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As redes para além dos rios:

urbanização e desequilíbrios na Amazônia brasileira

Douglas Sathler
Fundação João Pinheiro (FJP/MG)
Roberto L. Monte-Mór
Professor do CEDEPLAR/UFMG
José Alberto Magno de Carvalho
Professor do CEDEPLAR/UFMG e Diretor da FACE/UFMG

Resumo Abstract
Palavras-chave Nas últimas décadas, as redes urbanas que se es- In recent decades, the Amazonian urban networks
tendem sobre a Amazônia Legal têm evoluído com have been developing with the appearance of
redes urbanas, Amazônia, o surgimento de cidades médias e com a multipli- medium-sized cities and the multiplication and small
desequilíbrios. cação de pequenas aglomerações urbanas, que se- urban agglomerations along the main regional roads
Classificação JEL R00. guem os traçados das principais rodovias e rios da and rivers. However, Amazonian urban networks
região. Apesar disso, as redes da Amazônia Legal have several characteristics that should be studied
apresentam diversos aspectos que devem ser es- without “euphoria”, because of some peculiarities that
tudados sem “euforia”, diante de uma série de pe- deserve to be explored in greater depth. Even though
culiaridades que merecem ser exploradas com there is an urban hierarchy that seems to be similar to
maior profundidade. Mesmo que tenha sido es- the other regions of the country, with clearly
truturada uma hierarquia urbana aparentemente distinguishable regional and local centers, the various
similar à das demais regiões do país, com centros urban hierarchical levels have different demographic,
regionais e locais claramente distinguíveis, os di- spatial and socioeconomic dynamics. The fragility of
versos níveis hierárquicos urbanos apresentam the Amazonian urban networks is related to the
dinâmicas demográficas, socioeconômicas e es- creation of barriers for the flows of people, goods and
paciais distintas. A situação de fragilidade das re- services, like: a) the great distances that separate the
des urbanas amazônicas está relacionada à criação capital cities from the other towns and hamlets; b) the
de impedimentos para os fluxos de pessoas, mer- lack of transport and communication infrastructure
cadorias e serviços, cabendo destacar: a) as gran- in large areas of the Amazon territory; c) the large
des distâncias que separam as capitais das demais proportion of the population without material and
cidades e vilas; b) a carência de infra-estrutura nos educational resources needed for them to actively
Key words setores de transporte e comunicação em grandes participate in the various kinds of flows.
urban networks, Amazonia, porções do território amazônico; c) a grande pro-
imbalances. porção de população desprovida de recursos ma-
teriais e educacionais decisivos no que tange a sua
JEL Classification R00. participação ativa nos diversos tipos de fluxos.

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11 As redes para além dos rios

1_ Introdução or da região lançou vários desafios relacio-


As redes urbanas que se estendem sobre nados com o equilíbrio no que tange à or-
a Amazônia Legal têm evoluído com o sur- ganização, à disposição e à interação das ci-
gimento de cidades de porte intermediário dades na Amazônia Legal. Nesse contexto,
e com a multiplicação de pequenos cen- deve-se ressaltar que essas transformações
tros urbanos, que seguem os traçados das parecem romper com a enorme dificulda-
principais rodovias e dos rios da região. de de interiorização da ocupação em vastas
Deve-se ressaltar que, há poucas décadas, regiões da Amazônia Legal.
essa extensa porção do território brasilei- Nas últimas décadas, foi deflagrada
ro era caracterizada por um pequeno nú- uma verdadeira explosão urbana nas proxi-
mero de cidades, dispersas pela floresta, midades das principais ligações rodoviárias
interconectadas por canais de drenagem, da região, diante de movimentos migratóri-
vias únicas de integração daquelas locali- os de grande intensidade (Matos, 2005). As
dades. A população exercia atividades com taxas de crescimento populacional foram
características distantes daquelas pratica- superiores às médias nacionais, resultantes,
das nos centros urbanos, e a economia era sobretudo, dos intensos fluxos migratórios
essencialmente voltada para as ocupações com origem nas regiões Nordeste e Sul.
ligadas aos rios e à floresta. Apesar disso, as redes da Amazônia
A urbanização dos Estados amazô- Legal apresentam diversos aspectos que
nicos atravessou duas fases historicamente devem ser interpretados sem “euforia”, di-
distintas: na primeira, anterior aos anos ante de uma série de peculiaridades que me-
1960, esse processo nascia e se desenvolvia recem ser exploradas com mais profundi-
predominantemente pelos rios; já na se- dade. Apesar de haver sido estruturada, em
gunda fase, a exploração mineral e os gran- algumas porções da Amazônia Legal, uma
des projetos estimularam o crescimento hierarquia urbana aparentemente similar à
urbano com o auxílio das rodovias após os das demais regiões, com centros regionais e
anos 1960 (Souza, 2000). locais claramente distinguíveis, os diversos
Não obstante o significativo cresci- níveis hierárquicos urbanos apresentam di-
mento demográfico das capitais estaduais nâmicas demográficas, socioeconômicas e
nas últimas décadas, a recente conforma- espaciais distintas daquelas estabelecidas pa-
ção de núcleos urbanos dotados de expres- ra as redes de cidades do Centro-Sul do País.
sivos contingentes populacionais no interi- Nesse sentido, o presente estudo dialoga

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com as especificidades das redes de cida- Diante dessas intensas mudanças nas
des da Amazônia Legal, buscando melhor relações sociais, Santos (1994, p. 167) de-
entendimento do significado das transfor- clara que vê
mações sócio-espaciais recentes. “o mundo constituído de fixos e de fluxos,
por uma paisagem e relações sociais; como
um conjunto de lugares onde o acontecer si-
2_ As "redes móveis" na era multâneo dos diversos agentes supõe o uso
da informação diferenciado do tempo”.

As abordagens mais comuns acerca das di- Neste sentido, o autor (1994, p. 167) res-
nâmicas das redes urbanas buscam levar salta que “o tempo é a base indispensável
em consideração questões importantes, para o entendimento do espaço”.
tais como a diferenciação funcional das ci- As definições conceituais de rede se
dades, as relações entre tamanho demográ- enquadram em duas grandes matrizes: a
fico e desenvolvimento, a hierarquia urba- que apenas considera sua realidade materi-
na e as relações entre cidade e região. A al e a que também leva em conta o dado
rede urbana é concebida como um con- social. A primeira se encaixa na definição
junto de centros funcionalmente articu- de Curien (1988, p. 212), sendo a rede
lados e, nesse sentido, a intensificação da composta de “toda infraestrutura, permi-
globalização em vastas áreas do mundo tindo o transporte da matéria, de energia
tem remodelado os padrões de hierarquia ou de informação, e que se inscreve sobre
e de relacionamento entre as cidades. um território [...]”. Não obstante, Santos
O avanço da globalização tem papel esclarece que
fundamental na intensificação dos diversos “a rede é também social e política, pelas
tipos de fluxo. Esse processo, com forte pessoas, mensagens, valores que a freqüen-
viés econômico-espacial, é definido como tam. Sem isso, e a despeito da materiali-
a compressão do mundo e a intensificação dade com que se impõe aos nossos sentidos,
de uma consciência global, o que alarga e a rede é, na verdade, uma mera abstra-
aprofunda as relações sociais. Assim, even- ção” (Santos, 1997, p. 209).
tos globais passam a moldar acontecimen- As cidades são os nódulos dos siste-
tos locais, e vice versa (Robertson, 1992; mas de fluxos, que, por sua vez, dinamizam
Soja, 2000). a rede urbana e estruturam o território. Na

