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ISSN 1413-389X Trends in Psychology / Temas em Psicologia – 2015, Vol.

23, nº 3, 577-591
DOI: 10.9788/TP2015.3-05

Gênero, Sexualidade e Diversidade na Escola


a partir da Perspectiva de Professores/as

Ana Flávia do Amaral Madureira1


Curso de Graduação e Curso de Mestrado em Psicologia do Centro Universitário
de Brasília, Brasilia, DF, Brasil
Ângela Uchoa Branco
Departamento de Psicologia Escolar e do Desenvolvimento da Universidade de Brasília,
Brasília, DF, Brasil

Resumo
A partir da perspectiva sociocultural, a pesquisa teve como objetivo analisar as concepções e crenças
de professores/as do Ensino Fundamental, de 5a a 8a séries (atualmente 6o a 9o ano), da rede pública
de ensino do Distrito Federal em relação às questões de gênero, sexualidade e diversidade. Em termos
metodológicos, foram aplicados questionários na 1a etapa, envolvendo 122 professores/as de sete esco-
las distintas. Na 2a etapa, participaram 10 professores/as de duas escolas que contribuíram na 1a etapa.
Foram realizadas entrevistas individuais semiestruturadas e quatro reuniões de grupos focais em cada
uma das duas escolas. Os resultados indicaram que, apesar da maioria dos/as participantes acreditar
que a escola deve realizar um trabalho de educação sexual, há uma lacuna entre o que está previsto
nos Parâmetros Curriculares Nacionais e o que ocorre de fato. Quando existe um trabalho de educação
sexual, este corresponde a um trabalho limitado. Foi identificada uma lacuna, em termos de formação
de professores, para lidar com as questões de gênero, sexualidade e diversidade na escola. Ao lidar com
tais questões, os/as professores/as utilizam suas experiências e opiniões pessoais. Há um silêncio sobre
a dimensão afetiva e prazerosa da sexualidade, o que parece distanciar o discurso dos/as professores/as
do universo adolescente. Os resultados indicaram a necessidade de incorporação dos estudos de gênero
e sexualidade nos cursos de Licenciatura, atividades de capacitação na área que contemplem discussões
sobre as raízes histórico-culturais e as bases afetivas dos preconceitos e adoção de uma abordagem in-
tegrada de combate à homofobia e ao sexismo.
Palavras-chave: Gênero, sexualidade, diversidade na escola, preconceito, formação de professores/as.

Gender, Sexuality and Diversity in Schools


from Teachers’ Perspective

Abstract
From a sociocultural perspective, the present research analyzed 5th to 8th grade Middle School (“Ensino
Fundamental” in Brazil) teachers’ beliefs and conceptualizations about gender, sexuality and diver-

1
Endereço para correspondência: Centro Universitário de Brasília (UniCEUB), Curso de Psicologia, SEPN
707/907, Campus do UniCEUB, Asa Norte, Brasília, DF, Brasil 70790-075. E-mail: madureira.ana.flavia@
gmail.com
Este artigo foi elaborado a partir da tese de doutorado da primeira autora, sob a orientação da segunda autora, in-
titulada: Gênero, sexualidade e diversidade na escola: a construção de uma cultura democrática. Tese de douto-
rado defendida e aprovada em dezembro de 2007 no Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB).
As autoras gostariam de agradecer ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq) pelo suporte financeiro da pesquisa realizada, bem como às auxiliares de pesquisa Júlia Lagos Oliveira
e Amanda de Oliveira Mota, na época alunas de graduação em Psicologia da UnB.
578 Madureira, A. F. A., Branco, A. U.

sity in Distrito Federal, Brazil. The methodology consisted of questionnaires during the first phase
of the study, answered by 122 teachers from seven different public schools. In the second phase, 10
teachers from two schools that participated in the first phase participated of individual semi-structured
interviews, as well as of four focal group sessions carried out in each one of the two schools. Results
show that although the majority of participants agree that schools have to develop sexual educational
programs, there is a gap between the public educational policy established by the National Curriculum
Guidelines and what actually happens. When there is a sexual educational project, it seems to be very
limited. The study revealed the absence of specific trainings for teachers to deal with gender, sexuality
and diversity issues in schools. Teachers end up dealing with such issues using their own personal expe-
riences and opinions. There is a silence about the dimensions of affection and pleasure of the sexuality
domain, and this silence seems to distance teachers’ discourse from the concerns of adolescents’ world.
Results show the necessity of including gender and sexuality studies as an important topic in teachers’
graduation courses, as well as the implementation of specific trainings to promote discussions about the
historical-cultural roots and the affective basis of prejudices, adopting an integrative perspective against
homophobia and sexism.
Keywords: Gender, sexuality, diversity in schools, prejudice, teachers’ training.

Género, Sexualidad y Diversidad en Escuelas


desde la Perspectiva de los/as Maestros/as

Resumen
Desde el punto de vista sociocultural, la investigación tuvo como objetivo examinar las ideas y creencias
de maestros/as de la escuela primaria de la red publica del Distrito Federal, Brasil, sobre las cuestiones
de género, sexualidad y diversidad. En cuanto a la metodología, en la primera etapa fueron administra-
dos cuestionarios, abarcando 122 maestros/as de siete escuelas distintas. En la segunda etapa, partici-
paron 10 maestros/as de dos escuelas que ya habían contribuido a la primera etapa. Fueron realizadas
entrevistas individuales semiestructuradas y cuatro sesiones de grupos focales en cada una de las dos
escuelas. Los resultados indicaron que, aunque la mayoría de los participantes creen que la escuela debe
llevar a cabo la educación sexual, hay una brecha entre lo que se prevé en el plan de estudios nacional y
lo que realmente ocurre. Cuando existe un trabajo volcado a la educación sexual, este aun es limitado.
Se identificó una brecha, en términos de formación, para hacer frente a cuestiones de género, sexualidad
y diversidad en la escuela, en las cuales los/as maestros/as utilizan sus experiencias y opiniones persona-
les. Hay un silencio acerca de la dimensión afectiva y agradable de la sexualidad. Esto parece distanciar
el discurso de los/as maestros/as del universo de los adolescentes. Los resultados indicaron la necesidad
de incorporar los estudios de género y sexualidad en los cursos de pregrado y actividades de capacitaci-
ón que contemplen discusiones sobre las raíces histórico-culturales y afectivas de los prejuicios bajo un
enfoque integrado para combatir la homofobia y el sexismo.
Palabras clave: Género, sexualidad, diversidad en las escuelas, prejuicio, capacitación de maestros/as.

