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ne M ORGANIZAGAO DA EDUCACAO ESCOLAR ‘Manu Aragecioa Secarro Muravaka e Césan Aucusro Maro te capitulo contém trés secoes. A primeira, “A organizacao do ensino nna Constituico Federal de 1988”, reproduz e discute os Arts. 211, 206, 22 & 214 da Constituigao, que tratam especificamente do assunto em questio. A segunda, "A ‘Organizacdo da Educacao Nacional’ na LDB*, trata de cada um ddos artigos desta lel referentes ao tema, argumentando sobre aspectos de seus conteiidos e fazendo, quando necessario, mengaio a outros dispositivos le- gals correlatos. A terceira, “Consideragdes finals”, busca caracterizar de for- ma sucinta, com base no que foi apresentado nas segées anteriores, a atual organizacao da educacao escolar no Brasil. Ao longo deste capitulo busca- mos tanto considerar os processos de elaboracdo e tramitagao da Lei de Diretrizes e Bases da Educacao Nacional (LUE n° 9.894, de 20 de dezembro de 1996) como esclarecer 0s conceitos utlizados. ‘A ORGANIZAGAO DO ENSINO NA CoNSTITUICAO FEDERAL DE 1988 A Constituigao de 1988 da Repablica Federativa do Brasil (CF 88) consa- grou a expresso “sistemas de ensino” em lugar de “sistema nacional de educacao". Podemos afirmar que essa Constituicdo nao explicita claramente a imtencao de organizar um sistema nacional de educagio. Ao invés disso, preconiza que os sistemas de ensino afetos as diversas esferas administrati- vas ~ Unido, estados, Distrito Federal e municipios - devem ser organizados nos seguintes termos: Atigo 211 ~ A Uniao, os Estados, 0 Distrito Federal e os Munieipios organizardo em regime de colaboragéio seus sistemas de ensino. § 1° ~A Unido organizaré o sistema federal de ensino e dos Terttérios,financiaré as institulgdes de ensino federais © exerceré, em matéria educacional, funcéo redistributive supletva, de forma a garantir equalizagso de oportunidades educacio- nals e pado minimo de qualidade do ensino mediante assisténciatéenicae financel- +408 Estados, ao Distrito Federal e aos Municipios §2°— Os Municpios atuardo priortariamente no ensino fundamental e na educagio ian. § 3° Os Estados ¢ o Distrito Fede ‘e médio, § 4° Na organizagio de seus sistemas de ensino, os Estados e 0 Municipios defi- atuardo priortariamente no ensino fundamental [ROMUALDO PDE OLVERA THERESA ALIEAD (ORG) —GESTAD, NANCIAMENTD FEARED A EDUCAGAD hirdo formas de colaboracio, de modo a assegurar a universalizagdo do ensino obri- sgat6rio. (BRASIL, 1988)! Se, por um lado, a CF 88, por meio do dispositive acima transcrito, nao menciona a expresso “sistema nacional de educacao”, por outro lado, seu At. 22, inciso XXIV, atribui a Unido a competéncia exclusiva de legislar sobre as diretrizes e bases da educacao nacional. Fodemos entao supor que, embora a expressio nao integre 0 texto constitucional, a LDB deveria contemplar um. capitulo que tratasse do sistema nacional de educagao, uma vez que, como lembra Saviani, quando se pensa em uma LDB objetiva-se a sistematizagio da ‘educagio © nao apenas a sua institucionalizagao. Em outros termos, a LDB implica o sistema, pois, ao serem definidos em termos nacionals os fins © os meios da educagao, indicam-se tanto os rumos como os meios pelos quais os objetivos serio alingidos: “[...| a organizacdo intencional dos meios com vistas a alingir os fins educacionais preconizados em Ambito nacional, eis 0 que se ‘chama ‘sistema nacional de educagao.” (SAVIANI, 1997, p. 207)? ‘Talvez os legisladores da CF 88 tenham, naquele momento, fugido da polémiea, de maneira que o significado de sistema “[..1 petmanece sempre implicito, supostamente compreendido, mas jamais assumido explicitamen- te” (SAVIANI, 1997, p. 59). Percebe-se, pois, que os constiuintes nao trabalha- ram com a idéia de criar um sistema nacional de educacdo, mas sim de eriar tum sistema nacional de ensino; ou seja, a diferenca é patente: a primeira tenta considerar a educagao, conceito abrangente que implica a necessidade de articular as varias reas que compéem os direitos sociais (BRASIL, 1988, Art 6°), cujo atendimento tem a ver com o grau de humanidade e cidadania que se deseja alcangar; 0 conceito de ensino, adotado pela segunda, é mais res- trito, sobretudo se lembrarmos que é 6 escolar, isto é, refere-se ao ensino ministrado na instituigdo escola. Cabe lembrar ainda que, no cotidiano, algu- 1as vezes as palavras educacdo € ensino sao ulilizadas como sindnimos, mas hos dispositivos legais isso se constitu numa impropriedade. Fique claro, entéo, que 0s constituintes, quando muito, contemplaram a idéia de um sis- tema nacional de educagao escolar, embora tal formulacdo nao tenha sido assim explicitada em momento algum. Ademais, com a organizagdo prevista esse artigo, o sistema poderia resultar da somatéria dos sistemas constitui- * 0s pardgrafos 1 a 4 estio com redacio dada pela EC 14/96, mantién pela EC 53/2006 » Sobre essa questio cnsute-se, ainds, Cury (1992, p. 186-200 » Sobre erteasunto,& impetantecenhecer a proposta de sstema nacional de eduacio que constava do ave. do projet de LD aprovado na Combako de Edacagi, Cultura ¢ Desporto da Chiara dos Deus (CEEDED), em 28d junto de 1990. "0 Sistema Nacional de Educa, expresso institucional fo exforgo orgaizado,aulénomo e permanente do Estado « da sodedade braslena pela educagt, 45 AOA APARECIDA S. MURAKAKA F CESAR A MINTO —ORGANIZNGNO DA RDUCACRO BSCOLA los nas diversas esferas administrativas, vale dizer: a mera justaposigao de sistemas de ensino fragmentados. Se positiva, a ocorréncia dos dois aspectos mencionados pode significar que os constituintes abriram mao da idéia de lum sistema de fato educacional e igualitério, o que podera favorecer a exi \éncia da oferta de ensinos com qualidades diferenciadas. Cabe lembrar que a maioria dos estudiosos dessa questio parece conver- wir para uma nogéo de sistema como a apontada por Walter Brugger: “[..] & a ‘multiplicidade de conhecimentos articulados segundo uma idéia de totalidade. Nem um conhecimento isoladlo, nem muitos conhecimentos desconexos consti- ue um sistema. Este s6 nasce por conexdo e ordenacéo segundo um comum principio ordenador, por meio do qual se atribui a cada parte, no todo, seu lugar © fungéo impermutaveis. [..] 0 sistema 6 uma exigéncia da razio que em toda ‘muliplicidade busca unidacle e ordem [....” (BRUGGER, 1969, p. 382-383) Assim, a esséncia de um sistema tem tudo a ver com a maneita pela qual procura-se articular a multiplicidade, buscando a totalidade a unidade dos conhecimentos, dos objetivos. Ou, como afirma Dermeval Saviani: [| sistema nao ¢ unidade da identidade, uma unidade monoltiea, indiferenciada, mas lunidade da dlversidade, um tedo que articula un varedade de eens ue, a 9 integrarem ao todo, nem por isso perdem a propria identidade. Em outros termos: uma tidade monolitica é tio avessa i idéla de sistema como uma multiplcidade desaticu- lada, Em verde, sistematizar significa reuni, ordenar, articular elementos enquanto partes de um todo. E esse todo articulado 6 0 sistema, (SAVIANI, 1997, p. 206) Portanto, um sistema nacional de educagao implica 0 estabelecimento de normas comuns a todos, articuladas ¢ ordenadas pela pritica politica dos sujeitos interessados, instituidas em um corpo doulrinario e normativo. Nes- se sentido, quando se consagra no texto legal a nogéo de sistema nacional de educacdo, pode-se “[...] abrir caminho para a construgdo de uma escola comum, extensiva a todo 0 territério nacional, unificada pelos mesmos obje- livos, organizada sob normas também comuns € regida pelo mesmo padrio de qualidade” (SAVIANI, 1997, p. 59). De acordo com o Art. 211, a Unido deve responsabilizarse pela organi zacao do sistema federal de ensino © © dos territérios (estes transformados em Estados apés a CF 88).