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era das cidades industriais, as redes urbanas cada vez mais distantes. A ampliação abrupta
se organizavam a partir da influência pri- dos raios de influência das cidades que pro-
mordial dos fluxos materiais. Com a revo- tagonizaram essas transformações econô-
lução científica e informacional, os fluxos micas e sócio-espaciais atuou na integração
simbólicos se tornaram mais decisivos na de redes que, até então, não se relacionavam
definição das hierarquias urbanas e da ca- ou se relacionavam com pouca intensidade.
pacidade de polarização de cada um de se- Dessa forma, as décadas anteriores
us nódulos. Segundo Santos (1978, p. 87), foram marcadas pelo aumento do alcance.
“convém lembrar que a economia mundial Mesmo diante das extensas áreas de exclu-
de nossos dias não é mais governada pelos são, o mundo parece ter ficado pequeno
que detêm as massas, isto é, os que produ- com o poder de alcance dos fluxos. Nesse
zem, mas pelos que se encontram em condi- ritmo de constantes inovações, outros pa-
ções de transformar essas massas em fluxos”. radigmas estão sendo quebrados nas por-
No que tange ao dinamismo e ao fun- ções mais desenvolvidas do globo, na atua-
cionamento das redes urbanas, a globaliza- lidade. O alcance já não surpreende tanto
ção exerce uma série de impactos, a saber: diante das novas formas de flexibilidade e in-
a. intensifica os fluxos; teratividade que surgiram e/ou se enraiza-
b. amplia o alcance das redes e dos ram após a virada do milênio.
diversos nós; De acordo com Santos (1994, p. 167),
c. estimula a regionalização; a rede urbana é definida por “fluxos de in-
d. muda a direção dos fluxos com a formação hierarquizados e fluxos de maté-
possibilidade do aprofundamen- ria que, nas áreas mais desenvolvidas, não
to das relações entre o local e o são hierarquizantes”. Apesar da evidente
global sem a atuação de centros distinção, deve-se ter em mente que os flu-
intermediários; xos de informações e matérias geralmente
estão intimamente relacionados e não exis-
e. amplia a possibilidade de especia-
tem separadamente.
lização funcional por parte das
cidades; No que se refere aos fluxos de in-
formações, esses são, cada vez mais, gera-
f. atua na criação de áreas de exclusão.
dos por fontes desprendidas do mundo
A partir da revolução informacional, constituído de fixos. O mundo já está bem
as cidades passaram a interagir com lugares diferente daquele imaginado e pensado por

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Milton Santos e outros grandes teóricos Como forma de exemplificar o au-


das décadas anteriores. A flexibilidade das mento na interatividade, pode-se citar:
fontes que emanam e recebem informa- a. a eficiência das ferramentas de bus-
ções atingiu níveis impressionantes. ca do Google;
Nos últimos anos, as ligações reali- b. o mundo em imagens do Google
zadas com o uso de telefone fixo têm sido Earth;
proporcionalmente reduzidas com a invasão c. o Google Maps;
do celular, companheiro sempre presente d. o surgimento e a popularização do
que oferece uma mobilidade que mudou a Skype, que permite a troca de in-
rotina das pessoas. O correio tradicional e formações entre pessoas de to-
o fax foram, em grande medida, substituí- das as partes do globo a custos
dos pelo e-mail, caixa postal eletrônica que muito mais baixos do que o siste-
acompanha as pessoas em qualquer lugar ma tradicional de telefonia;
que haja conectividade. Os fluxos materiais e. a riqueza do banco de informa-
também são impulsionados em um mundo ções do Youtube;
em que se pode comprar e solicitar de tudo f. a difusão de rádio e televisão via
pela internet ou pelo telefone. Maior flexibi- web;
lidade significa poder gerar ou absorver um g. a divulgação irrestrita de arquivos,
fluxo, de qualquer natureza, de maneira vídeos e músicas MP3 na inter-
mais imediata e livre, em qualquer lugar net com ferramentas de busca
que a pessoa esteja. sofisticadas, a exemplo dos sites
De maneira mais recente, o aumen- de “torrent”;
to da interatividade tem causado impactos h. novos hardwares portáteis, como
incríveis no dinamismo das redes mundiais. o HD portátil e o “pen drive”;
Um dos grandes agentes da interatividade, i. a incorporação de novas ferramen-
sem sombra de dúvida, é a internet, cada tas no aparelho celular que per-
vez mais acessada e modernizada, criando mitem o registro de fotos, víde-
um mundo de fluxos sem distâncias e dire- os, o acesso a dados bancários e à
ções, ou seja, para as pessoas, as coisas já caixa de e-mails;
não parecem vir de algum lugar, elas já es- j. a criação de uma identidade digital
tão o tempo todo na frente delas. através de sites de relacionamen-
to do tipo Facebook e Orkut.

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Diante de todas essas inovações no uma recente dissociação entre proximi-


universo das informações, a rede urbana dade espacial e o desempenho das funções
ganha força com o papel central desempe- rotineiras: trabalho, compras, entreteni-
nhado pelas cidades e demais prolonga- mento, assistência à saúde, educação, ser-
viços públicos, governo e assim por diante.
mentos do tecido urbano na intermediação
Por isso, os futurologistas freqüentemente
dos fluxos, embora esses tenham se rebela-
predizem o fim da cidade, ou pelo menos
do contra os caminhos tradicionais.
das cidades como as conhecemos até agora,
Na esfera do indivíduo, o grande visto que estão destituídas de sua necessi-
agente transformador, as redes possuem dade funcional (Castells, 1999, p. 419).
pontos que parecem mudar de lugar a todo
o momento além de fluxos que não obede- Alguns dos exemplos apontados por
cem a caminhos rígidos, ou dão a impressão Castells (1999) para a década de 1990 pare-
de fazer caminho algum, saindo e chegando cem se destacar, cada vez mais, nos dias
instantaneamente, ou apenas “estando”. Pes- atuais, tais como:
soas, empresas e cidades estimulam um sen- a. a substituição do serviço em am-
timento de onipresença sem precedentes. biente de trabalho pelo trabalho
Nessa perspectiva, as redes não são mais on-line, em casa, com o aumento
geométricas. Elas assumem formas visíveis do teletrabalho e das consultorias
e invisíveis impossíveis de ser definidas ou em resposta ao processo de ter-
desenhadas. Assim, o mundo passa a co- ceirização;
nhecer não apenas as tradicionais redes b. o ensino a distância, oferecido, so-
dendríticas e complexas, contando agora bretudo, pelas universidades, tam-
com vastas regiões dotadas de redes móveis. bém apresentou aumento duran-
As ideias apresentadas por Castells, te a década de 1990;
ao final do século, no seu livro sobre A socie- c. apesar de seu caráter complemen-
dade em rede, já traziam elementos que ajudam tar, as atividades comerciais tra-
a justificar o nascimento das redes móveis dicionais, as compras via web e o
em um plano conceitual, mesmo sem levar telefone têm crescido no início
em consideração o surto de inovações após dos anos 1990 e se tornaram um
a vira da do milênio. Segundo o autor, surto após a virada do milênio;
o desenvolvimento da comunicação eletrô-
d. a supervisão por videoconferência
nica e dos sistemas de informação propicia de procedimentos cirúrgicos.

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Tudo isso vai ao encontro do aumento da “IBGE Países” para 2005 indicavam que
mobilidade nos países desenvolvidos e, 46,25% dos brasileiros possuíam telefone
em menor medida, nos países em desen- celular, valor significativo, mas ainda inferi-
volvimento. or, proporcionalmente, a países como Ar-
Em alguns países em desenvolvi- gentina (57,41%), Chile (67,79%), Estados
mento, e particularmente no Brasil, em que Unidos (71,50%), África do Sul (71,60%),
pese a relativa restrição infraestrutural, prin- Japão (75,33%) e Rússia (83,62%) no mes-
cipalmente nos sistemas de transporte, o mo ano.
sistema de comunicações vem se desenvol- Já no que tange ao número de com-
vendo de forma surpreendentemente in- putadores pessoais a cada 100 habitantes, o
tensa e disseminada. Em algumas regiões, a Brasil (16,09%) está à frente de outros paí-
telefonia celular atinge proporções compa- ses em desenvolvimento como a África do
ráveis a países desenvolvidos, e também o Sul (8,36%), a Argentina (9,07%), a Rússia
uso de computadores vem aumentando (12,13%) e o Chile (14,75%). Apesar disso,
significativamente. Entretanto, em que pe- os dados indicam que, em 2005, os valores
se essa transformação, a cobertura de ser- desses países em desenvolvimento estavam
viços de comunicação e informacionais em muito distantes em relação ao que foi veri-
níveis equivalentes aos países do centro ficado para países como Estados Unidos
exigirá ainda muito tempo e esforço, até (76,22%) e Japão (67,45%). Com relação ao
porque, daqui em diante, os ganhos per- percentual de pessoas que usavam internet
centuais passam a ser mais lentos, com a em 2005, o Brasil (21%), assim como outros
incorporação de pequenos municípios, exi- países em desenvolvimento, como África do
gindo grandes investimentos para áreas de Sul (10,75%), Argentina (17,78%) e Chile
baixa densidade. (28,93), ainda apresentavam valores bem
De acordo com os dados divulga- abaixo daqueles encontrados para os Esta-
dos no site da Anatel, 63,6% da população dos Unidos (66,33%) e o Japão (66,59%)
brasileira (cerca de 121 milhões de pessoas) nesse mesmo ano.
possuía acesso pessoal ao celular em 2007, Neste contexto de transformações
contra 20,3% em 2002. Nesse mesmo pe- globais, as redes da Amazônia brasileira se
ríodo, o número de telefones públicos fi- inserem numa mistura de inserção e ex-
xos caiu de 1.368.200 para 1.142.000 no clusão, de velocidade e atraso. A criação de
País. A título de comparação, os dados do espaços que interagem, coexistem ou se

