar-
- 120 -
-se à média antiga. Ainda, os protocolos da pandemia impuseram mudanças na
higienização do equipamento, o qual é feito em laboratório próprio da contratada,
sediado em Manaus.
A pesquisa desenvolvida é original na medida em que se debruçou a fun-
do no resgate da história do regime semiaberto masculino da cidade de Manaus,
abarcando, ainda, o atual modo de cumprimento de pena do referido regime, tra-
zendo para o leitor informações acerca da tornozeleira eletrônica, bem como dos
órgãos e empresas responsáveis pelo atual andamento do regime.
O regime semiaberto em Manaus era praticamente inexistente e sem con-
trole de quem nele entrava ou dele saía. A pessoa era liberada da cela no início da
manhã e deveria retornar no final da tarde, independentemente de estar vinculada
ao trabalho interno ou externo.
A Defensoria Pública, por meio do núcleo criminal, recebia diversas recla-
mações de que a chamada dos internos não era feita corretamente. Após 17h da
tarde, os servidores da SEAP ou terceirizada, encerravam a entrada na unidade,
lançando faltas e inadmitindo qualquer justificativa de atraso. A ausência na cha-
mada poderia ser considerada como falta grave no cumprimento da pena, ocasio-
nando a regressão de regime de cumprimento da pena do apenado para o fechado.
Além do mais, havia a possibilidade do apenado sair da unidade prisional
do regime semiaberto, se envolver em outro delito e retornar para a unidade, den-
tro do horário admitido, para fins de continuidade do cumprimento da pena.
Ainda, esse trânsito, sem o devido controle, de pessoas no ramal, contri-
buía para a ocorrência de práticas ilegais dentro do próprio sistema prisional de
regime fechado, tais como o transporte de objetos não permitidos, especialmente
celular e afins.
Embora tenha sido difícil a pesquisa sobre a história do regime semiaberto,
o texto conseguiu alcançar o objetivo de apresentar a origem, as transformações e
a situação atual da unidade, inclusive a crítica com a proposta de melhorias.
A decisão de substituir o regime semiaberto foi acertada, a uma para con-
ferir maior dignidade à pessoa, já que não havia estrutura física de celas para
receber os apenados na colónia agrícola; a duas, para permitir um maior controle,
o que é efetivado pelo monitoramento eletrônico, seja para a pessoa trabalhar, es-
tudar e se deslocar após autorização, seja para a fiscalização de restrição da liber-
dade em ambiente residencial indicado, semelhante à prisão domiciliar; a três em
economia de acordo com o princípio da eficiência da administração pública (CF,
art. 37), posto que o custo do monitoramento é de R$ 281,00 (duzentos e oitenta e
um reais) mensais em descompasso com o custo do interno na cela, média de R$
3.500,00 (três mil e quinhentos reais) mensais.
Todavia, o sistema de monitoramento eletrônico carece de melhorias, em
especial no procedimento de inserção da pessoa no programa. Atualmente, para a
- 121 -
pessoa que estava em liberdade provisória sem a tornozeleira, será necessário se
apresentar na POLINTER (21ª DIP do São Jorge) ou qualquer Delegacia, às 8h,
para submissão à audiência de custódia.
Este procedimento é moroso e acarreta custos desnecessários para a SSP e
para a SEAP, com o transporte da pessoa da Delegacia para a audiência de custó-
dia (Fórum Henoch Reis); depois para o CRT (ramal do complexo penitenciário,
situado no ramal do km 8 da BR-174) e após para o COC. Estes locais ficam dis-
tantes 30,2 quilômetros ou 50 a 100 minutos.
Tais idas e vindas poderiam ser substituídas somente pela apresentação do
apenado no Fórum Henoch Reis, especificamente ao juízo da condenação, que
imediatamente poderia conduzi-lo até a secretaria da custódia (local que tem até
mesmo celas disponíveis, caso necessário), para a realização da custódia. Atesta-
da a legalidade do mandado, a pessoa seria imediatamente encaminhada ao COC/
SEAP para o cadastro e ativação da tornozeleira. Assim, agindo, haveria econo-
mia de combustível e de hora de trabalho dos servidores dedicados ao transporte/
escolta, que poderiam ser aproveitados em outras atividades.
A proposta ainda vai além, quando a condenação do apenado pelos juízos
criminais fosse no regime semiaberto, antes da expedição de mandado de prisão
poder-se-ia conceder um prazo razoável para que o indivíduo comparecesse ao
juízo da condenação para o devido encaminhamento à audiência de custódia para
iniciar o cumprimento da pena. Caso não houvesse o comparecimento no prazo
determinado, seria tão logo expedido mandado de prisão, sendo então conside-
rado foragido. Tal medida reduziria custos com o envio de policiais para o cum-
primento de um mandado de prisão, já que alguns apenados possuem o interesse
de se apresentar espontaneamente, tendo em vista que não terão sua liberdade
completamente suprimida com o uso da tornozeleira eletrônica.
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- 123 -
- 124 -
CAPÍTULO IX
- 125 -
As presas sentenciadas foram transferidas para o COMPAJ, o que resolveu
por um momento a superlotação da Cadeia Feminina, a qual, passou a abrigar
somente o regime fechado de presas provisórias e o regime semiaberto, o que sig-
nificava uma grande conquista depois de mais de um século sem os olhares do Es-
tado para esta população, como descreve Ferreira & Valois (2006, p.130): “Esse
estabelecimento penal, comparado com os demais, é uma ilha de esperança na
possibilidade de efetivação das normas e princípios da Lei de Execução Penal”.
Imagem 01: Ala Feminina no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (COMPAJ) no ano 2001.
Mesmo que a Ala estivesse sido, previamente, pensada para receber o pú-
blico feminino, o COMPAJ, em sua inauguração, não era guarnecido por celas
adaptadas para comportar crianças, nem contava com creches, berçários, atendi-
mento psiquiátrico, ginecológico e nem pediátrico como estipula o Estatuto Peni-
tenciário do Amazonas em seu art. 9º:
- 126 -
Em paralelo a Ala Feminina do COMPAJ, (que mesmo com suas limita-
ções, significava um avanço no tratamento das mulheres sentenciadas, em cárce-
re, no estado do Amazonas), se encontrava a Cadeia Pública que ainda abrigava
o público feminino. Segundo o Conselho Nacional de Justiça, através do Mutirão
Carcerário do ano de 2013, a falta de estrutura da Cadeia Pública dificulta o trata-
mento para com os presos em geral, em especificidades com o gênero feminino,
pois, devido à superlotação os apenados ficam fora de suas celas durante todo o
dia e só retornam à noite para dormir, tendo que dividir uma cela projetada para
2(duas) pessoas com 15(quinze), cooperando assim para a proliferação de doen-
ças como Tuberculose, dermatoides, herpes entre outras.
Mesmo que o objetivo teórico do encarceramento de pessoas, esteja direta-
mente ligado a uma condição de reabilitação, não havia naquele lugar, condições
físicas, humanas, de saúde ou saneamento básico que contribuísse para a tão al-
mejada ressocialização. Redes de comunicações locais notificavam o descaso que
se encontrava a Cadeia Pública:
Sem dúvida, a quase secular Cadeia Pública é a unidade que apresenta cenário
mais grave e preocupante, tanto na ala masculina como na ala feminina, pois,
em ambas, há elevada concentração de internos e alto risco de proliferação
de doenças, por conta das deterioradas instalações do prédio. (MUTIRÃO
CARCERÁRIO - CNJ, 2013).
82 Fonte: Blog Post Ana Eufrázio. Ano: 2014 Disponível em: http://anaeufrazio.blogspot.com/2014/01/
condicoes-desumanas-cadeia-feminina-de-manaus.html
- 127 -
Imagem 02: Cadeia Pública Raimundo Vidal Pessoa – Ala Feminina
Referências
- 128 -
CAPÍTULO X
85 http://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2012/11/policia-contem-rebeliao-e-de-
tentos-deverao-ficar-sem-visitas-em-manaus.html
86 http://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2013/07/sejus-altera-contagem-e-eleva-
-numero-de-foragidos-do-ipat-no-amazonas.html
87 https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2013/08/25/termina-rebe-
liao-que-deixou-um-morto-e-quatro-feridos-em-manaus.htm
- 130 -
A Estrutura Física
Historicamente, a estrutura física do Instituto Penal Antônio Trindade
(“IPAT”) sempre foi classificada como péssima pelos órgãos de fiscalização e
controle do sistema penitenciário.
Ademais, os constantes eventos de motins e rebeliões contribuíram para
a completa destruição do sistema hidrossanitário da unidade prisional, fato esse
que tornou a situação da estrutura física do IPAT ainda pior, sendo constatada a
presença de água e esgoto correndo ao céu aberto no local.
Diante desse cenário, o Ministério Público ajuizou, no ano de 2013, ação
civil pública contra o Estado do Amazonas e a empresa Auxílio Agenciamento
de Recursos Humanos, cogestora da época, objetivando obter obrigação de fazer
consubstanciada na correção das diversas irregularidades constatadas em inqué-
rito civil, quais sejam: melhorias nas instalações sanitárias e de resíduos sólidos
e biológicos, cozinha, depósito de alimentos, corredor de acesso aos pavilhões,
pavilhões, celas, ambulatório médico, lavanderia que foi autuado no Tribunal de
Justiça do Amazonas sob o número 0628807-39.2013.8.04.0001.
Em perícia realizada os autos do processo em referência pelo engenheiro
Newton Carlos, em 28 de agosto de 2019, ainda foram identificadas as seguintes
não conformidades: ausência de tampa nos ralos dos corredores e da celas, as-
sentos sanitários nas celas e banheiros para portadores de necessidades especiais,
melhoria nos ralos das celas, infiltrações no teto das passarelas, recuperar a pin-
tura das celas e das suas portas, ausência de autoclave no ambulatório, ausência
de espaço adequado para isolamento de pacientes com doenças contagiosas ou
respiratórias e dotar sistema de exaustão no ambiente médico.
A ação permanece em curso em primeira instância até o presente momento
sem que tenha sido proferido provimento jurisdicional final pelo 1º Juiz da Exe-
cução Penal da Comarca de Manaus.
A péssima condição da estrutura física constou expressamente como um
dos pontos negativos do Relatório Final da Comissão Externa da Câmara dos De-
putados destinada a Acompanhamento e Verificação do Sistema Penitenciário em
Manaus ocorrida em maio de 2019, nos seguintes termos: “Na unidade prisional
Ipat, verificou-se alguns ambientes com esgoto a céu aberto, corroborando para
ausência de sanitização nas alas dos detentos, em especial a Ala C. Não há sanea-
mento básico nessa ala, dada sua condição de estrutura física precária.”
Esse é o cenário histórico da estrutura física da unidade e passamos a des-
crever a seguir o que foi identificado nas visitas realizadas ao local para elabora-
ção do presente capítulo.
Atualmente, o Instituto Penal Antônio Trindade (“IPAT”) é composto por
um prédio administrativo, portaria externa e interna, casa de gerador, canil, refei-
tório externo, 4 (quatro) pavilhões denominados de “A”, “B”, “C” e “D”, estrutura
- 131 -
médica, social, escolar, jurídico, laboratório de informática, salas para audiências
por videoconferência, parlatório, setor médico e de psicologia, conforme será me-
lhor detalhado a seguir.
O prédio da administração é composto pela sala do Diretor da Unidade,
Sala de Monitoramento de CFTV com 128 (cento e vinte oito) câmeras instaladas,
tanto de áreas internas da Unidade Prisional como também de áreas externas, sala
do diretor adjunto, setor de estatística, sala da gerência operacional, administra-
tiva e recursos humanos todas em perfeito estado de conservação e manutenção.
Na estrutura externa da unidade prisional foi construído, no ano de 2020,
um canil dispondo de 10 (dez) boxes para abrigarem os cães que são empregados
na segurança do presídio, estando o local em bom estado de conservação.
Já na portaria interna há local para identificação e procedimento de revista,
incluindo dois aparelhos de bodyscan, detector de metais do tipo portal e bastão,
duas máquina de raio X do tipo esteira e banquetas todos em pleno funcionamen-
to.
Passada a área da portaria interna, chega-se ao corredor principal da unida-
de prisional, estando logo ao seu lado direito a entrada de acesso a área psicosso-
cial, triagem e pavilhão D.
A unidade prisional conta no total com 134 celas, sendo 124 nos pavilhões
A, B e C, sendo metade no pavimento superior e a outra metade em pavimento
inferior, bem como 08 no pavilhão D em pavimento único e 02 na área de triagem
da Unidade que fica no acesso ao pavilhão D.
Importante mencionar que existem 2 (duas) celas para cumprimento de
sanção disciplinar no pavilhão A do lado direito da entrada, sendo estas individu-
ais, dispondo de apenas uma cama e banheiro.
As celas são em concreto, em forma de módulos, dispondo de 2,95m por
2,80m com quatro camas, chuveiro, “boi” e portas de ferro fechadas com visão
apenas pela portinhola, ventilação natural pelos fundos da cela e sem qualquer
ponto de energia elétrica, antes mesmo da edição da Resolução 16/2021 do Con-
selho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP)88.
Em sentido contrário, é necessário pontuar que a metragem da cela e sua
disposição não atende os parâmetros mínimos estabelecidos pelo Conselho Na-
cional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP)89, eis que sua metragem é
inferior a mínima prevista naquele ato normativo.
Os aludidos pavilhões dispõem cada um de uma área de vivência para visi-
tas e uma quadra de esporte, que até o ano de 2019 era apenas cercada por alam-
88 https://www.gov.br/depen/pt-br/composicao/cnpcp/resolucoes/resolucoes-2021/re-
solucao_n__16__de_10_de_junho_de_2021.pdf/view
89 Diretrizes Básicas para arquitetura penal - https://www.conjur.com.br/dl/resolucao-
-cnpcp-construcao-prisoes.pdf
- 132 -
brado. A partir de dezembro de 2019, foram reinauguradas e passaram a contar
com paredes de concreto ao seu redor e telas em sua parte superior, a fim de con-
ferir maior segurança e evitar arremessos de objetos proibidos, bem como fuga e
motim de internos.
A estrutura de cada pavilhão conta ainda com 3 salas de aula e uma oficina
de trabalho, estando em funcionamento neste momento, no pavilhão A uma fá-
brica de roupas que produz os uniformes dos internos, no pavilhão B existe uma
oficina para produção de utensílios de limpeza, tais como, sabonetes, detergentes
etc. e no pavilhão C uma serigrafia para finalização dos uniformes.
No que tange a estrutura de oferta de trabalho na unidade prisional, existe
ainda, no corredor central, uma fábrica de chinelos. Relevante anotar que os uni-
formes, utensílios de limpeza e chinelos produzidos são utilizados para consumo
dos próprios internos do Instituto Penal Antônio Trindade (“IPAT”) e da Unidade
Prisional do Puraquequara (“UPP”).
No corredor principal há ainda espaço destinado para atendimento médico
dos internos contendo a seguinte estrutura física: um consultório médico, uma
sala de enfermagem, de vacina, esterilização, expurgo, uma farmácia e duas celas
leito, com maca e estrutura para manutenção de internos sob observação da equi-
pe médica dentro da unidade prisional.
Antes de chegar aos pavilhões há ainda sala para o Grupo de Intervenção
Penitenciária, 06 (seis) salas para realização de audiências por vídeo conferência
e 03 (três) salas para parlatório presencial com advogados.
A sala de atendimento de psicologia conta com seis estações de atendi-
mento equipados com computador e telefone, já o setor social conta com quatro
estações de atendimento devidamente equipadas para atendimento, inclusive com
tablet.
- 133 -
mento de ingresso no estabelecimento, o emprego de cães para guarda e proteção
e auxílio nas revistas, a instalação de cerca elétrica em todo o perímetro externo,
instalação de rede de proteção na parte superior das quadras esportivas, utilização
de rádio comunicadores, câmeras corporais nos agentes de ressocialização duran-
te procedimentos de revista, drone para monitoramento da área interna e externa,
câmera de vídeo borescope que permite a visualização de ralos e áreas de difícil
acesso e a formação uma célula do Grupo de Intervenção Penitenciária (GIP) com
07 (sete) integrantes por turno no local.
Por outro lado, até o presente momento, não foi realizado concurso público
para a contratação de agentes de polícia penal no Estado do Amazonas, sendo toda
a mão-de-obra empregada terceirizada, com exceção do Diretor, o seu adjunto,
gerentes de segurança interna (GSI) e externa (GSE) e o responsável pelo setor
de estatística.
A empresa terceirizada disponibiliza 47 (quarenta e sete) agentes de resso-
cialização por período diurno e 21 (vinte um) durante o período noturno, isto sig-
nifica dizer que existe uma média de quase 15 (quinze) presos por agente durante
o dia e 33 (trinta e três) a noite.
O número de agentes penitenciários está proporcionalmente muito aquém
do previsto na Resolução 09/2009 do Conselho Nacional de Política Criminal e
Penitenciária (CNPCP) que estabelece a proporção média de 5 (cinco) presos por
homem.
Essa questão não passou despercebida pelo Relatório de Visita elaborado
pelo Conselho Nacional do Ministério Público que assim tratou da matéria: “Tal
número insuficiente, no Estado do Amazonas, guarda mais uma peculiaridade:
com a privatização do sistema prisional, a realização da segurança interna das
unidades penais se dá por “agentes de socialização” ou “agentes de disciplina”,
correspondendo a funcionários das empresas terceirizadas.”
O fato corrobora a necessidade de urgência na realização de concurso pú-
blico para provimento dos cargos de agentes de polícia penal no Estado do Ama-
zonas, já que o último certame da pasta ocorreu no longínquo ano de 1986.
Assim, embora seja inegável as melhorias realizadas tanto na estrutura fí-
sica como na adoção de novos equipamentos de segurança, a terceirização dos
agentes de ressocialização e o seu emprego em número insuficiente continua sen-
do um ponto sensível.
- 135 -
Quadro 3: Tipificação dos crimes cometidos pelos reeducantos do IPAT
CRIMES QUANTIDADE PERCENTUAL
CONTRA O PATRIMÔNIO 305 43,9%
LEI DE DROGAS 254 36,5%
CONTRA PESSOA 114 16,5%
LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA 22 3,1%
Fonte: SEAP/AM(2021) sintetizado pelos autores
Assistência Médica
O artigo 14 da Lei de Execução Penal incumbe ao Estado a obrigação de
prover assistência à saúde dos presos, em caráter preventivo e curativo, compre-
endendo atendimento médico, farmacêutico e odontológico, sendo que na ausên-
cia de aparelhamento deve ser providenciado o atendimento extramuro, mediante
autorização de saída concedida pelo diretor do estabelecimento penal.
A estrutura física do IPAT para fornecimento de assistência médica é for-
mada por um consultório médico, uma sala de enfermagem, de vacina, esteriliza-
ção, expurgo, uma farmácia e duas celas leito, com maca e estrutura para manu-
tenção de internos sob observação da equipe médica dentro da unidade prisional.
90 Art. 10. A assistência ao preso e ao internado é dever do Estado, objetivando prevenir o crime e orientar
o retorno à convivência em sociedade.
Parágrafo único. A assistência estende-se ao egresso.
Art. 11. A assistência será:
I - material;
II - à saúde;
III -jurídica;
IV - educacional;
V - social;
VI - religiosa.
- 136 -
A área médica do estabelecimento penal não é ainda credenciada como
Unidade Básica de Saúde, estando em processo de implantação perante os órgãos
competentes.
A equipe médica da unidade prisional é formada por 01 (um) auxiliar de
consultório dentário, 01 (um) odontólogo, 04 (quatro) enfermeiros, 01 (um) mé-
dico clínico geral, 01 (um) médico psiquiatra e 02 (dois) técnicos de enfermagem.
Os atendimentos médicos realizados pela equipe médica são basicamente
de cunho preventivo e curativo de baixa complexidade, de modo que, caso seja
necessário, procedimentos de maior complexidade e com especialistas são agen-
dados através do sistema de regulação dos entes públicos (SISREG) e realizados
mediante autorização de saída, existindo uma ambulância para escoltas médicas.
Além disso, foram realizadas e estão em curso campanhas junto aos inter-
nos para conscientização acerca da importância dos cuidados com a saúde física
e mental, tais como Dia Mundial da Câncer, Importância da Higiene Bucal, do
Controle da Asma, da Hipertensão Arterial e da Automedicação. As campanhas
envolvem também consultas, vacinação e fornecimento de vitaminas para fortale-
cimento do sistema imunológico.
Atualmente, a Secretaria de Administração Penitenciária (“SEAP”) infor-
ma que dentre todos os internos do estabelecimento foram identificados 57 (cin-
quenta e sete) internos com patologias identificadas, sendo a maioria com doenças
de pele (prurido, pápulas e eritenmatosas). O número de atendimentos médicos
e odontológicos realizados no estabelecimento prisional pode ser identificado no
gráfico abaixo:
Gráfico 01: Atendimento à saúde dos reeducandos do IPAT
Assistência Jurídica
O artigo 15 da Lei de Execução Penal assevera que deverá ser ofertada
assistência jurídica gratuita aos presos sem recursos financeiros para constituir
advogado, devendo tal mister ser exercido pela Defensoria Pública.
Embora o dispositivo legal atribuindo a Defensoria Pública o dever de
prestar assistência jurídica integral e gratuita aos presos necessitados tenha sido
expressamente incluído na LEP em 2010, anoto que, no Estado do Amazonas, tal
encargo foi assumido pela instituição apenas em julho de 2019 com a criação do
Núcleo de Atendimento Prisional (NAP-DPE-AM).
A Defensoria Pública dispõe de sala privativa pata atendimento no presídio
com 07 estações de atendimento e a equipe é formada por 07 residentes jurídicos
e 1 (um) Defensor Público que coordena as atividades no IPAT e no Centro de
Detenção Provisória Masculino II.