* Quanto 8s fungoes redistributiva ¢ supletiva, ambas compreende 05 sistemas de ensino di Unido, dos Estados, do Distito Federal © dos muncpes, bem mo outs instuigoes plas ou pads, pestadoras de servos de naturera eaten. Paderfo Unio inden entre as insttgoes plas e prvads, eferidas neste vio, ae de pesquse cen, ® teenopiea 2 eluras as deeming mia, as que realzam expertncs populares de edcagio, a (que desenvolvem ages de formagio Unico profisiona © ar que ferecem euros ives “ACF 88 (At. 18, § 29 deteminow que os teritériefedeais podedo se crados,transfomados erm Estados ou teintgrados 20 fstador de origem medhntereguzmentacto em le complementares AG NOMULDO PD OLVERA ETHESA ADRAD (ORG) = GESTAD, PNANCIAMENTD E DEO A EDUEAGAO referentes & relagdo entre a Unido e as demais instincias administrativas, texto constitucional acaba por remeter & legislacdo complementar 0 deline mento dessas quest6es, seja no que diz respeito aos recursos financeiros, seja no que se refere A “assisténcia técnica”. Constatado que, tertitorialmente, as responsabilidades pela educacao infantil e pelos ensinos fundamental mé- dio foram fixadas, respectivamente, para os municipios e Estados, supde-se que tanto a fungéo redistributiva quanto a supletiva refiram-se a transferén- cia dessa responsabilidade para a Unido na eventual impossibilidade de es- sas esferas cumprirem o que Ihes foi determinado; de qualquer forma, a le~ ta da lei 6 genérica.* Ainda, a CF 88 menciona que a organizagao dos siste~ mas de ensino seja feita “em regime de colaboracao” entre estados, Distrito Federal ¢ municipios, mas ndo esclarece o seu significado. Afora a reparticio de responsabilidades entre as esferas piblicas no oferecimento da educacéo biasica, o texto constitucional deixa para a LDB 0 estabelecimento de compe- {éncias dos sistemas de ensino. J4 0 Art, 206 da CF 88 estabelece os principios segundo os quais 0 ensi- no (genérico) sera ministrado, daf presumir-se que, em todos os niveis © em Artigo 206 - O ensino ser ministrado com base nos segulntes printpios: 1 igualdade de condigées para 0 acesso e permanéncia na escola; 1 liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar 0 pensamento, a arte © 0 saber; IIL~ pluatismo de idéias e de concepe6es pedagogicas, e coenisténcia de instituigdes piiblicas e privadas de ensino IV gratuldade do ensino piblico em estabelecimentos ofciais; \V—valorizagio dos profssionais do ensino, garantidos, na forma da lei? planos de carrera para o magistério piblico, com piso salarial profissonal eingresso exclusiva ‘mente por concurso de provas ¢ tulos; * Por exemple, a ten? 9.424, de 24 de dezembra de 1996, que dsbe sobre o Fundo de Manutencio fe Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valoizagio do Magistvio (Fundel). « parece-nos que aida subjacente a esa redacio asserelhase Aqula encontada na Constiuicio dos, fstadoe Unidos do Bra, de 18 de setembro de 1946 (BRASIL, 1986): “A Unifo orgniardo sistema Federal de enaind © 0 dor ert, Parigrfo neo ~O sistema federal de esino ted arse supletv, (stendendo-ses todo © pals nor esitor limites das deidéncias local.” (At. 170) Mas do com a Shrangincia dt redagéo encontrada na Consttuigio da Republica Federatva dos Estados Unidos do fast, de 16 de julho de 1934 (RASIL, 1906): “Compete A Unit: (.) e) exercer cdo supletva, onde se faga neces por defen de iktiva ou de recurs © etinular& ova eduatva em todo 0 pas, por meio de estudor, ingtstos, demonstrages,subvencbes (rt. 150, 6, > € bom lembrar que a expressio “na forms dle" remete a regulamentacio do asunto em questio. pare cut dspostvo legal; quando se prevé tal reguamentacio no propio dspesive, aparece a Capresso cna forma desta li” ou outa equvalente, Repure que oIncso VI, a Segui, também tek ‘in regulamentagio postergada, Az [MARIN APAREOIDA S. MURAWAKA CESAR A MINTO = ORGANIAGAO BA EDUEACAD ESCOLA VL gestéo democratica do ensino piibico, na forma da lel; ‘VII~ garantia de padrao de qualidade. (BRASIL, 1988) Sobre esse artigo, destacaremos apenas alguns aspectos. © primeiro ash ecto diz respeito ao fato de que estéo ai contemplados varios prin cardter democratico; como exemplo, citarfamos os contetdos dos incisos |, Il, Ile VIL A “gratuidade do ensino piblico em estabelecimentos oficiais™ (inciso 1V) restringe-se apenas as insttuicbes mantidas pelos poderes pabli- 05, em quaisquer dos niveis administrativos. O contetido do inciso V “inova" 6, 20 mesmo tempo, revela um dado importante a respeito da concepcio de politica educacional subjacente a lei, ao retirar do final da redagéo original deste inciso a expressio “assegurado regime juridico Gnico para todas as instituigées mantidas pela Unido". Aparentemente, a mudanca sinaliza a in- tengo de que as insttuicoes afetas & Unido sejam reconfiguradas; vale dizer, cada uma delas deve ter regime juridico proprio, © que pode resultar em di ferentes regimes de trabalho, planos de carreira, politicas salarials, entre ou- tras possibilidades. © inciso Vi, importante por prever a gestio democrética, preocupa-nos evido a0 fato de restringir tal gestao apenas as escolas pubicas,signiican- do, no minim, que para 0 ensino particular ndo ha previsao legal de gestao democratica.!® O Art. 22, inciso XXIV, da CF 88 estabelece que: *Compete privaivamente 8 Unido legislar sobre: [..] XXIV ~ diretizes e bases da educagéo nacional” [No caso, fica imputada a Uniio a responsabilidade de estabelecer em lei a reforma das diretrizes e bases que norteariam a educagéo escolar brasiei- ra, uma vez que jé contavamos com uma LDB (Lei no 4024/61, nossa prime ra LDR), ainda que muito retalhada pelas constantes alteragées que Ihe fo- ram impostas ao longo do tempo. Curiosamente, apesar de néo contemplar a existéncia de um sistema na ional de educacdo, como j4 mencionamos, a CF 88 prevé, além das direti- zes € bases da educacao, 0 estabelecimento legal de um plano nacional de ‘educagdo (€ nado de ensino ou de educagdo escolar), que pretensamente arti- cularia os diferentes sistemas de ensino, nos seguintes termos: "A igualdade de condigées de acesso 4 escola @ essencil para que a diferencas socioeconbmics ito pvlegiem uns em detimento de cubes. Alem dso, asegurar vaga & necesito, mas inefiente, & precso gran permantncs do sluno na exas. © pluralamo de ies econcepgoes deve sr Inevente | preps educagto, pois stm ele nfo se pode ensearaliertagto do ser umano. Ademals, & necestio lunivesalaar as opottunidades educcionas e, pata tanto, 4 patuiade dos ertabelecmentorpablcos Scondigho sine qua non > Este inc fo! modiiado pela Emenda Constituconal n? 19, de 4 de