O presente artigo apresenta os principais escolar. Considerando o papel fundamental das


resultados de uma pesquisa ampla, que envol- universidades públicas brasileiras na forma-
veu a articulação entre diferentes métodos de ção docente em todos os níveis educacionais, a
investigação. A pesquisa focalizou as concep- pesquisa buscou construir conhecimentos que
ções e crenças de professores/as da rede pública pudessem ser integrados à formação básica e
de ensino do Distrito Federal sobre questões de continuada de professores/as, no que se refere ao
gênero, sexualidade e diversidade no contexto desenvolvimento de competências para lidar de
Gênero, Sexualidade e Diversidade na Escola a partir da Perspectiva de Professores/as 579

forma construtiva com a diversidade na escola são definidos como fronteiras simbólicas rígidas,
e, de forma mais específica, com as questões de construídas historicamente e com forte enraiza-
gênero e sexualidade. Para tanto, é importante mento afetivo, que acabam por se constituir em
partirmos das concepções e crenças de professo- barreiras culturais entre grupos sociais e entre
res/as que estejam em contato direto com os/as indivíduos (Madureira, 2007a, 2007b).
alunos/as no cotidiano. Nos diversos contextos culturais existem
A base teórica da pesquisa está situada na fronteiras simbólicas que delimitam, de forma
psicologia sociocultural (Bruner, 1997; Cole, semipermeável, as diferenças entre os indiví-
1992; Madureira & Branco, 2012a, 20012b; Ra- duos e grupos sociais. Quando tais fronteiras se
tner, 2002; Rogoff, 2003; Valsiner, 2007; Val- tornam rígidas, não permeáveis, e passam a qua-
siner & Rosa, 2007). A psicologia sociocultural lificar alguns grupos a partir da desqualificação
corresponde a um campo de conhecimento híbri- constante e difusa de outros grupos, percebemos
do, interdisciplinar, resultado de diálogos histó- o preconceito em ação, ou seja, a discrimina-
ricos estabelecidos entre a psicologia, a sociolo- ção. Quando estas fronteiras rígidas são alvos de
gia, a história, a antropologia, a linguística, entre transgressão, percebemos a violência e a intole-
outros. A psicologia sociocultural não seria um rância, subjacentes às práticas discriminatórias,
grupo teoricamente coerente, mas sim uma ‘fa- em relação aos/às supostos/as ‘transgressores/
mília’ heterogênea (Valsiner & Rosa, 2007). A as’ (Madureira & Branco, 2012b). Para a manu-
psicologia sociocultural tem como um dos seus tenção das desigualdades sociais é fundamental
pressupostos centrais a gênese social do desen- que tais fronteiras sejam respeitadas, não im-
volvimento psicológico individual. Além disso, portando o preço pago em termos de sofrimen-
considera os conceitos de cultura, mediação se- to psíquico. Afinal, sentir-se inferiorizado/a ou
miótica e experiência como ferramentas teórico- desqualificado/a por defeitos pré-supostos não é,
-conceituais estruturantes do seu olhar teórico certamente, uma experiência agradável.
(Bruner, 1997; Madureira, 2012; Madureira & Um estudo anterior (Madureira, 2000) evi-
Branco, 2012a, 2012b; Valsiner, 2007). denciou o quanto o preconceito e a discrimina-
Consideramos que as experiências humanas ção em relação às identidades sexuais não he-
sempre ocorrem em contextos culturais estrutu- gemônicas acabam por se constituir em foco de
rados, perpassados por crenças, valores e práti- sofrimento psíquico (ansiedade, depressão, cul-
cas enraizadas historicamente e que canalizam, pa, vergonha...) por parte de sujeitos que apre-
de diferentes formas, os processos de significa- sentam orientações sexuais distintas da heteros-
ção. Ao utilizarmos o termo canalização cultural sexualidade. A pesquisa indicou a relevância de
destacamos o papel ativo das pessoas concretas se considerar as estratégias pessoais e coletivas
nos processos de significação em relação ao utilizadas pelos/as participantes no cotidiano
mundo social em que estão inseridas e em rela- para lidar com o preconceito e a discriminação
ção a si mesmas (Madureira & Branco, 2005). em relação às identidades sexuais não hegemô-
Portanto, a cultura constitui um conceito central nicas. Tais estratégias são constitutivas da forma
que permite analisar o desenvolvimento humano como estas pessoas vivenciam as suas experiên-
em sua natureza simbólica. Afinal, o desenvol- cias homoeróticas, suas relações sociais e con-
vimento psicológico individual não ocorre ape- sigo mesmas (Madureira, 2000; Madureira &
nas em um ambiente físico e social, mas também Branco, 2007).
simbólico, pois “. . . dar sentido ao mundo é uma Focalizar os preconceitos e as práticas dis-
força poderosa e inevitável na vida em socieda- criminatórias em relação à diversidade sexual e
de” (Spink & Medrado, 1999, p. 41). de gênero no espaço escolar é uma forma de de-
Neste artigo, consideramos os preconceitos, nunciar, por um lado, os processos de exclusão
como homofobia, sexismo, racismo, xenofobia, presentes em nossa sociedade. Por outro lado, é
fundamentalismo religioso e tantos outros, en- uma forma de indicar a existência de outras pos-
quanto fenômenos de fronteira. Os preconceitos sibilidades de lidar com a diversidade humana,
580 Madureira, A. F. A., Branco, A. U.

