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Romances Preciosos
Perigosa paixão...
Nora parece ter um dom para se meter em confusões, dessa vez, a
repórter com inclinação para bancar a detetive, está incumbida de fazer a
Cobertura jornalística do lançamento de um sutiã revolucionário. No
entanto, antes de a matéria ficar pronta sua chefa, é encontrada na
varanda de casa, com uma meia-calça ao redor do pescoço – marca
registrada dos crimes da família Abruzzo. Agora, Nora precisa solucionar o
crime para inocentar seu namorado, o atraente Michael Abruzzo..
Isso significa investigar pessoas importantes, que circulam nas altas rodas
Sociais da Filadélfia. Nora precisará de muita coragem para desmascarar o
verdadeiro criminoso, mas, se ela não fizer isso, estará se arriscando a
perder para sempre o grande amor de sua vida...
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Romances Preciosos
NOVA CULTURAL.
www.romances.com.br
Copyright © 2005 by Nancy Martin Originalmente publicado em 2006 pela
Penguin Group
PUBLICADO SOB ACORDO COM PENGUIN GROUP
NY,NY-USA
Todos os direitos reservados.
Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com
pessoas vivas ou mortas terá sido mera coincidência.
As publicações da Editora Nova Cultural não podem ser reproduzidas,
total ou parcialmente, seja qual for o meio, mecânico ou eletrônico
(inclusive digitalização), sem a permissão expressa da Editora. A
reprodução das publicações sem a devida autorização da Editora
constitui crime de violação de direito autoral previsto no Código Penal
brasileiro.
TÍTULO ORIGINAL: Cross Your Heart and Hope to Die
EDITORA Leonice Pomponio
ASSISTENTES EDITORIAIS Patrícia Chaves
Paula Rotta Vânia Buchala
EDIÇÃO/TEXTO
Tradução: Silvia Moreira
Copidesque: Paula Rotta
Revisão: Luiz Chamadoira
ARTE Mônica Maldonado
ILUSTRAÇÃO Daniel Day /Getty Images
MARKETING/COMERCIAL Andréa Riccelli
PRODUÇÃO GRÁFICA Sônia Sassi
PAGINAÇÃO Gustavo Moura
© 2009 Editora Nova Cultural Ltda.
Rua Paes Leme, 524 — 10" andar — CEP 05424-010 — São Paulo - SP
www.novacultural.com.br
Impressão e acabamento: RR Donnelley
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CAPÍTULO I
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— Posso tentar, mas não sem antes saber por que está aqui. Não vou
incentivar nenhuma espécie de fetiche.
— Esqueça. Vou tentar entrar de outro jeito. Só achei que você pudesse
querer fazer a coisa certa para variar.
— Para variar? Desde quando você tem o direito de insultar minha irmã?
Nora está aqui prestigiando um evento de solidariedade. Afinal o câncer
de mama...
— Evento de solidariedade? Conte outra. Essas pessoas são capazes de
usar qualquer coisa para promover seu produto, inclusive uma doença.
— Você vai querer entrar conosco... Sim ou não?
Creio que ele queria dizer "não", mas estava farejando notícias, e acabou
por aceitar.
Cutuquei o ombro do segurança, que, aliás, eu já tinha reconhecido e tirei
minha credencial de imprensa de sua mão.
— Keith querido, adorei suas novas tatuagens, mas sua mãe vai ter um
ataque se souber delas, sussurrei para ele. Keith Rudnick era garçom na
minha lanchonete favorita e fazia trabalhos temporários como aquele em
seus horários livres. Quando me reconheceu, mudou radicalmente de
atitude.
— São de henna, meu bem e ela me ajudou a escolher, ele respondeu
também em voz baixa. — Fomos instruídos para não deixar Kitty entrar.
Ordens expressas de Brinker.
— Que estranho.
— Pois é, ele a detesta. No entanto, você não está na lista negra, então
vou tentar colocá-la no melhor lugar possível. Se tivesse me avisado antes,
eu a teria posto na primeira fila.
— Não preciso de tratamento especial, Keith. Qualquer lugar está bom.
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menino havia crescido desde que o vira a última vez, havia dois anos,
quando sua mãe falecera.
— Olá, Orlando. Tudo bem?
— Quem é você?
— Nora Blackbird, Fui muita amiga de sua mãe.
— Faça o favor de no mínimo ser educado, ralhou Hemmings, segurando
o sobrinho com força pelo ombro.
— Por quê?
— Ela pode escrever coisas boas a seu respeito no jornal.
Em nosso primeiro ano na faculdade, minha melhor amiga e herdeira mais
aclamada da Filadélfia, Oriana Pierce, tinha se casado com Randall Lamb,
um fazendeiro renomado, cuja família possuía um conglomerado têxtil e
metade da Nova Zelândia. A festa de casamento fora uma das mais lindas
que eu já tinha visto. Meses depois eu a tinha encontrado em estado de
graça, anunciando sua gravidez. Para comemorar, havíamos almoçado no
Le Cirque, considerado uma extravagância mesmo para jovens abastadas
como nós. Foi com muito pesar que anos depois soube que os dois tinham
desaparecido em um mergulho pelas grandes barreiras de corais na
Austrália. Os corpos nunca foram encontrados.
Agora ali estava eu, diante de um garoto amargo de dez anos ao lado de
um sujeito esquisito. Orlando havia sido vestido por algum estilista
conhecido do tio e assemelhava-se a um anão emplumado, e não a uma
criança normal.
Não tenho dúvidas de que Hemmings não o deixa brincar na rua, no
máximo, permite um jogo de damas depois de as peças terem sido
desinfetadas.
— Orlando, soube que está freqüentando uma escola na Nova Zelândia,
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moto havia uma moça quase nua. Atrás dela entraram outras modelos
igualmente estonteantes. Usavam botas de saltos altos, minúsculos shorts
de couro e sob uma jaqueta de plástico transparente reluzia o sutiã
Brinker. Todos ficaram em pé e foram ao delírio, ao meu lado, Richard
blasfemava.
As passarelas laterais foram também invadidas pelas modelos. Duas delas,
gêmeas loiras de pernas longas e cabelos compridos, pararam perto de
nós, apesar de todas as atenções estarem voltadas para o palco, outra
cena me chamou a atenção. Orlando estava grudado na cadeira até que
uma das modelos tirou o sutiã tradicional, revelando o outro de silicone.
Depois de rodopiá-lo na ponta do dedo, ela o arremessou para o público.
O garoto pulou quando a peça caiu em seu colo. Levantou-se,
transtornado, e jogou o sutiã para longe.
— Eca! Que nojento! Odeio garotas! Hemmings tentou conter a ira do
sobrinho. Não ouvi o que ele disse, mas vi sua tentativa de prendê-lo na
cadeira.
— De jeito nenhum! Você não pode me obrigar. Orlando gritou, livrando-
se das mãos do tio. Quando percebi que Hemmings levantava a mão, não
pensei duas vezes para intervir.
— Pare com isso! Gritei, mas o barulho era alto demais.
Richard segurou meu braço ao mesmo tempo em que Hemmings puxava o
menino pela manga da camiseta, rasgando-a.
— Não faça isso! Exclamei de novo.
Ao ouvir minha voz, ele se distraiu e Orlando aproveitou o momento para
sair correndo. Dois seguranças tentaram detê-lo, mas ele conseguiu se
esgueirar por entre eles. Meu amigo fez menção de ir atrás, mas àquela
altura já havia mais pessoas nos observando, percebendo que estava
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— Esconda isso rápido antes que alguém veja. Devo admitir que Michael
sempre teve bom gosto ao presenteá-la com lingerie de primeira.
— Eu estava morrendo de pressa. Kitty me avisou na última hora, acho
que na esperança de eu não poder vir para depois poder me despedir.
Mas preciso desse emprego, e por isso estou aqui nesse estado.
— Não teve tempo nem para escolher um par de brincos? Não se
preocupe, seus olhos estão brilhando mais do que diamantes. Pelo visto
seu novo namorado passou o feriado mimando-a.
— Pode-se dizer que sim, admiti com o rosto corado.
— Ah, obrigada por me convidar para passar a noite de ano novo com
vocês, fico feliz que tenha resolvido reviver a tradição, suas festas sempre
foram as melhores.
— Na verdade pensei em fazer apenas um jantar mais íntimo este ano.
Lexie aproximou-se do meu ouvido para dizer:
— Assim Michael conhece seus amigos em grupos menores, não é?
— Seria ótimo se ele comparecesse...
— Não me diga que o príncipe mafioso é avesso a eventos sociais.
— Ele se preocupa em não manchar minha reputação. Minha improvável
união com Michael Abruzzo causara um terremoto no meu círculo social,
uma vez que ele vinha da famosa família de criminosos de Nova Jersey, os
Abruzzo, conhecidos por extorsão, jogo ilegal e outras contravenções
igualmente nefastas. Michael não tinha negócios com o pai, nem com os
vários meios-irmãos, aqueles que não estavam presos, claro. Pelo menos,
eu tinha quase certeza de que ele não estava mais envolvido com eles.
Porém, nunca tive coragem de abordar o assunto, nem de pedir detalhes
sobre suas atividades atuais, e ele não se dispusera a me dizer nada.
Meus amigos sabiam que eu havia passado por um relacionamento
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— Boa noite! Acenei para ela da porta de casa. Antes de entrar, porém,
notei um pacote amarrado com um laço vermelho. Mais um bolo de frutas
de algum dos vizinhos, pensei. Peguei o embrulho e o levei para dentro.
Gritei ao entrar na cozinha e ver um homem curvado atrás da porta aberta
da geladeira.
— Desculpe-me. — ele disse.
— Quem é você?
— Eu? Acho que já nos vimos antes, respondeu ele, abrindo a cerveja que
acabara de pegar. — Sou o mensageiro do diabo. Bem, ao menos é assim
que o chefe costuma me chamar. Meu nome é Danny.
Além do rabo-de-cavalo, estranhei as roupas surradas e a jaqueta de
couro que em nada combinavam com o boné de capitão de navio. Na
certa estava diante de um aspirante a mafioso.
Fechei a porta, mas mantive distância, ainda desconfiada.
— O que está fazendo aqui? Não vi carro algum parado lá fora.
— Estacionei no terreno ao lado, conforme instruções do chefe. O terreno
ao lado era agora uma loja de carros usados. Conheci Michael quando ele
se ofereceu para comprar uma parte da fazenda, o que veio a calhar para
sanar parte de minhas dívidas. No entanto, fiquei sem a vista para o rio,
pois ele ergueu um galpão para abrigar seu empreendimento, sem contar
com as flâmulas coloridas que contribuíam para acabar com a formalidade
da fazenda que um dia fez parte da história de minha família. Ali
trabalhavam várias pessoas, que, por sorte minha, nunca invadiram ou
bateram à minha porta.
