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Universidade Federal do Rio de Janeiro

CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL DE
EDIFICAÇÕES: MODELOS DE
CONFORMIDADE E PROCESSOS DE
IMPLANTAÇÃO

Vinicius Silva Moura

2017
CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL DE
EDIFICAÇÕES: MODELOS DE
CONFORMIDADE E PROCESSOS DE
IMPLANTAÇÃO

Vinicius Silva Moura

Projeto de Graduação apresentado ao Curso de


Engenharia Civil da Escola Politécnica,
Universidade Federal do Rio de Janeiro, como
parte dos requisitos necessários à obtenção do
título de Engenheiro.

Orientador: Jorge dos Santos

Rio de Janeiro

Agosto de 2017
i

CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL DE EDIFICAÇÕES: MODELOS DE CONFORMIDADE


E PROCESSOS DE IMPLANTAÇÃO

Vinicius Silva Moura

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE


ENGENHARIA CIVIL DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO
RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A
OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO CIVIL.

Examinado por:

______________________________________
Professor Jorge dos Santos, D. Sc., Orientador

______________________________________
Professora Alessandra Conde Freitas, D. Sc.

______________________________________
Professor Luís Antônio Greno Barbosa, M. Sc.

______________________________________
Professora Elaine Garrido Vazquez, D. Sc.

RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL

AGOSTO DE 2017
ii

Silva Moura, Vinicius

Certificação Ambiental de Edificações: Modelos de Conformidade e


Processos de Implantação/ Vinicius Silva Moura – Rio de Janeiro: UFRJ/
Escola Politécnica, 2017.

xiv, 108 p.: il.; 29,7cm.

Orientador: Jorge dos Santos

Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/ Curso de


Engenharia Civil, 2017.

Referências bibliográficas: p.102-108

1. Introdução 2. Certificação Ambiental. 3. Certificação Ambiental de


Edificações. 4. Metodologia de Implantação. 5. Análise de edificações
certificadas. 6. Considerações Finais. I. dos Santos, Jorge. II. Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Curso de Engenharia Civil. III.
Título.
iii

DEDICATÓRIA

Dedico meu trabalho final de graduação aos meus avôs Otacílio (in memoriam) e
Vicente (in memoriam), operário da Construção Civil durante toda sua vida, que
apesar de todas as dificuldades enfrentadas, transmitiram os valores de honestidade e
respeito aos meus pais, que o mesmo por mim fizeram.
iv

AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço a Deus, que ao longo de toda minha vida me permitiu


seguir com meus estudos, provendo saúde, não só a mim mas a toda minha família e
sempre se mostrou presentes em todos os momentos nos quais contei com sua
intervenção.

Obrigado aos meus pais, Tânia e Melque, por confiarem em mim ao longo de
toda minha vida acadêmica, me apoiando nas minhas escolhas profissionais, ainda que
não fosse a mesma que eles escolheriam caso pudessem. Devo a ambos, os valores
de honestidade e responsabilidade que tenho hoje. Minha eterna gratidão e amor a
vocês.

Agradeço à minha irmã Mylena, que apesar dos momentos de implicância,


sempre esteve presente nos melhores momentos da minha vida, tornando-os mais
divertidos.

Agradeço aos meus avós Otacílio, Nida, Vicente e Bel, por terem conduzido
com maestria suas famílias, apesar de suas origens humildes e; que por tantas vezes
tomaram conta de mim e da minha irmã quando éramos pequenos para que nossos pais
trabalhassem.

Agradeço aos meus tios Wiliam, Luciane, Patrícia e Queila, que sempre
estiveram presentes em toda minha vida, me tratando com muito afeto e celebrando
comigo todas as minhas conquistas.

Agradeço às minhas amigas Mayara e Danielle. Obrigado por estarem comigo


desde a primeira disciplina até a última, literalmente, passando pelo melhor ano da
graduação que foi nosso intercâmbio em Compiègne. Sem vocês não teria conseguido.

Obrigado a todos meus amigos da vida: Louise e Mariana, que continuam


presentes em minha vida após 7 anos do fim do ensino médio. Amigos do intercâmbio,
em especial à Sabrina, que lá conheci e que se tornou fundamental na minha vida. E
todos os outros que estão sempre comigo nos bons e maus momentos.

Finalmente, um agradecimento aos bons professores que tive ao longo dessa


jornada, como a Elaine Vazquez, Flávia Moll e Paula Viero, por exemplo. E um
obrigado especial ao professor Jorge dos Santos, que aceitou me orientar neste projeto
final de graduação. Preciso agradecer por sua confiança e orientação que tornou o
desenvolvimento deste trabalho mais simples de ser executado.
v

Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte


dos requisitos necessários para obtenção do grau de Engenheiro Civil.

Certificação Ambiental de Edificações: Modelos de Conformidade e Processos de


Implantação

Vinicius Silva Moura

AGOSTO/2017

Orientador: Jorge dos Santos

Curso: Engenharia Civil

Após eventos como a criação da Agenda 21 na Conferência das Nações Unidas sobre
o Meio Ambiente, a Eco’92, no Rio de Janeiro, os sistemas de certificação ambiental de
edificações se proliferam. Isso se proporciona com o crescimento da consciência de que
a atividade da construção civil gera impactos ambientais uma vez que é responsável por
grande parte do consumo de recursos naturais e energia, além dos danos causados
pelo descarte de seus resíduos. No Brasil, já existem iniciativas próprias baseadas em
modelos internacionais e diversos empreendimentos já certificados ou em processo de
certificação. Esta certificação é concedida de acordo com o desempenho do edifício
perante critérios ambientais estabelecidos, organizados por categorias. Este estudo
consiste em uma apresentação teórica e contextualização do tema “certificações
ambientais”, com foco nas certificações ambientais de edifícios. Serão apresentados os
principais modelos internacionais como por exemplo LEED, AQUA-HQE, e os brasileiros
como Selo Casa Azul e PROCEL Edifica, destacando suas características e
metodologias de implantação, bem como uma análise crítica e comparativa entre eles,
avaliando sua adequação à realidade brasileira e mostrando a influência que a
crescente adoção dos mesmos exerce sobre as atuais práticas do mercado da
construção civil nas fases de projeto, execução e uso das edificações. Por fim, serão
realizados dois estudos de edificações brasileiras existentes que receberam a
certificação LEED™, ilustrando o processo descrito na parte teórica, mostrando os
resultados obtidos e a serem alcançados e; apontando as dificuldades e peculiaridades
de cada um desses casos.

Palavras-chave: Certificação ambiental, edificações, impactos ambientais.


vi

Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of


the requirements for the degree of Engineer.

Green Building Certification Systems: Compliance Models and Implantation Processes

Vinicius Silva Moura

AUGUST/2017

Advisor: Jorge dos Santos

Course: Civil Engineering

After events such as the creation of Agenda 21 at the United Nations Conference on the
Environment, Eco'92, in Rio de Janeiro, green building certification systems have
proliferated. This is provided by the growing awareness that construction activity
generates environmental impacts since it is responsible for much of the consumption of
natural resources and energy as well as the damages caused by the disposal of its
waste. In Brazil, there are already own initiatives based on international models and
several projects already certified or under certification process. This certification is
granted according to the performance of the building before established environmental
criteria, organized by categories. This study consists of a theoretical presentation and
contextualization of the theme "environmental certifications", focusing on the green
building certifications. The main international models will be presented, such as LEED,
AQUA-HQE, and the Brazilian ones as Selo Casa Azul and PROCEL Edifica, highlighting
their characteristics and implementation methodologies, also a critical and comparative
analysis between them, assessing their adequacy to the Brazilian reality and showing
the influence that the increasing adoption of them on the current practices of the market
of the civil construction in the phases of design, execution and use of the buildings.
Finally, two studies of existing Brazilian buildings that have received the LEED™
certification will be carried out, illustrating the process described in the theoretical part,
observing the results obtained and to be achieved and; pointing out the difficulties and
peculiarities of each one of these cases.

Keywords: Environmental certification, buildings, environmental impacts.


vii

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 1

1.1. Importância do Tema ...................................................................................... 1

1.2. Objetivo .......................................................................................................... 2

1.3. Justificativa da Escolha do Tema.................................................................... 2

1.4. Metodologia .................................................................................................... 3

1.5. Estrutura da Monografia ................................................................................. 3

2. CONTEXTUALIZAÇÃO: CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL .................................................... 6

2.1. Conceito de Certificação ................................................................................. 6

2.2. Certificação Ambiental .................................................................................... 6

2.2.1. Nomenclaturas Utilizadas ........................................................................ 7

2.2.2. Características das Certificações Ambientais .......................................... 8

2.2.3. Desenvolvimento Sustentável .................................................................. 9

2.3. Aspectos Históricos – Como e quando surgem as certificações ambientais. 10

2.4. Processo de Implantação e Importância da Compreensão ........................... 13

2.4.1. Processo de Implantação ...................................................................... 13

2.4.2. Importância da Compreensão do Processo de Certificação Ambiental .. 16

3. CONTEXTUALIZAÇÃO: CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL DE EDIFICAÇÕES ......................... 17

3.1. Conceito de Edificação ................................................................................. 17

3.1.1. Tipos de Edificações.............................................................................. 17

3.2. Certificação Ambiental de Edificações .......................................................... 18

3.3. Construções Sustentáveis (Green Buildings) ................................................ 19

3.4. Certificações Ambientais Existentes no Mundo ............................................ 20

3.5. Certificação Ambiental de Edificações no Brasil ........................................... 23

3.5.1. Aspectos Históricos ............................................................................... 23

3.5.2. Panorama Brasileiro das edificações certificadas. ................................. 25

3.6. Processos de certificação mais utilizados no Brasil ...................................... 26

3.6.1. LEED ..................................................................................................... 26

3.6.2. Processo AQUA-HQE............................................................................ 36


viii

3.6.3. Selo Casa Azul CAIXA .......................................................................... 42

3.6.4. PROCEL EDIFICA e Selo PROCEL Edificações ................................... 48

3.6.5. Comparação geral entre os programas.................................................. 53

4. METODOLOGIAS DE IMPLANTAÇÃO PARA CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL DE EDIFICAÇÕES


NO BRASIL ................................................................................................................... 59

4.1. Processos e práticas de projeto .................................................................... 59

4.1.1. Agenda do empreendimento.................................................................. 60

4.1.2. Consultorias para projeto ....................................................................... 61

4.1.3. Etapas metodológicas ........................................................................... 61

4.2. Processos construtivos ................................................................................. 63

4.2.1. Materiais ................................................................................................ 63

4.2.2. Gestão de resíduos ............................................................................... 65

4.3. Treinamentos................................................................................................ 65

4.4. Comunicação................................................................................................ 66

4.5. Normatização ............................................................................................... 66

4.6. Controle de documentos e de registros ........................................................ 67

4.7. Monitoramento.............................................................................................. 68

4.8. Correções e Ações Corretivas ...................................................................... 68

4.9. Melhoria contínua ......................................................................................... 68

5. ANÁLISES DE EDIFICAÇÕES BRASILEIRAS AMBIENTALMENTE CERTIFICADAS ........... 69

5.1. Aspectos Gerais ........................................................................................... 69

5.2. Certificação LEED do Museu do Amanhã ..................................................... 70

5.2.1. Sustentabilidade no Museu do Amanhã................................................. 72

5.2.2. O processo de certificação LEED .......................................................... 73

5.2.3. Avaliação LEED para o museu por categoria......................................... 73

5.2.4. Síntese da avaliação LEED para o museu............................................. 84

5.2.5. Pontos a serem desenvolvidos .............................................................. 84

5.2.6. Últimas Considerações sobre o Museu do Amanhã............................... 86

5.3. Certificação LEED da Torre B Porto Seguro (Edifício Barão de Piracicaba) . 87


ix

5.3.1. Avaliação LEED e práticas sustentáveis adotadas ................................ 88

5.3.2. Síntese da avaliação LEED para a Torre B ........................................... 96

5.3.3. Dificuldades ........................................................................................... 97

5.3.4. Últimas Considerações sobre a Torre B Porto Seguro........................... 98

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................ 99

6.1. Sugestões para trabalhos futuros ............................................................... 101

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................. 102


x

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: As três esferas da sustentabilidade ............................................................................. 10


Figura 2: Os cinco passos básicos para a obtenção de uma certificação .................................. 15
Figura 3: Selo LEED .................................................................................................................... 26
Figura 4: Abrangência do World Green Building Council no mundo .......................................... 27
Figura 5: Tipologias LEED existentes no Brasil, versão LEED v4 .............................................. 30
Figura 6: Níveis de certificação LEED ........................................................................................ 34
Figura 7: Etapas para a certificação LEED ................................................................................. 34
Figura 8: Níveis de certificação Referencial GBC Brasil Casa ................................................... 36
Figura 9: Selo Processo AQUA-HQE .......................................................................................... 37
Figura 10: Perfil mínimo de desempenho para certificação AQUA-HQE ................................... 40
Figura 11: O processo de certificação AQUA-HQE e as três fases de auditoria ........................ 41
Figura 12: Modelo de certificado AQUA-HQE (frente) ................................................................ 41
Figura 13: Modelo de certificado AQUA-HQE (verso) ................................................................ 42
Figura 14: Selo Casa Azul CAIXA ............................................................................................... 43
Figura 15: Níveis de certificação Selo Casa Azul CAIXA ........................................................... 44
Figura 16: Selo do Programa PROCEL Edifica .......................................................................... 48
Figura 17: Origem da Etiqueta PBE Edifica ................................................................................ 49
Figura 18: Exemplo de etiqueta (ENCE) para edificação comercial, de serviço e pública ......... 49
Figura 19: Exemplos de etiquetas (ENCE) para edificações residenciais .................................. 50
Figura 20: Selo PROCEL Edificações ......................................................................................... 52
Figura 21: Museu do Amanhã, Rio de Janeiro ............................................................................ 70
Figura 22: Construção do Museu do Amanhã ............................................................................ 71
Figura 23: Sustentabilidade no Museu do Amanhã .................................................................... 72
Figura 24: Vista da Praça Mauá a partir do Museu do Amanhã ................................................. 75
Figura 25: Louças e metais de alta eficiência DOCOL utilizadas no Museu do Amanhã........... 76
Figura 26: Sistemas de reuso de água adotados no museu ...................................................... 77
Figura 27: Captação de água da Baía de Guanabara para abastecer o espelho d'água .......... 77
Figura 28: Iluminação Natural no museu e luminárias de LED embutidas na estrutura............. 79
Figura 29: Aproveitamento da luz solar no museu...................................................................... 79
Figura 30: Painéis fotovoltaicos instalados sobre a cobertura .................................................... 80
Figura 31: Painéis de cobertura otimizando a captação da luz solar ......................................... 80
Figura 32: Edifício Torre B - Edifício Barão de Piracicaba. ......................................................... 88
Figura 33: Vagas para automóveis com baixa emissão de gases e para deficientes. ............... 90
Figura 34: Vista externa do prédio. Entradas para pedestres e veículos. .................................. 91
Figura 35: Reservatórios de água localizados no alto das duas torres. ..................................... 92
Figura 36: Interior do edifício: iluminação graças a abundância de vidros. ................................ 93
Figura 37: Botões do lado externo do elevador .......................................................................... 93
xi

LISTA DE QUADROS E TABELAS

Quadro 1a: Principais programas com finalidade de aferir rótulos ambientais, no mundo ........ 11
Quadro 1b: Principais programas com finalidade de aferir rótulos ambientais, no mundo ........ 12
Quadro 2: Normas sobre rotulagens e declarações ambientais, da série ISO 14.020............... 12
Quadro 3a: Principais sistemas de certificação ambiental no mundo (adaptada) ...................... 21
Quadro 3b: Principais sistemas de certificação ambiental no mundo (adaptada) ...................... 22
Quadro 4a: Outros sistemas de certificação ambiental no mundo (adaptada) ........................... 22
Quadro 4b: Outros sistemas de certificação ambiental no mundo (adaptada) ........................... 23
Quadro 5: Categorias de avaliação LEED v4. ............................................................................ 31
Tabela 1: Pontuação possível para o LEED BD+C v4, por categoria (no Brasil) ....................... 32
Tabela 2: Pontuação possível para o LEED ID+C v4, por categoria (no Brasil) ........................ 33
Tabela 3: Pontuação possível para o LEED O+M v4, por categoria (no Brasil) ......................... 33
Tabela 4: Pontuação possível para o LEED ND v2009, por categoria (no Brasil) ..................... 33
Tabela 5: Pontuação possível por categoria para o Referencial GBC Brasil Casa. ................... 35
Quadro 6: Categorias AQUA-HQE referentes à QAE do edifício ............................................... 38
Quadro 7: Pontuação mínima para os níveis de certificação Selo Casa Azul CAIXA ................ 44
Tabela 6a: Resumo das Categorias, critérios e classificação .................................................... 45
Tabela 6b: Resumo das Categorias, critérios e classificação .................................................... 46
Tabela 7: Limites de avaliação e localidades para o Selo Casa Azul nível bronze .................... 46
Tabela 8: Comparativo básico entre os processos (adaptada) .................................................. 54
Tabela 9: Scorecard MDA - Espaços Sustentáveis .................................................................... 74
Tabela 10: Scorecard MDA - Eficiência no uso da água ............................................................ 75
Tabela 11: Scorecard MDA - Energia e Atmosfera ..................................................................... 78
Tabela 12: Scorecard MDA - Materiais e Recursos .................................................................... 81
Tabela 13: Scorecard MDA - Qualidade Ambiental Interna ........................................................ 82
Tabela 14: Scorecard MDA - Inovação e Processos .................................................................. 83
Tabela 15: Scorecard MDA - Créditos de Prioridade Regional .................................................. 83
Tabela 16: Resumo do scorecard do Museu do Amanhã ........................................................... 84
Tabela 17: Scorecard do empreendimento. Pontuações obtidas. .............................................. 89
Tabela 18: Resumo do scorecard da Torre B. ............................................................................ 96
xii

LISTA DE ABREVIATURAS

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

ACV Avaliação do Ciclo de Vida

AQUA Alta Qualidade Ambiental

ASHRAE American Society of Heating, Refrigeration, and Air-Conditioning


Engineers (Sociedade Americana de Engenheiros de Aquecimento,
Refrigeração e Ar-Condicionado)

BEPAC Building Environmental Performance Assessment Criteria (Critérios de


Avaliação do Desempenho Ambiental da Construção)

BREEAM Building Research Establishment’s Environmental Assessment Method


(Método de Avaliação Ambiental do Estabelecimento de Pesquisa de
Construção)

CADRI Certificado de Movimentação de Resíduos de Interesse Ambiental

CASBEE Comprehensive Assessment System for Built Environment Efficiency


(Sistema de Avaliação Integral para Eficiência de Ambiente Construído)

CBCS Conselho Brasileiro de Construção Sustentável

CEF Caixa Econômica Federal

CETESB Companhia Ambiental do Estado de São Paulo

CFC Clorofluorcarbono

CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente

COV Compostos Orgânicos Voláteis

DOF Documento de Origem Florestal

EAP Estrutura Analítica de Projeto

EEE Eficiência Energética em Edificações

ELETROBRAS Centrais Elétricas Brasileiras S.A.

ENCE Etiqueta Nacional de Conservação de Energia

EUA Estados Unidos da América

FSC Forest Stewardship Council (Conselho de Manejo Florestal)


xiii

GATT General Agreement on Tariffs and Trade (Acordo Geral sobre Tarifas e
Comércio)

GBC Green Building Challenge (Desafio da Construção Verde)

GBC Brasil Green Building Council Brasil (Conselho da Construção Verde no Brasil)

GBCI Green Business Certification Institute (Instituto de Certificação de


Negócios Verdes)

GEE Gases do Efeito Estufa

HK-BEAM Hong Kong Building Environmental Assessment Method (Método de


Avaliação Ambiental dos Edifícios de Hong Kong)

HQE Haute Qualité Environnementale (Alta Qualidade Ambiental)

INMETRO Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia

ISO International Organizational for Standardization (Organização


Internacional de Padronização)

LEED Leadership in Energy and Environmental Design (Liderança em Energia


e Design Ambiental)

LEED BD+C Leed Building Design and Construction (Leed Projeto e Construção de
Edifícios)

LEED CI Leed Commercial Interior (Leed Interiores Comerciais)

LEED CS Leed Core & Shell (Leed Núcleo e Envoltória)

LEED EB-OM Leed Existing Building – Operation & Maintenance (Leed Edificações
Existentes – Operação e Manutenção)

LEED ID+C Leed Interior Design and Construction (Leed Projeto de Interiores e
Construção)

LEED NC Leed New Construction (Leed Nova Construção)

LEED ND Leed Neighborhood Design (Leed Desenvolvimento de Bairros)

LEED O+M Leed Operation & Maintenance (Leed Operação e Manutenção)

LEED v4 Leed versão 4

MAR Museu de Arte do Rio


xiv

MDA Museu do Amanhã

PROCEL Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica

SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

SGE Sistema de Gestão Ambiental

NBR Norma Brasileira

OIA Organismo de Inspeção Acreditado

ONU Organização das Nações Unidas

OSCIP Organização da Sociedade Civil e de Interesse Público

PBE Programa Brasileiro de Etiquetagem

PBQP-H Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade na Construção


Habitacional

PDE Perfil de Desempenho da Edificação

QAE Qualidade Ambiental do Edifício

RTQ-C Requisitos Técnicos da Qualidade para o Nível de Eficiência Energética


de Edifícios Comerciais, de Serviços e Públicos

RTQ-R Requisitos Técnicos da Qualidade para o Nível de Eficiência Energética


de Edifícios Residenciais

TI Tecnologia da Informação

USGBC United States Green Building Council (Conselho da Construção Verde


dos Estados Unidos)

VLT Veículo Leve sobre Trilhos

WorldGBC World Green Building Council (Conselho Mundial da Construção Verde)


1

1. INTRODUÇÃO

1.1. Importância do Tema


Com a questão sobre os impactos ambientais causados pelas atividades humanas
ganhando cada vez mais importância global, é notável a busca por soluções e medidas
que busquem diminuir ou frear a proporção desses danos, sem contudo inviabilizar o
surgimento de novas tecnologias e expansão dos mais diversos mercados
internacionais de produtos e serviços.

Nesse contexto, de acordo com Piccoli et al (2010) a construção civil é tida como
uma das atividades humanas que tem grande potencial de causar impactos ao meio
ambiente, seja pelo seu alto consumo de energia e recursos naturais, ou pela grande
quantidade de resíduos gerada.

Em contrapartida ao caráter predatório do setor da construção civil, surgem


conceitos como o das construções sustentáveis que procuram fazer uso racional dos
recursos naturais, utilizam materiais ecologicamente corretos e alteram minimamente o
ambiente no qual estão inseridos.

Dessa maneira, indo além dos primeiros rótulos ambientais que surgiram no mundo,
voltados sobretudo para produtos como pesticidas, por exemplo, este conceito passa a
ser mais abrangente e surgem as certificações ambientais, que avaliam os
empreendimentos através de uma estrutura que estabelece critérios e listas de
verificação.

O Brasil, como país em desenvolvimento, ainda desenvolve em sua sociedade a


consciência ambiental que países desenvolvidos já tem plena. Nos últimos anos o país
têm ganho importante influência política internacional, e isso de certa maneira nos
obriga a desenvolver essa consciência, estimulando a atual e as futuras gerações a
buscarem cada vez mais caminhos para a sustentabilidade em suas três esferas:
ambiental, econômica e social (CORRÊA, 2011).

De acordo com esta perspectiva, no Brasil já são aplicados alguns sistemas


internacionais de certificação ambiental que foram traduzidos e adaptados para a
realidade brasileira.

No caso específico da certificação ambiental de edificações, é importante que seja


avaliado o real desempenho da edificação, considerando desde seu projeto, passando
pela fase de construção e utilização do mesmo. Este conceito, definido como a
Avaliação do Ciclo de Vida da edificação, permeia, de modo geral, os principais sistemas
2

de certificação ambiental de edificações utilizados no Brasil e no mundo (CORRÊA,


2011).

1.2. Objetivo
Este trabalho tem como objetivo apresentar um estudo sobre os principais
programas de certificação ambiental de edifícios adotados no mundo, enfatizando os
mais utilizados no Brasil. Com a pesquisa bibliográfica sobre o tema, procura-se mostrar
a estrutura dos processos usados no Brasil, ações sustentáveis adotadas pelas equipes
de projeto, etc. com a intenção de compartilhar informações, que em sua maioria não
são livremente fornecidas pelos principais detentores dos conhecimentos acerca do
tema: os consultores. A partir da caracterização destes modelos, poderá se fazer uma
comparação entre eles, verificando pontos comuns, categorias, exigências, prioridades
e se os critérios e parâmetros de cada modelo estão adaptados à realidade brasileira.

Partindo da hipótese de que os certificados aqui abordados contém critérios e


parâmetros coerentes com o contexto local do Brasil, objetiva-se também verificar se os
mesmos se aplicam nas práticas construtivas e, através de uma análise crítica feita pelo
autor ao realizar estudos de edificações brasileiras já certificadas, colaborar com a
reflexão acerca do crescimento exponencial de certificados que vêm sendo concedidos,
observando se estes estão realmente considerando a preocupação com o contexto local
e, fazendo parte do surgimento da real consciência ambiental em todos os envolvidos e
afetados pelos impactos sociais, econômicos e ambientais da construção civil.

1.3. Justificativa da Escolha do Tema


Certificações Ambientais de Edifícios, apesar de serem cada vez mais utilizadas nos
empreendimentos brasileiros, é um tema ainda pouco explorado na literatura brasileira.
A maior parte da bibliografia encontrada está em livros de Gestão Ambiental e em
normas que tratam sobre o assunto, consistindo somente uma parte do conteúdo
abordado nas mesmas. Além disto, os órgãos certificadores costumam disponibilizar
material sobre sua respectiva certificação uma vez que é do interesse dessas
organizações divulgar e difundir estes selos nos mais diversos empreendimentos no
país.

Como esta cultura da certificação ambiental de edifícios ainda está em processo de


difusão no Brasil, estudos sobre esse tema são de extrema importância para esclarecer
o real conceito e significado do que é obter um certificado ambiental. Com a utilização
de diversos modelos internacionais sendo adotados no país, mostrar que a adequação
e adaptação desses modelos ao contexto local é um dos principais pontos a serem
3

esclarecidos. É importante que se compreenda que isto não se trata apenas de obter
um selo para ser usado como diferenciação mercadológica mas sim garantir que os
processos e sistemas na construção civil, atividade causadora de grandes impactos
ambientais, sejam cada vez mais sustentáveis nas esferas ambiental, social e
econômica.