em sintonia com a construção de éticas multi- as entrevistas e grupos focais, referentes à segun-
culturais (Demo, 2005) e com a construção de da etapa da pesquisa, permitiram a construção de
uma cultura democrática em diferentes espaços uma compreensão intensiva (aprofundada) sobre
da vida social, incluindo o espaço escolar. o objeto de estudo. Cabe esclarecer que, em ter-
O objetivo da pesquisa foi analisar as con- mos analíticos e interpretativos, privilegiou-se a
cepções e crenças de professores/as do Ensino análise qualitativa das informações construídas
Fundamental, de 5a a 8a séries (atualmente, 6o na segunda etapa da investigação. Nesse senti-
a 9o ano), da rede pública de ensino do Distri- do, é pertinente afirmar que a pesquisa realizada
to Federal em relação às questões de gênero e correspondeu a uma investigação eminentemen-
sexualidade, com destaque para a questão da di- te qualitativa, apesar da utilização de um método
versidade sexual e de gênero. Estas questões fo- quantitativo na primeira etapa da investigação.
ram analisadas visando também obter subsídios A segunda etapa da pesquisa incluiu en-
para futuras propostas para a formação docente, trevistas individuais semiestruturadas e grupos
inicial e continuada, que contemple as referidas focais de discussão, tendo em vista reunir in-
questões. formações sobre as concepções e crenças dos/as
participantes sobre questões de gênero e sexua-
Método lidade. Tanto as entrevistas individuais como as
discussões em grupos focais apresentam vanta-
A pesquisa foi realizada em duas etapas dis- gens e desvantagens (Gaskell, 2002). Portanto,
tintas. Na primeira etapa, os/as professores/as ao integrá-las em uma mesma pesquisa procu-
de sete escolas públicas do Distrito Federal fo- ramos compensar as desvantagens e potenciali-
ram investigados/as mediante a aplicação de um zar as vantagens de cada uma. Por exemplo, as
questionário com questões fechadas e abertas entrevistas individuais, por um lado, permitem a
(total: 122 questionários aplicados). Na segunda construção de análises mais aprofundadas sobre
etapa, dez professores/as de duas escolas públi- as concepções e crenças de cada participante de
cas selecionadas participaram de uma entrevista forma singular. Por outro lado, os grupos focais
individual semiestruturada e quatro sessões de permitem identificar mais claramente os temas
grupo focal em cada escola selecionada (seis que tendem a suscitar posicionamentos conver-
professores/as de uma escola e quatro professo- gentes, bem como aqueles que tendem a suscitar
ras de outra escola), totalizando oito sessões. posicionamentos divergentes, ou mesmo antagô-
É importante destacar que buscamos inte- nicos, no fluxo das interações interpessoais no
grar distintos métodos de investigação, em sin- momento das discussões.
tonia com o pluralismo metodológico defendido É importante destacar que a entrevista não
por Bauer, Gaskell e Allum (2002). Contudo, a é um ‘meio para acessarmos os “conteúdos in-
investigação foi eminentemente qualitativa, pois trapsíquicos do sujeito investigado, como se os
todas as informações obtidas foram subordina- mesmos já estivessem prontos dentro de sua
das a construção de uma rede interpretativa que cabeça. . . . O momento da entrevista consiste
possibilitou uma compreensão aprofundada dos em um espaço dialógico” (Madureira & Branco,
significados atribuídos pelos/as participantes em 2001, p. 72). Ou seja, a entrevista caracteriza-
relação às questões de gênero, sexualidade e di- -se pela “troca de ideias e significados, em que
versidade no contexto escolar. várias realidades e percepções são exploradas e
Os questionários, aplicados na primeira eta- desenvolvidas” (Gaskell, 2002, p. 73) através de
pa da pesquisa, possibilitaram a construção de um processo coconstrutivo (Madureira & Bran-
uma visão panorâmica sobre as concepções e co, 2001). Em síntese, defendemos que tanto as
crenças dos/as professores/as de sete escolas pú- entrevistas individuais semiestruturadas como
blicas em relação à temática em questão, possi- os grupos focais, enquanto métodos de pesquisa,
bilitando uma compreensão mais extensiva (am- correspondem a espaços dialógicos de cocons-
pla) sobre o fenômeno investigado. Por sua vez, trução de significados por parte dos/as partici-
Gênero, Sexualidade e Diversidade na Escola a partir da Perspectiva de Professores/as 581

pantes e do/a pesquisador/a sobre o objeto de que cada professor/a classificasse em uma esca-
estudo em foco. la de 1 a 10 o seu prazer ou o seu desconforto
diante de cada situação, seguida da discussão
Participantes sobre o espaço do prazer e do afeto nas discus-
Na primeira etapa da pesquisa, participa- sões sobre sexualidade na escola; (c) discussão
ram 122 professores/as de sete escolas públicas de casos concretos, envolvendo questões de se-
de Ensino Fundamental, de 5a a 8a séries (atual xualidade na escola, extraídos de uma revista
6o ao 9o ano), do Distrito Federal (n = 122). Na que tem como público-alvo os/as profissionais
segunda etapa, 10 professores/as – de duas es- de educação (Revista Nova Escola); dentre ou-
colas selecionadas: Escola A (n = 6), situada no tras atividades.
Núcleo Bandeirante/DF e Escola B (n = 4), situ- Cabe mencionar que as entrevistas e os gru-
ada no Gama/DF – participaram das entrevistas pos focais foram gravados em áudio, com o con-
individuais semiestruturadas. Os/as professores/ sentimento dos/as professores/as.
as entrevistados/as participaram, também, de
quatro sessões de grupo focal realizadas em cada Resultados e Discussão
uma das escolas selecionadas.
No presente artigo, a discussão dos resulta-
Procedimentos de Construção dos foi organizada a partir dos seguintes eixos
de Informações temáticos:
1. Gênero, sexualidade e educação sexual nas
Inicialmente, foram aplicados 122 questio-
escolas; e,
nários entre professores/as de sete escolas públi-
2. Diversidade sexual e de gênero no contexto
cas do Distrito Federal, distribuídas entre quatro
escolar: a tensão entre a reprodução de pre-
Regionais de Ensino. Dentre as escolas que par-
conceitos e o respeito à diversidade.
ticiparam nessa etapa, foram selecionadas duas
Cabe destacar que, considerando os limites
escolas para a etapa seguinte, com base na recep-
de espaço de um artigo, o que será apresentado
tividade e interesse demonstrados pela Direção e
corresponde, obviamente, a um recorte da pes-
corpo docente.
quisa ampla realizada.
Na segunda etapa, foram realizadas entre-
vistas individuais semiestruturadas com 10 pro-
Gênero, Sexualidade e Educação
fessores/as das duas escolas selecionadas: Escola
Sexual nas Escolas
A (n = 6); Escola B (n = 4). Todos/as assinaram
o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Observamos grande dificuldade na maioria
(TCLE). Cada entrevista teve uma duração apro- dos/as professores/as em refletir sobre as ques-
ximada de 120 minutos. O roteiro de entrevista tões de gênero. O conceito de gênero parece
foi estruturado a partir de 17 perguntas abertas. distante de sua realidade, e continua restrito ao
Para a realização das reuniões com os grupos fo- universo acadêmico. Enquanto as discussões
cais, foi elaborado um roteiro flexível, visando acadêmicas sobre gênero alcançam um nível
nortear as atividades que seriam desenvolvidas teórico-conceitual cada vez mais sofisticado, nas
com os/as professores/as. escolas a concepção de que as masculinidades e
Nos grupos focais foram desenvolvidas as feminilidades são construções culturais ainda
diversas atividades, como, por exemplo: (a) di- é uma concepção distante. Portanto, pensar sobre
nâmica de grupo voltada para a construção de questões de gênero de forma mais abstrata torna-
histórias a partir de imagens extraídas de livros e -se uma tarefa complicada para muitos/as profes-
revistas, seguida de discussão sobre as questões sores/as. No entanto, os/as professores/as conse-
de gênero, sexualidade e diversidade a partir das guiam refletir sobre gênero a partir de exemplos
histórias construídas pelos/as participantes; (b) concretos, trazidos pela pesquisadora ou de sua
apresentação de dez situações hipotéticas para autoria. Assim, é interessante que nas disciplinas
582 Madureira, A. F. A., Branco, A. U.