Antes disso, os contratos básicos de coogestão estabeleciam que os aten-
dimentos jurídicos eram obrigação das empresas contratadas, isto é, os presos
hipossuficientes eram atendidos pelos advogados empregados da coogestora do
estabelecimento penal.
A assistência jurídica integral e gratuita prevista na Lei de Execução Penal,
segundo apurado pelo Ministério Público, apresentava uma série irregularidades,
tais como falta de triagem da assessoria jurídica, agendamento irregular de aten-
dimentos e informações incompletas ao preso.
Diante disso, foi ajuizada Ação Civil Pública, no ano de 2017, em face do
Estado do Amazonas e da empresa UMANIZZARE nas unidades prisionais do
COMPAJ, IPAT, UPP, CDPM, CDPF e PFM, autuado no Poder Judiciário sob o nº
0614534-16.2017.8.04.0001, para tratar da regularização da assistência jurídica
fornecida.
O processo foi encerrado, em 28 de novembro de 2018, com a homologa-
ção do acordo firmado entre as partes para regularização deste cenário. Entretan-
to, conforme visto acima, apenas em julho de 2019, houve a criação do Núcleo
de Atendimento Prisional da Defensoria Pública e a assunção do atendimento. O
número de atendimentos jurídicos no IPAT podem ser observados pelo gráfico a
seguir:
- 138 -
Gráfico 2: Número de atendimentos jurídicos em comparação da população carcerária
- 139 -
A estrutura da equipe do setor psicossocial é formada por 03 (assistentes
sociais), 05 (três) estagiários de serviço social e 02 (dois) psicólogos, dispondo de
uma sala de atendimento para psicologia e outra para atendimento social, confor-
me já detalhado acima no presente trabalho.
No que tange a assistência educacional, há estrutura física de 09 salas de
aula e funcionamento da Escola Estadual Giovanni Figliuoulo, biblioteca e la-
boratório de informática para aulas por vídeo conferência, inclusive graduação a
distância.
Ademais, funcionam no aludido estabelecimento projetos educativos que,
em abril de 2021, contavam com 125 (cento, vinte e cinco) internos ativos, tais
como Bambu (preparatório para ENEM e ENCCEJA), Mãos Livre (Oficina de
Artesanato), Harmonizar (Curso de Música) e Alfabetizar (reforço diário para al-
fabetização).
Outrossim, mensalmente, é realizado ainda o projeto de remição pela lei-
tura, em que um exemplar de livro é disponibilizado ao detento para que seja
realizada uma resenha, atividade esta que, atualmente, conta com a participação
de 400 (quatrocentos) internos.
Em relação a formação profissional dos custodiados para o seu retorno ao
convívio social são ministrados cursos profissionalizantes, em parceria entre a
SEAP e o CETAM, tendo sido realizado nos anos de 2020 e 2021, os seguintes:
barbeiro, serigrafia, corte e costura, higiene e limpeza, instalação e manutenção
de ar condicionado, alvenaria, eletricista, pintura predial, bombeiro hidráulico e
serralheiro.
Para participação nos cursos profissionalizantes e posterior ingresso no
programa Trabalhando a Liberdade, os pretendentes passam por rigoroso proces-
so seletivo junto aos setores social, jurídico, psicológico e de segurança, bem
como é providenciada toda a sua documentação necessária, caso não haja.
Interessante observar que, após a finalização do curso profissionalizante, a
Administração Penitenciária tem utilizado da mão-de-obra capacitada no Projeto
Trabalhando a Liberdade, tanto em obras e oficinas dentro do sistema prisional,
mas também extramuros.
No caso do IPAT, é possível indicar que os internos que realizaram o curso
profissionalizante de corte e costura e higiene e limpeza estão trabalhando nessas
oficinas que funcionam dentro da própria unidade prisional.
Na mesma direção, aqueles que participaram do curso de alvenaria, pintu-
ra, bombeiro hidráulico e serralheiro trabalham na manutenção do estabelecimen-
to, tendo sido a própria mão-de-obra carcerária que realizou a reforma geral pelo
qual passou a penitenciária no ano de 2020, tais como, a construção dos canis,
adaptação das quadras esportivas, instalação de gaiolas de proteção e automatiza-
ção dos portões de acesso e etc.
- 140 -
É importante observar que todas essas atividades podem ser exercidas
profissionalmente e de maneira autônoma pelos custodiados após a sua progressão
para o regime semiaberto, fato associado ao recebimento do pecúlio, que pode co-
laborar para uma efetiva ressocialização.
Essa iniciativa além de proporcionar a profissionalização e trabalho dos
presos, possibilita a economia de recursos públicos, pois não há gasto de dinheiro
com a mão-de-obra nessa manutenção, mas apenas dos equipamentos e utensílios
necessários.
Relevante anotar que foi aprovada, em 28 de novembro de 2019, a Lei Es-
tadual 5.036/2018 regulamentando a remuneração da mão-de-obra carcerária no
Estado do Amazonas, estabelecendo a seguinte destinação dos valores: I – 25%
(vinte e cinco por cento), referente à assistência à família, a ser depositado em
conta corrente de um dependente, por ele indicado; II – 25% (vinte e cinco por
cento), referente a pequenas despesas do preso, a ser depositado em conta corrente
em nome do apenado ou de um dependente por ele indicado; III – 25% (vinte e
cinco por cento), referente ao pecúlio, que deverá ser depositado em conta pou-
pança em nome do apenado, a ser liberado quando posto em liberdade; IV – 25%
(vinte e cinco por cento), referente ao ressarcimento do Estado pelas despesas
realizadas com a manutenção do preso, a ser depositado no Fundo Penitenciário
do Estado do Amazonas - FUPEAM.
Neste momento, existem 147 (cento e quarenta e sete) reeducandos parti-
cipando do projeto de remição “Trabalhando a Liberdade”, o que significa 22%
(vinte e dois por cento) de toda a população carcerária daquele local.
Outro dado relevante acerca dos projetos de remição no IPAT é que no pe-
ríodo compreendido entre outubro de 2020 e março de 2021, somados os cursos
profissionalizantes, leitura e trabalho, houve participação total de 642 internos,
isto significa 98% (noventa e oito por cento) do total.
A partir dessa premissa e dos dados obtidos e expostos no presente tra-
balho, passa-se no presente capítulo a tecer algumas sugestões de melhoria para
aprimoramento do sistema prisional amazonense, são elas:
(i) realização de manutenção constante das celas, pavilhão e área de vivên-
cia utilizando a mão de obra carcerária;
(ii) adequação das não conformidades identificadas no laudo pericial da
ação civil pública 0628807-39.2013.8.04.0001;
(iii) maior oferta de vagas escolares para conclusão do ensino fundamental,
eis que a maioria dos internos está nessa fase escolar;
(iv) aumento do número de vagas no projeto “Trabalhando a Liberdade”
na unidade;
(v) adequação do número de agentes de ressocialização;
(vi) realização de concurso público para agentes de polícia penal;
- 141 -
(vii) alocação dos presos observando a divisão por tipo penal, conforme
determina a Lei de Execuções Penais;
(vii) adequação e habilitação do setor médico como Unidade Básica de
Saúde (UBS).
Referências
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Câmara dos Deputados destinada a Acompanhamento e Verificação do Sis-
tema Penitenciário em Manaus-AM – CEXPENI – 2019. In https://www.
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BRASIL. Conselho Nacional do Ministério Público. Relatório de Visitas Pri-
sionais - Amazonas.In:https://www.cnmp.mp.br/portal/images/Comissoes/CSP/
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BRASIL. Lei de Execução Penal. Lei 7.210/84, de 1984. In http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/leis/l7210.htm. Acesso em: 30 jun. 2021.
CAVALCANTE NETO, Alberto Barros. Relatório Final da Comissão Externa
da Câmara dos Deputados destinada a Acompanhamento e Verificação do
Sistema Penitenciário em Manaus-AM – CEXPENI – 2019. In https://www.
camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1761121&filena-
me=REL+1/2019+CEXPENI. Acesso em: 30 jun. 2021.
GOMES FILHO, Dermeval Farias. Relatório de Visitas Prisionais – Amazonas
– 2019. In:https://www.cnmp.mp.br/portal/images/Comissoes/CSP/RELAT%-
C3%93RIOS_DE_VISITAS/Relat%C3%B3rio_de_Visitas_Prisionais_-_Ama-
zonas_-_Final_-_PUBLICAR.pdf. Acesso em: 30 jun. 2021.
- 142 -
CAPÍTULO XI
1. Antecedentes históricos
Como resultado de convênio entre o estado do Amazonas e a União, a
Unidade Prisional do Puraquequara,95 localizada na Estrada do Puraquequara, km
8, Ramal Bela Vista, entrou em atividade em 11.11.2002, servindo inicialmente
- 146 -
Saulo Ricardo Amaral Santos da Silva
Leandro Souza de Lima
Chandler Pacheco da Silva
Thiago Orderdenge
Jean Carlo Silva de Oliveira
Robert Washington Barreto
Felipe da Silva Abreu
2. Rebeliões
Com pouco mais de dois meses de atividade, no dia 20.02.2003, a Unida-
de Prisional do Puraquequara já sofria a sua primeira rebelião. Em razão desse
fato, consubstanciado na ameaça que as rebeliões representavam às mulheres
recolhidas ilegalmente em uma ala daquele estabelecimento, com risco real de os
presos invadirem as alas femininas, a Unidade Prisional do Puraquequara deixou
de servir também como cadeia pública feminina. Assim, as presas provisórias
foram transferidas de volta ao Complexo Penitenciário “Anísio Jobim” (FERREI-
RA; VALOIS, 2006, p. 120).
Ainda segundo Ferreira e Valois (2012), no ano de 2003 a Unidade Pri-
sional do Puraquequara experimentou outras quatro rebeliões, que deixaram um
saldo de 13 mortos e as dependências internas destruídas. Em 2004 houve mais
uma rebelião que resultou na morte de sete pessoas, uma das quais era agente de
ressocialização.
Em outros momentos a Unidade Prisional do Puraquequara voltou a ser
palco de três rebeliões com mortos. Em janeiro de 2017, em desdobramento do
episódio conhecido como Massacre do COMPAJ, quatro detentos foram mor-
tos por detentos de organização criminosa rival (G1 AM, 2017). Além disso, em
2019, em nova rebelião motivada por briga entre facções criminosas, seis detentos
foram mortos asfixiados ou por estoques improvisados dentro das celas, por seus
próprios pares (PORTAL A CRÍTICA, 2019). Por fim, em maio de 2020, em plena
pandemia, houve nova rebelião em que os internos fizeram sete agentes de resso-
cialização como reféns, após uma tentativa de fuga frustrada. O motim deixou um
saldo de 17 pessoas feridas e galerias de celas inteiras destruídas (G1 AM, 2020a).
Infelizmente, como foi possível relatar, a história da Unidade Prisional do
Puraquequara é marcada por rebeliões desde sua inauguração, várias delas com
vítimas fatais.100 A localização e o isolamento são fatores que talvez contribuam
100 A experiência na execução da pena, principalmente nos procedimentos de apura-
ção de eventos criminosos no interior dos presídios, tem demonstrado que a maioria
das rebeliões são feitas como represália a fugas frustradas pela administração prisio-
nal, funcionando como instrumento de negociação dos presos rebelados para evitar a
imposição de penalidades para a infração disciplinar ou até crimes cometidos.
- 147 -
de forma decisiva para esses acontecimentos.101 A mudança do perfil de presos
destinados a esta unidade, além do aprimoramento dos equipamentos de segu-
rança, é medida da administração penitenciária no intuito de mudar esse destino.
101 Também não se pode perder de vista que, muitas vezes, as rebeliões são provo-
cadas para o reconhecimento de lideranças nefastas de criminosos sobre os demais
presos com o intuito de eliminar desafetos, impor novos líderes pela violência, mas,
na maioria dos casos, objetivam a saída da direção do estabelecimento, que adota
medidas rígidas para o cumprimento da lei e dos regulamentos.
- 148 -
Apesar de a grande maioria dos internos ser composta por presos provi-
sórios, havia, na época da pesquisa, 51 presos sentenciados em cumprimento de
pena em regime fechado. Há 72 internos trabalhando, inseridos em projetos de
remição pelo trabalho, dos quais 48 são remunerados. Importante destacar que
todos os sentenciados trabalham. Todos esses internos residem em pavilhão sepa-
rado dos demais presos e gozam de maior autonomia dentro da unidade. São raros
os episódios de fugas, apesar de que no ano de 2021 tenha havido a fuga de duas
pessoas trabalhando em serviço externo. A UPP conta com uma fábrica de blocos
de tijolos e, além dela, as atividades de remição englobam barbearia, lavanderia
e costura, cozinha, serviços gerais, manutenção, construção e reforma, e também
revitalização externa e horta.
Além dos 72 presos em remição pelo trabalho, há 10 presos em remição
pelo estudo e aproximadamente 250 internos em remição pela leitura. Importante
destacar que a remição pelo estudo alcança apenas presos em alfabetização, pois,
em razão do perfil do preso desta unidade, há grande rotatividade dos internos,
o que prejudica a permanência nas atividades escolares. Já a remição pela leitura
alcança presos da massa carcerária que se encontram nos pavilhões comuns.
Já tivemos a oportunidade de abordar a impropriedade do uso do termo
ressocialização, ocasião em que ressaltamos que não são apenas presos que deve-
riam ser “ressocializados”, afinal, a ressocialização não é uma função exclusiva
do direito penal, mas de qualquer ramo do Direito, e até da moral (FERREIRA,
2021, p. 195).
Não há presos cumprindo prisão civil nem medida de segurança na Uni-
dade Prisional do Puraquequara. Não há presos em celas de proteção, em medida
disciplinar, tampouco em cumprimento de regime disciplinar diferenciado. Em
caso de infração disciplinar mais grave, o interno é removido para outra unidade
prisional.
O banho de sol é feito nas quadras poliesportivas. Os locais também ficam
abertos em dias de visita dos familiares e amigos, além das celas e espaços de vi-
vência social. Antes da pandemia a visita ocorria nos fins de semana. Durante os
períodos mais críticos da pandemia, as visitas presenciais foram suspensas, mas
a SEAP desenvolveu a “televisita”. Atualmente as visitas ocorrem nas quartas e
sextas-feiras, de manhã e de tarde, e são agendadas por aplicativo, numa média de
60 a 80 visitas por dia. As visitas ocorrem para cada pavilhão a cada 15 dias, logo,
cada interno da Unidade Prisional do Puraquequara recebe visita duas vezes por
mês. Os presos têm direito a visita íntima, que ocorre nos dias de visitas. Não há
locais destinados à visita íntima, sendo assim, ocorre nas celas.
Em conversas informais com alguns internos, a facilidade de acesso dos
visitantes à unidade foi citada como ponto positivo do local em relação aos outros
estabelecimentos prisionais de Manaus, pois há pelo menos duas linhas de ônibus
- 149 -
que param praticamente na porta de entrada da Unidade Prisional do Puraque-
quara. Outra vantagem mencionada foi a possibilidade de acompanhar os jogos
do fim de semana de acordo com o estampido dos fogos de artifício das casas
vizinhas ao presídio, em caso de gol.
- 150 -
Quanto ao atendimento jurídico, a unidade conta com três cabines para par-
latório com os advogados, sendo realizados em média 15 atendimentos por dia,
de segunda a sexta, tanto em atendimento presencial quanto por videochamadas.
A assistência religiosa ficou suspensa durante a pandemia, quando foram
realizadas somente celebrações entre os internos, especialmente de cultos evan-
gélicos. Atualmente, em datas comemorativas religiosas são celebrados cultos e
missas. É permitida a distribuição de bíblias, e durante a pandemia a própria Ad-
ministração Penitenciária forneceu exemplares.
5. A gestão da UPP
A administração da Unidade Prisional do Puraquequara segue o formato
de Parceria Público-Privada, com terceirização parcial dos serviços, o que signi-
fica dizer que os efetivos da direção da unidade são pertencentes aos quadros da
SEAP, enquanto os demais agentes são terceirizados por empresa cogestora. A
administração é feita pelo Diretor, pelo Diretor Adjunto, pelo Gerente de Estatísti-
ca, pelo Gerente de Segurança Interna e pelo Gerente de Segurança Externa. Pela
empresa cogestora são fornecidos os 229 agentes de ressocialização, divididos
por turnos e equipes.
A cogestão na UPP começou em 2003, pouco tempo depois da inaugura-
ção, tendo sido operacionalizada pelo Instituto Nacional de Administração Pri-
sional Ltda. até 16 de abril de 2004. A partir de então assumiu a empresa Compa-
nhia Nacional de Administração Penitenciária – CONAP (FERREIRA; VALOIS,
2012). A empresa UMANIZZARE atuou na unidade de julho de 2013 a julho de
2020. Atualmente a empresa cogestora é a RH Multi Serviços Administrativos,
desde 1º de agosto de 2020.
O contrato atualmente vigente, Termo de Contrato nº 008/2020-SEAP, tem
prazo de duração de 60 meses, e engloba a gestão tanto da UPP quanto do Ins-
tituto Penal Antônio Trindade – IPAT (SECRETARIA DE ESTADO DE ADMI-
NISTRAÇÃO PENITENCIÁRIA, 2021). O valor mensal é de R$ 11.390.028,56
(onze milhões, trezentos e noventa mil, vinte e oito reais e cinquenta e seis cen-
tavos). Apesar de haver atualmente cerca de 830 pessoas custodiadas, a licitação
da Unidade Prisional do Puraquequara levou em consideração a quantidade de
1.100 internos.
A empresa cogestora fica encarregada de fornecer a mão de obra para o
funcionamento prisional, não apenas de agentes de ressocialização, mas também
de médicos, psicólogos, estagiários, assistentes sociais, estagiários, pedagogo e
até de condutores de cães.
A empresa cogestora é obrigada, pelo contrato, a fornecer a alimentação
dos internos, composta de cinco refeições diárias, ou seja, café da manhã, almo-
ço, lanche, jantar e ceia. A alimentação deve ser balanceada, em condições de
- 151 -
higiene, quantidade e qualidade adequadas. Também deve fornecer material de
cama, banho, utensílios para alimentação e vestimenta, composta por bermudas,
camisas, cuecas e sandália, recebidos quando da entrada na unidade e trocados a
cada seis meses.
Particularmente significativa é, a propósito do tema aqui abordado, a
questão relacionada ao custo do preso. Pela análise do Termo de Contrato nº
008/2020-SEAP, firmado entre o estado do Amazonas, por intermédio da Secre-
taria de Estado de Administração Penitenciária, e a empresa RH MULTI Serviços
Administrativos LTDA, e de acordo com informações fornecidas pela SEAP, o
custo mensal do preso naquela unidade prisional é de R$ 2.173,94.
Em artigo sobre o tema, FERREIRA (2018) defende que o custo do encar-
ceramento só se justifica com a resposta a questões fundamentais para o Direito:
realiza-se a justiça com a privação da liberdade de pessoas? Restabelece-se o
equilíbrio entre os membros da sociedade com a prisão do criminoso? O preço
pago para manter o autor do crime afastado da sociedade tem caráter compensa-
tório quanto à reparação do dano por ele causado? Sob a ótica da Análise Econô-
mica do Direito, se o encarceramento não tem retorno para a sociedade, torna-se
custoso, o que se afigura como “desperdício”.
A oportunidade de contar a história da Unidade Prisional do Puraquequara
e torná-la conhecida do público é, para os autores, motivo de satisfação em poder
contribuir para a produção do conhecimento na academia.
Como profissionais da área do Direito e estudiosos da execução penal, en-
tende-se que o resgate da história da Unidade Prisional do Puraquequara é uma
oportunidade de oferecer aos militantes na área da execução da pena, informações
importantes acerca do funcionamento de um dos maiores presídios do estado do
Amazonas. Sua história confunde-se com a história do próprio sistema penitenci-
ário do Amazonas.
A pesquisa que ora se apresenta, sem a pretensão de esgotar o assunto, é
suficiente para evidenciar algumas questões que permeiam as discussões sobre
o sistema prisional amazonense, especialmente a busca de explicações sobre a
quantidade de rebeliões pelas quais passou a Unidade Prisional do Puraquequara
desde a sua inauguração. Nesse particular, é forçoso destacar que na UPP, inva-
riavelmente, estiveram recolhidas as lideranças nocivas que integravam organiza-
ções criminosas, o que sempre trouxe um problema maior para ser administrado
pela direção. A própria terceirização daquela unidade prisional foi diferente de
outros estados, considerando que as empresas assumiram o presídio já em funcio-
namento e com vícios e defeitos de arquitetura e de pessoal, fatores determinantes
na fragilização da segurança.
O artigo procura trazer contribuição original para as discussões sobre as
pesquisas futuras sobre o sistema penitenciário do Amazonas, em especial, sobre
- 152 -
a Unidade Prisional do Puraquequara. Nesse particular, questiona-se se a UPP
realmente cumpriu os objetivos para os quais foi construída. O que precisaria me-
lhorar? Como isso pode ser feito? Apresenta-se, então, as seguintes conclusões:
A gestão compartilhada da Unidade Prisional do Puraquequara ainda não
se compatibiliza com a sua estrutura física, apesar dos esforços da SEAP/AM.
As responsabilidades do estado e da empresa terceirizada poderiam estar
definidas de forma mais adequada o que permitiria apuração mais eficaz pelos
órgãos de fiscalização, e não somente nos momentos de crise do sistema.
Como complemento do item 1, o regime disciplinar adotado na Unidade
Prisional do Puraquequara poderia ser aperfeiçoado, tornando-se mais compatível
com a estrutura física e com o pessoal penitenciário.
