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Oreiro e Feijó Desindustrialização PDF
Oreiro e Feijó Desindustrialização PDF
219-232, abril-junho/2010
Desindustrialização: conceituação,
causas, efeitos e o caso brasileiro*
De‑Industrialization: concept, causes, effects and the Brazilian case. This article
aims to do a theoretical discussion about the term “de‑industrialization” and its re-
lationship with other concepts as “primarization” of exports and “Dutch disease”.
After that we will analyze the possible causes and effects of “de‑industrialization”.
Finally, we analyze the Brazilian case, with a special attention over the economic
literature about this issue.
Keywords: structural change; industry; real exchange rate.
JEL Classification: L6; O14; O54.
Introdução
Nos últimos anos tem-se observado uma preocupação crescente entre os eco-
nomistas e o público em geral a respeito de um possível processo de desindustria-
lização da economia brasileira. Nesse contexto, podemos observar duas posições
claramente definidas. De um lado, temos os assim chamados “novo-desenvolvi-
mentistas” que defendem a tese de que a economia brasileira vem passando por um
processo de desindustrialização nos últimos 20 anos, causado pela combinação
*
Os autores agradecem a contribuição de Julio Sérgio Gomes de Almeida (Unicamp/IEDI) para a elabo-
ração deste artigo.
**
Professor Adjunto do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB), Pesquisador
Nível I do CNPq e Diretor da Associação Keynesiana Brasileira. E-mail: joreiro@unb.br. Página pes-
soal: www.joseluisoreiro.ecn.br.
***
Professora Associada do Departamento de Economia da Universidade Federal Fluminense, Pesquisa-
dora Nível I do CNPq e Secretária Executiva da Associação Nacional dos Centros de Pós-Graduação
em Economia (2008-2010). E-mail: cfeijo@terra.com.br.
1
Sobre o “novo-desenvolvimentismo” e as suas diferenças com o “velho-desenvolvimentismo”, ver
Bresser-Pereira (2006), Sicsú, Paula e Michel (2007), Oreiro e Paula (2009) e Bresser-Pereira e Gala
(2010).
2
Economias incluídas sob o título “Terceiro Mundo”: África Subsaariana: Benin, Botsuana, Burkina
Faso, Camarões, República Central Africana, Chade, República Democrática do Congo, Costa do
Marfim, Gabão, Gana, Quênia, Lesotho, Malawi, Mali, Mauritânia, Maurício, Nigéria, República do
Congo, Ruanda, Senegal, África do Sul, Togo, Zâmbia e Zimbábue.
América Latina e Caribe: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, República Dominicana,
Equador, El Salvador, Guatemala, Honduras, Jamaica, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru e
Uruguai (dentro dessa categoria, a subcategoria “Cone Sul” inclui Argentina, Chile e Uruguai).
Ásia Ocidental e Norte da África: Argélia, Egito, Marrocos, Oman, Arábia Saudita, Tunísia e Turquia.
Sul da Ásia: Bangladesh, Índia, Paquistão e Sri Lanka.
Leste Asiático: Hong Kong SAR, Indonésia, Malásia, Filipinas, República da Coreia, Cingapura, Tai-
lândia e Taiwan Província da China (dentro dessa categoria, a subcategoria NIEs 1 inclui: Hong Kong
SAR, República da Coreia, Cingapura e Taiwan (Província da China).
Economias incluídas sob o título “Primeiro Mundo”: Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, Dinamarca,
Finlândia, França, Grécia, Itália, Japão, Luxemburgo, Holanda, Nova Zelândia, Noruega, Portugal,
Espanha, Suécia, Reino Unido e Estados Unidos.
ConseqUências da desindustrialização
O caso brasileiro
3
Evidência empíricas a respeito da “lei de Kaldor-Verdoorn” podem ser obtidas em McCombie e De
Ridder (1984).
4
Sobre a restrição de balanço de pagamentos ao crescimento de longo prazo e o papel desempenhado
pela estrutura produtiva na determinação das elasticidades renda das importações e das exportações,
ver McCombie e Roberts (2002).
1980 1985 1988 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998
VA 31,3 31,6 28,6 25,7 23,8 22,7 21,6 21 20,6 20 18,2 19,1
PO 15,5 14,6 13,9 13,9 13,8 13,5 13,4 12,9 12,4
Fonte: Marquetti (2002, p. 121).