1.4. Metodologia
A metodologia utilizada para a realização deste estudo consistiu em uma análise
teórica e prática do tema central do trabalho: certificação ambiental de edifícios.

Considerando a parte da análise teórica, uma pesquisa bibliográfica foi realizada


para que se pudesse definir os conceitos inerentes ao assunto, e para que os principais
modelos de certificações aqui apresentados pudessem ser expostos de maneira clara e
abrangente. Desta forma, vale a pena destacar que para o desenvolvimento desse
trabalho, as dissertações e teses citadas ao longo do desenvolvimento do texto e
presentes nas referências bibliográficas foram fundamentais para a viabilização do
mesmo.

Já na análise prática deste trabalho, foram realizados estudos sobre duas


edificações brasileiras existentes e já contempladas com a certificação LEED, sendo
feita a caracterização das mesmas e, uma verificação detalhada das ações sustentáveis
adotadas e pontuação garantida em cada uma das categorias de avaliação do LEED,
para ambos os empreendimentos. São também expostos os principais pontos de
dificuldade encontrados pelas equipes responsáveis, bem como critérios que não foram
atendidos parcial ou totalmente. Finalmente, são apresentadas considerações finais
sobre cada um dos casos, mostrando o resultado dos projetos do ponto de vista dos
empreendedores e da sociedade.

1.5. Estrutura da Monografia


O estudo será estruturado em seis capítulos, conforme descrito abaixo:

O Capítulo 1 apresenta uma introdução do tema a ser explanado, evidenciando a


importância do mesmo, o objetivo do trabalho, a justifica da escolha deste tema, a
metodologia utilizada e a estrutura da pesquisa como um todo.

O Capítulo 2 traz uma contextualização do que é Certificação Ambiental,


apresentando o conceito de certificação de um modo geral, bem como o de certificação
4

ambiental, mostrando suas características importantes. Serão apresentadas também as


diferentes nomenclaturas de rotulagens ambientais e o conceito de desenvolvimento
sustentável. Ainda neste capítulo, o contexto histórico do surgimento das certificações,
bem como o processo de implantação e a importância da compreensão desses
processos são abordados.

O Capítulo 3 contém uma contextualização das certificações ambientais


especificamente para edificações, trazendo a definição e os tipos de edificações
existentes, bem como o conceito de construções sustentáveis e os modelos de
certificação ambiental de edificações existentes em vários países. Apresenta-se o
panorama desse tema no Brasil, trazendo um breve histórico do desenvolvimento do
mesmo no país, mostrando as entidades envolvidas e as quatro certificações mais
utilizadas aqui. Sobre estas, cada um dos processos – LEED, AQUA-HQE, Selo Casa
Azul CAIXA e PROCEL Edifica – serão detalhados com relação seus respectivos
critérios de avaliação e estrutura. Por fim, é realizada uma análise comparativa geral
entre os mesmos, levando em conta aspectos como a adaptação de cada um à
realidade brasileira, classificação dos empreendimentos, metodologia de avaliação,
enfoque, validade e fases de certificação.

O Capítulo 4 apresenta as dificuldades encontradas no mercado brasileiro da


construção civil considerando suas peculiaridades e a influência que a disseminação da
cultura da certificação ambiental de edificações vem exercendo sobre as práticas de
projeto e construtivas do mesmo para lidar com estas dificuldades. Assim, serão
mostrados os pontos principais a serem levados em conta ao longo do processo e as
respectivas metodologias de implantação que vem sendo adotadas pelos
empreendedores brasileiros.

O Capítulo 5 traz duas análises sobre empreendimentos brasileiros que obtiveram


a certificação LEED™ BD+C: NC v.3 2009 no nível Ouro: o Museu do Amanhã, na
cidade do Rio de Janeiro e; a Torre B do Edifício Barão de Piracicaba, da Porto
Seguro S.A., localizado na cidade de São Paulo. Em ambos os casos, procurou-se
caracterizar de maneira geral as edificações em questões, as instituições envolvidas e
obviamente mostrar as ações de cunho sustentáveis que levaram à obtenção dos
créditos a fim de conseguir a pontuação mínima para a certificação.

O capítulo 6 traz as considerações finais do autor, levando em conta o que foi


desenvolvido ao longo de todo o trabalho e suas sugestões de temas para estudos
futuros.
5

Finalmente, as referências bibliográficas trazem todas as fontes consultadas pelo


autor, tanto físicas quanto as disponíveis na internet, durante a pesquisa bibliográfica e
para a realização dos estudos sobre as duas edificações brasileiras contempladas com
o certificado LEED.
6

2. CONTEXTUALIZAÇÃO: CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL

2.1. Conceito de Certificação


A certificação de produtos ou sistemas é, por definição, realizada por uma entidade
de terceira parte, ou seja, por uma organização independente que tenha credibilidade
instituída por lei ou por aceitação social. Esta avaliação é realizada através de auditorias
no processo produtivo, garantindo que, no caso de produtos, estes estejam atendendo
às normas técnicas continuamente e, no caso de sistemas de gestão, que estes
garantam a repetitividade dos resultados obtidos (INMETRO, 2017).
No Brasil, a certificação de produtos é realizada principalmente por organizações
independentes, acreditadas pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e
Tecnologia (Inmetro), instituição que estabelece na maioria das vezes as regras de
avaliação de um objeto. Dependendo do produto, do processo produtivo, das
características da matéria prima, de aspectos econômicos e do nível de confiança
necessário, entre outros fatores, determina-se o modelo de certificação a ser utilizado.
Outra principal organização brasileira que emite certificações é a Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), que atua nesta área desde 1950, tendo
importantes certificações com visibilidade no mercado brasileiro como por exemplo o
Sistema de Gestão da Qualidade ABNT NBR ISO 9001 e o Sistema de Gestão
Ambiental ABNT NBR ISO 14001 e na área de produtos, certificando peças de
mobiliários, materiais da construção civil, equipamentos de segurança, equipamentos
elétricos e componentes automotivos.

2.2. Certificação Ambiental


A necessidade de mudança nas atividades causadoras de danos ambientais, com o
objetivo de atender às agendas de sustentabilidade, fez com que novos métodos de
avaliação dos impactos ambientais fossem desenvolvidos. Esses métodos determinam
parâmetros e metas que permitem verificar o andamento das questões de
sustentabilidade nos mais diversos países.

Para garantir os ganhos da crescente expansão dos diversos mercados de produtos


e serviços, percebeu-se que a aplicação de sistemas de produção sustentáveis eram
imprescindíveis e que a busca por um melhor desempenho ambiental seria incessante.
Porém a aplicação destes conceitos gera um custo, que só poderá ser recuperado se
os ganhos sociais, econômicos e ambientais forem informados aos usuários. Dessa
forma, a certificação ambiental é o atestado desse melhor desempenho, impulsionando
o desenvolvimento das atividades em busca de práticas mais sustentáveis, o que leva
à melhora na gestão de processos, redução de consumo e de perda de materiais, bem
7

como servindo de importante meio de comunicação com o usuário, já que atesta o


melhor desempenho ambiental (GRÜNBERG et al, 2014).

“Espera-se que o certificado ambiental possa transmitir de forma concisa as


‘informações ambientais’ ao consumidor, contribuindo para romper a chamada
‘inércia cognitiva’, ou seja, a tendência da mente humana de buscar o mínimo
esforço no momento de uma escolha (CORRÊA, 2011).”

2.2.1. Nomenclaturas Utilizadas


Muitas nomenclaturas são usadas como sinônimo de rotulagem ambiental: Selo
Ambiental, Selo Verde, Etiqueta Sustentável, etc. “Selo verde é o nome genérico para
qualquer programa de rotulagem, que evidencia um aspecto ambiental” (Godoy e Biazin,
2001). Assim os termos citados acima são tratados como sinônimos (CORRÊA, 2011).

Tendo isso em vista, torna-se relevante estabelecer os termos certificação,


rotulagem e selo verde, por serem comumente utilizados de forma genérica, abrangendo
todos os tipos de programas existentes. Segundo Godoy e Biazin (2001), esclarecem-
se as diferenças:

A certificação ambiental é resultado da verificação da eficácia do sistema de


gestão ambiental implementado por uma empresa. Por meio de auditorias ambientais é
feita a avaliação sistemática, documentada, periódica e objetiva do funcionamento da
organização do sistema de gestão e dos processos de proteção do meio ambiente. Por
meio do resultado da auditoria ambiental concede-se, mantém-se ou cancela-se o
certificado ambiental de uma empresa.

A rotulagem ambiental é a indicação dos atributos ambientais de um produto ou


serviço, sob a forma de atestados, símbolos ou gráficos em rótulos de produtos ou
embalagens ou em literatura sobre produtos, propaganda e assim por diante.

O selo verde é o nome genérico para qualquer programa que verifica a proteção do
meio ambiente ou a adoção de mecanismos limpos de produção.

Segundo Vidigal (2013), há ainda outras denominações como as que seguem


abaixo:

Os rótulos de fabricante partem da iniciativa deste e evidenciam atributos como:


reciclável, retornável, biodegradável, dentre outros. A sua adoção é polêmica, pois nem
sempre os fabricantes são éticos nas informações prestadas.
8

Os rótulos de terceira parte são programas de rotulagem implementados por


órgãos independentes do fabricante.

Os rótulos mandatários são de caráter obrigatório e podem ser divididos em:


informativos (apresentam informações técnicas como o consumo de energia de um
eletrodoméstico); alertas ou avisos de risco (trazem informações relativas aos danos
ambientais ou à saúde como o símbolo da caveira utilizado nos defensivos agrícolas).

Os rótulos voluntários são independentes e aplicados por organismos


normalizadores reconhecidos, ao produto que se disponha integrar determinado
sistema, como é o caso do selo da qualidade ambiental da Associação Brasileira de
Normas Técnicas (ABNT).

Dito isto, pode-se dizer que a Certificação Ambiental é um processo mais


abrangente, no qual a empresa ou empreendimento que almeja obter a certificação
necessitam passar por um programa e atender suas exigências para obter este diploma.
Dessa maneira, uma empresa pode obter uma rotulagem e não necessariamente
possuir uma certificação.
Neste trabalho, os processos de certificação ambiental abordados (para edificações)
estão voltados para os consumidores (usuários), como forma de atribuir valor e
diferencial de mercado ao confirmar uma política ambiental definida pelo empreendedor.
Esta observação é feita pois a diferença entre os termos “rótulo”, “selo” e “certificado” é
muito subjetiva e, não foi encontrada, durante o processo de pesquisa para este
trabalho, uma regra oficial sobre o uso destes termos.

2.2.2. Características das Certificações Ambientais


Uma característica importante a ser ressaltada nos sistemas de certificação
ambiental e que é uma tendência mundial é que existe uma abordagem de desempenho,
fortemente presente nos sistemas de certificação ambiental que pode ser entendida
como a prática de se pensar em termos de fins, e não de meios, tendo como foco o
atendimento de diferentes requisitos que os produtos ou projetos devem adotar
(PICCOLI et al, 2010).

Outra característica inerente às certificações ambientais é que além da abordagem


de desempenho do produto, a maioria dos sistemas de certificação também faz
exigências na fase de produção: na atividade da construção, por exemplo, tem-se o
objetivo de diminuir impactos ambientais do canteiro de obras, tais como poeira, ruído,
consumo de energia e gerenciamento de resíduos (Grünberg et al, 2014). Neste caso
temos então a Lei Federal 10.257/01 de 10 de julho de 2001, que exige a adoção de
9

políticas setoriais articuladas por parte dos municípios, com destaque à política de
gestão dos resíduos sólidos a qual originou a Resolução nº 307/02 do Conselho
Nacional do Meio Ambiente (BRASIL, 2002).

No entanto, pode-se observar que a fiscalização do cumprimento dessas resoluções


não são efetivas o que permite que empresas do ramo da construção civil tenham uma
postura inadequada com relação ao impacto ambiental gerado por suas atividades.

2.2.3. Desenvolvimento Sustentável


“Desenvolvimento Sustentável é aquele que atende às necessidades do presente,
sem comprometer a possibilidade das gerações futuras de atenderem às suas próprias
necessidades.” (ONU, COMISSÃO BRUNDTLAND, 1987, p.41).

Desenvolvimento sustentável é o modelo que prevê a integração entre economia,


sociedade e meio ambiente. Em outras palavras, é a noção de que o crescimento
econômico deve levar em consideração a inclusão social e a proteção ambiental (Rio
+20, 2017). Verifica-se que para alcançar resultados nessas três dimensões, o
Desenvolvimento Sustentável deve ser composto por ações variadas, abrangendo
desde a escala individual, até a escala mundial, na qual a ação é realizada mediante
encontros que estabelecem debates e acordos entre organizações governamentais e
não governamentais de diversos países. (MARQUES NETO, 2005, p. 6).

Vale lembrar que apesar das certificações ambientais de modo geral consistirem
numa avaliação abrangente do desempenho de um produto ou sistema considerando
exclusivamente parâmetros ambientais, no contexto brasileiro, como um país em
desenvolvimento e ainda num processo de crescimento deste mercado de certificações,
tais parâmetros podem e devem proporcionar ganhos nas esferas social e econômica,
o que vai de encontro com o conceito de sustentabilidade aqui exposto.
10

Figura 1: As três esferas da sustentabilidade. Fonte: Consumo Colaborativo Blog.

2.3. Aspectos Históricos – Como e quando surgem as certificações


ambientais.
Segundo Godoy e Biazin (2001), os primeiros rótulos de caráter obrigatório
obedecendo a legislações específicas surgem a partir de 1940, contendo advertências
sobre os efeitos de produtos como agrotóxicos e raticidas sobre a saúde humana, além
de conterem recomendações claras de cuidados no manuseio e armazenagem.

Mas foi a partir dos anos 70 que a questão ambiental ganhou certos destaque na
comunidade de forma geral, aparecendo algumas iniciativas de avaliação ambiental
focadas na questão energética. Em 1977, o governo alemão lança o primeiro programa
oficial de rotulagem ambiental, o Blau Engel. Este selo representava inovação no
mercado por avaliar o impacto do produto de forma mais abrangente e independente,
conferindo assim, maior credibilidade (GODOY e BIAZIN, 2001).

Até fins da década de 80, com a tendência crescente demonstrada por certos
segmentos do mercado em utilizar seu poder de compra para assegurar a melhoria
ambiental, optando por produtos menos prejudiciais, os produtores passaram a
incorporar cada vez mais, em suas estratégias de comercialização, o uso de rótulos com
declarações relativas ao produto em si, como a biodegradabilidade ou sobre o seu
processo de produção, como o uso de material reciclado ou a ausência de gases que
afetam a camada de ozônio (VIDIGAL, 2013).

Em 1991, o Relatório Brundtland criticou o modelo de desenvolvimento adotado


pelos países desenvolvidos, o qual se baseia no uso desenfreado de recursos materiais,
tornando-o insustentável e apresentou a proposta de Desenvolvimento Sustentável que
é “aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade
11

de as gerações futuras atenderem as suas próprias necessidades” (ONU, Relatório


Brundtland, 1991, p. 46). Este conceito foi adotado como lema de diversas organizações
políticas e empresas após a sua reiteração em 1992, no Rio de Janeiro, na Conferência
das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, conhecida, também,
como Eco-92 ou Rio-92, evento onde foram firmados protocolos (de intenções) sobre o
clima, a biodiversidade e as florestas, além de uma declaração e a Agenda 21.

A Declaração do Rio, contendo 26 princípios, reitera os princípios fundamentais do


GATT (Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio, em português) de protecionismo ainda
que disfarçadas de propósitos ambientais fora da jurisdição do país importador e,
relaciona os objetivos e prioridades ambientais de cada país ao seu próprio contexto
ambiental e de desenvolvimento, destacando que padrões adotados por alguns países
podem ser inadequados para outros, especialmente para os países em
desenvolvimento (VIDIGAL, 2013).

A Agenda 21 convoca os diversos setores da sociedade e as empresas a


reconhecerem o manejo ambiental como uma das suas prioridades e ponto fundamental
para o desenvolvimento sustentável. A mesma, em seu capítulo IV - Mudanças de
Padrões de consumo – no item 4.21, afirma: “Os Governos, em cooperação com a
indústria e outros grupos pertinentes, devem estimular a expansão da rotulagem com
indicações ecológicas e outros programas de informação sobre produtos relacionados
ao meio ambiente, a fim de auxiliar os consumidores a fazer opções informadas”
(GODOY E BIAZIN, 2001).

A partir da Rio-92, o Grupo sobre Medidas Ambientais e Comércio Internacional,


criado no GATT, em 1990, teve seu mandato ampliado de modo a elaborar uma agenda
sobre meio ambiente, comércio e desenvolvimento.

Dessa forma, após o Blau Engel (1977), sobretudo a partir da década de 90, surgem
diversos programas com finalidade de aferir rótulos ambientais, tanto em países
desenvolvidos quanto em países em desenvolvimento. Seguem os quadros 1a e 1b com
alguns desses programas (CORRÊA, 2011):

Sigla País Criação


Blue Angel (ou Blau Engel) Alemanha 1978
Environmental Choice Program Canadá 1988
Países
Nordic Swan 1988
Nórdicos
Quadro 1a: Principais programas com finalidade de aferir rótulos ambientais, no mundo. Fonte:
CORRÊA (2011).
12

EcoMark Japão 1989


Estados
Green Seal 1990
Unidos
NF-Environnement França 1991
EcoMark Program Índia 1991
Eco-Label Corea 1992
Green Label Singapura 1992
Environmental Choice Nova Zelândia 1992
Green Mark Taiwan 1992
União
Ecolabel 1992
Européia
AENOR - Meio Ambiente Espanha 1993
ABNT - Comitê Técnico de Certificação
Brasil 1995
Ambiental de produtos
Quadro 1b: Principais programas com finalidade de aferir rótulos ambientais, no mundo. Fonte:
CORRÊA (2011).

Com o crescimento dos rótulos ambientais pelo planeta e sobretudo após a


Conferência do Rio, a Eco’92, a International Standardization Organization (ISO) criou
a ISO 14.001, uma certificação internacional para a gestão ambiental de empresas. E,
com o avanço do tema entre os consumidores final, foi criada a série ISO 14.020,
especificamente sobre rotulagem ambiental, conforme segue (CORRÊA, 2011):

Norma Nome da norma


ISO 14.020:2000 Rótulos e declarações ambientais - Princípios gerais (Disponível
em ABNT NBR ISO 14.020:2002)
ISO 14.021:1999 Rótulos e declarações ambientais Tipo II - Autodeclarações
Ambientais (Disponível em ABNT NBR ISO 14.021:2013)
ISO 14.024:1999 Rótulos e declarações ambientais Tipo I - Princípios gerais e
procedimentos (Disponível em ABNT NBR ISO 14.024:2004)
ISO 14.025:2006 Rótulos e declarações ambientais Tipo III - Declarações
Ambientais - Princípios Gerais e Procedimentos (Disponível em
ABNT NBR ISO 14.025:2015)
Quadro 2: Normas sobre rotulagens e declarações ambientais, da série ISO 14.020. Fonte:
CORRÊA (2011).

Segundo Biazin (2002), no Brasil, em 1993, iniciou-se um estudo sobre os


programas de rotulagem ambiental ao redor do mundo, com o objetivo de criar um
programa nos moldes brasileiros. Este programa é coordenado pela Associação
Brasileira de Normas Técnicas, a ABNT, e atende ao proposto pela norma ISO
14.024:1999, sendo denominado “ABNT – Qualidade Ambiental” que visa produtos de
dez categorias a prioritárias para certificação, como por exemplo lâmpadas,
13

eletrodomésticos e móveis de madeira, dentre outros. Este selo foi reformulado em


2009.

Simultaneamente surgiu a preocupação com a avaliação das características dos


materiais e produtos, levando a uma análise do ciclo de vida dos mesmos. O objetivo
foi o de fornecer ferramentas para a tomada de decisão sobre a escolha dos materiais
ambientalmente mais adequados. Se entende por Análise do Ciclo de Vida (ACV):

“... o procedimento que permite analisar formalmente, a complexa interação de


um sistema – que pode ser um material, uma componente ou conjunto de
componentes – com o ambiente, ao longo de todo o seu ciclo de vida,
caracterizando o que se tornou conhecido como enfoque do cradle-to-grave
(berço ao tumulo)” (PINHEIRO, 2006).

Como resposta às crescentes questões ambientais surgiram, pontualmente,


critérios, abordagens e guias para melhorar o desempenho ambiental da construção,
bem como indicadores e processos para o avaliar. O desenvolvimento de sistemas de
avaliação ambiental na construção civil foi inicialmente um exercício de estruturação de
uma série de conhecimentos e considerações, numa abordagem prática, evitando uma
nova pesquisa (PINHEIRO, 2006).

2.4. Processo de Implantação e Importância da Compreensão


2.4.1. Processo de Implantação
De acordo com Biazin (2002), a maioria dos programas de rotulagem ambiental, foi
criada e é administrada direta ou indiretamente por órgãos governamentais, quase
sempre sob a responsabilidade do Ministério do Meio Ambiente ou agência a ele
subordinada. A esfera de decisão dos programas é representada por um Conselho,
composto por representantes de vários setores da sociedade, com mandato geralmente
de cinco anos. Em regra, as decisões do Conselho devem ser submetidas à aprovação
final do governo.

O processo de concessão de um selo a um determinado produto passa por várias


etapas de análise, testes, consultas, etc. Basicamente todos os programas, seguem um
processo similar, composto por fases como a escolha das categorias e
estabelecimentos dos critérios.

A primeira etapa é a escolha dos produtos candidatos a rótulos ambientais.


Considerando que os selos são concedidos a produtos que causem menor impacto
ambiental em relação aos seus similares, a escolha acaba recaindo sobre categorias
14

potencialmente danosas ao meio ambiente. Dessa maneira, podemos citar produtos


como: papeis, lâmpadas, pilhas, tintas, eletrodomésticos, etc.

Após a escolha das categorias, a próxima fase consiste na definição dos critérios ou
requisitos ambientais para os produtos. Os principais levados em consideração são:

a. Contaminação do ar, das águas e dos solos;


b. Geração de resíduos;
c. Consumo de energia e recursos minerais;
d. Poluição sonora e;
e. Efeitos sobre o ecossistema.

Ainda de acordo com Biazin (2002), esses critérios são traduzidos por indicadores
mensuráveis por métodos padronizados e formulados a partir da Análise do Ciclo de
Vida (ACV), conceito este já determinado anteriormente no item 2.3.

Apesar da recomendação da ISO, poucos programas de rotulagem utilizam a ACV,


pois a maior parte procura definir em qual etapa o impacto ambiental é maior e assim
identificar o parâmetro ambiental para a formulação dos critérios exigidos na concessão
do selo. Portanto, os parâmetros ambientais geralmente refletem as prioridades da
política ambiental de cada país, sendo essa determinação feita por consultorias
especializadas e comitês ou grupos técnicos com representações dos setores
interessados (CORRÊA, 2011).

Com base nos resultados, são então definidos os requisitos exigidos para a
concessão dos selos aos produtos da categoria candidata, requisitos estes que são
definidos de forma a permitir que apenas uma parcela de produtos no mercado possa
atingi-los, garantindo assim a credibilidade do programa bem como estimulando a
concorrência e o aumento da confiança pública no programa.

Os critérios são então, levados a um processo de consulta ou audiência pública,


geralmente restrita aos membros do conselho consultivo ou ainda a especialistas
convidados, mas não aberto a qualquer parte interessada.

A decisão final recai sobre os órgãos governamentais dos programas, com exceção
daqueles programas não governamentais. Assim que os critérios são aprovados e
divulgados, os produtores podem candidatar-se ao selo. Os produtos são, então,
submetidos a testes de conformidade aos critérios estabelecidos e são conduzidos por
instituições independentes. São realizadas inspeções e auditorias em fábricas. Os
critérios são revistos periodicamente e o certificado concedido possui um período de
validade.
15

No Brasil, em linhas gerais pode-se resumir o processo de obtenção de uma


certificação em cinco passos (Figura 2), de acordo com a Cartilha de Certificação
Ambiental do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE,
2015):

Passo 1 – Adquirir a norma: Ler a documentação e escolher qual a certificação mais


interessante para o nicho de negócio em questão e para o mercado foco. É importante
adquirir a norma em sua íntegra.

Passo 2 – Levantar Informações: Depois de estar familiarizado com as regras e


procedimentos exigidos, entrar em contato com um certificador e informar-se sobre o
tempo e os investimentos para as auditorias de certificação. Caso seja necessário,
contratar treinamentos específicos para se preparar para o processo, havendo inclusive
cursos e eventos gratuitos ligados a determinadas normas.

Passo 3 – Pré-auditoria: Em geral, o certificador inclui em suas taxas algumas horas


de consultoria e a quem quer se certificar. Em sistemas de gestão é comum agendar
uma pré-auditoria para avaliar o grau de preparação da empresa para o processo final.

Passo 4 – Auditoria: Uma vez realizada a auditoria de certificação, o relatório é


revisado de forma independente para emissão do certificado. Neste documento,
constará qual processo exatamente foi cumprido e que tipo de certificação foi realizada.
Dentro de uma mesma norma há variações segundo a abrangência e características do
vai ser testado.

Passo 5 – Manutenção: Obtido um Certificado de Gestão, um auditor vai visitar a


empresa regularmente, para facilidade a renovação do documento após a expiração de
sua validade, que varia em geral de três a cinco anos. Produtos podem sofrer testes
ocasionais de amostrar retiradas diretamente em pontos de venda e até análises por
lote.

Figura 2: Os cinco passos básicos para a obtenção de uma certificação. Fonte: Cartilha de
Certificação Ambiental do SEBRAE (2015)
16

2.4.2. Compreensão do Processo de Certificação Ambiental


Considerando a proliferação dos selos ambientais ao redor do mundo, pode-se
constatar que grande parte deles não são conhecidos pelos consumidores, bem como
são aferidos pelas próprias empresas, sem passar por um processo de auditoria ou
verificação independente.

Indo contra os preceitos estabelecidos pela ISO e pela Agenda 21, que defendem a
não criação de barreiras, rótulos ambientais podem ter estímulos completamente
contrários em países desenvolvidos e em países em desenvolvimento, podendo ser
usados com objetivo de diferenciação mercadológica: enquanto países desenvolvidos,
pioneiros na utilização de selos, passaram a utilizá-los como diferencial, tanto para o
mercado externo quanto para o interno, países em desenvolvimento, são pressionados
ou mesmo “obrigados” a adotar programas de rotulagem, não visando o mercado
interno, mas sim para não correr risco de ficar fora do mercado internacional.