junbo de 1998, % A espe, conulte oF capiulos sabre a gestio democstica desta bra ae 48 © vf /Tasigo 214A et esaetecer o plano nacional de edcagio, de duagio prion Sear eee aaa een wv 9) et aes oor Pub econ = cmmacaga to soir, ctenogearaem eetcerm or | -imttone de quaade do ens 1 femora: 1 promosde hens, nti ©tecnligia do Pas (BRASIL, 198) Esse Art. 214 estabelece a necessidadle de formulagao de um plano na- cional de educagao, que articule e desenvolva 0 ensino em todos 0s seus niveis, inclusive por meio de agdes integradas do Poder Pablico, nas varias cesferas administrativas (federal, estaduais, municipais). Ou seja, explicita cla- ramente a vontade de elaborar um instrumento que sistematize o direciona- mento da politica edueacional a ser adotada num determinado periodo, indi- ‘cando as prioridades educacionais para um dado periodo. Tudo isso é ne- cessitio para implementar as diretrizes ¢ metas pretendidas, conduzindo & concretizagao dos objetivos expressos nos incisos desse artigo.' Quanto ao contetido do inciso |, € Weito argumentar que cle reconhece e procura supe- rar uma de nossas grandes dividas socials ~ 0 analfabetismo. Os incisos IIe Ill, mesmo que evoquem meras intencées, traduzem utopias que precisam ser perseguidas a todo custo, pois se referem a uma perspectiva de busca de ualdade social. O inciso IV revela uma preocupacao crucial para fundar 0 direito a0 trabalho como diteito social (CI. Art. 6° da CF 88). © inciso V mos- tra uma inquietacdo proveniente da justa tentativa de promover uma forma ‘co voltada para a dignidade humana, que tem a ver com a aquisicio de com- peténeias em termos da conveniente ulilizacdo dos saberes constituidos ¢ da critica e produgéo de novos conhecimentos, assim como da aplicago de tecnologias deles decorrentes, visando aumentar as presrogativas de sobera- ia nacional do pals, Mas nao é licito ignorar que a redagdo genética desse Art, 214, embora do Ihe ofusque o mérito, permite leituras diferenciadas: por exemplo, a de que, durante a eventual auséncia de um plano nacional de educacao (ou yesmo de ensino), as autoridades responsiveis por implementar politicas piiblicas nessa area, em todas as esferas administrativas, tenham nele um referencial claro que contém as diretrizes mais amplas que visam contemplar las necessidades © os anseios educacionais da sociedade brasileira. ‘Tratamos nesta secio dos preceitos educacionais estabelecidos na Lei Maior do pais, que, como pudemos observar, nao é exaustiva, por isso pres ™ Lembramos que o Plano Naconal de Edueag fol aprovado pela Leia? 10.172, de 9 de jancro de 2001 49 NAIA APARECIDN . MURAKAKA # CES A BETO ~ ORCANEACKO A HICACAD ASCO supée um detalhamento sistemético na legislagso subsegiiente e dela decor e, € a lei educacional imediatamente abaixo da CF 88 6 a Lel de Diretrizes Bases da Educagao Nacional.” Vejamos, entao, a seguir, se esta LDB avanga undo quanto a sistematizagao dos aspectos que suscitaram algumas divi- das durante a anélise que empreendemos nesta secio. ‘A “Orcanizacho Da Epucacho Nacio a LDB © Titulo IV da LDB denomina: Organizagio da Ex Seus dispositivos ~ do An. 8° ao tratam: da divisio de responsabi das diferentes categorias em que 10 privadas. Em vista do contetido af 1m dos mais polémicos em todas as fases se enquadram lratado, este de tramitag vado que alos da LDB e que se evidenciava desde 0 perio do do al Constituinte.!* Vek 0s contetiios expressos em cada um dos artigos desse titulo 1V fazendo alguns comentarios analiticos que julgamos per hentes, tanto para melhor compreensio como para vislumbrar algumas pos- sibilidades de aperfeigoamento do texto, © Art 8° da LDB trata da organizacao geral dos sistemas de ensino pe Jas varias esferas administrativas, nos seguintes termos: Atigo 8° ~ A Unido, os Estados, o Distrito Federal e os municipios organizarso, em regime de colaborago, 0s respects sistemas de ensino. ° A LDB fo sanconada pelo presidente da Repiblia, Femando Henrique Cardoso, em 20 de dezembro de 1996, passando a vigorar'a partie de 23 de dezembvo de1996, data de sua publeagio no. Duin ‘falda Unto © biferentemente ds LD® hoje em vigor, a qual ze rfere 8 Organizagio da Educagdo Nacional, 0 Capitalo V do substttvo Jorge Hage (POT-BA) ~ 2provago por unaimidade pela Comisio de Edu cag, Cultura © Desporto da Camara dos Deputades (CECD/CD) em 28 de juno de 1990 ~ refs Se'a-um sistema nacional de ediagio, Esa steagio nio consuls apenas uma questo de orden Semantic, pois inimeras foram as modkcages imprimidas a0 captloreferente a0 Sistema Nacional de Edueacao. © ndmero sgntieatwo de emendss apostas pelo plnario ~ caren de 300 208 20 aig que interavam ~ denota of intereses om desfigurer 0 docimento aprovado na CECD/CD. Os deputaos 4ue desde o inicio mostaram-se contririosaquele projto ~ por exemplo, Eraldo Tinoco (PFL/EA) Argumentavam que 0 Sistema Nacional de Ecagio era inconstiucional, ama ver que Constiugo fm lugar desta ula a expressio “sitomas de ensino” 50 OMUALDO F DE OLVERA E THERES ADRAD (ORG) ~ GHSTHO, PNANCIAMENTO E RETO A EDUCAGAO 5 1° ~ Caberd a Unido a coordenagéo da politica nacional de educagio, artculando 6s diferentes niveis e sistemas e exercendo fungio normatva,redistibutva e supleti- va em relagdo as demais instancias educacionais. § 2° — Os sistemas dle ensino terdo lberdade de onganieagéo 0s \ (BRASIL, 19960) mos desta Let Esse Art. 8° repete 0 caput e 0 § 1° do Art. 211 da CF 88, ja comentados tha segao anterior, € reforga a incumbéncia da Unido de coordenar a poltic edueacional. Dessa forma, 0 Ministério da Educacao (MEC) € concebido como ‘um 6rgao centralizador, com competéncia normativa sobre os demais siste- mas de ensino. © Ant. 9° da LDB define as responsabilidades da Unido, aqui entendida como governo central ou governo federal: Atigo 9° ~ A Unido incumbir-se- de: [--elaborar 0 Plano Nacional de Educacio, em colaboragio com os Estados, 0 Dis- trto Federal e os municipios; 1 onganizar, manter e deservolver os Orgios ¢ insituigbes ofleias do sistema fede- ral de ensino € 0 dos Teritérios; li ~ prestar assisiéncia técnica e financeira aos Estados, 20 Distito Federal € 20s ‘muniefpios para o desenvolvimento de seus sistemas de ensino e 0 atendimento Proritiro & escolaridade obrgat6ra, exercendo sua fango relstribuliva e supletva; IV ~estabelecer, em colaboragiio com os Estados, o Distrito Federal e 08 municipios, ‘competéncias e dietrizes para a educacio infant, o ensino fundamental eo ensino édio, que norteardo os curriculas e seus contetdos miimos, de mado a assegurar formagiio bisica comum; \V-~coletar, analisar e disserinarinformagées sobre a educago;, VI-assegurar processo nacional de avaliagéo do rendimento escolar no ensino fun- damental, médioe superior, em colaboragio com os sisternas de ensino,objetivando a delinicao de prioidades ¢ a melhoria da qualidade do ensino; Vil— baixar normas gerais sobre cursos de graduagio pés-graduagio; Viti ~ assegurar processo nacional de avaliago das instiuig6es de educagéo superior, ‘om a cooperagio dos sistemas que tiverem responsabllidade sobre este nivel de 1X —autorizar,reconhecer, credencia,supenisionar eavalay,respectvamente, 0s Cws0s. das institugdes