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PROCESSO PARECER OPINATIVO, Processo I Proposta de Emenda a Municipio de Limeira n’ 0: se o Parigrafo Unico ao art. 180 da Lei Or do Municipio de Limeira, Inadn Vicio de competéncia Ambito juridico definido para as Leis Orginicas ssibilidade. estranha a pelos dispositivos do art. 29, da CF/88, Ma no abareada no fimbito da competénci legislativa genérica para tratar de interesse loca nos termos do inciso I, do art, 30, da CF/88. Contetido normative da propositura com natureza juridica afeta ao campo dos direitos hu objetivamer regulada por _tratados intemacionais do quais 0 Brasil € sis cia dos Principios de Yogyakarta Competéncia legislativa exclusiva do Congreso Nacional nos termos do inciso I, do art. 49, da CF/88. Incompatibilidade com os incisos Ile IIL do art, 206, da CF/88. Violagao (potencial) do inciso IV, do art. 3°, da CF/88. Inf principio’ do Estado Democrético de Direite disposto no caput do art. 1°, da CF/88, ¢ do: ladania e da dignidade da pessou humana previstos nos seus incisos IIe II rincipios da c CONSULTA: Trata-se de solicitagdo em acerca de projeto de lei encaminhado a esta Secretaria pel Constituigao, Justiga e Redago, solicitando d constitucionalidade ¢ legalidade da Proposta de Emenda a Lei O: 10S a nos manifestar nos termos que se seguem, idicos nada do Sr. Secretirio de Negécios la Comissio Permanente de sa Consultoria manifestagio ac anica Municipal n 03/15. relagio A qual, pass: 1120 E NEGOCIOS JURIDICOS CONSIDERAGOES: No procedimento pi estruturado no Ambito da produgao jo de controle de constitucionalidade gislativa municipal, de um modo geral, aprecia-se legalidade © constitucionalidade do projeto de lei sobre irés perspectiv matéria legislativa proposta deve se encontrar entre aqu Municipios; ii) se foi respeitada a rigida observany proposigao prevista ps elementares: i) a las autorizadas pela CF/88 aos ia das preferéncias quanto a iniciat a ordem juridico-constitucional; iti) a possibilidade de violagio por legislativa proposta a direitos fundamentais ou instituigSes tuteladas por regras ou principios constitucionais, parte da matéria 2.1 Com relagdo a0 projeto de lei que or Municipal n° 03/15 Municipio de Limeira a se aprecia (Proposta de Emenda a Lei On e 0 Pardgrafo Unico ao art. 180 da Lei Orginica do acrescenta: Segundo a justificativa apr ntemilo, ¢ como diretriz geral de educagdo na cidade de Limeira, que nfo se regulamente 0 Plano Municipal de Educagio, nem leis ou outras normas esparsas, que incluam ou defendam a ideologia de género. cexpressa ou subliminarmente, ainda que pelo uso do termo “género’ ou ‘orientagio sexual Dai porque, ainda segundo a justificativa, a prescrigao que se pretende aprovar, esti sendo inserida na nossa Lei Organica, ou seja, para que seja premissa essencial a ser observada em qualquer tipo de instrumento educativo que venha a ser promovido para as nossas criangas ¢ jovens, e também como protegiio da familia e da sociedade. entada, seria preciso, de Na apreciagdo da presente propositura, em cariter extraordinatio, essa Consultoria recebeu, tanto via protocolo, quanto entregue em mios a esse Consultor, manifestagdes contribuigdes de representantes de grupos de interesse identificados (ainda que eventualmente em perspectivas antagonicas e/ou no convergentes) com o contetido e/ou consequéncias de eventual aceitagdo, tramitago e aprovagio da respectiva Proposta de Emenda a Lei Organica, Esta Consultoria os 1 ebeu, analisou ¢ ponderou todas as linhas de argumentagao spresentadas ~ inclusive as que tinham relagdo apenas indireta ou reflexa com as questdes de tureza constitucional que se iri apreciar por esse Parecer Ao agirmos desse modo, em sede de controle prévio, porém, concentrado de constitucionalidade, visto que, se aprecia a constitucionalidade em 1ese da propositura utilizamos como referéneii plamente admitida por nossa legislago processua pela jurisprudéncia ¢ pratica do Supremo Tribunal Federal, do chamado Amicus curiae - alguém que, mesmo sem ser parte, em razdo de sua representatividade, é chamado ou se oferece para intervir em processo relevante com 0 objetivo de apresentar ao Tribunal a sua opinido sobre 0 amplifica esta sendo travado nos autos, fazendo com que a discussiio seja sador possa ter mais elementos para decidir de forma le Nessv sentido, entendemos relevante registrar o recebimento por essa Consultoria protocolada por Larissa Danielle Marques, junto a0 pracesso admin festando seu ent desdobra wdimento politico e juridico sobre a propositura © seus nos, se colocando como apoiadora do Coletivo LGBT Cores. do Coletivo Dominio Publico, do Coletivo Feminista Rosa Lilis, do Coletivo de Negros e Negras Raizes 2120 Ja Liberdade, ¢ de outros coletivos alins. També recebemos pelas mios do vereador Antonio Franco de Morais, o “Parecer Técnico-Juridico da ANAJURE (Associagao Nacional de Juristas Evangélicos) sobre PLANOS ESTADUAIS E MUNICIPAIS DE EDUCAGAO”, ‘odas as manitestagdes apresentadas foram objeto de consideragio — ainda qu nea referéncia especifica a nenhuma delas, visto que, nossa apreciago se faz da propositura 4 ordem juridico-constitucional vigente, no se constituindo nan lebate do dredo juridico do Poder Les era exterior ‘upos de interesse localizados no seio Por outro lado, quer essa Consultoria reafirmar seu compromisso com as premissas que foram assentadas doutrinariamente pela obra de Peter Haberle,’posteriormente transformada em entendimento jurisdicional do ‘Tribu Federal da Alemanha, em tomo da ck Constituigio | Constitucional da Ri mada sociedade aberta dos inerpretes da Segundo o Ministro do Supremo ‘Tribunal Federal, Gilm edigao brasilei ra Mendes, na introdugio a ra da obra do autor acima referido: ieutica constitucional adequada a sociedade aberta. Tendo em vista o papel fundante da Constituiga enta Hiiberle que todo aquele que vive a Constituigdo & timo intérprete. Essa concepgdio exige uma radical revisto da metodologia juris tradicional. que, como assinala Haberle, esteve muito vineulada ao modelo de uma soviedade fechada. A interpretagao consttucional dos para a sociedade e para 0 Estad ies, ainda que relevante, ndo ¢ (nem deve ser) a tunica. Ao revés, cidaddos e grupos de interes piblica constituiriam forgas produtivas de interp interpretes (Vo os estatas, 0 sistema piblico iuiando, pelo menos, com terpreten) do compleso normativo constitucional ambém foi juntado ao present wal da Conferéneia das Na 2006, ¢ q) internaci intern slativo, por inciativa dessa Consultoria, o text 's Unidas ocorrida em Yogyakarta, na Indonésia, no ano de icou conhecido pelos operadores juridicos que atuam no plano do direito I por PRINCIPIOS DE YOGYAKARTA — norma de direito pablico os absolutament imprescindivel para o deslinde legal ¢ presente Proposta de Emenda Lei Orgi Feitas essas conside ‘guir @ anélise estritamente técnica e juridica da respectiva propositura. 2.3 Na opinifio dessa Consultoria, esti o Municipio, com fundamento no caput d caput do art. 29, ambos da CF/88, autorizado para instituir norm de seu autogoverno, por meio de suas respectivas Leis Or autonomia federativa, art. 1 ndo o disciplinamento no mbito de sua E como meio para a sua concretizagio, Ihe foi concedida uma HABERLE, Peter. Hermenéutica Constitucional - A Sociedade Aberta dos Interpretes contribuiglo para a interpretagio pluralist Editor, 2002. Op. Cit p. 9. Constituicio: e procedimental da Constituigio. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris 320 competéncia legislativa genérica para instituir normas cujo contedide € natureza este adstrta ao ambito normativo definido pelo chamado interesse local Nesse contexto, as primeiras indagagdes que se colocam quanto a constitucionalidade d Proposta de Emenda i Lei Orginica n° 03/15 dizem respeito as seguintes questdes: a) 0 seu contetido juridico-normativo pode ser introduzido por meio de emenda a Lei Or face do que Ihe ¢ previsto pelo art, 29, da CF/88 e pelos principios vetores do sistema constitucional vigente? b) esse mesmo contetido juridico se insere no interior do émbito ormativo estabelecido em tomo do conceito de interesse local? ¢) por incluit-se no o dos direitos humanos fundamentais, sendo a tutela das questdes de género envolvendo identidade sexual amplamente regulada por tratados internacionais ja interalizados pelo Estado brasileiro e, desse modo, expressamente admitidos pelo Supremo Tribunal Federal (Principios de Yogyakarta), nao estaria a Proposta de Emenda a Lei Organica n° 03/15 a usurpar competéncia legis! Federal ao Congresso Nacional? va exclusiva expressamente reconhecida pela Constitu Com relagio aos limites reconhecidos ao Ambito juridico instituido pelas Leis Organicas uunicipais, inclusive, em face de disposigdes (ampliativas e/ou restritivas) introduzid 40 de dispositivos expressos pelas respectivas Constituigdes estaduais, ja se manifestou smo Tribunal Federal “Dar aleance irrestrito a alusio, no art. 29, capul, CF, a observincia devida pelas leis orginicas municipais aos principios estabelecidos na’ Constituigdo do Estado, traduz condenivel _misoneismo constitucional, que faz abstragdo de dois dados novos © incontomaveis do trato do Muniefpio da Lei fundamental de 1988: explicitar 0 ‘entidade infraestatalrigida’ e, em consequéncia, outorgar-Ihe © poder de auto 29, pelo de votar a propria lei organica, E mais que bastante ao juizo iminar sobre o pedido cautelar a aparente evidéneia de que em tudo quanto, nos diverso: incisos do art. 29, a Constituicdo da Repiblica fixou ela mesma os pardmetros limitadores apenas aqueles que contém ssa ao direito estadual (art. 29, VI, IX € X) ~ a Constituigio do Estado nao os wdar nem agravar.” (ADI 2.112-MC, rel, min. Sepalveda Pertenee, julgament ariter de ranizagio, substantivado, no a do poder de auto-organizacido dos Municipios © excetuados remissio expr is municipais ndo se constituem em uma espécie de supedineo de Constituicdo Municipal, inserindo elausulas estranhas ao fmbito normativo da auto-organizagio (Administrativa) municipal Desse modo, na opinido dessa Consultoria, néo pode um dispositive da Lei Orgénica municipal (art, 180) preordenado para a fixag’o de prineipios e pardmetros (de resto, simplesmente replicados do texto da Constituigo Federal) regentes das politicas piiblicas edueacionais a serem instituldas pela municipalidade, impedir e/ou proibir a Camara Municipal, de deliberar sobre qualquer matéria em relagdo a qual tenha recebido sua competéncia legislativa diretamente da Constituigo Federal - ou de normas oriundas de entidades federativas mais amplas, como a Unido ou o Estado, para 0 exercicio de su éncia legislativa suplementar, nos termos do inciso II, do art. 30, da CF/88 4720 Se a Lei Organica no poss de Vere da Lei Or compet Municipal slativa da Camara existéncia ¢ limites 1. 29, da CF/88), no pode essa Lei Organica suprimir um ia legislativa que a Constituigdo Federal the outorgou ~ ao Poder | plidio para estabelecer 2 competéncia le dores, que deriva diretamente da Constituigo (como a prépria nica, nos termos do Ademais, em seu contetido material, a Proposta de Emenda & Lei Orgdnica n° 03/15 apresenta-se como ineompativel com o disposto no inciso V, do mesmo artigo 180 no qual se pretende incluir § tinico, que estabelece como principio regente a ser adotado pelo sistema educacional instituido no municipio, o pluratismo de ideias e de concepydes pedagdgicas Ora, de que modo se poderia garantir no municipio o pluralismo de ideias e de concepcaes pedagégicas (principio que por estar expresso também no ineiso Ill, do art. 206, da CFI88, irem« lhor diseuti-lo mais adiante) em face de um dispositive incerto na Lei Organica que veta a possibilidade até de discutir, quanto mais de instituir, qualqu no sistema educacional municipal baseado em uma premissa. mundialmente regulagdo expressa pelo direito internacional e constitucional pétrio, como apontaremos mais a seguir) referente chamada questdo de género? s retomi-lo € Fixadas essas premissas, fica ficil deduzir que « matéria proposta pela Proposta de Emenda a Lei Orginica n° 03/15 (exclustio de qualquer matéria referente & orientagdo sexual ¢ dentidade de género do plano de deliberagao do legislative Municipal) foge por completo do Ambito normativo que delimita a competéncia legislative genériea dos municipios em tomo do conceito de interesse local E isso, tanto no aspecto formal (nos termos apontados no pardgrafo anterior), qua aspecto material ow substancial da matéria proposta ~ proibigdo de regulamentagdo de ‘eulo escolar, diseiplinas obr complementar ou facu idam a aplicar a ideologia de género, 0 termo género ow orientagdo sexual -, visto que, a Repiblica Federativa do Brasil, assumiu per comunidade internacional, diversos compromissos, consignados em tratados e convengdes internacionais (convertidos em lei interna, mediante decreto legislative, pelo Co Nacional), por meio dos quais, se comprometeu a promover exatamente o oposto (inclt por meio da adogao de agdes afirmativas), do que aqui se quer proibir por meio de norma municipal politicas de ensino, cur ‘ria, ou mesmo de forma iva, que te) E mais, A discussdo que se visa proibir ji inserida de forma indiscutivel no plano dos direitos humanos e/ou fundamentals, referente as questdes de género, inclusive, no que diz respeito aos direitos dos homossexuais e a tutela contra-majoritéria dessas minorias pela ordem jurfdico-constitueional vigente, na qual se incluem os tratados © convengies intemacionais ratificadas ¢ internalizadas pelo Estado Brasileiro - cujo contetdo geral foi sistematizado pelos chamados Principios de Yogiakarta: nto a Ciara dos Vereadores de Limeira, esti is minorias no étnie ‘A protegio . embora incipiente na ordem intemacional, teve marco representativo por meio da adogo, em 26 de margo de 2007, dos Principios de Youyakart de da Indonésia, na qual se reuniu, de 6 a 9 de novembro de 2006, 0 ‘grupo listas em direito si20 IDICOS dade de género,’ que preparou resentou um texto, adotado pelo Conselho de Direitos do Homem da Organizagio das NagSes Unidas, propondo normas para aperfeigoar 2 protegio de todos, € de identidade de género, Tais Principios, constituem série de normas, destinadas a melhorar a protegio dos direitos de todos, ¢ lembram ‘nasceram todos os seres humanos livres e iguais em dignidade e direitos, e que a todos esti assegurado 0 direito de pleno gozo dos direitos humanos, sem distingo de qualquer hatureza, tais como raga, cor, sexo, lingua, religido, convicgao politica ou outra, origem nacional ou social, patriménio, nascimento, ou outro status,’ e constitui motivo de apreensi que a viol ia, 0 assédio, a discriminaglo, a exclusio, a estigmati razio de sua orientagio sexual }eF0, ue tais experiéncias se conjugam com a diseriminagdo por razdes que ineluem género, raga, idade, religido, deficiéncia fisica, condigBes econdmicas e de higidez, e que tal violencia, assédio, discriminagdo, exclusfo, estigmatizaglo ¢ preconceito ies do mundo, e comprometem a integridade e a dignidade daqueles sujeitos a tais abusos, de modo a cenfraquecer seu sentido de autoestima e de insergao social, e podem levar muitos a esconde ‘ou suprimir sua identidade e a viver vidas de medo e de invisibilidade.”” (grifos nossos) E pior, as expressies que a Proposta