Essa pressão do mercado pode levar à adoção de rótulos que não estejam adaptados
às particularidades e regionalidades de determinado país que o adota, produzindo selos
que não tem conexão com a realidade local e não fazem sentido.

Outro risco é que esses selos se tornem na verdade uma ferramenta de


protecionismo, a partir do momento em que uma série de exigências para a entrada de
uma empresa em um país é criada. Tais exigências nem sempre vem acompanhadas
de informações claras em seus rótulos ou certificados ou, possuem parâmetros
nacionais ou de um grupo específico que nem sempre se aplicam a outros países
(GODOY e BIAZIN, 2001).

Ainda segundo Godoy e Biazin (2001), em 1990, o GATT teve seu mandato ampliado,
elaborando assim uma agenda sobre meio ambiente, comércio e desenvolvimento, o
que culminou com a elaboração do Relatório Ukawa, que estabelecia que os rótulos e
certificados ambientais deveriam sofrer uma intensa fiscalização, uma vez que tinham
o poder de exercer grande influência sobre as condições de concorrência no mercado.

A proliferação de rótulos ambientais pelo mundo leva a uma reflexão sobre a


banalização da consciência ambiental e sobre a responsabilidade da conscientização
dos consumidores por parte das empresas. Obviamente, estas possuem interesses
particulares e então essa responsabilidade não poderia cair completamente sobre as
mesmas. Nesse âmbito, os rótulos de terceira parte, que são conferidos por instituições
independentes, são uma opção melhor do que os rótulos autodeclarados, além da
intervenção através do governo, devido ao seu possível cunho educativo (CORRÊA,
2011).
17

3. CONTEXTUALIZAÇÃO: CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL DE EDIFICAÇÕES

3.1. Conceito de Edificação


Pode-se definir como edificação, a construção com a finalidade de abrigar as
atividades humanas. Desde os primórdios, a função primária de uma edificação é
abrigar o homem das intempéries, ou além disso, quando se considera que ela
proporciona espaço favorável à evolução das relações humanas e da sociedade
(PINHEIRO, 2006).

Portanto, o termo edificação é a uma forma genérica de se referir a construções de


uma forma geral como casas, prédios, apartamentos, armazéns, viadutos, igrejas,
ginásios de esportes, fortes, aeroportos, torres de comando, faróis, postos de
combustíveis, usinas hidroelétricas, usinas nucleares, espaços para indústrias,
estações de tratamento de água, etc.

Quando trata-se do termo edifício, costuma-se considerar que é uma referência ao


que é popularmente conhecido como “prédio” e, do ponto de vista de sua construção é
tradicionalmente visto como um sistema orgânico, munido de órgãos (ou subsistemas)
interdependentes cuja cooperação é essencial para o seu adequado funcionamento. É
possível identificar os seguintes elementos componentes do edifício: fundações (ou
infraestrutura); superestrutura; vedações; cobertura; revestimentos em geral; e os
diversos sistemas prediais adaptados a cada situação (em geral as instalações elétricas,
instalações hidráulicas, ar condicionado, etc) (MILA, 1987).

3.1.1. Tipos de Edificações


As edificações (edifícios) encontradas em comunidades e que abrigam as atividades
humanas podem ser divididas em alguns grupos, como por exemplo (EHOW BRASIL,
2017):

Edifícios Residenciais usualmente abrigam pessoas e suportam as tarefas de


moradia no dia-a-dia. A estrutura residencial mais conhecida é a casa, entretanto,
existem muitos outros tipos de estruturas residenciais. Por exemplo, conjuntos
habitacionais, condomínios e apartamentos são edificações residenciais de média-
escala que abrigam múltiplas famílias.

Edifícios Comerciais incluem lojas de varejo, restaurantes e escritórios. Esses


estabelecimentos podem ser simples ou estar reunidos com vários outros para formar
um shopping center, assim como os andares mais baixos de um edifício comercial.
18

Edifícios Industriais são usados para fabricar, processar ou desenvolver produtos


e materiais. Normalmente, esses tipos de edificações são separados dos outros tipos,
por causa dos riscos à segurança ou ao meio ambiente, comuns às estruturas
industriais. Eles podem ser de qualquer tamanho, desde um espaço de um ambiente
até um armazém inteiro ou complexo de armazéns.

Edifícios Institucionais ou Especiais suportam todos as outras qualidades de


edificações em uma comunidade. Eles incluem hospitais, quartéis de bombeiros,
delegacias, fóruns, prédios do poder executivo ou legislativo, estádios, museus, parques
e outros tipos de infraestrutura.

Podem existir ainda edifícios mistos, que incorporam em sua estrutura mais de
uma das tipologias citadas acima, mais usualmente constituindo-se de uma parte
comercial e outra residencial.

3.2. Certificação Ambiental de Edificações


Conforme visto no capítulo 2, as rotulagens e certificações ambientais surgem com
o objetivo de rotular e certificar a qualidade ambiental de produtos. No entanto, também
foi dito que a certificação ambiental possui um caráter mais abrangente que a rotulagem
ambiental.

Dessa forma, pode-se dizer que uma edificação, por ser considerada um “produto”
complexo e com peculiaridades ao longo do seu ciclo de vida, exige um programa de
certificação para ter sua qualidade ambiental atestada (CORRÊA, 2011).

Atualmente, os países desenvolvidos possuem um sistema de certificação e


classificação ambiental de edifícios, cujos métodos de avaliação estão voltados
principalmente para a avaliação ambiental das edificações. Já em países em
desenvolvimento, como no Brasil, os sistemas de certificação ambiental devem levar em
conta não somente os aspectos ambientais, mas também os econômicos e sociais.

No Brasil, alguns sistemas de certificação ambiental internacionais que foram


adaptados para a realidade brasileira já são utilizados. No entanto, a preocupação com
a sustentabilidade leva a pesquisas para desenvolvimento de sistemas no país
contemplando os aspectos ambientais, econômicos e sociais.

De modo geral, os sistemas de certificação possuem uma estrutura que contém


critérios e listas de verificação para avaliar os empreendimentos. Porém, estes métodos
denominados prescritivos nem sempre são capazes de traduzir o real desempenho das
19

edificações. Deve-se considerar que os pontos a serem observados devem começar


desde o projeto, passando pela construção e indo até a etapa de utilização.

Assim, o desenvolvimento ideal das metodologias de avaliação de edifícios é migrar


dos critérios prescritivos para os critérios de desempenho, ou seja, a qualidade dos
empreendimentos habitacionais pode ser discutida no âmbito de dois aspectos: a
aplicação de métodos de avaliação ambiental minimizando os impactos causados ao
meio ambiente, bem como a redução do consumo dos recursos e; a aplicação de
critérios de desempenho (OLIVEIRA, 2014).

3.3. Construções Sustentáveis (Green Buildings)


O setor da construção civil é notadamente um dos setores das atividades humanas
que mais consomem recursos naturais e utilizam energia de forma intensiva, tendo
assim papel fundamental para a realização dos objetivos globais do desenvolvimento
sustentável. Além dos impactos do consumo de matéria e energia, há aqueles
associados à geração de resíduos sólidos, líquidos e gasosos.

Na busca por minimizar os impactos provocados pela atividade da construção, surge


o conceito de construção sustentável. No âmbito da Agenda 21 para a Construção
Sustentável em Países em Desenvolvimento, a construção sustentável é definida como:
"um processo holístico que aspira a restauração e manutenção da harmonia entre os
ambientes natural e construído, e a criação de assentamentos que afirmem a dignidade
humana e encorajem a equidade econômica". No contexto do desenvolvimento
sustentável, o conceito vai além da sustentabilidade ambiental, alcançando a
sustentabilidade econômica e social, que sugere a adição de valor à qualidade de vida
dos indivíduos e das comunidades (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2017).

Construção sustentável é um conceito que denomina um conjunto de medidas


adotadas durante todas as etapas da obra que visam a sustentabilidade da edificação.
Uma obra sustentável leva em consideração todo o projeto da obra desde a sua pré-
construção onde devem ser analisados o ciclo de vida do empreendimento e dos
materiais que serão usados, passando por cuidados com a geração de resíduos e
minimização do uso de matérias-primas com reaproveitamento de materiais durante a
execução da obra até o tempo de vida útil da obra e a sustentabilidade da sua
manutenção (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2017).

No que diz respeito a edificações, foco deste trabalho, entende-se que medidas como
adequação do projeto ao clima do local, minimizando o consumo de energia e
20

otimizando as condições de ventilação, iluminação e aquecimento naturais; previsão de


requisitos de acessibilidade para pessoas com mobilidade reduzida ou, no mínimo,
possibilidade de adaptação posterior; utilização de coberturas verdes; instalação de
dispositivos economizadores de água; uso de pavimentação permeável nas áreas
externas, etc.; podem ser considerados essenciais no projeto e construção de um
edifício verde (green building).

3.4. Certificações Ambientais Existentes no Mundo


Atualmente, praticamente cada país europeu - além de Estados Unidos, Canadá,
Austrália, Japão e Hong Kong - possui um sistema de avaliação e classificação de
desempenho ambiental de edifícios

Segundo Silva (2007), os sistemas de avaliação ambiental disponíveis podem ser


claramente distintos em duas categorias, mesmo que isso não seja uma classificação
formal neste sentido. De um lado, estão os sistemas que promovem a construção
sustentável através de mecanismos de mercado. O Building Research Establishment
Environmental Assessment Method - BREEAM, foi pioneiro e lançou as bases de todos
os sistemas de avaliação orientados para o mercado que seriam posteriormente
desenvolvidos em todo o mundo, como o HK-BEAM, o LEED™, o NF Bâtiments
Tertiaires Démarche HQE e o CASBEE. Estes sistemas foram desenvolvidos para
serem facilmente absorvidos por projetistas e pelo mercado em geral, e têm, portanto,
uma estrutura mais simples, normalmente formatada como uma lista de verificação.
Para divulgar o reconhecimento do mercado pelos esforços dispensados para melhorar
a qualidade ambiental de projetos, execução e gestão operacional, todos eles são
vinculados a algum tipo de certificação de desempenho.

No segundo grupo estão os métodos orientados para pesquisa, como o Building


Environmental Performance Assessment Criteria - BEPAC e seu sucessor, o Green
Building Challenge - GBC, centrados no desenvolvimento metodológico e
fundamentação científica.

Nos quadros 3a e 3b abaixo, adaptada de Silva (2007), com os principais sistemas


existentes para avaliação ambiental de edifícios, estando destacadas em negrito as
desenvolvidas especificamente para avaliação de habitações (uni e multifamiliares):
21

País Sistema Comentários


Sistema com base em critérios e benchmarks,
para várias tipologias de edifícios. Um terço dos
BREEAM (BRE itens avaliados são parte de um bloco opcional de
Environmental avaliação de gestão e operação para edifícios em
Assessment uso. Os créditos são ponderados para gerar um
Method) índice de desempenho ambiental do edifício. O
sistema é atualizado regularmente (a cada 3-5
anos).
Reino Unido
Sistema com base em critérios e benchmarks,
seguindo a estrutura Sistema com base em
critérios e benchmarks, seguindo a estrutura de
categorias do BREEAM for Offices e o conceito de
BRE EcoHomes
avaliação de edifício-base, projeto e aquisição,
gestão e operação. Os créditos são ponderados
para gerar um índice global de desempenho
ambiental.
GBC (Green Sistema com base em critérios e benchmarks
Building hierárquicos. Ponderação ajustável ao contexto
Challenge) de avaliação. Sucessor do BEPAC (Canadá) e
GBTool utilizado no estudo exploratório.
Criado pelo IFC (International Finance
Corporation), membro do World Bank Group.
Internacional
EDGE (Excellence Para obter o Edge as obras deverão reduzir em
in Design for 20% o uso de água; 20% de energia no
Greater empreendimento e 20% da energia utilizada na
Efficiencies) produção de materiais. Mais prática e simples,
facilitando a obtenção do selo por parte de
pequenas e médias empresas
HK-BEAM (Hong
Kong Building Adaptação do BREEAM 93 para Hong Kong, em
Hong Kong Environmental versões para edifícios de escritórios novos ou em
Assessment uso e residenciais. Não pondera.
Method)
Inspirado no BREEAM. Sistema com base em
LEED™ critérios e benchmarks. O sistema é atualizado
(Leadership in regularmente (a cada 3-5 anos) e há versões
Energy and para outras tipologias. Na versão para edifícios
Environmental existentes, a linguagem ou as normas de
Design) referência foram modificados para refletir a etapa
de operação do edifício.
Estados Variação atualmente em desenvolvimento do
Unidos LEED™ especificamente para a avaliação de
unidades residenciais. Objetiva reconhecer e
premiar as residências que incorporem práticas
LEED™ for
de excelência ambiental. Mantém os níveis de
Homes
desempenho do LEED™ e praticamente as
mesmas categorias de avaliação, exceto
“localização e conexões” e “conscientização do
usuários”, que foram adicionadas.
Quadro 3a: Principais sistemas de certificação ambiental no mundo (adaptada). Fonte: Silva (2007).
22

Inspirado no BREEAM e dedicado a edifícios


BEPAC (Building
comerciais novos ou existentes. O sistema é
Environmental
orientado a incentivos, e distingue critérios de
Canadá Performance
projeto e de gestão separados para o edifício-
Assessment
base e para as formas de ocupação que ele
Criteria)
abriga.
Sistema com base em critérios e benchmarks.
Sua ponderação é baseada no perfil de
desempenho específico definido para cada
NF Bâtiments
projeto. Inclui avaliação da gestão do
França Tertiaires
desenvolvimento do empreendimento. O
Démarche HQE
resultado é um perfil de desempenho global,
detalhado pelas 14 preocupações ambientais
definidas pela Associação HQE.
CASBEE
Sistema com base em critérios e benchmarks.
(Comprehensive
Composto por várias ferramentas para diferentes
Assessment
estágios do ciclo de vida. Inspirada na GBTool, a
Japão System for
ferramenta de projeto trabalha com um índice de
Building
eficiência ambiental do edifício (BEE), e aplica
Environmental
ponderação fixa e em todos os níveis.
Efficiency)
Sistema com base em critérios e benchmarks,
Austrália Green Star que pretende abranger várias tipologias de
edifícios.
Quadro 3b: Principais sistemas de certificação ambiental no mundo (adaptada). Fonte: Silva (2007).

A título de curiosidade, há outros programas de certificação ambiental para edifícios


utilizados no mundo, de acordo com os quadros 4a e 4b (CORRÊA, 2011):

País Programas de Certificação


África do Sul SBAT
Alemanha EPQIR e DGNB
Austrália NABERS
Áustria Comprehensive Renovation
AQUA, Selo Azul e PROCEL
Brasil
EDIFICA (detalhados no capítulo 3)
Canadá BEPAC e BREEAM Canadá
Coréia do Sul GBCS
Dinamarca BEAT 2002
Espanha VERDE
Estados
MSDG
Unidos
Finlândia PROMISE
Certification Habitat et
França
Environnement
Holanda ECOQUANTUM
Índia THERI-GRIHA
Itália ITACA
Quadro 4a: Outros sistemas de certificação ambiental no mundo (adaptada). Fonte: Correa (2011).
23

Japão BEAT
Noruega EKOPROFILE
Portugal LIDERA
Reino Unido PROBE – Reino Unido;
ECO EFFECT e Environmental
Suécia
Status of Buildings
Taiwan EEWH
Quadro 4b: Outros sistemas de certificação ambiental no mundo (adaptada). Fonte: Silva (2011).

3.5. Certificação Ambiental de Edificações no Brasil


Conforme já visto no item 3.2, a abordagem de desempenho presente nos sistemas
de certificação ambiental internacionais tem muito o que evoluir no Brasil, uma vez que
as normalizações brasileiras referentes a construção civil se preocupam como a forma
(meio) como o produto é construído e não quanto ao seu desempenho, o que dificulta a
certificação de novos sistemas construtivos, que por serem inovadores, não tem uma
norma específica (GRÜNBERG et al, 2014).

Ainda que seja uma tendência mundial, aplicar o conceito de desempenho na


construção depende de vários fatores, como a formação e capacitação dos profissionais
da área (projetistas, gestores) e mão de obra, adequação da legislação e normas, bem
como a adequação dos fornecedores.

A constante mudança da abordagem prescritiva para a abordagem de desempenho


é algo complexo, pois exige conhecimento do comportamento do produto no uso das
soluções de projeto. No Brasil, essa tradição ainda está em crescimento, e por isso a
interação entre todos os membros da equipe é imprescindível, uma vez que as soluções
podem exigir um caráter multidisciplinar.

3.5.1. Aspectos Históricos


De acordo com Corrêa (2011), de modo geral os programas de qualidade surgem
a partir da necessidade de manter a uniformidade e diminuir falhas recorrentes advindas
do aumento da produção em massa de produtos.

Progressivamente, esses programas estenderam-se à construção civil. Com o


desenvolvimento de ações por parte do governo brasileiro em incentivo ao
desenvolvimento tecnológico na área da produção habitacional, são criados programas
24

de qualidade ambiental para este setor com o incentivo de pesquisas sobre práticas
sustentáveis na construção civil.

Tem-se como exemplos de tais programas, no Brasil: o Programa de


Desenvolvimento Urbano (PROURB) em 1987; o Programa Brasileiro de Qualidade e
Produtividade (PBQP) em 1990; o Programa Nacional de Tecnologia da Habitação
(PRONATH) em 1991; Programa de Difusão de Tecnologia para Construção de
Habitação de Baixo Custo (PROTECH) em 1993; Programa de Tecnologia de Habitação
(HABITARE) em 1994; Programa Qualidade na Construção Habitacional do estado de
São Paulo (QUALIHAB) em 1996 e; Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade
na Construção Habitacional (PBQP-H) em 1998 (CORRÊA, 2011).

Pode-se dizer que esses programas foram precursores dos programas de qualidade
ambiental de edificações a surgir futuramente. Eles popularizaram os conceitos de
qualidade, facilitando a aplicação dos mesmos e estreitando a relação entre qualidade
e qualidade ambiental.

Houve iniciativas brasileiras consideradas pioneiras na promoção da qualidade


ambiental de edificações que devem ser destacadas como o Programa Nacional de
Eficiência Energética em Edificações (PROCEL EDIFICA) instituído em 2003 pelo
Ministério de Minas e Energia, sendo o primeiro programa de rotulagem ambiental com
perspectiva de se tornar obrigatório, por parte do governo (PROCEL INFO, 2017).

Em agosto de 2007, destaca-se a criação do Conselho Brasileiro de Construção


Sustentável (CBCS), que é uma OSCIP, como resultado da articulação entre lideranças
empresariais, pesquisadores, consultores, profissionais atuantes e formadores de
opinião. Seu objetivo é contribuir para a geração e difusão de conhecimento e de boas
práticas de sustentabilidade na construção civil (CBCS, 2017). Em junho do mesmo ano,
ocorre a primeira certificação ambiental de uma edificação brasileira: a agência do
Banco Real, na Granja Vianna, em Cotia/SP recebe a certificação LEED.

Também desde 2008, a Fundação Vanzolini adaptou e desenvolveu a certificação


AQUA, a partir da francesa HQE, o que deu origem à atual certificação brasileira AQUA-
HQE que preza pelas boas práticas na construção e operação sustentável de edifícios
e; pela a implementação de atividades de planejamento sustentável de alta qualidade.

Internacionalmente, a ISO, considerando os impactos ambientais relacionados à


atividade da construção civil, passa a manter Comitês Técnicos, Subcomitês e Grupos
de Trabalho, criando uma série de normas sobre os aspectos da sustentabilidade na
construção civil, conforme os exemplos abaixo:
25

a. ISO 15686:2011 – Aspectos sobre ciclo de vida do edifício;


b. ISO 15392:2008 – Sustentabilidade na construção civil;
c. ISO 21930:2007 – Sustentabilidade na construção civil – Declaração
ambiental de produtos da edificação;
d. ISO/TS 21929:2006 – Sustentabilidade na construção civil – Indicadores.

Nesse contexto das normalizações, surge em 2008 no Brasil, como um primeiro


passo, a divulgação da ABNT NBR 15575 – Edifícios habitacionais de até cinco
pavimentos - Desempenho (ABNT, 2010), a qual entrou em vigor em junho de 2010.
O objetivo central dessa norma é atender às exigências dos usuários mediante a
garantia de desempenho dos sistemas que compõem edifícios quanto a seu
comportamento em uso, e não na prescrição de como os sistemas devem ser
construídos. Esta norma teve sua versão mais recente divulgada em 2013 (ABNT NBR
15575:2013 – Edifícios habitacionais – Desempenho – Partes 1 a 6).

O Selo Casa Azul CAIXA, criado em 2010 é o primeiro sistema de classificação da


sustentabilidade de projetos ofertado no Brasil, desenvolvido para a realidade da
construção habitacional brasileira. Proposto por uma instituição financeira (Caixa
Econômica Federal), ajuda a incentivar a adoção de benefícios e financiamentos para
empreendimentos com aspectos sustentáveis (JOHN e PRADO, 2010).

Finalmente, no ano de 2010, surge o QUALIVERDE, de adesão opcional, como


primeira proposta de decreto de lei, de caráter governamental (município do Rio de
Janeiro) para conceder benefícios fiscais para empreendimentos com características
sustentáveis (CORREA, 2011).

3.5.2. Panorama Brasileiro das edificações certificadas.


De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, atualmente as duas certificações
ambientais mais utilizadas na construção civil brasileira são o LEED™ - Leadership in
Energy and Environmental Design, emitido pelo United States Green Building Concil,
com 437 projetos certificados até o ano de 2017 e; o Processo AQUA© (Alta Qualidade
Ambiental), certificação brasileira baseada na francesa HQE (Haute Qualité
Environnementale) e implantada no país pela Fundação Vanzolini, com 255
certificações acumuladas até o ano de 2016; ambas brevemente descritas no item 3.4
deste trabalho.

As duas se preocupam com os principais aspectos de uma construção sustentável,


atribuindo pontos a cada item de sustentabilidade conquistado na obra. São
26

considerados aspectos que abrangem desde a escolha do terreno, que, entre outros
aspectos, deverá priorizar a preservação de áreas naturais, a proximidade de serviços
básicos, uma vez que inibe a necessidade do uso de automóveis para os deslocamentos
cotidianos.

De acordo com os eventos que ocorreram recentemente no país, como os Jogos


Olímpicos de 2016 na cidade do Rio de Janeiro, e a Copa do Mundo de 2014, ao redor
de algumas cidades do país, outros certificados além dos dois citados acima estão
sendo introduzidos no mercado brasileiro, como no caso do BREEAM, que apesar de
ser muito pouco utilizado, teve seu primeiro empreendimento na cidade de Petrópolis/RJ
iniciado no ano de 2011. Além disso, as iniciativas brasileiras como o Selo Casa Azul e
o PROCEL EDIFICA também vem ganhando mais espaço neste mercado (CORRÊA,
2011).

3.6. Processos de certificação mais utilizados no Brasil


A partir de agora, os próximos tópicos deste capítulo serão dedicados ao
detalhamento dos critérios e dos processos dos modelos de conformidade para
certificação ambiental de edifícios mais comuns no mercado brasileiro. São estes:
LEED™, AQUA-HQE, Selo Azul e PROCEL EDIFICA. Além disso, uma comparação
geral entre eles buscará esclarecer suas principais diferenças, ressaltando suas
vantagens e desvantagens, e suas respectivas dificuldades de implantação e
manutenção.

3.6.1. LEED
O Leadership in Energy and Environmental Design (LEED™) foi criado em meados
dos anos 1990 pelo United States Green Building Council (USGBS), filial estadunidense
do World Green Building Council (WorldGBC). O LEED é um sistema internacional de
certificação e orientação ambiental para edificações utilizado em mais de 160 países, e
possui o intuito de incentivar a transformação dos projetos, obras e operações das
edificações, sempre com foco na sustentabilidade de suas edificações (GBC Brasil,
2017).

Figura 3: Selo LEED. Fonte: USCBG (2017).


27

Líderes em todo o mundo fizeram do LEED o sistema de certificação de edifícios


verdes (green buildings) mais amplamente utilizado no mundo com 1,85 milhão de
metros quadrados área construída sendo certificada todos os dias. A certificação LEED
oferece avaliação independente de características sustentáveis de um edifício ou bairro,
certificando o projeto, a construção, as operações e a manutenção de edifícios eficientes
em termos de recursos, de alto desempenho, saudáveis e econômicos (USGBC, 2017).

Figura 4: Abrangência do World Green Building Council no mundo (em verde claro). Fonte:
WorldGBC (2017).

De acordo com Corrêa (2011), cada filial do GBC escolhe ou desenvolve o método
que usará para certificação de qualidade ambiental de edifícios de acordo com as
particularidades do país membro onde está inserido. O GBC Brasil optou por utilizar o
processo LEED estadunidense já existente criado pelo USGBC, e o utiliza da mesma
forma como é utilizado nos EUA, sem adaptações.

Segundo o GBC Brasil (2017), o sistema LEED está atualmente na versão 4.0
(LEED™ v4), lançada em 2014. Com relação a versão anterior, v2009, o v4 possui
requisitos de sustentabilidade mais rigorosos, fazendo com que os impactos ambientais
e sociais associados as construções sejam menores, quando comparados com v2009.