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Indústria de Transformação / PIB - % Tendência
pação conjunta
16.0 dos setores intensivo em escala, diferenciada e baseado em ciência
passou de 53,72% em 1996 para 50,15% em 2004. Dessa forma, se observa uma
15.5
relativa estabilidade da estrutura industrial brasileira no período em consideração,
o que descartaria,
15.0
1996 portanto,
1997 1998 a ocorrência
1999 2000 2001 de um2003
2002 processo
2004 2005 de desindustrialização.
2006 2007 2008
Deve-se ressaltar, contudo, que o autor em consideração parece confundir os con-
ceitos de desindustrialização e “doença
Participação holandesa”.
a preços de 1995 Com aefeito,
Participação para Nassif, a
preços correntes
5
Nassif reconhece, no entanto, a ocorrência de uma redução significativa da participação da indústria
de transformação no PIB brasileiro a partir da segunda metade da década de 1980. Nas suas palavras:
“Na segunda metade dos anos 1980, no entanto, observa-se uma significativa mudança na evolução da
estrutura produtiva brasileira. Com efeito, após preservar, de forma relativamente estável, uma par-
ticipação média anual de 30,7% no PIB entre 1973 e 1985 e de alcançar participação recorde de 32%
no PIB em 1986, a indústria de transformação começa a perder, de forma sustentada, significativa
participação relativa no fluxo global de riqueza do país. No início do processo de liberalização comer-
cial, em 1990, essa participação já havia sido reduzida para 22,7%” (2008, p. 83).
6
Nas palavras de Schwartsman (2009): “Não é a primeira vez que ouvimos esta conversinha [...] O
curioso é ouvi-la de novo, logo após a previsão ter se mostrado completamente errada pelo desenvolvi-
mento do país nos últimos anos até a eclosão da crise (grifo nosso). De fato, o crescimento, não só da
produção industrial, mas do PIB, acelerou-se consideravelmente até setembro de 2008. No que se
refere à primeira, a taxa média de expansão em quatro anos atingiu algo como 4,5% ao ano (grifo
nosso), quase três vezes superior à registrada em períodos anteriores. Além disto, como já destacado
aqui, o crescimento foi liderado pelos setores de maior intensidade exportadora, fenômeno difícil de
conciliar com a afirmação acerca da influência negativa do câmbio sobre a atividade industrial”.
7
Conforme foi visto à exaustão nos parágrafos anteriores, a literatura brasileira sobre o tema, apoian-
10,00 160
8,00 140
6,00 120
4,00 100
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1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
-2,00 40
-4,00 20
-6,00 0
PIB
do-se nos dados das contas nacionais anteriores à mudança metodológica do IBGE no primeiro trimes-
tre de 2007, aponta claramente para a ocorrência de desindustrialização no período 1986-1998.
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indústria
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na medida em que compara o valor adicionado da indústria de transfor-
mação com o PIB a preços de 1995, ou seja, isola o efeito da variação dos preços
14
na evolução da participação da indústria no total. O ponto de destaque é que sem
o 12
efeito da variação dos preços, a queda na participação da indústria de transfor-
mação
10 no PIB é mais nítida. A maior participação registrada na série a preços
constantes foi em 1996 (18,3%), e mesmo o maior dinamismo relativo da indústria
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no biênio 2003-2004 não recuperou o peso da indústria na segunda metade dos
Indústria de Transformação / PIB - % Tendência
anos 1990. Esta é uma indicação que reforça o efeito negativo da tendência à va-
lorização do câmbio sobre o setor manufatureiro.
19.5
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A partir do que foi exposto nos parágrafos anteriores, parece haver pouca
margem para a dúvida a respeito da ocorrência de um processo de desindustriali-
zação da economia brasileira, mesmo após a mudança do regime cambial em 1999.
Nesse contexto, o ponto que ainda pode ser objeto de divergência refere-se às cau-
sas desse processo. Mais precisamente, trata-se de debater se esse fenômeno é um
resultado natural do estágio de desenvolvimento da economia brasileira ou se é a
consequência das políticas macroeconômicas adotadas nos últimos 20 anos. Um
ponto particularmente importante é avaliar se o processo de desindustrialização da
economia brasileira resulta da ocorrência de “doença holandesa”.