O custo do preso apurado na Unidade Prisional do Puraquequara poderia
ser revisto, ficando compatível com unidades prisionais de outros estados. Nesse
particular, seria importante o estado adotar providências no sentido de realização
de concurso público para contratação de agentes penitenciários.
A fiscalização da Unidade Prisional do Puraquequara pelos principais ór-
gãos da Execução Penal (Ministério Público, Conselho Penitenciário) precisa ser
feita com maior regularidade.
O desenvolvimento das atividades educacionais, laborais e religiosas na
Unidade Prisional do Puraquequara têm sido insuficientes para que seja alcançada
a principal finalidade da pena privativa de liberdade: a reintegração social.
Verificou-se que, reiteradamente, a Unidade Prisional do Puraquequara
abriga presos de outros regimes prisionais, sendo reflexo do déficit de vagas his-
tórico em todo o Brasil.
Diante do exposto, procede arrematar com a impressão de que o funcio-
namento da Unidade Prisional do Puraquequara avançou em muitos aspectos ao
longo dos anos, mas ainda precisa se adequar ao previsto em diversos diplomas
legais (Estatuto Penitenciário do Estado do Amazonas; Lei de Execução Penal;
Resoluções do CNPCP; Plano Diretor e de Melhorias, Regras Mínimas para Tra-
tamento do Preso no Brasil e outros diplomas internacionais).
Referências
- 154 -
visitas estão suspensas por conta do coronavírus. Manaus, 25 de março de 2020
[2020a]. Disponível em: https://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2020/03/25/
governo-autoriza-televisitas-de-detentos-a-familiares-no-am-visitas-estao-sus-
pensas-por-conta-do-coronavirus.ghtml. Acesso em: 27 jun. 2021.
PORTAL G1 AM. Quatro presos são mortos em presídio na Zona Rural de
Manaus: este é mais um episódio na escalada de violência no sistema prisional
do AM. Rebelião no domingo (1º), no COMPAJ, resultou em 56 mortes. Manaus,
02 de janeiro de 2017, atualizado em 03 de janeiro de 2017. Disponível em: http://
g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2017/01/quatro-presos-sao-mortos-em-pre-
sidio-na-zona-rural-de-manaus.html. Acesso em: 28 jun. 2021.
PORTAL G1 AM. Rebelião com reféns em presídio de Manaus terminou com
17 feridos, diz governo. Manaus, 02 de maio de 2020 [2020b]. Disponível em:
https://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2020/05/02/rebeliao-com-refens-em-
-presidio-de manaus-terminou-com-17-feridos-diz-governo.ghtml. Acesso em:
28 jan. 2021.
SECRETARIA DE ADMINISTRAÇÃO PENITENCIÁRIA. Unidade Prisional
do Puraquequara. Memorando nº 125/2021-GAB/UPP. Manaus, 02 de junho de
2021. SEAP: 2021. Assunto: Dossiê história das prisões no Amazonas.
- 155 -
- 156 -
CAPÍTULO XII
CASA DO ALBERGADO
HOSTEL’S HOUSE
A Casa do Albergado foi criada pela Lei n.º 1694, de 15 de julho de 1985,
é um estabelecimento de segurança mínima, baseado na autodisciplina e senso de
responsabilidade do condenado e destina-se ao cumprimento de penas em regime
aberto e da pena de limitação de fim de semana, sendo diretamente subordinada
à Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (SEAP). É um estabeleci-
mento prisional para abrigar presos com baixo ou nenhum grau de periculosida-
de, que cumprem pena por crimes de baixo potencial ofensivo, cometidos sem
violência.
A Casa do Albergado
Existem, na SEAP, a Casa do Albergado de Manaus e o Departamento de
Reintegração Social que têm por atribuições o acompanhamento de albergados e
egressos do sistema prisional. Casa do Albergado Masculino e Casa do Alberga-
do Feminino, estabelecimentos destinados ao cumprimento de penas em regime
aberto e da pena de limitação de fim de semana, subordinados à Secretaria de
Estado de Administração Penitenciária (SEAP).
Atualmente, o Estado do Amazonas possui 74 estabelecimentos de priva-
ção de liberdade, entre unidades prisionais e delegacias do interior, totalizando
5.074 vagas. Destas há 10 unidades prisionais na capital e 8 unidades prisionais
no interior sob a administração da Secretaria de Administração Penitenciária, to-
talizando 4.356 vagas, 755 destinadas à Casa do Albergado.
Como requisitos, a casa do Albergado, cujo estabelecimento necessita se
localizar em um centro urbano, separado de outros prédios e, principalmente, não
Funcionamento
FUNCIONAMENTO
Imagem: SEJUS
- 158 -
De acordo com Relatório de Inspeção da VEP – 2021 /2022, realizado pelo
Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas e Secretaria de Segurança Pública –
AM, a Autoridade Administrativa do Estabelecimento por meio de Gestão Pública
é de Jean Carlo Silva de Oliveira.
A Casa do Albergado permanece ativa e funcionando da maneira que pas-
samos a descrever:
Quanto à Informatização é possível dizer que há 8 computadores; há acesso
à internet; há alimentação do INFOPEN e SIAP pela unidade.
Os profissionais estão ligados a SEAP, sendo dois cargos comissionados
(Direção e Serviço Social) e quarenta e nove funcionários efetivos (dez desen-
volvem atividades administrativas e trinta e nove como agentes penitenciários).
No que concerne ao Estabelecimento destinado para presos: do sexo mas-
culino, para sentenciados em pena privativa de liberdade em Regime Aberto e
pena Restritiva de Direito de Limitação de Fim de Semana, mas desde janei-
ro/2014 passou o cumprimento da pena em regime aberto na forma de Prisão
Domiciliar com assinatura semanal, bem como as restritivas foram encaminhadas
ao Cartório da Vara de Execução e Medidas Alternativas – VEMEPA. A Partir de
outubro de 2019, passamos a contar com as sentenciadas em Regime Aberto e em
junho de 2020, com os sentenciados e sentenciadas em Livramento Condicional.
Acerca do Quantitativos Capacidade hoje é 00 e a Lotação atual: 0% de
apenados recolhidos na Unidade CAM, totalizando 2.346, apenados nesta Casa
do Albergado do sexo masculino, sendo 1.609 em Regime Aberto, 663 em Li-
vramento Condicional, assinando na CAM, 73 em Penas Restritivas de Direito,
assinando quinzenalmente na CAM e 265 do sexo feminino, que se apresentam
na Unidade para frequência de assinatura mensal e/ou semanal de acordo com
decisão judicial, sendo 166 em Regime Aberto e 13 cumprindo pena restritiva de
direitos e 86 em Livramento Condicional; Total Geral de = 2.611.
Sobre a capacidade para presos em celas de proteção, Capacidade para
presos em cumprimento de RDD, Quantidade de vagas oferecidas para trabalho
interno, Quantidade de vagas oferecidas para trabalho externo, Quantidade de
vagas oferecidas para estudo na unidade, o relatório apontou que não se aplica.
A respeito da Quantidade de presos/internos na data da inspeção, qual seja
01 à 30/04/2022, os números são o que seguem: 2.346 no total, sendo 1.609 em
Regime Aberto, 663 internos em Livramento Condicional e 73 internos em Res-
tritivas de Direito, além de 265 apenadas, sendo 166 em Regime Aberto e 13
cumprindo penas restritivas de direitos e 86 em Livramento Condicional.
A Situação dos presos no estabelecimento é: (a) em medida disciplinar:
zero.
Em relação a Estrutura complementar: Área destinada para visita fami-
liar? Área de banho de sol? Biblioteca? Espaço para prática esportiva? Gabinetes
- 159 -
odontológicos? Local apropriado para visita íntima? Oficinas de trabalho? Sala de
entrevista com advogado? O relatório informou não se aplicar tais informações à
realidade local.
Quanto ao Local apropriado para assistência religiosa, verifica-se que há
espaço reservado fica na área do auditório. Sobre as Salas de aula existe um espa-
ço reservado fica na área do auditório em caso de realização de cursos.
Importante frisar que também se verificou que não há Aparelho para blo-
queio de celular, nem Detector de metais na unidade.
No que se refere aos Direitos, o estabelecimento penal não possui unidade
materno-infantil. No mais, o relatório informa: O preso primário fica separado
do reincidente? Não se aplica; É assegurado o direito de visita? Não se aplica; É
assegurado o direito de visita íntima? Não se aplica.
Em relação a prestação de assistência, não há assistência material nem de
saúde. Há assistência Jurídica por meio da Defensoria Pública e Núcleo de Aten-
dimento Jurídico Voluntário – NAV do Fórum Ministro Henoch Reis.
À respeito das questões Educacionais, há que se falar que existem Cursos
Profissionalizantes por meio do Departamento de Reintegração Social da SEAP.
A assistência Social ocorre da seguinte forma: 2 (duas) assistentes sociais
realizam triagem social; Orientação acerca dos direitos e deveres dos apenados;
visitas domiciliares; parecer social em casos solicitados pelo Juízo da Execução
Penal; Relatórios; Termos de Comparecimento; Acompanhamento mensal dos
faltosos; encaminhamentos e acompanhamentos as redes socioassistenciais.
Não há qualquer orientação Religiosa.
No relatório foi possível verificar a Avaliação do Juiz Responsável e Re-
gistros de Ocorrências do estabelecimento, que por nota informou que não existia
ocorrências no mês de referência de 2022 (armas de fogo; aparelhos de comuni-
cação; mortes naturais, acidentais por homicídios, suicídios, fugas ou rebeliões).
Informou ainda que as Condições do estabelecimento penal estavam Regulares.
É de suma importância que as Considerações do Diretor do estabelecimento,
que apontou como sendo imprescindível a disponibilização de 01 Advogado, seja
urgentemente atendida. Além disso, para fins de segurança do estabelecimento, há
necessidade de instalação de um detector de metal. Ainda é necessário dizer que
no presente momento não ocorre lotação carcerária, assim como não há oficinas
de trabalho. Não há remição pela leitura, o que seria necessário.
É necessário que se tome providências para o melhor funcionamento do
estabelecimento, além de melhorias para seus servidores, principalmente no que
tange à implementação de programas para: (a) trabalho; (b) estudo; e (c) leitura;
Ainda é necessária a provocação da Defensoria Pública para garantia da
assistência jurídica aos detentos de outras Comarcas.
- 160 -
O Estatuto Penitenciário do Estado do Amazonas e a Casa do Al-
bergado
A Lei nº 2711 de 28/12/2001, que dispõe sobre o Estatuto Penitenciário
do Estado do Amazonas, Reproduzida no D.Of. nº 29.852, de 26.03.02, trata
acerca da Casa do Albergado em seu Capítulo III, da forma que trazemos a seguir
e é de extrema importância seu adequado entemdimento.
A Casa do Albergado destina-se ao cumprimento de pena privativa de li-
berdade em regime aberto e de pena de limitação de fim de semana, assim como
ao alojamento do egresso, na forma do inciso II, do artigo 25 da Lei de Execução
Penal.
O prédio deverá situar-se em centro urbano, separado dos demais estabe-
lecimentos, e caracterizar-se-á pela ausência de obstáculos físicos contra a fuga.
Em cada região haverá, pelo menos, uma Casa do Albergado, a qual deverá
conter, além dos aposentos destinados à acomodação dos que cumprem pena, lo-
cal adequado para cursos e palestras.
Parágrafo único - O Estabelecimento terá instalações para os serviços de
fiscalização e orientação dos condenados.
Ao ingressar na Casa do Albergado, para cumprimento de pena privativa
de liberdade em regime aberto, o apenado, além das informações referentes ao
sistema disciplinar, deve ser advertido formalmente das seguintes condições
gerais e obrigatórias:
(i) permanecer recolhido nos horários de repouso e nos ias de folga;
(ii) sair para o trabalho e retornar, nos horários fixados;
(iii) não se ausentar da cidade onde reside, sem autorização judicial;
(iv) comparecer a juízo, para informar e justificar as suas atividades,
quando for determinado.
§ 1.º - Os horários de permanência na Casa do Albergado serão estabeleci-
dos mediante norma regulamentar do estabelecimento penal.
§ 2.º - Em casos especiais, poderá ser estabelecido horários diferentes para
recolhimento, desde que a situação específica do albergado necessite, após ava-
liação do setor de assistência social.
§ 3.º - Na hipótese do parágrafo anterior, o juiz da execução deve ser
informado, no prazo de quarenta e oito horas, com o encaminhamento dos
documentos e pareceres referentes à situação do albergado.
A Casa do Albergado atuará como Patronato, na forma do Capítulo VII, do
Título III, da Lei de Execução Penal, e para tanto a Direção deverá:
(i) promover a assistência ao condenado, objetivando a reeducação
social e reintegração à comunidade por meio de formação profis-
- 161 -
sional, colocação empregatícia, habitação, transporte, saúde, edu-
cação, atendimento jurídico, psicológico, material e religioso, na forma
do capítulo II da Lei de Execução Penal;
(ii) fiscalizar e orientar os condenados à pena restritiva de direitos, assim
como colaborar com a fiscaliza ção do cumprimento das condições da sus-
pensão condicional da execução da pena e do livramento condicio-
nal, quando houver expressa delegação;
(iii) propiciar a conscientização da família do egresso, visando ao seu rein-
gresso no meio social;
(iv) acompanhar e avaliar o desenvolvimento do processo de res-
socialização do condenado e do egresso, mediante verificação siste-
mática da sua conduta em nova condição de vida e objetivando a redução
da reincidência criminal;
(v) conscientizar a comunidade a fim de que facilite as condições necessá-
rias à adequada reintegração social do egresso;
(vi) tomar as providências para que o egresso continue tratamento
psiquiátrico ou psicológico, quando necessário.
- 162 -
(ii) assiduidade no cumprimento da pena;
(iii) compatibilidade do benefício com os objetivos da pena.
A autorização será concedida por prazo não superior a 7 (sete) dias, poden-
do ser renovada por mais cinco vezes durante o ano.
Parágrafo único - Nos casos do inciso II do artigo 24, o tempo de saída será
o necessário para o cumprimento das atividades.
O benefício será automaticamente revogado quando o condenado for puni-
do com falta grave ou média, desatender as condições impostas na autorização
ou revelar baixo aproveitamento no curso em caso de autorização de saída para
estudo.
Durante a pesquisa foi possível verificar que o Conselho Nacional de
Justiça, através dados obtidos via inspeções judiciais do Tribunal de Justiça do
Amazonas, identificou que metade das unidades prisionais do Estado estão em
condições ruins ou péssimas. Sendo a maioria, unidades do interior do Estado.
Das 8 unidades prisionais do interior, 7 apresentam situação classificada como
péssima, a única exceção é a Unidade Prisional de Itacoatiara que foi classificada
como boa. Na capital, 7 em situação regular (Casa do Albergado do Amazonas,
Centro de Detenção Provisória Feminina, Centro de Recebimento e Triagem, En-
fermaria Psiquiátrica de Manaus, Instituto Penal Antônio Trindade, Penitenciária
Feminina de Manaus, Unidade Prisional de Puraquequara), 1 em situação ruim
(Centro de Detenção Provisória de Manaus I), 1 em situação péssima (Complexo
Penitenciário Anísio Jobim – regime fechado) e 1 em situação boa (centro de de-
tenção provisória de manaus) 9 esses dados constam no relatório emergencial para
conselho nacional de direitos humanos: pandemia covid-19 e violações de direitos
humanos no estado do Amazonas.
A Casa do Albergado no Amazonas está localizada na Rua Gabriel Salga-
do, S/N, Prédio Cônego Gonçalves de Azevedo – Centro de Manaus, conforme
supracitado.
Sabe-se que não existem patronatos no Estado do Amazonas, entretanto a
Gerência de Reintegração Social e Capacitação – GRSC, da Secretaria Executiva
Adjunta de Justiça e Direitos Humanos, pode ser considerada com o órgão equi-
valente, a qual conta com o auxílio da Casa de Albergado.
Em geral, o atendimento aos egressos fica disponibilizado na GRSC, a qual
fica localizada no centro da cidade de Manaus. Atualmente, cerca de 150 egressos
integram os programas assistenciais da GRSC.
A GRSC atende os egressos através dos Projetos de Liberação de Créditos Fi-
nanceiros a Egressos do Sistema Penitenciário, de Capacitação Profissional (parcerias
com o SESC, SENAT, SESI, IFAM, SINE, entre outros), Cadastro no Sis-
tema Nacional de Emprego - SINE. O Projeto de Liberação de Créditos Finan-
- 163 -
ceiros a Egressos do Sistema Penitenciário foi elaborado em 2006 e consiste na
habilitação de egressos e de familiares e cônjuges dos apenados do regime aberto,
semi-aberto e fechado em linhas de concessão de crédito, através da Agência de
Fomento do Estado do Amazonas - AFEAM. A partir da habilitação, abriu-se con-
tratos de empréstimo, variando de R$ 5.000,00 a R$ 15.000,00, a custos subsidia-
dos, para fomentar a abertura de pequenos negócios pelos familiares dos presos e
egressos, objetivando viabilizar forma de trabalho e reduzir a reincidência.
Consoante vimos acima, o Quantitativos Capacidade hoje é 00 e a Lotação
atual: 0% de apenados recolhidos na Unidade CAM, totalizando 2.346, apenados
nesta Casa do Albergado do sexo masculino, sendo 1.609 em Regime Aberto, 663
em Livramento Condicional, assinando na CAM, 73 em Penas Restritivas de Di-
reito, assinando quinzenalmente na CAM e 265 do sexo feminino, que se apresen-
tam na Unidade para frequência de assinatura mensal e/ou semanal de acordo com
decisão judicial, sendo 166 em Regime Aberto e 13 cumprindo pena restritiva de
direitos e 86 em Livramento Condicional; Total Geral de = 2.611.
Os beneficiários com penas restritivas de direito na modalidade de limitação
de fim de semana, são acompanhados pela Casa do Albergado de Manaus e, os usu-
ários iniciais, perfaziam um total de 108 pessoas. Semanalmente, uma equipe psi-
cossocial, composta por 2 psicólogos, 3 assistentes sociais e 4 estagiárias, realiza
atividades programadas aos beneficiários, nas dependências da Casa do Albergado
de Manaus.
O Programa de Capacitação Profissional e Apoio Assistencial a Internos,
Egressos e Familiares do Sistema Penal de Manaus, operacionalizado pela GRSC
da SEJUS, em conjunto com as unidades penais, criado desde abril de 2005, visa
qualificar a população carcerária, egressos e familiares para o mercado de trabalho,
firmando parcerias com instituições governamentais e não-governamentais. O re-
ferido programa oferece cursos profissionalizantes, projetos de inclusão social atra-
vés da poesia, da arte e da música, fomento à cultura, inclusão de egressos e alber-
gados na rede pública de ensino, se adequado à realidade e otimizado pela Gestão
Pública, poderá continuar contribuindo para os que puderem fazer jus ao direito.
A pena restritiva de direitos na modalidade de limitação de fim de semana é
monitorada e executada pela Casa do Albergado de Manaus e a fiscalização e moni-
toramento da pena de prestação de serviço à comunidade, bem como a fiscalização
do cumprimento das condições da suspensão e do livramento condicional cabem
à Vara Especializada de Medidas e Penas Alternativas – VEMEPA, da comarca de
Manaus. Quanto aos egressos, estes são assistidos, quando necessário, pela GRSC.
No interior não existem Casa do Albergado e Centrais de Medidas e Penas
Alternativas. Cabe ao Juiz Titular a aplicação e a fiscalização das penas e medidas
alternativas.
- 164 -
Segundo o Plano Diretor do Sistema Penitenciário não há projeto de estí-
mulo à implantação de Patronatos privados.
No total, existem 74 unidades de Casas do Albergado no Brasil, sendo ape-
nas quatro para mulheres e 70 para homens.
Conforme se observa até aqui, é o terceiro tipo de estabelecimento prisional
previsto na LEP. Elas se destinam aos condenados que cumprem regime aberto.
Esta casa fica localizado em centros urbanos, mas ao mesmo tempo separa-
da de outros estabelecimentos e prédios, além de não poder ter obstáculos físicos
à fuga, como em presídios, ou seja, o condenado não é trancafiado atrás de grades,
tendo em vista que o regime aberto é fundado no princípio da responsabilidade
e da autodisciplina do condenado. A casa do albergado também deve ter espaços
para aulas e palestras, segundo o art. 94 da LEP.
O art. 95 da LEP diz que cada região deverá ter pelo menos uma casa de
albergado, com acomodações para os condenados além de instalações para o pes-
soal do serviço de fiscalização e orientação. A pessoa que está cumprindo pena
nessas casas deve sair durante o dia para trabalhar, assistir cursos e voltar de noite
para o estabelecimento (art. 36 §1° do CP).
Os presos que ficam acomodados em casas de albergado devem ser indiví-
duos com bom comportamento e que ofereçam pouco ou nenhum risco à socie-
dade. O condenado precisa, acima de tudo, ter grande senso de responsabilidade.
Porém é importante ressaltar que apenas 23 unidades prisionais brasileiras
são voltadas para o regime aberto, 2% do total. Muitos estados sequer possuem
casas do albergado. O estado com o maior número desses estabelecimentos é
Rondônia, com cinco. Certamente, ainda estamos distantes de cumprir a regra
de uma dessas dependências por região, conforme prevê a lei. Sendo assim, cabe
verificar como proceder em caso de inexistência de vagas. Geralmente o que deve
ser feito é (i) o condenado deve aguardar, no regime semi-aberto, fechado ou em
cadeia pública, a vaga em casa de albergado (ii) o condenado poderá cumprir o
regime albergue em prisão domiciliar.