Para que uma edificação adquira o selo LEED será preciso realizar o pedido de
certificação, que é o primeiro passo para obtê-la. Existem oito modelos diferentes de
certificação, cada um para um caso específico que geram um selo dentre os seguintes
(GBC Brasil, 2015):

1) LEED™ NC (New Constructions): para novas construções ou grandes


reformas, elaborado para guiar projetos que se distinguem frente sua alta
performance (energia, água, qualidade ambiental interna, produtividade,
28

etc.). Pode ser usado para prédios comerciais, residenciais,


governamentais, instalações recreativas, laboratórios e plantas industriais;
2) LEED™ ND (Neighborhood Design): integra os princípios do crescimento
inteligente, urbanismo e construção sustentável para a concepção de
bairros. A certificação LEED ND requisita que o desenvolvimento da
localização e concepção do empreendimento cumpra elevados níveis de
responsabilidade ambiental e social;
3) LEED™ CS (Core & Shell): nesta modalidade certifica-se toda a envoltória
do empreendimento, suas áreas comuns e internamente o sistema de ar-
condicionado e elevadores. O LEED CS é utilizado por construtores e
incorporadores que estão desenvolvendo o projeto para posterior
comercialização de suas salas, garantindo ao futuro usuário que suas
instalações oferecem todas as condições para a alta performance do
empreendimento;
4) LEED™ CI (Commercial Interior): foi desenvolvido para garantir a alta
performance dos interiores, em termos de ambiente saudável, locais de
trabalho produtivos, baixo custo de manutenção e operação e redução do
impacto ambiental. O LEED CI oferece aos usuários, arquitetos de interiores
e designers, a possibilidade de criar ambientes sustentáveis,
independentemente de não poderem atuar na operação de todo o prédio;
5) LEED™ EB-OM (Existing Building – Operation & Maintenance): ajuda os
proprietários e operadores a medir suas operações, fazer melhorias na
manutenção em uma escala consistente, com o objetivo de maximizar a
eficiência operacional e minimizar os impactos ambientais. O LEED EB
aborda em todo o edifício questões de limpeza e manutenção (incluindo uso
químico), programas de reciclagem, programas de manutenção exterior e
atualização de sistemas, podendo ser aplicado tanto para edifícios
existentes que procuram a certificação LEED EB pela primeira vez, quanto
para projetos previamente certificados no âmbito de outros Sistemas de
Certificação LEED como LEED NC, LEED Schools, LEED CS e LEED EB
(em caso de renovação);
6) LEED™ Retail NC e CI: reconhece as diferentes necessidades e
características de uma loja de varejo, quando comparada a uma edificação
comercial e auxilia as diretrizes para a redução da pegada ecológica da
edificação. Esta tipologia do LEED aborda duas opções de certificação:
LEED for Retail NC, para Novas Construções ou Grandes Reformas em
29

Lojas de Varejo e; LEED for CI, para Interiores Comerciais, quando a loja
está localizada dentro de um edifício;
7) LEED™ Schools: reconhece o caráter único da concepção e construção de
escolas. Baseado no Sistema de Certificação LEED NC, aborda questões
como a sala de aula, acústica, planejamento central, prevenção contra mofo
e avaliação ambiental do local. Ao abordar a singularidade dos espaços
escolares e as questões de saúde infantil, LEED Schools fornece uma única
e abrangente ferramenta para as escolas que pretendem construir de forma
sustentável, com resultados mensuráveis;
8) LEED™ Healthcare: engloba todas as necessidades de um hospital, muito
distintas das de uma construção comercial. Estudos comprovam que, por
possuírem ambientes mais saudáveis e naturais, hospitais certificados
ajudam na recuperação do paciente, que inclusive é mais rápida que o
comum.

3.6.1.1. Estrutura do processo LEED


Esta certificação funciona para todos os edifícios e pode ser aplicado a qualquer
momento no empreendimento. Os projetos que buscam a certificação LEED v4 serão
analisados em 8 dimensões (exceto no caso do LEED ND), além da prerrogativa de ser
um projeto integrado (Integrative Process), um incentivo para que o projeto seja
desenvolvido por uma equipe multidisciplinar de profissionais, desde da concepção da
ideia do projeto. Todas as dimensões possuem pré-requisitos (práticas obrigatórias) e
créditos (recomendações) que a medida que são atendidos, garantem pontos à
edificação (GBC Brasil, 2017). O LEED possui cinco tipologias, que consideram as
diferentes necessidades de cada tipo de empreendimento:

I. LEED BD+C (Building Design and Construction): aplica-se a projeto e


construção de edifícios compreendendo novas construções ou grandes
reformas, escolas, lojas de varejo, data centers, galpões e centros de
distribuição, hospedagem e unidades de saúde;
II. LEED ID+C (Interior Design and Construction): aplica-se para design e
construção de interiores comerciais, lojas de varejo e hospedagens;
III. LEED O+M (Building Operations and Maintenance): aplica-se à operação e
manutenção de edifícios existentes, escolas, lojas de varejo, data centers,
galpões, centros de distribuição e hospedagem;
30

IV. LEED ND (Neighborhood and Development): aplica-se a novos projetos de


desenvolvimento de terrenos de uso residencial, uso não-residencial ou
misto. Os projetos podem estar em qualquer etapa do processo de
desenvolvimento, desde o planejamento conceitual até a construção.
V. LEED™ for Homes: aplica-se a residências unifamiliares ou multifamiliares
de pequeno e médio porte. Esta tipologia LEED não está disponível no
Brasil, portanto não será abordada adiante neste trabalho.

Figura 5: Tipologias LEED existentes no Brasil, versão LEED v4. Fonte: GBC Brasil (2017).

O empreendimento a ser certificado deve ser classificado em uma dessas tipologias


acima. Em seguida, o mesmo será avaliado em oito categorias. Essas categorias
possuem alguns critérios de desempenho, que devem ser seguidos pelo
empreendimento, divididos em pré-requisitos e créditos, que compõe-se de diretrizes e
incorporações de determinados dispositivos indicados pelo sistema (CORRÊA, 2011):

Pré-requisitos: são requisitos mínimos a serem atendidos pelo projeto, para que
o mesmo tenha direito a acumulação de pontos para certificação e, caso não
sejam atendidos, o projeto não poderá ser certificado.

Créditos: ações que o LEED sugere, sempre focadas em performance de


desempenho. A medida que o empreendimento assume tal ação, recebe esta
pontuação. A partir de um número mínimo de pontos a construção poderá ser
certificada.

No quadro 5, estão as oito categorias de avaliação (GBC Brasil, 2017):


31

Categorias Critérios relacionados


Incentiva a escolha de terrenos localizados em áreas
Location and
urbanas já bem desenvolvidas e adensadas, que
1 Transportation
oferecem variedade de comercio e transporte
(Localização e transporte)
alternativos aos carros, como ônibus e ciclovias.
Encoraja estratégias que minimizam o impacto no
ecossistema durante a implantação da edificação e
Sustainable Sites
2 aborda questões fundamentais de grandes centros
(Espaço sustentável)
urbanos, como permeabilidade do solo e das ilhas de
calor.
Water Efficiency Promove inovações para o uso racional da água, com
3 (Eficiência do uso da foco na redução do consumo de água potável e
água) alternativas de tratamento e reuso dos recursos.
Promove eficiência energética nas edificações por
meio de estratégias simples e inovadoras, como por
Energy & Atmosphere
4 exemplo simulações energéticas, medições,
(Energia e atmosfera)
comissionamento de sistemas e utilização de
equipamentos e sistemas eficientes.
Encoraja o uso de materiais de baixo impacto
ambiental (reciclados, regionais, recicláveis, de reuso,
Materials & Resources
5 etc.) e reduz a geração de resíduos, além de promover
(Materiais e recursos)
o descarte consciente, desviando o volume de
resíduos gerados dos aterros sanitários.

Promove a qualidade ambiental interna do ar,


essencial para ambientes com alta permanência de
Indoor Environmental pessoas, com foco na escolha de materiais com baixa
6 Quality (Qualidade emissão de compostos orgânicos voláteis,
ambiental interna) controlabilidade de sistemas, conforto térmico e
priorização de espaços com vista externa e luz
natural.

Incentiva a busca de conhecimento sobre Green


Buildings, assim como, a criação de medidas
Innovation (Inovação e
7 projetuais não descritas nas categorias do LEED. Seis
processos)
pontos de desempenho exemplar estão habilitados
para esta categoria.
Incentiva os créditos definidos como prioridade
Regional Priority regional para cada país, de acordo com as diferenças
8 (Créditos de prioridade ambientais, sociais e econômicas existentes em cada
regional) local. Quatro pontos estão disponíveis para esta
categoria.
Quadro 5: Categorias de avaliação LEED v4. Fonte: GBC Brasil (2017).

Com relação aos Créditos de Prioridade Regional, cabe ressaltar que nas versões
anteriores ao v4, estes eram válidos somente nos EUA, já que este sistema lá foi
desenvolvido obviamente considerando as particularidades deste país. Devido ao
crescimento da demanda internacional por esta certificação e em atenção à
32

problemática da utilização de critérios desconectados com a realidade dos outros


países, o USGBC criou o Leed International Program, para incentivar a tropicalização
do sistema.

De acordo com Corrêa (2011), o GBC Brasil solicitou ao USGBC a incorporação de


seis créditos regionais dedicados especificamente para as particularidades brasileiras.
Estes créditos foram desenvolvidos a partir de reuniões de Comitês Técnicos criados
exclusivamente para isto. Após diversas reuniões foram definidos os princípios dos seis
créditos regionais a serem adotados no Brasil:

1. Redução de desperdícios na obra;


2. Acessibilidade universal;
3. Mínima geração de impacto do canteiro de obras;
4. Redução do consumo de água através da medição setorizada;
5. Projetar para o desmonte;
6. Reduzir consumo de energia através do uso do chuveiro elétrico.

Todas as quatro tipologias assumem um total de 110 pontos possíveis a serem


conquistados a medida que o empreendimento for aplicando os créditos sugeridos pelo
LEED. Uma vez que cada tipologia trata de um tipo diferente de
edificação/empreendimento, alguns pré-requisitos e créditos (pontuações) variam em
cada tipologia e em cada categoria, de acordo com suas necessidades específicas,
conforme as tabelas 1 a 4:

TIPOLOGIA
LEED BD+C
Novas Entorno e Lojas de Data Galpões e Centro Unidades
Escolas Hospedagem
construções centro varejo Centers de distribuição de saúde
Projeto Integrado 1 1 1 1 1 1 1 1
I. Localização e transporte; 16 20 15 16 16 16 16 9
II. Espaço sustentável; 10 11 12 10 10 10 10 9
CATEGORIA

III. Eficiência do uso da água; 11 11 12 12 11 11 11 11


IV. Energia e atmosfera; 33 33 31 33 33 33 33 35
V. Materiais e recursos; 13 14 13 13 13 13 13 19
VI. Qualidade ambiental interna; 16 10 16 15 16 16 16 16
VII. Inovação e processos; 6 6 6 6 6 6 6 6
VIII. Créditos de prioridade regional. 4 4 4 4 4 4 4 4
Total de Pontos Possíveis 110 110 110 110 110 110 110 110

Tabela 1: Pontuação possível para o LEED BD+C v4, por categoria (no Brasil). Fonte: Adaptado de
GBC Brasil (2017).
33

TIPOLOGIA
LEED ID+C
Interiores Lojas de
Hospedagem
comerciais varejo
Projeto Integrado 2 2 2
I. Localização e transporte; 18 18 18
II. Espaço sustentável; 0 0 0

CATEGORIA
III. Eficiência do uso da água; 12 12 12
IV. Energia e atmosfera; 38 38 38
V. Materiais e recursos; 13 14 13
VI. Qualidade ambiental interna; 17 16 17
VII. Inovação e processos; 6 6 6
VIII. Créditos de prioridade regional. 4 4 4
Total de Pontos Possíveis 110 110 110

Tabela 2: Pontuação possível para o LEED ID+C v4, por categoria (no Brasil). Fonte: Adaptado de
GBC Brasil (2017).

TIPOLOGIA
LEED O+M
Edificações Lojas de Data Galpões e Centro
Escolas Hospedagem
existentes varejo Centers de distribuição
Projeto Integrado 0 0 0 0 0 0
I. Localização e transporte; 15 15 15 15 15 15
II. Espaço sustentável; 10 10 10 10 10 10
CATEGORIA

III. Eficiência do uso da água; 12 12 12 12 12 12


IV. Energia e atmosfera; 38 38 38 38 38 38
V. Materiais e recursos; 8 8 8 8 8 8
VI. Qualidade ambiental interna; 17 17 17 17 17 17
VII. Inovação e processos; 6 6 6 6 6 6
VIII. Créditos de prioridade regional. 4 4 4 4 4 4
Total de Pontos Possíveis 110 110 110 110 110 110

Tabela 3: Pontuação possível para o LEED O+M v4, por categoria (no Brasil). Fonte: Adaptado de
GBC Brasil (2017).

TIPOLOGIA
LEED ND
Projeto Integrado 0
I. Localização inteligente e conexões 27
CATEGORIA

II. Desenho de bairro 44


III. Infraestrutura verde e edificações 29
IV. Inovação e processo de projeto; 6
V. Créditos regionais; 4
Total de Pontos Possíveis 110

Tabela 4: Pontuação possível para o LEED ND v2009, por categoria (no Brasil). Fonte: Adaptado de
GBC Brasil (2017).

Vale observar que comparando estas tabelas podemos observar que nas tipologias
que utilizam as oito categorias padrão para avaliação do empreendimento (LEED BD+C,
LEED ID+C e LEED O+M), a maior possibilidade de pontuação é na categoria “Energia
e atmosfera”, ressaltando a maior preocupação do LEED com este aspectos.
34

Finalmente, dependendo da pontuação alcançada, são possíveis quatro níveis de


certificação: Certified (Certificado), Silver (Prata), Gold (Ouro) e Platinum (Platina);
sendo o Certified o mais básico e o Platinum o mais avançado de acordo com a seguinte
escala de pontuações fornecida pelo GBC Brasil (2017):

Figura 6: Níveis de certificação LEED. Fonte: GBC Brasil (2017).

3.6.1.2. Etapas para a certificação


O processo de certificação é feito pela internet, diretamente com o USGBC,
localizado nos Estados Unidos. O GBC Brasil destaca cinco etapas para este processo:

1. A escolha da tipologia do projeto;


2. O registro pelo site LEED Online;
3. O envio dos templates pelo LEED Online;
4. A análise do material enviado por uma empresa auditora e;
5. Caso tudo esteja conforme, o recebimento do aviso positivando a
certificação.

Figura 7: Etapas para a certificação LEED. Fonte: GBC Brasil (2017).

A USGBC recomenda que o formulário de certificação deve ser enviado completo


e de forma compreensível, além disso uma taxa de revisão do certificado deve ser paga
e então o mesmo será revisado pelo Green Business Certification Institute (GBCI), uma
instituição independente de terceira-parte.

Ao final da obra do empreendimento, é concedida a certificação final, após o GBCI


coordenar a análise do atendimento às categorias, seus pré-requisitos e pontos
possíveis. Esta verificação é feita com base nos dados inseridos no sistema e pelas
35

informações da base documental exigida pelo mesmo e enviada pelo representante do


empreendimento candidato à certificação. Ao longo do processo são feitas interações
necessárias entre o GBCI – órgão auditor dos dados enviados – e o representante do
empreendimento, normalmente um consultor, para verificar o atendimento aos critérios.

3.6.1.3. Referencial GBC Brasil Casa


Conforme visto no item 3.6.1.1, quando foram apresentadas as cinco tipologias
existentes na certificação LEED, o LEED™ for Homes não está disponível no Brasil.
Porém, com o intuito de abordar e avaliar diferentes questões de eficiência e
sustentabilidade em projetos residenciais foi criado o Referencial GBC Brasil Casa.

Desenvolvido pelo Comitê Técnico do Green Building Council Brasil formado por
profissionais de empresas associadas, professores universitários e gestores públicos
convidados, totalizando cerca de 200 voluntários, o referencial fornece as ferramentas
e conhecimento necessário para projetar, construir e operar residências e edifícios
residenciais que possuem alto desempenho econômico, social e ambiental.

Em linhas gerais, a estrutura desta certificação é semelhante àquela das


certificações LEED: o empreendimento é avaliado em 8 (oito) dimensões, cujas
pontuações máximas que podem ser obtidas em cada uma delas são as seguintes (GBC
Brasil, 2017):

Tabela 5: Pontuação possível por categoria para o Referencial GBC Brasil Casa. Fonte: GBC Brasil
(2017).
36

De maneira simplificada, o processo de certificação segundo o Referencial GBC Brasil


Casa se dá em 4 (quatro) etapas:

1. Registro: deve-se preencher o formulário de registro online disponível na página


do GBC Brasil, completando todo os espaços com as informações solicitadas.
2. Verificação: além de verificações in loco, a obra deve ser acompanhada e
fotografada em todas as etapas. O consultor, arquiteto e proprietário devem fazer
este acompanhamento para a comprovação dos créditos e pré-requisitos
posteriormente. Toda a documentação de suporte para comprovação de cada
crédito e pré-requisito também devem ser separadas conforme o andamento de
cada item. O GBC Brasil poderá a qualquer momento realizar verificações in loco
na obra.
3. Revisão: após juntar toda a documentação de suporte e ter preenchido todos os
formulários de atendimento de cada pré-requisito e crédito que será buscado
para a certificação, deve-se submeter todo o conjunto para revisão. Toda a
documentação recebida será revisada por uma empresa de terceira parte
especializada em auditoria técnica.
4. Certificação: após a conclusão da revisão, a somatória de pontos que o projeto
atingiu indicará um nível de certificação final, que tem 4 (quatro) níveis de
possíveis: Verde, Prata, Ouro e Platina. Então, o responsável pelo projeto
receberá o anúncio da conclusão da Certificação com a pontuação obtida e um
certificado, indicando o mérito alcançado.

Figura 8: Níveis de certificação Referencial GBC Brasil Casa. Fonte: GBC Brasil (2017).

3.6.2. Processo AQUA-HQE


O Processo AQUA-HQE, lançado em 2008, é uma certificação internacional da
construção sustentável desenvolvido a partir da certificação francesa Démarche HQE
(Haute Qualité Environnementale) e aplicado no Brasil exclusivamente pela Fundação
Vanzolini. Esta certificação propõe um novo olhar para sustentabilidade nas construções
brasileiras; seus referenciais técnicos foram desenvolvidos considerando a cultura, o
clima, as normas técnicas e a regulamentação presentes no Brasil, mas buscando
sempre uma melhoria contínua de seus desempenhos.
37

Figura 9: Selo Processo AQUA-HQE. Fonte: Fundação Vanzolini (2017).

Em 2013 foi criada a rede internacional de certificação HQE™, uma unificação de


critérios e indicadores para todo o mundo, que cria uma identidade de marca única
global, cujo órgão certificador passa a ser a Cerway, sempre fundamentado nas
premissas da certificação HQE™ francesa (Fundação Vanzolini).

A Fundação Vanzolini ao celebrar um acordo de cooperação com o Cerway passa


a ser a representante no Brasil da rede de certificação HQE e o Processo AQUA®
transforma-se em AQUA-HQE, uma certificação com identidade e reconhecimento
internacional que é objetiva e traz um reconhecimento com credibilidade de boas
práticas na construção e operação sustentável de edifícios; bem como a implementação
de atividades de planejamento sustentável de alta qualidade.

O processo AQUA® pode ser considerado o primeiro (no âmbito das certificações
ambientais mais abrangentes, conforme o conceito apresentado no item 2.2.1) para
qualidade ambiental de edifícios que propõe critérios adaptados para a realidade
ambiental brasileira, inserindo o Brasil numa rede mundial de países (de predominância
europeia) com suas próprias certificações.

3.6.2.1. Estrutura do Processo AQUA-HQE


O processo AQUA-HQE, estrutura-se em dois instrumentos complementares que
permitem avaliar o desempenho ambiental das edificações: o Sistema de Gestão do
Empreendimento (SGE) e a avaliação da Qualidade Ambiental do Edifício (QAE).

Sobre o primeiro, neste processo é fundamental que o empreendedor esteja


comprometido com o desenvolvimento sustentável desde o início do projeto, pois a
certificação requer implantação de um Sistema de Gestão do Empreendimento (SGE)
que trata da gestão a ser estabelecida pelo empreendedor para assegurar a qualidade
ambiental final de sua construção. O referencial do SGE disponível na página da
Fundação Vanzolini organiza-se em quatro estruturas (LACERDA, 2016):
38

i. Comprometimento do empreendedor, onde consta a descrição dos elementos


de análise solicitados para a definição do perfil ambiental do empreendimento e
as exigências para o atendimento ao comprometimento;
ii. Implementação e funcionamento, onde constam as exigências em termos de
organização e documentação, reponsabilidades, competências e comunicação;
iii. Gestão do empreendimento, que contém as exigências de monitoramento e
análises críticas dos processos, de avaliação da Qualidade Ambiental do Edifício
(QAE) e de correções e ações corretivas;
iv. Aprendizagem, que contém as exigências em termos de aprendizagem da
experiência e de balanço do empreendimento.

O Sistema de Gestão do Empreendimento (SGE) permite definir e avaliar a


qualidade ambiental visada para o edifício e organiza metodologicamente o
empreendimento para atingi-la.

A segunda estratégia para a obtenção da certificação é a avaliação da Qualidade


Ambiental do Edifício (QAE), que permite verificar em diferentes fases do
empreendimento, que o perfil visado é atingido. Para esta avaliação, o referencial
técnico do AQUA é estruturado em 14 (quatorze) categorias, agrupadas em quatro
temas que representam os desafios ambientais de um empreendimento novo ou
reabilitado (Fundação Vanzolini, 2016):

Energia e
Meio ambiente Conforto Saúde e Segurança
Economias
Categoria 1 Categoria 4 Categoria 8 Categoria 12
Edifício e seu entorno Energia Conforto Qualidade dos espaços
higrotérmico
Categoria 2 Categoria 5 Categoria 9 Categoria 13
Produtos Sistemas e Água Conforto acústico Qualidade do ar
Processos Construtivos
Categoria 3 Categoria 7 Categoria 10 Categoria 14
Canteiro de Obras Manutenção Conforto visual Qualidade da água
Categoria 6 Categoria 11
Resíduos Conforto Olfativo

Quadro 6: Categorias AQUA-HQE referentes à QAE do edifício. Fonte: Referencial técnico de


avaliação da QAE de Edifícios Não Residenciais em Construção. Fundação Vanzolini (2016).

Estas 14 categorias são desmembradas em subcategorias e cada subcategoria


possui preocupações associadas a cada desafio ambiental. A classificação do
desempenho das preocupações se dá por “Atende” ou “Não Atende” (NA) e alguns
39

critérios podem ser considerados como “Não Aplicáveis”, com uma regra de
combinações de níveis que culminam no resultado do nível de desempenho da
subcategoria. A classificação de desempenho das subcategorias, por sua vez, se dá por
bom (B), superior (S) ou excelente (E) e também possui uma regra de combinação por
níveis de desempenho, que resultam no nível de desempenho final da categoria, que
também é classificada como B, S ou E (CORRÊA, 2011). Dessa forma tem-se a seguinte
equação:

Preocupações + Subcategorias + Categorias = Certificação

Equação 1

O desempenho associado a cada uma das 14 categorias do AQUA-HQE pode ser


classificado, de acordo com a Fundação Vanzolini (2016), em três níveis: no nível Base,
Boas Práticas ou Melhores Práticas, cabendo ao empreendedor a definição das
categorias e seu nível de atendimento: classificação máxima, intermediária ou mínima,
dependendo do contexto e de sua estratégia de sustentabilidade.

Para cada critério técnico avaliado em cada uma das 14 categorias, são definidos
quatro níveis de desempenho:

1. MP: Melhores Práticas: nível calibrado em função dos desempenhos


máximos constatados em empreendimentos de Alta Qualidade Ambiental, mas se
assegurando que estes possam ser atingíveis;
2. BP: Boas Práticas: nível que corresponde às boas práticas;
3. B: Base (nível de entrada da certificação AQUA): nível que corresponde
ao desempenho mínimo aceitável para um empreendimento de Alta Qualidade
Ambiental. Isso pode corresponder à regulamentação se esta é suficientemente
exigente quanto aos desempenhos de um empreendimento, ou, na ausência desta,
à prática corrente;
4. NC: Não-conforme, quando o nível B não for atingido.

Para um empreendimento ser certificado AQUA-HQE, o empreendedor deve ter um


perfil mínimo de desempenho com 3 (três) categorias atendidas no nível Melhores
Práticas (MP), 4 (quatro) categorias atendidas no nível Boas Práticas (BP) e 7 (sete)
categorias atendidas no nível Base (B) (Fundação Vanzolini, 2016):
40

Figura 10: Perfil mínimo de desempenho para certificação AQUA-HQE. Fonte: Fundação Vanzolini
(2017).

Para obter a certificação da construção nova o empreendedor deve planejar e


garantir o controle total do desenvolvimento do empreendimento em três fases do
empreendimento: Pré-projeto (Programa), projeto (Concepção) e Execução
(Realização) (CORRÊA, 2011):

1. Fase pré-projeto: estabelece-se o programa de necessidades, o perfil de


sustentabilidade com os níveis de desempenho que o edifício pronto deverá
apresentar e o sistema de gestão do empreendimento, para viabilizar o
controle total do projeto a fim de garantir que esses objetivos sejam
alcançados. Tal perfil deve ser submetido à Fundação Vanzolini e caso seja
aprovado passará à etapa seguinte (projeto).
2. Fase projeto: consiste no desenvolvimento da concepção, do projeto do
empreendimento, para que a construção atinja os níveis de desempenho
programados. Avaliação mais objetiva do desempenho especificado no
projeto nas 14 categorias. A Fundação Vanzolini audita esta avaliação, e se
constatado o atendimento ao referencial técnico correspondente, emite o
certificado desta fase de concepção.
3. Fase de execução: consiste na fase de “realização” do empreendimento,
abrangendo a obra feita em acordo com o sistema de gestão e os projetos,
a fim de concretizar o perfil proposto. Deverá ser realizada uma nova auto-
avaliação no fim da construção, bem como a última auditoria por parte da
Fundação Vanzolini para verificar se o resultado final do projeto é o
desejado. Em caso positivo, é emitido o certificado de conclusão desta
etapa.

A Fundação Vanzolini faz 3 (três) auditorias presenciais e independentes ao longo


do desenvolvimento do empreendimento ao final de cada uma dessas fases, a fim de
verificar que todos os critérios de sustentabilidade foram atendido, assegurando e
41

atestando a conformidade do empreendimento às exigências de gestão e desempenho


definidas nos referenciais técnicos (LACERDA, 2016).

Figura 11: O processo de certificação AQUA-HQE e as três fases de auditoria. Fonte: Fundação
Vanzolini (2017).

De modo que certificação se dá em fases, o certificado da fase de pré-projeto é


valido até ser emitido o certificado da fase de projeto, e este por sua vez vale até sair o
certificado da fase de execução. O certificado final vale por um ano e não se renova
automaticamente. Nele fica especificada a fase avaliada e a respectiva data em que o
certificado foi concedido. Se ela ainda não foi avaliada, consta como “não avaliada”,
conforme modelo abaixo:

Figura 12: Modelo de certificado AQUA-HQE (frente). Fonte: LACERDA (2016).


42

Figura 13: Modelo de certificado AQUA-HQE (verso). Fonte: LACERDA (2016).

Vale lembrar que a Fundação Vanzolini disponibiliza diferentes referenciais técnicos


para o processo de certificação AQUA-HQE adaptados aos diferentes tipos de
edificações e empreendimentos, como por exemplo:

1. Edifícios residenciais em construção (versão 2016);


2. Edifícios não-residenciais em construção (versão 2016);
3. Bairros e loteamentos (versão 2011);
4. Operação e uso;
5. Hotéis, lazer e cultura;
6. Indústria e logística;
7. Comércio;
8. Organizações de saúde.

