Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Teste de avaliação
Avaliação
escrita 2
E. Educação Professor
Grupo I
PARTE A
Lê o excerto do capítulo 148 da Crónica de D. João I, de Fernão Lopes. Se necessário, consulta as notas.
1
queijos: bolbos; 2 alféloa: melaço; 5
lazerando: definhando, passando fome;
10
mezquinhas querelas:discussões banais;
3
mantiinham-se em eles: viviam disso; 6
ameúde: frequentemente;
11
doo: dó, pena; 12 e˜migos: inimigos.
4
almogávares: negociantes de gado; 7
esguardavom: olhavam; 8 prezes alheas:
súplicas dos outros; 9 nojo: tristeza;
Este excerto da Crónica de D. João I ilustra diversas características do estilo de Fernão Lopes: o
tom coloquial, como se verifica em a) __________; a presença de recursos expressivos que
conferem visualismo ao relato, nomeadamente a b) __________, na linha 23; as marcas de
subjetividade, presentes, por exemplo, em c) __________.
a) b) c)
1. «uũs com gram mingua do que 1. personificação 1. «Desfalecia o leite aaquelas que tiinham
padeciam» (linha 24) crianças a seus peitos per mingua de
mantiimento;» (linhas 18-19)
2. «veede que fariam aqueles que as 2. metáfora 2. «Ó quantas vezes encomendavam nas
continuadamente tam presentes missas e preegações que rogassem a
tiinham?» (linha 26) Deos devotamente por o estado da
cidade!» (linhas 28-29)
3. «Pero com todo esto, quando 3. comparação 3. «E ficados de geolhos, beijando a terra,
repicavom, neuũ nom mostrava bradavom a Deos que lhes acorresse»
que era faminto, mas forte e rijo (linha 29)
contra seus ẽmigos.» (linhas 26-27)
E já o praz’é passado
que m’el disse que verria,
15 e que mi havia jurado,
sem gram coita, todavia,
de morte, que se veesse
o mais cedo que podesse.
E se eu end’al7 soubesse,
20 que nunca lhi bem quisesse.
1
u: onde; 5
ergo se fosse coitado de morte: exceto se estivesse ferido de morte;
2
mandado: notícia; 6
maltreito: maltratado;
3
Ca: porque; 7
end’al: outra coisa.
4
preit’: combinação;
4. Identifica três características temáticas que justifiquem a inclusão do texto transcrito nas
cantigas de amigo. Ilustra cada uma delas com um segmento textual pertinente.
a) b) c)
1. comparação 1. «u é meu amigo, / que nom m’envia 1. estivesse muito ferido
mandado?» (versos 1-2) ou a morrer
2. metáfora 2. «Quando s’el de mi partia / chorando 2. deixasse de gostar dela
fez-mi tal preito» (versos 7-8) ou a esquecesse
3. apóstrofe 3. «que se veesse / o mais cedo que 3. confundisse a hora ou
podesse» (versos 5-6) o dia marcado
PARTE C
7. Segundo António José Saraiva, «A existência do povo como sujeito da História, do povo que se
sente senhor da terra onde nasce, vive, trabalha e morre e que ganha consciência coletiva
contra os que querem senhoreá-lo, (…) é a grande realidade que ressalta das crónicas de
Fernão Lopes».
António José Saraiva, «Fernão Lopes», in História e Antologia da Literatura Portuguesa – Século XV,
Lisboa, Fundação Calouste de Gulbenkian, 1998.
Escreve uma breve exposição na qual comproves esta afirmação, baseando-te na tua experiên-
cia de leitura do capítulo 11 ou do capítulo 115 da Crónica de D. João I.
A tua exposição deve respeitar as orientações seguintes:
• uma introdução ao tema;
• um desenvolvimento no qual explicites dois aspetos de um dos capítulos indicados – 11 ou 115 –
que comprovem a afirmação da consciência coletiva do povo, referindo um episódio ilustrativo
de cada um desses aspetos;
• uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema.
Máquina do tempo
De vez em quando, não fica mal ao cronista subir para a Máquina do Tempo, mover as
alavancas adequadas e instalar-se no passado. Bem sabemos todos que o futuro vem aí a galope e
traz muito que contar. E também sabemos que neste país, tão apegado a tradições, velharias e
preconceitos bolorentos, há, paradoxalmente, uma irresistível inclinação para nos acusarmos uns
5 aos outros de saudosistas. Daí que eu me sinta um tanto receoso do grave passo que vou dar.
Até à primeira metade do século XV, aos tempos do Senhor Rei D. Duarte, do Regente D. Pedro
e de D. Afonso VI, o Africano. Um grande salto, como se vê. Não que eu esteja interessado em vir
fazer aqui qualquer reconstituição histórica. Mais modesto propósito me moveu, o qual vem a ser
procurar, na pequena Lisboa do tempo, o guarda-mor da Torre do Tombo, um homem sisudo
10 chamado Fernão Lopes. Quero também, e logo verei se posso, saber com que ingredientes se
compôs a tinta da Crónica de D. João I.