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distanciam pode ser percebida nas diver- 3_ Urbanização e evolução


sas escalas de análise. No nível global, de- das redes de cidades
ve-se destacar a importância dos impactos na Amazônia Legal
gerados pelo processo de globalização, não A atual conformação das redes de cidades
apenas na economia e nas finanças, mas da Amazônia Legal foi produzida por um
também na redefinição do papel do Esta- processo de urbanização distinto das de-
do, na natureza e no aumento da velocida- mais regiões do Brasil, sendo enormemen-
de de transformação das atividades e dos te influenciada pelas intervenções estatais
territórios com o aperfeiçoamento das re- que ocorreram a partir da década de 1960.
des técnicas. Do ponto de vista regional e O desenvolvimento da fronteira urbana, que
local, o acesso às redes também é depen- pode ser entendida como a base logística
dente dos atributos do território, da poten- para o projeto de rápida ocupação da re-
cialidade humana e das iniciativas políticas gião, muitas vezes se antecipando à ex-
(Becker, 2001). pansão de várias frentes, foi impulsionado
Mesmo que as distâncias para os di- pelo incentivo a grandes empreendimen-
versos tipos de fluxo ainda continuem es- tos e pela política de migração induzida e
pecialmente grandes na Amazônia brasilei- financiada pelo Estado. Novos núcleos
ra, percebe-se que muitas das mais recentes foram criados, sobretudo em apoio a pro-
inovações do mundo desenvolvido che- jetos de mineração, agropecuária e colo-
gam, com simultaneidade, nas maiores ci- nização (Becker, 1990).
dades da região. Esse mix de avanço e atra- A história conta que o surgimento e
so pode ser percebido muito fortemente a proliferação das cidades comumente estão
nas maiores cidades amazônicas e, até mes- diretamente relacionados à criação de ex-
mo, nas médias e nas pequenas cidades do cedentes nas áreas rurais. Entretanto, deve
interior da região. ficar claro que, em alguns casos, a cidade
Os próximos tópicos traçam um pa- pode nascer na frente do campo, como em
norama do que tem sido o processo de ur- grandes áreas na Amazônia em que as cida-
banização da Amazônia Legal brasileira, com des servem como bases logísticas para a ex-
o objetivo de investigar melhor o real signifi- ploração dos recursos naturais e para a im-
cado das relações entre as cidades da região. plementação de atividades agropecuárias.

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Em boa parte dos casos, as cidades organizado e as cidades de apoio a projetos


na Amazônia costumam responder ao que agroindustriais aparecem como importan-
acontece em seus arredores. Nas áreas de tes do ponto de vista do crescimento urbano
mineração, desflorestamento e mesmo nas na Amazônia Legal. De maneira diferenci-
áreas tomadas pela agricultura mecanizada, ada, todavia, aparecem os diversos centros
a lógica urbana e industrial esteve sempre locais, que eventualmente se transforma-
presente. Dessa maneira, assim como em ram em centros de porte intermediário,
outras partes do País, em vastas regiões da mas que foram gerados a partir das neces-
Amazônia Legal, a urbanização que ultra- sidades e demandas colocadas por uma
passa as barreiras das cidades, favorecida economia agropecuária de pequeno porte
pelo desenvolvimento do meio técnico cien- ligada aos vários projetos de colonização,
tífico e informacional e pelo apoio da forte oficiais e privados, que foram implantados
presença das relações de produção urbano- por toda a Fronteira Amazônica a partir
industriais, pode ser compreendida com o dos anos setenta.
auxílio do conceito de urbanização extensiva. As cidades que surgiram e se desen-
Esse termo se refere ao avanço do tecido volveram durante o ciclo da borracha,1 res-
urbano que extrapola os limites das cidades ponsável pelo grande impulso às cidades de
com a geração de outras centralidades ur- Manaus e Belém, tiveram que encontrar um
banas, expressando um amplo processo modo alternativo de sobrevivência com o
econômico-espacial (Monte-Mór, 1994). fim dessa atividade econômica. No caso de
No que se refere ao processo de Manaus, a criação da Zona Franca atraiu
formação e de desenvolvimento das cida- significativos investimentos que construí-
1 O ciclo da borracha des na Amazônia Legal, pode-se traçar al- ram o que hoje é o maior PIB municipal da
conferiu dinamismo à gumas tipologias bastante úteis. Na maior Amazônia brasileira (cerca de 20% do PIB
Amazônia da década de 1870 parte dos casos, essas tipologias apresen- de toda a Amazônia Legal, em 2005).
até 1920, quando praticamente
tam um ponto em comum: as atividades Já em Belém, a indústria tradicional,
foi extinto pela concorrência
com a produção organizada econômicas que promoveram o surgimen- o extrativismo, o turismo e o comércio e ser-
pelos ingleses na Malásia. to das cidades amazônicas estiveram dire- viços são atualmente responsáveis pela sus-
Durante a II Guerra Mundial, cionadas para o mercado externo. Assim, tentação econômica dessa grande cidade e
face ao bloqueio da região
as cidades da borracha, a cidade industrial dos demais municípios que formam seu co-
asiática, a borracha
experimentou rápida (Manaus), as cidades da grande empresa re metropolitano. Além disso, outras cida-
sobrevida na Amazônia. mineradora, as cidades do garimpo (des) des de hierarquia inferior, posicionadas no

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eixo do rio Amazonas, também se benefi- balizado atrai enorme quantidade de pessoas
ciaram com o ciclo da borracha, a exemplo que não conseguem inclusão na economia
de Santarém, hoje considerada importante exportadora local e encontram apenas con-
entreposto comercial diante de sua posição dições precárias para sobrevivência econô-
estratégica, situação que se pode tornar mica e reprodução social.
muito mais favorável se o asfaltamento da De forma geral, nas cidades sob a
rodovia federal BR-163 se concretizar.2 atuação das grandes empresas do setor, os
Nas cidades mineradoras, após o iní- projetos mineradores não preveem estraté-
cio da exploração das jazidas, o vertiginoso gias de sustentabilidade econômica para os
crescimento populacional com o surgimen- municípios que lhes dão suporte após o
to de uma série de incentivos econômicos processo de desativação das minas com o
desafia os formuladores e os gestores de esgotamento dos recursos. Nesse caso, as
políticas públicas, que nem sempre conse- Administrações Municipais podem não ter
guem se organizar em prol do atendimento eficiência no que tange ao aproveitamento
satisfatório das novas demandas sociais e das vantagens econômicas diretas e indire-
econômicas. Nesse sentido, em vários mo- tas, oriundas do período de dinamismo ge- 2 A rodovia BR-163, ligando

mentos, a insuficiência, ou mesmo a ausên- rado pelas atividades mineradoras. A falta Cuiabá a Santarém, poderá se
tornar importante porta de
cia, de planejamento urbano favoreceu o de planejamento acaba por condenar a ci-
saída para a exportação da soja
surgimento de problemas crônicos em várias dade à estagnação, com o fim dos royalties e brasileira. Em acordo com o
cidades amazônicas, sobretudo nos cam- dos demais impulsos econômicos gerados que foi discutido na IIIa
pos de infraestrutura e serviços. pela mineração. Assim, a formulação de es- Conferência Nacional do Meio
Ambiente – mudanças
Ademais, se por um lado a instala- tratégias que busquem a reconfiguração das
climáticas, as vantagens
ção de uma grande mineradora em uma re- bases estruturais socioeconômicas das re- comparativas da construção de
gião pode criar uma série de oportunidades giões mais impactadas, com o diagnóstico uma ferrovia face à rodovia
econômicas, a exemplo do que hoje acon- das potencialidades e das oportunidades no são múltiplas, e não
exclusivamente de ordem
tece na cidade de Parauapebas, que usufrui processo de reestruturação produtiva, apa-
econômica, mas também
dos royalties da Vale, percebe-se que o esgo- rece como indispensável. ambiental, uma vez que as
tamento do minério pode condenar ao fra- Em situação mais desfavorável, as ci- rodovias causam impacto
casso toda uma cadeia de serviços com alto dades de apoio ao garimpo (des)organiza- muito maior sobre a floresta, a
exemplo do já ocorrido no
nível de dependência dessa atividade. Além do parecem estar mais susceptíveis às forças
grande “arco rodoviário”
disso, a concentração local de capital em ati- de estagnação do período pós-mineração, que conformou
vidade dinâmica inserida no mercado glo- reflexo da falta de planejamento anterior às a fronteira amazônica.