ofertadas nos cursos de Licenciatura, bem como Woodward, 2000). Por exemplo, algumas pro-
em atividades de formação continuada, as dis- fessoras expressaram concepções sobre a mas-
cussões tenham, como ponto de partida, exem- culinidade do estilo: ‘os homens são assim’ (não
plos concretos extraídos do cotidiano escolar. dividem as tarefas domésticas). Percebemos o
Portanto, sugerimos que os aspectos teóri- quanto o essencialismo cumpre um papel estra-
co-conceituais, relativos ao campo de estudo in- tégico na manutenção das relações de gênero de-
terdisciplinar sobre as questões de gênero, sejam siguais, na medida em que desloca o problema
introduzidos após as discussões de exemplos – sobrecarga de trabalho por parte das mulheres
concretos do cotidiano escolar. Dessa forma, – para um campo insolúvel: a suposta ‘nature-
acreditamos que as discussões sobre as questões za’ masculina. Tal ‘argumento’ foi utilizado, ex-
de gênero seriam mais produtivas e significativas plicitamente, em uma das entrevistas realizadas
para os/as estudantes dos cursos de Licenciatura. (entrevista 6 - categoria analítica: gênero, vol-
No que se refere às relações entre homens e tada à análise das concepções e crenças dos/as
mulheres na sociedade brasileira atual, 59,01% participantes sobre as questões de gênero).
dos/as participantes que responderam o ques- Cabe, então, questionarmos: se as relações
tionário afirmam que a sociedade espera, sim, entre homens e mulheres estão estruturadas a
coisas diferentes de homens e mulheres. Nas partir de uma suposta ‘natureza’ masculina e uma
entrevistas e nos grupos focais, em diferentes suposta ‘natureza’ feminina, como tais relações
momentos, os/as participantes comentaram que, podem ser transformadas visando à promoção de
apesar das mudanças ocorridas nas últimas dé- relações igualitárias? A resposta óbvia seria: não
cadas, a sociedade brasileira continua machis- podem ser mudadas. Eis um ponto nevrálgico na
ta. Cabe mencionar que a 2a etapa da pesquisa promoção da igualdade de gênero, é necessário
contou com a participação de nove professoras e um questionamento radical desta visão essencia-
um professor. É importante destacar que o único lista sobre homens e mulheres. Certamente, há
professor que participou desta etapa é uma pes- diferenças biológicas entre homens e mulheres.
soa bastante sensibilizada em relação à relevân- Entretanto, o ‘argumento’ essencialista ampli-
cia de discussões sobre as questões de gênero, fica as diferenças biológicas e, principalmente,
apresentando uma visão crítica em relação ao utiliza a Biologia para justificar as desigualdades
machismo ainda vigente em nossa sociedade. sociais entre homens e mulheres.
Em linhas gerais, os/as participantes da 2a Argumentos pseudocientíficos, ancorados
etapa da investigação acreditam que não houve na Biologia, têm sido utilizados, frequentemen-
uma mudança efetiva nas relações de gênero na te, desde o século XIX, para justificar uma série
esfera privada. As mulheres estão submetidas a de desigualdades entre grupos sociais: entre ho-
uma dupla, tripla jornada de trabalho, sentida na mens e mulheres, entre brancos e negros, entre
‘pele’ pelas professoras. Mesmo quando as mu- pobres e ricos, como bem demonstrou Stephen
lheres têm uma inserção profissional, como é o Jay Gould (1991), em sua obra “A Falsa Medida
caso das professoras que participaram da pesqui- do Homem”. Portanto, é de suma importância na
sa, as mesmas têm que lidar com as expectati- formação de educadores/as a promoção de dis-
vas sociais tradicionais relativas aos ‘papéis’ de cussões críticas sobre argumentos voltados para
mãe, esposa e dona de casa. legitimação de desigualdades sociais, a partir de
Contudo, esta percepção não implica, ne- uma apropriação equivocada e de generalizações
cessariamente, em um questionamento crítico distorcidas de conhecimentos produzidos pela
sobre as desigualdades nas relações de gênero na Biologia. No combate às diversas formas de pre-
esfera privada/familiar. Algumas professoras pa- conceito, tais discussões assumem uma relevân-
recem lançar mão de uma visão essencialista so- cia ainda maior quando consideramos o espaço
bre as questões de gênero, criticada por diversos/ de poder ocupado pelos discursos científicos na
as autores/as na contemporaneidade (Hall, 1998; contemporaneidade. O que acaba por conferir
Louro, 1998, 2004; Moreira & Câmara, 2008; um ‘verniz de cientificidade’ a argumentos que,
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na realidade, estão fundamentados em concep- controle informal sobre o corpo e a sexualidade


ções preconceituosas. feminina (Madureira, 2007a, 2012).
Ainda em relação às questões de gênero, foi Isso significa que sempre devemos estar
identificado no discurso dos/as professores/as atentos/as em relação às concepções, crenças,
um descompasso entre a promoção da igualdade valores e práticas culturais de homens e mulhe-
entre homens e mulheres na esfera profissional res que acabam por sustentar relações de gênero
(mundo público) e na esfera dos relacionamentos desiguais. Apesar de reconhecermos que, his-
amorosos, no casamento e nas relações familia- toricamente, as relações de gênero têm benefi-
res (mundo privado). A igualdade na esfera pro- ciado os homens (Bourdieu, 2005), tais relações
fissional é defendida por todos/as os/as professo- são organizadas e sustentadas por homens e mu-
res/as que participaram das entrevistas e grupos lheres.
focais. O que, por sinal, faz todo sentido, já que Outros exemplos podem ser extraídos dos
a grande maioria dos/as participantes da 2a eta- resultados obtidos na 3ª reunião de discussão no
pa da investigação é formada por mulheres pro- grupo focal da Escola B. Nessa reunião, uma das
fissionais. Entretanto, quando saímos da esfera professoras afirmou que:
profissional e focalizamos as relações entre ho- hoje, a mulher [ênfase na fala da professo-
mens e mulheres na esfera privada, percebemos ra], ela se tornou alvo muito fácil [ênfase na
a existência de concepções e crenças divergen- fala da professora]. Hoje o aluno . . . quando
tes. Por exemplo, uma professora afirmou que: eu falo o aluno é o homem, ele não tem o
Eu acho que muita igualdade, também, não prazer da conquista mais. Na verdade, é ela
faz bem não, sabe? . . . porque já é tudo, que se oferece pra ele.
tudo direitos iguais, tanto no serviço, no Diante desta constatação, a professora acon-
trabalho, a procura é essa, né? Aí, você tem selha que
uma, assim, uma igualdade, uma liberdade mulher tem que ser difícil, porque mulher
sexual [ênfase na fala da professora], enten- muito fácil, nenhum homem se interessa
deu? Uma liberdade sexual que eu, assim, [ênfase na fala da professora]. Mas não é no
às vezes eu acho que não vale a pena, sabe? sentido de não ter nada [ênfase na fala da
Essa professora defende que homens e mu- professora] com ninguém, mas no sentido de
lheres não devem ter direitos iguais na esfera qualquer um pegar, qualquer um tocar.
da sexualidade. Tal igualdade implicaria, na Neste grupo focal, inclusive, uma temática
percepção dela, em uma liberdade sexual para recorrente foi a questão da desvalorização da
as mulheres que não seria desejável, na medida mulher na atualidade, sendo que tal desvalori-
em que ela acredita que: “a mulher tem que se zação é associada, em diferentes momentos, à
preservar mais, se resguardar”. Liberdade sexual atitude das próprias mulheres.
para as mulheres é interpretada, por ela, como Constatamos, portanto, a reprodução de sig-
sinônimo de promiscuidade. Nesta entrevista fi- nificados culturais arcaicos sobre a feminilidade
cou evidente que a expectativa social de que as que expressam uma visão pejorativa sobre a se-
mulheres sejam mais ‘recatadas’ no exercício da xualidade das mulheres. O desenvolvimento de
sexualidade – ou seja, mais ‘passivas’ (Parker, análises críticas sobre as raízes históricas de tais
1991) – não pode ser interpretada a partir de ex- significados culturais arcaicos acerca da femini-
plicações simplistas, que circulam no cotidiano, lidade é de suma importância. Por exemplo, em
do estilo: “é a opressão masculina”. As próprias outro estudo (Madureira, 2012), foram proble-
mulheres ocupam, frequentemente, uma posição matizadas as raízes históricas da visão pejorati-
estratégica no controle social sobre o corpo e a va sobre o corpo e a sexualidade das mulheres a
sexualidade feminina, pois vigiam, avaliam e partir da análise de alguns elementos presentes
julgam o comportamento sexual de outras mu- na iconografia cristã medieval. Período histórico
lheres. Afinal, a fofoca sobre a vida sexual de fortemente marcado pela misoginia, pela asso-
outras mulheres é um eficiente mecanismo de ciação entre feminilidade e forças demoníacas.
584 Madureira, A. F. A., Branco, A. U.