Recentemente presos do regime aberto do AM passam a ser assistidos por
programa que facilita oportunidades de emprego. De acordo com o secretário da
SEAP, projeto Trabalhando a Liberdade começou em 2019, com a capacitação e a
busca por trabalho para reeducandos do regime fechado.
- 165 -
Referências
- 166 -
PARTE II
MUNICÍPIOS DO INTERIOR
DO ESTADO DO AMAZONAS
- 167 -
- 168 -
CAPÍTULO XIII
- 169 -
estado do Amazonas, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatís-
tica (IBGE), a população estimada do município era de 85.910 em 2020, sendo
o quinto município mais populoso do estado.
Imagem 01: Faixada da unidade prisional. Fonte: conselho nacional de justiça (CNJ)
Inicialmente a unidade prisional era uma delegacia, onde seu efetivo agre-
gava polícia civil e polícia militar, local este onde pessoas em medida restritiva
de liberdade ficavam detidas. Sua construção foi em de 8 de novembro de 1966
e depois de mais de três décadas no ano de 2000 que o local foi transformado em
penitenciária.
O presídio fica contíguo à escola existente nos fundos do complexo pri-
sional, expondo alunos a riscos e facilitação de entrada de drogas e armas, as
celas estão situadas no porão de um antigo prédio residencial transformado em
estabelecimento prisional; as instalações são precárias, não tem espaço físico para
trabalho interno.
A Unidade Prisional de Coari conta com um total de 221 internos, sendo 30
no regime fechado, 56 no regime semiaberto e 8 no regime aberto, levantamento
segundo ao Departamento Penitenciário Nacional. No entanto, a informação mais
alarmante refere-se ao número encontrado de presos provisórios: são 127 detentos
encarcerados sem que tenha havido uma sentença condenatória transitada em jul-
gamento, correspondendo a mais da metade da população prisional desta unidade,
a separação de internos por seus crimes cometidos é feito da seguinte forma: so-
mente internos com artigos e crimes graves como estupros e crimes mais torpes.
A população feminina na Unidade Prisional de Coari, conta com 16 deten-
tas, dentro desse quantitativo existem duas estrangeiras, de nacionalidade colom-
bianas, porém não existe comunicação com consulado colombiano.
No que se refere ao concerne ao índice de superlotação, os números de
vagas projetadas da unidade prisional na inauguração foram cinquenta vagas no
total, sendo 46 vagas para o gênero masculinos e 04 vagas femininas, a superlota-
ção é uma realidade em nosso pais. No ano de 2021 a lotação da unidade prisional
de Coari chegou a uma marca histórica, em torno de 227 internos. (SEAP, 2021).
- 170 -
Instalações
O prédio da administração conta com uma boa estrutura, uma sala da ad-
ministração, sala do parlatório, que antes do mês de setembro de 2020, não existia
na unidade, que também é usada para audiências, guarda externa, sala da escola
e sala do diretor.
Existem três pavilhões para os internos: pavilhão 1, com 6 celas; pavilhão
2, com 4 celas; e pavilhão 3, com 3 celas. A unidade ainda possui um campo de
areia para recreação dos internos, porém a parte destinada aos presos está precá-
ria. Celas sem iluminação adequada, com fiação exposta e paredes mofadas, sem
as mínimas condições de higiene.
Imagem 02: Cela da unidade prisional. Fonte: conselho nacional de justiça (CNJ)
Educação
Na unidade existem internos de 18 anos até 64 anos. Internos analfabetos e
que pararam os estudos no ensino fundamental até o superior, existe uma sala de
aula estruturada por iniciativa das juízas da comarca e da parceria com o referido
Município, porém não existem cursos profissionalizantes, mais uma sala seria
disponibilizada as atividades, mas devido ao COVID-19, forma suspensas tanto a
inauguração, quantos as aulas.
- 171 -
Imagem 03: Sala de aula da unidade prisional. Fonte: conselho nacional de justiça (CNJ)
- 172 -
Visitas de familiares
As visitas são feitas no pátio de recreação, em relação as visitas intimas
nas celas, antes a visita era nas celas. Hoje somente uma pessoa é permitida para
visitar um interno, Deve-se respeitar a distância recomendada para prevenção do
COVID19, deve-se respeitar a distância mínima, juntamente com o uso de másca-
ras que é obrigatório e a entrada agendada de um visitante por preso e as visitas de
cada pavilhão em dias diferentes, os horário e dia das visitas são cada 15 dias é,
de segunda a quarta cada pavilhão de internos masculinos e na quinta é o pavilhão
feminino, sempre das 10h até as 13h, com 3 horas de visita.
As visitas das crianças devido às medidas restritivas do COVID-19, não
está sendo realizada, somente por via videoconferência, a quantidade de visitas
por unidade é de um visitante por interno, sendo que geralmente entram cerca de
120 visitantes por cada semana de visitas.
Vale ressaltar que as visitas nos últimos cinco anos, já foram apreendidas
uma estimativa de 150 gramas de entorpecentes na entrada da visita e jamais foi
apreendida armas pelos últimos cinco anos.
Segurança
Atualmente os equipamentos de segurança disponíveis são: câmeras de se-
gurança no total de 15 unidades que se dividem em toda a extensão da unidade;
guarita de vigilância inoperante;
A unidade possui somente um agente penitenciário, um diretor, um diretor
adjunto e uma assessora, não existem agentes penitenciários no turno da noite e
fins de semana. Nunca houve rebeliões na unidade prisional e nem motins, quanto
ao registro de fuga a unidade já apresentou algumas recentemente e a unidade não
possui sistema de cogestão.
Atividades De Ressocialização
De acordo com a Lei de Execução Penal (LEP) brasileira, Lei no 7.210,
de 11 de julho de 1984, enfrenta obstáculos na aplicação de muitos de seus
dispositivos. Em seu Art. 1o, a lei apresenta o objetivo de “efetivar as disposições
da sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica in-
tegração social do condenado e do internado” (Brasil, 1984). A legislação tenta,
de um lado, garantir a dignidade e a humanidade da execução da pena, tornando
expressa a extensão de direitos constitucionais aos presos e internos, e, de outro,
assegurar as condições para a sua reintegração social.
Dentro da unidade prisional de Coari, não a um trabalho especifico do que
se refere a ressocialização, mas em 2020, a Secretaria de Estado de Administra-
- 173 -
ção Penitenciária (Seap) expandiu o programa de ressocialização “Trabalhando a
Liberdade” e aumentou em 803% o número de apenados trabalhando de forma re-
munerada. No último ano, a pasta viabilizou a contratação da mão de obra de 325
detentos contra 36, em 2019. Se o número de apenados assalariados aumentou,
o quantitativo daqueles que trabalham só pela remição de pena seguiu o mesmo
caminho. O programa de ressocialização alcançou o interior e, hoje, já são 121 re-
educando inseridos em projetos de trabalho nas unidades prisionais de Itacoatiara,
Coari, Maués, Parintins, Tabatinga, Tefé e Humaitá.
Tendo em vista o exposto, considera-se que a unidade prisional de Coari,
devido a sua superlotação, fator este de violação aos direitos humanos e forte
incentivadora da reincidência, encontra, dentre outras, sua justificativa na moro-
sidade processual.
O objetivo de discorrer sobre a historicidade da unidade prisional do re-
ferido município e suas mudanças ao decorrer do tempo, foi possível ver que a
quantidade de presos provisórios aguardando julgamento é alarmante acarretando
um fator decisivo na questão da superlotação carcerária dentro do município.
Portanto, em meio à grave questão social da criminalidade, a reincidência
penal permanece como um problema crucial. Existe um grande desafio do sistema
prisional amazonense, que se baseia a curto prazo na necessidade de criação de
novos postos de reclusão, e, a médio e longo prazo, na implantação de medidas de
ressocialização efetivas.
Referências
CNJ. Conselho Nacional de Justiça. Relatório Analítico referente aos meses de ju-
lho a dezembro de 2019. Disponível em http://depen.gov.br/DEPEN/depen/sisde-
pen/infopen/relatorios-analiticos/AM/am, 2019. Acesso em 28 de junho de 2020.
CNJ. II Mutirão Carcerário do Amazonas. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/
wp-content/uploads/2011/02/amazonas.pdf .Acesso em: 15 jun de 2021
DEPEN. Departamento Penitenciário Nacional.Relatório Analítico referente aos
meses de julho a dezembro de 2017. Levantamento Nacional de Informações
Penitenciárias (Infopen). Ministério da Justiça e da Segurança Pública, Brasília,
2017. Disponível em: http://depen.gov.br/DEPEN/depen/sisdepen/infopen/rela-
torios-sinteticos/infopen-jun-2017-rev-12072019-0721.pdf. Acesso em: 10 jun
2021.
DEPEN. Departamento Penitenciário Nacional. Relatório Analítico referente aos
meses de julho a dezembro de 2020. Levantamento Nacional de Informações
Penitenciárias (Infopen). Disponível em: https://app.powerbi.com/view?r=eyJrI-
joiZWI2MmJmMzYtODA2MC00YmZiLWI4M2ItNDU2ZmIyZjFjZGQ0Iiwid-
- 174 -
CI6ImViMDkwNDIwLTQ0NGMtNDNmNy05MWYyLTRiOGRhNmJmZThl-
MSJ9, 2020. Acesso em: 22 jun 2021
- 175 -
- 176 -
CAPÍTULO XIV
Histórico / Origem
Não há nenhum registro a respeito da origem do prédio da Unidade Prisio-
nal João Lucena Leite, tendo em vista que foi adaptado para suprir uma necessida-
de emergencial do município. Sabe-se apenas que, antes de se tornar um presídio,
o local era a delegacia da cidade, não havendo informações sobre sua construção
ou inauguração.
108 Doutorando em Gestão da Informação (UFPR); Mestre em Segurança Pública, Ci-
dadania e Direitos Humanos (UEA). Capitão da Polícia Militar do Amazonas. E-mail:
maxwell_mesquita@hotmail.com.
Especialista em Docência do Ensino Superior (La Salle). Sargento da Polícia Militar
do Amazonas. E-mail: ftmscorrea@gmail.com.
Especialista em Segurança Pública (UEA). Cabo da Polícia Militar do Amazonas.
E-mail: gsmguilherme@hotmail.com.
109 Especialista em Docência do Ensino Superior (La Salle). Sargento da Polícia Militar do Amazonas.
E-mail: ftmscorrea@gmail.com
110 Especialista em Segurança Pública (UEA). Cabo da Polícia Militar do Amazonas. E-mail: gsmguilher-
me@hotmail.com.
- 177 -
Por ser um prédio improvisado para atender as demandas prisionais do
município, a Unidade dispões de ambientes que foram readequados sem projeto
arquitetônico tendo melhorias a cada ano, visando atender as demandas e oferecer
direitos humanos resguardados na Constituição Federal, como pode-se observar
na figura 01 abaixo.
- 178 -
Para o lazer, os detentos contam apenas com um campo de futebol impro-
visado feito de terra batida e traves de madeira. Neste, pode-se ver também as
paredes externas da UPH e moradias ao lado da localidade, conforme figuras 03
e 04 abaixo.
Rebeliões e Fugas
Foram feitos levantamentos em jornais e constatou-se que houve alguns
eventos de motins entre os presos. As mídias Repórter Cobra (2013), Ampost
(2017), Humaitá em Foco (2011), Barrancas (2019) e G1 (2011) narram os prin-
cipais fatos de destaque na unidade prisional.
- 179 -
No dia 11 de outubro de 2011 (G1, 2011), ocorreu um princípio de rebelião,
tendo os detentos LA e ARM (presos por estupro) sido torturado e morto respec-
tivamente. Além disso, deram início a um motim para reivindicar a superlotação
do presídio.
No dia 13 de março de 2013, segundo Cobra (2013), Cobra (2014), por vol-
ta das 18h, custodiados do pavilhão A iniciaram uma revolta coletiva realizando
atrito nas celas e fazendo 03 (três) detentos de reféns, ameaçando-os de morte. O
motivo da greve seria a retirada de aparelhos eletrônicos que ficavam no pavilhão
por não deixarem alguns detentos dormirem no período da noite. Por voltas das
20h, após os presos se negarem a atender as condições impostas pela diretoria, o
juiz autorizou a entrada dos policiais nas celas do pavilhão A. A unidade prisional,
com lotação máxima de 33 detentos, estava com ocupação de 67 custodiados com
condições precárias.
No dia 08 de maio de 2014, aconteceu uma tentativa de fuga da unidade
prisional. Tal ação foi possível por conta de os detentos ficarem livres nos cor-
redores dos pavilhões. WVL, WSB e RFLM serraram as duas grades do portão
principal do pavilhão B para fugir, aproveitando-se do momento em que os poli-
ciais militares faziam a guarda da sala de aula da UPH, onde ocorria uma reunião
de membros do conselho da comunidade (COBRA, 2014).
Em 25 de março de 2017, por volta das 03h da manhã, 08 (oito) presos
conseguiram escapar da UPH sendo apenas um recapturado. O grupo só foi visu-
alizado por policiais militares após conseguir sair do presídio, sendo que apenas
um deles foi recapturado após a fuga (AMPOST, 2017).
- 180 -
Segundo o termo, o preso terá 30 dias para ler uma obra e fazer uma rese-
nha, o que reduzirá quatro dias da sua pena e ao final de 12 obras efetivamente
lidas e avaliadas, há possibilidade de remir 48 dias, no prazo de 12 meses.
A Unidade também conta com a remissão por trabalho tendo 19 (dezenove)
detentos e a remissão por estudo tendo 04 (quatro) detentos. Estes últimos contam
com uma sala improvisada nos horários das aulas.
Assistência Religiosa
O presídio dispõe de 01 (uma) sala improvisada ao lado do pavilhão B para
a realização de cerimônias religiosas. Até o momento, foram declaradas apenas as
religiões católicas e evangélicas pelos custodiados.
Agentes Penitenciários
A prisão não dispõe de agentes penitenciários concursados, tendo apenas
um efetivo policial militar que varia de 03(três) a 06 (seis) policiais por plantão.
Covid-19
Desde o surgimento da pandemia COVID-19 foram contabilizados 56 ca-
sos de infecção e nenhum óbito. Até o momento não houve vacinação da massa
carcerária, sendo aguardado o momento que será definido pelo governo do Estado
do Amazonas.
- 181 -
Os detentos que apresentaram casos do vírus foram isolados no pavilhão
A, receberam os devidos cuidados médicos além de respeitarem os protocolos
estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Refeições E Uniformes
Todos os dias são servidas 05 (cinco) refeições (café, almoço, lanche, janta
e ceia) não sendo estendidas às visitas dos apenados e, em 09 de abril de 2021,
todos os custodiados passaram a receber uniformes.
REFERÊNCIAS
- 183 -
- 184 -
CAPÍTULO XV
111 MBA Gestão de Pessoas, (CESA), MBA Gerenciamento de projetos, (CESA), Pedagoga, Assistente
Social, Perita Judiciaria Social (Justiça Federal).
112 Doutoranda em Saúde Pública – Sociedade, Violência e
Saúde (ENSP/FIOCRUZ-RJ), Mestre em Segurança Pública, Cidadania e Direitos Humanos (UEA), Espe
cialista em Direito Civil e Processo Civil – (CIESA); Advogada Humanista, Direito – UFAM.
113 Doutoranda em Saúde Pública (FIOCRUZ/RJ), Mestre em Segurança Pública, Cidadania e Direitos
Humanos (UEA), Especialista em Gestão de Saúde (FSDB), Assistente Social, Perita Judiciaria Social
(Justiça Federal), Professora Substituta (UFAM).
- 185 -
estendendo-se esta ao egresso” (Brasil, 1984). A LEP prevê, entre as atenções
básicas que devem ser prestadas aos presos: assistência psicológica, educacional,
jurídica, religiosa, social, material e à saúde.
E neste artigo estaremos apresentando como objetivo descrever sobre a
historicidade e a instituição prisão, e suas mudanças com o passar do tempo, e o
processo de ressocialização para as pessoas em situação de prisão no Município
de Parintins, destacando-se a Unidade Prisional do referido município.
Diante disso, este estudo é constituído em fases metodológicas, faz-se o
uso do método dialético para fornecer uma interpretação dinâmica e totalizante da
realidade, com o cunho explicativo–descritivo. Delineando-se inicialmente atra-
vés de pesquisa bibliográfica, ao passo que será composta a pesquisa documental.
- 186 -
presos sentenciados, uma cela de isolamento e duas celas denominada conjugada
um e dois.
O espaço designado às mulheres, pelo motivo de não se tratar de um pavi-
lhão e sim de uma cela anexada à parte externa do prédio administrativo, a qual
encontra-se 2 (duas) mulheres em situação de prisão em um espaço de 6m². De
acordo com a Resolução nº 003, de 23 de setembro de 2005, do CNPCP – Conse-
lho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, a estrutura física exigida pelas
normas brasileiras de organização penitenciária, prevê o limite máximo de seis
(6) presos por cela de dez metros quadrados (10m2). O quadro de profissionais é
composto por sete pessoas: 05 (cinco) agentes penitenciários, um administrativo
e o Diretor, todos concursados. Porém, apenas um agente penitenciário fica por
turno em escala de trabalho de 24hrs por 72hrs.
Só existe uma sala administrativa, com um espaço de aproximadamente
12m², onde trabalham os profissionais da Unidade (o diretor, o gerente adminis-
trativo, estagiários, entre outros). Estes dividem o pequeno espaço, o qual apre-
senta precárias condições de trabalho. A cozinha corresponde ao lugar destinado
ao preparo das refeições, não existe refeitório em nenhum cômodo da Unidade. A
alimentação é terceirizada e a empresa é contratada pela secretaria de estado de
administração penitenciária - SEAP.
Uma vez por semana é permitida entrada de alimentos fornecidos pelos fa-
miliares. Sete reclusos trabalham na cozinha, os mesmos dormem em um cômodo
que serve de anexo, no mesmo local que serve como dispensa. O local é pequeno,
aproximadamente 5m², o qual é destinado a guardar os alimentos. Os reclusos
dormem neste local em colchonetes no chão em pequenos espaços.
Na Unidade existe apenas uma sala de aula, na qual funciona o EJA- Ensi-
no de Jovens e Adultos, de 1º a 4º serie pela manhã de 8:00h às 11:00h e, à tarde o
fundamental de 14:00h às 17:00h., porém, a sala destinada à aula é pequena (esti-
mada em 12m²). Segundo a pesquisa documental, são abertas somente 22 (vinte e
duas) vagas por turma, todas as matrículas são preenchidas, não sendo suficiente
para o número de pessoas que a instituição dispõe, porém, a um índice de evasão
ao longo da formação, com uma média de 8 a 6 alunos por ano.
Quanto à criminalidade, na Unidade prisional de Parintins a maior parte
dos reclusos responde por tráfico de substância entorpecente, furto e roubo. Exis-
tem, também, alguns casos de estupro e homicídio. Caso o crime seja atuado no
município, o julgamento e respectivamente a pena serão cumpridas no próprio
município. A questão de transferência só é concedida por mau comportamento,
motim ou rebelião. Em situação contrária, Parintins recebe transferência de outros
municípios. Atualmente na Unidade existem reclusos de Nhamundá, Itacoatiara e
um fugitivo de Rio Grande do Norte.
Com relação às ações religiosas na Unidade, todos os sábados pela parte
da manhã são realizados os encontros religiosos, os quais são amparados por Lei,
- 187 -
local esse denominado pelos presos de “igrejinha”, um sábado é católico, onde
a Igreja da Paroquia de São José tem um movimento chamado Pastoral Carce-
rária responsável desses encontros, e no outro evangélico, destinado às igrejas
protestantes, adventista. Esses encontros são realizados na Unidade, existe um
local improvisado, para essas ações religiosas. As igrejas estão sempre presentes,
realizando ações filantrópicas como: doação de roupa, sapato, material higiênico,
entre outros. Mas devido a pandemia as atividades vem obedecendo um cronogra-
ma para evitar aglomeração.
As visitas presenciais foram suspensas devido a pandemia foi necessária
para prevenir a propagação da nova corona vírus na unidade prisional. Antes eram
aos domingos, atualmente devido esse momento atípico passaram a ser todas as
sexta-feira de 08:00 ás 11:00h, as mesmas estão sendo realizadas por meio de
vídeo chamadas, as visitas virtuais serão de cinco minutos, para permitir que mais
visitantes possam entrar em contato com seus familiares.
A Importância da Ressocialização
Com o Decreto nº 6.049, de 27 de fevereiro de 2007, corresponde ao Re-
gulamento Penitenciário Federal, no qual o Título V Art. 28 trata da assistência ao
egresso que deve ser providenciada pelos sistemas penitenciários estadual, ou dis-
trital, de preferência onde resida a família da pessoa em situação em prisão, me-
diante convênio estabelecido entre a União e os Estados ou o Distrital Federal, a fim
de facilitar o acompanhamento e a implantação de programas de apoio ao egresso.
A resolução da LEP supracitada vem reforçar a função atual dos presí-
dios, sendo essa a de punir, transformar e ressocializar as pessoas, oferecendo os
suportes estruturais e humanos necessários para que esses objetivos fossem alcan-
çados. Contrapondo-se ao objetivo desde a criação das prisões, o qual objetivava
apenas punir.
Dentro da unidade Prisional de Parintins desde de 2020, através da Secre-
taria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) funciona o programa de
ressocialização “Trabalhando a Liberdade” e aumentou em 803% o número de
apenados trabalhando de forma remunerada.