de Emenda a Lei Organica n° 03/15 quer banir de toda a legislagdo educacional municipal, curriculo e disciplinas (até mesmo de forma complementar ou facultativa), “orientacdo sexual” ¢ “género” ou “identidade de género”, hoje, constituem coneeitos juridicos definidos ¢ tutelados pelo direito internacional e pela ordem juridica brasileira em vigor, conforme sua especificagdo pelos Principios de Yogyakarta objetivamente, conforme disposto no seu Preambulo, nos parigrafos 4 e 5, nos quai ORIENTACAO SEXUAL: refere-se @ capa ade de caita pessoa, para profunda agdes intimas ¢ sexuais com individuos manter re de género diverso, do mesmo, ou de varios géneros IDENTIDADE DE GENERO: refére-se 4 experiéncia de género de cada pessoa profundamente sentida, interna e individualmente, de modo que pode ou ndo corresponder ao sexo atribuldo, por ocasido do nascimento, inclusive 0 sentido pessoal do corpo (que pode envolver, se livremente escothido, modificagao da ‘aparéncia ou funcao corporal, por meios médicos, cirirgicos ow outros) e outras expressdes de género, inclusive vestuirio, fala e expressdo corporal (mannerisms) E jé no seu Principio n° 1, 0 documento de direito internacional acima referido, faz constar ma das primeiras obrigagdes dos Estados signatérios, vinculados ao Sistema ONU, a prescrigao: Os Estados deveriio ©) Implementar programas de educacdo ¢ conscientizagdo para promover e aprimorar 0 goz0 pleno de todos os direitos humanos por todas as pessoas, nd importando sua Orientacdo sexual ou identidaie de wénero ACCIOLY, Hildebrando; NASCIMENTO E SILVA, G. E; CASELLA, Internacional Péblico. Sto Paulo: Editora Saraiva, 2012, p. $2 aulo Borba, Manual de Direito er20 ARIA DE NEGOCIOS JURIDIC Desse modo, se acaso a Proposta de Emenda a Lei Or Perante © presente processo legislativo, fosse aprovada e, ao final, entrasse em vigor, ti normativa estaria revogando no territério do municipio disposigio expressa de conven internacional da qual a Repiblica Federativa do Brasil é signatiria — 0 que evidenciaria um verdadeiro contrassenso juridico, ficando por isso, também demonstrada a sua inviabilidade perante a ordem juridico-constitucional viger nica n° 03/15 tramitasse validamente 1 Em complemento, tais questdes, inclusive referente & aplicabilidade junto a ordem juridica brasileira dos Principios de Yogyakarta, jé foram analisadas e reconhecidas pelo Supremo Tribunal Federal, no campo da tutela dos direitos humanos fundamentais, quando se decidiu favoravelmente pelo reconhecimento da unido civil homoafetiva (com todas as consequéncias civeis dai resultantes), ¢ pela extensio do conceito de familia disposto pelos artigos 226 ¢ 227 da CF/88 a esta modalidade de relacionamento humano. Wo vejamos a seguinte ementa da jurisdi¢ao do Supremo, na qual, tomamos a liberdade far alguma Ementa: Unido Civil constitucional da questdo pertinente as unies h reconhecimento ¢ qualificagao da uniao estivel homoafetiva como entidade familiar: Posi consagrada na jurisprudéncia do Supremo Tribunal Federal (ADP 132/RJ e ADI 4.277/DF) ~ © afeto tem_valor_juridico impregnado de Natureza Consitucional: A valorizagao desse novo p or ntre pessoas do mesmo sexo - Alta rele I ¢ juridieo afetivas - Legitimidade direito 4 busca da felicidade, verdadeiro postulado eonstitucional implicito e expressdo de uma idein-forga que deriva do principio da essencial dignidade da pessoa humana ~ Alguns precedentes do Supremo Tribunal Federal e da Suprema Corte Americana sobre o direit fundamental a busca pela felicidade ~ Principios de Yogvakarta (2006): direito de dade companheiro, na unido estivel homoafetiva, & pereepeio do beneficio er pessoa de cousttuir familia, independente de sua orientagio sexual ou idet de género — Direito d dda pensio por morte de seu parceiro, desde que observados os requisitos do art. 1.723 do Cédigo Civil ~ O art. 226, §3°, da Lei Fundamental constitu tipica norma de incluso ~ A fungdo contramajoritiria do Supremo Tribunal Federal no Estado Democratico de A protegiio das minorias analisada na perspectiva de uma eoncepgio material de pedir (e, até mesm ia dos direitos ¢ liberdades fundamentais (CF, ar. 5°, XLI) = A torga normativa dos prineipios constitucionais e o fortalecimento di urisdigdo Constitucional: elementos que compdem 0 marco doutrinério que confere suporte 0 de Agravo improvide. Ninguém pode ser privado de seus direitos em razio de sua or Ninguém, absolutamente em, pode ser privado de direitos nem sofrer quaisquer restrigdes de ordem juridica por motivo de sua orientagio sexual. Os homossentiais, por tal razao, tém direito de receber ia constitucional ~ O dever constitucional do Estado de i de punir) “qualquer diseri tedrico a0 neoconstitucionalismo - Rec a igual proteglo tanto das leis quanto do sistema politico-juridico instituido pela Constituiga io ¢ inaceitavel qualquer estatuto que pu exelua, que fomente a intolerincia, que estimule o razio de sua orientaglo sexual jade familiar. - Supremo Tribunal Federal - a se em valiosa hermenéutica construtiva e invocando Prinefpios essenciais (como os autodetermi jdade da pessoa humana, da liberdade, da ismo, da intimidade, da no diseriminagao e fo, da igualdade, do plura 70 ETARI \! 108 JuRiDI da busea da felicidade) - reconhece assistir, a qualquer pessoa, o direito f hhavendo proclamado, por isso mesmo, a plena I d como entidade familiar, atribuindo-Ihe, em consequénci, verdadeiro estatuto de cidadania, em ordem a permitir que se extraiam, em favor de par homossexuais, relevantes consequéncias no plano do Direito, nente no campo previdenciario, e, também, na esfera das relagies sociais e familiares. - A extensa homoafetivas, do mesmo regime juridico aplicdvel a unio estével entre pessoas de género distinto justifica-se ¢ legitima-se pela direta incidéncia, dentre outros, dos pr idade, da liberdade, da dignidade, da seguranca juridica ¢ do o direito & busca da felicidade, os quais jonas da i Jado constitucional implicito que consag pos configuram, numa estrita dimensio que privilegia o sentido de incluso decorrente da prépria Constituigio da Repiblica (art. 1°, IH, ¢ art. 3°, 1V), fundamentos autdnomos ¢ suficientes, aptos a conferir suporte legitimador & qualificagdo das cor mesmo sexo como espécie do género entidade fun 1 de constituir fa identidade de género, A familia result dliseriminagio, eabendo-lhe os mesmos direito mostrem acessiveis a parceiros de sexo distinto que int ‘Supremo Tribunal Federal ~ Segunda Turma/ RE 477.554 AgR/ Relator Ministro Celso ¢ Mello’ Julgaclo em 16,08.201 1/ Publicado no DJe-164/ Divulgado em 25.08.2011/ Publicado em 26.08.2011) galidades entre pessoas do Toda pessoa tem o direito sexual ou de 1e da unio homoafetiva no pode sofrer prerrogativas, bene em unides heteroafetivas. [ Do acima transcrito se deduz no apenas a inconstitucionalidade material ou substancial da Proposta de Emenda & Lei Orginica n° 03/15 (como melhor explicitaremos no proximo t6pico), mas, preliminarmente, a usurpagao pelo Municipio de uma competéncia legislativa exclusiva da Unio, por meio do Congresso Nacional, que segundo o inciso I, do art. 49, da Constituigio Federal, possui competéncia legislativa exclusiva para: resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que acarretem encargos ou compromissos ‘gravosos ao patriménio nacional. Sendo assim, na opinido dessa Consultoria, no restam diividas quanto a impossibilidade de Jamentar & proibigdo que se pretende impor & Camara dos Vereadores para deliber sobre a matéria tratada pela Proposta de Emenda & Lei Organica n® 03/15 junto a respectiva Lei Organica do municipio de Limeira; de igual modo, nfo restam diividas