Nota-se que há diferenças entre os parâmetros e indicadores nos diferentes


referenciais. Por exemplo, obviamente as condições ideais de conforto em um escritório
são diferentes das de uma residência. Por outro lado, há elementos que configuram uma
preocupação em comum, como por exemplo a limitação da vazão de água e a adoção
de sistemas economizadores e são semelhantes em mais de um referencial.

3.6.3. Selo Casa Azul CAIXA


O Selo Casa Azul, criado no âmbito dos programas de incentivo ao desenvolvimento
sustentável da Caixa Econômica Federal (CEF), é uma metodologia de classificação
43

socioambiental de projetos de empreendimentos habitacionais financiados pela CAIXA,


onde são reconhecidas as propostas que apresentam soluções adequadas em relação
ao seu contexto, uso e tipo de edificação. É a forma que o banco encontrou de promover
o uso racional de recursos naturais nas construções e a melhoria da qualidade da
habitação. A principal missão do selo é reconhecer projetos que adotam soluções
eficientes na construção, uso, ocupação e manutenção dos edifícios (TRIANA e GHISI,
2013).

Figura 14: Selo Casa Azul CAIXA. Fonte: CAIXA (2017).

Ao se criar o Selo Casa Azul CAIXA, pretende-se incentivar o uso racional de


recursos naturais na construção de empreendimentos habitacionais, reduzir o custo de
manutenção dos edifícios e as despesas mensais de seus usuários, bem como
promover a conscientização de empreendedores e moradores sobre as vantagens das
construções sustentáveis. Este é o primeiro sistema de classificação da sustentabilidade
de projetos ofertado no Brasil, desenvolvido para a realidade da construção habitacional
brasileira (JOHN e PRADO, 2010).

O Selo se aplica a todos os tipos de projetos de empreendimentos habitacionais


apresentados à CAIXA para financiamento ou nos programas de repasse. Podem se
candidatar ao Selo as empresas construtoras, o Poder Público, empresas públicas de
habitação, cooperativas, associações e entidades representantes de movimentos
sociais (JOHN e PRADO, 2010).

3.6.3.1. Estrutura do Selo Casa Azul CAIXA


Fica disponibilizado para download na página online da CEF o manual “Selo Casa
Azul CAIXA – Boas Práticas para Habitação Mais Sustentável”. O guia está organizado
em duas partes. A primeira apresenta um panorama geral dos principais impactos
socioambientais da atividade da construção, bem como os critérios e os procedimentos
de avaliação do Selo Casa Azul, introduzindo um conceito fundamental na promoção da
sustentabilidade: o processo de definição da agenda do empreendimento. Já na
segunda parte, o este manual apresenta os capítulos relacionados aos critérios
44

(categorias) que estruturam o Selo Casa Azul, sendo apresentados e discutidos os


fundamentos de cada categoria e os critérios de análise.

De acordo com JOHN e PRADO (2010), no manual de boas práticas do Selo Casa
Azul CAIXA, o método utilizado pela CAIXA para a concessão do Selo consiste em
verificar, durante a análise de viabilidade técnica do empreendimento, o atendimento
aos critérios estabelecidos pelo instrumento, que estimula a adoção de práticas voltadas
à sustentabilidade dos empreendimentos habitacionais.

Existem três níveis de gradação possíveis para o Selo Casa Azul: ouro, prata e
bronze, cujas pontuações mínimas são as seguintes:

Gradação Atendimento mínimo


BRONZE Critérios obrigatórios
Critérios obrigatórios e mais 6
PRATA
créditos de livre escolha
Critérios obrigatórios e mais 12
OURO
créditos de livre escolha

Quadro 7: Pontuação mínima para os níveis de certificação Selo Casa Azul CAIXA. Fonte: CAIXA
(2017).

Figura 15: Níveis de certificação Selo Casa Azul CAIXA. Fonte: CAIXA (2017).

Projetos candidatos ao Selo devem apresentar alguns pré-requisitos como o


atendimento às regras dos programas operacionalizados pela CAIXA de acordo com a
linha de financiamento ou produto de repasse. Também é necessário que o proponente
apresente os documentos obrigatórios em cada caso, como projetos aprovados pela
Prefeitura, declaração de viabilidade de atendimento das concessionárias de água e
energia, alvará de construção, licença ambiental e demais documentos necessários à
legalização do empreendimento, por exemplo.
45

Além disso, o empreendimento deve atender às regras da Ação Madeira Legal;


apresentar até o final da obra o Documento de Origem Florestal (DOF); atender à NBR
9050 e o percentual mínimo de unidades adaptadas conforme legislação, no que diz
respeito a acessibilidade e; no que diz respeito a materiais e serviços, atender à norma
ABNT vigente sempre que existir.

No que diz respeito às categorias e critérios do Selo Casa Azul, ainda de acordo
com o manual do Selo, são avaliados 53 (cinquenta e três) critérios, distribuídos em 6
(seis) categorias que determinam a classificação do projeto nos seus 3 (três) níveis
possíveis (ouro, prata ou bronze):

Tabela 6a: Resumo das Categorias, critérios e classificação. Fonte: Selo Casa Azul: Boas Práticas
para Habitação Mais Sustentável, CAIXA (2010).
46

Tabela 6b: Resumo das Categorias, critérios e classificação. Fonte: Selo Casa Azul: Boas Práticas
para Habitação Mais Sustentável, CAIXA (2010).

É importante ressaltar que o nível bronze do Selo será concedido somente aos
empreendimentos cujo valor de avaliação da unidade habitacional não ultrapassar os
limites da tabela abaixo (Tabela 7). Caso os valores de avaliação sejam superiores a
estes limites, o empreendimento deverá se enquadrar, no mínimo, no nível prata.

Tabela 7: Limites de avaliação e localidades para o Selo Casa Azul nível bronze. Fonte: Selo Casa
Azul: Boas Práticas para Habitação mais Sustentável, CAIXA (2010).
47

As informações aqui descritas são provenientes do Manual disponibilizado pela


CAIXA no ano de 2010. No entanto algumas mudanças ocorreram: com o tempo
decorrido, alguns critérios de avaliação ficaram muito restritivos quando comparados à
norma de desempenho (ABNT NBR 15575) e ao PROCEL EDIFICA Residencial. Assim,
foi realizada uma revisão nos indicadores do Selo Casa Azul com o principal objetivo de
atualizar e adequar a metodologia às normas e diretrizes voltadas à elaboração de
projetos habitacionais.

De acordo com o documento “Mudanças Selo Casa Azul” da CAIXA, este deve ser
utilizado em complementação às referências do manual. De modo resumido, segue
abaixo a lista dos itens que sofreram modificações em suas recomendações:

Critério 1.1: Qualidade do entorno infraestrutura;

Critério 1.2: Qualidade do entorno – Impactos;

Critério 2.7: Desempenho térmico – Vedações;

Critério 2.8: Desempenho térmico – Orientação a sol e ventos;

Critério 2.10: Iluminação e ventilação natural de banheiros;

Critério 3.5: Medição individualizada de gás;

Critério 5.1: Medição individualizada de água;

Critério 5.8: Áreas permeáveis;

Critério Bônus: Foi criado um critério Bônus que contará como um critério de livre
escolha, proporcionando maior flexibilidade ao projeto na incorporação de itens
adicionais que contribuem para a pontuação e obtenção do Selo. O critério Bônus
consiste em itens de projeto não contemplados dentre os critérios do Selo e que
contribuem para a sustentabilidade do projeto, desde que previamente aprovados pela
CAIXA. Se aprovado, dá direito a pontuação.

3.6.3.2. Solicitação do Selo Casa Azul CAIXA


Tendo em vista que a adesão ao selo é voluntária, pode-se definir as seguintes
etapas (CAIXA, 2017):

1. Documentação: para obter o Selo, o proponente deverá manifestar o interesse


de adesão ao Selo Casa Azul CAIXA e apresentar os projetos, a documentação
e informações técnicas completas referentes aos critérios a serem atendidos
48

pelo projeto. Os documentos devem ser apresentados de acordo com os


modelos fornecidos pela CAIXA, sendo que todos devem estar coerentes entre
si, datados e assinados pelo responsável técnico e pelo representante legal.
2. Graduação: Somente após verificação e comprovação do atendimento ao
critério, o empregado responsável pela análise poderá definir o nível de gradação
do Selo a ser concedido ao projeto. Após a aprovação da documentação, a
CAIXA informa a graduação do selo alcançada e, no ato da contratação, emite o
atestado de concessão do selo.
3. Verificação: o atendimento aos itens propostos em projeto será verificado
também no curso do acompanhamento da obra, durante as medições mensais
ou em vistorias específicas.
4. Concessão do Selo: Após aprovação do projeto, a CAIXA informará ao
proponente a gradação alcançada pelo projeto. Na contratação da proposta, será
emitido um certificado de concessão do Selo Casa Azul CAIXA contendo o nível
alcançado: bronze, prata ou ouro.

3.6.4. PROCEL EDIFICA e Selo PROCEL Edificações


O Programa Nacional de Eficiência Energética em Edificações (PROCEL EDIFICA)
foi instituído em 2003 pela Eletrobras/PROCEL promove o uso racional da energia
elétrica em edificações desde sua fundação, com o objetivo de incentivar a conservação
e o uso eficiente dos recursos naturais (água, luz, ventilação, etc.) nas edificações,
reduzindo os desperdícios e os impactos sobre o meio ambiente (PROCEL INFO, 2017).

Buscando o desenvolvimento e a difusão desses conceitos, o Procel Edifica vem


trabalhando através de 6 (seis) vertentes de atuação: Capacitação, Tecnologia,
Disseminação, Regulamentação, Habitação e Eficiência Energética e Planejamento.

Figura 16: Selo do Programa PROCEL Edifica. Fonte. PROCEL INFO (2017).

Nesse contexto, faz-se necessário citar a existência do Programa Brasileiro de


Etiquetagem (PBE), criado em 1984 pelo Inmetro, que é composto por 38 Programas
de Avaliação da Conformidade em diferentes fases de implementação, que contemplam
desde a etiquetagem de produtos da linha branca, como fogões, refrigeradores e
49

condicionadores de ar até os veículos e as edificações. No que tange a este último


grupo, surge a Etiqueta PBE Edifica, desenvolvida em parceria entre o Inmetro e a
Eletrobras/PROCEL Edifica (PBE Edifica, 2017).

Figura 17: Origem da Etiqueta PBE Edifica. Fonte: PBE Edifica (2017).

As etiquetas podem ser obtidas para edificações comerciais, de serviços e públicas


(Figura 18) e edificações residenciais, sendo estas de 3 tipos: unidades habitacionais
autônomas (casas ou apartamentos), edificações multifamiliares e áreas de uso comum
(Figura 19).

Figura 18: Exemplo de etiqueta (ENCE) para edificação comercial, de serviço e pública. Fonte: PBE
Edifica (2017).
50

Figura 19: Exemplos de etiquetas (ENCE) para edificações residenciais. Fonte: PBE Edifica (2017).

3.6.4.1. Estrutura do PROCEL Edifica


Para o processo de emissão da Etiqueta PBE Edifica, que é feita por um Organismo
de Inspeção Acreditado (OIA) pelo Inmetro, para Eficiência Energética em Edificações
(EEE), foram desenvolvidos os seguintes documentos:

I. Requisitos Técnicos da Qualidade para o Nível de Eficiência Energética


de Edifícios Comerciais, de Serviços e Públicos (RTQ-C), publicado em
2009 e o;
II. Regulamento Técnico da Qualidade para o Nível de Eficiência
Energética de Edificações Residenciais (RTQ-R), publicado em 2010.

O RTQ-C especifica requisitos técnicos e métodos para classificação de edifícios


comerciais, de serviços e públicos quanto à eficiência energética. Este regulamento
aplica-se a edifícios com área útil mínima de 500m² incluindo edifícios condicionados,
parcialmente condicionados e não condicionados.

Já o RTQ-R especifica requisitos técnicos e métodos para classificação de


edificações residenciais quanto à eficiência energética realizados a partir de métodos
prescritivos ou de simulação (OLIVEIRA, 2014).

As edificações submetidas ao RTQ-R e ao RTQ-C deverão atender as normas da


ABNT vigentes e aplicáveis que seguem referenciadas nos métodos de avaliação do
desempenho energético das edificações avaliadas.

Com relação aos critérios de avaliação, ocorre que nos edifícios comerciais, de
serviços e públicos são avaliados três sistemas (PROCEL INFO, 2017):
51

1. Envoltória;
2. Iluminação e;
3. Condicionamento de ar.

Já os edifícios residenciais são avaliados com relação a:

1. Envoltória;
2. Sistema de aquecimento de água e;
3. Sistemas presentes nas áreas comuns dos edifícios multifamiliares, como
iluminação, elevadores, bombas, etc.

Além dessas categorias de avaliação principais – definidas para edifícios


comerciais, de serviços, públicos e residenciais – o sistema requer o cumprimento de
pré-requisitos e disponibiliza bonificações, que são pontos extras conquistáveis
mediante a superação da eficiência da edificação. Dessa forma, a etiqueta pode ser
concedida de forma parcial, desde que sempre contemple a avaliação da envoltória.

A etiqueta é concedida em dois momentos: na fase de projeto e após a construção


do edifício e o projeto pode ser avaliado de duas maneiras: por método prescritivo,
que utiliza equações, tabelas e parâmetros limites, todos descritos no RTQ-C e RTQ-R,
obtendo uma pontuação que indica o nível de eficiência parcial dos sistemas e total do
edifício; ou por meio de simulações que comparam o desempenho do edifício em
questão ao desempenho de edifícios referenciais de acordo com o nível de eficiência
pretendido, sua metodologia também é encontrada nos RTQ’s. Para avaliação do
edifício construído é realizada uma inspeção in loco (PROCEL INFO, 2017).

Como a Etiqueta PBE Edifica tem como principal informação a eficiência energética
da edificação, ela recebe o nome de Etiqueta Nacional de Conservação de Energia
(ENCE) e esta classificação do nível de eficiência energética de um edifício pode variar
de A (mais eficiente) a E (menos eficiente), estando relacionada à pontuação total
alcançada pelo edifício, calculada com base no resultado da avaliação de cada sistema
individual associado a um peso (exemplos deste selo podem ser vistos nas Figuras 18
e 19).

3.6.4.2. Selo PROCEL Edificações


O Selo PROCEL Edificações, estabelecido em novembro de 2014, é um
instrumento de adesão voluntária que tem por objetivo principal identificar as
edificações que apresentem as melhores classificações de eficiência energética em
uma dada categoria, motivando o mercado consumidor a adquirir e utilizar imóveis mais
52

eficientes. Este é um setor de extrema importância no mercado de energia elétrica,


representando cerca de 50% do consumo de eletricidade do País (PROCEL INFO,
2017).

Para obter o Selo, recomenda-se que a edificação seja concebida de forma eficiente
desde a etapa de projeto, ocasião em que é possível obter melhores resultados com
menores investimentos, podendo chegar a 50% de economia. A metodologia de
avaliação da conformidade está descrita no Regulamento para Concessão do Selo
Procel de Economia de Energia para Edificações, bem como nos critérios técnicos
específicos e baseiam-se no Regulamento Técnico da Qualidade para o Nível de
Eficiência Energética em Edifícios Comerciais, de Serviços e Públicos (RTQ-C) e no
Regulamento Técnico da Qualidade para o Nível de Eficiência Energética em
Edificações Residenciais (RTQ-R) do Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE Edifica)
(PROCEL INFO, 2017).

Assim como para a obtenção da etiqueta PBE Edifica, nos edifícios comerciais, de
serviços e públicos são avaliados três sistemas: envoltória, iluminação e
condicionamento de ar. Nas Unidades Habitacionais são avaliados: a envoltória e o
sistema de aquecimento de água.

O Selo Procel Edificações é outorgado tanto na etapa de projeto, válido até a


finalização da obra, quanto na etapa da edificação construída. Os Selos são emitidos
pela Eletrobras após a avaliação realizada por um Organismo de Inspeção Acreditado
(OIA) pelo Inmetro, com escopo de Eficiência Energética em Edificações (OIA-EEE).
Para obtenção deste selo, é necessário primeiramente obter a Etiqueta PBE Edifica,
classe A, para os três sistemas avaliados: envoltória, sistema de iluminação e sistema
de condicionamento de ar.

Figura 20: Selo PROCEL Edificações. Fonte: PROCEL INFO (2017).


53

3.6.4.3. Diferença entre a Etiqueta PBE Edifica e o Selo Procel


Edificações
De acordo com o PBE Edifica (2017), a Etiqueta PBE Edifica, que é outorgada
pelo Inmetro, evidencia o atendimento a requisitos de desempenho estabelecidos em
normas e regulamentos técnicos (RTQ’s). É um retrato do potencial de economia de
energia daquela edificação na etapa de projeto ou na etapa de edificação construída,
possibilitando o conhecimento do nível de eficiência energética das edificações. Para
os consumidores, a etiquetagem torna-se uma ferramenta importante na tomada de
decisão quando da compra de um imóvel, permitindo comparar os níveis de eficiência
entre uma edificação e outra. Portanto, trata-se mais de uma identificação do que um
certificado, considerando que ela apenas classifica o desempenho de uma edificação.

Por outro lado, o Selo Procel Edificações, outorgado pela Eletrobras, objetiva
premiar as edificações que apresentem as melhores classificações de eficiência
energética em uma dada categoria, classificações estas informadas através da Etiqueta
PBE Edifica. Este selo identifica as edificações que apresentem as melhores
classificações de eficiência energética em uma dada categoria. Sendo assim, só podem
receber o selo as edificações que obtiverem ótimo resultado na avaliação do programa
(RANGEL, 2015).

3.6.5. Comparação geral entre os programas


Conforme o que foi mostrado neste capítulo sobre cada um dos processos
abordados e a analisando os quatro sistemas de avaliação, é possível afirmar que cada
um deles possui características próprias, mas também possui critérios e indicadores
similares.

De modo geral, levando em consideração as circunstâncias de sua criação, tem-se


diferentes enfoques, metodologias de avaliação e auditoria e diferenciação entre as
tipologias de edificações abordadas por cada um. A tabela 8 apresenta uma síntese
comparativa entre os programas para permitir a realização de análise e seleção daquele
mais apropriado a cada situação.
54

LEED AQUA-HQE Selo Casa Azul PROCEL Edifica


País de Origem Estados Unidos Brasil-França Brasil Brasil
Instituição U.S. Green Building Fundação Vanzolini/ Caixa Econômica
Inmetro/ Eletrobras
Responsável Council (USGBC) USP Federal (CEF)
Adaptado ao
Não Sim Sim Sim
Brasil
Idioma Inglês Português Português Português
Quantidade de 8 + Projeto 14 divididas em 4 3 + Bonificações +
6
Categorias Integrado áreas Pré-requisitos
Preocupações que
Variável de acordo Variáveis de acordo
Quantidade de dependem do perfil
com a tipologia/ tipo 53 com as categorias e
Critérios definido pelo
de empreendimento tipologia
empreendedor
Critérios Classificação da
Atende
Qualificação dos obrigatórios + eficiência em faixas
Pontuação Não Atende (NA)
critérios pontuação de livre de acordo com os
Não Aplicável
escolha referenciais
Certified
Bom Bronze De A (mais eficiente)
Classificação Silver
Superior Prata ao E (menos
Final Gold
Excelente Ouro eficiente)
Platinum
Sustentabilidade
Eficiência
Ênfase em Sistema de Gestão econômica, Eficiência Energética
Energética
ambiental e social
Documental/ Documental/ Documental/
Modo de auditoria Documental
Presencial Presencial Presencial

Tabela 8: Comparativo básico entre os processos (adaptada). Fonte: CORRÊA (2011) e o autor.

3.6.5.1. Adaptação do selo à realidade brasileira


Começando pela análise da adaptação do selo à realidade brasileira, observa-se
que o modelo LEED aqui adotado é o mesmo usado nos EUA e que padrões de
adequação ao Brasil estão sendo discutidos. Vale lembrar que neste sentido, o LEED
possui créditos regionais que traduzem pontos mediante o atendimento a parâmetros
determinados por um comitê brasileiro de especialistas.

Nesse quesito, observando os modelos brasileiros, vê-se que o AQUA (modelo


brasileiro inspirado no francês HQE) possui indicadores cujos parâmetros foram
adaptados ao contexto local, incluindo neles valores em normas locais e outros
(CORRÊA, 2011). Por ser um sistema internacional adaptado as realidades e
características do Brasil, alguns critérios levam em consideração a viabilidade
econômica de serem adotados ou não. Para isto, o referencial AQUA exige a elaboração
do SGE para justificar as ações que não podem ser atendidas por questões de
inviabilidade econômica (OLIVEIRA, 2014).

Já o Selo Casa Azul é um sistema de avaliação elaborado para as características


de um país em desenvolvimento como o Brasil, considerando suas particularidades
55

sociais, econômicas e ambientais. Sendo assim, apresenta critérios que visam


contemplar todas as esferas da sustentabilidade em países em desenvolvimento. Isto
fica claro pela simplificação dos critérios que se baseiam em soluções simples e dentro
dos padrões econômicos do Brasil (OLIVEIRA, 2014). Finalmente, o PROCEL Edifica
segue a mesma linha do Selo Casa Azul, baseando-se nas normas brasileiras vigentes
relativas à eficiência energética de produtos e sistemas.

3.6.5.2. Classificação dos empreendimentos


No que diz respeito à classificação dos empreendimentos, não é possível fazer uma
correlação completa entre as classificações utilizadas por cada um dos modelos. O
LEED leva em consideração não somente a tipologia do empreendimento (lojas de
varejo, escolas, hospitais, residências, etc) mas também o estado cronológico do
mesmo (novas construções, grandes reformas, operação e manutenção de edifícios
existentes, etc). Já o AQUA-HQE disponibiliza seus referenciais somente de acordo com
as diferentes tipologias disponíveis para o mercado brasileiro (edifícios do setor de
serviços, edifícios habitacionais, indústria, hospedagem, etc.). Entre essas duas
certificações é possível fazer uma correlação parcial entre seus referenciais disponíveis.

Ainda com relação a essa classificação, o Selo Casa Azul somente disponibiliza um
manual geral para seu processo, e este selo somente se aplica a empreendimentos do
ramo habitacional, não contemplando outras tipologias. Diferente disto, o PROCEL
Edifica, disponibiliza dois referenciais distintos já explicitados no item 3.6.4.1: o RTQ-C
para edifícios comerciais, de serviço ou públicos e o RTQ-R para edificações
residenciais.

3.6.5.3. Metodologia de avaliação


Quando trata-se da metodologia de avaliação, existem diferenças substanciais
entre os modelos. Essas diferenças podem influenciar na escolha do processo de
certificação de acordo com as conveniências do empreendedor.

Sobre essas metodologias, analisando o LEED, que é baseado num sistema de


pontuação mínima a ser obtida para garantir a certificação, observa-se que o fato de
não ser necessário atingir todos os requisitos da lista, pode ocorrer um desequilíbrio
entre categorias nessa avaliação: o empreendimento pode ser muito bem avaliado em
certa categoria e ter cumprido apenas o que for pré-requisito em outra. No entanto, este
modelo (checklist) possui uma forma mais clara de classificação em créditos e critérios
56

de avaliação, de maneira mais objetiva (pontuação) para cada critério atingido. Este selo
possui critérios que valorizam o aspecto ambiental da sustentabilidade, dando atenção
aos recursos, materiais e energia, mas não valorizam tanto o aspecto social.

O processo AQUA-HQE pode ser considerado o mais complexo dentre os quatro,


uma vez que seus critérios estão subdivididos em Categorias, Subcategorias,
Preocupações, Indicadores e Critérios de Avaliação, que possuem uma metodologia de
avaliação mais subjetiva, com níveis “B”, “S” ou “E”. Neste modelo, cada categoria é
nestes níveis de acordo com seu desempenho, o que obriga o empreendimento a obter
um desempenho satisfatório não apenas em algumas categorias, mas em todas as
áreas, evitando o desequilíbrio entre as categorias. A metodologia dos referenciais
AQUA não é tão clara e explicativa, o que dificulta a aplicação dos critérios.

O Selo Casa Azul, assemelha-se ao LEED no fato de que sua estrutura de avaliação
também se dá por meio de um checklist, o que torna sua execução mais simples. Dentre
os sistemas analisados, o Selo Casa Azul possui a metodologia mais simplificada de
aplicação. Isto acontece não só pelos critérios que podem ser facilmente atendidos, mas
também pela clareza e detalhamento das informações apresentadas no guia.

Com relação ao PROCEL Edifica, os RTQ’s já apresentam em suas estruturas


originais a temática a ser discutida em torno da eficiência energética. Sendo assim,
apresentam uma metodologia de aplicação baseada em equações e cálculos que
conferem o desempenho ou nível de eficiência esperado para cada critério estabelecido.
Portanto, é um sistema cujos resultados e níveis de eficiência exigidos são adotados e
referenciados por outros sistemas (OLIVEIRA, 2014).

3.6.5.4. Enfoque
Sobre o enfoque de cada um dos modelos, é notório que o LEED e o PROCEL
Edifica são voltados para eficiência energética. O primeiro, apesar de considerar outras
7 (sete) categorias de interesse, sempre apresenta em seus referenciais uma
quantidade maior de pontos possíveis de serem obtidos (entre 30 e 40) na categoria
“Energia e Atmosfera” (tabelas 1, 2 e 3). Já o PROCEL Edifica é voltado completamente
para eficiência enérgica, tendo inclusive como selo que identifica o nível de classificação
a Etiqueta Nacional de Conservação de Energia (ENCE).

No caso do AQUA-HQE, é clara sua preocupação com as questões ambientais,


econômicas, de conforto, saúde e segurança. A exigência da elaboração do SGE
também evidencia que alguns critérios levam em consideração a viabilidade econômica
57

de serem adotados ou não, justificando as ações que não podem ser atendidas por
questões de inviabilidade econômica.

O Selo Casa Azul foi desenvolvido considerando a realidade brasileira e apresenta


critérios que visam contemplar todas as esferas da sustentabilidade (ambiental,
econômica e social) em países em desenvolvimento. Além disto, possui como
característica que o difere dos outros sistemas a preocupação com as práticas sociais,
ou seja, iniciativas que incluem a sociedade local e os trabalhadores em todo o processo
de projeto e execução do empreendimento (OLIVEIRA,2014).

3.6.5.5. Validade e fases de certificação


Com relação a validade e fases de certificação destes modelos, sabe-se que o
certificado LEED é concedido na conclusão da obra, via auditoria que verifica se os pré-
requisitos e pontuação obtidas na fase de projeto se mantém. Este certificado não
possui data de expiração, salvo no caso da certificação LEED EB-OM que tem duração
de 5 anos, uma vez que a certificação é focada na Operação e Manutenção do
empreendimento.