A exceção à regra estava parada à minha frente, tomando cerveja no
gargalo e me estudando da cabeça aos pés.
— Que mal lhe pergunte, onde está seu chefe?
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Danny não precisou responder, uma vez que o homem em questão entrou
na cozinha no instante seguinte, terminando uma conversa ao celular.
Pela maneira decidida como caminhava, entendi que estava com algo
importante em mente aquele tipo de atitude sempre me deixava receosa.
— Noite difícil? Perguntou ele, me olhando de relance.
— Interessante, eu diria.
A luz forte da cozinha iluminando o rosto marcante me fez lembrar que
Michael não era bonito segundo os padrões normais, o nariz aquilino e o
maxilar angular conferiam-lhe um ar cruel o suficiente para assustar quem
não o conhecia, o corpo musculoso de ombros largos e a altura com-
pletavam sua imponência. No entanto, quando sua boca cobria a minha
em beijos ardentes, eu esquecia o resto do mundo, nossos corpos se
amoldavam perfeitamente e ali eu me aquecia, sonhando por horas a fio.
Não preciso dizer que minha experiência com homens não foi das
melhores. Aliás, nenhuma das mulheres da família teve sorte nessa área.
Vendamos os olhos diante dos defeitos, ou nos atraímos pelo lado
misterioso e obscuro, ou quem sabe, bancamos as tolas mesmo, o fato é
que de uma maneira ou outra eu me sentia atraída por Michael, mesmo
ciente de que ele não era um príncipe encantado.
— Deixe-me adivinhar... Uma de suas irmãs cometeu um crime, ou talvez
as duas.
— Se fosse assim, ao menos estariam a salvo atrás das grades, respondi,
colocando o presente que havia pegado na porta de casa sobre a bancada.
— Não pensei que fosse encontrá-lo em casa.
— Fiquei preso por causa de telefonemas. Foi bom, afinal alguém tem que
tomar conta do seu cachorro quando não está em casa.
— Onde está Spike?
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— No porão, cavando um túnel para a China. Vou aproveitar que ele está
ocupado para fugir. Eu sabia que Michael estava brincando porque
adorava meu cachorro, e o amor era recíproco, parte de mim estava
curiosa para saber aonde ele iria aquela hora da noite. Danny parecia ter
saído de uma briga, e tinha o rosto todo arranhado.
— Você se lembra do meu primo, Danny Pescara?
— Outro de seus primos?
— Bem, mais ou menos... Diga "olá", Danny.
— Olá. Bem, vou esperar lá fora, ele anunciou. Depois que a porta fechou,
Michael virou-se para explicar:
— Ele precisa da minha ajuda esta noite. Braços fortes me puxaram,
permitindo-me sentir o hálito quente acariciar a pele do meu rosto.
— Você gosta de um pouco de perigo em mim. Michael não tinha muito
tempo livre entre suas atividades secretas, mas ultimamente passava boa
parte dele na fazenda, preparando refeições deliciosas, cuidando de Spike,
fazendo-me estremecer entre os lençóis.
Quando nossas bocas se uniram senti o corpo amolecer. Beijei-o com
ardor, até ficar ofegante.
— Fique, eu sussurrei.
— Estarei de volta antes de você terminar seu banho de banheira.
— Cabemos nós dois ali.
— Mas o perfume dos sais de banho fica melhor no seu corpo. Prendendo-
me a cabeça com os dedos entrelaçados no meu cabelo, olhou dentro dos
meus olhos e perguntou: — Conte o que está acontecendo.
— Emma fugiu da clínica de reabilitação e apareceu seminua sobre um
cavalo diante de centenas de pessoas durante um desfile de moda. E havia
um chicote envolvido.
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muitas. O tio não o ama. Além de lavar as mãos milhões de vezes ao dia,
acho que Hemmings poderia dar aulas de disciplina para o exército
americano. A empresa é a Lamb Limitada, uma fábrica exportadora de
produtos têxteis.
— O tio dele movimenta demais a mão esquerda? Eu lhe lancei um olhar
torto.
— Isso é uma maneira singular dos habitantes de Nova Jersey de
perguntar se ele é gay? Não, ele não é. Só é esquisito.
— Esquisito não significa ameaçador. O que não matar o garoto vai deixá-
lo mais forte.
— Não sei... Michael, você acha que devo fazer alguma coisa?
— O que você poderia fazer? Além disso, o menino já tem pessoas demais
ao redor, não?
— Mas nenhum amigo. Eu não tiraria vantagem dele como os outros.
— E como ele saberia disso?
— Eu não consigo evitar querer tomar conta dele.
— Nora, eu amo você. Eu amo esta parte sua, a da mulher que quer salvar
o mundo, mas a vida desse garoto não pode ser resolvida com um pacote
de balas e um passeio ao zoológico.
— Eu quero tentar.
Com um sorriso afetuoso, ele me abraçou.
— Será que não tem trabalho suficiente, salvando suas irmãs? Sem falar
em mim, claro. Voltei a me aconchegar nos braços dele, apoiando a cabe-
ça no peito largo.
— É isso o que acha que estou fazendo?
— Eu poderia mantê-la ocupada por um longo tempo, se você se casasse
comigo.
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que Lexie traria suas primas. O único problema era que a lista de
convidados para uma ceia íntima já contava com dezoito pessoas.
Depois, me peguei pesquisando sobre a Lamb Limitada no Google. Li a
respeito do conselho de guardiães que tomava conta da fortuna de
Orlando, enquanto ele não atingia a maioridade. Imaginei quem cuidaria
do menino, certamente, não seria Hemmings.
Fechando os olhos, lembrei-me de um verão em que Oriana e eu
tomávamos sol na piscina do clube, sob a sombra de árvores frondosas,
folheávamos revistas de moda, tentando disfarçar nosso interesse real,
que era observar os meninos mais velhos. Hemmings estava sempre por
perto, infernizando. Cheio de manias, sua toalha era sempre
imaculadamente branca, e ele entrava em pânico se caísse ali qualquer
sorte de resíduos, por não terem paciência com suas frescuras, os garotos
mais velhos o apelidaram de Hemmingay. Ele não achou ruim,
considerando um sinal de ter sido aceito no grupo, os meninos o tinham
como alvo constante de zombarias, mas ele continuava a segui-los. O líder
do grupo era Brinker Holt, campeão de hóquei e em arrancar sutiãs das
meninas, foi aclamado quando roubou a chave da adega do pai e ofereceu
aos amigos as bebidas mais caras. Não foram poucas às vezes em que,
bêbados, cometeram atos de crueldade contra Hemmings. Vez ou outra,
ele chorava, mas, de maneira bizarra, voltava sempre a procurá-los.
Oriana e eu observávamos de longe o aumento da violência. Se
interviéssemos, seríamos punidas também. E Hemmings parecia desejar a
atenção que recebia dos garotos mais velhos. Nós duas éramos jovens
demais para compreender o mecanismo psicológico do que acontecia ali,
e estávamos assustadas demais para tentar impedir que aquilo
prosseguisse.
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Tomada pelo prazer, gemi e o segurei pelos cabelos, querendo-o cada vez
mais perto de mim. Sem parar com as carícias nos mamilos, ele
escorregou a mão por meu ventre, me livrou da calcinha e tocou-me as
coxas até chegar ao meu ponto mais sensível, estimulou-me, deslizando o
dedo na pele úmida, até inseri-lo dentro de mim, corri as mãos por suas
costas e ombros e arqueei o corpo, ele começou a traçar com a boca o
caminho percorrido pelas mãos, acariciando-me com a língua,
enlouquecendo-me de prazer. Quando ele se ergueu e tomou outra vez
minha boca, inverti as posições, fazendo com que ele ficasse de costas na
cama. Era minha vez de experimentá-lo, de sentir a pele quente, o corpo
másculo e firme. Beijei-o no pescoço e no peito, inspirando o perfume
inebriante, lambi e mordisquei os mamilos, segui com a língua a trilha de
pelos no abdômen até alcançar o membro rijo, que tomei entre os lábios,
fazendo movimentos ritmados, extraindo gemidos de prazer.
Ele entregou-se aos carinhos por alguns instantes, mas logo me puxou e se
deitou sobre mim. Entreabri as pernas e enlacei-o, ávida para recebê-lo.
Ele me possuiu com um movimento longo e profundo, roubando-me o
fôlego, movendo-se devagar e explorando minha boca com lentidão, ele
ampliava meu prazer a cada instante. Aos poucos, aumentou o ritmo,
levando-me com ele em um caminho de prazer crescente. Arqueei o
corpo, querendo senti-lo cada vez mais profundamente, beijei-o com
ardor, meus seios se esfregaram no peito dele... A sensação se ampliou, e
eu senti a aproximação rápida e intensa do clímax. Gritei de prazer e senti
o corpo todo estremecer. Michael em seguida me acompanhou,
gemendo, contraiu-se e chegou ao auge. Dentro de mim, ainda ofegante,
ele me beijou com carinho antes de deitar-se e me acomodar entre seus
braços. Aconchegada, adormeci, satisfeita.
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— Por que não? Vocês dois deveriam dar uma olhada no meu catálogo...
Ela continuou falando, mas eu parei de prestar atenção, preocupada com
o desaparecimento de Michael e Danny na noite anterior.
— A que horas foi o tiroteio? Perguntei, retomando o assunto.
— Não sei. Espere que vou pegar o jornal. Está aqui, foi às dez e quinze.
Não muito depois de eu ter entrado na cozinha. Então, Michael não
poderia estar na cena do crime quando tudo aconteceu.
— Soube que você vai reunir os amigos na festa de ano novo... Eu estou
convidada? Será uma boa oportunidade para eu conhecer clientes
potenciais. Spike começou a latir na varanda, tornando difícil ouvir minha
irmã.
— Pode vir e trazer quem quiser, mas nem pense em fazer demonstrações
de produto algum!
Não escutei a resposta, uma vez que resolvi ir verificar o que estava
provocando o latido de Spike. Dessa vez, não era nenhum presente de
Natal atrasado. Percebi que era um casaco, dentro do qual havia uma
pessoa morta!
Era uma loira muito maquiada. Sem sapatos, ela também não usava meia-
calça. A plumagem do cachecol voava com a brisa, e as pontas raspavam
na poça de sangue ao redor de sua cabeça. De repente, senti como se o
chão se abrisse sobre meus pés. O sol começou a sumir e aos poucos fui
envolvida por uma nuvem escura. A voz de Libby, cada vez mais distante,
ainda soava no meu ouvido:
— Nora! O que houve? Nora!
— Kitty Keough... Está morta.
Foi à última coisa que consegui balbuciar antes de perder os sentidos.