de educacéo superior € estabelecimentos do seu sistema de ensi- ‘no. (BRASIL, 1996) Destacaremos apenas os aspectos que nos parecem mais significativos. Observe-se que 0 inciso I do Art. 9° incumbe a Unido de elaborar o Plano Nacional de Educacgao (PNE), que, segundo o Art. 214 da CF 88, deve ser estabelecido em lei. Essa incumbéncia prevé a colaboracao dos estados, do Distrito Federal e dos municipios, sendo que a metodologia a ser adotada para a elaboracao do plano dependera dos érgios oficiais. Explicamos melhor: como pega de planejamento estratégico, esse plano pode ser construldo a partir das demandas dos municipios, sistematizadas pelos Estados, acresci- [MARIA APAREIIDA S MUROUNRAF CESAR AUNT ORGANIANCKO DA EDUCACAD ESCOLA das das suas proprias € compiladas pelo governo federal que, obviamente, bém acrescentaria suas demandas especificas; desse proceso resultaria, entio, a substincia do plano global para a educagao nacional. Outra forma seria privilegiar © sentido oposto, ou seja, 0 plano seria elaborade centrali- zadamente pelo governo federal, consideradas as demandas respectivas das demais esferas administrativas. Por certo, outras alternativas intermedidrias a essas duas seriam exeqiiveis, mas a idéia que hoje parece hegeménica € a de construir 0 PNE de forma centralizada, 0 que nao implica, necessariamen- te, um caminho autoritério. Aliss, qualquer que seja a opc4o metodologica adotada, quanto mais democratica, maior a probabilidade de se garantir a consecucdo dos objetivos, na medida em que os que patticiparam da elabo- ragdo do plano estardo teoricamente mais envolvides na defesa, tanto de seu contetido como de sua implementacao."* 0 inciso Il do Art. 9° da LDB trata, de forma muito genética, do conted do de parte do § 1° do Art, 211 da CF 88: ‘A Unido organizara o sistema fe- deral de ensino e 0 dos tertitérios [...", a0 incumbir a Unido de organizar ter © desenvolver os Srgaos e instituigées oficiais do sistema federal de ino.!* Quanto ao sistema federal de ensino, 6 bom que se diga que ele é composto pelas instituicées, de qualquer nivel educacional, diretamente mantidas pelo poder publico federal e pelas instituigdes de ensino superior privadas. O Ant. 16, discutido a frente, trata dessa questio especifica. © inciso Ill do Art. 9° da LDB trata, também de forma genética, de parte do § 1° do Art, 211 da CF 88, Afora o fato de incumbir a Unido de prestar assist@ncia técnica e financeira aos estados, ao Distrito Federal © aos munici- pios - ao que parece, para centralizar na Uniao as deliberagdes da politica a ser implementada em todos os niveis e, concomitantemente, descentralizar a prestagio dos servicos educacionais para as esferas administrativas. hierarqui camente inferiores =, chama-nos a atengao 0 destaque feito ao atendimento prioritério & escolaridade obrigatéria, ou seja, ao ensino fundamental ~ nico nivel de ensino com status de “piblico, gratuito ¢ obrigat6rio” -, pela sim- ples razio de que priorizé-lo nao pode significar, sobretudo, a desconsideracio da educagio infantil e do ensino médio, que juntamente com o ensino fun- ‘damental compéem o conceito de educacdo basica. Ou seja, consideramos foportuno questionar se 4 Unido cabe prestar assisténcia financeira aos de- mais entes federados apenas no que tange ao atendimento da escolaridade % argumenta também vildo nos process de elaboracio dos Plans Estaduis € Municipals de Edu acto 10 detahamento do MEC (natureza e competence esttura oganzacona) & dos demals orgies «le vinulador(competindas, atrbugoes don drgentes e sponges Reals e transite) darsed por melo do Decreto n 3.772, de 14 de margo de 2001 52 ROMUALDO P DF OLVERA THERESA ALD oR ob igatéria e, ademais, se a assistencia icio da con técnica deve traduzir-se apenas no peténicia normativa do MEC em baixar normas para os de- mais sistemas, 0 inciso IV do Art. 9° da LDB trata do estabelecimento, delegado & Unio,” de competéncias e diretrizes para a educagéo infantil, 0 ensino fundamental & © ensino médio, com a colaboracao dos estados, do Distrito Federal e dos municipios, tarefa esta que ir nortear curriculos e conteddos minimos da educacao infantil, do ensino fundamental e do ensino médio, de forma a as- segurar a “formagao basica comum”."’ Uma primeira diivida refere-se ao sig nificado pretendide com a utilizacdo da palavra “competéneias"; entretanto, considerando a regulamentagao de varios aspectos da LDB, evidencia-se que a imterpretacdo “oficial” é a de que cabe & Unido definit 0 que se espera, em tennos de competéncias intelectual, cognitiva, operacional ete., dos alunos que conseguirem 0 acesso a esses niveis de ensino, por meio das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) ¢ dos Parimetros Curriculares Nacionais (PCN). Uma segunda divida, que tem tudo a ver com a primeira, diz respeito a pro= pila redacao deste inciso. Explicamos melhor: se 0 entendimento do legi dor era 0 de que as tres esferas partilhassem a definicéo das tais competéncias a redagao mais conveniente seria: “estabelecer, com a colaboracio...” a0 in- vés de “estabelecer, em colaboracdo com..”, pois esta iitima expresso gera ambigiidade quanto ao entendimento sobre a iniciativa/responsabilidade da tarefa em questao. 0 inciso V do Ant. 9° da LDB atribui a Uniio a tarefa de coletar, analisar € disseminar informacoes sobre a educagao. Isto significa que a Unido deve- 14 ter Orgaos especificos para a elaboracao de diagnésticos objetives sobre a realidade educacional do pais. Os “6rgios de assisténcia diteta e imediata a0 ministro da Educagio" (gabinete, secretaria-executiva ¢ subsecretarias, con- sulloria juridica), os “6rgaos especificos singula:es" (secretarias de Educagao: fundamental, média e tecnol6gica, superior, especial e & distancia, e seus res- pectivos departamentos), 0 Conselho Nacional de Educacao (CNE, érgie colegiado) © 0 Inslituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep, autarquia vinculada ao MEC)" por certo foram organizados para desenvolver esforcos nesse sentido, Tals esforcos sao essenciais, ndo $6 para formular bons “Tarfas dessa envergidurahattuamente sio delegads 20 Conselbo Nacenal de Edvcgio; 3s vere so encomendadas 35 chamadas "comisces de especilitas 1 conlunde “frmacho bisa comum” com “educagio bisa”, Alm dis, ebe lembrar que ica busca no tem 0 statis de "ples, gratis © obigators stfu este expecicg do en * has wumagoes soe estes epios so encntrads no Deceto n° 3.72, de 14 de marc de 200%, _ 538 MARIN APARECIDAS MUROIARA CESAR A MINTO —ORGAMIZNGAD DA EDUCAEAD ESCORAR agndsticos como também para a adogao de politicas educacionais que superem os problemas detectados e aprofundem as allernativas que se mos- tratem mais convenientes. Os incisos VI e VIII do Art. 9° da LDB tratam da incumbéncia da Unido assegurar processos nacionais de avaliagao do rendimento escolar nos tensinos fundamental, médio e superior, e das instituicbes de educacao supe- rior. Em funcao disso, pretensamente j4 foram implementados, respectivamen- tema Nacional de Avaliagéo da Educacao Bésica (Saeb)"; 0 Exame Nacional do Ensino Médio (Enem); 0 Exame Nacional de Cursos (ENC) que 1as “avaliagées periddicas das