quanto a inexisténcia de compet ativa deferida aos Muniefpios para tratar da respectiva matéria, no ambito normativo do chamado interesse local, regulado pelo inciso I, do ar. 30, da CF/88; €, por fim, restou pa agio promovida pela Proposta de Emenda da competéncia legislativa exclusiva deferida pela Constituigao Federal ao Congresso Nacional pelo inciso I, do seu art. 49. Raziio pela qual, em nossa opinitio, nfio possui a Proposta de Emenda 4 Lei Organica n’ 03/15 aptidto para tramitar de forma vilida perante o presente proceso legislativo, 2.4 Ainda que reconhecida a impossibilidade de tramitagdo vilida da Proposta de Emenda & Lei Organica n® 03/15 em face da ocorréncia de vicio de competéneia e de inadequ: eleita, deve essa Consultoria continuar a sua anilise da propositura, com vistas a identificar e jf detectadas, eventuais transgressbes de o da via apontar, para além das imegulatidade 820 A DE NEGOCI material, pertinentes a violaglo direta ou potencial de regras e/ou pri nosso sistema constitucional. ipios albergados por de fato, algumas transgressdes foram identificadas. A primeira delas, diz respeito & incompatibilidade do contetido juridico apresentado pela Proposta de Emenda a Lei Org 1° 03/15 em face do disposto pelos incisos I Ill, do art. 206, da CF/88: Art, 206 - O ensino serdi ministrado com base nos seguintes principios: (..) 1 — liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar 0 pensamento, a arte e o saber II ~ pluralismo de ideias e de concepedes pedagégicas, e coexisténcia de insttuigdes piiblicas e privadas de ensin No entendimento dess: & Lei Organica n° 03; Itoria, o conteido jurdico veiculado pela Proposta de Emenda fender impor a Cimara dos Vereadores a proibigfo quanto & deliberagdo de qualquer proposigéo legislativa que tenha por objeto a regulamentagdo de politicas de ensino, curriculo escolar, disciplinas obrigatérias, ou mesmo de forma complementar ou facultativa, que tendam a aplicar a ideologia de género, o termo género ow orientagdo sexual, ¢ absolutamente incompativel com o contetido ético-constitucional disposto pela integra do inciso II e pela primeira parte do inciso III, do art. 206, da CF/88, cima transcrito. Para melhor nos esclarecer sobre o contetido juridico desses dois principios acima referidos, vamos nos socorrer nos ensinamentos de José Afonso da Silva, que além de ser um dos mais proeminentes constitucionalistas brasileiros, participou ativamente dos trabalhos da Agsembleia Nacional Constituinte que elaborou o texto da CF/88, Segundo o saudoso mestre da Faculdade do Largo do Sao Francisco, no que diz respeito ao inciso I, do art. 206, da CE/88, temos as seguintes caracteristicas “E uma das formas de comunicagio e de manifestagio do pensamento, tanto que todos podem comunticar e¢ manifestar 0 seu pensamento e seu conhecimento pela imprensa, pela fem relagao a0 exereicio do magistério, quando pie como um dos principios do ensino a liberdade de radiodifusdo, pelos livros, conferéncias ¢ aulas, Mas a Constituigio a desta aprender, ensinar, pesquisar, ed ulgar 0 pensamento, a arte e 0 saber, dentro de uma visio pluralista de ideias, de concepges pedagégicas e de instituigdes piblicas e privads (at 206, Ile II). Trata-se do reconhecimento da liberdade de uma classe de especialistas na comunicagto do conhecimento, que sio os professores.(...) A férmula empregada mais compreensiva, porque se dirige a qualquer exercente da fungio de magistério, a professores de qualquer grau, dando-se liberdade de ensinar, ¢ mais ainda porque também abrange a outra face da transmissio do conhecimento, o outro lado da liberdade de ensinar, ou seja, a liberdade de aprender, assim como a liberdade de pesquisar (modo de aquisigio do conhecimento). Tem-se, assim, que o enunciado compreende as duas dimens a subjetiva e a objetiva. Na primeira di-se a relaglo dos sujeites do conhecimento envolvendo a liberdade de transmitir 0 conhecimento, que cabe ao professor, e 0 direito de receber 0 con ‘Na segunda encontra-se a liberdade de © professor escolher 0 objeto relativo do ensino a transm ie sua liberdade, ss do conhecer cimento ou de buscé-lo, que cabe a alunos e pesquisad ir. Dizemos ‘objeto aqui, fiea condicionada aos curriculos escolares e 30s pr sino (art. 209). Dentro dessa baliza, impende ao professor ministrar seu curso com liberdade de critica, de conteido, forma ¢ técnica que Ihe peregam mais corretos. Nisso se consubstanciam aqueles dois direitos pertinentes a liberdade de cétedra, relative porgu 9120 * SILVA, José Afonso. Comentirio C inicos lembrados por Sampaio Doria: 0 de ser 0 catedratico o tinico juiz da verdade sobre o que dio hd ciéncia oficial, nem método como se desempenha sua missao.”* ensine, ¢ 0 de s6 dele depender a técnica do seu ensino, didético oficial. Cada catedrético é senhor Ora, a0 se proibir a regulamentagdo de politicas de ensino, curricula escolar, dis obrigatérias, ou mesmo de forma complementar ou facultativa, que tendam a aplicar a ideologia de género, 0 termo género ou orientagdo sexual, © dispositivo que se pretende inroduzir por meio de emenda a lei Orgénica se mostra incompativel com a liberdade Feconhecida a todos os professores, cujo contetido de suas respectivas disciplinas, eventualmente, incidam sobre as inimeras varidveis envolvidas em torno das chamadas "questdes de género,” de abordar 0 assunto do modo entendam mais conveniente e oportuno, Desse modo, como dedugo Idgica e evidente do acima exposto pelo nobre constitucionalista por meio dessa inovagdo legislativa municipal, tanto © diteito (constitucionalmente reconhecido) do professor em abordar os temas de inte sua disciplina como bem entender, quanto o direito do aluno de obter junto ao sistema de ensino a qui pluralidade de concepgdes de mundo e de estilos de vida, para que possa escolher livremente, dentre estas € muitas outras, fornecidas por diversas instituigSes sociais igualmente habilitadas e reconhecidas como partes integrantes jo grande sistema educacional social - como a familia, as igrejas, as empresas, as ssociagdes civis, ¢ demais instiuigdes constituintes de nossa sociedade civil ~ as que melhor Ihe convém. estariamos a obstru isse de , de modo mais intenso ainda, se mostra a incompatibilidade entre 0 contetido juridico roposto pela Proposta de Emenda a Lei Orgiinica n° 03/15, e as disposigdes valorativas imradiadas pelo inciso III, do mesmo art. 206, da CF/88, que institui como principio regente de todo sistema educacional brasileiro, em todos os niveis da Federagao, 0 principio do pluralismo, sengio vejamos: A teoria do pluralismo reconhece varias formas: pluralismo social, juridico, politico, de ideias, ete., que reconduzem a dois tipos basics: pluralismo ideolégico, que designa a variedade de crengas, de concepgdes éticas e de valores que 0s individuos ou os grupos tém por fundamentais ~ em que entra a liberdade de religito, de pensamento, de ideias, ete; e pluralismo institucional, que compreende o desenvolvimento das a Feconhecimento dos direitos das formagdes sociais, quais sejam, a familia, as confissdes religiosas, comunidades de trabalho, a escola etc ~e que, se se quiser, pode ser desdobrado em tres: pluralismo politico, pluralisma ideotégico e pluralismo institucional. (..) Nos comentirios ao ineiso V, do art. 1°, ja deixamos uma nogo do pluralismo politico. Aqui vamos aprofundar um pouco mais o tema, em face da concepgio de Democracia Pluralista, que tem no pluralismo de ideias e de concepedes pedagégicas uma de suas. vertentes essenciais. O Estado Democritico de Direito, em que se constitui a Repiiblica Federativa do Brasil, assegura os valores de uma sociedade