Oferece cursos de capacitação para os mesmos ter uma oportunidade no
mercado de trabalho, quando voltarem para a inclusão na sociedade novamente,
esse processo é difícil apesar do sistema prisional do município viabilizar con-
dições para o tal processo, no qual as pessoas em situação de prisão possam ser
assistidas e reinseridas na sociedade, pois o vagas oferecidas são poucas em um
quantitativo maior de pessoas encarceradas, Para o diretor adjunto da unidade,
Maycon Souza, o principal intuito é ressocializar os participantes, tirar a ociosida-
de no ambiente de confinamento e desenvolver a inteligência emocional e intelec-
tual. “Os internos ocupam a mente com a leitura e esse conhecimento aprendido
- 188 -
através da obra trabalhada poderá servir como reflexão para o dia a dia dos mes-
mos dentro e fora da unidade prisional”.
Através desta perspectiva, a educação, a oferta de curso profissionalizante
é uma alternativa para a ressocialização.
A pesquisa que se apresentou, possibilitou verificar que desde dos primór-
dios o estado acreditava as pessoas em situação de preso, tinha que ser excluído
da sociedade, como uma punição.
Com as mudanças ao passar do tempo, esse indivíduo volta a se inserir na
sociedade, uma vez que deixou o seu convívio para cumprir uma pena, e nessa
volta ele precisa fazer sua inserção, não só para a sociedade, para o mercado de
trabalho também.
Portanto a Unidade Prisional de Parintins com esse processo de ressociali-
zação, faz-se necessário fomentar discussões a partir da realidade encontrada em
uma perspectiva de garantia de direitos. Apesar das fragilidades e precariedades
do sistema. É preciso existir um olhar para os indivíduos privados de liberdade,
buscando garantir mínimo de dignidade, para quando voltar a sociedade ter uma
oportunidade de mudança, mesmo com preconceitos que sofrerão, por terem co-
metido crime, mas já pago por estes, e essa ressocialização fomentada na unidade
será de suma importância, capacitando esses indivíduos de forma a promover
elevação a sua autoestima, com um desejo de mudança reais e sólidas em sua nova
oportunidade de vida.
Referências
- 189 -
ná, Curitiba: Juruá, 2010.
JESUS, F. F de. Políticas Públicas Penitenciárias e o Processo de Prisoniza-
ção: um estudo sobre mulheres em situação de prisão no Conjunto Penal de Feira
de Santana - BA. Trabalho de conclusão de curso (Graduação) – Universidade
Federal do Recôncavo da Bahia, 2012.
IPEA. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Atlas da Violencia v.2.7.
2020. Disponível em: https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/arquivos/artigos/
8181-td2095.pdf. Acesso em: 12 junho 2021.
- 190 -
CAPÍTULO XVI
114 Graduação em Direito pela Universidade Federal do Amazonas (1996); pós-graduada em Direito Penal e
Processual Penal também pela Universidade Federal do Amazonas (1999); Delegada de Polícia Civil por mais de
16 anos, tendo atuado como Delegada titular em diversas delegacias da capital e titular do 31° DIP no município
de Iranduba-AM, durante os anos de 2018 e 2019, e Delegada Titular do 36° DIP no município do Rio Preto da
Eva no ano de 2020; pós-graduada em Segurança Pública, Cidadania e Direitos Humanos pela Universidade Nil-
ton Lins (2006). Mestranda em Segurança Pública, Cidadania e Direitos Humanos pela Universidade do Estado
do Amazonas - UEA.; Professora convidada FAMETRO ENAD - 2022..
115 Possui graduação em Direito - Universidad Nor Oriental Gran Mariscal de Ayacucho (UGMA 2009)
Professor da Disciplina de Direitos Humanos na Universidade Boliva riana de Venezuela (UBV). Mestre
em Direito Trabalhista - Universidade Bicentenária de Aragua, Especialista em Do cência do Ensino Su-
perior (UNIP), Mestrando na Universi dade Estadual do Amazonas (UEA) no programa de Segu rança
Pública Cidadania e Direitos Humanos.
- 191 -
O tema a ser apresentado por meio do presente artigo é a historicidade da
Unidade Prisional do município Maués, no estado do Amazonas, para o qual os
pesquisadores problematizam a historicidade do sistema carcerário do município
e suas mudanças através do tempo, o que se demonstra importante para responder
à seguinte pergunta: quais foram os avanços substanciais na política carcerária do
estado nos últimos anos?
Os pesquisadores Sylvia Laureana e Jahvier Lemus, viajaram ao municí-
pio de Maués entre os dias 27 e 31 de maio do ano 2021, com a intenção de coletar
informações sobre a historicidade da Unidade Prisional que serve como centro de
reclusão dos presos que estão numa condição provisória ou já cumprindo pena, ou
seja, sentenciados. Durante a pesquisa in locu, havia duas perguntas recorrentes
realizadas aos mauesenses, a primeira, para onde vão as pessoas que são presas
pela polícia? Para a qual a resposta era fácil, para a Unidade Prisional. Porém, o
interessante vem com a segunda pergunta: antes da Unidade Prisional, para onde
eram enviadas as pessoas presas?
Para a maioria dos entrevistados era difícil responder, ainda sendo poli-
ciais com muito tempo de serviço no município, mesmo assim, deram uma boa
referência, Dona Nelcy. Dona Nelcy tem mais de 56 anos a serviço do município,
primeiro como escrivã do cartório local, e depois como escrivã da Polícia Civil,
e que ainda no momento desta pesquisa, estava prestando serviços de maneira
ativa dentro da Polícia Civil (48°DIP), cordialmente aceitou ser entrevistada pelos
pesquisadores.
A partir da conversação com Dona Nelcy foi mais fácil entender as difi-
culdades dos mauesenses em lembrar de um centro de reclusão mais antigo que
a Unidade Prisional atual, já que a referida unidade data dos anos 80 quando não
era prisão e sim uma delegacia de polícia. Desde o início da historicidade do mu-
nicípio existiram centros de reclusão já que Maués foi um local relevante para o
movimento Cabano do início do século XVIII.
Os pesquisadores utilizaram como metodologia a análise documental e
bibliográfica, complementando com entrevistas semiestruturadas, o que aportou
dados importantes à historicidade da unidade prisional. É uma prisão que não
cumpre com os requisitos mínimos exigidos pela lei de execução penal em função
da quantidade de detentos por metro quadrado e pela ausência da separação dos
presos de acordo com o delito praticado.
A base teórica deste estudo está fortemente influenciada pelos autores que
descreveram o processo histórico da Cabanagem, no qual existem relatos e fatos
determinantes na maneira em que as pessoas eram e são privadas de liberdade.
Os dados foram coletados através de um questionário estruturado, visita in locu e
conversas informais com colaboradores da área da segurança pública e moradores
idosos do município, foi também realizada uma pesquisa nos meios de comunica-
- 192 -
ção digital, tentando encontrar eventos e ocorrências que guardassem relação com
o sistema carcerário do município.
O trabalho foi dividido em sete títulos, sendo eles: Relato Histórico da
Gestão Prisional no Município de Maués/AM; Dos locais utilizados como pre-
sídio no Munícipio de Maués/AM; Da Atual Unidade Prisional de Maués; Dos
projetos de Ressocialização desenvolvidos no presidio; Da nova Unidade Prisio-
nal do município; Das particularidades da Unidade Prisional – Maués/AM e as
Considerações Finais.
- 193 -
Estado (PME); Penitenciária Central do Estado (PCE); Conselho Penitenciário
do Estado (CPE); Departamento Estadual de Segurança Pública (DESP); Di-
visão da Imprensa Oficial (DIO); Abrigo Rural Melo Matos (ARMM); Instituto
Maria Madalena (IMM); Divisão do Arquivo Público (DAP) (SEAP, 2021).
Posteriormente foi criada a Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Hu-
manos do Amazonas (SEJUS/AM), criada na década de 90 que possuía na sua
estrutura organizacional os Departamentos de Proteção, Orientação e Defesa do
Consumidor (Procon/AM), de Direitos Humanos (DEDH) e de Políticas sobre
Drogas (DEAD), além da Escola de Administração Penitenciária do Amazonas
(ESAP) e os Conselhos Penitenciário, de Defesa da Pessoa Humana, de Defesa do
Consumidor, de Entorpecentes e de Defesa dos Direitos da Mulher (SEAP, 2021).
Atualmente o órgão regente é a Secretaria de Administração Penitenciária
– SEAP que foi criada em 9 de março de 2015 no Governo de José Melo pela Lei
Complementar nº 152 que altera na forma que específica a Lei nº 1.172 de 14 de
novembro de 1986 e dá outras providências.
Em seu artigo 26, especifica que as atividades e competências relativas ao
sistema prisional que estavam na Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Hu-
manos (SEJUS) ficam transferidas para a Secretaria de Estado de Administração
Penitenciária (SEAP) (SEAP, 2021).
Fonte: https://nenotavaiconta.wordpress.com/
- 194 -
Explica (RAMOS, 2003) que: Nos acervos do Associação dos Procura-
dores do Estado do Pará - APEPA, há um documento notificando a incursão das
tropas legais nas matas da localidade de Jaguarary, em julho de 1836, onde teria
sido encontrado um número significativo de cabanos. Desse confronto sangrento,
saíram alguns feridos e mortos. Dentre os feridos, achava-se uma mulher da fileira
dos cabanos, ou seja, notícia de uma cabana ferida. Se ela estava no front direto
de batalha, não há como saber, mas a constatação era de que se encontrava no
espaço de conflito.
- 195 -
Imagem 3. Antiga casa de comercio José e Cia e sede do poder judiciário
Depois da cadeia da capital a que tinha melhor aspecto era a de Maués. Era
coberta de telha e dividida em quatro departamentos separados, além do que
possui espaço reservado para o corpo da guarda, ladrilhada em todos os com-
partimentos. Na análise do presidente da província, em 1868, estava limpa e
arejada. Fazia parte do patrimônio do município e, naquele ano, recebeu 15
presos.
- 196 -
Delegacia Interativa de Polícia do munícipio Maués se instalou na Rua Batista
Michilis do lado da polícia militar, desta maneira substituindo seu local anterior
(Atual Unidade Prisional), utilizado desde o ano 1982 quando as delegacias do
interior passaram a ser administradas pela Delegacia Geral da Polícia Civil.
- 197 -
450,00 metros com terras de Emílio Fábio Soares Gomes; a Leste: 200,00 metros
com Estrada do Guaranatuba e a Oeste: 265,00 metros com terras de Terceiros (do
município-AM 2010).
Posteriormente, com a lei municipal nº 182, de 05 de abril de 2010, ficou
autorizado ao Chefe do Poder Executivo Municipal doar, por motivo de interesse
público relevante, um imóvel para o Governo do Estado do Amazonas, através da
Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos – SEJUS, destinado à cons-
trução, instalação e funcionamento de Unidade Prisional do Município de Maués
(DO DOS MUNICIPIOS/AM, 2010). Lamentavelmente de acordo com (Rocha,
2019)
[...] está abandonado, às ruínas e tomado pelo matagal. Enquanto isso, a po-
pulação interiorana cobra a retomada das obras na unidade prisional. Mas a
ansiedade vai além, pois os moradores demonstram severa preocupação com as
fugas de detentos, e superlotação do presídio em funcionamento. [...]
[...]a obra está paralisada, e disse que isso ocorreu “após a desistência da em-
presa que executou 74,36% dos serviços no local”. Atualmente, destacou a Se-
cretaria de Estado de Administração Penitenciária no comunicado, “o processo
está em fase de reprogramação da obra. E a nova unidade terá capacidade para
125 vagas”.
- 198 -
momento da visita nenhum dos detentos tinha sido vacinado contra o COVID-19.
Não há separação dos detentos por tipo penal, ou prática do delito. Não há estran-
geiros. Há uniformes oferecidos pela SEAP.
- 199 -
município de Maués precisa que seja concluída a obra da nova unidade prisional.
Mais projetos para a remissão da pena devem ser realizados. A quantidade de fu-
gas por ano se deve a problemas estruturais e à quantidade de funcionários contra-
tados para garantir a segurança da unidade. No momento da visita não foi possível
observar diversidade em função da existência de minorias autodeclaradas como
índios e LGBTQIA+. O perfil criminal do preso mauesenses está fortemente re-
lacionado com as condições de pobreza e violência intrafamiliar e principalmente
ao tráfico de drogas.
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- 202 -
CAPÍTULO XVII
- 204 -
Estabelecimento prisional de Tabatinga
A unidade prisional de Tabatinga foi inaugurada no dia 21 de janeiro de
2005, com capacidade para 108 (cento e oito) internos, sendo 90 (noventa) vagas
para presos do sexo masculino e 18 (dezoito) para detentas do sexo feminino. O
prédio está localizado na Rua Manoel Tananta, s/n, Bairro Santa Rosa, no Muni-
cípio de Tabatinga, ao lado do Centro Integrado de Segurança do 8º Batalhão da
Polícia Militar do Estado do Amazonas.
A gestão do presídio é pública, havendo quatro computadores na unida-
de, sem serviço adequado de internet, o que inviabiliza a realização de audiências
por videoconferência no local. O estabelecimento é destinado a presos provisórios
e definitivos, havendo alas masculinas e uma feminina. Não há espaço para o
cumprimento de pena nos regimes semiaberto e aberto.
Em acréscimo, não há aparelho bloqueador de celular e nem oficinas de
trabalho. Há, todavia, assistência religiosa, local para visitação íntima, espaço
para práticas esportivas e banhos de sol, bem como para visita familiar.
Quanto à sua arquitetura, o referido estabelecimento penitenciário é dividi-
do em quatro raios, com 18 (dezoito) celas no total, as quais devem abrigar, cada,
no máximo 06 (seis) detentos. Enquanto o Raio I possui três celas, os demais
possuem cinco, totalizando, portanto, 108 (cento e oito) vagas. Destaque-se que
as detentas do sexo feminino ficam em ala separada do prédio, inacessível aos
internos do sexo masculino, em obediência ao disposto no artigo 5º, XLVIII, da
Carta Constitucional de 1988.
De acordo com informações da Secretaria de Estado de Administração
Penitenciária, os raios ficam assim organizados: a) Raio I: destinado aos internos
em remissão. Há ainda a ala feminina, em setor mais afastado, como dito anterior-
mente; b) Raio II: destinado aos presos provisórios envolvidos supostamente nos
crimes previstos na Lei nº 11.343/2006 (infrações penais de maior incidência no
Município); c) Raio III: abriga os detentos presos pela suposta prática de crimes
contra o patrimônio e de homicídio; d) Raio IV: abarca os apenados em regime
fechado de cumprimento de pena.
Na área intramuros da unidade, há ainda uma sala de aula, um parlatório,
três celas para visita íntima ou para abrigar internos individualmente, em decor-
rência de doença ou risco à integridade física, uma sala para artesanato, uma cozi-
nha, uma barbearia, uma padaria e uma quadra poliesportiva. Destaque-se, ainda,
o setor administrativo do estabelecimento, dividido em: a) uma sala da Polícia
Militar; b) uma sala de triagem; c) uma sala do diretor; d) uma sala administrativa;
e) uma sala dos agentes penitenciários; f) uma biblioteca; g) uma sala destinada
ao armazenamento dos bens pertencentes aos internos; h) uma sala para a ma-
nutenção de gêneros alimentícios; i) uma farmácia; j) uma sala odontológica; k)
um depósito; l) uma sala para atendimento médico; m) uma enfermaria. Vejamos
- 205 -
algumas imagens do estabelecimento prisional, a fim de ilustrar alguns dos
supracitados setores:
- 207 -
Não obstante, importante destacar a atuação recente do Estado do Ama-
zonas no reordenamento da unidade prisional de Tabatinga, com a mudança na
sua administração, o que contribuiu significativamente para a segurança do local
e a observância dos direitos dos internos.
Ademais, a designação de um Juiz de Direito titular da vara de execução
penal, em janeiro de 2019, pelo Egrégio Tribunal de Justiça do Amazonas, permi-
tiu a realização de correições no estabelecimento prisional, de maneira que, com
o imprescindível apoio do Ministério Público, da Defensoria Pública e da Ordem
dos Advogados do Brasil, a atividade do presídio tem tomado novos rumos, com
vistas ao respeito aos direitos e garantias fundamentais dos presos.
Em acréscimo, há ainda a atuação da Pastoral Carcerária, que auxilia sig-
nificativamente os órgãos da execução penal, trazendo informações relevantes
sobre o respeito aos direitos dos internos na unidade e a atuação do Poder Público.
- 208 -
f) o estabelecimento de protocolo que garanta a coleta de material biológico
para realização de teste diagnóstico para COVID-19 nos casos suspeitos e nos
óbitos ocorridos no sistema prisional, bem com o fluxo de coleta e processa-
mento de tais amostras;
g) a apresentação de protocolo, resolução ou outro ato quanto ao fluxo de enca-
minhamento dos casos suspeitos (leves ou graves) e confirmados para o aten-
dimento em saúde;
h) a disponibilização recorrente de itens e serviços de higiene e de equipamen-
tos de proteção individual em quantidade suficiente para todos(as) os(as) inter-
nos(as) e colaboradores(as) da Unidades Prisional de Tabatinga/AM;
i) a capacitação de todos os colaboradores da Unidade Prisional de Tabatinga/
AM para imediata adoção de todas as medidas de prevenção ao contágio da
COVID-19 sugeridas pelas autoridades sanitárias.
- 209 -
além da criação de uma Unidade Básica de Saúde, garantindo-se o pronto atendi-
mento hospitalar.
Acrescente-se a necessidade de criação de espaço para o cumprimento do
regime semiaberto de liberdade, visto que a Comarca não possui colônia agrícola,
industrial ou similar, e de casas de albergado para abrigar os reeducandos em re-
gime aberto.
Em conclusão, não se pode olvidar o reconhecido esforço da atual dire-
toria da unidade prisional de Tabatinga, responsável por significativa mudança
na unidade, mormente quanto à atuação do crime organizado no estabelecimento
prisional, em respeito ao Estado Democrático de Direito. Cabe agora ao Poder
Executivo estadual promover as já mencionadas melhorias na unidade, a fim de
se garantir integralmente os direitos dos presos.
- 210 -
Figura 4: Parlatório
- 211 -
Figura 6: Dispositivos de segurança
Referências
- 212 -
Município de Tabatinga comemora 250 anos de fundação. Repórter Solimões,
Tabatinga, 15 de julho de 2016. Disponível em: <https://radios.ebc.com.br/repor-
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em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Tabatinga_(Amazonas)>. Acesso em: 26 de
junho de 2021.
UNIDADE PRISIONAL DE TABATINGA (Estado do Amazonas). Relatório do
Diretor da Unidade Prisional de Tabatinga: 2021. Tabatinga, 2021.
- 213 -
- 214 -
CAPÍTULO XVIII
Não obstante daquilo que de fato se buscar enxergar neste artigo, qual
seja, um “retrato” do atual sistema carcerário e da segurança pública no Muni-
cípio de Tefé, o mais importante é, neste primeiro momento, descortinarmos os
olhos céticos da eficiência estatal e abrirmos as veias atróficas que obscuram e
amiúdam a segurança pública nos interiores do estado do Amazonas.
Se antes tínhamos a concepção de que as cidades interioranas eram es-
pécie de refúgio, calmaria e descanso, tais adjetivos não mais se coadunam na
contemporaneidade. Crescentes são os índices de violência nos municípios do
Amazonas, não apenas aqueles ligados à região metropolitana da capital, qual
seja, Manaus (o epicentro da criminalidade no estado), mas também todos os de-
mais municípios que conectam o Amazonas as diversas regiões do Brasil e país da
américa latina.
A “migração” do crime organizado para o interior do estado vai além da
desorganização e do descaso estatal, é estratégia de ocupação de território e poder
por parte de facções e organizações criminosas. E com isso, tudo aquilo que era
espantoso na capital (roubo, furto, homicídio, latrocínio e etc.), torna-se com fre-
quência, um retrato da insegurança e do crescimento da criminalidade nas grandes
e pequenas cidades interioranas do Amazonas.
Dada a urgência de identificarmos tais pressupostos, este trabalho faz um
recorte histórico do município de Tefé, localizado a 523 quilômetros de Manaus,
capital do estado do Amazonas, no que tange ao surgimento da prisão, incidência
criminal e a atual situação carcerária vivenciada por agentes carcerários e deten-
tos na Unidade Prisional Tefeense - UPT.
118 Mestre em Segurança Pública, Cidadania e Direitos Humanos (UEA). Advogado.
Professor Universitário. Pesquisador Científico do Projeto Nova Cartografia Social
da Amazônia (PNCSA) e do Grupo Interdisciplinar de Estudos da Violência (GIEV/
UEA) – Tefé – Amazonas – Brasil. E-mail. ehs.advogado@gmail.com
119 Graduado em Marketing pela Universidade Católica de São Paulo. Comunicador
e Artista Urbano. E-mail: calmonmoraes@gmail.com
- 215 -
Tefé é considerado o maior centro urbano no Amazonas a montante de
Manaus (IBGE, 2013; Menezes, 2009). Para Queiroz (2016), sua posição perifé-
rica, longe do centro econômico e político do país, lhe confere exercer um papel
relevante para a circulação e a produção do consumo neste subespaço amazônico,
por esses e outros componentes, é regionalmente conhecido como “cidade polo do
médio Solimões”.
No entanto, seu porte de “cidade grande” traz consigo além de responsa-
bilidades por parte de seus governantes, uma série de interesses de organizações
criminosas, inclusive para narcotraficantes, garimpeiros, grileiros – ao passo que
descentraliza oportunidades para a proliferação de crimes tipicamente urbanos,
por sua centralidade, acessibilidade e por possuir vários fluxos de rota de fuga
para outros municípios e países latino-americanos.