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altas taxas de crescimento demográfico que vezes superando a casa dos 50.000 habi-
normalmente exibem nos períodos de auge tantes, a exemplo de Ji-Paraná, em Ron-
da atividade. Aqui, pode-se citar o exemplo dônia. A demanda por serviços urbanos e
de Marabá, cidade que obteve dinamismo sociais na região fez, em alguns casos, que
com a exploração das minas da Serra Pela- cidades pretendidas para funções centrais
da, sobretudo durante a década de 1980, e de âmbito local passassem a desempenhar
que experimentou alguns anos de depres- papel polarizador microrregional em suas
são econômica até que as atividades side- esferas de atuação.
rúrgicas constituíssem uma alternativa viá- Ao longo das últimas décadas, o au-
vel. Por outro lado, Itaituba, que não conta mento do dinamismo das redes urbanas
com as vantagens advindas do posiciona- nas proximidades das principais rodovias
mento estratégico de Marabá, vivencia uma amazônicas se refletiu nas altas Taxas de
crise de identidade econômica aguda com Crescimento Geométrico (TCG) para a re-
o fim da atividade garimpeira. gião. De acordo com os Censos Demográ-
No caso das cidades que servem de ficos, a TCG da população da Amazônia
apoio aos grandes projetos agroindustriais, Legal entre 1970 e 1980 (4,43% a.a.) esteve
a alta concentração de renda e a falta de re- bem acima da média nacional (2,5% a.a.).3
cursos municipais, uma vez que não existem Entre 1980 e 1991, o valor da TCG nessa
royalties agroindustriais, são características região se reduziu para 3,51% a.a., caindo
comuns a essas ilhas de pobreza, cercadas ainda mais entre 1991-2000 (2,48% a.a.). A
por um oceano que conta com o que há de partir dos dados da contagem populacio-
mais moderno nesse setor, a exemplo do nal de 2007, realizada pelo IBGE, e das es-
que ocorre em Balsas (MA). timativas realizadas para os médios e gran-
Entre as cidades que surgiram co- des municípios não cobertos pela pesquisa,
mo lugares centrais de apoio à atividade percebe-se que a TCG continuou a decres-
agropecuária de base familiar, nos vários cer, atingindo 1,64% a.a. entre 2000-2007,
3 O estoque populacional projetos de colonização públicos e priva- mas permanecendo acima da média nacio-
relativamente pequeno da dos implantados, ao longo das principais nal no mesmo período (1,15% a.a.).
Amazônia Legal no início rodovias federais, algumas se desenvolveram Com relação à evolução do cresci-
desse período deve ser de forma surpreendente, transformando- mento das cidades, a Tabela 1 apresenta a
considerado na
interpretação das altas TCG se em centros comerciais e de serviços im- distribuição dos municípios por classes de
entre 1970-1980. portantes em sua área de influência, por tamanho populacional, entre 1970 e 2007.

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Tabela 1_ Distribuição dos Municípios da Amazônia Legal por classes de tamanho populacional entre 1970 e 2007

1970 1980 1991 2000 2007


N° de habitantes
n % n % n % n % n %

menos de 20.000 239 71,99 221 60,38 303 59,88 530 69,65 516 67,81
20.000 a 50.000 73 21,99 102 27,87 142 28,06 167 21,94 170 22,34
50.000 a 100.000 15 4,52 31 8,47 43 8,50 43 5,65 49 6,44
100.000 a 1.000.000 5 1,51 12 3,28 16 3,16 19 2,50 24 3,15
mais de 1.000.000 0 0,00 0 0,00 2 0,40 2 0,26 2 0,26
Total 332 100 366 100 506 100 761 100 761 100
Fonte: IBGE. Censos demográficos 1970 a 2000. IBGE (2008a).
Nota: O número total de municípios varia durante os anos analisados com as emancipações.

Em 1970, havia apenas 20 municí- a participação dos municípios de maior po-


pios com população superior a 50 mil habi- pulação no total da região seguiu aumen-
tantes, dos quais apenas cinco possuíam tando; aqueles acima de 50 mil representa-
mais de 100 mil habitantes, enquanto 239 vam mais de 12% do total de municípios
(72% dos municípios da região) apresenta- em 1991.
vam população inferior a 20 mil. Já em 1980, A década de 1990 foi marcada, em
percebe-se aumento no grau de complexi- todo o Brasil, por uma explosão de pequenos
dade das redes urbanas da Amazônia, que municípios resultantes das emancipações
contava com a presença de 12 municípios ocorridas, sobretudo nos anos de 1993 e
com mais de 100 mil habitantes e 31 muni- 1997. Nesse período, surgiram 255 novos
cípios com população entre 50 e 100 mil. municípios na Amazônia Legal. Como a
Em 1991, já existiam pouco mais de maioria dessas novas localidades se eman-
500 municípios na Amazônia Legal, dos cipou com população inferior a 20 mil ha-
quais 16 tinham entre 100 mil e 1 milhão bitantes, a participação percentual dessa fa-
de habitantes. Vale destacar que, naquele ixa aumentou em detrimento das demais,
ano, Belém e Manaus já superavam o limiar atingindo valores próximos aos de 1970.
de 1 milhão de pessoas e que, mesmo com Em contrapartida, o número de municípi-
um incremento de 140 novas unidades ter- os com mais de 100 mil habitantes também
ritoriais via emancipação entre 1980-1991, aumentou de 18 para 21, entre os anos de

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1991 e 2000. De acordo com os dados mais lidade urbano-regional, apoiadas na falácia
recentes da Tabela 1, parece claro que as mo- de que as cidades amazônicas já não estariam
dificações se concentraram nas cidades de organizadas em um modelo simplificado
médio porte da Amazônia. O número de de rede urbana, o qual teria sido rompido
municípios com mais de 100.000 habitan- com a introdução de novas cidades médias
tes era de 19, em 2000, aumentando para e com o surto de crescimento de pequenos
24, em 2007. Da mesma forma, os municí- municípios na região. Entretanto, no caso
pios com população entre 50.000 e 100.000 das redes urbanas amazônicas, parece claro
residentes aumentaram para 49 no último que não apresentam o mesmo nível de
ano analisado, contra 43 em 2000. equilíbrio e complexidade encontrado nas
Como forma de ampliar as possibi- regiões dinâmicas do Brasil, ou mesmo em
lidades de interpretação dessa tabela, a dis- outras regiões desenvolvidas do mundo.
tribuição espacial da evolução demográfica Na Amazônia, a integração econômico-es-
dos municípios amazônicos no mesmo pe- pacial promovida pela globalização não foi
ríodo pode ser visualizada nas Figuras 1 e 2 suficiente para reduzir significativamente
do Anexo.4 Como pode ser observado, tor- as distâncias entre as pequenas cidades e os
na-se claro o impacto da malha viária para demais níveis hierárquicos das redes urba-
o desenvolvimento das aglomerações ur- nas, diante de uma série de atritos que re-
banas na região. A expansão urbana (e po- duzem ou inviabilizam diversos tipos de
pulacional) foi mais intensa sobretudo ao fluxo. Sendo assim, cabe explorar com ma-
longo das rodovias que cortam as porções is profundidade as especificidades amazô-
Sul, Sudoeste e Leste da região, além da nicas nesse contexto de transformações.
ocupação que segue os contornos do rio
Amazonas até Manaus. Entretanto, perma-
nece vasta a região de baixa ocupação no 4_ Especificidades das redes
Sudoeste do Pará e grande parte do Ama- urbanas da Amazônia Legal
4 A representação está de zonas, além da parte superior do rio Ama- Diante das recentes transformações na
acordo com a malha municipal zonas, estendendo-se pelo Sul de Roraima organização e na estruturação das cida-
de cada ano em questão. até o Norte do Estado do Amapá. des no território amazônico, à primeira
Nesse período, os dados de
população para os As recentes transformações citadas vista pode-se inferir que existe uma rede
municípios emancipados não neste tópico têm gerado interpretações que urbana dinâmica, com várias cidades mé-
estão agregados. muitas vezes não são condizentes com a rea- dias e centros locais com forte poder de