pluralista (“Predmbulo”) e se fundamenta no pluralismo politico (art. |*, V). A Constituigdo opta pela sociedade pluralist, que respeita a pessoa fhumana ¢ sua liberdade, em lugar de uma sociedade monista que mulila os seres ¢ engendra as ortodoxias opressivas. O pluralismo & uma realidade, pois a sociedade se compe por uma pluralidade de categorias sociais, de classes, grupos sociais, econdmicos, culturais e ideologicos. Optar por uma sociedad pluralisa significa acolher uma sociedade al & Consttugo. S40 Paulo: Malheiros Editores, 2012, p. 802. t0r20 GOCIOS JURIDICOS conflitiva, de interesses contraditérios e antindmicos. O problema do pluralisme est, precisamente, em construir 0 equilibrio entre as tensOes miltiplas e por vezes contraditérias fem conciliar a sociabilidade © 0 particularismo; em administrar os antagonismos ¢ evitar divisdes irredutiveis. Ai se insere o papel do poder politico: satisfazer pela ediglo de medidas adequadas o pluralismo social, contendo seu efeito dissolvente pela unidade de fundamento da ordem juridica. (..) A doutrina do pluralismo despontou e se firmou em contraposigdo aos regimes coletivistas, monoliticos e de poder fechado. Quer realizar-se como principio da Democraciw le poder aberto, estabelecendo o lame entre a liberdade e a ‘multiplicidade dos meios de vida, ndo apenas como uma nova maneira de afirmar a liberdade de opinido ou de crenca, mas como um sistema que enraiza essa liberdade na cestrutura social. Em lugar de separaro individuo da sociedade para que aparega a liberdade, 0 pluralismo o insere no contexto social, nico eapaz de assegurar-lhe uma liberdade real. O pluralismo [esereve J. Lacroix] implica o direito inaliendvel para o homem de pertencer a todas as comunidades de ordem moral, cultural, intelectual e espiritual, dnicas que permiten desenvolvimento da pessoa. Essa concepeo esti expressamente traduzida no “Predmbulo” Resta, no entanto, realizar na pritica 0 tipo de sociedade ali prometida e assegurada. Resta s€ principios. Esta ser a luta subsequente do Povo Brasileiro, em prol do das normas constitucionais que the garantem essa sociedade de direitos da efetiva fundamentais.”* Ora, mesmo admitindo-se (ad argumentadum) que as questdes de direito em tomo das identidades de género possam ser qualificadas como mera “ideologia”, fica claro pelo conceito de pluralismo adotado pela Constituigio Federal, que é absolutamente inconstitucional tentar bloquear ou impedir 0 debate ¢ a reflexdo junto ao sistema educacional em relagdo @ qualquer ideologia - independente do seu contetido, desde que esse seja compativel com o sistema constitucional vigente E é exatamente isso qu prévia em re wa que ora se analisa busca efetivar, uma verdadeira censura Go a temética afeta ds chamadas identidades de género Alids, tal pretensio conflita inclusive com a segunda dimensdo do coneeito de pluralismo acima transcrito, 4 escola, ela propria, assim como as regulam com base em suas pluralismo se realiza no seu interior indo faz referéneia ao pluralismo institucional, que compreende a igtejas © a familia, como espagos de autonomia que rias escolhas © modo pelo qual o debate em tomo do Desse modo, niio caberia ao Poder Piblico, lhe interditar (As instituigdes de ensino) qualquer reflexio ~ como também nao Ihe cabe interditar as reflexes que configuram visdes de mundo altemativas a outras existentes no ambito da propria escola, como também da familia das igrejas, das comunidades de trabalho, das associagdes civis, etc. Também como foi afirmado pelo eminente constitucionalista, a Democracia Pluralista, tem no pluralismo de ideias e de concepgdes pedagdgicas uma de suas vertentes essenciais, visto que, é ela que garante uma ampla circulagio de ideias e criticas que permite a sociedade se pensar de um modo mais complexo e problemético, considerando na abordagem das questées politicas fundamentais, diversos pontos de vista envolvidos, tutelando com base nos direitos fundamentais reconhecidos pela ordem constitucional os direitos das * Op. Cit p. 803/804 +1n0 impedindo que sejam oprimidas, discriminadas ou estigmatizadas pelas_maiorias circunstanciais Especialmente em situagdes de crise, de forte impasse politico institucional, serd a liberdade de ideias e concepgdes pedagigicas que permitiraé a sociedade se reinventar, buscar alternativas até entilo nfo consideradas, evitando-se a de do seu estreitamento de perspectivas, idéncia precoce em fac Foi exatamente isso que o autor acima referido quis dizer quando afirmou que a Constituigao opta pela sociedade pluralista, que respetta a pessoa humana e sua liberdade, em lugar de uma sociedade monista que mutila os seres e engendra as ortodoxias opressivas. E a liberdade de ideias que faz com que a sociedade regenere permanentemente os fundamentos da propria democracia, vacinando-se contra as tentagdes das ortodoxias opressivas ¢ ditatoriais, pelo que se denomina de circulagéo (e modificagdo) das maiorias circunstanciais, que devido a0 processo de reflexio coletiva, podem mudar de opinitio, de modo que, o que hoje é rejeitado pela maioria, aman poderd ser aceito por uma nova maioria, decorrente exatamente de um processo de convencimento e de_persuasio, possibilitado pelo amplo comércio de ideias e concepedes, admitido no interior de uma sociedade pluralista Dai porque, também, na opinitio dessa Consultoria, a conveniéneia de que a atuagéo do Poder Politico, expresso, por exemplo, na competéneia para propor normas juridicas, busque como finalidade iiltima de sua missio aquilo que foi apontado por José Afonso da Silva na transerigfio acima: satisfazer pela edi¢do de medidas adequadas 0 pluralismo social, contendo seu efeito dissolvente pela unidade de fundamento da ordem juridica. Infelizmente, 0 contetido juridico trazido pela Proposta de Emenda & Lei Orgiinica n° 03/15 aponta em um sentido oposto, visto que, a0 propor a interdigio de uma discussdo que representa os interesses de tuma minoria significativa na sociedade contempordnea (direitos € imteresses relacionados a homossexuais ¢ outras identidades de género), ele radicaliza a divisto ¢ aprofunda o efeito dissolvente sobre o tecido social (necessariamente miltiplo e complexo) que a Constituigao procurou deter em face da pretendida unidade de fundamento de uma ordem juridica expressamente pluralist, Alis, € exatamente por isso, que © autor acima referido afirma que 0 pluralismo, quer realizar-se como principio de uma Democracia de poder aberto, estabelecendo o liame entre Aliberdade e a multiplicidade dos meios de vida, nao deve ser encarado apenas como uma nova maneira de afirmar a liberdade de opiniao ou de crenga, mas como um sistema que enraiza essa liberdade na estrutura social, de onde se deduz que 0 principio do pluralismo albergado como fundamento do sistema constitucional introduzido pela CF/88 revepciona a pluratidade de estilos de vida (desde que compativeis com as premissas do Estado Democritico de Direito expresso no caput do art. 1°, da CF/88), dai a imprescindibilidade de sua observincia em relagdo funcionamento dos sister am a forma de e a Federasio icionais provides por todos os entes que compi 12120 cos brasileira ~ e a evidente incompatibilidade do contetdo juridico-normativo veiculado pela P dde Emenda a Lei Orginica n° 03/15, com o inciso Ill, do art, 206, da CF/88, oposta Outra. trans 80 a0 conteido juridico-normativo Proposto pela Proposta de Emenda a Lei Orginica n° 03/15, diz respeito a viola 10 (potencial) das, disposigdes programéticas e valorativas ieradi jo ineiso IV, do art. 3°, da CF/88, segundo a gual ssio pereebida por essa Consul Art, 3° - Constituem objetivos fundamentais