Acordei com uma bolsa de gelo na testa e Michael me cobrindo com uma
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— Mas é claro que sim. Antes de um corpo surgir à minha porta eu estava
ótima. Ah, não... Vocês acham que... Isso é ridículo. A complexidade da
situação me deixou brava. — Vou fazer uma ligação.
Levantei, segui até a sala e peguei o telefone para ligar para meu amigo e
advogado Tom Nelson. Enquanto conversávamos, vi que os policiais e
Michael conversavam em voz baixa. Tom não demorou em atender ao
telefone e ouviu a minha história.
— Não dê mais nenhuma informação à polícia. Se eles quiserem marcar
alguma coisa, diga que entrarei em contato para acertarmos um encontro
para amanhã, quando estiver se sentindo melhor.
— Obrigada. Respirei aliviada e desliguei.
Assim que sentei no sofá, Michael se aproximou e sentou-se na mesinha à
minha frente, entregando-me novamente a bolsa de gelo.
— A polícia acha que você me bateu comentei, colocando a bolsa no rosto
dolorido.
— Eu sei, e a investigação está apenas começando. Vai piorar...
— O que quer dizer com isso?
— Há grandes chances de eles me levarem para a delegacia.
— Por me bater?
— Não.
— Não me diga que por suspeitarem de você na morte de Kitty.
— Se uma criança roubar uma bala no supermercado, os policiais acham
que fui eu. Já chamei a "Cannoli e Filhos". Os advogados de Michael eram
conhecidos amantes dos cannoli de uma padaria em Newark, daí o apelido
que ele lhes dera.
— Há mais um detalhe... A maneira como a vítima foi amarrada.
— Libby me disse que foi com a meia-calça.
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O telefone tocou outra vez e minha irmã foi atender. Sozinha, procurei me
recuperar da breve tontura. Não demorou muito e ela voltou com o
telefone pressionado contra o peito.
— E seu editor, Stan Rosenstatz. Peguei o aparelho sem pensar duas
vezes.
— Olá, Stan.
—Acabamos de saber o que acontecer com Kitty. Estamos todos
chocados.
— Eu também estou...
— Você acha que ela sofreu?
— Acho que não. Pensei um instante. Stan era um profissional experiente,
com bom faro para uma história. Escute, eu ainda não estou preparada
para falar com a imprensa. A casa está cheia de policiais e...
— Entendo. Ele hesitou, dividido entre a compreensão e seus instintos de
jornalista. Mas nossa equipe espera conseguir a história em primeiro
lugar. Desculpe fazer isso com você, Nora, mas pode me dizer se Abruzzo
foi preso? Respirei fundo. O fato já tinha vazado e estavam usando Stan
para chegar até mim.
— Eu não posso falar agora, Stan.
— Está certo, mas estará disponível mais tarde, não é? Preciso que cubra a
agenda de Kitty por enquanto, a começar por hoje às duas horas. Temos
um fotógrafo agendado para acompanhá-la. Brinker está fazendo um
show de sua partida na estação de trem. Na hora, me veio à mente
Brinker acenando para os fotógrafos, rumando para a fama e a fortuna. De
repente, pensei em outra coisa.
— Stan, quais os compromissos que Kitty tinha marcado ontem?
— Só há um nome na agenda: Brinker Lamb.
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CAPÍTULO II
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sári amarelo, havia anéis que brilhavam em todos os seus dedos, inclusive
os dos pés, e dezenas de pulseiras nos braços. O que não mudara era o
brilho de determinação em seus olhos, agora ressaltados por fortes traços
de lápis preto.
Segurando uma prancheta, ela apertava a ponta de uma caneta sem
parar.
— Você está linda! Disse Libby.
— Obrigada. Estamos tentando chamar a atenção para a cultura da índia.
Achei que era uma época boa para reviver uma tendência. Tanto deu
certo que fui contratada pela agência publicitária Clientec para trabalhar
nos escritórios de Nova York.
— Já ouvi falar dessa empresa.
— Faço parte do grupo de pesquisa e estamos em busca de idéias e
produtos criativos.
— Bem, o sutiã Brinker é um dos lançamentos mais criativos do momento.
A Clientec é responsável pela propaganda?
— Ainda não. Acho que a idéia é levar Brinker a uma reunião para discutir
a respeito.
— Sou testemunha de que o sutiã opera maravilhas, interferiu Libby,
inflando o peito.
— Estou vendo... — Sabria comentou, rindo.
— O problema é que não consigo mais tirá-lo. Sabe se há alguma técnica
especial para removê-lo?
— Não sei. Não tenho nada a ver com o sutiã Brinker. Nada.
Enquanto as duas continuavam a conversar, passei os olhos pela multidão
em busca de outras pessoas conhecidas, que valesse a pena incluir na
coluna. Kitty era especialista em identificar uma a uma em fração de
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de suas intervenções?
— Muito engraçado, comentei assim que os fotógrafos se dispersaram.
— Ora, vamos, uma garota precisa manter o bom humor.
— Você está linda, comentou Libby.
De nós três, Emma foi à única que transformou a pele alva e os cabelos
avermelhados da família Blackbird em algo bastante atraente. Sendo a
caçula, ela enfrentara a perda da fortuna da família durante a
adolescência, tendo usufruído por menos tempo que Libby e eu da vida de
luxos. Aprendera mais cedo a lutar para conquistar o que queria. O
problema é que precisava cada vez de mais vodca para fazer isso.
— É muito bom vê-la, Em, eu disse.—A entrada triunfal de ontem foi uma
surpresa.
—Aquilo foi uma produção e tanto. O que achou do cavalo maravilhoso?
Indagou, abrindo um sorriso.
Por algum tempo, Emma explorara sua experiência com cavalos em uma
carreira no circuito de saltos, mas alguns ossos quebrados a tinham
desviado desse caminho.
— Vocês dois foram perfeitos, elogiei. De repente, ela estreitou os olhos.
— O que é isso no seu rosto?
Libby se antecipou para relatar o que havia acontecido.
— Você sabia que Kitty foi assassinada? E o criminoso deixou o corpo na
varanda de Nora, que a encontrou hoje de manhã e desmaiou.
— Nossa... Emma tomou meu braço. — Está se sentindo bem? Vamos nos
sentar um pouco. Ela me levou até um banco, enquanto eu lutava para
afastar da cabeça a imagem de Kitty morta.
Spike acordou e colocou a cabeça para fora da sacola, encantando Emma
que o pegou na mesma hora. Libby seguiu detalhando a história toda.
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— E Michael está preso? Não é à toa que você está tão abalada disse
Emma.
— Ele não está preso, apenas sendo interrogado na presença de
advogados.
— Não conheço ninguém que tenha maior assistência jurídica do que ele.
Nossa, quem será que a matou?
— Não tenho a menor idéia.
— Só pode ser alguém que a conheça.
— Pensei nisso também... Kitty me pediu para cobrir o desfile de ontem.
Quando cheguei me disseram que o nome dela estava na lista negra de
Brinker. No entanto, o nome dele estava na agenda dela, o que me leva a
crer que os dois talvez tenham discutido.
— Será que eles se conheciam?Emma perguntou, enquanto acariciava
Spike.
— Acho que sim. Havia outro nome ao lado, Lamb. Você sabia que
Hemmings trocou o sobrenome para Lamb?
— Sabia. Ele ficou pendurado em Brinker à semana toda.
— Como amigos? Aquela era uma novidade para mim.
— Bem, ao menos não estavam se batendo em público.
— O que está havendo entre eles?
— Não sei. Você acha que um deles matou Kitty? Passei a mão na testa,
sentindo que a dor de cabeça voltaria a qualquer instante.
— Acho que estão envolvidos de alguma forma. Preciso descobrir por que
ela queria uma reunião com eles.
— Quem planeja entrevistar primeiro?
— Bem, admito que Brinker não é exatamente minha pessoa favorita.
— Nem minha, concordou Emma.
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nem podia mudá-la. Só me restava apoiá-la e estar por perto quando fosse
necessário. Tentei repetir meu novo mantra de não mais interferir na vida
de minhas irmãs. Mesmo certa de minha atitude, senti o coração apertar
ao vê-la se afastar. Pedi a Libby que procurasse por Brinker ou Hemmings,
enquanto fui atrás do fotógrafo. Encontrei-o em companhia das gêmeas,
disparando sua máquina.
— Está se divertindo? Ao, me ver, sorriu.
— Olá, Nora. Alguns trabalhos, eu faria de graça. Ele se aproximou de
mim. — Soube do caso de Kitty. Imagino como isso a tenha afetado.
— Stan disse que está segurando a edição do jornal à espera dessa
matéria informei, desviando do assunto.
— Sei disso. Não esqueça que precisa entrevistar Brinker.
Aquela seria para mim a pior tarefa. De alguma forma devo ter expressado
meu desagrado.
— Não a culpo por não gostar dele. Eu o vi ali adiante, derramando
champanhe sobre os seios de uma garota. A pobre estava chorando.
— Isso quer dizer que ele não mudou nada.
De onde estávamos, era possível ver o aglomerado de pessoas em meio a
diversos balões cor-de-rosa agrupados de dois em dois, lembrando um par
de seios, unidos pelo logo do sutiã.
Respirei fundo e me embrenhei no meio de todos até encontrar Brinker,
que estava dando uma entrevista a Dillard Farquar, um jornalista refinado
e um renomado crítico da moda. Como sempre muito elegante do alto de
seus setenta anos, vestia um blazer azul-escuro com o monograma da
família bordado no bolso, camisa engomada e gravata discreta. Não
demorou muito para que me visse aguardando pela atenção de Brinker.
— Nora! exclamou ele. — Você está divina! Não me diga que é um Dior
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própria humilhação por isso, fiquei surpresa quando meu pedido foi
atendido. Outro recurso constrangedor daquele homem era avaliar
detalhadamente a pessoa a quem pretendia dirigir a palavra, de forma a
intimidá-la.
Preferi aguardar que ele tomasse a iniciativa de falar.
— Lembro-me do seu rosto, mas não de seu nome.
— Sou Nora Blackbird respondi, surpresa por ele ter fingido não lembrar
que Dilly acabara de nos apresentar. — Parabéns pelo sucesso.
— Você já experimentou o sutiã? — indagou ele, detendo os olhos nos
meus seios.
— Ainda não. Você espera que todas as mulheres comprem um?
Perguntei, com meu bloquinho de anotações e caneta em punho.
— Tenho certeza de que comprarão vários, de todas as cores. O sutiã
Brinker será indispensável para o guarda-roupa feminino.
Dilly olhou para mim com as sobrancelhas arqueadas, como se dissesse
que já ouvira a mesma ladainha.
— Onde se inspirou para essa criação?
— Foi um sonho. Aliás, que homem não sonha com seios? Quando não ri
ou mostrei simpatia pelo que disse, ele me perguntou:
— Como se sente sendo ícone da moda da cidade?
— Não sou nada disso. Uso roupas velhas porque não posso pagar por
novas.