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23 As redes para além dos rios

interação. Isso porque, como mostra a viços entre os diversos níveis hierárquicos
Figura 2 do Anexo, as cidades amazônicas urbanos. Ademais, a própria distribuição
parecem estar organizadas de forma si- dos centros urbanos no território amazô-
milar à atual conformação dos centros nico se dá de maneira bastante desigual,
urbanos na região Centro-Sul do País. com nítida concentração de cidades nas in-
Entretanto, um olhar mais atento, apoiado termediações de um “arco rodoviário” for-
em outros argumentos, leva-nos a questi- mado pelas grandes rodovias federais que
onar essa interpretação, cabendo desta- envolvem e/ou cortam a região sem, no
car aquele que parece ser o argumento entanto, apresentar a mesma intensidade
mais imediato: as escalas espaciais da re- de penetração e articulação interna com os
gião amazônica são bastante distintas. espaços regionais. Isso cria uma dificulda-
A situação de fragilidade das redes de evidente no que diz respeito aos fluxos
urbanas amazônicas está relacionada à cria- entre as cidades pertencentes ao “arco” e
ção de uma série de impedimentos para os os demais centros no interior do território.
fluxos de pessoas, mercadorias e serviços, Além disso, parece evidente a ca-
cabendo destacar: rência de infraestrutura nos setores de co-
a. as grandes distâncias que separam municação e transportes, em grandes por-
as capitais das demais cidades e ções do território amazônico. Os baixos
vilas; investimentos nesses setores se refletem na
b. a carência de infraestrutura nos se- criação de um ambiente contrário ao que
tores de transporte e comunica- seria necessário para a aceleração dos flu-
ção em grandes porções do terri- xos no interior da região. Mesmo com a
tório amazônico; presença de alguns investimentos relativa-
c. a grande proporção de população mente grandes na atual carteira de distribu-
desprovida de recursos materiais ição de recursos governamentais, perce-
e educacionais decisivos para sua be-se que alguns desses, como no caso da
participação ativa nos diversos construção de grandes hidroelétricas, prio-
tipos de fluxo. rizam a geração de riqueza e de bens que
não vão ser aproveitados em toda sua mag-
Na Amazônia, as grandes distâncias
nitude dentro da região.
entre centros locais, cidades de porte mé-
dio e as maiores cidades da região criam li- Para compreender melhor a dinâ-
mitações nos fluxos de bens, pessoas e ser- mica das redes amazônicas, não se pode

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olhar apenas para os aspectos externos aos tisfatória a intermediação entre os peque-
centros urbanos. É fundamental lançar luz nos e os médios centros da Amazônia com
sobre as características internas aos cen- o restante do País, ou até mesmo com as
tros, exercício indispensável para compre- áreas que extrapolam o território nacional,
ender a intensidade e o direcionamento na Pan-Amazônia ou no sistema mundial
dos fluxos. Ao se aprender a olhar a cidade globalizado.
por dentro, com o objetivo de conhecer O estudo realizado pelo IBGE, “Re-
melhor suas especificidades intraurbanas, giões de Influência das cidades 2007”, apre-
torna-se mais fácil entender a forma como senta alguns resultados interessantes que
as cidades interagem e se integram. vão ao encontro do que foi afirmado no
Nesse sentido, percebe-se que os parágrafo anterior. Assim, foram identifi-
diversos tipos de fluxo também são limita- cadas 12 redes urbanas no Brasil de primei-
dos por razões de natureza estritamente ro nível, comandadas pelas principais me-
socioeconômica. Na Amazônia Legal, co- trópoles. Manaus e Belém foram citadas
mo em outras partes do País, é evidente a como os dois principais centros estrutura-
grande proporção de população que não dores do território amazônico, comandan-
possui bens materiais e educacionais sufici- do as redes que se estendem nessa porção
entes para participar ativamente dos fluxos do País.5
regionais e globais, sejam eles mercadorias, A Tabela 2 demonstra a dimensão
sejam eles serviços, sejam eles aqueles rela- das redes de primeiro nível delimitadas no
cionados a demandas sociais hoje conside- estudo do IBGE (2008). Apenas as redes
radas básicas, como acesso a bens e serviços de São Paulo e Brasília apresentam áreas
modernos e mais sofisticados que deveri- maiores do que as duas redes de primeiro
am estar disponíveis em cidades relativa- nível da Amazônia. Vale lembrar que o ta-
5 De acordo com o IBGE mente próximas, em uma rede urbana em manho territorial das redes amazônicas não
(2008, p. 3), “as redes são pleno funcionamento. é resultado de uma grande capacidade de
diferenciadas em termos de
tamanho, organização e Diante dessas considerações, pode- articulação regional das maiores centralida-
complexidade e apresentam se afirmar com segurança que não existem des da Amazônia, mas sim, em razão das pe-
interpenetrações devido à condições adequadas para que os dois mai- culiaridades espaciais próprias da região. As
ocorrência de vinculação de
ores centros da região, Manaus e Belém, redes de Manaus (1,71%) e Belém (3,79%)
mais de um centro, resultando
em dupla ou tripla inserção consigam estruturar o território amazôni- somam apenas 5,5% da população brasilei-
na rede”. co, ou seja, fazer de maneira suficiente e sa- ra, o que faz com que essas redes tenham

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25 As redes para além dos rios

baixa densidade demográfica (2,15 e 5,53 mográfico, funcional, entre outros), em um


hab./km2, respectivamente). Das 83 capi- patamar logo abaixo de Manaus e Belém.
tais regionais6 identificadas pelo IBGE, ape- O IBGE (2008) também disponibi-
nas quatro estão nas redes de Manaus (1) e liza uma variável chamada de “intensidade
Belém (3). Essas duas redes possuem 13 de relacionamento”, que se refere ao nú-
dos 199 centros sub-regionais, e apenas 14 mero de vezes que as cidades de Manaus
dos 666 centros de zona brasileiros estão (554) e Belém (1.575) foram citadas no
no raio de influência imediato das duas questionário do IBGE. Para se ter uma
grandes cidades amazônicas. Apesar de a ideia, os valores da intensidade de relacio-
área de influência de São Luís (MA) não es- namento de São Paulo, Brasília, Rio de Ja-
tar, de acordo com o IBGE (2008), entre as neiro e Belo Horizonte são, respectiva-
maiores redes do País, deve-se lembrar que mente, 12.857, 2.908, 3.124 e 8.520. Todos
São Luís aparece, em vários aspectos (de- os dados apontam para a situação de fragi-

Tabela 2_ Dimensão das redes de primeiro nível

Redes Dimensão
de Primeiro Capitais Centros sub- Centros Área
Nível regionais regionais Municípios População (km 2 )
de zona
6 Segundo o IBGE (2008), a
São Paulo 20 33 124 1028 51.020.582 2.279.108,45
capital regional possui
Rio de Janeiro 5 15 25 264 20.750.595 137.811,60 capacidade de gestão
Brasília 4 10 44 298 9.680.621 1.760.733,86 imediatamente inferior ao da
Fortaleza 7 21 86 786 20.573.035 792.410,65 metrópole e tem área de
influência regional, sendo
Recife 8 18 54 666 18.875.595 306.881,59
referida como destino por um
Salvador 6 16 41 486 16.335.288 589.229,74 grande conjunto de
Belo Horizonte 8 15 77 698 16.745.821 483.729,84 municípios. O centro sub-regional
possui atividades de gestão
Curitiba 9 28 67 666 16.178.968 295.024,25
menos complexas e área de
Porto Alegre 10 24 89 733 15.302.496 349.316,91 atuação mais reduzida. Seus
Goiânia 2 6 45 363 6.408.542 835.783,14 relacionamentos externos à
Manaus 1 2 4 72 3.480.028 1.617.427,98 própria rede geralmente se dão
com apenas três metrópoles
Belém 3 11 10 161 7.686.082 1.389.659,23
nacionais. Já o centro de zona
Fonte: IBGE (2008a e 2008b), IBGE. Área territorial oficial. Rio de Janeiro, 2007. apresenta raio de atuação
restrita a sua área imediata.