Nesse sentido, as mulheres são consideradas acordo com algumas das propostas de educação
‘perigosas’, culpadas por ‘desencaminharem’ os sexual construídas pelos/as professores/as que
homens e, portanto, deveriam ser alvo do mais participaram da pesquisa. O trabalho deveria ser
estrito controle social, a fim de que seu “poten- desenvolvido a partir de uma metodologia par-
cial pecador intrínseco” não se manifestasse. ticipativa que integre a apresentação de infor-
De forma implícita, seriam as alunas “as- mações e a realização de discussões com os/as
sanhadas” que provocariam a sexualidade dos alunos/as. Para tanto, foi sugerida pelos/as par-
alunos (nunca o inverso). Se, por um lado, há ticipantes da pesquisa a utilização de recursos
o reconhecimento por parte das professoras que variados, como filmes, debates, jogos, drama-
os alunos rotulam de forma pejorativa as alunas tizações, análise crítica de piadas e programas
consideradas “assanhadas”; por outro lado, o ró- televisivos, dentre outros. Para a concretização
tulo em si não é objeto de questionamento. São do trabalho idealizado, os/as participantes enfa-
as alunas que recebem conselhos para mudar de tizaram a necessidade de: (a) capacitação profis-
atitude e passarem ‘a se valorizar’. Curiosamen- sional; (b) estabelecimento de parcerias entre a
te, a valorização da mulher passa pela valori- escola e outras instituições; (c) envolvimento da
zação do seu corpo, enquanto que no caso dos família e da comunidade.
homens tal associação parece ser bem incomum. Cabe mencionar que alguns temas – como
Mais do que isso: é incompatível com a lógica diversidade sexual e preconceitos – foram
cultural subjacente à construção da masculinida- contemplados nos objetivos delineados por
de hegemônica, marcada pelo elogio à precoci- alguns(mas) participantes, mas não por todos/as.
dade e diversidade de experiências sexuais, ao Mas não são apenas convergências e divergên-
comportamento ativo na esfera da sexualidade, cias que cercam o tema da sexualidade na escola,
à virilidade (Bourdieu, 2005; Junqueira, 2009; há muitos silêncios e ‘não ditos’ também. Tal-
Parker, 1991). vez, o maior silêncio seja em torno da dimensão
De diferentes formas, significados arcaicos afetiva e, principalmente, em torno da dimensão
sobre a feminilidade e a masculinidade – que prazerosa da sexualidade. Falar em prazer, ao se
remontam à sociedade brasileira no período co- trabalhar com o tema sexualidade na escola, pa-
lonial, como analisado por Parker (1991) – são rece ser algo bastante problemático. Após a rea-
reatualizados no cotidiano das escolas. Ou seja, lização da dinâmica “prazer versus desconforto”
a dicotomia: (a) masculinidade – atividade – do- – recurso utilizado para estimular a discussão
mínio do espaço público versus (b) feminilidade entre os/as professores/as sobre a afetividade e
– passividade – domínio do espaço privado, con- os prazeres na esfera da sexualidade (grupos fo-
tinua bem viva na atualidade. Com uma curio- cais, 3a reunião) – um dos professores da Escola
sa diferença: as mulheres, da classe média e da A (professor de Ciências) afirmou que:
classe alta da sociedade, conquistaram o espaço Porque eu tenho receio de até que ponto
público do trabalho, mas continuam sendo alvo eu posso estar falando, até que ponto a
de constantes avaliações morais por parte de ho- família vai permitir que o filho dela possa
mens e de outras mulheres. ouvir aquilo [ênfase na fala do professor].
As formas como homens e mulheres viven- Porque isso foge do conteúdo, foge do que
ciam e dão sentido à sua sexualidade é mediada, de a Secretaria [de Educação] pede [ênfase na
forma importante, pelas crenças, valores e práti- fala do professor] que eu faça. Entendeu?
cas culturais orientados pelas questões de gênero Então, existe essa dificuldade de tá falando
(Blackwood, 2000). Em termos de formação de realmente.
professores/as, é necessário considerar a dimen- Diante de tais obstáculos, parece que a me-
são motivacional e integrarmos sexualidade e lhor solução é o silêncio diante desta questão ou
gênero. É preciso também abordar a sexualidade a adoção de uma abordagem superficial. Traba-
evitando a reprodução de estereótipos de gênero. lhar com a questão dos prazeres sexuais parece
O tema em foco poderá ser trabalhado de ser bastante incômodo, representando uma ame-
Gênero, Sexualidade e Diversidade na Escola a partir da Perspectiva de Professores/as 585