O processo AQUA-HQE, por sua vez, é concedido ao fim de cada fase a ser
avaliada: pré-projeto, projeto e execução. Cada certificado das duas primeiras fases é
valido até a emissão do certificado da fase seguinte. O último (fase de execução) tem
validade de 1 (um) ano e não se renova automaticamente.

O Selo Casa Azul é concedido após a aprovação da documentação enviada à CEF


e verificação do atendimento aos itens propostos durante o decorrer da obra com
vistorias e medições presenciais. No caso de inconformidade, caso o proponente de
empreendimento contemplado com o Selo Casa Azul não tome as providências para
sanar as mesmas dentro do prazo estabelecido, este sofrerá uma suspensão imediata
da autorização para utilização do mesmo, ficando impedido de concorrer ao Selo Casa
Azul CAIXA por um prazo de dois anos (CAIXA, 2010). Como este selo é usado também
como requisito para algumas linhas de financiamento da CEF, é concedido ainda antes
da construção, e portanto, caso corra tudo conforme o planejado, após a entrega do
empreendimento não há prazo de validade para este o Selo Casa Azul.

A etiqueta do PROCEL Edifica é concedida em dois momentos: na fase de projeto


e após a construção do edifício. Apesar de não ter data de validade, o uso desta etiqueta
pode ser suspenso no caso de modificações na edificação que causem uma redução no
58

índice de eficiência energética antes aprovado pela OIA contratada para o processo de
concessão do selo.

3.6.5.6. Interações entre o PROCEL Edifica e as Certificações


Internacionais
De acordo com o PROCEL INFO (2017), o Selo Procel Edificações pode ser
utilizado como caminho alternativo para a comprovação do atendimento ao pré-requisito
de desempenho energético mínimo no processo de obtenção da certificação. O critério
de equivalência é válido para edificações comerciais, públicas e de serviços localizadas
em todo o território nacional, exceto as destinadas à assistência médica, data centers,
instalações industriais, armazéns e laboratórios.

Os projetos registrados no país podem utilizar o Selo Procel Edificações para


comprovar a conformidade com as exigências do pré-requisito EAp2 (Minimum Energy
Performance), da dimensão de Energia e Atmosfera, eliminando uma etapa e
contribuindo para acelerar e facilitar o processo.

A Etiqueta PBE Edifica é utilizada como referência, pela certificação AQUA-HQE,


para avaliação das edificações residenciais e não residenciais. Os regulamentos RTQ-
R e RTQ-C são utilizados como parâmetro para alguns requisitos a serem atendidos
para os níveis de eficiência energética de edificações do AQUA-HQE conforme cada
tipologia avaliada. Para os edifícios residenciais há equivalência nas categorias “Gestão
de Energia”, “Conforto Higrotérmico” e “Qualidade sanitária do ar”. Já para as
edificações comerciais, de serviços e públicas, a equivalência pode ser encontrada nas
categorias “Gestão de Energia” e “Conforto Higrotérmico”.
59

4. METODOLOGIAS DE IMPLANTAÇÃO PARA CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL DE EDIFICAÇÕES


NO BRASIL

Considerando que um certificado de qualidade ambiental de edificações é uma


ferramenta para demonstrar o atendimento às demandas da sociedade e,
consequentemente, um diferencial mercadológico, torna-se evidente que ele exerce
influência sobre a concepção de projetos e práticas construtivas de empreendimentos
brasileiros. Dessa maneira, neste capítulo são mostradas as dificuldades encontradas
no mercado brasileiro e as principais ações adotadas como metodologias de
implantação pelas equipes responsáveis pelo desenvolvimento desses
empreendimentos para que o processo de certificação ocorra de maneira efetiva ao
longo das suas diferentes fases.

4.1. Processos e práticas de projeto


Levando em conta que boa parte dos problemas encontrados no setor da construção
civil brasileira são gerados na etapa da elaboração de projetos, percebe-se que os
estudos sobre este processos não são tão aprofundados pelos especialistas quando
comparados com a etapa de construção. Dentre as etapas do processo construtivo
(concepção e construção), a etapa de construção recebe maior parte da atenção das
pesquisas, buscando melhorar o seu desempenho tanto em termos de gerenciamento
quanto de técnicas construtivas.

Tal desequilíbrio pode-se dever ao fato de que o projeto corresponde em média de


3% a 10% do custo total da edificação. Porém, é no desenvolvimento dele que se
determina cerca de 70% a 80% do custo do ciclo de vida da edificação. Além disso,
trata-se de um processo complexo, que envolve um grande número de pessoas
tomando muitas decisões em um determinado período de tempo e; a troca de
informações entre os profissionais, frequentemente informal e não documentada
(CORRÊA, 2011).

Diante do cenário ambiental, o processo de concepção do projeto torna-se cada vez


mais multidisciplinar, contando com um amplo leque de profissionais, o que potencializa
as dificuldades citadas nos parágrafos anteriores deste item. Vale ressaltar que as
adaptações da edificação ao contexto, mediante o programa de certificação, acontecem
nesta etapa e; uma gestão adequada com abordagem sistemática de todo o processo
de projeto, integrando o programa e a concepção é essencial para garantir o progresso
da construção e evitar os impactos da edificação sobre o contexto local.
60

Com o crescente mercado brasileiro das certificações ambientais de edificações, no


âmbito da fase de projeto observa-se que as exigências dos certificados e a prática da
sua aplicação proporcionam uma valorização desta etapa, obrigando os projetistas a
oferecerem informações mais precisas, baseadas em estudos e simulações. Verifica-
se, portanto, que um empreendimento ao participar de um processo de certificação,
requer maior cuidado com o nível das informações disponibilizadas no projeto, uma vez
que é necessário fornecer informações mais detalhadas, memórias mais completas,
exigidas pelos critérios do programa.

Como consequência dessa maior atenção voltada ao projeto, o tempo


disponibilizado para esta etapa passa a ser maior. Isto pode ser encarado como um
alívio aos projetistas e arquitetos brasileiros, normalmente acostumados com pouco
tempo disponível para apresentar melhorias nas soluções propostas. Esta é uma
melhoria identificável a partir do momento em que os projetistas começam a utilizar o
processo de certificação para propor opções e simular propostas, exigindo também uma
maior capacitação profissional e maior disponibilidade de simuladores para auxílio ao
projeto.

4.1.1. Agenda do empreendimento


A criação, por parte da equipe de projeto, de um documento que tem por objetivo
identificar os aspectos socioambientais relevantes para o empreendimento em questão,
servindo de guia para selecionar ações a serem adotadas, considerando- se os recursos
disponíveis e as características dos usuários pode ser chamada de “agenda do
empreendimento”. Este termo é definido no manual de implantação do Selo Casa Azul
CAIXA mas, uma vez que esta agenda resulta de uma análise de caráter ao mesmo
tempo técnico, econômico e social entre o proponente e sua equipe de projeto e, se
possível, clientes diretos e indiretos; considerando o contexto brasileiro, pode ser uma
ferramenta útil na concepção de projetos que queiram receber outras certificações
ambientais. O grau de sustentabilidade socioambiental do empreendimento vai
depender da qualidade do processo de formulação da agenda. É recomendável que a
agenda do empreendimento esteja inserida na metodologia de gestão socioambiental
da empresa, que cria condições gerenciais para a implantação das ações priorizadas
(JOHN e PRADO, 2010).
61

4.1.2. Consultorias para projeto


Com o crescente destaque da figura do “especialista” nas propostas de soluções
para os problemas ambientais, a consultoria tornou-se uma ferramenta importante e
necessária para os escritórios de projeto, agilizando este processo e conferindo um
caráter mais abrangente, uma vez que as informações nele contidas são uma mistura
de soluções arquitetônicas e ambientais, contando com equipes multidisciplinares
conforme visto no item anterior.

Nesse contexto, observa-se um aumento nas solicitações de consultorias para o


projeto. Por exemplo, alguns empreendimentos, sabendo que terão que passar por
simulações para comprovar desempenho em determinado critério, começam a
incorporar com mais atenção soluções relativas à este critério e que materiais devem
ser especificados para facilitar a certificação.

Mesmo que o empreendimento não busque a certificação, nota-se que,


acompanhando a demanda de mercado e sabendo que isto pode ser uma exigência do
cliente, os projetistas brasileiros começam a pensar nos critérios que os referenciais
podem vir a exigir, caso ocorra a candidatura a uma certificação. Portanto, surgem
muitas consultorias para o que pode ser classificado como “projeto certificável”,
contribuindo para a absorção dos conceitos sustentáveis.

Por outro lado, não necessariamente esta incorporação dos conceitos sustentáveis
esteja ocorrendo, mas sim uma relação de dependência com o consultor, uma vez que
ainda existem projetos ditos “comuns” e os “para certificação”. Esta dependência pode
ser nociva para a disseminação dos conceitos, podendo gerar uma diferenciação
mercadológica para quem conta com esse serviço de consultoria, que pode ser visto
como elitizado, quando na verdade deveria ser internalizado por todos (CORRÊA,
2011).

4.1.3. Etapas metodológicas


As etapas metodológicas previstas neste item para a fase de desenvolvimento de
projeto representam boas práticas e naturalmente devem ser adaptadas ao porte e
peculiaridades culturais de cada empresa e aos aspectos técnicos e complexidade
inerentes ao empreendimento a ser desenvolvido.

4.1.3.1. Coordenação de projetos


Deve ser estabelecido o perfil profissional desejado com a definição da formação,
experiência e habilidades técnicas e comportamentais requeridas pelas especificidades
62

do projeto a ser desenvolvido. Em seguida deve ser selecionado com base no perfil, o
profissional a ser designado.

4.1.3.2. Planejamento do desenvolvimento do projeto


Antes do início do projeto devem ser elaborados:

a) o planejamento do desenvolvimento do projeto com a definição da estrutura


analítica de projeto (EAP), cronograma físico, cronograma físico financeiro, definição de
responsáveis, etc.

b) o Perfil de Desempenho da Edificação (PDE) com a descrição do conjunto de


requisitos dos usuários; os requisitos legais; os níveis de desempenho a serem atingidos
em conformidade com a norma de desempenho (NBR 15575:2013) e os requisitos
ambientais específicos tomando como base no modelo de conformidade estabelecido
pela certificação desejada.

c) os itens de controle a serem verificados durante a elaboração do projeto.

4.1.3.3. Execução do projeto e controle da qualidade


Durante o desenvolvimento do projeto deve ser realizada a compatibilização,
análise crítica, verificação da conformidade com o PDE e quando requerido a validação
do projeto.

Estas atividades, quando são utilizados programas informatizados de


gerenciamento de projetos, ficam bastante facilitadas uma vez que os projetos podem
ser avaliados on line concomitantemente pelo coordenador do projeto e demais
projetistas mesmo que não estejam em um mesmo ambiente. Não estando disponível
essa modalidade devem ser realizadas reuniões com os principais intervenientes
envolvidos na disciplina de projeto em análise.

Registros das alterações e deliberações devem ser efetuados para garantia do


controle do progresso e histórico do projeto. O registro pode ser feito no programa
informatizado, quando este for utilizado ou em atas de reunião ou ainda em listas de
verificação elaboradas com base nas exigências do PDE.

4.1.3.4. Previsão da flexibilidade e adaptabilidade do projeto


Os projetistas devem considerar que o projeto da edificação deve atender a
demandas como a desmontagem, reciclagem e reutilização dos componentes da
mesma, de modo que o consumo de materiais, do ponto de vista econômico e
63

energético, seja reduzido. Podem ser utilizados conceitos como modulação e


racionalização nesse sentido.

Levar em conta a previsão de soluções que facilitem mudanças futuras no interior


da edificação, em ocupação, envoltória, sistemas técnicos e fornecimento de energia,
em função da evolução das tecnologias, possui grande importância ao se considerar
que a vida útil de uma edificação é maior que 60 anos, e que alguns de seus
subsistemas tem duração inferior a 10 anos, de modo que atualizações são necessárias
em alguns momentos (MONTES, 2005).

4.2. Processos construtivos


Uma das dificuldades no processo construtivo da construção civil e também uma
característica peculiar do setor é o grande número de intervenientes, cada um deles
com diferentes interesses, tornando a coordenação global do empreendimento algo
bastante complexo.

Dessa forma, uma oportunidade de melhoria pode ser encontrada na adoção de


sistemas de gestão (no caso da certificação AQUA-HQE, um critério obrigatório), que
pode ajudar a promover a organização e a racionalização do processo construtivo, bem
como a incorporação de um comportamento mais sustentável no canteiro de obras.

Apesar do que se poderia esperar (já que os sistemas de gestão significam, a


princípio, uma incorporação de custos maiores), não se verificou, na prática da aplicação
dos certificados, uma resistência muito grande; por parte das construtoras em relação a
este tipo de exigência. Ao contrário, muitas delas veem a certificação (em especial o
AQUA) como uma oportunidade de incorporar sistemas de gestão.

4.2.1. Materiais
Nota-se como ponto positivo o fato de que, diante das exigências dos processos de
certificação, o fornecedor brasileiro passa a ser questionado não somente sobre prazos
e custos, mas também sobre a procedência de sua matéria prima e sobre a formalidade
dos serviços empregados para produzi-la, perguntas com as quais muitas vezes não
está acostumado e não sabe responder.

Esbarra-se então no seguinte problema que: perante esses questionamentos,


muitos fornecedores reproduzem informação equivocadas, sem nenhuma relação com
o contexto, apenas para se manterem competitivos, considerando somente a pontuação
que podem receber através do atendimento aos critérios dos processos de certificação.
64

Desta forma, utiliza-se muitas vezes estas informações como “propaganda verde”
enganosa, já que a intenção muitas vezes é somente conseguir o certificado (LANNOY,
2013).

Pode-se afirmar que as preocupações com as escolhas são inerentes à


disponibilidade local, preocupação local de preservação destes recursos e aos impactos
locais que sua extração e industrialização podem produzir. É importante que o setor
responsável pela aquisição de materiais documente e comprove a utilização apenas de
produtos fabricados por empresas classificadas como “qualificadas” pelo Ministério das
Cidades e por programas como o Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade no
Hábitat (PBQP-H).

Ainda sobre os materiais utilizados no canteiro de obras, faz-se necessária a busca


por soluções que resultem na redução das perdas de materiais ou na melhoria da gestão
dos resíduos, ações que apresentam o potencial de reduzir o custo de construção. Esta
economia pode financiar soluções mais caras, sem que haja aumento do custo da obra.

As perdas de materiais de construção são definidas como a quantidade de material


utilizada além daquela estritamente necessária para realizar o serviço. As causas das
perdas incluem problemas de gestão, decisões de projeto e erros de execução. As
perdas aumentam o consumo de materiais e a geração de resíduos, inclusive na
demolição. De uma forma geral, as perdas não podem ser desprezadas, seja do ponto
de vista ambiental seja do econômico (OLIVEIRA, 2014).

4.2.1.1. Uso de elementos pré-moldados


O uso de pré-moldados na execução de lajes, vigas e pilares pode representar uma
redução drástica nos materiais utilizados na obra. Por serem fabricadas em usinas
especializadas, a quantidade de concreto dosado e de armadura utilizada costuma ser
a ideal de acordo com o especificado em projeto nos critérios de resistência das peças.
Com isso as perdas são reduzidas em relação às que ocorrem com elementos
concretados in loco.

Entretanto, a maior redução no uso de materiais ocorre com as formas. O desgaste


continuo deste material, no processo de forma e desforma, que ocorre no processo
tradicional, reforçado pela falta de cuidado comum em canteiros de obra, gera resíduos
de madeira e diminuição do tempo de vida útil da mesma. Por serem utilizadas,
geralmente, formas metálicas (mais duráveis) nas fábricas de pré-moldados, esse
consumo é muito menor (JESUS, 2014).
65

4.2.2. Gestão de resíduos


A Resolução n.307 (2002) do CONAMA estabelece que grandes geradores, como
os construtores, devem estabelecer um plano de gestão de resíduos de construção para
cada empreendimento. O plano deve incluir a segregação dos resíduos em diferentes
classes, incluindo, dentre elas, a dos resíduos perigosos. A gestão dos resíduos em
canteiro de acordo com a resolução reduz os custos de deposição, melhora a
organização do canteiro e os processos produtivos, e é economicamente viável.

A utilização de materiais que utilizam resíduos como matérias-primas têm um


enorme potencial para reduzir o impacto associado às atividades de extração e, algumas
vezes, diminuir o impacto de fabricação. A utilização de usinas de reciclagem de
resíduos pode ser adotada para estes fins de beneficiamento dos mesmos. Este é o
caso, por exemplo, dos metais reciclados e dos cimentos contendo cinzas volantes e
escórias de alto-forno (LANNOY, 2013).

Outra ação que pode ser tomada pelo construtor é exigir a rastreabilidade dos
resíduos através de controle, bem como registro dos processos de seleção da
transportadora. Isso faz sentido no Brasil, já que a informalidade documental deve ser
tratada com atenção.

4.3. Treinamentos
A implementação de um sistema de gestão para a obtenção de uma certificação
ambiental envolve, muitas vezes, mudanças culturais na organização, o que é algo a
que se deve prestar atenção. Nesta fase, a capacitação e o desenvolvimento de ações
de apoio são necessárias para o efetivo cumprimento dos objetivos e metas ambientais.

Além disso, todas as fases do empreendimento necessitam do comprometimento de


todos os envolvidos, sobretudo com as questões ambientais. Sendo assim, a
empreendedor deve identificar a necessidade de treinamentos, conscientizando e
capacitando seus colaboradores para que estes possam exercer suas funções de
acordo com as necessidades do sistema de certificação ambiental almejado.

4.3.1. Criação de Programas


Por meio da criação de programas de treinamento, desenvolvidos pela própria
equipe responsável pelo projeto, pode-se realizar a capacitação de moradores do
entorno para atuarem na obra. Assim, colabora-se para o desenvolvimento das regiões
onde está inserido o empreendimento e atender às demandas de do próprio negócio.
66

4.3.2. Criação de um Plano de Educação Ambiental


Um equipe pode ser designada para a elaborar um Plano de Educação Ambiental,
instituindo um sistema de educação ambiental para integrantes e parceiros em todos os
níveis organizacionais. Eventos realizados no canteiro, fazendo a conexão entre as
atividades de obra e de todos os envolvidos, contando com listas de presença para
efetuar este controle formal dos participantes.

Possíveis temas a serem abordados são: visão geral de meio ambiente, coleta
seletiva, contaminação de solos, qualidade do ar nos sistemas de obra, preservação
dos corpos d’água, produtos contaminantes, benefícios de um edifício sustentável,
fauna, aquecimento global, etc.

4.4. Comunicação
Deve-se estabelecer um sistema de comunicação eficiente que alcance todos os
agentes envolvidos, sejam eles participantes da equipe do empreendimento ou outras
partes interessadas, como os futuros proprietários e a vizinhança do empreendimento
(com canais específicos). É preciso definir o que comunicar a cada um, em função das
responsabilidades específicas.

As informações necessárias ao cumprimento das exigências de um sistema de


certificação são, por vezes, complexas para serem comunicadas àqueles que participam
do empreendimento, pois tratam de temas nem sempre conhecidos e dominados. Um
mal entendimento pode comprometer todo um esforço anterior. Assim, os canais de
comunicação devem ser adaptados às partes envolvidas e ao tipo de comunicação a
ser divulgada: sistemas baseados no uso da tecnologia de informação e comunicação;
a murais e cartazes; ou mesmo comunicação oral, em reuniões com os usuários e
vizinhos, por exemplo. As comunicações de informações críticas, sobretudo as de
natureza socioambiental, devem ser registradas (JOHN e PRADO, 2010).

4.5. Normatização
No Brasil, a falta de procedimentos homogêneos de projeto, execução, controle,
uso e manutenção de elementos tradicionais das edificações é um dos problemas para
o estabelecimento de contratos na construção civil, seja entre agentes públicos ou
privados.

Mesmo que esta normalização técnica seja importante, ela não é suficiente,
devendo ser complementada por documentos do tipo caderno de encargos, manuais
67

técnicos, especificações de desempenho e procedimentos de programas de qualidade.


Assim, cada agente da cadeia produtiva – construtoras, incorporadoras, empreiteiras,
sindicatos, fabricantes, escolas de engenharia, financiadoras de imóveis – define seus
próprios padrões e que são semelhantes, mas não são iguais ou padronizados.

De qualquer maneira, as normas brasileiras representam o conhecimento oficial


consolidado por diversos setores da sociedade e, por isso, sua incorporação nos
certificados para qualidade ambiental de edifícios é importante. Por isso, alguns
processos normativos e até mesmo normas são naturalmente incorporados aos
certificados, naturalmente levando em consideração o contexto do país onde se
originaram os certificados (CORREA, 2011).

Dessa forma, o construtor quando procura atender às normas de qualidade


brasileiras (por exemplo, a ABNT NBR 15575) já está garantindo um passo em direção
a uma possível certificação futura, uma vez que isto pode ser considerado um pré-
requisito dependendo dos critérios a serem avaliados nos diferentes programas.

4.6. Controle de documentos e de registros


A equipe do projeto deve se preocupar em implementar um mecanismo gerencial
que assegure que as informações contidas nos documentos sejam confiáveis e estejam
sempre disponíveis para as pessoas que delas devem se servir. Quando o
empreendedor busca alcançar um determinado desempenho, deve-se evitar o uso de
documentos não aprovados (por exemplo, um projeto ainda não finalizado), mal
identificados (falta de legenda, data de emissão, versão, etc.) e desatualizados (versão
anterior).

Toda a documentação do projeto candidato à determinada certificação deve ser


conferida, buscando uma coerência entre todas as peças técnicas apresentadas. Além
disso, as peças técnicas devem estar legíveis e assinadas pelos responsáveis técnicos
e proponentes. Isso é particularmente importante quando considerados os diversos
documentos que caracterizam o empreendimento, como por exemplo: projetos,
detalhamentos, seleção dos projetistas, documentos contratuais, atas das reuniões do
canteiro de obras, manual de orientação para futuros usuários sobre o uso e operação
do edifício, decisões e ações decorrentes das modificações, ações corretivas
implementadas, entre outros (JOHN e PRADO, 2010).
68

4.7. Monitoramento
O empreendedor deve implementar um método de monitoramento e análises que o
assegure da capacidade dos processos em alcançar os resultados planejados. Quando
os resultados planejados não são alcançados, devem ser efetuadas as correções e as
ações corretivas.

Este mecanismo deve cobrir as diferentes fases do empreendimento, envolver os


demais agentes envolvidos e, principalmente, focalizar-se nas atividades das quais
dependa o alcance do desempenho ambiental visado. Para isto deve-se assegurar que
os serviços sejam executados conforme o contrato assinado com os vários agentes;
monitorar e medir as principais características e atividades que podem comprometer a
obtenção do desempenho esperado e; verificar se estas medidas e os ensaios previstos
são realizados segundo as condições definidas nos contratos (OLIVEIRA, 2014).

4.8. Correções e Ações Corretivas


É recomendável que o proponente estabeleça e mantenha um procedimento para
efetuar as correções, caso o desempenho fixado em um ou mais critérios da certificação
não for alcançado. As ações corretivas visam a eliminar as causas da não conformidade,
de forma a evitar sua repetição.

Quando o construtor concluir que nenhuma correção é possível de ser feita segundo
condições econômicas e técnicas aceitáveis, ele poderá pensar numa modificação da
perfil definido em projeto para aquele critério, desde ela continue a atender às
exigências mínimas da classificação solicitada ou obtida pelo projeto.

4.9. Melhoria contínua


Ao final do empreendimento, é importante que se faça um balanço da experiência
(soluções empregadas, desvios constatados, dificuldades encontradas e formas de
superá-las, desempenho dos agentes contratados, etc.). Isso permitirá a implementação
de soluções já testadas e ações de melhoria no sistema de gestão para
empreendimentos futuros.
69

5. ANÁLISES DE EDIFICAÇÕES BRASILEIRAS AMBIENTALMENTE CERTIFICADAS

5.1. Aspectos Gerais


As análises dos processos de certificação de edificações brasileiras feitas neste
capítulo foram realizadas através de pesquisas sobre cases de sucesso de certificações
ambientais de edificações no Brasil. Dessa maneira, vale ressaltar que todas as
certificações apresentadas no item 3.6 – LEED, AQUA-HQE, Selo Casa Azul CAIXA e
PROCEL Edifica – como as mais utilizadas no país, normalmente, disponibilizam em
duas páginas oficiais na internet, uma lista com os empreendimentos já certificados e
em processo certificação, até mesmo como forma de promoção desses certificados,
bem como divulgação de empreendimentos sustentáveis. Assim, é possível encontrar
esses empreendimentos e informações básicas como o nome, a consultoria contratada,
data de certificação, nível alcançado, etc.

O autor deste estudo não teve participação nos projetos que são, aqui, usados
como objetos de estudo. Este fato certamente foi a maior dificuldade encontrada pelo
mesmo ao realizar esta pesquisa, uma vez que organizações como, por exemplo, a
Fundação Vanzolini (AQUA) e o GBC Brasil (LEED), responsáveis oficiais pela emissão
de certificados no Brasil, não disponibilizam documentos que apresentem muitos
detalhes sobre as etapas construtivas e ações adotadas pelos empreendimentos para
obter as certificações. Também foi encontrada certa dificuldade de contato com as
empresas responsáveis pelas consultorias de projeto prestadas aos empreendimentos,
bem como com profissionais responsáveis por edifícios atualmente em construção e
processo de certificação, para e realizar um estudo de caso sendo alguém que não
participa do projeto em questão.

Dessa maneira, a solução mais viável encontrada pelo autor foi a escolha de dois
projetos já finalizados e certificados, dentre vários que obtiveram destaque, sejam por
terem sido precursores ou por se tratarem de grandes empreendimentos com destaque
na sociedade. Assim, o Museu do Amanhã logo surgiu como uma boa opção para ser
estudado, uma vez que se tratou de um projeto ousado, que gerou bastante repercussão
na época de sua construção, até mesmo por fazer parte de um grande projeto de
revitalização da área portuária do Rio de Janeiro para os Jogos Olímpicos de 2016.
Graças a toda esta repercussão e posterior sucesso do museu perante a sociedade,
bastante material sobre conceitos de sustentabilidade foram disponibilizados pelos
envolvidos no empreendimento, como a Fundação Roberto Marinho, a consultoria da
Casa do Futuro e pela própria administração do Museu do Amanhã na página oficial do
mesmo.
70

O outro edifício apresentado, a Torre B do edifício Barão de Piracicaba, na cidade


de São Paulo, de propriedade da Porto Seguros S.A. foi escolhido pelo mesmo motivo:
a divulgação de material por conta da Porto Seguro, que em sua página oficial na
internet dedica espaço à sustentabilidade na empresa, permitiu que o autor realizasse
um estudo abordando pontos dentro da estrutura LEED de avaliação e características
como as dificuldade encontradas ao longo da fase construtiva.