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lidade da rede urbana amazônica no que de B de empresas com sede na cidade A


tange à capacidade de estruturação territo- com o número de filiais existentes na cida-
rial, sobretudo no caso de Manaus, com in- de A de empresas com sede na cidade B”.
tensidade de relacionamento menor do que Tais dados geraram uma série de informa-
cidades de porte médio como Juiz de Fora ções valiosas que podem ser visualizadas
(1.268), Ribeirão Preto (853) e Montes Cla- na Tabela 3.
ros (845). A primeira coisa que chama a atenção
Manaus tem sua condição de articu- na Tabela 3 é que, de forma geral, Manaus
lador regional prejudicada pela localização apresenta intensidade de relacionamento
desfavorável no interior da Amazônia e empresarial superior a Belém, considerando
distante dos principais eixos rodoviários da as 20 ligações que mais se destacam. Vale
região. Nesse caso, o posicionamento cen- lembrar que, como dito anteriormente, a
tralizado de Manaus na Amazônia cria di- intensidade de relacionamento de Manaus
versos atritos para a centralidade dessa gran- (554) com as demais cidades da rede é bem
de cidade na rede. Ou seja, mesmo diante menor em relação ao que acontece na rede
da importância do transporte fluvial atra- encabeçada por Belém (1.575). Tal situação
vés do rio Amazonas, pode-se dizer que o pareceria improvável e incompatível com a
coração da Amazônia está longe das prin- realidade, não fosse o tamanho do PIB de
cipais veias e artérias que dinamizam os Manaus (R$ 27.214.213), mais do que o do-
fluxos na região. bro do PIB de Belém (11.277.414), em 2005.
Em uma situação mais favorável, Os valores de intensidade de relaci-
Belém, por sua vez, dado seu caráter loca- onamento empresarial de Belém e Manaus
cional excêntrico, situada no extremo norte com as duas maiores metrópoles nacionais
da Amazônia oriental, é também incapaz estão entre os mais altos do ranking da Ta-
de cumprir o papel articulador da rede de bela 3. Percebe-se que São Paulo e Rio de
cidades amazônicas que caberia a uma me- Janeiro superam até mesmo o relaciona-
trópole regional do seu porte. mento empresarial existente entre Belém e
Com base no estudo Cadastro Cen- Manaus. Se por um lado isso evidencia a
tral das Empresas, pode-se calcular a intensi- grande influência das grandes metrópoles
dade de relacionamento empresarial dos do Sudeste na Amazônia, por outro reflete
dois maiores polos amazônicos. O IBGE também a baixa integração regional entre
(2008) define essa intensidade como “a so- Belém e Manaus.
ma do número de filiais existentes na cida-

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27 As redes para além dos rios

Tabela 3_ Intensidade de Relacionamento Empresarial

Belém Manaus
Ordem
Cidade n % Cidade n %

1 São Paulo (SP) 360 23,53 São Paulo (SP) 602 37,23
2 Rio de Janeiro (RJ) 150 9,80 Rio de Janeiro (RJ) 184 11,38
3 Manaus (AM) 140 9,15 Belém (PA) 140 8,66
4 Macapá (AP) 119 7,78 Brasília (DF) 104 6,43
5 Brasília (DF) 115 7,52 Porto Velho (RO) 96 5,94
6 Fortaleza (CE) 103 6,73 Boa Vista (RR) 64 3,96
7 São Luís (MA) 83 5,42 Recife (PE) 49 3,03
8 Castanhal (PA) 72 4,71 Belo Horizonte (MG) 48 2,97
9 Santarém (PA) 50 3,27 Fortaleza (CE) 46 2,84
10 Marabá (PA) 47 3,07 Campinas (SP) 38 2,35
11 Recife (PE) 45 2,94 Porto Alegre (RS) 36 2,23
12 Curitiba (PR) 40 2,61 Cuiabá (MT) 33 2,04
13 Belo Horizonte (MG) 36 2,35 Curitiba (PR) 33 2,04
14 Altamira (PA) 30 1,96 Macapá (AP) 32 1,98
15 Abaetetuba (PA) 28 1,83 Rio Branco (AC) 25 1,55
16 Goiânia (GO) 24 1,57 Itacoatiara (AM) 20 1,24
17 Capanema (PA) 23 1,50 Salvador (BA) 18 1,11
18 Santa Isabel do Pará (PA) 22 1,44 Goiânia (GO) 17 1,05
19 Paragominas (PA) 22 1,44 Manacapuru (AM) 16 0,99
20 Breves (PA) 21 1,37 São Luis (MA) 16 0,99
Total 1530 100 1617 100

Fonte: IBGE. Cadastro Central de Empresas, 2004; IBGE (2008b).

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A intensidade empresarial de Belém cebe-se que 77 eram dotados de mais de


com o restante do Estado do Pará (20,58%) 50% das funções e apenas 10 possuíam
evidencia maior equilíbrio em relação ao mais de 80%, sendo todos eles sedes de ca-
que ocorre no Estado vizinho. No Amazo- pitais estaduais, com exceção de Imperatriz
nas, Manaus possui intensidade de relacio- e Ji-Paraná.
namento empresarial de apenas 2,22% com Se Manaus e Belém possuem popu-
as demais cidades do Estado citadas na Ta- lação bem superior à das demais cidades da
bela 3. Todas as outras cidades menciona- rede, percebe-se que, no que diz respeito à
das estão fora do Amazonas, e quatro são disponibilidade de funções, cidades de por-
do Sudeste brasileiro. te inferior podem exibir um nível de cen-
Já a Tabela 4 e a Figura 3 do Anexo tralidade comparável aos dois maiores cen-
apresentam o resultado de uma matriz de tros articuladores das redes amazônicas.
funcionalidades que elaboramos para to- De maneira mais completa, a Figura
dos os municípios da Amazônia Legal com 3 do Anexo apresenta o nível de diversifi-
população superior a 20.000 habitantes em cação funcional dos municípios com mais
2007. Na Tabela 4, verifica-se apenas os 98 de 20.000 habitantes na Amazônia Legal
municípios com maior diversificação fun- (% em relação ao total de 73 funções). Pa-
cional na Amazônia Legal. A Figura 3 do rece claro que a maior concentração desses
Anexo apresenta os dados para todos os municípios se dá na porção oriental da
municípios trabalhados. As funções esco- Amazônia Legal, sobretudo, nas interme-
lhidas buscaram abranger desde atividades diações de Belém e São Luís. Na porção
mais simples, a exemplo de escolas de ensino ocidental, os municípios representados são
médio e fundamental, até as mais sofistica- mais dispersos e, geralmente, não possuem
das, como escolas de nível superior e a dis- proporção elevada de funções.
ponibilidade de cursos de pós-graduação Ademais, em uma rede urbana di-
com conceito 6 ou 7 avaliados pela Capes. nâmica e equilibrada, os centros de porte
Como pode ser observado na Tabe- médio e pequeno assumem papéis impor-
la 4, os sete primeiros municípios no ran- tantes que devem ser levados em conside-
king são capitais estaduais. A primeira cida- ração. A proliferação desses municípios na
de do interior (não capital) da Amazônia Amazônia Legal lançou vários desafios pa-
Legal é Imperatriz (MA), com 83,56% (61) ra os formuladores e os gestores de políti-
do total das 73 funções pesquisadas. De to- cas públicas.
dos os municípios pesquisados (243), per-

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29 As redes para além dos rios