— Mas ela sempre consegue estar deslumbrante, palpitou Dilly.
— Trabalho para o Intelligencer. Estou substituindo Kitty Keough. Soube
que vetou a entrada dela no desfile ontem à noite.
— Foi mesmo? Questionou Brinker, crispando a testa.
— Ou alguém da sua equipe.
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não fossem desempenhadas a contento. Ela e Kitty tinham uma rixa, mas
não sei dos detalhes. Agora me conte mais a respeito da morte da bruxa.
Foi assassinato? O que Brinker tem a ver com isso? indagou Dilly,
puxando-me para nos afastarmos da multidão.
— Talvez nada, respondi. — O que sabe sobre a entrada dele no mundo
da moda?
— Foi muito repentina. Em um minuto ele estava fazendo um show
humorístico, no outro ele se proclamava o próximo Marc Jacobs. É muito
estranho. Nada funciona desse jeito.
— Você sabe de algo mais concreto?
— Não, mas sinto que a verdade virá à tona a qualquer momento. Corto
meus pulsos se esse sutiã foi mesmo criação de Brinker.
— Espere para comprar a lâmina, brinquei, encaixando meu braço no
dele.
— Você vai ficar no lugar de Kitty?
— Ainda não me disseram nada. Dilly tirou do bolso um cartão.
— Por que não vamos almoçar qualquer dia? Você precisa de um amigo
na área, alguém com quem conversar e que já a conheça bem.
— Obrigada. Preciso mesmo de todo aconselhamento que puder obter.
— Você se sairá bem. Não permita que esses leões do mercado a
devorem.
— Entrarei em contato.
Beijei-o na bochecha e, ao me afastar, acabei dando um encontrão em
Richard Deavon, derrubando sua bengala.
— Vocês jornalistas sentem o cheiro de uma boa história, não?
— Para ser sincero, eu estava procurando você respondeu ele, abaixando-
se para pegar a bengala. — Podemos conversar?
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— Sobre o quê?
— Sobre a morte de Kitty Keough. Ele estreitou os olhos. — O que
aconteceu com seu rosto?
— Nada respondi, elevando instintivamente a mão para esconder o
hematoma.
—Você desapareceu ontem à noite. Será que pode dispor de alguns
minutos para mim?
— Acho que não. Estou aqui a trabalho e com a cabeça cheia.
— Com a morte de Kitty ou com a prisão de seu namorado?
— Como sabe quem é meu namorado?
— Há pessoas que ao colocarem o pé na rua viram notícia. Michael
Abruzzo é uma delas.
— Ele não foi preso, e sim levado para ser interrogado. Sempre que algo
de ruim acontece à polícia acha que ele tem informações.
— Especialmente quando as coisas ruins dizem respeito a você?
— A morte de Kitty não tem nada a ver comigo.
— Ora, se o corpo foi encontrado na sua varanda, o assassino tem algo a
ver com você. E, por extensão, com o homem com quem está envolvida.
— Deixe-me adivinhar. Sua matéria é sobre o crime organizado.
— Ainda não. Fale comigo. Talvez esteja perdendo o ângulo certo das
coisas.
A última pessoa com quem eu queria falar era Richard, em especial se ele
decidisse escrever algo sobre Michael. Não tinha dúvidas de que ele
poderia distorcer minhas palavras, e eu não estava com a menor
disposição para confrontá-lo no momento.
— Certo, mas preciso encontrar meu fotógrafo. Uma coluna social não
pode passar sem as fotos.
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— Sem problemas. Faça o que tiver que fazer, eu vou esperá-la afirmou
ele, encostando-se a uma parede.
Saí em busca de Libby. Não a vi em lugar algum, mas acabei encontrando
Lee Song, o fotógrafo, de novo.
— Será que poderia me fazer um favor? Indaguei.
— Se vai me pedir para passar mais algumas horas fotografando essas
mulheres lindas, não haverá problema algum.
— Lamento desapontá-lo. Será que pode encontrar minha irmã e dar um
recado? Lee ouviu o que eu disse e concordou em me ajudar. Olhando por
cima do ombro, vi que as gêmeas, Fawn e Fontayne, haviam se
aproximado de Richard, distraindo-o. Aquela era minha chance de
executar meu plano sem ser vista.
Para minha sorte, a bilheteria da estação ainda estava aberta. Comprei
minha passagem o mais rápido que pude e não demorei a chegar até a
plataforma. Uma vez fora do alcance da visão de Richard, tirei meu casaco
e entrei no trem. Fui direto ao banheiro para recuperar o fôlego e passar
pó no rosto. Aguardei que o trem se afastasse da estação para sair
daquele cubículo, sentei ao lado da janela e deixei que Spike apoiasse as
patas ali, ao tirá-lo da sacola.
— Por favor, não faça muito barulho. Comporte-se.
— Quem, eu? Richard perguntou, sentando-se a meu lado.
Acho que meu rosto ficou tão vermelho quanto o de uma criança que é
pega em plena travessura.
— Podemos conversar agora?
Tentei colocar meu cachorro de volta na sacola, mas ele se recusou.
Estava ocupado demais rosnando para Richard. Tive vontade de fazer a
mesma coisa, já que me faltavam palavras, tamanho foi o meu susto.
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— Fiz a minha primeira venda! — exclamou ela assim que entrei no carro.
— Aquele fotógrafo é uma simpatia.
— Por favor, deixe meus colegas de trabalho fora da sua lista de clientes.
Como vou olhar para Lee agora?
— Ora, estou prestando um serviço público. Talvez os asiáticos possam ser
meu público-alvo. Ela ajeitou o ar quente do carro, que começou a
aquecer meus pés gelados. — A propósito, Emma não embarcou com o
séquio de Brinker.
— E onde ela está?
— Não sei. Talvez ela e Monte tenham outros planos, do jeito que
estavam se agarrando na estação... Como será que ela consegue arranjar
tantos namorados? Aposto que não ficaria sozinha nem se estivesse no
deserto do Saara.
— Prefiro estar sozinha do que com um tipo daquele.
Libby me ajudou a secar Spike com lencinhos perfumados. Depois, ela
pegou um deles e colocou a mão por baixo da blusa, passando-os pelo
sutiã de silicone.
— Não adianta, grudou mesmo.
— Achei que estivesse brincando.
— Não consigo soltá-lo de jeito nenhum. Quer tentar? Ainda incrédula,
tentei soltar as pontas com a unha e puxar o silicone de uma vez só. Nada.
O sutiã não saiu do lugar.
— Acho que está começando a atrapalhar minha corrente sangüínea. Oh,
Céus, e se meus seios atrofiarem?
— Não se preocupe, isso não vai acontecer.
— Por via das dúvidas, tente de novo.
Diante de tanto barulho, Spike pulou do meu colo e foi para o sossego do
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banco de trás. Respirei fundo, descolei uma ponta mais larga, procurei um
apoio para o pé e pus toda minha força em um puxão só.
— Ai!
— Impossível, está grudado, reclamei.
— Tente de novo, por favor.
Repeti todo o processo, só que agora Libby segurava em meus ombros
para aumentar a força conjunta.
— Pronta?
Naquele instante, um executivo parou em frente ao carro e ajeitou os
óculos para ter certeza de que não estava alucinando.
— Gostou? Tire uma foto! Gritou minha irmã. Virando-se para mim,
começou a rir. — Bom, pelo menos eles continuam perfeitos e chamam a
atenção.
— Não entendo. Se houvesse alguma coisa errada com esse sutiã, você
não seria a primeira a reclamar. Já haveria publicidade a respeito.
— Pode ser que este esteja com defeito.
— Por que não toma um banho de imersão em água quente e tenta
soltar?
— Boa idéia! Exultou ela, abaixando o suéter. — Onde está o jornalista
bonitão? Vi que ele a seguiu. Vocês se encontraram?
— Sim. Vamos logo para casa?
— O que está esperando para me contar os detalhes? Indagou Libby,
manobrando para pegar a estrada de volta.
— Para ser sincera, não sei o que aconteceu.
— Ele tentou alguma coisa? Sei de alguns homens que gostam de fazer
sexo em veículos em movimento. No trem, ele tentou...
— Não aconteceu nada, está bem? Preciso falar com Michael.
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seguir com as tarefas normais. Fiz alguns cheques para pagar as contas do
mês e percebi que não teria fundos suficientes para pagar a próxima
prestação dos impostos. A idéia de sair da casa que fora da minha família
por mais duzentos anos me deu calafrios, faria tudo que estivesse ao meu
alcance para que isso não acontecesse.
Fui até a biblioteca com a idéia de separar alguns livros antigos para
vender. Porém, ao pegar aqueles volumes valiosos, imaginei se me
desfazer deles não seria algo semelhante a vender a casa.
Decidi subir para tomar um banho e me deitar. O dia fora atribulado
demais e tive dificuldade para dormir. Em algum momento da noite
interminável, devo ter caído num sono conturbado, pois quando acordei
minha cabeça latejava.
E Michael ainda não tinha voltado para casa.
Tom me ligou às sete e meia.
— Olá, Nora. Desculpe-me por ligar tão cedo, mas a polícia adiou o
interrogatório.
— Por quê? Eles disseram alguma coisa? Indaguei atordoada.
— Infelizmente não sei de nada. Michael ficará detido por mais tempo.
Mas depois de vinte e quatro horas, eles têm de soltá-lo ou dar voz de
prisão.
Depois de desligar, me aprontei e solicitei que o carro viesse me buscar.
Como eu costumava desmaiar em momentos de emoções fortes, não
tinha carta de motorista. Felizmente, meu empregador, e antigo parceiro
de jogos de tênis do meu avô, incluíram o serviço de transporte em meu
contrato de trabalho.
Meu motorista, Reed Shakespeare, era um estudante que trabalhava meio
período para uma empresa de transporte de Michael. Apesar de me
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atender havia algum tempo, ainda não nos sentíamos à vontade um com o
outro, e ele resistia a ser amigável.
Quando o carro chegou, acomodei-me com Spike no banco de trás e
seguimos até a redação do Intelligencer em silêncio. Quando entrei no
prédio, em vez de seguir para os elevadores, fui até a recepção e liguei
para Stan.
Dez minutos mais tarde, Stan me encontrou em um café não muito longe
dali.
— Que mancha é essa no seu rosto? Perguntou ele.
— Eu caí.
Stan estava com uma ótima aparência e estranhamente animado.
Fomos para o canto mais afastado. Um garçom trouxe uma xícara grande
de café para Stan, antes mesmo que sentássemos nas confortáveis
poltronas. Tirei as luvas e pedi um suco de tomate.
Quando ficamos a sós, ele puxou uma pasta de papéis e me passou.