instituigées e dos cursos de nivel superior” (*Provo") hoje realizadas pelo Sistema Nacional de Avaliag4o da Educago Superior (Sinaes) criado em 2004; e a avaliacao da pés-graduacao, realizada pela Coordenacao de Aperfeicoamento de Pessoal de Nivel Superi- for (Capes). Tas processos nao tém ocorrido de forma tranqiiila, Duas hip6- leses nio-excludentes, entre outras, podem explicar, no todo ou em parte, a resisténcia a esses exames, mais especificamente aos trés iltimos, porque sobre o Saeb parece nao termos tido muitas criticas. A primeira hipotese € a de que, por nao termos (deveriamos ter?) uma “cultura de avaliagao", rests- liriamos & sua introducéo. A segunda diz respeito ao fato de que, a rigor, tais fexames nao se tratam propriamente de avaliagio no sentido mais amplo (diagnéstica, prognéstica, formativa e somativa), mas sim de mera aferigéo de graus de fixacéo de contetidos num determinado momento, ou seja, uma aferigdo de produto € nio de proceso. Repare-se, ainda, que a tOnica do inciso VI é a de que se avalie 0 rendi- ‘mento escolar e nio a de que sejam avaliados os processos de ensino e de aprendizagem, embora isto nao signifique que nao se possa/deva avalié-los, Aliés, observa-se aqui uma contradi¢ao intrinseca que nao se justifica, pois 6 pressuposto que os professores avaliem sistematicamente, entre outros aspectos, 0 rendimento escolar, dai ser contraditétia a existéncia de um exa- me especifico para este fim. Além do mais, também é pressuposto que pro- fessores ¢ escolas procedam a avaliacao mais ampla, englobando tanto os processos de ensino e de aprendizagem quanto a avaliagéo da propria insti- luigao escolar. A quem atenderia, entao, tal processo nacional de avaliagao?, 0 “Provao", por exemplo, nao se presta a aferir se os resultados estio bons ou ruins, mas a comparar resultados melhores ou piores; ou seja, serve apenas para permitir a elaboracdo de seqiiéncias de classificacoes de pes- soas ou instituigées, com 0 agravante de consumir recursos publicos, que % (N. Og) Além do Saeb, de caster amostal, desde 2005 implantou-se um stem censitiio de avaliagto da educagio bisa, conhecdo como Prova Basi. 54 OMLALDO F DE OLVERA THERESA ADRAO (ORG) = GESTAD, FNANCIAMENTO FE IRETO A HDUCNO deyeriam ser mais bem usados. Diante disso, questionamos: a quem tal ini iva interessa?™ Ainda sobre © Art. 9°, 0 titimo destaque que fazemos diz respeito ao con- tetido do § 1°, que prevé a existéncia do CNE, a ser criado por lei Cabe lem- brar que este dispositive apenas consagra na LDB aquilo que ja havia sido feito anteriormente por meio de intimeras medidas provis6rias® e, finalmente, pela Lei n® 9.131, de 24 de novembro de 1995, que allerou as Arts. 6%, 7°, 8° € 9° da Lei n° 4.024, de 20 de dezembro de 1961, nossa primeira LDB. © Art 10 da LDB define as responsabilidades dos Estados, nos seguintes termos: Atigo 10 ~ Os Estados incumbir-se-Ao de: | -organizar, manter e esenvolver 0s Orgios e insttuldes oficais dos seus sistemas de ens dint, om os municipios, formas de colaborago na oferta de ensino fundamen- tal, as quais devem assegurar a distrbuicao proporcional das responsabilidades, de acordo com a populagéo a ser alendida e os recursos financeiros disponiveis erm cada ‘uma dessas esferas do Poder Pablico; I~ claborar e executar politicas ¢ planos educacionais, em consondineia com as airezes e planos nacionals de edueagao, inegrando e coordenando as suas acoes & ‘as dos seus municipios; 1V- aultorizar, reconhecet, redencia,supervisionare avalay,respectvamente, 0s cursos das instiuigbes de educacso superior e os estabelecimentos do seu sistema de ens 10; \V—baixar normas complementares para o seu sistema de ensino; Vi assegurar 0 ensino fundamental e oferecer, com prioridade, 0 ensino médi, Pardgrato nico. Ao Dstio Federal apicar-se-io as competéncias referentes aos Esta- dos e municipios. (BRASIL, 19960) Adotaremos a mesma sistematica que utilizamos ao analisar 0 artigo anterior, isto 6, destacaremos apenas 0s aspectos que nos parecem mais sig- » A de respeit,sugermos altura de “0 que dzem of testes", de Cldudlo Moura Castro, publado ra revista Voja de 8 de janeiro de 2000, p.21. Ademais, questionames a elaboracio de seqiéneas de cassfcages,sobretudo apés cnstatar qe, hd décdss, 0 Bas tom ostentado vergonhosos dtimo ‘pein lugares no que se retere 3 dstibucio de fenda, sem que nenhuma providnea tenha Sido tomada por sucesives. governs. Durante tamitagio dos projets de LOB, inmeras emendas fram apresentadas para supine of aitigos que previam tanto 0 CNE como 0 Férum Nacional de Educagio; pertm, até maio de 1993, ‘momento ‘em que © projeto foi aprovado na Cimara dos Deputadon, a forgas conte «ele ainda ino contavam com 0 apoio explsto do Execuvo, em conseguiam um atisagao forte pra permit 2 desiguracio desses Orgies 2 fm casos de elevinca © rgb, 0 presidente da Repiblca pode adotar medidas provi, que deverdo ser submetdas ao Congresso Nacional, Sendo que estas "U.] perderao a elicida, desde 2 flo, 5¢ ndo frem convetidas em let no prazo de nla das a partir de sua publeagio” (BRASIL 1983, arte 62, pardrafo nico), 55 AIA APARECIDA S. MURANAKA CESAR A MINTO = ORGANZATAO DA EDUCAAD ESCOLA. nificativos. Primeiramente, chamamos a atengio para o fato de que muitas das incumbéncias dos Estados assemelham-se as da Unido, apenas restritas a0 seu tertit6rio, ou seja, as tarefas s40 semelhantes, mudam somente os responsiveis. O inciso IV requer maior explicitagao sobre quem faz parte dos sistemas de ensino dos Estados, mas isto sera feito posteriormente, quando discutirmos 0 Art, 17. Os incisos Il e VI so aqui considerados em conjunto cia de “assegurar o ensino fundamental e oferecer, com prioridade, 0 ensino ‘médio". (BRASIL, 1996b, Art. 10, gtifos nossos). Discordemos ou nao da idéia, cesta redagio € coerente, pois, se o ensino fundamental é 0 Gnico nivel obri- gatorio, entendemos que 0 poder pablico estadual ~ assim como a Unido ~ tem mais condigées de assegurar este nivel de ensino do que qualquer um de seus municipios, para depois entio se preocupar em ofertar 0 ensino médio, este nao obrigatério. Quanto ao pardgrafo Gnico na sequéncia, cabe lembrar que, enquanto ente autonomo (Cf. Art. 18 da CF 88), com base ter- ritorial coincidente, 0 Distrito Federal tera incumbéncia dupla: as atribuidas aos estados e aos municipios. © Art. 11 define as responsabilidades dos municipios nos seguintes ter- porque tratam de assuntos complementares; assim, o Estado tem a omen Atigo 11 ~ Os municipios incumbir-se-30 de: ‘organizar, manler e deserwolver 0 6rgios e instnugées oficiais dos seus sis ‘de ensino,inlegrando-os as polticas e planos educacionais da Unido e dos Estadk IL- exercer agio redistributiva em relagéo as suas escolas; |WL- baixar normas complementares para o seu sistema de ensino; 1V ~autorizar, credenelar e supervisionar os estabelecimentos do seu sistema de en- V~oferecer a educagio infantil em creches e pré-escolas, ¢, com priridade, o en- ‘sino fundamental, permitida a atuac3o em outros niveis de ensino somente quando testiverem atendidas plenamente as necessidades de sua érea de competéncia e com recursos acima dos percentuais minimos vinculados pela