Tabela 4_ Funcionalidades (73, no total) dos municípios da Amazônia Legal (+20.000 hab. em 2007)
Município n % Município n % Município n %
Belém 71 97,26 Juara 45 61,64 Capanema 38 52,05
Manaus 70 95,89 Colíder 44 60,27 Guaraí 38 52,05
São Luís 68 93,15 Jaru 43 58,90 Paraíso do Tocantins 38 52,05
Porto Velho 67 91,78 Parintins 43 58,90 Zé Doca 38 52,05
Rio Branco 67 91,78 São Gabriel da Cachoeira 43 58,90 Coari 37 50,68
Palmas 67 91,78 Açailândia 43 58,90 Humaitá 37 50,68
Boa Vista 65 89,04 Confresa 43 58,90 Maués 37 50,68
Imperatriz 61 83,56 Rolim de Moura 42 57,53 Almeirim 37 50,68
Ji-Paraná 59 80,82 Paragominas 42 57,53 Oriximiná 37 50,68
Macapá 59 80,82 Santa Inês 42 57,53 Guarantã do Norte 37 50,68
Rondonópolis 58 79,45 Jaciara 42 57,53 Lucas do Rio Verde 37 50,68
Cacoal 57 78,08 Juína 42 57,53 Espigão D’Oeste 36 49,32
Cuiabá 57 78,08 Guajará-Mirim 41 56,16 Sena Madureira 36 49,32
Sinop 57 78,08 Ouro Preto do Oeste 41 56,16 Coroatá 36 49,32
Araguaína 55 75,34 Pimenta Bueno 41 56,16 Lago da Pedra 36 49,32
Ariquemes 54 73,97 Itacoatiara 41 56,16 Campo Novo do Parecis 36 49,32
Santarém 54 73,97 Parauapebas 41 56,16 Nova Mutum 36 49,32
Tucuruí 53 72,60 Bacabal 41 56,16 Pindaré-Mirim 35 47,95
Gurupi 53 72,60 Pontes e Lacerda 41 56,16 Paranatinga 35 47,95
Tangará da Serra 53 72,60 Abaetetuba 40 54,79 Manacapuru 34 46,58
Barra do Garças 52 71,23 Pinheiro 40 54,79 Tucumã 34 46,58
Cáceres 52 71,23 Primavera do Leste 40 54,79 Presidente Dutra 34 46,58
Sorriso 51 69,86 Várzea Grande 40 54,79 Vitorino Freire 34 46,58
Vilhena 48 65,75 Manicoré 39 53,42 Tarauacá 33 45,21
Balsas 48 65,75 Conceição do Araguaia 39 53,42 Tefé 33 45,21
Cruzeiro do Sul 47 64,38 Rondon do Pará 39 53,42 Barcarena 33 45,21
Altamira 47 64,38 Tomé-Açu 39 53,42 Bragança 33 45,21
Marabá 47 64,38 Porto Nacional 39 53,42 Colinas do Tocantins 33 45,21
Redenção 46 63,01 Barra do Corda 39 53,42 Pedreiras 33 45,21
Alta Floresta 46 63,01 Grajaú 39 53,42 Peixoto de Azevedo 33 45,21
Castanhal 45 61,64 Campo Verde 39 53,42 Eirunepé 32 43,84
Itaituba 45 61,64 Tabatinga 38 52,05 Lábrea 32 43,84
Barra do Bugres 45 61,64 Cametá 38 52,05
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do IBGE, Censo demográfico (2000 e 2007), Atlas de desenvolvimento Humano do Brasil (2000), INEP (2006),
Banco Central (2004), Estatíticas de Saúde do IBGE (2000), Perfil dos Municípios – Cultura (2006).

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No que se refere ao aparente surto sentarem expressivo contingente populaci-


de “cidades médias” na Amazônia Legal, onal, na verdade não são médias no sentido
deve ficar claro que esses centros de porte funcional, por sofrerem com as condições
intermediário muitas vezes não satisfazem adversas para o desenvolvimento de seu
a complexidade conceitual contida nesse papel de intermediador de fluxos, ao con-
termo. A cidade média se define, de acordo trário do que se observa em uma rede ur-
com Lajugie (1974), antes de tudo, por suas bana em perfeito funcionamento.
funções, pela posição que ocupa na rede Estudos e reportagens têm frequen-
urbana, entre a metrópole, com vocação re- temente divulgado as melhores condições
gional, e os pequenos municípios, com in- de vida desfrutadas pelos habitantes das ci-
fluência puramente local (Amorim Filho e dades médias do Sudeste do País, que ofe-
Rigotti, 2002). As cidades médias, além de ter recem uma série de amenidades urbanas, a
tamanho demográfico para esse porte, de- saber: menores índices de criminalidade,
sempenham papéis funcionais intermediá- tempo e gasto reduzidos no trânsito, me-
rios bem definidos entre a(s) metrópole(s) nores níveis de poluição, custos de moradia
e as cidades pequenas que compõem uma e transporte mais acessíveis e maior proxi-
rede urbana (Sposito, 2004). midade com áreas verdes (Amorim Filho e
Algumas das características citadas Serra, 2001).
pelos teóricos7 como indispensáveis às ci- Entretanto, Sathler et al. (2007) su-
dades médias não são encontradas, ou exis- gerem que, diferentemente das cidades mé-
tem de maneira incipiente, nos municípios dias do Centro-Sul do País, que oferecem
7 Ver Amorim Filho (1976) e de médio porte8 da Amazônia Legal, o que novas possibilidades de trabalho e melhoria
também o relatório da União cria desafios a ser transpostos na definição das condições de vida para a população, na
Internacional dos Arquitetos dos parâmetros adequados para selecionar Amazônia Legal os municípios do interior,
(1999).
as cidades médias dessa região. Diante da com população entre 100.000 e 500.000
8 A expressão “médio porte”
nítida importância dos aspectos funcionais habitantes, refletem predominantemente de-
está relacionada apenas ao
limiar demográfico, enquanto e do componente espacial, percebe-se que, semprego e pobreza. Os autores verificaram
que a “cidade média” no caso amazônico, critérios estritamente que Belém, Manaus e as demais capitais es-
incorpora uma série de outros demográficos podem não ser capazes de es- taduais da Amazônia Legal oferecem, de
elementos. Nesse sentido, um
município de médio porte
tabelecer classificação adequada dos níveis maneira geral, melhores condições de vida
pode ou não ser considerado hierárquicos urbanos. Sendo assim, muitas em relação aos municípios do interior com
uma cidade média. das cidades tidas como médias por apre- população entre 100.000 e 500.000 habi-

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tantes no ano de 2000, realidade oposta à pios pertencentes a níveis hierárquicos su-
das regiões que compõem o centro dinâ- periores nas redes de cidades amazônicas.
mico da economia brasileira. Assim, considerando as especifici-
Além disso, pode-se observar certas dades das redes urbanas amazônicas, perce-
tendências não presentes nas décadas ante- be-se que algumas localidades que, na esca-
riores, que apontam para a existência de la nacional, apresentam porte demográfico
uma dinâmica diferenciada nas redes de ci- intermediário acabam por ter a responsabi-
dades da Amazônia Legal. As cidades mé- lidade de ser o destino final na procura de
dias amazônicas aparecem hoje como no- serviços para a maior parte da população.
vos vetores de crescimento econômico e Esse desequilíbrio, de difícil solução, im-
demográfico sem, no entanto, afetar a pri- põe a esses centros de porte intermediário
mazia das Regiões Metropolitanas de Be- maior leque de demandas sociais, ao con-
lém (RMB) e de Manaus. trario do que acontece com centros do
Deve-se ressaltar também que, dife- mesmo porte em uma rede urbana equili-
rentemente do que ocorre nas redes de ci- brada. Diante disso, cabe aos formuladores
dades do Centro-Sul do País, as referidas e aos gestores perceberem essas peculiari-
enormes distâncias dos municípios de mé- dades espaciais no momento de organizar
dio porte em relação às metrópoles regio- a oferta de serviços públicos nessa região,
nais e às capitais estaduais, assim como suas sobretudo aqueles de natureza básica.
evidentes carências de infraestrutura, criam Já no que diz respeito à proliferação
uma situação de isolamento, que, em tese, de centros locais nas redes urbanas da Ama-
exigiria que os municípios de médio porte zônia Legal, deve-se ter em mente que, mes-
oferecessem uma série de serviços que não mo diante de todas as dificuldades existentes
seriam necessários ou compatíveis nas ci- relativas à fluidez, essa proliferação res-
dades médias de uma região dotada de uma ponde a uma tendência nacional: os cen-
rede urbana bem articulada. Entretanto, tros locais estão mais urbanizados e mais
muitas vezes a fragilidade da demanda efe- integrados do que se observava havia déca-
tiva local e regional, marcada por populações das. Sob essa perspectiva, pode-se inferir
de baixa renda e pequena capacidade pro- que existe no Brasil, atualmente, maior in-
dutiva, exige que os habitantes dessas cida- tegração desses pequenos municípios com
des percorram grandes distâncias à procura os demais centros urbanos inseridos na re-
de serviços, presentes somente em municí- de, assim como maior participação desses