— É a agenda de Kitty. Consegui tirar uma cópia antes que os policiais a
apreendessem, é a única coisa que temos para conduzir nossa própria
investigação. O único problema é que está toda em código. Folheei o
calhamaço.
— Consigo decifrar a maior parte do que está escrito aqui, comentei
depois de ler algumas páginas. As empresas eram citadas apenas por suas
iniciais e os endereços também.
Notei, que o desfile de apresentação do sutiã de silicone estava
sublinhado com força e minhas iniciais haviam sido escritas perto da
margem. Logo abaixo dos nomes Brinker Lamb havia o número sete e a
palavra carvalhos, ao me ver com o dedo apontado naquela parte da
folha, Stan comentou:
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Mary havia sido contratada para cuidar de Oriana. Aos poucos, fora
assumindo uma importância cada vez maior na casa, tornando-se
imprescindível. Administrava tudo com pulso de ferro. Atualmente, com
quase toda a família dispersada, ela continuava a tomar conta do lugar
como se fosse seu.
— O que a traz aqui? Indagou, enquanto me ajudava a tirar o casaco e
puxava uma cadeira.
Agnes logo colocou sobre a mesa uma bandeja de prata com um serviço
de porcelana florida e colherinhas minúsculas.
— Preciso saber se Kitty esteve aqui anteontem à noite.
— Aqui? Indagou Mary, trocando olhares com Agnes.
— Sua agenda indicava que ela poderia ter um encontro aqui. Bem, ao
menos é o que estou supondo.
— Ela não esteve aqui sentenciou Mary. — Eu teria notado sua presença,
não? Mantemos a casa toda trancada. Além do mais, faz muito tempo que
não recebemos visitas.
— Não faz tanto tempo assim interveio Agnes. — O Sr. Hemmings deu
uma festa para alguns amigos na antiga casa do jardineiro. Preparei
comida para doze pessoas e fui instruída a não aparecer por lá até as oito
horas da manhã do dia seguinte.
— Ele não mora nesta casa? Eu quis saber.
— Sim, mas ele não recebe pessoas aqui. Prefere a privacidade da casa do
jardineiro, nós não nos metemos no que acontece lá.
— Você chegou a conhecer os amigos dele?
— Alguns deles, não me lembro de ter visto a Srta. Keough por aqui.
— E Brinker Holt? .
— Esse nome é conhecido, não? Perguntou Mary, franzindo a testa.
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— Por quê?
— Acho que esta é a cena de um crime.
A polícia não demorou a chegar, fui interrogada brevemente e informei
que suspeitava que Kitty fora assassinada naquele local. Em seguida todos
os que moravam ali foram questionados. Do lado de fora, alguns policiais
passavam a fita listrada amarela e preta para isolar a área.
Como eu não tinha mais nada a fazer ali, aguardei que Reed fosse buscar o
carro, várias pessoas já se aglomeravam, dois furgões da imprensa
estacionaram, e dela saltaram cinegrafistas e repórteres. A primeira
pessoa que reconheci foi Richard.
Assim que me viu, veio em minha direção em velocidade considerável
para quem precisava de uma bengala para andar. Respirei fundo, aliviada
por vê-lo. Uma absurda vontade de abraçá-lo tomou conta de mim, mas
me contive a tempo.
— Conte-me o que estão dizendo pedi, assim que ele se aproximou.
— Há sangue na neve perto da garagem, a polícia acha que é de Kitty.
Soube que você levantou a suspeita por causa de um sapato...
— Eles não acharam mais nada?
— Nada da arma do crime. Como você chegou até aqui?
— Na agenda dela havia uma referência ao antigo nome desta
propriedade.
— O que Kitty estaria fazendo aqui?
Eu ainda não tivera tempo de pensar a respeito, mas não levantaria
hipóteses diante dele. Percebendo o quanto eu estava abalada, Richard
segurou meu braço para dar apoio.
— Venha, vamos sentar no meu carro antes que você desmaie.
— Nunca gostei dela falei de repente. — Sei que ela está morta, o que é
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terrível, mas a idéia de que alguém realmente a matou é... Me faz sentir...
As mãos dele me ampararam, e eu fiquei feliz com o contato humano
naquele momento, foi exatamente então que Michael se aproximou,
parecendo ameaçador, ao menos estava fora da prisão... Richard me
soltou no mesmo instante.
— Imagino que se está aqui é porque estamos mesmo na cena do crime
Michael disse.
Tive vontade de me jogar nos braços dele, mas me contive.
— Reed ligou para você? Ele deve achar que vai despedi-lo se eu quebrar
uma unha.
— Ele estaria certo.
— Olá, cumprimentou Richard depois de uma tosside-la. — Você deve ser
Michael Abruzzo. Sou Richard Deavon, amigo de Nora.
Meu amigo? Desde quando? Por um momento, esqueci o impacto que
Michael causa nas pessoas. Não apenas por sua presença marcante, mas
também por seu rosto de linhas duras serem sempre associado aos crimes
cometidos pela máfia.
Entretanto, Richard não estava com medo e sim intrigado, o que fez com
que ele ganhasse alguns pontos comigo.
Os dois apertaram-se as mãos.
— A polícia acha que Kitty foi assassinada aqui, informou Richard.
„ Michael varreu o local com os olhos, observando os policiais, as árvores
e os arbustos cobertos de neve como se fosse um perito.
— Não é um mau lugar para atirar, há onde se esconder.
Porém, é estúpido desconsiderar que a neve não cobre as provas. Os
policiais já descobriram onde estava o atirador?
— Não. O que você acha?
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conclusão.
— Então, quem seria o alvo?Perguntei.
— Bem, esse é o seu departamento, ele respondeu com um sorriso
maroto.
Richard se despediu e nós seguimos para o carro de Michael, estacionado
não muito longe dali. No caminho, Spike veio nos encontrar, ele estava
sujo e molhado, por ter brincado na neve.
Depois de enxugá-lo com uma toalha que retirou do porta-malas, Michael
colocou-o no meu colo, bateu a porta e se dirigiu para o lado do
motorista. Ele não ligou o carro de imediato, havia alguma coisa que o
preocupava.
— Não acharam nada para incriminá-lo? Perguntei com calma.
— Por enquanto...
— A polícia o deteve por tempo demais.
— O importante é que agora estou livre.
Ele trocara de roupa, o que significava que passara em casa assim que os
policiais o haviam liberado, fiquei imaginando se o tinham jogado em uma
cela imunda.
Um relacionamento saudável requeria que os dois envolvidos deixassem o
passado para trás. O que acontecera antes de nos conhecermos estava
começando a prejudicar o que pretendíamos construir juntos.
— Quem era, o professor? Michael quis saber.
— Richard é um repórter. Gostaria que não tivesse falado com ele sobre o
crime.
— Há quanto tempo vocês se conhecem?
— Uns dois meses.
— O que ele acha sobre a morte de Kitty?
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Michael desceu do carro para falar com os policiais e Spike ficou em pé,
apoiado no vidro, para olhar o movimento.
— Onde você está? Indaguei.
— Acabei de levantar e ler os jornais, soube que seu namorado teve
problemas, mas já saiu da prisão, certo?
Fiz um breve relato do que havia acontecido até o momento.
— Isso quer dizer que seu príncipe encantado está planejando fugir para
algum paraíso de praias maravilhosas?
Fiquei muda diante daquela possibilidade.
— Desculpe, querida, não vejo Michael fugindo de uma briga
contemporizou ela. — O que pretende fazer?
Olhei para fora, Michael entretinha os policiais com alguma história, que
os fazia rir.
— Preciso saber o que Kitty estava fazendo aqui quando foi morta. Vou
seguir as duas pistas que tenho, Hemmings e Brinker.
— O que Brinker tem a ver com isso? Contei a Emma o que havia lido na
agenda de Kitty.
— Por acaso você sabe onde ele está? Indaguei.
— Acho que na turnê de Nova York. Os jornais não falam de outra coisa.
— O que me surpreende é que esteja trabalhando para ele. Por que está
fazendo isso?
— É um país livre.
— Você sabe muito bem do que ele é capaz.
— Já sou bem crescidinha para saber me cuidar.
— Os jogos sádicos dele também cresceram, Emma. Ou você já esqueceu
o que aconteceu? A vodca afetou sua memória?
Ela bateu o telefone na minha cara. Com razão, lá estava eu interferindo
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CAPÍTULO III
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nenhuma de nós consegue manter o marido vivo, não posso casar, com
ele, não é?
— Bem, ele não fala muito e sabe cozinhar. É um homem perfeito. Certo,
talvez ele seja o próximo chefão da máfia, mas algum defeito tinha que
haver. O que você queria?
— Alguém que não atirasse a vida em um penhasco.
— Pense no excitante percurso.
Comecei a rir, a soluçar e logo percebi que estava à beira das lágrimas. A
possibilidade de perder Michael era tão real que quase engasguei, se eu
estivesse grávida, minha situação seria ainda pior.
Ficamos em silêncio, cada uma pensando na própria vida, quando Emma
me surpreendeu, dizendo:
— Ainda me lembro quando Brinker me pegou na piscina e me levou para
trás de uma barraca...
— confessou ela, olhando para o teto.
— Eu deveria ter cuidado melhor de você.
—Achei que eles queriam que eu fizesse parte da turma. Em vez disso,
rasgaram meu maio azul de listras, que eu adorava. Quase morri de frio e
nojo, quando eles passaram aquelas mãos molhadas, pelo meu corpo.
Emma parou de falar e, de olhos fechados, deu uma longa tragada no ci-
garro. — Acho que nunca tinha tido tanto medo na vida. Quando percebi,
você já estava batendo em Brinker com alguma coisa.
— Uma bóia de jacaré.
— Isso mesmo. Ela riu.
— Escolhi uma péssima arma.
— Serviu para que eles me soltassem e fugi. Lembro-me de ter ficado
brava com você por estar com o maio rasgado. — Emma abriu os olhos e
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rosto, eu sabia que a única coisa que o impedia de falar era o medo de
uma ameaça maior.
— De quem está com medo? De alguém da Lamb? De Brinker?
— Não posso falar. Colocou a mão no estômago. — Não estou me
sentindo bem. Ele engatinhou pela cama até pular e correr para o
banheiro.
Fiquei sozinha ali. Enquanto aguardava a volta de Hemmings, vi uma
mulher de vestido azul se aproximar, quando ela chegou mais perto, notei
a quantidade de pulseiras e anéis que usava e a reconheci na hora.
— Sabria!
Pude ver seus olhos brilhando de espanto apesar da maquiagem pesada.
— Nora! Que surpresa.
E uma surpresa desagradável, eu pensei.
— Você viu Hemmings por aí? Indagou, perscrutando o lugar.
— Ele está indisposto. Por que não espera aqui comigo? Pela reação de
desconforto, percebi que ela preferia sentar perto de tarântulas do que a
meu lado, depois de mexer os braços, fazendo bastante ruído com as
pulseiras e ajeitando o vestido que a deixava com um dos ombros
desnudos, ela finalmente se sentou.