Finalmente, é importante ressaltar que os estudos a seguir apresentam uma


contextualização e caracterização dos empreendimentos escolhidos e, apesar de
mostrarem medidas de sustentabilidade adotadas no canteiro de obras; evidenciam,
sobretudo, as ações sustentáveis em termos de soluções de projeto e uso de
dispositivos que caracterizam os edifícios como sustentáveis principalmente no que diz
respeito ao funcionamento e operação de ambos.

5.2. Certificação LEED do Museu do Amanhã


Novo ícone da revitalização da região portuária do Rio de Janeiro, o Museu do
Amanhã foi construído na Praça Mauá como um museu de ciência que se dedica a
explorar, pensar e projetar as possibilidades de construção do futuro. O museu simboliza
a revitalização de uma região da importância do Porto do Rio e, já desde sua construção,
leva à reflexão sobre o que se espera da cidade: um lugar mais integrado e com espaço
público mais generoso (MUSEU DO AMANHÃ, 2017).

Figura 21: Museu do Amanhã, Rio de Janeiro. Fonte: MUSEU DO AMANHÃ (2017).
71

O Museu do Amanhã é uma iniciativa da Prefeitura do Rio de Janeiro, concebido e


realizado em conjunto com a Fundação Roberto Marinho, instituição ligada ao Grupo
Globo, tendo o Banco Santander como Patrocinador Master. Conta ainda com a BG
Brasil como mantenedora e o apoio do Governo do Estado, por meio da Secretaria de
Estado do Ambiente, e do Governo Federal, por intermédio da Financiadora de Estudos
e Projetos (Finep). A instituição faz parte da rede de museus da Secretaria Municipal de
Cultura.

O Instituto de Desenvolvimento e Gestão (IDG), organização social de cultura sem


fins lucrativos vencedora da licitação promovida pela Prefeitura do Rio, é responsável
pela gestão do museu.

Com projeto do arquiteto espanhol Santiago Calatrava, o edifício de formas


orgânicas, inspiradas nas bromélias do Jardim Botânico, ocupa 15 mil metros
quadrados, cercado por espelhos d’água, jardim, ciclovia e área de lazer, numa área
total de 34,6 mil metros quadrados do Píer Mauá.

A enorme edificação possui espelho d’água de 9.200 m² e foram utilizadas 55 mil


toneladas de concreto estrutural, 4.300 toneladas de estruturas metálicas para a
cobertura, e 76 mil litros de tinta na sua construção. Além disso, conta ainda com 908
vidros, totalizando cerca de 3.800m². No pico da obra, que pode ser visualizada na figura
22, a Concessionária Porto Novo, contratada pela Prefeitura do Rio para executar as
obras e prestar serviços públicos do Porto Maravilha, mobilizou 1.200 homens para a
construção, em regime de 24 horas, feitos em três turnos (CASA DO FUTURO, 2017).

Figura 22: Construção do Museu do Amanhã. Fonte: Porto Novo S.A. (2014).
72

5.2.1. Sustentabilidade no Museu do Amanhã


Seis meses após sua inauguração, em junho de 2016, o Museu do Amanhã se
tornou o primeiro museu do Brasil a conquistar o selo Ouro na certificação LEED®
BD+C: New Constructions v.3 2009, segundo mais alto nível de classificação.

Entre suas diretrizes para sustentabilidade está o melhor aproveitamento de


recursos naturais da região. A água da Baía de Guanabara é captada pelo museu com
duas finalidades diferentes: para abastecer os espelhos d’água e para o sistema de
refrigeração, onde é utilizada na troca de calor. Depois de usada na climatização, ela é
devolvida mais limpa ao mar, num gesto simbólico.

Outro destaque é a cobertura móvel do edifício, em que grandes estruturas de aço


servem de base para as placas de captação de energia solar – ao longo do dia, elas se
movimentam como asas para acompanhar o posicionamento do sol. O projeto também
valoriza a entrada de luz natural, e o paisagismo, assinado pelo escritório Burle Marx,
traz espécies nativas e de restinga, ressaltando a vegetação típica da região costeira da
cidade – são mais de 5.500 metros quadrados de área de jardins (MUSEU DO
AMANHÃ, 2017).

Figura 23: Sustentabilidade no Museu do Amanhã. Fonte: CANAVITSAS (2016).

Indo além da sustentabilidade ambiental, em sua forma longitudinal – “flutuando”


sobre o píer, nas palavras de Santiago Calatrava –, o edifício foi projetado de forma a
deixar visível e valorizar o conjunto histórico do qual faz parte, que inclui o barroco
Mosteiro de São Bento; o edifício A Noite, primeiro arranha-céu da América Latina e
sede da Rádio Nacional; e o Museu de Arte do Rio (MAR). A importância histórica da
região se completa com marcos como a Pedra do Sal e o porto que recebeu o maior
73

número de escravos no mundo; o bairro da Gamboa, um dos berços do samba; e a


histórica Fortaleza da Conceição (MUSEU DO AMANHÃ, 2017).

Finalmente, vale lembrar que as emissões de carbono resultantes do


funcionamento do museu serão compensadas, em iniciativa levada à frente pelo
Santander, patrocinador master do museu. O banco vai estimular ainda que o público
conheça mais sobre compensação de carbono, por meio da plataforma “Reduza e
Compense CO2”, que permite calcular as emissões de cada pessoa e comprar crédito
de carbono de um dos projetos selecionados pelo programa.

5.2.2. O processo de certificação LEED


O Museu do amanhã projeto foi avaliado desde sua concepção e, ao longo da obra,
o museu foi vistoriado continuamente pela equipe da Casa do Futuro para garantir que
os critérios exigidos pela certificação fossem cumpridos. A Casa do Futuro é uma
empresa de consultoria especializada em sustentabilidade e novas tecnologias em
edificações e foi contratada pela Fundação Roberto Marinho, definiu que pleitearia a
certificação.

A Casa do Futuro oferece serviços especializados de consultoria para


sustentabilidade ambiental de edificações. Através de profissionais extremamente
especializados, a equipe de projeto foi assessorada para que fossem alcançados os
melhores resultados em relação à sustentabilidade nos projetos e durante as obras.

Portanto, a empresa prestou consultoria para diversas etapas do empreendimento


como: nos estudos de viabilidade técnica e econômica; assessoria técnica, a todas as
equipes envolvidas, para atendimento aos critérios de sustentabilidade e objetivos
gerais de projeto; estudos e pesquisas sobre as melhores soluções a serem adotadas;
treinamentos para funcionários da obra, equipes de marketing, usuários e equipes de
operação e manutenção e; elaboração de relatórios de acompanhamento do processo,
preenchimento e envio da documentação para as entidades certificadoras.

5.2.3. Avaliação LEED para o museu por categoria


Segundo matéria da Casa do Futuro em sua página na internet, em termos de
sustentabilidade e tecnologia na área de construção houve a integração de uma equipe
multidisciplinar com objetivos ousados e metas inéditas na cidade do Rio de Janeiro.
Além disso, o trabalho teve continuidade na operação com equipes de projeto
trabalhando para o bom funcionamento do museu após a inauguração da obra.
74

A partir de agora, considerando o scorecard (cartão de pontuação) disponível na


página do USGBC para o Museu do Amanhã, pode-se observar quais créditos foram
obtidos pelo Museu do Amanhã dentro do processo LEED e o que foi feito, dentro de
cada categoria padrão do modelo, para que tais requisitos fossem atendidos.

5.2.3.1. Espaços Sustentáveis

Tabela 9: Scorecard MDA - Espaços Sustentáveis. Fonte: USGBC (2016).

Na categoria Espaços Sustentáveis há enfoque na minimização do impacto no


local durante a implantação da edificação e observa-se que na prevenção da poluição
na atividade da construção, objetiva-se a redução da poluição gerada pelas atividades
da construção, via controle de erosão do solo, sedimentação dos cursos da água e a
geração de poeiras. Isto foi atendido através da adoção de medidas de controle de
poluição e erosão de sedimentos para a Baía de Guanabara, durante o período de
construção e; com a lavagem das rodas dos caminhões com água de reuso para evitar
que arrastassem sujeira para as ruas.

No que diz respeito à seleção do terreno, foi escolhida a região portuária, que foi
restruturada buscando através de transformações urbanísticas, melhoras sociais e
valorização ambiental com o objetivo de revitalizar uma das áreas da cidade que se
encontrava em estado de abandono. As reformas implementadas tinham o propósito de
desenvolvê-la economicamente, além de criar novas oportunidades de emprego,
moradia, transporte, cultura e lazer para a população local; aumentando a conexão com
a comunidade (CANAVITSAS, 2016).
75

Com relação às alternativas e acesso ao transporte público, a página do museu


apresenta uma lista dos diversos meios de transporte público que podem ser utilizados
para chegar ao local. Como exemplo desses meios, tem-se as barcas, ônibus, trem e
metrô. Além destes, o VLT possui uma estação denominada “Parada dos Museus”
localizada próxima aos museus da região. Outra opção disponível, é o acesso de
bicicleta, já que existem bicicletários na Praça Mauá que somam 120 vagas para
ciclistas. Finalmente, vale lembrar que o museu não possui estacionamento, o que
incentiva que seus visitantes façam uso de transportes públicos e alternativos para
chegarem ao local

Figura 24: Vista da Praça Mauá a partir do Museu do Amanhã. Foto: Alexandre Macieira/Riotur.
Fonte: VisitRio (2017).

O museu possui área total de 34,6 mil metros quadrados enquanto sua estrutura
ocupa 15 mil deles, sendo cercado por espelhos d’água, jardim, ciclovia e espaço para
lazer, maximizando assim os espaços abertos, o que também é um dos requisitos desta
categoria. A seleção de pisos permeáveis de materiais como limestone e granito de
cores claras com o objetivo de contribuírem para a redução do efeito das ilhas vão de
encontro ao critério específico que trata dessa redução.

5.2.3.2. Eficiência no uso da água

Tabela 10: Scorecard MDA - Eficiência no uso da água. Fonte: USGBC (2016).
76

A categoria Eficiência no uso da água tem como objetivo o uso racional da água
no edifício, e como pré-requisito uma redução do consumo de água do edifício em 20%,
em relação ao consumo médio padrão. No museu algumas soluções foram
implementadas para atender a categoria eficiência no uso da água.

O uso eficiente da água no paisagismo é garantido uma vez que água da Baía de
Guanabara é utilizada para abastecer os espelhos d’água presentes na área do museu.
Esses espelhos não têm função exclusivamente estética, pois contribuem para reduzir
em até 2 graus a temperatura ambiente. Além do mais, o projeto de paisagismo traz
espécies nativas e de restinga que necessitam de pouca rega, ressaltando a vegetação
típica da região costeira da cidade, com cerca de 6 mil m² de área de jardins.

Como tecnologias inovadoras para águas servidas, tem-se que o uso racional da
água no projeto do museu também se dá através do tratamento e reutilização das águas
de pias, lavatórios, chuveiros e chuvas, além do volume proveniente da desumidificação
do ar que, sozinho, pode render até 4 mil litros de água ao dia. Esse volume é reutilizado
servindo às descargas dos banheiros, à irrigação dos jardins e lavagem do chão, deste
modo reduzindo o consumo de água potável. Através da escolha de louças e metais de
alta eficiência, esta redução se torna ainda maior (CASA DO FUTURO, 2017).

Figura 25: Louças e metais de alta eficiência DOCOL utilizadas no Museu do Amanhã. Fonte:
AECweb (2017).

Sobre a redução do consumo de água, seis bombas instaladas no subsolo do prédio


puxam as águas frias do fundo da Baía de Guanabara captando-as com a finalidade de
abastecer os espelhos d’água e para o sistema de refrigeração, onde é utilizada na troca
de calor. Após ser usada na climatização, a água é devolvida à Baía, assim, o sistema
reduz a utilização de água potável. A água da chuva é captada por calhas na cobertura
e utilizada como complemento para irrigação dos jardins, descargas dos vasos
sanitários e lavagem dos pisos das áreas molhadas. Estima-se que, com a captação da
água da Baía, sejam economizados 9,6 milhões de litros de água por ano.
77

Figura 26: Sistemas de reuso de água adotados no museu. Fonte: Porto Maravilha (2015).

Figura 27: Captação de água da Baía de Guanabara para abastecer o espelho d'água. Fonte: Porto
Maravilha (2015).
78

5.2.3.3. Energia e Atmosfera

Tabela 11: Scorecard MDA - Energia e Atmosfera. Fonte: USGBC (2016).

Na categoria Energia e Atmosfera objetiva-se promover a eficiência energética


nas edificações. Neste museu, um nível mínimo de eficiência energética para os
sistemas prediais propostos foi estabelecido, atendendo às previsões obrigatórias.

Assim, no Museu do Amanhã ocorre o comissionamento dos sistemas de energia,


cujo objetivo é verificar se os sistemas de energia, como climatização, iluminação, água
quente e energia limpa estão instalados, calibrados e desempenhando conforme a
demanda do cliente e do projeto. Para isso, foi necessária a elaboração de um plano de
manutenção preventiva, nomeando um profissional responsável para tal, bem como a
definição dos critérios a serem inspecionados, com emissão de relatório final. Como
melhora no comissionamento, no mezanino, o mesmo é automatizado e monitora todos
os equipamentos do museu, deste modo assegurando que os componentes e os
sistemas estejam funcionando corretamente (CANAVITSAS, 2016).

Como política de gestão dos gases de refrigeração foi proibida a utilização de


fluidos de refrigeração à base de CFC, nos sistemas de base de aquecimento,
ventilação, ar condicionado e refrigerantes de projeto.

Para otimizar a performance energética, foram implementados sistemas de


climatização e iluminação de baixo consumo, além de bombas e motores de alta
eficiência. O projeto prioriza a entrada de luz natural, e sua iluminação conta com 2532
luminárias LED. Estas ações possibilitam uma economia de até 50%, se comparada
com edificações convencionais. Na refrigeração, são utilizados trocadores de calor entre
a água do mar e a água de condensação que circula pelos chillers (resfriadores de
água), reduzindo assim o consumo de energia e dispensando o uso de equipamentos e
de água potável em torres de resfriamento. Os chillers são responsáveis pela geração
da água gelada a ser utilizada no sistema de condicionamento de ar do prédio. Depois
79

de utilizada no sistema de climatização, a água é devolvida mais limpa à Baía de


Guanabara.

Figura 28: Iluminação Natural no museu e luminárias de LED embutidas na estrutura. Fonte:
Bontempo (2016).

Com relação a geração local de energia renovável, parte da energia utilizada no


edifício é gerada pela captação de energia solar através de grandes estruturas de aço
instaladas na cobertura móvel que servem de base para placas fotovoltáicas que, ao
longo do dia, se movimentam de acordo com a trajetória do Sol potencializando a
captação de energia. O prédio possui aletas que carregam as 5.492 placas de painéis
fotovoltaicos, divididas em 24 módulos. São produzidos 250 KWh/ano, que equivalem à
capacidade de fornecer energia para 4 milhões de lâmpadas incandescentes de 60w
por uma hora. O sistema é capaz de suprir até 9% do consumo energético do edifício
(MUSEU DO AMANHÃ, 2017).

Figura 29: Aproveitamento da luz solar no museu. Fonte: ENGº VAGNER LANDI (2015).
80

Figura 30: Painéis fotovoltaicos instalados sobre a cobertura. Fonte: SKYSCRAPERCITY (2015).

Figura 31: Painéis de cobertura otimizando a captação da luz solar. Fonte: MUSEU DO AMANHÃ
(2017).

Uma melhoria no uso de gases de refrigeração é que foram selecionados os chillers


de alta eficiência da Midea Carrier modelos 30XW e 23XRV, sendo o último considerado
o de maior eficiência do mundo. Os dois utilizam gás HFC R-134a, que não agride a
camada de ozônio, não é tóxico, não inflamável e é livre de cloro.

Sobre as medições e verificações, percebe-se que através do comissionamento


automatizado, esse monitoramento dos aparelhos utilizados no museu se torna menos
complexo. Porém ainda sim a elaboração de um plano de manutenção preventiva com
a definição dos critérios a serem verificados se faz necessária.

É exigido pelo LEED que no mínimo 35% do consumo seja de energia verde. A
matriz energética brasileira se baseia na energia gerada por hidrelétricas, que são
81

consideradas fontes de energia renovável. Através de sistemas de transmissão, a


energia chega ao município e consequentemente ao museu. Aliado ao sistema de
geração de energia solar do edifício, o consumo de energia verde se mostra maior que
o estabelecido neste crédito.

5.2.3.4. Materiais e Recursos

Tabela 12: Scorecard MDA - Materiais e Recursos. Fonte: USGBC (2016).

A categoria Materiais e Recursos destaca a gestão de resíduos e encoraja o uso


de materiais de baixo impacto ambiental. Portanto, a criação depósitos e adoção de
coleta de materiais recicláveis se torna essencial neste projeto. Nesse sentido, o museu
possui um relatório técnico que apresenta os critérios de projeto, diretrizes e principais
parâmetros a serem seguidos em seu Plano de Gestão de Resíduos. São analisados a
classificação dos resíduos, sua estimativa de geração diária e análise gravimétrica, a
coleta e transporte interno, sua triagem e acondicionamento, seu armazenamento e sua
destinação.

Com relação à gestão de resíduos da construção, durante a fase de construção


houve a preocupação com a redução e a correta destinação de resíduos para
reciclagem e foi seguido um plano de gestão. Na obra, 85% dos resíduos foram
destinados à reciclagem. Como exemplo, as sobras das estacas das fundações foram
utilizadas na construção dos barracões utilizados durante a obra, assim, toneladas de
aço foram poupadas (CASA DO FUTURO, 2017).
82

5.2.3.5. Qualidade Ambiental Interna

Tabela 13: Scorecard MDA - Qualidade Ambiental Interna. Fonte: USGBC (2016).

A categoria Qualidade Ambiental Interna promove a qualidade ambiental interna


do ar, essencial para ambientes com alta permanência de pessoas. Ainda durante a
construção, o projeto determinou um plano de qualidade do ar, atendendo assim mais
um requisito da avaliação do LEED. Assim, é requerido um desempenho mínimo da
qualidade do ar interno. Entre as medidas adotadas há um plano de limpeza “verde”
elaborado para que, após sua inauguração, sejam utilizados produtos atóxicos e
biodegradáveis na atividade (CASA DO FUTURO, 2017).

Uma exigência é o controle da fumaça do cigarro, o que no Brasil, é regulamentado


por determinação da Lei n° 9.294, de 15 de julho de 1996, que a restrição ao fumo
aplica-se a áreas total ou parcialmente fechadas e aos locais de circulação ou
permanência de visitantes e funcionários.

Para garantir o aumento da ventilação, a entrada tanto de ventilação quanto luz


naturais foi privilegiada pela utilização de grandes esquadrias de vidro nas fachadas
principal e posterior e esquadrias triangulares nas faces laterais.

Houve a preocupação com relação à toxidade dos materiais (adesivos, selantes,


tintas e vernizes) da obra e foram empregados os que respeitam limites seguros de
toxinas, pois, alguns deles podem emiti-las durantes muitos meses, prejudicando a
83

saúde dos ocupantes. Uma das ações foi a criação de um “Plano de Limpeza Verde”,
que recomenda o uso de produtos atóxicos e biodegradáveis na atividade.

No que tange ao controle de sistemas e iluminação, O Museu do Amanhã foi


projetado para o aproveitamento máximo da iluminação natural e possui controle através
do sistema de comissionamento de seus equipamentos. Já para o conforto térmico
pode-se citar a utilização de chillers, que já tiveram sua aplicação e utilização
explanados quando abordados dentro da categoria “Energia e Atmosfera”.

5.2.3.6. Inovação e Processos

Tabela 14: Scorecard MDA - Inovação e Processos. Fonte: USGBC (2016).

Para a categoria Inovação e Processos, diversas ações foram citadas nos


requisitos acima, sendo notadamente as de maior impacto os projetos de captação de
energia solar e de aproveitamento de água da Baía de Guanabara.

Com relação à contratação de um Profissional Acreditado LEED, o projeto foi


acompanhado pela consultoria Casa do Futuro, que também é responsável por diversos
projetos LEED espalhados pelo Brasil.

5.2.3.7. Créditos de Prioridade Regional

Tabela 15: Scorecard MDA - Créditos de Prioridade Regional. Fonte: USGBC (2016).
84

Com relação aos Créditos de Prioridade Regional que propiciam, de acordo com
as diferenças ambientais, sociais e econômicas existentes em cada país, prioridades
em cada local, englobando todas as ações aqui já expostas, tem-se que foram obtidos
os seguintes: otimização da performance energética, paisagismo com uso eficiente de
água, tecnologias de tratamento de esgoto inovadoras e redução da utilização de água
(USGBC, 2016).

5.2.4. Síntese da avaliação LEED para o museu


Na tabela 16 são apresentadas as pontuações obtidas pelo museu em cada
categoria avaliada. Conforme pode ser observado somente foi obtida pontuação
máxima nas categorias "inovação" e "créditos de prioridade regional".

Tabela 16: Resumo do scorecard do Museu do Amanhã. Fonte: USGBC (2016).

5.2.5. Pontos a serem desenvolvidos


Observando os dados sintetizados na tabela 16, é possível notar que alguns
créditos não foram obtidos e isso pode ser encarado como pontos que deixaram a
desejar no projeto do Museu do Amanhã.

Na categoria espaço sustentável, créditos relativos ao uso de veículos de baixa


emissão não foram obtidos, pois apesar de promover a redução do uso de veículos,
incentivando que os visitantes utilizem transporte público e de bicicletas, o museu não
85

tem área de estacionamento para veículos, o que inviabiliza a criação de uma área
reservada para estacionamento de veículos de baixa emissão.

No quesito proteção e restauração do habitat, apesar de ter sido utilizada vegetação


nativa da região no projeto paisagístico, devido à pequena área ocupada por ela, não
caracteriza restauração do habitat.

De acordo com a Casa do Futuro, foram adotados recursos para que o museu
contribua positivamente para a redução do problema das enchentes na região, porém
não foram explicitadas ações para tal, que devem ser modestas, visto que não houve
pontuação no crédito relativo a projeto para águas pluviais e controle de quantidade das
mesmas. Ainda nesse quesito, as águas pluviais são captadas por calhas na
cobertura e utilizadas como fonte complementar. Porém não é feito o controle de
qualidade da mesma já que é utilizada para fins não potáveis como irrigação de
jardins, descargas dos vasos sanitários e lavagem dos pisos das áreas molhadas e,
portanto, o crédito relativo ao controle de qualidade das águas pluviais também não
foi recebido,

Na categoria eficiência no uso da água, a pontuação obtida para o uso


eficiente da água no paisagismo não foi atingida uma vez que é feita irrigação e,
mesmo que as plantas consumam pouca água e seja utilizada água captada das
chuva, não ocorreu redução de no mínimo 50% do total utilizado.

Com relação à otimização da performance energética, exigência da categoria


Energia e Atmosfera, foram atingidos somente 10 dos 19 pontos possíveis, o que
corresponde a uma otimização de 30% em prédios novos. Isto diverge da
informação divulgada pelo museu, que afirma ter obtido uma economia de 50% em
comparação com edificações convencionais.

Por prover apenas 7% da energia utilizada pelo edifício, através do seu sistema
de geração de energia solar, foram obtidos apenas 4 dos 7 pontos possíveis no
critério “geração local de energia renovável”.

Na categoria Materiais e Recursos, o crédito que visa a utilização de materiais


oriundos de demolição, quer sejam recuperados, recondicionados ou reutilizados,
não foi obtido. Apesar de sobras das estacas das fundações terem sido utilizadas
na construção dos barracões da obra, o percentual de reutilização não chegou ao
mínimo para pontuação. Mais opções de materiais poderiam ter sido avaliadas e
implementadas para a obtenção deste crédito (MUSEU DO AMANHÃ, 2017).
86

Apesar de divulgar a informação de que a seleção de materiais foi realizada a


partir de critérios ambientais, dando preferência a materiais com componentes
reciclados, baixa toxidade, alta durabilidade e produzidos próximos ao local da obra,
bem como uso de madeira certificada FSC, o museu não pontuou nestes créditos.
Isto pode ter ocorrido porque nem todos os materiais utilizados para a construção
foram produzidos em região próxima ao empreendimento.

No que diz respeito à qualidade ambiental interna, alguns créditos não foram
obtidos pois a única estação de monitoramento do ar externo se encontra a cerca
de 1,5 km do museu e é manual. Além disso não foi elaborado um plano de
qualidade do ar, antes da ocupação.

Outros créditos também não foram obtidos pois não foram utilizados materiais
de baixa emissão no que diz respeito ao uso de carpetes e sistemas de piso, bem
como de madeiras compostas e produtos de Agrofibras. Porém, outros materiais
com baixa toxicidade foram empregados.

Apesar do comissionamento dos sistemas, não foram utilizados recursos como


persianas motorizadas e um plano de uso racional do ar condicionado, o que não
permitiu pontuação no critério de controle de sistemas para conforto térmico.

Foi dito no item anterior, que o projeto privilegia a entrada de luz natural com
esquadrias de vidro na fachada e nas laterais. Porém, por se tratar de um museu,
nem todas as suas salas podem ser iluminadas de forma natural, para proteção das
suas exposições. Isto inviabilizou a obtenção dos créditos relativos a iluminação
natural, paisagem, vistas e luz do dia.

5.2.6. Últimas Considerações sobre o Museu do Amanhã


Em um museu onde se busca entender as possibilidades de futuro, a questão
ambiental torna-se protagonista. O Museu do Amanhã, desde suas fases iniciais de
projeto, teve a sustentabilidade como uma de suas prioridades. A consultoria da
Casa do Futuro acompanhou o desenvolvimento do projeto desde 2010 e entregou
uma obra que teve seus impactos ambientais significativamente reduzidos.

Ainda de acordo com a Casa do Futuro, durante a fase de projetos, destaca-se


a forma criativa e colaborativa de toda a equipe de trabalho – começando com o
arquiteto Santiago Calatrava e seguindo com a coordenação da Fundação Roberto
87

Marinho e o gerenciamento do escritório de Ruy Resende –, que sempre se mostrou


muito receptiva ao emprego de soluções sustentáveis, desafiadoras e inovadoras.