da Repiiblica Federativa do Brasit:(..) IV ~ Promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raga, sexo, cor, idade ¢ quai ‘utras formas de diser ‘A norma em comento faz parte do Titulo 1, da Constituigao Federal, denominado DOS PRINCIPIOS FINDAMENTAIS, possuindo indiscutivel natureza axiol6gica e irradiante por todo o sistema constitucional, imantando com sua normatividade ampliativa, tio bem explicitada no conceito formulado por Robert Alexy de mandado de otimizagdo, a atuagao de todos os Poderes estatais, que estio obrigados a perseguir a sua realizagdo no maior grau possivel — detendo-se apenas em face das limitagdes de ordem fitica e juridica, decorrentes esta iltima de um sistema constitucional que, estando estruturado por prineipios, Que no seu inter-relacionamento denotam forte contradigiio e ambiguidade entre si, sujeita a maior ou menor aplicagdo de cada um, em cada situago objetivamente considerada, ao principio da reserva do possive. No caso do art. 3°, da CF/88, temos a fixagdo dos objetivas fundamentais da Repiilica Federativa do Brasil, o que hi de se convir, do ponto de vista politico-constitucional, nio é Pouca coisa. E dentre os seus quatro incisos, o ultimo deles, fixa como imperativo a antijuridicidade de quaisquer formas de discriminagdo, apés enumerar exemplificativamente algumas delas ~ dentre as quais, fez cia expressa ao termo sero. Novamente nos socorremos na escorreita doutrina de José Afonso da Silva: ‘O sexo sempre foi um fator de discriminagao, O sexo feminino esteve sempre inferiorizado nna ordem juridica, e sO mais recentemente vem ele, a duras penas, conquistando posigao paritiria, na vida social juridica, & do homem. A Consttuigo deu largo passo na superagdo do tratamento desigual fundado no sexo, a0 equiparar os direitos e obrigagdes de homens mulheres (art. 5°, 1). Ao fazi-lo, dr-se-ia desnecessério estabelecer expresses proibigoes de discrimen com base no sexo (arts. 3, IV, e 7, XXX), embora ela propria o tenha feito, como lembramos acima, a favor das mulheres (arts, 40, Ill, € 201, § 7°, e na redagio da Emenda Constitucional 20/98). A questio mais debatida referiu-se em relagio a discriminagao dos hhomossextais. Tentou-se introduzir uma norma que vedasse claramente, mas nio se encontrou uma expressio nitida e devidamente definida, que nio g Uma delas consistiu em conceder igualdade, sem discriminagio, de orientagdo sexual, reconhecendo, ssim, na verdade, niio apenas a igualdade, mas igualmente a liberdade das pessoas de ambos os sexos adotarem a orientagdo sexual que quisessem."* De fato, como ja se pontou os dispositivos do Titulo Fundamentais”), constitui uma classe espeeifica di CF/88_(“Principios mas cujo conteiido juridico obriga os 43120 SECRET E NEGOCIOS JURIDICOS Poderes estatais a perseguir 0 ‘elas ou finalidade nelas instituido no maior graw possivel, raziio pela qual, especificamente, no que diz respeito aos dispositivos do art, 3° da CF/88, nao apenas se impede a introdugdo no sistema constitucional de outras normas com elas incompativeis (efeito de parametricidade), mas se exige dos Poderes estatais a produgdio de normatividade infraconstitucional necessdria para a concretizago dos respectivos objetivos fundamentais da Repiblica Federativa do Brasil Dai porque, & consenso entre a doutrina especializada, que as disposigdes do constituem 0 fundamento juridico constitucional que valida e requer a utilizagio das chamadas agdes afirmativas ou politicas piiblicas fundamentadas em discriminacaes positivas Tais politicas pablicas j4 foram alvo de questionamento e amplo debate junto 20 STE restando pacificada a sua plena constitucionalidade, e incorporada suas determinagdes pela doutrina ¢ jurisprudéncia patria, como se verifica pela ligio do EX- Ministro do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa Gomes: “Atualm ages afirmativas podem ser definidas como um conjunto de politicas pablicas e privadas de cariter compulsério, facultative ou voluntirio, coneebidas com vistas a0 combate & discriminagdo racial, de género, por orientagio sexual, por deficiénciafisica e de origem nacional, bem como para corrigir ou mitigar os efeitos presentes da discriminaya0 Praticada no passado, tendo por objetivo a concretizagio do ideal de efetiva igualdade’ de ‘acesso a bens fundamentais como a educagio ¢ 0 emprego. Diferentem governamentais antidiser s. baseadas em leis de contetida meramente proibitivo, que se singularizam por oferecerem as respectivas vitimas tao somente instrumentos juridicos de cariter reparatério ¢ de intervengio ex post facto, as agdes afirmativas tém natureza multifae Visam_a_evita scriminaglo_se_verifique ni as_usualmente nhesidas ~ isto é, formalmente, por meio de normas de apli specifica, ou através de mecanismos informais, difusos, est as pritieas culturais € no imaginario coletivo. Em sintese, trata-se de politicas e de mecanismos de inclu concebidos por entidades piblicas, privadas e por érgios dotados de competéncia Jurisdicional, com vistas & coneretizagio de um objetivo constitucional universalmente reconhecido - o da efetiva igualdade de oportunidades a que todos os seres humanos tém direito.” Como se constata pela lavra do Ex-Ministro, nfo resta dividas de que o dispositivo do inciso IV, do art. 3°, da CF/88 abarca a discriminaglo de género ¢ de orientagio sexual, que a ordem juridico-constitucional vigente esti nflo s6 obrigada a impedir, mas a tomar medidas Pré-ativas, na forma de ages afirmativas, com vistas a desconstruir qualquer sentido estigmatizante ou diseriminatério em relagdo a individuos ou grupos que definam sua identidade social com base no vetor sexualidade. Sendo assim, 20 menos potencialmente, o conteiido juridico disposto pela Proposta de Emenda a Lei Organica n° 03/15 tido totalmente oposto, visto que, no pare azoavel supor que se combate a discriminagdo e a estigmatizagtio de uma determinada ” GOMES, Joaquim Barbosa. O Debate Constitucional sobre as Agdes Afirmativas. In SANTOS, Renato E; LOBATO, Ftima (orgs). AgBes Afirmativas: politcas piblicas contra as desigualdades racias. Rio de laneio: DP & A. 200: 1420 “HES: conduta proibindo-se, até mesmo, a simples referéncia a sua existéncia em qualquer proposicdo legislativa que tenha por objeto a regulamentagao de politicas de ensino curriculo escolar, disciplinas obrigatérias, ou mesmo de forma complementar ou facultativa, que tendam a aplicar a ideologia de género, o termo género ou orientagdo sexual na opinido dessa Consultoria, ser incontorndvel a constatago de violagio ncial) ds disposigdes do inciso IV, do art. 3°, da CF/88, por atentar 0 contetido juridico ia Proposta de Emenda A Lei Orgénica n° 03/15 contra um dos objetivos fundamentais da Republica Federativa do Brasil introduzido pel Por fim, em relaglo a eventuais vicios de ordem material atinentes a Proposta de Emenda a Lei Orginica n° 03/15, constatou essa Consultoria, a inftingéncia do principio do Estado Democratico dle Direito disposto no caput do art. 1°, da CF/88, e dos prineipios da cidadania € da dignidade da pessoa humana previstos nos seus incisos I e IL © chamado principio do Estado Demoerético de Direito, instituido no caput do art. 1°, da CF/88, se desdobra por uma complexa teia juridico-normativa com inimeras conseq) (de natureza legal) por todo o sistema constitucional. Mas sua compreensio mais elementar, pode se dar em face da finalidade maior que o justifica: a predisposiglo de meios juridico- constitucionais necessérios para se atingir aquilo que os juristas denominam por interesse piiblico. Seria absolutamente desnecessério ¢ inétil tentar-se chegar aqui a um consenso acerca de um conceito