Tinha nas mãos uma sacola de papel.
— Ele me fez uma encomenda.
— O que há entre você e Hemmings? Desisti de ser educada e entrei
direto no assunto.
— Somos apenas conhecidos.
Mesmo com a fraca luz, reparei como ela estava desconfortável.
— Conte-me mais sobre seu trabalho na Clientec. Parecem muito
interessante, as campanhas são sempre intrigantes em sua maneira de
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— Ela parece ter se saído bem, talvez seja um pouco bitolada no trabalho.
Mas comprar drogas para Hemmings não é uma atitude muito inteligente,
aposto que era isso que ela foi entregar a ele no bar. Eles formam um par
esquisito, não?
— Pensei em algo do tipo senhor e escrava.
— Essa história não soa familiar?
— Está se referindo a Hem e Brinker? Meneei a cabeça. — Hem sempre
foi à vítima, um masoquista que vivia procurando alguém que o
maltratasse.
— Ele pode ter reagido. Não é impossível comentou Emma.
— Monte já mencionou Sabria?
— Não. Por que deveria?
— A agência de publicidade onde ela trabalha o contratou para ser o
garoto-propaganda da Big Box, agora ele está circulando com Brinker. É
muita coincidência.
— Não sei nada sobre as aspirações profissionais do caubói.
— Emma, em relação a Monte... Você acha que pode estar compensando
alguma frustração com ele?
Ela refletiu um pouco antes de responder.
— Talvez, mas não importa, nós dois sabemos que nosso caso não vai
durar muito, ao contrário de você e Michael, ele está tentando fazer as
coisas do jeito certo por você. Como estava prestando atenção no
caminho, Emma tomou coragem para me dizer coisas que não conseguiria
se estivéssemos nos olhando. — É uma espécie de redenção, porque você
acredita nele, Michael está tentando acertar as coisas. É algo bonito, se
pensar bem. Mas se você parar de acreditar... Não sei o que ele fará.
— Está prestes a me dar alguns conselhos irmãzinha?
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— Não acho que Monte seja perigoso, mas se estiver mesmo sendo usado
para vigiar Brinker para a Clientec...
— Para a Lamb corrigiu Lexie.
— Exato. Nesse caso, há mais sujeira sob o tapete, minha cabeça começou
a girar diante de tantas suposições.
— O que você descobriu até agora? Perguntei. Fontayne repetiu o que
Lexie já me contara, que Hemmings queria comprar o sutiã Brinker para a
Lamb. Por outro lado, Brinker também estava mexendo seus pauzinhos, O
desejo dos dois lados é sair da negociação com a maior fatia do bolo, e
estão jogando sujo para atingir o intuito.
Lembrei-me de que Dilly me dissera não acreditar que o sutiã fosse
criação de Brinker.
— Vocês acham que o sutiã é mesmo de Brinker? Perguntei.
— O que você sabe? Fontayne me perguntou.
— Bem, ele não é exatamente um gênio do design.
— Será que foi Hemmings quem criou o sutiã? Indagou Lexie. — Ele
também não é nenhum gênio.
— Qualquer que seja a noção de negócios que ele tenha, sugou do
cérebro de outra pessoa disse Fontayne.
— Sabria Chattejee? Presumi.
— Ela é a executiva de contas da Clientec, responsável por atender a todas
as solicitações da Lamb. Isso inclui seguir Hemmings por toda parte
informou Fontayne.
— Ela está em uma posição difícil eu disse.
— Sim. Se ela não agradar Hemmings, há uma boa chance de ele escolher
outra agência e a Clientec sai do mercado.
— Então, que diabos ela está fazendo? Jogando dos dois lados ou servindo
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uma armadilha?
— Muitas pessoas poderiam estar correndo perigo.
Na verdade eu queria me certificar de que Orlando estava bem, sabendo
que sua casa era palco de tanta agitação. Prosseguimos o caminho em
silêncio e chegamos ao "Recanto das Arvores" ao entardecer.
— Olá, Mary cumprimentei quando ela abriu a porta. — Esse é Richard
Deavon, ele é jornalista.
— Olá, como vai? Desculpem-me, mas não estou em meu melhor
momento.
— Aconteceu alguma coisa com Orlando? Indaguei aflita.
— Ele está muito chateado. O Sr. Gallagher partiu.
— Para onde ele foi?
Seguimos Mary até a cozinha, que naquele momento cheirava a pão
assado, havia também uma tigela de biscoitos quentinhos. Spike colocou a
cabeça para fora da sacola com a certeza de que sobraria alguma coisa
para ele.
— Ele me ligou do avião, estava indo para a Irlanda. E de primeira classe,
imagine você.
A viagem provavelmente era presente de alguém que o desejava bem
longe do país, pensei.
— Onde está Orlando? Eu quis saber.
— No quarto, Aggie está de olho nele. O menino está muito triste. Eu ia
levar um lanchinho para ver se ele se anima.
— Hemmings está em casa?
— Não. Ele saiu de manhã e ainda não voltou.
— Precisamos conversar sobre a segurança de Orlando.
— Depois que aquela mulher foi morta aqui, liguei para os guardiões dele
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sutiã.
— O motorista? Como chegou a essa conclusão? Indagou, atônito.
— Ele é um inventor, aposto que vendeu a idéia a Brinker, que por sua vez
queria seu silêncio.
— E quem matou Kitty Keough?
— Kitty conhecia Gallagher e provavelmente chegou à mesma conclusão
que eu.
— E Brinker mandou matá-la? Ou será que ele queria eliminar o motorista
e Kitty passou pela linha de fogo por acaso?
— Não sei.
— O menino não sabe de nada?
— É possível, Vou perguntar quando for a hora.
— Se ele souber de algo, também se torna um alvo.
— Ele está seguro aqui. Pelo menos, até que saiam os jornais amanhã de
manhã. Richard colocou as mãos nos bolsos e me encarou.
— Se Brinker realmente matou Kitty para manter segredo, pode ter
certeza de que serei o primeiro a escrever a história. No entanto, ainda
não temos provas suficientes, talvez até amanhã eu descubra mais alguma
coisa, mas até então...
— Obrigada, Richard.
Ele ficou admirando meu sorriso por um longo tempo antes de dizer:
— Vou dar um jeito de conversar com Brinker esta noite.
— Como?
— Pode deixar, descobrirei o que ele anda fazendo, fique por aqui e ajude
Abruzzo a proteger o garoto. Não que ele precise de mais reforço
comentou rindo e apontando para Aldo com a cabeça.
— Direi a Michael que tem seu voto de confiança.
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acha dele?
— Acho que é daquelas pessoas de quem devemos manter distância.
— Espero que ouça o próprio conselho, esse sujeito não tem boas
energias, para dizer o mínimo sentenciou Delilah e, ouvindo o bipe de
outra ligação na espera, despediu-se. — Preciso correr, até mais.
Terminei a ligação e estava prestes a levantar do sofá quando Michael
surgiu à porta, mesmo de meias, jeans e a camisa amassada para fora da
calça ele estava incrivelmente atraente. Sorri e estendi a mão, e ele se
sentou a meu lado.
— Orlando acabou de me contar que Brinker tinha negócios com
Gallagher.
— Que tipo de negócio?
— Brinker comprou alguma coisa, uma invenção do motorista, Gallagher
disse a Orlando que ganhara muito dinheiro e que iria comprar uma casa
na Irlanda, onde o menino poderia visitá-lo.
— Gallagher inventou o sutiã de silicone e vendeu-o para Brinker. Como
soube de tudo isso tão rápido?
— Durante os comerciais.
— Orlando está bem?
— Ele e Spike adormeceram.
— Será que ele estará seguro aqui? Enlacei-o pelo pescoço e passei os
dedos pelos cabelos espessos.
— Claro, Aldo gosta desse tipo de coisa.
— Obrigada, Michael sussurrei. Toquei-o no rosto, descendo os dedos
pelos ombros e braços musculosos. Beijei-o demoradamente, enquanto
insinuava minha mão pela camisa aberta, deixando que os pelos macios se
embrenhassem entre meus dedos. Quando nossas bocas se afastaram, ele
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mordiscou minha orelha, levando uma das mãos aos meus seios. No
entanto, ele se afastou, tenso.
— O que houve?
— Eu tive de sair ontem à noite para resolver alguns assuntos explicou
ele.
— Senti sua falta.
— Nora...
— Sei que não foi talhado para a vida doméstica, você não deveria ter de
ligar para casa para falar com sua mulher o tempo todo...
— Não é disso... Ele hesitou. — Eu não sou a melhor coisa que já
aconteceu com você.
— Não me importo com isso.
Encostei o meu rosto em seus cabelos e ficamos em silêncio, ouvindo o
crepitar da lenha na lareira.
— Danny Pescara foi contratado para matar Kitty por uma pessoa que
conheceu em um bar de motoqueiros em New Hope na semana passada.
Ainda não descobri quem é, para fazer um acordo com os policiais, ele
disse que estava trabalhando para minha família.
— Ele explicou por que um Abruzzo iria querer matar Kitty?
— Durante o desfile, alguém ouviu sua irmã dizer que seria ótimo para
você se Kitty morresse. Foi o que bastou. Acredito que a polícia tenha
plantado a idéia na cabeça de Danny, e ele caiu. O problema é que ele nos
implicou nisso.
— Nós?
— Eu, meu pai, ou um de meus irmãos, talvez.
— E como a polícia vai provar que foi um de vocês?
— Eles têm o depoimento de Danny. É a palavra dele contra a nossa,
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tão charmosos disse ela, apertando a mão do garoto. — Como vai? E que
belo trabalho de adestramento está fazendo com Spike. Ele não fez xixi no
chão desde que eu cheguei.
— Estou apenas visitando ele limitou-se a dizer. Rawlins, o filho mais velho
de Libby, de dezesseis anos, entrou na sala com a mochila nas costas,
comendo uma barrinha de cereais.
Abracei-o e, como qualquer adolescente, ele se esquivou.
— Olá, tia Nora.
— Esse é Orlando, ele vai passar uns dias conosco.
— Olá, Rawlins cumprimentou-o.
— O que é isso que está comendo?
— De onde você é? Marte? Não é possível que não reconheça uma
barrinha de cereais.
— Você tem mais?
— Meninos, por que não vão para a sala, enquanto eu e Nora
conversamos? Sugeriu Libby.
Os dois saíram, Spike pulava ao redor deles com esperança de ganhar algo
para comer.
— Pode começar a contar tudo ordenou Libby. —Vocês brigaram?
Ainda abalada pela discussão com Michael, deixei-me cair no sofá.
— Não quero falar sobre isso agora, Rawlins parece chateado. O que
aconteceu?