Apesar da cidade possuir um dos maiores centros de integração de segu-
rança pública da região norte do país, qual seja, a concentração das três Forças
Armadas (Marinha, Exército e Aeronáutica), o Município possui base fixa da Po-
lícia Federal, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis – IBAMA e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodi-
versidade – ICBIO, a cidade ainda conta com a 5° Delegacia Regional de Polícia
Civil e com o 3° Batalhão da Policia Militar. Contudo, Tefé não foge da realidade
por vezes precária encontrada nos demais municípios Amazonenses, o que fragi-
liza toda uma estrutura de segurança pública da região.
Assim, busca-se saber: Qual é a atual situação estrutural e administrativa
da Cadeia Pública no Município de Tefé? As políticas de proteção à dignidade da
pessoa humana do encarcerado estão sendo obedecidas? Há o cumprimento da
Lei de Execuções Penais de forma rigorosa ou existe uma flexibilização?
Para responder tais problemáticas, o ensaio liga-se à vertente metodo-
lógica jurídico-sociológica que, para Witker (1985), se propõe a compreender o
fenômeno jurídico no ambiente social mais amplo, analisa o direito como variável
dependente da sociedade e trabalha com as noções de eficácia e de efetividade das
relações direito e sociedade. Bem como, preocupa-se com a facticidade do Direito
e as relações contraditórias que estabelece com o próprio Direito e com os demais
campos: sociocultural, político e antropológico.
No tocante ao tipo de investigação, foi escolhido, na classificação Gustin
(2010) o jurídico-projetivo ou prospectivo, que segundo o autor, parte de premis-
sas e condições vigentes para detectar tendências futuras de determinado institu-
to jurídico ou de determinado campo normativo específico, tal qual é o sistema
prisional. Atrelado a isso, analisa tendências sociais e jurídicas contemporâneas,
correlacionando dados para a montagem de cenários (sociais e jurídicos) e estatís-
ticas, e correlacioná-las às vertentes de direitos em estudo.
O método de abordagem será predominantemente dialético que, para
Marques (2009), se fundamenta na dialética proposta por Hegel, no qual acredita
- 216 -
que o objeto de estudo está relacionado com as transformações culturais, sociais e
políticas. O Resultado deste método é uma síntese dessa relação, uma construção
ao pensar crítico daquilo que se estuda, que para o autor, poderá ser chamada de
objeto.
Quanto ao campo de pesquisa, este se deu na Unidade Prisional de Tefé,
feito a partir de análise empírica e de acervos fotográficos disponibilizados pelo
Sistema de Segurança Pública do Amazonas, com o intuito de contribuir e apri-
morar a pesquisa em desenvolvimento.
Como não seria a prisão a pena por excelência numa sociedade em que a liber-
dade é um bem que pertence a todos da mesma maneira e ao qual cada um está
ligado por um sentimento “universal e constante”? Sua perda tem, portanto, o
mesmo preço para todos; melhor que multa, ela é o castigo “igualitário”. (Fou-
cault, 2013, p. 2018)
Não muito distante daquilo para o qual as prisões foram criadas, hoje en-
contramos os mesmos mecanismos ideológicos, operacionais e estruturas, algo
um pouco moderno com as inovações tecnológicas, contudo, nada que credite o
SEAP/2021122 SEAP/2021
Fonte: SEAP/2021
- 220 -
Imagem 06
Fonte: SEAP/2021
Imagem 07
Fonte: SEAP/2021
- 222 -
serviços na Unidade Prisional de Tefé/AM e na Delegacia Interativa de Polícia
da comarca de Tefé/AM; (viii) a destinação de 100 testes rápidos para COVID
-19 para aplicação a todos(as) os(as) internos(as) e colaboradores(as) da Uni-
dades Prisional de Tefé/AM, com nova aplicação segundo indicação médica,
sem prejuízo de novos testes a serem requeridos conforme a necessidade da
Unidade. Ainda, caso não seja possível o envio dos insumos, requer seja dispo-
nibilizada, em caráter emergencial, verba para a aquisição dos referidos mate-
riais com o fim de garantir a adequada limpeza da Unidade Prisional de Tefé/
AM e a higienização pessoal dos presos sob custódia do Estado do Amazo-
nas. (Processo n. sob custódia do Estado do Amazonas. (Processo n. 0000446-
21.2020.8.04.7501 – TJAM/2021)
É notório que em plena Pandemia, o colapso na rede pública de saúde
e os inúmeros casos de contagio no Amazonas, a atenção primária aos cuidados
preventivos dos encarcerados da UPT ou do sistema prisional como um todo não
seria de todo as das mais urgentes prioridades, verdade esta que, dos 12 (doze)
presos condenados, e dos 88 (oitenta e oito) provisórios encarcerados na UPT, 67
(sessenta e sete) foram diagnosticados com Convid19, e apenas 73 (setenta e três)
detentos fizeram testes para Covid.
A saúde básica e primário dos internos é tão precária que a própria SEAP,
em seu relatório traz a observação quanto a ausência de Unidade Básica de Saúde
ou atendimento do próprio Estado aos encarcerados, ficando a encargo do municí-
pio o apoio e a disponibilização de profissionais para o atendimento médico ape-
nas de caráter preventivo, não tendo estrutura para urgência e emergência, dispo-
nibilizando o Município de 01 médico, 01 enfermeiro, 01 técnico de enfermagem,
01 dentista, 01 auxiliar de dentista, que atuam nos dias de terças e quintas-feiras.
Contudo, isso é reflexo de um descaso e a falta de políticas públicas vol-
tadas ao interior do estado do Amazonas. É perceptível o esquecimento, o abando-
no, bem como da indiferença que se tem as cidades interioranas do estado. E isto
acarreta um retrocesso quanto a qualquer implementação de políticas paliativas
ou preventivas de segurança pública, pois se não existe uma estrutura mínima do
próprio estado, como terão os municípios?
Neste contexto o município de Tefé se destaca como uma das maiores
rotas do narcotráfico da região, sendo alternativas para traficantes cooptarem jo-
vens e adultos ao universo do crime e descaracterizar as pacatas cidades em pe-
quenas fobopoles. Corrobora com isso, a falta de estrutura mínima no sistema de
segurança pública da cidade, quer seja com as unidades policiais, ou até mesmo
no próprio sistema prisional, este por sinal, em total desconexão com a Lei de
Execuções Penas n° 7.210/198124.
124 No presente caso, e da análise aos dados da SEAP referente à UPT, a probabilida-
de de violação do direito é clara, visto a quase totalidade dos direitos desrespeitados
contidos na lei 7.210/198. Dentre estes pode -se citar o tamanho das celas, a precária
alimentação, a falta de segurança e o descaso com a saúde dos segregados e dentre
- 223 -
Por fim, percebesse que os detentos que esperam julgamento ou aqueles
que estão cumprindo pena na UPT, não possuem outras alternativas que garantam
aos mesmos o mínimo de direito humanos possível. Suas masmorras pútridas e
sem o mínimo de condição de habitação, são as únicas alternativas que possuem
ao cumprimento da pena. O estado do Amazonas, mostra-se, por ora, negacio-
nista a qualquer política pública de segurança pública, ficando todos aqueles que
dependem direta ou indiretamente da UPT, reféns do descaso e da apatia política
naquela região.
outros. A unidade em questão parece ter sido construída com o fito de afronta ao “TÍ-
TULO IV” da Lei de Execuções Penais e as Regras de Mandela, diz o Juiz nos autos
Processo n. 0000446- 21.2020.8.04.7501 – TJAM/2021)
- 224 -
Os portugueses sabiamente afastaram a única força suficientemente poderosa,
capaz de pôr em xeque sua ideologia mercantil. E tendo expropriado do índio
certas técnicas para a vida na Amazônia, nos ofereceu como herança a vergo-
nha castradora que nos mantém sujeitos a uma sociedade de caricatura. (Souza,
2003, p. 46)
- 225 -
Nesse ponto, ao colocarmos em perspectiva o fato de que as cidades do
interior do Amazonas não sofreram um processo de expansão populacional, e sim,
ao contrário, assistiram o trânsito de seus cidadãos em direção à capital.
É fato que a realidade do interior amazonense não pode ser lida como
uma estrutura homogênea. Há diversidades sub-regionais muito marcantes em
múltiplos territórios como por exemplo a presença de povos indígenas, a explora-
ção de minério, de petróleo, bem como a forte presença da exploração agropecu-
ária em certas áreas.
Como então explicar o aumento da violência típica de cidades grandes?
Como entender o surto de violência ocorrido em Manaus e em cidades do interior
na primeira semana de junho de 2021?
É certo ainda que esta pergunta se autoresponde quando se está diante de
cidades fronteiriças com outros países, uma vez que a cultura do tráfico de entor-
pecentes é um comércio bem demarcado nestas regiões.
Nas demais, de um ponto de vista da Ecologia social, não se nota um
esgarçamento do tecido social a ponto de degenerar valores comunitários, um dos
fatores observados em comunidades onde há grandes densidades populacionais.
Nestas, a perda de vínculos resultou em segmentações sócioespaciais, origem de
uma série de conflitos. Este fato guardaria direta relação com os processos crimi-
nógenos, de acordo com Marinho (2004).
No entanto, o que se percebe em cidades médias e pequenas do interior
do Amazonas é a presença de facções criminosas, cuja ação expõe populações
inteiras a um novo tipo de sujeição. Contra esta realidade é notória a falta de uma
política de segurança eficaz de combate às drogas e a estas organizações crimino-
sas.
O número de apreensões de drogas em diversos municípios do interior do
Estado do Amazonas, bem como a crescente quantidade de inquéritos policiais e
ações penais tramitando na justiça criminal dão a dimensão do quanto este tipo de
comércio está disseminado na região.
Uma das causas comumente apontadas para este quadro é a falta de uma
política de segurança para as fronteiras brasileiras, em especial a da Amazônia.
Bem como a ausência de controle mais efetivo do espaço aéreo no Norte do País
e da fiscalização da entrada de armamentos através das fronteiras.
Tais elementos constituem especiais desafios para as forças de segurança
que atuam com baixo efetivo da Polícia Federal, como também pela ausência de
um policiamento específico de fronteira para Amazônia. Dessa forma, as facções
criminosas acabam logrando êxito na entrada de entorpecentes no Brasil dentre
outras atividades criminosas.
Some-se a isso a ausência de uma política nacional macro de segurança
para a Amazônia, planejada levando-se em conta as especificidades da região.
Exemplo disso é o Sistema Único de Segurança Pública (SUSP), que já comple-
- 226 -
tou três anos e ainda não foi implementado. Este sistema poderia representar o
atendimento de velhas demandas para a área de segurança pública, sobretudo para
região de fronteira.
O comércio de drogas e a luta das quadrilhas pela expansão de seus ter-
ritórios claramente alcançou o interior do Estado do Amazonas e contribui para
a desestruturação de unidades familiares e a ruptura da coesão social dessas co-
munidades. E infelizmente, o município de Tefé está no centro dessa expansão
territorial, do domínio das organizações criminosas e da apatia governamental,
que não apresenta nenhum plano de contenção ao crescimento e fortalecimento
dessas milícias.
O tamanho continental do Amazonas, atrelado ao distanciamento dos mu-
nicípios ao grande centro urbano do estado (Manaus), traz consigo um esqueci-
mento político e social aos povos interioranos. Quando o assunto se afunila as
questões de segurança pública e sistema prisional, percebe-se a complexidade e
dificuldade que os municípios possuem em manter ou organizarem um plano de
segurança pública municipal, dado às vezes pela ausência de conhecimento técni-
co ou pela dependência de programa as governamentais.
Refletir sobre as questões carcerárias, em especial no município de Tefé,
nos possibilita abrir precedentes para novos desafios que envolva política pú-
blica prisionais. O trabalho aqui apresentado, é um expoente importante para o
crescimento da discussão da matéria de estudos prisionais, pois o dossiê além de
apresentar os problemas mais comuns nas Unidades Prisionais dos interiores do
estado do Amazonas, proporciona um olhar mais holísticos aos problemas que a
memória e história não podem esquecer.
A Unidade Prisional de Tefé, objeto de estudo neste dossiê, demonstra
condições precárias e inóspitas a qualquer cumprimento de pena, ou para o de-
senvolvimento de trabalhos administrativos por parte dos colaboradores daquela
Unidade. Há uma série de problemas visíveis como infiltração de água nas celas
prisionais, ausência de sistema de esgoto, de ambulatório para urgência e emer-
gência, proliferação de doenças infectocontagiosas, segurança predial deficitária,
ausência de locais para estudos, cultos litúrgicos, visitas íntimas, assessoria jurí-
dica e outras, deixando evidencias claras que àquela Unidade Prisional precisa ser
interditada.
Outra questão importante levantada, foi a percepção de ausência de polí-
ticas públicas prisionais e de direitos humanos. Durante a pesquisa e após leitura
dos informativos disponibilizados pela SEAP, percebeu-se que os apenados vi-
vem em alas prisionais, que desnudam a própria ignorância cética por dias me-
lhores, também não existe o fiel cumprimento as políticas prisionais proposta pela
Lei de Execução de Penal e outros instrumentos normativos, merecendo uma re-
flexão mais detida e profunda aos mecanismos, políticas e ao próprio sistema de
segurança pública do estado.
- 227 -
Por fim, precisamos de um olhar mais sensível às questões de segurança
pública e sistema prisional no interior do estado, possibilitando que a Universida-
de do Estado do Amazonas – UEA, por meio do Grupo Interdisciplinar do Estudo
da Violência – GIEV, em coparceira com os órgãos de controle e fiscalização
como Poder Judiciário, Ministério Público, Defensoria Pública e OAB, possibi-
litem a criação de um fórum estadual para políticas carcerárias para o interior do
estado, possibilitando planos e estratégias por meio de trabalhos desenvolvidos,
trazendo sugestões e apresentando questões que norteiam segurança pública, sis-
tema prisional e também direitos humanos.
Referências
- 228 -
CAPÍTULO XIX
Poema escrito a quatro mãos pelos poetas Max Carphentier e Elson Farias,
por ocasião do 30º FECANI – Festival da Canção de Itacoatiara, em Itacoatia-
ra - AM, 5/09/2014.
- 230 -
Breve histórico da cidade de Itacoatiara - AM
- 232 -
Fundada em 1683 por padres jesuítas, a cidade é conhecida como Velha
Serpa ou Cidade da Pedra Pintada, por possuir na entrada da área urbana uma
pedra pintada com um escrito indígena do tupi ou nheengatu itá: pedra; e coatia-
ra: (pintado, gravado, escrito, esculpido) que deu origem ao nome atual da cidade,
conforme se disse no início da nossa conversa. É sabido que o então Governador
Mendonça Furtado, em 1758, transferiu o povoado do Rio Madeira para a mar-
gem do Rio Amazonas onde está hoje a cidade. Nela há importantes monumen-
tos, museus, parques, balneários, teatros e eventos de grande repercussão, como
o Festival da Canção de Itacoatiara, considerado o maior evento de música da
Região Norte do Brasil
- 233 -
Imagem 04 – Localização Geográfica do Município de Itacoatiara.
- 234 -
Imagem 05: Região portuária da cidade.
- 235 -
Imagem 08: Orla de Itacoatiara
- 236 -
atraídos pelo ciclo da borracha, também contribuíram para a formação cultural do
município. Tudo isso gerou na localidade e no estado uma cultura mestiça e com
grande contribuição e permanência da cultura indígena. A prefeitura promove cul-
tura por órgãos culturais. Todos os anos, no mês de setembro, acontece o Festival
da Canção de Itacoatiara - FECANI, com o objetivo de desenvolver e divulgar
novos talentos amazonenses da música. É o maior festival de música do Norte,
reunindo músicos de todo o Brasil.
Itacoatiara é um dos maiores destinos turísticos no Amazonas, recebendo
um elevado número de turistas que visitam as praias, lagos e igarapés das proxi-
midades, que contam com diversos hotéis de selva, a fim de experienciar a cultura,
culinária local e sentir o afago da selva nativa.
- 237 -
partamento jurídico e de assistência social, solários e área para visita. O presídio é
dividido em dois pavilhões, um para presos provisórios e outro para sentenciados.
As celas têm capacidade para abrigar até seis internos. Todo o presídio é monito-
rado por câmeras, tornando a segurança ainda mais eficaz.
No dia seguinte da inauguração, foram transferidos 69 presos para a nova
unidade. Na antiga penitenciária ficarão as mulheres e os presos do regime semia-
aberto. A população carcerária de Itacoatiara atualmente é de 125 homens e 14
mulheres.
A SEJUS leva adiante nesse momento a missão de se aperfeiçoar em suas
responsabilidades, construindo ou reformando unidades e buscando fazer da re-
clusão um espaço de qualificação e retorno à sociedade, com a atenção máxima
aos Direitos Humanos.
Seguindo como exemplo instituições em países onde até 80% dos detentos
podem ser reabilitados, observando as recomendações dos órgãos responsáveis
pela saúde pública nacional e internacional, a Secretaria de Estado de Adminis-
tração Penitenciária do Amazonas passou a adotar procedimentos operacionais e
ações de proteção à saúde, com o fito de preservar o bem-estar físico e mental dos
custodiados, visitantes, servidores e colaboradores das empresas de Cogestão do
sistema prisional do Estado do Amazonas.
Acreditando que para reabilitar, além de boas condições físicas, o detento
precisa de atividades que ofereçam um futuro de volta à sociedade, se investiu em
ações e projetos para o melhor bem-estar e otimização do atendimento aos deten-
tos, bem como às suas famílias.
A fim de obter resultados precisos para presente pesquisa, foi realizado um
levantamento de dados na referida unidade. Tais dados culminam nas seguintes
observações e resultados:
Embora tenha sido fundada no ano de 2010, não foi possível descobrir o
ano de início e fim da construção da mesma, a origem ou responsável pelo Projeto
Arquitetonico da Unidade, pois não constam nos registros essa informação. Em
2021, a Direção Geral da Unidade Prisional de Itacoatiara é de Antonio Enriques
Cordeiro.
- 241 -
Imagem 09: Unidade Prisional de Itacoatiara
Figura 10
- 243 -
Referências
AMAZONAS. Infográfico da economia - PIB AGROPECUÁRIO/ SEPROR. 100
maiores PIBs da agropecuária. <http://www.sepror.am.gov.br/> Acesso em: 22 de
setembro de 2021.
AMAZONAS. Relatório de Inspeção da VEP - TJ/AM, 2021. Relatório das ações
de saúde e operacional desencadeadas pela Secretaria de Estado de Administra-
ção Penitenciária do Amazonas no combate ao novo coronavírus. Secretaria de
Administração Penitenciária do Estado do Amazonas. Acesso em: 9 de setembro
de 2021.
AMAZONAS. Dados gerais do município de Itacoatiara - AM. Confederação Na-
cional dos Municípios (CMN). Acesso em: 21 de julho de 2021.
AZEVEDO, Rita. As 50 cidades pequenas mais desenvolvidas do Brasil Exame.
Acesso em: 18 de julho de 2021
EMBRAPA. Áreas Urbanas no Brasil em 2015. Acesso em: 17 de janeiro de 2022.
ITACOATIARA. IBGE - Cidades. <cidades.ibge.gov.br> Acesso em: 15 de se-
tembro de 2021
ITACOATIARA. IBGE - Produto Interno Bruto dos Municípios – Itacoatiara -
2021. <cidades.ibge.gov.br.>. Acesso em: 20 de agosto de 2021
SEAP. Secretária de Administração Penitenciária. Relatório das ações de saúde
e operacional desencadeadas pela Secretaria de Esta do de Administração Peni-
tenciária do Amazonas no combate ao novo coronavírus - mês de maio de 2021
- Secretaria de Administração Penitenciária do Estado do Amazonas. Acesso em:
9 de setembro de 2021.
- 244 -
ANEXO
PODER LEGISLATIVO
ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO AMAZONAS
TÍTULO I
Do Sistema Penitenciário CAPÍTULO I
Dos Estabelecimentos Penais
- 245 -
roupas e outras peças de uso que lhe pertençam e que o regulamento não autorize
tê-los consigo.
§ 1.º - Todos os objetos serão inventariados e tomadas as medidas necessá-
rias para a sua conservação;
§ 2.º - Os objetos referidos neste artigo serão devolvidos ao preso ou
internado no momento de sua transferência ou liberação.
5. As normas de conduta e o sistema disciplinar vigente deverão ser
informados ao preso ou internado quando de seu ingresso no estabelecimento.
6. Parágrafo único. Se o preso ou internado for analfabeto, apresentar
incapacidade física ou psíquica ou não conhecer o vernáculo, a informação de
que trata este artigo deverá ser realizada por pessoa e meios idôneos.
7. Nas comarcas onde não existirem estabelecimentos penais, suas
finalidades serão, excepcionalmente, atribuídas às cadeias públicas locais,
observadas as normas deste Estatuto, no que forem aplicáveis, e às restrições
legais ou de decisões judiciais.
8. Ninguém será recolhido ou mantido em estabelecimento penal sem or-
dem escrita da autoridade judiciária competente ou em decorrência da lavra-
tura de regular auto de prisão em flagrante delito, procedendo-se ao registro e às
devidas comunicações.
9. Cada estabelecimento penal possuirá um Centro de Observação Crimi-
nológica e Triagem, separadamente ou no mesmo conjunto arquitetônico, onde
serão realizados a separação de presos, os exames gerais e o exame cri-
minológico.
10. As nomeações do coordenador do Sistema Penitenciário e dos Direto-
res dos Estabelecimentos Penais deverão obedecer aos critérios previstos no
artigo 75 da Lei de Execução Penal.
11. Nos Estabelecimentos destinados às mulheres, os responsáveis pela se-
gurança interna serão, obrigatoriamente, funcionários do sexo feminino.
§ 1.º - Haverá uma creche e pré-escola em cada estabelecimento feminino
de regime fechado ou semi-aberto, com a finalidade de assistir aos menores até 5
(cinco) anos de idade, cujas responsáveis estejam presas naquelas unidades.