aça no contexto de uma instituição que lida, no relação autônoma, responsável e prazerosa com
seu cotidiano, com a expectativa social ambígua a própria sexualidade.
de ser, por um lado, ‘assexuada’ e, por outro De acordo com os Parâmetros Curriculares
lado, incentivar a heterossexualidade (Louro, Nacionais: 5a a 8a séries (Secretaria de Educação
1998). É importante destacar, também, que nas Fundamental, 1998), a educação sexual no con-
discussões nos grupos focais em ambas as esco- texto escolar deve ser realizada de forma inter-
las, emergiu a imagem da sexualidade como um disciplinar, de modo a contemplar os seguintes
“terreno perigoso”, “escorregadio”. Parece que a eixos norteadores: (a) corpo: matriz da sexuali-
abordagem mais segura no contexto escolar tem dade; (b) relações de gênero; e (c) prevenção das
como foco as potenciais consequências negati- doenças sexualmente transmissíveis/Aids. Além
vas do exercício da sexualidade na adolescência: disso, deve estimular a construção de um pensa-
gravidez precoce e DSTs (doenças sexualmente mento crítico em relação aos estereótipos e dis-
transmissíveis)/AIDS. Em outras palavras, a ên- criminações no campo da sexualidade, conforme
fase recai nos riscos e nos perigos relacionados é expresso no trecho a seguir:
ao exercício da sexualidade. Outras dimensões O trabalho com Orientação Sexual supõe
da sexualidade simplesmente não são abordadas, refletir sobre e se contrapor aos estereóti-
notadamente a questão do prazer e da afetivida- pos de gênero, raça, nacionalidade, cultura e
de. Para alguns(mas) participantes, parece, in- classe social ligados à sexualidade. Implica,
clusive, que o uso de preservativos nas relações portanto, colocar-se contra as discrimina-
sexuais assume uma importância secundária ções associadas a expressões da sexualida-
diante da expectativa social (implícita) de que de, como a atração homo ou bissexual, e aos
os/as adolescentes não tenham uma vida sexual profissionais do sexo. (Secretaria de Educa-
ativa. ção Fundamental, 1998, p. 316)
Esse é um aspecto central constatado na pes- Os Parâmetros Curriculares Nacionais (Se-
quisa realizada: o silêncio, intencional ou não, cretaria de Educação Fundamental, 1998) apre-
sobre a afetividade e, principalmente, sobre o sentam, portanto, diretrizes para o trabalho de
prazer nas discussões sobre sexualidade na esco- educação sexual no contexto escolar distantes
la, parece ser um dos elementos que distanciam do ‘porto seguro’ do discurso biomédico, cir-
o discurso dos/as professores/as do universo de cunscrito aos aspectos meramente biológicos da
preocupações e questionamentos dos/as adoles- sexualidade. Diretrizes que, infelizmente, ainda
centes. parecem distantes da realidade cotidiana de mui-
Não seria exagero supor que este silêncio tas escolas.
acabe por se constituir em um dos obstáculos
para o estabelecimento de um espaço dialógico, Diversidade Sexual e de Gênero
entre alunos/as e professores/as, favorável ao no Contexto Escolar: A Tensão
desenvolvimento da autonomia e da responsabi- entre a Reprodução de Preconceitos
lidade em relação à sexualidade por parte dos/ e o Respeito à Diversidade
as adolescentes. Isso acaba por comprometer o . . . Tanto homens como mulheres que apre-
objetivo geral do trabalho de educação sexual na sentam uma identidade sexual não-hege-
escola, conforme estabelecido nos Parâmetros mônica se constituíram enquanto sujeitos
Curriculares Nacionais: 5a a 8a séries (Secreta- em contextos socioculturais marcados, em
ria de Educação Fundamental, 1998, p. 311): diferentes graus, pela homofobia, por uma
“A finalidade do trabalho de Orientação sexual concepção de normalidade que exclui outras
é contribuir para que os alunos possam desen- possibilidades de vivência da própria sexua-
volver e exercer sua sexualidade com prazer e lidade. (Madureira & Branco, 2007, p. 87)
responsabilidade . . .”. Em síntese, o trabalho de Como discutido no tópico anterior, a sexu-
educação sexual na escola deve buscar estimular alidade não está do lado de fora dos muros da
entre os/as alunos/as o desenvolvimento de uma escola. Da mesma forma, não são externos ao
586 Madureira, A. F. A., Branco, A. U.

espaço escolar os preconceitos em relação àque- a construção de estratégias de promoção do res-


les e àquelas que não correspondem aos padrões peito à diversidade sexual e de gênero na escola.
hegemônicos em termos de orientação afetivo- Como há uma estreita relação entre os pre-
-sexual e/ou identidade de gênero. Situações em conceitos e o sistema de valores pessoais (Madu-
que um aluno ou uma aluna são alvo de gozação reira, 2012; Madureira & Branco, 2012a, 2012b),
por parte dos/as colegas, por apresentarem com- aqueles indivíduos que, por diversos motivos,
portamentos considerados ‘culturalmente’ não estabeleceram uma relação rígida com os seus
adequados em relação ao seu sexo, são situações valores religiosos tendem a apresentar atitudes
comuns no cotidiano escolar. Muitos/as profes- homofóbicas. É importante ter em mente, entre-
sores/as que participaram da 1a etapa da pesquisa tanto, que a questão em foco não corresponde
(77,87%) disseram já ter presenciado situações aos valores religiosos em si, mas a relação que
desse tipo. Da mesma forma, os/as professores/ as pessoas estabelecem com os seus valores reli-
as que participaram da 2a etapa da investigação giosos. Relação que pode se configurar de forma
já presenciaram, também, várias situações dessa bastante rígida, como é expresso nas atitudes ca-
natureza. Qual o posicionamento deles/as diante racterísticas do fundamentalismo religioso, que
dessas situações? tende a conduzir a práticas de intolerância em
A partir dos resultados obtidos nos questio- relação a diversos grupos sociais.
nários, a maioria dos/as professores/as destaca a A 2a etapa da pesquisa não contou com a par-
importância do respeito às “opções sexuais” in- ticipação de nenhum/a professor/a evangélico/a.
dividuais (o termo orientação sexual é distante Participaram desta etapa seis professores/as ca-
do discurso dos/as professores/as). Contudo, no tólicos/as, três professoras espíritas e uma pro-
extremo oposto, há um grupo minoritário de pro- fessora que não tem religião. Duas professoras
fessores/as que nutre concepções e crenças ho- católicas que destacaram – na situação de en-
mofóbicas na direção da ‘cura’ ou ‘prevenção’ trevista ou no grupo focal – a importância das
da homossexualidade, seja através da ‘interven- suas crenças religiosas em suas vidas, afirmaram
ção’ de especialistas (8,20%) ou através de um que têm dificuldades de lidar com situações em
trabalho de ‘orientação moral’ (4,92%). Neste que um aluno ou uma aluna são alvo de gozação
grupo minoritário, há, também, professores/as por parte dos/as colegas por apresentarem com-
que associam a homossexualidade à influência portamentos considerados ‘culturalmente’ não
de ‘espíritos malignos’ e defendem a ‘cura’ atra- adequados em relação ao seu sexo (entrevistas
vés da ‘intervenção’ divina. Tais concepções ho- 1 e 10). Por um lado, ambas defendem a impor-
mofóbicas apareceram nas respostas de alguns/ tância do respeito às diferenças individuais; por
mas professores/as evangélicos/as. outro, afirmam que se sentem desconfortáveis
É importante deixar claro que o posiciona- diante dessas situações, que envolvem lidar com
mento expresso anteriormente não é unânime um aluno considerado “efeminado” ou uma alu-
entre os/as participantes evangélicos/as que res- na considerada “masculinizada” em sala de aula.
ponderam o questionário. Entretanto, nos ques- Há, portanto, um conflito entre valores dis-
tionários respondidos pelos/as professores/as na tintos: (a) respeito às diferenças individuais ver-
primeira etapa da pesquisa, é importante notar sus (b) respeito às próprias crenças religiosas.
que entre as respostas que nutrem uma visão ex- Todavia, cabe mencionar que ambas demonstra-
plicitamente pejorativa sobre a homossexualida- ram interesse em participar da pesquisa e acredi-
de, a maioria provém do grupo de professores/ tam na importância de se discutir questões relati-
as evangélicos/as. Obviamente, seria uma inter- vas à sexualidade na escola. Em outras palavras,
pretação simplista defender a existência de uma não são profissionais fechadas ao debate, mas
relação direta e linear entre religião e concepções que se sentem desconfortáveis para lidar com si-
e crenças homofóbicas. Por outro lado, não deve- tuações desse tipo, ou seja, lidar no seu cotidiano
mos ignorar que a religião é, sim, um aspecto im- profissional com alunos/as que são, ou que são
portante nas pesquisas sobre a homofobia e sobre socialmente vistos/as como, homossexuais.
Gênero, Sexualidade e Diversidade na Escola a partir da Perspectiva de Professores/as 587