— São os gêmeos, acho que estou criando dois delinqüentes, eles
encontraram um diário de Rawlins e postaram a poesia que ele escreveu
na internet, todos os amigos viram, ele está se sentindo muito vulnerável,
além de homicida. Acho bom afastá-lo dos dois por um tempo, você se
importaria se ele passasse uns dias aqui?
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— Não estou afirmando nada, sei apenas que são de boa qualidade.
— Vou conversar com a garçonete anunciei para minha irmã.
— Enquanto isso, vou ver se encontro alguns clientes disse ela, subindo
em uma cadeira para ter uma visão mais ampla.
Perry abriu os braços para o caso de algum acidente, mas, na verdade
estava, admirando as curvas do corpo de Libby.
Deixei os dois e me enfiei entre a multidão, tentando passar despercebida
Inútil, pois havia poucas mulheres ali, as únicas, presentes eram
namoradas dos motoqueiros, vestidas a caráter.
Logo localizei Ashley, que circulava pelo ambiente com uma bandeja
repleta de copos. Quando a vi voltar para o balcão, me aproximei para
conversar:
— Olá, um dos rapazes me disse que talvez você possa me tirar uma
dúvida ela me mediu dos pés a cabeça, afastando a mecha loira que lhe
caía na testa.
— É mesmo? E quem é você?
— Meu nome é Nora. Eu gostaria de saber se você conhece Danny
Pescara.
— Ele conseguiu ser preso de novo, não é? Indagou, revirando os olhos.
— Bem, você o conhece... Ele está sempre se metendo onde não deve,
não é?
— Ele está devendo dinheiro para você?
— Não, mas estava imaginando se você o viu na semana passada?
— Sim, ele vem bastante aqui.
— Com quem ele costuma conversar? Alguém em especial?
— Ah, ele fala com muita gente há muitas negociações neste lugar, se
quiser uma boa motocicleta, basta vir até aqui e perguntar Danny não está
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no mercado, ele apenas finge mas esses sujeitos? Indicou as pessoas com
um gesto de cabeça. São profissionais, se quiser falar em boas máquinas,
procure um deles as coisas não são exatamente limpas por aqui, querida
portanto, cuide-se.
— Obrigada. Eu não pretendo ficar muito tempo.
— Bom disse ela e, em um piscar de olhos, desapareceu entre os clientes.
Continuei ali parada, tentando decidir se me deixava intimidar e corria
para casa ou não, nesse momento Brinker chegou, munido de sua câmera,
e acompanhado por amigos, que seguiam na frente para abrir caminho,
garantindo um bom ângulo de gravação. Os motociclistas o reconheceram
e bradaram seu nome e um frêmito de excitação tomou o ambiente.
Ashley acenou para ele de longe, indicando a mesa vazia bem diante de
mim, foi então que me dei conta de que não tinha mais como voltar atrás
Brinker avançou, ainda gravando deteve-se por um momento em dois
sujeitos que disputavam uma queda-de-braço, como nada de mais
emocionante acontecia, ele baixou a câmera e sentou-se encostado à
parede de onde podia ter ampla visão do lugar, e a apenas um metro de
distância de mim.
— Ei, você não pode ficar aqui um dos amigos de Brinker me chamou a
atenção. Estamos esperando mais gente e precisamos colocar mais
cadeiras.
Não respondi. Ao ouvi-lo, Brinker virou-se, já me focalizando com a
câmera quando percebeu quem eu era, baixou-a e franziu o cenho.
— Você está me seguindo? Indagou, ele.
— Acho que é o contrário respondi, em um tom indignado. — O que você
quer?
— Como assim? Sou freqüentador assíduo deste lugar.
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— Eu cheguei primeiro.
— Que seja, apenas me esqueça.
Em vez de fazer isso, eu me sentei à mesa dele.
— Ela não pode ficar aqui, Brinker. O sujeito deve chegar a qualquer
instante e é melhor não irritá-lo advertiu o rapaz.
— Calma pediu Brinker, focalizando-me outra vez com sua câmera. — O
que quer comigo? Não tenha esperanças mulheres mais interessantes me
esperam por toda a cidade.
— Só quero saber quanto pagou a Gallagher pelo design do sutiã. Ao ouvir
o nome do motorista, ele parou de gravar em seguida, tirou a fita, pegou
uma caneta no bolso da jaqueta de couro e escreveu meu nome na
etiqueta.
— Então você acha que sabe das coisas, não é? Indagou, ele sem me olhar
enquanto guardava a caneta.
— Sei que pagou o velho homem... Com um gesto de mão ele me pediu
silêncio.
— Rapazes, por que vocês não vão buscar bebidas?
Preciso de um minuto aqui a contragosto, o grupo se afastou, deixando-
nos sozinhos.
— Você pagou a Gallagher uma ninharia para pôr suas mãos em um
design que vale milhões.
Com toda calma, Brinker guardou a fita com meu nome em uma mochila e
colocou uma nova na câmera.
— Não faço idéia do que você está falando, a invenção é minha e vou
processar quem diga o contrário.
— Você fez bem mais do que apenas processar Kitty Keough.
— Se pretende afirmar que eu tive algo a ver com sua morte, é melhor
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perguntas.
— Não o vejo há tempos estive muito ocupado com o desfile na semana
passada, esse é o preço que se paga por ter um negócio, é preciso cuidar
de todos os detalhes sozinho.
— Como posso saber que não está mentindo para mim?
— Você não acredita nele? Indagou Michael.
— Acho que não...
— Bem, ele não mentiria para mim. Algo mais?
— Brinker está com minha irmã informei. — Ela está sendo vigiada por
alguém perigoso.
Ele deu de ombros como se não se importasse. —Acho que está na hora
de você ir para casa agora. Diga boa noite.
— Boa noite eu disse.
CAPÍTULO IV
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haverá retaliação.
— Como?
— Temo por Emma confidenciei e percebi que estava trêmula.
Contei a Libby que Monte Bogatz havia sido contratado para espionar pela
Clientec e também para manter Emma sob vigilância.
— Precisamos tomar providências urgentes! Exclamou Libby, pegando o
celular.
Ligou para onde nossa irmã estava hospedada e, após falar com diversos
funcionários que se recusavam a dar-lhe informações, descobriu que
Emma e Monte haviam saído do hotel.
— Michael vai cuidar dela contei assim que ela desligou. — Ele entendeu
quando eu disse que Emma estava em perigo. Tenho certeza de que irá
encontrá-la.
— Nem ele pode forçar Emma a fazer o que não quer.
— Não, mas pode persuadir Monte.
Depois de testemunhar o poder de Michael no bar, eu não duvidava de
que ele conseguiria convencer qualquer um a fazer o que ele quisesse com
a vida de minha irmã em perigo, passei a ser a favor da violência.
Pela primeira vez eu o vira em seu meio ele havia se aproximado sozinho,
em silêncio, mas Brinker e todos no bar tinham enxergado o perigo
através de sua aura de impassibilidade.
O homem carinhoso e divertido que eu recebia em minha cama podia de
fato se transformar no mafioso implacável a respeito de quem todos me
advertiam. Michael era poderoso, inflexível e letal, eu vira com meus
próprios olhos e, finalmente, eu conseguia imaginá-lo agindo como os
jornais o acusavam de ter agido no passado.
— Você está bem? Libby perguntou.
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amiga Oriana.
Quando terminamos de comer, os meninos colocaram seus pratos na pia e
saíram correndo com Spike latindo logo atrás. Aldo afastou a cadeira e me
encarou:
— Se me permite um elogio, você até que não cozinha mal. Disfarcei o
sorriso e me servi de mais uma xícara de café.
— Obrigada.
— Consegui a informação que você queria anunciou ele.
— Que rapidez!
— Dei alguns telefonemas para as pessoas certas. Aqui está o endereço.
— Muito obrigada, me ajudou bastante.
— Sabe, no começo eu tinha o pé atrás em relação a você, mas descobri
que é uma pessoa bacana.
— Isso é por causa da minha comida?
— Não. O filho do chefe normalmente não é impetuoso, e nos deixou
preocupados quando conheceu você. Sentei-me diante dele, querendo
esclarecer algumas dúvidas.
— Você trabalha para o pai dele?
— Eu ajudo, isso é tudo. E é bom que saiba que ficaremos por perto
respondeu ele, olhando-me por baixo das espessas sobrancelhas.
— Orlando deve ir embora hoje à noite. Depois disso, não será mais
necessário...
— Depois... Se houver uma condenação ficaremos por perto.
— Condenação? Aldo, do que você está falando?
— Frankie não sobreviveria a cumprir pena, pois sua saúde não anda boa.
O filho vai assumir...
— Está me dizendo que Michael iria para a cadeia para poupar o pai?
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— Tenha cuidado. Se demorar muito, vou ligar para a polícia advertiu ela.
— Não chame a polícia, isso só vai fazer Michael parecer mais culpado.
Rawlins apareceu ao meu lado de súbito.
— Eu também vou.
— Nada disso...
— Eu também vou anunciou Orlando, postando-se do meu outro lado.
— De jeito nenhum. Os dois, já para o carro!
— Somos um time contrapôs Orlando.
— Isso mesmo. Além disso, se Michael souber que permiti que você se
expusesse sozinha, vai me matar.
Estudei a expressão teimosa do meu sobrinho e encontrei os traços da
família Blackbird, principalmente em seus olhos que me diziam que
nenhum argumento o demoveria do propósito que tinha em mente.
Se eu permitisse a companhia de um, não podia deixar o outro para trás,
Orlando me olhou como se rogando para não ser decepcionado.
— Alguém tem de me lembrar de não ter filhos. Está bem, vamos, mas
não quero ninguém dizendo ou fazendo algo sem antes falar comigo, está
bem? Coloquei Spike na sacola de brim e lá fomos os três em direção ao
prédio.
O edifício de Brinker ficava de frente para o rio. O arquiteto que havia
planejado o condomínio seguia conceitos inovadores, misturando tijolos
aparentes com amplas vidraças, os apartamentos eram lofts de dois
andares.
Um shopping Center era o ponto comum embaixo de todos os prédios.
Chegamos à porta da frente do edifício, que ficava sob a proteção de uma
abóboda de vidro mais escuro, presa por braços de ferro entalhado. O
trinco eletrônico maculava o vidro transparente, que nos permitia visão
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Com os braços cheios de vídeos, me vi na sala sem saber para onde fugir,
naquele imenso e vazio, loft não havia nenhum lugar possível para eu me
esconder.
A porta do elevador se abriu, e eu me deparei com Sabria, que ficou de
olhos arregalados me encarando. A seu lado estava Hemmings.
— O que ela está fazendo aqui? — Hemmings perguntou. Sabria
continuou muda.