Fica claro com o sucesso do Museu do Amanhã, desde sua inauguração até os
dias atuais que em relação às questões ambientais e sociais, o projeto cumpriu com
o esperado e prometido, mesmo tendo sido alvo de muitas críticas e desconfiança
por parte da comunidade durante a fase de projeto e construção. Nele, foram
tratadas questões relacionadas ao transporte; gerenciamento das águas; tratamento
e colaboração com a limpeza das águas da Baía de Guanabara; utilização de
materiais ambientalmente amigáveis e renováveis; gestão energética extremamente
eficiente; redução do consumo de água; entre outras.

5.3. Certificação LEED da Torre B Porto Seguro (Edifício Barão de Piracicaba)


Fundada em 1945, a Porto Seguro Cia. de Seguros Gerais concentra suas
atividades operando em seguros e resseguros de ramos elementares. A companhia
atualmente denominada Porto Seguro S.A. atua em todos os ramos de seguros
patrimoniais e de pessoas, que são complementados por outros negócios. Dentre os
mais de 50 produtos, são eles consórcios, soluções financeiras e serviços como
proteção e monitoramento, telefonia móvel, saúde ocupacional, entre outros (PORTO
SEGURO, 2017).

Atualmente, tem sua sede no bairro Campos Elíseos, na região central da cidade
de São Paulo e é neste local que a Porto Seguro obteve a certificação LEED® para a
construção da Torre B de seu prédio, localizado na Alameda Barão de Piracicaba,
número 618/634, também conhecido como Edifício Barão de Piracicaba.

O prédio, que foi finalizado em agosto de 2013, após 3 anos e 4 meses de obras,
é ocupado única e exclusivamente por funcionários da Porto Seguro e conta com 11
andares, possuindo capacidade de acomodar 1800 pessoas. Sua altura total é de 46,42
m e a área por andar é de 1.555,98 m².
88

Figura 32: Edifício Torre B - Edifício Barão de Piracicaba. Entorno da região urbanizada. Fonte:
Porto Seguro S.A. (2013).

O objetivo da Porto Seguro era obter o certificado LEED-NC v.3 (2009), obtendo 60
pontos e alcançando a certificação nível gold (ouro). Conforme será visto adiante,
atualmente este certificado é classificado pelo USGBC como LEED® BD+C:NC e foi
concedido no ano de 2016.

A empresa traçou o objetivo de obter a certificação LEED após a elaboração do


projeto, não desde o início, como é de costume, fazendo o possível para adquiri-lo.
Portanto, durante o projeto, evitou-se o desperdício de recursos, tanto de dinheiro como
de material e; estima-se que para cumprir as exigências da certificação, foram gastos
em torno de 2,2% do valor total da obra.

5.3.1. Avaliação LEED e práticas sustentáveis adotadas


A Porto Seguro incumbiu a Viável Consultoria em parceria com a W&R Lenzi LTDA.
para desenvolver o projeto de gestão ambiental, eficiência energética e
comissionamento para a certificação LEED em questão.

O projeto foi avaliado em sete dimensões previstas pela estrutura da certificação


LEED e a seguir é apresentado o scorecard (cartão de pontuação) referente à Torre B
do edifício.
89

Tabela 17: Scorecard do empreendimento. Pontuações obtidas. Fonte: USGBC (2016).

Analisando os dados apresentados na tabela 17, pode ser observado que as únicas
categorias que obtiveram pontuação máxima foram a Eficiência no Uso da Água e
Créditos de Prioridade Regional. Vale a pena observar que a categoria que mais permite
a obtenção de pontos – Energia e Atmosfera – teve pontuação relativamente baixa
(8/35), permitindo a inferência de que talvez o Leed não fosse o certificado mais
adequado a ser pleiteado por esta edificação, uma vez que o enfoque LEED é em
eficiência energética.

Nos itens 5.3.1.1 a 5.3.1.7 são descritas as ações sustentáveis adotadas no edifício,
de modo a garantir a pontuação mínima exigida para a obtenção certificado LEED no
nível gold.
90

5.3.1.1. Espaços Sustentáveis


A Porto Seguro S.A será a única empresa a ocupar todo o prédio, desde o 1º ao
11º andar, contando com o piso térreo e com os cinco subsolos, onde serão alocados
as vagas para carros. Todos os andares, com exceção dos subsolos, contam com vista
para o exterior do prédio, devido à alta quantidade de vidros no empreendimento.

O edifício conta com 1.100 vagas para carros, que são distribuídas da seguinte
forma: 57 das 1.100 vagas (cerca de 5% das vagas) são demarcadas como “veículos
de baixa emissão”. Essas vagas estão localizadas mais próximas aos elevadores,
servindo de incentivo a utilização de carros com baixa emissão e consumo; cerca de 5%
das 1.100 vagas é destinada aos deficientes e também estão localizadas próximas aos
elevadores; o correspondente a 98% das vagas (1.080 das 1.100) estão alocadas nos
subsolos do prédio, diminuindo os efeitos da formação de ilhas de calor.

Figura 33: Vagas para automóveis com baixa emissão de gases e para deficientes. Ambas
localizadas próximas ao acesso aos elevadores. Fonte: Porto Seguro S.A. (2013).

Outros métodos que tornam o prédio mais sustentável são as vagas para bicicletas,
alocadas no 1º subsolo, incentivando a utilização desse meio de transporte que não
emite gases do efeito estufa; e a utilização de 48,8% da área livre de construção, que
corresponde a 2.101,41 m², para designação de área verde do terreno.

No que diz respeito a localização e transporte, o prédio localiza-se na Alameda


Barão de Piracicaba, no bairro Campos Elísios, em São Paulo, uma área urbana
desenvolvida, com zonas residenciais na sua proximidade e abastecida por serviços
básicos como bancos, restaurantes, escolas, supermercados, teatros, farmácias, entre
outros.

Essa região possui integração com o sistema de transporte público da capital


paulista, servido por diversas linhas de metrô (como as estações Marechal Deodoro e
Santa Cecília, da linha vermelha, e a estação da Luz, das linhas azul e amarela da
CPTM), trem (com a estação Luz da linha 11, Coral, e da linha 7, Rubi, da CPTM) e
ônibus. Por possuir localização privilegiada, o edifício conta com uma distância menor
91

que 800 metros de um metrô ou trem, e com distância menor que 400 metros de pontos
de parada de ônibus. Essa facilidade de acesso ao transporte público acaba por
incentivar a população a usar este meio, que, por sua vez, contribui para menor emissão
de Gases do Efeito Estufa (GEE).

Figura 34: Vista externa do prédio. Entradas para pedestres e veículos. Fonte: Porto Seguro S.A.
(2013).

5.3.1.2. Eficiência no uso da água


Com relação ao uso água, o edifício adotou estratégias para reduzir o consumo no
empreendimento, o que acarretou uma redução de 23,96% no consumo em relação ao
que seria gasto usando métodos e estratégias convencionais. Esse objetivo de redução
foi atingido devido à instalação de equipamentos como os economizadores de água de
torneiras de lavatórios, mictórios, bacias sanitárias, chuveiros, torneiras de serviço e
sprays de pré-lavagem de utensílios de cozinha.

Outra estratégia é a utilização do sistema de reuso da água, possibilitando que 93%


das bacias sanitárias e dos mictórios fossem abastecidos apenas com sistema de reuso
(com uma Estação de Tratamento de Águas Cinzas localizadas no 5º subsolo),
correspondendo a uma economia de 7348,70 m³/ano.

Com relação ao paisagismo e irrigação, o projeto demonstrou redução de 54,2% no


consumo de água potável para este fim, sendo que desse total reduzido, 100% será
abastecido por águas pluviais.
92

Existem também projetos de melhorias, que contribuirão para reduzir ainda mais o
consumo de água por ano, como a instalação de redutores de vazão nas torneiras em
geral e a instalação de válvulas Dual Flush (duplo fluxo) dos vasos sanitários.

Figura 35: Reservatórios de água localizados no alto das duas torres. Fonte: Porto Seguro S.A.
(2013).

5.3.1.3. Energia e Atmosfera


No edifício Barão de Piracicaba, foram instalados métodos que possibilitaram a
redução do consumo de energia, comprovada pela simulação inicial de Eficiência
Energética, que apontou uma redução entre 14,04% a 14,24% no consumo de energia
em relação ao padrão da norma norte-americana (ASHRAE), que é bem mais eficiente
do que a norma brasileira.

Essa redução do consumo de energia foi possível por conta de ações como a
construção do prédio em pele de vidro, ou seja, os andares possuem muitos vidros de
alta eficiência com a capacidade de transmissividade (passar muita luminosidade), o
que possibilita a entrada de luminosidade, clareando a área de trabalho e permitindo o
desligamento de algumas luzes do edifício. Esse vidro colocado no edifício tem também
a capacidade de proteção, que diminui a passagem de raios ultravioleta (UV), fazendo
com que a área de trabalho aqueça menos, diminuindo os gastos com ar condicionado
para manter a temperatura ideal e, consequentemente, o consumo.
93

Figura 36: Interior do edifício: iluminação graças a abundância de vidros. Fonte: Porto Seguro S.A.
(2013).

Outro item relevante para a economia de energia é o fato de o elevador ser


confeccionado para economizar o máximo possível, por meio de um sistema que
possibilita a economia de viagens ao mesmo andar. Esse sistema funciona da seguinte
forma: o funcionário ou visitante pressiona o número do andar que pretende ir do lado
de fora do elevador, sendo assim, o sistema destinará as pessoas que vão ao mesmo
andar para o mesmo elevador, não desperdiçando energia com viagens ao mesmo
destino.

Figura 37: Botões do lado externo do elevador para direcionar as pessoas que irão para o mesmo
andar para o mesmo elevador. Fonte: Porto Seguro S.A. (2013).

Outros pontos importantes na economia de energia do prédio podem ser


observados nos subitens 1 a 3:

1. Foram projetados quatro grupos geradores, aplicadas na Torre B, da marca


STEMAC, com potência de 1600 KvA. Os grupos geradores são compostos
por motores diesel de desempenho reconhecido, acoplados a geradores de
alta eficiência e montados sobre base metálica, com acionamento
automático ou manual. Projetados para aplicações nos regimes de
94

emergência, horário de ponta ou serviço contínuo. Disponíveis nas versões


“carenados” e “silenciados”, tanto em unidades móveis como estacionárias;
2. Existe um sistema de automação predial, que controla a iluminação, ar
condicionado, sensores para acesso às salas de TI, controle do CO2 (dióxido
de carbono) disperso nos ambientes e medição de energia (consumo da
energia gasta na Torre B);
3. O ar condicionado atende, com base na Norma ASHRAE, a todos os
requisitos de preocupação ambiental em termos de eficiência energética,
custos de operação do ar condicionado mais baixo, redução de emissão de
CO2 (dióxido de carbono) e qualidade do ar no interior dos ambientes.

5.3.1.4. Materiais e Recursos


A construção do empreendimento contou com a utilização de materiais que
possuíssem conteúdo reciclado em sua composição, correspondendo a cerca de 20%
a 30% dos gastos com materiais incorporados no empreendimento. Outro método
bastante importante foi a escolha de fornecedores dentro de um raio de 800 km da obra,
o que diminui os impactos ao meio ambiente devido à proximidade com o campo de
obras, emitindo menos poluentes pelo transporte de materiais.

Outro método de extrema importância foi o controle contra desperdício de material


e a realização do programa de coleta seletiva durante a obra, aliado ao treinamento de
seus funcionários, possibilitando que eles separassem os materiais da construção que
poderiam ser enviados para reciclagem. Esse programa foi mantido mesmo após o
termino da construção e terá dispositivos para descarte consciente separado por
pavimento, facilitando o descarte. Juntamente ao programa, foi criado um plano de
gestão de resíduos e um programa de comunicação visual e educação para incentivar
a coleta seletiva.

Com relação ao descarte dos resíduos em geral, aproximadamente 75% destes


foram desviados de aterros, sendo destinados a outros meios de descarte que não
causam danos ao ambiente e nem a sociedade.

Já os materiais perigosos foram destinados a empresas regulamentas pela


Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB) ao encaminhamento de
resíduos de interesse ambiental, aos locais de reprocessamento, armazenamento,
tratamento ou disposição final, realizado de forma correta, regulamentados pela
documentação de Certificado de Movimentação de Resíduos de Interesse Ambiental
(CADRI).
95

5.3.1.5. Qualidade Ambiental Interna


O prédio conta com projetos que objetivam o conforto e o bem-estar dos
funcionários. Para isso, há o controle da qualidade interna do ar, que possibilita a
renovação no ar, ventilação e vazão e qualidade térmica, buscando sempre o conforto
humano. Além disso, o controle da temperatura estará ao alcance dos funcionários,
permitindo que eles adequem a temperatura conforme o gosto da maioria. E, por contar
com muitos vidros, o prédio possibilita que 90% das áreas regularmente ocupadas
apresentem vistas para o exterior, o que também permite aos funcionários certo
conforto.

É comprovada a melhora na qualidade de vida que todos esses elementos geram


para os funcionários, uma vez que a mudança de um prédio iluminado com luz natural
e com ventilação para um edifício fechado aumenta muito o caso de absenteísmo
(ausência no trabalho) dos funcionários por conta de doenças. Isso ocorre porque
muitos dos casos de doenças são gerados por conta da má ventilação e não renovação
do ar interno, já que substancias tóxicas que são eliminadas dentro do empreendimento
não saem completamente de dentro dele.

Com relação ao subsolo, à medida que terminavam a obra de um subsolo,


utilizaram-se máquinas que possibilitaram a limpeza do pó gerado pela construção
neste, mantendo assim a qualidade de vida dos funcionários da empresa, fazendo com
que eles não entrassem em contato com a poeira gerada pela construção.

Houve também o controle para que não houvesse a utilização de gases


clorofluorcarbono (CFC), já que a Resolução CONAMA 267/2000 proíbe o uso desse
gás no Brasil, utilizando, nos sistemas de condicionamento de ar e refrigeração e
sistemas de combate a incêndios, gases que não agridam a camada de ozônio. Foi
pensado também em utilizar apenas produtos com baixo teor de Compostos Orgânicos
Voláteis (COV), sendo assim, para produtos como adesivos, selantes, tintas e
revestimentos, foram aplicados produtos à base de água e não de solventes em todo o
prédio.

Outra ação adotada para controle da qualidade do ar é a proibição do fumo nas


áreas comuns do prédio, sendo permitido apenas nas áreas determinadas para
fumantes, que estão a 8 metros de distância de qualquer ponto de coleta de ar.
96

5.3.1.6. Inovação e Design


Não foram fornecidos detalhes sobre a pontuação nesta categoria, porém,
observando o cartão de pontuação LEED, vê-se que foram obtidos 5 (cinco) dos 6 (seis)
pontos possíveis, sendo um deles devido ao uso do “Profissional Acreditado LEED”,
certamente pela contratação da Viável Consultoria.

5.3.1.7. Créditos de Prioridade Regional


Essa categoria teve pontuação máxima possível graças às ações, já nesta análise
comentadas, que foram as seguintes: comissionamento aprimorado, monitoramento das
condições ambientais do prédio, eficiência no uso da água de paisagismo e uso de
tecnologias inovadoras para águas residuais.

5.3.2. Síntese da avaliação LEED para a Torre B


Na tabela 18 são apresentadas as pontuações obtidas pelo edifício em cada
categoria avaliada. Conforme pode ser observado somente foi obtida pontuação
máxima na categoria "Créditos de Prioridade Regional" e, chama a atenção a baixa
pontuação na categoria “Energia e Atmosfera”, dentre todas a que fornece maior número
de pontos.

Tabela 18: Resumo do scorecard da Torre B. Fonte: USGBC (2017).


97

5.3.3. Dificuldades
5.3.3.1. Compra de Materiais compatíveis ao LEED
A construtora responsável pela obra enfrentou uma grande dificuldade para
encontrar e comprar materiais que seguissem as especificações das normativas
americanas. Isso porque no Brasil, existe ainda uma grande dificuldade de encontrar
matérias-primas de qualidade e conhecimento restrito dos processos LEED, não
havendo muitos dados de aplicabilidade química e toxicológica, bem como sobre a
adequação destes produtos às normas requeridas no processo.

5.3.3.2. Alterações de projetos com obra em atividade


As mudanças de projetos quando a obra já estava em atividade trouxeram
dificuldades no processo LEED, pois, por vezes com os pavimentos fechados e com os
vidros instalados, surgiam serviços que estavam fora dos padrões exigidos pela
certificação. Exemplos disso foram: o processo para lixar as paredes, gerando resíduos
ou poeira que eram extremamente difíceis de retirar dos andares e; o retrabalho no
processo de colagem das placas melamínicas, que também gerava sujeira no ambiente.
A dificuldade está no fato de que, para o LEED, a limpeza do ambiente durante a
execução da obra é um pré-requisito.

5.3.3.3. Método construtivo aplicado


As fundações foram executadas antes mesmo dos processos e execução da
escavação do piso do 5º subsolo. Sendo assim, as estruturas foram executadas até sua
totalidade e, só no final da obra, foi construído o piso do último subsolo. Este processo
trouxe muita dificuldade nos tratos de acompanhamento dos fiscais do LEED e de seus
requisitos. Isso porque o manuseio de maquinário estava sujando todos os subsolos
com a lama que era retirada da construção do 5º subsolo. Por conta disso, houve gastos
com contratação de carros pipa para limpar todos os subsolos, nos adequando às
normas do LEED e evitando que se perdessem pontos importantes para a certificação.

5.3.3.4. Programação das Atividades


Devido a problemas na logística dos processos em obra, o cronograma das
atividades não seguiu seu fluxo correto, ocorrendo desajustes no que fora combinado
com os fiscais de acompanhamento das atividades na obra. O piso do prédio, por
98

exemplo, foi executado antes da infraestrutura de calhas de piso e das instalações de


elétrica.

5.3.3.5. Condicionamento de materiais ao final da obra


Como as áreas começaram a ser entregues a Porto Seguro antes do término da
construção, os espaços começaram a ficar escassos para o condicionamento dos
materiais de obra. Essa situação exigiu que fossem solicitados outros locais nos
terrenos que circundam a obra para guardar esses materiais. Neste contexto, a
dificuldade foi adequar também essas áreas do entorno para atender aos requisitos e
padrões do LEED.

5.3.4. Últimas Considerações sobre a Torre B Porto Seguro


Com a reestruturação do projeto para a obtenção da certificação LEED, foi possível
notar que na equipe e na empresa, muitos profissionais tem uma visão restrita acerca
do real sentido das certificações ambientais, não considerando todo o processo de
desenvolvimento do empreendimento desde sua concepção até sua operação. Sendo
assim, alguns interpretam que que esse gasto para se adequar às normas da
certificação, mesmo que seja de no máximo 10% do valor total da obra, é um desperdício
e, não percebem que tal projeto agrega vários benefícios como melhoria da qualidade
de vida dos funcionários, menor degradação ambiental e menor desperdício de recursos
ambientais.

Além disso, em longo prazo, pode-se notar as vantagens para a empresa:


diminuição dos custos operacionais; diminuição dos riscos aos funcionários; aumento
da tecnologia e inovação do prédio, com recursos mais novos, prolongando assim a
obsolescência do edifício; melhoria na segurança e na saúde do funcionário,
aumentando seu rendimento; aumento da conscientização dos trabalhadores; uso
racional dos recursos e mitigação dos efeitos de mudanças climáticas.

Diante desta percepção, a empresa concluiu que o dinheiro gasto para atender aos
requisitos da certificação pode ser considerado um investimento, pois, no futuro, ele
renderá lucros à mesma.

Outro ponto observado, que pode ser melhorado, é que os objetivos do projeto
devem ser determinados logo no começo. Inclusive a decisão de obter a certificação
LEED, pois, isso facilitaria a conquista desse objetivo.
99

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo deste trabalho, procurou-se cumprir com o objetivo determinado no
Capítulo 1, que era de apresentar um estudo sobre os programas de certificação
ambiental de edificações existentes no mundo, focando nos modelos de conformidade
mais utilizados no Brasil. Além disso, foi estabelecida uma reflexão sobre como a
adaptação dos certificados de qualidade ambiental de edificações à realidade brasileira
traz benefícios à sociedade local.

Considerando, de forma objetiva, os impactos da construção civil no meio ambiente,


pode-se perceber que a mesma influencia as dimensões ambiental, social e econômica
da sociedade, estando intimamente ligada à busca do Desenvolvimento Sustentável
como um todo.

Portanto, no caso do Brasil, como um país em desenvolvimento, somente


unificando as três dimensões (ambiental, social e econômica) e considerando o contexto
local de forma abrangente, podem ser geradas soluções com resultados eficientes.
Ratifica-se, desta maneira, a importância de considerar as características locais em
todas as frentes, especialmente na definição de critérios e indicadores a serem adotados
como diretrizes para alcançar a qualidade ambiental e sustentabilidade nas edificações.

Ao fazer uma passagem pelo histórico do surgimento das primeiras certificações


ambientais que surgiram ao redor do mundo, e eventos como a criação da Agenda 21,
fica evidente a necessidade da análise em contexto local para elaboração de soluções
globais. Questões relativas à responsabilidade sobre conscientização do consumidor, à
confiabilidade das informações disponibilizadas, à banalização da questão ambiental e
sobre aspectos mercadológicos se tornam importantes para uma discussão sobre o
tema.

Conforme visto no item 3.5.1, no Brasil, somente em 2007 foi certificado o primeiro
empreendimento “sustentável” no país. Apesar de muito recentes, os certificados
crescem de forma exponencial por aqui. Vale lembrar que o mais utilizado ainda é o
LEED™, cujo modelo estadunidense desenvolvido pelo USGBC é aplicado em todo o
mundo, portanto, não adaptado ao contexto brasileiro. Outra certificação importante no
Brasil é o Processo AQUA©, modelo brasileiro baseado no reconhecido sistema francês
HQE. Ainda no grupo das certificações brasileiras, destacam-se o Selo Casa Azul
CAIXA, que aborda inclusive aspectos sociais e, o PROCEL Edifica, voltado para a
eficiência energética das edificações.

Levando em conta as diferentes estruturas e metodologias adotadas por cada


modelo de conformidade detalhado neste trabalho, é preciso destacar que uma
100

construção sustentável não é uma coleção de materiais eficientes mas sim, um conjunto
de soluções abrangentes e coerentes com o contexto local. Nesse sentido, não só
aspectos geográficos e climáticos devem ser considerados: o usuário local deve ser
visto como parte das soluções, proporcionando uma cadeia de conhecimento que
realmente configura que um empreendimento seja tido como “sustentável”.

Assim, as certificações ambientais de edificações podem ser consideradas


instrumentos que representam uma facilidade para o usuário, a partir do momento que
promovem a chamada “inércia cognitiva”, que pode ser entendida como a tendência da
mente humana em buscar o mínimo de esforço para possibilitar uma tomada de decisão.
Tais certificações consolidam as informações que o usuário precisa para fazer suas
“escolhas ambientais”. Soma-se a isso o fato de o brasileiro não possuir uma
consciência plena sobre educação ambiental e de não ocorrer uma divulgação
adequada de informações ambientais.

Nesse sentido, há que se tomar cuidado com a proliferação de certificações


ambientais no território brasileiro, que podem ser usadas como simples instrumentos de
diferenciação mercadológica e elitização dos empreendimentos que os recebem. Assim,
é muito importante poder contar com um processo de certificação completamente
adaptado às necessidades locais brasileiras ou regionalidades, uma vez que o Brasil é
um país de dimensões continentais. Dessa maneira, conforme abordado no trabalho, os
aspectos locais devem ser considerados nos critérios de avaliação, com indicadores
abrangentes, nas dimensões ambiental, social e econômica de um país em
desenvolvimento.

Outro ponto importante a ser notado, é o poder de influência que a crescente


adoção das certificações ambientais de edificações começa a ter sobre as práticas de
projeto, construção e uso das edificações brasileiras, uma vez que este mercado da
construção civil frequentemente não se mostra preparado para atender a todas as
exigências dos certificados.

Sem a incorporação de parâmetros abrangentes e indicadores locais que


considerem as diferenças culturais, aspectos normativos, disponibilidade de recursos
naturais, características climáticas, etc.; fica inviável atestar que uma edificação é
sustentável no Brasil. Portanto, deve-se disseminar esta questão e tratá-la com
seriedade, orientando padrões, de modo a evitar influências puramente mercadológicas,
que possam vir a beneficiar somente um grupo e não toda a sociedade.
101

6.1. Sugestões para trabalhos futuros


Ao longo do desenvolvimento desta pesquisa, surgiram algumas dificuldades e
questões não tão bem esclarecidas, que poderiam ser objeto de estudo em
complementação a este:

1. Um estudo sobre o ciclo de vida dos materiais e um levantamento dos materiais


disponíveis para construção do estado do Rio de Janeiro, uma vez que a escolha
por materiais comprovadamente eficientes ambientalmente, levando em conta a
disponibilidade de produtores locais é sempre um ponto a ser levado em conta
pelos sistemas de certificação ambiental.
É possível observar uma falta de dados e desconhecimento sobre o real
desempenho energético e impacto ambiental na utilização dos mesmos, bem
como métodos para medir esse consumo.
2. O estudo sobre uma tentativa de fazer com que critérios presentes nestas
certificações ambientais de edificações mais utilizadas (LEED e AQUA) fossem
incorporadas como critérios de programas de financiamento, seguindo exemplos
deste tipo que deram certo como Selo Casa Azul CAIXA e o PBQP-H.
3. E finalmente, uma pesquisa sobre os reais custos para projetos de edificações
que pleiteiam certificações ambientais, a fim de tornar claro a investidores e
usuários os verdadeiros benefícios no uso de soluções ambientais próximas à
realidade das pessoas.
102

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Disponível em:
<http://www.abnt.org.br/ certificacao/o-que-e> Acesso em: 19 abr. 2017.

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Rio de Janeiro, 2015.

__________. NBR 9050:2015. Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e


equipamentos urbanos. Rio de Janeiro, 2015.

__________. NBR ISO 14001:2015. Sistemas de gestão ambiental – Requisitos com


orientações para uso. Rio de Janeiro, 2015.

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ambiental do tipo I – Princípios e procedimentos. Rio de Janeiro, 2004.

__________. NBR ISO 14025:2015. Rótulos e declarações ambientais –


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__________. NBR 15575 (Partes 1 a 6). Edificações habitacionais – Desempenho –


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programas. 2002. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) – Universidade
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BONTEMPO. O monumental Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro.


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amanha-no-rio-de-janeiro/> Acesso em: 10 ago. 2017.
103

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