§ 2.º - Integrarão o corpo de funcionários das Instituições citadas no
parágrafo anterior, um pedagogo e um pediatra.
§ 3.º - Após 5 (cinco) anos de idade, o menor será encaminhado aos
familiares, por intermédio do Juiz da Infância e da Juventude ou a esta autoridade
judiciária.
- 246 -
CAPÍTULO II
Dos Órgãos Auxiliares
TÍTULO II
Do Regime Penitenciário CAPÍTULO I
Do Regime Fechado
- 247 -
14. A Penitenciária destina-se ao condenado ao cumprimento de pena de
reclusão, em regime fechado.
Parágrafo único - O condenado será alojado, salvo razões especiais, em
cela individual, que conterá dormitório, aparelho sanitário e lavatório.
15. No critério de classificação a ser adotado no regime fechado observar-
-se-á, sempre que possível, além das regras gerais de individualização, o aloja-
mento em separado dos presos nas seguintes situações:
IX - os condenados que estiverem respondendo a outro processo, ainda
sem decisão condenatória transitada em julgado, e estiverem sob qualquer espé-
cie de prisão cautelar;
X - os condenados submetidos à execução provisória da pena.
CAPÍTULO II
Do Regime Semi-Aberto
CAPÍTULO III
Do Regime Aberto Seção I
Da Casa do Albergado
- 248 -
ao alojamento do egresso, na forma do inciso II, do artigo 25 da Lei de Execução
Penal.
19. O prédio deverá situar-se em centro urbano, separado dos demais esta-
belecimentos, e caracterizar-se-á pela ausência de obstáculos físicos contra a fuga.
20. Em cada região haverá, pelo menos, uma Casa do Albergado, a qual
deverá conter, além dos aposentos destinados à acomodação dos que cumprem
pena, local adequado para cursos e palestras.
Parágrafo único - O Estabelecimento terá instalações para os serviços de
fiscalização e orientação dos condenados.
21. Ao ingressar na Casa do Albergado, para cumprimento de pena privati-
va de liberdade em regime aberto, o apenado, além das informações referentes ao
sistema disciplinar, deve ser advertido formalmente das seguintes condições
gerais e obrigatórias:
XI - permanecer recolhido nos horários de repouso e nos dias de folga;
XII sair para o trabalho e retornar, nos horários fixados;
XII não se ausentar da cidade onde reside, sem autorização judicial;
XIII comparecer a juízo, para informar e justificar as suas atividades,
quando for determinado.
§ 1.º - Os horários de permanência na Casa do Albergado serão estabeleci-
dos mediante norma regulamentar do estabelecimento penal.
§ 2.º - Em casos especiais, poderá ser estabelecido horários diferentes para
recolhimento, desde que a situação específica do albergado necessite, após ava-
liação do setor de assistência social.
§ 3.º - Na hipótese do parágrafo anterior, o juiz da execução deve ser infor-
mado, no prazo de quarenta e oito horas, com o encaminhamento dos documentos
e pareceres referentes à situação do albergado.
22. A Casa do Albergado atuará como Patronato, na forma do Capítulo VII,
do Título III, da Lei de Execução Penal, e para tanto a Direção deverá:
XV - promover a assistência ao condenado, objetivando a reeducação
social e reintegração à comunidade por meio de formação profissional,
colocação empregatícia, habitação, transporte, saúde, educação, aten-
dimento jurídico, psicológico, material e religioso, na forma do capítulo II da Lei
de Execução Penal;
XVI - fiscalizar e orientar os condenados à pena restritiva de direitos, assim
como colaborar com a fiscaliza ção do cumprimento das condições da suspensão
condicional da execução da pena e do livramento condicional, quando
houver expressa delegação;
XVII - propiciar a conscientização da família do egresso, visando ao seu
reingresso no meio social;
- 249 -
XVIII - acompanhar e avaliar o desenvolvimento do processo de
ressocialização do condenado e do egresso, mediante verificação sistemática
da sua conduta em nova condição de vida e objetivando a redução da reincidência
criminal;
XIX - conscientizar a comunidade a fim de que facilite as condições neces-
sárias à adequada reintegração social do egresso;
X - tomar as providências para que o egresso continue tratamento
psiquiátrico ou psicológico, quando necessário.
2) A Secretaria de Estado de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania, para
as atividades de assistência e orientação aos condenados e aos egressos, as-
sim como para as de fiscalização das penas restritivas de direito, das condições da
suspensão condicional da execução da pena e do livramento condicional, poderá
celebrar convênios e ajustes com entidades e instituições públicas ou privadas,
nos termos da legislação pertinente.
Seção II
Da Saída Temporária
- 250 -
punido com falta grave ou média, desatender as condições impostas na autori-
zação ou revelar baixo aproveitamento no curso em caso de autorização de saída
para estudo.
CAPÍTULO IV
Do Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico
CAPÍTULO V
Das Cadeias Públicas
30. Ressalvado o disposto no artigo 5.º desta Lei, as Cadeias Públicas des-
tinam-se ao recolhimento de presos provisórios.
31. O alojamento dos presos na Cadeia Pública obedecerá ao dispos-
to no parágrafo único do artigo 15 desta Lei.
32. Ao preso provisório será assegurado regime especial no qual se obser-
vará:
XXVII separação dos presos condenados; XXVIII cela individual, pre-
ferencialmente;
XXIX uso de sua própria roupa ou, quando for o caso, de uniforme diferen-
ciado daquele utilizado por preso condenado;
XXXoferecimento de oportunidade de trabalho;
XXXI visita e atendimento do seu médico ou dentista.
33. A separação dos presos na Cadeia Pública será feita no Centro de Ob-
servação Criminológica e Triagem do estabelecimento, pela Comissão Técnica
de Classificação, a qual observará, sempre que possível e no que for
- 251 -
cabível, os critérios do artigo 2.º e do Título III, desta Lei, e o alojamento em se-
parado dos presos nas seguintes situações:
XXXII presos em virtude de prisão de natureza civil;
XXXIII presos que possuírem sentença condenatória sem o trânsito em
julgado ou aguardando a expedição da competente guia de recolhimento.
TÍTULO III
Da Classificação
TÍTULO IV
Da Assistência
- 254 -
artigo 126 da Lei de Execução Penal,desde que com bom aproveitamento devida-
mente avaliado e igualmente comprovado o bom comportamento do preso.
§ 1.º - O tempo de estudo deve ser certificado, consignando-se o tempo
exato de atividades, pela direção do estabelecimento penal ou pela direção do
curso.
§ 2.º - Será computado como um dia de estudo a dedicação a essa atividade
durante seis horas, mesmo que em dias diferentes.
§ 3.º - Não se poderá computar mais de seis horas diárias de estudo para os
fins deste artigo.
TÍTULO VI
Do Trabalho
- 255 -
§ 2.º - Ressalvadas outras aplicações legais, será depositada a parte res-
tante para constituição do pecúlio, em caderneta de poupança, que será entregue
ao condenado quando posto em liberdade.
§ 3.º - Não havendo danos a serem ressarcidos ou multa a ser paga, uma
metade da porcentagem correspondente será revertida para a constituição do pe-
cúlio e a outra para a assistência aos dependentes.
§ 4.º - Não havendo dependentes, a porcentagem correspondente será re-
vertida para a constituição do pecúlio.
49. O diretor do estabelecimento ou o responsável designado para tanto,
mandará abrir conta de poupança particular em nome do apenado ou interna-
do, para arrecadação do pecúlio, devendo as parcelas respectivas ser deposita-
das até dez dias após a data em que for pago o salário mensal.
§ 1.º - Mediante ofício do diretor do estabelecimento ao banco creditado,
o saldo da conta de pecúlio será liberado em favor do recolhido, ao término da
execução da pena ou medida de segurança e no caso de livramento con-
dicional ou extinção da punibilidade.
§ 2.º - Em caso de morte, o saldo será entregue aos herdeiros do falecido e,
na falta deles, posto a disposição do serviço de assistência social do estabelecimen-
to, para auxílio à família dos demais recolhidos.
50. O trabalho externo somente será autorizado quando o preso estiver em
execução de pena.
§ 1.º - Ao preso ou internado será garantido trabalho remunerado conforme
sua aptidão e condição pessoal, respeitada a determinação médica.
§ 2.º - Será proporcionado ao preso ou internado trabalho educativo e pro-
dutivo.
§ 3.º - Devem ser consideradas as necessidades futuras do preso ou interna-
do, bem como as oportunidades oferecidas pelo mercado de trabalho.
51. Serão tomadas medidas para indenizar os presos ou internados por aci-
dentes de trabalho e doen ças profissionais, em condições semelhantes às que a lei
dispõe para os trabalhadores livres.
Parágrafo único - A lei ou regulamento fixará a jornada de trabalho diária e
semanal para os presos e internados, observada a destinação de tempo para lazer,
descanso, educação e outras atividades que se exigem como parte do tratamento e
com vistas à reinserção social.
TÍTULO VII
Dos Direitos, dos Favores, das Recompensas e dos Deveres CAPITULO I
Disposições Gerais
52. Ao preso e ao internado serão assegurados todos os direitos não atingi-
dos pela sentença ou pela lei.
- 256 -
Parágrafo único - Independente do disposto no Título III, aplicam-se as
disposições contidas nos artigos 40 a 43 e seu parágrafo único, da Lei de Execu-
ção Penal.
53. Em caso de falecimento, doenças, acidente grave ou de transferência
do preso ou do internado para outro estabelecimento, o diretor informará imedia-
tamente ao cônjuge, se for o caso, a parente próximo ou a pessoa previamente
indicada.
§ 1.º - o preso ou internado será informado, imediatamente, do falecimento
ou de doença grave de cônjuge, companheiro, ascendente, descendente ou ir-
mão, podendo ser permitida a visita a estes, sob custódia;
§ 2.º - o preso ou internado terá direito de comunicar, imediatamente, à
família sua prisão ou a transferência para outro estabelecimento.
54. O preso ou internado não será constrangido a participar ativa ou pas-
sivamente de ato de divulgação de informações aos meios de comunicação
social, especialmente no que tange à sua exposição compulsória, à
fotografia ou filmagem.
Parágrafo único - A autoridade responsável pela custódia do preso
ou internado, providenciará para que informações sobre a vida privada e a
intimidade do mesmo sejam mantidas em sigilo, especialmente aquelas que não
têm relação com sua prisão ou sua internação.
55. Em caso de deslocamento do preso ou do internado, por qualquer moti-
vo, deve se evitar sua exposição ao público, assim como resguardá-lo de insultos
e da curiosidade geral, não sendo obrigatório o uso de uniforme.
56. Em caso de perigo para a ordem ou a segurança do estabelecimen-
to, a autoridade competente poderá restringir a correspondência dos presos
ou dos internados, respeitados os seus direitos.
Parágrafo único - A restrição referida no “caput” deste artigo cessará, ime-
diatamente, quando restabelecida a normalidade.
CAPÍTULO II
Das Visitas
- 257 -
59. O visitante deverá respeitar as normas regulamentares vigentes
na instituição, as indicações dos funcionários e abster-se de tentar intro-
duzir qualquer objeto que não tenha sido permitido e expressamente
autorizado pelo diretor.
Parágrafo único - O visitante que não se comportar conforme as normas
vigentes ou sendo comprovada sua cooperação para ingresso no estabeleci-
mento de qualquer objeto não permitido, será suspenso, temporária ou definitiva-
mente, por resolução do Diretor, passível de revisão apenas pela Coor-
denação do Sistema Penitenciário ou pela autoridade judiciária competente.
60. O visitante e seus pertences, por motivo de segurança, serão revistados,
observado o respeito à dignidade da pessoa humana, por pessoas do mesmo sexo
do visitante.
Parágrafo único - A revista manual, na medida do possível, será substituída
por sensores eletrônicos.
61. Deverá ser estabelecido um regime específico de visitas para os meno-
res de dez anos, filhos de presas ou internadas, sem restrição quanto à frequência
e intimidade, com duração e horário que deverá ser ajustado conforme
a organização interna.
CAPÍTULO III
Da Visita Íntima
62. A visita íntima é direito que deve ser entendido como a recepção pelo
preso ou internado, de cônjuge ou outro parceiro, no estabelecimento prisional em
que estiver recolhido, em ambiente reservado, cuja privacidade e inviolabilidade
sejam asseguradas.
Parágrafo único - A visita íntima é também direito que deve ser assegurado
aos presos casados entre si ou em união estável.
63. A direção do estabelecimento deve assegurar ao preso ou internado
visita íntima de, pelo menos, uma vez por mês.
64. O preso ou internado, na ocasião do recolhimento, deve informar o
nome do cônjuge ou de outro parceiro para sua visita íntima.
§ 1.º - Para habilitar-se à visita íntima o cônjuge ou outro parceiro indicado
deve cadastrar-se.
§ 2.º - Incumbe à direção do estabelecimento o controle administrativo da
visita íntima, como cadastramento do visitante, a confecção do cronograma de
visita, e a preparação do local adequado para sua realização.
§ 3.º - O preso ou internado não pode fazer duas indicações concomitantes e
- 258 -
só pode nominar o cônjuge ou novo parceiro de sua visita íntima após o cancelamento
formal da indicação anterior.
65. A direção do estabelecimento deve informar ao preso, cônjuge ou ou-
tro parceiro da visita íntima sobre assuntos pertinentes á prevenção do uso
de drogas, de doenças sexualmente transmissíveis e, particularmente, a
AIDS.
CAPÍTULO III
Dos Favores
CAPÍTULO IV
Dos Deveres
69. Não haverá falta nem sanção disciplinar sem expressa e anterior previ-
são legal ou regulamentar.
70. Não haverá confinamento ou qualquer medida que contrarie o objetivo da
promoção da saúde física e mental, de ressocialização e da capacidade produtiva,
ou que atente à dignidade pessoal do preso ou do internado.
71. Nenhuma sanção disciplinar será imposta em razão de dúvida ou mera
suspeita.
72. São proibidos, como sanções disciplinares, os castigos corpo-
rais, clausura em cela escura, sanções coletivas, bem como toda punição cruel,
desumana, degradante e qualquer forma de tortura.
Parágrafo único - Não serão aplicadas aos presos ou internados, sanções
disciplinares na presença de seus filhos.
73. A falta que importar em responsabilidade penal será comunicada a au-
toridade competente, sem preju ízo da sanção disciplinar cabível.
74. O preso que concorrer para a prática de falta disciplinar incidirá nas
sanções a ela cominadas.
CAPÍTULO II
Dos Meios de Coerção
75. Nenhum preso será punido sem ser informado da infração que lhe está
sendo atribuída e sem que lhe seja assegurado o direito de defesa.
76. Os meios de coerção, tais como algemas e camisa-de-força, só poderão
ser utilizados nos seguintes casos:
XII como medida de precaução contra fuga ou durante o deslocamento
do preso ou do internado, devendo ser retirados quando do comparecimento em
audiência perante a autoridade judicial ou administrativa;
XIII por motivo de saúde, segundo recomendação médica;
XIV em circunstâncias excepcionais, quando for indispensável utilizá-los
em razão de perigo iminente para a vida do preso, do internado, de servidor
ou de terceiros.
77. É proibido o transporte do preso ou do internado em condições ou
situações que lhe imponham sofrimento físico ou risco de vida.
- 260 -
Parágrafo único - No deslocamento de mulher presa ou internada a escolta
será integrada, pelo menos, por uma policial ou servidora pública.
CAPÍTULO III
Das Faltas e das Sanções Disciplinares
- 261 -
XXXII desobedecer aos horários regulamentares; XXXIII descumprir
às prescrições médicas;
XXXIV abordar autoridade ou pessoa estranha ao estabelecimento, sem
autorização;
XXXV lavar ou secar roupas em local não permitido;
XXXVI fazer refeições em local e horário não permitidos;
XXXVII utilizar-se de local impróprio para satisfação das necessidades
fisiológicas;
XXXVIIIconversar através de janela, guichê da cela, setor de trabalho ou
local não apropriado;
XXXIX descumprir as normas para visita social ou íntima.
80. São consideradas faltas médias:
XL deixar de acatar as determinações superiores;
XLI imputar falsamente fato ofensivo à administração, funcionário, preso
ou internado;
XLII dificultar averiguação, ocultando fato ou coisa relacionada com a fal-
ta de outrem; XLIII manter, na cela, objeto não permitido;
XLIV abandonar, sem permissão, o trabalho;
XLV praticar ato libidinoso, obsceno ou gesto indecoroso; XLVI
causar dano material ao estabelecimento ou coisa alheia; XLVII praticar jogo pre-
viamente não permitido;
XLVIII abster-se de alimentação como protesto ou rebeldia;
XLIX utilizar-se de outrem para transportar correspondência ou objeto,
sem o conhecimento da administração;
L provocar, mediante intriga, discórdia entre funcionários, presos ou
internados, para satisfazer interesse pessoal ou causar tumulto;
LI colocar outro preso ou internado à sua submissão ou à de grupo, em
proveito próprio ou alheio;
LII confeccionar, portar ou utilizar chave ou instrumento de segurança do
estabelecimento, salvo quando autorizado;
LIII utilizar material, ferramenta ou utensílio do estabelecimento em
proveito próprio ou alheio, sem autorização;
LIV veicular, por meio escrito ou oral, acusação infundada à administração
ou ao pessoal penitenciário;
LV desviar material de trabalho, de estudo, de recreação e outros, para local
indevido;
LVI recusar-se a deixar a cela quando determinado, mantendo-se em atitu-
de de rebeldia;
- 262 -
LVII deixar de freqüentar, sem justificativa, às aulas no grau em que esteja
matriculado;
LVIII maltratar animais;
LIX alterar ou fazer uso indevido de documentos ou cartões de
identificação fornecidos pela administração, para transitar no interior do estabe-
lecimento;
LX praticar ato definido como crime culposo;
LXI portar, ter em sua guarda, ou fazer uso de bebida com teor alcoólico,
ou apresentar-se embriagado.
81. São consideradas faltas graves:
LXII incitar ou participar de movimento para subverter a ordem ou a dis-
ciplina;
LXIII fugir/ evadir-se;
LXIV possuir, indevidamente, instrumento capaz de ofender a integridade
física de outrem;
LXV provocar acidente de trabalho;
LXVI descumprir, no regime aberto, as condições impostas; LXVII prati-
car fato definido como crime doloso;
LXVIII inobservar os deveres previstos nos incisos I e IV do Art. 39 da
Lei de Execução Penal.
82. Constituem sanções disciplinares:
I - Faltas Leves:
a) advertência;
b) suspensão de visita por até dez dias;
c) suspensão de favores e regalias por até dez dias;
d) isolamento na própria cela ou em local adequado de dois a cinco dias.
II - Faltas Médias:
a) repreensão;
b) suspensão de visitas de dez a vinte dias;
c) suspensão de favores e regalias de dez a vinte dias;
d) isolamento na própria cela ou em local adequado, de cinco a dez dias.
III - Faltas Graves:
a) suspensão de visitas de vinte a trinta dias;
b) suspensão de favores e regalias, de vinte a trinta dias;
c) isolamento na própria cela ou em local adequado de vinte a trinta dias.
§ 1.º - As sanções de advertência, repreensão e suspensão serão aplicadas
pelo diretor, ouvido o conselho disciplinar.
- 263 -
§ 2.º - A sanção de isolamento será aplicada por decisão do Conselho Dis-
ciplinar da unidade onde ocorreu a falta.
CAPÍTULO IV
Do Processo Disciplinar
- 264 -
Parágrafo único - Havendo requerimento de diligências por parte da
defesa, estas se realizarão no prazo improrrogável de três dias úteis.
88. Instruído o processo com relatório circunstanciado do secretá-
rio, o Conselho Disciplinar intimará o defensor para apresentar defesa, no
prazo de dois dias úteis, e observará, na aplicação das sanções, o estatuído no Art.
54 da Lei de Execução Penal.
Parágrafo único - As decisões do Conselho Disciplinar, assim como
as que couberem ao diretor do estabelecimento, serão proferidas no prazo
de dois dias úteis, fundamentadamente.
89. Poderá o Conselho Disciplinar realizar uma única audiência de ins-
trução e julgamento que contará, obrigatoriamente, com a presença de defensor
constituído ou dativo que, ao final, poderá apresentar defesa oral que será
tomada a termo nos autos.
Parágrafo único - O preso deve ser intimado da data da audiência com an-
tecedência mínima de três dias úteis.
90. Na fixação da sanção, ter-se-á em conta o grau de adaptação à vida car-
cerária, os antecedentes do preso ou internado, o tempo de prisão, a causa deter-
minante da falta cometida, as circunstância atenuantes e agravantes e a relevância
do resultado produzido.
§1.º - São circunstâncias que atenuam a sanção:
LXXII ter o preso menos de 21 (vinte e um) anos ou mais de 60 (sessenta)
anos;
LXXIII a ausência de falta disciplinar anterior;
LXXIV ser de pouca relevância sua participação no cometimento da falta;
LXXV ter confessado, espontaneamente, a autoria da falta ignorada ou impu-
tada a outrem;
LXXVI ter agido sob coação;
LXXVII ter procurado, logo após o cometimento da falta, evitar ou mino-
rar os efeitos.
§ 2.º - São circunstâncias que agravam a sanção:
I a reincidência;
II ter sido o organizador ou promotor da falta ou ter dirigido a atividade de
outros participantes;
III ter coagido ou induzido outros presos à prática da falta disciplinar;
IV ter cometido a falta com abuso de confiança.