Nesse momento, é importante retomarmos Nesse sentido, uma importante implicação


a definição de preconceitos adotada nesta pes- em termos de formação, inicial e continuada,
quisa: preconceitos correspondem a fronteiras de professores/as no que tange à construção de
simbólicas rígidas, construídas historicamente e estratégias de superação da homofobia e do se-
com forte enraizamento afetivo que acabam por xismo, ambos fortemente vinculados (Ander-
se constituir em barreiras culturais entre grupos sen, 2000; Junqueira, 2009; Madureira, 2007a;
sociais e entre indivíduos (Madureira, 2007a, Welzer-Lang, 2001), corresponde à abertura de
2007b). Portanto, um elemento estruturante das um espaço de discussão e problematização so-
diversas formas de preconceito (incluindo a ho- bre as bases afetivas dos preconceitos (Madurei-
mofobia) corresponde ao seu enraizamento afeti- ra, 2007a, 2007b, 2012; Madureira & Branco,
vo. De forma mais precisa, sentimentos descon- 2012a, 2012b). Outra importante implicação é
fortáveis – como medo, ansiedade, insegurança a realização de discussões sobre as raízes his-
e, em casos extremos, ódio – emergem quando tórico-culturais dos preconceitos. Por exemplo,
determinadas fronteiras simbólicas são transgre- ao focalizar questões relativas ao machismo no
didas. Subjacente à homofobia, há a expectativa contexto escolar, é de fundamental importância
de que todos/as sejam heterossexuais. Como tal analisar as raízes histórico-culturais dessa forma
expectativa é realisticamente inviável, há a ex- de preconceito na nossa sociedade, incluindo o
pectativa, então, de que ‘pelo menos’ aqueles/ período do Brasil colonial (Vainfas, 2010). Em
as que não são heterossexuais (ou que não cor- relação às diversas formas de preconceito, é de
respondam à masculinidade e à feminilidade suma importância que os atores sociais inseridos
hegemônicas) fiquem o mais longe possível dos nas comunidades escolares percebam claramen-
olhos. Como afirma Pierre Bourdieu (2005, pp. te que estão diante de questões que apresentam
143-144): uma gênese cultural e não diante de ‘fatos da na-
A forma particular de dominação simbólica tureza’, da ordem do imutável, impassíveis dian-
de que são vítimas os homossexuais, marca- te das intervenções humanas.
dos por um estigma que, à diferença da cor Em síntese, é fundamental estimular a re-
da pele ou da feminilidade, pode ser ocul- flexão e a discussão sobre as raízes histórico-
tado (ou exibido) . . . A opressão como for- -culturais e efetivas das diferentes formas de
ma de “invisibilização” traduz uma recusa à preconceito nas escolas (Madureira & Branco,
existência legítima, pública, isto é conheci- 2012b). Afinal, a ‘eficácia excludente’ dos pre-
da e reconhecida, sobretudo pelo Direito, e conceitos está ancorada, também, no fato de que
por uma estigmatização que só aparece de normalmente as pessoas não falam sobre eles e,
forma realmente declarada quando o movi- assim, continuam sendo reproduzidos sem maio-
mento reivindica a visibilidade. Alega-se, res questionamentos.
então, explicitamente, a “discrição” ou a Os preconceitos não são, portanto, ‘inven-
dissimulação que ele é ordinariamente obri- ções individuais’. Cabe analisarmos criticamen-
gado a se impor. te a forma como, ao longo da história, foram
A presença de um aluno ou de uma aluna em sendo construídas categorias para delimitar
sala de aula que é – ou é socialmente percebido/a fronteiras simbólicas e traçar hierarquias entre
como – homossexual, tende a despertar senti- grupos sociais. Tais categorias orientam a for-
mentos desconfortáveis por parte dos/as colegas ma como as pessoas organizam, em termos cog-
e dos/as professores/as. Esses sentimentos des- nitivos e afetivos, a sua compreensão sobre o
confortáveis são um ‘convite para ação’, ou seja, mundo social em que estão inseridas e sobre si
tendem a acionar mecanismos de normatização mesmas. Aqueles/as que não se comportam de
do/a suposto/a transgressor/a. E, assim, diversas acordo com as normas estabelecidas são, muitas
práticas discriminatórias ganham forma (‘goza- vezes, vistos/as como pessoas ‘não confiáveis’,
ções’, brincadeiras maldosas e, em casos extre- que podem surpreender a qualquer instante com
mos, agressão física). atitudes ‘imorais imprevisíveis’, o que ‘justifi-
588 Madureira, A. F. A., Branco, A. U.