Este livro é para mim uma obsessão, uma ideia fixa. Cá no século XX em que vivo, corro estas
páginas de bárbara ortografia, esta abundância de vogais e consoantes dobradas, estas palavras que
dizem mais do que parece – e fico atordoado, como quem está no sopé 1 de uma altíssima coluna, ou
15 árvore, ou montanha a pique, e ergue os olhos para a vertiginosa ascensão, e logo os baixa porque a
vertigem é real. Por isso vou saber (saberei?) quem é este Fernão Lopes e em que tinteiro molha a
pena para escrever, mesmo no prólogo da sua crónica, esta grave advertência: «Nem emtemdaaes
que certeficamos cousa, salvo de muitos aprovada, e per escprituras vestidas de fe; doutra guisa,
ante nos callariamos, que escprever cousas fallssas.»
20 Vejo um homem de rosto severo, não porque à alegria se tenha recusado, mas porque a matéria
de que trata é carne e sangue de homens. Porque tem diante dos olhos o latejar de um povo e nada
quer perder dos arrebatamentos, das paixões, dos gestos egoístas, das cobardias, e também da
coragem que é de repente maior do que o ser em que se instalou. Porque se é certo que vai contar a
história de príncipes e seus vassalos, dos conluios 2 de palácio, das grandes frases para a posteridade
25 e das breves interjeições da raiva e da dor – também é verdade que pelas estreitas janelas da torre
chegam as palavras quotidianas e toscas dos «ventres ao sol» – massa dispersa que num momento
da história se tornou lança e aríete3, escudo e hora da manhã.
Vejo este homem, leio o que ele está escrevendo, e pergunto: «Quem te conhece, Fernão Lopes?
Quem saberá que nesta sala, entre códices 4 antigos, nasce neste momento talvez o maior livro da
30 literatura portuguesa?»
Vejo este homem, agora que o sol se pôs e uma candeia mortiça sufoca entre as sombras da
noite, a esfregar os olhos cansados, a empurrar a pena vagarosa para contar os padecimentos de
Lisboa.
Meu velho e amado Fernão Lopes, desprezado génio cujo nome por muito favor penduraram na
35 esquina de uma rua ali ao Saldanha. Quando na tua linguagem sem adjetivos querias fazer e fazias
o elogio de um homem, ao nome dele e à palavra homem acrescentavas apenas: e para muito.
Fernão Lopes, cronista da nua verdade, homem para muito – digo eu, neste tempo de tão pouco.
1
sopé: base; 3
aríete: cilindro destinado a arrombar portas;
2
conluios: conspirações; 4
códices: volumes, livros.
2. Ao recorrer à expressão «fico atordoado, como quem está no sopé de uma altíssima coluna,
ou árvore, ou montanha a pique, e ergue os olhos para a vertiginosa ascensão» (linhas 14-15), o
autor utiliza
A. a comparação para enfatizar o impacto da leitura da crónica de Fernão Lopes.
B. a hipérbole para evidenciar a dificuldade inerente à leitura da crónica.
C. a metáfora para destacar a exigência da linguagem e do estilo do cronista.
D. a enumeração para salientar incapacidade de descodificar a ortografia do livro.
4. No último parágrafo desta crónica de Saramago, entre outros aspetos, a invocação de Fernão
Lopes associa-se cumulativamente às ideias
A. de admiração e de crítica. C. de ironia e de arrogância.
B. de compaixão e de vaidade. D. de respeito e de orgulho.
5. Na frase «ergue os olhos para a vertiginosa ascensão, e logo os baixa» (linha 15), o elemento
sublinhado constitui uma anáfora
A. por substituição (sinónimo). C. por substituição (pronominal).
por substituição
B. D. conceptual.
(expressão adverbial).
Na língua portuguesa, a palavra «que» pode pertencer à classe das conjunções, como em
a) __________, ou dos b) __________, por exemplo, no segmento «que num momento da
história se tornou lança e aríete, escudo e hora da manhã» (linhas 26-27). Para além disso, as
conjunções têm vários valores. Por exemplo, a conjunção «porque», repetida ao longo do
quarto parágrafo, adquire um valor c) __________.
a) b) c)
1. «que o futuro vem aí a galope» (linha 2) 1. nomes 1. comparativo
2. «que dizem mais do que parece» (linhas 13-14) 2. advérbios 2. causal
3. «que é de repente maior» (linha 23) 3. pronomes 3. explicativo
Observações:
1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco, mesmo quando esta
integre elementos ligados por hífen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer número conta como uma única palavra, independentemente do
número de algarismos que o constituam (ex.: /2021/).
2. Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados – entre 200 e 350 palavras –, há que atender ao seguinte:
− um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial (até 5 pontos) do texto produzido;
− um texto com extensão inferior a 80 palavras é classificado com 0 pontos.
FIM