Constituigéo Federal a ma- nutengio e deservohimento do ensino Pardgraf tinico. Os rauniipios poderio opta, anda, por se integrar ao sistema estad al de ensino ou compor com ele um sistema tnco de educago bisica. (BRASIL, 1996) © primeizo aspecto a destacar é que o sistema municipal de ensino é composto pelas instituigdes educacionais ~ de quaisquer niveis ~ mantidas pelo municipio e pelas instituigdes de educacao infantil criadas e mantidas pela iniciativa privada. Em segundo lugar, os municipios passam a ser os prin: cipais responséveis pelo ensino fundamental, embora possam dividir essa responsabilidade com os Estaclos, integrando-se ao sistema estadual de et no ou compondo com ele um sistema tinico de educagao basica. Consideramos oportuna a previsio dessa co-responsabilidade, pois uma das maiores dificuldades enfrentadas pelos municipios para garantir 0 ensi- Bre 56 OMUALDO PDE OLVERA E-TERESA ADRIANO (ORG) = GESTAO, FRANCIAMITO E DIKETO A EDUCAGAD ho fundamental diz respeito aos recursos financeitos, assunto discutido no. capitulo especifico sobre financiamento, Mas, observe-se que a educagio infantil ~ creche e pré-escola ~ deverd ser oferecida pelo municipio, Ora, ofertar significa “dar como oferta’, © que evoca “dadiva”. Sendo assim, se, por exem= plo, © municipio de Sao Paulo tiver uma creche ou uma pré-escola (ou duas, lids ete,), ele ofertou educacao infantil, © que néo significa ter garantido essa eduicacao para todos os que dela necessitam e a ela tém direito, conforme 0 inciso XXV do Art. 7° da CF 88. Ressaltem-se, ainda, alguns aspectos inovadores desta lel: a constituicio de sistemas municipais de educacdo, que somente foi possivel com esta Cons. tituigéo; a ago redistributiva dos municipios em relagao as suas escolas, vi sando & comreco de possivels distorcoes na distribuigao de recursos; e a per- missao de 0s municipios manterem escolas de niveis médio e superior so- mente quando plenamente satisfeitas as necessidades da educacao infantil e do ensino fundamental, mesmo assim com recursos acima dos percentuais vinculados (CI. o Art. 212 da CF 88). © Att. 12 da LDB estabelece as Antigo 12 ~ Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do. ‘eu sistema de ensino, lerdo a incumbéncia de: I elaborar e executar sua proposta pedagégica; I administrar seu pessoal e seus recursos materials e financeiros; IL ~assegurar 0 cumprimento dos dias letivos e horas-aulaestabelecldas; IV = velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada docente; \V ~ prover meios para a recuperagao dos alunos de menor rendimento; Vi~anicular-se com as famfias e a comunidade, criando processos de integragio da sociedade com a escola; Vit —informar os pase responsiveis sobre a freqiténeia ¢ rendlimento dos alunos, lbem como sabre a execugio de sua proposta pedagégica. (BRSAIL, 1996b) \cumbéncias dos estabelecimentos de Sobre 0 Art. 12 da LDB, podemos dizer que ele relaciona as incumbén- cias dos estabelecimentos de ensino sem a preocupacéo de prescrever as formas por meio das quais devam ser realizadas. Assim, por exemplo, as cexpressdes “democraticamente” ou “de forma democratica” nao estao pre sentes no caput nem em quaisquer dos incisos. Excesso de zelo nosso? Tal nas cerlamente cabe lembrar que o principio da gestio democratica, embora valido apenas para 0 ensino pablico, est presente tanto na CF 88 (Ant. 206, VI) como na LDB (Ant. 3°, Vill), devendo impregnar as tarefas aqui mencionadas. Os conteidos dos incisos | a Ill podem parecer dbvios, mas importante que constem da lei educacional, pois aumentam a probabilidade de garantir um ensino de boa qualidade. Qual seria o significado do inciso IV: “velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada docente"? uso do verbo “velar” permite dupla interpre- 57 INARI APARECIDASMURAWAKA CESAR A MINTO -ORGANZANCAO DA RICA ESCOLA ago, uma vez que possui dois significados: “criar condigées para o” cumpri mento do plano, significado mais positivo, ou “vigiar 0” cumprimento do pla- no, contetido negativo. 4 0 inciso V, “prover meios para a recuperacéo dos alunos de menor rendimento”, € bem mais objetivo e, certamente, supoe que lerpretagéo esperada para o inciso anterior seja a que aqui considera ‘mos positiva, Os incisos VI e VII preocupam-se em garantir que as escolas déem satisfagéo as familias, as comunidades, aos pais ¢ responsdveis pelos alunos, das atividades por elas desenvolvidas. No enlanto, entendemos que a LDB poderia ter avangado mais, garantindo a esses segmentos sociais a parti- cipagao na elaboracao, implementagao e avaliacio do projeto politico-pedago- gico da escola. Seja como for, estes incisos so importantes, sobretudo por- que revelam, de um lado, direitos da sociedade, e de outro, a necessidade de controle social para que tais direitos sejam devidamente respeitados. © Art. 13 da LDB estabelece as incumbéncias dos docentes, nos seguin- tes termos: Aigo 13 ~ Os docentes incumbirse-io de: Darticipar da elaboracao da proposta pedagégica do estabelecimento de ensino; 1M elaborar © cumprit plan de trabalho, segundo a proposta pedagogica do estabe- lecimento de ensino; IIL -zelar pela aprendizagem dos alunos; IV—estabelecer estratégias de recuperacio para os alunos de menor rendimento; = ministrar os dias letivos e horas.aula estabelecidos, além de partciparintegral- ‘mente dos periodos dedicados a0 planejamento, & avaliagéo e a0 desenvolvimento profissonal Vi colaborar com as atividades de articulio da escola com as familias © a com nidade, (BRASIL, 1996b) Sobre o Art. 13 da LDB, vale 0 mesmo argumento ulllizado para o artigo anterior, ou seja, embora concordemos com os conteiidos dos seus incisos, hao € lito ignorar um certo matiz autoritério, que néo se coaduna com afa- zeres propriamente educacionais. Vale dizer, patticipar da elaboragdo da pro- Posta politico-pedagégica da escola, assim como de sua implementacao ¢ avaliagio, colaborando para 0 cumprimento de seus objetivos, nao é tarefa que se imponha a quem quer que seja, mas que se convenga, com argumen- los, a realizar, Além disso, so dispositivos que melhor se coadunam com 0 que se espera dos regimentos escolares, tanto de escolas piiblicas como particulares. Art. 14 da LDB delega aos sistemas a elaboragao das normas de gestio do ensino (de novo, 86 o piiblico) na educagao bisica, respeitando as peculiari- dades desses sistemas, mas definindo os principios a serem considerados: ‘Antigo 14 ~ Os sistemas de ensino definirdo as normas de gestéo demoeritica do ensino pblico na educacao bésica, de acordo com as peculiaridades e conforie 58. ROMUALDO PDE OLVERA E THERESA ADRIAD (ORG: CESTAD, FINAMCINMENTO FIREITO A EDUCAGAO (5 seguintes prinepios: |= pantcipagio dos profissionais da edueagio na elaboracio do projelo pedagégico da escola; 11 partcipagdo das comunidades escolare local em conselhos escolares ou equiva lentes. (BRASIL, 1996b) Observe-se que 0 Art. 14 da LDB reafirma contetidos jé explicitados nos Als, 12 € 13 (inciso 1). Neste sentido, seria dispensével, mas ele acrescenta um dado novo ao prever a “participagdo das comunidades escolar ¢ local em con- selhos escolares ou equivalentes” (inciso Il), que serdo objeto de aprofunda- mento no capitulo ‘A gestio democratica na Constituigéo Federal de 1988", deste volume. Cabe lembrar que 0s Conselhos de Escola, com poder delibera- tivo © em substituigso as Associagoes de Pais e Mestres (APMS), so organis- mos reivindicados pelos setores organizados da sociedade civil desde meados dos anos 1970 e, sobretudo, nos anos 1980, perfodo de democratizacao do pats. Em muitos casos, esse colegiado com poder de deliberacao estava acima do diretor da escola, autoridade educacional constituida. No entanto, a redacao do Art. 14 da LDB posterga a definicao dos espacos de participacdo possivelmen- te para os regimentos internos das Insutulgdes escolares e dos sisternas. 