analitico de interesse piiblico. Tal tentativa seria inevitavelmente contaminada e/ou distorcida pela perspectiva ideoldgica do autor. Sendo assim, no seio da doutrina ¢ jurisprudéncia alemA da década de 50 do século passado, em seu esforgo para a consolidacao e legitimagdo da Constituigio de Bonn (1949) desenvolveu-se aquilo que Konrad Hesse® definiu como conceito procedimental de interesse piiblico. Um esforgo critico-hermenéutico de natureza doutrindria ¢ jurisprudencial na busc: de uma formulagao axiologicamente neutra que pudesse ser adotada por amplos setores da comunidade juridica, e que se apresentasse como mero desdobramento juridico-normativo do principio do Estado Democritico de Direito. Nessa perspectiva, o imleresse piiblico (que justifica © legitima toda ag80_politico- administrativa), cujo atingimento é predisposto pelo sistema politieo-constitucional, deve ser buscado pela reciproca articulagao de dois principios estruturantes (decorrentes do principio do Estado Democrético de Direito) observados nos principais sistemas constitucionais contemporaneos: i) 0 principio majoritério, e; ii) © principio da protegdo das minorias em face das maiorias circunstanciais principi democracia da maioria, ‘majoritério & de compreensio intuitiva, € fundamento cardeal da ideia de ssde as primeiras experiéncias atenienses - constituindo-se na chamada regra Konrad. Elementos de Direito Constitucional da Repiblica Federal da Alemanha, Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1998, 15120 COs Por ela se define a quem cabe a responsabilidade de agir na persecugtio do interesse piiblico, atribuindo-se o dever de propor os objetivos e os meios que entender mais apropriados para tal Para isso, Ihes so predispostos os meios de governo, o aparato buroeratico~ do qual a maioria busca cumprir sua responsabilidade politic contento as demandas da sociedade statal por meio social - satisfazendo a Todavia, em uma perspectiva contempordnea, a democracia nio se legitima com fundamento apenas na chamada regra da maioria. Em primeiro lugar, porque essa maioria pode se dar, em certas ocasides, por estreita margem de diferenga, afastando da formagio da vontade Politica um contingente expressivo do tecido social; em segundo lugar, em um regime democritico, tais maiorias, sd0 necessariamente cireunstanciais Isso fica muito claro quando se pensa na experincia historica do nazismo. Nao se pode esquecer que Hitler ascendeu ao poder pelo voto, democraticamente. Também é indiscutivel obteve 0 apoio politico de uma expressiva maioria do povo alemio, Nem por isso alguém em si consciéncia democraticamente ~ ¢ isso se da essen: aria que o regime nazista foi exercido ialmente pelo modo pelo qual se tratou as chamadas Por isso, modernamente, entende- blico comega a ser delineado quando © sistema politico é capaz de engendrar legitimamente a conformago de uma maioria, que assim adguire a responsabilidad de governar Ue 0 interesse Todavia, a consecusio do imeresse piiblico implicaré também na necessidade de que tal ‘maioria negocie a implementagio de seus programas de govemo (objetivos e meios que julga mais convenientes e oportunos para 0 interesse piiblico) com as minorias, fazendo concessdes. E desse modo que, interesse pilico, o final convertido em norma juridica (e), pode representar uma vontade resultant de uma artculagdo de interesses que va além daqueles tepresentados inicialmente pela maioria ~ permitindo que a essa se agregue.tambéra dem s © contribuigdes propostas pelas minori E isso que proporciona efetiva repr politico-constitucionais. sentatividade e legitimidade aos modernos sistemas E 0 modo pelo qual, os sist as constitucionais contempordneos, procuram garantir esse jogo dialético entre maioria e minoria se da pelas regras do processo legislativo ¢ pela Instituigdo de salvaguardas que permitem as minorias atwar e fazer ouvir suas demanas promovendo o debate que julgar necessério para o esclarecimento de tais posigdes, mo interior de todas as insncias piblico/estatais No caso do processo legislativo, ao se constituir por um conjunto predisposto e ordenado de atos que se sucedem logicamente no tempo, no qual o esgotamento do ato antecedente 16/20 condigdo necesséria para se atingir o consequente, impde & maioria (que sofre pressio da sociedade para solucionar o mais rapidamente possivel as suas demandas), necessidade de abreviar ao maximo a tramitagao das matérias que propoe. Por outro lado, as normas de processo legislativo predispde para as minorias um plexo de regras procedimentais, durante a tramitagdo das matérias, que Ihes proporcionam a possibilidade de formular as mais variadas estratégias de obsirug@o temporiria de uma questdo legislativa especitica. Desse modo. predispondo o tempo de tramitago das matérias como moeda de troca entre maioria € minoria, © principio do devido processo legistativo, albergado pelos sistemas constitucionais contemporineos, procura induzir a formagao de m € legitimos de produgo de consensos politico-legislativos - na persecugao de uma realiza mais qualificada (politica e socialmente) do interesse pitlico. snismos mais eficientes No plano das instituigées publico/estatais, o encaminhamento do interesse piiblico, no mbito de um Estado Demoerético de Direito, & possibilitado por iniimeros mecanismos de consulta aos diretamente interessados, seja a populagdo em geral, ou ao conjunto dos membros de uma corporagio especifica (como a comunidade universitéria, por exemplo), que so chamados @ participar da elaboragio de normas gerais, de regra, com conteddo claramente programatico, pelas quais, ao invés de se aferir em cada reunidio ou assembleia exclusivamente 0 ponto de vista da maioria, se busca formular um documento euja maior Preocupacio ¢ contemplar aspectos fundamentais de todos os pontos de vista apresentados, cuja contradigao e ambiguidade devem ser admitidas, como constituinte de uma realidade social ¢ politica complexa e multifacetada, que em sua origem deve admitir todas as concepgdes que se apresentam para o debate como legitimas, e incluir mecanismos (procedimentais) que fomentem a composigio entre os pontos de vista conflitantes com vistas & produgdo de consensos institucionalmente mediados. Na opinido dessa Consultoria, o contetido juridico veiculado pela Proposta de Emenda a Lei Organica n* 03/15, ndo se coaduna de modo algum com as premissas acima apontadas, pertinentes aos limites e imposigdes (procedimentais) estabelecidas pelo principio do Estado Demoerdtico de Direito com vistas & busca do interesse priblico. Isso porque. de um lado ela suprime uma competéncia da Camara dos Vereadores que Ihe foi outorgada dirctamente pela Constituiglio, e que nesse sentido, nao pertence a uma legislatura specifica, mas configura uma estrutura permanente destinada a resguardar 0 equilfbrio entre os Poderes © a persecugiio por eles dos objetivos definidos pela ordem juridico- constitucional, sendo nesse sentido, irrenuneiaivel, Ou seja, a Camara dos Vereadores de Lin legislativa que the foi outorg Uma emenda a lei organi eira nfo pode renunciar a uma competéncia ida de forma expressa pelos inciso I ¢ II do art. 30, da CF/88. a que pretenda instituir tal rendincia certamente é ofensiva ao prinefpio do Estado Democritico de Direito. Como de resto, 0 seré também qualquer disposigdo que intente retirar do debate parlamentar a prerrogativa de abordar qualquer outro tema que no the mente vedado pela Constituigdo Federal steja expressa ou implicita 4720 E em seus desdobramentos politico-legais, a referida proposta principios da cida dade da pessoa human mesmo art. 1°, da CF/88 de emenda, lesa tambéi nos