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como nós dos diversos fluxos materiais e or da Amazônia estiveram muito sujeitas a
imateriais. Sendo assim, para entender a decisões quase sempre distantes, que parti-
maior inserção desses pequenos municípios am dos grandes centros urbanos regionais
na rede de cidades, deve-se não apenas olhar (Belém e Manaus), de Brasília, São Paulo e
para as mudanças que estão ocorrendo fo- mesmo de outras partes do mundo. As
ra desses lugares, mas também perceber as “redes de gestão” na Amazônia se parecem
transformações que estão ocorrendo no muito com as antigas redes dendríticas, di-
interior desses pequenos centros locais. ante da alta centralização do poder político.
No Brasil, e em menor medida na Nesse sentido, muitos municípios de pe-
Amazônia Legal, diante dos altos níveis de queno e médio portes funcionavam como
precariedade nos centros locais da região, vetores para a exploração predatória dos
esse aumento da urbanidade que, anterior- recursos, sem a preocupação por parte do
mente, tinha sua economia menos diversi- poder público e da iniciativa privada em
ficada e apoiada quase que exclusivamente criar polos de desenvolvimento econômi-
nas atividades ligadas à terra está relaciona- co no interior da região.
do a um conjunto de fatores, entre eles:
a. melhoria no nível geral das condi-
ções de vida e diminuição da po- 5_ Considerações finais
breza; Todos os argumentos discutidos nos tó-
b. maior acesso à informação e a sen- picos anteriores poderiam levar a pensar
sação de que as distâncias são me- em uma única questão: existe uma rede
nores do que no passado; amazônica de cidades? Ou haveria que se
c. melhoria na infraestrutura regional pensar em uma série de questões, impli-
e intramunicipal; cando a existência de diversas redes de
d. maior integração dos moradores com cidades na região, não necessariamente
pessoas que residem em municí- articuladas entre si ou mesmo articuladas
pios médios ou grandes, a exem- internamente de forma simplificada? É
plo de parentes, amigos ou mes- possível pensar em amplas redes de cida-
mo quando se trata do caso de des hierarquicamente articuladas a partir
migrantes retornados. apenas dos dois grandes polos regionais,
Ao final, nas últimas décadas, as Belém e Manaus? Ou seria necessário
grandes transformações urbanas no interi- pensar também em uma ou mais redes de

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cidades articuladas a partir do grande ve- Amazônia se apresenta cada vez mais como
tor de transformação da Amazônia con- uma grande rede integrada. Nessa perspec-
temporânea, ou seja, o “arco rodoviário” tiva, o eixo principal seria o rio Amazonas,
que redefiniu sua ocupação nas últimas que liga os dois maiores centros econômi-
décadas e marcou sua integração com o cos da região, além das grandes rodovias
resto do País? que cortam a Amazônia e ajudam na inte-
A resposta a esse conjunto de ques- gração com os grandes polos nacionais
tões não é de forma alguma simples, mas (Brasília e São Paulo), de onde emanam as
pode-se dizer que pensar em uma única re- principais decisões que afetam a ocupação
de urbana amazônica, em toda a complexi- e a estruturação na Amazônia.
dade que caracteriza uma rede madura e Existem outros aspectos importan-
equilibrada, parece impossível. De fato, co- tes que dão coesão interna às centenas de
mo discutido acima, sob a ótica das de- territorialidades amazônicas. Nesse senti-
mandas sociais imediatas, não existem con- do, pode-se supor que, em alguma medida,
dições materiais e imateriais para que os esses aspectos estariam relacionados aos
diversos tipos de fluxo integrem a região costumes e às atividades culturais. Qual o
de maneira adequada. Mergulhando mais papel da “identidade amazônica”, que sim-
profundamente nessa questão, pode-se in- plificadamente pode ser entendida como a
ferir que o eventual sonho de vários plane- “cultura da floresta”,9 presente inclusive
jadores de uma Amazônia integrada talvez nos grandes centros urbanos? Apesar da
nunca se concretize, diante de suas peculia- carência de dados empíricos que confirmem
ridades espaciais e, até mesmo, naturais. E essa hipótese, a rede cultural amazônica
é possível que seja melhor assim, o que fa- talvez possa estimular maior relacionamen- 9 Nesse aspecto, pode-se

vorece a diversidade que caracteriza essa to até mesmo entre centros distantes, onde citar vários fatores
região, maior que o resto do Brasil, e que determinados tipos de fluxo podem estar importantes, a saber: os
hábitos alimentares; a
vem correndo riscos de diversas naturezas se direcionando para áreas dentro da Ama-
expressão artística e musical; o
que a ela atingem valendo-se de decisões zônia, por razões que superam os estímu- relacionamento das pessoas
distantes, externas aos interesses da pró- los de ordem puramente econômica. com os rios, presente e
pria região e, muitas vezes, externas aos Baseando-se nas considerações dos importante em várias cidades
amazônicas; os mitos e os
próprios interesses nacionais. parágrafos anteriores, percebe-se que uma
elementos culturais populares,
Já no que tange especificamente aos abordagem sensata deve levar em conside- regionais e locais; entre
fluxos materiais, não é absurdo dizer que a ração que os diversos tipos de fluxo se vários outros.

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comportam de maneira diferenciada no es- ção organizada e integrada dos centros ur-
paço. As fontes geradoras e receptoras, o banos fazem com que as cidades em rede
alcance, o direcionamento e a intensidade sejam muito mais do que a soma das partes
dos fluxos são fatores que estão relaciona- (Meijers, 2005). Esse é o pensamento que
dos, em grande medida, com a natureza deveria estar presente em todas as políticas
dos próprios fluxos. Sendo assim, uma boa de desenvolvimento regional cogitadas pa-
forma de imaginar o mundo das redes seria ra a Amazônia brasileira.
através da ideia dos “layers”, ou seja, sepa-
rando os fluxos em camadas distintas que,
quando sobrepostas, formam a realidade
em toda sua complexidade.10
Ademais, cabe ressaltar que as fa-
lhas de integração territorial são evidentes,
inclusive no interior das UFs amazônicas, a
exemplo dos conflitos de natureza política
que ocorrem nos dois maiores Estados da
região. No Pará, as dificuldades de gestão e
de relacionamento político-administrativo
das autoridades estaduais centradas em Be-
lém, capital excêntrica e distante, com as
áreas interioranas no restante da UF se re-
fletem na limitação das demais regiões do
Estado em obter investimentos e recursos,
10 Miossec (1976) considerava
o que tem estimulado o aparecimento de
três tipos de interações
movimentos emancipatórios, como os da
espaciais geradoras de redes: a
distribuição (difusão), a criação dos Estados do Tapajós e do Cara-
produção e gestão (decisão). jás. Já no caso do Amazonas, a própria situ-
Ao retomar a metodologia de ação de macrocefalia urbana de Manaus,
Miossec (1976), Ribeiro (1998)
por si só, implica alta concentração do po-
declara que “estas redes
apresentam-se superpostas, der político.
indicando a complexidade das Parece claro que as vantagens eco-
interações espaciais”. nômicas e logísticas advindas da distribui-

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35 As redes para além dos rios

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Artigo recebido em dezembro de 2008,
Paulo: Hucitec, 1978. aprovado em maio de 2009.

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Anexo

Figura 1_ Evolução do tamanho populacional na Amazônia Legal (1970-2000)*

Fonte: Censos Demográficos (1970-2000).


Elaboração: Douglas Sathler
Projeção: Lat.xLong.SAD69
* População dos municípios com mais de 20.000 hab. Os demais municípios não estão representados.

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Figura 2_ População da Amazônia Legal (2007)*

Fonte: Contagem (2007).


Estimativas: IBGE (2007).
Elaboração: Douglas Sathler
Projeção: Lat.xLong.SAD69
* População dos municípios com mais de 20.000 hab. Os demais municípios não estão representados.

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Figura 3_ Nível de Diversificação Funcional na Amazônia Legal*

Fonte: Elaboração própria a partir do dados do IBGE. Censo demográfico (2000 e 2007), Atlas de desenvolvimento Humano do Brasil (2000),
INEP (2006), Banco Central (2004), Estatísticas de Saúde do IBGE (2000). IBGE. Perfil dos Municípios – Cultura (2006).
Elaboração: Douglas Sathler
Projeção: SAD69 Latitude x Longitude
* Apenas municípios com mais de 20.000 hab.

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Figura 4_ Capitais estaduais e municípios de médio porte da Amazônia Legal, 2007

Fonte: Base Cartográfica do IBGE. IBGE. Contagem da população (2007).

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