— Olá. Apesar de soar idiota, não me ocorreu mais nada para dizer, em
uma das mãos, Hemmings segurava uma maleta de couro, e na outra uma
caixa de bolo. Sabria carregava uma sacola de supermercado.
— Ela pegou as fitas de Brinker, disse Sabria.
— E daí? Perguntou Hemmings, lento como sempre.
— Sinto muito, me desculpei procurando parecer o mais sincera possível,
estou morrendo de pressa, vou receber convidados em casa daqui a
pouco. Pelo visto, vocês também farão uma festinha particular, não é?
Aposto que não vão se incomodar se eu sair correndo.
Sabria reagiu primeiro, com passos largos, insinuando as pernas pelas
fendas laterais do vestido, ela me alcançou, espalmando a mão sobre meu
peito. Com a outra, puxou a primeira fita da pilha que eu segurava.
Infelizmente era a que continha o nome dela na etiqueta.
— O que acha que está fazendo? Ela questionou, fuzilando-me com o
olhar. — Sabria, sei o que fizeram com você.
Ela tirou a mão de mim como se eu a tivesse queimado.
— Do que você está falando?
Hemmings finalmente caiu em si e saiu do elevador, mais parecendo um
garçom com aquela caixa de bolo sobre a mão virada com a palma para
cima.
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Hemmings.
— Não posso! Há um rato aí, e ele me mordeu.
— É um cachorro, seu idiota. Venha logo.
Eu ainda lutava contra ela, quando Hemmings finalmente resolveu ajudá-
la e entrou no elevador, quando as portas começaram a se fechar, vi
Orlando aparecer e me encarar apavorado.
— Ache a escada de incêndio! Fuja! Gritei. O elevador começou a descer.
— Cale a boca! Advertiu Sabria.
— Você não precisa me amarrar. Tentei soltar os pulsos que ela segurava
com firmeza.
Nós três lutávamos conforme o elevador ia descendo, quando Hemmings
conseguiu segurar meus braços para que Sabria amarrasse os punhos,
levantei o joelho com toda força e o acertei na virilha. Vi quando seus
olhos reviraram de dor pouco antes de cair no chão.
— Levante! Gritou Sabria.
— Escute, eu não sou sua inimiga. Eles a estão usando. Será que não
percebe?
— Você não sabe de nada, respondeu ela. — Consegui a conta de Brinker
e vou mantê-la. A Clientec vai me promover à vice-presidente. Farei o que
for preciso.
— Mesmo que eles a machuquem? Era você quem estava gritando nesse
elevador algumas noites atrás, não?
— Posso agüentar a dor muito bem.
— Eles a estão usando apenas por diversão.
— Não importa, vou conseguir o que quero. Você é muito tola! Veja suas
roupas, suas irmãs... Duvido que saibam distinguir o que é realmente
importante, toda essa baboseira social arruma carreiras promissoras.
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estariam lá.
— Por favor, não... Murmurei.
Sabria levantou meus braços e prendeu em uma argola no teto. Pensei
que fosse deslocar meus ombros.
— Calma disse Brinker, ainda gravando. — Você vai gostar disso.
No chão, Hemmings continuava em posição fetal, Spike começou a ofegar.
— Deixem-me ir e vamos evitar problemas maiores para todos nós.
— Sem chances respondeu Brinker. Estendendo a mão, apertou meu
mamilo até eu gritar de dor. — Está vendo como vai ser divertido? Ele pôs
a mão sobre o hematoma no meu rosto. Você gosta de brutalidade, não?
Eu tentei livrar meu rosto daqueles dedos.
— Você é doente.
— É mesmo? Diga-me o quanto quer que eu seja doente com você.
— Você forçou Sabria a entrar nesse esquema sórdido, fazendo-a
contratar o assassino de Kitty. Ela foi coagida.
— Posso garantir que ela amou cada minuto, como você, foi uma pena
que não tivemos a oportunidade de ver aquela vadia morrer, aquilo sim
seria um filme digno de se ver de camarote, Spike havia voltado à vida e
mordia no rosto de Hemmings, que gritava ao mesmo tempo em que
tentava se livrar do meu cachorro.
As portas do elevador por fim se abriram no loft de Brinker. Hemmings
tentou sair engatinhando, mas Spike o mordeu de novo e os dois ficaram
ali, bloqueando as portas do elevador.
Praguejando, Brinker chutou as costas de Hemmings na tentativa de tirá-lo
do caminho. Depois, perdeu a paciência e passou sobre o corpo do outro,
pisando no chão de madeira do apartamento, Nesse momento, um som
de tiros ecoou no apartamento. Brinker pisou em uma poça de azeite e
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cenário social da cidade. Antes, a estirpe era tudo o que importava, ela
tornou aceitável e passou a valorizar que os ricos aparecessem no jornal
por conta de atos de caridade e solidariedade, e as doações começaram a
aumentar.
— Parece que sua opinião sobre ela está melhorando.
— Ela me ensinou bastante. Nem sempre eu gostei, mas ela me ensinou
muito.
— Se escrever o que acaba de me dizer, será uma ótima coluna de estréia,
Nora. Faça o melhor que puder, e vou fazer o possível para que assuma
esse cargo.
— Obrigada, Stan.
— É melhor se apressar disse ele, levantando-se e apontando para o
relógio. — Não vai dar uma festa esta noite?
— Até você ficou sabendo? Indaguei rindo.
— E quem não soube? Metade da cidade vai para lá.
— Você não vai?
— Talvez sim. Agora, ao trabalho! Deixe-me orgulhoso. Quando ele se
afastou, liguei o computador. Aquela hora, meus convidados deveriam
estar chegando à fazenda Blackbird. Com sorte, Libby tinha chegado para
recebê-los.
Escrevi sobre a última vez em que estive com ela, vestida da maneira
chamativa de sempre, ela havia entrado na sala abanando um convite
para um leilão de solteiros famosos, um evento beneficente que tinha por
objetivo levantar mais de um milhão de dólares para uma associação de
educação e cultura. Muito do sucesso se devia à campanha que Kitty fizera
em sua coluna, com atitudes como essa, ela ajudara várias instituições
filantrópicas, e ensinara muitas coisas a todos nós. E, apesar de molhar
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— Vai desmaiar?
— Talvez.
Ele suspirou e me deu o braço.
— Como estou? Perguntei.
Reed me mediu da cabeça aos pés, Libby havia mandado um suéter
branco, que me deixava com os ombros de fora e uma calça de cetim.
— Você está... Bonita.
Libby apareceu pela porta de trás, trazendo duas taças nas mãos. Ela
usava uma blusa fina que revelava o sutiã de silicone colorido.
— Feliz ano novo! Você está maravilhosa! Tome uma taça de champanhe.
— Temos champanhe? Perguntei surpresa.
— Lexie mandou uma caixa hoje à tarde. Não tive forças para erguer a
taça até a boca, por isso passei-a para Reed. Mesmo longe da sala
principal, era possível ouvir o som ao vivo, misturado ao vozerio dos
convidados. Supus que ali havia mais de cem pessoas.
— Quer um canapé?
— Pelo jeito, Lexie caprichou.
— Foram os meninos que prepararam.
— Quem?
— Isso mesmo. Rawlins me fez parar no supermercado quando
voltávamos para casa, e veja o que conseguiram fazer para você.
Libby deu um passo para o lado e pude ver a mesa da cozinha, repleta de
bandejas meticulosamente arrumadas com apetitosos hors d'oeuvres.
Quando olhei mais de perto, vi que Rawlins havia colocado queijo
pasteurizado em biscoitos de água e sal, enfeitando com uma azeitona. Na
verdade, ele comprara todos os salgadinhos e molhos que costumava
comer e os transformara em pratos lindos.
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mafioso tem que se esforçar bastante para não perdê-la para aquele
sujeito comentou, ela apontando para a porta aberta da biblioteca, onde
Richard se entretinha com alguns livros.
O telefone dela tocou e saí para deixá-la conversar à vontade.
Segui até a biblioteca e hesitei para entrar, fiquei observando-o um pouco,
vi que a bengala estava apoiada no sofá de couro, enquanto ele se
entretinha com a leitura. De repente, virou-se e me olhou sorrindo,
mesmo à distância, vi que uma onda de alívio tomou conta de sua
expressão.
— Que bom que não se machucou e está bem.
— É verdade...
— Sem contar que a história é sua em primeira mão.
— Não exatamente.
— Como assim? Não me diga que desistiu de escrever.
— Sim, mas não será um furo de reportagem, não é assim que vocês
jornalistas dizem?
Richard avançou em minha direção até ficarmos bem próximos, o suéter
de cashmere preto, com a gola branca da camisa para fora, completava a
elegância de sempre e parecia tão macio que tive vontade de tocá-lo.
Porém, me contive.
— Você escreveu sua história?
—Ainda não disse ele, colocando o copo de bebida sobre a estante. —
Ainda preciso de tempo para entender toda a trama, peço desculpas por
não ter encontrado Brinker. Soube que você o encontrou.
— Sim.
— Faz um bom trabalho quando se empenha. E, caso precise de algumas
dicas para aprimorar suas habilidades jornalísticas, eu posso ajudar.
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— Obrigada.
Sorrimos um para o outro, não como amigos havia algo mais, ele usava um
perfume gostoso e a música romântica de Cole Porter chegava em tons
suaves até onde estávamos. Entretanto, nada disso me impulsionou para
os braços dele.
Interrompi o momento, perguntando:
— Que livro é esse?
Ambos olhamos para aquelas páginas amareladas.
— Você é a mulher mais estranha que já conheci comentou, ele abriu o
livro revelando uma nota de cem dólares. Costuma guardar seu dinheiro
dentro dos livros?
— Não tenho idéia de onde veio isso.
Ele puxou outro livro, abriu e lá estava outra nota.
— Nunca ouviu falar em bancos?
Sem acreditar no que estava vendo, puxei um livro de poemas de Robert
Penn Warren, abri, e mais cem dólares.
— Não foi você quem guardou este dinheiro?
— Não... — De repente, percebi o que acontecera. — Só pode ter sido
Lexie!
— Deve ter mais de mil dólares nesses livros. Quem faria isso?
— Uma amiga. Ela insistiu que eu fizesse essa festa, eu deveria ter
desconfiado que ela tinha uma carta na manga, além de ter organizado
essa coisa toda.
— Do que está falando?
Fechei o livro e fiquei com a cabeça baixa para que ele não notasse minha
emoção.
— Fiz a mesma coisa por uma amiga certa vez. É uma maneira de ajudar
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Deixei que ele me beijasse, passei meus braços em volta do pescoço dele e
permiti que nossos corpos se aproximassem. Porém, não senti
absolutamente nada quando seus lábios tocaram os meus, e tive a certeza
de quem era de fato o meu grande amor. Na mão que eu apoiava em seu
ombro, o diamante brilhou sob a luz das estrelas.
FIM.
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