91. Após a decisão do Conselho Disciplinar, lavrar-se-á ata da reunião,
assinada por todos os membros, cuja cópia será remetida ao juiz da execução
e deverá, sob pena de nulidade, conter:
- 265 -
LXXVIII o relato sucinto do fato, com as circunstâncias de tempo e lugar;
LXXIX indicação dos partícipes, ofendidos e testemunhas, se houver;
LXXX relatório com as diligências efetuadas e menção a outros elementos
que serviram para comprovação da infração;
LXXXI decisão fundamentada;
LXXXII dia e hora que se lavrou a ata e assinaturas.
92. Em se tratando de falta leve ou média, a sanção imposta poderá ficar
suspensa até trinta dias, a juízo do presidente do Conselho Disciplinar, para ob-
servação da conduta do preso ou do internado que, sendo satisfatória, importará
no cancelamento da sanção.
93. A execução da sanção disciplinar será suspensa quando desaconselhada
pelo serviço de saúde do estabelecimento.
Parágrafo único - Cessada a causa que motivou a suspensão, a execução
será iniciada ou terá seu prosseguimento.
94. O isolamento preventivo do preso será computado na execução da san-
ção disciplinar.
95. O preso que praticar falta considerada grave pelo motivo de evasão ou
fuga, ao retornar ao Sistema Penitenciário deverá, de imediato, passar pelo
Conselho Disciplinar da unidade que estiver adentrando, para apreciação
de sua conduta.
96. O preso poderá solicitar a reconsideração da decisão, no prazo de cinco
dias, contado de sua intimação, quando:
LXXXIII não tiver sido unânime a decisão do Conselho Disciplinar;
LXXXIV a decisão não estiver de acordo com o relatório.
97. Poderá ser requerida a revisão do processo disciplinar quando:
LXXXV a decisão se fundamentar em testemunho ou documento com-
provadamente falso;
LXXXVI a sanção tiver sido aplicada em desacordo com as normas deste
Estatuto ou da Lei.
98. Os pedidos de revisão das sanções serão requeridos ao presidente
do Conselho Disciplinar do estabelecimento, que o submeterá à apreciação do
referido Conselho, em dois dias úteis, o qual decidirá fundamentadamente.
§ 1.º - Julgado procedente o pedido, serão canceladas as punições, comuni-
cando-se ao juiz da execução.
§ 2.º - Entendendo o Conselho que a decisão deva ser mantida, os autos
serão encaminhados ao Conselho de Reclassificação e Tratamento, em se tratando
de falta grave.
- 266 -
99. As faltas graves somente serão passíveis de reabilitação pelo Conselho
de Reclassificação e Tratamento.
§ 1.º - O pedido de reabilitação deverá ser requerido pelo preso ou por seu
procurador, e será encaminhado ao Conselho de Reclassificação e Tratamento
por intermédio da direção.
§ 2.º - O pedido será instruído com a cópia dos dados gerais e da ficha de
comportamento carcerário.
100. Os pedidos de reabilitação de falta grave serão submetidos à apre-
ciação do Conselho de Reclassificação e Tratamento, que decidirá no prazo de
quinze dias, desde que:
LXXXVII transcorrido o período mínimo de seis meses, após o término de
cumprimento da sanção, para os presos que cumpram pena em regime fechado;
LXXXVIII transcorrido o período mínimo de três meses, após o término
do cumprimento da sanção, para os presos que cumpram pena em regime semi-
-aberto, desde que não haja regressão de regime imposta pelo juiz da execução.
101. Os membros do Conselho de Reclassificação e Tratamento serão no-
meados anualmente pelo Secretário de Estado de Justiça, Direitos Hu-
manos e Cidadania, compreendendo no mínimo, quatro diretores dos
estabelecimentos e um defensor público.
Parágrafo único - A proposta de nomeação será efetuada pelo coorde-
nador do Sistema Penitenciário, que é o membro nato e seu presidente.
102. Caberá ao Conselho Disciplinar do estabelecimento, de ofício
ou a requerimento do interessado, a reabilitação das faltas leves e médias,
desde que transcorridos trinta dias após o término do cumprimento da sanção
disciplinar.
103. A não reabilitação, qualquer que seja a natureza da falta, decorridos
doze meses do cumprimento da última sanção imposta, ensejará ao preso ou in-
ternado o retorno à condição de primário, para os fins previstos neste
Estatuto.
TÍTULO XX
Das Medidas de Exceção
- 267 -
com danos materiais ao prédio ou com a manutenção de reféns.
§ 2.º - Ficará igualmente suspensa a entrada de gêneros alimentícios e hi-
giênicos.
105. Havendo danos aos equipamentos de cozinha, será fornecida refeição
fria ou lanche aos presos, até a reparação ou reposição dos utensílios dani-
ficados.
106. Na hipótese do estabelecimento penal apresentar movimentos que
possam conduzir à nova insurreição, o estabelecimento poderá ser ocupado por
integrantes da Polícia Militar, que assegurarão a ordem e a disciplina.
107. A Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania buscará
meios legais para ressarcimento dos prejuízos causados ao erário, mediante
desconto do pecúlio dos presos, nos moldes da alínea “d”, do §1º, do artigo 29 da
Lei de Execução Penal, e na proporção fixada nesta lei.
108. Sem prejuízo do procedimento disciplinar, os presos envolvidos em
rebelião poderão ser transferidos para outro estabelecimento penal, delegacia
de polícia ou batalhão da Polícia Militar, pelo tempo necessário para afastar o
risco de nova insurreição, a critério do juiz da execução penal.
Parágrafo único – O mesmo procedimento pode ser adotado para os presos
que corram riscos de vida.
TÍTULO XXI
Da Execução Penal CAPÍTULO I
Dos órgãos da Execução Penal
Seção I
Do Conselho Penitenciário
- 268 -
§ 1.º - Os representantes da Ordem dos Advogados do Brasil e da Defen-
soria Pública serão indicados em lista tríplice pelas respectivas instituições e o da
comunidade, pelo Secretário de Estado de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania.
§ 2.º - O mandato dos membros do Conselho Penitenciário será de quatro
anos.
§ 3.º - Para consecução de suas finalidades, os membros do Conselho
Penitenciário terão ingresso irrestrito às dependências das carceragens dos
estabelecimentos penais e delegacias, podendo ter acesso reservado a
qualquer preso.
111. Ao Conselho Penitenciário, que deliberará por intermédio de seu Ple-
nário, incumbe:
LXXXIX emitir parecer sobre livramento condicional, indulto e comuta-
ção de pena;
XC inspecionar os estabelecimentos e os serviços penais, propondo à au-
toridade competente a adoção das medidas adequadas, na hipótese de eventuais
irregularidades;
XCI apresentar ao Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária,
no primeiro trimestre de cada ano, relatório circunstanciado dos trabalhos efe-
tuados no exercício anterior;
XCII supervisionar as atividades de assistência aos egressos;
XCIII realizar a cerimônia do livramento condicional;
XCIV propor ao juiz da execução a decretação da extinção da pena pri-
vativa de liberdade, a revogação do livramento condicional, bem como a
modificação ou observância das normas especificadas na sentença e das
demais condições de cumprimento da pena;
XCV suscitar o incidente de excesso ou desvio de execução;
XCVI propor ao juiz da execução a extinção da punibilidade nas hipóteses
previstas em lei; XCVII propor a concessão de indulto individual;
XCVIII propor outras medidas administrativas ou judiciais nos assuntos
pertinentes às suas atribuições;
XCIX colaborar com os órgãos encarregados da formulação da política
penitenciária e da execução das atividades inerentes ao sistema penitenciário;
C elaborar e reformar o seu regimento interno;
CI deliberar sobre matéria administrativa no âmbito de suas atribuições.
112. O governador do Estado poderá criar mais de um Conselho Peniten-
ciário.
Parágrafo único- No caso deste artigo, as atribuições dos Conselhos Penitenciá-
rios abrangerão os limites territoriais da respectiva comarca ou grupos de comarcas.
- 269 -
Seção II
Do Conselho da Comunidade
CAPÍTULO II
Procedimentos na Execução Penal
- 270 -
115. Ninguém será recolhido, para cumprimento de pena privativa de liberda-
de, sem a guia expedida pela autoridade judiciária.
Parágrafo único - O Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas, por inter-
médio da Corregedoria Geral de Justiça, aprovará modelo de guia de recolhimen-
to que será de utilização obrigatória.
116. Após o trânsito em julgado da sentença que aplicar pena privativa de
liberdade, se o réu estiver ou vier a ser preso, o juiz ordenará a expedição da guia
de recolhimento para a execução.
117. O juiz da execução poderá deferir execução penal provisória, determi-
nando a expedição de guia de recolhimento, a requerimento do apenado que
houver recorrido para superior instância e estiver preso, desde que comprovado o
trânsito em julgado da sentença condenatória para o Ministério Público.
§ 1.º - O advogado do apenado deve possuir procuração com poderes espe-
cíficos para requerimento da execução penal provisória.
§ 2.º - O juízo sentenciante deve ser informado do deferimento da execução
penal provisória.
§ 3.º - Na execução penal de que trata este artigo, a guia de recolhimento
deve possuir a denominação de provisória e será expedida pelo escrivão, que a
rubricará em todas as folhas e a assinará com o juiz, sendo remetida a auto-
ridade administrativa incumbida da execução e conterá:
CVII nome do condenado;
CVIII a sua qualificação civil e o número do registro geral no órgão oficial
de identificação;
CIX o inteiro teor da denúncia e da sentença condenatória, bem como
certidão do trânsito em julgado para o Ministério Público;
CX informações sobre os antecedentes e o grau de instrução; CXI
a data da terminação da pena;
CXII outras peças do processo reputadas indispensáveis ao adequado
tratamento penitenciário.
118. Na execução penal provisória, sobrevindo o trânsito em julgado de-
finitivo da condenação, o juízo da execução procederá as retificações cabíveis.
Parágrafo único - Sobrevindo decisão absolutória, o juízo da execução ano-
tará o cancelamento nos livros próprios e na capa da autuação.
TÍTULO XXII
Disposições Finais
- 271 -
119. O abuso de poder exercido contra o preso ou internado será punido
administrativamente, sem preju ízo da apuração da responsabilidade penal.
120. Ocorrendo óbito, evasão ou fuga, a direção do estabelecimento
comunicará imediatamente à Coordenação do Sistema Penitenciário e ao juiz
da execução. No caso de óbito, acompanhará a comunicação, a certidão com-
probatória.
121. A cada trimestre do ano civil os diretores dos estabelecimentos, por
intermédio do coordenador do Sistema Penitenciário, encaminharão ao Secretário
de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania, relatório circunstanciado das ativida-
des e funcionamento do respectivo estabelecimento.
122. Todos os órgãos ou estabelecimentos que compõem o Sistema Peni-
tenciário do Estado do Amazonas elaborarão, no prazo de 120 (cento e vinte)
dias, regimentos próprios, atendidas as peculiaridades, adaptando-os às disposi-
ções contidas neste Estatuto, e os submeterão à aprovação do Secretário de
Estado de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania.
123. As disposições deste Estatuto serão de aplicação imediata, inclusive
aos procedimentos pendentes.
- 272 -
ABREVIATURAS E SIGLAS
- 273 -
HIV - Vírus da imunodeficiência humana
INFOPEN - Informações Penitenciária
IST Infecção Sexualmente Transmissível
LEP - Lei de Execução Penal
MPL - Mulheres Privadas de Liberdade
OEA - Organização dos Estados Americanos
OMS - Organização Mundial da Saúde
ONU - Organização da Nações Unidas
PCN - Projeto começar de novo
PNAISP - Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Pessoa Privada
de Liberdade
PPL - Pessoas Privadas de Liberdades
SARS-CoV-2 - Coronavirus 2 da síndrome respiratória aguda grave
SDRA - Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo
SUS - Sistema Único de Saúde
SEAP - Secretária de Administração Penitenciária
UEA - Universidade do Estado do Amazonas
UTI - Unidade de Terapia Intensiva
COMPAJ - - Complexo Penitenciário Anísio Jobim
MNPCT - Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura
CNPCT - Comitê Nacional de Prevenção e Combate à Tortura
FDN - Família do Norte
CV - Comando Vermelho
PCC - Primeiro Comando da Capital – PCC;
SEAOP AM - Secretaria Executiva Adjunta de Operações
IML - Instituto Médico Legal
CF - Constituição Federal
LEP - Lei de Execuções Penais
INAP - Administração Prisional –
CONAP - Companhia Nacional de Administração Presidiária
UNODC - United Nations Office on Drugs and Crime
ONU - Organização das Nações Unidas
CDN - Cartel do Norte
TCP - Terceiro Comando Puro
VEMEPA - Vara Especializada de Medidas e Penas Alternativas
- 274 -
ÍNDICE REMISSIVO
A
Acesso à justiça 60, 65, 66, 68
Administração penitenciária 42, 59, 60, 62, 67, 71, 74, 75, 77, 78, 86, 94, 101,
114, 118, 130, 137, 140, 144, 148, 151, 152, 154, 157, 182, 187, 188, 193, 194,
196, 198, 205, 206, 207, 208, 218, 222, 230, 238, 242
Agentes penitenciários 48, 77, 86, 93, 97, 99, 134, 153, 159, 173, 177, 181, 187,
205, 209
Agentes públicos 11
Alimentação [servida aos internos] 75, 129, 139, 151, 152, 159, 169, 187
Apenados 28, 41, 48, 49, 79, 80, 82, 87, 108, 114, 115, 116, 117, 121, 122, 127,
159, 161, 164, 169, 174, 182, 188, 205, 209, 217, 218, 219, 220, 221, 227
Assistência educacional 79, 139, 140
Assistência jurídica 66, 80, 97, 138, 139, 160
Assistência material 79, 82, 136, 139, 160
Assistência religiosa 80, 82, 100, 139, 151, 160, 177, 181, 205, 241
C
Cabanagem 192, 193, 194, 225, 234
Cadeia Pública Desembargador Raimundo Vidal Pessoa 13, 41, 47, 48, 51
Calabouço 26, 32
Casas de correção 25, 27, 28, 29, 32,
Centro de Detenção Provisória Masculino I - CDPM I 59, 63, 66,
Centro de Detenção Provisória Masculino II – CDPM II 81, 138
Cidadania 11, 14, 15, 63, 77, 181,
Centro de Operações e Controle – Secretaria de Administração Penitenciária –
COC/SEAP 114, 116, 118
Código Criminal do Império do Brasil 28
Código Penal 32, 88, 114, 146, 240,
Cogestão [administração] 17, 52, 59, 71, 77, 78, 79, 89, 96, 125, 151, 173, 219
238, 239
Colônia Agrícola [Anísio Jobim] 88, 114, 121, 125, 210
Complexo Penitenciário Anísio Jobim – COMPAJ 62, 72, 73, 85, 88, 94, 96, 114,
125, 130, 163
- 275 -
Conselho Nacional de Justiça – CNJ 48, 51, 73, 127, 128, 163
Contrato Administrativo 60, 114
COVID-19 [Pandemia] 241, 242, 24
Criminalidade 27, 35, 73, 85, 86, 97, 101, 105, 108, 125, 169, 174, 186, 187, 215
Cumprimento de pena 114, 117, 119, 121, 149, 157, 161, 205, 218, 227, 248, 249,
272
Custo do preso 78, 152, 153
D
Déficit carcerário 71, 73, 81
Defensoria Pública 60, 61, 62, 63, 64, 65, 66, 67, 68, 80, 82, 86, 98, 114, 117, 121,
138, 139, 160, 196, 208, 222, 228, 270
Desterro 27
Direitos Humanos 11, 14, 15, 49, 60, 63, 67, 68, 71, 94, 110, 129, 163, 174, 178,
197, 227, 228, 238
Diretores [Unidades Prisionais] 39, 146, 246, 247, 268, 273
E
Estrangeiros [residentes no país e/ou cumprindo pena] 12, 79, 148, 181, 198, 207,
240
Estrutura física [Unidades Prisionais] 17, 47, 48, 67, 71, 72, 73, 74, 99, 121, 130,
131, 133, 134, 136, 140, 153, 169, 187, 238, 239, 240
F
Facções criminosas 74, 79, 82, 87, 93, 101, 108, 147, 226
Fuga [Sistema Prisional] 53, 55, 60, 71, 73, 76, 78, 82, 84, 85, 89, 117, 130, 145,
147, 148, 149, 158, 160, 161, 165, 173, 177, 179, 180, 198, 199, 207, 216, 241,
249, 255, 262, 267, 273
G
Gestão [Sistema Prisional] 41, 52, 59, 61, 63, 64, 67, 72, 75, 77, 78, 79, 82, 94,
96, 113, 114, 125, 151, 153, 164, 180, 192, 193, 205, 221
H
Historicidade 32, 71, 81, 85, 87, 185, 186, 191, 192, 199
I
Incomunicabilidade [preso] 27
- 276 -
Instituto Penal Antônio Trindade - IPAT 54, 62, 72, 73, 129, 130, 131, 133, 135,
136, 151, 163
L
Laborterapia 80, 255, 265
LGBTQIA+ 79, 82, 181, 199, 240
M
Massacre 47, 74, 85, 89, 90, 93, 94, 108, 110, 114, 116, 147
Mawé 191
Modelo Alburniano 30
Monitoramento eletrônico 114, 119, 120, 121
Mortes [detentos] 74, 76, 77, 82, 89, 93, 94, 198, 207
Mulheres nas Prisões 28, 35, 36, 37, 38, 39, 125, 126, 127, 128, 147, 165, 186,
187, 194, 219, 238, 241, 246, 255,
Mutirão carcerário 48, 51, 73, 127
O
Óbitos 71, 76, 79, 82, 89, 172, 209, 239, 243
Organização Criminosa - ORCRIM 56, 89, 102, 147, 148
P
Perfil [interno(a)] 35, 95, 134, 148, 199, 240
Política Criminal e Penitenciária 27, 74, 79, 84, 86, 132, 134, 187, 270
Presídio virtual 114
Presos provisórios 61, 62, 64, 66, 67, 74, 83, 88, 129, 134, 135, 143, 145, 148,
149, 170, 174, 186, 205, 217, 238, 240, 251
Prisões Femininas 35, 36, 37, 39
Progressão de regime 81, 197
Projeto arquitetônico [Unidades Prisionaais] 75, 145, 178, 238
Puraquequara [Unidade Prisional] 13, 32, 54, 72, 130, 133, 143, 144, 145, 146,
147, 148, 149, 150, 151, 152, 153, 163
R
Rebelião [Unidades Prisionais] 48, 60, 73, 81, 84, 86, 87, 89, 90, 93, 94, 116, 129,
- 277 -
130, 133, 144, 147, 180, 187, 193, 196, 269
Reeducando 61, 67, 71, 80, 81, 115, 137, 141, 142, 165, 174, 197, 210, 243
Regime disciplinar 29, 149, 153, 261
Regime semiaberto 39, 87, 88, 113, 114, 115, 116, 117, 118, 119, 120, 121, 122,
126, 141, 170, 186, 210
Remição de pena 174, 196, 200
Ressocialização 12, 25, 30, 61, 62, 64, 67, 71, 80, 81, 96, 97, 98, 115, 127, 133,
134, 141, 147, 149, 151, 162, 169, 173, 174, 177, 180, 185, 186, 188, 189, 192,
196, 197, 240, 250, 261
S
Saúde [assistência] 12, 17, 60, 63, 64, 65, 71, 74, 75, 79, 82, 84, 127, 136, 137,
150, 172, 177, 180, 186, 207, 210, 221, 223, 237, 238, 242, 249, 251, 254, 255,
261, 267
Sistema de justiça criminal 85, 86, 109
Sistema prisional do Amazonas 14, 51, 73, 81, 139
Subversão [movimentos] 71, 76, 81
Superlotação [unidades prisionais] 42, 47, 48, 60, 61, 62, 67, 72, 73, 74, 95, 115,
117, 125, 126, 127, 129, 144, 170, 174, 180, 186, 198, 207
T
Tecnologia [unidades prisionais] 32, 71, 78, 119, 120
Terceirização [gestão] 77, 96, 97, 119, 134, 151, 152
Tornozeleira eletrônica 114, 116, 117, 118, 119, 120, 121, 122
Túnel [escavado em presídio] 76, 82
V
Visitação [aos reclusos] 43, 44, 46, 72, 89, 205
Vulneráveis [pessoas] 60, 66, 220
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SOBRE OS ORGANIZADORES
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SOBRE OS AUTORES
- 281 -
DENIS CAETANO GOMES CAVALCANTE
Bacharel em Administração, Pós-Graduado em Auditoria,
Controladoria e Finanças, servidor do estado do Amazonas,
atuando na Secretaria de Estado de Administração Penitenci-
ária, mestrando em Segurança Pública, Cidadania e Direitos
Humanos da Universidade do Estado do Amazonas.
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ERNANDES HERCULANO SARAVA
Mestre em Segurança Pública, Cidadania e Direitos Huma-
nos (UEA). Advogado. Professor Universitário. Pesquisador
Científico do Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia
(PNCSA) e do Grupo Interdisciplinar de Estudos da Violên-
cia (GIEV/UEA).
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LUIZ CLAUDIO PIRES COSTA
Advogado. Professor. Mestre em Direito Ambiental pela Uni-
versidade do Estado do Amazonas, Especialista em Direito
Eleitoral pela UEA e em Direito Público pelo CIESA, Gradua-
do em Direito pela Universidade Federal do Pará.
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PAMELLA OLIVEIRA SILVA
Assistente Social (Nilton Lins), Pedagoga (FAEL), Graduan-
da em Direito - ESBAM, Especialista em Educação de Jovens
e Adultos - UNIASSELVI, MBA Gestão de Pessoas (CESA),
MBA Gerenciamento de projetos (CESA), Saúde Pública
(UNIASSELVI), Perita Judiciaria Social (Justiça Federal
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