No que se refere à relação entre desindustrialização e “doença holandesa”, um
estudo recente divulgado pelo IEDI (Valor Econômico, 22/12/2009) mostra que no
O presente artigo teve por objetivo inicial fazer uma discussão teórico-concei-
tual a respeito do termo “desindustrialização” e a relação do mesmo com os con-
ceitos de “re-primarização” da pauta de exportações e “doença holandesa”. Na
sequência foram analisadas as possíveis causas e consequências do processo de
desindustrialização. Por fim, analisou-se o caso brasileiro, com ênfase na literatura
nacional existente sobre o tema. No que se refere a esse ponto, a literatura brasi-
leira dos últimos dez anos apresenta evidências conclusivas a respeito da ocorrência
de desindustrialização na economia brasileira para o período 1986-1998. Para o
período posterior à mudança do regime cambial, a continuidade do processo de
desindustrialização não pode ser estabelecida de forma tão conclusiva, em função
da mudança na metodologia de apuração das Contas Nacionais pelo IBGE em
2007. Contudo, os dados a respeito da taxa de crescimento da indústria de trans-
formação apontam para a continuidade da perda de importância relativa da indús-
tria brasileira nos últimos 15 anos. Por fim, estudos recentes a respeito da compo-
sição do saldo comercial brasileiro e da composição do valor adicionado da
indústria brasileira mostram sinais inquietantes da ocorrência de “doença holan-
desa”, ou seja, de desindustrialização causada pela apreciação da taxa real de
câmbio que resulta da valorização dos preços das commodities e dos recursos na-
turais no mercado internacional.
Referências bibliográficas
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da”. Economia e Tecnologia, Ano 2, Vol. 4.
Nota Técnica 01
Mudança do ano-base para 2000 das Contas Nacionais divulgada no 1º Trimestre de 2007.
Um procedimento metodológico recomendado aos órgãos produtores de estatísticas oficiais é a
revisão periódica das séries históricas com vistas à incorporação de melhorias nos procedimentos de
cálculo das estimativas dos agregados macroeconômicos. Seguindo as recomendações internacionais,
em 2007, o IBGE divulgou a série do PIB tendo o ano 2000 como base de referência8. Conquanto revi-
sões que melhorem a qualidade das estimativas sejam bem-vindas, elas também apresentam um ônus
para o pesquisador por, na maioria das vezes, representar uma quebra na comparabilidade dos dados
ao longo do tempo. Este é o caso para a economia brasileira na década de 1990, uma década marcada
por grandes transformações no cenário macroeconômico nacional que afetaram profundamente sua
estrutura produtiva, pois a revisão do PIB na nova base retroagiu até o ano de 1995, não incluindo a
primeira metade da década.9
Com a mudança do ano de referência para 2000, o IBGE retroagiu a série histórica do PIB tri-
mestral até o 1º trimestre de 1995. Os agregados de 1995 a 1999 foram estimados aplicando-se índices
de volume e de preços aos valores estimados para economia no ano 2000. Como as estimativas dos
agregados do ano 2000 incorporaram, dentre outras coisas, pesquisas setoriais com maior representa-
tividade de pequenos e médios estabelecimentos, a estrutura dos totais estimados dessa forma difere
das estimativas obtidas antes da mudança da base de referência. Assim, ao se estimar a segunda metade
dos anos 1990 com base na estrutura da economia em 2000, as séries das Contas Nacionais em valores
não são compatíveis com as da primeira metade dos anos 1990 (a partir de quando o IBGE passou a
divulgar as Contas Nacionais segundo o Novo Sistema), quando as estimativas basearam-se, em mui-
tos casos, em pesquisas com amostras menos robustas.
8
Segundo IBGE (Nota metodológica n. 9, p. 2): “Esta nova série caracteriza-se, principalmente, por
um trabalho de atualização dos conceitos adotados, incorporação de novas fontes de dados e de re-
sultados de pesquisas realizadas especificamente para o ano de referência, e o estabelecimento de mar-
cos estruturais que serão referências para os anos subsequentes”.
9
Vale lembrar que em 1997 o IBGE lançou o Novo Sistema de Contas Nacionais, seguindo as reco-
mendações internacionais compiladas no System of National Accounts de 1993, com dados desde
1990.