0 Aft. 15 da LDB trata dos graus de autonomia pedagégica e financeira das escolas piiblicas de educacao basica: “Artigo 15 ~ Os sistemas de ensino assegurardo as unidades escolares publicas de educacao bésica que os inte- gram progressivos graus de autonomia pedagégica e administrativa e de ges- tao financeira, observadas as normas gerais de direito financeiro piblico” (BRASIL, 19960). Como podemos observar, esse artigo menciona que os siste- mas de ensino deverdo assegurar progressivos graus de autonomia - pedagé- ica, administrativa e de gestio financeira - para as escolas pablicas de educa- ‘cao basica, o que 6 desefivel. Entretanto, € conveniente que relativizemos a Possibilidade dessa autonomia, consideradas as politicas educacionais em vi- gor. Vejamos: a) a autonomia pedagégica, embora possa ser exercida pelos alores educacionais - escolas ou professores -, que tém liberdade para ado- lar esta ou aquela linha de conducdo dos trabalhos pedagégicos (BRASIL, 1988, Art, 206, 11D, encontra um cerceamento claro proveniente das DCN e, sobretudo, dos PCN. O falo 6 que, elaborados centralizadamente, sem nenhu- ‘ma participacao dos envolvidos, os PCN deixam de ser parimetros ¢ trans- formam-se em referenciais quase Gnicos para as atividades didético-pedago- gicas. Transcritos por meio dos livros didaticos, constituem-se no principal re- ferencial de escolas ¢ professores®; b) para fazer prevalecer a autonomia ad- prestando uma calaboraio inestinvel indistria do lo dite, produrinde algo 20 redor de 30% do mercado editorial de lives, evidentemente custeados por recursos pals, 59 [MA APARBCIDAS. MLRANAKA EGESAR A MINTO ORGANIDAGHO DA EIICAGAO ESCOLA Iministrativa, que tradicionalmente sempre esteve circunsctita & racionalidade \cnica, pressupostamente neutra, em uma estrutura fortemente hierarquiza- dda, seria necessério colocar em vigor todos os mecanismos de patticipagio democratica disponiveis, a comecar pelo funcionamento do Conselho de Escola, pela elaboracdo do projeto politico-pedagégico anual, pela defin do regimento e, se possivel, por eleicao dos dirigentes escolares, cujo proces- 50, se democratico, aumenta 0 grau de compromisso entre os diversos agen- tes da comunidade afeta a escola. c) quanto a autonomia de gestio finan- ceira, atualmente objeto de muita propaganda oficial (dinheiro direto na es- cola, entre outras), cabe lembrar que € condicionada a montantes especifi- cos, definidos pelos governos centrais, a serem gastos em itens pré-determina- dos, além de observar “as normas gerais de direito financeiro piblico" (BRASIL, 1988, Arts. 163-169). Tal configuracao ndo nos parece caracterizar uma verda- deira autonomia de gestao financeira. O Art. 16 da LDB define a composicao do sistema federal de ensino, nos seguintes moldes: “Artigo 16 - O sistema federal de ensino compreende: | = as instituigGes mantidas pela Unido; Il ~ as instituigbes de educagio superior rladas © mantidas pela Inlclatlva privada; Il ~ os orgaos Federals de educa io.” Tal artigo, como também 0 Art. 17, em seguida dispensam comentirios adicionais, uma vez que seus conteddos apenas detalham aspectos ja aborda- ddos anteriormente. O Art. 17 da LDB expl 10 dos sistemas de censino dos estados e do Distrito Federal: Aigo 17 ~ Os sistemas de ensino dos Estados e do Distrito Federal compreenclem: {a insttuigdes de ensino mantidas, respectivamente, pelo Poder Piblico estadual e pelo Distrito Federal I1-as insituigées de educagio superior mantidas pelo Poder Pablico municipal; I~ as insttuigdes de ensino fundamental e médio criadas e mantidas pela inciativa privada; IV~0s Orgaos de educacio estaduais e do Distrito Federal, respectivamente. Pardigrafo nico. No Distito Federal, a instiulg6es de educacéo infantil criadas ‘mantidas pela iniclava privada,integram seu sistema de ensino, (BRASIL, 1996b) O Art. 18 da LDB estabelece a composi¢ao dos sistemas municipais de ensino, desta forma: Atigo 18 ~ Os sistemas municipais de ensino compreendem: |~as insttuigdes do ensino fundamental, médio e de educacio infantil mantidas pelo Poder Piblico municipal {I~ as insttuiges de educagio infantil criadas e mantidas pela iniciatva privada; = 05 Grgaos municipais de educacéo. (BRASIL, 1996b) Apenas relembramos que, a partir desta LDB, os sistemas municipais $6 poderdo atuar em outros niveis de ensino quando tiverem atendido, no ambi- 60 [ROMUALDO De OLVERA E-THERESAADWRO (ORG) ~ GESTAD, ANAKCINMENTO ECARD A EEQCRGAO to de sua drea de atuagao, a educagao infantil e © ensino fundamental (BRA- SIL, 1996b, Art. 11, V). © Art. 19 da LDB trata da classificagao das instituig6es de ensino em duas categorias de carter administrativo, desta forma’ Artigo 19 ~ As insttuigées de ensino dos diferentes nivels lassificamese nas seguintes, ‘categorias administrativas: 1 piiblicas, assim entendas as eriadas ou incorporadas, mantidas e administradas pelo Poder Pablico; I~ privadas, assim entendidas as mantidas e administradas por pessoas fisicas ou juridicas de dielto privado. (BRASIL, 1996) Como podemos observar, 0 Art. 19 explicita 0 que se entende por insti- tuigdes de ensino paiblicas e por instiuigdes de ensino privadas. O contetido de seus incisos dispensa consideracbes técnicas adicionais; entretanto, cabe mencionar que a pugna piblico-privado perpassa grande parte da histéria da educagio no Brasil. De um lado, os defensores da iniciativa privada, que sem- pre fizeram 0 uso que melhor Ihes convinha do conceito de “liberdade de ensino”, tentando tomar hegeménicos seus interesses particulares, ao mes mo tempo em que buscavam garantir a destinacao de recursos puiblicos para suas escolas. De outro lado, os defensores da escola pablica, gratuita, laica e de boa qualidade para todos, que desde a Constituinte tentaram garantir sua maior bandeira de luta: verbas pablicas s6 para escolas publicas. E é bom Iembrar que esse intento nio foi contemplado pela CF 88 (Art. 213), que consagrou a possibilidade de destinar recursos piblicos para escolas comu- nitérias, confessionais ou flantrépicas. (© Art. 20 da LDB define 0 enquadramento das instituigdes privadas de ensino em quatro categorias, nos seguintes termos: Artigo 20 ~ As insttuigbes privadas de en {panticulares em sentido estito, assim entendidas as que sio instituidas e mantidas por uma ot| mais pessoas fsicas ou juridicas de dielto privado que nso apresentem as caracteristicas dos incisos abalxo; 1 comuniarias, assim entendidas as que sio insttuldas por grupos de pessoas fis ‘cas ou por uma ot mais pessoas juriicas, inclusive cooperativas de professores & ‘alunos que incliam na sua entidade mantenedora representantes da comunidade; Ill confessionals, assim entendidas as que so institudas por grupos de pessoas fi. sieas ou por umna ou mais pessoas jurdieas que atendem a orientagSo confessional ¢ deologia especicas ¢ ao dsposto no inci anterior; IV flantrépicas, na forma da lel. (BRASIL, 19960) no se enquadrardo nas seguintes categori- % Sobre contend piblco-prvado, superimoy a letra de Muranaka (1988) ¢ Piero (1990 61 DINU APARDCIDAS.MURAXAKA CESAR A MINTO — ORGANIZAGAO ON EDUCAGAD ESCOLAR © Art. 20 da LDB explicita o significado de cada uma das categorias nas quais se enquadram as instituigdes privadas de ensino, conforme 0 que fora previsto no Art 213 da CF 88.