incisos II e Ill, do e da di ia, incertos No que diz respeito as novas dimensBes trazidas a0 conceito de cidadania pela CFI88, voltemos mais uma ve7.as ligbes de José Afonso da Silva “A cidadania esti aqui num sentido mais amplo do que 0 de titular de direitos politicos. Qualifiea os partici tado, 0 reconhiecimento do individuo como pessoa integrada na sociedade estatal (art. 5, LXXVI). Significa af, também, que o funcionamento do Estado estara submetido a vontade popular. E ai 0 termo conexiona-se com 0 coneeito de soberania popular (§ tinico do art. 1"), com 0s direitos politics (art. 14) e com o conceito de ignidade da pessoa humana (art. 1°, 11}, como os objetives e prineipios da educagao (arts. 205 e 206), como base ¢ me I do. regime democritico. A cidadania, assim wcia de pertinéncia a sociedade estatal como titular dos antes da vida do considerada, consi direitos fundamentais, da dignidade como pessoa humana, da integragio participativa no processo do poder, con al consciéncia de que essa situagdo subjetiva envolve também deveres de respeito a dignidade do outro, de contribuir para o aperfeigoamento de todos. Essa cidadania é que requer providéncias estatais no sentido da satisfago de todos 08 direitos fundamentais em igualdade de condigdes E intuitivo que a Propos regulamentaga mesmo de forma complementar ou fat 0 termo género ou orientagdo sexu e Emenda it Lei Organ a n° 03/15, a0 estabelecer a protbigao de 10, ewrriculo escolar, diseiplinas obrigatdrias, ow lativa, que tendam a aplicar a ideologia de género, veda aos cidados que adotarem uma identidade social fundamentada em uma identidade de género ou de orientagdo sexual, a possibilidade de atuarem de forma ativa e legitima, defendendo os seus pontos de vista ¢ interesses, junto ao sistema educacional pablico na cidade de Limeira Suas conte eins, premissas ¢ opinides esto, previamente, desqualificadas ¢ afsstadas, pelo ido juridico que se quer introduzir na Lei Organica municipal por meio de emenda, sendo que, no que tange a tais interesses e direitos. sua atuago como individuo ou grupo encontrar-se-ia (caso emenda com essa natureza fosse admitida na ordem juridica vigente) afastada a priori do ambito juridico definido pela cidadania, E como jd apontado na citagio acima transcrita, obsticulos criados ao pleno exercicio da cidadania no interior da ordem constitucional vigente, necessariamente acabam por macular, em maior ou menor intensidade, a tutels constitucional da dignidade da pessoa humana, predisposta no inciso Ill, deste mesmo art. 1°, da CFI88. Porque a dignidade acompanha © homem humana, é que ela ndo admite diserimina humithado, discriminado, a sua morte, por ser da esséncia da natureza ima € ndo estard assegurada se o individuo for perseguido ou depreciado, pois, como declarou 0 Tribunal Constitucional da Repiiblica Federal da Alemanha, ‘a norma da dignidade da pessoa humana subjaz a concepgio da pessoa como um ser ético-espiritual que aspira a determinar-se desenvolver-se a si mesmo em liberdade. Alids, Kant jé afirmava que a autonomia(liberdade) €0 principio da dignidade da natureza humana ¢ de toda natureza racional, considerada por ele * SILVA, José Afonso. Comentario Contextual Constitugdo, Sdo Paulo: Malheiros Editores, 2012, p. 18720 um valor incondicionado, incomparivel, que traduz a palavra respeito, tinica que fomece a ie um ser racional deve fazer da dignidade. (..) De fato, palavra dignidade & empregada no sentido de forma de comportar-se € no sentido de atributo intrinseco da pessoa humana, como um valor de todo ser racional, independentemente da forma como se comporte. E com essa segunda signifieagio que @ Constituigdo tutela a dignidade da pessoa humana, de modo que nem mesmo um comportamento indigno priva a pessoa dos direitos que slo inerentes, ressalvada, a incidéncia de penelidad: constitucionalmente autoizadas Na opinio dessa Consultoria, ao menos potencialmente, a norma que se pretende introduzir por meio da Proposta de Emendla a Lei Organica n° 03/15, ao interditar a simples discussdo ¢ consequente deliberagio de todas as questdes envolvendo demandas formuladas po individuos € grupos que se colocam sob o manto juridico-politico de uma identidade de género, em especial, homossexuais e transexuais, reproduz ¢ intensifica 0 preconceito ¢ 0 estigma presente, de fato. junto a parte signif fa sociedade brasileira, e que a order: constitucional instituida em 1988, em face do principio da dignidade da pessoa humana, determinou como um dos seus objetivos fundamentais, que fosse definitivamente afastada ‘a0 menos de todas as representagdes publico-estatais Sendo assim, na opinitio dessa Consultoria, em razio dos vicios apontados ao longo desse Parecer, pertinentes incompeténeia legislativa; & inadequagio da via eleita para a introdugao do contetido juridico que se pretende; e, por fim, em face da violagdo de diversos principios expressos pelo texto constitucional, nao possui a Proposta de Emenda a Lei Organica n° 03/15 aptidao para tramitar de forma valida perante 0 presente processo legislativo, termos et que, se opina pelo seu correspondente arquivamento, " Op. Cit p. 4041 1920 3 RESPOSTA: Em face de todas as consideragdes ima expostas, opin pela ilegalidade ¢ pela titucionalidade da Proposta de Emenda a Lei Organica Municipal n° 03/15, em face da oom ncia, visto que, a natureza juridica da normativa que se de introduzir no se contém nos limites admitidos pela competéncia legislativa genérica, fundada no inciso 1, do art. 30, da CF/88, que requer natureza juridica de imeresse local ~ 0 que, no caso em questio, indubitavelmente no se constitu. Como decorréncia logico-jurfdica do transbordamento da competéncia legislativa admitida para os municipios no inciso I, do art. 30, da CF/88, invadiu-se competéncia reservada para a Unio, dado que a matéria apresentada, por encontrar-se regulada por tratados intemacionais dos quais a Repiiblica Federativa dk hecido por jurisprudéneia do Supremo Tribunal Federal, em face dos Prinefpios de Yogyakarta) encontra-se sob a competéncia legislativa exclusiva do Cor da CF/88, De igual modo, constatou-se a inadequagiio nica. municipal nao pode ncia de vicio de compet pretei Brasil & signatiria (conforme jé recon sso Nacional ~ nos termos do inciso 1, do art. 49, ia eleita, visto que, uma emeni lei 01 rimir uma competéncia que foi outorgada ao Poder Legislative municipal diretamente pela Constituigio Federal. Sob 0 prisma material, observou-se, ii existéncia de incompatibilidade juridico-normativa, entre a propositura que se visa introduzir e os principios regentes da educagao nacional dispostos pelos incisos Ile II, do art. 206, da CF/88 — afetando-se de modo pa liberdade de ensinar, aprender & pes ie intenso os principios 4 uisar, © do pluralismo de ide gicas. De igual modo, observou-se inftingéncia (potencial) ao disposto pelo inciso IV do art. 3°, da CF/88, visto que, o contetido juridico da normativa proposta, possui aptidio para uzir, perpetuar, ¢ até intensificar preconceitos e estigmas (especialmente, em face de homossexuais ¢ outras minorias que adotem uma identidade de género) que a ordem constitucional determinou, como um dos seus objetivos fundamentais, que fossem afastados, Por fim, concluiu-se pela vulneragao do pr do Estado Democrittico de Direito, do s & concepaes principio da cidadania e da dlignidade da pessoa hnmana, dispostos pelo caput, e incisos Il ¢ IH, do art. 1°, da CF/88, Este é 0 meu Pareeer, s.mn,j Limeira, 05 de agosto de 2015. JOSE CARLOS EVANGELISTA DEARAUIO Consultoy huridico da Camara Municipal de Liméfra SP 20120

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