caria’ seu isolamento e a discriminação (Morei- ção de uma cultura democrática na escola e, em
ra & Câmara, 2008). um sentido mais amplo, um passo importante na
Na construção de estratégias que promovam consolidação da democracia em nosso país.
o respeito à diversidade sexual e de gênero, um Na mesma linha dos resultados obtidos na
ponto fundamental corresponde à construção co- ampla pesquisa promovida pelo escritório da Or-
letiva no espaço escolar de um equilíbrio entre o ganização das Nações Unidas para a Educação, a
respeito às crenças religiosas de cada indivíduo, Ciência e a Cultura (UNESCO) no Brasil e coor-
essencial em qualquer regime democrático, e o denada por Castro, Abramoway e Silva (2004),
respeito ao caráter laico do Estado Democráti- a presente investigação identificou um posicio-
co Brasileiro. Em outras palavras, cada pessoa namento crítico por parte da maioria dos/as pro-
tem o direito legítimo de viver de acordo com fessores/as em relação às diversas formas de pre-
as suas crenças religiosas e expressá-las na sua conceito. Por exemplo, entre os/as professores/
vida cotidiana. Contudo, as instituições – espe- as que participaram da 2a etapa da investigação,
cialmente as instituições públicas, incluindo as todos/as acreditam que a escola deve comba-
escolas – não devem fomentar práticas discri- ter os preconceitos. Diante de concepções pre-
minatórias, quaisquer que sejam, baseadas em conceituosas e atitudes discriminatórias contra
princípios religiosos (Caputo, 2008; Madureira aqueles/as que são, ou que são considerados/as,
& Branco, 2012b). Garantir que as práticas co- homossexuais, a estratégia utilizada pela maioria
tidianas no interior das instituições públicas se- é discutir com os/as alunos/as a importância do
jam realmente orientadas pelo caráter laico do respeito às diferenças individuais e a importância
Estado Democrático Brasileiro é um sério desa- do combate às diversas formas de preconceito.
fio a ser enfrentado. Afinal, a homofobia não diz Todavia, de um modo geral, os/as professores/
respeito ‘apenas a uma minoria’. Trata-se de um as não discutem com os/as alunos/as a questão
problema de toda sociedade democrática. Como específica do preconceito contra as pessoas que
afirma Borrillo (2009), apresentam orientações afetivo-sexuais distintas
A homofobia constitui uma ameaça aos va- da heterossexualidade (homofobia).
lores democráticos de compreensão e res- Segundo a percepção dos/as professores/as,
peito pelo outro, pois promove a desigual- as alunas são mais “diplomáticas” e “maleáveis”
dade entre os indivíduos em função de seus em relação a esta questão, ou seja, a homofobia é
desejos, encoraja a rigidez dos gêneros e mais explícita e apresenta raízes mais profundas
favorece a hostilidade ao outro. . . Na ver- entre os alunos (Castro et al., 2004). Alguns/mas
dade, a homofobia é não só uma violência professores/as mencionaram, inclusive, casos de
contra os homossexuais, mas igualmente alunos que associam a ideia de punição física
uma agressão aos valores fundadores da de- com a ideia de ‘cura’ da homossexualidade: “ba-
mocracia. (p. 43) ter para curar”. Segundo eles/as, os alunos tra-
Por mais complexa que seja essa questão, zem, muitas vezes, esta concepção de casa, pois
ainda mais em um país onde as fronteiras entre ouviram do pai afirmações desta natureza.
o público e o privado são frequentemente trans- A questão do respeito à diversidade sexual e
postas (DaMatta, 1987), devemos enfrentar o de gênero é, certamente, uma temática complexa
desafio envolvido na construção deste delicado que envolve questões polêmicas, preconceitos
equilíbrio, conforme mencionado anteriormente. seculares, afetivamente arraigados. Se, por um
Afinal, este é um desafio de suma importância lado, há uma série de avanços significativos no
no que tange à construção de ‘pontes’ que via- mundo contemporâneo em prol dos direitos hu-
bilizem a implementação, nas salas de aula, das manos da população LGBTTT (Lésbicas, Gays,
diretrizes previstas nas políticas públicas bra- Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêne-
sileiras atuais na área de gênero e sexualidade. ros). No Brasil, podemos citar como exemplos
Além disso, é um passo fundamental na constru- nessa direção: a elaboração do Programa Brasil
Gênero, Sexualidade e Diversidade na Escola a partir da Perspectiva de Professores/as 589

sem Homofobia: Programa de Combate à Vio- Apesar da lacuna existente na formação de


lência e à Discriminação contra GLTB e de Pro- professores/as na área de gênero, sexualidade e
moção da Cidadania Homossexual (Conselho diversidade, identificamos na pesquisa o dese-
Nacional de Combate à Discriminação & Mi- jo, por parte da maioria dos/as participantes,
nistério da Saúde, 2004), que busca articular as de capacitação na área, de contribuição com o
ações de diversos Ministérios no combate à ho- combate às diversas formas de preconceito, de
mofobia, bem como o reconhecimento jurídico promoção do respeito à diversidade, seja pela
das uniões homoafetivas por parte do Supremo ênfase no respeito às diferenças individuais,
Tribunal Federal em 2011. seja pelo reconhecimento de que somos todos/
Por outro lado, até mesmo com uma reação as seres humanos. Tal reconhecimento, nas rela-
a este avanço, há tenazes resistências por parte ções interpessoais, é o primeiro passo na cons-
de diversos grupos conservadores, no Brasil e trução de vínculos empáticos. Nesse sentido, a
em outros países, que sentem este avanço como empatia, em termos metafóricos, pode funcionar
uma ameaça à ordem social, jurídica, política e como um ‘antídoto’ contra a intolerância e à dis-
moral (Fone, 2000). A sociedade é um terreno criminação.
político perpassado pela tensão entre a manuten- É necessário, portanto, investirmos na am-
ção do status quo e a promoção de mudanças. pliação dos espaços institucionais e relacionais
A escola – enquanto instituição social que cum- destinados a trabalhar as emoções, crenças e
pre um papel estratégico na formação das novas valores no sentido da consolidação de práticas
gerações na contemporaneidade – é perpassada, reflexivas em sintonia com a construção de uma
também, por esta tensão. cultura democrática de valorização da diversida-
de no contexto escolar.
Conclusão Ao longo da pesquisa, verificou-se a im-
portância do estabelecimento de uma parceria
A psicologia sociocultural, ao enfatizar a entre pesquisadores/as e professores/as do En-
importância dos contextos culturais no estudo do sino Fundamental. Ambos/as têm muito a ga-
desenvolvimento humano, procura estabelecer nhar com a construção de um ‘espaço dialógi-
‘pontes’ também com outros campos de inves- co’, marcado pela cooperação. Em um sentido
tigação científica, para além da ciência psico- mais amplo, tanto a universidade como a escola
lógica, mediante o estabelecimento de diálogos podem se beneficiar com o estabelecimento de
interdisciplinares. Tais diálogos são primordiais, uma parceria mais próxima e consistente. Nesse
considerando a natureza multifacetada dos pre- sentido, a consolidação da parceria entre univer-
conceitos e das práticas discriminatórias. Cabe sidade e escola é um passo importante na direção
destacar que, além dos pressupostos teóricos que “de tornar a escola um espaço democrático de
estão na base e nas entrelinhas da pesquisa rea- desenvolvimento humano . . .” (Guzzo, 2003, p.
lizada, a mesma foi orientada também por um 35). Um espaço democrático de desenvolvimen-
compromisso ético: o conhecimento produzi- to para todos/as que fazem parte da comunidade
do nas pesquisas acadêmicas deve, em alguma escolar.
medida, contribuir na concretização de uma so- É de suma importância explicitar e comba-
ciedade justa e democrática. Portanto, o conhe- ter os mecanismos excludentes que se fazem pre-
cimento deve ser instrumento de denúncia das sentes, muitas vezes de forma sutil, no interior
concepções preconceituosas e das práticas dis- do espaço escolar. A partir da consciência em
criminatórias que estigmatizam e excluem certos relação a tais mecanismos será possível, então,
grupos sociais, enquanto conferem uma posição delinearmos diversas estratégias de intervenção.
de superioridade e pretensa ‘normalidade’ a ou- Para trabalhar questões relativas à sexualidade
tros grupos que ocupam posições hegemônicas no contexto escolar, cabe retomar algumas das
na sociedade (em termos de classe social, gêne- sugestões apresentadas pelos/as participantes da
ro, orientação sexual, etnia, etc.). pesquisa realizada, como, por exemplo: desen-
590 Madureira, A. F. A., Branco, A. U.

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