% Mas é bom que se diga que essa definigdo expressa a maneira por meio da qual os segmentos sociais conservadores conseguiram fazer prevalecer seu intento privatista, constituindo-se numa “valwula de escape” que possibilita a drenagem de recursos piblicos para as escolas particulares. Supomos que os contetidos desses incisos sejam claros, mas consideramos oportuno mencionar alguns exemplos. Escolas ligadas a sindicatos de categorias profissionais ~ patronais ou de trabalhadores - sa0 comunitarias; as escolas vinculadas as confisses adventista, catélica, me- lodista, ete. sio confessionais e, por fim, sio consideradas escolas filantropi- cas aquelas que possuem Cerlificado de Entidade de Fins Filantrépicos ¢ que se encontram cadastradas junto a0 Conselho Nacional de Assisténcia Social (CNAS), regidas, portanto, por leis especificas.* CCoNSIDERAGOES FINAIS De fato, a CF 88 nao explicta claramente a intengso de organizar um sis tema nacional de educacao. Ao invés disso, determina que as diferentes esfe- ras administrativas ~ Unido, estados, Distrito Federal e municipios ~ organizem, seus sistemas de ensino separadamente, mas em regime de colaboragao. En- tretanto, néo é licito ignorar que ela prevé a existéncia de um plano nacional de educagao, agora ja estabelecido na Lei n° 10.172, de 9 de janeiro de 2001, com duragao de dez anos, “visando a articulag’o @ ao desenvolvimento do tensino em seus divetsos niveis & integragio das agées do Poder Pablico” para: erradicar © analfabetismo, universalizar 0 atendimento escolar, melhorar a. qua lidade do ensino, formar para o trabalho e promover o desenvolvimento hu- manistico, cientifico e tecnolbgico do pais (BRASIL, 1988, Art. 214). A concepgao de sistema de ensino contida tanto na CF 88 como na decorrente legislagao educacional em vigor no Brasil explicita ainda menos a ® E comprensvel que ese captulo da LOB foste um dos mat polémicos, pels questdes que devra tata, rindpalnente, pelo teor das dretizes al primis, Preocupades em delimiar com dere 2s das redes dev ensne, a pba © a privada, © em aprofundare regluentaro preceto cosituconal ue permite 1 aloagio de recursos paleo A excola patculaes,tratou 0 ploeto de LOB, aprovade ‘i Comisio de fucagio Cultura e Desporto da Cima doe Depuladon, de estabelecer as codes Dara que esse repasse nio ocrresse ndsciminadamente submetendo-a aos contoles de natuters. ple. Assim, despertou-se ia « fizeram-se agltiat as diferentes forgas vos dversos patios polices 20 romper com a longa tadiho da leghgio educaconl em que 2 dstngsoente v ple © pivado peimaneda mma tona nebula ® Veja: Deceto n° 2.306, de 1997, Lei n2 8212, de 1991, com algo motficado pela tei 9.424, de 1996 e Decreto n* 2536, de 1996, com a redigho didn pelo Deccto n* 308, de. 2000, __ 62 OMUALDO F DE OLVERA & THERESA ADRIAD (ORG) —GESTAD, ANANCINMENTO DIRE A EDUCA idéia de construcao de instancias de cooperacao articuladas - em termos de responsabilidades parlithadas pelas diferentes esferas administrativas para 0 atendimento de diteitos ~ ¢ a idéia de elaboragéo de mecanismos de organi- zagao burocratica, constituindo-se de segmentos de responsabilidad justapos- tos que nao contemplam uma unidade de prineipios para garantir a qualida- de ea uniformidade do ensino plural a que a populagio tem direito, Nesse sentido, considerando © contexto histérico e politico e a analise dos contetidos expressos na legislagio educacional ~ parte referente & edu- cagao contida na CF 88 ¢ LDB n° 9.394/1996 -, parece-nos que a conclusio maior, que emana tanto dos processos de elaboragio dessas duas leis como, de seus proprios contedidos, 6 a de que os legisladores brasileiros nio se preocuparam em garantir uma educagao escolar de igual e boa qualidade para toda a sociedade brasileira. Entretanto, apesar disto, entendemos que 08 processos de elaboracao dos planos estaduals ¢ municipals de educacio, se dlemocraticos © participativos, podem e devem melhorar a legislacao edu- cacional em vigor, avangando no sentido de garantir uma edueagio pablica, gratuita, laica € de qualidade para todos. A GESTAO DEMOCRATICA NA ConstiruicAo FEDERAL DE 1988 Tueresa Avaiio € Rubens Baxwosa oe Camano Ivrropugio. Refletir sobre os avangos e os limites presentes no texto de nossa Cons- lituigao Federal exige que lembremos, ainda que rapidamente, o contexto que envolveu sua elaboragio. A primeira coisa a frisar é que safamos de um pe- riodo ditatorial com a expectativa e a necessidade de vivermos, prin a partir da década de 1980, relagdes mais democréticas. A luta pelas liberdades democraticas; os primeiros grandes mi agrevistas; 0 movimento das “Diretas J” pelo retomo de eleicdes para gover- hhantes; a conquista da liberdade de organizagdo partidéria, entre tantas ou- tras agées no campo trabalhista, politico e social, configuraram um “clima” ipagao e democralizacao das varias esferas da sociedade bra- sileira, incluindo-se a organizagio do préprio Estado. Assim, dentre os varios temas que compunham as pautas dos setores progressistas, estava o cardter autoritario ¢ centralizador que caracterizou 0 funcionamento do Estado brasileiro durante o regime militar (1964-1985), 0 qual passou a ser questionado por meio da defesa do aumento de sua per- ‘meabilidade a0 controle pablico e as demandas sociais. A énfase numa neces- séria publicizagio do Estado expressava-se em relvindicacbes, principalmen- te por parte dos movimentos populares e sindicais, pela instalagio de procedi- mentos mais transparentes e de instancias de carater participative com vistas 4 democratizagao da gestio do proprio Estado. De certa forma, em decor- réncia disso perspectivas panticipativas e democraticas tornaram-se plata- formas dos partidos de oposicao ao regime militar que disputaram as el oes a partir de 1982. Foi principalmente no plano das reformas democriticas do Estado bra sileiro que se inscreveram as perspectivas delineadas acima, com destaque para a esfera legislativa, pois uma das formas de se procurar garantir meca- nismos ¢ instincias com contedidos democriticos 6 consolida-los legalmen- te. E bom lembrar que todo ¢ qualquer processo legislative apresenta-se, em esséncia, como espaco de disputas entre diferentes interesses, muitas vezes antagonicos, € que a lei, como resultado daquele processo, expressa a sinte-

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